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AVALIAcAO DA ESTABILIDADE DAS ENCOSTAS DO RESERVATORIO DA UHE MIRANDA Jose Carlos Virgili Antonio Carlos Magalhaes ESC Consultoria e Engenharia Ltda. Rua Gonsalves Dias, 3.172 - 3° andar CEP.: 30.140-093 - Belo Horizonte - MG E Mail: [email protected] RESUMO O reservatorio da UHE Miranda e circundado por encostas basalticas (principalmente) e gnaissicas . Estas encostas tem declividade media de 30° e maxima de 50-60°. Estao recobertas quase que totalmente por coluvios basalticos argilosos, pouco susceptiveis a erosao. Analises de estabilidade feita para estas encostas , para verificar o seu comportamento quando da implantacao do reservatorio , considerando todos os aspectos pertinentes (geologicos, geotecnicos , geomorfologicos , pedologicos , use e ocupacao do solo. instabilidades ja instaladas , deplecao do reservatorio ), mostraram que as encostas sao estaveis, nao devendo apresentar processos de ruptura relevantes apos o inicio de operarao da hidreletrica . Esse projeto integra o Plano de Controle Ambiental - PCA, apresentado pela CEMIG e aprovado pelo Conselho Estadual de Politica Ambiental - COPAM, dentro do processo de licenciamento ambiental em curso nesse orgao. I - INTRODU4AO O trabalho apresenta resumidamente os estudos efetuados e resultados obtidos para a avaliacao dos processos erosivos e da estabilidade das encostas, nas areas do entorno do reservatorio da UHE Miranda. apos a implantacao do lago. Os servicos foram coordenados pela IESA - Internacional de Engenharia S.A. e desenvolvidos . no periodo de novembro de 1995 a marco de 1996, em parceria com a ESC .\'.\7/ Senrinririo Nacional de Grandes Barragens 125

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AVALIAcAO DA ESTABILIDADE DAS ENCOSTAS DORESERVATORIO DA UHE MIRANDA

Jose Carlos Virgili

Antonio Carlos Magalhaes

ESC Consultoria e Engenharia Ltda.Rua Gonsalves Dias, 3.172 - 3° andar

CEP.: 30.140-093 - Belo Horizonte - MGE Mail: [email protected]

RESUMO

O reservatorio da UHE Miranda e circundado por encostas basalticas (principalmente) e

gnaissicas . Estas encostas tem declividade media de 30° e maxima de 50-60°. Estao

recobertas quase que totalmente por coluvios basalticos argilosos, pouco susceptiveis a

erosao. Analises de estabilidade feita para estas encostas , para verificar o seu comportamento

quando da implantacao do reservatorio , considerando todos os aspectos pertinentes

(geologicos, geotecnicos , geomorfologicos , pedologicos , use e ocupacao do solo.

instabilidades ja instaladas , deplecao do reservatorio ), mostraram que as encostas sao estaveis,

nao devendo apresentar processos de ruptura relevantes apos o inicio de operarao da

hidreletrica . Esse projeto integra o Plano de Controle Ambiental - PCA, apresentado pela

CEMIG e aprovado pelo Conselho Estadual de Politica Ambiental - COPAM, dentro do

processo de licenciamento ambiental em curso nesse orgao.

I - INTRODU4AO

O trabalho apresenta resumidamente os estudos efetuados e resultados obtidos para a

avaliacao dos processos erosivos e da estabilidade das encostas, nas areas do entorno do

reservatorio da UHE Miranda. apos a implantacao do lago.

Os servicos foram coordenados pela IESA - Internacional de Engenharia S.A. e

desenvolvidos . no periodo de novembro de 1995 a marco de 1996, em parceria com a ESC

.\'.\7/ Senrinririo Nacional de Grandes Barragens 125

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Consultoria e Engenharia Ltda. em estreita interacao corn a equipe tecnica da CEMIG.

responsavel pelos estudos e projetos ambientais.

2 - ALGUNS DADOS DO EMPREENDIMENTO

A UHE Miranda , pertencente a CEMIG - COMPANHIA ENERGETICA DE MINAS

GERAIS, e atualmente em final de construcao, esta localizada no rio Araguari, sudoeste do

Estado de Minas Gerais, ocupando areas dos municipios de Uberlandia , Uberaba, Indianopolis

e Nova Ponte . fazendo parte de um conjunto de empreendimentos , formados pelas UHE's de

Nova Ponte ( em operacao ) a montante e Capim Branco (a construir) a jusante (Figura 1).

O reservatorio sera formado por uma barragem de terra e enrocamento, corn uma crista de

1.050 m de comprimento, situada a cota 699 m e com 79 m de altura maxima, cobrindo uma

area de 50 km2 no seu nivel d'agua maximo normal, num comprimento aproximado de 85 km.

Com a operacao da UHE Miranda o nivel de agua do reservatorio tera oscilacoes ao longo do

ano. caracterizando uma faixa de deplecao, tendo como limites os seguintes niveis: N.A.

minimo normal = 693,00 m; N.A. maximo normal = 696,00 m. Em valores aproximados o

N.A. do reservatorio estara acima da cota 693,00 m em 100% do tempo, em 50% do tempo

estara acima da cota 695,7 m e em 93% do tempo estara acima da cota 694,5 m. 0

reservatorio tera uma faixa de deplecao de 3,0 m, oscilando, na maior pane do ano, entre as

cotas 694.5 m e 696,0 m. A velocidade de deplecao sera baixa, da ordem de 20 - 30 cm/mes.

3 - NIETODOLOGIA

3.1 - Fases de Estudo

Para o desenvolvimento dos estudos adotou-se a seguintes sequencia de estudos: definicao da

area de estudo, situada aproximadamente entre a cota 693,0 m (reservatorio) e 800,0 m;

levantamento e consulta a bibliografia e cartografia existente; fotointerpretacao geolbgica e

geomorfologica preliminar para identificacao dos dominios geologicos, geotecnicos e

geomorfologicos dos locais ja impactados ou susceptiveis a fenomenos erosivos, a

escorregamentos de encostas e a erosao por embates de ondas de origem eolica; cadastramento

de formas de use e ocupacao dos solos; levantamentos inicial de campo visando aferir a

totointerpretacao executada, formular preliminarmente os modelos de interesse, orientar uma

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nova Ease do detalhamento da fotointerpretacao, identificar e caracterizar preliminarmente as

feicoes erosivos e de instabilidade de encostas; fotointerpretacao conclusiva visando a

consolidacao dos dominios e modelos, identificacao dos locais portadores de erosao, selecao

de encostas passiveis de ocorrencia de escorregamentos. A pre-selecao de encostas para

estudo mais detalhado de campo foi feita a partir de suas declividades. Foram selecionadas

para estes estudos aquelas corn declividades superiores a 25° num total de 45; levantamento

conclusivo de campo visando o detalhamento dos aspectos geologicos, geotecnicos,

geomorfologicos, pedologicos, de use e ocupacao do solo; caracterizagdo detalhada dos focos

erosivos e das encostas passiveis de escorregamentos, quanto as suas causas, previsao de

evolucao e criticidade; consolidacao dos modelos geologico, geotecnico, geomorfologico e

pedologico; elaboracao de mapas tematicos; analise de estabilidade das encostas; elaboracao

de mapas com as areas de risco quanto a escorregamento de encostas e solapamento por

embate de onda, com graduacao de criticidade, areas portadoras de erosao.

3.2 - Caracterizacao da Area

• Geologia e Geotecnia

A area e constituida basicamente por basaltos que constituern a unidade geologica mais

importante para os estudos. Gnaisses ocorrem localizadamente na porcao jusante do

reservatorio. nas proximidades da barragem, e tambem na porcao montante, proximo a UHE

Nova Ponte. A unidade basaltica e composta por quatro derrames, quase sempre intercalados

por camadas centimetricas a metricas de arenito silicificado. A1em do arenito, observa-se entre

os derrames ocorrenci.as de basalto amigdoloidal, quase sempre mais intemperizado que os

outros niveis basalticos. A diversidade de derrames associados aos basaltos confere ao relevo

o aspecto escalonado, estando as areas planas no contato entre os derrames, e as escarpas ou

encostas de major declividade, desenvolvidas num tinico derrame. A area dos entornos do

reservatorio encontra-se praticamente toda recoberta por solos coluvionares argilosos. de

proveniencia basaltica, que estao assentados sobre solo residual, saprolito, substrato rochoso

basaltico (predominante) ou gnaissico. Estes solos estao descritos resumidamente a seguir. Os

parametros de resistencia (coesao e angulo de atrito) e peso especifico associados foram

estimados a partir de bibliografia, principalmente do projeto da UHE Nova Ponte, e tambem

com base na experieneia tecnica da equipe que desenvolveu os estudos, adquirida em

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trabalhos realizados em macicos semelhantes. Os valores utilizados foram adotados

considerando-se tambem a escala do estudo em questao, ou seja, encostas com pequenas

espessuras de solo, cujos valores de SPT sao inferiores a 10 golpes.

- solos aluvionares : sao restritos no dominio do reservatorio em estudo. Os depositos ativos

ocorrem no leito do rio Araguari , atualmente sendo explorados como material de

construFao em diversos pontos do trecho estudado; sAo, neste caso , bastante arenosos.

Ocorrem ainda os terracos aluvionares antigos , compostos por areias, argilas e siltes, na

forma de platos pouco extensos , alcados logo acima do leito do rio. Todos os aluvioes

serao totalmente inundados pelo reservatorio.

- solos coluvionares : sao os solos mais importantes para o estudo em questao; recobrem

praticamente toda a area de interesse ; tern proveniencia basaltica e constituicao argilo-

arenosa ou argilo-siltosa, com presenca, em alguns locais, de fragmentos de rocha de

diferentes dimensoes (diametro maximo de 30 cm ) e estagios de decomposicao; sua

espessura varia em geral de 4 m nas encostas mais suaves a poucos centi : metros nas

encostas mais ingremes ; cor marrom avermelhada; coesao de 2,0 tf/m2, angulo de atrito de

25° e peso especifico de 1,6 tf/m3. Quando no dominio dos gnaisses , o horizonte

coluvionar , tambem de proveniencia basaltica, mas com alguma influencia de fonte

gnaissica . tem constituicao predominante argilo-arenosa e os parametros de resistencia c

indice fisico sao: coesao de 2,0 tf/m2 , angulo de atrito de 27° e peso especifico de 1,6

tf/m3. Em ambos os casos estes solos tern Como caracteristica geotecnica marcante,

principalmente para o estudo em questao , a sua baixa susceptibilidade a erosao.

solo residual maduro de basalto: aparece abaixo do coluvio e e muito semelhante a este, a

excecao da presenca de fragmentos de rocha imersos na matriz argilosa . Na maior parte

dos casos a muito dificil a distincao entre estes dois tipos de solo. Para efeito da estimativa

de espessura , considerou - se este horizonte de solo residual como parte do horizonte de

coluvio, isto e , as espessuras estimadas para este ultimo englobam os dois horizontes. Tern

coesao de 2,0 tf/m2, angulo de atrito de 2 5° e peso especifico de 1,7 tf/m3. A semelhanca

do horizonte coluvionar . a muito pouco susceptive ] a erosao.

solo residual jovem de basalto : aparece abaixo do horizonte constituido pelo coluvio/solo

residual maduro de basalto . Em muitos locais, principalmente naqueles de topografia mais

ingreme . este solo praticamente nao aparece. ou tern espessura muito pequena, com o

coluvio/solo residual maduro estando assentado diretamente sobre o macro rochoso. Nits

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encostas mais suaves, inferiores a 30°, sua espessura a de cerca de 2 m. Tern constituigao

argilo-siltosa a areno-argilosa (areia fina), cor vermelho arroxeado/amarelado, coesao de

1.5 tf?m , angulo de atrito de 30° e peso especifico de 1,7 tf/m3. E medianamente a pouco

susceptive] a erosao.

solo residual maduro de gnaisse: como no caso do solo residual de basalto, este horizonte

e muito semelhante ao coluvio, sendo dificil a distingao entre os mesmos. Sao, no entanto,

mais espessos, devido ao dominio dos gnaisses ser caracterizado por uma maior tendencia

a decomposigao do que os basaltos. Tern coesao de 0,5 tf/m`, angulo de atrito de 29° e

peso especifico de 1,7 tf/m3. E muito pouco susceptivel a erosao.

solo residual jovem de gnaisse: nao foram considerados no estudo, apesar de serem muito

susceptiveis a erosao. Aparecem no entanto em encostas suaves e recobertos por grandes

espessuras de solos argilosos (coluvios e/ou solos residuals maduros de basalto ou

<gnaisse), que impedem a sua exposigao.

talus: no dominio dos basaltos podem ocorrer alguns raros depositos de talus. Sao pouco

espessos (1 a 2 m) e com blocos pequenos (diametro de ate 30 cm).

No dominio dos basaltos , principalmente nas encostas mais suaves , o contato do solo residual

com o macigo rochoso e transicional . Entre estes dois horizontes aparece um saprolito

constituido por uma mistura de solo com blocos de rocha medianamente a muito decomposta.

Abaixo deste aparece o macigo rochoso, com sua pane superior muito ou medianamente

alterada e muito fraturada. Sao frequentes , principalmente nas encostas corn declividade maior

que 40-45°, os afloramentos de rocha sem nenhuma cobertura ou entao sob delgada camada

de coluvio ( no maximo 50 cm). Em muitos casos esta rocha , quando muito decomposta e

fraturada apresenta processo de esfoliagao esferoidal de blocos.

As espessuras dos solos sao variaveis , dependendo da declividade da encosta e de sua origem.

As encostas menos ingremes apresentam maiores espessuras de coluvio e de solo residual. 0

dominio gnaissico e caracterizado por uma maior tendencia a decomposigao que os basaltos e

o seu horizonte de solo residual normalmente e mail espesso e suas encostas bastante suaves,

com declividades inferiores a 25°.

Para efeito das analises e de acordo com as observagoes de campo estabeleceu-se uma

correlagao aproximada e conservadora , para efeito de estabilidade , entre a declividade das

encostas e espessuras dos solos, conforme apresentado adiante no item 3.4.1.

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As areas de gnaisse, por terem uma declividade media muito baixa, na faixa de proximidade

as bordas do reservatorio, nao sao propensas ao fenomeno de escorregamento e nao foram

consideradas para analises deste tipo de fenomeno de instabilidade.

A maior espessura do pacote de solo estudado refere-se ao coluvio/solo residual maduro. A

espessura de solo residual jovem raramente ultrapassa 2 m. o mesmo acontecendo com a

espessura de saprolito.

• Geomorfologia

Na area de interesse a unidade geomorfologica de maior significado frente a implantacao do

futuro reservatorio e a de vertentes convexas e patamares estruturais . Sao zonas de encostas

convexas ingremes e patamares estruturais escalonados evoluidos durante o Quaternario sobre

rochas basalticas cretaceas , predominantemente recobertas por decomposicoes argilosas "in

situ". pouco espessas, corn afloramentos rochosos e rampas de coluvio argilosos.

• Pedologia

Predominam na area do estudo os solos corn horizonte B textural, ou seja, terra roxa, e

podzolicos. seguidos dos latossolos e cambissolos. Os solos com horizonte B textural

apresentam como principal caracteristica um incremento do teor de argila do horizonte A para

o B. A argila transloca-se do horizonte A, depositando-se nas superficies das estruturas

(agregados) do horizonte B, formando a cerosidade. Esta caracteristica dificulta a infiltracao

da agua favorecendo o processo de erosao da camada aravel (30 cm). A diferenca neste caso

entre a terra roxa e os podzolicos a devida ao material de origem, o primeiro a originario do

basalto e o seguindo a relacionado com as rochas do embasamento (gnaisse).

• Uso e ocupacao do solo

Predominam na area as ocupacoes por pasto e pasto sujo (88%), seguidas por mata/capoeira.

As areas cultivadas ou ocupadas por reflorestamento significam apenas 3% da area do entorno

do reservatorio.

• \'entos e ondas

A principal direcao dos ventos tem azimute 225°, com velocidade media de 13 km/h e

mLixima de 80 km/h. Este posicionamento medios dos ventos indica que podera ocorrer

/.?(I XXII Seminario Nacional de Grandes Barragens

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formaFao de ondas direcionadas de nordeste para sudoeste. Os ventos de nordeste sao

aproximadamente perpendiculares ao cixo de major alongamento do reservatorio, indicando

que em locais onde o lago encontre-se encaixado, a acao dos ventos na formacao de ondas

sera bern reduzida devido ao bloqueio topografico do confinamento do reservatorio. 0

direcionamento dos ventos para o azimute 225° podera gerar ondas que afetarao mais

efetivamente a margem esquerda do reservatorio (Figura 1). Para calculo das dimensoes das

ondas foram selecionadas duas encostas, mapeadas como tendo possibilidade de

escorregamento e, situadas frontalmente a direcao dos ventos dominantes. Uma das areas tem

uma grande extensao de reservatorio defronte ela e foi considerada , a princIpio. como mais

crjtica em termos de formacao de ondas e a outra, com pequena extensao de reservatorio

frontal. como pouco critica. Os valores maximos de altura de ondas obtidos foram de 1.76 m

para a primeira encosta e de 0,70 m para a segunda.

3.3 - Indjcios de Instabilidade

A Area de Entorno do reservatorio a caracterizada pela ocorrencia de sulcos e ravinas, ao

longo de parte de sua extensao. Associada quase sempre as encostas recobertas por rampas de

coluvio argilo-arenosos ou argilo-siltosos de origem basaltica , utilizadas para pastagens, a

erosao ocorre mais comumente em locais com declividades que variam entre 15 e 30°. A

origem do processo erosivo esta associada, inicialmente, ao desmatamento e use intensive da

area por pastagens. que. com o pisoteio. favorece o processo de rastejamento do solo. 0 solo

desprotegido e saturado e movimenta-se muito lentamente encosta abaixo. 0 rastejo ocorre

preferencialmente em segmentos suavemente concavos das encostas, onde se concentra o

escoamento pluvial. A saturacao do pacote de coluvio / solo residual maduro, principal

causador do rastejo. tem como superficie de base a rocha subjacente, mais impermeavel. Os

rastejamentos sao acompanhados por abatimentos do solo, estando quase sempre

desenvolvidos em sequencias lineares de alta a baixa encosta. As trincas geradas por estes

processor fztvorecem a concentracao da agua das chuvas e o injcio dos sulcamentos, que

podem evoluir para ravinas. Nao verificou-se no campo, na area de interesse ou proximo dela.

nenhum escorregamento de qualquer porte, mesmo em locais ja afetados por awes antropicas

(estradas. culturas. etc.).

X.\71 Seminririo N'acionalde Grandes Barragens 131

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3.4 - Analises de Estabilidade

3.4.1 - Premissas basicas

Para a execucao das analises foram adotadas as seguintes premissas:

• Declividade das encostas x espessura de solo: de acordo corn o observado no campo e

apresentado anteriormente adotou-se, simplificadarnente e conservadoramente a relacao

apresentada na Tabela 1.

TABELA1

DECLIVIDADE DAS ENCOSTAS x ESPESSURA DE SOLO

DECLIVIDADE (°)ESPESSURA MEDIA DE SOLO (m)

Maximo Minimo

30 20 5

40 30 3

50 40 1

- 50 0,5

• Tipo e caracteristicas do solo : para a elaboracao das analises de estabilidade considerou-

se. conservadoramente , que todo o horizonte de solo a constituido por coluvio/solo

residual maduro . Este tipo de solo, tern resistencia global ao cisalhamento inferior a do

solo residual j ovem e/ou saprolito subjacente.

• Altura do escorregamento : considerou - se que a altura maxima de urn eventual

escorregamento seria de 10 m. De urn modo geral , a partir desta altura, o relevo torna-se

ingreme devido a presenca das escarpas basalticas , corn a rocha estando praticamente

aflorante.

• Fator de seguranca : o fator de seguranca usualmente considerado como minimo aceitavel

para encostas como as do reservatorio da UHE Miranda (pequenas alturas susceptiveis a

escorre(,amentos , baixa espessura de solo. inexistencia de sinais previos de instabilidade.

132 XXII Semindrio Nacional de Grandes Barragens

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reservatorio estreito e com baixa deplerao, talude de pequena responsabilidade, ou seja,

cuja ruptura nao acarretara grandes danos) e de 1,1.

• Modelos de Analise: em funcao do modelo geotecnico determinado para as encostas do

reservatorio (taludes com altura sujeita a instabilizacoes de cerca de 10 m, apresentando

horizonte superficial de coli vio/solo residual maduro, sobreposto a material mais

resistente), pode-se classificar os potenciais mecanismos de ruptura como caracteristicas

de escorregamentos translacionais de solo.

• Metodos de Analise: o metodo de analise de Janbu para analise de estabilidade de

superficies nao circulares planares e adequado para o caso em questao, permitindo ainda

avaliar a sensibilidadc do coeficiente de seguranca das encostas a diferentes situacoes de

nfveis freaticos e, consequentemente, de poropressoes no interior do macigo.

• Parametros para analise: foram considerados nas analises os parametros de resistencia e

indices fisicos abaixo apresentados, e discutidos anteriormente.

coesao: 2,0 Kgf/m`

angulo de atrito:25°

condicoes de saturacao:

total, correspondendo ao abaco 5 de Hoek e Bray

parcial com o nfvel freatico interceptando o talude a 1/3 da altura (abaco 3 - Hoek

e Bray)

parcial, com o nfvel freatico interceptando o talude no pe (abaco 2 - Hoek e Bray)

3.4.2 - Resultados Obtidos

Os resultados obtidos das analises de estabilidade das encostas estao apresentados na

I ahela

.V.V// Se,ninririo Naeional de Grander Barragens 133

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TABELA2RESULTADOS DAS ANALISES DE ESTABILIDADE

SITUACAO DE ANALISE FATOR DE SEGURANCA

ALTURA TALUDE (m) ANGULOTALUDE (°) ESPESSURA SOLO (m) COND .SATURACAO METODO

JANBU

(1) 1,24

30° (2) 1,69

(3) 1,87

5,00 (I) 1,83

20° (2) 2,39

(3) 2.63

(1) 1,10

40° (2) 1,50

(3) 1,63

3,00 (1) 1,43

10,00 30° (2) 1,73

(3) 2,04

(I) 1.55

50° (2) 2,02

(3) 2,10

1,00 (1) 2,04

400 (2) 2,43

(3) 2,56

(1) 3,00

50° 0,50 (2) 3.39

(3) 3,48

Lc,,enda:

(1) Total (abaco 5 - Hoek e Bray).

( 2) Parcial com o nivel freatico interceptando o talude a 1 /3 da altura (abaco 3 - Hoek e Bray).

(3) Parcial com a freatica interceptando o talude no pd (abaco 2 - Hoek e Bray).

4 - AVALIAcAO DE RISCO

Com base nas observacoes de campo, nos resultados das analises de estabilidade efetuadas e

na experiencia da equipe tecnica foi criada uma escala de criticidade da estabilidade das

encostas. considerando-se os diferentes fatores intervenientes, visando obter a percepcao da

potencialidade da ocorrencia de rupturas.

134 X // Seminbrio Nacional tie Grandes Barragens

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Alto risco:

muitos sinais de rastejo e erosao em toda a encosta ; declividade em torno de 30-40°; espessura

de solo de 3 a 5 m: fator de seguranca inferior a 1,1; volume mobilizado grande , em caso de

escorregamento : encosta sujeita a solapamento basal causado por ondas formadas pelo vento:

vegetacao tipo pasto.

Baixo risco:

pouco ou nenhum sinal de rastejo: declividade inferior a 30° ou superior a 50°; espessura de

solo inferior a 3 m; fator de seguranca superior a 1,1; volume mobilizado pequeno em caso de

escorregamento; encosta pouco sujeita a solaparnento basal causado por ondas; formadas pelo

vento; vegetacao mais densa (mata , capoeira).

Considerou-se como de medio risco situacoes intermediarias entre as duas apresentadas

acima.

De acordo com este criterio apenas 9 encostas foram consideradas como de medio risco e o

restante de baixo risco. 0 fator preponderante pars a classificacao das primeiras foi o embate

de ondas.

5-CONCLUSOES

Das observacoes de campo efetuadas e dos resultados obtidos das analises de estabilidade

pode-se concluir em relacao a avaliacao de risco que: a probabilidade de ocorrencia de

rupturas nas encostas marginais ao reservatorio a muito pequena. Mesmo considerando-se

uma situa4ao conservadora em termos de seguranca , como aquela de declividade superior a

30°. espessura de solo de aproximadamente 5 m e saturacao total da massa eventualmente

propensa a escorregamento , o fator de seguranrca e superior a 13. Os solos que capeiam as

encostas. nas proximidades da linha do reservatorio sao muito pouco susceptiveis a erosao.

Deste modo. mesmo com a ocorrencia de ondas formadas pelo vento , o eventual solapamento

do pe das encostas sera minimizado pela caracteristica de resistencia do solo a este fenomeno.

Caso eventualmente venha a ocorrer alguma ruptura , esta mobilizara um volume pequeno de

material pots a espessura maxima na area de solo na area de interesse e de aproximadamente 5

I'll.

.C:\71 Semindrio Nacional de Grandes Barragens 135

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6 - 13113LI OGRAFIA

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encostas marginais do reservatorio Paraibuna - Paraitinga . Relatorio n° 21528,

1985,

LEME-CEMIG. Usina Hidreletrica de Nova Ponte /Projeto Controle dos Processos

Erosivos /Relatorio Final (volume 1). Belo Horizonte, 1995.

LEME-CEMIG . Usina Hidreletrica de Emborcacao/Estudo C-34/Estabilidade das

encostas do reservatorio. Belo Horizonte, 1980.

136 XXII Seminario Nacional de Grandes Barragens

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LEGENDA

0 CIDADE

DISTRITO

RODOVIA (FEDERAL.ESTADUAL)

BARRAGEM

LIMITE DA AREA DE INFLUENCIA

DRENAGEM

REFERENCIA - MAPA GEOGRAF(CO DOESTADO DE MINAS GERAIS - 1980- 10 A

ESCALA 1:500.000 -ATUALIZADO.

5 10 15

ESCAIA ORIGINAL 1 : 500.000

Figura I - Mapa da situacdo

km

XXII Seminr rio Nacional de Grandes Barragens 137

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