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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO (UFTM) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO (PPGE) MESTRADO EM EDUCAÇÃO ROSENILDA ROCHA BUENO PRÁTICA PEDAGÓGICA DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA PARA ALUNOS SURDOS CUIABÁ-MT 2019

ROSENILDA ROCHA BUENO PRÁTICA PEDAGÓGICA DE … · planejamento anual de matemática e plano de aula, entrevista semiestruturada e observação participante. As apresentações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO (UFTM)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO (PPGE)

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

ROSENILDA ROCHA BUENO

PRÁTICA PEDAGÓGICA DE PROFESSORES QUE ENSINAM

MATEMÁTICA PARA ALUNOS SURDOS

CUIABÁ-MT

2019

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ROSENILDA ROCHA BUENO

PRÁTICA PEDAGÓGICA DE PROFESSORES QUE ENSINAM

MATEMÁTICA PARA ALUNOS SURDOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação, do Campus

Universitário de Cuiabá, Universidade Federal

de Mato Grosso (PPGE/UFMT), linha de

pesquisa: “Educação em Ciências e Educação

Matemática”, como exigência institucional

para a obtenção do grau de Mestre em

Educação.

Orientador: Prof. Dr. Adelmo Carvalho da

Silva.

CUIABÁ-MT

2019

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AGRADECIMENTOS

Ao professor orientador deste estudo, Adelmo Carvalho da Silva, por possibilitar o

desenvolvimento de minha autonomia na condição de pesquisadora. Agradeço pela amizade

construída e as vivências partilhadas.

As minhas filhas, pela compreensão em todos os momentos e alegrias diárias!

A minha mãe pelas orações, pelo carinho e por acreditar em mim. Mãe, eu te amo!

Ao pai das minhas filhas, Elias Felício Bueno, pelos anos de convivência e apoio durante

o período em que idealizamos este projeto.

Aos meus amigos do mestrado, pela troca de experiência, cumplicidade nos momentos

de conflitos e pelos risos em todo o processo, em especial, Álvaro, Camile, Renata, Oscar e

Vandinéia.

Aos meus amigos do coração, Elisângela, Eliane, Rosi, Sirley, Elza, Hermógenes,

Márcia Gobatto, João Ricardo Valim, por tudo!

Aos colegas de trabalho, pela força e companheirismo: Leani, Janíbia, Jorci, Eliane,

Adriana, Lucimeire, Gerson e a toda equipe do Centro de Formação dos Profissionais de

Educação - Cefapro de Cuiabá.

Aos professores do programa, pelo diálogo, aprendizagem e incentivo no decorrer das

atividades acadêmicas.

Aos professores participantes da pesquisa, pela acolhida e disponibilidade.

Aos meus amigos surdos, por serem únicos e proporcionarem inúmeras aprendizagens.

À secretaria do PPGE, pelo trato e respeito na resolução das questões acadêmicas.

À Banca Examinadora pela leitura e contribuições destinado ao estudo.

A Deus, pelo cuidado e inspiração e por apresentar as pessoas certas no momento certo

para a materialização deste estudo. A todas as pessoas que chegaram e permaneceram comigo

até aqui... Gratidão!

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RESUMO

Esta pesquisa tem o objetivo de investigar a prática pedagógica de professores que ensinam

matemática para alunos surdos do Ensino Médio de uma Escola da Rede Estadual de Cuiabá-

MT. Deste modo, parte da seguinte indagação: como é desenvolvida a prática pedagógica dos

professores que ensinam matemática para alunos surdos do Ensino Médio? Assim, são

apontados os objetivos específicos: identificar as concepções dos professores sobre a prática

pedagógica; descrever a compreensão dos professores sobre a aprendizagem dos alunos surdos;

evidenciar quais procedimentos metodológicos que os mesmos utilizam para ensinar aos alunos

surdos. Teoricamente são referenciadas as contribuições de: Caldeira e Zaidan (2013),

Contreras (2002), C. Fernandes (2008), Franco (2015) Freire (2001), Gadotti (2003), Libâneo

(2001), Sacristán e Pérez Goméz (2009), Vásquez (2011), Veiga (2008), os quais conceituam a

prática pedagógica como prática intencional de ensino, articulada à educação como prática

social e o conhecimento como produção histórica e social. Portanto, pela definição de Bogdan

e Biklen (1994, p. 89), esta pesquisa é de abordagem qualitativa, caracteriza-se como um estudo

de caso do tipo exploratório, por ser descritiva e interpretativa, na qual utilizou-se dos seguintes

instrumentos para coleta de informações: análise documental do Projeto Político Pedagógico,

planejamento anual de matemática e plano de aula, entrevista semiestruturada e observação

participante. As apresentações dessas informações estão organizadas em três eixos centrais:

proposta pedagógica da escola para ensino de alunos surdos, concepções epistemológicas sobre

a prática pedagógica e ensino de matemática para alunos surdos, e para a análise desses dados

utiliza-se o método interpretativo. Os resultados indicaram que o desenvolvimento da prática

pedagógica dos professores desses alunos surdos não possibilita a reflexão crítica e inserção

dos mesmos na prática social. Além disso, as informações apontaram que em alguns momentos

os professores transferem a responsabilidade do ensino para o profissional Intérprete de Libras.

Nesta perspectiva, esta pesquisa evidencia a importância do desenvolvimento de uma Prática

Pedagógica Bilíngue no ensino de Matemática para alunos surdos, essa proposta não dispensa

a presença do profissional Intérprete de Libras em sala de aula, porém, entende que o professor

é o mediador do conhecimento matemático e o principal responsável pelo ensino. Assim, este

estudo indica a urgência de repensar as políticas de formação de professores levando em

consideração a especificidade linguística e cultural do aluno surdo, para que, de fato, subsidie

o desenvolvimento de uma prática pedagógica bilíngue, e contribua para que os alunos surdos

construam conhecimentos críticos para sua transformação social.

Palavras-chave: Prática pedagógica. Ensino da matemática. Surdez.

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ABSTRACT

This research seeks to investigate the pedagogical practice of teachers that teach mathematics

to High School deaf students of a School in the State Education Network in Cuiabá-MT. Hence,

it starts with the following inquiry: how the pedagogical practice of teachers that teach

mathematics to High School deaf students is developed? So, the specific objectives are pointed:

identify teachers’ concepts about the pedagogical practice; describe teachers’ understanding

about deaf students’ learning; highlight which methodological procedures they developed to

teach to deaf students. Theoretically were referenced the contributions from: Caldeira and

Zaidan (2013), Contreras (2002), C. Fernandes (2008), Franco (2015) Freire (2001), Gadotti

(2003), Libâneo (2001), Sacristán and Pérez Goméz (2009), Vásquez (2011), Veiga (2008),

whom conceptualize the pedagogical practice as intentional teaching practice, articulated to

education as social practice and to knowledge as historical and social production. Thus, by the

definition of Bogdan e Biklen (1994, p. 89), this research uses a qualitative approach, it is

characterized as an explanatory case study, by being descriptive and interpretative, in which

were used the following instruments for collecting information: documentary analyses of the

Pedagogic Political Project, mathematics annual planning and lesson plan, semistructure

interview and participant observation. The presentations of this information are organized on

three central axes: school pedagogical proposal to the teaching of deaf students, epistemological

conceptions about the pedagogical practice and the teaching of mathematics to deaf students

and for data analysis interpretative method is used. The results indicated that the development

of the pedagogical practice of teachers of these deaf students does not provide the critical

reflection and their insertion in social practice. In addition, the information indicated that at

times the teachers transfer the learning responsibility to The Libras (Brazilian Sign Language)

Interpreter. In this perspective, this research shows the importance of developing a Bilingual

Pedagogical Practice in the teaching of Mathematics to deaf students, this proposal does not

dispense the presence of The Libras (Brazilian Sign Language) Interpreter in class, however,

understands that the teacher is the mediator of the mathematical knowledge and the head of

education. Thus, this study indicates the urgency to rethink the teacher education policies

considering the linguistic and cultural specificity of the deaf student, so that, in fact, subsidizes

the development of a bilingual pedagogical practice and contributes for deaf students to be able

to build critical knowledge for their social transformation.

Keywords: Pedagogical Practice. Teaching of mathematics. Deafness.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AEE Atendimento Educacional Especializado

BNCC Base Nacional Comum Curricular

CASIES Centro de Apoio e Suporte à Inclusão da Educação Especial

CEFAPRO Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação

CNPQ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

ENEM Exame Nacional do Ensino Médio

ILS Intérprete de Língua de Sinais

LIBRAS Língua Brasileira de Sinais

NEAD Núcleo de Ensino a Distância

PPP Projeto Político Pedagógico

UFMT Universidade Federal de Mato Grosso

UNEMAT Universidade do Estado de Mato Grosso

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9

1 PRÁTICA PEDAGÓGICA: DEFINIÇÃO DO CONCEITO ..................................... 15

1.1 Prática Pedagógica: O que é? ..................................................................................... 15

1.2 Concepções de Educação para Surdos: Aspectos Históricos ................................... 22

1.3 Inclusão de alunos surdos na escola de ensino regular ............................................ 28

1.4 Ensino de matemática para alunos surdos: Prática Pedagógica Bilíngue .............. 32

2 CONTEXTO DA PESQUISA ........................................................................................ 44

2.1 Local da pesquisa e sujeitos ........................................................................................ 44

2.2 Questão problema e abordagem metodológica ......................................................... 46

2.3 Objetivos e percurso metodológico ............................................................................ 47

3 ANÁLISE DOS DADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................... 49

3.1 Discussão e análise dos resultados .............................................................................. 49

4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PESQUISA ................................................................ 80

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 84

Apêndice A – Recorte das informações extraídas do Projeto Político Pedagógico da escola

pesquisada ............................................................................................................................... 94

Apêndice B – Recorte das informações extraídas do Planejamento Anual de Matemática

.................................................................................................................................................. 95

Apêndice C – Roteiro das Entrevistas .................................................................................. 96

Apêndice D – Roteiro para observação em sala de aula ..................................................... 98

Apêndice E – Termo de Autorização para a Escola ............................................................ 99

Apêndice F – Termo de autorização para a Escola ........................................................... 101

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INTRODUÇÃO

Este estudo origina-se das vivências desta pesquisadora na condição de aluna da

Educação Básica, no tocante à aprendizagem da matemática e experiência profissional

especificamente no ensino para alunos surdos. Assim, em 2003, iniciou-se a prática docente da

professora, em uma escola da rede municipal de ensino, na cidade de Denise-MT. Neste período

não havia concluído o ensino superior. Por conseguinte, o curso de Licenciatura em Pedagogia,

na modalidade a distância, implementado pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT),

outrora Núcleo de Ensino a Distância (NEAD), concluído em 2008, foi um fator determinante

para refletir a respeito da relação teórica e prática sobre o ensino da matemática, pois, em cada

finalização dos módulos de estudo que eram realizados por área de conhecimento, elaborava-

se um planejamento de aula que era desenvolvido em sala de aula e, em seguida, registrava-se

por meio de um relatório descritivo as reflexões sobre essa ação pedagógica.

Em 2011, a pesquisadora ampliou suas experiências com a alfabetização de alunos dos

anos iniciais e, posteriormente, no processo de ensino para alunos do 6º ao 9º ano, na função de

professora articuladora. Durante este processo, observou-se que a maioria desses alunos

demonstrava defasagem de aprendizagem relacionada às operações básicas de divisão, o que

intensificou o interesse pela pesquisa em Educação Matemática.

No que se refere ao ensino para alunos Surdos1, o primeiro contato ocorreu por meio do

trabalho na Sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE), durante os anos de

2013/2014, o qual possibilitou trabalhar com três alunos. Neste período, identificou que os

mesmos apresentavam níveis diferentes de aprendizagem da utilização da Língua Brasileira de

Sinais (LIBRAS) e das outras áreas de conhecimento. Cabe enfatizar que o Atendimento

Educacional Especializado tem como objetivo identificar, elaborar e organizar recursos

pedagógicos e de acessibilidade que diminuam as barreiras para a plena participação dos alunos,

considerando suas necessidades específicas. Ademais, para além disso, orientar os professores

propondo alternativas pedagógicas que favoreçam o desenvolvimento da aprendizagem destes

alunos inclusos em sala de aula.

No decorrer deste processo, como responsável pelo ensino para alunos surdos, esta

pesquisadora participou de formações específicas inseridas no contexto da surdez, oferecidas

pelo Centro de Apoio e Suporte à Inclusão da Educação Especial (CASIES) em Cuiabá-MT. O

1 O termo “Surdo” será utilizado neste trabalho por compreender o sujeito surdo como parte de uma comunidade

linguística e cultural. Esse termo é definido por Oliver Sacks (1998, p. 16), neurologista que, dentre inúmeros

trabalhos, dedica-se da mesma maneira à surdez.

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desenvolvimento destas formações foi relevante, uma vez que possibilitaram a aprovação no

Exame de Proficiência em Libras, ou seja, direito garantido por Lei para exercer o trabalho

profissional de intérprete de Libras no Estado de Mato Grosso. Tal ocorrido foi fundamental

para a desconstrução de estereótipos sobre a surdez e para o fortalecimento de vínculos de

amizade com a comunidade surda, pois as aulas eram ministradas por professores surdos e o

grupo de cursistas era formado por surdos e ouvintes, favorecendo a interação e aprendizagem.

Prosseguindo os estudos nesta área, em 2014 foram concluídos os cursos em

Psicopedagogia e Educação Especial e em Tradução e Interpretação em Libras em nível de pós-

graduação, com a intenção de construir conhecimento acerca do atendimento aos alunos surdos,

bem como orientar os professores que atendiam esses alunos em sala de aula regular, uma vez

que externavam diariamente suas inquietações, em especial sobre o ensino de matemática.

Já em 2015, conquistou aprovação no processo seletivo para a função de professora

formadora na área de alfabetização do Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da

Educação (CEFAPRO), polo de Diamantino/MT. Diante disso, estreitou-se o contato com um

número maior de escolas e, por conseguinte, com os professores de alunos surdos. No decorrer

deste período foi desenvolvido um curso da Língua Brasileira de Sinais (Libras) com um grupo

de 70 professores, no qual refletiam teórico e metodologicamente acerca da surdez e,

posteriormente, em sala de aula, trabalhavam atividades práticas com alunos surdos. Ainda

sobre as atividades profissionais no tocante à surdez, esta pesquisadora trabalhou como docente

da disciplina de Libras no curso de Enfermagem na Universidade do Estado de Mato Grosso

(UNEMAT/Diamantino). Além disso, também ampliou sua experiência na função de

Profissional Intérprete da Língua de Sinais durante o Exame Nacional do Ensino Médio

(ENEM) no município de Rosário Oeste-MT.

Atualmente, na condição de professora formadora no Centro de Formação e Atualização

dos Profissionais da Educação Básica (CEFAPRO) de Cuiabá/MT, estreitou o contato com

professores surdos, por meio do acompanhamento da formação continuada do Centro Estadual

de Apoio e Atendimento ao Deficiente Auditivo “Profª Arlete Migueletti”. A matriz curricular

do referido Centro está em transição, assim de Escola Especializada se tornará a primeira Escola

Plena Bilíngue de Surdos do Brasil, para isso, foi criado um grupo de estudos para construção

da matriz curricular específica desta escola, da qual participa a pesquisadora. Assim, o encontro

definitivo com a pesquisa nesta área remete às vivências desta pesquisadora relacionadas ao

ensino da matemática e a surdez, durante o seu percurso pessoal e profissional, que, por sua

vez, situa-se entre conhecimento acadêmico e prático e impulsiona os estudos direcionados à

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prática pedagógica de professores que ensinam matemática para alunos surdos inclusos em sala

de aula regular.

Nota-se que a escola se caracterizou historicamente pela delimitação do ensino,

favorecendo apenas a determinados grupos. Esta exclusão foi legitimada por meio de políticas

e práticas escolares reprodutoras da ordem social. Assim, sob formas distintas, a exclusão tem

apresentado aspectos comuns, evidenciados pela segregação na sala de aula, na qual

pressupõem a seleção e naturalizam o fracasso escolar de alguns alunos. Sob este aspecto,

destaca-se que o início da inclusão no Brasil foi influenciado por dois eventos educacionais que

discutiram o fracasso escolar. O primeiro evento, a Conferência Mundial de Educação para

Todos, ocorreu na Tailândia em 1990. Durante esse encontro discutiu-se a necessidade do

desenvolvimento de uma política educacional de qualidade, que disponibilizasse o atendimento

efetivo a um maior número de crianças na escola. Para além disso, dialogaram nesse evento

sobre a especificidade dos serviços para atendimento dos alunos, com ou sem deficiência.

Neste contexto, em 1994, a Declaração de Salamanca estabeleceu que as escolas de

ensino regular com orientação inclusiva busquem proporcionar os meios mais eficazes para

desconstruir as atitudes discriminatórias e possibilitar que estudantes com deficiência e altas

habilidades/superdotação tenham acesso à escola regular, a partir do princípio orientador de que

“as escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas,

intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras” (BRASIL, 2006, p. 330). Além disso,

neste período o conceito de educação inclusiva passou a ser discutido de forma mais sistemática,

assim, a inclusão parte da compreensão de que todos os alunos necessitam estar incluídos nas

atividades educacionais e sociais das escolas de ensino regular.

Nesta perspectiva, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação

Inclusiva (2008) foi elaborada segundo os preceitos de uma escola em que cada aluno tem a

possibilidade de aprender, baseado em suas aptidões e capacidades, e em que o conhecimento

se constrói sem resistência ou submissão ao que é selecionado para compor o currículo,

resultando na promoção de alguns alunos e na marginalização de outros do processo escolar.

Partindo dessa definição, propõe-se a não utilização do termo necessidades educacionais

especiais, uma vez que todos os alunos formam parte de um plano de trabalho mais amplo de

melhoria escolar que retrata a igualdade e a excelência para todos (BRASIL, 2014, p. 2). Ao

sinalizar um novo conceito de educação especial, a Política enseja novas práticas de ensino,

com vistas a atender as especificidades dos alunos que constituem seu público-alvo e garantir

o direito à educação a todos. Aponta para a necessidade de se subverter a hegemonia de uma

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cultura escolar segregadora e para a possibilidade de se reinventar seus princípios e práticas

escolares.

É importante esclarecer que a compreensão da educação especial sob este viés está

relacionada a uma concepção que muda a lógica do processo de escolarização, a sua

organização e o estatuto dos saberes que são objeto do ensino formal. Assim, é definida como

modalidade que não substitui a escolarização de alunos com deficiência, com transtornos

globais de desenvolvimento e com altas habilidades/superdotação, essa educação supõe uma

escola que não exclui alunos que não atendam ao perfil idealizado institucionalmente. Sob este

viés, a educação especial perpassa todos os níveis, etapas e demais modalidades de ensino, sem

substituí-los, oferecendo aos seus alunos serviços, recursos e acessibilidade ao ambiente, bem

como, conhecimentos escolares, e deixa de ser um sistema paralelo de ensino, com níveis e

etapas próprias. Neste contexto, as escolas e classes bilíngues também são mencionadas na Lei

brasileira de Inclusão, de nº 13.146/15, que, dentre outros atos, reafirma a responsabilidade do

poder público de ofertar educação bilíngue ao surdo, ensino de Libras e formação de

professores, tradutores, intérpretes e profissionais de apoio (BRASIL, 2015).

Contribuindo teoricamente, Mantoan (2015) afirma que para alcançar a inclusão escolar

é necessário avançar nas adequações curriculares, procedimentos metodológicos e organizações

específicas, a fim de superar o sistema educacional excludente, que apenas se adapta a um

determinado grupo social. No tocante à educação escolar de alunos surdos em sala de aula

regular surgem inquietações, tendo em vista o histórico acerca de seu processo de ensino e

aprendizagem, e aponta para a urgência de desconstrução de ideologias que se perpetuaram

historicamente.

No contexto da discussão da temática apresentada, S. Fernandes (2006) afirma que por

muito tempo os surdos foram vítimas de uma concepção errônea que vinculava a surdez com a

falta de inteligência, tornando-os marginalizados, em decorrência da crença hegemônica de que

não poderiam desenvolver a linguagem, assim, as possibilidades de aprendizagem estariam

comprometidas. Diante das reflexões referenciadas evidencia-se a necessidade de descontruir o

estigma do aluno visto como a origem de um problema, ou exigir do mesmo um ajustamento a

padrões de normalidade para aprender com os demais, propõe-se para os sistemas de ensino e

escolas a construção coletiva de condições que atendam a diversidade de seus alunos.

Desta forma, admite-se que os aspectos políticos, educacionais, linguísticos e culturais

sobre o ensino para o aluno surdo interferem no ambiente escolar e nas práticas pedagógicas

dos professores em sala de aula. Sob esta vertente, Libâneo (2001) afirma que a prática

pedagógica não deve ocorrer de forma isolada das relações sociais que caracterizam a estrutura

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econômica e política de uma sociedade, mas estão subordinadas a interesses sociais,

econômicos, políticos e ideológicos de grupos e classes sociais.

No que se refere ao ensino da matemática, Silva (2009, p. 38) enfatiza que o

conhecimento/saber matemático dos alunos e professores, bem como seu ensino, devem ser

entendidos como construções sociais, permeadas por reflexões, concepções e crenças; são estes

elementos que modelam o conhecimento, o pensamento matemático e a ação de todas essas

pessoas. Parece claro, portanto, que não se pretende afirmar que o conhecimento matemático

seja construído e compreendido apenas em contato com os outros, por depender, evidentemente,

de um conhecimento científico, mas somente enfatizar a importância dos aspectos histórico-

sociais neste processo. Vale ressaltar neste ponto os estudos realizados por Costa e Ferreira

(2015), nos quais, por meio de um levantamento das teses e dissertações disponíveis no

Diretório de Grupos Pesquisa no Brasil, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico

e Tecnológico (CNPQ), verificaram que a produção brasileira em Educação Matemática para

surdos ainda é pouco explorada. Neste contexto, destacam-se as pesquisas realizadas por:

Fávero e Pimenta (2002), Fávero e Pimenta (2006), Borges (2006), Fernandes (2007),

Magalhães e Healy (2007), Sales (2008), Silva (2008), Nogueira e Silva (2009), Souza e Healy

(2009), Barbosa (2009), Carvalho et al. (2010), Fávero (2010), Castro (2010), Vasconcelos

(2010), Barbosa (2011), Fernandes e Healy (2011).

Tendo em conta a relevância de estudos sobre a temática apresentada, esta pesquisa tem

o objetivo de investigar a prática pedagógica de professores que ensinam matemática para

alunos surdos do Ensino Médio de uma Escola da Rede Estadual de Cuiabá-MT. Assim, parte

da seguinte problematização: como é desenvolvida a prática pedagógica dos professores que

ensinam matemática para alunos surdos do Ensino Médio? Neste sentido, são apontados os

objetivos específicos: identificar as concepções dos professores sobre a prática pedagógica;

descrever a compreensão dos professores sobre a aprendizagem dos alunos surdos; evidenciar

quais procedimentos metodológicos que os mesmos utilizam para ensinar aos alunos surdos.

Para a compreensão do objeto deste estudo, dialoga-se teoricamente com: Caldeira e

Zaidan (2013), Contreras (2002), C. Fernandes (2008), Franco (2015) Freire (2001), Gadotti

(2003), Libâneo (2001), Sacristán e Pérez Goméz (2009), Vásquez (2011), Veiga (2008), os

quais definem que a prática pedagógica é uma atividade intencional de ensino, articulada à

educação como prática social e o conhecimento como produção histórica e social.

Assim, pela definição de Bogdan e Biklen (1994, p. 89), utiliza-se os pressupostos da

pesquisa de abordagem qualitativa, caracteriza-se como um estudo de caso do tipo exploratório,

por ser descritiva e interpretativa, na qual foram utilizados os seguintes instrumentos para coleta

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de informações: análise documental do Projeto Político Pedagógico, planejamento anual de

matemática e plano de aula, entrevista semiestruturada, e observação participante. As

apresentações dessas informações estão organizadas em três eixos centrais: proposta

pedagógica da escola para ensino de alunos surdos, concepções epistemológicas sobre a prática

pedagógica e ensino de matemática para alunos surdos e para a análise desses dados utiliza-se

o método interpretativo.

Quanto à organização, além desta introdução, este trabalho configura-se da seguinte

maneira: no primeiro capítulo, considerou-se pertinente abordar o conceito da Prática

Pedagógica, ou seja, o objeto deste estudo. Posteriormente, procederam-se as reflexões no

campo da Educação de surdos e da Prática Pedagógica, com destaque para o Ensino de

Matemática para o aluno surdo.

O segundo capítulo situa o contexto da pesquisa, como o lócus, os participantes, além

da questão de pesquisa, objetivos; indica, ainda, os procedimentos metodológicos e de coleta

das informações.

No terceiro capítulo, apresentam-se as análises das informações coletadas e as

considerações finais com base no referencial teórico abordado. Por fim, as considerações finais

têm por finalidade trazer a síntese dos resultados encontrados.

Neste sentido, acredita-se que este estudo pode provocar desdobramentos para o

desenvolvimento de outras pesquisas pautadas na perspectiva da racionalidade crítico-

emancipatória no ensino de matemática para alunos surdos.

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1 PRÁTICA PEDAGÓGICA: DEFINIÇÃO DO CONCEITO

Este capítulo tem como finalidade formular um entendimento acerca da definição

conceitual da Prática Pedagógica, objeto deste estudo. Assim, tecem-se reflexões teóricas a

partir do viés histórico da educação, bem como das concepções de ensino da matemática para

alunos surdos, considerando que este processo influencia no desenvolvimento das práticas de

ensino dos professores.

1.1 Prática Pedagógica: O que é?

Evidencia-se, no decorrer do processo histórico, que a educação priorizou a inserção de

determinados grupos sociais nas escolas. Deste modo, de maneira impositiva, foram

estabelecidas as normas para seleção das pessoas que teriam o direito de ingressar nas

instituições escolares. Este fato fortaleceu o desdobramento de uma organização escolar

caracterizada por práticas de ensino excludentes que se reproduziram nos dias atuais.

As práticas de ensino analisadas por esse viés retratam o modelo de educação positivista;

como afirma Contreras (2002), é instrumental porque supõe a aplicação de técnicas e

procedimentos que se justificam como meio para conseguir os efeitos ou resultados desejados,

delineados pela racionalidade técnica. Confirmando essa definição, Schön (2000, p. 14) destaca

o seguinte:

A racionalidade técnica se mostra como uma epistemologia da prática derivada da

filosofia positivista. [...] Profissionais rigorosos solucionam problemas instrumentais

claros através da aplicação da teoria e da técnica derivadas de conhecimento

sistemático, de preferência científico.

Sob esta vertente, Contreras (2002) critica o modelo acima mencionado, ao afirmar que

traduz a prática de um profissional técnico, retrata a sua ação apenas na aplicação de decisões

técnicas, e munidos dos resultados acerca das dificuldades de um grupo ou de determinado

aluno aplica o tratamento mais adequado à devida situação, esquecendo-se que cada sujeito

envolvido no processo de ensino e aprendizagem possui características que os torna únicos

nesse processo. Para o autor, se a educação for entendida como uma ação que não se reduz

apenas às salas de aula, mas que contenha como um dos seus atributos uma clara dimensão

social e política, a profissionalidade do professor pode significar uma análise e uma forma de

intervir nos problemas sociopolíticos que competem ao trabalho de ensinar (CONTRERAS,

2002).

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A esse respeito, este estudo adota como conceito a compreensão referenciada por C.

Fernandes (2008), em que a prática pedagógica é compreendida como prática intencional de

ensino e aprendizagem não reduzida à questão didática ou às metodologias de estudar e de

aprender, mas está articulada à educação como prática social 2 e ao conhecimento como

produção histórica e social, datada e situada, numa relação dialética entre prática-teoria,

conteúdo-forma e perspectivas interdisciplinares. Em consonância com essa definição, Franco

(2015, p. 605) afirma:

Uma aula só se torna uma prática pedagógica quando está organizada pelos

professores em torno: de intencionalidades, de práticas que dão sentido às

intencionalidades; de reflexão contínua para avaliar se a intencionalidade está

atingindo todos; de acertos contínuos de rota e de meios para se atingir os fins

propostos pelas intencionalidades e configura-se sempre como uma ação consciente e

participativa.

Neste direcionamento, Sacristán e Pérez Gómez (2009) enfatizam que as características

da sociedade, isto é, os modos de produção, influenciam no tipo de escola, ou seja, a escola é

uma instituição que atende a um determinado paradigma de sociedade, modelo de vida e

hierarquia de valores. Ao tratar da reflexão no contexto social, Bourdieu e Passeron (2001)

ratificam:

[...] o sistema escolar cumpre uma função de legitimação cada vez mais necessária à

perpetuação da “ordem social” uma vez que a evolução das relações de força entre as

classes tende a excluir de modo mais completo a imposição de uma hierarquia fundada

na afirmação bruta e brutal das relações de força.

Sob esta ótica, Pimenta e Ghedin (2005) alertam que a educação, além de retratar e

reproduzir a sociedade, também projeta a sociedade almejada, articulada ao processo

civilizatório e humano. Corroborando com a definição, D’Ambrósio (2012) afirma que a

educação é um ato político, e se algum professor desconsiderar esse fator é porque não

compreendeu absolutamente nada sobre sua profissão. O autor ressalta que tudo o que fazemos,

“o nosso comportamento, opiniões e atitudes” é registrado na consciência dos alunos, por isso

a premissa educação para a cidadania (D’AMBRÓSIO, 2012, p. 78).

Nesta perspectiva, Schön (2000, p. 234) sustenta que a atividade docente pautada na

racionalidade prática supõe a existência de um professor reflexivo que examina frequentemente

2 “[...] a educação é um fenômeno social, ou melhor, uma prática social que só pode ser compreendida no quadro

do funcionamento geral da sociedade da qual faz parte. Isso quer dizer que as práticas educativas não se dão de

forma isolada das relações sociais que caracterizam a estrutura econômica e política de uma sociedade, estando

subordinadas a interesses sociais, econômicos, políticos e ideológicos de grupos e classes sociais” (LIBÂNEO,

2001, p. 9).

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os resultados de suas ações, quer do ponto de vista pessoal, acadêmico ou sociopolítico. Para

ele, é preciso que o professor esteja atento aos padrões de fenômenos, e seja capaz de descrever

o que observa, de inclinar-se a desenvolver alternativas radicalmente simplificadas de

experiência e ser engenhoso ao propor formas de testá-las que sejam ajustados com os limites

de um ambiente de ação.

Ao pensar a educação na perspectiva de emancipação, Libâneo (2001) estabelece que

há, pois, duas características fundamentais do ato educativo: primeiro, a de ser uma atividade

humana intencional; segundo, a de ser uma prática social. No primeiro caso, sendo a educação

uma relação de influências entre pessoas, há sempre uma intervenção direcionada para fins

desejáveis do processo de formação, conforme opções do educador quanto à concepção de

homem e sociedade, ou seja, há sempre uma intencionalidade educativa, implicando escolhas,

valores, compromissos éticos. No segundo caso, a educação é um fenômeno social, uma vez

que só pode ser compreendida no quadro do funcionamento geral da sociedade da qual faz parte.

Na mesma direção dos autores referidos, compreende-se que a prática pedagógica é uma

prática social, portanto, não é possível pensar numa educação dissociada dos processos sociais,

políticos e culturais, os quais impulsionam os debates determinantes sobre a função social da

escola na contemporaneidade. Neste sentido, as transformações sociais advindas dos avanços

tecnológicos e científicos exigem mudanças nas formas de compreender e desenvolver o

processo de ensino na escola, a fim de responder às demandas que os contextos históricos lhes

impõem.

Nesta linha de raciocínio, Cunha (2006) ressalta que o professor não é mais um

transmissor de informações, mas constitui-se numa ponte que estabelece as mediações entre o

conhecimento escolarizado e as estruturas cognitivas e socioculturais dos estudantes. Observa

que as questões no entorno do conhecimento escolar não se esgotam na listagem de conteúdo,

logo, a formação dos estudantes se constrói das múltiplas relações que compõem suas vivências,

dentro e fora da escola.

Do ponto de vista de Sacristán e Pérez Gómez (1998), essa mudança não ocorre

espontaneamente ou apenas pela vontade e pelo discurso, ou seja, é função da escola provocar

a organização racional da informação fragmentária recebida e a reconstrução das preconcepções

acríticas; para isso, se requer uma transformação das práticas pedagógicas, bem como das

funções e atribuições dos professores. Em virtude desta realidade, não é possível concordar com

a escola nos moldes estabelecidos pela cultura da exclusão, tendo em vista a diversidade

inserida no ambiente educacional.

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Franco (2015) ainda ressalta que as relações humanas constituintes do cotidiano escolar,

os exemplos e testemunhos apreendidos pelos estudantes, os rituais e as práticas sociais que

acontecem no ambiente escolar e acadêmico se incluem nos conhecimentos escolarizados e, na

maioria das vezes, marcam a formação dos estudantes mais do que as aprendizagens das

diferentes matérias de ensino. Precisam, pois, ser objeto de atenção tanto quanto a listagem dos

conteúdos, com presença inequívoca no projeto pedagógico. De acordo com Pérez Gómez,

(2009, p. 103):

[...] refletir a prática implica: Imersão consciente do homem no mundo da sua

experiência, um mundo carregado de conotações, valores, intercâmbios simbólicos,

correspondências afetivas, interesses sociais e cenários políticos. O conhecimento

acadêmico, teórico, científico ou técnico, só pode ser considerado instrumento dos

processos de reflexão se for integrado significativamente, [...] em esquemas de

pensamento mais genérico ativados pelo indivíduo quando interpreta a realidade

concreta em que vive e quando organiza a sua própria experiência.

Cunha (2006) afirma que a importância e o significado do papel do professor não

dependem exclusivamente dele, uma vez que este será atribuído pela sociedade que o produz,

além disso, a importância dada a ele varia em função dos valores e interesses que caracterizam

esta sociedade em determinada época. Assim, por meio das proposições teóricas apresentadas,

compreende-se que a maneira de conduzir o ensino e selecionar os interesses para a

aprendizagem dos alunos estão relacionadas às concepções que os professores desenvolvem

acerca das relações com o mundo.

Sob esta vertente, Franco (2015) aponta que a prática pedagógica envolve as

circunstâncias da formação, os espaços-tempos escolares, as opções da organização do trabalho

pedagógico, as parcerias e expectativas do docente. Ou seja, na prática pedagógica estão

presentes não só as técnicas didáticas utilizadas, mas, também, as perspectivas e expectativas

profissionais, as influências sociais e culturais do espaço ensinante, dentre outros aspectos que

conferem uma enorme complexidade a este momento da docência. Prosseguindo essa

pesquisadora compreende, por meio das teorias elencadas, que o professor, ao refletir sobre os

contextos e as condições para desenvolvimento de sua prática pedagógica, formula

conhecimentos que favorecem a intencionalidade de sua aula – desta maneira, poderá

transformar a realidade em que está inserida essa prática (FRANCO, 2015). Assim, esta análise

possibilita a organização de ação e reflexão transformadora e se constitui em práxis pedagógica.

Neste sentido, a autora mencionada acima afirma que nas práticas pedagogicamente

construídas há a mediação do humano e não a submissão do humano a um artefato técnico

previamente construído. Desta maneira, uma aula ou um encontro educativo tornar-se-á uma

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prática pedagógica quando se organizar em torno de intencionalidades, bem como será prática

pedagógica quando incorporar a reflexão contínua e coletiva, de forma a assegurar que a

intencionalidade proposta seja disponibilizada a todos e que garantam que os encaminhamentos

propostos pelas intencionalidades possam ser realizados.

Caldeira e Zaidan (2013, p. 34), por sua vez, mencionam que as particularidades do

professor no contexto geral da prática pedagógica são marcadas pela “sua experiência, sua

corporeidade, sua formação, condições de trabalho e escolhas profissionais”. Nesta perspectiva,

Freire e Shor (1986) definem que a prática pedagógica é adjetivada pelo termo dialógica, na

qual a construção do conhecimento é vista como um processo realizado por ambos: professor e

aluno, na direção de uma leitura crítica da realidade.

A prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico,

dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer. [...] O que se precisa é possibilitar,

que, voltando-se sobre si mesma, através da reflexão sobre a prática, a curiosidade

ingênua, percebendo-se como tal, se vá tornando crítica (FREIRE, 2001 p. 42-43).

Ao refletir sobre isso, Contreras (2002) afirma que a reflexão crítica aponta para um

processo de tomada de consciência do educador que vai além de suas próprias intenções, pois

a criticidade que permeia esta reflexão, permite-lhe questionar a estrutura social que envolve

seu trabalho, possibilitando-lhe uma noção crítica e consciente da prática desenvolvida e das

consequências dessa prática social na sua atividade docente.

Schön (2000, p. 234), portanto, destaca que a atividade docente pautada na racionalidade

prática supõe a existência de um professor reflexivo que examina frequentemente os resultados

de suas ações, quer do ponto de vista pessoal, acadêmico ou sociopolítico, que precisa estar

atento aos padrões de fenômenos, ser capaz de descrever o que observa, estar inclinado a propor

modelos ousados e, às vezes, radicalmente simplificados de experiência e ser engenhoso ao

propor formas de testá-los que sejam compatíveis com os limites de um ambiente de ação. Neste

aspecto, Pérez Gómez (1992, p. 112) assim contribui:

Nas concepções de “racionalidade prática”, a prática docente é o ponto de partida a

partir do qual o professor analisa e interpreta suas atividades e elabora novas teorias,

sendo um processo formativo. Enquanto processo de desenho e intervenção sobre a

realidade, a prática é uma atividade criativa, que não pode considerar-se

exclusivamente uma atividade técnica de aplicação de produções externas.

Franco (2015, p. 605) enfatiza, então, que, para o professor exercer algum papel de

agente de transformação social, é importante que ele tenha conhecimento de toda essa

complexidade de fatores que influenciam sua prática pedagógica. Esclarece que esse conjunto

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de conhecimentos é a teoria da prática e pode ser compreendido como a antecipação ideal de

uma expectativa real. Para tanto, as ações desse professor serão direcionadas por uma

intencionalidade, consciente, planejada e refletida, e o cotidiano em suas aulas será rompido

para pausas de reflexão que determinarão seu fazer pedagógico. Nessas circunstâncias, o

professor nega a realidade – por exemplo, o fato de que a escola reproduz as desigualdades

sociais, e procura transformá-la em outra realidade, concretizando seu trabalho docente por

meio de sua práxis pedagógica.

Assim, com base nesse entendimento, Morin (2010, p. 13) ratifica que a prática

pedagógica conduz a uma educação transformadora, centrada na condição humana, no

desenvolvimento da compreensão, da sensibilidade e da ética, na diversidade cultural, na

diversidade de indivíduos e que privilegie a construção de um conhecimento de natureza

transdisciplinar, envolvendo as relações indivíduo-sociedade-natureza, assim, não se deve

dissociar o ensino e a sociedade, pois, como afirma Pérez Gómez (2000, p. 23), estamos vivendo

a “lógica da homogeneidade” e nos distanciado, cada vez mais, da “lógica da diversidade”.

Nesta perspectiva, Sacristán e Gómez (2000, p. 9-10) evidenciam que:

[...] sem compreender o que se faz, a prática pedagógica é mera reprodução de hábitos

existentes, ou respostas que os docentes devem fornecer a demandas e ordens

externas, e que [...] para transformar, é preciso ter consciência e compreensão das

dimensões que se entrecruzam na prática dentro da qual nos movemos.

Compreende-se que a intencionalidade na prática pedagógica está imbricada à

organização anterior da aula, ou seja, de maneira consciente, planejada, e efetiva para conduzir

uma aula que não se limite apenas aos conteúdos, mas que se estenda para além do ambiente

escolar. As proposições teóricas apresentadas evidenciam que a prática pedagógica transcorre

por um processo de tomada de consciência dos professores e remete ao momento anterior da

aula. Tal fato fortalece o entendimento de que no ambiente escolar o professor não desenvolve

apenas um exercício técnico. Sua função implica, dentre outras coisas, a divulgação da cultura

na perspectiva de ser aquele que detém um poder simbólico e institucional para condução das

formas culturais de pensar e agir em sociedade. Sob esta vertente, Caldeira e Zaidan (2010, p.

21) pontuam:

A Prática Pedagógica é entendida como uma prática social complexa, acontece em

diferentes espaço/tempos da escola, no cotidiano de professores e alunos nela

envolvidos e, de modo especial, na sala de aula, mediada pela interação professor

aluno-conhecimento. Nela estão imbricados, simultaneamente, elementos particulares

e gerais. Os aspectos particulares dizem respeito: ao docente – sua experiência, sua

corporeidade, sua formação, condições de trabalho e escolhas profissionais; aos

demais profissionais da escola – suas experiências e formação e, também, suas ações

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segundo o posto profissional que ocupam; ao discente – sua idade, corporeidade e sua

condição sociocultural; ao currículo; ao projeto político-pedagógico da escola; ao

espaço escolar – suas condições materiais e organização; à comunidade em que a

escola se insere e às condições locais.

Nessa perspectiva, a atividade do professor significa práxis quando é feita tendo em

vista o alcance de determinados resultados (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 1977). Essa antecipação

consciente do resultado que se pretende atingir é de natureza teórica. Mas, para que a realidade

seja transformada, é necessária uma ação prática. Neste sentido, com base no conceito de

prática pedagógica como prática intencional de ensino que visa à transformação social da

realidade do aluno, pode-se afirmar que a prática pedagógica no contexto da sala de aula não

pode ser definida, apenas, como um exercício meramente técnico, marcado pelo atendimento

às prescrições curriculares, pois, como afirmam Caldeira e Zaidan (2013), as necessidades

práticas que emergem do cotidiano da sala de aula e de outros espaços escolares demandam

uma teoria. Portanto, na prática estão presentes a ideia e a ação, que buscam transformar a

realidade, ou seja, há uma unidade entre teoria e prática, entre concepção e ação. Fundado nesta

definição teórica, o professor poderá compreender que o ato de ensinar é uma atividade social

e historicamente constituída para atender determinados padrões de normatização.

Dessa forma, a fim de situar a discussão no contexto da prática pedagógica de

professores que ensinam alunos surdos, considera-se que essas relações também são construídas

na interação das pessoas surdas e ouvintes. Estas relações, muitas vezes, são marcadas de

preconceitos que impossibilitam as mudanças necessárias para o desenvolvimento de um ensino

crítico, visto que negam a diferença cultural e linguística desses sujeitos. Partindo dessa

premissa, é imprescindível propor reflexões sobre a intencionalidade da prática pedagógica,

considerando que a forma de conduzir o ensino configura determinadas expectativas que podem

ou não produzir transformações na realidade social dos alunos surdos. Deste modo, esta

pesquisa, partindo das contribuições teóricas referenciadas, apoia-se na definição de uma

educação analisada a partir dos fenômenos sociais, à medida que se transforma e produz

transformações nos sujeitos que dela participam.

Neste contexto de reflexões sobre a inclusão de alunos surdos em escola de ensino

regular, cabe levantar algumas indagações: o que caracteriza uma prática pedagógica? Como

os professores compreendem a prática pedagógica diante do contexto histórico e social? Quais

concepções os professores têm sobre a surdez? Quais procedimentos metodológicos seriam

adequados para o ensino de matemática para alunos surdos?

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Mediante essas definições, compreende-se que a atividade docente é permeada por uma

pluralidade de saberes orientados pelos aspectos profissionais, formativos e políticos que

interferem na ação do professor em sala de aula. Para tanto, esses elementos conduzem a refletir

criticamente sobre as atribuições dos professores no que se refere às concepções de prática

pedagógica e atender a esse novo paradigma educacional. Desta maneira, faz-se necessário

ampliar as discussões teóricas e metodológicas referentes ao ensino para os alunos surdos

inclusos, pois, são fatores que interferem fortemente na prática pedagógica. Assim, para melhor

compreensão do tema exposto, o subtópico seguinte visa dialogar sobre os aspectos históricos

e concepções de ensino desenvolvidas no processo educacional destes alunos.

1.2 Concepções de Educação para Surdos: Aspectos Históricos

Atualmente, a todo o momento, os espaços sociais possibilitam a interação com pessoas

consideradas diferentes, seja pela sua condição física, etnia, gênero, enfim, pessoas que não se

adequam ao padrão social historicamente determinado com base em indivíduos brancos, héteros

e sem limitações físicas/cognitivas.

Diante desta multiplicidade de relações, não é possível deixar de visualizar essa

diversidade presente na escola, lugar onde se encontram inseridas as pessoas surdas. Portanto,

torna-se necessário, mesmo que sinteticamente, compreender pelo viés histórico a educação

escolar dos alunos surdos. Para isso, é fundamental reportar as práticas pedagógicas

estabelecidas neste processo. Apresenta-se historicamente que a educação do surdo foi

reservada àqueles que não frequentariam a escola, porém necessitavam de um tipo de ensino

destinado a empregar metodologias quer por meio de gestos ou pela escrita/fala, como

possibilidade de desenvolver formas de comunicação simples.

De acordo com Lacerda (1998), a proposta educacional para as pessoas surdas se

encaminhou por meio do embate político e epistemológico entre os “oralistas” e “gestualistas”.

Os primeiros exigiam que os surdos se reabilitassem, que superassem a surdez, que falassem e,

de certo modo, que se comportassem como se não fossem surdos. Os segundos eram mais

tolerantes diante das dificuldades do surdo com a língua falada e foram capazes de perceber que

os surdos desenvolviam uma linguagem que, ainda que diferente da oral, era eficaz para a

comunicação e lhes abria as portas para o conhecimento da cultura, incluindo aquela dirigida

para a língua oral.

Nesta vertente, S. Fernandes (2006) destaca que o foco das atenções na educação dos

surdos limitava-se a questões linguísticas e não pedagógicas. Descreve que o grande divisor de

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águas nesse percurso diz respeito a permitir-lhes ou não utilizar sua língua natural – a língua de

sinais – para aprender. Assim, no período da Idade Média foram praticados inúmeros atos

arbitrários movidos por nobres intenções, em nome do progresso ou da defesa da sociedade,

avalizadas pela palavra da religião ou da ciência. Sendo assim, Sá (2013 p. 3) destaca:

Em síntese, a história dos Surdos, contada pelos não-Surdos [sic], é mais ou menos

assim: primeiramente os Surdos foram “descobertos” pelos ouvintes, depois eles

foram isolados da sociedade para serem “educados” e afinal conseguirem ser como os

ouvintes; quando não mais se pôde isolá-los, porque eles começaram a formar grupos

que se fortaleciam, tentou-se dispersá-los, para que não criassem guetos.

Os elementos apresentados apontam que as concepções sobre a educação de pessoas

surdas fundamentaram-se em três abordagens principais: a oralista, a comunicação total e o

bilinguismo.

Oralismo é o nome dado ao conjunto de abordagens que consideram a fala e a

amplificação da audição o foco da atividade pedagógica, a partir de uma compreensão

equivocada de que a habilidade de falar seria equivalente ao domínio de uma língua. É uma

concepção clínica e medicalizada da surdez que enfatiza o déficit – a falta de audição – e assume

uma postura normalizadora, baseada na premissa de que existe uma identidade padrão à qual

todos devem se conformar, sendo necessário normalizar quem se afasta desse modelo. Nessa

vertente, toda a comunicação deve ser feita por via auditiva e pela leitura orofacial; há, então,

uma rejeição ao uso das línguas de sinais, consideradas prejudiciais à aprendizagem das línguas

orais (LANE, 1992; SKLIAR, 1998; 1999).

Neste contexto, Alvez, Ferreira e Damásio (2010) enfatizam que as escolas comuns ou

especiais pautadas no oralismo visaram à capacitação da pessoa com surdez para a utilização

da língua da comunidade ouvinte na modalidade oral, como única possibilidade linguística o

uso da voz e da leitura labial, tanto na vida social como na escola.

No entanto, as propostas educacionais, baseadas no oralismo, não conseguiram atingir

resultados satisfatórios, porque normalizaram as diferenças, não aceitando a língua de sinais

dessas pessoas e centrando os processos educacionais na visão da reabilitação e naturalização

biológica. De acordo com Quadros (1997):

A abordagem oralista trabalha com a aprendizagem da fala para a função de emissão

e o treino da leitura labial para a recepção da mensagem. Suas práticas reabilitadoras

lidam com o fato de que nem todo surdo possui as competências necessárias para

desempenhar esse processo com eficiência. Só 20% do conteúdo recebido pelo surdo

pode ser assimilado pela leitura labial.

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Sob esta ótica, S. Fernandes (2006) afirma que a supremacia da língua oral, como

aspecto primordial para inserção social, comprometeu significativamente os direitos e a

conquista da cidadania das pessoas surdas. Nota-se que neste período as práticas de ensino

desenvolvidas não consideraram a diferença linguística e cultural destes sujeitos. Estes

elementos fortaleceram o estereótipo da incapacidade de aprender por não ouvir, quando, na

verdade, não proporcionavam a apropriação de conhecimentos necessários para que esses

indivíduos fossem inseridos em práticas sociais.

Posteriormente, surgiu a comunicação total, essa abordagem de ensino considerou a

pessoa surda de forma natural, aceitando suas singularidades e permitiu o uso de todo e qualquer

recurso possível para a comunicação, na intenção de potencializar as interações sociais,

considerando as áreas cognitivas, linguísticas e afetivas dos alunos.

Duarte (2016) enfatiza que na filosofia da comunicação total a visão do sujeito surdo

deixa de ser focada na diferença patológica para dar lugar à diferença linguística. Essa filosofia

tem como objetivo viabilizar a interação entre surdos e surdos e entre surdos e ouvintes. Para

atingir esse objetivo, utiliza métodos, ideias e diferentes propostas pedagógicas para trabalhar

a educação dos surdos, facilitando o desempenho cognitivo, a aprendizagem da língua de sinais

e oral e o desenvolvimento socioemocional.

Conforme Alvez, Ferreira e Damásio (2010, p. 7), a comunicação total não valorizou a

língua de sinais e os resultados obtidos por meio da linguagem gestual, visual; os textos orais e

escritos e as interações sociais não possibilitaram um desenvolvimento satisfatório desses

alunos, que continuaram segregados e permaneceram marginalizados, excluídos do contexto

maior da sociedade. Os autores acrescentam:

Os dois enfoques – oralista e comunicação total – deflagraram um processo que não

favoreceu o pleno desenvolvimento das pessoas com surdez, por focalizar o domínio

das modalidades orais, negando a língua natural desses alunos e provocando perdas

consideráveis nos aspectos cognitivos, sócio-afetivos, lingüísticos [sic], políticos,

culturais e na aprendizagem. Em favor da modalidade oral, por exemplo, usava-se o

português sinalizado e desfigurava-se a rica estrutura da língua de sinais, cujo

processo de derivação lexical é descartado (ALVEZ; FERREIRA; DAMÁSIO, 2010,

p.7).

Coutinho (2015, p. 71) afirma que a maior crítica à Comunicação Total é sobre a prática

do bimodalismo, que é o uso simultâneo de dois códigos: a língua oral e a língua de sinais.

Destaca que por serem duas línguas com estruturas diferentes é impossível a utilização de

ambas sem o sacrifício de uma delas. Assim, os sinais da Libras são utilizados na estrutura da

Língua Portuguesa, o que provoca a descaracterização da primeira em detrimento da segunda.

Além disso, eram inventados gestos para elementos de ligação como conjunções, preposições

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e outros elementos da Língua Portuguesa que não têm representação na Libras, tal e qual os

sinais metódicos criados por L’Epée. Nessa proposta, na tentativa de possibilitar que a criança

surda se comunicasse, eram permitidas todas as formas de comunicação, aceitavam-se os

gestos, sinais, figuras e escrita, no entanto, não favorecia a definição de nenhuma das línguas

envolvidas, ou seja, nem a língua oral e nem a língua de sinais (LACERDA, 1998).

Por conseguinte, paralelamente ao desenvolvimento das propostas de comunicação

total, estudos sobre línguas de sinais foram se tornando cada vez mais estruturados e, com eles,

foram surgindo também alternativas educacionais orientadas para uma educação bilíngue.

Nesta perspectiva, Lacerda (1998) afirma que a educação bilíngue se contrapõe ao modelo

oralista porque considera o canal visogestual de fundamental importância para a aquisição de

linguagem da pessoa surda. E contrapõe-se à comunicação total porque defende um espaço

efetivo para a língua de sinais no trabalho educacional; por isso, advoga que cada uma das

línguas apresentadas ao surdo mantenha suas características próprias e que não se “misture”

uma com a outra.

Como discorrido anteriormente no texto, após lutarem contra um processo educacional

marcado por práticas de ensino excludentes, os surdos se posicionaram e conquistaram o direito

a uma educação assumida pelos surdos e para os surdos. Os documentos oficiais reforçam essa

luta por meio da Lei n.º 10.436, de 24 de abril de 2002, regulamentada por meio do Decreto n.º

5.626, de 22 de dezembro de 2005, com o reconhecimento da Libras como língua natural da

comunidade surda. De acordo com o Decreto 5.626 de 5 de dezembro de 2005, as pessoas

surdas têm direito a uma educação que garanta a sua formação, em que a Língua Brasileira de

Sinais e a Língua Portuguesa, na modalidade escrita, constituam línguas de instrução, e que o

acesso às duas línguas ocorra de forma simultânea no ambiente escolar, colaborando para o

desenvolvimento de todo o processo educativo.

O Artigo 22 do Capítulo VI do Decreto n. 5.626 prevê professores bilíngues na

educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental, garantindo o direito à educação com

acesso às aulas ministradas em Libras e às leituras em Língua Portuguesa. A importância de os

professores saberem Libras garante que a língua materna do surdo seja língua de instrução, indo

além de conversas informais e interação com os alunos.

Art. 22. As instituições federais de ensino responsáveis pela educação básica devem

garantir a inclusão de alunos surdos ou com deficiência auditiva, por meio da

organização de: I - escolas e classes de educação bilíngue, abertas a alunos surdos e ouvintes, com

professores bilíngues, na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental;

II - escolas bilíngues ou escolas comuns da rede regular de ensino, abertas a alunos

surdos e ouvintes, para os anos finais do ensino fundamental, ensino médio ou

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educação profissional, com docentes das diferentes áreas do conhecimento, cientes da

singularidade linguística dos alunos surdos, bem como com a presença de tradutores

e intérpretes de Libras – Língua Portuguesa. §1º São denominadas escolas ou classes de educação bilíngue aquelas em que a Libras

e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no

desenvolvimento de todo o processo educativo.

Assim, a promulgação da Lei nº 12.319 de 01 de novembro 2010 regulamentou a

profissão do Intérprete. No Brasil, além de ter domínio sobre a Libras, este profissional precisa

ter domínio do idioma falado no país, conhecer processos, estratégias, técnicas de interpretação

e tradução e possuir formação específica na área de atuação. Conforme os Artigos 1º e 2º dessa

lei, verificamos o seguinte:

Art. 1º Esta Lei regulamenta o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete da

Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Art. 2º O tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das 2 (duas)

línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e

interpretação da Libras e da Língua Portuguesa.

Convém ressaltar que, mediante a legislação descrita, não cabe ao intérprete assumir a

responsabilidade do professor regente em situações relacionadas ao ensino e aprendizagem do

aluno surdo. Logo, a função do profissional intérprete, no contexto da sala de aula, é atuar como

mediador da comunicação entre o aluno surdo e o professor ouvinte, ou seja, realizar as

traduções entre os que compartilham línguas e culturas3 diferentes. Destaca-se ainda conforme

Quadros (2004) que existem diversos problemas de ordem ética que surgem em função do

modelo de intermediação que se constrói em sala de aula. A autora afirma que muitas vezes, o

trabalho exercido pelo intérprete em sala de sala de aula acaba sendo confundido com a função

do professor e que os próprios alunos surdos acabam direcionando questões ao intérprete sobre

conteúdos escolares, resultando em diálogos e discussões em relação aos assuntos abordados

em sala com o intérprete e não com o professor.

Nesta perspectiva, Lacerda (2000) enfatiza que o ensino bilíngue preconiza que o surdo

deve ser exposto o mais precocemente possível a sua língua natural, identificada como uma

língua passível de ser adquirida por ele sem que sejam necessárias condições especiais de

aprendizagem. Que também seja ensinada ao surdo a língua da comunidade ouvinte na qual

está inserido, em sua modalidade oral e/ou escrita, sendo esta ensinada com base nos

conhecimentos adquiridos por meio da língua de sinais.

3 O conceito de cultura surda, referido aqui, remete-se às palavras de Perlin (2004, p. 78): “A cultura surda é o

lugar para o sujeito surdo construir sua subjetividade de forma a assegurar a sua sobrevivência e a ter seu status

quo diante das múltiplas culturas, múltiplas identidades”

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Perlin (1998) ressalta que o principal fator de influência da identidade surda é, com

certeza, a língua de sinais, pois permite a comunicação e a interação com o mundo por meio da

modalidade visual-espacial, livre da marginalização imposta pela modalidade oral-auditiva,

como é comprovado por estudos sobre a surdez, presentes na literatura da área.

Diante disso, Machado (2002) enfatiza que por meio da língua de sinais, o surdo é capaz

de produzir conhecimentos tão organizados quanto os ouvintes, não podendo o mesmo ser

considerado incapaz em decorrência do puro dado orgânico que implica a incapacidade de

ouvir. Na realidade, a presença da surdez resulta em uma condição de estar no mundo e não

uma doença.

Ao teorizar sobre a temática, Skliar (2001, p. 90-91) destaca que uma primeira conclusão

necessária é entender que a educação bilíngue constitui um ponto de partida para uma discussão

política sobre as questões de identidades surdas, relações de poder e conhecimento entre surdos

e ouvintes, movimentos de resistência dos surdos, ideologias dominantes, discursos

hegemônicos, a função da escola, a articulação de políticas públicas.

Em consonância, Dorziat (2004) afirma que é primordial haver uma proposta bilíngue

em que todas as escolas se adaptem às necessidades das pessoas surdas. Esta autora observa

que os professores precisam conhecer e usar a Língua de Sinais nos ambientes educacionais,

mas a simples adoção dessa língua não é suficiente para escolarizar o aluno surdo.

Nesta abordagem, Souza (2011, p. 30-31) ressalta que o ensino bilíngue não deve ser

pensado apenas na questão pedagógica de sala de aula, quando é disponibilizada a presença do

intérprete. Faz-se necessário que o Projeto Político Pedagógico das escolas seja bilíngue, com

a participação dos sujeitos surdos, que as políticas educacionais contemplem uma educação que

reconheça a surdez como diferença, e, principalmente, ultrapassem os muros da escola e atinjam

outras instituições, em especial a família.

Skliar (1997a) defende que o intuito do modelo bilíngue é proporcionar uma identidade

bicultural, pois permite ao surdo desenvolver potencialidades dentro de sua cultura surda e criar

interações, através dela, com a cultura ouvinte. Com representações de ambas, as comunidades

interagem e criam na aula papéis pedagógicos diferentes, por meio desta inclusão de duas

línguas e duas culturas diferentes.

Nesse sentido, Alvez, Ferreira e Damásio (2010, p. 7) explicitam que a educação dos

alunos surdos por meio do bilinguismo propõe a liberdade do aluno se expressar em uma ou em

outra língua e de participar de um ambiente escolar que desafie seu pensamento e exercite sua

capacidade perceptivo-cognitiva, suas habilidades para atuar e interagir em um mundo social

que é de todos, considerando o contraditório, o ambíguo, as diferenças entre as pessoas. No

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entanto, o que se percebe nas salas de aula são inúmeros desafios para estabelecimento de

práticas de ensino que atendam efetivamente aos alunos surdos.

Nota-se que a abordagem educacional por meio do bilinguismo visa capacitar a pessoa

surda para a utilização de duas línguas no cotidiano escolar e na vida social, quais sejam: a

língua de sinais e a língua da comunidade ouvinte. No Bilinguismo não se vê o sujeito surdo

como incapaz e muito menos como impossibilitado de ter acesso aos conhecimentos como

qualquer aluno que tenha este direito. Ele “não pressupõe que os conteúdos do currículo oficial

das escolas sejam diferenciados para os surdos” (SÁ, 2013, 182), mas que o professor repense

suas ações em sala de aula e esteja atento às necessidades reais deste ser humano com surdez.

Ainda nessa discussão, Quadros (1997) afirma que a Língua de Sinais é a primeira

língua do surdo, aponta a necessidade de que os conteúdos escolares precisam ser trabalhados

por meio dela e neste aspecto a Língua Portuguesa, na modalidade escrita, será ensinada com

base nas habilidades interativas e cognitivas já adquiridas pelas crianças surdas nas suas

experiências com a Língua de Sinais.

A este propósito, Quadros (2005) esclarece que a educação de surdos, tendo uma

proposta bilíngue, deve gozar de um currículo organizado com perspectiva visual-espacial para

garantir ao aluno surdo o acesso a todos os conteúdos escolares na Língua Brasileira de Sinais.

Desta forma, o Bilinguismo seria a proposta mais adequada para o ensino de alunos surdos,

tendo em vista que se considera a língua de sinais como língua natural e parte desse pressuposto

para o ensino da língua escrita. Neste sentido, as pesquisas desenvolvidas têm demonstrado que

em virtude de respeitar a língua natural e construir um ambiente propício para a aprendizagem

escolar o bilinguismo corresponde melhor às necessidades do aluno surdo.

Deste modo, faz-se necessária a desmistificação das práticas de ensino

homogeneizadoras, partindo do reconhecimento das singularidades linguísticas e culturais do

aluno surdo. Para além disso, compreende-se nesta pesquisa que as condições de trabalho do

professor, nas quais estão imbricados o processo de formação inicial e continuada, também

interferem no processo de inclusão escolar desses alunos em sala de aula. Partindo deste

entendimento, o subtópico seguinte apresenta algumas reflexões sobre a educação inclusiva

para alunos surdos.

1.3 Inclusão de alunos surdos na escola de ensino regular

Por meio das discussões suscitadas no decorrer deste capítulo, entende-se que o

movimento mundial pela educação inclusiva se constitui como ação política, cultural, social e

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pedagógica, encaminha em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo

e participando, sem nenhum tipo de discriminação.

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008)

estabelece propostas de mudanças no ambiente escolar e nas práticas sociais/institucionais para

propiciar a participação e aprendizagem dos alunos surdos na escola comum. Assim, para que

haja a inclusão, parte-se do pressuposto de que todos os alunos precisam ter acesso aos

conhecimentos de igual modo.

Desse modo, Mantoan (2015) enfatiza que para ser considerada inclusiva a educação

precisa romper com o paradigma moderno da educação fragmentada, do cientificismo, da

desvalorização dos saberes desenvolvidos para além dos espaços acadêmicos. Prosseguindo,

destaca que deve atuar para resgatar a dimensão subjetiva, afetiva e criadora do processo

educativo. Ainda segundo essa autora “se o que pretendemos é que a escola seja inclusiva, é

urgente que seus planos se redefinam para uma educação voltada para a cidadania global, plena,

livre de preconceitos e que reconhece e valoriza as diferenças” (MANTOAN, 2015, p. 13).

Neste sentido, a educação inclusiva reflete um paradigma educacional fundamentado na

concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis,

avançando em relação à ideia de equidade formal, ao contextualizar as circunstâncias históricas

da produção da exclusão dentro e fora da escola (BRASIL, 2007, p. 1). Diante disso, Nogueira

(2013) ressalta:

A educação que busca atender à singularidade humana exige adoção de ações

marcadas pelo conhecimento acerca da diferença e pela determinação em favorecer a

superação de eventuais dificuldades dela decorrentes. O respeito pedagógico a

condições singulares de crianças e jovens marcadamente nos anos da educação básica,

é uma ação humana e política, de modo que negligenciar a diferença significa

negligenciar a própria educação.

Assim sendo, Moreira (2012) afirma que a deficiência, vista como um fenômeno

socialmente construído, referenciado em interpretações que buscam a homogeneidade, a

rotulação e a classificação, precisa ser superada, sobretudo, nos ambientes escolares. Partindo

dessa premissa, compreende-se que o paradigma inclusivo não coaduna com as concepções que

dicotomizam as pessoas com ou sem deficiência, pois os seres humanos se igualam na

diferença, refletida nas relações, experiências e interações.

No que se refere à educação escolar das pessoas surdas, observa-se que historicamente

foi delineada por diferentes concepções. Assim, partindo da perspectiva clínica, a surdez é

compreendida como um problema patológico, ou seja, seria uma deformidade que deve ser

tratada, pois impõe que todo surdo deva ser curado. A mudança desta concepção ocorreu por

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meio do modelo socioantropológico, a partir do reconhecimento da Língua de Sinais como o

canal de comunicação natural do surdo. Essa compreensão situa a pessoa surda em outra esfera,

pois considera sua diferença linguística e valoriza sua capacidade de desenvolvimento.

Portanto, as pessoas surdas não podem ser reduzidas à condição sensorial, nem devem ser

desconsideradas as potencialidades que as integram como seres de consciência, pensamento e

linguagem.

De acordo com Nogueira (2013), as discussões em torno da educação de alunos surdos,

em tempos de inclusão, têm sido frequentemente direcionadas ora por um viés filosófico, ora

por um viés político e, poucas vezes, pelo viés educacional. O autor afirma que há, nessa área,

até mesmo em estudos que se opõem à inclusão compulsória do aluno surdo no ensino regular,

uma carência de pesquisas que assumam o compromisso de ir além da já constatada necessidade

de assegurar o acesso restrito à educação bilíngue.

Conforme S. Fernandes (2006, p. 5), a escola inclusiva tem o compromisso com o

respeito à pluralidade cultural e com o acolhimento às diferenças individuais, o que implica

reconhecer a diferença linguística relativa aos surdos, que, pela falta da audição, necessitam do

acesso a experiências linguísticas mediadas por uma língua que não ofereça barreiras à sua

interação e aprendizagem: a Língua de Sinais.

Nesta direção, Dorziat (2004) considera que a inclusão social de pessoas surdas,

objetivando sua participação social efetiva, depende de uma organização das escolas,

considerando três critérios: a interação por meio da língua de sinais, a valorização de conteúdos

escolares e a relação conteúdo-cultura surda. A respeito dessa temática, Lacerda (2006) assinala

que a inclusão escolar é um processo dinâmico e gradual, que toma diversas formas a partir da

necessidade dos alunos. Para a autora, o professor torna-se responsável por incentivar e mediar

a construção do conhecimento, uma vez que desenvolve sua prática pedagógica na interação

com o aluno surdo.

Contribuindo, Frias (2010, p. 13) afirma que são necessárias mudanças no sistema

educacional e adaptação no currículo, com alterações nas formas de ensino, metodologias

adequadas e avaliação condizentes com as necessidades do aluno surdo; requer também

elaboração de trabalhos que promovam a interação em grupos na sala de aula e espaço físico

adequado à circulação de todos.

Assim, diante da relevância da diversidade inserida no âmbito escolar, a construção do

currículo inclusivo se apresenta como uma questão fundamental para atender as necessidades

educativas dos alunos, a partir da compreensão de que o currículo é o responsável por direcionar

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a prática pedagógica dos professores. Ressalta-se que esta pesquisa assume o conceito de

currículo definido por Sacristán (2000, p. 17):

Os currículos são a expressão do equilíbrio de interesses e forças que gravitam sobre

o sistema educativo num dado momento, enquanto que através deles se realizam os

fins da educação no ensino escolarizado. Por isso, querer reduzir os problemas

relevantes do ensino à problemática técnica de instrumentar o currículo supõe uma

redução que desconsidera os conflitos de interesse que estão presentes no mesmo.

De acordo com o autor, o currículo, em seu conteúdo e nas formas pelas quais nos

apresenta e se apresenta aos professores e aos alunos, é uma opção historicamente configurada,

que se sedimentou dentro de uma determinada trama cultural, política, social e escolar; está

carregado, portanto, de valores e pressupostos que precisam ser decifrados. Tarefa a cumprir

tanto a partir de um nível de análise político-social quanto a partir do ponto de vista de sua

instrumentação mais “técnica”, descobrindo os mecanismos que operam em seu

desenvolvimento dentro dos campos escolares.

Portanto, o currículo, entendido numa conjuntura social e cultural, expressa o equilíbrio

de interesses e forças que gravitam sobre o sistema educativo num dado momento, enquanto

por meio dele se realizam os fins da educação no ensino escolarizado. Por isso, reduzir os

problemas relevantes do ensino à problemática técnica de instrumentar o currículo supõe uma

redução que desconsidera os conflitos de interesse que estão presentes no mesmo

(SACRISTÁN, 2000, p. 17). Para tanto, é preciso pensar num currículo inclusivo que contenha

adaptações curriculares que possam melhor apoiar os alunos nas suas aprendizagens. Nesta

linha de raciocínio, Mantoan (2001, p. 53-54) enfatiza este posicionamento quando relata:

Reconstruir os fundamentos e a estrutura organizacional das escolas na direção de

uma educação de qualidade para todos remete, igualmente, a questões específicas,

relacionadas ao conhecimento do objeto ensinado e ao sujeito que aprende. Trata-se

de mais um desafio que implica a consideração da especificidade dos conteúdos

acadêmicos e a subjetividade do aprendiz, ou seja, um sistema duplo de interpretação

do ato de educar, referendado por pressupostos de natureza epistemológica e

psicológica, e a concretização de propostas inovadoras que revertam o que

tradicionalmente se pratica nas salas de aula.

Neste contexto de discussão, torna-se fundamental refletir sobre a função social que a

escola desempenha para a desconstrução de estereótipos sobre a educação das pessoas surdas,

com ênfase na atuação do professor e o desenvolvimento de uma prática pedagógica que

considere os aspectos culturais e linguísticos destes alunos.

Machado (2008, p. 45), então, ressalta que o surdo traz consigo uma língua própria e

formas diferenciadas de aprendizagem e que, ao buscar homogeneizar e padronizar o ensino, a

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escola reforça uma visão estática e linear do processo de ensino e aprendizagem, manifestando,

assim, uma visível dificuldade em lidar com as mais diversificadas formas e ritmos de

aprendizagem.

Nesta vertente teórica, Dorziat (2004) afirma que as escolas inclusivas devem

possibilitar um trabalho baseado na interação por meio da Língua de Sinais, como possibilidade

inicial de ensino. Deste modo, o autor propõe a utilização de conteúdos científicos adaptados e

coerentes com as particularidades de cada aluno surdo; além disso, no desenvolvimento das

atividades, deve haver interação com a cultura surda, a fim de que possam ter uma participação

social efetiva e não se sentir inferiorizados diante de seus pares.

Nesse sentido, evidencia-se neste estudo a relevância de ampliar proposições teóricas e

metodológicas como possibilidade de subsidiar o ensino de matemática para alunos surdos por

meio de uma prática pedagógica bilíngue. Deste modo, o subtópico seguinte enfatiza a

discussão sobre a temática apresentada.

1.4 Ensino de matemática para alunos surdos: Prática Pedagógica Bilíngue

Observa-se que as concepções de ensino desenvolvidas para atender as pessoas surdas

são marcadas pela segregação e exclusão social, designada por condutas sociais de

medicalização, a fim de reconstruir o sujeito a partir dos padrões sociais da normalidade e foram

instituídas com base em uma visão reducionista, ao desconsiderar suas capacidades para a

aprendizagem. Dessa maneira, Duarte (2016, p. 29) assim ressalta:

Quando nos referimos à perseguição e exclusão social não estamos sendo

melodramáticos nem panfletários, estamos diretamente considerando um sujeito que

ainda é marginalizado pelo seu fenótipo e/ou pela sua característica linguística. Ora,

sabemos que sujeito visual não tem comprometimento mental nem tão pouco

inferioridade cognitiva, simplesmente, utiliza-se de uma língua com estruturas e

modalidades diferentes das orais, consideradas “normais” e legitimadas.

De acordo com Coelho (2010), na história da educação de surdos, estes têm sido

narrados e representados pelos ouvintes muitas vezes como pessoas deficientes, sem autonomia,

sem língua, excluídas socialmente. Muitos surdos, ao se compararem com os ouvintes, sentem-

se menos capazes, atrasados na escola, assumindo, assim, uma identidade negativa e

desvalorizada. Entretanto, cada vez mais, “a essa identidade atribuída, os surdos respondem

com uma identidade reclamada: a de serem (orgulhosamente) cidadãos surdos” (COELHO,

2010, p. 30).

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Sobre o assunto, Duarte (2016, p. 41) destaca a necessidade de considerar o aluno surdo

com base em novas concepções, ou seja, com novos acordos de sentidos, ao olhar para o sujeito

com valoração social, visto que uma real inclusão não só escolar, mas socialmente legítima no

que concerne à diferença. Prosseguindo o autor teoriza que o sujeito que tem comprometimento

auditivo, segundo diagnóstico médico, deve ser representado pelo que tem de mais potencial na

recepção da linguagem: a percepção visual.

O autor mencionado ainda apresenta uma analogia com a concepção de sujeito ouvinte

como normalidade linguística, e sugere a utilização do termo sujeito visual, alicerçado no

mesmo princípio de normalidade linguística em que as línguas de sinais se apresentam. Para

ele, a concepção visual é a que melhor espelha o sujeito no que se refere às características de

sua língua visuoespacial, e não às marcas histórias nem tampouco a uma marca clínica da

deficiência, sendo este o primeiro passo rumo a uma autonomia social.

Partindo da compreensão que anteriormente as lutas sociais estavam focadas na

afirmação da igualdade, atualmente dão espaço à afirmação da diferença. E para além disso,

estamos nos conscientizando de que somos diferentes, mas não se trata de uma diferença de

fato, mas de direito, “não só o direito dos diferentes serem iguais, mas o direito de afirmar a

diferença” (CANDAU, 2008, p. 47). Pérez Gómez (1998, p. 20) contribui com a seguinte

assertiva:

Com o intuito de formar o cidadão capaz de intervir na vida pública a escola deve

provocar o desenvolvimento de conhecimentos, ideias, atitudes e pautas que permitam

sua incorporação na vida política e social, esferas que requerem “participação ativa e

responsável de todos os cidadãos considerados por direito como iguais”.

Trazendo essa discussão no contexto da surdez, Machado (2002, p. 36) ressalta que

pensar uma educação para surdos que considere suas características sociais, descartando a

patologia e a aproximação do surdo com o modelo ouvinte é tarefa que só muito recentemente

vem sendo realizada e está longe de ser consenso entre a maioria dos envolvidos, pois a forma

de pensar essa educação está ligada a outras representações frente aos surdos e à surdez. Além

disso, a visão sócio-antropológica da surdez, pelo seu caráter inovador, ainda está em

construção.

Por outro lado, Borges (2016) destaca que a representação docente sobre o aluno surdo,

no tocante ao reconhecimento de uma aprendizagem diferenciada, e a utilização da língua de

sinais, dentre outros aspectos, influencia diretamente na ação pedagógica em sala de aula. Para

ele, o professor precisa ter uma visão da surdez como uma diferença, respeitando a

especificidade visual do indivíduo surdo, e não como uma deficiência. O autor menciona em

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seu trabalho que os professores de alunos surdos se esforçam e buscam, por conta própria,

maneiras de se comunicar com os surdos e promover a aprendizagem e denuncia a fragilidade

do sistema educacional brasileiro ao oferecer poucas condições de investimentos para a

formação do professor neste aspecto.

Além disso, Silva (2000) aponta que as dificuldades encontradas em sala de aula, no

processo de educação bilíngue dos surdos, também estão relacionadas à falta de interesse e

participação dos pais, à inaplicabilidade da legislação vigente, à falta de domínio da Língua

Brasileira de Sinais pelos professores, dentre outros. Contribuindo Viana (2014, p. 46) destaca:

Observa-se, assim, que há particularidades na forma de o aluno surdo aprender. Essa

aprendizagem informal, que se dá nas interações cotidianas, em comunidades ouvintes

pode não acontecer entre os indivíduos surdos, filhos de pais não usuários da língua

de sinais. Sendo assim, é necessário que o professor crie situações de aprendizagem

que desenvolvam competências como saber comunicar-se, saber trabalhar em grupo,

saber buscar e organizar informações, propor soluções e relacionar problemas

matemáticos com o cotidiano. (VIANA, 2014, p. 46)

Nesta direção, Leite (2007, p. 25) informa que as experiências informais são

compartilhadas na sociedade, prioritariamente, por meio da comunicação oral. Para a autora,

quando os surdos são filhos de pais ouvintes, que desconhecem a língua de sinais, essas

experiências são mais dificilmente compartilhadas. Neste caso, os alunos surdos deixam de ser

estimulados em sua língua materna no período que corresponde ao desenvolvimento da

linguagem e, quando chegam a idade escolar, as instituições escolares ainda não se encontram

preparadas na íntegra para trabalhar com essa especificidade linguística. Assim, quando, na

escola, os professores negam esta forma de interação, a gestual, e fazem uso da oralidade, as

trocas informais se perdem, agravando o quadro de carência de informação.

Nessa perspectiva, compreende-se que a prática pedagógica no contexto da sala de aula

não pode ser pensada apenas como um exercício meramente técnico, marcado pelo atendimento

às prescrições curriculares desenvolvidas por outrem. As técnicas, sejam elas de que tipo for,

serão sempre meios para o professor articular conhecimentos gerais e disciplinares com vistas

à aprendizagem de seus alunos. Para Silva (2009, p. 42), evidencia-se, inclusive, a ausência,

ainda, um despertar crítico-reflexivo na postura dos professores em relação ao ensino, ou

melhor, uma intencionalidade educativa transformadora. Para o autor, não se vê uma prática

embasada na perspectiva de uma racionalidade que ultrapasse a ideia do “saber fazer” na qual

predominam o conhecimento técnico acerca da prática educativa, um pensar simplista sobre a

prática – reflexão sobre a prática –, ou seja, inexiste uma perspectiva que alcance uma ação

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fundamentada na transformação do contexto educacional e social. Deste modo, Paixão (2010,

p. 155) destaca:

O professor reflexivo, dentre outros aspectos, precisa problematizar a existência do

aluno diferente, real, e quem sabe assim contribuir na prática de professores mais

flexíveis e reflexíveis as adversidades do contexto social educacional. Pois hoje,

estamos discutindo os saberes para incluir o aluno surdo, mas amanhã a discussão para

novos saberes pode e deve ser outra, e assim o professor precisa estar ciente de que

não estará preparado para saber trabalhar com esse ou aquele aluno, mas que está apto

para investigar esses saberes a partir de sua própria prática e/ou experiência.

De acordo com Pérez Gómez (1998, p. 371), o profissional docente deverá refletir sobre

as normas, crenças e apreciações tácitas subjacentes que minam os processos de valorização e

julgamento, sobre as estratégias e teorias implícitas que determinam uma forma concreta de

comportamento, sobre os sentimentos provocados por uma situação e que condicionaram a

opção de um determinado curso de ação, sobre a maneira como se define e estabelece o

problema e sobre o papel que ele mesmo desempenha como profissional dentro do contexto

institucional, escolar, em que atua.

Neste viés, Libâneo (1994) destaca que o trabalho docente é a parte integrante do

processo educativo mais global pelo qual os membros da sociedade são preparados para a

participação da vida social. Em função disso, esclarece que é essencial o papel do professor na

inserção e construção social de cada indivíduo em formação. O educador deve ter como

principal e fundamental compromisso com a sociedade formar alunos que se tornem cidadãos

ativos, críticos, reflexivos e participativos na vida social. Deste modo, Sacristán e Pérez Goméz

(1998) compreendem:

[...] ensino como atividade crítica, uma prática social saturada de opções de caráter

ético, na qual os valores que presidem sua intencionalidade devem ser traduzidos em

princípios de procedimentos que dirijam e que se realizem ao longo de todo o processo

de ensino aprendizagem.

Nessa direção, Contreras (2002) argumenta que a reflexão crítica possibilitaria aos

professores avançarem para um processo de transformação da prática pedagógica, mediante sua

própria transformação como intelectuais críticos. Para o autor, a reflexão crítica deve permitir

ao professor analisar e questionar as estruturas institucionais em que trabalha, de modo a pensar

sobre o sentido social e político de sua própria prática. Para tanto, é necessária uma crítica

sócio-histórica da profissão docente e das escolas, pois é essa condição que demonstra a

capacidade de superar estreitamentos teóricos e dependências ideológicas, integrando-se,

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assim, aos processos de transformação e compreensão de formas de dominação e de

possibilidades de ação.

Na contramão de um direcionamento meramente reprodutor, Sacristán e Pérez Gomez

(2000, p. 9) alertam que “[...] sem compreender o que se faz, a prática pedagógica é mera

reprodução de hábitos existentes, ou respostas que os docentes devem fornecer às demandas de

ordem externas” e que “[...] para transformar, é preciso ter consciência e compreensão das

dimensões que se entrecruzam na prática dentro da qual nos movemos” (SACRISTÁN; PÉREZ

GÓMEZ, 2000, p. 10).

Libâneo (2004, p. 7), por sua vez, acrescenta que no desenvolvimento dos processos de

ensinar a aprender, à medida que envolvem situações específicas em sala de aula, com a

intervenção pedagógica do professor, é necessário levar em consideração alguns fatores que

afetam a motivação: “[...] Trata-se, primeiro, de que os conteúdos tenham significação e valor

dentro do contexto cultural de vida dos alunos; segundo, de criar um clima de interação social

propiciador da cooperação entre alunos e entre o professor e os alunos [...]”; terceiro, de uma

atitude do professor que, ao lado de sua função de dirigir a classe, também é um guia da

atividade independente dos alunos, o que implica habilidades de comunicação e de interação;

quarto, de uma convicção do professor de que ele é o profissional capacitado a orientar a

atividade cognitiva do aluno.

Neste contexto, observa-se que, em algumas escolas, o ensino direcionado pelos

docentes não considera as limitações físicas ou intelectuais de seus alunos, ou seja,

desenvolvem um ensino técnico, totalmente desarticulado da realidade dos alunos, de modo que

eles não tenham uma aprendizagem significativa, visto que o conhecimento é um processo em

construção, ademais cada aluno apresenta uma forma diferenciada de ritmo que precisa ser

respeitada. Nesta linha de reflexão, Franco (2015, p. 541) destaca:

O professor que está imbuído de sua responsabilidade social, que se vincula ao objeto

do seu trabalho, que se compromete, que se implica coletivamente ao projeto

pedagógico da escola, que acredita que seu trabalho significa algo na vida dos alunos,

tem uma prática docente pedagogicamente fundamentada. Ele insiste, busca, dialoga,

mesmo que não tenha muitas condições institucionais para tal. [...] Ele tem uma

dimensão a atingir, uma proposta, uma crença sobre o que ensina. Pois bem, esta é

uma prática docente que elabora o sentido de prática pedagógica. É uma prática que

se exerce com finalidade, planejamento, acompanhamento, vigilância crítica,

responsabilidade social.

É oportuno lembrar que o processo de ensino dos alunos surdos na escola regular ainda

apresenta faces de uma educação excludente, diante da não utilização da Língua de Sinais no

processo de ensino e aprendizagem. Conforme Moreira (2012), a deficiência, vista como um

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fenômeno socialmente construído, referenciado em interpretações que buscam a

homogeneidade, a rotulação e a classificação, precisa ser superada, sobretudo, nos ambientes

escolares.

Mediante as considerações suscitadas, Skliar (1997a, p. 140) ressalta que a língua de

sinais é o traço fundamental de identificação sociocultural dos alunos surdos. Enfatiza que o

processo pedagógico não pode ser entendido como uma forma de corrigir essa limitação

auditiva, mas como a continuação de um mecanismo de compensação que os próprios surdos,

historicamente, já demonstraram utilizar (SKLIAR, 1997a).

Pensar no ensino para alunos surdos implica desenvolver um planejamento intencional

considerando as diferenças linguísticas e culturais dos mesmos, visando a sua inserção nas

práticas sociais. Por esse viés, compreende-se que a educação das pessoas surdas está

intrinsecamente marcada pelos aspectos políticos instituídos pelas relações de poder dos grupos

dominantes, os quais, consequentemente, influenciam o processo de ensino e aprendizagem

desses alunos.

Nesse sentido, conforme Machado (2008, p. 45), não basta inserir um aluno que

apresente peculiaridades em relação aos demais na sala de aula, ignorando suas necessidades,

e não basta prestar atendimento especializado apenas; é a escola, de um modo geral, que precisa

ser questionada, a produção de saberes, as organizações pedagógicas, as concepções.

Sob esta vertente, Lacerda (2006, p. 181) enfatiza a necessidade de pensar um modelo

novo de escola, que não imponha ao aluno surdo adequar-se à realidade escolar que se perpetua.

Enfatiza que este modelo foi concebido para a semelhança e não para o acolhimento das

diferenças, assim, se a escola pretende acolher a diferença, ela precisa ser repensada, a fim de

se respeitar de fato as singularidades, promovendo espaços de convivência e conhecimento

mútuo.

A partir dessas afirmações, entende-se que o professor, como um dos atores/sujeitos

sociais do processo educativo, detém uma visão de mundo, sociedade, educação e homem que

influenciará diretamente no tipo de encaminhamento que delimitará a sua prática pedagógica.

Neste contexto de reflexão, este estudo evidencia a relevância do ensino da Matemática para o

aluno surdo, diante da sua especificidade linguística, que na maioria das vezes é considerada

pelos professores uma barreira, uma vez que a falta de comunicação entre aluno e professor não

permite que o mesmo se aproprie do conhecimento tal como o aluno ouvinte.

Alguns estudos, a exemplo Nunes (2011), Borges (2016), Sales (2008), Dorziat (2004),

enfatizam que os professores se inquietam com o ensino para alunos surdos, principalmente

pela ausência de comunicação com os mesmos, fazendo uso da língua de sinais. Por outro lado,

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consideram que seja possível redimensionar o ensino de matemática, de modo a torná-lo uma

experiência significativa ao aluno com essa especificidade.

Além disso, Perez (2004) afirma que é fundamental a reflexão do professor sobre sua

prática e seu desenvolvimento profissional. Assim, a formação docente deve constituir novos

domínios de prática e investigação, tendo em vista que, nos dias atuais, exige-se do professor

habilidades, competências e compromissos de ordem cultural, científica e pedagógica, além de

ordem pessoal e social (PEREZ, 2004). Essas exigências influem sobre as concepções de escola,

ensino e aprendizagem, inclusive da Matemática, que os professores detêm. Desse modo,

Pimenta (2008, p. 22) ratifica que a formação continuada “não se reduz a treinamento ou

capacitação”, propondo que se trata de uma modalidade de formação em que são explicitadas

as demandas da prática, as necessidades do professor, extraídas dos “conflitos e dilemas de sua

atividade de ensinar”.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais preconizam a ideia de que não há um caminho

único e melhor a ser seguido no ensino de Matemática. O documento ressalta ser fundamental

que o professor, para construir sua prática em sala de aula, conheça diversas possibilidades de

trabalho; estimule os alunos a buscar explicações, ajudando-os a identificar o conhecimento

matemático como meio que os auxiliem a compreender e atuar no mundo. (BRASIL, 1998).

Neste direcionamento, Silva (2009, p. 44) enfatiza que o ensino da matemática deve ir

além de simples técnicas para a aplicação em exercícios padronizados e, mesmo, de articulações

interdisciplinares/transdisciplinares. Para ele, torna-se exigência a qualquer educador a

compreensão e o desenvolvimento de uma prática reflexiva crítica sobre o que ensinar e como

ensinar e a conscientização de que tal atitude deve emergir de sua própria consciência sobre

estes aspectos e não de modismos ou tendências pedagógicas. E, ainda mais, espera-se que o

professor de Matemática tenha clareza sobre a importância desse conteúdo de aprendizagem na

formação cidadã do aluno. A prática do ensino precisa ultrapassar a visão reducionista da

própria atividade matemática, o ponto de vista que a considera como sendo platônica,

tradicional, instrumentalista e técnica.

No entanto, o que se evidencia no cotidiano escolar são os conteúdos matemáticos

ensinados apenas por meio de instrumentalização e reprodução de modelos previamente

apresentados por meio de conceitos predeterminados e desconexos. Silva (2002) ressalta que

o ensino de Matemática tradicional restringe o conhecimento a verdades eternas obtidas por

meio de dons especiais, o que condiciona o aprendizado a uma obediência cega a regras

incompreensíveis. O autor afirma, ainda, que essa concepção não ajuda a decifrar informações

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e a resolver problemas do cotidiano, “o que conduz as pessoas às condições de excluídas e não

de cidadãs” (SILVA, 2002, p. 61).

A partir disso, compreende-se que seja necessário que o professor desenvolva uma visão

histórica crítica e reflita constantemente sobre a sua função ao ensinar matemática. A respeito

dessa discussão, D’Ambrósio (2012) ressalta que o professor de Matemática possui um novo

papel em sala de aula, o de organizar, planejar e executar atividades que promovam o processo

de aprendizagem, interagindo com o aluno na produção crítica de novos conhecimentos.

No tocante ao ensino da Matemática, Viana (2013) afirma que deve ser vista como um

fruto da construção humana na sua interação constante com o contexto natural, social e cultural,

além de ser um conhecimento importante no desafio de compreender e atuar no mundo. Esta

visão se opõe às concepções de senso comum, que consideram a Matemática um corpo de

conhecimento imutável e verdadeiro, uma ciência exata, infalível e estática e que assim deve

ser ensinada ao aluno. Os conteúdos matemáticos são conhecimentos construídos socialmente

e sua aprendizagem deve passar por situações motivadoras e de efetivos ambientes de

aprendizagem, e carregados de intencionalidade.

Neste aspecto, Sales (2004) ressalta a importância de se criar condições específicas para

que o aluno surdo compreenda os conhecimentos de Matemática, pois ele pode estruturar sua

aprendizagem, sua comunicação e sua língua visuo espacial, por meio de imagens mentais e

dos processos visuais. Para o autor, cabe ao professor, em sala de aula, organizar seu trabalho,

procurando, em determinadas situações, os caminhos que sejam mais significativos para esses

alunos. O mesmo autor afirma que:

O elemento visual configura-se como um dos principais facilitadores do

desenvolvimento da aprendizagem dos surdos, as estratégias metodológicas utilizadas

na educação devem necessariamente privilegiar os recursos visuais como um meio

facilitador do pensamento, da criatividade e da linguagem visoespacial (SALES,

2004, p. 10).

Nesta linha de pensamento, Oliveira (2005) considera relevante que o professor utilize

a língua de sinais, além do conhecimento matemático, e valorize o conhecimento prévio do

aluno surdo, ao incentivá-lo a manifestar por sinal ou por escrito o que sabe sobre o que está

sendo ensinado, estabelecendo um diálogo no processo de construção do conhecimento.

O autor sugere o uso de material concreto como uma forma de viabilizar a diminuição

da barreira de comunicação existente na sala de aula (OLIVEIRA, 2005). Assim, compreende-

se que o ensino de matemática pelo viés da intencionalidade pode oportunizar condições para

que esses alunos surdos atuem e interajam com seus pares no mundo, e principalmente

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possibilite o acesso ao conhecimento produzido socialmente, levando-os a formular seus

posicionamentos criticamente a partir das relações sociais.

Evidenciar a utilização de recursos visuais, assim como a utilização de dicas visuais

como estratégia pedagógica, torna-se fundamental para que o aluno surdo tenha

maiores possibilidades de compreensão e apreensão sobre o que está sendo ensinado,

facilitando todo o processo de aprendizagem (STROBEL, 2008 apud DUARTE, 2016,

p. 43).

Dada a especificidade da surdez, na educação é importante que o aluno surdo tenha

oportunidade de interagir no ambiente educacional com a utilização de imagens visuais em seus

aspectos lúdicos. A imagem, a experiência visual, tem papel fundamental no processo

educacional, permitindo ao aluno surdo compreender, intervir e reagir no meio. (VIANA, 2014,

p. 47)

Borges (2016) argumenta que no ensino da matemática faz-se necessário considerar,

igualmente, a presença de outra linguagem bastante peculiar, a linguagem matemática, que

comporta, em sua transposição para a escola, simbologias próprias. Sendo assim, para se

entender a Matemática para surdos, deve-se pensar também sobre sua cultura, sua identidade,

sua linguagem.

No tocante à linguagem da matemática, ainda há muitos termos que não possuem um

sinal em Libras, situações que exigem, muitas vezes, que os intérpretes negociem um novo sinal

com os surdos, ou usem a datilologia para traduzir um determinado conceito que está sendo

ensinado pelo professor. Nesse sentido, Borges e Nogueira (2016) acrescentam que a língua de

sinais ainda está em construção, que pode haver situações em que o intérprete de Libras não

tenha domínio da matemática, configurando situações de dificuldades para os surdos.

Nesta perspectiva, Goméz (2005, p. 48) comenta que a “natureza da linguagem

matemática” é entendida de diversas maneiras entre professores e alunos. Este conceito se refere

a processo de ensino e de aprendizagem da matemática, bem como a comunicação que ocorre

no cenário de sala de aula. A riqueza da linguagem matemática é frequentemente utilizada para

fins de ensino nas aulas (nas discussões, escrevendo na lousa, avaliações etc.) e materiais

escritos (livros, guias de classe, os resumos dos problemas etc.).

A linguagem matemática, constituída a partir de um vocabulário, sinais, símbolos

específicos, para que possa ter sentido para o aluno, torna-se necessária uma tradução em

linguagem natural (SILVEIRA, 2014, p. 48). Em meio a essa tradução, é comum que surjam

algumas confusões por parte do aluno, visto que se o professor em sala de aula não conseguir

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expor significados de determinados símbolos, o aluno criará uma tradução própria que poderá

não ter ligação com o sentido do texto matemático.

Ao discutir esse assunto, Nunes (2004), afirma que poucos alunos surdos conseguem

sentir-se motivados com a Matemática, além de não demonstrarem perceber a utilidade e

aplicação do que tentam aprender. Para Sales (2008), grande parte destes alunos encontra

dificuldades para aprender os conceitos matemáticos, o que os leva a não se sentirem motivados

a essa aprendizagem. Assim, torna-se necessário que o professor planeje experiências de

aprendizagem que mobilizem no aluno o motivo de aprender os conceitos matemáticos, no

sentido de raciocinar logicamente, encadear ideias, pensar o que aprende.

Sob esta perspectiva, Viana (2014, p. 20) ratifica que o ensino de Matemática para o

aluno surdo exige que o professor utilize procedimentos metodológicos que sejam adequados e

contextualizados. Desta forma, será possível garantir no cotidiano da dala de aula, o exercício

da participação dos alunos, que estimulem a iniciativa e o motivo (necessidade) para a

aprendizagem dos conceitos matemáticos, assegurando-lhes um saber com real significado.

O aluno surdo, como qualquer outro aluno, pode apresentar dificuldades para aprender

Matemática. Se, por um ado, é indispensável que reconhecer que ele faz uso de outra

língua – a Língua de Sinais- respeitando, portanto, as suas especificidades, o ensino

da Matemática não pode ser restrito apenas a uma simples tradução dos conceitos

matemáticos para sinais. A ação do professor deve voltar-se a um planejamento que

possibilite ao aluno surdo operar mentalmente e fazer associação do seu conhecimento

prévio com os conteúdos escolares. (VIANA, 2014, p.32)

Viana, (2014, p. 35) destaca que, antes de qualquer mudança metodológica, é preciso

revelar um novo olhar sobre o processo de ensino e de aprendizagem de alunos surdos. Na

pesquisa de Silva (2006, p. 96) encontramos esse posicionamento. A autora propõe que é

preciso ressignificar a ideia de que esses alunos apresentam dificuldades na assimilação de

conceitos “abstratos”, na organização da linguagem e na fixação do vocabulário dado.

uma proposta de ensino que tenha como essência ser pensada de forma crítica, nas

mais diversas formas do saber, constitui um dos possíveis modos de desenvolver a

articulação com outros conteúdos e disciplinas. O entendimento da necessidade de

uma formação matemática para o discente que seja comprometida com a formação do

cidadão implica a integração dos conhecimentos dessa ciência com os de outras áreas,

principalmente com a língua materna, promovendo o desenvolvimento integral do

indivíduo. (SILVA, 2009, p. 46)

Neste sentido, Lopes (2009, p. 93) afirma que o ensino da Matemática, assim como de

outras áreas do conhecimento, requer intencionalidade, uma busca pelo conhecimento, que faça

sentido ao aluno para que se caracterize como um momento de busca pela aprendizagem para

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ele. Entende-se que apenas dessa forma é possível provocar no aluno o motivo por aprender,

isto é, entrar em atividade cognoscitiva. Para ele, a aprendizagem matemática está relacionada

à forma como o professor organiza o ensino e depende de como ele consegue motivar os alunos

para a construção do conhecimento. Sendo assim, a atividade de ensino deve promover a

atividade de aprendizagem. É com essa intencionalidade que o professor deve planejar ações

que promovam a atividade de aprendizagem de seus alunos. Se o ensino não estiver

intencionalmente organizado para isso, a atividade não se concretizará.

Deste modo, ao organizar o ensino é necessário que o professor tenha em mente que não

basta que o aluno entre em contato com conteúdo específicos, decorando-os. “Cabe ao professor

organizar o ensino, tendo em vista que os conhecimentos elaborados historicamente pela

humanidade possam ser desenvolvidos pelos indivíduos. ” (MOURA, 2010, p. 25). Para que a

aprendizagem seja de fato concretizada como a atividade para os estudantes é essencial que o

professor seja mediador- orientando e organizando o ensino – na relação aluno e objeto de

conhecimento.

Viana (2014, p. 68) destaca que o indivíduo surdo precisa de uma proposta de trabalho

que desperte interesse, auxilie na construção do conhecimento e que estimule não só a

memorizar elementos matemáticos, mas também a estabelecer relações, o ambiente exerce

papel fundamental. O contexto da sala de aula, então, deve ser extremamente rico visualmente,

sem recursos desnecessários, mas contextualizados.

Os conteúdos matemáticos são conhecimentos construídos socialmente e sua

aprendizagem deve passar por situações motivadoras e de efetivos ambientes de

aprendizagem, carregados de intencionalidade. É preciso, portanto, repensar o ensino

da Matemática para alunos surdos que têm sido baseada em uma mera repetição de

algoritmos. (VIANA, 2014, p.67)

Correia (2003, p. 31) compreende que, além de o professor dispor de conhecimentos

específicos, é imprescindível que os procedimentos metodológicos sejam elaborados

objetivando a participação crítica desses alunos na sociedade, transformando-a e

concomitantemente sendo transformados. Enfatiza que é importante que os professores que

ensinam Matemática tenham ao seu alcance material didático, ou instrucional, apropriado e de

qualidade, com apelo tátil, visual e auditivo de modo a atender todos os alunos com

necessidades educativas especiais, levando-os à construção de conceitos matemáticos, seja por

meio de utilização de jogos didáticos, seja por meio de atividades lúdicas, para mobilizarem

todos os alunos da sala de aula rumo a uma aprendizagem matemática mais significativa, pois

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“o professor desempenha um papel importante na criação de ambientes educacionais positivos

e enriquecedores” para o aluno do ensino especial.

Contribuindo, Arnoldo Junior e Ramos (2008) sugerem, por exemplo, a entrega prévia,

no desenvolvimento da aula, de uma pequena síntese das atividades, contendo figuras,

desenhos, esquemas, que dariam maior clareza ao que estivesse sendo apresentado no decorrer

da aula. Sugerem, ainda, a escrita de esquemas e resumos do conteúdo da aula, pois visualizá-

los consistiria em um elemento a mais no processo de ensino e aprendizagem. Outra proposta

refere-se à disposição das cadeiras, que seja em forma de semicírculos, essa forma de

organização espacial pode possibilitar que todos os alunos visualizem a comunicação em língua

de sinais ao mesmo tempo em que não perdem a interação com o professor.

Com base nas considerações apresentadas no decorrer do texto sobre a prática

pedagógica, destaca-se a importância de o professor avançar em suas reflexões quanto a sua

função social, e, para além disso, compreender a Matemática a partir de uma visão histórica e

crítica, como possibilidade de utilizar metodologias que articulem os conhecimentos

específicos com os contextos e necessidades educativas dos alunos.

Além disso, pensar no desenvolvimento de uma prática pedagógica bilíngue no ensino

de matemática para alunos surdos demonstra a importância de continuidade de estudos da

temática apresentada, tendo em vista a especificidade linguística desses alunos. Para tanto,

enfatiza-se, nesta pesquisa, a importância do desenvolvimento da prática pedagógica do

professor de maneira que supere a memorização de conteúdo e possibilite que os alunos surdos

utilizem criticamente o conhecimento matemático escolar nos contextos sociais.

Neste sentido, no próximo capítulo, expõe-se o percurso metodológico com a descrição

das etapas da investigação e análise das informações consideradas pertinentes para o

desvelamento da questão-problema deste estudo.

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2 CONTEXTO DA PESQUISA

O objetivo deste capítulo é contextualizar o presente estudo a partir do lócus da pesquisa.

Para tanto, são descritos os procedimentos metodológicos, o período de produção de

informações, a caracterização dos participantes, os instrumentos utilizados para a coleta, as

etapas organizadoras no processo de análise dos dados e o método de análise. Desse modo, a

referida escola será denominada Escola Alfa e os professores participantes da pesquisa serão

identificados como Prof (A) e Prof (B).

2.1 Local da pesquisa e sujeitos

A Escola Estadual Alfa, localizada em Cuiabá-MT, funciona em prédio próprio, está em

bom estado de conservação, numa área construída de aproximadamente 3.286,25m². Possui 17

salas de aulas, um salão de eventos, uma sala para banda musical e demais dependências, como

secretaria, diretoria, coordenação pedagógica, refeitório e cozinha (em construção), sanitários

de alunos, de professores e biblioteca.

A instituição possui laboratório de Informática, de Ciências da Natureza e de

Linguagem, porém não dispõe de literatura específica para atender as necessidades formativas

dos professores que ensinam alunos surdos. Dispõe de sala de Recurso Multifuncional e conta

com profissional especializado, além de três Profissionais Intérpretes de Libras distribuídos nos

três períodos de funcionamento. No ano de 2018 encontravam-se matriculados 881 alunos,

distribuídos nos três períodos de funcionamento.

Atualmente a escola desenvolve vários projetos, dentre os quais podemos destacar: Pré

Enem (Reflexão e Ação), REVISA-AÍ; FISQUIBIO, Prevenção ao uso de Drogas, Novas

Diretrizes para o Ensino de Química, Pra Ver a Banda Tocar (PRINART), Olimpíadas,

Aniversário de Cuiabá (Conhecendo a Nossa História), Feira das Nações, Festa Julina, Espaço

da Linguagem, Talentos do André e Projeto Construindo as Bases do Ensino de Língua

Portuguesa e Matemática.

A referida escola oferece, além do Ensino Médio Regular, o curso Técnico em

Administração, eixo tecnológico Gestão e Negócios, da Educação Profissional técnica de Nível

Médio integrada ao ensino Médio (Resolução CEPS N.148/2009-CEEE/MT de 22 de dezembro

de 2009). O quadro de profissionais é composto por 48 professores efetivos e 26 com contrato

temporário. A equipe gestora é formada pelo diretor, coordenador pedagógico e a secretária

escolar.

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Justifica-se a seleção desta escola por possuir em seu quadro de profissionais os

respectivos participantes da investigação, ou seja, professores que ensinam matemática para

alunos surdos, bem como pela anuência dos mesmos e da equipe gestora para o

desenvolvimento da pesquisa.

Inicialmente objetivava-se pesquisar a prática pedagógica de três professores da

Unidocência que ensinassem matemática para alunos surdos. Para isso, foi necessário

estabelecer contato com a Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá, todavia não foi possível

obter as informações referentes às escolas que teriam alunos surdos inclusos matriculados.

Desta forma, os critérios utilizados para seleção do lócus em que se coletariam as

informações para a pesquisa foram: (1) ser uma escola pública municipal ou estadual; (2) ter a

matrícula de pelo menos três alunos surdos que utilizassem a Língua de Sinais como canal de

comunicação e que fossem atendidos por três professores diferentes; (3) contar com o

profissional Intérprete de Libras.

Destaca-se que a Escola Alfa atende três alunos surdos matriculados nos três turnos de

funcionamento, todos estes alunos são fluentes em Libras e contam com profissional Intérprete

de Libras em sala de aula. Deste modo, os participantes da pesquisa seriam os três professores

desses três alunos, no entanto, ao iniciar a coleta das informações, percebeu-se que um dos

alunos raramente frequentava as aulas de matemática, pois preferia estar nas aulas de Educação

Física, sendo necessário dar continuidade à pesquisa apenas com dois professores. A seguir,

apresenta-se o Quadro 1, com a caracterização dos dois professores participantes da pesquisa:

Quadro 1 - Caracterização dos professores

Professor Formação Pós-graduação Tempo de atuação

na Educação Básica Tempo de atuação

com alunos surdos

Curso de Libras

A

Lic. Matemática

(2008)

Educação de

Jovens e

Adultos

10 anos 3 meses Básico

B Lic. Matemática

(2012)

Ensino de

Matemática

6 anos 2 meses Básico

Fonte: Dados coletados na pesquisa por meio de entrevista (2018).

Dado o contexto geral da pesquisa, o próximo tópico deste capítulo buscou estabelecer

uma relação entre os objetivos, métodos e instrumentos utilizados para alcançar tais objetivos,

além de traçar a ordem do percurso utilizado na investigação.

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2.2 Questão problema e abordagem metodológica

Com o objetivo de conhecer a dinâmica da sala de aula, suas regularidades e princípios,

a coleta das informações foi realizada durante o período de julho a outubro de 2018, por meio

da observação de doze aulas de cada professor.

Tendo em conta a relevância de estudos sobre a temática apresentada, esta pesquisa tem

o objetivo de investigar a prática pedagógica de professores que ensinam matemática para

alunos surdos do Ensino Médio de uma Escola da Rede Estadual de Cuiabá-MT. Assim, parte

da seguinte problematização: como é desenvolvida a prática pedagógica dos professores que

ensinam matemática para alunos surdos do Ensino Médio?

Neste sentido, são apontados os objetivos específicos: identificar as concepções dos

professores sobre a prática pedagógica; descrever a compreensão dos professores sobre a

aprendizagem dos alunos surdos; evidenciar quais procedimentos metodológicos que os

mesmos utilizam para ensinar aos alunos surdos.

Para a compreensão do objeto deste estudo dialoga-se teoricamente com: Caldeira e

Zaidan (2013), Contreras (2002), C. Fernandes (2008), Franco (2015) Freire (2001), Gadotti

(2003), Libâneo (2001), Sacristán e Pérez Goméz (2009), Vásquez (2011), Veiga (2008), os

quais definem que a prática pedagógica é uma atividade intencional de ensino, articulada à

educação como prática social e o conhecimento como produção histórica e social.

Pela definição de Bogdan e Biklen (1994, p. 89), utiliza-se os pressupostos da pesquisa

de abordagem qualitativa, caracteriza-se como um estudo de caso do tipo exploratório, por ser

descritiva e interpretativa, na qual, utilizou-se dos seguintes instrumentos para coleta de

informações: análise documental do Projeto Político Pedagógico, planejamento anual de

matemática e plano de aula, entrevista semiestruturada, e observação participante. As

apresentações dessas informações estão organizadas em três eixos centrais: proposta

pedagógica da escola para ensino de alunos surdos, concepções epistemológicas sobre a prática

pedagógica e ensino de matemática para alunos surdos e para a análise desses dados utiliza-se

o método interpretativo.

Numa abordagem qualitativa de pesquisa, o processo é mais importante do que o

produto e o pesquisador assume o papel de um intérprete que, inserido no contexto da pesquisa,

tenta compreender os significados produzidos pelos diferentes atores (BOGDAN; BIKLEN,

1994). De acordo com Bogdan e Biklen (1994, p. 89):

O plano geral do estudo de caso pode ser representado como um funil. Num estudo

qualitativo, o tipo adequado de perguntas nunca é muito específico. O início do estudo

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representado pela extremidade mais larga do funil: os investigadores procuram locais

com pessoas que possam ser objecto [sic] do estudo ou fontes de dados e, ao

encontrarem aquilo que pensam interessar-lhes, organizam então uma malha larga,

tentando avaliar o interesse do terreno ou das fontes de dados para os seus objetivos

[sic]. Procuram indícios c como deverão proceder e qual a possibilidade de o estudo

se realizar. Começam pela recolha de dados, revendo-os e explorando-os, e vão

tomando decisões acerca do objectivo [sic] do trabalho. Organizam e distribuem o seu

tempo, escolhem as pessoas que irão entrevistar quais os aspectos a aprofundar.

Podem pôr de parte algumas ideias e planos iniciais desenvolver outros novos.

Esse tipo de pesquisa, de abordagem qualitativa, foi escolhido na tentativa de

compreender a sala de aula em toda a sua complexidade e é caracterizada pela investigação de

fenômenos em contexto natural, sem o objetivo de responder a questões prévias ou testar

hipóteses, buscando, principalmente, compreender os comportamentos a partir da perspectiva

dos sujeitos envolvidos e como se dá a negociação de significados nesse contexto (BOGDAN;

BIKLEN, 1994).

2.3 Objetivos e percurso metodológico

O objetivo geral da pesquisa é investigar a prática pedagógica de professores que

ensinam matemática para alunos surdos no Ensino Médio, no intuito de propor reflexões

teóricas e metodológicas que contribuam neste campo de pesquisa.

Neste sentido, os objetivos específicos direcionam-se a: identificar as concepções dos

professores sobre a prática pedagógica; descrever a compreensão dos professores sobre a

aprendizagem dos alunos surdos; evidenciar os procedimentos pedagógicos utilizados pelos

mesmos para ensinar a esses alunos.

O primeiro contato com os professores ocorreu no primeiro semestre do ano de 2018,

no mesmo momento apresentou-se à escola a pesquisa proposta, ocasião em que foi explicado

o teor da pesquisa e realizado o convite para sua participação.

Definidos o local e os sujeitos da pesquisa, foram estabelecidos os seguintes

instrumentos para a produção de informações, com base na análise de documentos: Projeto

Político Pedagógico (PPP) (Apêndice A), plano de ensino anual de matemática (Apêndice B),

e ainda o plano de aula dos professores, bem como entrevista semiestruturada (Apêndice C) e

observação em sala de aula (Apêndice D).

Logo em seguida, a equipe gestora possibilitou o acesso ao Projeto Político Pedagógico

da escola, plano de ensino anual de matemática. Cabe destacar que tais instrumentos foram

utilizados com a intenção de desvelar aspectos do primeiro eixo de análise, intitulado: “Proposta

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pedagógica da escola para ensino de alunos surdos”. Nos referidos documentos, buscou-se

identificar informações relevantes no que se refere ao objeto desta pesquisa.

Sobre a análise documental, acredita-se que tal técnica permite o diálogo entre as

informações da entrevista e as dos planejamentos realizados pelas professoras. Assim,

relacionar informações obtidas na entrevista e nos planejamentos dos professores permite

enriquecer a análise. No contexto desta pesquisa, levou-se em consideração que tais

documentos ofereceriam elementos acerca da metodologia de ensino utilizada pelos professores

e indicações do tratamento dado ao ensino da Matemática para alunos surdos.

Posteriormente, as perguntas previamente formuladas buscaram responder a aspectos

sobre a carreira acadêmica e profissional de cada professor relacionadas à matemática e ao

ensino de alunos surdos. Essas informações foram utilizadas para auxiliar a análise do eixo

denominado: “Concepções epistemológicas sobre a prática pedagógica”.

As entrevistas foram organizadas em quatro blocos denominados: (1) experiência

profissional do professor que atua com aluno surdo; (2) ensino de matemática; (3)

planejamento; e (4) prática pedagógica. Para isso, utilizou-se o aparelho celular para gravação

dos áudios, com duração de aproximadamente dez minutos, e transcrição das falas na íntegra.

A entrevista semiestruturada teve como intenção organizar um roteiro mínimo que levasse os

participantes a conversar sobre sua trajetória profissional e o ensino de Matemática para alunos

surdos, sem, contudo, manter a conversa em uma estrutura inflexível.

O terceiro momento da pesquisa foi conduzido por meio da observação de doze aulas

de cada professor no período de julho a outubro de 2018 e os registros foram realizados no

diário de campo. As observações das aulas contribuíram para responder ao terceiro eixo da

pesquisa: “O ensino de matemática para os alunos surdos”, o qual possibilitou evidenciar

elementos sobre os procedimentos metodológicos, planejamento, e a intencionalidade da prática

pedagógica. Eminentemente, essa descrição e análise serão evidenciadas no capítulo seguinte.

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3 ANÁLISE DOS DADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este capítulo apresenta a interpretação das informações coletadas, referentes à análise

dos documentos, entrevistas com os professores e observação de doze aulas dos respectivos

participantes. Foi constituído pela compreensão do objeto de estudo, por meio dos referenciais

teóricos e da organização dos resultados obtidos. Ao propor essa discussão, foram estabelecidos

três eixos de análise:

1) Proposta pedagógica da escola para ensino de alunos surdos;

2) Concepções epistemológicas sobre a prática pedagógica;

3) O ensino de matemática para os alunos surdos.

Para sistematização dos três eixos descritos acima, e visando à organização das

informações obtidas durante a pesquisa em campo, foram definidos os seguintes subeixos de

análise: 1) Educação Inclusiva; 2) Planejamento; 3) Formação de professores; 4) Avaliação; 5)

Ensino de Matemática; e 6) Prática Pedagógica.

Esses subeixos possibilitaram a realização da triangulação dos resultados. Já as

informações para a análise foram extraídas dos documentos, das entrevistas e observação

participante, instrumentos anteriormente mencionados.

Essa organização possibilitou identificar se as informações apresentadas em tais

documentos dialogam com os resultados interpretados por meio das entrevistas e das

observações da prática pedagógica dos professores. Assim, com base na orientação do

referencial teórico, apresenta-se a discussão dos dados mais expressivos que respondem às

indagações da pesquisa.

3.1 Discussão e análise dos resultados

Conforme se discute ao longo do texto, este estudo se propôs a investigar a prática

pedagógica de professores que ensinam matemática para alunos surdos, neste caso, em especial,

de uma Escola Estadual de Ensino Médio em Cuiabá/MT. Partindo dos referenciais teóricos

abordados, observa-se que as concepções sobre a educação escolar influenciam diretamente a

prática pedagógica dos professores.

Por esse viés, compreende-se que a educação das pessoas surdas está intrinsecamente

marcada pelos aspectos políticos instituídos pelas relações de poder dos grupos dominantes, os

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quais, consequentemente, influenciam o processo de ensino e aprendizagem desses alunos.

Assim, é urgente refletir sobre a função social que a escola desempenha especificamente na

abordagem da educação inclusiva de alunos surdos em escolas não especializadas. Tal fato

obriga-nos a tecer reflexões para o desenvolvimento de uma prática pedagógica que, ao avaliar,

planejar e selecionar os conteúdos escolares, propicie a interação com todos em sala de aula, a

fim de superar os estigmas da exclusão e preconceito que prevaleceram no processo educacional

destes alunos.

Sob esta vertente, para o desenvolvimento desta pesquisa, assumiu-se a definição

conceitual em que a prática pedagógica é entendida numa perspectiva crítica e intencional de

ensino, uma vez que implica pensar nesses alunos considerando os aspectos cognitivos,

afetivos, socioeconômicos, políticos e culturais que não dicotomizam homem-sociedade.

Fundado nesta definição teórica, o professor poderá compreender que o ato de ensinar é

uma atividade social e historicamente constituída para atender determinados padrões de

normatização. Partindo dessa premissa, é imprescindível propor reflexões sobre a

intencionalidade da prática pedagógica, considerando que a forma de conduzir o ensino

configura determinadas expectativas que podem ou não produzir transformações na realidade

social dos alunos surdos.

Desse modo, seguem-se as análises das produções das informações coletadas por meio

dos eixos e subeixos mencionados no início deste capítulo. Inicialmente, vale destacar a

seguinte definição no Projeto Político Pedagógico sobre a Educação Inclusiva:

É de extrema importância os ambientes escolares inclusivos em uma concepção de

identidade e diferenças, em que as relações entre estas não se desenvolvam em torno

de contradições tais como: normal/especial, branco/negro, masculino/feminino,

pobre/rico. Nestes não se nomeiam uma identidade com regalias em torno das outras

identidades (MANTOAN, 2010 apud PPP, 2018, p. 24)

A definição apresentada no documento sobre a Educação Inclusiva estabelece como

proposta incluir todos alunos no ambiente escolar, sem distinção de suas singularidades. No

entanto, não evidencia o atendimento para alunos surdos e da mesma forma não faz menção da

presença do profissional Intérprete de Libras no quadro de profissionais da escola. Assim,

infere-se que a escola ainda não se atentou para o desenvolvimento de reflexões teóricas e

metodológicas que direcionem a sistematização de propostas pedagógicas para subsidiar a

prática pedagógica dos professores destes alunos em sala de aula.

Nesta perspectiva, Candau (2008, p. 47) afirma que vivemos numa época em que as

lutas, que anteriormente estavam focadas na afirmação da igualdade, dão espaço à afirmação

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da diferença. Estamos nos conscientizando de que somos diferentes, mas não se trata de uma

diferença de fato, mas de direito, “não só o direito dos diferentes serem iguais, mas o direito de

afirmar a diferença”.

De acordo com Oliveira (2005, p. 29), a inclusão de surdos tem se resumido ao intérprete

em sala de aula, mas para que esses sujeitos construam conhecimento e desenvolvam

competências é preciso mais que isso. Toda informação, para ser apreendida e compreendida

pelo surdo, deve passar e explorar sua competência mais desenvolvida, que é a visual-espacial.

Assim, corroborando com essa análise, Segundo Rijo (2009, p. 20) em sua análise sobre a

inclusão de alunos Surdos em diversas escolas da rede regular de ensino ditas “inclusivas”, a

real inclusão destes alunos se faz por intermédio do intérprete que lhe cabe a função de traduzir

em sinais tudo que o professor está falando. Neste sentido, o professor segue explicando para

os alunos ouvintes e acredita que o intérprete deve fazer o trabalho de tradução e inclusão

simultaneamente. Aponta Silva (2003, p. 32) que a integração no ambiente escolar tem como

foco inserir o aluno Surdo, no entanto, a escola continua organizada da mesma forma e acaba

sendo o aluno, que foi inserido, quem deve adaptar-se a ela.

Assim sendo, é preciso, como afirmam Gadotti e Romão (1997), que o PPP seja

entendido como formulador de possibilidades, ao imprimir direcionamentos a serem

percorridos pela escola, uma vez que este documento se propõe a responder às indagações de

seus membros, tais como: qual educação se quer e qual tipo de cidadão se deseja, para qual

projeto de sociedade?

Portanto, o PPP tem a finalidade de estabelecer uma organização fundamentada no

entendimento compartilhado dos professores, alunos e demais interessados em educação

(GADOTTI; ROMÃO, 1997). Nesta perspectiva, todas as intenções da escola, reunidas neste

documento, conferem-lhe o caráter político, porque ele representa a escolha de prioridades de

cidadania em função das demandas sociais, ao mesmo tempo que tem caráter pedagógico, ao

organizar e sistematizar as intencionalidades em ações educativas alinhadas com as prioridades

estabelecidas.

Além disso, Silva (2000) aponta que as dificuldades encontradas em sala de aula, no

processo de educação bilíngue dos surdos, também estão relacionadas à falta de interesse e

participação dos pais, à inaplicabilidade da legislação vigente, à falta de domínio da Língua

Brasileira de Sinais pelos professores, dentre outros.

Deste modo, considera-se que a realidade escolar não é estática, mas dinâmica e em

constante transformação, visto que o ensino é uma atividade intencional e dirigida para atender

algum fim, ressalta-se, então, a importância da participação de todos na elaboração do Projeto

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Político Pedagógico. Este não pode ser entendido apenas como um documento exigido pela

burocracia e/ou administração escolar, mas como um plano carregado de significados a serem

outorgados ao processo de ensino e de aprendizagem, que demanda tomada de decisões e

acompanhamento de ações.

Segundo Frias (2010, p. 13), há a necessidade de mudança no sistema educacional

referente à inclusão dos alunos surdos na escola regular e adaptação no currículo, com

alterações nas formas de ensino, bem como metodologias adequadas e avaliação condizentes

com as necessidades do aluno surdo.

Nesta direção, é primordial haver uma proposta bilíngue em que todas as escolas se

ajustem pedagogicamente, possibilitando atender as especificidades dos alunos surdos –

principalmente a diferença linguística e cultural. Consonantemente, Souza (2011, p. 30-31)

afirma que o ensino bilíngue não deve ser pensado apenas na questão pedagógica de sala de

aula, por meio da intermediação do intérprete. Destaca a necessidade de o Projeto Político

Pedagógico das escolas ser bilíngue e a política educacional contemplar uma educação que

reconheça a surdez como diferença, e, principalmente, de ultrapassar os muros da escola,

alcançando outras instituições, inclusive a família.

Neste viés de indagações, embora não tenha sido direcionada uma pergunta específica

para os professores participantes sobre a Educação Inclusiva, destaca-se o seguinte fragmento

retirado das entrevistas:

Assim que eu cheguei eu procurei a responsável pela sala de recursos para saber se

tinha algum aluno especial, e a professora me disse que tinha um aluno surdo. E ela

disse, que ele lê pouco e sabe o básico em matemática (Prof A).

Cabe ressaltar que no decorrer da coleta de informações houve uma transição das aulas

de matemática de um dos professores participantes para outro professor, sendo necessário

retomar inicialmente o desenvolvimento da pesquisa a partir do trabalho desse professor que

consequentemente assumiu essas aulas. Neste sentido, apresenta-se seu posicionamento:

É a primeira vez que trabalho em sala de aula que tem aluno surdo. E como eu peguei

essas aulas para complementar minha carga horária, fica mais difícil ainda porque

agora que estou iniciando o contato com ele. Se eu soubesse antes que nessa sala tinha

aluno surdo matriculado, eu não teria aceitado as aulas (Prof B).

Evidencia-se no depoimento do professor A atenção relacionada à inclusão e à

aprendizagem do aluno surdo, ou seja, ele demonstra estar atento à realidade do contexto de sua

prática. Por outro lado, por meio da fala do professor B, verifica-se que este não se sente

responsável pelo ensino para o aluno surdo, considerando a falta de conhecimento específico

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para desenvolver o trabalho com este aluno. A concepção de inclusão do professor B aponta

que é preciso mudança quanto à visão de ensino para alunos surdos, sobretudo quanto à

reformulação das políticas para implementação de projetos educacionais inclusivos. Diante

desta realidade, Mantoan (2015) ratifica que para alcançar a inclusão é necessário avançar nas

adequações curriculares, procedimentos metodológicos e organizações específicas, no intuito

de superar o sistema educacional excludente, que apenas se adapta a um determinado grupo

social. Nesta perspectiva, em vez de pensar no aluno como a origem de um problema, ou exigir

do mesmo um ajustamento a padrões de normalidade para aprender com os demais, propõe-se

para os sistemas de ensino e para as escolas o desafio de construir coletivamente as condições

para atender a diversidade de seus alunos.

Assim, segundo Dorziat (2004), os professores precisam conhecer e usar a Língua de

Sinais nos ambientes educacionais, mas a simples adoção dessa língua não é suficiente para

escolarizar o aluno surdo. Neste sentido, conforme discussão apresentada no primeiro capítulo

desta pesquisa, a escola é um espaço social influenciado por políticas públicas, com necessidade

de ressignificação do ensino para a desmistificação das práticas de ensino homogeneizadoras,

que desconsideram as singularidades destes alunos. Estes elementos trazem para a discussão as

condições de trabalho do professor, desde a formação inicial e continuada, bem como sua

subjetividade, a qual evidentemente reflete no desenvolvimento de sua prática pedagógica.

Concernente ao ensino da matemática para alunos surdos, a escola não apresenta nenhuma

proposta formalmente oficializada nos documentos. As informações coletadas indicam

sinteticamente que é disponibilizado atendimento individualizado na sala de recursos

multifuncionais para alunos com deficiência e com altas habilidades:

Em síntese, a metodologia será aplicada de acordo com a matriz curricular do ensino

regular, fazendo intervenções conforme as limitações e necessidades específicas de

cada aluno. Como estratégia principal, será observada a potencialidade de cada

estudante e os seus conhecimentos prévios. Os alunos com deficiência, transtornos

globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação recebem apoio

individualizado na sala de recursos multifuncionais pelos professores especialistas da

área (PPP, 2018, p. 54).

Essa informação aponta que, apesar da escola apresentar superficialmente uma proposta

de desenvolvimento de metodologias para atender as necessidades específicas dos alunos,

parece destinar a responsabilização do atendimento dos alunos com deficiência apenas para os

professores especialistas na sala de recursos multifuncionais. Diante desta realidade, não se

reflete sobre o ensino para os alunos surdos que estão em sala de aula. Dessa forma, Machado

(2008, p. 45) ratifica que não basta inserir um aluno que apresente peculiaridades em relação

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aos demais na sala de aula, ignorando suas necessidades, e não basta prestar atendimento

especializado; é a escola de um modo geral que precisa ser questionada, a produção de saberes,

as organizações pedagógicas, as concepções.

Assim, considera-se que, embora as políticas públicas indiquem a necessidade de

adequações curriculares que delineiam propostas, métodos, técnicas, recursos e organizações

específicas de forma a atender os alunos surdos, ainda se prioriza a adaptação de um currículo

favorecendo apenas ao grupo social dominante. Para além disso, Neves (2011, p. 18) explica

que uma das primeiras barreiras a aparecer no processo de ensino da matemática é o fato de a

Língua de Sinais ainda estar em processo de construção, com muitos símbolos matemáticos que

não têm uma equivalência em sinais. Para tanto, destaca-se a necessidade de considerar a

presença da linguagem matemática, que comporta, em sua transposição para a escola,

simbologias próprias.

Nesta linha de raciocínio, passa-se à análise dos relatos dos professores sobre como

compreendem o ensino de matemática na escola, especialmente para o aluno surdo, e quais

procedimentos metodológicos utilizam para ensiná-los.

Então, eu sempre digo aquele ditado não saber matemática é confiar no troco. E a

gente sabe que a matemática está presente na vida da gente em tudo. Pra mim, tanto o

aluno surdo como o ouvinte precisam ter uma compreensão básica da matemática e

alguns conteúdos são muito abstratos e fica mais difícil para ensinar. E eu evito ensinar

só fórmulas para os alunos e busco partir de situação problema. E a partir daí eu entro

com conteúdo formal, para mim os alunos surdos e ouvintes precisam compreender a

matemática básica, o desafio é para eu fazer com que a explicação seja mais clara

possível para facilitar a compreensão do aluno surdo, porque tem conteúdo que é mais

abstrato. Por exemplo eu exponho uma situação problema do cotidiano, por exemplo

a vazão de uma caixa d’água, e às vezes para eles levarem para resolver em casa e

trazer o resultado. E a partir daí eu entro no conteúdo formal e ensino várias estratégias

para eles perceberem que não tem só um caminho para chegar na solução (Prof A). Assim, eu busco trazer a matemática do dia a dia para os alunos relacionarem com os

conteúdos. É complicado eu falar sobre o ensino de matemática para aluno surdo,

porque eu estou começando agora esse contato. Alguns colegas disseram que existe

uma forma diferenciada de trabalhar porque o canal de comunicação do aluno surdo é

gestual e visual. E também que as explicações dos conteúdos são traduzidas pelo

intérprete de Libras (Prof B).

As concepções sobre o ensino de matemática descritas por ambos os professores

revelam a atribuição de sentido prático aos conteúdos ensinados, de forma que abranjam o

contexto social. O professor A demonstra refletir sobre sua prática na intenção de que o ensino

esteja acessível e favoreça a aprendizagem do aluno surdo. A fala do professor B também indica

um ensino refletido, porém, diante do fato de estar iniciando sua experiência docente com o

aluno surdo, parece assegurar o processo de ensino apenas pela mediação do profissional

intérprete de Libras. Evidencia-se nos relatos de ambos os professores que as concepções de

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ensino da matemática são compreendidas como racionalidade prática. Assim, nesta

compreensão da prática há a possibilidade de que o professor reconsidere as ações inerentes à

sua atual maneira de pensar, as quais exercem influência prática.

Viana (2013) afirma que a Matemática é um conhecimento importante no desafio de

compreender e atuar no mundo e deve ser vista como um fruto da construção humana na sua

interação constante com o contexto natural, social e cultural. Esta visão se opõe às concepções

de senso comum, que consideram a matemática como um corpo de conhecimento imutável e

verdadeiro, uma ciência exata, infalível e estática e que assim deve ser ensinada ao aluno. Os

conteúdos matemáticos são conhecimentos construídos socialmente e sua aprendizagem deve

passar por situações motivadoras e de efetivos ambientes de aprendizagem, carregados de

intencionalidade.

Neste sentido, Pérez Gómez (1992, p. 112) enfatiza que a prática docente é o ponto de

partida para o professor analisar e interpretar suas atividades, além de elaborar novas teorias,

sendo um processo formativo. Deste modo, como processo de intervenção sobre a realidade, a

prática é uma atividade criativa, que não pode ser considerada exclusivamente uma atividade

técnica de aplicação de produções externas. A atividade do professor é práxis quando tem em

vista o alcance de determinados resultados (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 1977). Essa antecipação

consciente do resultado que se pretende atingir é de natureza teórica. Mas, para que a realidade

seja transformada, é necessária uma ação prática.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p. 24) caracterizam a Matemática “como

uma forma de compreender e atuar no mundo, e o conhecimento gerado nessa área do saber

como um fruto da construção humana na sua interação constante com o contexto natural, social

e cultural”. Deste modo, compreende-se o quanto a Matemática está próxima da realidade e

pode ser abrangida pelo professor em seus contextos de sala de aula. Neste aspecto, o desafio é

superar a hegemonia do ensino reprodutivista consolidado pelas ideologias dominantes, e para,

além disso, avançar na construção de uma prática pedagógica que contemple o contexto social,

por meio da intencionalidade e criticidade no exercício da docência.

Neste sentido, infere-se que o ensino da Matemática para o aluno surdo torna-se ainda

mais complexo, pois a sua especificidade linguística acaba sendo um fator determinante, visto

que a falta de comunicação entre aluno e professor não permite que o mesmo construa

conhecimentos tal como o aluno ouvinte. Sobre o ensino da matemática, D’Ambrósio destaca

que “a matemática é uma resposta à busca de sobrevivência e de transcendência, acumulada e

transmitida ao longo de gerações desde a pré-história” (2008, p. 22). É na dimensão

transcendente da matemática que se insere o debate acerca de como os conteúdos matemáticos,

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desenvolvidos por meio de recursos didáticos, podem servir como mediações necessárias à

formação dos estudantes, transcendendo a dimensão do conteúdo em si mesmo e centrando a

atuação nos estudantes.

Deste modo, Sales (2004, p. 10) esclarece a importância de criar condições específicas

para que o aluno surdo compreenda os conhecimentos de Matemática. A partir disso, o

professor, em sala de aula, deve organizar seu trabalho, procurando, em determinadas situações,

os caminhos que sejam mais significativos para esses alunos. O aluno surdo pode estruturar sua

aprendizagem, sua comunicação e sua língua visuoespacial, por meio de imagens mentais,

através dos processos visuais.

Arnoldo Junior e Ramos (2008), por sua vez, descrevem que algumas rotinas podem ser

adaptadas a cada realidade e contexto, como, por exemplo, a entrega, prévia ao

desenvolvimento da aula, de uma pequena síntese das atividades, contendo figuras, desenhos,

esquemas, que dariam maior clareza ao que estivesse sendo apresentado no decorrer da aula.

Os autores sugerem, ainda, a escrita de esquemas e resumos do conteúdo da aula, pois visualizá-

los consistiria em um elemento a mais no processo de ensino e aprendizagem. Ilustra-se,

também, a disposição das cadeiras, que seja em forma de semicírculos, pois essa forma de

organização espacial pode possibilitar que todos os alunos visualizem a comunicação em língua

de sinais, ao mesmo tempo que mantêm a interação com o professor.

Segundo Dorziat (2004), os professores precisam conhecer e usar a Língua de Sinais

nos ambientes educacionais, mas a simples adoção dessa língua não é suficiente para escolarizar

o aluno surdo. Neste aspecto, Skliar (2000) e Strobel (2013) ressaltam que compreender o aluno

surdo apenas pela sua limitação auditiva significa inseri-lo em uma realidade escolar em que

existe a dificuldade em lidar com as diferentes formas de aprendizagem e de atender as

necessidades de milhões de educandos, com as mais variadas especificidades. Significa negar

a identidade surda e suas peculiaridades linguísticas, como o uso, a importância e a completude

que caracterizam a língua de sinais para o indivíduo surdo.

Correia (2003, p. 31) compreende que, além de o professor dispor de conhecimentos

específicos, é imprescindível que os procedimentos metodológicos sejam elaborados

objetivando a participação crítica desses alunos na sociedade, transformando-a e

concomitantemente sendo transformados. Enfatiza que é importante que os professores que

ensinam Matemática tenham ao seu alcance material didático, ou instrucional, apropriado e de

qualidade, com apelo tátil, visual e auditivo, de modo a atender todos os alunos com

necessidades educativas especiais, levando-os à construção de conceitos matemáticos, seja por

meio de utilização de jogos didáticos, seja por meio de atividades lúdicas, para mobilizarem

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todos os alunos da sala de aula rumo a uma aprendizagem matemática mais significativa, pois

“o professor desempenha um papel importante na criação de ambientes educacionais positivos

e enriquecedores” para o aluno do ensino especial.

Diante desta realidade, enfatiza-se como primordial que a escola e os professores

desenvolvam um olhar diferenciado sobre esses alunos, em função do ensino e aprendizagem,

considerando que os mesmos fazem parte de uma minoria linguística e utilizam como canal de

comunicação a Língua de Sinais. Ao dialogar sobre a temática, Skliar (2001, p. 90-91) destaca

que uma primeira conclusão necessária é a de entender que a educação bilíngue constitui um

ponto de partida para uma discussão política sobre as questões de identidades surdas, relações

de poder e conhecimento entre surdos e ouvintes, movimentos de resistência dos surdos,

ideologias dominantes, discursos hegemônicos, a função da escola, a articulação de políticas

públicas.

Borges (2016) argumenta que, para se entender a matemática para surdos, há que se

pensar também sobre sua cultura, sua identidade, sua linguagem. Strobel (2008, p. 27) define

cultura surda como o modo de o sujeito entender o mundo e de modificá-lo, a fim de se torná-

lo acessível e habitável, ajustando-o com as suas percepções visuais, que contribuem para a

definição das identidades surdas e das “almas” das comunidades surdas. Isto significa que

abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes e os hábitos do povo surdo. Então, no

processo educacional dos surdos, deve-se levar em consideração os aspectos linguístico,

cultural e psicossocial. Linguístico pelo fato de os surdos usarem a Libras como língua materna,

cultural por apresentarem uma cultura própria e psicossocial no sentido que a criança surda

participará adequadamente da comunidade ouvinte apenas se houver um reconhecimento

seguro com seu grupo. Tudo isso deve ser considerado pelos profissionais que trabalham com

o bilinguismo (SKLIAR, 2013; STROBEL, 2013).

Por meio das observações em sala de aula, buscou-se identificar como os professores

interagiam para incluir o aluno no processo de ensino da matemática. O professor A, apesar de

não se comunicar em Libras, posicionou-se de frente para este aluno, estabelecendo contato

visual, e falava pausadamente, favorecendo a tradução das explicações pelo intérprete. Em

contrapartida, o professor B direcionou a aula priorizando o ensino para os alunos ouvintes,

desconsiderando a presença do aluno surdo.

Os dados revelaram que o professor A, mesmo diante da ausência de domínio da Língua

de Sinais, possui alguns conhecimentos sobre a necessidade de desenvolver outras formas de

comunicação, como condição inicial para a inserção deste aluno no contexto da aula. Deste

modo, demonstrou considerar a singularidade deste aluno, assumindo a responsabilidade por

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seu ensino. Sob este ponto de vista, Mourão (2009) aponta a urgência de mudança ideológica

na forma de compreender os alunos surdos, cujos reflexos serão sentidos na prática pedagógica,

e pode ser propiciada por meio de formação teórica e prática, a começar pela Língua de Sinais.

Nogueira (2013) enfatiza que a educação que visa atender a singularidade humana exige a

adoção de ações marcadas pelo conhecimento acerca da diferença e pela determinação em

superar eventuais dificuldades dela decorrentes.

Entretanto, a forma como o professor B desenvolveu sua prática de ensino indicou que

ele não reflete sobre a especificidade do aluno surdo, e parece transferir a responsabilidade de

ensinar ao intérprete. Neste direcionamento, Lorenzetti (2003), na obra A inclusão do aluno

surdo no ensino regular: a voz das professoras, descreve que o despreparo e o desconhecimento

das professoras para lidar com o aluno surdo se dão pelo uso de uma linguagem totalmente

oralista no processo de comunicação; para o autor, “na maioria das escolas públicas, onde não

há a aceitação da Língua de Sinais [...] o aluno surdo é tratado como se fosse um ouvinte e

consequentemente, deve desenvolver a fala” (LORENZETTI, 2003, p. 2). Nesse sentido, infere-

se que essa forma de conduzir o ensino pode estar relacionada à ausência de conhecimento

básico e/ou formação do respectivo professor (B), para trabalhar com tais alunos. Neste

contexto, destaca-se a relevância do respeito pedagógico e das condições singulares destes

alunos como uma ação humana e política, de modo que negar a diferença significa negligenciar

a própria educação.

Nessa discussão, Dorziat (2004) destaca que a inclusão de pessoas surdas, objetivando

sua participação social efetiva, depende de uma organização das escolas, considerando três

critérios: a interação por meio da língua de sinais, a valorização de conteúdos escolares e a

relação conteúdo-cultura surda. Neste viés, Sales (2004) enfatiza a necessidade de se criar

condições específicas para que o aluno surdo compreenda os conhecimentos de Matemática,

uma vez que o mesmo pode estruturar sua aprendizagem, sua comunicação e sua língua

visuoespacial, por meio de imagens mentais e dos processos visuais. A partir dessa

compreensão, cabe ao professor, em sala de aula, organizar seu trabalho, procurando, em

determinadas situações, os caminhos que sejam mais significativos para esses alunos.

Outra observação importante refere-se à análise do Planejamento Anual de Matemática

e Plano de aula dos respectivos professores. Os referidos documentos não apresentam nenhum

registro relacionado aos procedimentos metodológicos e/ou recursos que poderiam ser

utilizados para ensinar matemática para alunos surdos, conforme verifica-se no Apêndice B.

Infere-se que a ausência de propostas de ensino direcionadas a esses alunos nestes documentos,

por parte da escola, bem como dos professores, evidencia que ainda não refletiram criticamente

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sobre as características singulares desses alunos diante da sua cultura e diferença linguística,

pois possuem uma maneira única de construir conhecimentos. Vasconcelos (2019, p. 7) informa

que no momento do planejamento cabe ao professor além da reflexão, pensar na ação a ser

realizada futuramente. Assim, para que essas ações provoquem mudanças, devem estar

pautadas e guiadas por determinados objetivos. O autor destaca, ainda, que há a outros

elementos históricos e críticos que influenciam o contexto concreto da ação do professor, o que

torna relevante a existência de diversas escolhas que determinarão as decisões a serem tomadas,

individual e/ou coletivamente, pois, se, efetivamente, não se pensar na elaboração de um

planejamento, lógicas exteriores continuarão a se impor à escola.

Neste contexto, cabe ressaltar que a comunidade surda não se caracteriza mais pelo

“déficit”, e sim pela diferença linguística. A surdez é vista de modo que “[...] constitui uma

diferença a ser politicamente reconhecida” (SKLIAR, 2013, p. 11). Portanto, é fundamental que

a escola e os professores desenvolvam um olhar diferenciado para atender a esses alunos em

função do ensino e aprendizagem, considerando que fazem parte de uma minoria linguística e

utilizam como canal de comunicação a Língua de Sinais.

Não obstante, Borges e Nogueira (2016) enfatizam que o ensino para alunos surdos

esbarra-se em uma questão de comunicação, a linguagem oral, que afeta diretamente todas as

propostas metodológicas nas diferentes disciplinas, em particular na matemática, já que é

preciso abarcar sua linguagem, constituída de termos muito específicos e que nem sempre

apresentam uma tradução para Libras.

Neste processo, é relevante enfatizar que o professor precisa conhecer quem é o surdo,

quais são suas especificidades, qual é sua melhor forma de aprender, como se deu todo esse

processo de educação e, conforme Caldeira (2013), buscar meios para conhecer e adquirir a

língua de sinais, a fim de garantir uma relação de comunicação eficiente com seus alunos

surdos. Além disso, afirma que é fundamental conhecer também a comunidade surda e, se

possível, inserir-se nela, para que possam relacionar as argumentações com as experiências

visuais deles, proporcionando o entendimento dos conteúdos.

Nesta linha de pensamento, Sales (2013) defende uma escola na qual os professores, ao

ensinar alunos surdos, interajam utilizando a língua de sinais com os alunos surdos. Assim, as

mudanças necessárias para que, de fato, favoreçam a inclusão dos alunos surdos na escola

regular perpassam por adaptação no currículo e alterações nas formas de ensino, bem como

metodologias adequadas e avaliação que condizem com as necessidades do aluno surdo. Deste

modo, a inclusão parte do pressuposto de que todos os alunos precisam ter acesso aos

conhecimentos de igual modo.

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Na continuidade das entrevistas, os professores afirmaram que o planejamento anual de

matemática é estruturado bimestralmente e os conteúdos são distribuídos no plano de aula

diário. Segundo eles, não elaboram e/ou registram nesses documentos procedimentos

metodológicos/recursos que poderiam ser utilizados para ensinar matemática aos alunos surdos.

Ainda responderam que seguem o roteiro do planejamento anual de matemática para selecionar

as atividades a serem transpostas em sala de aula, e que não registram essas informações

diariamente. Nas palavras dos professores:

Quando eu planejo as aulas eu estudo uma forma de ensinar os exercícios de maneira

mais acessível para todos os alunos não perderem o interesse. E em relação ao aluno

surdo eu tento simplificar as explicações das atividades do mesmo conteúdo, para

facilitar a tradução pela intérprete e por ele saber apenas o básico da matemática (Prof

A). O planejamento é geral para todos os alunos. Como eu assumi a sala de aula

recentemente ainda não avaliei como vou trabalhar com o aluno surdo, mas a princípio

eu explico as atividades e a intérprete faz a tradução (Prof B).

É possível identificar nas declarações dos professores que eles têm o conhecimento

específico da matemática, mas desconhecem a metodologia para desenvolver uma prática

pedagógica direcionada ao aluno surdo e sua especificidade. Uma vez que a matemática possui

conceitos específicos e uma linguagem própria, ressalta-se que no processo de ensino para

alunos surdos é necessária, ainda mais, reflexão para a elaboração de um planejamento refletido

que possibilite a interação e construção de conhecimentos deste aluno.

Neste contexto de reflexão, Vasconcelos (2019, p. 3) afirma que uma das funções

básicas do planejamento é a produção de sentido; destaca que é importante que o professor

pense sobre o que está fazendo na escola, na sala de aula, e qual a finalidade maior de seu

trabalho, ou seja, que ser humano pretende formar e, sobretudo, o que fazer para alcançar seus

objetivos. Partindo dessa compreensão, D’Ambrósio (2012) aponta a relevância do professor

planejar, organizar e propor atividades que possibilitem situações de aprendizagem e interação

na produção crítica de novos conhecimentos. Assim, as escolas não deverão apenas incluir,

como também proporcionar condições de desenvolvimento pleno do educando, garantindo, de

fato, uma educação de qualidade.

Neste direcionamento, buscou-se no Projeto Político Pedagógico da escola informações

relevantes com indicação de propostas que subsidiassem a formação continuada dos professores

que ensinam estes alunos surdos. A seguir, apresenta-se o resultado encontrado:

No que diz respeito à educação especial existe a necessidade de maior

atuação/capacitação de nossos docentes para que possam lidar de forma adequada com

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essa realidade. Portanto, a Secretaria de Estado de Educação deverá promover mais

formação docente para qualificar o professor no intuito a atender as necessidades

específicas desses alunos (PPP, 2008, p. 45).

A escola cita superficialmente, nesse documento, a necessidade desses professores

receberem formação continuada para melhorar sua prática de ensino, ao atenderem alunos com

necessidades educacionais especiais; e atribui à Secretaria de Estado de Educação a

responsabilidade para que essa ação seja efetivada. Diante da informação de que a escola dispõe

em seu quadro de profissionais de três intérpretes de Libras e considerando que é por meio da

Libras que os alunos surdos se comunicam, interagem e se apropriam de conhecimentos,

sugere-se que a escola estabeleça parcerias com os intérpretes e até mesmo com esses alunos

para ofertarem formação continuada aberta a toda a comunidade escolar, como forma de

propiciar visibilidade a esses alunos e encaminhar a escola para uma educação bilíngue.

É importante ressaltar que a formação teórica profissional do professor não se constitui

apenas pelos conhecimentos adquiridos mediante estudos e pesquisas que realiza em seu

processo de preparação para a docência, mas, também, durante seu percurso em sala de aula,

por meio dos conhecimentos construídos a partir das suas experiências.

Desta forma, ao considerar que a teoria é constituída pelos conhecimentos científicos e

por aqueles construídos no fazer cotidiano, Caldeira e Zaidan (2013, p. 39) afirmam que a

prática pedagógica deve ser compreendida em “unidade com a teoria, numa relação de

interdependência e autonomia relativa”.

Sobre essa formação, Pimenta (2001) constata uma distância entre o processo de

formação inicial dos professores e a realidade encontrada nas escolas e chama a atenção para

um problema que há muito tempo se instaura no processo de formação profissional de

professores, ou seja, entre a teoria estudada nas Universidades e a prática desenvolvida no

ambiente profissional, entre a formação e o trabalho. Para ela, a formação docente não se

constrói apenas por acumulação de cursos, de conhecimentos ou de técnicas, mas por meio de

um trabalho de reflexão crítica sobre as práticas e de uma (re) construção permanente de uma

identidade pessoal (PIMENTA, 2002).

Além disso, Perez (2004) afirma que é fundamental a reflexão do professor sobre sua

prática e seu desenvolvimento profissional. Para ele, a formação docente deve constituir novos

domínios de prática e investigação, tendo em vista que, nos dias atuais, exige-se do professor

habilidades, competências e compromissos de ordem cultural, científica e pedagógica, além de

ordem pessoal e social (PEREZ, 2004). Essas exigências influem sobre as concepções de escola,

ensino e aprendizagem, inclusive da Matemática, que os professores detêm. Assim sendo,

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Pimenta (2008, p. 22) destaca que a formação continuada “não se reduz a treinamento

ou capacitação”, propondo que ela trata de uma modalidade de formação em que são

explicitadas as demandas da prática, as necessidades do professor, extraídas dos “conflitos e

dilemas de sua atividade de ensinar”.

É interessante mencionar, conforme Quadros (1997), que a Língua de Sinais é a primeira

língua do surdo e indica a necessidade de que os conteúdos escolares precisam ser trabalhados

por meio dela; neste aspecto, a Língua Portuguesa, na modalidade escrita, será ensinada com

base nas habilidades interativas e cognitivas já adquiridas pelas crianças surdas nas suas

experiências com a Língua de Sinais. Diante disso, nota-se a urgência para que esses professores

que estão em sala de aula com alunos surdos inclusos participem de formações que possibilitem

seu aperfeiçoamento, a fim de melhorar ou implementar a sua prática pedagógica, como forma

de propiciar a esses alunos o acesso aos conteúdos com a mesma qualidade que os alunos

ouvintes.

Portanto, nas palavras de Machado (2008, p. 45), não basta inserir um aluno que

apresente peculiaridades em relação aos demais na sala de aula, ignorando suas necessidades;

não basta prestar atendimento especializado; é a escola de um modo geral que precisa ser

questionada, a produção de saberes, as organizações pedagógicas, as concepções.

Nessa perspectiva, as ações desse professor consciente serão imbuídas por uma

intencionalidade e o cotidiano em suas aulas será rompido para pausas de reflexão que

determinarão o seu fazer docente. Nessas circunstâncias, o professor nega a realidade, como,

por exemplo, o fato de a escola reproduzir as desigualdades sociais. Neste caso, ele procura

transformá-la em outra realidade, concretizando seu trabalho docente por meio de sua práxis

pedagógica.

É importante considerar que a aula, embora aconteça em um espaço e tempo

determinados, é antecedida e sucedida por outros espaços e ações: a formação docente e

discente, o trabalho de planejamento, a avaliação, a cultura do professor e dos alunos, seus

valores, dentre outros. Assim, para analisar a ação docente é necessário considerá-la como

práxis, uma vez que supõe uma intencionalidade por parte do professor.

Partindo desta definição, Caldeira e Zaidan (2013) afirmam que é possível encontrar

indicadores da intencionalidade do professor, por exemplo, nos planos de ensino, na

organização das turmas, nos processos de avaliação, nas reuniões de docentes, dentre outras

situações. Mediante a análise desses aspectos, é possível captar como a relação teoria-prática é

por eles percebida. Na continuidade, os professores foram indagados sobre sua experiência

profissional sobre o ensino de matemática para alunos surdos.

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Eu comecei dar aula em abril de 2002 como professor substituto por duas semanas

apenas, esse foi o primeiro contato que eu tive com uma aluna surda, mas, foi um

impacto pra mim, eu me senti extremamente despreparada, porque eu não sabia nada

de Libras. É angustiante, porque a gente não pode ignorar esse aluno, ele está na sala.

Algumas vezes eu sentava com ela, e ficava apontado os números, tentando comunicar

com ela. Agora fez um mês que eu retornei para o Estado de Mato Grosso, e voltei a

ter contato com aluno surdo, mas ele é faltoso na escola, até agora trabalhei apenas

três aulas com ele (Prof A).

Fazem onze anos que eu leciono em sala de aula, mas, eu concluí o curso de

Matemática em 2008. Eu já trabalhei em outros anos com alunos com deficiência, mas

essa é a primeira experiência com aluno surdo e estou tentando me adaptar a essa

realidade (Prof B).

Ao analisar as descrições dos professores, nota-se que possuem um período significativo

no exercício da docência. Diante disso, pressupõe-se, pelo viés do tempo de implementação das

políticas públicas de inclusão, que tanto a escola como os professores já deveriam ter se

apropriado de conhecimentos básicos relacionados ao ensino e aprendizagem de alunos surdos,

no entanto, a realidade apresentada é de desconhecimento de propostas pedagógicas referentes

a esse processo.

O Professor A esteve em contato com um aluno surdo por um tempo curto, por isso

transparece seu esforço para estabelecer interação ao ensinar matemática a um aluno com

surdez. Evidencia-se na fala do professor a importância de se utilizar a Língua de Sinais como

canal de comunicação para mediar o ensino direcionado ao aluno surdo. Em contrapartida, o

professor B está iniciando sua primeira experiência com o aluno surdo, o que, para ele, é algo

desafiador. Diante desta realidade, ressalta-se a compreensão de que a formação teórica

profissional do professor não se constitui apenas pelos conhecimentos adquiridos pelos estudos

e pesquisas que realiza em seu processo de preparação para a docência, mas também durante

seu percurso em sala de aula, por meio dos conhecimentos construídos a partir das suas

experiências. Para tanto, há a necessidade de que o professor ofereça em suas aulas práticas

pedagógicas que possibilitem ao aluno desenvolver seu pensamento lógico, e que os conteúdos

abordados tenham significado nas suas vivências, mostrando-lhe a importância da linguagem

matemática.

De acordo com Silva (2011), a formação docente direcionada para a educação dos

surdos no âmbito do ensino de Matemática tem suscitado a discussão acerca das dificuldades

que esses profissionais enfrentam em suas práticas pedagógicas. A autora afirma que as

dificuldades encontradas em sala de aula, no processo de educação bilíngue dos surdos, estão

relacionadas à falta de interesse e participação dos pais, à inaplicabilidade da legislação vigente,

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à falta de domínio da Língua Brasileira de Sinais pelos professores, dentre outros. Para Saviani

(2010, p. 53):

A formação de professores deveria garantir uma sólida cultura que lhes permita atingir

uma aguda consciência da realidade em que vão atuar associadas a um consistente

preparo teórico-científico que os capacite à realização de uma prática pedagógica

coerente. [...] Condições adequadas de trabalho que lhes permitam atualização

constante, preparação consistente de suas atividades curriculares e atendimento às

necessidades pedagógicas dos alunos, revendo e reelaborando os conteúdos e os

métodos do ensino ministrado.

Nesta linha de raciocínio, tanto os estudos de Costa e Silveira (2014) quanto os de

Nogueira, Andrade e Zanquetta (2011) concluem que não se trata somente de uma tradução de

uma língua para outra, por meio do intérprete, mas que essa interpretação envolve questões

culturais, domínio da linguagem matemática e posicionamento do professor como mediador

das relações, propondo atividades que permitam que o aluno seja sujeito de sua aprendizagem.

Para os autores, é imprescindível entender que a formação inicial deveria propor condições de

um trabalho docente consciente, ou seja, não só de teoria, mas destacar a construção do

conhecimento por meio de práticas, para que possamos enfrentar os desafios do processo ensino

e aprendizagem. Deste modo, sugere-se que o professor que ensina matemática para o aluno

surdo considere os conhecimentos já apropriados por esses alunos, a fim de conduzi-los a uma

reflexão sobre esses conteúdos, ao passo que esses conhecimentos científicos favoreçam a

inserção desse aluno nas práticas sociais.

Neste sentido, Viana (2014, p. 68) destaca que o indivíduo surdo precisa de uma

proposta de trabalho que desperte interesse, auxilie na construção do conhecimento e que

estimule não só a memorizar elementos matemáticos, mas também a estabelecer relações, o

ambiente exerce papel fundamental. O contexto da sala de aula, então deve ser extremamente

rico visualmente, sem recursos desnecessários, mas contextualizados. No contexto escolar,

Gesser (2009, p. 76) argumenta que o aluno surdo pode e deve desenvolver suas habilidades

cognitivas e linguísticas (se não tiver outro impedimento), desde que lhe seja assegurado o uso

da língua de sinais em todos os âmbitos sociais em que transita. Não é a surdez que compromete

o desenvolvimento do surdo, e sim a falta de acesso a uma língua.

Ressalta-se que nas vivências particulares de cada aluno surdo estão inseridas suas

diferenças sociais, culturais, assim os processos de escolarização ou de comunicação

influenciarão a forma como ele interpreta o seu entorno neste processo. Logo, com a intenção

de promover a criticidade intelectual deste aluno e sua inserção nas práticas sociais, faz-se

necessário que o professor se disponha a dar sentido a sua prática de ensino. Esse aspecto

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relaciona-se também com as concepções de ensino que se refletem nas avaliações desenvolvidas

pela escola e professores.

Nesta perspectiva, para análise do subeixo avaliação, buscou-se identificar no Projeto

Político Pedagógico a concepção presente neste documento. Desse modo, apresenta-se a

seguinte definição:

A avaliação cumpre pelo menos três funções distintas: pedagógico-didática, de

diagnóstico e de controle. Em face disso, a unidade escolar propõe que o processo

avaliativo não se esgote apenas na função de controle. Isto é, não defina apenas quais

estudantes serão ou não promovidos para o ano subsequente. Mas, que a avaliação da

aprendizagem se caracterize como direcionadora da prática pedagógica do educador.

Auxiliando-o na elaboração de um plano significativo de intervenção que vise

solucionar as dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos estudantes (PPP, 2008,

p. 33).

O exposto acima indica que a concepção de avaliação apresentada pela escola objetiva

uma ação contínua do professor, com a intenção de intervir e possibilitar a apropriação de

conhecimentos e desenvolvimento da aprendizagem dos alunos. Subentende-se que tal

proposição avaliativa está centrada no aluno e não como fim da etapa ou nível escolar, ou seja,

serve apenas para promover ou reter o aluno, mas como um procedimento de revisar as práticas

ensino selecionadas pelo professor. A partir dos elementos aqui explicitados, pode-se concluir

que, para que se possa efetivamente avaliar o aluno surdo em sala de aula, é necessário

aproximar-se de uma concepção de prática pedagógica enquanto prática social, partindo das

singularidades linguísticas desses alunos. Para isso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, Lei nº 9.394/96, no art. 59, estabelece que os sistemas de ensino ofereçam currículo,

métodos, recursos, organização específicos para atender as necessidades dos educandos, sempre

considerando as características do aluno, seus anseios, condições de vida e de trabalho,

mediando cursos e avaliação.

Na continuidade das análises, são apresentadas as informações coletadas por meio das

entrevistas, no intuito de compreender como o professor avalia a aprendizagem matemática dos

alunos surdos. Abaixo, seguem-se os resultados:

Quando eu assumi já estava programado que seria semana de avaliação, daí eu

reformulei uma avaliação específica pra ele com os conteúdos no nível de

aprendizagem dele, não pensando que ela não seja capaz, ou que tenha algum

problema cognitivo. E eu fiquei contente porque ele respondeu corretamente todas as

atividades (Prof A).

Os conteúdos trabalhados são os mesmos, então, o aluno surdo é avaliado da mesma

forma que o aluno ouvinte. Não existe uma prova específica para ele (Prof B).

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Observa-se na fala do professor A intencionalidade ao direcionar a avaliação para o

aluno surdo. É possível compreender, desta forma, que o aspecto da intencionalidade na prática

pedagógica remete ao momento anterior da aula, ou seja, na forma de organização, de maneira

consciente, planejada e efetiva, para conduzir um ensino que não se restringe apenas ao

conteúdo, mas está para além do ambiente escolar. Nesta perspectiva, Sacks (2002, p. 56)

enfatiza a relevância de o professor ou a equipe pedagógica realizar o diagnóstico para saber

sobre o conhecimento cognitivo e experiências do aluno surdo, e caso precise faça intervenção,

todavia, se essa intervenção tiver como base a língua oral, o aluno surdo não terá

desenvolvimento no ensino e aprendizagem.

Já o Professor B demonstra desconsiderar os conhecimentos prévios do aluno surdo e

não compreende a importância de refletir sobre a avaliação como processo intencional, na qual

visa direcionar as ações pedagógicas para melhoria da aprendizagem. Neste contexto, Martins

e Giroto (2010, p. 66) afirmam que, ao avaliar a aprendizagem dos alunos surdos, os professores

poderão se pautar na utilização de alguns instrumentos já conhecidos pela comunidade escolar,

tais como: diários de classe, fichas descritivas, relatórios, pauta de observação, portfólio, análise

da produção escolar dos alunos, análise de documentos, questionários semiestruturados,

entrevistas, dentre outros.

Cabe ressaltar, mesmo não sendo objetivo da pesquisa questões específicas sobre a

aprendizagem do aluno surdos, que, durante as observações das aulas, os alunos surdos

apresentaram desafios de aprendizagem relacionados a alguns conhecimentos matemáticos.

Assim, em conversa com os professores, os mesmos justificaram que tais desafios decorrem da

ausência de conhecimentos básicos desses alunos ao chegarem na escola. Infere-se que as

fragilidades na aprendizagem indicadas pelos professores podem estar relacionadas ao fato de

a inclusão destes alunos na escola regular ainda estar sendo delineada, o que não garante a

aprendizagem desses alunos. Esta realidade, além de esbarrar na ausência de conhecimento do

professor para conduzir sua prática, ainda podem estar associadas a fatores externos que

interferem no desenvolvimento da aprendizagem desses alunos, como, por exemplo, o acesso à

Língua de Sinais tardiamente e participação da família nesse processo, pois muitos pais não

aceitam a diferença linguística do filho.

Neste contexto, é importante que o professor, ao desenvolver sua prática, utilize como

recurso o elemento visual, que, de acordo com Sales (2004, p. 10), se configura como um dos

principais facilitadores do desenvolvimento da aprendizagem dos surdos. Assim, os

procedimentos metodológicos precisam privilegiar os recursos visuais como um meio

facilitador do pensamento, da criatividade e da linguagem visuoespacial.

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Sobre este aspecto, Campello (2007) destaca ainda que, para favorecer a aprendizagem

do aluno surdo, não basta apenas apresentar os conteúdos em Libras, é preciso explicar os

conteúdos de sala de aula, utilizando de toda a potencialidade visual que essa língua possui.

Nesse mesmo sentido, o uso de imagens pode ser um efetivo recurso de ensino (uma maquete,

um desenho, um mapa, um gráfico, uma fotografia, um vídeo, um pequeno trecho de filme);

poderia ser um material útil à apresentação de um tema ou conteúdo pelos professores de

ciências, física, química, biologia, história, geografia, matemática, inglês, dentre outras

disciplinas. Portanto, um elemento visual que provocasse debate, que trouxesse à tona

conceitos, opiniões e que pudesse ser aprofundado na direção dos objetivos pretendidos pelo

professor.

Desta forma, compreende-se que seria possível superar a concepção de ensino em que

imperam a repetição, a memorização de respostas, direcionadas por meio de listas de exercícios,

seguidas das avaliações, as quais não contribuem para a reflexão crítica dos alunos, pois apenas

mensuram as aprendizagens convencionais e continuam cumprindo papel burocrático. Nessa

perspectiva, o professor tem o papel de organizador da aprendizagem, pois, além de “conhecer

as condições socioculturais, expectativas e competência cognitiva dos alunos, precisará

escolher os problemas que possibilitam a construção de conceitos e procedimentos e alimentar

os processos de resolução que surgirem” (BRASIL, 1998, p. 37-38).

No que se refere às avaliações internas, muitos pesquisadores têm se debruçado sobre o

tema, como Perrenoud, Fernandes, Freitas, e concordam que são necessárias mudanças urgentes

nas formas de avaliar e também do lugar que a avaliação ocupa nos processos de aprendizagem.

Para esses autores, a avaliação é apenas um segmento do processo de ensino e aprendizagem

que se designa ao diagnóstico dos estágios onde se encontram os estudantes e não um fim em

si mesma, devendo ser a avaliação um instrumento centrado nos processos percorridos pelos

estudantes e não nos resultados desses processos.

Nesta perspectiva, as informações produzidas por meio das observações evidenciaram

que o professor A se utilizou das questões específicas da matemática retiradas da prova do

Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) do ano anterior. Para isso, disponibilizou um tablet

para o aluno surdo, com as questões traduzidas em Libras, enquanto reproduzia as mesmas

questões para os outros alunos por meio da projeção das imagens do retroprojetor. Neste

sentido, explicava as questões de maneira geral, tirava as dúvidas dos alunos, enquanto o aluno

surdo realizava o estudo mediado pelo intérprete de Libras. A maneira como o professor

conduziu o ensino revela que, mesmo na ausência de comunicação em Libras, ele entende que

é preciso utilizar outros recursos que atendam às necessidades específicas do aluno. Neste

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sentido, Quadros, Stumpf e Oliveira (2011, p. 188) consideram que para incluir alunos surdos

em salas regulares é de extrema necessidade rever a proposta pedagógica, pois é preciso adaptar

à real situação, uma vez que a comunicação é diferente, porque a língua de sinais revela o

contexto linguístico, social e cultural da comunidade surda. Para tanto, ressaltam que a proposta

das avaliações em Libras significa uma mudança de paradigma, pois subverte a ordem

preestabelecida de supremacia da língua oral, para isso faz-se necessário romper com as lógicas

já estabelecidas.

A avaliação escolar de alunos surdos deve, então, ser retomada continuamente, partindo

de outras abordagens teóricas, visto que esses alunos utilizam formas diferenciadas de registrar

suas respostas que diferem dos outros alunos. Assim, é fundamental o professor refletir acerca

do processo avaliativo do aluno surdo, considerando suas singularidades. Cabe ressaltar que a

Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2017) propõe que os alunos sejam

capazes de resolver problemas nos diferentes cenários, utilizando instrumentos da matemática

para aplicar conceitos e procedimentos, a fim de obter soluções e saber interpretá-las.

Como já mencionado, no decorrer do desenvolvimento da pesquisa, houve uma

transição das aulas para o Professor B. Assim, durante as observações, verificou-se que ele

realizou a revisão dos conteúdos anteriores, com a intenção de identificar como estava o

desenvolvimento dos alunos e explicou a eles que seguiria o planejamento anual, além disso,

nas aulas seguintes, seria aplicada avaliação, já que este período compreendia o final de

bimestre. Assim, na semana seguinte, aplicou a avaliação para os alunos e nas aulas posteriores

apresentou os resultados obtidos por eles.

O processo avaliativo ocorreu por meio de aplicação de atividades somatórias, contendo

exercícios abordados ao longo do bimestre. Durante este processo, o aluno surdo foi

acompanhado pelo intérprete de Libras, o qual realizou a tradução de dúvidas quanto à

semântica das palavras incompreendidas pelo aluno, evitando indicar a solução dos exercícios

propostos. Nota-se que essa forma de avaliar pode estar relacionada à falta de conhecimentos

específicos no ensino de alunos surdos, que exige o desenvolvimento de uma prática pedagógica

refletida e consciente sobre a diversidade inserida em sala de aula e, também, a articulação de

propostas direcionadas pela própria unidade escolar que reflitam positivamente no ensino e

aprendizagem destes alunos.

Cabe enfatizar que, se a avaliação for entendida como um momento de aprendizagem,

e não apenas de medida do conhecimento adquirido, é fundamental que os professores

empreguem diferentes metodologias de avaliação. Só assim será possível avaliar se o aluno

surdo se apropriou do conteúdo trabalhado e, com base nos resultados, tomar decisões

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pedagógicas e definir qual procedimento é o mais adequado para o processo avaliativo deste

aluno. Nesta perspectiva, é necessário repensar as práticas de ensino que se fundamentam

apenas na instrumentalização e reprodução de exercícios que não favorecem o desenvolvimento

da autonomia e criticidade dos alunos.

Diante disso, buscou-se entender qual a concepção de prática pedagógica evidenciada

no decorrer desta investigação por meio da análise documental, das entrevistas e observações

realizadas nas salas de aula dos respectivos professores. Logo, observou-se a seguinte definição

de prática pedagógica pela escola:

As práticas pedagógicas são aquelas práticas que se organizam para concretizar

determinadas expectativas educacionais. São práticas carregadas de intencionalidade

e isso ocorre porque o próprio sentido de práxis configura-se através do

estabelecimento de uma intencionalidade, que dirige e dá sentido à ação, solicitando

uma intervenção planejada e científica sobre o objeto, com vistas à transformação da

realidade social (PPP, 2008, p. 26).

Identificou-se no Projeto Político Pedagógico da escola a concepção de prática

pedagógica intencional, planejada, refletida, na perspectiva de transformação no contexto

social. Essa definição coaduna com a concepção de prática pedagógica definida neste estudo.

Neste aspecto, entende-se que, por meio do PPP, a escola pode propiciar aos professores a

compreensão de que o processo de ensino não pode ser entendido como transmissão de

conteúdo, mas que a partir de uma prática intencional a ação do professor assume uma

característica transformadora.

Partindo desse entendimento, Caldeira (2013) assim ressalta: para que o professor

exerça algum papel de agente de transformação social é importante que ele tenha conhecimento

das dimensões que determinam a sua prática pedagógica. Nesta linha de raciocínio, Cunha

(2006) considera que o professor não é mais um transmissor de informações, mas constitui-se

numa ponte que estabelece as mediações entre o conhecimento escolarizado e as estruturas

cognitivas e socioculturais dos estudantes. Observa que as questões no entorno do

conhecimento escolar não se esgotam na listagem de conteúdo, logo a formação dos estudantes

se constrói das múltiplas relações que compõem suas vivências, dentro e fora da escola.

Prosseguindo na análise das informações, buscou-se, por meio das narrativas dos

professores investigados, compreender como desenvolvem sua prática pedagógica ao ensinar

matemática para os alunos surdos. O professor A descreveu:

Francamente o que mais utilizo como recurso é o livro didático, mesmo que às vezes

eu desenhe no quadro algumas imagens, por exemplo, quando ensino funções,

trigonometria. Em relação ao aluno surdo eu percebo que ele aprende ao corrigir as

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atividades propostas e pelo meu diálogo com o intérprete que também auxilia nas

explicações e tirar as dúvidas (Prof A).

O professor B, por sua vez, afirma:

Eu utilizo o livro didático e o quadro como recurso. Proponho trabalhos em grupos.

Eu percebo que o aluno está acompanhando o conteúdo quando eu corrijo as

atividades no caderno dele, e também nas avaliações da aprendizagem. Na maioria

das vezes é o intérprete que esclarece as dúvidas do aluno sem precisar da minha

intervenção (Prof B).

Os depoimentos dos respectivos professores evidenciam que não utilizam

procedimentos metodológicos direcionados para o ensino e reflexão crítica do aluno surdo.

Infere-se que essa forma de desenvolver a prática pedagógica relaciona-se com a ausência de

conhecimentos específicos para que os professores consigam constituir uma prática pedagógica

inclusiva para os alunos surdos.

De acordo com Frias (2010, p. 13), a inclusão dos alunos Surdos na escola regular devem

contemplar mudanças no sistema educacional e uma adaptação no currículo, com alterações nas

formas de ensino, metodologias adequadas e avaliação que condiz com as necessidades do

aluno Surdo; requer também elaboração de trabalhos que promovam a interação em grupos na

sala de aula e espaço físico adequado a circulação de todos. A inclusão deve ocorrer, ainda que

existam desafios, com garantia de oportunidades ao aluno Surdos iguais aos do aluno ouvinte.

Neste direcionamento, Silva (2009, p. 44) enfatiza que o ensino da matemática deve ir

além de simples técnicas para a aplicação em exercícios padronizados e, mesmo, de articulações

interdisciplinares/transdisciplinares. Para ele, torna-se exigência a qualquer educador a

compreensão e o desenvolvimento de uma prática reflexiva crítica sobre o que ensinar e como

ensinar e a conscientização de que tal atitude deve emergir de sua própria consciência sobre

estes aspectos e não de modismos ou tendências pedagógicas. E, ainda mais, espera-se que o

professor de Matemática tenha clareza sobre a importância desse conteúdo de aprendizagem na

formação cidadã do aluno. A prática do ensino precisa ultrapassar a visão reducionista da

própria atividade matemática, o ponto de vista que a considera como sendo platônica,

tradicional, instrumentalista e técnica.

Neste sentido, Strobel (2008) destaca que a educação matemática dos sujeitos surdos

exige o planejamento de uma metodologia que valorize as características desses alunos, pois

aulas ministradas em Língua de Sinais facilitam o acesso desses alunos aos conteúdos

matemáticos, uma vez que a Libras é um modo de comunicação que leva em consideração as

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experiências visuais dos sujeitos surdos, propiciando-lhes a aquisição de conhecimento

universal.

O surdo traz consigo uma língua própria e formas diferenciadas de aprendizagem. Ao

se buscar homogeneizar e padronizar o ensino, a escola reforça uma visão estática e linear do

processo de ensino e aprendizagem, manifestando, assim, uma visível dificuldade em lidar com

as mais diversificadas formas e ritmos de aprender (MACHADO, 2008).

No que se refere às observações da prática pedagógica em sala de aula, foi observado

que os alunos ouvintes questionavam o professor ou teciam comentários que contribuíam para

a compreensão do assunto abordado ou do conceito científico em pauta, no entanto, muitas

vezes, esses comentários não foram traduzidos pelo intérprete para o aluno surdo. Verifica-se,

desse modo, que o aluno perde a oportunidade de interagir com o grupo considerando sua

diferença linguística, pois comunica-se por meio do canal visual/gestual e aprende por vias não

auditivas. Destaca-se que o intérprete não tem autonomia e tampouco formação específica para

ensinar matemática para o aluno surdo, o ideal seria que todos os profissionais da educação,

assim como os alunos ouvintes, utilizassem a língua de sinais, o que facilitaria a comunicação

e simultaneamente a prática pedagógica do professor, porém existem inúmeros desafios a serem

superados para que essa proposta seja consolidada.

Deste modo, salienta-se, nesta pesquisa, a importância de que não apenas o professor

saiba utilizar a Língua Sinais, mas também os alunos ouvintes, o que possibilitaria ir ao encontro

da realidade deste aluno surdo, uma vez que vivencia, ainda nos dias atuais, um processo

sistêmico de perda de contexto, por não acessar plenamente a língua majoritária. Assim, nota-

se que as concepções de prática pedagógica de professores que ensinam alunos surdos

interferem de maneira positiva ou negativa e determinam o modo de conduzir o ensino e de

conceber a aprendizagem dos mesmos. Logo, apoiando-se na concepção de racionalidade

prática, é urgente que o professor, na condição de profissional responsável pelo processo de

ensino, disponha-se a refletir e elaborar procedimentos metodológicos que contemplem o

reconhecimento da singularidade desses alunos como condição primária para o

desenvolvimento de aprendizagens necessárias para inseri-los nas práticas sociais.

Para Contreras (2002), o professor que compreende que sua ação consiste apenas na

aplicação de decisões técnicas, munidos dos resultados acerca das dificuldades de um grupo ou

de determinado aluno, aplica o tratamento mais adequado à devida situação e esquece-se que

cada sujeito envolvido no processo de ensino e aprendizagem possui características que os torna

únicos nesse processo, traduz a prática de um profissional técnico. Segundo o autor, a reflexão

crítica possibilitaria aos professores avançarem para um processo de transformação da prática

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pedagógica, mediante sua própria transformação como intelectuais críticos. Assim, a reflexão

crítica deve permitir ao professor analisar e questionar as estruturas institucionais em que

trabalha, de modo a pensar sobre o sentido social e político de sua própria prática

(CONTRERAS, 2002). Para tanto, é necessária uma crítica sócio-histórica da profissão docente

e das escolas, pois é essa condição que demonstra a capacidade de superar estreitamentos

teóricos e dependências ideológicas, integrando-se, assim, aos processos de transformação e

compreensão de formas de dominação e de possibilidades de ação.

Franco (2015) destaca que a prática pedagógica se refere a algo além da prática didática,

ou seja, envolve as circunstâncias da formação, os espaços-tempos escolares, as opções da

organização do trabalho docente, as parcerias e expectativas do docente. Portanto, na prática

docente estão presentes não só as técnicas didáticas utilizadas, mas, também, as perspectivas e

expectativas profissionais, além dos processos de formação e dos impactos sociais e culturais

do espaço ensinante, dentre outros aspectos que conferem uma enorme complexidade a este

momento da docência.

Mediante essas considerações, subentende-se que a atividade docente dos professores

de alunos surdos é permeada por uma pluralidade de saberes norteados pelos aspectos

profissionais e políticos que influenciam sua prática pedagógica em sala de aula. Neste

direcionamento, compreende-se que a intencionalidade da prática pedagógica do professor ao

ensinar matemática para os alunos surdos implica na forma como organiza e seleciona os

recursos a serem utilizados no momento anterior da aula, de maneira que sua prática não se

limite apenas à reprodução de conteúdo, mas propicie a este aluno avançar e atuar criticamente

para além do ambiente escolar.

Cabe ao docente exercer práticas pedagógicas determinantes no processo de

aprendizagem, com metodologia, adaptações curriculares, propondo formas que estabeleçam a

relação professor-aluno como agentes do conhecimento, oferecer aos alunos surdos o uso

habitual da língua, nos mais diversos contextos. Para isso, a prática pedagógica desse professor

perpassa pelo desenvolvimento de um planejamento intencional que conduza a procedimentos

metodológicos que sejam elaborados considerando o aluno surdo a partir das suas diferenças

linguísticas, cognitivas, físicas, sociais e culturais, que vise à transformação social. Dentro das

ações docentes devem ser evidenciados momentos de troca de experiência.

Importa mencionar que há, pois, duas características fundamentais do ato educativo

intencional: primeiro, de ser uma atividade humana intencional; segundo, de ser uma prática

social (LIBÂNEO, 2001). No primeiro caso, sendo a educação uma relação de influências entre

pessoas, há sempre uma intervenção voltada para fins desejáveis do processo de formação,

Page 74: ROSENILDA ROCHA BUENO PRÁTICA PEDAGÓGICA DE … · planejamento anual de matemática e plano de aula, entrevista semiestruturada e observação participante. As apresentações

73

conforme opções do educador quanto à concepção de homem e sociedade, ou seja, há sempre

uma intencionalidade educativa, implicando escolhas, valores, compromissos éticos. No

segundo caso, a educação é um fenômeno social, ou melhor, só pode ser compreendida no

quadro do funcionamento geral da sociedade da qual faz parte.

Diante do exposto, entende-se que não é possível pensar a educação dissociada dos

processos sociais, políticos e culturais, os quais impulsionam os debates determinantes sobre a

função social da escola na contemporaneidade. Logo, as transformações sociais advindas dos

avanços tecnológicos e científicos exigem mudanças nas formas de compreender e desenvolver

o processo de ensino, a fim de responder às demandas que os contextos históricos lhes colocam.

Nesse sentido, conforme Caldeira e Zaidan (2013, p. 21), a prática pedagógica é, ao mesmo

tempo, a expressão e a fonte do saber docente, e do desenvolvimento da teoria pedagógica.

Assim, ao mesmo tempo em que o professor age segundo suas experiências e aprendizagens,

ele cria e enfrenta desafios cotidianos (pequenos e grandes) e, com base neles, constrói

conhecimentos e saberes, num processo contínuo de fazer e refazer.

Franco (2015), então, ressalta que as práticas pedagógicas se organizam

intencionalmente para atender a determinadas expectativas educacionais solicitadas/requeridas

por uma dada comunidade social, ou seja, elas enfrentam, em sua construção, um dilema

essencial: sua representatividade e seu valor advêm de pactos sociais, de negociações e

deliberações com um coletivo. Fica evidente que as práticas pedagógicas se organizam e se

desenvolvem por adesão, por negociação, ou, ainda, por imposição. De acordo com Franco

(2015), nas práticas pedagogicamente construídas, há a mediação do humano e não a submissão

do humano a um artefato técnico previamente construído. Desta maneira, uma aula ou um

encontro educativo tornar-se-á uma prática pedagógica quando se organizar em torno de

intencionalidades, bem como será prática pedagógica quando incorporar a reflexão contínua e

coletiva, de forma a assegurar que a intencionalidade proposta é disponibilizada a todos; será

pedagógica na medida em que se buscar a construção de práticas que garantam que os

encaminhamentos propostos pelas intencionalidades possam ser realizados.

Cabe ressaltar outra questão observada, relacionada aos momentos em que o intérprete

assumiu a responsabilidade de ensinar o aluno surdo. Isso ocorreu em virtude do domínio da

língua de sinais, uma vez que o professor não possui conhecimento básico dessa língua.

Todavia, ao considerar que a matemática possui uma linguagem própria, e contém termos que

não são traduzidos em sinais específicos pela Língua de Sinais, por exemplo: logaritmos,

matrizes, funções, constata-se a importância de repensar políticas formativas para a atuação

destes profissionais em sala de aula, ao compreender que a ausência de formação em nível

Page 75: ROSENILDA ROCHA BUENO PRÁTICA PEDAGÓGICA DE … · planejamento anual de matemática e plano de aula, entrevista semiestruturada e observação participante. As apresentações

74

superior, especificamente na área da matemática, pode interferir em sua atuação, e

subsequentemente refletir na abstração dos conhecimentos pelos alunos surdos. Assim, verifica-

se que os alunos ouvintes sempre estarão em vantagem quanto à compreensão do conteúdo

trabalhado, em decorrência da experiência daqueles ser de cunho visual-espacial e não oral-

auditiva.

Neste contexto, é bastante relevante discutir, nesta pesquisa, sobre o trabalho do

intérprete e apontar as fragilidades identificadas nessa tradução/interpretação, tendo em vista

que muitas informações não foram compartilhadas com aluno surdo. Além de outros aspectos

observados na interação intérprete, aluno e professor.

Nessa direção, Pedroso (2006, p. 57) indica a necessidade de definir diretrizes para a

formação de intérprete e compreender melhor a dimensão dessa atuação quando inserida nas

situações de ensino, ou seja, “distinguir as funções do intérprete das funções do professor”, pois

as ações desenvolvidas por intérpretes extrapolam a simples interpretação, adotando, em

paralelo, o papel de educador.

Para Lacerda (2000), a responsabilidade pela educação do aluno surdo não pode recair

sobre o intérprete, já que seu papel principal é interpretar. Deste modo, enfatiza que é preciso

estabelecer parceria com o professor, propiciando uma atitude colaborativa, em que cada um

possa sugerir adaptações ao outro, promovendo a melhor condição possível de aprendizagem

para a criança surda. Neste sentido, destaca a importância de uma profunda discussão sobre a

capacitação de intérpretes, uma vez que este ambiente de trabalho se constitui num espaço

diferenciado que requer formação e suporte técnico, nem sempre desenvolvidos apenas com a

prática. Tal capacitação envolve conhecimento sobre o processo ensino e aprendizagem, sobre

a formação de conceitos e a construção de conhecimentos, além da formação linguística

implicada no trabalho de interpretação.

Viana (2014, p. 18) afirma que, muitas vezes, o discurso docente de que eles próprios

não estão preparados para receber alunos com essas características leva a uma concepção

errônea da relação professor/intérprete de língua de sinais/aluno com surdez. São vários os

fatores que estão ligados a essa relação como, a comunicação, o aspecto cognoscitivo, o aspecto

socioemocional e a forma de dinamizar a aula. Destaca que o professor da sala de aula deveria

ser o responsável por criar situações de aprendizagem, tendo o intérprete apenas como mediador

secundário dessa relação. O intérprete não deve jamais assumir as funções que estão reservadas

para o professor.

Girotto (2012) chama a atenção para o fato de que a participação do intérprete de língua

de sinais, em sala de aula, não garante que outras necessidades da pessoa surda, também

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75

concernentes à sua educação, sejam contempladas. Neste sentido, ressalta que a presença do

intérprete não assegura que questões metodológicas, levando em conta os processos próprios

de acesso ao conhecimento, sejam consideradas, ou que o currículo escolar perpasse por

adequações para contemplar particularidades dos surdos.

Com base nas contribuições de Lacerda (2003), conclui-se que a atuação do intérprete

em sala de aula depende do entendimento da natureza da relação educacional, o que requer

formação teórica e suporte técnico, nem sempre desenvolvidos apenas com a prática. Ou seja,

a formação/capacitação do intérprete educacional deve envolver conhecimentos sobre o

processo ensino/aprendizagem, além da formação linguística implicada no trabalho de

interpretação.

Para Giroto, Martins e Berberian (2012), o reconhecimento do intérprete como um

educador que compartilha e constrói sentidos e conhecimentos com o professor e com o surdo

situa ambos os profissionais como responsáveis/parceiros pelo desenvolvimento de um projeto

comum (promover a apropriação do conhecimento acadêmico pelos surdos), no qual a cada um,

de forma colaborativa, caberá desempenhar funções/medições específicas. Por conseguinte, se

investimentos para o implemento de formação/capacitação específica ao intérprete são

urgentes, como já sinalizados por meio de vários estudos nacionais, são necessários igualmente

a implantação e o desenvolvimento de propostas de formação continuada dirigidas, ao mesmo

tempo, para o professor e para o intérprete.

Portanto, acrescenta-se que a possibilidade de operar sobre tais conhecimentos é

condição para que, nas relações entre intérprete e o professor, desencadeadas em sala de aula,

sejam compartilhados experiências e conhecimentos que efetivamente contribuam para a

educação do aluno surdo. Se ao intérprete cabe tornar os conteúdos acadêmicos mais acessíveis,

de modo que façam sentido aos alunos surdos, fica evidente que tal processo extrapola em muito

a função de transpor um texto/discurso de uma língua para outra. Enfim, o interpretar e o

aprender passam a ser compreendidos como processos indissociáveis, reiterando, assim, as

concepções do intérprete como educador e da relação professor-intérprete como uma parceria

entre educadores.

Sobre a atuação do intérprete, Lacerda (2009) descreve que ele, muitas vezes, acaba

colaborando com o professor na sugestão de atividades, indicando os momentos de sala de aula

que foram mais complicados para trabalhar, além de levar informações e observações para o

professor, auxiliando o desenvolvimento de uma visão ampla sobre a surdez e os modos de

abordar diversos temas. Assim, o trabalho colaborativo entre o intérprete e o professor contribui

de maneira significativa para o desenvolvimento do aluno surdo. Nesse sentido, Lacerda (2003)

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afirma que devido ao fato de o Intérprete de Língua de Sinais (ILS) ter uma relação estreita e

cotidiana com os alunos surdos ele não pode simplesmente interpretar sem se importar com a

compreensão e o aprendizado deles. Interpretar e aprender, e interagir com os demais membros

do grupo nesse ambiente, são fatores indissolúveis, além disso o intérprete assume, inerente ao

seu papel, a função de educador.

De acordo com Lacerda (2009), esses profissionais são essenciais para que os alunos

surdos, usuários da Libras, tenham acesso não apenas aos conteúdos escolares, como também

a oportunidades de inserção/interação social no espaço escolar. Sua função é viabilizar a

comunicação entre surdos e ouvintes, atuando na fronteira entre os sentidos da língua oral

(português) e da língua de sinais, em um processo ativo, dinâmico e dialético. Esse trabalho

visa a uma contribuição significativa na melhoria do atendimento escolar, pelo fato de

estabelecer o respeito para com o surdo em sua condição linguística e sociocultural, propiciando

seu desenvolvimento e aquisição de novos conhecimentos de maneira adequada.

Diante dessas informações, é fundamental refletir sobre a formação do profissional

intérprete de Libras, visto ser o principal mediador entre professor e alunos surdos e, ao mesmo

tempo, sujeito de aprendizagem e responsável por estabelecer a comunicação do que está sendo

ensinado pelo professor e compreendido pelo aluno. Ressalta-se que a presença dos intérpretes

de Libras em sala de aula é respaldada pela Lei Federal 12.319, de 1º de setembro de 2010

(Profissão de Tradutor e Intérprete Libras). Entretanto, apenas a presença do intérprete em sala

de aula não garante o desenvolvimento integral do aluno surdo; para que este processo ocorra,

é necessário criar um ambiente favorável, no qual o surdo possa desenvolver suas

potencialidades, habilidades, competências e sua criatividade, como qualquer outro aluno.

Segundo Kotaki e Lacerda (2011), ao estabelecer parcerias com os professores, o

trabalho do interprete é favorecido, uma vez que o conhecimento prévio dos conteúdos permite

um melhor planejamento e criação de estratégias que facilitem o ato de interpretar. A

proximidade do professor amplia as possibilidades de um trabalho colaborativo, havendo

abertura para discussões sobre possíveis adaptações, troca de informações e de ideias, para um

melhor trabalho em sala de aula. Em consonância com as autoras, o trabalho do professor em

parceria com o intérprete educacional é relevante na qualidade de ensino à pessoa surda. Assim,

deve existir entre eles um planejamento comum cotidiano, com discussão e compartilhamento

de ideias, reflexão sobre as aulas diariamente, além de oportunidade para sugerir adaptações e

modificações, a fim de atender todas as necessidades dos alunos, facilitando o tanto o trabalho

de interpretação como também o acesso às informações e aprendizado do sujeito surdo.

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Lacerda (2002, p. 128) menciona que a “presença do intérprete em sala de aula e o uso

da língua de sinais não garantem que as condições específicas da surdez sejam contempladas e

respeitadas nas atividades pedagógicas”. Há também que se considerar que, muitas vezes, a

função do intérprete é mal vivenciada, levando-o a assumir a função do professor. Nesse caso,

o professor deixa ao encargo do intérprete toda a função de ensino para o aluno surdo.

Dessa forma, Quadros (2004) aponta que existem diversos problemas de ordem ética

em função do modelo de intermediação que se constrói em sala de aula. Muitas vezes, o trabalho

exercido pelo intérprete em sala de aula acaba sendo confundido com a função do professor.

Por vezes, os próprios alunos surdos acabam direcionando questões ao intérprete sobre

conteúdos escolares, resultando em diálogos e discussões em relação aos assuntos abordados

em sala com o intérprete e não com o professor. Deste modo, entende-se que a relação

estabelecida entre aluno surdo, intérprete e professor, desde sua forma de se posicionar em sala

de aula ao interpretar, bem como as intervenções realizadas, influenciam o desenvolvimento

das aprendizagens deste aluno.

Neste contexto, Lacerda (2000, p. 57) destaca ainda que presença do intérprete não

assegura que questões metodológicas, levando em conta a surdez e os processos

especiais/próprios de acesso ao conhecimento, sejam consideradas, ou que o currículo escolar

sofra ajustes para contemplar peculiaridades e aspectos culturais da comunidade surda.

A este propósito, Quadros (2005) enfatiza que a educação de surdos, tendo uma proposta

bilíngue, deve gozar de um currículo organizado, com perspectiva visual-espacial, para garantir

ao aluno surdo o acesso a todos os conteúdos escolares na Língua Brasileira de Sinais. O

Bilinguismo seria a proposta mais adequada para o ensino de crianças surdas, tendo em vista

que se considera a língua de sinais como língua natural – partindo desse pressuposto para o

ensino da língua escrita. Essa diferença linguística torna-os, assim, um grupo de minoria

linguística, por distanciarem-se do padrão da sociedade majoritária que é a língua de espaço

oral/auditivo da qual as pessoas ouvintes fazem parte (GESSER, 2015).

As pesquisas desenvolvidas têm demonstrado que esta abordagem corresponde melhor

às necessidades do aluno surdo, em virtude de respeitar a língua natural e construir um ambiente

propício para a aprendizagem escolar. Conforme Machado (2002):

[...] por meio da Língua de Sinais, o Surdo é capaz de produzir conhecimentos tão

organizados quanto os ouvintes, não podendo o mesmo ser considerado incapaz, a

partir do puro dado orgânico que implica a incapacidade de ouvir. Os Surdos

organizam-se politicamente, convivem com ouvintes e com outros surdos, produzindo

uma cultura surda.

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Tendo em vista que a sociedade é majoritariamente ouvinte, expõe-se na prática

pedagógica uma proposta oralista, longe de entender e respeitar a pessoa surda nas suas

diferenças. Há uma visão distorcida sobre a educação bilíngue para alunos surdos, pois ofertar

a disciplina de Libras, como também Atendimento Educacional Especializado no contraturno e

a presença de um intérprete na sala não pode caracterizar a escola como bilíngue. Uma proposta

de educação bilíngue é consolidada quando se faz uso de duas línguas no ensino e

aprendizagem, com proposta de um currículo, atividades, eventos, ações que oportunizam uma

ação interativa e não apenas tradutória, enfim todos que constituem a escola usem a língua

Portuguesa e a Libras, sempre respeitando as peculiaridades do aluno surdo.

O Bilinguismo seria a proposta mais adequada para o ensino de alunos surdos, tendo

em vista que se considera a língua de sinais como língua natural e parte-se desse pressuposto

para o ensino da língua escrita. Nesta perspectiva, a proposta de ensino bilíngue caminha lado

a lado com o processo de empoderamento das comunidades surdas, admitindo que suas

especificidades educacionais não são sintomas de uma enfermidade, mas idiossincrasias do ser

surdo. As pautas da educação bilíngue devem considerar as demandas da comunidade surda,

abrindo espaço, principalmente, para que se discutam suas questões com base na aquisição e

desenvolvimento de língua, pois assim é que o surdo pode tornar-se autor de sua própria jornada

de aprendizagem.

Tendo em vista a construção de um projeto de educação bilíngue, gradativamente, vem

sendo anunciada a necessidade de promover, no contexto da educação, um ambiente bilíngue

que pressupõe maior número de pessoas fazendo uso da Libras, materiais didáticos produzidos

em Libras e, portanto, a ampliação e o aperfeiçoamento das condições de formação dos

profissionais envolvidos direta ou indiretamente com o uso da Libras, nos processos de ensino

aprendizagem dos surdos.

De acordo com Sacristán (2017), o currículo supõe a concretização dos fins sociais e

culturais, de socialização, que se atribui à educação escolarizada, ou de ajuda a seu

desenvolvimento, estímulo e cenário, sendo o reflexo de um modelo educativo determinado

pelo que necessariamente representa um tema controvertido e ideológico, de difícil

concretização num modelo ou proposição simples.

O currículo não é um elemento inocente e neutro de transmissão desinteressada de

conhecimento social. O currículo está implicado em relações de poder, o currículo

transmite visões sociais particulares. O currículo produz identidades individuais e

sociais particulares. O currículo não é elemento transcendente e temporal ele tem uma

história, vinculada às formas específicas e contingentes de organização da sociedade

e da educação (MOREIRA; SILVA, 2001, p. 8).

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Neste direcionamento, faz-se necessário, na organização da proposta curricular,

assegurar o entendimento de currículo como experiências escolares que se desdobram em torno

do conhecimento, permeadas pelas relações sociais, articulando vivência e saberes dos

estudantes com os conhecimentos historicamente acumulados, contribuindo para construir as

identidades dos educandos (BRASIL, 2010). Aponta-se, assim, a importância de que o currículo

atenda as particularidades de todos no processo educativo; uma vez que a experiência visual

sobressai a oralidade, tornam-se relevantes ações afirmativas que reforcem a cultura e

identidade do surdo, sempre com responsabilidade, no intuito de promover cidadania e

oportunizar o direito de todos na construção de uma sociedade menos desigual.

Para isso, é necessário, como afirmam Silva e Rodrigues (2011, p. 62), reconhecer que

existe uma distinção profunda entre simplesmente aceitar e respeitar e o processo de

compreensão da diferença, que demanda das pessoas disposição e compromisso para trabalhar

com o ser humano no sentido de contribuir com o desenvolvimento de um sujeito social,

histórico e politicamente consciente. Logo, não se trata de apenas acolher a diversidade, mas

de compreender sua produção e complexidades na realidade de cada sujeito.

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4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PESQUISA

Neste tópico, são tecidas reflexões sobre os resultados desta pesquisa. As análises

realizadas centraram-se em responder à pergunta: como é desenvolvida a prática pedagógica

dos professores que ensinam matemática para alunos surdos?

Deste modo, a pergunta de pesquisa possibilitou compreender como é desenvolvida a

prática pedagógica de professores que ensinam matemática para alunos surdos do Ensino Médio

de uma Escola da Rede Estadual em Cuiabá-MT. Subsequentemente, permitiu identificar as

concepções dos professores sobre a prática pedagógica; descrever a compreensão dos

professores sobre a aprendizagem dos alunos surdos; e evidenciar quais procedimentos

metodológicos os professores utilizam para ensinar aos alunos surdos.

A educação escolar para o aluno surdo é uma temática que perpassa pelos aspectos

políticos, educacionais, linguísticos, culturais, os quais, no contexto da escola, se expressam

nas práticas pedagógicas em sala de aula e nos aspectos linguísticos dos alunos inseridos na

escola regular. Se, de um lado, apresenta-se uma formação de professores insuficiente para

atender a demanda, de outro, coloca-se uma variedade de condições linguísticas, as quais

apontam para a necessidade de diferentes procedimentos para o desenvolvimento do ensino e

aprendizagem.

Neste sentido, para Dorziat (2013), a inclusão, como proposta de implementação

mundial, apresenta muitos desafios à sociedade, em especial à escola, que precisa se adaptar

física e pedagogicamente para receber todos os alunos, com atenção especial às suas diferenças.

Assim, a escola que se propõe inclusiva deve garantir aos seus discentes o que já está definido

na legislação: um ensino de qualidade para todos, com oportunidades iguais de

desenvolvimento.

Partindo desse entendimento, Caldeira (2012) ressalta que para o professor exercer

algum papel de agente de transformação social é importante que ele tenha conhecimento das

dimensões que determinam a sua prática pedagógica. Nessa perspectiva, as ações desse

professor consciente serão imbuídas por uma intencionalidade e o cotidiano em suas aulas será

rompido para pausas de reflexão que determinarão o seu fazer docente. Nessas circunstâncias,

o professor nega a realidade, como, por exemplo, o fato de a escola reproduzir as desigualdades

sociais, e procura transformá-la em outra realidade, concretizando seu trabalho docente por

meio de sua práxis pedagógica.

Para Caldeira e Zaidan (2010, p. 21), a prática pedagógica é entendida como uma

prática social complexa, acontece em diferentes espaços/tempos da escola, no cotidiano de

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professores e alunos nela envolvidos e, de modo especial, na sala de aula, mediada pela

interação professor-aluno-conhecimento. Nela estão imbricados, simultaneamente, elementos

particulares e gerais. Os aspectos particulares dizem respeito: ao docente – sua experiência, sua

corporeidade, sua formação, condições de trabalho e escolhas profissionais; aos demais

profissionais da escola – suas experiências e formação e, também, suas ações, segundo o posto

profissional que ocupam; ao discente – sua idade, corporeidade e sua condição sociocultural;

ao currículo; ao projeto político-pedagógico da escola; ao espaço escolar – suas condições

materiais e organização; à comunidade em que a escola se insere; e às condições locais.

Neste sentido, para pensar no ensino de matemática para alunos surdos, há a necessidade

de se considerar uma metodologia que valorize as características dos mesmos, pois aulas que

utilizam a Língua de Sinais como canal de comunicação entre professor e aluno surdo facilita

o acesso aos conteúdos matemáticos, uma vez que a Libras é um modo de comunicação que

percebe as experiências visuais desses alunos, propiciando-lhes o desenvolvimento de

conhecimento universal (STROBEL, 2008).

Em resumo, considera-se fundamental que os professores se disponham a refletir sobre

suas ações em sala de aula, de maneira consciente e intencional, para desenvolvimento de uma

prática pedagógica bilíngue no ensino de matemática para alunos surdos. Então, para que haja

inclusão, não basta inserir um aluno que apresente peculiaridades em relação aos demais na sala

de aula, ignorando suas necessidades, e não basta prestar atendimento especializado; é a escola

de um modo geral que precisa ser questionada, a produção de saberes, as organizações

pedagógicas, as concepções (MACHADO, 2008).

Os resultados da análise documental indicaram que a escola não apresenta nenhuma

proposta sistematizada concernente ao ensino da matemática para alunos surdos. As

informações coletadas apresentaram superficialmente algumas indicações de metodologias para

atender as necessidades educacionais específicas dos alunos com deficiência, mas que parece

destinar a responsabilização do atendimento apenas aos professores especialistas na sala de

recursos multifuncionais.

As concepções sobre o ensino de matemática descritas nas entrevistas, por ambos os

professores (Prof A e Prof B), revelaram atribuição de sentido prático aos conteúdos ensinados,

de forma que abranja o contexto social. O professor A demonstra refletir sobre sua prática, na

intenção de que o ensino esteja acessível e favoreça a aprendizagem do aluno surdo. A fala do

professor B também indica pensamento sobre um ensino refletido, porém, diante do fato de

estar iniciando sua experiência docente com o aluno surdo, parece assegurar o processo de

ensino apenas pela mediação do profissional intérprete de Libras.

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82

É possível identificar nas declarações dos professores que eles têm o conhecimento

específico da matemática, no entanto desconhecem a metodologia para desenvolvimento de

uma prática pedagógica direcionada ao aluno surdo e sua especificidade. Uma vez que a

matemática possui conceitos específicos e uma linguagem própria, ressalta-se que no processo

de ensino para alunos surdos torna-se necessária, ainda mais, reflexão para a elaboração de um

planejamento refletido, que possibilite a interação e construção de conhecimentos deste aluno.

O Professor A esteve em contato com um aluno surdo por um tempo curto e, atualmente,

transparece seu esforço para estabelecer interação com o mesmo ao ensinar matemática.

Evidencia-se na fala do professor a importância de se utilizar a Língua de Sinais como canal de

comunicação para mediar o ensino direcionado ao aluno surdo. Em contrapartida, o Professor

B está iniciando sua primeira experiência com o aluno surdo, o que, para ele, é bastante

desafiador.

Evidenciou-se nos relatos de ambos os professores que compreendem que a diferença

linguística do aluno surdo não é impeditiva para desenvolver sua aprendizagem. Observou-se

que o Professor A demonstra intencionalidade ao direcionar a avaliação para o aluno surdo. A

forma de o professor conduzir o ensino revela que, mesmo na ausência de comunicação em

Libras, entende que é preciso utilizar outros recursos que correspondam às necessidades

específicas do aluno. Já o Professor B demonstra desconsiderar os conhecimentos prévios do

aluno surdo e não compreende a importância de refletir sobre a avaliação como processo

intencional, na qual visa direcionar as ações pedagógicas para melhoria da aprendizagem.

Entretanto, as observações das aulas revelaram que não há interação dos professores

com seu aluno surdo, restrita apenas à intermediação do intérprete. Para tanto, é importante que

o professor, ao desenvolver sua prática, utilize como recurso o elemento visual que, de acordo

com Sales (2004, p. 10), configura-se como um dos principais facilitadores do desenvolvimento

da aprendizagem dos surdos. Assim, os procedimentos metodológicos precisam privilegiar os

recursos visuais como um meio facilitador do pensamento, da criatividade e da linguagem

visuoespacial.

Os resultados desta pesquisa indicaram que o desenvolvimento da prática pedagógica

dos professores desses alunos surdos não possibilita a reflexão crítica e inserção dos mesmos

na prática social. Além disso, as informações apontaram também que em alguns momentos os

professores transferem a responsabilidade do ensino para o profissional intérprete de Libras

Neste contexto, infere-se que a ausência de conhecimento específico da Língua de Sinais e

procedimentos metodológicos no ensino de matemática interfere na prática pedagógica desses

professores.

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Deste modo, destaca-se a importância de repensar políticas formativas para a atuação

dos intérpretes em sala de aula, pois a ausência de formação destes profissionais na área da

matemática pode interferir em sua atuação, e subsequentemente refletir na construção dos

conhecimentos pelos alunos surdos considerando que a matemática possui uma linguagem

própria, e contém termos que não são traduzidos em sinais específicos pela Língua de Sinais,

como, por exemplo, logaritmos, matrizes, funções.

Neste contexto de discussão, a inclusão de alunos surdos na escola regular impulsiona

a reflexão sobre a prática pedagógica dos professores que ensinam matemática, considerando

os aspectos culturais e linguísticos dos mesmos, visto que a inclusão não se garante apenas com

o intérprete na sala de aula, pois também é necessário ensinar os conceitos específicos da

linguagem matemática. Para tanto, exige-se um movimento que envolva esforços tanto por parte

da escola, como espaço de democratização do ensino, quanto pelas instituições formativas, que

têm a responsabilidade de investir nessa área, formando e qualificando os profissionais, uma

vez que não é possível ofertar um ensino de qualidade sem refletir sobre ele.

Para além disso, ressalta-se a necessidade de rever os currículos das escolas nomeadas

inclusivas, no intuito de inserir o ensino da Língua Sinais como disciplina. Neste

direcionamento, seria possível desconstruir a cultura dominante excludente entre alunos surdos

e seus pares, presente nas instituições educativas, e efetivamente garantir uma sociedade

inclusiva.

Nessa perspectiva, esta pesquisa evidencia a importância do desenvolvimento de uma

Prática Pedagógica Bilíngue no ensino de Matemática para alunos surdos. Essa proposta não

dispensa a presença do profissional Intérprete de Libras em sala de aula, porém entende que o

professor é o mediador do conhecimento matemático e o principal responsável pelo ensino.

Assim, este estudo indica a urgência de repensar as políticas de formação de professores,

levando em consideração a especificidade linguística e a cultural do aluno surdo, para que, de

fato, subsidie o desenvolvimento de uma prática pedagógica bilíngue, e contribua para que os

alunos surdos construam conhecimentos críticos para sua transformação social.

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICES

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94

Apêndice A – Recorte das informações extraídas do Projeto Político Pedagógico da escola

pesquisada

Sub Eixos Projeto Político Pedagógico

Currículo

O currículo é um instrumento político que se vincula à ideologia, à estrutura social, à cultura e

ao poder. O Currículo, não é imparcial, é social e culturalmente definido, reflete uma concepção de mundo, de sociedade e de educação, implica relações de poder, sendo o centro da ação

educativa. A visão do currículo está associada ao conjunto de atividades intencionalmente

desenvolvidas para o processo formativo (SILVA, 2018).

Educação Inclusiva

É de extrema importância os ambientes escolares inclusivos em uma concepção de identidade e diferenças, em que as relações entre estas não se desenvolvam em torno de contradições tais

como: normal/especial, branco/negro, masculino/feminino, pobre/rico. Nestes não se nomeiam uma identidade com regalias em torno das outras identidades (MANTOAN, 2010).

Formação de

professores

No que diz respeito à educação especial, existe a necessidade de maior atuação/capacitação de

nossos docentes para que possam lidar de forma adequada com essa realidade. Portanto, a Secretaria de Estado de Educação deverá promover mais formação docente para qualificar o

professor, no intuito a atender as necessidades específicas desses alunos.

Metodologia

Em síntese, a metodologia será aplicada de acordo com a matriz curricular do ensino regular, fazendo intervenções conforme as limitações e necessidades específicas de cada aluno. Como

estratégia principal, será observada a potencialidade de cada estudante e os seus conhecimentos

prévios. Os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação recebem apoio individualizado na sala de recursos multifuncionais

pelos professores especialistas da área. Entretanto, na sala regular, percebem-se dificuldades por parte de alguns educadores em oferecer o atendimento individualizado por conta de

diversos fatores, dentre eles citamos: o número excessivo de estudantes por turma, a sobrecarga

de trabalho do docente e o número insuficiente de formação continuada na área da Educação Especial.

Prática

Pedagógica

As práticas pedagógicas são aquelas práticas que se organizam para concretizar determinadas expectativas educacionais. São práticas carregadas de intencionalidade e isso ocorre porque o

próprio sentido de práxis configura-se através do estabelecimento de uma intencionalidade, que dirige e dá sentido à ação, solicitando uma intervenção planejada e científica sobre o objeto, com vistas a transformação da realidade social (FRANCO, 2015).

Fonte: Produzido pela pesquisadora com base no Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola/2018.

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Apêndice B – Recorte das informações extraídas do Planejamento Anual de Matemática

Sub Eixos Planejamento Anual de Matemática

Currículo

Acreditamos que o currículo a ser elaborado deve corresponder a uma boa seleção, deve contemplar aspectos dos conteúdos e práticas que precisam ser enfatizados. Assim, alguns

conhecimentos devem ser priorizados, outros merecem menor ênfase por parte dos professores.

Vale esclarecer que a nossa organização terá de cuidar dos conteúdos mínimos da Base Nacional Comum, assim como fazer algumas indicações sobre possíveis temas que podem

compor parte do currículo flexível, a ser organizado em nossa unidade de ensino.

Educação

Inclusiva

Constatou-se nestes documentos que não consta nenhum apontamento referente aos

recursos/procedimentos destinados ao ensino de matemática para os alunos surdos.

Formação de

professores

Nada consta em relação ao desenvolvimento de formação continuada direcionada ao ensino de alunos surdos

Metodologia

A nossa proposta é utilizar alguns métodos de trabalho sugeridos pelos PCN’s (1999), dentre

eles gostaríamos de destacar a etnomatemática, a história da matemática, os jogos, a resolução de problemas, a modelagem matemática, os projetos de trabalho, dentre outros.

Prática

Pedagógica

É nosso propósito desenvolver o ensino e a aprendizagem em matemática de forma dialogada,

onde o aluno possa ser de fato um agente ativo de sua própria aprendizagem.

Fonte: Produzido pela pesquisadora com base no Planejamento Anual de Matemática dos professores

participantes/2018.

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Apêndice C – Roteiro das Entrevistas

Professor@, gostaríamos de contar com a sua colaboração para responder a este

questionário de caracterização. O mesmo tem como objetivo, levantar informações relevantes

para o desenvolvimento da dissertação da mestranda Rosenilda Rocha Bueno, devidamente

matriculada no Programa de Pós-Graduação em Educação do Instituto de Educação da UFMT,

na Linha de Pesquisa Educação em Ciências e Educação Matemática.

Agradecemos pelo seu tempo, atenção e valiosa colaboração.

BLOCO 1 - Sobre a experiência profissional do professor que atua com aluno surdo. a)

Diga-me seu nome, a sua formação, escola e disciplina/área em que atua.

b) Como você se tornou professor (a)? Conte-me a sua história.

c) Há quantos anos você leciona?

d) Há quantos anos você trabalha nesta escola?

e) Há quanto tempo você atua em salas com aluno surdo?

f) Qual a sua vivência com aluno surdo enquanto professor de matemática?

BLOCO 2 - Sobre o ensino de matemática.

a) Como você compreende o ensino de matemática na escola?

b) Como você compreende o ensino de matemática na escola para o aluno surdo?

b) Como os conteúdos de matemática são trabalhados em sala de aula? Qual a metodologia que

você utiliza?

d) Quais procedimentos metodológicos você utiliza para ensinar matemática para os alunos

surdos?

BLOCO 3 - Sobre o planejamento.

a) Você tem dificuldades quanto ao planejamento relacionado à disciplina de matemática

para uma sala com alunos surdos?

b) Como você elabora o seu plano aula para o desenvolvimento de prática pedagógica em

matemática destinado ao aluno surdo.

BLOCO 4 - Sobre a prática pedagógica.

a) Relate-me sobre suas experiências pedagógicas ao ensinar matemática para os alunos

surdos.

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b) Evidencie as metodologias utilizadas por você ao ensinar matemática para uma sala com

alunos surdos.

c) Fale-me sobre o processo de ensino da matemática em uma sala de aula que contém

alunos surdos?

d) Como você avalia a aprendizagem matemática do aluno surdo?

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Apêndice D – Roteiro para observação em sala de aula

Nesse momento da pesquisa a observação será direcionada da seguinte forma:

1- No plano de aula do professor consta alguma atividade especificamente para o ensino da matemática para o aluno surdo?

2- No desenvolvimento da aula, como o professor interage com o aluno surdo para ensinar

matemática?

3- O professor demonstra a intencionalidade das atividades no ensino de matemática para

o aluno surdo?

4- Quais procedimentos o professor utiliza para ensinar matemática para os alunos surdos?

5- Qual concepção de prática pedagógica é evidenciada pelo professor ao desenvolver as

atividades de matemática para os alunos surdos?

6- Quais procedimentos metodológicos o professor utiliza para avaliar a aprendizagem matemática dos alunos surdos?

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Apêndice E – Termo de Autorização para a Escola

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Diretor

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO

MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

LINHA DE PESQUISA: EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO

MATEMÁTICA

Carta de anuência para autorização de pesquisa

Ilma Sr. Prof., atual diretor _______________________________________________

Solicitamos autorização institucional para realização da pesquisa intitulada “PRÁTICA

PEDAGÓGICA DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA PARA ALUNOS

SURDOS”, a ser realizado na Escola Estadual______________________________, localizada

no endereço:_________________________________________________________________

A pesquisa será realizada em sala de aula de Ensino Médio pela aluna de Mestrado

Rosenilda Rocha Bueno, sob orientação do Prof. Dr. Adelmo Carvalho da Silva, com o(s)

seguinte(s) objetivo(s):

Objetivo Geral:

Investigar a prática pedagógica de professores que ensinam matemática para alunos

surdos do Ensino Médio da Rede Estadual em Cuiabá-MT.

Objetivos Específicos:

● Identificar as concepções dos professores sobre a prática pedagógica;

● Descrever a compreensão dos professores sobre a aprendizagem dos alunos surdos;

● Evidenciar quais estratégias pedagógicas os professores utilizam para ensinar alunos

surdos.

Ao mesmo tempo, pedimos autorização para que o nome desta instituição possa constar

no relatório final, bem como em futuras publicações na forma de artigos científicos.

A aceitação está condicionada ao cumprimento da pesquisa aos requisitos da Resolução

do Conselho Nacional de Saúde (CNS/MS) 466/12 que trata da Pesquisa envolvendo Seres

Humanos. Solicitamos ainda que tais dados sejam utilizados tão somente para realização deste

estudo. Na certeza de contarmos com a colaboração e empenho desta Diretoria, agradecemos

antecipadamente a atenção, ficando à disposição para quaisquer esclarecimentos que se fizerem

necessário.

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Cuiabá/MT, 17 de abril de 2018.

____________________________________ ____________________________________

Professor Orientador Mestranda Pesquisadora

Adelmo Carvalho da Silva Rosenilda Rocha Bueno

( ) Concordamos com a solicitação ( ) Não concordamos com a solicitação

____________________________________________________

Diretor da Escola

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Apêndice F – Termo de autorização para a Escola

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - Professor

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO

MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

LINHA DE PESQUISA: EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO

MATEMÁTICA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, da pesquisa

“PRÁTICA PEDAGÓGICA DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA

PARA ALUNOS SURDOS”, objeto de estudo da mestranda Rosenilda Rocha Bueno, da

Universidade Federal de Mato Grosso, sob orientação da Prof. Dr. Adelmo Carvalho da Silva,

do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação. O objetivo deste estudo é investigar

a prática pedagógica de professores que ensinam matemática para alunos surdos do Ensino

Médio da Rede Estadual em Cuiabá-MT. Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir,

no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias

de igual teor, uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você

não terá nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição que recebe

assistência. Se sentir necessidade, você poderá, a qualquer momento, encerrar a sua

participação. Em caso de dúvida você pode procurar o Comitê de Ética em Pesquisa com Seres

Humanos da Área das Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso –

CEP Humanidades/UFMT, coordenado pela Profª Drª Rosangela Kátia Sanches Mazzorana

Ribeiro, ou através do telefone (65) 3615-8935.

Como benefício, consideramos que a realização deste estudo pode contribuir para

ampliar o debate sobre a temática posta em pauta e, por conseguinte, para dar mais visibilidade

a esse grupo social historicamente excluído do direito de acesso à educação. Espera-se que após

a utilização desses instrumentos para a produção das informações, e ao dialogar com as

bibliografias referenciadas, os dados indiquem como é desenvolvida prática pedagógica de

professores que ensinam matemática para alunos surdos da Rede Estadual em Cuiabá-MT. Para

tanto, após a conclusão da investigação, os resultados serão socializados com os respectivos

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participantes e a comunidade escolar com a intencionalidade de impulsionar os diálogos

críticos/reflexivos sobre a temática no contexto educacional. E neste sentido, contribuir para o

desenvolvimento de outras pesquisas no âmbito social e acadêmico na abordagem das

concepções de práticas pedagógicas sobre o ensino de matemática para alunos surdos.

Todos os registros efetuados no decorrer desta investigação científica serão usados para

fins acadêmico-científicos e inutilizados após a fase de análise dos dados e apresentação dos

resultados finais na forma de dissertação e artigos científicos. Você receberá uma via de igual

teor desse termo onde tem o nome, telefone e endereço eletrônico da pesquisadora responsável,

para que você possa localizá-la a qualquer momento. Seu nome é Rosenilda Rocha Bueno

([email protected]), mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação na

Universidade Federal de Mato Grosso campus Cuiabá e telefone de contato (65) 99669-8618.

Em caso de dúvida, você pode procurar o Grupo de Pesquisa em Educação Matemática

(GRUEPEM) – UFMT, coordenado pelo Prof. Dr. Adelmo Carvalho da Silva (coordenador do

grupo). Considerando os dados acima, CONFIRMO estar sendo informado por escrito e

verbalmente dos objetivos destes estudos e em caso de divulgação AUTORIZO a publicação.

Eu,__________________________________________________________________

portador (a) do RG, nº _______________________, declaro estar ciente dos objetivos, riscos

e benefícios da minha participação na pesquisa e concordo em participar.

______________________________________________________________

Assinatura do Professor

Cuiabá, ______ de ___________________ de 2018.