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1 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESPÍRITO SANTO Promotoria de Justiça de Ecoporanga Rua Noêmia Martins, 26, Centro – 29.850-000 – Ecoporanga -ES Tel: 27.3755.1135 EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE ECOPORANGA/ES. Inquérito Civil: 2015.0023.2742-67 (IC 004/2016) PEDIDO DE MEDIDA DE URGÊNCIA PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, por intermédio do Promotor de Justiça com atuação na Promotoria de Justiça de Ecoporanga, in fine assinado, com fundamento no art. 129, II e III, art. 1º, III da Carta da República de 1988, c/c art. 1º, IV da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985 (Lei de Ação Civil Pública), vem propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE LIMINARES em face do MUNICÍPIO DE ECOPORANGA, pessoa jurídica de direito público, representada pelo Excelentíssimo Senhor Prefeito Municipal ELIAS DAL COL, pelos fatos e fundamentos adiante expostos: 1. DOS FATOS: Conforme apurado em Inquérito Civil n. 2015.0023.2742-67 (IC 04/2016) instaurado pela Promotoria de Justiça de Ecoporanga ao longo de muitos anos foram surgindo em Ecoporanga parcelamentos ilegais do solo. Apurou-se que atualmente existem de 40 loteamentos clandestinos sendo os seguintes: Homero Amante, Portal de Ecoporanga, Walter Nardacci Figueiredo (2), Vista Alta dos Pinheiros, Primavera, Invasão, Vale Encantado, Jardim Paulista, Argentino Leandro da Silva, João Antônio Teixeira, Angélica Palácio Dal Col, Jorge Antônio de Souza, Amélia Guilhermina de Almeida, Ecoville, Camilo, Geraldo Zortea, Caversan, Délio Rodrigues Correa, Faria Amante, Temponi, Olívia Caldeira, Benedita Monteiro (Prefeitura Municipal de

Rua Noêmia Martins, 26, Centro 29.850-000 Ecoporanga -ES ... · Almeida, Ecoville, Camilo, Geraldo Zortea, Caversan, Délio Rodrigues Correa, Faria ... dos lotes, reserva de áreas

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Rua Noêmia Martins, 26, Centro – 29.850-000 – Ecoporanga -ES Tel: 27.3755.1135

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA

COMARCA DE ECOPORANGA/ES.

Inquérito Civil: 2015.0023.2742-67 (IC 004/2016)

PEDIDO DE MEDIDA DE URGÊNCIA

PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO

SANTO, por intermédio do Promotor de Justiça com atuação na Promotoria de Justiça

de Ecoporanga, in fine assinado, com fundamento no art. 129, II e III, art. 1º, III da Carta

da República de 1988, c/c art. 1º, IV da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985 (Lei de Ação

Civil Pública), vem propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE LIMINARES

em face do MUNICÍPIO DE ECOPORANGA, pessoa jurídica

de direito público, representada pelo Excelentíssimo Senhor Prefeito Municipal ELIAS

DAL COL, pelos fatos e fundamentos adiante expostos:

1 . D O S F A T O S :

Conforme apurado em Inquérito Civil n. 2015.0023.2742-67 (IC

04/2016) instaurado pela Promotoria de Justiça de Ecoporanga ao longo de muitos anos

foram surgindo em Ecoporanga parcelamentos ilegais do solo. Apurou-se que atualmente

existem de 40 loteamentos clandestinos sendo os seguintes: Homero Amante, Portal de

Ecoporanga, Walter Nardacci Figueiredo (2), Vista Alta dos Pinheiros, Primavera,

Invasão, Vale Encantado, Jardim Paulista, Argentino Leandro da Silva, João Antônio

Teixeira, Angélica Palácio Dal Col, Jorge Antônio de Souza, Amélia Guilhermina de

Almeida, Ecoville, Camilo, Geraldo Zortea, Caversan, Délio Rodrigues Correa, Faria

Amante, Temponi, Olívia Caldeira, Benedita Monteiro (Prefeitura Municipal de

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Ecoporanga), Campo de Aviação (Prefeitura Municipal de Ecoporanga), Jones Natanael

Alves, Programa Habitar Brasil, Rua Curitiba, Bela Vista (Prefeitura Municipal de

Ecoporanga), Palmeira, Ailton Baeta, Carlito Coimbra, Alvorada (Prohab), Geraldino

Pinheiro dos Santos, Vista Bela, Jovino Petronil, Carlos Geicimar Caldeira, Imperador,

Jardim de Aroma e Parque dos Pássaros, 4 Esteios.

A descrição da infraestrutura existente nos loteamentos acima

descritos está contida nos anexos ao ofício pedido pela Prefeitura de Ecoporanga -

GAB21/2015 - às fls. 06/11. Porém, não se tem informações pormenorizadas como se o

loteamento está inserido em área rural, em área não edificável ou de preservação

permanente, se há registro imobiliário, dentre outros, em que pese o empenho do

Ministério Público em efetuar o presente levantamento junto ao município.

Por outro, lado, por recomendação do Ministério Público, a

Prefeitura de Ecoporanga procedeu à notificação para realização de intervenções dos

loteamentos às seguintes pessoas:

1. Kleberson Leandro da Silva – Loteamento 4 Esteios;

2. Geni Faria Amante – Loteamento Homero Amante e no

Bairro Benedita Monteiro;

3. Maria Odília Baeta – Loteamento do portal de Ecoporanga;

4. Marcos Antônio Figueiredo – Loteamento Walter Nardaci

Figueiredo e na Rua Governador Valadares - Centro;

5. Raustange Alves Rodrigues – Loteamento Primavera;

6. Argentino Leandro da Silva – Loteamento próximo ao rio

Dois de Setembro;

7. Jorge Antônio de Souza – Loteamento Antônio Lopes

Neto;

8. Elias Camilo dos Santos – Loteamento no Bairro Benedita

Monteiro;

9. Geraldo Zorteá – Loteamento na saída para o distrito de

Joassuba;

10. Dalva de Oliveira Carvesan – Loteamento próximo a

Clínica Santa Paula;

11. Eurípedes Pereira de Moraes – Loteamento Imperador;

12. Ilson Lopes Cansado – Loteamento Jardim de Aroma;

13. Jovino Petronil – Loteamento saída para o distrito de

Imburana, Bairro Santa Mônica;

14. David Pereira – Loteamento no distrito de Imburana;

Verificou que estão sob a responsabilidade do município de

Ecoporanga os loteamentos:

1. Invasão – Bairro Santa Mônica;

2. Bela Vista – Bairro Vila Nova;

3. Angélica Palácio Dal Col – Parque de Exposição e Bairro

Vila Nova;

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4. PME (ao lado do campo de aviação) – Bairro Vila Nova;

5. Programa Habitar Brasil – Bairro Santa Mônica;

6. PME – Bairro Vila Nova.

Contudo, parcelamentos desse tipo não possuem equipamentos de

bem-estar e obras básicas adequadas de infraestrutura, como aquelas destinadas ao

adequado escoamento das águas pluviais, esgotamento sanitário, coleta de lixo,

abastecimento de água potável, iluminação pública, energia elétrica pública e domiciliar,

vias de circulação e áreas públicas (verde e institucional) corretamente projetadas.

Nos dizeres de Cláudia Maria Beré, em artigo que publicou na

revista Temas de Direito Urbanístico nº. 4, Imprensa Oficial, 2005, pág. 215, nos

parcelamentos ilegais do solo a população vive sem segurança na posse, seja pela

impossibilidade de registrar seus títulos ou, pior, por haver comprado seus lotes de quem

não era dono. Vive, igualmente, em condições urbanísticas precárias, em locais

impróprios para o parcelamento, por vezes distantes dos centros urbanos (zona rural), por

vezes em locais que acarretam risco à saúde (terrenos aterrados com lixo) ou à

incolumidade física (áreas com risco de inundações e deslizamentos). Muitas vezes não

foram executadas as obras de infraestrutura e os locais não possuem os serviços urbanos

básicos, como água, esgoto, luz. Não há equipamentos públicos próximos, tais como

creches, escolas, postos de saúde. Não há transporte coletivo nas proximidades. A

ilegalidade dos parcelamentos do solo desenha um quadro de exclusão social que precisa

ser revertido.

A infração, praticada por alguns, é reiteradamente copiada por

outros, proliferando-se os loteamentos clandestinos. Inúmeras pessoas acabam residindo

em áreas rurais, gerando esgoto, lixo, demandando outros serviços públicos, mas com

construções não aprovadas, sem recolhimento dos impostos incidentes (INSS da obra,

IPTU etc) e em total desrespeito ao Plano Diretor.

Os prejuízos afetam o desenvolvimento de toda a cidade,

envolvendo questões urbanísticas e ambientais (danos à flora, fauna, recursos hídricos,

contaminações do solo etc). Os ônus acabam suportados pela comunidade, em especial

pelos que respeitam a legislação.

Situações de ilegalidade desse tipo de parcelamentos do solo

somente ensejam uma de duas possíveis soluções: ou se regulariza o parcelamento, após

o cumprimento de todas as exigências legais (inclusive aquelas que determinam o

cumprimento de padrões urbanísticos, a realização de obras, etc.), ou, em sendo inviável

tal regularização, procede-se ao seu desfazimento, tanto no aspecto fático, fazendo o

imóvel retornar às suas características originais, quanto no aspecto jurídico.

Tais ações se incluem dentre as obrigações do poder público

municipal descritas na Lei de Parcelamento do Solo Urbano, Estatuto da Cidade, Plano

Diretor Municipal, que possui o poder de polícia para tanto, o que não foi atendido pelo

município de Ecoporanga.

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A Municipalidade, além de se omitir quanto ao dever de

fiscalização quando da implantação dos loteamentos e ainda pelo fato de não executar as

ditas obras e serviços, também não compeliu os responsáveis a realizá-las, consoante

prescrito na Lei de parcelamento do solo urbano.

Embora o Município de Ecoporanga tenha notificado os

responsáveis pelos loteamentos, não adotou qualquer outra medida para resolver a

questão. Repita-se, não impediu que os lotes fossem comercializados antes da aprovação

do projeto e registro e, mesmo depois de consolidada a situação, não promoveu sua

regularização como determina a lei.

Assim, em face da flagrante omissão do poder público municipal

em fiscalizar e regularizar o parcelamento do solo de Ecoporanga e até mesmo em

fornecer dados relacionado a este, é a presente demanda para que este proceda ao seu

levantamento, use o poder de polícia para compelir os loteadores para regularizar os

loteamentos existentes, desfaça-os, não sendo possível a regularização ou, caso

impossíveis tais medidas, que pratique todos os atos necessários para a oferta da

infraestrutura legal destes.

FUNDAMENTOS JURÍDICOS

ILEGALIDADE DO PARCELAMENTO DO SOLO –

INFRAÇÃO À ORDEM URBANÍSTICA

Com o propósito de disciplinar o uso do solo urbano, assim

garantindo condições satisfatórias de habitação à população urbana, com respeito ao meio

ambiente urbano e natural, editou-se a Lei nº. 6.766, de 19 de dezembro de 1979.

Este diploma, em seu artigo 2º., definiu loteamento para fins

urbanos como sendo toda a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação, com

abertura de novas vias de circulação, modificação ou ampliação das vias existentes.

Ainda, definiu desmembramento com o mesmo teor, mas com a diferença de não haver

abertura de novas vias de circulação, ou seja, quando houver integral aproveitamento do

sistema viário existente.

Ali também estão consignados os requisitos mínimos para que

qualquer parcelamento seja aprovado, registrado e executado, tais como medidas mínimas

dos lotes, reserva de áreas públicas, obrigatoriedade de obras mínimas de infraestrutura

urbana etc., requisitos esses que sempre devem ser analisados em conjunto com a

legislação de cada município.

Prestigiando a necessidade de licença oficial, a Lei 6.766/79 proíbe

que o parcelamento se inicie sem a autorização dos órgãos públicos (arts. 12 e 13). E essa

norma, que submete o parcelamento à aprovação e ao registro, é de ordem pública, motivo

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pelo qual seu descumprimento importa grave ofensa à comunidade, a ponto de configurar

delito contra a Administração Pública (art. 50, I, e par. único, I), de natureza formal,

caracterizado pela simples potencialidade de dano, perigo esse abstrato e presumido pela

lei com a mera prática da conduta incriminada (cf. RUY ROSADO DE AGUIAR JÚNIOR,

“Normas penais sobre o parcelamento do solo urbano”, “in” “Direito do Urbanismo -

Uma Visão Sócio-Jurídica”, coordenação de Álvaro Pessoa, IBAM/SP, 1981, págs. 212

e 214; JORGE MEDEIROS DA SILVA, “Direito Penal Especial”, Ed. Revista dos

Tribunais, 1981, pág. 68; ARNALDO RIZZARDO, “Promessa de Compra e Venda e

Parcelamento do Solo Urbano”, Ed. Revista dos Tribunais, 1983, 2ª ed., pág. 170; RT

637/243).

Em verdade, a modificação ou a criação de áreas urbanas é, por

natureza, uma função pública, atribuída, essencialmente, ao Município.

Por essa razão, o parcelador, demonstrando ser dono do imóvel a

ser parcelado, antes de iniciar o empreendimento, deve submetê-lo à aprovação do Poder

Público, ao qual cabe subordiná-lo à satisfação dos padrões de desenvolvimento urbano

definidos pela legislação, dentre os quais figuram, no mínimo, os indicados na Lei

6.766/79 (art. 4º, I a IV e §§) e no Plano Diretor (Lei Municipal nº. 1.235, de 2006).

Em última análise, o sistema instituído por esse diploma está

impregnado pela ideia de que o parcelamento do solo, por se assentar na exploração do

domínio, deve subordinar-se, como aquele direito, à sua função social.

Bem a propósito, comentando a noção de propriedade que anima a

atual Constituição, JOSÉ AFONSO DA SILVA salienta que “o constituinte desejou

inserir, na estrutura mesma da concepção e do conceito de propriedade, um elemento de

transformação positiva que a ponha ao serviço do desenvolvimento social (...), de tal

sorte que a propriedade não se concebe senão como função social” (cf. “Curso de Direito

Constitucional Positivo”, 8ª ed., Malheiros Editores, 1992, pág. 247).

Em harmonia com esse princípio (que constitui o fundamento da

atribuição, do reconhecimento e da garantia da propriedade), a supremacia geral que o

Estado exerce em seu território sobre todas as pessoas, bens e atividades habilita-o a

múltiplas modalidades de intervenção, como as que se contêm no poder de polícia. Deste

derivam aquelas limitações de ordem pública para o uso das faculdades inerentes ao

domínio e para o exercício das atividades econômicas, que se condicionam, portanto, à

satisfação das necessidades vitais da coletividade (cf. JOSÉ AFONSO DA SILVA, “Curso

de Direito Constitucional Positivo”, págs. 246 e 256; HELY LOPES MEIRELLES,

“Direito Administrativo Brasileiro”, 17ª ed., Malheiros Editores, 1992, págs. 117-119 e

537-540).

A desordenada ocupação do solo, resultante da não-observância às

normas urbanísticas, conduz:

a) à proliferação de habitações edificadas sem critérios técnicos

(insegurança);

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b) ao surgimento de focos de degradação do ambiente e da saúde

(despejo de resíduos domésticos em cursos d'água, córregos, ruas, disposição de lixo a

céu aberto, desmatamento, comprometimento de áreas de mananciais com perda da

qualidade e redução da quantidade de água - insalubridade);

c) ao adensamento populacional desprovido de equipamentos

urbanos e comunitários definidos em lei (art. 4º, § 2º e art. 5º, parágrafo único, Lei

6.766/79) e incompatível com o meio físico (má localização), gerando o crescimento

caótico da cidade;

d) à marginalização dos seus habitantes com o incremento das

desigualdades sociais e reflexos na segurança da população.

A obediência ou a ofensa aos padrões urbanísticos

necessariamente projeta seus efeitos por toda a parte, alcançando indiscriminadamente

quem more ou, eventualmente, transite pela cidade. Está em causa a defesa de condições

adequadas para a vida coletiva (HELY LOPES MEIRELLES, Direito de Construir, 4ª

edição, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 1983, p. 91), instaurando-se entre os

possíveis interessados "tão firme união que a satisfação de um só implica de modo

necessário a satisfação de todos; e, reciprocamente, a lesão de um só constitui, ipso facto,

lesão da inteira coletividade" (JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA, Temas de

Direito Processual, 3ª série, Ed. Saraiva, São Paulo, p. 195).

RESPONSABILIDADE DO MUNICÍPIO PELA

REGULARIZAÇÃO DOS LOTEAMENTOS

Objetivando o conforto e a estética da cidade e a defesa da saúde e

da recreação dos munícipes, a infraestrutura exigida de loteamentos urbanos assenta-se

em considerações de ordem pública. Por opção política, expressa na legislação de

regência, as prestações impostas ao loteador - continentes do dever de executar obras e

serviços de interesse social -, são necessárias ao bem-estar da coletividade urbana. A

omissão do empresário não torna essas atividades menos necessária - longe disso: apenas

justifica a intervenção saneadora do Poder Público, voltada à realização de tais trabalhos,

por ele mesmo eleitos como indispensáveis ao bem comum.

Aliás, nos estudos contemporâneos de Direito Urbanístico é firme

a tendência de superar a tradicional concepção de que haveria, nesse caso, simples

exercício de faculdade derivada do domínio, para qualificar a modificação ou a criação

de áreas urbanas como uma função pública, atribuída, essencialmente, ao Município. Por

isso se sustenta, na doutrina, que o particular, quando realiza um loteamento urbano e

nele executa obras e serviços de infraestrutura, está, em verdade, "em nome próprio, no

interesse próprio e às próprias custas e riscos (...), exercendo uma atividade que pertence

ao Poder Público Municipal, qual seja a de oferecer condições de habitabilidade à

população urbana" (cf. JOSÉ AFONSO DA SILVA, "Direito Urbanístico Brasileiro",

Ed. Revista dos Tribunais, 1981, págs. 376 e 562-563; em sentido semelhante:

EDUARDO GARCÍA DE ENTERRÍA e LUCIANO PAREJO ALFONSO, "Lecciones

de Derecho Urbanistico", Editorial Civitas, Madrid, 1981, 2ª ed., págs. 113/115 e

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172/174; REGINA HELENA COSTA, "Princípios de Direito Urbanístico na

Constituição de 1988", "in" "Temas de Direito Urbanístico - 2", Editora Revista dos

Tribunais, 1991, págs. 118/127; EURICO DE ANDRADE AZEVEDO, "O Projeto de

Lei de Desenvolvimento Urbano", in "Revista do Advogado", nº 18, julho/85, págs.

36/37).

Exatamente por ser uma atividade essencialmente pública, é a

Administração Municipal quem deve realizá-la, sempre que o loteador se abstenha de

praticar a conduta a que se obrigara. O Poder Público, nessa hipótese, não estará

exercendo, em substituição, uma atividade do particular, mas cumprindo, em verdade,

função que nunca deixou de ser sua. Daí não se segue, por certo, que a omissão do loteador

tenha a virtude de exonerá-lo daquele dever, que segue sendo seu também. Se a

Municipalidade fizer as obras, é claro que deverá buscar o ressarcimento junto ao

empresário, cujo patrimônio a lei onera com esses custos urbanísticos, como contrapartida

da mais-valia que lhe permite alcançar com a realização do loteamento (cf. JOSÉ

AFONSO DA SILVA, "Direito Urbanístico Brasileiro", pág. 552; REGINA HELENA

COSTA, ob. cit., pág. 126). O que a Administração Municipal não pode é invocar, como

defesa, um pretenso "benefício de ordem", para livrar-se de tarefa em cujo cumprimento

encontra sua própria razão de ser.

Situação normal (que integra a fisiologia do sistema) é, portanto, a

de permanência do loteamento na comunidade. E se esta qualifica os serviços e as obras

omitidos como integrantes do seu padrão de desenvolvimento - tanto que os converteu

em norma urbanística - só resta à Municipalidade, para respeitar o interesse coletivo,

executá-los, por si mesma, ou compelir o loteador a agir. Do contrário, o preceito

urbanístico não seria imperativo nem haveria efetivo controle do uso, do parcelamento e

da ocupação do solo urbano. Em última análise, admitir que o loteamento permaneça

como está é impor à cidade a convivência com urbanização a que as normas de regência

são hostis, estimulando, assim, o império da ilegalidade.

Se não bastassem os fundamentos versados nos itens precedentes,

há norma legal, impondo ao Município o dever de agir. Estatui, a respeito, o art. 40, caput,

da Lei 6.766/79: "A Prefeitura Municipal (...), se desatendida pelo loteador a notificação,

poderá regularizar loteamento ou desmembramento não autorizado ou executado sem

observância das determinações do ato administrativo de licença, para evitar lesão aos

seus padrões de desenvolvimento urbano e na defesa dos direitos dos adquirentes de

lotes".

Na interpretação daquele preceito, não se pode dar supersticiosa

importância à expressão legal ("A Prefeitura Municipal poderá regularizar

loteamento..."). Embora o verbo poder melhor se ajuste a mera faculdade (sujeita,

portanto, ao exclusivo arbítrio de seu titular), nem sempre o legislador o emprega nesse

sentido. CARLOS MAXIMILIANO, em obra que nasceu clássica, esgotou esse tema:

"Em geral, o vocábulo pode (...) dá idéia de ser o preceito em que se encontra meramente

permissivo, ou diretório e deve (...) indica uma regra imperativa. Entretanto, estas

palavras, sobretudo as primeiras, nem sempre se entendem na acepção ordinária. Se, ao

invés do processo filológico de exegese, alguém recorre ao sistemático e ao teleológico,

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atinge, às vezes, resultado diferente: desaparece a antinomia verbal, pode assume as

proporções e o efeito de deve. Assim acontece quando um dispositivo, embora redigido

de modo que traduz, na aparência, o intuito de permitir, autorizar, possibilitar, envolve

a defesa contra males irreparáveis, a prevenção relativa a violações de direitos

adquiridos, ou a outorga de atribuições importantes para proteger o interesse público.

Pouco importa que a competência ou autoridade seja conferida direta, ou indiretamente;

em forma positiva, ou negativa: o efeito é o mesmo; os valores jurídico-sociais conduzem

a fazer o poder redundar em dever, sem embargo do elemento gramatical em contrário.

Em regra, para a autoridade, que tem a prerrogativa de ajuizar, por alvedrio próprio,

da oportunidade e dos meios apropriados para exercer suas atribuições, o poder se

resolve em dever (cf. ob. cit., parágrafos 332-333, págs. 336/337).

Ademais, a interpretação literal é, dentre todos, o método menos

seguro para a apreensão do sentido e do alcance de qualquer norma jurídica. As palavras

empregadas pelo legislador são simplesmente o ponto de partida em qualquer exegese,

que não se pode resumir aos limites literais, mesmo porque a análise, de que se trata, é

jurídica e não sintática. Como enfatiza CARLOS MAXIMILIANO, "o processo

gramatical será o primeiro na ordem metódica, em gradação tradicional, porém não em

valor, importância: interpretação, por excelência, é a que se baseia no elemento

ideológico" (ob. cit., pág. 156, par. 122).

De resto, é princípio assente, em Direito Administrativo, que o

poder atribuído à Administração converte-se, para seus agentes, em dever. Não é por

outro motivo que se qualifica o poder de polícia como poder-dever ou dever-poder. Com

a habitual argúcia, HELY LOPES MEIRELLES pontifica: "A ação do Poder Público é

sempre um poder-dever. Se o Município tem o poder de agir em determinado setor, para

amparar, regulamentar ou impedir uma atividade útil ou nociva à coletividade, tem,

correlatamente, o dever de agir, como pessoa administrativa que é, armada de

autoridade pública e de poderes próprios para a realização de seus fins" (cf. "Direito

Municipal Brasileiro", Ed. Revista dos Tribunais, 4ª ed., 1981, pág. 117).

Realmente, não se compreende como possa o agente público

decidir se lhe cabe agir, quando a lei lhe indicou o modo de fazê-lo. A todo poder

correspondem deveres e responsabilidades próprias, exatamente porque se trata de um

direito-função, atribuído ao titular para a consecução de finalidades precisas. Ao agente

público, mais do que a qualquer dos outros integrantes da sociedade, compete o dever de

atuar com o fim de fazer o loteamento realizar o seu escopo e cumprir sua função social.

Não é outra a conclusão que se extrai do sistema instituído pela Lei

6.766/79. Este, sempre que o loteador se mantenha inerte, aponta, claramente, para a

necessidade de realização direta, pelo Poder Público Municipal, das atividades que

condicionaram a aprovação do loteamento. Esse dever (associado ao propósito de dotá-

lo com os meios adequados) justifica a exigência de garantia em parcelamentos com obras

pendentes, providência indicada como requisito do registro (art. 18, inciso V). É ele,

ainda, que anima a previsão de levantamento, pelo Município, das importâncias

depositadas pelos prestamistas, nos casos em que tenha realizado as atividades omitidas

pelo empresário (art. 40).

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Afinal, na execução do loteamento, não há, apenas, o interesse do

empresário, mas, sobretudo, o interesse da coletividade urbana. E a Administração

Municipal é a principal responsável pela consecução dessa meta, responsável, como é,

pelo bem-estar da população urbana e pelo funcionamento harmônico das atividades

locais de interesse coletivo, a ela competindo promover a melhor ordenação da cidade e

a mais justa utilização dos espaços habitáveis (cf. HELY LOPES MEIRELLES,

"Estudos e Pareceres de Direito Público", vol. II, Ed. Revista dos Tribunais, 1977, pág.

443).

Para além desses motivos, outro fundamento, autônomo e

suficiente, permite a extensão de idêntico dever à Municipalidade: a omissão, por esta,

do seu dever de fiscalizar a implantação do loteamento.

Em interessante estudo sobre as licenças urbanísticas, LÚCIA

VALLE FIGUEIREDO argumenta que, no âmbito da Lei 6.766/79, por lhes incumbir a

fiscalização de todo o parcelamento do solo, há "obrigatoriedade de as municipalidades

procederem as obras de infra-estrutura, se estas não forem realizadas pelo loteador" (cf.

"LICENÇAS URBANÍSTICAS", in "Revista de Direito Público", volumes 57-58, págs.

222 a 232, especialmente págs. 223-224).

Diz a ilustre Professora: "Quem deixou de exercer adequada

fiscalização, deverá proceder as obras de infra-estrutura. Os problemas atinentes a essas

obras não dizem respeito aos adquirentes dos lotes. Sequer teriam esses possibilidades

de levar a efeito referidas obras. Não será o particular que deverá arcar com qualquer

ônus. E muito menos não conseguir ver regularizada sua construção porque o loteamento

passa a ter a conotação de loteamento clandestino ou por não ter licença, ou por ter

execução desconforme com a licença outorgada. O particular nada tem a ver com a

omissão do Poder Público" (cf. ob. e loc. cit., pág. 224; em sentido semelhante:

NARCISO ORLANDI NETO, "Os Loteamentos Irregulares e sua Regularização",

"in" "Revista do Advogado", AASP, nº 18, julho/85, págs. 14/15).

PEDIDOS

PEDIDO DE CONCESSÃO DE MEDIDAS LIMINARES1

1 Cláudia Maria Beré, no artigo intitulado O Papel do Ministério Público no Parcelamento do Solo Urbano,

publicado na obra Temas de Direito Urbanístico, volume 3, Imprensa Oficial, 2001, págs. 336/337, destaca:

“A necessidade de se prevenir ou fazer cessar o dano prontamente levou os Promotores de Justiça a

requererem diversos tipos de liminares, as quais, no mais das vezes, têm sido concedidas pelo Poder

Judiciário. São elas:

a) proibição da prática de atos de parcelamento material do imóvel, tais como supressão de

vegetação, movimentação de terras, abertura de ruas, demarcação de quadras e lotes (Agravo de

Instrumento nº. 094.109.5/9, Campinas, TJSP, Rel. Aldemar Silva, j. 05/08/99);

b) proibição de publicidade, vendas e recebimento de prestações (Agravos de Instrumento nº.

066.509-4/6-00, 068.157-4/8-00, 068.159-4/7-00 e 068.160-4/1-00, São Carlos, TJSP, Rel. Cezar

Peluso, j. 04/08/98);

c) colocação de placas ou faixas na área, informando que, por decisão judicial, o parcelamento não

pode ser executado e não podem ser vendidos lotes (Agravo de Instrumento nº. 150.263.4/4,

Cândido Mota, TJSP, Rel. Silveira Neto, j. 08/06/00);

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A Lei 7.347/85, com a redação dada pela Lei nº. 10.257, de

10/07/2001, a par de estabelecer expressamente a possibilidade de utilização da Ação

Civil Pública para a tutela do Meio Ambiente (art. 1º., inciso I) e da Ordem Urbanística

(art. 1º., inciso III), prevê a possibilidade de concessão de mandado liminar (art. 12).

Além disso, a mesma Lei de Ação Civil Pública estabelece serem

aplicáveis à espécie dispositivos do Código de Processo Civil e o Código de Defesa do

Consumidor (arts. 19 e 21).

Prevê o sistema processual civil brasileiro que o Juiz poderá

antecipar total ou parcialmente os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde

que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e haja

fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação.

O Código de Defesa do Consumidor, dispensando pedido do autor

e excepcionando, assim, o princípio dispositivo, autoriza o Magistrado a antecipar o

provimento final, liminarmente, e a determinar de imediato medidas satisfativas ou que

assegurem o resultado prático da obrigação a ser cumprida (art. 84).

No presente caso, é imperiosa a concessão da medida liminar com

esse conteúdo tutelar preventivo, pois estão perfeitamente caracterizados os seus

pressupostos, consistentes no "fumus boni iuris" e no "periculum in mora".

A plausibilidade do direito é manifesta, pois o parcelamento do

solo não foi aprovado pelos órgãos públicos, nem submetido ao registro imobiliário,

providências sem as quais são proibidos o início de obras e a alienação dos lotes (Lei

6.766/79, arts. 2º, "caput", 3º, "caput", 12, 12, 18, 37).

d) exibição de compromissos de compra e venda e apresentação de rol de adquirentes (Agravos de

Instrumento nº. 234.757-1, São Paulo, TJSP, Rel. Álvaro Lazzarini, j. 04/04/95, e nº. 111.330-5/9,

Sumaré, TJSP, Rel. Paulo Shintate, j. 10/08/99);

e) bloqueio de matrícula imobiliária (Agravo de Instrumento nº. 107.879.4/5, São José do Rio Preto,

TJSP, Rel. Ivan Sartori, j. 19/08/99);

f) indisponibilidade ou bloqueio de bens, para garantia do cumprimento de obrigação de fazer e da

indenização pleiteadas (Agravo de Instrumento nº. 99.040-4/6, Bauru, TJSP, Rel. Roberto Stucchi,

j. 09/03/99, e Agravo de Instrumento nº. 119.657.5/9, Vicente de Carvalho, TJSP, Rel. Corrêa

Vianna, j. 28/09/99);

g) anotação publicitária (objeto de parecer no Protocolado CG nº. 8.505/00, da Comarca de

Piracicaba);

h) execução de obras de infra-estrutura (Agravo de Instrumento nº. 120.589-4/7, Vargem Grande do

Sul, TJSP, Rel. Antonio Carlos Marcato, j. 07/10/99).

“O deferimento dessas medidas, necessárias para se prevenir o dano, ou sua propagação, ou a garantir

sua reparação, impõe pesadas restrições ao parcelador, de tal modo que, quando se trata de pessoa solvente,

muitas vezes ela acaba celebrando acordo na ação civil pública, para não ter que sofrer aquelas restrições

ao longo de todo o processo. Tal resultado é muito bom, pois além de haver a solução do problema, essa

solução é relativamente rápida e não fica na pendência de um processo demorado, com inúmeros recursos,

para ser implementada”.

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A situação de ilegalidade apontada nesta inicial deve ser contida

de imediato, para que não se ampliem os danos causados aos padrões urbanísticos, ao

meio ambiente, e certamente, a terceiros que venham a adquirir lotes do imóvel objeto

desta ação, desavisados das consequências nefastas de tal ato.

Urge, assim, seja concedida medida liminar, não sendo razoável

sujeitar a comunidade e os adquirentes potenciais, até o provimento jurisdicional

definitivo, aos efeitos deletérios já mencionados, decorrendo sérios riscos quanto aos

resultados úteis da presente demanda.

Se o parcelamento prosseguir e não houver ampla divulgação da

sua ilegalidade, a reparação ou indenização dos danos urbanísticos e ambientais será de

difícil reparação, com previsível comprometimento do padrão de desenvolvimento

urbano.

Deve-se impedir, portanto, a continuidade do parcelamento, por

meio de provimento cautelar, independentemente de prévia justificação, de sorte a

resguardar a eficácia da ordem, se concedida ao final.

O risco de perecimento do direito é nítido, pois, com o decurso do

tempo, aumentam as possibilidades de que os parceladores vendam outros lotes, que haja

fracionamento dos lotes já vendidos e que outras construções não aprovadas acabem se

iniciando, gerando adensamento populacional sem a respectiva infraestrutura em Zona

Rural, em APA, em área de manancial de abastecimento público e de proteção

permanente.

Diante do exposto, sem prejuízo das penas previstas para o crime

de desobediência (art. 330 do Código Penal) e sob cominação de multa diária, sujeita a

correção monetária e juros, devida por qualquer ato praticado em desacordo à ordem

judicial, estimada, nesta data, em R$1.000,00 (mil reais), que deverá reverter ao Fundo

Estadual de Reparação de Interesses Difusos Lesados, REQUER a concessão de

MEDIDA LIMINARES, inaudita altera pars e sem justificação prévia, para determinar:

1) no prazo de 60 dias, estruturar órgão de fiscalização municipal, regulamentando

procedimentos para o exercício dos poderes de polícia administrativa das edificações,

nos termos da legislação própria, com destaque para as notificações, autuações de

infrações administrativas, de embargos de obras e de interdições de uso de bens imóveis,

contribuindo, assim, para que se evite a proliferação de loteamentos irregulares ou

clandestinos;

2) no prazo de 60 dias efetivar medidas para que os loteamentos já descritos

comprometam-se a fazer o seguinte:

a) Formalizar junto à Prefeitura Municipal de Ecoporanga no prazo de 30 dias

requerimento de aprovação do projeto urbanístico do empreendimento, devidamente

instruído com a documentação necessária e cronograma-físico financeiro de obras, a

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serem executadas após a obtenção do alvará de urbanização e da licença ambiental

corretiva, que devem incluir, pelo menos:

b.1) sistema de esgotamento sanitário, a fim de impedir o lançamento de esgoto in natura

a céu aberto nas vias de circulação e demais lugares, mediante implantação de projeto

que contemple a adequada destinação dos efluentes sanitários;

b.2) sistema de drenagem pluvial;

b.3) implantação de pavimentação, colocação de sarjetas e meio-fio;

b.4) implantação de arborização nas vias públicas, conforme projeto aprovado pela

Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Ecoporanga;

b.5) cercamento das áreas verdes, institucionais, de preservação permanente, praças e

outra áreas não edificáveis;

c) Realizar as obras necessárias à contenção dos processos erosivos verificados no

empreendimento, por profissional habilitado e mediante anotação de responsabilidade

técnica, encaminhando relatório das intervenções realizadas ao compromitente ao final

do prazo;

d) Elaborar e requerer a aprovação dos projetos de esgotamento sanitário e abastecimento

de água à CESAN;

e) Abster-se de iniciar a implantação das obras de infraestrutura do loteamento até a

obtenção da respectiva licença ambiental e aprovação urbanística pelo Município de

Ecoporanga;

f) Elaborar plano de recuperação de área degradada simplificada e apresentar ao órgão

ambiental no prazo fixado no licenciamento ambiental, devendo implantá-lo conforme

cronograma aprovado pelo órgão ambiental;

g) Abrir nova matrícula para o imóvel no cartório do registro de imóveis de Ecoporanga

e efetuar o registro do loteamento no prazo máximo de 03 (três) meses após a aprovação;

h) Apresentar, trimestralmente, à Promotoria de Justiça da Comarca de Ecoporanga,

relatório pormenorizado acerca do cumprimento das obrigações assumidas no presente

ajuste;

i) Exercer imediata e efetiva vigilância sobre as áreas reservadas para áreas institucionais,

verdes e de preservação permanente para impedir eventuais invasões, até o recebimento

do loteamento pelo Município de Ecoporanga;

3) Fixar IMEDIATAMENTE nos loteamentos Homero Amante, Portal de Ecoporanga,

Walter Nardacci Figueiredo (2), Vista Alta dos Pinheiros, Primavera, Invasão, Vale

Encantado, Jardim Paulista, Argentino Leandro da Silva, João Antônio Teixeira,

Angélica Palácio Dal Col, Jorge Antônio de Souza, Amélia Guilhermina de Almeida,

Ecoville, Camilo, Geraldo Zortea, Caversan, Délio Rodrigues Correa, Faria Amante,

Temponi, Olívia Caldeira, Benedita Monteiro (Prefeitura Municipal de Ecoporanga),

Campo de Aviação (Prefeitura Municipal de Ecoporanga), Jones Natanael Alves,

Programa Habitar Brasil, Rua Curitiba, Bela Vista (Prefeitura Municipal de Ecoporanga),

Palmeira, Ailton Baeta, Carlito Coimbra, Alvorada (Prohab), Geraldino Pinheiro dos

Santos, Vista Bela, Jovino Petronil, Carlos Geicimar Caldeira, Imperador, Jardim de

Aroma e Parque dos Pássaros, 4 Esteios placas informativas, esclarecendo-se ao público

que se trata de loteamento clandestino ou em fase de regularização, fazendo constar os

seguintes dizeres: “qualquer edificação no local dependerá de prévia autorização do

município de Ecoporanga, sob pena de embargo da obra, interdição do imóvel ou

demolição”;

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4) Recomende às distribuidoras de energia elétrica e água tratada que se abstenham de

efetuar ligações nos imóveis clandestinos;

5) Notifique os loteadores, adquirentes de lotes, posseiros ou similares às obrigações de

não fazer, de cumprimento imediato, consistentes em se absterem de:

a) realizar vendas, promessas de venda, reservas, hipotecas, ou quaisquer negócios

jurídicos que manifestem intenção de vender lotes do parcelamento (loteamento) aqui

discutido, ou alterar a situação jurídica dos mesmos, inclusive a alienação parcial de

gleba, de lotes ou de chácaras;

b) praticar atos de supressão de vegetação, de terraplanagem, remoção de terra,

demarcação de quadras e lotes, abertura de ruas e vias de acesso ou circulação;

c) iniciar, prosseguir, continuar ou finalizar quaisquer obras, entre as quais, edificação

nos lotes (habitações, poços, fossas, divisas, etc.) ou implantação de redes de águas,

esgoto, eletricidade e de iluminação;

d) modificar, de qualquer forma, o estado atual do imóvel e suas eventuais benfeitorias,

bem como, da vegetação ainda existente;

6) Recomende ao IEMA, INCRA, Polícia Ambiental, Polícia Civil que tomem as

medidas adequadas para que a legislação seja cumprida e que o objeto desta ação seja

acatado;

7) Determine que comunique ao Cartório de Registro de Imóveis de Ecoporanga acerca

da existência de parcelamento ilegal de solo para que este consigne tal informação nas

certidões a ele relativa, promovendo a publicidade e evitando que os consumidores sejam

enganados.

PEDIDOS DEFINITIVOS

Pede-se, ainda, ao final, a TOTAL PROCEDÊNCIA DA AÇÃO

para:

1) que o Município de Ecoporanga notifique todos os loteadores para que

regularizem o parcelamento do solo com a obtenção das aprovações necessárias,

registro perante o Cartório do Registro de Imóveis e execução das obras de

infraestrutura e para que não parcelem ou vendam lotes sem ter as aprovações e

registros, podendo aplicar as sanções cabíveis ao parcelador com advertência,

multa, embargo e até mesmo demolição, na forma do artigo 38 da Lei 6.766/79;

2) em caso nos quais a regularização se mostre inviável, que o Município de

Ecoporanga notifique os loteadores para que desfaçam o parcelamento, com a

recomposição da gleba ao estado anterior, inclusive com a recomposição da

vegetação nativa;

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3) Não sendo efetuada a regularização ou o desfazimento dos loteamentos, que seja

o município de Ecoporanga condenado a promover a execução das obras de

infraestrutura necessária ao regular funcionamento dos loteamentos, conforme

descrito em lei;

4) Tornar definitivas as medidas determinadas a título de liminar;

5) A citação da requerida, no endereço do preâmbulo, para contestar, querendo, a

presente ação, sob pena de serem considerados verdadeiros os fatos aqui narrados;

6) A produção de todas as provas admitidas em Direito, notadamente juntada de

novos documentos, oitiva de testemunhas, realização de perícias e inspeções

judiciais;

7) A cominação, na sentença, de multa diária, para o caso de descumprimento das

obrigações no prazo fixado na decisão que deverá reverter ao Fundo Estadual de

Reparação de Interesses Difusos Lesados;

8) Dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos, desde logo, à

vista do disposto no artigo 18, da Lei n.º 7.347/85, e no artigo 87, do Código de

Defesa do Consumidor;

9) Que seja julgada procedente a ação, em todos os seus termos, condenando-se os

réus nas demais cominações legais.

Dá-se à a causa o valor estimado de R$1.000,00 (mil de reais).

Ecoporanga, 20 de abril de 2017.