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Resistencia

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    Texto apresentado no IV Encontro Internacional de Histria Colonial Belm, 3 a 6 de setembro de 2012

    Resistncia e adaptao nas vilas do Diretrio dos ndios: Polticas indgenas no ltimo quartel do sculo XVIII1

    Rafael Rogrio Nascimento dos Santos Mestrando em Histria Social da Amaznia UFPA,

    Resumo:

    Esse artigo trata de determinadas estratgias e aes construdas pelos indgenas do Gro-Par em busca de seus prprios interesses frente os limites que o contexto da segunda metade do sculo XVIII lhes imps. Leva-se em conta que os povos indgenas possuram e possuem participao fundamental na histria do Brasil e souberam lidar com as relaes de poder geridas pela sociedade colonial, foram inseridos na mesma, contudo, tambm se inseriram dentro daquela dinmica aprendendo os cdigos culturais europeus e os utilizaram para moverem-se e adaptarem-se dentro daquele universo. As polticas indgenas, entendidas como instrumento de ao dos amerndios, revelam que no foram apenas vtimas ou algozes, foram integrados, contudo, e tambm de suma importncia, integraram-se, e a sua integrao foi fruto de um embate de foras em uma luta cotidiana de reapropriaes e ressignificaes.

    Palavras-chave: Diretrio dos ndios; Poltica indgena; Resistncia indgena; Ressignificao.

    Introduo Esse artigo trata de determinadas estratgias e aes construdas pelos ndios em busca

    de seus prprios interesses diante das mudanas ocorridas na segunda metade do sculo XVIII. Encontramos um padro nas fontes analisadas que a identificao dos indgenas atravs do nome cristo e da vila a qual pertenciam, portanto, dois fatores utilizados para mostrarem seus lugares e participaes no projeto metropolitano, alm disso, tambm uma forma de percebermos que se inseriram dentro da dinmica colonial, aprendendo os cdigos culturais europeus e os utilizando para moverem-se e adaptarem-se dentro daquele universo.

    No se trata de elaborar um discurso em prol dos indgenas, os quais surgiriam como protagonistas de uma histria unilateral ou omitir as mazelas sofridas por esses povos. Trata-se de perceber a dinmica construda pelos mesmos nessa histria, afinal, souberam lidar com

    1 Esse trabalho, com algumas modificaes, faz parte de um captulo da dissertao de mestrado que ser

    apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Histria Social da Amaznia. Agradeo ao professor Dr. Mauro Cezar Coelho pelas constantes e pacientes orientaes que colaboram na construo desta difcil trajetria. Tambm devo agradecimentos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CNPq, o qual tem sido a agncia de fomento da pesquisa.

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    as relaes de poder geridas pela sociedade colonial e, este um dos pontos que ajudam na compreenso do novo lugar destinado aos ndios na historiografia: sujeito histrico ativo2.

    Com a aplicao da poltica indigenista ao longo da segunda metade do sculo XVIII ocorreram inmeras mudanas nos hbitos dos povos indgenas na Amaznia colonial. A fim de tornar o ndio um vassalo portugus para que atendesse aos interesses metropolitanos, o Diretrio dos ndios suscitou a implementao de um programa de insero das populaes indgenas no universo portugus, promoveu uma transformao do espao convertendo as aldeias missionrias em vilas e povoados, incentivou ensino da lngua portuguesa, estimulou a miscigenao por meio dos casamentos intertnicos, alm de promover a prtica do trabalho regular, o qual juntamente com os outros itens previstos na legislao, seria responsvel pela civilizao dos indgenas.

    Todavia, esse conjunto legislativo, tambm, acabou por ganhar novos significados frente s aes protagonizadas pelos indgenas. Sua prpria formao e instituio fruto de um embate de foras entre povos indgenas, colonos, missionrios e agentes da administrao metropolitana envoltos no Vale Amaznico3, caracterizando-o como um processo histrico. Esse o argumento central da tese de doutorado do historiador Mauro Coelho, onde rompe com a ideia da qual o Diretrio dos ndios foi simplesmente uma lei pombalina, afirmando que ela se constituiu por meio de uma demanda colonial4.

    Um dos aspectos tratados pelo historiador, e que nos importante para este trabalho, est relacionado s escolhas dos ndios de se inserirem nas vilas do Diretrio, mudando substancialmente seus modos de vida, Mauro Coelho afirma que:

    Descer, casar-se, abandonar suas lnguas nativas e submeter-se ao trabalho compulsrio pareceu, para algumas daquelas populaes, uma alternativa vivel, especialmente diante das promessas de oferta regular de alimentos e de proteo contra os inimigos. Para muitos indgenas, que sentiam os prejuzos da presena aliengena, e viviam dispersos em pequenos grupos, familiares ou no (...) a vida nas povoaes pode ter se afigurado um mal

    2 Ver: ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses indgenas: identidade e cultura nas aldeias

    coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003; CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). Histria dos ndios no Brasil. 2 ed., So Paulo: Cia. das Letras/ Secretaria Municipal de Cultura/FAPESP, 1992; DOMINGUES, ngela. Quando os ndios eram vassalos: colonizao e relaes de poder no Norte do Brasil na segunda metade do sculo XVIII. Comisso Nacional para as Comemoraes dos Descobrimentos Portugueses, 2000; FARAGE, Ndia. As muralhas dos sertes: os povos indgenas no Rio Branco e a colonizao. Rio de Janeiro: Paz e Terra, ANPOCS, 1991; MONTEIRO, John Manuel. Armas e Armadilhas: Histria e resistncia dos ndios. In: NOVAES, Adauto (Org.). A outra margem do ocidente. So Paulo: Companhia das Letras, 1999, pp. 237-249; SANTOS, Francisco Jorge dos. Alm da Conquista: guerras e rebelies indgenas na Amaznia Pombalina. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 1999. 3 Segundo Mauro Cezar Coelho, em dilogo com Jonas Maral de Queiroz, a categoria Amaznia s surge na

    documentao e na historiografia a partir do sculo XIX, dessa forma, deste ponto em diante, utilizaremos a expresso Vale Amaznico para tratar da rea Norte da Amrica Portuguesa. Ver: COELHO, Mauro C. O Diretrio dos ndios e as Chefias indgenas: uma inflexo. Revista Campos, n.7(1), pp. 117-134, 2006. 4 COELHO, Mauro Cezar. Do serto para o mar: um estudo sobre a experincia portuguesa na Amrica, a

    partir da Colnia: O caso do Diretrio dos ndios (1751-1798). Tese de Doutorado. USP. 2005a.

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    menor que a vida errante pelas matas, a merc de etnias guerreiras poderosas, como os Mura, por exemplo. Para outros, a possibilidade de associar-se aos portugueses pode ter sido vista como mais vantajosa, diante das polticas holandesa e espanhola. Para outros, as povoaes foram o nico caminho possvel de sobrevivncia e, menos que uma escolha, elas se configuraram uma imposio, ante a ameaa de desaparecimento5.

    Cabe ressaltar, que o fato de optarem por viver nos lugares e vilas institudas pelo Diretrio dos ndios no significa dizer que estavam submetidos a qualquer poltica. Apesar de j estarem inseridos no interior da vida colonial, alguns ndios tomavam atitudes diversas daquelas estipuladas pelos agentes da administrao portuguesa, como, por exemplo, rebelies, a sada temporria da populao na qual viviam para evitar trabalhos onerosos, as fugas, enfim, resistiam e buscavam meios para garantir certa autonomia6.

    Fixando-se nas vilas no ficaram inertes a qualquer demanda colonial, ao depararem com algum abuso sobre si ou suas famlias, ou ainda sobre a condio de livres que lhes fora impetrada pela legislao vigente, desenvolveram estratgias na tentativa de mudar aquele panorama. Em outras palavras: resistiram e adaptaram-se para transformar aquela situao. De acordo com Maria Regina Celestino de Almeida:

    Colaborar com os europeus e aldear-se podia significar, portanto, uma forma de resistncia adaptativa, atravs da qual os povos indgenas buscavam rearticular-se para sobreviver o melhor possvel no mundo colonial. Em vez de massa amorfa, simplesmente levada pelas circunstncias ou pela prepotncia dos padres, autoridades e colonos, os ndios agiam por motivaes prprias, ainda que pressionados por uma terrvel conjuntura de massacres, escravizaes e doenas. Interessarem-se por algumas mudanas e aprendizados, porm tinham nisso seus prprios interesses, e atribuam-lhes rumos e significados prprios7.

    Entendemos que as estratgias criadas pelos indgenas do Vale Amaznico e analisadas neste trabalho, so uma forma de resistncia adaptativa na medida em que, em meio a um jogo de foras distintas e desiguais, utilizaram um conhecimento adquirido ao longo do processo de contato com o intuito de almejar ganhos ou menores perdas que s poderiam garantir conforme se aproximassem da sociedade colonial. Demonstram, conforme nossa anlise, uma percepo acerca da nova ordem que estava se estabelecendo, adaptando-se, resistindo e reelaborando novos sentidos quele universo em transformao.

    Processos e requerimentos: uma tentativa de autonomia e liberdade.

    5 Idem. p. 221.

    6 Idem, p.276.

    7 ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Identidades tnicas e culturais: novas perspectivas para a histria

    indgena. In: ABREU, Martha; SOIHET, Rachel. Ensino de histria: conceitos, temticas e metodologia. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2009, p.30.

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    As maneiras que os indgenas lidaram com a sociedade colonial estiveram alm da mera reao espasmdica8. Conforme John Monteiro, um dos meios de ao dos ndios foi a prpria utilizao dos institutos legais proporcionados pela administrao portuguesa para buscar aquilo que lhes era de interesse.9 Acrescenta-se que o uso dessas instituies portuguesas pelos ndios aldeados no foi algo raro naquele momento, pois, segundo J. Monteiro: De fato, no inicio do sculo XVIII, os ndios comeavam a conscientizar-se das vantagens do acesso justia colonial, sobretudo com respeito questo da liberdade.10. Grande parte da documentao analisada provm de ndios que queriam fazer valer a lei em vigor, utilizando-a para reclamarem de maus tratos, solicitarem liberdade, entre outros. Importa-nos perceber que suas estratgias de luta e a busca por direitos so construdas a partir de uma leitura da lei, apropriando-se dela e a ressignificando11.

    Tal processo leitura, apropriao e ressignificao deve ser dimensionado considerando as mltiplas experincias vividas pelos agentes histricos e pelos processos que marcaram a transformao da sociedade colonial. Dessa forma, a legislao e as mudanas scio-espaciais norteadas por meio dela devem ser consideradas como campo de luta12 na medida em que ndios, colonos, religiosos entendidos a partir de uma construo histrica

    8RUD, Georges. A multido na histria: estudos dos movimentos populares na Frana e Inglaterra, 1730-1848. Rio de Janeiro: Campus, 1991. George Rud afirma que a multido foi percebida como massa desprovida de objetivos prprios e somente respondia a provocaes exgenas. Assim, encarar tais multides como massa disforme seria caracteriz-las como uma frmula abstrata. As consideraes de Rud acerca das aes das multides europeias dos sculos XVIII e XIX nos so vlidas, pois apesar de abordar um contexto e agentes histricos distintos do objeto dessa dissertao a ideia de ao, eixo de tal concepo, tida como instrumento pautado nos costumes, tradio ou no aprendizado gerado pelo contato. Na medida em que as polticas indgenas podem ser consideradas como aes baseadas na experincia de contato entre povos indgenas e europeus, o pressuposto metodolgico utilizado por G. Rud pode ser adaptado para estudarmos as aes dos povos indgenas nos ltimos anos do sculo XVIII. Tal operao historiogrfica no novidade, a comparao entre os povos indgenas do Vale Amaznico e as multides europeias foi realizada por Mauro C. Coelho ao abordar parte dos trabalhos sobre a resistncia indgena: ... trabalhadores europeus ou indgenas americanos fazem parte de sociedades que lhes transmitiram cdigos de comportamento, tradies, formas de pensar e agir. Isto no justifica que se tomem uns pelos outros, mas certamente legitima a percepo de uns e outros como membros de sociedades que formulam parmetros de comportamento e ao. Ver: COELHO, Mauro Cezar. ndios e historiografia os limites do problema: o caso do Diretrio dos ndios. Cincias Humanas em Revista. So Lus, v.3, n. 1, julho, 2005b. 9MONTEIRO, John M. Alforrias, Litgios e a desagregao da escravido indgena em So Paulo. Revista de Histria, So Paulo. n.120, p.45-57, jan./jul. 1989. 10Idem. Escravo ndio, esse desconhecido In: CHAU, Marilena de Souza, GRUPIONI. ndios no Brasil. So Paulo: Secretaria Municipal de Cultura, 1992. p.117. 11

    No que tange aos processos de ressignificao Maria Regina Celestino de Almeida, ao analisar as populaes indgenas aldeadas do Rio de Janeiro como parte de um processo de interao entre diferentes agentes sociais da Colnia, destaca tais aldeias como espao de ressocializao, onde nos mostra que os povos indgenas conseguiram aprender novas formas de lidar com a sociedade colonial buscando vantagens que aquela condio lhes gerava. Ver: ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Os ndios na histria do Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010. 12

    Nesse sentido ver: THOMPSON, Edward. P. Senhores e caadores: a origem da lei negra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. Thompson, referindo-se a Lei Negra na Inglaterra do sculo XVIII, considera que alm de um instrumento de tentativa de domnio, a legislao tem sido um espao onde os conflitos sociais tem ocorrido.

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    de experincia atuaram por meio de conflitos, agrupamentos e associaes s quais estabeleceram relaes sociais, por vezes de reconfigurao do meio e espao social13.

    As polticas indgenas compreendidas como instrumentos de ao , no mbito do Diretrio dos ndios, foram percebidas atravs da dinmica social construda por tais povos ou indivduos. Sugerimos que os indgenas, no cotidiano das povoaes do Diretrio, procuravam determinada autonomia frente s polticas de controle impostas pela metrpole e colonos.

    Conforme nossa interpretao, elas demonstram, por um lado, a pretenso autonomia da parte dos ndios e sugerem que o processo de colonizao foi percebido por eles como uma possibilidade em virtude do distanciamento das tradicionais formas de movimentao em seu mundo que se tornavam cada vez mais distantes. De outro lado, elas apontam para a insero daqueles indgenas na sociedade colonial sugerindo que eles perceberam e reconheceram uma autoridade a qual, de forma ou outra, estavam submetidos, todavia, de uma maneira prpria e distinta da prevista na legislao. Destarte, partindo das consideraes sobre o carter colonial da legislao e dos conflitos e rearranjos estabelecidos no Vale Amaznico14, acredito que com o estabelecimento daquela lei, e as diversas apropriaes dela seja por parte dos colonos seja por parte dos ndios fizeram com que surgissem alternativas para as populaes indgenas que estavam alm das fugas das povoaes nas quais foram estabelecidas. Alternativas que os ndios souberam manejar em busca de benefcio prprio diante do que lhes era requerido pelos colonos mo de obra e pela Metrpole motor populacional da regio.

    Como veremos na documentao abaixo analisada, os indgenas souberam lidar com as tenses sociais presentes no interior das povoaes, utilizando a prpria legislao como um dos instrumentos para legitimarem suas aes diante das instncias legais, redimensionando-a. Algumas aes dos ndios que consubstanciam a argumentao deste artigo so: o processo de fixao em determinada aldeia, a tentativa de agrupamento de familiares na mesma povoao, a solicitao de liberdade pautada na legislao, solicitao de proviso rgia e a tentativa de escolha para se fixarem em casa de determinado colono ou onde lhes conviesse.

    Em 1779 a ndia Patronilha, moradora da Vila de Beja, solicitou que se mandasse passar proviso para que pudesse servir onde melhor lhe conviesse, como consta na Lei das 13

    Idem. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. So Paulo: Companhia das Letras, 1998. No podemos comparar o universo social abordado por Thompson com o vivido no Vale Amaznico, entretanto, tal abordagem ajuda-nos a pensar na percepo que as populaes indgenas, como membros da sociedade, formularam parmetros de comportamento e ao. 14

    COELHO, Mauro C. Op. cit. 2005a.

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    Liberdades dos ndios de 175515. A requerente reclama do Diretor da dita vila, pois ele a violentou e a colocou sob servios os quais ela no foi criada para realizar, portanto, contra sua vontade. Solicitou, dessa forma, que servisse na casa do colono Antonio Jos de Carvalho e sua mulher, onde foi criada, ou onde ela achasse melhor. O requerimento da ndia baseado em outro de mesma natureza no qual foram concedidas as solicitaes acima descritas para a ndia Madalena do lugar de Penha Longa16.

    Oito meses mais tarde, encontramos outro requerimento da ndia Patronilha com um contedo semelhante ao anterior, afirmando que continua sendo violentada pelo Diretor e colocada sob servio de qualquer casa contra gosto, no obstante, solicitou proviso para se manter naquela vila.17

    H um intrigante fator nessa documentao: as ndias Patronilha e Madalena, apesar dos constantes abusos e maus tratos que estavam sofrendo, elaboraram em seus requerimentos a denncia contra o Diretor e o pedido para que findassem tais violncias, pois na he Vadia, nem vive em ociozid.e18. Elas reafirmam seus papeis como ndias aldeadas diante do que o projeto metropolitano requeria: as mulheres ndias deveriam frequentar escola pblica, aprender a ler e escrever, no viverem em ociosidade, pois, segundo os agentes coloniais era um vicio quasi inseparavel, e congnito a todas as Naens incultas...19, alm disso, ainda deveriam serem instrudas na Doutrina Chista... fiar, fazer renda, cultura, e todos os mais ministrios proprios daquelle sexo.20 Patronilha e Madalena, portanto, por algum motivo que a documentao deixa obscurecido, preferem ficar na vila e resolver por vias legais os abusos sofridos do que fugir.

    A possibilidade da considerao de uma vida melhor dentro dos limites das povoaes em que estavam situadas deve ser considerada, tanto que h uma diferena de sete meses entre o primeiro requerimento enviado por Patronilha e o segundo, mostrando que pouco ou nada tinha mudado entre o tempo decorrido, alm, claro, da insistncia da ndia na tentativa de resoluo dos seus problemas pelo acesso justia colonial.

    15

    Patronilha [Requerimento apresentado a D. Maria I, em 06/01/1779] Projeto Resgate. AHU, caixa 82, documento 6700. 16

    Madalena [Requerimento apresentado a D. Maria I, em 15/09/1779] Projeto Resgate. AHU, caixa 83, documento 6853. 17

    Patronilha [Requerimento apresentado a D. Maria I, em 07/09/1779] Projeto Resgate, AHU, caixa 83, documento 6838. 18

    Idem. 19

    Idem, p.375. 20

    DIRECTRIO que se deve observar nas Povoaes dos ndios do Par, e Maranho em quanto Sua Magestade no mandar o contrrio. In: ALMEIDA, Rita Helosa. O Diretrio dos ndios: Um projeto de civilizao no Brasil do sculo XVIII. Braslia: Editora da Universidade de Braslia, 1997, p. 374.

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    Josefa Martinha, ndia natural da cidade do Gro Par e viva de Joo de Jezus, tambm se baseando na Lei de Liberdades, afirmou que contra sua vontade foi colocada como soldada pelo senhor de engenho Hilrio de Moraes Bitancourt. Ele a colocou em cativeiro e aps a morte do seu marido foi proibida, pelo mesmo senhor, de colocar seu filho para aprender o ofcio de carpinteiro. A ndia por sua vez elaborou um requerimento contra o Bitancourt e, por isso, foi castigada, fugiu e andava s escondidas. Junto com seus filhos tornaram-se procurados pelos demais escravos do dito Hilrio de Moraes. Jozefa Martinha ento solicitou D. Maria I que a declarasse pessoa livre, e izenta de captiv.ro, sem onus algum, e seos filhos, e mais parentes, eq. o mensionado Hilario de Moraes Bitancourt, os na imbarace...21. Em busca de sua liberdade, Josefa Martinha intentou fugir, contudo, tambm se valeu da legislao implementada para tentar gozar de sua liberdade.

    Em um requerimento datado de 1785 a ndia Maria Silvana afirma ter sido retirada de forma violenta de sua moradia e das suas lavouras que ficavam prximas ao rio Cuinarana, onde trabalhava cotidianamente com sua famlia composta por mais sete ndios. Pedro Gabriel, procurador geral dos ndios e autor do documento, escreve que isto resultou em: ...incommodo, dezarranjo, e prejuzo da manafactura, colheita das mesmas Lavouras ficadas ali ao dezemparo. Enviada para a vila de Cintra j seria transferida para a vila de Nossa Senhora do Socorro das Salinas:

    ... por ser til ao Publico, como da informao do D.or. Intend.e Geral se pondera, confirmada pello ultimo despacho do Governador e Capito General daquelle Estado... e por que com este segundo, repetido incommodo, nunca existir em sosego huma pobre, e mizaravel mulher, como he a suplicante, viva, e carregada de filhos quando lhe parecia q pellas (...) Leis, e Ordens de V. Real Mag.e na sua velhice j gozaria da sua natural Liberdade...22

    Maria Silvana, ento, solicitou a rainha D. Maria I que, juntamente com seus filhos e netos, ... se conserve (...) como moradora effectiva da sobre ditta Villa, de Cintra, trabalhando com elles nas suas prprias Lavouras, sem dependenia do commum servio da mencionada Villa...23.

    A ndia Bonifcia da Silva, oriunda da vila de Monsars, aps a morte de seus pais, foi ainda criana morar na Cidade do Par, onde na casa do capito Manoel (?) de Moraes Aguiar e Castro foi educada e aprendeu a costurar e fazer renda e l viveu mais de vinte anos. Com a morte do dito capito a ndia enviou um requerimento para a rainha solicitando que ficasse

    21

    Josefa Martinha [Requerimento apresentado a D. Maria I, em 11/02/1779] Projeto Resgate. AHU, caixa 82, documento 6716. 22

    Maria Silvana [Requerimento apresentado a D. Maria I, em 07/06/1785] Projeto Resgate. AHU, caixa 94, documento 7507. 23

    Idem.

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    com sua comadre Mnica de Moraes Aguiar e Castro, uma das irms de Manoel Castro, pelo bom tratamento que ali tinha e por ter o receio de que:

    ... a pertubem do sucego, equietaam em que vive: roga a Vossa Magestade que... lhe faa a graa mandar a que naum seja constrangida ahir para outra qualquer parte... se quer conservar na caza e companhia da dita sua commadre...24

    Os documentos consultados seguem um mesmo padro de identificao, logo no incio dos mesmos esto presentes os nomes dos indgenas e a vilas as quais pertenciam. Para Maria Regina Celestino de Almeida, quando os ndios buscavam suas mercs diante das autoridades coloniais identificavam-se como pertencentes a alguma aldeia, pois Essa identificao definia o lugar social do ndio na rgida hierarquia do Antigo Regime, e, alm de lhes impor uma srie de obrigaes, tambm lhes garantia direitos... 25.

    De maneira bastante similar, os ndios Jorge Francisco de Brito26, natural da vila de Chaves, e Antonio Jos27, natural do lugar de Mondim, por meio do mesmo procurador dos ndios, Jacinto Nunes de Abreu, solicitaram concesso de liberdade para poderem se locomover pelo espao colonial sem maiores problemas. No requerimento referente ao ndio Jorge Brito, lemos:

    Diz Jorge Francisco de Brito, filho da India Cristina Furtada naturaes da V de Chaves, Comarca e Bispado do Gra Par, q querendo uzar da sua liberdade, q por Direito natural e Divino, e ainda pela Ley das Liberdades dos Indios lhe he permitida, se v impossibillitado de o fazer, pela sugeia em q se acha os Indios Aldeados, na podendo sahir das mesmas Povoaos p outra qualquer parte, onde lhe convier, e melhor conta lhe fizer, sem q seja por meio de fuga e porq isto ofende na s o Dir.to natural e Divino, seno tabem as Leys de V. Mag.e; motivo porq. Pertende q em virtude dellas se lhe mande passar proviza p usar da sua liberdade como bem lhe parecer, e sem q se lhe possa oppr embarasso algum.28

    No correspondente ao ndio Antonio Jos, alm de requerer sua liberdade, de poder transitar naquele espao sem embaraos, ainda consta que o mesmo gostaria de ir para uma fazenda de gado na Ilha grande de Joannes, de q lhe rezulta m.ta utillidade.29

    Percebemos que mesmo com os pesares que aquela situao lhes impunha e que so descritos na documentao, todos os ndios supracitados no queriam se livrar da condio de aldeados. O prprio Antonio Jos desejava sair do Lugar de Mondim para ir a uma fazenda de

    24

    Bonifcia da Silva [Requerimento apresentado a D. Maria I, em 15/09/1790] Projeto Resgate. AHU, caixa 100, documento 7936. 25

    ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Op.cit. 2009, p.31. 26

    Jorge Francisco de Brito [Requerimento apresentado a D. Maria I, em 23/11/1786] Projeto Resgate. AHU, caixa 96, documento 7606. 27

    Antnio Jos [Requerimento apresentado a D. Maria I, em 23/11/1786] Projeto Resgate. AHU, caixa 96, documento 7607. 28

    Jorge Francisco, idem. 29

    Antonio Jose, idem.

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    gado por algum motivo que lhe parecia interessante e que a documentao no revela. No entanto, fica claro que eles no desejavam estar margem daquele mundo em transformao, estavam inseridos naquela dinmica e buscavam uma maior liberdade de movimentao dentro dela.

    Ao optarem pela vida dentro das vilas e lugares no decorrer da segunda metade do sculo XVIII, os ndios deixavam de lado possveis conflitos e uma constante perseguio que encontravam no interior dos sertes, pois ali no seriam considerados selvagens, no estariam merc de violncias, assim como no estariam sujeitos a um possvel encontro com uma nao inimiga. Como um processo de resistncia, eles tambm relutaram ao no encontrarem nas vilas a dita liberdade promulgada pelas vozes coloniais e garantida pelas leis reais, resistiram atuando atravs dos mecanismos disponibilizados pela prpria metrpole, utilizando sua condio de ndio e vassalos do Rei para garantir sua liberdade e ainda outros interesses que condiziam s suas necessidades.

    A leitura que os indgenas requerentes fizeram do conjunto da legislao, evidentemente, foi bastante distinta daquela realizada pelos demais agentes da colonizao. Em suas percepes, estavam colaborando com o projeto metropolitano, atravs do processo de fixao em determinada vila, pelos trabalhos oferecidos, e em troca queriam a autonomia e a liberdade que fora prevista em lei, quando no a encontravam, tambm optaram por utilizar entre alternativas que permeavam o cotidiano das vilas as instituies portuguesas para fazer valer aquilo que lhes era prescrito por direito.

    Para Jos Alves de Sousa Junior a complexidade das relaes desenvolvidas ao longo da aplicao do Diretrio dos ndios marcada por apropriaes da lei pelos diversos atores que ela procurava englobar ... no cotidiano, se adaptavam, negociavam, faziam concesses, entravam em conflito, estabeleciam alianas, resistiam. 30.

    A implementao do Diretrio vai transformar profundamente a relao dos atores sociais que faziam parte daquele contexto. ndios, colonos, religiosos, agentes da administrao tiveram seus papis conformados pela legislao, mas no s por ela, tambm pelas situaes particulares em que estavam inseridos31.

    30

    JUNIOR, Jos Alves de Souza. O cotidiano das povoaes no Diretrio. Revista de Estudos Amaznicos. Vol. V, n 1, 2010, p.79-106, p.80. 31

    Um caso exemplar do principal da povoao de S.Anna. O indgena ao no ter seu pedido atendido pelo Diretor quis castig-lo com uma palmatria. Manoel Gonalves Geminez, na sua carta para Francisco de Sousa Coutinho, acerca da elaborao dos mapas das vilas ainda afirma que o dito principal tem a confiana de descompor os soldados que levo Cartas minhas, dele mesmo na fala de Diretor, e depois disto escreve me Cartas de satisfao.... Fonte: APEP, Cdice 541, doc. 15.

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    A criao do cargo de Diretor, o novo responsvel pela tutela dos ndios em substituio dos missionrios; a condio dos indgenas como vassalos do rei, possuindo direitos e condies iguais aos homens livres, inclusive assumindo funes administrativas nas povoaes, so alguns exemplos de tais transformaes. O Diretrio dos ndios interveio na sociedade na medida em que transformou lugares de poder entre os atores sociais. A documentao aponta um caso envolvendo uma acusao de um ndio contra o prprio governador do Estado. Em 1 de Maro de 1785, Manuel Pereira de Faria, principal32 da vila de Oeiras e mestre de campos de Auxiliares o mesmo ndio que foi citado no requerimento do principal Cipriano de Mendona e que teve sua solicitao atendida enviou uma carta para a rainha D. Maria I queixando-se das ofensas proferidas pelo governador do Estado Martinho de Sousa e Albuquerque33 que teria lhe ofendido publicamente, chamando-o de negro, cachorro e ainda o ameaou retirar o seu cargo.

    Aps pouco mais de um ano, em Julho de 1786, o governador enviou uma carta para a rainha sobre a representao do ndio Manuel Pereira de Faria, afirmando que no proferiu tais ofensas e no o ameaou de lhe retirar o posto Mestre de Campo de Auxiliares:

    ... por ter para isso pozitiva ordem de V. Mag.e., e menos ordenasse ele se viesse appresentar na salla do palacio todas as sesmarias... mas antes passados poucos dias, elle me procurou, tendo-o ja antes convidado para jantar na minha mesa, e lhe ordenei emfim se recolhesse sua Villa, sendo esta a verdade que se passou...34

    O governador reclama do requerimento contra ele, no qual cita o Juiz de Fora Jos Pedro Fialho de Mendona e o Coronel Manoel Joaquim Pereira de Souza Feijo:

    ... nos quaes so tenho reconhecido no tempo do meu Governo caracter e intelligencia para juntar dezordens, no tenho com tudo o deixado deprocurar todos os suaves meios de os capacitar a viverem em unio... supportando-os, quanto me he possvel... porem os seus genios turbulentos se no conformo com o meu modo de pensa... elles procurando sustentar hum partido contrario do governo, intretem huma correspondencia para essa crte com o sobredito meu antecessor, o qual ali formaliza os requerimentos, que bem lhe parece, e em nome de pessoas que para tal no concorrero, como se pode acreditar do presente....35

    Em anexo encontramos uma atestao autenticada do prprio ndio principal, escrita por Jos Ribeiro, professo na Ordem de Cristo, afirmando que o governador no o destratou. Alguns pontos requerem uma leitura mais ampla. A documentao no nos permite saber com

    32

    Os principais eram as chefias indgenas. Segundo ngela Domingues, na segunda metade do sculo XVIII, tal funo foi alterada na medida em que os poderes coloniais se apropriaram de antigas estruturas de poder dos povos indgenas e as integraram na hierarquia social colonial. Ver: DOMINGUES, ngela. Op.cit. 2000, p.172. 33

    Manuel Pereira de Faria [Carta para a rainha D. Maria I, em 01/03/1785] Projeto Resgate. AHU, caixa 94, documento 7484. 34

    Martinho de Sousa e Albuquerque [Carta para a rainha D. Maria I, em 26/07/1786] Projeto Resgate, AHU, caixa 95, documento 7572. 35

    Idem.

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    mais detalhes as intrigas envolvendo o governador Martinho de Sousa e Albuquerque, entretanto, independente delas, a questo indgena predominante. Manuel Pereira de Faria esteve no centro de uma intriga poltica que envolveu agentes administrativos coloniais importantes em uma disputa pelo poder. Quando Martinho de Sousa acusado de t-lo chamado de negro h referncia direta ao 10 pargrafo da Lei do Diretrio dos ndios:

    Entre os lastimosos principios, e perniciosos abusos , de que tem resultado nos Indios o abatimento ponderado , he sem duvida um delles a injusta , e escandalosa introduca de lhes chamarem Negros ; querendo talvez com a infmia , e vileza deste nome , persuadir-lhes , que a natureza os tinha destinado para escravos dos Brancos , como regularmente se imagina a respeito dos Pretos da Costa de Africa. E porque, alm de ser prejudicialissimo civiliadade dos mesmos Indios este abominavel abso, seria indecoro s Reaes Leys de Sua Magestade chamar Negros a huns homens, que o mesmo Senhor foi servido nobilitar , e declarar por isentos de toda, e qualquer infmia , habilitando-os para todo o emprego honorifico: Na consetir os Directores daqui por diante, que pessoa alguma chame Negros aos Indios, nem que elles mesmos usem entre si desse nome como at agora praticava ; para que comprehendendo elles , que lhes na compete a vileza do mesmo nome, possa conceber aquellas nobres idas, que naturalmente infudem nos homens a estimao , e a honra.36

    Afirmar que um dos principais responsveis por colocar em prtica o projeto metropolitano para o Vale Amaznico estava indo de encontro ao que previa a letra da lei era uma acusao sria. Sousa e Albuquerque prontamente negou as acusaes e ainda destacou o bom trato dado ao principal da vila de Oeiras, inclusive chamando-o para jantar em sua casa. Na referida atestao h uma meno na qual Manuel de Faria acabou por confirmar o que o governador tinha escrito. O Juiz de Fora Jos Pedro Fialho de Mendona e o Coronel Manoel Joaquim Pereira de Souza Feijo, juntamente com Telo de Menezes poderiam ter utilizado em proveito a intriga gerada pela discusso entre Manuel de Faria e Martinho de Sousa. Procurando se livrar da acusao, este por sua vez procurou o ndio por uma soluo que lhe beneficiasse, negociando a mesma, o que de fato visto na atestao do indgena. Se ocorreu dessa forma, a atuao do principal foi fulcral para a resoluo da questo, do contrrio, se tudo fora um plano engenhoso contra Martinho de Sousa e Albuquerque, o indgena Manuel de Faria ainda possuiu um papel central no conflito, demonstrando-nos a imbricada relao social e de poder que estava envolvido. Alados na condio de vassalos do rei, portanto, em tese, colocados na mesma condio jurdica que os demais colonos, os indgenas do Vale aprenderam a lidar com as formas de poder institudas e participaram dela, inclusive no que condiz participao efetiva 36

    DIRECTRIO que se deve observar... In: ALMEIDA, Rita Helosa. Op.cit., 1997, p. 375-376.

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    na exportao de produtos oriundos do comrcio. No final do ano de 1777, D. Toms Xavier de Lima Vasconcelos Brito Nogueira Teles da Silva, secretrio de estado dos Negcios do Reino e Mercs, tambm visconde de Vila Nova de Cerveira, recebeu uma carta acerca da inteno dos ndios das Vilas de Faro e Alenquer de enviarem para Portugal, salsaparrilha e leo de copiva pelos navios da Companhia Geral de Comrcio do Gro-Par e Maranho37.

    Conforme supracitado38, uma inflexo gerada pelo Diretrio dos ndios est justamente na incluso do indgena na sociedade lusa como at ento no havia ocorrido. Cabe lembrar que os indgenas tambm se incluram naquela sociedade, procurando alternativas e um modo de vida no qual acreditaram que seria melhor do que a atual situao em que se encontravam a vida nos sertes.

    No se trata de uma mera reao aos dispositivos e investidas coloniais, trata-se de uma percepo do mundo que os cercava, das mudanas que ocorriam e como melhor tirar proveito daquilo. Para Maria Regina Celestino de Almeida: Apesar da condio subalterna, opressiva e restrita na qual ingressaram nas aldeias coloniais, os ndios foram capazes de se rearticular social e culturalmente... 39.

    Essa rearticulao, afirma a historiadora, ocorre na medida em que o ndio assume a nova identidade imposta pelos colonizadores, vassalos leais ao rei portugus, sem tornarem-se um objeto amorfo e malevel aos objetivos europeus, elaborando estratgias de sobrevivncia, inclusive dentro das prprias vilas.

    A lida e trato construdos pelos ndios no ltimo quartel do sculo XVIII mas no somente nesse perodo respondem a uma transformao nas prticas culturais e sociais destes povos, o que estava relacionado a uma forma de se posicionar diante daquela sociedade em transformao. Os exemplos j explorados na documentao nos mostram que a tentativa de utilizar os meandros da lei para manter um espao social onde poderiam ter algum benefcio vlida. Com aes que surgiam no cotidiano de suas vidas no Vale Amaznico, os ndios aldeados atuaram utilizando instrumentos disponibilizados pelo Estado portugus, atravs dele e tambm, revelia do mesmo.

    O acmulo de um conhecimento vindo atravs da experincia de contato no se deu de uma hora para outra, foi fruto de anos de contato com os europeus, o que lhes possibilitou um domnio de uma srie de signos e procedimentos da cultura letrada e institucionalizada, que

    37

    Joo de Amorim Pereira [Ofcio para o D. Toms Xavier de Lima Vasconcelos Brito Nogueira Teles da Silva, em 31/12/1777] Projeto Resgate, AHU, caixa 78, documento 6508. 38

    COELHO, Mauro C. Op. cit., 2005a, p.24 39ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Op.cit., 2009, p.28.

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    foram apropriadas pelos indgenas para negociar melhores condies de vida na sociedade colonial em formao.40

    Na medida em que os povos indgenas se rearticulavam no mundo colonial, escolher por viver dentro das vilas poderia significar uma forma de resistncia adaptativa, pois buscavam uma alternativa de sobrevivncia e adaptao frente aquele mundo em constante transformao41.

    Tais rearticulaes tambm ocorreram por meio da tomada de iniciativa para viverem dentro das vilas e lugares, tomando a iniciativa no processo chamado de descimento voluntrio42. Em Outubro de 1783, Jos Npoles Teles de Menezes j no final de seu mandato como governador, se vangloriou do descimento de 38 ndios para a Vila de Porto de Moz. Em um ofcio anexado carta do governador para a rainha, nos dado mais detalhes acerca do ocorrido. Segundo Valentim Antonio de Oliveira e Pedro Antonio Mouro, autores do ofcio, os ndios voluntariamente escolheram viver na dita vila com seus antigos amigos, afirmando tambm que o descimento ocorreu sem despesa real:

    Em efficacia pertendem reduzir a parte da gente, q ficou no matto, com aquella brandura e gosto com q elles se recolherao ao gremio da Igreja, o q com facilidade o poderao fazer, e abitando elles nesta V. por assim ficarem e justarem com os mesmos, q no matto ficarao e q s sim sabendo naao existirem elles nesta Povoaao; julgao sem effeito toda a diligencia, que fizerem de outra parte, afim de os recolher, receando tambem algu conspirao contra elles, por lhes faltarem no ajuste, q entre vi fizerao de assistirem todas, e viverem juntos neste V...43.

    A documentao deixa obscurecidos os reais motivos que levaram este grupo de ndios aproximao com a sociedade colonial, no entanto, ela nos mostra que esse processo no apenas responde ao interesse metropolitano sob os ndios, ela revela tambm interesses indgenas. Diante das inmeras mudanas promovidas pelo contato com os colonizadores, cientes de que o modo de vida cujo possuam estava em transformao e, aliado a percepo da qual eram objeto de interesse dos portugueses, a escolha por morar nas povoaes portuguesas pareceu vivel.

    40

    CANCELA, Francisco. Op. cit. 2008, sem numerao. 41

    ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Op. cit., 2009. 42

    O termo descer ou descimento est relacionado ao deslocamento dos povos indgenas do serto (interior da regio) para as aldeias. De acordo com Beatriz Perrone-Moiss eles deveriam resultar da persuaso exercida pelas tropas de descimento acompanhadas de um missionrio. Haveria tambm um processo de convencimento dos ndios que seria melhor para sua proteo fixarem-se nas aldeias portuguesas. PERRONE-MOISS, Beatriz. ndios Livres e ndios Escravos: os princpios da legislao indigenista do perodo colonial. In: CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). Histria dos ndios no Brasil. 2 ed., So Paulo: Cia. das Letras/ Secretaria Municipal de Cultura/FAPESP, 1992, p.115-132. Um ponto interessante a ser abordado posteriormente que na documentao coligida ns podemos perceber como os ndios, principalmente os principais, estabeleciam determinadas condies para colaborarem com o projeto portugus. 43

    Jos Npoles Telo de Meneses [Carta para a rainha D. Maria I, em 17/12/1781] Projeto Resgate, AHU, caixa 90, documento 7356.

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    Casos de descimentos voluntrios no raro aparecem na histria da Amaznia colonial, os motivos so diversos. ngela Domingues44 afirma que muitos dos atos voluntrios de aldeamento so explicados por razes que envolveram desde a questo climtica, doenas, carncia por alimentos e at os conflitos intertribais.

    Em todo caso, o fato dos povos indgenas procurarem os ncleos populacionais portugueses revelam a ao indgena frente uma poltica indigenista implementada pela metrpole. Face necessidade metropolitana de mo de obra e motor populacional, os ndios do Vale Amaznico tambm procuravam garantir seus objetivos diante das mudanas ocorridas no espao que conheciam. Podemos visualizar tal negociao no famoso caso do processo de estabelecimento de paz com os ndios Muras, quando o tenente coronel Joo Baptista Mardel possuiu ao seu encontro o ndio principal Ambrzio. Conforme podemos ver no documento o tenente afirma que este indgena fora ao seu encontro para falar sobre estabelecimento de uma povoao no lago do Aman. Percebemos as questes referentes a escolha indgena do local de estabelecimento da povoao, e ainda, o fato do ndio Ambrzio prometer ao agente administrativo a tarefa de descer outros ndios e estabelecer a paz com os luso brasileiros. No trecho:

    ...e entre todas as praticas que lhe fiz, ainda que no to energicas como V. Ex. servido instruir-me, me respondeu, que elle ia j dar principio sua povoao no lado do Aman em uma tapera aonde em outro tempo esteve a povoao de Alvares... Que elle depois de dar principio povoao que pretendia fazer grande, para o que j trazia um principal Chumana com parte da sua gente, toda corpolenta, e muito trabalhadores; devendo depois vir o resto que nas terras do Jupur desta nao ficaram; pretendiam passar ao Juru praticar o Mura d aquelle rio, de quem elle era socio, e pl-os de paz, reduzindo-os a fazer, ou no mesmo Juru, descerem com elle a augmentar a povoao ou povoaes no mesmo Aman... Apresentou-se-me estre troo do Ambrozio, e principal Chumana com dezenove pessoas adultas, e algumas crianas; entre aquellas vinham dois Muras... um cunhado do Ambrozio, e outro que supponho, como espia, que para acompanhar teria deixado o primeiro principal que me appareceu e que pratiquei, e que tambem diz pretende no mesmo lago aonde tem muitos alliados Muras fazer a sua povoao, que se entendeu ser junto com o indio Ambrozio... D este troo como do primeiro, foram mais de cem almas em direitura para o Aman, receiando vir minha presena; mas conversaram e estiveram no Maripi, e no caminho com o director, a quem verdadeiramente se deve ser o instrumento de que Deus se serviu... Das promessas que o primeiro principal Mura me fez, de praticar os mais de uma e outra margem do Amazonas, j se percebeu alguma utilidade (segundo me dizem, e que ainda no dou por certo)... 45

    44

    DOMINGUES, ngela. Op.cit. 2000, p.135-151. 45

    Noticias da voluntaria reduco de paz e amizade da feroz nao do gentio Mura nos annos de 1784, 1785 e 1786. Revista do Instituto Histrico Geogrfico Brasileiro. Tomo 26, 1904(1873), pp. 323-392. pp. 331-334.

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    ngela Domingues aduz que os processos de descimentos por vezes foram mediados por indgenas que, por diversos motivos (guerra intertribal, formao de alianas, obteno de novos produtos, abastecimento regular de produtos, inclusive produtos mdicos) preferiam a vida nas aldeias como alternativas colonizao46.

    Outro exemplo envolve o governador do Par, Francisco de Sousa Coutinho. Ao escrever sobre a nao dos ndios Carajs afirmou que os mesmos tm um relacionamento amigvel e que conseguiu junto com o principal da nao, mais um grupo de ndios, estimando doze ou treze indivduos. O mais interessante est em uma nota que Coutinho fala sobre a visita do principal dos Carajs. Nela podemos perceber como os indgenas utilizavam a seu favor a relao que possuam com os portugueses, no caso, um conflito contra a nao

    dos Apinags foi um dos motivos: O principal dos Carajs, que veio no anno passado cidade, requerendo-me auxilio para se recolher livre dos insultos que houvera de receber dos Apinags, e requerendo-me que queira descer e vir situar-se perto de Alcobaa, mandei um furriel com cinco ou seis soldados em duas montarias ou igarits a reconhecer a povoao delles e a navegao daquelle rio...47

    Consideraes finais As polticas indgenas analisadas neste artigo so entendidas como instrumento de

    resistncia adaptativa ao processo de colonizao e civilizao dos ndios no Vale Amaznico. Como j citado, mas ainda cabe ressaltar, no foi meu intuito promover a ideia da qual os povos indgenas sempre souberam driblar e se valer da lei a todo o momento para lidar com a sociedade colonial, afinal, o acesso s instituies jurdicas administrativas fora apenas um dos meios de luta encontrado e, ainda assim, nem sempre utilizado por todos aqueles povos indgenas. As fugas, as guerras e demais conflitos, juntamente com um nmero de mortes incontveis de ndios, tambm fizeram parte da colonizao da Amrica portuguesa.

    Todavia, a caracterizao desse conjunto de complexas relaes desenvolvidas entre os atores histricos no Vale Amaznico ndios e no-ndios torna-se mais vlida do que uma percepo unilateral da ao de tais sujeitos. o entendimento do processo total e, portanto, das aes de colonos, ndios, religiosos, etc. que torna a anlise mais completa, portanto, o objeto apresentado neste captulo apenas uma das facetas que ocorreram.

    Os requerimentos e atitudes protagonizadas por ndios e ndias no ltimo quartel do sculo XVIII, solicitando liberdade, aproximando-se da sociedade colonial e elaborando uma 46

    DOMINGUES, ngela. Op.cit. 2000, p.281 47

    Viagem de Toms de Sousa Vila Real pelos rios Tocantins, Araguaia e Vermelho, acompanhada de importantes documentos oficiais relativos mesma navegao. Revista do Instituto Histrico Geogrfico Brasileiro.Tomo 11, 1848, pp. 401-444; p. 403.

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    negociao para a fixao em determinada povoao, a preferncia a ser integrado ao sistema de trabalho estabelecido pelo Diretrio dos ndios, revelam que diante de um mundo em transformao procuraram estabelecer uma autonomia que respondia aos seus interesses na opo do menor prejuzo.

    Incorporados sociedade colonial, os indgenas que foram apresentados neste captulo resistiram de diversas formas s violncias e prticas as quais lhes eram acometidas no cotidiano das vilas e lugares do Diretrio dos ndios. Protegeram-se de tais investidas, negociaram, perderam, ganharam, agiram revelia da lei, entretanto tambm souberam utilizar a justia colonial disponibilizada para valerem-se do que acreditavam serem seus direitos legais mesmo que fossem ameaados de punio por tentarem judicialmente algo contra os colonos que os mantinham ou tentavam mant-los na condio de cativos.

    Este captulo, ao inici-lo, possua como objetivo tratar de uma lacuna acerca da histria indgena no que tange o processo de colonizao da Amaznia. Ao adentrarmos nos diversos casos que fizeram dessa experincia histrica um palco de aes diversas possvel perceber mesmo na ausncia de registros a prprio punho, ou sendo lidos de diversas formas pelos agentes que lhes representavam frente s instituies jurdicas que os indgenas que viveram no Vale Amaznico durante o sculo XVIII, e mais precisamente no ltimo quartel do mesmo, tambm foram protagonistas da complexa formao do espao social amaznico.

    Morar e viver nas vilas eram opes que envolviam a garantia da sobrevivncia e a preservao de um espao onde poderiam manter parte de seus interesses. No foram apenas vtimas, no foram apenas algozes, foram integrados, contudo, e tambm de suma importncia, integraram-se, e a sua integrao foi fruto de um embate de foras em uma luta cotidiana de reapropriaes e ressignificaes.

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    DIRECTRIO que se deve observar nas Povoaes dos ndios do Par, e Maranho em quanto Sua Magestade no mandar o contrrio. In: ALMEIDA, Rita Helosa. O Diretrio dos

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    Joo de Amorim Pereira [Ofcio para o D. Toms Xavier de Lima Vasconcelos Brito Nogueira Teles da Silva, em 31/12/1777] Projeto Resgate, AHU, caixa 78, documento 6508. Josefa Martinha [Requerimento apresentado a D. Maria I, em 11/02/1779] Projeto Resgate. AHU, caixa 82, documento 6716.

    Jos Npoles Telo de Meneses [Carta para a rainha D. Maria I, em 17/12/1781] Projeto Resgate, AHU, caixa 90, documento 7356.

    Jorge Francisco de Brito [Requerimento apresentado a D. Maria I, em 23/11/1786] Projeto Resgate. AHU, caixa 96, documento 7606.

    Madalena [Requerimento apresentado a D. Maria I, em 15/09/1779] Projeto Resgate. AHU, caixa 83, documento 6853.

    Manuel Pereira de Faria [Carta para a rainha D. Maria I, em 01/03/1785] Projeto Resgate. AHU, caixa 94, documento 7484.

    Maria Silvana [Requerimento apresentado a D. Maria I, em 07/06/1785] Projeto Resgate. AHU, caixa 94, documento 7507.

    Martinho de Sousa e Albuquerque [Carta para a rainha D. Maria I, em 26/07/1786] Projeto Resgate, AHU, caixa 95, documento 7572.

    Noticias da voluntaria reduco de paz e amizade da feroz nao do gentio Mura nos annos de 1784, 1785 e 1786. Revista do Instituto Histrico Geogrfico Brasileiro. Tomo 26, 1904(1873), pp. 323-392. pp. 331-334.

    Patronilha [Requerimento apresentado a D. Maria I, em 06/01/1779] Projeto Resgate. AHU, caixa 82, documento 6700.

    Patronilha [Requerimento apresentado a D. Maria I, em 07/09/1779] Projeto Resgate, AHU, caixa 83, documento 6838.

    Viagem de Toms de Sousa Vila Real pelos rios Tocantins, Araguaia e Vermelho, acompanhada de importantes documentos oficiais relativos mesma navegao. Revista do Instituto Histrico Geogrfico Brasileiro.Tomo 11, 1848, pp. 401-444.

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