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1 RÓTULOS E EMBALAGENS: UMA ABORDAGEM DE ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Wilma Gonçalves Ortega RESUMO: Na Educação de Jovens e Adultos – EJA - existe um grande número de alunos com meia idade ou idade avançada que estão há muito tempo fora da sala de aula. Destes, a grande maioria apresenta dificuldades de aprendizagem. Parecem não enxergar no conhecimento da língua inglesa utilidade em sua vida pessoal ou no trabalho, já que não conseguem sair da escola dominando o idioma. Intervir neste cenário para que se obtenha resultado satisfatório, depende da aplicação de uma metodologia de ensino diferenciada, na qual se deve aliar teoria e prática. A aplicação de uma abordagem, sob o viés do letramento crítico, surgiu a partir da visão, necessidade e sugestão dos próprios alunos. Atividades que despertem no aluno a autonomia e decisão consciente pelo consumo de produtos de uso diário encontrados em um supermercado através do aprendizado de inglês se tornaram o cerne deste trabalho. No transcorrer da implementação do projeto na escola, ocorreram atividades intra e extraclasse com o uso de tecnologias de comunicação e informação, produção e análise de materiais e socialização. Assim, este trabalho em uma abordagem de contexto escola-vida social, contribuiu para desenvolver o livre arbítrio dos alunos, bem como propiciou aprendizado de inglês como LE. PALAVRAS-CHAVE: ensino, aprendizagem, Língua Inglesa, rótulos e embalagens e Letramento Crítico SUMMARY: In the education of young adults and adults we often find students who have been away from the classroom for a long time. Among these, the great majority have learning difficulties. They do not seem to find the study of English useful in their personal or professional life, since they do not master the language as they leave school. The intervention in this scenario in order to obtain satisfactory results depends on the application of a varied teaching methodology in which we should make use of theory and practice. The application of a critical literacy approach emerged from the views, needs and suggestions from the students themselves. Activities which bring on student’s autonomy and informed decision making concerning the consumption of everyday items found in a supermarket (through the learning of English) became the core purpose of this work. During the implementation of this project in a public school we made use of classroom as well as extracurricular activities which implied the use of communication and information technologies and the production, analysis and sharing of learning materials. By approaching the teaching and learning process as meaningful to life, this project has helped to develop the students’ free will and has also facilitated the learning of English as a FL.

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RÓTULOS E EMBALAGENS: UMA ABORDAGEM DE ENSINO DA LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Wilma Gonçalves Ortega

RESUMO: Na Educação de Jovens e Adultos – EJA - existe um grande número de alunos com meia idade ou idade avançada que estão há muito tempo fora da sala de aula. Destes, a grande maioria apresenta dificuldades de aprendizagem. Parecem não enxergar no conhecimento da língua inglesa utilidade em sua vida pessoal ou no trabalho, já que não conseguem sair da escola dominando o idioma. Intervir neste cenário para que se obtenha resultado satisfatório, depende da aplicação de uma metodologia de ensino diferenciada, na qual se deve aliar teoria e prática. A aplicação de uma abordagem, sob o viés do letramento crítico, surgiu a partir da visão, necessidade e sugestão dos próprios alunos. Atividades que despertem no aluno a autonomia e decisão consciente pelo consumo de produtos de uso diário encontrados em um supermercado através do aprendizado de inglês se tornaram o cerne deste trabalho. No transcorrer da implementação do projeto na escola, ocorreram atividades intra e extraclasse com o uso de tecnologias de comunicação e informação, produção e análise de materiais e socialização. Assim, este trabalho em uma abordagem de contexto escola-vida social, contribuiu para desenvolver o livre arbítrio dos alunos, bem como propiciou aprendizado de inglês como LE.

PALAVRAS-CHAVE: ensino, aprendizagem, Língua Inglesa, rótulos e embalagens e Letramento Crítico

SUMMARY: In the education of young adults and adults we often find students who have been away from the classroom for a long time. Among these, the great majority have learning difficulties. They do not seem to find the study of English useful in their personal or professional life, since they do not master the language as they leave school. The intervention in this scenario in order to obtain satisfactory results depends on the application of a varied teaching methodology in which we should make use of theory and practice. The application of a critical literacy approach emerged from the views, needs and suggestions from the students themselves. Activities which bring on student’s autonomy and informed decision making concerning the consumption of everyday items found in a supermarket (through the learning of English) became the core purpose of this work. During the implementation of this project in a public school we made use of classroom as well as extracurricular activities which implied the use of communication and information technologies and the production, analysis and sharing of learning materials. By approaching the teaching and learning process as meaningful to life, this project has helped to develop the students’ free will and has also facilitated the learning of English as a FL.

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KEYWORDS: teaching, learning, English language, labels and packaging and critical literacy. 1. Uma breve introdução:

A língua inglesa tem sido uma das mais utilizadas para a comunicação internacional. Sua expansão iniciou com o fim da 2ª Guerra Mundial, quando os EUA, tornaram-se uma grande potência econômica e militar. Consequentemente, isso aumentou sua influência econômica e cultural em vários países do mundo, incluindo o Brasil. A busca de informação e a necessidade de comunicação a nível global fizeram da língua inglesa a mais importante e utilizada a partir de então.

A importância da Língua Inglesa hoje no mundo e, mais especificamente, no mundo do trabalho, faz com que o ensino e a aprendizagem dessa língua adquiram uma importância cada vez maior, também no currículo da Educação de Jovens e Adultos. Contudo, quando essas questões aparecem como tema em discussões de alunos e professores de língua inglesa da EJA, surgem relatos de dificuldades sentidas pelos alunos ao iniciarem ou retomarem seus estudos nessa língua e também a idéia de que existe uma distância entre a língua que se ensina na escola e o modo como ela acontece no mundo. A partir dessa situação, surge a necessidade de se pesquisar com mais critério quais são essas dificuldades e a partir delas, refletir e propor ações que venham minimizá-las. Ação que desencadeou a realização desta pesquisa.

Isto posto, e considerando a experiência de uma professora de língua inglesa nesta modalidade de ensino e os relatos das dificuldades que os alunos apresentaram, percebeu-se que estes necessitam de um tratamento pedagógico diferenciado. Partiu-se então, para a aplicação de recursos pedagógicos e técnicas alternativas de ensino e aprendizagem de língua estrangeira moderna – inglês, sob a perspectiva do letramento crítico.

O papel que se espera da escola é que ela possa colaborar na formação do cidadão, de tal forma que ele ou ela possa, pela mediação do conhecimento científico, estético e filosófico, compreender a realidade e que seja capaz de nela intervir. A partir de uma problemática detectada pela vivência e contato com alunos e professores de inglês na modalidade de EJA no Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos – CEEBJA em São José dos Pinhais percebe-se a necessidade de inserção de uma metodologia e a incorporação de conteúdos vinculados ao seu cotidiano, atendendo às suas necessidades e contribuindo dessa forma para o processo de construção do conhecimento. Inicialmente, na parte 2 deste trabalho, abordam-se questões sociais relacionadas ao ensino da língua inglesa no contexto social (escolar, familiar, profissional) no qual esta pesquisa foi realizada. A seguir (item 3), questões relacionadas ao currículo humanizador na escola pública são discutidas; a vida do aluno dentro e fora da escola precisam se aproximar, de modo que o mesmo se reconheça no espaço escolar. O item 4 deste trabalho aborda o papel do professor como intermediário do conhecimento da língua inglesa associada à inclusão social. Os itens 5 apresenta a pesquisa realizada (o tipo de pesquisa, o contexto onde

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ocorreu, os sujeitos envolvidos e suas necessidades e dificuldades) e os resultados obtidos. Por fim, são feitas algumas considerações finais a respeito dos resultados da implementação do projeto pedagógico na escola.

2. Uma questão social a ser considerada

Num momento de profundas transformações sociais, tecnológicas, comportamentais e comerciais vivenciadas na sociedade contemporânea, comumente chamada de sociedade do conhecimento, da informação e do consumo, atrelada diretamente à globalização, crescem as desigualdades entre os que têm e os que não têm acesso a uma das formas de comunicação mais utilizada no mundo: a língua inglesa. Desse modo, os que possuem tal acesso são bombardeados por informações através de imagens, sons e textos. Então se vêem diante de um grande desafio: o de receber muitas informações em tão pouco tempo, decodificá-las, e resignificá-las. Já aqueles que não têm acesso a este idioma, aumentam as estatísticas dos grupos chamados excluídos.

Neste cenário está inserida a escola em sua frenética busca pela plena formação dos alunos, tentando fazer valer a socialização do conhecimento, acessibilidade e qualidade de ensino a todos. Diante esta situação, percebe-se atualmente a necessidade de fazer algo para mudar o quadro de como se dá o ensino e a aprendizagem da Língua Inglesa nas aulas da EJA.

Essa realidade nos remete a um sentimento de indignação ante as inúmeras atitudes discriminatórias que excluem os diferentes, os desiguais e as minorias menos favorecidas econômica ou culturalmente falando. Surge ai, um grande desafio para todos os envolvidos no processo educacional: o de diminuir tais diferenças. Quanto a isso o admirável mestre Paulo Freire nos chama à reflexão:

(...) diminuo a distância que me separa das condições malvadas que vivem os explorados, quando, aderindo realmente ao sonho de justiça, luto pela mudança radical do mundo e não apenas espero que ela chegue porque se disse que chegará. Diminuo a distância entre mim e a dureza de vida dos explorados não com discursos raivosos, sectários, que não são ineficazes porque dificultam mais ainda a minha comunicação com os oprimidos. Com relação aos meus alunos, diminuo a distância que me separa de suas condições negativas de vida na medida em que os ajudo a aprender não importa que saber, o do torneiro ou o do cirurgião, com vistas à mudança do mundo, à superação das estruturas injustas, jamais com vistas a sua mobilização. (FREIRE, 1996, p. 138)

São inúmeras as questões que têm sido levantadas e debatidas como possíveis causas do insucesso de grande parte do alunado jovem e adulto que retorna à escola.

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Dessa forma, nos encontramos diante de uma difícil situação: como preparar e instrumentalizar os educandos que apresentam dificuldades de aprendizagem em várias áreas, especificamente no trato de uma língua estrangeira, por estarem fora do ambiente escolar há muitos anos, ou por nunca terem freqüentado os bancos escolares, devido a questões particulares?

Vamos além dessas questões puramente empíricas. Passamos a uma abordagem dialética. Quais as contribuições que o professor de Inglês pode oferecer para sanar essas dificuldades, de maneira que se obtenham resultados positivos e motivadores, suprindo assim a necessidade do conhecimento mínimo para lidar com a língua inglesa no seu dia-a-dia?

Propor atividades que estimulem o aluno a aprender o idioma de uma forma diferenciada e real pode ser alternativa para se aprimorar o conhecimento e elevar sua auto-estima com o uso de recursos pedagógicos que propiciem melhoria no processo de aprendizagem da língua estrangeira moderna em estudo e ainda contribua para que os alunos reconheçam alguma utilidade na aquisição do conhecimento deste idioma em suas vidas.

3. Considerações a respeito de um currículo humanizador

Seres humanos, principalmente os adultos, vão à escola com vários objetivos. Mas a existência da escola cumpre um objetivo antropológico muito importante: garantir a continuidade da espécie, socializando para as novas gerações as aquisições e invenções resultantes do desenvolvimento cultural da humanidade.

Em nossa espécie, o adulto detém um papel importante, culturalmente determinado, de garantir esta continuidade. A espécie humana subsiste, exatamente, pela transmissão que os membros mais velhos fazem aos mais novos, dos conhecimentos, dos valores e da cultura. Na escola, esta ação do adulto se revela como a função pedagógica que o professor tem de possibilitar a apropriação do conhecimento sistematizado, o qual também chamamos de formal. Em um dado momento da evolução cultural da humanidade, marcado pela invenção de sistemas simbólicos registrados, foi necessário introduzir novas formas de atividade humana para garantir a transmissão das novas formas de saberes que estavam sendo criadas. Percebeu-se a necessidade de criar um espaço e um tempo separado da vida cotidiana para que as gerações se encontrassem com este objetivo. Surge então, a escola. Podemos dizer que a escrita e a escola, são elementos fundamentais na propulsão do desenvolvimento cultural da humanidade, tendo este seu momento de aceleração com a invenção da imprensa no século XV. Esta aceleração hoje é tão intensa, que testemunhamos em uma mesma geração mudanças enormes nas formas de comunicação, no fluxo da migração de informações entre um lugar e outro e na inovação instrumental e tecnológica. Tal evento, logicamente reflete na escola: educar hoje exige dos professores saberes muito distintos do que se exigia dos professores de 20 ou 30 anos atrás.

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Considerando que o desenvolvimento humano é resultante da dialética entre biologia e cultura, mudanças na cultura levarão certamente a novas formas de pensamento e comportamento. A relação do aluno com o professor na escola é uma relação específica, porque o professor não é, simplesmente, mais o outro adulto com quem a criança, o jovem ou o adulto interage. Ele é uma pessoa com a tarefa específica de utilizar o tempo de interação com o seu aluno para promover seu processo de desenvolvimento, conhecimento e humanização. Em se tratando da ralação educativa, a humanização refere-se ao desenvolvimento cultural da espécie. Um currículo que se pretende democrático deve visar à humanização de todos e ser desenhado a partir do que não está acessível às pessoas. No caso do nosso país, é clara a exclusão do acesso a bens culturais mais básicos como a literatura, atualização científica ou produção artística. É função da escola é prover e facilitar esse acesso. A vinda do educando para a instituição escolar tem, entre outros, um claro e preciso objetivo: aprender determinados conhecimentos e dominar instrumentos específicos que lhe possibilitam aprendizagem, bem como saber utilizar deste conhecimento colocando-o a serviço do bem comum. E é para atingir este objetivo que surge a educação formal didática e metodologicamente organizada, que por si só não atende as necessidades deste espaço de socialização do conhecimento, devendo também considerar o conhecimento e as experiências cotidianas dos alunos, especialmente quando se refere à educação de jovens e adultos. É nesta relação que aparece a relevante figura do professor, que irá atuar como mediador entre estas duas modalidades de conhecimento. Fazendo uso de um artifício chamado currículo. Subjacente à elaboração deste currículo, está a concepção de “ser humano” e o papel que se pretende que a escola tenha em seu processo de desenvolvimento. Não há, portanto, currículo ingênuo: ele sempre implica em uma opção. Um currículo humanizador deverá estar sempre orientado para a inclusão de todos ao acesso dos bens culturais e de conhecimento.

4. E o que o professor de inglês tem a ver com isso? Os educadores, que acreditam na educação transformadora, a qual visa o desenvolvimento de cidadãos críticos e participativos, onde procuram identificar a especificidade e a localização de opressões inseridas num contexto vivido no dia-a-dia, nas leituras dos livros e na “leitura do mundo” estão comprometidos nesta possível transformação. Em Freire 1996, a proposta de uma escola transformadora, que leva em conta a realidade do educando quando da construção do currículo, e, concomitantemente na prática do professor permitem que identifiquemos as vinculações mais amplas do pensamento do autor a partir do destaque das relações sujeito/mundo circundante.

“(...) quanto mais podemos falar e agir criticamente para mudar e a nós mesmos e o mundo. Mais podemos criticar a forma como as coisas são, imaginar alternativas,

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hipóteses, maneiras de chegar lá, agir a partir desses planos, avaliar e ajustar nossas ações.” 1 (Dewey, 1933, apud SHOR, 1999, p.10)

Estas afirmações estreitam laços da filosofia educacional quando falam da desigualdade, da exclusão, dos oprimidos, dos famintos, dos menos favorecidos culturalmente, das diferenças raciais e sexistas e das relações de poder. E é por meio das palavras que estas relações acontecem. São palavras que constroem o nosso mundo, pois somos o que falamos e, por consequência, o que fazemos. O poder da linguagem nos possibilita a construção de uma nova sociedade onde somos capazes de reconhecer nosso lugar nesse mundo, desvendando informações e sendo preparados para nele intervir. Pois somente a linguagem implica num pensar crítico e sem esse pensar não há transformação. É a conscientização através da linguagem que nos liberta.

Para FREIRE “essa mudança de perspectiva pressupõe a formação permanente que se funde, sobretudo, na reflexão sobre a teoria/prática”. Segundo o autor, o processo de formação qualifica-se por meio da busca no sentido de diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz. Nesta perspectiva, o ato de educar implica no despertar para o mundo e suas relações. Isto pode se estabelecer em práticas que respeitem o outro e suas diferenças. Esta é uma questão que foi anunciada por Freire e que se fez e faz presente na temática da escola inclusiva, a qual propõe uma educação para todos.

Assim, se falarmos em educação para todos, e mais especificamente para jovens e adultos, deve-se ampliar a discussão para além de um debate centrado no sujeito e suas singularidades. Torna-se importante que valorizemos a pluralidade de recursos que podem contribuir com a ampliação do acesso à informação em língua inglesa. Antes de tudo, é necessário entendermos o conhecimento da língua inglesa associado à inclusão social. É preciso, também, possibilitar a reflexão sobre que tipo de informação e de conhecimento o sujeito/aluno precisa para a resolução dos problemas em sua vida.

Percorrendo esta mesma linha de reflexão, surge o pensamento de Freinet, que afirma: “partimos da vida, das experiências no nível de vida, sem nada ignorar das teorias e dos princípios capazes de influenciar e auxiliar nosso tateamento. Fazemos a nova organização surgir da realidade cotidiana”. (FREINET, 2001, p.50)

O autor analisa esta perspectiva em um processo de evolução pela busca do conhecimento, a qual deve partir da realidade. Deve-se trabalhar as curiosidades e necessidades dos alunos, utilizando recursos disponíveis para aprendizagem dentro e fora da sala de aula, visando seu aperfeiçoamento e universalização.

Assim, o eixo orientador dos processos de comunicação na educação deve considerar, também, os projetos de aprendizagem que se constroem a partir dos desejos e das necessidades dos sujeitos envolvidos, dando um significado maior

1 Ver “What is Critical Literacy?” SHOR, Ira. 1999, College of Staten Island, CUNY, disponível em http:www.lesley.edu/journals/jppp/4/shor.html (...) the more we can speak and act critically to change ourselves

and the world. We can critique the way things are, imagine alternatives, hypothesize ways to get there, act from

these plans, evaluate and adjust our actions.”

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para suas vidas. As práticas dos professores de inglês na educação de jovens e adultos têm se traduzido na tentativa de construção de projetos de aprendizagem, como uma metodologia a ser adotada pela escola.

Sendo assim, a partir dos questionamentos dos alunos, vão se levantando as dúvidas e certezas investigadas em ambientes de aprendizagem. O ambiente real da escola e fora dela, a interação professor/aluno/ambiente neste processo de mediação, a orientação e resolução dos problemas do dia-a-dia, a organização para contextualizar as atividades promovendo ações necessárias ao trabalho em equipe estará presente neste projeto.

Percebemos que alunos adultos angustiam-se diante da dificuldade de aprendizagem tradicional do inglês, da estrutura do idioma de e todas suas regras. Por isso manifestam o interesse na aprendizagem de forma mais real, de acordo com suas vivências diárias. Anseiam a aprendizagem de algo que corresponda às suas necessidades profundas no ímpeto de crescimento e domínio sobre as coisas.

Citam a dificuldade de leitura e entendimento de informações em manuais de equipamentos eletrônicos que estão em inglês; a inquietude de se comprar produtos, de vários gêneros, mesmo que nacionais, mas que trazem em seus rótulos ou embalagens palavras em inglês de cujos significados não têm conhecimento e, portanto, ignoram possíveis implicações quanto à aquisição ou consumo dos mesmos, o que gera incertezas.

Não se pode falar em uma escola inclusiva sem pensar em todas as formas de decodificação do saber, do direito de todos ao acesso de vários tipos de linguagem e de compreendê-las. Desse modo, por meio do letramento crítico (JORDÃO e FOGAÇA, 2007; SHOR, 1999), a construção de sentidos utilizando-se rótulos e embalagens constitui-se entre outras, uma forma de leitura de mundo, um ato de libertar-se. Segundo o pensamento de FREIRE (1983), a leitura da palavra deve ser associada à leitura de mundo, sendo que a leitura de mundo precederia a leitura da palavra.

Garantir que os alunos, pela posse dos saberes básicos e necessários na comunicação em inglês, ampliem os canais de inserção quanto ao conhecimento do idioma, valorizando sua capacidade reflexiva e crítica, são premissas básicas para o professor efetivar seu trabalho, desenvolvendo sua capacidade de uso do idioma num mundo real.

5. A pesquisa e o projeto de intervenção na escola

A pesquisa teve como objetivo geral verificar se uma proposta pedagógica voltada para o letramento crítico de rótulos de embalagens adequa-se a realidade do contexto escolar dos sujeitos envolvidos. Além disso, buscou-se observar: a) se os alunos desenvolvem ou não uma postura crítica diante dos produtos que consomem, interferindo na sua decisão de compra; b) se tal abordagem de ensino motiva ou não a prática de leitura dos textos contidos em rótulos e embalagens; c) se os alunos adquirem e incorporam o uso da linguagem contida nas embalagens de produtos estudadas.

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A escola, visando a plena formação dos alunos, deve buscar a socialização dos conhecimentos garantindo acessibilidade e qualidade de ensino a todos. Atualmente, constata-se a necessidade de fazer algo para mudar o quadro da forma como se dá o ensino e aprendizagem da Língua Inglesa nas aulas da EJA. A estreita vinculação entre o conceito de currículo humanizador, construção do conhecimento escolar e a realidade do aluno leva-nos a analisar mais uma questão em especial.

A chegada de empresas multinacionais ao município de São José dos Pinhais aumenta o número de trabalhadores que necessitam da conclusão de seus estudos, quer sejam no ensino fundamental ou no ensino médio. Exigência essa do mercado de trabalho em consequência da necessidade de atualização, aperfeiçoamento, melhoria de qualificação pessoal, intelectual e de mão de obra. Ou seja, o domínio de um conhecimento intelectual adquirido na escola aliado ao conhecimento sensorial, adquirido na observação diária e que tornam o indivíduo capacitado através das relações de influência mútua que acontecem na escola passa a ser mais uma necessidade em sua vida e novamente surge a dificuldade de adquirir o desenvolvimento e aquisição esse tipo de saber.

São inúmeras as questões que têm sido levantadas e debatidas como possíveis causas do insucesso de grande parte do alunado jovem e adulto que retorna à escola. Alguns relatam que quando deveriam estar na escola, se viram obrigados a parar os estudos para ajudar no sustento da família. Outros residiam em área rural e não tinham meios de transporte para chegar à escola, iam a pé, e com o tempo, pelas dificuldades, acabavam por desistir. Ainda há casos de senhoras que afirmam que seus pais não julgavam necessária a ida das meninas à escola, já que estas deviam ser criadas para as atividades do lar e para o casamento. Quando se casavam, ainda com vontade de estudar, não podiam, pois agora eram seus maridos que não permitiam sua ida à escola. Estas são as pessoas, na grande maioria em idade adulta, que fazem parte da EJA - Educação de Jovens e Adultos. Trabalhamos com esses alunos que não tiveram, ao longo de sua vida, contato com a aprendizagem formal da língua inglesa, mas vivem e estão inseridos num contexto em que essa língua faz parte do seu cotidiano.

São estes alunos que estão no mercado de trabalho, deparando-se diariamente com palavras ou expressões estrangeiras, presentes na convivência com suas chefias, no seu material de trabalho, nos manuais dos eletro-eletrônicos, nos outdoors, nas embalagens, nos rótulos de produtos e no comércio. Apesar de conviverem com essa variedade de usos da língua inglesa de modo informal, muitos desses alunos apresentam dificuldades para lidar com essa língua.

5.1. O CEEBJA – Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos de São José dos Pinhais

A busca por um melhor entendimento do processo de ensino e aprendizagem de língua estrangeira foi um dos pontos que nos levaram a pesquisar as dificuldades que os alunos da Educação de Jovens e Adultos do CEEBJA de São José dos Pinhais sentem em relação à língua inglesa. O CEEBJA tem sua sede localizada em um prédio alugado na região central da cidade de São José dos Pinhais, nos

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períodos diurno e noturno e Ações Pedagógicas Descentralizadas (APEDS) distribuídas nas escolas municipais dos bairros, incluindo a periferia, que funcionam apenas no período noturno. A história da escola é recente e teve um início tímido, mas foi se tornando mais consistente à medida que as indústrias já instaladas em São José dos Pinhais cresciam e que as montadoras de veículos, a Audi e a Renault, e suas fornecedoras foram implantadas na cidade, a partir de 1996. A busca por uma melhor qualificação e pela manutenção no mercado de trabalho passa pela formação escolar, o que fez com que trabalhadores e pessoas vindas de outros locais buscassem o CEEBJA do município, quer indo até a sua sede ou às APEDS, quer solicitando o funcionamento do curso nas instalações da própria empresa, como aconteceu alguns anos atrás.

No ano de 2008, o CEEBJA-SJP iniciou atendendo em torno de 4.000 alunos. Esse número caiu para 700 na região central, mais 1.400 nas APEDS de setembro ao final do ano, devido ao período eleitoral, incluindo a época de campanha, e a oferta de trabalho temporário, por conta das festas natalinas. Os alunos no CEEBJA podem matricular-se em até 4 disciplinas por módulo, tendo 3 módulos durante o ano, ou seja, podem fazer até 12 disciplinas ao longo do ano, desde que as disciplinas ofertadas coincidam com aquelas que os alunos precisam fazer.

A carga horária distribui-se da seguinte maneira:

Ensino Fundamental: � Disciplinas longas: Língua Portuguesa e Matemática: 272 horas; � Disciplinas curtas: Inglês, História, Geografia, Ciências: 192 horas; � Disciplinas curtíssimas: Ed. Física e Arte: 64 horas; � Ensino religioso: 12 horas – facultativo. Ensino Médio: � Disciplinas longas: Língua Portuguesa e Matemática: 208 horas; � Disciplinas curtas: Inglês, História, Geografia, Biologia: 128 horas; � Disciplinas curtíssimas: Sociologia, Filosofia, Ed. Física e Arte: 64 horas.

O ponto de partida desta pesquisa foi pensar na importância do ensino de

Língua Inglesa no Currículo da EJA atrelando-o às exigências da sociedade na qual estes alunos estão inseridos. Uma das justificativas para a inserção da disciplina de LEM – Língua Estrangeira Moderna no currículo da EJA é a importância da Língua Inglesa no contexto de comunicação internacional.

David Crystal, autor de inúmeros livros e artigos sobre linguagem e, mais especificamente, sobre a língua inglesa, acrescenta que à medida que o inglês se torna a principal língua de comunicação entre todas as nações do mundo, é necessário que as escolas garantam um ensino pragmático e eficiente (1997). Devemos ainda lembrar que seu ensino deve estar de acordo com os princípios e fins da educação nacional contidos na Lei de Diretrizes e Bases, 9394/96, cap. II art 2º, que diz:

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A educação, dever da família e do estado, inspirada nos princípios da liberdade e nos ideais da solidariedade humana tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

De acordo com os pressupostos teóricos das Diretrizes Curriculares de Língua Estrangeira Moderna do Estado do Paraná, acredita-se que a língua estrangeira tenha uma importância crucial na formação do aluno, sobretudo do ensino público que, pela sua condição social, não dispõe de todos os meios de acesso à informação.

Constata-se que alunos com idade avançada e que estão há muito tempo fora da sala de aula, ou que, por razões diversas, nunca freqüentaram os bancos escolares, apresentam grande dificuldade de aprendizagem em língua inglesa. Muitos deles parecem não enxergar no aprendizado de inglês, utilidade em sua vida pessoal ou no trabalho e não reconhecem que o conhecimento básico do idioma poderá lhes ajudar na compreensão das expressões em inglês encontradas no dia-a-dia.

Daí que nosso intuito nesse projeto é verificar que dificuldades são essas e sugerir propostas de trabalho na perspectiva do letramento crítico.

No que se refere à prática pedagógica, trabalha-se para que estes alunos possam sair deste curto período de aulas com pelo menos um mínimo de conhecimento que seja relevante em seu cotidiano. E que através deste, sejam capazes de decodificar informações em língua inglesa usadas no dia-a-dia, ou então, que se desperte neles a preocupação em observar tais informações.

5.2 Implementação Nos dias 02, 03 e 04 de fevereiro de 2009, a SEED - Secretaria de Estado da Educação, orientou os trabalhos a serem desenvolvidos nas escolas públicas paranaenses através de um caderno que previa estudos para discussão sobre concepção de currículo e organização da prática pedagógica, além dos programas desenvolvidos pela escola como o PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional, Viva Escola e outros.

Iniciado as aulas o primeiro assunto trabalhado com a turma onde a pesquisa foi desenvolvida foi a importância da língua inglesa no contexto atual e o porquê de estudá-la.

Foi solicitado aos alunos que expusessem onde tinham contanto com a língua inglesa e se tinham conhecimento de quais ambientes ou setores ela é usada. Inúmeros pontos foram relatados, entre eles:

- outdoors; - revistas e jornais; - manuais de eletro-eletrônicos; - vestuário; - cinema e TV; - vitrines;

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- turismo; - placas de informações turísticas; - música; - mercado de trabalho; - gíria e estrangeirismo; - cosméticos; - ONU (Organização das Nações Unidas); - marca e tipos de veículos; - produtos encontrados em supermercado; Após este primeiro levantamento do uso da língua inglesa, discutiu-se o

porquê de a língua inglesa ser o idioma escolhido como disciplina principal na grade curricular de língua estrangeira moderna na escola.

Os alunos, com o auxílio do professor, chegaram à conclusão que o inglês tornou-se a língua a mais importante e utilizada da atualidade após a 2ª. Guerra Mundial, quando os EUA, tornou-se a 1ª. potência, exercendo sua influência econômica e cultural no mundo e no Brasil.

Mas aí surgiu o questionamento: “– Bem professora, mas de que adianta estudarmos esse idioma tão importante na atualidade se saímos da escola sem conseguirmos nos comunicar nele e não o entendemos de forma que satisfaça as necessidades mínimas de comunicação?”

Esta dificuldade apresentada é uma realidade no contexto sócio-educativo da rede pública de ensino e até mesmo da particular. Torna-se pior ainda, quando se trata de alunos de EJA que estão em contato com o idioma apenas por um curto período de tempo, não tendo condições que favoreçam o aprendizado de um segundo idioma. Ao contrário disso, encontram dificuldades tais como: salas de aula superlotadas, ausência de material didático apropriado e de qualidade. Somado ao cansaço que se encontram a maioria desses alunos após uma longa jornada diária de trabalho e estes ainda estão tentando aprender entre outros conteúdos uma segunda língua e isso tem que ser levado em consideração pelo professor.

O processo do projeto de pesquisa foi esclarecido. Os alunos tomaram conhecimento dos detalhes de como ele aconteceria e lhes foi questionado a respeito da validade da pesquisa e de seu interesse na participação e envolvimento do mesmo.

A aceitação do grupo foi geral. Muitos comentários favoráveis surgiram. Notou-se que o interesse maior na participação do projeto de pesquisa foi dos alunos mais velhos da turma, principalmente as donas de casa. Os alunos mais jovens demonstraram inicialmente um maior interesse em uma aula diferenciada no espaço extraclasse, provavelmente porque acham as aulas de inglês no espaço da sala de aula, um tanto enfadonhas.

Os alunos sugeriram que o trabalho acontecesse ao término do bloco, pois neste período, estariam mais bem preparados para a sua realização por terem adquirido um conhecimento maior no idioma. Saberiam como manusear corretamente um dicionário e também por ser o período final do bloco o de maior

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exaustão e, portanto um trabalho diferenciado e parcialmente extraclasse seria mais agradável e proveitoso.

Durante o mês de abril, continuaram as atividades contemplando os conteúdos a serem trabalhados de acordo com o Planejamento Escolar. Neste período foram realizadas duas avaliações referentes aos conteúdos trabalhados. O valor de cada uma foi de 8,0 (oito) pontos e 2,0 (dois) pontos foram destinados a atividades complementares. No dia 22/04/09 foram efetivamente iniciadas as atividades práticas referentes à implementação do projeto. Organizaram-se as equipes de trabalho e cada grupo pode ser formado com o máximo de quatro alunos. Foi esclarecido e solicitado a eles que assinassem a autorização de uso de imagem (fotos) que foram postadas no GTR – Grupo de Trabalho em Rede, e trouxessem para a aula seguinte, todas as embalagens e rótulos que conseguissem encontrar em suas casas e que, portanto, fossem de seu uso diário. Foi-lhes perguntado se notaram quantos dos produtos de uso diário têm palavras em inglês e se conheciam seu significado. Questionou-se o porquê destas palavras estarem em inglês e não em língua portuguesa. Foi discorrido a respeito do gênero textual “rótulos e embalagens” e o que esse gênero pressupõe. A partir daí a turma foi conhecendo o “passo a passo” do projeto desde a elaboração dos cartazes com rótulos e embalagens, a busca do significado das palavras postadas e então foram entrando em contato com as questões da pesquisa de campo a ser realizada em aula extraclasse no supermercado.

Salienta-se que esta turma a qual o projeto foi desenvolvido, iniciou em 09/02 atendendo inicialmente a 44 alunos. Esse número caiu para 29 ao término do bloco. Infelizmente o índice de desistência na EJA é muito grande, sendo que as causas dessa desistência estão quase sempre ligadas às questões do mercado de trabalho e/ou familiares. A busca por uma melhor qualificação e pela manutenção no mercado de trabalho passa pela formação escolar, mas também é por responsabilidade deste setor que muitos são obrigados a desistir. Estando trabalhando, muitas vezes, alguns desses alunos, não conseguem conciliar o horário de trabalho com o horário das aulas.

É impressionante como o mercado de trabalho é cruel com o trabalhador estudante. Ele exige deste o conhecimento e a certificação de conclusão do ensino fundamental e médio, mas em nada, ou quase nada o apóia para que o aluno venha obter sucesso. Não negocia troca de horários ou função.

Quando os alunos faltam às aulas e perdem a sequência das atividades, sentem-se inseguros e apresentam maior dificuldade de entendimento e compreensão dos conteúdos. Estas perdas fazem com que estes alunos, diante da insegurança, acabem por desistir achando que não mais conseguirão acompanhar o andamento da turma, contribuindo assim para o triste índice de evasão escolar.

A turma a qual o projeto de pesquisa foi aplicado, que funciona no período noturno em uma das Ações Pedagógicas Descentralizadas (APEDS), num prédio de uma escola municipal chamada Olavo Bilac, localizada na periferia da cidade de São José dos Pinhais, traz consigo uma típica característica de alunos trabalhadores,

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interessados, participativos e de excelente entrosamento com colegas e professores. A aceitação de novas idéias, o interesse, a admiração e seriedade com que eles realizam todas as atividades propostas, com certeza, facilitaram o trabalho do professor.

O relacionamento entre os participantes da pesquisa foi extremamente dialógico. Existiu um clima de camaradagem e respeito entre todos. A turma é um misto de adultos e adolescentes. Muitos adultos passam dos 40 anos de idade, na sua maioria são casados e chefes de família, algumas mulheres se desdobram diante da necessidade de estarem em sala de aula e a preocupação de deixarem seus filhos pequenos em casa nas mãos de terceiros e até mesmo sozinhos. Os mais jovens alguns ainda com características psicológicas de adolescentes estão entre 18 a 22 anos.

No início houve uma preocupação quando se constatou a presenças de alguns alunos jovens na turma. Temeu-se que o trabalho pudesse não ser muito interessante para eles, mas para surpresa de todos, quando as aulas foram acontecendo, percebeu-se a equalização de ações destes alunos tão diferentes.

Um dos fatos que chamou atenção foi o fato de existir entre os alunos um agradável clima de camaradagem e colaboração. Um exemplo marcante disto foi a atitude de um destes alunos que é bastante jovem e que tem grande habilidade para desenhar. Quando da realização de um trabalho sobre o Meio Ambiente o qual precedeu a pesquisa e foi atrelado a idéia do descarte responsável das embalagens, uma atividade proposta foi a de se criar uma frase de efeito em inglês a respeito deste tema e associar a frase a uma imagem ou desenho, como se fosse uma logomarca. O referido aluno fez um desenho maravilhoso para seu grupo. Ficou tão bonito que foi, antecipadamente a entrega dos trabalhos, mostrado a turma. Os alunos gostaram tanto que pediram se ele, o artista, poderia dar idéias ou até mesmo ajudá-los desenhando em seus trabalhos. Este aluno prontamente dirigiu-se a algumas equipes e os contemplou com seu toque artístico sem a preocupação de que outras equipes pudessem adquirir a qualidade do que ele e seu grupo apresentariam. É gratificante constatar que alguns alunos compartilham com prazer seus conhecimentos e habilidades e que outros valorizam o trabalho do colega, elogiando, pedindo e agradecendo pela ajuda recebida.

Em 29/04 os alunos trouxeram os rótulos e as embalagens, mas, infelizmente, nem todos os grupos trouxeram em quantidade suficiente para se ter uma boa amostra. Além do mais, muitos trouxeram inúmeras embalagens que não continham palavras em inglês as quais foram descartadas. Em vários casos o que estava postado era a marca do produto com um nome estrangeiro, mas não uma palavra em inglês. Nesta aula, organizados em equipes, eles selecionaram as embalagens, recortaram de uma maneira que não descaracterizasse o produto e evidenciaram as palavras postadas em inglês, identificando-as e procurando seu significado no dicionário.

Para a confecção dos cartazes, foi utilizado papel manilha em rolo ofertado pela escola e cortado pela professora em igual tamanho para todos. Nesse primeiro momento, não era importante dizer a eles que fizessem uma busca mais

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aprofundada do significado das palavras. O objetivo era a prática do reconhecimento das palavras e a observação inicial das intenções dos fabricantes em postar tais palavras em inglês.

Previa-se que uma aula seria o suficiente para isso, mas não foi. Este trabalho foi realizado em duas aulas. Na primeira faltaram embalagens, tesoura, cola e organização das equipes para conseguir desenvolver a atividade conforme foto 02. Uma equipe, na primeira aula, achou que era para tirar imagens de rótulos e embalagens de revistas. Retomamos a questão de utilizarmos embalagens reais para termos condições de uma melhor análise, conforme representa a foto 01.

Detectado alguns “problemas”, sugerido soluções, tudo acabou por ser solucionado na aula seguinte.

Foto 01

Foto 02

Uma equipe formada por senhoras trouxe uma grande quantidade de

embalagens e rótulos já no primeiro dia, mas muitas foram “descartadas” por não conterem palavras em inglês e sim marcas dos produtos com nomes estrangeiros que elas julgavam que teria algum significado, conforme foto 03.

Foto 03:

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O envolvimento e a participação ativa do professor no processo de ensino e aprendizagem são fundamentais, mas num trabalho como este é ainda maior pela necessidade de seu compromisso ao orientar os trabalhos durante todo o processo de realização. Conforme figura 04.

Na segunda aula alguns grupos estavam com apenas 3 participantes, conforme mostra as fotos 04, 05 e 06. No caso da foto 05, a aluna que faltou trabalha em um Hotel e muitas vezes têm que faltar a escola por exigência do trabalho. A chefia do hotel em que trabalha sugeriu que ela iniciasse seus estudos no CEEBJA pela disciplina de língua inglesa, já que este conhecimento poderia lhe ser útil, mas muitas faltas ocorreram pela necessidade da permanência dela no trabalho durante o horário das aulas. A falta dos alunos é um problema que sempre enfrentaremos, mas infelizmente, nada podemos fazer.

Em contrapartida, percebeu-se que nesta aula os alunos estão mais engajados e participam das atividades com segurança, conforme foto 07. Começa o lento processo de análise mais aprofundada do que estão descobrindo. Alguns já fazem comentários a respeito do uso das palavras em inglês.

Foto 04

Foto 05

Foto 06

Foto 07

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É gratificante ver estes sorrisos de satisfação pelo trabalho realizado. Na foto 08 o rapaz de jaqueta preta e vermelha é o Clóvis, nosso talentoso desenhista colaborador. A garota de jaqueta azul, na mesma foto, é esposa de um integrante de outra equipe. Ela pediu para ficar em grupos separados, assim, eles produzem melhor. Ele fica mais criativo e menos dependente dela. Adversidades como esta são comuns quando se trabalha com o aluno adulto e tem que ser levadas em consideração.

Foto 08 Foto 09

O grupo da foto 09 perguntou se seria autorizado a postagem do título do

trabalho com letra de grafismo, já que o Diego (rapaz de jaqueta amarela) usa essa arte. Não houve objeção, pelo contrário, considerou-se muito bom, já que é uma forma de valorizar sua arte e criatividade. Este mesmo aluno tem um bom conhecimento do idioma e com freqüência tentava se comunicar com a professora. Ele gostava muito quando lhe era falado em inglês, respondia de forma limitada, mas compreendia tudo o que a professora falava. Seu conhecimento do idioma vem apenas dos estudos que teve no ensino regular, por gostar muito do idioma e por ter interesse pessoal e facilidade em aprender línguas.

Após a conclusão da primeira fase dos trabalhos que foi a elaboração dos cartazes os alunos entraram em contato com o roteiro de perguntas da pesquisa e da que aconteceria na aula seguinte num supermercado próximo.

No dia 12 de maio encontramo-nos primeiramente na escola e de lá, revisto alguns detalhes e sanadas algumas possíveis dúvidas nos dirigimos em caminhada para o supermercado que dista apenas 3 quarteirões da escola. A escolha do local e a distância é um fator importante a ser considerado. Chegando ao mercado, as equipes, receberam uma cópia da ficha da pesquisa a qual serviu de suporte para a coleta de dados e realização do projeto, conforme quadro 02.

Algumas orientações básicas como: ter o cuidado de quando retirarem produtos das prateleiras para averiguação não se esquecerem de colocá-los nos seus devidos lugares, evitando assim desarrumação e possíveis reclamações por parte da administração do mercado. Faz-se necessário alertar os alunos quanto à

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necessidade de um comportamento sério durante todo o processo de pesquisa, já que estão num lugar público e tantas pessoas chegando ao mercado ao mesmo tempo pode gerar preocupação ao gerente e funcionários do supermercado. Antecipadamente foi enviado pela direção do CEEBJA, um ofício ao supermercado esclarecendo sobre a pesquisa e solicitando autorização para a entrada dos alunos acompanhados pela professora bem como a permissão para se fotografar o processo. Na chegada ao supermercado todos os alunos foram identificados com um crachá. Clientes que estavam no local ficaram curiosos com a presença dos alunos. Alguns até os abordaram interagindo nos trabalhos.

Na foto 11, os alunos Afonso, Marcelo e Adão verificam produtos e fazem anotações das palavras em inglês encontradas em embalagens de utensílios domésticos.

Foto 10

Foto 11

Na foto 12, os alunos Ivair, Rosangela, Jeferson e Marcos Teixeira iniciam a pesquisa pelo corredor de produtos de higiene. Ficaram surpresos com a quantidade de palavras em inglês utilizadas nos produtos deste setor. A princípio foi planejada a distribuição dos setores de produtos a serem pesquisados por sorteio, mas não foi o que aconteceu. Os alunos não acharam que seria interessante pesquisar produtos de uma mesma categoria. Pediram para que fossem deixados a vontade para circular pelo supermercado escolhendo os produtos que quisessem. A solicitação foi acatada.

Foto 12

Foto 13

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No setor de higiene os alunos verificaram que há três tipos diferentes de absorvente higiênico do mesmo fabricante utilizando as seguintes palavras e expressões:

� tipo “A” – dry Max

� tipo “B” – termo control

� tipo “C” – teen

Na embalagem do absorvente aqui denominado tipo “A” onde aparece a expressão em inglês DRY MAX em destaque, trás abaixo e em letras bem menores a expressão em língua portuguesa sempre seca. Os alunos puderam perceber que a expressão postada em língua portuguesa não é a tradução literal da palavra postada em inglês, embora a sugira.

Na embalagem do absorvente aqui denominado tipo “B” onde aparece a expressão em inglês TERMO CONTROL em destaque, trás abaixo e também em letras bem menores, neste caso, ainda menor, a expressão em língua portuguesa menos abafamento, mais conforto que também foi percebido pelos alunos que não é a tradução literal da expressão em inglês.

Na embalagem do absorvente aqui denominado tipo “C” aparece à expressão TEEN em destaque, mas não faz menção alguma a tradução em língua portuguesa, embora se visualize a imagem de uma garota jovem.

A equipe da foto 14 comentou que achou curioso algumas palavras postadas em certos produtos, pois a palavra em inglês não fazia referência alguma ao uso do produto. Ficaram imaginando o porquê alguém teria escolhido aquela palavra em inglês e dado o nome ao produto e qual a intenção do fabricante em usá-la. Alguns questionaram se o fabricante conhecia o significado daquela palavra.

Na foto 15, os alunos estão no setor de bebidas. Onde se encontra os rótulos para desenvolver em sala de aula a Atividade III, FOOD AND DRINK LABELS

WORLDWIDE da Unidade Didática produzida pela professora pesquisadora e postada na unidade 4 do GTR – 2008 (Grupo de Trabalho em Rede).

É grande a quantidade de produtos, neste caso, bebidas, que trazem postadas em seus rótulos palavras e expressões em inglês. As alunas de uma determinada equipe (foto 15) comentaram: como saber se a expressão Twist Red

Fruit encontrada em uma Vodka condiz com o sabor de frutas vermelhas espremidas? Só experimentando para saber.

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Foto 14

Foto 15:

Observa-se nas fotos 16 e 17, que a aula passeio proporcionou aos alunos momentos de brincadeira e descontração. Os alunos sentiram-se a vontade. Houve comentários que esta prática foi muito interessante por ter oportunizado aos alunos um momento para se interagirem com colegas que antes, em sala de aula, nunca haviam conversado.

Uma verdadeira aula de cidadania foi o que aconteceu quando ao término das atividades, os alunos e professora se confraternizaram comendo pãezinhos de queijo com refrigerante. Os alunos, sem se preocuparem o “quanto” ou “quem” estava pagando, fizeram uma “vaquinha”. Nem todos puderam contribuir, mas todos igualmente comeram.

Foto 16:

Foto 17:

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Foto 18: Foto 19:

É muito bom quando professor e alunos podem conversar e trocar experiências de vida de igual para igual. Neste momento não há necessariamente “professor e alunos” e sim colegas, pessoas que tem um objetivo em comum: estão em busca de novas descobertas. Isso os aproxima. É uma relação dialógica. Para registrarem as suas anotações a respeito dos produtos pesquisados, cada equipe recebeu três folhas que continham 05 pequenas tabelas, nas quais deveriam registrar as características exigidas ao objeto do estudo, conforme quadro 03.

No dia 18/05 os alunos se reuniram em equipes para postarem na Ficha da Pesquisa de Campo, (quadro 01) suas respostas colhidas no supermercado. Percebe-se nesta ficha que a idéia inicial era que os alunos procurassem o significado da palavra em inglês no local da pesquisa. Isso também acabou não acontecendo, pois os alunos temeram não terem tempo suficiente para procurar o significado das palavras e ainda pesquisar os quinze produtos. Solicitaram ao professor que fizesse a procura do significado da palavra na aula seguinte. A solicitação foi acatada. Anexo à ficha do quadro 01 estava a Pesquisa de Campo (quadro 02) e nas páginas seguintes os quadros para o preenchimento dos dados dos produtos pesquisados conforme quadro 03.

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Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos de São José dos Pinhais – PR

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NA ESCOLA

Professora Wilma Gonçalves Ortega FICHA DE PESQUISA EM RÓTULOS E EMBALAGENS

GRUPO:____ Data:___/___/___ Supermercado: Mercadorama de São José dos Pinhais Nome:_____________________________________________ N.: _________ Nome:_____________________________________________ N.: _________ Nome:_____________________________________________ N.: _________ Nome:_____________________________________________ N.: _________ Orientações a equipe quanto à realização da pesquisa: - Cada equipe irá pesquisar os produtos em setores diferentes de acordo com o sorteio previamente realizado. Dois alunos assumirão a tarefa de localizar na gôndola produtos que possuam rótulos e ou embalagens com palavras em inglês; o terceiro aluno do grupo (aquele que se dispor e tiver maior habilidade no manuseio do dicionário) deverá ser o responsável por localizar no dicionário o significado da palavra encontrada e o quarto aluno terá a tarefa de fazer as anotações na ficha de pesquisa anexa; - A ficha deverá ser preenchida levando-se em conta informações como no exemplo abaixo:

Quadro 01

Palavra encontrada: Quick. Tradução: rápido, ágil, veloz (dicionário) Provável intenção do significado da palavra aplicada ao produto: produto instantâneo, de rápido preparo. A equipe julgará se o uso desta palavra é ou não relevante (ou seja, se justifica o uso dela) em relação à idéia que ela quer passar do produto.

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PESQUISA DE CAMPO

1. Pesquisar produtos, onde apareçam palavras ou expressões em inglês;

2. Registrar as palavras na ficha de pesquisa e descobrir seu significado com o

auxílio do dicionário;

3. Fazer um levantamento da quantidade de produtos que recebem esse recurso

publicitário em relação à quantidade de produtos verificados na gôndola,

calcular a porcentagem;

4. Fazer um relatório da opinião do grupo quanto:

a) a importância ou necessidade da utilização das palavras encontradas;

b) verificar se há alguma intenção por parte do fabricante ao utilizar palavras

em inglês e por que você acha que ela foi escolhida e utilizada?

c) conhecer o significado das palavras em inglês nos rótulos e nas embalagens

pode mudar sua decisão em relação à compra do produto. Sim ou não?

Explique o porquê.

d) a que conclusão o grupo chega em relação a prática de se observar com

mais atenção as informações contidas nos produtos?

e) além das palavras em inglês o que o grupo pode dizer em relação ao uso de

cores e formato das palavras e imagens postadas nos produtos, isso pode

fazer alguma diferença? Explique sua resposta.

f) Você considera o uso de palavras em inglês uma forma de elitização do

produto e isso de alguma forma pode significar uma forma de exclusão àqueles

que não as entende? Comente sua resposta.

Quadro 02

Quadro 03 5.3 Análise do resultado Quadro 03

Quadro 03

Produto pesquisado: ______________________________________________

Gênero: ( ) alimentício ( ) higiene ( ) eletro-eletrônicos ( ) util. Doméstica

( ) bebidas ( ) vestuário ( ) outro

Palavra encontrada:______________________ tradução:__________________

Significado aplicado ao produto:_______________________________________

O uso desta palavra em inglês é relevante? ( ) sim ( ) não

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Após o trabalho de pesquisa no supermercado, os alunos iniciaram o registro dos dados e a análise dos resultados. Para alguns alunos ainda não estava claro a questão da relevância ou não da palavra em inglês postada nos produtos, de sua importância e ou necessidade já que uns achavam que a resposta era “sim” e outros achavam que era “não”. Foi explicado novamente.

A maioria dos alunos teve dificuldade em entender a letra “F” da questão de número 04 da Pesquisa de Campo que diz:

f) Você considera o uso de palavras em inglês uma forma de elitização do produto e isso de alguma forma pode significar uma forma de exclusão àqueles que não as entende? Comente sua resposta. Os alunos não entenderam o significado da palavra “elitização”. Eles confundiram com “utilização”. Não foi previsto que isso pudesse acontecer por se julgar esta palavra comum. Não foi o que aconteceu. Vários alunos deram respostas truncadas e percebendo que estava estranho chamaram a professora para esclarecer seu significado. Um fator que contribuiu para atrapalhar o andamento dos trabalhos foi a quantidade excessiva de faltas dos alunos. Nunca se conseguiu fazer a sequência das aulas de acordo com o planejamento. Sempre havia uma equipe que estava com as atividades atrasadas ou com alunos ausentes. Em meio a tudo isso também houve a necessidade da direção da escola convocar uma reunião extraordinária e a interrupção de aula em consequência do curso do DEB Itinerante.

Das sete equipes formadas nesta turma, uma delas não entregou o trabalho com o relatório final da Pesquisa de Campo na data prevista porque o trabalho ficou com um dos integrantes do grupo que não compareceu neste dia. Todas as demais equipes entregaram na data prevista.

No dia 20/05 foi realizada a aula no laboratório de informática da escola que fica no prédio da sede do CEEBJA, foto 20. Os alunos se dirigiram até lá para verem postados no GTR – Grupo de Trabalho em Rede, o resultado parcial da pesquisa a qual participaram. Além de entrarem em contato com os trabalhos postados no GTR, tiveram também a oportunidade de conhecer o laboratório de informática da escola, o qual, nenhum deles conhecia. Dos 29 alunos da turma, somente quatro tem computador em casa, sendo que nenhum dos quatro tinha acesso à internet.

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Foto 21:

A aula foi iniciada pela explicação sobre a pesquisa. Eles ficaram sabendo que se tratava de um Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola apresentado e postado no portal educacional do Governo do Estado do Paraná e que poderá ser visto e consultado por professores do Estado.

Como poucos alunos da turma já haviam acessado a internet, foi feito o passo a passo para a entrada da página da educação. A princípio intencionava-se que cada aluno estivesse em frente a um computador e lhes seria dado o encaminhamento para o acesso ao GTR. Isso não foi possível já que estando logado ao GTR em um terminal de computador, não se pode logá-lo em outro simultaneamente. Por isso foi usado o recurso multimídia “data show”. Conforme fotos 22 e 23.

Foto 22

Foto 23

Os alunos ficaram felizes vendo-se nas fotos. Sentiram-se valorizados por saber que fizeram parte de uma pesquisa tão relevante quanto. Saberem que estão sendo fotografados durante o processo é uma coisa, verem-se postados em forma de trabalho é outra, pois este é o resultado oficial de suas atitudes e contribuições. Isso os leva a um pensar sobre suas atitudes e responsabilidades enquanto alunos.

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Após analisadas as respostas da Pesquisa de Campo entregue pelos alunos, chegamos às respostas quanto aos seguintes itens:

� “3. Fazer um levantamento da quantidade de produtos que recebem esse recurso publicitário em relação à quantidade de produtos verificados na gôndola e calcular a porcentagem:”

Das seis equipes, apenas duas fizeram menção a esta questão, uma delas dizendo: “por serem muitos os produtos em exposição nas prateleiras do supermercado, tornou-se impossível relatar essa porcentagem. Sendo assim, tivemos que encerrar esta parte sem responder tal questão”.

Isto aconteceu porque diferente do que se havia planejado, os alunos fizeram a pesquisa em setores diversos do supermercado e não apenas em um único setor de produtos.

� 4. Fazer um relatório da opinião do grupo quanto:

a) A importância ou necessidade de utilização das palavras encontradas; Das seis equipes, quatro disseram que sim, as palavras postadas em inglês

são importantes, mas principalmente para quem entende seu significado, pois pessoas que não entendem, acabam mesmo comprando independentemente de saberem ou não, ou baseiam-se na aparência do produto, ou por conhecê-lo ou pelo preço.

Duas equipes disseram que não tem a menor importância tais palavras. Observa-se que algumas destas respostas estão um pouco confusas e

contraditórias quando escritas porque questionados oralmente a respeito dela, vários alunos deram opiniões que não aparecem nos trabalhos. Disseram que as palavras postadas nas embalagens em inglês enganam e confundem o consumidor quando este não sabe o seu significado, muitas vezes o consumidor compra o produto na dúvida.

b) Verificar se há alguma intenção por parte do fabricante ao utilizar palavras em inglês e por que você acha que ela foi escolhida e utilizada?

Quatro equipes disseram que a intenção do fabricante é chamar atenção do consumidor, destacando a palavra em inglês, objetivando dar ênfase na qualidade do produto, sendo isso um recurso de marketing. Uma dessas equipes registra o fato de achar que muitas vezes o fabricante chama o consumidor de “burro”, já que sabendo que o consumidor não irá entender o significado da palavra em inglês, coloca uma figura que represente a idéia. Isso acontece numa embalagem de macarrão instantâneo aonde vem postada a palavra “hot” e ao lado foi postada a imagem de uma pimenta vermelha, para designar o sabor.

Duas equipes disseram que os fabricantes usam de má fé postando palavras que o consumidor não entende e não ainda fazem nenhuma referência à característica do produto em língua portuguesa.

c) Conhecer o significado das palavras em inglês nos rótulos e nas embalagens pode mudar sua decisão em relação à compra do produto? Sim ou não. Explique o porquê.

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Quatro equipes disseram que sim. Afirmam que conhecer o significado da palavra postada em inglês poderá fazer com que façam melhor uso do produto; Estarão cientes do que estão comprando; Podem comprar o produto sem dúvida alguma; se for uma propaganda enganosa poderá mudar a opinião e a decisão do consumidor em relação à aquisição do mesmo.

Duas equipes disseram que não. Os dois grupos fazem a compra por já terem utilizado o produto e conhecerem sua qualidade, independente do significado da palavra em inglês.

d) A que conclusão o grupo chega em relação a prática de se observar com mais atenção as informações contidas nos produtos?

Por unanimidade os grupos afirmam que é muito importante a observação cuidadosa das informações postadas porque: é de grande responsabilidade saber escolher, analisar, verificar a qualidade, peso, quantidade e a validade do produto; Que analisando o rótulo e entendendo o significado das palavras em inglês, sabe-se se vale a pena ou não escolher um ou outro produto e pagar mais caro por ele; Que um produto com informações claras conquista o consumidor; Que não se deve descuidar das informações pois estas são importantes para a saúde; Que não se deve deixar enganar-se pelas informações contidas nos rótulos; Que a observação detalhada das informações contidas pode fazer diferença na qualidade e veracidade do que se compra.

e) Além das palavras em inglês o que o grupo pode dizer em relação ao uso de cores e formato das palavras e imagens postadas nos produtos, isso pode fazer alguma diferença? Explique sua resposta.

As seis equipes responderam que sim. Embalagens coloridas e com boa aparência chamam a atenção; Que o colorido e o formato diferenciado atraem o consumidor, expressando a idéia da sua qualidade e sabor: Que as cores nos desperta sensações de prazer, atração ou desejo; Que os desenhos e cores é uma comunicação visual importante, mas que às vezes, não condizem com a qualidade real do produto e que por isso devemos tomar cuidado;

f) Você considera o uso de palavras em inglês uma forma de elitização do produto e isso de alguma forma pode significar uma forma de exclusão àqueles que não as entende? Comente sua resposta.

Cinco equipes afirmaram que sim, que pessoas com menos acesso à informação e cultura tem dificuldade em compreendê-las e isso se deve porque o fabricante não pensou no consumidor em geral e sim nas classes social média e alta e que isso é uma atitude de discriminação; Que é uma atitude de preconceito para com pessoas ignorantes; Que o fabricante objetiva um público com poder aquisitivo maior; Que a maioria da população não entende o significado das palavras postadas em inglês nos rótulos por não terem acesso aos meios de informação e cultura, bem como a cursos de inglês que são caríssimos no país e portanto os menos favorecidos sentem-se excluídos da sociedade por sua baixa renda; Que a elitização do produto de alguma maneira, tendo a passar a impressão de se estar no topo e assim atrair um público com mais cultura e informação, apenas os “bons” sabem o que aquilo significa, os demais, se quiserem, adivinhem!

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Um grupo afirma que só será uma forma de discriminação e exclusão se a palavra estiver escrita apenas em inglês, mas que se seu significado estiver em português, a postagem da palavra em inglês é apenas um recurso de marketing, intencionando sim sua elitização, mas não caracterizando a exclusão daqueles que não conhecem seu significado em inglês; Que as palavras em inglês dão a idéia de qualidade maior do produto, mas que isso não exclui necessariamente as pessoas que não tem cultura e conhecimento do significado das mesmas.

5.3 Quanto à avaliação

Por ser um trabalho que exige dos alunos dedicação, empenho e efetiva participação em todo seu processo, ficou decidido que este só teria o valor 10,0 de uma das quatro notas da avaliação. Aplicado também um teste contendo 10 questões previamente selecionadas que foram questões do Exame de Suplência de anos anteriores que continham questões onde apareciam perguntas a respeito das informações postadas nos rótulos de produtos com informações em inglês. Sendo que assim ficou distribuído seus valores: a) Nota de presença nas aulas durante o processo: 1,0 - Alunos que não tiveram nenhuma falta receberam 1,0 de participação; - alunos que tiveram 01 falta receberam 0,7; - alunos que tiveram 02 faltas receberam 0,4; - alunos que tiveram 03 faltas receberam 0,1; - alunos que tiveram 04 faltas ou mais, não receberam nota de participação. b) Nota de participação na Aula Passeio no supermercado: 2,0 - os alunos participaram desta aula receberam 2,0; c) Nota da produção do cartaz: 2,0 - os alunos participantes da equipe que produziu o cartaz obtiveram até 2,0, dependendo da qualidade e quantidade de informações postadas nos mesmos. d) Pesquisa de Campo: 4,0 - os alunos foram avaliados pela qualidade, argumentação e aprofundamento nas seis respostas postadas na pesquisa e pelo acerto de informações na ficha de avaliação dos produtos. e) Questões do exame de suplência: 1,0 - dez questões valendo 0.1 cada uma.

5. Considerações finais

A ação de construir conhecimento na escola envolve o educando, o educador e o conhecimento formalmente organizado. Esta ação, todavia, insere-se no contexto sócio-cultural, uma vez que a escola não existe como instituição independente. Inserida no tecido social a escola tem uma dimensão política que reflete na dinâmica da sala de aula e, por consequência, na formação do ser humano.

O ato de sair a campo vivenciando atitudes reais, questionando fatos, esclarecendo dúvidas, manuseando produtos, tomando decisões conscientes de aquisição ou não de um produto pelo conhecimento do seu significado ou pelas

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intenções das palavras postadas, (não apenas pela imagem, muitas vezes indutora), é uma atitude relevante.

Com essa prática, poderíamos perguntar se conseguimos despertar nos alunos o importante exercício da percepção, do questionamento, onde eles descobrem se houve uma intenção ou apenas uma estratégia de venda, se desenvolveram suas habilidades reflexivas sobre a razão pela qual estas palavras estão em inglês e não em português – como supostamente deveriam, já que são, na grande maioria, produtos nacionais.

Afinal, o que se esconde por trás desse recurso lingüístico – o uso da língua inglesa em produtos comerciais - que influencia nossa maneira de pensar e muitas vezes nossa maneira de agir? Sabemos que a linguagem não é inocente e nem neutra? Tal entendimento pode fazer diferença em suas vidas e pode mudar o poder da decisão de aquisição de produtos. Pensando nisso e ainda em conformidade com o pensamento de Dewey (1939, apud SHOR, 1999) “uma onça de experiência é melhor que uma tonelada de teoria. Não se trata de desprezar a teoria, mas de tornar o aprendizado mais significativo e relevante aos alunos.

As práticas de ações educativas, como esta, que confrontam a realidade social do aluno e a construção do conhecimento coletivo no espaço escolar, não se esgotam em uma única pesquisa ou atividade. Há inúmeras outras nuances da vida deste aluno que devem ser consideradas. Porém, estas são questões a serem consideradas em outras pesquisas.

07. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Congresso Nacional de Educação. Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, n.º 9.393, de 20 dez. 1996. CRISTÓVÃO, Vera Lúcia Lopes. Modelos Didáticos de Gênero: uma abordagem

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SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. São Paulo:

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SILVA, Fernando C. Informática na Educação – para todos e para alguns.

Disponível em < WWW.proinfo.gov.br>. Texto sobre EAD. Acesso em 24/07/2008.