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Revista Rumos - Janeiro/Fevereiro de 2015
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Confianaexpressaem uma nota
Agncias de
classificao de risco:
como funcionam
e para que servem
como funcionam
e para que servem
Confianaexpressaem uma nota
E C O N O M I A & D E S E N V O LV I M E N T O P A R A O S N O V O S T E M P O S
EDITORIAL
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N
27
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Ja
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01
5
m ano comea e novas expectativas surgem. cedo para
falar, mas 2015 j desponta com desafios na rea econmi-
ca, o que mostram os artigos do ex-ministro Delfim Net-
to e de Andr Perfeito, economista-chefe da Gradual
Investimentos. Os pequenos negcios e as cooperativas tambm precisa-
ro de criatividade e de estratgia para enfrentar os meses que prometem
ser de restrio ao crdito, como apontam a reportagem e o artigo sobre
o tema. Mas os ajustes econmicos no so novidade no cenrio interna-
cional, cujas economias ainda no se recuperaram plenamente da crise de
2008. Naquele ano, instituies que avaliam a sade financeira de bancos
e pases pelo mundo estiveram no centro dos debates quando as notas
que emitiam no conseguiram capturar a quebradeira que se seguiria... As
agncias de classificao de risco, como so chamadas essas instituies,
so o tema da reportagem de capa; entender como funcionam e para que
servem os graus de investimento (ratings) emitidos permite compreender
melhor o funcionamento das instituies financeiras e conhecer como
construda a nota dada a empresas e organizaes. So anlises comple-
xas que sinalizam para o mercado financeiro a capacidade da empresa de
honrar ou no seus compromissos.
O ajuste fiscal no figura sozinho na agenda do dia, a crise hdrica,
vista em um espectro maior de preservao da natureza o tema da
entrevista com o advogado Eduardo Felipe Matias, que mostra que o ini-
migo a vencer nesse tema o prprio homem e sua conduta no mundo.
Boa leitura!
UAO LEITOR
Seo
RUMOS 3 Janeiro/Fevereiro 2015
S SUMRIO
FOMENTO46
30
MICRO E PEQUENAS
12Ateno e cautela
ECONOMIA
Novo governo
Superar os preconceitos10OPINIO
Risco
A confiana expressa
em nmeros
REPORTAGEM CAPA
Edio 2014
Incentivo criatividade42PRMIO ABDE
Ed
du
Fe
rra
ccio
li
4EXPERTISE
Economia criativa e
cidades: reinveno
permanente
Ana Carla Fonseca
22REPORTAGEM
Gesto
Mais integrado
LIVROS48
18ENTREVISTAEduardo Felipe Matias
Engajamento para uma
nova realidade
28EXTREMO SUL
Feira de oportunidades
Agronegcio
38REPORTAGEM
Balano
BDMG expande e
diversifica atuao
Ch
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asce
no
No
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Fa
iad
16ARTIGO
Novo ano
Oportunidades do cooperativismo
financeiro em cenrio econmico
adverso
40PELO MUNDO
Organizao
O Sistema Nacional
de Fomento Mexicano
25EM DIA
A construo de uma infraestrutura
financeira
Andr Perfeito
44PRMIO ABDE
Financiamento do Desenvolvimento
Programa Renova SP: Financiamento para renovao
da frota de caminhes
Avaliao do planejamento
estratgico numa instituio
pblica a partir do
Balanced Scoredcard: O caso BRDE
Excelncia em gesto
8REPORTAGEM
Expanso
Complexo de sade
RUMOS 4 Janeiro/Fevereiro 2015 RUMOS 5 Janeiro/Fevereiro 2015
Economia Criativa
provavelmente um dos
termos mais
interessantes, charmosos
e pouco compreendidos
dos ltimos tempos.
Simplificando, pode-se
dizer que a criatividade
um recurso econmico de
valor inestimvel, que
pode se converter em
dinheiro, realizao e
bem-estar, desde que
sejam criadas condies
para isso. Para saber
como a Economia Criativa
pode contribuir com o
desenvolvimento das
cidades brasileiras, Rumos
conversou com a
especialista Ana Carla
Fonseca, referncia
quando o assunto
Economia, Cidades e
Negcios Criativos. Dona
de um currculo
impressionante, Ana Carla
foi apontada pelo jornal El
Pas, em 2013, como uma
das oito personalidades
brasileiras que
impressionam o mundo.
Por Ana Redig
A
EEX
PE
RTIS
EEconomia criativa e cidades: reinveno permanente
Ana Carla Fonseca
Ana Carla Fonseca doutora em Urbanismo pela
Universidade de So Paulo e autora da primeira tese no
pas sobre cidades criativas.
Ed
du
Fe
rra
ccio
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Div
ulg
a
o
RUMOS 4 Janeiro/Fevereiro 2015 RUMOS 5 Janeiro/Fevereiro 2015
Economia Criativa
provavelmente um dos
termos mais
interessantes, charmosos
e pouco compreendidos
dos ltimos tempos.
Simplificando, pode-se
dizer que a criatividade
um recurso econmico de
valor inestimvel, que
pode se converter em
dinheiro, realizao e
bem-estar, desde que
sejam criadas condies
para isso. Para saber
como a Economia Criativa
pode contribuir com o
desenvolvimento das
cidades brasileiras, Rumos
conversou com a
especialista Ana Carla
Fonseca, referncia
quando o assunto
Economia, Cidades e
Negcios Criativos. Dona
de um currculo
impressionante, Ana Carla
foi apontada pelo jornal El
Pas, em 2013, como uma
das oito personalidades
brasileiras que
impressionam o mundo.
Por Ana Redig
A
EEX
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E
Economia criativa e cidades: reinveno permanente
Ana Carla Fonseca
Ana Carla Fonseca doutora em Urbanismo pela
Universidade de So Paulo e autora da primeira tese no
pas sobre cidades criativas.
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RUMOS 6 Janeiro/Fevereiro 2015 RUMOS 7 Janeiro/Fevereiro 2015
EX
PE
RTIS
E
No conheo nenhum
caso bem-sucedido de
transformao urbana
que tenha vingado sem
a participao do trip
governo, setor privado
e sociedade civil,
j que cada um
desempenha papis
e tem interesses muito
complementares.
a essncia
de tudo; novos produtos, servios,
processos e olhares com valor
percebido, resoluo de problemas e
aproveitamento de oportunidades.
av o on :Iexn oo :C
entre pblico e privado, entre as
reas da cidade, evitando bolses de
criatividade em detrimento de uma
considerao sistmica da cidade,
entre sua histria e sua viso de futuro,
entre ela e suas cidades vizinhas
e o redor do mundo
tul rau :C
pelo que traz de mais identitrio,
por seu impacto econmico e por
ajudar a formar um ambiente propcio
criatividade.
CIDADE CRIATIVA
na Carla Fonseca escreveu livros ino-
vadores, como Marketing Cultural e Financia-
mento da Cultura (2002), Economia da Cultura e
Desenvolvimento Sustentvel (Prmio Jabuti
2007) e Cidades Criativas (primeiro livro bra-
sileiro sobre o tema e finalista do Prmio
Jabuti 2013); e concebeu e editou livros
digitais globais, como Economia Criativa
como Estratgia de Desenvolvimento
(2008) e Cidades Criativas Perspectivas
(2009).
Ela criou projetos de impacto em econo-
mia e cidades, a exemplo de Criaticidades e
Sampa CriAtiva e foi consultora do Creative
Economy Report (ONU), em 2008 e 2013.
Por 15 anos liderou projetos em multinacio-
nais na Amrica Latina, em Londres e Milo,
experincia que a capacitou para se tornar
assessora para a ONU sobre o tema, alm de
ser consultora e conferencista em cinco
lnguas e 28 pases. curadora de congres-
sos internacionais, diretora de Contedo da
ExpoGesto e membro do Corpo Mundial
de Peritos da Unesco, dos Repensadores,
dos conselhos da Pgina 22, da Virada Sus-
tentvel, da Creative Industries Develop-
ment Agency (Inglaterra) e jurada da Creati-
ve Business Cup (Dinamarca). Venceu o
Prmio Claudia 2013, em Negcios.
Criatividade A
Ana Carla Fonseca
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RUMOS 6 Janeiro/Fevereiro 2015 RUMOS 7 Janeiro/Fevereiro 2015
EX
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RTIS
E
No conheo nenhum
caso bem-sucedido de
transformao urbana
que tenha vingado sem
a participao do trip
governo, setor privado
e sociedade civil,
j que cada um
desempenha papis
e tem interesses muito
complementares.
a essncia
de tudo; novos produtos, servios,
processos e olhares com valor
percebido, resoluo de problemas e
aproveitamento de oportunidades.
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entre pblico e privado, entre as
reas da cidade, evitando bolses de
criatividade em detrimento de uma
considerao sistmica da cidade,
entre sua histria e sua viso de futuro,
entre ela e suas cidades vizinhas
e o redor do mundo
tul rau :C
pelo que traz de mais identitrio,
por seu impacto econmico e por
ajudar a formar um ambiente propcio
criatividade.
CIDADE CRIATIVA
na Carla Fonseca escreveu livros ino-
vadores, como Marketing Cultural e Financia-
mento da Cultura (2002), Economia da Cultura e
Desenvolvimento Sustentvel (Prmio Jabuti
2007) e Cidades Criativas (primeiro livro bra-
sileiro sobre o tema e finalista do Prmio
Jabuti 2013); e concebeu e editou livros
digitais globais, como Economia Criativa
como Estratgia de Desenvolvimento
(2008) e Cidades Criativas Perspectivas
(2009).
Ela criou projetos de impacto em econo-
mia e cidades, a exemplo de Criaticidades e
Sampa CriAtiva e foi consultora do Creative
Economy Report (ONU), em 2008 e 2013.
Por 15 anos liderou projetos em multinacio-
nais na Amrica Latina, em Londres e Milo,
experincia que a capacitou para se tornar
assessora para a ONU sobre o tema, alm de
ser consultora e conferencista em cinco
lnguas e 28 pases. curadora de congres-
sos internacionais, diretora de Contedo da
ExpoGesto e membro do Corpo Mundial
de Peritos da Unesco, dos Repensadores,
dos conselhos da Pgina 22, da Virada Sus-
tentvel, da Creative Industries Develop-
ment Agency (Inglaterra) e jurada da Creati-
ve Business Cup (Dinamarca). Venceu o
Prmio Claudia 2013, em Negcios.
Criatividade A
Ana Carla Fonseca
Div
ulg
a
o
RUMOS 8 Janeiro/Fevereiro 2015 RUMOS 9 Janeiro/Fevereiro 2015
Por Jader Moraes
ransformados em Institutos Nacionais em 2010,
os centros de Infectologia Evandro Chagas (INI)
e de Sade da Mulher, da Criana e do Adoles-
cente Fernandes Figueira (IFF) se preparam para
entrar em nova fase. Com um aporte de mais de
R$ 600 milhes, a Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz) comea
a erguer um grande complexo que vai abrigar as novas instala-
es das duas unidades: o Campus dos Institutos Nacionais
(CIN), uma imponente construo de 125 mil m em So
Cristvo, Zona Norte do Rio de Janeiro.
No CIN, os dois institutos continuaro a atuar de forma
autnoma, mas compartilharo alguns equipamentos e tero
sua capacidade de atuao ampliada de forma considervel: o
INI, por exemplo, passar de seus atuais trinta leitos de aten-
dimento para 120. O campus contar ainda com outros 290
leitos do IFF (totalizando 410), 224 consultrios, 74 mdulos
ambulatoriais e 16 salas de cirurgia geral. O CIN fortalecer o
conceito de transversalidade entre assistncia, pesquisa e
ensino.
Nossas unidades cumprem papel de assistncia, pesqui-
EXPANSO
T
J o Instituto Fernandes Figueira, que
possui longa trajetria dedicada pediatria e
ao desenvolvimento e avaliao de novas
tecnologias, diretamente responsvel pela
qualificao de quadros estratgicos do
Sistema nico de Sade (SUS) na rea de
sua competncia Sade da Mulher, Crian-
a e Adolescente , para a melhoria dos
cuidados e dos indicadores. Possui tradio
de hospital de ensino e teve nos ltimos
anos uma expanso de seus cursos de ps-
graduao e o lanamento de um programa
de incentivo pesquisa para seus funcion-
rios doutores, alm de ter ampliado signifi-
cativamente o seu portflio de cooperao
internacional.
Espao multiuso Muito alm de abrigar
os institutos nacionais vinculados Fiocruz,
a presidncia da instituio pretende trans-
formar o futuro campus em um espao em
sintonia com todos os demais setores da
Fundao, ampliando inclusive suas possi-
bilidades de funcionamento. Um exemplo
que, como o novo imvel se encontra em
uma regio mais central da cidade, ser
possvel planejar cursos noturnos, o que
hoje dicultado em funo da localizao
do seu campus principal.
Para isso, o local contar com trinta salas
de aula, quatro espaos multiuso, auditrio
para 500 lugares, refeitrio,
entre outras reas secundrias.
Assim como os dois institutos
vo compartilhar espaos fsi-
cos, tambm teremos platafor-
mas de funcionamento para
outras unidades da prpria
Fiocruz, conta Lacerda.
A previso que as obras do
campus se encerrem no segun-
do semestre de 2018, mas o
espao s deve comear a funci-
onar a partir de 2019, devido ao
perodo de adaptao, certica-
o, transferncia de funcion-
rios e treinamento. Este prazo
pode variar e os dados relativos
ao projeto esto em constante
atualizao. Todo processo de
aprovao e desenvolvimento
deste projeto bastante com-
plexo, explicou o gerente.
R REPORTAGEM
Complexo de sadeFiocruz ergue campus de 125 mil m para abrigar novos institutos
nacionais de infectologia e sade da mulher, criana e adolescente;
espao ser dedicado assistncia, pesquisa e ensino
sa clnica, pesquisa biomdica e ensino. So quatro perfis que
no se dissociam. Mas, em muitos casos, uma rea acaba
tendo peso maior que outra: no caso do IFF, o que se destaca
a dimenso da assistncia, dada a carncia na cidade do Rio
de Janeiro de hospitais com esse tipo de atendimento; ao
passo que quando olhamos para o INI a pesquisa clnica,
tambm pela carncia na rede pblica desse tipo de pesquisa.
Elas cumprem todas as funes, mas o colorido de cada uni-
dade acaba se dando em funo das lacunas que ela tem que
cumprir. Um dos objetivos desse complexo justamente
equilibrar essas quatro dimenses, explicou o gerente de
projetos da Fiocruz, Leonardo Lacerda.
De acordo com o gerente, desde a transformao das
duas unidades em Institutos Nacionais, elas reforaram sua
forma de insero na rede pblica de sade e ganharam novas
responsabilidades e atribuies: agora tm papel de nortea-
doras, so referncias na atuao assistencial para a rede e
podem atuar como formuladoras de proposies e polticas
nacionais em suas reas de atuao. Mas elas continuam
vinculadas Fiocruz, esclarece o gerente.
Quando o Ministrio da Sade
estabeleceu as unidades como Institu-
tos Nacionais deu um incremento de
atribuies, seja no quantitativo de
atendimento, seja em novas responsa-
bilidades. Com essa nova realidade,
identificamos a oportunidade de
ampliar o escopo de atuao das duas
unidades, que tinham limitaes, inclu-
sive fsicas e estruturais. Na prtica, as
duas unidades vo manter sua integri-
dade institucional, mas vo comparti-
lhar plataformas e reas afins, com-
pletou.
O Instituto Evandro Chagas foi
planejado ainda por Oswaldo Cruz,
em 1910, e j teve vrias denomina-
es em sua vasta histria Hospital
Oswaldo Cruz, Hospital de Mangui-
nhos e Instituto de Pesquisa Clnica
Evandro Chagas (Ipec). Desde a dca-
da de 1980, tem sido referncia no
atendimento e pesquisa clnica em
doenas infecciosas e negligenciadas
como malria, dengue, doenas de
Chagas, HIV/Aids, dentre outras. A
expectativa, com a transformao da
unidade em instituto e o posterior
projeto de construo do grande
complexo, que o INI cumpra esse
papel.
Div
ulg
a
o
Projeo de como ficar o novo Campus dos Institutos Nacionais, em construo na Zona Norte do Rio de Janeiro;
previso que obras terminem em 2018 e o espao entre em funcionamento no ano seguinte.
Vir
gin
ia D
am
as/C
CI/
EN
SP
/Fio
cru
z
Nossas unidades cumprem
papel de assistncia, pesquisa
clnica e biomdica e ensino.
So quatro perfis que no se
dissociam. Mas, em muitos
casos, uma rea acaba tendo
peso maior que outra. Um dos
objetivos desse complexo
justamente equilibrar
essas dimenses
Leonardo Lacerda
Gerente de Projetos
Div
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o
Outro ngulo de como ficar o Campus, que abrigar os dois institutos ligados Fiocruz.
RUMOS 8 Janeiro/Fevereiro 2015 RUMOS 9 Janeiro/Fevereiro 2015
Por Jader Moraes
ransformados em Institutos Nacionais em 2010,
os centros de Infectologia Evandro Chagas (INI)
e de Sade da Mulher, da Criana e do Adoles-
cente Fernandes Figueira (IFF) se preparam para
entrar em nova fase. Com um aporte de mais de
R$ 600 milhes, a Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz) comea
a erguer um grande complexo que vai abrigar as novas instala-
es das duas unidades: o Campus dos Institutos Nacionais
(CIN), uma imponente construo de 125 mil m em So
Cristvo, Zona Norte do Rio de Janeiro.
No CIN, os dois institutos continuaro a atuar de forma
autnoma, mas compartilharo alguns equipamentos e tero
sua capacidade de atuao ampliada de forma considervel: o
INI, por exemplo, passar de seus atuais trinta leitos de aten-
dimento para 120. O campus contar ainda com outros 290
leitos do IFF (totalizando 410), 224 consultrios, 74 mdulos
ambulatoriais e 16 salas de cirurgia geral. O CIN fortalecer o
conceito de transversalidade entre assistncia, pesquisa e
ensino.
Nossas unidades cumprem papel de assistncia, pesqui-
EXPANSO
T
J o Instituto Fernandes Figueira, que
possui longa trajetria dedicada pediatria e
ao desenvolvimento e avaliao de novas
tecnologias, diretamente responsvel pela
qualificao de quadros estratgicos do
Sistema nico de Sade (SUS) na rea de
sua competncia Sade da Mulher, Crian-
a e Adolescente , para a melhoria dos
cuidados e dos indicadores. Possui tradio
de hospital de ensino e teve nos ltimos
anos uma expanso de seus cursos de ps-
graduao e o lanamento de um programa
de incentivo pesquisa para seus funcion-
rios doutores, alm de ter ampliado signifi-
cativamente o seu portflio de cooperao
internacional.
Espao multiuso Muito alm de abrigar
os institutos nacionais vinculados Fiocruz,
a presidncia da instituio pretende trans-
formar o futuro campus em um espao em
sintonia com todos os demais setores da
Fundao, ampliando inclusive suas possi-
bilidades de funcionamento. Um exemplo
que, como o novo imvel se encontra em
uma regio mais central da cidade, ser
possvel planejar cursos noturnos, o que
hoje dicultado em funo da localizao
do seu campus principal.
Para isso, o local contar com trinta salas
de aula, quatro espaos multiuso, auditrio
para 500 lugares, refeitrio,
entre outras reas secundrias.
Assim como os dois institutos
vo compartilhar espaos fsi-
cos, tambm teremos platafor-
mas de funcionamento para
outras unidades da prpria
Fiocruz, conta Lacerda.
A previso que as obras do
campus se encerrem no segun-
do semestre de 2018, mas o
espao s deve comear a funci-
onar a partir de 2019, devido ao
perodo de adaptao, certica-
o, transferncia de funcion-
rios e treinamento. Este prazo
pode variar e os dados relativos
ao projeto esto em constante
atualizao. Todo processo de
aprovao e desenvolvimento
deste projeto bastante com-
plexo, explicou o gerente.
R REPORTAGEM
Complexo de sadeFiocruz ergue campus de 125 mil m para abrigar novos institutos
nacionais de infectologia e sade da mulher, criana e adolescente;
espao ser dedicado assistncia, pesquisa e ensino
sa clnica, pesquisa biomdica e ensino. So quatro perfis que
no se dissociam. Mas, em muitos casos, uma rea acaba
tendo peso maior que outra: no caso do IFF, o que se destaca
a dimenso da assistncia, dada a carncia na cidade do Rio
de Janeiro de hospitais com esse tipo de atendimento; ao
passo que quando olhamos para o INI a pesquisa clnica,
tambm pela carncia na rede pblica desse tipo de pesquisa.
Elas cumprem todas as funes, mas o colorido de cada uni-
dade acaba se dando em funo das lacunas que ela tem que
cumprir. Um dos objetivos desse complexo justamente
equilibrar essas quatro dimenses, explicou o gerente de
projetos da Fiocruz, Leonardo Lacerda.
De acordo com o gerente, desde a transformao das
duas unidades em Institutos Nacionais, elas reforaram sua
forma de insero na rede pblica de sade e ganharam novas
responsabilidades e atribuies: agora tm papel de nortea-
doras, so referncias na atuao assistencial para a rede e
podem atuar como formuladoras de proposies e polticas
nacionais em suas reas de atuao. Mas elas continuam
vinculadas Fiocruz, esclarece o gerente.
Quando o Ministrio da Sade
estabeleceu as unidades como Institu-
tos Nacionais deu um incremento de
atribuies, seja no quantitativo de
atendimento, seja em novas responsa-
bilidades. Com essa nova realidade,
identificamos a oportunidade de
ampliar o escopo de atuao das duas
unidades, que tinham limitaes, inclu-
sive fsicas e estruturais. Na prtica, as
duas unidades vo manter sua integri-
dade institucional, mas vo comparti-
lhar plataformas e reas afins, com-
pletou.
O Instituto Evandro Chagas foi
planejado ainda por Oswaldo Cruz,
em 1910, e j teve vrias denomina-
es em sua vasta histria Hospital
Oswaldo Cruz, Hospital de Mangui-
nhos e Instituto de Pesquisa Clnica
Evandro Chagas (Ipec). Desde a dca-
da de 1980, tem sido referncia no
atendimento e pesquisa clnica em
doenas infecciosas e negligenciadas
como malria, dengue, doenas de
Chagas, HIV/Aids, dentre outras. A
expectativa, com a transformao da
unidade em instituto e o posterior
projeto de construo do grande
complexo, que o INI cumpra esse
papel.
Div
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o
Projeo de como ficar o novo Campus dos Institutos Nacionais, em construo na Zona Norte do Rio de Janeiro;
previso que obras terminem em 2018 e o espao entre em funcionamento no ano seguinte.
Vir
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as/C
CI/
EN
SP
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Nossas unidades cumprem
papel de assistncia, pesquisa
clnica e biomdica e ensino.
So quatro perfis que no se
dissociam. Mas, em muitos
casos, uma rea acaba tendo
peso maior que outra. Um dos
objetivos desse complexo
justamente equilibrar
essas dimenses
Leonardo Lacerda
Gerente de Projetos
Div
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a
o
Outro ngulo de como ficar o Campus, que abrigar os dois institutos ligados Fiocruz.
o primeiro mandato da presidenta Dilma Rous-
seff houve uma evidente deteriorao das con-
tas pblicas pelo atraso do governo em reco-
nhecer que: 1) a situao externa tinha se invertido; e 2) as
intervenes voluntaristas nos projetos de infraestrutura e
pontuais nos mercados de bens e servios eram incapazes
de alterar a causa bsica da reduo da taxa de crescimento
do Produto Interno Bruto (PIB): a substituio da oferta
interna da indstria nacional pela oferta internacional (a
importao). Nunca houve falta de demanda industrial
interna. Os aumentos dos salrios reais, a ampliao do cr-
dito e a reduo da taxa de juros real sempre a sustentaram.
O que ocorreu foi uma dramtica destruio das condies
que garantiam uma relativa isonomia competitiva da
indstria nacional, o que a levou estagnao e arrastou
com ela o PIB.
Essa alterao da estrutura produtiva que est se trans-
formando de conjuntural em estrutural torna ainda mais
problemtica a estimativa do etreo produto potencial e,
consequentemente, da falsa-constante, a taxa de juro real
de equilbrio, aquela que manteria o emprego perto do seu
mximo sem acelerar a taxa de inflao, ambas exigidas para
o exerccio da poltica monetria tima. H pouca cin-
cia e muito arbtrio em tudo isso, o que mostra os graus
da sorte, conhecimento, sensibilidade, humildade, habilida-
de e arte dos novos executores da poltica econmica, que a
presidenta espera que, com o menor sacrifcio dos menos
favorecidos, cumpram tarefas pouco conciliveis: 1) a recu-
perao do equilbrio fiscal sem comprometer os investi-
mentos pblicos; 2) a rpida reduo das intervenes no sis-
tema de preos, principalmente na taxa de cmbio, com a
simultnea reduo da expectativa inflacionria; e 3) que
acordem o esprito animal do setor privado mostrando
que o ajuste no a reduo da demanda efetiva, mas ape-
nas a preparao para a volta ao crescimento do setor indus-
trial e, consequentemente, do PIB.
Alguns sinais parecem indicar a sria disposio da
nova administrao de assegurar a reduo dos desequil-
brios e criar as expectativas de volta do crescimento do
investimento pblico, dos investimentos privados e do
PIB, condies necessrias para facilitar o ajuste benig-
no desejado.
O primeiro sinal foi a deciso anunciada de reduzir fir-
memente o imbrglio fiscal sem retroceder no processo
civilizatrio, isto , com o menor desconforto para os
menos favorecidos e na manuteno do aumento da igual-
dade de oportunidades para que eles possam continuar a
construir a sua cidadania com dignidade. Isso fundamen-
tal para a coeso e justia sociais e a condio poltica de
sustentabilidade das medidas.
evidente que o ajuste fiscal s ser bem-sucedido se
for capaz de despertar o esprito animal do setor privado,
dentro de um prazo razovel. De qualquer forma, parece
que o supervit primrio projetado de 1,2% do PIB em 2015
um bom comeo.
O segundo sinal veio do Relatrio do Banco Central de
dezembro de 2014, que revela maior disposio de resistir
dominncia fiscal e sugere a necessidade de uma ntima
cooperao entre a poltica monetria e as polticas social,
fiscal, salarial e cambial. Por ltimo, recente deciso do Ban-
co Central mostra que as intervenes no mercado cambial
destinam-se a reduzir a volatilidade e no a determinar o
nvel da taxa de cmbio.
H muitas dificuldades frente no segundo mandato da
presidenta Dilma. A tragdia da Petrobras enorme, mas
no pode e no deve congelar o governo. Esta a hora da
grandeza e da solidariedade com a nao. hora de superar
ridculos preconceitos ideolgicos (os selfies do atraso) e
reconhecer que nossas instituies esto cada vez mais for-
tes e so a garantia da nossa liberdade. No sero medocres
arreganhos de uma direita boalizada, ou de uma es-
querda imbecilizada que iro enfrent-las.
hora, pois, em legtima defesa, de torcer e trabalhar
para que o Brasil se reencontre com o caminho do cresci-
mento econmico eficiente com ampliao da incluso
social.
Novo governo
Superar os preconceitos
RUMOS Janeiro/Fevereiro 2015 10
Antonio Delfim Netto
Professor Emrito da Faculdade de Economia, Administrao
e Contabilidade (FEA-USP). Ex-ministro da Fazenda, da Agricultura
e do Planejamento.
Ma
rcelo
Corr
ea
O OPINIO
N
Aguardem!Prmio ABDE
de MonograasEdio 2015
Mudana no cenrio econmico, com maior restrio ao crdito,
leva os pequenos negcios a rever suas estratgias e a investir com
segurana
Por Andr Tennitz
RUMOS Janeiro/Fevereiro 2015 12
pas vive um perodo de transio que exige
cautela e ateno dos agentes econmicos. As
medidas de ajuste fiscal e monetrio que esto
sendo implementadas pelo governo federal para
corrigir desequilbrios, controlar a inflao e
recuperar, a mdio prazo, a trajetria de crescimento da
economia criam restries que afetam todos os empreende-
dores, independentemente do porte ou do setor de atuao.
No segmento das micro e pequenas empresas, no entanto, a
conjuntura marcada por conteno de demanda, custos
fiscais mais elevados e maior seletividade no crdito, tem
impactos diferenciados, dadas as caratersticas especficas
desses empreendimentos. Para o Sebrae, um momento que
exige, sobretudo, cuidado e ateno dos empresrios para
evitar problemas que possam comprometer a sade de seus
negcios.
O acesso ao crdito sempre foi um dos grandes desafios
dos empreendimentos de menor porte, e, num momento de
ajuste, a postura dos agentes financeiros tende a ser mais
conservadora. No se tem a dimenso exata dos efeitos que
as medidas fiscais e monetrias em curso tero na economia
real, mas a situao precisa ser monitorada com cautela
pelos empreendedores, principalmente aqueles que esto
frente de pequenos negcios, que sempre foram os elos mais
frgeis no que diz respeito a crdito, observa a diretora
tcnica do Sebrae, Heloisa Menezes. Normalmente, micro
e pequenas empresas tm reservas limitadas para amortecer
os impactos gerados por situaes de constrangimento
financeiro.
Para a diretora, alm de manter a ateno no cenrio
macroeconmico, os empreendedores precisam voltar o
foco para seu negcio e mercado especficos. hora de
reavaliar objetivos e estratgias, aconselha. Eventualmen-
te, acrescenta, o planejamento no pode utilizar as mes-
mas taxas de crescimento e de vendas de anos anteriores.
Alm disso, pondera, o momento de aprimorar a gesto de
caixa e reforar a relao com os fornecedores.
Pesquisas do Sebrae mostram que, dadas as dificuldades
de oferecer garantias reais ao sistema financeiro tradicional,
as micro e pequenas empresas tm no crdito de fornecedo-
res sua principal fonte de capital de giro. Alm disso,
comum o recurso a modalidades que, embora de acesso mais
simples e rpido, impem altos custos financeiros ao empre-
endedor, como cartes de crdito e cheque especial, cujas
taxas mdias superam os 200% ao ano, segundo os levanta-
mentos mais recentes do Banco Central. Se j eram extrema-
mente onerosos, esses instrumentos tornam-se absoluta-
mente proibitivos num cenrio de restrio de crdito e
elevao de taxas de juros.
Custo do crdito De maneira geral, todas as linhas de
crdito do sistema financeiro j se tornaram mais caras com a
RUMOS Janeiro/Fevereiro 2015 13
poltica de aperto monetrio conduzida pelo Banco Central.
Em dezembro de 2014, a taxa mdia de todas as linhas (pes-
soas fsicas e jurdicas) estava em 32,4% ao ano, contra 29%
no fim de 2013. Dentro do prprio sistema financeiro, no
entanto, possvel encontrar alternativas de custo mais baixo,
pondera a diretora do Sebrae. As cooperativas de crdito,
por exemplo, tiveram um olhar diferenciado para os peque-
nos negcios. H tambm um espao grande para que insti-
tuies de fomento ampliem a atuao junto s pequenas e
microempresas, afirma.
Heloisa Menezes destaca, por exemplo, instrumentos
como o Carto BNDES, destinado a viabilizar capital de giro
e de investimento para empresas de pequeno porte, que
expandiu significativamente, nos ltimos anos, tanto o volu-
me de operaes, como a abrangncia geogrfica de sua atua-
o, estando disponvel, hoje, em praticamente todos os muni-
cpios do pas. Linhas de crdito amparadas em mecanismos
de garantia tambm possuem menor custo financeiro, acres-
centa. o caso do Fundo de Garantia de Investimento (FGI),
do prprio BNDES, ou do Fundo de Apoio s Micro e
Pequenas Empresas (Fampe), administrado pelo Sebrae. H
tambm o Fundo de Garantia de Operaes (FGO), operado
pelo Banco do Brasil, e o Funproger, pelo Ministrio do Tra-
balho e Emprego (MTE).
Esperamos que haja a oportunidade de discutir com
bancos de fomento novas formas de atuao para que o cr-
dito chegue em melhores condies s pequenas empresas,
diz a diretora. Ela lembra, ainda, o papel importante que
podem desempenhar as Sociedades de Garantia de Crdito
(SGC), que precisam ganhar velocidade na sua disseminao
pelo pas. Com atuao local, constitudas pelos prprios
empreendedores, com apoio de entidades de classe e do
prprio Sebrae, essas entidades atuam no fornecimento de
garantias para recursos tomados pelos pequenos negcios
em bancos e outros agentes de crdito, possibilitando a redu-
o das taxas cobradas.
Oportunidade Luiz Ajita, diretor-presidente do Sistema
de Cooperativas de Crdito do Brasil, em Maring (Sicoob
Metropolitano) cooperativa de crdito do Norte do Para-
n, com 26 pontos de atendimento e cerca de 33 mil associa-
dos , avalia que o cenrio oferece uma oportunidade para
que essas entidades ocupem espao no mercado de maneira
consciente. Para isso, as cooperativas devem se valer de
suas caractersticas prprias: polticas de crditos locais ou
regionalizadas, maior rapidez na anlise do crdito, utiliza-
o das parcerias estabelecidas com as Sociedades de
Garantias de Crdito, taxas diferenciadas e atendimento
personalizado, afirma.
Ajita observa que, depois de anos de forte expanso, o
volume global de crdito na economia vem mostrando
desacelerao. Em 2014, refletindo a perda de flego da
M MICRO E PEQUENAS
Heloisa Menezes, diretora tcnica do Sebrae, lembra que as cooperativas de crdito so uma opo em tempos de
restrio no sistema financeiro.
Ch
arl
es D
am
asce
no
ECONOMIA
Ateno
e cautela
O
Mudana no cenrio econmico, com maior restrio ao crdito,
leva os pequenos negcios a rever suas estratgias e a investir com
segurana
Por Andr Tennitz
RUMOS Janeiro/Fevereiro 2015 12
pas vive um perodo de transio que exige
cautela e ateno dos agentes econmicos. As
medidas de ajuste fiscal e monetrio que esto
sendo implementadas pelo governo federal para
corrigir desequilbrios, controlar a inflao e
recuperar, a mdio prazo, a trajetria de crescimento da
economia criam restries que afetam todos os empreende-
dores, independentemente do porte ou do setor de atuao.
No segmento das micro e pequenas empresas, no entanto, a
conjuntura marcada por conteno de demanda, custos
fiscais mais elevados e maior seletividade no crdito, tem
impactos diferenciados, dadas as caratersticas especficas
desses empreendimentos. Para o Sebrae, um momento que
exige, sobretudo, cuidado e ateno dos empresrios para
evitar problemas que possam comprometer a sade de seus
negcios.
O acesso ao crdito sempre foi um dos grandes desafios
dos empreendimentos de menor porte, e, num momento de
ajuste, a postura dos agentes financeiros tende a ser mais
conservadora. No se tem a dimenso exata dos efeitos que
as medidas fiscais e monetrias em curso tero na economia
real, mas a situao precisa ser monitorada com cautela
pelos empreendedores, principalmente aqueles que esto
frente de pequenos negcios, que sempre foram os elos mais
frgeis no que diz respeito a crdito, observa a diretora
tcnica do Sebrae, Heloisa Menezes. Normalmente, micro
e pequenas empresas tm reservas limitadas para amortecer
os impactos gerados por situaes de constrangimento
financeiro.
Para a diretora, alm de manter a ateno no cenrio
macroeconmico, os empreendedores precisam voltar o
foco para seu negcio e mercado especficos. hora de
reavaliar objetivos e estratgias, aconselha. Eventualmen-
te, acrescenta, o planejamento no pode utilizar as mes-
mas taxas de crescimento e de vendas de anos anteriores.
Alm disso, pondera, o momento de aprimorar a gesto de
caixa e reforar a relao com os fornecedores.
Pesquisas do Sebrae mostram que, dadas as dificuldades
de oferecer garantias reais ao sistema financeiro tradicional,
as micro e pequenas empresas tm no crdito de fornecedo-
res sua principal fonte de capital de giro. Alm disso,
comum o recurso a modalidades que, embora de acesso mais
simples e rpido, impem altos custos financeiros ao empre-
endedor, como cartes de crdito e cheque especial, cujas
taxas mdias superam os 200% ao ano, segundo os levanta-
mentos mais recentes do Banco Central. Se j eram extrema-
mente onerosos, esses instrumentos tornam-se absoluta-
mente proibitivos num cenrio de restrio de crdito e
elevao de taxas de juros.
Custo do crdito De maneira geral, todas as linhas de
crdito do sistema financeiro j se tornaram mais caras com a
RUMOS Janeiro/Fevereiro 2015 13
poltica de aperto monetrio conduzida pelo Banco Central.
Em dezembro de 2014, a taxa mdia de todas as linhas (pes-
soas fsicas e jurdicas) estava em 32,4% ao ano, contra 29%
no fim de 2013. Dentro do prprio sistema financeiro, no
entanto, possvel encontrar alternativas de custo mais baixo,
pondera a diretora do Sebrae. As cooperativas de crdito,
por exemplo, tiveram um olhar diferenciado para os peque-
nos negcios. H tambm um espao grande para que insti-
tuies de fomento ampliem a atuao junto s pequenas e
microempresas, afirma.
Heloisa Menezes destaca, por exemplo, instrumentos
como o Carto BNDES, destinado a viabilizar capital de giro
e de investimento para empresas de pequeno porte, que
expandiu significativamente, nos ltimos anos, tanto o volu-
me de operaes, como a abrangncia geogrfica de sua atua-
o, estando disponvel, hoje, em praticamente todos os muni-
cpios do pas. Linhas de crdito amparadas em mecanismos
de garantia tambm possuem menor custo financeiro, acres-
centa. o caso do Fundo de Garantia de Investimento (FGI),
do prprio BNDES, ou do Fundo de Apoio s Micro e
Pequenas Empresas (Fampe), administrado pelo Sebrae. H
tambm o Fundo de Garantia de Operaes (FGO), operado
pelo Banco do Brasil, e o Funproger, pelo Ministrio do Tra-
balho e Emprego (MTE).
Esperamos que haja a oportunidade de discutir com
bancos de fomento novas formas de atuao para que o cr-
dito chegue em melhores condies s pequenas empresas,
diz a diretora. Ela lembra, ainda, o papel importante que
podem desempenhar as Sociedades de Garantia de Crdito
(SGC), que precisam ganhar velocidade na sua disseminao
pelo pas. Com atuao local, constitudas pelos prprios
empreendedores, com apoio de entidades de classe e do
prprio Sebrae, essas entidades atuam no fornecimento de
garantias para recursos tomados pelos pequenos negcios
em bancos e outros agentes de crdito, possibilitando a redu-
o das taxas cobradas.
Oportunidade Luiz Ajita, diretor-presidente do Sistema
de Cooperativas de Crdito do Brasil, em Maring (Sicoob
Metropolitano) cooperativa de crdito do Norte do Para-
n, com 26 pontos de atendimento e cerca de 33 mil associa-
dos , avalia que o cenrio oferece uma oportunidade para
que essas entidades ocupem espao no mercado de maneira
consciente. Para isso, as cooperativas devem se valer de
suas caractersticas prprias: polticas de crditos locais ou
regionalizadas, maior rapidez na anlise do crdito, utiliza-
o das parcerias estabelecidas com as Sociedades de
Garantias de Crdito, taxas diferenciadas e atendimento
personalizado, afirma.
Ajita observa que, depois de anos de forte expanso, o
volume global de crdito na economia vem mostrando
desacelerao. Em 2014, refletindo a perda de flego da
M MICRO E PEQUENAS
Heloisa Menezes, diretora tcnica do Sebrae, lembra que as cooperativas de crdito so uma opo em tempos de
restrio no sistema financeiro.
Ch
arl
es D
am
asce
no
ECONOMIA
Ateno
e cautela
O
atividade econmica, o aumento foi de 11%, uma taxa ainda
significativa, mas a menor dos ltimos 10 anos. Ele nota que
os bancos j comearam a tomar medidas mais restritivas na
concesso de crdito e acredita que providncias mais rigo-
rosas podero ser adotadas por instituies privadas. Infe-
lizmente, nesse cenrio, micro e pequenas empresas tero
que repensar seus planos de expanso e se preocupar com a
manuteno de seus negcios, destaca.
Para o presidente do Sicoob Metropolitano, as institui-
es financeiras, de maneira geral, tendem a elevar o rigor na
avaliao da situao das empresas, reforando a observao
de elementos como restries cadastrais, pontualidade nos
pagamentos de compromissos, faturamento, endividamento,
estoques e garantias ofertadas. Isto tudo resultar num
processo mais lento, difcil e oneroso para os negcios de
menor porte, resume.
A tendncia, alis, j vem sendo notada, observa. De um
lado, o consumo das famlias vem caindo em virtude do alto
grau de endividamento e do menor dinamismo do mercado
de trabalho, com as pessoas se preocupando em saldar dvi-
das e no contrair novos dbitos. Por outro lado, os bancos
adotaram uma postura mais cautelosa na concesso de crdi-
to. Essa estratgia permitiu que eles reduzissem o ndice de
inadimplncia, que, no ano passado, caiu de 4,1% para 3,5%
nos bancos estrangeiros, e de 4,3% para 4% no caso das insti-
tuies nacionais. A contrapartida, porm, foi que o crdito
tornou-se mais escasso.
Acomodao O superintendente comercial do Banco
Cooperativo do Brasil (Bancoob), instituio especializada
no atendimento a cooperativas de crdito, Luciano Ribeiro
Machado, pondera que, apesar do arrefecimento da deman-
da e do cenrio de restrio financeira, micro e pequenas
empresas tm um espao de acomodao maior do que as
mdias e grandes. Os pequenos negcios tm a capacidade
de acomodar a elevao de custo fixo de forma mais positi-
va, afirma. A varivel decisiva, explica, ser a liquidez des-
tas empresas, ou seja, como elas estaro preparadas para
enfrentar um perodo de menor fluxo comercial e, at mes-
mo, alguma inadimplncia.
Certamente, o relacionamento com uma instituio
financeira parceira importante nestes momentos, afirma
Machado. Ele observa que o aumento do risco naturalmente
tem impacto negativo nos sistemas de crdito, como redu-
o de limites, exigncia de maiores e melhores garantias,
reduo de prazos e aumento de taxas. Vale destacar, entre-
tanto, que as dificuldades econmicas podem resultar em
renegociao em detrimento da inadimplncia. Isso depen-
de de vontade e do relacionamento entre cliente e instituio
RUMOS Janeiro/Fevereiro 201514 RUMOS Janeiro/Fevereiro 2015 15
M MICRO E PEQUENAS
financeira, caso a caso.
O sistema cooperativo, salienta Machado, tem maior pro-
ximidade do dia a dia do cliente. H, ainda, o compromisso
natural do associado com sua comunidade, o que gera uma
presso adicional de adimplncia em suas operaes junto
cooperativa.
Isso no significa que as cooperativas financeiras devam se
eximir de rever seus critrios de negociao. fundamental o
alinhamento com a conjuntura econmica. Afinal, a cooperati-
va administra os recursos de associados, o que uma enorme
responsabilidade. Mas, via de regra, as crises econmicas
abrem oportunidades para os sistemas financeiros cooperati-
vos. A proximidade com a comunidade permite a manuteno
do relacionamento comercial de produtos e servios em nveis
superiores s instituies financeiras tradicionais. Estamos
prontos para aproveitar, declara Machado.
Exceo regional Embora j seja visvel nos indicadores
macroeconmicos nacionais, o esfriamento do nvel de ativi-
dade no se manifesta da mesma forma em todos os setores e
regies. De acordo com o superintendente de Negcios de
Varejo e Agronegcios do Banco do Nordeste (BNB), Luiz
Srgio Farias Machado, as pesquisas do banco indicam que o
consumo da chamada nova classe mdia tem se mantido
consistente na regio, que, nos ltimos anos, vem apresentan-
do indicadores de crescimento econmico superiores
mdia do pas. O banco tem participado, por exemplo, de
feiras de franquias nas principais cidades nordestinas, e os
franqueadores continuam com demanda elevada de negcios
na maioria dos setores, o que mostra que a expectativa ainda
positiva para manuteno do consumo, diz ele.
O crescimento recente da regio foi beneficiado por
alguns fatores, particularmente pelo aumento da renda, especi-
almente nas classes C, D e E. O Banco do Nordeste
trabalha com projees de crescimento nos prximos
anos acima da mdia nacional, impulsionado ainda pelo
movimento de ascenso das classes mais baixas, que
continuar a ser positivo, afirma Luciano Machado.
O superintendente ressalta que a instituio tem
compromisso com o desenvolvimento, j que adminis-
tra recursos do Fundo Constitucional de Financiamen-
to do Nordeste (FNE), o que possibilita instituio
oferecer taxas de juros e condies mais atraentes s
pequenas e microempresas. A expectativa do BNB
contratar junto ao segmento, R$ 3,07 bilhes neste ano
em operaes de investimento e de capital de giro,
valor superior aos R$ 2,9 bilhes desembolados em
2014. Desse montante, R$ 2,46 bilhes sero com
recursos do FNE. A expectativa continuar crescendo
cerca de 10% a cada ano.
O banco tem aperfeioado os processos, de forma
a se tornar mais competitivo e tambm tem produzido
melhorias no atendimento ao cliente, a exemplo da
dispensa de apresentao de projetos para operaes
de investimento at R$ 3,42 milhes. Recentemente, a
instituio lanou, em parceria com entidades do
comrcio varejista, um carto de crdito para capital de
giro, que pretende ampliar para outros segmentos.
Ainda este ano, diz Machado, pode ser lanado um
carto de crdito especfico com recursos do FNE.
O BNB possui tambm o maior programa de
microcrdito urbano da Amrica do Sul, o Crediami-
go, com 1.862 mil clientes ativos. No ano passado,
foram desembolsados R$ 7,1 bilhes no mbito do
programa. Segundo o dirigente, o BNB j tem uma
poltica de garantias conservadora e no se vislumbra
alterao a curto prazo, considerando as atuais oscila-
es do mercado. Acredito que no haver necessida-
de de procedimentos mais cautelosos porque o Banco
do Nordeste j observa fielmente a boa prtica banc-
ria e os regramentos internos e externos, alm de
atender a todas as orientaes dos rgos de fiscaliza-
o, afirma.
ECONOMIA
Luciano Machado, do Bancoob, acredita que
os pequenos negcios tm mais capacidade de ajuste
do que as mdias empresas.
Pesquisas j indicam uma retrao no consumo das famlias.
Mo
rgu
eF
ile
Div
ulg
a
o
atividade econmica, o aumento foi de 11%, uma taxa ainda
significativa, mas a menor dos ltimos 10 anos. Ele nota que
os bancos j comearam a tomar medidas mais restritivas na
concesso de crdito e acredita que providncias mais rigo-
rosas podero ser adotadas por instituies privadas. Infe-
lizmente, nesse cenrio, micro e pequenas empresas tero
que repensar seus planos de expanso e se preocupar com a
manuteno de seus negcios, destaca.
Para o presidente do Sicoob Metropolitano, as institui-
es financeiras, de maneira geral, tendem a elevar o rigor na
avaliao da situao das empresas, reforando a observao
de elementos como restries cadastrais, pontualidade nos
pagamentos de compromissos, faturamento, endividamento,
estoques e garantias ofertadas. Isto tudo resultar num
processo mais lento, difcil e oneroso para os negcios de
menor porte, resume.
A tendncia, alis, j vem sendo notada, observa. De um
lado, o consumo das famlias vem caindo em virtude do alto
grau de endividamento e do menor dinamismo do mercado
de trabalho, com as pessoas se preocupando em saldar dvi-
das e no contrair novos dbitos. Por outro lado, os bancos
adotaram uma postura mais cautelosa na concesso de crdi-
to. Essa estratgia permitiu que eles reduzissem o ndice de
inadimplncia, que, no ano passado, caiu de 4,1% para 3,5%
nos bancos estrangeiros, e de 4,3% para 4% no caso das insti-
tuies nacionais. A contrapartida, porm, foi que o crdito
tornou-se mais escasso.
Acomodao O superintendente comercial do Banco
Cooperativo do Brasil (Bancoob), instituio especializada
no atendimento a cooperativas de crdito, Luciano Ribeiro
Machado, pondera que, apesar do arrefecimento da deman-
da e do cenrio de restrio financeira, micro e pequenas
empresas tm um espao de acomodao maior do que as
mdias e grandes. Os pequenos negcios tm a capacidade
de acomodar a elevao de custo fixo de forma mais positi-
va, afirma. A varivel decisiva, explica, ser a liquidez des-
tas empresas, ou seja, como elas estaro preparadas para
enfrentar um perodo de menor fluxo comercial e, at mes-
mo, alguma inadimplncia.
Certamente, o relacionamento com uma instituio
financeira parceira importante nestes momentos, afirma
Machado. Ele observa que o aumento do risco naturalmente
tem impacto negativo nos sistemas de crdito, como redu-
o de limites, exigncia de maiores e melhores garantias,
reduo de prazos e aumento de taxas. Vale destacar, entre-
tanto, que as dificuldades econmicas podem resultar em
renegociao em detrimento da inadimplncia. Isso depen-
de de vontade e do relacionamento entre cliente e instituio
RUMOS Janeiro/Fevereiro 201514 RUMOS Janeiro/Fevereiro 2015 15
M MICRO E PEQUENAS
financeira, caso a caso.
O sistema cooperativo, salienta Machado, tem maior pro-
ximidade do dia a dia do cliente. H, ainda, o compromisso
natural do associado com sua comunidade, o que gera uma
presso adicional de adimplncia em suas operaes junto
cooperativa.
Isso no significa que as cooperativas financeiras devam se
eximir de rever seus critrios de negociao. fundamental o
alinhamento com a conjuntura econmica. Afinal, a cooperati-
va administra os recursos de associados, o que uma enorme
responsabilidade. Mas, via de regra, as crises econmicas
abrem oportunidades para os sistemas financeiros cooperati-
vos. A proximidade com a comunidade permite a manuteno
do relacionamento comercial de produtos e servios em nveis
superiores s instituies financeiras tradicionais. Estamos
prontos para aproveitar, declara Machado.
Exceo regional Embora j seja visvel nos indicadores
macroeconmicos nacionais, o esfriamento do nvel de ativi-
dade no se manifesta da mesma forma em todos os setores e
regies. De acordo com o superintendente de Negcios de
Varejo e Agronegcios do Banco do Nordeste (BNB), Luiz
Srgio Farias Machado, as pesquisas do banco indicam que o
consumo da chamada nova classe mdia tem se mantido
consistente na regio, que, nos ltimos anos, vem apresentan-
do indicadores de crescimento econmico superiores
mdia do pas. O banco tem participado, por exemplo, de
feiras de franquias nas principais cidades nordestinas, e os
franqueadores continuam com demanda elevada de negcios
na maioria dos setores, o que mostra que a expectativa ainda
positiva para manuteno do consumo, diz ele.
O crescimento recente da regio foi beneficiado por
alguns fatores, particularmente pelo aumento da renda, especi-
almente nas classes C, D e E. O Banco do Nordeste
trabalha com projees de crescimento nos prximos
anos acima da mdia nacional, impulsionado ainda pelo
movimento de ascenso das classes mais baixas, que
continuar a ser positivo, afirma Luciano Machado.
O superintendente ressalta que a instituio tem
compromisso com o desenvolvimento, j que adminis-
tra recursos do Fundo Constitucional de Financiamen-
to do Nordeste (FNE), o que possibilita instituio
oferecer taxas de juros e condies mais atraentes s
pequenas e microempresas. A expectativa do BNB
contratar junto ao segmento, R$ 3,07 bilhes neste ano
em operaes de investimento e de capital de giro,
valor superior aos R$ 2,9 bilhes desembolados em
2014. Desse montante, R$ 2,46 bilhes sero com
recursos do FNE. A expectativa continuar crescendo
cerca de 10% a cada ano.
O banco tem aperfeioado os processos, de forma
a se tornar mais competitivo e tambm tem produzido
melhorias no atendimento ao cliente, a exemplo da
dispensa de apresentao de projetos para operaes
de investimento at R$ 3,42 milhes. Recentemente, a
instituio lanou, em parceria com entidades do
comrcio varejista, um carto de crdito para capital de
giro, que pretende ampliar para outros segmentos.
Ainda este ano, diz Machado, pode ser lanado um
carto de crdito especfico com recursos do FNE.
O BNB possui tambm o maior programa de
microcrdito urbano da Amrica do Sul, o Crediami-
go, com 1.862 mil clientes ativos. No ano passado,
foram desembolsados R$ 7,1 bilhes no mbito do
programa. Segundo o dirigente, o BNB j tem uma
poltica de garantias conservadora e no se vislumbra
alterao a curto prazo, considerando as atuais oscila-
es do mercado. Acredito que no haver necessida-
de de procedimentos mais cautelosos porque o Banco
do Nordeste j observa fielmente a boa prtica banc-
ria e os regramentos internos e externos, alm de
atender a todas as orientaes dos rgos de fiscaliza-
o, afirma.
ECONOMIA
Luciano Machado, do Bancoob, acredita que
os pequenos negcios tm mais capacidade de ajuste
do que as mdias empresas.
Pesquisas j indicam uma retrao no consumo das famlias.
Mo
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o
RUMOS 17 Janeiro/Fevereiro 2015
arece haver um grande consenso de que em 2015
teremos de nos reposicionar como governo,
cidados e empreendedores. E os ajustes para
assegurar a travessia sero bastante sensveis
do ponto de vista financeiro, concentrados na mxima do
gastar menos e melhor, j que a economia parece no dar
sinais de grande vitalidade. E como esse cenrio repercutir
no mercado bancrio e, em particular, no cooperativismo
financeiro?
Por conta das expectativas nada animadoras sobre nvel
da atividade econmica e do j elevado grau de comprometi-
mento da renda dos brasileiros com o pagamento de dvidas
h pouco contradas, improvvel que o sistema financeiro
convencional sinta-se vontade para seguir emprestando
com o apetite de outros tempos, especialmente para financi-
ar o consumo. Isso inclui at mesmo os bancos oficiais, uma
vez que o Tesouro j no tem o mesmo flego para bancar as
necessidades de capital dessas instituies.
E tem mais: porquanto tambm se prognostica a descon-
tinuidade dos reajustes reais nos salrios (a prioridade ser
manter o emprego), combinada com novas demisses, nota-
damente na indstria, aumenta a preocupao com a inadim-
plncia. Crescendo as impontualidades nos resgates das obri-
gaes junto ao sistema financeiro, acentuam-se as provises,
o que, por sua vez, diminui a disponibilidade de capital para
novos emprstimos.
Para o cooperativismo financeiro, sem que se despreze a
ma que identifica e desafia os novos tempos da nao
como um todo. Da que, de um lado, rever seus modelos orga-
nizacionais de modo a, por exemplo, aproveitar adequada-
mente as estruturas de segundo e terceiro nveis sistmicos
(gastando menos e melhor), e avanar nos processos de aglu-
tinaes/incorporaes (tanto para economizar como para
ampliar os limites operacionais de forma a atender a deman-
das de crdito mais expressivas), e, de outro, repensar o
padro de seus investimentos, otimizando-os, sero movi-
mentos cuja eficincia fortalecer o setor e alavancar a sua
presena no mercado financeiro.
AARTIGO NOVO ANO
cautela requerida em tais circunstncias, o fato de a concor-
rncia retrair-se no crdito gera uma grande oportunidade.
Como as cooperativas conhecem melhor o seu associado do
que o banco a seu cliente, devem aproveitar essa proximidade
e antecipar-se aos concorrentes na busca do bom tomador.
inegvel que a agilidade para atender a uma necessidade,
muitas vezes emergente, do associado far aumentar o sen-
timento de gratido e de pertencimento do cooperado, alm
de impulsionar a migrao de seus negcios complementares
(mantidos, no raro, em instituio convencional) para den-
tro da cooperativa. Essa atmosfera, ademais, aponta para a
possibilidade de atrao de novos cooperados, diante de sua
insatisfao como clientes de bancos.
Consulta a perodos recentes de semelhante adversida-
de ou incerteza, tanto no ambiente domstico como exter-
no (vide, por exemplo, 2008/2009), revela que as cooperati-
vas deram saltos mais representativos em sua expanso jus-
tamente nesses momentos, afirmando, assim, um de seus
grandes diferenciais, que o compromisso permanente
com o cooperado e a sua comunidade. Essa fidelidade,
como j se disse, reproduz-se no comprometimento (fideli-
dade recproca) do cooperado com a sua prpria instituio
financeira.
A conjuntura tambm sugere uma oferta mais intensiva
do portflio de produtos e servios fora da intermediao
financeira. Com efeito, a prudncia adicional que se impe
em relao ao crdito (pelo alto risco envolvido) h de
Pimpulsionar a explorao das inmeras alternativas de neg-
cios j disponveis e ainda muito pouco ativadas no meio
cooperativo, como seguros, cartes, consrcios, previdn-
cia privada, cobrana, convnios e adquirncia (de cartes),
solues essas de elevado potencial de rentabilidade e irrele-
vante consumo de capital (pelo risco irrisrio). Neste parti-
cular, alis, as cooperativas enfrentaro o apetite voraz dos
bancos de varejo, que se tornaro ainda mais agressivos na
busca de receitas novas para recompor a reduo dos
ganhos com o crdito.
Por fim, o cooperativismo dever tambm entrar no cli-
A vida assim: esquenta e esfria,
aperta e da afrouxa, sossega e depois
desinqueta. O que ela quer da gente
coragem (Guimares Rosa)
Oportunidades do
cooperativismo
financeiro em
cenrio econmico
adverso
nio Meinen advogado, ps-graduado em direito
(FGV/RJ) e em gesto estratgica de pessoas (UFRGS)
e autor/coautor de vrios artigos e livros sobre
cooperativismo financeiro rea na qual milita h 31
anos , entre eles Cooperativismo financeiro: percurso
histrico, perspectivas e desafios. Atualmente,
diretor de operaes do Banco Cooperativo do Brasil
(Bancoob).
Asco
m/B
an
co
ob
nio Meinen
RUMOS 16 Janeiro/Fevereiro 2015
Para o cooperativismo
financeiro, o fato de a
concorrncia retrair-se
no crdito gera uma
grande oportunidade
* Sistema Financeiro Cooperativo
Data-base: Terceiro Trimestre de 2014
RUMOS 17 Janeiro/Fevereiro 2015
arece haver um grande consenso de que em 2015
teremos de nos reposicionar como governo,
cidados e empreendedores. E os ajustes para
assegurar a travessia sero bastante sensveis
do ponto de vista financeiro, concentrados na mxima do
gastar menos e melhor, j que a economia parece no dar
sinais de grande vitalidade. E como esse cenrio repercutir
no mercado bancrio e, em particular, no cooperativismo
financeiro?
Por conta das expectativas nada animadoras sobre nvel
da atividade econmica e do j elevado grau de comprometi-
mento da renda dos brasileiros com o pagamento de dvidas
h pouco contradas, improvvel que o sistema financeiro
convencional sinta-se vontade para seguir emprestando
com o apetite de outros tempos, especialmente para financi-
ar o consumo. Isso inclui at mesmo os bancos oficiais, uma
vez que o Tesouro j no tem o mesmo flego para bancar as
necessidades de capital dessas instituies.
E tem mais: porquanto tambm se prognostica a descon-
tinuidade dos reajustes reais nos salrios (a prioridade ser
manter o emprego), combinada com novas demisses, nota-
damente na indstria, aumenta a preocupao com a inadim-
plncia. Crescendo as impontualidades nos resgates das obri-
gaes junto ao sistema financeiro, acentuam-se as provises,
o que, por sua vez, diminui a disponibilidade de capital para
novos emprstimos.
Para o cooperativismo financeiro, sem que se despreze a
ma que identifica e desafia os novos tempos da nao
como um todo. Da que, de um lado, rever seus modelos orga-
nizacionais de modo a, por exemplo, aproveitar adequada-
mente as estruturas de segundo e terceiro nveis sistmicos
(gastando menos e melhor), e avanar nos processos de aglu-
tinaes/incorporaes (tanto para economizar como para
ampliar os limites operacionais de forma a atender a deman-
das de crdito mais expressivas), e, de outro, repensar o
padro de seus investimentos, otimizando-os, sero movi-
mentos cuja eficincia fortalecer o setor e alavancar a sua
presena no mercado financeiro.
AARTIGO NOVO ANO
cautela requerida em tais circunstncias, o fato de a concor-
rncia retrair-se no crdito gera uma grande oportunidade.
Como as cooperativas conhecem melhor o seu associado do
que o banco a seu cliente, devem aproveitar essa proximidade
e antecipar-se aos concorrentes na busca do bom tomador.
inegvel que a agilidade para atender a uma necessidade,
muitas vezes emergente, do associado far aumentar o sen-
timento de gratido e de pertencimento do cooperado, alm
de impulsionar a migrao de seus negcios complementares
(mantidos, no raro, em instituio convencional) para den-
tro da cooperativa. Essa atmosfera, ademais, aponta para a
possibilidade de atrao de novos cooperados, diante de sua
insatisfao como clientes de bancos.
Consulta a perodos recentes de semelhante adversida-
de ou incerteza, tanto no ambiente domstico como exter-
no (vide, por exemplo, 2008/2009), revela que as cooperati-
vas deram saltos mais representativos em sua expanso jus-
tamente nesses momentos, afirmando, assim, um de seus
grandes diferenciais, que o compromisso permanente
com o cooperado e a sua comunidade. Essa fidelidade,
como j se disse, reproduz-se no comprometimento (fideli-
dade recproca) do cooperado com a sua prpria instituio
financeira.
A conjuntura tambm sugere uma oferta mais intensiva
do portflio de produtos e servios fora da intermediao
financeira. Com efeito, a prudncia adicional que se impe
em relao ao crdito (pelo alto risco envolvido) h de
Pimpulsionar a explorao das inmeras alternativas de neg-
cios j disponveis e ainda muito pouco ativadas no meio
cooperativo, como seguros, cartes, consrcios, previdn-
cia privada, cobrana, convnios e adquirncia (de cartes),
solues essas de elevado potencial de rentabilidade e irrele-
vante consumo de capital (pelo risco irrisrio). Neste parti-
cular, alis, as cooperativas enfrentaro o apetite voraz dos
bancos de varejo, que se tornaro ainda mais agressivos na
busca de receitas novas para recompor a reduo dos
ganhos com o crdito.
Por fim, o cooperativismo dever tambm entrar no cli-
A vida assim: esquenta e esfria,
aperta e da afrouxa, sossega e depois
desinqueta. O que ela quer da gente
coragem (Guimares Rosa)
Oportunidades do
cooperativismo
financeiro em
cenrio econmico
adverso
nio Meinen advogado, ps-graduado em direito
(FGV/RJ) e em gesto estratgica de pessoas (UFRGS)
e autor/coautor de vrios artigos e livros sobre
cooperativismo financeiro rea na qual milita h 31
anos , entre eles Cooperativismo financeiro: percurso
histrico, perspectivas e desafios. Atualmente,
diretor de operaes do Banco Cooperativo do Brasil
(Bancoob).
Asco
m/B
an
co
ob
nio Meinen
RUMOS 16 Janeiro/Fevereiro 2015
Para o cooperativismo
financeiro, o fato de a
concorrncia retrair-se
no crdito gera uma
grande oportunidade
* Sistema Financeiro Cooperativo
Data-base: Terceiro Trimestre de 2014
nifica entender que existem dificuldades, pois nos coloca-
mos numa situao muito difcil; e entender que para sair des-
sa situao vamos precisar de um grande esforo. Realmente
vamos precisar acionar diversos mecanismos, envolver
diversos atores, e mesmo com todo esse esforo precisare-
mos enxergar de uma forma realista e entender que talvez
algum grau, por exemplo, de mudanas climticas ou de
escassez de recursos, vamos vivenciar e precisaremos lidar
com essa situao. Mas no fazer nada muito pior, claro,
ento precisamos fazer alguma coisa.
Rumos No livro, o senhor faz uma comparao entre a
crise financeira de 2008 e a crise de 1929. No seria um
exagero fazer essa relao ou o impacto da recente crise
foi realmente comparvel quela grande crise mundial?
Matias A comparao das duas crises vlida porque foi a
maior crise global aps 1929, afetou o mundo inteiro e teve
como epicentro os Estados Unidos, no centro nervoso do sis-
tema econmico mundial. Ento, de fato, foi uma crise muito
grande. Parece que ela no vai durar tanto quanto a de 1929 e
talvez no tenha efeito to grande como foi. Mas eu acho que
a comparao mais importante entre as duas crises atuais: a
crise financeira, de que bem ou mal o mundo est saindo,
alguns pases mais rpido que outros; e a crise ambiental. A
que est o grande paralelo. A crise financeira e a crise ambien-
tal resultam de incentivos perversos. As duas so do mesmo
tipo de mentalidade predatria que faz com que se leve em
conta o curto prazo em detrimento do longo prazo. A mesma
mentalidade que leva ao desequilbrio financeiro, porque exis-
RUMOS 18 Janeiro/Fevereiro 2015 RUMOS 19 Janeiro/Fevereiro 2015
umos A obra possui um formato diferente,
em que o senhor pontua algumas passagens
com um pouco de literatura, existe um perso-
nagem que permeia o livro. Por que a escolha dessa
metodologia?
Eduardo Felipe Matias Eu crio este personagem no in-
cio do livro e ele volta a aparecer prximo ao meio e no final,
exatamente para trazer o leitor para dentro do problema, para
envolv-lo nessa situao. O personagem um professor e
no tem nome, talvez seja esse o objetivo: tentar fazer com
que as pessoas se identifiquem com este personagem e perce-
bam que somos ns todos que estamos contra as cordas.
Agora, o livro tem uma forma de apresentao que muito
didtica, mas no romanceada. A pessoa se envolve com
essa situao do professor e provavelmente vai ler o livro
como se estivesse participando daquelas aulas, mas se envol-
vendo com aquela realidade. Foi um objetivo de aumentar o
envolvimento do leitor exatamente porque esse um proble-
ma que s se soluciona com o envolvimento de todos ns.
Como eu digo no livro, no um problema que se resolve
com uma ao de apenas um ou outro ator, depende do crcu-
lo virtuoso da sustentabilidade que envolve diversos atores,
entre eles cada um de ns, cada indivduo.
Rumos O senhor defende que a busca pela sustentabi-
lidade no uma utopia, mas uma necessidade. Por
qu? Ela verdadeiramente vivel?
Matias importante ser realista na raiz do problema. Ser
realista no significa ter posio derrotista, ao contrrio, sig-
Por Thais Sena Schettino
te uma preocupao em apurar lucros imediatos indepen-
dentemente da capacidade dessas empresas de lucrar em lon-
go prazo, leva tambm a esgotar os recursos naturais a curto
prazo. Esse o paralelo mais importante.
A globalizao, sobretudo no modo como encarada
hoje, uma expanso do capitalismo, para um capitalismo de
livre mercado, de desregulamentao da economia, e por a
segue. E o que a gente constatou com a crise de 2008, e tem
constatado com a crise ambiental, que esse modelo tem limi-
MEIO AMBIENTE
R tes muito srios e resolver ou superar essas limitaes depen-de, em grande parte, do papel do Estado, que no pode ser empresrio. uma lio que fica: o Estado no um bom
empresrio e isso j foi assimilado, mas tambm no pode dei-
xar de exercer uma funo de supervisionar e de criar estmu-
los e incentivos positivos para o mercado. Essa crise veio mos-
trar que a desregulamentao total perigosa em relao glo-
balizao e, portanto, h de se ter cuidado. E a crise ambiental
veio mostrar tambm que esse modelo do crescimento inces-
sante, do crescimento que tem limite, tambm no vivel,
no sustentvel e que por isso preciso repensar o modelo.
Repensar o modelo, que baseado no consumo, para refor-
mular o capitalismo para que ele possa sobreviver.
Rumos Neste sentido, o senhor tem pontuado que
preciso ser criativo e encontrar sadas no capitalismo, e
no fora dele. Isso possvel?
Matias possvel e, devo dizer mais, temos obrigao de
tentar porque de fato o capitalismo, e mais que o capitalismo,
a globalizao tem condies para tal. A globalizao pode
ser vista como um inimigo, com essa nfase no crescimento e
na produo incessantes, mas ela tambm um aliado medi-
da que se precisa de novas tecnologias de baixo carbono para
combater principalmente as mudanas climticas. um pode-
roso aliado para espalhar mais rapidamente essas tecnologias,
mas preciso tambm uma nova mentalidade, que entenda
que esse consumismo excessivo prejudicial ao planeta. E
como que se vai espalhar essa mentalidade? Mais uma vez,
positivo voc ter, talvez pela primeira vez na histria, um
E ENTREVISTA Eduardo Felipe Matias
O advogado Eduardo Felipe Matias, especialista em direito internacional,
ganhador do Prmio Jabuti em 2006, na categoria Economia, Negcios,
Administrao e Direito, no esconde sua preocupao com o futuro do planeta:
temos que mudar radicalmente a nossa forma de ser e viver. A crise ambiental
veio mostrar que esse modelo do crescimento incessante no vivel, no
sustentvel e que por isso preciso repensar o modelo. Em seu mais recente
livro, A humanidade contra as cordas, o advogado apresenta dados, expem
estudos e no deixa dvida de que estamos no caminho para o esgotamento
dos recursos naturais. Mas sua viso no pessimista, e, sim, realista. Existem
solues a serem buscadas, que passam pelo engajamento e pela adaptao
das populaes aos novos tempos. Confira!
Engajamento para uma nova realidade
Div
ulg
a
o
A humanidade contra as
cordas
Eduardo Felipe P. Matias
Paz e Terra, 364p., 2014.
nifica entender que existem dificuldades, pois nos coloca-
mos numa situao muito difcil; e entender que para sair des-
sa situao vamos precisar de um grande esforo. Realmente
vamos precisar acionar diversos mecanismos, envolver
diversos atores, e mesmo com todo esse esforo precisare-
mos enxergar de uma forma realista e entender que talvez
algum grau, por exemplo, de mudanas climticas ou de
escassez de recursos, vamos vivenciar e precisaremos lidar
com essa situao. Mas no fazer nada muito pior, claro,
ento precisamos fazer alguma coisa.
Rumos No livro, o senhor faz uma comparao entre a
crise financeira de 2008 e a crise de 1929. No seria um
exagero fazer essa relao ou o impacto da recente crise
foi realmente comparvel quela grande crise mundial?
Matias A comparao das duas crises vlida porque foi a
maior crise global aps 1929, afetou o mundo inteiro e teve
como epicentro os Estados Unidos, no centro nervoso do sis-
tema econmico mundial. Ento, de fato, foi uma crise muito
grande. Parece que ela no vai durar tanto quanto a de 1929 e
talvez no tenha efeito to grande como foi. Mas eu acho que
a comparao mais importante entre as duas crises atuais: a
crise financeira, de que bem ou mal o mundo est saindo,
alguns pases mais rpido que outros; e a crise ambiental. A
que est o grande paralelo. A crise financeira e a crise ambien-
tal resultam de incentivos perversos. As duas so do mesmo
tipo de mentalidade predatria que faz com que se leve em
conta o curto prazo em detrimento do longo prazo. A mesma
mentalidade que leva ao desequilbrio financeiro, porque exis-
RUMOS 18 Janeiro/Fevereiro 2015 RUMOS 19 Janeiro/Fevereiro 2015
umos A obra possui um formato diferente,
em que o senhor pontua algumas passagens
com um pouco de literatura, existe um perso-
nagem que permeia o livro. Por que a escolha dessa
metodologia?
Eduardo Felipe Matias Eu crio este personagem no in-
cio do livro e ele volta a aparecer prximo ao meio e no final,
exatamente para trazer o leitor para dentro do problema, para
envolv-lo nessa situao. O personagem um professor e
no tem nome, talvez seja esse o objetivo: tentar fazer com
que as pessoas se identifiquem com este personagem e perce-
bam que somos ns todos que estamos contra as cordas.
Agora, o livro tem uma forma de apresentao que muito
didtica, mas no romanceada. A pessoa se envolve com
essa situao do professor e provavelmente vai ler o livro
como se estivesse participando daquelas aulas, mas se envol-
vendo com aquela realidade. Foi um objetivo de aumentar o
envolvimento do leitor exatamente porque esse um proble-
ma que s se soluciona com o envolvimento de todos ns.
Como eu digo no livro, no um problema que se resolve
com uma ao de apenas um ou outro ator, depende do crcu-
lo virtuoso da sustentabilidade que envolve diversos atores,
entre eles cada um de ns, cada indivduo.
Rumos O senhor defende que a busca pela sustentabi-
lidade no uma utopia, mas uma necessidade. Por
qu? Ela verdadeiramente vivel?
Matias importante ser realista na raiz do problema. Ser
realista no significa ter posio derrotista, ao contrrio, sig-
Por Thais Sena Schettino
te uma preocupao em apurar lucros imediatos indepen-
dentemente da capacidade dessas empresas de lucrar em lon-
go prazo, leva tambm a esgotar os recursos naturais a curto
prazo. Esse o paralelo mais importante.
A globalizao, sobretudo no modo como encarada
hoje, uma expanso do capitalismo, para um capitalismo de
livre mercado, de desregulamentao da economia, e por a
segue. E o que a gente constatou com a crise de 2008, e tem
constatado com a crise ambiental, que esse modelo tem limi-
MEIO AMBIENTE
R tes muito srios e resolver ou superar essas limitaes depen-de, em grande parte, do papel do Estado, que no pode ser empresrio. uma lio que fica: o Estado no um bom
empresrio e isso j foi assimilado, mas tambm no pode dei-
xar de exercer uma funo de supervisionar e de criar estmu-
los e incentivos positivos para o mercado. Essa crise veio mos-
trar que a desregulamentao total perigosa em relao glo-
balizao e, portanto, h de se ter cuidado. E a crise ambiental
veio mostrar tambm que esse modelo do crescimento inces-
sante, do crescimento que tem limite, tambm no vivel,
no sustentvel e que por isso preciso repensar o modelo.
Repensar o modelo, que baseado no consumo, para refor-
mular o capitalismo para que ele possa sobreviver.
Rumos Neste sentido, o senhor tem pontuado que
preciso ser criativo e encontrar sadas no capitalismo, e
no fora dele. Isso possvel?
Matias possvel e, devo dizer mais, temos obrigao de
tentar porque de fato o capitalismo, e mais que o capitalismo,
a globalizao tem condies para tal. A globalizao pode
ser vista como um inimigo, com essa nfase no crescimento e
na produo incessantes, mas ela tambm um aliado medi-
da que se precisa de novas tecnologias de baixo carbono para
combater principalmente as mudanas climticas. um pode-
roso aliado para espalhar mais rapidamente essas tecnologias,
mas preciso tambm uma nova mentalidade, que entenda
que esse consumismo excessivo prejudicial ao planeta. E
como que se vai espalhar essa mentalidade? Mais uma vez,
positivo voc ter, talvez pela primeira vez na histria, um
E ENTREVISTA Eduardo Felipe Matias
O advogado Eduardo Felipe Matias, especialista em direito internacional,
ganhador do Prmio Jabuti em 2006, na categoria Economia, Negcios,
Administrao e Direito, no esconde sua preocupao com o futuro do planeta:
temos que mudar radicalmente a nossa forma de ser e viver. A crise ambiental
veio mostrar que esse modelo do crescimento incessante no vivel, no
sustentvel e que por isso preciso repensar o modelo. Em seu mais recente
livro, A humanidade contra as cordas, o advogado apresenta dados, expem
estudos e no deixa dvida de que estamos no caminho para o esgotamento
dos recursos naturais. Mas sua viso no pessimista, e, sim, realista. Existem
solues a serem buscadas, que passam pelo engajamento e pela adaptao
das populaes aos novos tempos. Confira!
Engajamento para uma nova realidade
Div
ulg
a
o
A humanidade contra as
cordas
Eduardo Felipe P. Matias
Paz e Terra, 364p., 2014.
E ENTREVISTA mundo realmente interligado, interdependente, em que cada
vez mais a influncia cultural recproca.
Respondendo pergunta, sobre se de fato possvel, acre-
dito que para reverter esse quadro preciso transformar a
nossa economia, caminhar realmente para uma economia ver-
de e para uma sociedade mais verde, e para isso importante a
globalizao. Ela pode ser maleada e, portanto, possvel
sim. Agora, essa uma viso realista. possvel dentro de
determinadas limitaes que existem, porque muitos pases
ainda precisam crescer, muitas populaes ainda precisam ter
acesso a bens materiais e por a vai; e isso vai ter, quase que ine-
vitavelmente, um efeito. Energias renovveis, por exemplo,
que sejam menos nocivas ao meio ambiente numa escala
necessria para atender grandes populaes, algo que pode
levar mais tempo.
Rumos Nessa linha, o senhor sinaliza que pela primei-
ra vez existe esse cenrio em que a humanidade tam-
bm dispe de recursos para procurar essas solues.
Matias isso, precisamos destravar esse potencial criativo
e empreendedor. Da mesma forma que o Estado tem um
papel, uma vez que ele que d a sinalizao de que as emis-
ses de carbono e o uso excessivo de recursos deveriam ser
penalizados de alguma forma, as empresas tambm tm que
reagir a esses estmulos e gerar novas tecnologias. As empre-
sas podem ser pressionadas e podem ser persuadidas; alis,
elas devem ser pressionadas e persuadidas. Pressionadas no
sentido de que a regulao, o consumidor mais consciente ou
outras empresas que j adotaram modelos mais sustentveis
pressionam para que essas empresas tambm o faam. E per-
suadidas no sentido de que temos que mostrar para as empre-
sas que existe um business case, a sustentabilidade pode ser um
bom negcio. Elas provavelmente tero melhor reputao,
maior envolvimento com os seus empregados, podero
explorar novos nichos de mercado mais vezes, vo ter redu-
o de custos, porque vo ser mais eficientes. Ento, existem
sim muitos motivos para convencer as empresas que a sus-
tentabilidade um bom negcio.
Rumos Seguindo o ttulo da obra, o senhor coloca que
a questo da sustentabilidade uma luta contra a huma-
nidade, contra ns mesmos: somos nossos prprios opo-
nentes. Isso facilita ou complica esse confronto?
Matias Por que eu uso a imagem do boxeador? Porque
exatamente isso, em algum momento esse personagem expli-
ca que no final uma luta: ficamos atordoados, ficamos con-
tra as cordas e com dificuldade de reagir, e em determinado
momento percebemos que o boxeador que est do outro
lado somos ns mesmos. E a dificuldade exatamente essa
percebemos que para mudar, para superar esse problema,
temos que mudar radicalmente a nossa forma de ser e viver, e
existe uma inrcia muito grande, as pessoas continuam fazen-
do as coisas da mesma forma como sempre fizeram, preciso
romper isso. E de fato eu acho que dificulta. Dificulta porque
se trata apenas de mudar as empresas ou s mudar os gover-
nos, temos que mudar toda nossa forma de ser e de pensar
como sociedade. Ento, de fato uma misso difcil, mas a
misso do nosso tempo. a misso da nossa era.
Rumos As campanhas globais de mobilizao, como
Um Dia sem Automvel, podem levar a uma sada a
essa inrcia ou ser preciso pensar em algo ainda mais
revolucionrio para fazer as pessoas buscarem alter-
nativas?
Matias As campanhas ajudam, mas ser preciso haver
todas essas aes ao mesmo tempo agora. Esse o ponto:
preciso criar um crculo virtuoso de sustentabilidade e todas
essas aes ajudam. Quando se estimulam as empresas a per-
ceberem que a sustentabilidade pode ser um bom negcio e
faz-se com que elas se movam, algo que ajuda. Quando uma
empresa quer pressionar o seu fornecedor porque ela tam-
bm quer ser mais sustentvel, e ento quer influenciar sua
cadeia de suprimentos, ajuda. Tambm quando se diz que o
governo tem que criar regulaes que obriguem as empresas
a serem mais sustentveis e talvez nada seja mais efetivo
hoje em dia do que criar algum tipo de precificao do carbo-
no, ou seja, atribuir um preo s emisses de gs de efeito estu-
fa; isso pode ser feito por meio de um tributo, por meio de
licenas de emisso, mas tem que existir, porque daria um
sinal muito claro para as empresas, os mercados e para a soci-
edade de que o comportamento ao comprar um produto, ao
fabricar um produto que tem alto grau de emisses de carbo-
no em sua produo, prejudicial ao meio ambiente. Ento, a
soma de todos esses pequenos mecanismos e aes que
podem levar a reverter a situao atual.
Rumos Em suas palavras, nos livros e aulas que minis-
tra, parece haver certo ceticismo quanto efetivao des-
sas mudanas...
Matias O tom do livro realista e ao ser realista no d para
simplesmente dizer tudo vai se resolver num passe de mgi-
ca com a descoberta de uma nova tecnologia, ou com a cria-
o de imposto sobre o carbono, ou o que quer que seja. Ao
contrrio, temos que constatar que, mesmo com todas essas
aes necessrias, ainda assim possvel que no d tempo de
deter absolutamente as mudanas climticas, e a que entra a
questo da adaptao. Hoje, a posio responsvel diz que
RUMOS 20 Janeiro/Fevereiro 2015 RUMOS 21 Janeiro/Fevereiro 2015
ns temos que fazer todo o possvel para resolver o problema
e temos que fazer j. Agora, sendo realista, existem pases que
ainda vo continuar a crescer, muitos deles usando energias
que ainda no so as mais limpas e, portanto, ns temos que
pensar em alternativas que nos garantam ou que evitem
outros problemas que podem surgir em decorrncia das
mudanas climticas. Estamos falando basicamente de adap-
tao. O tom realista. No ctico no sentido de isso no
vai acontecer; realista no sentido de que, mesmo no
melhor cenrio... quer dizer, o melhor cenrio seria de uma
grande descoberta de uma tecnologia nova disruptiva que
resolvesse o problema de fornecimento de energia do mundo
e por a vai; ou seja, isto algo que impondervel. Dentro do
script normal,