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EDITORIAL ECONOMIA & DESENVOLVIMENTO PARA OS NOVOS TEMPOS ANO 40 – Nº 283 – Setembro/Outubro de 2015 Especial Memória: 40 anos de publicação e muitas histórias

Rumos 283

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Revista Rumos - Setembro/Outubro 2015

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EDITORIAL

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Especial Memória: 40 anos de publicação e muitas histórias

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ste é um número especial. Como todo mês de setembro, viramos o ano da capa e agora entramos no ano 40. E com isso, damos início à comemoração dos 40 anos da revista, que serão completados daqui a doze meses, na edição e setembro/outubro de 2016. Neste primeiro número come-

morativo, inauguramos a nossa seção “Memória” e trazemos um artigo do mais longevo jornalista da publicação, o Luiz Cláudio Dias Reis, que há 18 anos acompanha a revista.

Ancorada no presente, nossa reportagem de capa demonstra o “esta-do de arte” das Parcerias Público-Privadas no Brasil. Considerado um mecanismo importante para acelerar os investimentos em infraestrutura no país, as chamadas PPPs ainda possuem grandes desafios para serem implementadas mesmo passados onze anos da aprovação da lei que regu-lamentou o modelo.

Este número conta ainda com uma entrevista com o advogado José Augusto Martins, que comenta a crescente demanda da sociedade por transparência das instituições públicas e demonstra que a Lei da Transpa-rência não se choca com a Lei do Sigilo Bancário, tema caro a essas insti-tuições financeiras. Acompanhamos também mais uma edição do Encontro da Economia Baiana, evento anual que debate os caminhos e oportunidades econômicas neste importante estado da federação e tam-bém em todo o Nordeste brasileiro.

Na coluna “Pelo Mundo”, o vice-presidente e economista chefe do Banco de Desenvolvimento do Canadá, Pierre Cléroux, conta sobre a importância – fundamental – da instituição para os negócios canadenses.

Boa leitura!

EAO LEITOR

Seção

RUMOS – 4 – Setembro/Outubro 2015

S SUMÁRIO

FOMENTO50

LIVROS52

37REFLEXÃOFelipe Salgado e Luiz Gamboa Por uma nova Agenda Globalde Desenvolvimento

EXPERTISE

Sigilo e transparência lado a lado

5 8OPINIÃO

Menos “agito”, mais açãoAntonio Delfim Netto

48PELO MUNDO

Uma contribuição vital para os negócios canadenses

Pierre Cléroux

42EXTREMO SUL

Fonte de crédito para odesenvolvimento do Sul

Desempenho

40ARTIGO

Impenhorabilidade das quotas-partes de sociedades cooperativas

Ênio Meinen

30Desafios e oportunidades

REPORTAGEM CAPAPPP

José Augusto Martins

12ARTIGO

Avis RaraLuiz Claudio dias Reis

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14EMPREENDER

Para movimentar os pequenos negócios

Incentivo

20REPORTAGEMDesenvolvimento regionalAjustes e desafios na economia

26REPORTAGEMMicrocréditoComunidades empreendedoras

44REPORTAGEMFórum NacionalReceitas para o “alto crescimento”

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RUMOS 5 – Setembro/Outubro 2015 –

recente noticiário envolven-do atos ilícitos tanto em órgãos do governo, como em instituições privadas e até internacionais, como a

Federação Internacional de Futebol (Fifa), trouxe de volta à pauta o tema da transparência nos negócios e sua impor-tância para o país. Para falar sobre o tema, Rumos entrevistou o advogado José Augusto Martins, que há 16 anos trabalha na Trench, Rossi e Watanabe Advogados, especialmente com Direito Bancário e Financeiro, Societário, Contratos, Fusões, Aquisições, Mercados de Capitais e Financiamento de Projeto. Formado pela Universidade de São Paulo, e mestre em Direito Internacional pela mesma instituição, o especialista adquiriu, ao longo de sua carreira, larga experiência em mercados bancários e de capitais, representando credores e tomadores de empréstimos em operações de financia-mento nacional e internacional. Há oito anos tornou-se sócio da Trench.

Quanto mais se solidifica a democra-cia no Brasil, mais o tema da transparência ganha força, aumentando a exigência por clareza nos investimentos, tanto quando se trata de recursos públicos, como de privados que afetem o interesse da socie-

O advogado José Augusto Martins explica como e quando a Lei do Sigilo pode ser quebrada e que ela, em verdade, não conflita com a Lei da Transparência. Confira!

Por Ana Redig

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José Augusto Martins

Sigilo e transparência lado a lado

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dade brasileira. Sempre que uma denúncia de corrupção ou malversação de recursos ganha as páginas dos jornais, volta à baila a possibilidade da quebra do sigilo bancário para que se elucidem os fatos. Consequentemente, o debate em torno de sua constitucionalidade volta à pauta.

José Augusto Martins explica que a legislação brasileira prevê que todos os dados confiados a um banco devem ser guardados sob

sigilo. Como um sigilo profissional, é crime revelar informações do cliente, podendo o banco ser punido por violar esta lei. Ao mesmo tempo, pelo fato de o sistema bancário brasileiro ser extre-mamente bem organizado, regulado e fiscalizado, ele acaba por guardar grande parte das possíveis provas, em caso de investigação de atos ilícitos.

Na opinião do especialista, o sigilo bancário é uma obrigação legal e um direito garantido por lei e que, portanto, deve ser sempre mantido. “O Judiciário agora já se posicionou sobre a questão da quebra ou não do sigilo, assumindo que a liberação das informações só pode ser solicitada mediante ordem judicial, ou seja, somente um juiz pode determinar se esta lei pode ser quebrada ou não, caso ele avalie que é essencial para a apuração dos fatos,” esclarece Martins.

Mesmo que seja uma autoridade fiscal, mesmo que existam fortes indícios, será necessária uma ordem judicial para que sejam apresentados a ela os dados bancários de determinada empresa, instituição ou pessoa. “A única exceção é a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que, em determinados casos, tem poderes jurisdicionais”, ressalta o advogado.

Esta exigência ocorre porque o sigilo bancário está previsto nos Direitos e Garantias Constitucionais da Constituição de 1988. Isso garante que ninguém pode ser privado de seus direi-tos sem o devido processo legal. Neste caso, tanto o dono da informação tem direito ao sigilo, como a instituição financeira tem a obrigação de guardá-lo. Por isso, quebrar o sigilo é muito delicado. “A Lei da Reforma Bancária (Lei 4.595/64) reforça a obrigação de que as instituições financeiras guardem o sigilo de informações de seus clientes e, somente em caso de ordem judicial em contrário, os bancos passam a ter a obrigação inver-sa, ou seja, de fornecer a informação à Justiça para que as denúncias de corrupção, enriquecimento ilícito, associação ao crime etc., possam ser apuradas”, destaca o especialista.

O advogado explica que nem sempre foi assim. “Em um primeiro momento, o Supremo Tribunal Federal entendeu que as autoridades fiscais poderiam, também, solicitar a quebra de sigilo, mas depois de um longo debate chegou-se a um novo

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acórdão que modificou este entendi-mento, deixando-o como vigora hoje”, reforça Martins.

Lei da Transparência – Apesar de parecer contraditório, o princípio da transparência não afeta o direito ao sigilo bancário, nem mesmo o comer-cial. José Augusto Martins lembra de um debate recente envolvendo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econô-mico e Social (BNDES) e o Tribunal de Contas da União (TCU). O advogado resume o caso:

“O Tribunal de Contas da União solicitou informações ao BNDES e o banco questionou algumas delas, pois, segundo argumentaram, eram dados de mercado e não tinham qualquer relação com a operação em questão. O rito escolhido pelo BNDES para impedir ou tentar impedir o envio das informa-ções foi um mandado de segurança, que não admite um debate muito amplo porque dependeria de discutir provas. A par do debate sobre transparência e sigilo, ficou claro que não era intenção do BNDES negar ou omitir informa-

ções. No entanto, os ministros entenderam que não havia ficado demonstrado que aquelas informações eram desneces-sárias para o TCU ou que os dados requeridos não eram relati-vas à operação, e sim, informações de mercado.” Vale destacar que o O BNDES está sujeito a duas entidades fiscalizadoras: o Banco Central e o Tribunal de Contas da União (TCU). Por ser regido por todas as leis que envolvem os bancos, o Banco Central também tem as mesmas obrigações de guarda de sigilo, ou seja, todas as informações que os bancos passam ao Banco Central como fiscalizador devem, também, serem conservadas em sigilo.

“Lendo o acórdão, é fácil notar que o julgamento foi casu-ístico, ou seja, naquele caso específico eles entenderam que o BNDES deveria entregar tudo o que o TCU pediu. Eu, parti-cularmente, acho que o banco não tinha negado o fornecimen-to dos dados das informações principais, mas sim questionou a necessidade de compartilhar informações de mercado que integram o pacote de proteção ao cliente, informações estas inúteis para análise do TCU com relação ao uso do dinheiro público”, analisa José Augusto Martins. Ele lembra que, apesar de a resolução só valer para as partes envolvidas, aponta para uma tendência de decisão do Judiciário.

Já o caso da Fifa, que também tem ganho destaque na imprensa mundial, é bem diferente. Apesar de só acompanhar a questão da Fifa pelos noticiários e publicações especializadas, o advogado nos ajuda a entender melhor o mecanismo do que vem acontecendo com a empresa organizadora da Copa do Mundo de Futebol. “A Fifa é uma instituição privada, uma entidade com sede na Suíça, que está sofrendo um processo de

José Augusto Martins

O Judiciário já se posicionou sobre a

questão da quebra ou não do sigilo: a libera-ção das informações só pode ser solicitada mediante ordem judi-cial, ou seja, somente um juiz pode determi-nar se esta lei pode

ser quebrada ou não, caso ele avalie que é essencial para a apu-

ração dos fatos.

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investigação nos Estados Unidos por uma legislação que visa coibir atos de corrupção praticados no país por empresas estrangeiras, ou com sede fora dos EUA. Em não sendo banco, a Fifa está protegida por sigilos comercia-is e constitucionais, e isso varia de país a país onde ela tenha representação. A quebra do sigilo bancário da Fifa e, aí no Brasil, ela também deve ser solicitada via Judiciário. No caso do BNDES, anteriormente analisado, além de ser um banco, ele também é responsável por operar recursos públicos, utiliza recursos de dotação orçamentária, sujeito portanto a outros tipos de fisca-lização da Lei de Responsabilidade Fiscal.

A Petrobras, de economia mista e também no alvo de denúncias com a operação Lava-Jato, também está prote-gida por sigilo. Neste caso, o advogado nada pôde falar sobre o caso, já que a Trench, Rossi e Watanabe Advogados trabalha na defesa da empresa. “Tam-bém neste caso, o sigilo profissional precisa se impor à necessidade da infor-mação, ao menos até ficar tudo esclare-cido. Antes disso, não podemos falar nada”, esclarece Martins.

Instrumentos de controle – Para José Augusto Martins, o Brasil melhorou em termos de transparência. “Hoje temos mais instituições e instrumentos de controle, a começar pela própria Lei de Responsabilidade Fiscal, que obriga os gover-nantes a planejarem melhor o uso e a aplicação dos recursos públicos e a divulgarem os resultados das ações. Além disso, eles têm que responder pelos atos realizados em seus manda-tos, o que faz com que fiquem atentos e aumentem o controle de custos”, exemplifica o advogado.

Também o papel do Ministério Público foi ampliado e fortalecido pela Constituição de 1988, o que, segundo o espe-cialista, contribui para desenhar este cenário mais favorável em termos de transparência. “Nós estamos ainda em processo de estruturação do país. A promulgação da Constituição de 1988 foi um marco muito importante na construção e na garantia da democracia, e para esta estruturação que acontece agora”, observa José Augusto Martins. Ele pondera que ao longo do tempo a Constituição precisa e deve ser melhorada, aprimora-da em alguns pontos, como tem acontecido por meio de emen-das constitucionais. “Eu acredito que estamos em um proces-so e que caminhamos bem. Basta olharmos para 20, 30 anos atrás para não ter qualquer dúvida de que o país avançou”, garante.

Para o advogado, o Brasil hoje apresenta instituições sóli-das, especialmente se comparado a outros países que se encon-tram em condições históricas semelhantes, como Argentina e Chile, na América Latina, e até mesmo entre países asiáticos e

os integrantes do Brics. “Em termos de transparência e instituições de controle o Brasil tem princípios jurídicos e cons-titucionais mais sólidos e as próprias instituições de controle hoje gozam de muito mais independência e autonomia do que as existentes na China, Índia e Rússia, por exemplo”, observa.

José Augusto Martins destaca que essa solidez institucional no Direito Comercial é muito importante quando se fala em decisão de investimentos. A estabilidade, a presença de instituições fortes, marcos regulatórios bem defini-dos e ajustados permitem até que estas denúncias aconteçam, sem que as insti-tuições se abalem.

Mesmo quando envolvem governos de qualquer instância, como os cargos foram eleitos democraticamente, dentro de uma instituição eleitoral firme, séria e segura, as denúncias podem ser apura-das sem provocar ingovernabilidade. Além disso, como destacado anterior-mente, o setor bancário brasileiro é muito bem organizado e sólido, além de bastante regulado. “Podemos dizer isso tanto dos bancos públicos como dos

privados, todos regulados pelas mesmas regras e normas do Banco Central. Isso nos livrou de problemas como os que ocorrem nos Estados Unidos, por exemplo, que entraram numa crise sem precedentes por total falta de controle. O nosso modelo se mostrou mais transparente do que o deles, apenas ajustado pelo mercado”, compara o advogado.

José Augusto Martins explica que, até a crise de 2009, algu-mas operações nos Estados Unidos sequer passavam por registro. Lá o entendimento era de que quanto menos regula-do, mais ágil seria o mercado. Esta máxima se mostrou falsa quando o país se deparou com umas das maiores fraudes con-tábeis de que já se teve notícia. “A história mostrou que o mer-cado, apesar de ganhar agilidade, não foi suficiente para regular as empresas”, comenta.

O especialista diz que no Brasil tudo é registrado, apresen-tando um controle muito maior das operações do que se faz nos Estados Unidos e mesmo na Europa. Além disso, temos a transferência bancária mais rápida do mundo e um sistema de pagamentos muito bem estruturado, com possibilidade de prever e corrigir qualquer risco sistêmico. “Este é, de fato, um setor muito avançado. Imagino que parte dessa competência seja resultado dos muitos anos vivendo com inflação. Assim, os bancos tiveram que se municiar de equipamentos de infor-mática, de controle, e assim, acabamos por criar oportunidade na crise”, completa.

José Augusto Martins admite que melhoramos, mas ainda temos muitos desafios. “Democracia significa debate, discus-são, avanços e compromissos. Não é um caminho fácil, com certeza, mas parece que é o melhor caminho.”

Hoje o Brasil tem instituições sólidas, especialmente se

comparado a outros países que se encontram em

condições históricas semelhantes.

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dade brasileira. Sempre que uma denúncia de corrupção ou malversação de recursos ganha as páginas dos jornais, volta à baila a possibilidade da quebra do sigilo bancário para que se elucidem os fatos. Consequentemente, o debate em torno de sua constitucionalidade volta à pauta.

José Augusto Martins explica que a legislação brasileira prevê que todos os dados confiados a um banco devem ser guardados sob

sigilo. Como um sigilo profissional, é crime revelar informações do cliente, podendo o banco ser punido por violar esta lei. Ao mesmo tempo, pelo fato de o sistema bancário brasileiro ser extre-mamente bem organizado, regulado e fiscalizado, ele acaba por guardar grande parte das possíveis provas, em caso de investigação de atos ilícitos.

Na opinião do especialista, o sigilo bancário é uma obrigação legal e um direito garantido por lei e que, portanto, deve ser sempre mantido. “O Judiciário agora já se posicionou sobre a questão da quebra ou não do sigilo, assumindo que a liberação das informações só pode ser solicitada mediante ordem judicial, ou seja, somente um juiz pode determinar se esta lei pode ser quebrada ou não, caso ele avalie que é essencial para a apuração dos fatos,” esclarece Martins.

Mesmo que seja uma autoridade fiscal, mesmo que existam fortes indícios, será necessária uma ordem judicial para que sejam apresentados a ela os dados bancários de determinada empresa, instituição ou pessoa. “A única exceção é a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que, em determinados casos, tem poderes jurisdicionais”, ressalta o advogado.

Esta exigência ocorre porque o sigilo bancário está previsto nos Direitos e Garantias Constitucionais da Constituição de 1988. Isso garante que ninguém pode ser privado de seus direi-tos sem o devido processo legal. Neste caso, tanto o dono da informação tem direito ao sigilo, como a instituição financeira tem a obrigação de guardá-lo. Por isso, quebrar o sigilo é muito delicado. “A Lei da Reforma Bancária (Lei 4.595/64) reforça a obrigação de que as instituições financeiras guardem o sigilo de informações de seus clientes e, somente em caso de ordem judicial em contrário, os bancos passam a ter a obrigação inver-sa, ou seja, de fornecer a informação à Justiça para que as denúncias de corrupção, enriquecimento ilícito, associação ao crime etc., possam ser apuradas”, destaca o especialista.

O advogado explica que nem sempre foi assim. “Em um primeiro momento, o Supremo Tribunal Federal entendeu que as autoridades fiscais poderiam, também, solicitar a quebra de sigilo, mas depois de um longo debate chegou-se a um novo

EX

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acórdão que modificou este entendi-mento, deixando-o como vigora hoje”, reforça Martins.

Lei da Transparência – Apesar de parecer contraditório, o princípio da transparência não afeta o direito ao sigilo bancário, nem mesmo o comer-cial. José Augusto Martins lembra de um debate recente envolvendo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econô-mico e Social (BNDES) e o Tribunal de Contas da União (TCU). O advogado resume o caso:

“O Tribunal de Contas da União solicitou informações ao BNDES e o banco questionou algumas delas, pois, segundo argumentaram, eram dados de mercado e não tinham qualquer relação com a operação em questão. O rito escolhido pelo BNDES para impedir ou tentar impedir o envio das informa-ções foi um mandado de segurança, que não admite um debate muito amplo porque dependeria de discutir provas. A par do debate sobre transparência e sigilo, ficou claro que não era intenção do BNDES negar ou omitir informa-

ções. No entanto, os ministros entenderam que não havia ficado demonstrado que aquelas informações eram desneces-sárias para o TCU ou que os dados requeridos não eram relati-vas à operação, e sim, informações de mercado.” Vale destacar que o O BNDES está sujeito a duas entidades fiscalizadoras: o Banco Central e o Tribunal de Contas da União (TCU). Por ser regido por todas as leis que envolvem os bancos, o Banco Central também tem as mesmas obrigações de guarda de sigilo, ou seja, todas as informações que os bancos passam ao Banco Central como fiscalizador devem, também, serem conservadas em sigilo.

“Lendo o acórdão, é fácil notar que o julgamento foi casu-ístico, ou seja, naquele caso específico eles entenderam que o BNDES deveria entregar tudo o que o TCU pediu. Eu, parti-cularmente, acho que o banco não tinha negado o fornecimen-to dos dados das informações principais, mas sim questionou a necessidade de compartilhar informações de mercado que integram o pacote de proteção ao cliente, informações estas inúteis para análise do TCU com relação ao uso do dinheiro público”, analisa José Augusto Martins. Ele lembra que, apesar de a resolução só valer para as partes envolvidas, aponta para uma tendência de decisão do Judiciário.

Já o caso da Fifa, que também tem ganho destaque na imprensa mundial, é bem diferente. Apesar de só acompanhar a questão da Fifa pelos noticiários e publicações especializadas, o advogado nos ajuda a entender melhor o mecanismo do que vem acontecendo com a empresa organizadora da Copa do Mundo de Futebol. “A Fifa é uma instituição privada, uma entidade com sede na Suíça, que está sofrendo um processo de

José Augusto Martins

O Judiciário já se posicionou sobre a

questão da quebra ou não do sigilo: a libera-ção das informações só pode ser solicitada mediante ordem judi-cial, ou seja, somente um juiz pode determi-nar se esta lei pode

ser quebrada ou não, caso ele avalie que é essencial para a apu-

ração dos fatos.

RUMOS 7 – Setembro/Outubro 2015 –

investigação nos Estados Unidos por uma legislação que visa coibir atos de corrupção praticados no país por empresas estrangeiras, ou com sede fora dos EUA. Em não sendo banco, a Fifa está protegida por sigilos comercia-is e constitucionais, e isso varia de país a país onde ela tenha representação. A quebra do sigilo bancário da Fifa e, aí no Brasil, ela também deve ser solicitada via Judiciário. No caso do BNDES, anteriormente analisado, além de ser um banco, ele também é responsável por operar recursos públicos, utiliza recursos de dotação orçamentária, sujeito portanto a outros tipos de fisca-lização da Lei de Responsabilidade Fiscal.

A Petrobras, de economia mista e também no alvo de denúncias com a operação Lava-Jato, também está prote-gida por sigilo. Neste caso, o advogado nada pôde falar sobre o caso, já que a Trench, Rossi e Watanabe Advogados trabalha na defesa da empresa. “Tam-bém neste caso, o sigilo profissional precisa se impor à necessidade da infor-mação, ao menos até ficar tudo esclare-cido. Antes disso, não podemos falar nada”, esclarece Martins.

Instrumentos de controle – Para José Augusto Martins, o Brasil melhorou em termos de transparência. “Hoje temos mais instituições e instrumentos de controle, a começar pela própria Lei de Responsabilidade Fiscal, que obriga os gover-nantes a planejarem melhor o uso e a aplicação dos recursos públicos e a divulgarem os resultados das ações. Além disso, eles têm que responder pelos atos realizados em seus manda-tos, o que faz com que fiquem atentos e aumentem o controle de custos”, exemplifica o advogado.

Também o papel do Ministério Público foi ampliado e fortalecido pela Constituição de 1988, o que, segundo o espe-cialista, contribui para desenhar este cenário mais favorável em termos de transparência. “Nós estamos ainda em processo de estruturação do país. A promulgação da Constituição de 1988 foi um marco muito importante na construção e na garantia da democracia, e para esta estruturação que acontece agora”, observa José Augusto Martins. Ele pondera que ao longo do tempo a Constituição precisa e deve ser melhorada, aprimora-da em alguns pontos, como tem acontecido por meio de emen-das constitucionais. “Eu acredito que estamos em um proces-so e que caminhamos bem. Basta olharmos para 20, 30 anos atrás para não ter qualquer dúvida de que o país avançou”, garante.

Para o advogado, o Brasil hoje apresenta instituições sóli-das, especialmente se comparado a outros países que se encon-tram em condições históricas semelhantes, como Argentina e Chile, na América Latina, e até mesmo entre países asiáticos e

os integrantes do Brics. “Em termos de transparência e instituições de controle o Brasil tem princípios jurídicos e cons-titucionais mais sólidos e as próprias instituições de controle hoje gozam de muito mais independência e autonomia do que as existentes na China, Índia e Rússia, por exemplo”, observa.

José Augusto Martins destaca que essa solidez institucional no Direito Comercial é muito importante quando se fala em decisão de investimentos. A estabilidade, a presença de instituições fortes, marcos regulatórios bem defini-dos e ajustados permitem até que estas denúncias aconteçam, sem que as insti-tuições se abalem.

Mesmo quando envolvem governos de qualquer instância, como os cargos foram eleitos democraticamente, dentro de uma instituição eleitoral firme, séria e segura, as denúncias podem ser apura-das sem provocar ingovernabilidade. Além disso, como destacado anterior-mente, o setor bancário brasileiro é muito bem organizado e sólido, além de bastante regulado. “Podemos dizer isso tanto dos bancos públicos como dos

privados, todos regulados pelas mesmas regras e normas do Banco Central. Isso nos livrou de problemas como os que ocorrem nos Estados Unidos, por exemplo, que entraram numa crise sem precedentes por total falta de controle. O nosso modelo se mostrou mais transparente do que o deles, apenas ajustado pelo mercado”, compara o advogado.

José Augusto Martins explica que, até a crise de 2009, algu-mas operações nos Estados Unidos sequer passavam por registro. Lá o entendimento era de que quanto menos regula-do, mais ágil seria o mercado. Esta máxima se mostrou falsa quando o país se deparou com umas das maiores fraudes con-tábeis de que já se teve notícia. “A história mostrou que o mer-cado, apesar de ganhar agilidade, não foi suficiente para regular as empresas”, comenta.

O especialista diz que no Brasil tudo é registrado, apresen-tando um controle muito maior das operações do que se faz nos Estados Unidos e mesmo na Europa. Além disso, temos a transferência bancária mais rápida do mundo e um sistema de pagamentos muito bem estruturado, com possibilidade de prever e corrigir qualquer risco sistêmico. “Este é, de fato, um setor muito avançado. Imagino que parte dessa competência seja resultado dos muitos anos vivendo com inflação. Assim, os bancos tiveram que se municiar de equipamentos de infor-mática, de controle, e assim, acabamos por criar oportunidade na crise”, completa.

José Augusto Martins admite que melhoramos, mas ainda temos muitos desafios. “Democracia significa debate, discus-são, avanços e compromissos. Não é um caminho fácil, com certeza, mas parece que é o melhor caminho.”

Hoje o Brasil tem instituições sólidas, especialmente se

comparado a outros países que se encontram em

condições históricas semelhantes.

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omo diria Marx (o Groucho): “todos nascemos iguais, exceto alguns economistas petistas e alguns políticos tucanos que têm feito enorme

esforço para qualificarem-se para o prêmio Ignobel de Eco-nomia e de Política de 2015”. Igualam-se em potência inte-lectual quando propõem, respectivamente, para a saída da crise econômica, mais política anticíclica para corrigir um desequilíbrio fiscal estrutural (cuidadosamente construído) e, para a saída da crise política, nada menos do que a ideia genial de uma nova eleição. Isso, apenas, se não consegui-rem um “jeitinho” de substituir, no tapetão, quem ganhou a eleição por quem a perdeu. Tinha razão meu velho profes-sor Montoro: a que escuridão pode nos levar a ambição des-medida!

É hora de colocarmos de lado o pensamento mágico e colaborarmos para o bom funcionamento das sólidas insti-tuições que construímos. É preciso respeitar um mínimo da lógica econômica que tem sido usada em todas as socieda-des relativamente civilizadas nos últimos 100 anos e que: pro-duz uma módica liberdade de iniciativa individual, uma pro-gressiva igualdade de oportunidades e alguma eficiência pro-dutiva que é a possibilidade de fruição das outras duas. É pre-ciso incorporar o fato que quem foi eleito legitimamente (e Dilma o foi!) só pode ser privado da missão que recebeu da maioria nas urnas, com a mais rigorosa observância do rito constitucional. A “vontade” expressa nas amostragens da opinião pública, por mais exatas e fiéis que sejam; a “gritaria raivosa” no hospício a céu aberto da Câmara dos Deputa-dos; as “passeatas cívicas” dominicais, e os “panelaços mal-educados” das zonas abastadas podem pretender revelar o “espírito da sociedade” com relação ao governo. São, entre-tanto, absolutamente inservíveis como prova para aquela finalidade.

O problema é a absoluta falta de confiança entre um governo eleito majoritariamente no segundo turno contra pouco menos de 2/3 dos eleitores (os que preferiram Aécio, somados aos que recusaram seu voto a ele e a Dilma). Resta-lhe, hoje, menos de 1/3 dos votos que o apoiaram (ou seja, qualquer coisa como 10% do eleitorado) porque, premido pelas circunstâncias, teve a coragem de optar pela política econômica que combatera ferozmente durante a campanha

eleitoral de 2014. Em condições normais de pressão e tem-peratura, isso teria sido um pecado “venial”, mas, dado aos fatos supervenientes, transformou-se num “pecado capi-tal”.

O brasileiro não tem mais tempo para continuar paralisa-do ou meter-se em novas experiências políticas e econômi-cas. Ele sabe que está ameaçado de perder o seu emprego, e, assim, de destruir sua família. Sente o risco de ser empurrado para uma correção de rumo fora do controle do governo. É tempo, pois, da presidente Dilma Rousseff reafirmar o seu caráter e recuperar o seu protagonismo. De apresentar à sua “base” um conjunto de projetos fundamentais nos campos orçamentário, tributário, trabalhista, previdenciário e de cooptar o Congresso para enfrentar os graves obstáculos que consomem a energia do nosso crescimento inclusivo e sustentável. Em benefício do próprio Legislativo, aliás, que terá a oportunidade de recuperar, também, algum respeito da sociedade.

É tempo de reconhecer que as 24 horas de marketing repetitivo na televisão do governo são tão nulas quanto a sua audiência. É tempo de – sem abandonar o diálogo com os “convertidos” – enfrentar os “não convencidos”, pedindo-lhes desculpa, colaboração e paciência. De mostrar firmeza e disposição para atacar com rapidez os problemas que dependem apenas do Executivo (melhorar as agências regu-ladoras, dar liberdade plena à administração da Petrobras etc. etc. etc.). É hora de cortar na própria carne, nem que seja apenas para dar o exemplo.

O ideal para o futuro do Brasil é que Dilma recupere o prestígio e o respeito que recebeu da maioria absoluta dos votos válidos no processo eleitoral. Qualquer outra solução fora da rigorosa disciplina constitucional será um atraso ins-titucional e será ineficiente. Os mesmos problemas (como por exemplo, o desequilíbrio fiscal “estrutural” que explo-diu no seu colo, mas não foi apenas obra sua) vão continuar. Não serão resolvidos enquanto a sociedade não entender que precisa mobilizar-se para pressionar o Executivo e o Legislativo para que cada um cumpra o seu papel nas mudanças institucionais que o Brasil precisa, mas às quais se opõem as minorias organizadas próximas do poder incum-bente eventual.

RUMOS – 8 – Setembro/Outubro 2015

Antonio Delfim Netto

Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP). Ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.

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RUMOS – 11 – Setembro/Outubro 2015 RUMOS – 10 – Setembro/Outubro 2015

á é fato que há uma revolução em curso nas for-mas de comunicação. As novas ferramentas de interação social mediadas pela internet colocam todos em contato, ao mesmo tempo que individu-alizam a comunicação. O formato agora é de rede,

com pontos de conexão, no qual todos emitem e todos rece-bem a informação. As novas maneiras de interação inauguram espaços de comunicação, que potencializam as narrativas das experiências vividas. Em tempo real, em instantes, em segun-dos. Nesse caminho, vários dogmas dos estudos de comunica-ção são colocados em xeque ou, ao menos, revistos.

No turbilhão das mudanças, que não acontecem no vazio social, mas estão presentes em nosso dia a dia, influenciando as rotinas, os encontros e os desencontros da vida, é notável que tenhamos em nossas mãos uma revista que chega aos 40 anos ininterruptos de publicação. São quatro décadas de comunicação com o leitor, sendo a voz de uma Associação que, diante dos mais diversos desafios da economia, não deixou de manter aceso o debate sobre o passado, o pre-sente e o futuro do desenvolvimento brasileiro.

Essa é a Rumos, uma revista que nas-ceu na presença de governos militares, vivenciou a redemocratização, conta-bilizou mais de três moedas e um sem-número de planos econômicos e, dian-te dos fatos: narrou, examinou e entre-gou a história aos leitores, na contem-poraneidade dos acontecimentos, no tempo certo para a reflexão.

Seria injusto citar aqui os tantos entrevistados, colunistas, fotógrafos, repórteres, revisores, apoiadores e cola-boradores que tornaram possível que hoje, no tempo presente, essa come-moração pudesse ter início. Foram mui-tos e memoráveis todos aqueles que

MMEMÓRIA

contribuíram para a existência da publicação e manutenção desta. Um deles, Luiz Cláudio Dias Reis, um dos mais longe-vos editores da revista, de quem herdei a publicação, nos lem-bra, nas próximas páginas, o quão singular pode ser a trajetória de um magazine.

A comemoração será longa como a vida da publicação: irá durar até setembro de 2016, quando completamos o ciclo dos 40 anos da revista. Já no início do próximo ano, brindare-mos o leitor com um novo projeto gráfico, mais moderno e atraente, novas seções, reportagens e entrevistas especiais. Se são muitas as novidades, também são as permanências. Per-manece o compromisso de produzir e trazer, nestas páginas, conteúdo inédito relevante: fatos, dados, opiniões conver-gentes ou divergentes, que permitam uma reflexão sobre o desenvolvimento brasileiro.

Para a presente edição, começa-mos os festejos com essa seção Memória, um espaço para revisitar-mos as quatro últimas décadas pelo olhar da revista. Na páginas trazidas ao leitor, encontraremos profecias não realizadas e conjecturas que se concretizaram: ironias da história, com décadas perdidas e anos de crescimento acelerado. Será um retrato do caminho do desenvolvi-mento, com suas teorias e seus momentos mais marcantes, do final dos anos de 1970, passando pelas décadas de 1980,1990, 2000 e, final-mente nos idos de 2010. Ao com-pletarmos essa viagem ao passado (ou seria pelo tempo), o que espera-mos encontrar? Certamente nenhu-ma resposta pronta. Diante de nós, impressas nas páginas, como sem-pre estiveram e estarão: ideias, refle-xões e caminhos, e ora, por que não, rumos a seguir.

J

“Por seres tão inventivoE pareceres contínuoTempo, tempo, tempo, tempoÉs um dos deuses mais lindosTempo, tempo, tempo, tempo.”

Caetano Veloso, Oração ao TempoThais Sena Schettino

Tempo, tempo, tempo...

Capa da primeira edição da Rumos, a publicação inaugural da ABDE.

Uma edição para lembrar

Com tiragem de cinco mil exemplares, a primeira edição era variada,

envolvendo as diversas áreas de atuação das instituições: crédito rural, indústria, administração, finanças, planejamento e desenvolvimento. Como ressaltava Eurides Gomes Porangada, diretor-executivo da ABDE, no primeiro texto da revista, o Ao Leitor, “Rumos do Desenvolvimento destina-se, principalmente, aos técnicos dos bancos de desenvolvimento e o Sistema Sebrae, estimados em cerca de quatro mil profissionais, entre economistas, administradores, juristas, engenheiros, etc. que trabalham em todas as regiões do país. Pretende atingir também a outros setores, públicos e privados, que se interessam pela atuação do Sistema Nacional de Bancos de Desenvolvimento – SNBD.” Esse número inaugural trazia ilustrações, gráficos, tabelas e fotos, todas em preto e branco. Somente a capa e contracapa eram coloridas. As características marcantes da publicação já estavam ali enunciadas, como os artigos de orientação para os técnicos e

colaboradores das instituições (Por uma gerência moderna, C. J. da Costa Pereira ou Atuação baseada em programas, José Hypólito M. Campos ), ou as entrevistas esclarecedoras de assuntos contemporâneos (D.L. 1452: o benefício explicado, sobre legislação e finanças), os assuntos correlatos que expandem o conhecimento do leitor, como comunicação (O produto posto na prateleira, Mauro Guimarães Werkema) e tecnologia (Fator de expansão econômica, Guilherme Hatab, Promoção de projetos de risco, Bruno da Silveira, e Avaliação com novos critérios, Sérgio C. Trindade). E tinha ainda a longeva seção Livros, com a resenha de Fernando Carlos Cerqueira Lima sobre “O Poder Global”, obra de Richard J. Barnet e Ronald Müller, editado pela Record. Destaque importante da primeira edição de Rumos, o texto de abertura Mobilizar as forças do país, do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE, sem o S do social) à época, Marcos Pereira Viana, mostra-se oportuno e atual. “O Brasil vem empreendendo um esforço tenaz e continuado para tornar-se uma

nação plenamente desenvolvida, até o final do século.” Assim começava o texto de Viana, que chamava atenção para um Brasil de contrastes, com setores produtivos modernos e áreas com arranjos arcaicos e ineficientes. O então presidente do Banco de Desenvolvimento, nas páginas, convocava todos a empreenderem esforços para equalizar o país e reduzir os bolsões de pobreza. Suas palavras para as instituições financeiras de então cabem bem aos objetivos do Sistema Nacional de Fomento: “Diante desse quadro, cabe aos bancos de desenvolvimento a responsabilidade de uma ação criteriosa, compatibilizando o objetivo de crescimento econômico acelerado do país, e de suas áreas de atuação, com o ideal de desenvolvimento integrado, que transcende o mero objetivo de expansão da produção, abrangendo também a aspiração de bem-estar da população, a necessidade de exploração racional dos recursos naturais, a preservação do meio ambiente, e a atenuação dos desequilíbrios na distribuição espacial e social da renda nacional.” Palavras atuais, emitidas há 39 anos.

Setembro/Outubro de 1976

Editora da Revista Rumos e Gerente de Comunicação da ABDE.Formada em Comunicação Social, com mestrado e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Page 11: Rumos 283

RUMOS – 11 – Setembro/Outubro 2015 RUMOS – 10 – Setembro/Outubro 2015

á é fato que há uma revolução em curso nas for-mas de comunicação. As novas ferramentas de interação social mediadas pela internet colocam todos em contato, ao mesmo tempo que individu-alizam a comunicação. O formato agora é de rede,

com pontos de conexão, no qual todos emitem e todos rece-bem a informação. As novas maneiras de interação inauguram espaços de comunicação, que potencializam as narrativas das experiências vividas. Em tempo real, em instantes, em segun-dos. Nesse caminho, vários dogmas dos estudos de comunica-ção são colocados em xeque ou, ao menos, revistos.

No turbilhão das mudanças, que não acontecem no vazio social, mas estão presentes em nosso dia a dia, influenciando as rotinas, os encontros e os desencontros da vida, é notável que tenhamos em nossas mãos uma revista que chega aos 40 anos ininterruptos de publicação. São quatro décadas de comunicação com o leitor, sendo a voz de uma Associação que, diante dos mais diversos desafios da economia, não deixou de manter aceso o debate sobre o passado, o pre-sente e o futuro do desenvolvimento brasileiro.

Essa é a Rumos, uma revista que nas-ceu na presença de governos militares, vivenciou a redemocratização, conta-bilizou mais de três moedas e um sem-número de planos econômicos e, dian-te dos fatos: narrou, examinou e entre-gou a história aos leitores, na contem-poraneidade dos acontecimentos, no tempo certo para a reflexão.

Seria injusto citar aqui os tantos entrevistados, colunistas, fotógrafos, repórteres, revisores, apoiadores e cola-boradores que tornaram possível que hoje, no tempo presente, essa come-moração pudesse ter início. Foram mui-tos e memoráveis todos aqueles que

MMEMÓRIA

contribuíram para a existência da publicação e manutenção desta. Um deles, Luiz Cláudio Dias Reis, um dos mais longe-vos editores da revista, de quem herdei a publicação, nos lem-bra, nas próximas páginas, o quão singular pode ser a trajetória de um magazine.

A comemoração será longa como a vida da publicação: irá durar até setembro de 2016, quando completamos o ciclo dos 40 anos da revista. Já no início do próximo ano, brindare-mos o leitor com um novo projeto gráfico, mais moderno e atraente, novas seções, reportagens e entrevistas especiais. Se são muitas as novidades, também são as permanências. Per-manece o compromisso de produzir e trazer, nestas páginas, conteúdo inédito relevante: fatos, dados, opiniões conver-gentes ou divergentes, que permitam uma reflexão sobre o desenvolvimento brasileiro.

Para a presente edição, começa-mos os festejos com essa seção Memória, um espaço para revisitar-mos as quatro últimas décadas pelo olhar da revista. Na páginas trazidas ao leitor, encontraremos profecias não realizadas e conjecturas que se concretizaram: ironias da história, com décadas perdidas e anos de crescimento acelerado. Será um retrato do caminho do desenvolvi-mento, com suas teorias e seus momentos mais marcantes, do final dos anos de 1970, passando pelas décadas de 1980,1990, 2000 e, final-mente nos idos de 2010. Ao com-pletarmos essa viagem ao passado (ou seria pelo tempo), o que espera-mos encontrar? Certamente nenhu-ma resposta pronta. Diante de nós, impressas nas páginas, como sem-pre estiveram e estarão: ideias, refle-xões e caminhos, e ora, por que não, rumos a seguir.

J

“Por seres tão inventivoE pareceres contínuoTempo, tempo, tempo, tempoÉs um dos deuses mais lindosTempo, tempo, tempo, tempo.”

Caetano Veloso, Oração ao TempoThais Sena Schettino

Tempo, tempo, tempo...

Capa da primeira edição da Rumos, a publicação inaugural da ABDE.

Uma edição para lembrar

Com tiragem de cinco mil exemplares, a primeira edição era variada,

envolvendo as diversas áreas de atuação das instituições: crédito rural, indústria, administração, finanças, planejamento e desenvolvimento. Como ressaltava Eurides Gomes Porangada, diretor-executivo da ABDE, no primeiro texto da revista, o Ao Leitor, “Rumos do Desenvolvimento destina-se, principalmente, aos técnicos dos bancos de desenvolvimento e o Sistema Sebrae, estimados em cerca de quatro mil profissionais, entre economistas, administradores, juristas, engenheiros, etc. que trabalham em todas as regiões do país. Pretende atingir também a outros setores, públicos e privados, que se interessam pela atuação do Sistema Nacional de Bancos de Desenvolvimento – SNBD.” Esse número inaugural trazia ilustrações, gráficos, tabelas e fotos, todas em preto e branco. Somente a capa e contracapa eram coloridas. As características marcantes da publicação já estavam ali enunciadas, como os artigos de orientação para os técnicos e

colaboradores das instituições (Por uma gerência moderna, C. J. da Costa Pereira ou Atuação baseada em programas, José Hypólito M. Campos ), ou as entrevistas esclarecedoras de assuntos contemporâneos (D.L. 1452: o benefício explicado, sobre legislação e finanças), os assuntos correlatos que expandem o conhecimento do leitor, como comunicação (O produto posto na prateleira, Mauro Guimarães Werkema) e tecnologia (Fator de expansão econômica, Guilherme Hatab, Promoção de projetos de risco, Bruno da Silveira, e Avaliação com novos critérios, Sérgio C. Trindade). E tinha ainda a longeva seção Livros, com a resenha de Fernando Carlos Cerqueira Lima sobre “O Poder Global”, obra de Richard J. Barnet e Ronald Müller, editado pela Record. Destaque importante da primeira edição de Rumos, o texto de abertura Mobilizar as forças do país, do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE, sem o S do social) à época, Marcos Pereira Viana, mostra-se oportuno e atual. “O Brasil vem empreendendo um esforço tenaz e continuado para tornar-se uma

nação plenamente desenvolvida, até o final do século.” Assim começava o texto de Viana, que chamava atenção para um Brasil de contrastes, com setores produtivos modernos e áreas com arranjos arcaicos e ineficientes. O então presidente do Banco de Desenvolvimento, nas páginas, convocava todos a empreenderem esforços para equalizar o país e reduzir os bolsões de pobreza. Suas palavras para as instituições financeiras de então cabem bem aos objetivos do Sistema Nacional de Fomento: “Diante desse quadro, cabe aos bancos de desenvolvimento a responsabilidade de uma ação criteriosa, compatibilizando o objetivo de crescimento econômico acelerado do país, e de suas áreas de atuação, com o ideal de desenvolvimento integrado, que transcende o mero objetivo de expansão da produção, abrangendo também a aspiração de bem-estar da população, a necessidade de exploração racional dos recursos naturais, a preservação do meio ambiente, e a atenuação dos desequilíbrios na distribuição espacial e social da renda nacional.” Palavras atuais, emitidas há 39 anos.

Setembro/Outubro de 1976

Editora da Revista Rumos e Gerente de Comunicação da ABDE.Formada em Comunicação Social, com mestrado e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Page 12: Rumos 283

RUMOS – 13 – Setembro/Outubro 2015

muito comum no mundo corporativo a ideia de se criar uma publicação oficial, com o objetivo de, em geral, disseminar para os diversos públicos de interesse determinados conceitos e promover

fóruns de discussão a respeito deles; divulgar a pré e a pós-realização de atividades; e de tam-bém debater, no seu con-texto editorial, temas que digam respeito ao escopo de atuação da instituição que a patro-cina. Trata-se, portanto, como se sabe, de uma ação de marke t ing importante, que cria, se bem administrada, um excelente e estratégico canal de comunicação com o seu universo de leitores.

O incomum, por sua vez, é uma publica-ção sobreviver ao tempo; às inevitáveis intempéries a que estão sujeitas todas as empresas, sem exceção; à natural e ine-xorável renovação dos comandos administrativos engajados no seu projeto; e até, porque não dizer, a si mesma, se a inova-ção não lhe vier bater à porta, como uma medida saudável, necessária e inteligente de aperfeiçoamento e renovação.

A revista Rumos é um desses raros exemplos de publica-ção que se enquadram no segundo perfil, o da sobrevivência com qualidade e comprometimento com a sua missão. Não é à toa que o título chega aos quarenta anos de circulação inin-terrupta, sem perder o foco, que é discutir os grandes temas nacionais sob o prisma do financiamento e da promoção do desenvolvimento, trabalho que desempenham as instituições que compõem o quadro de associadas da ABDE.

Com miolo preto e branco, capa ilustrada em duas cores, circulação trimestral e tiragem de cinco mil exemplares, a

pelo contrário, fortaleceu, a sua identidade de revista dedica-da a estimular o debate acerca de ideias sobre o fomento ao desenvolvimento no Brasil. Com o subtítulo de Economia & Desenvolvimento para os Novos Tempos, a edição de outu-bro daquele ano estampou uma reportagem de capa sobre o tema crise e desenvolvimento intitulada O Brasil amarrado.

A partir daquele período Rumos passou a dar ainda mais destaque às ações desempenhadas pelas instituições associa-das à ABDE, e o número de reportagens destacando cases de sucesso se multiplicaram em suas páginas, ratificando o seu compromisso editorial de ser uma fonte de divulgação, refe-rência e pesquisa no que concerne ao tema do desenvolvi-mento brasileiro.

Embora seja um produto oneroso que requer, como já dito, investimentos e patrocínios para ser mantido, a revista Rumos é a publicação oficial de uma instituição sem fins lucra-tivos, e também por essa razão, nada mais natural do que ser disponibilizada na sua versão eletrônica, socializando e demo-cratizando o acesso à sua leitura, o que hoje pode ser feito por intermédio do site da ABDE ( ).

Engajada no Plano de Comunicação e no Planejamento Estratégico da organização que a edita, Rumos é, de fato, um veículo de comunicação especial que resistiu a todo tipo de possível revés conjuntural, que se renovou e, principalmente, que não se deixou acomodar, haja vista estar a uma edição de uma nova reforma, que mais uma vez trará mudanças, mas que também reafirmará os propósitos a que se destina. Refi-ro-me assim mesmo, permitam-me, como se Rumos tivesse vida própria, como se Rumos fosse “alguém” além do que se entende, se identifica e se reconhece como um instrumento físico e digital de comunicação.

Para justificar essa minha, digamos, percepção pouco con-vencional sobre Rumos, associo a ela o trabalho que realiza-ram e realizam ao longo desses quarenta anos todos os edito-res – no rol dos quais tenho a honra de me incluir –, os demais profissionais diretamente envolvidos com o projeto da revis-ta e o conjunto de dirigentes que à frente da ABDE nesse lon-go período perceberam, respeitaram e apoiaram a continui-dade da publicação, entendendo, acima de tudo, a sua estraté-gica importância.

AARTIGO

então Rumos do Desenvolvimento começou a circular em outubro de 1976, no contexto do Programa de Treinamento da ABDE, naquela oportunidade integralmente patrocinada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

(BNDE) – o “S” de Social ainda não havia sido incor-porado ao banco; e pelo Centro Brasileiro de Assis-tência Gerencial à Pequena e Média Empresa (Ce-brae), mais tarde Serviço Brasileiro de apoio às Micro e Pequenas Empre-sas (Sebrae).

Os números da revista eram compostos de artigos e entrevistas inéditos e foram enriquecidos em edi-ções futuras com um encarte – elaborado pela Gerência de Estudos Eco-nômicos da ABDE – con-tendo estatísticas do siste-ma de bancos de desenvol-

vimento, com base em dados operacionais e contábeis. Esse documento, além de divulgar informações de grande interes-se para pesquisadores e demais interessados, servia como uma espécie de brainstorming entre os bancos, promovendo em diversos casos melhoria de performances.

Os anos foram se passando, e com eles algumas inevitá-veis e fundamentais medidas de aperfeiçoamento na revista Rumos foram sendo tomadas. Dentre elas o aumento da tira-gem para oito mil exemplares e, principalmente, a impressão em policromia. O conteúdo editorial também foi revisto, uma vez que o universo dos bancos públicos havia se trans-formado. Muitos bancos de desenvolvimento foram liquida-dos, suas carteiras migraram em grande parte para a admi-nistração de bancos comerciais e a criação das agências de fomento ainda era um projeto que carecia das análises e apro-vações do Banco Central.

Uma entrevista – de capa – com o antropólogo Darcy Ribeiro marcou mais uma nova e ousada reformulação da Rumos, em sua edição nº 114, de julho de 1995. Não demo-rou muito para a iniciativa ser recompensada, tendo em con-ta a revista ter recebido, a partir daquela nova fase, nove prê-mios Aberje – oito no âmbito regional (Sudeste) e um no contexto nacional, como a melhor revista de circulação externa. Considerado o Oscar da comunicação empresarial brasileira, o prêmio ajudou, de forma muito significativa, a elevar os nomes da publicação, da ABDE, e os de seus asso-ciados. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) também conferiu o Prêmio Abi-maq de Jornalismo 2004 à reportagem de capa da edição nº 214, de maio daquele ano, sob o título Política Industrial/O Brasil bate de novo na tecla.

Para a execução e manutenção daquele novo e bem-sucedido projeto da revista foram naturalmente necessários mais investimentos, viabilizados com o ingresso de um grupo fundamental de apoiadores. Significativos aperfeiçoamentos foram sendo aos poucos implementados na revista, em con-formidade com a nova configuração dos agentes públicos de desenvolvimento cuja denominação passou a ser Sistema Nacional de Fomento, um grupo majoritariamente compos-to, a partir dos anos 2000, pelas então recém-criadas agências de fomento, cujo escopo de atuação vinha sendo gradativa-mente ampliado.

O ano de 2005 marcou mais uma reforma editorial na Rumos. Apesar da magnitude das mudanças processadas naquela etapa – principalmente novos papel, diagramação, tipologia e política de distribuição –, a publicação não perdeu,

Luiz Cláudio Dias Reis*

RUMOS – 12 – Setembro/Outubro 2015

Avis rara

É

*Formado em Comunicação Social (Jornalismo e Publicidade e Propaganda) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), com especialização (MBA) em Marketing pela Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ). Foi gerente de Comunicação Social da ABDE e editor da revista Rumos de 2005 a 2012. Atuou como superintendente executivo do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento.

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RUMOS – 13 – Setembro/Outubro 2015

muito comum no mundo corporativo a ideia de se criar uma publicação oficial, com o objetivo de, em geral, disseminar para os diversos públicos de interesse determinados conceitos e promover

fóruns de discussão a respeito deles; divulgar a pré e a pós-realização de atividades; e de tam-bém debater, no seu con-texto editorial, temas que digam respeito ao escopo de atuação da instituição que a patro-cina. Trata-se, portanto, como se sabe, de uma ação de marke t ing importante, que cria, se bem administrada, um excelente e estratégico canal de comunicação com o seu universo de leitores.

O incomum, por sua vez, é uma publica-ção sobreviver ao tempo; às inevitáveis intempéries a que estão sujeitas todas as empresas, sem exceção; à natural e ine-xorável renovação dos comandos administrativos engajados no seu projeto; e até, porque não dizer, a si mesma, se a inova-ção não lhe vier bater à porta, como uma medida saudável, necessária e inteligente de aperfeiçoamento e renovação.

A revista Rumos é um desses raros exemplos de publica-ção que se enquadram no segundo perfil, o da sobrevivência com qualidade e comprometimento com a sua missão. Não é à toa que o título chega aos quarenta anos de circulação inin-terrupta, sem perder o foco, que é discutir os grandes temas nacionais sob o prisma do financiamento e da promoção do desenvolvimento, trabalho que desempenham as instituições que compõem o quadro de associadas da ABDE.

Com miolo preto e branco, capa ilustrada em duas cores, circulação trimestral e tiragem de cinco mil exemplares, a

pelo contrário, fortaleceu, a sua identidade de revista dedica-da a estimular o debate acerca de ideias sobre o fomento ao desenvolvimento no Brasil. Com o subtítulo de Economia & Desenvolvimento para os Novos Tempos, a edição de outu-bro daquele ano estampou uma reportagem de capa sobre o tema crise e desenvolvimento intitulada O Brasil amarrado.

A partir daquele período Rumos passou a dar ainda mais destaque às ações desempenhadas pelas instituições associa-das à ABDE, e o número de reportagens destacando cases de sucesso se multiplicaram em suas páginas, ratificando o seu compromisso editorial de ser uma fonte de divulgação, refe-rência e pesquisa no que concerne ao tema do desenvolvi-mento brasileiro.

Embora seja um produto oneroso que requer, como já dito, investimentos e patrocínios para ser mantido, a revista Rumos é a publicação oficial de uma instituição sem fins lucra-tivos, e também por essa razão, nada mais natural do que ser disponibilizada na sua versão eletrônica, socializando e demo-cratizando o acesso à sua leitura, o que hoje pode ser feito por intermédio do site da ABDE ( ).

Engajada no Plano de Comunicação e no Planejamento Estratégico da organização que a edita, Rumos é, de fato, um veículo de comunicação especial que resistiu a todo tipo de possível revés conjuntural, que se renovou e, principalmente, que não se deixou acomodar, haja vista estar a uma edição de uma nova reforma, que mais uma vez trará mudanças, mas que também reafirmará os propósitos a que se destina. Refi-ro-me assim mesmo, permitam-me, como se Rumos tivesse vida própria, como se Rumos fosse “alguém” além do que se entende, se identifica e se reconhece como um instrumento físico e digital de comunicação.

Para justificar essa minha, digamos, percepção pouco con-vencional sobre Rumos, associo a ela o trabalho que realiza-ram e realizam ao longo desses quarenta anos todos os edito-res – no rol dos quais tenho a honra de me incluir –, os demais profissionais diretamente envolvidos com o projeto da revis-ta e o conjunto de dirigentes que à frente da ABDE nesse lon-go período perceberam, respeitaram e apoiaram a continui-dade da publicação, entendendo, acima de tudo, a sua estraté-gica importância.

AARTIGO

então Rumos do Desenvolvimento começou a circular em outubro de 1976, no contexto do Programa de Treinamento da ABDE, naquela oportunidade integralmente patrocinada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

(BNDE) – o “S” de Social ainda não havia sido incor-porado ao banco; e pelo Centro Brasileiro de Assis-tência Gerencial à Pequena e Média Empresa (Ce-brae), mais tarde Serviço Brasileiro de apoio às Micro e Pequenas Empre-sas (Sebrae).

Os números da revista eram compostos de artigos e entrevistas inéditos e foram enriquecidos em edi-ções futuras com um encarte – elaborado pela Gerência de Estudos Eco-nômicos da ABDE – con-tendo estatísticas do siste-ma de bancos de desenvol-

vimento, com base em dados operacionais e contábeis. Esse documento, além de divulgar informações de grande interes-se para pesquisadores e demais interessados, servia como uma espécie de brainstorming entre os bancos, promovendo em diversos casos melhoria de performances.

Os anos foram se passando, e com eles algumas inevitá-veis e fundamentais medidas de aperfeiçoamento na revista Rumos foram sendo tomadas. Dentre elas o aumento da tira-gem para oito mil exemplares e, principalmente, a impressão em policromia. O conteúdo editorial também foi revisto, uma vez que o universo dos bancos públicos havia se trans-formado. Muitos bancos de desenvolvimento foram liquida-dos, suas carteiras migraram em grande parte para a admi-nistração de bancos comerciais e a criação das agências de fomento ainda era um projeto que carecia das análises e apro-vações do Banco Central.

Uma entrevista – de capa – com o antropólogo Darcy Ribeiro marcou mais uma nova e ousada reformulação da Rumos, em sua edição nº 114, de julho de 1995. Não demo-rou muito para a iniciativa ser recompensada, tendo em con-ta a revista ter recebido, a partir daquela nova fase, nove prê-mios Aberje – oito no âmbito regional (Sudeste) e um no contexto nacional, como a melhor revista de circulação externa. Considerado o Oscar da comunicação empresarial brasileira, o prêmio ajudou, de forma muito significativa, a elevar os nomes da publicação, da ABDE, e os de seus asso-ciados. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) também conferiu o Prêmio Abi-maq de Jornalismo 2004 à reportagem de capa da edição nº 214, de maio daquele ano, sob o título Política Industrial/O Brasil bate de novo na tecla.

Para a execução e manutenção daquele novo e bem-sucedido projeto da revista foram naturalmente necessários mais investimentos, viabilizados com o ingresso de um grupo fundamental de apoiadores. Significativos aperfeiçoamentos foram sendo aos poucos implementados na revista, em con-formidade com a nova configuração dos agentes públicos de desenvolvimento cuja denominação passou a ser Sistema Nacional de Fomento, um grupo majoritariamente compos-to, a partir dos anos 2000, pelas então recém-criadas agências de fomento, cujo escopo de atuação vinha sendo gradativa-mente ampliado.

O ano de 2005 marcou mais uma reforma editorial na Rumos. Apesar da magnitude das mudanças processadas naquela etapa – principalmente novos papel, diagramação, tipologia e política de distribuição –, a publicação não perdeu,

Luiz Cláudio Dias Reis*

RUMOS – 12 – Setembro/Outubro 2015

Avis rara

É

*Formado em Comunicação Social (Jornalismo e Publicidade e Propaganda) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), com especialização (MBA) em Marketing pela Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ). Foi gerente de Comunicação Social da ABDE e editor da revista Rumos de 2005 a 2012. Atuou como superintendente executivo do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento.

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Page 14: Rumos 283

s pequenos negócios – microempresas, empre-sas de pequeno porte e empreendedores indivi-duais – são responsáveis por 27% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Eles respondem, ainda, por 52% dos empregos formais. Fortale-

cer o segmento, portanto, tem repercussões positivas sobre toda a economia. Além disso, os impactos sobre o desenvol-vimento local são igualmente importantes, dada a estreita rela-ção que os empreendimentos de menor porte têm com a comunidade em que estão inseridos. Esses são alguns dos ele-mentos que motivaram o Sebrae a promover o Movimento Compre do pequeno negócio, que mobilizou empresas, insti-tuições financeiras e associações de classe nos últimos meses.

Lançado em 5 de agosto, o movimento teve seu ponto máximo em 5 de outubro, Dia da Micro e da Pequena Empre-sa, quando 56,2 milhões de pessoas fizeram compras em esta-belecimentos de pequeno porte em todo o país, de acordo com levantamento do próprio Sebrae. A iniciativa teve a ade-são de mais de 192 mil empresas e sete mil apoiadores e par-ceiros. “Este foi o primeiro ano do movimento, mas ele será permanente. Queremos que o 5 de outubro se transforme em

uma data simbólica para o varejo. Em apenas dois meses, a adesão foi muito positiva. Os números devem crescer à medi-da que o Compre do Pequeno seja abraçado pela sociedade”, comemorou o presidente do Sebrae, Luiz Barretto.

Consumidores e empresários foram mobilizados por uma série de inserções comerciais na televisão e pela internet. Um site desenvolvido especialmente para a iniciativa ( ) recebeu mais de 6,4 mi-lhões de visualizações em 60 dias. As redes sociais também tiveram participação importante na mobilização – a fanpage do movimento somou quase 230 mil seguidores, e a página do Facebook, com publicações diárias, alcançou mais de 97 milhões de pessoas. Os resultados entusiasmaram a direção do Sebrae. “Já surgiram várias ideias para aprimorara as pró-ximas edições, vindas tanto do próprio Sebrae, quando das inúmeras parcerias que o Movimento conquistou. Estamos abertos para melhorar e ampliar essa iniciativa”, diz Barretto.

Consumidor consciente – O Movimento Compre do Pequeno Negócio atuou em várias frentes. Como objetivo imediato, ele procurou reforçar no consumidor a consciência

de que, ao adquirir produ-tos e serviços de empreen-dimentos de menor porte, ele ajuda a gerar empregos e movimentar toda a econo-mia. Afinal, são mais de 10 milhões de micro e peque-nas empresas, incluindo empreendedores individua-i s, com par t i c ipações expressivas em todos os setores, notadamente no comércio (44% dos empre-endimentos) e nos serviços (35%).

“Mesmo em um ano em que a economia exige aten-ção e cautela, os pequenos negócios continuam geran-do empregos”, observa a diretora técnica do Sebrae, Heloisa Menezes. “Quanto

O presidente do Sebrae, Luiz Barretto, conversa com comerciantes no Mercado Municipalde São Paulo, na mobilização para movimentar a economia.

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RUMOS – 15 – Setembro/Outubro 2015

negócio, o consumidor está contribuindo para o desenvolvi-mento da própria comunidade”, afirma Barretto.

A proximidade do estabelecimento com a clientela é con-siderada uma vantagem comparativa dos pequenos negócios, que podem avaliar de perto as necessidades e expectativas dos consumidores do local. Por outro lado, concentrar as compras em estabelecimentos da vizinhança é uma boa opção também para os clientes. A facilidade de ter acesso fácil e rápido a produtos e serviços é o benefício mais eviden-te. Mas há ganhos que vão além disso. A menor necessidade de fazer deslocamentos, de usar meios de transporte, gera menos congestionamento de tráfego e reduzir a poluição ambiental, o que melhora a qualidade de vida, individual e coletivamente.

Aprimoramento – Todos esses elementos, porém, não são suficientes se os empresários não fizerem sua parte. Por isso, o Sebrae também procurou mobilizá-los para se tornarem mais eficientes e aprimorarem o atendimento aos clientes. Com esse objetivo, em setembro, foram realizados cerca de

mais consumidores optarem pelos pequenos negócios para suas compras, mais eles terão condições de gerar emprego e renda”, acrescenta. O segmento, enfatiza, tem agilidade para responder rapidamente a estímulos positivos. Um dado cha-ma a atenção: no primeiro semestre deste ano, os pequenos negócios geraram mais de 116 mil empregos formais, enquanto nas médias e grandes empresas ocorreram 476 mil demissões, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.

Outro objetivo do Movimento foi destacar a forte inser-ção das pequenas empresas com a economia local, e os bene-fícios que a saúde desses empreendimentos trazem para a população residente. A campanha salientou que comprar do pequeno negócio – da padaria da esquina, da borracharia, da loja de calçados da redondeza – faz com que o dinheiro fique no bairro ou na comunidade próxima. Fortalecidos, os empreendimentos de menor porte podem inovar, gerar mais empregos, diversificar a oferta de produtos e serviços e ajudar a distribuir melhor a renda. “Queremos mostrar para a socie-dade que, ao escolher produtos e serviços de um pequeno

INCENTIVOE EMPREENDER

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Por André Tennitz

Sebrae lança a data de 5 de outubro para incentivar o consumo junto aos pequenos negócios, que respondem por 27% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e 52% dos empregos formais

RUMOS – 14 – Setembro/Outubro 2015

Para movimentar os pequenos negócios

Grupo de participantes do Movimento Compre do Pequeno Negócio, que aconteceu no dia 5 de outubro.

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s pequenos negócios – microempresas, empre-sas de pequeno porte e empreendedores indivi-duais – são responsáveis por 27% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Eles respondem, ainda, por 52% dos empregos formais. Fortale-

cer o segmento, portanto, tem repercussões positivas sobre toda a economia. Além disso, os impactos sobre o desenvol-vimento local são igualmente importantes, dada a estreita rela-ção que os empreendimentos de menor porte têm com a comunidade em que estão inseridos. Esses são alguns dos ele-mentos que motivaram o Sebrae a promover o Movimento Compre do pequeno negócio, que mobilizou empresas, insti-tuições financeiras e associações de classe nos últimos meses.

Lançado em 5 de agosto, o movimento teve seu ponto máximo em 5 de outubro, Dia da Micro e da Pequena Empre-sa, quando 56,2 milhões de pessoas fizeram compras em esta-belecimentos de pequeno porte em todo o país, de acordo com levantamento do próprio Sebrae. A iniciativa teve a ade-são de mais de 192 mil empresas e sete mil apoiadores e par-ceiros. “Este foi o primeiro ano do movimento, mas ele será permanente. Queremos que o 5 de outubro se transforme em

uma data simbólica para o varejo. Em apenas dois meses, a adesão foi muito positiva. Os números devem crescer à medi-da que o Compre do Pequeno seja abraçado pela sociedade”, comemorou o presidente do Sebrae, Luiz Barretto.

Consumidores e empresários foram mobilizados por uma série de inserções comerciais na televisão e pela internet. Um site desenvolvido especialmente para a iniciativa ( ) recebeu mais de 6,4 mi-lhões de visualizações em 60 dias. As redes sociais também tiveram participação importante na mobilização – a fanpage do movimento somou quase 230 mil seguidores, e a página do Facebook, com publicações diárias, alcançou mais de 97 milhões de pessoas. Os resultados entusiasmaram a direção do Sebrae. “Já surgiram várias ideias para aprimorara as pró-ximas edições, vindas tanto do próprio Sebrae, quando das inúmeras parcerias que o Movimento conquistou. Estamos abertos para melhorar e ampliar essa iniciativa”, diz Barretto.

Consumidor consciente – O Movimento Compre do Pequeno Negócio atuou em várias frentes. Como objetivo imediato, ele procurou reforçar no consumidor a consciência

de que, ao adquirir produ-tos e serviços de empreen-dimentos de menor porte, ele ajuda a gerar empregos e movimentar toda a econo-mia. Afinal, são mais de 10 milhões de micro e peque-nas empresas, incluindo empreendedores individua-i s, com par t i c ipações expressivas em todos os setores, notadamente no comércio (44% dos empre-endimentos) e nos serviços (35%).

“Mesmo em um ano em que a economia exige aten-ção e cautela, os pequenos negócios continuam geran-do empregos”, observa a diretora técnica do Sebrae, Heloisa Menezes. “Quanto

O presidente do Sebrae, Luiz Barretto, conversa com comerciantes no Mercado Municipalde São Paulo, na mobilização para movimentar a economia.

Luiz

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RUMOS – 15 – Setembro/Outubro 2015

negócio, o consumidor está contribuindo para o desenvolvi-mento da própria comunidade”, afirma Barretto.

A proximidade do estabelecimento com a clientela é con-siderada uma vantagem comparativa dos pequenos negócios, que podem avaliar de perto as necessidades e expectativas dos consumidores do local. Por outro lado, concentrar as compras em estabelecimentos da vizinhança é uma boa opção também para os clientes. A facilidade de ter acesso fácil e rápido a produtos e serviços é o benefício mais eviden-te. Mas há ganhos que vão além disso. A menor necessidade de fazer deslocamentos, de usar meios de transporte, gera menos congestionamento de tráfego e reduzir a poluição ambiental, o que melhora a qualidade de vida, individual e coletivamente.

Aprimoramento – Todos esses elementos, porém, não são suficientes se os empresários não fizerem sua parte. Por isso, o Sebrae também procurou mobilizá-los para se tornarem mais eficientes e aprimorarem o atendimento aos clientes. Com esse objetivo, em setembro, foram realizados cerca de

mais consumidores optarem pelos pequenos negócios para suas compras, mais eles terão condições de gerar emprego e renda”, acrescenta. O segmento, enfatiza, tem agilidade para responder rapidamente a estímulos positivos. Um dado cha-ma a atenção: no primeiro semestre deste ano, os pequenos negócios geraram mais de 116 mil empregos formais, enquanto nas médias e grandes empresas ocorreram 476 mil demissões, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.

Outro objetivo do Movimento foi destacar a forte inser-ção das pequenas empresas com a economia local, e os bene-fícios que a saúde desses empreendimentos trazem para a população residente. A campanha salientou que comprar do pequeno negócio – da padaria da esquina, da borracharia, da loja de calçados da redondeza – faz com que o dinheiro fique no bairro ou na comunidade próxima. Fortalecidos, os empreendimentos de menor porte podem inovar, gerar mais empregos, diversificar a oferta de produtos e serviços e ajudar a distribuir melhor a renda. “Queremos mostrar para a socie-dade que, ao escolher produtos e serviços de um pequeno

INCENTIVOE EMPREENDER

O

Por André Tennitz

Sebrae lança a data de 5 de outubro para incentivar o consumo junto aos pequenos negócios, que respondem por 27% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e 52% dos empregos formais

RUMOS – 14 – Setembro/Outubro 2015

Para movimentar os pequenos negócios

Grupo de participantes do Movimento Compre do Pequeno Negócio, que aconteceu no dia 5 de outubro.

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270 mil atendimentos a microempreendedores individuais (MEI) e donos de micro e pequenas empresas e pequenos produtores rurais, em todo o país. Além dos 600 pontos de atendimento do Sebrae, foram criados 411 pontos adicionais

para ampliar o acesso dos pequenos negócios a orientações essenciais ao melhor desempenho dos seus negócios, com uma agenda intensa de cursos, palestras e oficinas, principal-mente sobre vendas e finanças.

Num ano de ajustes na economia, que impõe restrições e cautela, a retração do consumo reforça a necessidade de que os empresários olhem para dentro do próprio negócio e pro-curem qualificar sua gestão, aponta Heloisa Menezes. Por isso, é fundamental reduzir custos, fidelizar os clientes, con-trolar melhor o fluxo de caixa, buscar novos mercados, dife-renciar-se da concorrência e renegociar preço e prazo com fornecedores. Em suma, é preciso ser ainda mais rigoroso com a administração da empresa. O maior desafio para os empreendimentos de micro e pequeno porte é da porta para dentro. Uma boa gestão considera estratégias de marketing, um fluxo de caixa controlado e passa também por muita cria-tividade e inovação.

Hábitos – Como parte das ações, o Sebrae procurou, ainda, aprofundar o conhecimento sobre os hábitos de consumo dos brasileiros. Embora, em épocas de crise, boa parcela da população tenda a reorientar suas compras para produtos mais bara-tos, o preço não é o único fator determinante para o consumidor. Pesquisa realizada no site do Movi-mento, com mais de 33 mil pessoas, entre clientes e donos de pequenos comércios e serviços, em todo o Bra-sil, apontou que o bom atendimen-to, a qualidade e a variedade de pro-dutos são fatores mais importantes na hora da compra.

De acordo com o levantamento, ainda que o preço tenha importância na decisão do consumidor, ele não foi a principal resposta. Em primeiro lugar, os clientes apontaram o bom atendimento como fator preponderante na hora de escolher um estabelecimento. Nesse ponto, os pequenos negócios se sobressaem, porque têm mais conhecimento sobre os clien-tes. Na pesquisa, os proprietários afirmaram que cerca de metade da sua clientela era formada por pessoas que moram na vizinhança. Aproveitando essa proximidade, 37% dos donos de pequenos negócios declararam manter algum tipo de relacionamento com o cliente após a venda, seja pessoal-mente, por e-mail, telefone ou redes sociais. Além disso, 36% entregam mercadorias em domicílio.

Logo depois, na preferência do consumidor, está a quali-dade no produto ou do serviço adquiridos, o que mostra a importância do empresário se preparar e melhorar os proces-sos. Entre as motivações para a compra, o consumidor apon-ta ainda como importante “ter o que precisa”, o que é mais uma vantagem para o pequeno negócio, já que 45% deles estu-

RUMOS – 17 – Setembro/Outubro 2015

do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), uma das instituições financeiras que se engajaram na iniciati-va. Segundo Vianna, atualmente, 90% dos clientes do banco são micro e pequenas empresas, que contam com políticas específicas desenvolvidas pela instituição. “O banco oferece condições diferenciadas e crédito via internet para capital de giro e aquisição de veículos, máquinas e equipamentos. E para se fazer presente em todas as regiões, o BDMG também conta com uma ampla rede de correspondentes bancários”, explica o diretor.

dam o perfil dos clientes para oferecer produtos e serviços mais adequados.

Mobilização – O Movimento incentivou empresas e parcei-ros a se cadastrarem no site , uma forma de aumentar a visibilidade de seus produtos e ser-viços. No site, um mecanismo de georreferenciamento per-mite a localização dos empreendimentos, facilitando as esco-lhas pelos consumidores. Apoiadores e parceiros também tiveram suas marcas expostas. “A atuação dos parceiros e apoi-

RUMOS – 16 – Setembro/Outubro 2015

- Mais de 98% das empresas do país são representadas pelos pequenos negócios. - 10 milhões é o número de microempreendedores individuais, microempresas e pequenas empresas.

Empreendedores:51% dos pequenos negócios são comandados por mulheres53% dos novos empreendedores têm até 34 anos.55% dos novos empreendedores são da classe C.

Empregos52% dos empregos formais do país estão nas pequenas empresas.São, aproximadamente, 17 milhões de empregos com carteira assinada.

PIB27% do PIB vem dos pequenos negóciosR$ 334 bilhões em impostos federais, estaduais e municipais foram gerados pelas pequenas empresas desde a implantação do Supersimples, em 2007.

Fonte: Sebrae

Pequenas empresas na economia:

Comércio: 44%

Serviços: 35%

Indústria: 13% Construção: 7%

Outros: 1%

E EMPREENDER INCENTIVO

Fortalecer os pequenos negócios significa fortalecer a eco-nomia como um todo. A diretora técnica do Sebrae, Heloisa Menezes (foto), explica que, embora não exista uma pesquisa específica sobre o assunto, iniciativas que visem estimular o segmento têm efeitos positivos sobre o mercado de trabalho,

pelo menos no sentido de manter os empregos existen-tes, principalmente diante de cenários adversos.

A força dos pequenos pode ser avaliada, ainda, pelo fato de que mais de 700 mil estabelecimentos de peque-no porte foram abertos na primeira metade do ano, em que pesem as condições res-tritivas da economia. Ainda que possa ser apontado, nos últimos meses, um cresci-mento do empreendedoris-mo por necessidade (por ação de trabalhadores que

perderam seus empregos e buscam uma forma de obter ren-da), a relação entre esse tipo de iniciativa e o empreendedoris-mo por oportunidade (decorrentes de iniciativas planejadas para aproveitar chances oferecidas pelo mercado) não terá alterações expressivas de imediato, aposta a diretora.

“No cenário mundial, o Brasil ainda se apresenta com um potencial de oportunidades muito grande. Temos uma linha crescente e consistente do índice de empresas abertas por oportunidade e a taxa de emprego não é o único fator a ser considerado”, argumenta Heloisa Menezes. “Sem dúvida, este é um momento de cautela, mas não de paralisação. Mui-tas são as empresas que identificam oportunidades em momentos de adversidade. É o caso, por exemplo, daquelas que estão aproveitando a crise hídrica e de energia para ofere-cer soluções que reduzem o consumo de água e eletricidade para outros empresários e para o consumidor comum”, acrescenta. “Não podemos esquecer que nos momentos de adversidades, a criatividade pode ser fator propulsor de empreendimentos.”

Fortalecer o segmento

adores institucionais certamente influencia a vontade dos empresários e microempreendedores no sentido de partici-parem do movimento”, explica Heloisa Menezes. “Os parcei-ros colaboram na divulgação das informações aos seus res-pectivos públicos de interesse, amplificando os efeitos da ini-ciativa.”

“Apoiamos o Movimento porque as micro e pequenas empresas são fundamentais para a economia como um todo, pois geram empregos e contribuem para o desenvolvimento regional”, diz Carlos Fernando Vianna, diretor de Negócios

O dia do apoio aos pequenos negócios agitou a rotina dos comerciantes do Mercado Municipal de São Paulo.

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A diretora técnica Heloisa Menezes conversa com participantes do Movimento.

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270 mil atendimentos a microempreendedores individuais (MEI) e donos de micro e pequenas empresas e pequenos produtores rurais, em todo o país. Além dos 600 pontos de atendimento do Sebrae, foram criados 411 pontos adicionais

para ampliar o acesso dos pequenos negócios a orientações essenciais ao melhor desempenho dos seus negócios, com uma agenda intensa de cursos, palestras e oficinas, principal-mente sobre vendas e finanças.

Num ano de ajustes na economia, que impõe restrições e cautela, a retração do consumo reforça a necessidade de que os empresários olhem para dentro do próprio negócio e pro-curem qualificar sua gestão, aponta Heloisa Menezes. Por isso, é fundamental reduzir custos, fidelizar os clientes, con-trolar melhor o fluxo de caixa, buscar novos mercados, dife-renciar-se da concorrência e renegociar preço e prazo com fornecedores. Em suma, é preciso ser ainda mais rigoroso com a administração da empresa. O maior desafio para os empreendimentos de micro e pequeno porte é da porta para dentro. Uma boa gestão considera estratégias de marketing, um fluxo de caixa controlado e passa também por muita cria-tividade e inovação.

Hábitos – Como parte das ações, o Sebrae procurou, ainda, aprofundar o conhecimento sobre os hábitos de consumo dos brasileiros. Embora, em épocas de crise, boa parcela da população tenda a reorientar suas compras para produtos mais bara-tos, o preço não é o único fator determinante para o consumidor. Pesquisa realizada no site do Movi-mento, com mais de 33 mil pessoas, entre clientes e donos de pequenos comércios e serviços, em todo o Bra-sil, apontou que o bom atendimen-to, a qualidade e a variedade de pro-dutos são fatores mais importantes na hora da compra.

De acordo com o levantamento, ainda que o preço tenha importância na decisão do consumidor, ele não foi a principal resposta. Em primeiro lugar, os clientes apontaram o bom atendimento como fator preponderante na hora de escolher um estabelecimento. Nesse ponto, os pequenos negócios se sobressaem, porque têm mais conhecimento sobre os clien-tes. Na pesquisa, os proprietários afirmaram que cerca de metade da sua clientela era formada por pessoas que moram na vizinhança. Aproveitando essa proximidade, 37% dos donos de pequenos negócios declararam manter algum tipo de relacionamento com o cliente após a venda, seja pessoal-mente, por e-mail, telefone ou redes sociais. Além disso, 36% entregam mercadorias em domicílio.

Logo depois, na preferência do consumidor, está a quali-dade no produto ou do serviço adquiridos, o que mostra a importância do empresário se preparar e melhorar os proces-sos. Entre as motivações para a compra, o consumidor apon-ta ainda como importante “ter o que precisa”, o que é mais uma vantagem para o pequeno negócio, já que 45% deles estu-

RUMOS – 17 – Setembro/Outubro 2015

do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), uma das instituições financeiras que se engajaram na iniciati-va. Segundo Vianna, atualmente, 90% dos clientes do banco são micro e pequenas empresas, que contam com políticas específicas desenvolvidas pela instituição. “O banco oferece condições diferenciadas e crédito via internet para capital de giro e aquisição de veículos, máquinas e equipamentos. E para se fazer presente em todas as regiões, o BDMG também conta com uma ampla rede de correspondentes bancários”, explica o diretor.

dam o perfil dos clientes para oferecer produtos e serviços mais adequados.

Mobilização – O Movimento incentivou empresas e parcei-ros a se cadastrarem no site , uma forma de aumentar a visibilidade de seus produtos e ser-viços. No site, um mecanismo de georreferenciamento per-mite a localização dos empreendimentos, facilitando as esco-lhas pelos consumidores. Apoiadores e parceiros também tiveram suas marcas expostas. “A atuação dos parceiros e apoi-

RUMOS – 16 – Setembro/Outubro 2015

- Mais de 98% das empresas do país são representadas pelos pequenos negócios. - 10 milhões é o número de microempreendedores individuais, microempresas e pequenas empresas.

Empreendedores:51% dos pequenos negócios são comandados por mulheres53% dos novos empreendedores têm até 34 anos.55% dos novos empreendedores são da classe C.

Empregos52% dos empregos formais do país estão nas pequenas empresas.São, aproximadamente, 17 milhões de empregos com carteira assinada.

PIB27% do PIB vem dos pequenos negóciosR$ 334 bilhões em impostos federais, estaduais e municipais foram gerados pelas pequenas empresas desde a implantação do Supersimples, em 2007.

Fonte: Sebrae

Pequenas empresas na economia:

Comércio: 44%

Serviços: 35%

Indústria: 13% Construção: 7%

Outros: 1%

E EMPREENDER INCENTIVO

Fortalecer os pequenos negócios significa fortalecer a eco-nomia como um todo. A diretora técnica do Sebrae, Heloisa Menezes (foto), explica que, embora não exista uma pesquisa específica sobre o assunto, iniciativas que visem estimular o segmento têm efeitos positivos sobre o mercado de trabalho,

pelo menos no sentido de manter os empregos existen-tes, principalmente diante de cenários adversos.

A força dos pequenos pode ser avaliada, ainda, pelo fato de que mais de 700 mil estabelecimentos de peque-no porte foram abertos na primeira metade do ano, em que pesem as condições res-tritivas da economia. Ainda que possa ser apontado, nos últimos meses, um cresci-mento do empreendedoris-mo por necessidade (por ação de trabalhadores que

perderam seus empregos e buscam uma forma de obter ren-da), a relação entre esse tipo de iniciativa e o empreendedoris-mo por oportunidade (decorrentes de iniciativas planejadas para aproveitar chances oferecidas pelo mercado) não terá alterações expressivas de imediato, aposta a diretora.

“No cenário mundial, o Brasil ainda se apresenta com um potencial de oportunidades muito grande. Temos uma linha crescente e consistente do índice de empresas abertas por oportunidade e a taxa de emprego não é o único fator a ser considerado”, argumenta Heloisa Menezes. “Sem dúvida, este é um momento de cautela, mas não de paralisação. Mui-tas são as empresas que identificam oportunidades em momentos de adversidade. É o caso, por exemplo, daquelas que estão aproveitando a crise hídrica e de energia para ofere-cer soluções que reduzem o consumo de água e eletricidade para outros empresários e para o consumidor comum”, acrescenta. “Não podemos esquecer que nos momentos de adversidades, a criatividade pode ser fator propulsor de empreendimentos.”

Fortalecer o segmento

adores institucionais certamente influencia a vontade dos empresários e microempreendedores no sentido de partici-parem do movimento”, explica Heloisa Menezes. “Os parcei-ros colaboram na divulgação das informações aos seus res-pectivos públicos de interesse, amplificando os efeitos da ini-ciativa.”

“Apoiamos o Movimento porque as micro e pequenas empresas são fundamentais para a economia como um todo, pois geram empregos e contribuem para o desenvolvimento regional”, diz Carlos Fernando Vianna, diretor de Negócios

O dia do apoio aos pequenos negócios agitou a rotina dos comerciantes do Mercado Municipal de São Paulo.

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A diretora técnica Heloisa Menezes conversa com participantes do Movimento.

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economia da Bahia concentra 28% do Produto Interno Bruto (PIB) do Nordeste. Com 417 municípios, o estado acumula o maior índice de geração de empregos (26%) e de exportações (58,5%) entre as nove unidades federativas da

região. A supremacia numérica, no entanto, disfarça algo que preocupa o setor econômico: a alta concentração de ativida-des apenas na Região Metropolitana de Salvador (RMS) e nas cidades do seu entorno. Em tempos de crise na economia mundial, o desafio é buscar meios de manter o desenvolvi-mento e desbravar oportunidades mesmo diante do atual cenário de incertezas financeiras.

A concentração das atividades econômicas é tamanha que mais da metade do PIB da Bahia está fincado nas 13 cidades da RMS e municípios próximos. Os dados foram apresenta-

dos pelo superintendente de desenvolvimento industrial da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Vladson Menezes, durante o XI Encontro de Economia Baiana. O evento reuniu cerca de 220 pessoas, por dia, em setembro, no auditório da Fieb, em Salvador. O tema deste ano foi Economia brasileira: cenários, ajustes e desafios e o objetivo era discutir alter-nativas à continuação do ciclo de crescimento econômico, além de debater os ajustes, restrições de gastos e rebatimentos nos setores produtivos.

Menezes fez parte da mesa-redonda Cenários, ajustes e desa-fios para a Bahia, que contou com a participação da gerente da unidade de desenvolvimento territorial e projetos especiais do Sebrae – Bahia, Madalena Seixas. A partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o supe-rintendente da Fieb apontou que a distribuição setorial do

RUMOS – 21 – Setembro/Outubro 2015

modo tímido. O olhar voltado às exportações terá de ser agu-çado a partir das relações com o câmbio das moedas estran-geiras e excedentes exportáveis em estoques a partir da redu-ção de consumo interno.

Em tom esperançoso, defendeu a interiorização das ações de desenvolvimento e o alavancar de recursos à ampliação da logística e infraestrutura, como portos, estradas e rotas de esco-amento da produção. Em contrapartida, o gargalo dessas ações se concentra atualmente no pouco potencial de investimento do setor público, além da dificuldade de firmar parcerias públi-co-privadas (PPPs) causada pela perda do grau de investimento do país. “A Bahia e o Brasil têm possibilidades, mas elas apare-cem cinzentas para a economia porque é preciso viabilizar recursos. Temos que aproveitar nosso perfil e tentar construir esse caminho. Não é fácil, não é trivial, mas é possível”, finali-zou.

Alternativa de crescimento – O cenário de crise também desponta como momento estratégico de apoio mais intenso à micro e pequena empresa (MPE). Dados do Sebrae Nacional indicam que, entre 2011 e 2014, foram gerados pouco mais de 3,5 milhões de empregos nessas instituições. Em contraparti-da, as médias e grandes empresas amargam números negati-vos com eliminação de postos de trabalho. O Brasil possui mais de 10 milhões de MPEs, sendo mais de 1,8 milhão no Nordeste. No contexto regional, a Bahia acumula 32% das MPEs em seu território (veja mapa).

O entrave é que, apesar do significativo número de empregos, as MPEs contribuem pouco para o PIB nacional.

PIB da Bahia gira em torno dos setores de serviços (67,2%), indústria (25,5%) e agropecuária (7,3%). Ao analisar de modo direcionado a indústria, os números mostram que três ramos produtores de commodities e intensivos em capital (refino de petróleo, química e papel/celulose) respondem por 57% do Valor Agregado Bruto (VAB) industrial, índice que mensura a produtividade descontando o valor dos insumos utilizados ao longo da produção.

Um dos problemas é que esse perfil centralizador da indústria na Bahia não tem sido garantia de geração de empregos. Os três ramos produtores de commodities citados no parágrafo anterior, por exemplo, geram apenas 12,3% do emprego na indústria. Dados do IBGE (veja gráfico) apon-tam que, em 2013, o estado possuía 2,9% das pessoas ocupa-das no setor industrial do Brasil. O percentual é inferior ao do Ceará (3%) e empata com Pernambuco. Os dois estados, no entanto, estão abaixo da Bahia no Valor da Transformação Industrial (VTI), que corresponde à diferença entre valor bru-to da produção e o custo com operações industriais. A Bahia possui 4% do VTI nacional, enquanto Ceará e Pernambuco estão com 1,3% e 1,7%, respectivamente.

“Para empregar mais será necessário alterar o perfil da indústria, algo difícil de acontecer nos próximos 20 anos. Tal-vez seja hora de articular indústrias e fornecedores locais para gerar dinamismo”, comenta o superintendente. O fato é que, diante do cenário ecônomico fragilizado, tem sido necessário encarar o corte de empregos no setor. Segundo Menezes, entre as alternativas para minimizar esse quadro está a busca por meios de ampliação das exportações, mesmo que de

DESENVOLVIMENTO REGIONALR REPORTAGEM

A

Por Eder Luis Santana

Reprodução: Apresentação Vladson Menezes

A crise como uma oportunidade para repensar os caminhos do desenvolvimento, essa questão mobilizou os participantes do XI Encontro de Economia Baiana, que também teve debates sobre como levar o crescimento para o interior dos estados

RUMOS – 20 – Setembro/Outubro 2015

Ajustes e desafios na economia

TOTAL INDÚSTRIA25,5%

Indústria Extrativa Mineral 3,2%

Indústria de Transformação 8,8%

Serviços Industriais de Utilidade Pública

5,9%

Indústria da Construção

7,6%

GRÁFICO - DISTRIBUIÇÃO SETORIAL DO PIB DA BAHIA

(2012)

Serviços 67,2%

Agropecuária7,3%

Indústria 25,5%

18%

6%

19%

6%

50%

10,1 milhões*

OPTANTESSIMPLES NACIONAL

UF jun/15

AL 102.435

BA 601.886

CE 330.271

MA 159.521

PB 116.835

PE 296.904

PI 90.440

RN 125.457

SE 58.225

Total Nordeste 1.881.974

Total Brasil 10.031.242

Bahia/Nordeste 32%

Bahia/Brasil 6%

* empreendimentos optantes do Supersimples

*Regime especial de tributação para pequenos negócios.

Fonte: Portal do Simples Nacional, atualizado em 30/06/2015

MAPA - MICRO E PEQUENAS EMPRESASConcentração por região

Reprodução: Apresentação Madalena Seixas

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economia da Bahia concentra 28% do Produto Interno Bruto (PIB) do Nordeste. Com 417 municípios, o estado acumula o maior índice de geração de empregos (26%) e de exportações (58,5%) entre as nove unidades federativas da

região. A supremacia numérica, no entanto, disfarça algo que preocupa o setor econômico: a alta concentração de ativida-des apenas na Região Metropolitana de Salvador (RMS) e nas cidades do seu entorno. Em tempos de crise na economia mundial, o desafio é buscar meios de manter o desenvolvi-mento e desbravar oportunidades mesmo diante do atual cenário de incertezas financeiras.

A concentração das atividades econômicas é tamanha que mais da metade do PIB da Bahia está fincado nas 13 cidades da RMS e municípios próximos. Os dados foram apresenta-

dos pelo superintendente de desenvolvimento industrial da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Vladson Menezes, durante o XI Encontro de Economia Baiana. O evento reuniu cerca de 220 pessoas, por dia, em setembro, no auditório da Fieb, em Salvador. O tema deste ano foi Economia brasileira: cenários, ajustes e desafios e o objetivo era discutir alter-nativas à continuação do ciclo de crescimento econômico, além de debater os ajustes, restrições de gastos e rebatimentos nos setores produtivos.

Menezes fez parte da mesa-redonda Cenários, ajustes e desa-fios para a Bahia, que contou com a participação da gerente da unidade de desenvolvimento territorial e projetos especiais do Sebrae – Bahia, Madalena Seixas. A partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o supe-rintendente da Fieb apontou que a distribuição setorial do

RUMOS – 21 – Setembro/Outubro 2015

modo tímido. O olhar voltado às exportações terá de ser agu-çado a partir das relações com o câmbio das moedas estran-geiras e excedentes exportáveis em estoques a partir da redu-ção de consumo interno.

Em tom esperançoso, defendeu a interiorização das ações de desenvolvimento e o alavancar de recursos à ampliação da logística e infraestrutura, como portos, estradas e rotas de esco-amento da produção. Em contrapartida, o gargalo dessas ações se concentra atualmente no pouco potencial de investimento do setor público, além da dificuldade de firmar parcerias públi-co-privadas (PPPs) causada pela perda do grau de investimento do país. “A Bahia e o Brasil têm possibilidades, mas elas apare-cem cinzentas para a economia porque é preciso viabilizar recursos. Temos que aproveitar nosso perfil e tentar construir esse caminho. Não é fácil, não é trivial, mas é possível”, finali-zou.

Alternativa de crescimento – O cenário de crise também desponta como momento estratégico de apoio mais intenso à micro e pequena empresa (MPE). Dados do Sebrae Nacional indicam que, entre 2011 e 2014, foram gerados pouco mais de 3,5 milhões de empregos nessas instituições. Em contraparti-da, as médias e grandes empresas amargam números negati-vos com eliminação de postos de trabalho. O Brasil possui mais de 10 milhões de MPEs, sendo mais de 1,8 milhão no Nordeste. No contexto regional, a Bahia acumula 32% das MPEs em seu território (veja mapa).

O entrave é que, apesar do significativo número de empregos, as MPEs contribuem pouco para o PIB nacional.

PIB da Bahia gira em torno dos setores de serviços (67,2%), indústria (25,5%) e agropecuária (7,3%). Ao analisar de modo direcionado a indústria, os números mostram que três ramos produtores de commodities e intensivos em capital (refino de petróleo, química e papel/celulose) respondem por 57% do Valor Agregado Bruto (VAB) industrial, índice que mensura a produtividade descontando o valor dos insumos utilizados ao longo da produção.

Um dos problemas é que esse perfil centralizador da indústria na Bahia não tem sido garantia de geração de empregos. Os três ramos produtores de commodities citados no parágrafo anterior, por exemplo, geram apenas 12,3% do emprego na indústria. Dados do IBGE (veja gráfico) apon-tam que, em 2013, o estado possuía 2,9% das pessoas ocupa-das no setor industrial do Brasil. O percentual é inferior ao do Ceará (3%) e empata com Pernambuco. Os dois estados, no entanto, estão abaixo da Bahia no Valor da Transformação Industrial (VTI), que corresponde à diferença entre valor bru-to da produção e o custo com operações industriais. A Bahia possui 4% do VTI nacional, enquanto Ceará e Pernambuco estão com 1,3% e 1,7%, respectivamente.

“Para empregar mais será necessário alterar o perfil da indústria, algo difícil de acontecer nos próximos 20 anos. Tal-vez seja hora de articular indústrias e fornecedores locais para gerar dinamismo”, comenta o superintendente. O fato é que, diante do cenário ecônomico fragilizado, tem sido necessário encarar o corte de empregos no setor. Segundo Menezes, entre as alternativas para minimizar esse quadro está a busca por meios de ampliação das exportações, mesmo que de

DESENVOLVIMENTO REGIONALR REPORTAGEM

A

Por Eder Luis Santana

Reprodução: Apresentação Vladson Menezes

A crise como uma oportunidade para repensar os caminhos do desenvolvimento, essa questão mobilizou os participantes do XI Encontro de Economia Baiana, que também teve debates sobre como levar o crescimento para o interior dos estados

RUMOS – 20 – Setembro/Outubro 2015

Ajustes e desafios na economia

TOTAL INDÚSTRIA25,5%

Indústria Extrativa Mineral 3,2%

Indústria de Transformação 8,8%

Serviços Industriais de Utilidade Pública

5,9%

Indústria da Construção

7,6%

GRÁFICO - DISTRIBUIÇÃO SETORIAL DO PIB DA BAHIA

(2012)

Serviços 67,2%

Agropecuária7,3%

Indústria 25,5%

18%

6%

19%

6%

50%

10,1 milhões*

OPTANTESSIMPLES NACIONAL

UF jun/15

AL 102.435

BA 601.886

CE 330.271

MA 159.521

PB 116.835

PE 296.904

PI 90.440

RN 125.457

SE 58.225

Total Nordeste 1.881.974

Total Brasil 10.031.242

Bahia/Nordeste 32%

Bahia/Brasil 6%

* empreendimentos optantes do Supersimples

*Regime especial de tributação para pequenos negócios.

Fonte: Portal do Simples Nacional, atualizado em 30/06/2015

MAPA - MICRO E PEQUENAS EMPRESASConcentração por região

Reprodução: Apresentação Madalena Seixas

Page 22: Rumos 283

Apenas 27% desse importante índice de cresci-mento é vinculado ao setor, percentual que osci-la entre 30% e 50% em países desenvolvidos da Europa, como Itália, Espanha e Bélgica. “Temos concentrado esforços para melhorar a economia a partir do fortalecimento e da geração de rique-za nas MPEs. A economia pode crescer a partir

da força dos pequenos negócios”, enfatizou a gerente da uni-dade de desenvolvimento territorial e projetos especiais do Sebrae – Bahia, Madalena Seixas.

O objetivo do Sebrae é promover a competitividade e o

RUMOS – 23 – Setembro/Outubro 2015

Uma meta do DET é buscar meios de fixar a renda em áreas com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Existe a tentativa de conduzir produtores e consumi-dores para o aquecimento da economia desses locais, redu-zindo as chances de necessidades serem supridas longe da própria região. Para isso, é necessário identificar negócios com mais potencialidades e aplicar planos de ação para desenvolvê-los. Produtores de leite, por exemplo, podem ser capacitados para se tornar fornecedores de prefeituras. É a dinamização das compras públicas e o fortalecimento das finanças do interior. “Em tempos de crise, o Sebrae quer

RUMOS – 22 – Setembro/Outubro 2015

desenvolvimento sustentável das MPEs, com fomento cons-tante do empreendedorismo. O trabalho é baseado na Lei da Micro e Pequena Empresa (número 123/06), que determina o limite de até R$ 3,6 milhões na receita bruta para que a firma seja considerada de pequeno porte. Para os próximos quatros anos, o desafio do órgão na Bahia está centrado em setores estratégicos do agronegócio, comércio, indústria e serviços. A meta é promover ações de desenvolvimento que descentrali-zem o eixo formado pela Região Metropolitana de Salvador.

Um dos pontos promissores é o da energia renovável, em especial a eólica e a solar, áreas que têm atraído empresas de fora da Bahia. Desse modo, é natural que novas demandas sur-jam às MPEs locais, que precisam estar capacitadas – e compe-titivas – para atuar na cadeia de fornecimento de serviços e pro-dutos, principalmente, para as companhias que se alojam no estado. O público-alvo do Sebrae são pessoas físicas, com ou sem atividade econômica, empreendedores individuais, produ-tores rurais e pessoas jurídicas de MPEs em operação.

A ideia de promover o desenvolvimento no interior faz com que oito unidades regionais do órgão atuem em 72 muni-cípios a partir de metodologia baseada em duas vertentes. A primeira é o Desenvolvimento Econômico Territorial (DET), estratégia voltada aos territórios no interior da Bahia. A segunda é o encadeamento produtivo, que envolve trabalhar com fornecedores de empresas âncoras e adensar as cadeias de negócios para que MPEs tenham condições de fornecer para grandes empresas.

estar perto, o pequeno negócio precisa de apoio e a socieda-de busca um país melhor”, assegurou Madalena.

Carga tributária – O XI Encontro de Economia Baiana con-tou ainda com a apresentação de 30 artigos. Algumas produ-ções traziam alternativas de melhorias à economia do Nor-deste e das demais regiões do país, como a aplicação de uma política de isenção de impostos atrelada ao padrão de consu-mo das famílias de baixa renda, em especial nos setores de ali-mentação e habitação. Essa é a proposta do doutor em Eco-nomia Aplicada José Adrian Pintos-Payeras, autor da pesqui-sa “Evolução da distribuição da carga tributária no Nordeste do Brasil”. O estudo comprova que para se chegar a um siste-ma tributário mais justo, é fundamental desonerar o padrão de consumo das famílias mais pobres.

O trabalho do pesquisador teve o objetivo de estimar o peso da carga tributária de acordo com os estratos de renda no Nordeste. Outra missão era verificar como evoluiu a distribui-ção dos impostos a partir de índices coletados na mesma pes-quisa feita em 2012. A base de dados é fincada na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), organizada pelo IBGE, em con-junto com a legislação tributária. Por meio da POF foi possível apurar o que é consumido por 19.270 famílias em um universo de 13.778 produtos e os tributos diretos, como Imposto de Ren-da (IR), contribuição à Previdência social (INSS), Imposto Pre-dial e Territorial Urbano (IPTU), Imposto sobre a Proprieda-de de Veículos Automotores (IPVA), dentre outros.

Já os impostos indiretos, não incluídos na POF, foram mensurados de modo isolado. São eles: Imposto sobre Cir-culação de Mercadorias (ICMS), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre Serviços de qualquer natureza (ISS), Programa de Integração Social (PIS) e Con-tribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins). Na pesquisa, o ciclo de impostos é avaliado a partir da arre-cadação e despesa familiar. No geral, as 13 classes de renda pesquisadas apresentam incidência de carga tributária pro-porcional. Ou seja, famílias que possuem a renda mais baixa, por exemplo, que é de até R$ 207,5 per capita, possuem 1,44% de carga tributária direta. Já os núcleos familiares mais abas-tados, com mais de R$ 6.640 de renda per capita, apresentam carga direta per capita de 10,28%. Essa tendência é motivada especialmente por taxações ligadas ao IR e contribuições com o INSS.

As distorções aparecem, no entanto, ao analisar a alíquota média dos impostos indiretos (veja tabela). Núcleos familia-res com renda de até dois salários mínimos por pessoa têm maior impacto quando taxados em setores como educação, saúde e alimentação fora de casa. Isso se deve ao fato de pes-soas com baixa renda comprarem mais produtos nos quais incidem impostos com alíquotas maiores, como o ICMS, enquanto as mais ricas têm acesso a serviços menos tributá-veis. “Seria importante desonerar o padrão de consumo das famílias que ganham até três salários mínimos, em especial os produtos da cesta básica e impostos ligados à habitação, como o ISS do aluguel”, assinalou Payeras, que é professor do Departamento de Economia e do Mestrado em Economia Regional da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

O trabalho identificou que os impostos diretos estão mais progressivos. Isso significa que famílias de maior renda pagam mais. Já os impostos indiretos de maior participação nos orçamentos, como ICMS, PIS e Cofins, estão menos regressivos, com pagamento menor aos que proporcional-mente ganham mais. “O governo propõe o oposto da minha sugestão. Existe aumento da carga tributária e isso pode ser percebido, inclusive, nos produtos da cesta básica”, lamentou o professor.

Premiação pela reflexão – Mestre em Economia Rural e doutor em Sociologia, o pesquisador Sérgio Ribeiro Lima ganhou o prêmio de melhor artigo apresentado no evento. Seu trabalho, “O comportamento socioeconômico da Região Nordeste: do meio século XX ao século XXI”, está além das informações numéricas e propõe importantes reflexões acer-ca do processo de desenvolvimento econômico vivenciado no Nordeste, principalmente entre as décadas de 1960 e 1990. Apesar de balizar seu referencial teórico em diversos autores, Lima centra boa parte das suas ideias no pensamento do eco-nomista Celso Furtado (1920 – 2004).

É trabalhado em sua pesquisa como o crescimento eco-nômico foi induzido naquele período pelas políticas públi-cas de financiamento e pelo estímulo ao processo de indus-trialização. A partir de metodologia de análise que consegue mensurar a dispersão da riqueza no território, o pesquisador tentou compreender como o sistema gerido pelo capital ope-rou na região. São analisados dados como a estrutura fundiá-

ria, a evolução do PIB dos estados do Nordeste e comparati-vos com outras regiões. Outros pontos observados são a evolução do emprego, o índice de pobreza, o tamanho da população e a desigualdade social. “É interessante trazer a discussão do comportamento do sistema capitalista e do seu modo de produção”, assinalou.

Lima é professor adjunto do Departamento de Econo-mia da Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus, no litoral sul da Bahia. Ele mostrou que, nessa relação que envolve capital e relações sociais, a economia do Nordeste é marcada pelo crescimento e modernização. Porém, isso não significa que tenha sido beneficiada pelo desenvolvi-mento. Dentro da perspectiva de Celso Furtado, o desen-volvimento opera por meio de complexa estrutura na qual inexiste um centro único e dominante na economia, como o café ou o açúcar foram outrora no Brasil. O desenvolvi-mento, neste caso, envolve distribuição com certa propor-cionalidade entre os setores, algo que faz com que a cadeia da economia seja dinâmica.

À luz de Celso Furtado, essa produção seria capaz, inclusi-ve, de gerar fluxo econômico com escoamento de renda à cole-tividade por meio de aumento do salário, melhoria das condi-ções reais de vida e índices de produtividade aquecidos no cená-rio global. Noções que estão na contramão da realidade vivida na região. “A industrialização no Nordeste intensificou a con-centração da renda. Parte desse processo está ligado ao capital financiador estrangeiro e da região Centro-Sul do país. Empre-sas foram em busca apenas de espaços de valorização do capi-tal com mão de obra barata, recursos disponíveis, entre outros fatores”, explicou.

Lima propõe uma política de industrialização genuinamen-te nordestina, atrelada às políticas regionais de fortalecimento dos estados. Seu discurso mira na direção oposta dos defenso-res de isenções fiscais que se instalam no Nordeste apenas em busca de atrativos. “Empresas do Sudeste que foram aproveitar benefícios são como corpo estranho no Nordeste. Não viven-ciam e não olham para a região”, assinalou, antes de reforçar a importância de distribuição menos desigual de renda. “Não adi-anta acumulação de capital e progresso sem fluxo de renda para além das classes que detêm o controle do capital. A classe tra-balhadora precisa se apropriar dos benefícios. Sem isso, a con-centração será sempre problema estrutural”, finalizou.

Palestrantes – Além dos trabalhos acadêmicos, o encontro contou com palestras que abordaram questões estruturais do cenário econômico nacional. A doutora em Teoria Econômi-ca e diretora do Instituto de Economia da Universidade Fede-ral de Uberlândia (UFU), Vanessa Petrelli Corrêa, esteve à frente da conferência Crescimento brasileiro: novas condi-ções estruturais e necessidades de ajustes. Com experiência de quem foi diretora de macroeconomia do Instituto de Pes-quisa Econômica Aplicada (Ipea), a pesquisadora integra um grupo de economistas que faz críticas à redução do gasto público como alternativa para sair do atual cenário de crise econômica.

Vanessa afirmou que, entre 2004 e 2011, o crescimento médio da economia nacional foi de 4,3% ao ano. O percentual, ainda segundo a pesquisadora, é quase o dobro da média

Os palestrantes apresentaram trabalhos que fazer uma reflexão sobre a região Nordeste e sobre o Brasil. Na sequência: Sérgio Lima, Vladson Menezes, Madalena Seixas e Vanessa Petrelli.

DESENVOLVIMENTO REGIONAL

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R REPORTAGEM

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Apenas 27% desse importante índice de cresci-mento é vinculado ao setor, percentual que osci-la entre 30% e 50% em países desenvolvidos da Europa, como Itália, Espanha e Bélgica. “Temos concentrado esforços para melhorar a economia a partir do fortalecimento e da geração de rique-za nas MPEs. A economia pode crescer a partir

da força dos pequenos negócios”, enfatizou a gerente da uni-dade de desenvolvimento territorial e projetos especiais do Sebrae – Bahia, Madalena Seixas.

O objetivo do Sebrae é promover a competitividade e o

RUMOS – 23 – Setembro/Outubro 2015

Uma meta do DET é buscar meios de fixar a renda em áreas com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Existe a tentativa de conduzir produtores e consumi-dores para o aquecimento da economia desses locais, redu-zindo as chances de necessidades serem supridas longe da própria região. Para isso, é necessário identificar negócios com mais potencialidades e aplicar planos de ação para desenvolvê-los. Produtores de leite, por exemplo, podem ser capacitados para se tornar fornecedores de prefeituras. É a dinamização das compras públicas e o fortalecimento das finanças do interior. “Em tempos de crise, o Sebrae quer

RUMOS – 22 – Setembro/Outubro 2015

desenvolvimento sustentável das MPEs, com fomento cons-tante do empreendedorismo. O trabalho é baseado na Lei da Micro e Pequena Empresa (número 123/06), que determina o limite de até R$ 3,6 milhões na receita bruta para que a firma seja considerada de pequeno porte. Para os próximos quatros anos, o desafio do órgão na Bahia está centrado em setores estratégicos do agronegócio, comércio, indústria e serviços. A meta é promover ações de desenvolvimento que descentrali-zem o eixo formado pela Região Metropolitana de Salvador.

Um dos pontos promissores é o da energia renovável, em especial a eólica e a solar, áreas que têm atraído empresas de fora da Bahia. Desse modo, é natural que novas demandas sur-jam às MPEs locais, que precisam estar capacitadas – e compe-titivas – para atuar na cadeia de fornecimento de serviços e pro-dutos, principalmente, para as companhias que se alojam no estado. O público-alvo do Sebrae são pessoas físicas, com ou sem atividade econômica, empreendedores individuais, produ-tores rurais e pessoas jurídicas de MPEs em operação.

A ideia de promover o desenvolvimento no interior faz com que oito unidades regionais do órgão atuem em 72 muni-cípios a partir de metodologia baseada em duas vertentes. A primeira é o Desenvolvimento Econômico Territorial (DET), estratégia voltada aos territórios no interior da Bahia. A segunda é o encadeamento produtivo, que envolve trabalhar com fornecedores de empresas âncoras e adensar as cadeias de negócios para que MPEs tenham condições de fornecer para grandes empresas.

estar perto, o pequeno negócio precisa de apoio e a socieda-de busca um país melhor”, assegurou Madalena.

Carga tributária – O XI Encontro de Economia Baiana con-tou ainda com a apresentação de 30 artigos. Algumas produ-ções traziam alternativas de melhorias à economia do Nor-deste e das demais regiões do país, como a aplicação de uma política de isenção de impostos atrelada ao padrão de consu-mo das famílias de baixa renda, em especial nos setores de ali-mentação e habitação. Essa é a proposta do doutor em Eco-nomia Aplicada José Adrian Pintos-Payeras, autor da pesqui-sa “Evolução da distribuição da carga tributária no Nordeste do Brasil”. O estudo comprova que para se chegar a um siste-ma tributário mais justo, é fundamental desonerar o padrão de consumo das famílias mais pobres.

O trabalho do pesquisador teve o objetivo de estimar o peso da carga tributária de acordo com os estratos de renda no Nordeste. Outra missão era verificar como evoluiu a distribui-ção dos impostos a partir de índices coletados na mesma pes-quisa feita em 2012. A base de dados é fincada na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), organizada pelo IBGE, em con-junto com a legislação tributária. Por meio da POF foi possível apurar o que é consumido por 19.270 famílias em um universo de 13.778 produtos e os tributos diretos, como Imposto de Ren-da (IR), contribuição à Previdência social (INSS), Imposto Pre-dial e Territorial Urbano (IPTU), Imposto sobre a Proprieda-de de Veículos Automotores (IPVA), dentre outros.

Já os impostos indiretos, não incluídos na POF, foram mensurados de modo isolado. São eles: Imposto sobre Cir-culação de Mercadorias (ICMS), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre Serviços de qualquer natureza (ISS), Programa de Integração Social (PIS) e Con-tribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins). Na pesquisa, o ciclo de impostos é avaliado a partir da arre-cadação e despesa familiar. No geral, as 13 classes de renda pesquisadas apresentam incidência de carga tributária pro-porcional. Ou seja, famílias que possuem a renda mais baixa, por exemplo, que é de até R$ 207,5 per capita, possuem 1,44% de carga tributária direta. Já os núcleos familiares mais abas-tados, com mais de R$ 6.640 de renda per capita, apresentam carga direta per capita de 10,28%. Essa tendência é motivada especialmente por taxações ligadas ao IR e contribuições com o INSS.

As distorções aparecem, no entanto, ao analisar a alíquota média dos impostos indiretos (veja tabela). Núcleos familia-res com renda de até dois salários mínimos por pessoa têm maior impacto quando taxados em setores como educação, saúde e alimentação fora de casa. Isso se deve ao fato de pes-soas com baixa renda comprarem mais produtos nos quais incidem impostos com alíquotas maiores, como o ICMS, enquanto as mais ricas têm acesso a serviços menos tributá-veis. “Seria importante desonerar o padrão de consumo das famílias que ganham até três salários mínimos, em especial os produtos da cesta básica e impostos ligados à habitação, como o ISS do aluguel”, assinalou Payeras, que é professor do Departamento de Economia e do Mestrado em Economia Regional da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

O trabalho identificou que os impostos diretos estão mais progressivos. Isso significa que famílias de maior renda pagam mais. Já os impostos indiretos de maior participação nos orçamentos, como ICMS, PIS e Cofins, estão menos regressivos, com pagamento menor aos que proporcional-mente ganham mais. “O governo propõe o oposto da minha sugestão. Existe aumento da carga tributária e isso pode ser percebido, inclusive, nos produtos da cesta básica”, lamentou o professor.

Premiação pela reflexão – Mestre em Economia Rural e doutor em Sociologia, o pesquisador Sérgio Ribeiro Lima ganhou o prêmio de melhor artigo apresentado no evento. Seu trabalho, “O comportamento socioeconômico da Região Nordeste: do meio século XX ao século XXI”, está além das informações numéricas e propõe importantes reflexões acer-ca do processo de desenvolvimento econômico vivenciado no Nordeste, principalmente entre as décadas de 1960 e 1990. Apesar de balizar seu referencial teórico em diversos autores, Lima centra boa parte das suas ideias no pensamento do eco-nomista Celso Furtado (1920 – 2004).

É trabalhado em sua pesquisa como o crescimento eco-nômico foi induzido naquele período pelas políticas públi-cas de financiamento e pelo estímulo ao processo de indus-trialização. A partir de metodologia de análise que consegue mensurar a dispersão da riqueza no território, o pesquisador tentou compreender como o sistema gerido pelo capital ope-rou na região. São analisados dados como a estrutura fundiá-

ria, a evolução do PIB dos estados do Nordeste e comparati-vos com outras regiões. Outros pontos observados são a evolução do emprego, o índice de pobreza, o tamanho da população e a desigualdade social. “É interessante trazer a discussão do comportamento do sistema capitalista e do seu modo de produção”, assinalou.

Lima é professor adjunto do Departamento de Econo-mia da Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus, no litoral sul da Bahia. Ele mostrou que, nessa relação que envolve capital e relações sociais, a economia do Nordeste é marcada pelo crescimento e modernização. Porém, isso não significa que tenha sido beneficiada pelo desenvolvi-mento. Dentro da perspectiva de Celso Furtado, o desen-volvimento opera por meio de complexa estrutura na qual inexiste um centro único e dominante na economia, como o café ou o açúcar foram outrora no Brasil. O desenvolvi-mento, neste caso, envolve distribuição com certa propor-cionalidade entre os setores, algo que faz com que a cadeia da economia seja dinâmica.

À luz de Celso Furtado, essa produção seria capaz, inclusi-ve, de gerar fluxo econômico com escoamento de renda à cole-tividade por meio de aumento do salário, melhoria das condi-ções reais de vida e índices de produtividade aquecidos no cená-rio global. Noções que estão na contramão da realidade vivida na região. “A industrialização no Nordeste intensificou a con-centração da renda. Parte desse processo está ligado ao capital financiador estrangeiro e da região Centro-Sul do país. Empre-sas foram em busca apenas de espaços de valorização do capi-tal com mão de obra barata, recursos disponíveis, entre outros fatores”, explicou.

Lima propõe uma política de industrialização genuinamen-te nordestina, atrelada às políticas regionais de fortalecimento dos estados. Seu discurso mira na direção oposta dos defenso-res de isenções fiscais que se instalam no Nordeste apenas em busca de atrativos. “Empresas do Sudeste que foram aproveitar benefícios são como corpo estranho no Nordeste. Não viven-ciam e não olham para a região”, assinalou, antes de reforçar a importância de distribuição menos desigual de renda. “Não adi-anta acumulação de capital e progresso sem fluxo de renda para além das classes que detêm o controle do capital. A classe tra-balhadora precisa se apropriar dos benefícios. Sem isso, a con-centração será sempre problema estrutural”, finalizou.

Palestrantes – Além dos trabalhos acadêmicos, o encontro contou com palestras que abordaram questões estruturais do cenário econômico nacional. A doutora em Teoria Econômi-ca e diretora do Instituto de Economia da Universidade Fede-ral de Uberlândia (UFU), Vanessa Petrelli Corrêa, esteve à frente da conferência Crescimento brasileiro: novas condi-ções estruturais e necessidades de ajustes. Com experiência de quem foi diretora de macroeconomia do Instituto de Pes-quisa Econômica Aplicada (Ipea), a pesquisadora integra um grupo de economistas que faz críticas à redução do gasto público como alternativa para sair do atual cenário de crise econômica.

Vanessa afirmou que, entre 2004 e 2011, o crescimento médio da economia nacional foi de 4,3% ao ano. O percentual, ainda segundo a pesquisadora, é quase o dobro da média

Os palestrantes apresentaram trabalhos que fazer uma reflexão sobre a região Nordeste e sobre o Brasil. Na sequência: Sérgio Lima, Vladson Menezes, Madalena Seixas e Vanessa Petrelli.

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R REPORTAGEM

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RUMOS – 24 – Setembro/Outubro 2015

DESENVOLVIMENTO REGIONAL

observada nas duas décadas anteriores aos anos observados. Três fatores foram cruciais ao bom desempenho econômico. O primeiro foi o cená-rio internacional favorável, que dinamizou a eco-nomia da América Latina, em especial o Brasil, com a melhora expressiva dos preços das commodi-ties. Outra alavanca foram as políticas de distribui-

ção de renda, como aumento do salário mínimo, transferênci-as públicas de verba e o crédito às famílias. “É a dinâmica da América do Sul no geral, especialmente em países com gover-nos de esquerda e centro-esquerda”, explicou.

A terceira mola propulsora dos anos de crescimento é o

que amplie a arrecadação e garanta o mínimo de superávit. Não é o que os mercados querem, obviamente, porque, ao fazer uma política dessas, será necessário criticar os juros escorchantes”, ponderou.

Vanessa deixou claro que a saída é puxar o crescimento a partir do investimento do Estado, e prevê que as receitas vol-tam a melhorar se o Brasil crescer. A lógica é: a atual política de recessão do governo tende a reduzir ainda mais seus gastos. Infelizmente, o reflexo disso será visto na menor arrecadação e menos demanda de consumo. “Um dos investimentos fun-damentais do crescimento é o investimento público, que está ladeira abaixo, pois, na política de contração fiscal, a primeira coisa que se corta é o investimento público”, completou.

Classes de renda familiar (R$) 1

Alimentos no

domicílio

Alimentação

Habitação Vestuário

Transporte

Higiene

Educação Serviçospessoais

Até 2 SM 15,45

23,37 26,61

20,23

40,15 7,85

Mais de 2 a 3 SM 15,67

23,68 26,60

20,50

40,74 7,79

Mais de 3 a 5 SM 15,78

22,64 26,73

23,21

41,74 7,77

Mais de 5 a 6 SM 15,72

20,48 26,86

24,95

41,91 7,55

Mais de 6 a 8 SM 16,39

19,75 26,87

25,75

41,68 7,66

Mais de 8 a 10 SM 16,75 17,46 26,87 26,41 41,30 7,73

Mais de 10 a 15 SM 16,77

16,81 27,03 27,23 41,65 7,62

Mais de 15 a 20 SM 17,44 15,07 27,02 27,60 41,01 7,69

Mais de 20 a 30 SM 17,73 14,45 27,05 27,38 42,40 7,67

Mais de 30 SM 16,99 13,53 27,56 29,60 40,63 7,89

Nordeste 15,96 19,84 26,85 41,19 7,74

Alíquota média dos impostos indiretos por grupo de despesa, segundo as classes selecionadas (alíquotas em %)

TABELA - CARGA TRIBUTÁRIA INDIRETA

Reprodução: Apresentação José Payeras

fora

27,97

28,60

27,68

26,81

25,45

24,14

24,41

23,44

22,27

20,92

25,55

Saúde

22,71 16,60

21,77 12,57

20,16 10,58

17,54 9,18

16,69 8,49

16,13 8,27

15,07 8,44

14,33 7,44

14,77 7,59

13,03 7,75

17,75 9,1925,65

mente estagnados, nos Estados Unidos, com ritmo lento de crescimento, e até na China, onde a dinâmica de negócios dá sinais de contenção. “Naquele momento o governo optou por uma política restritiva com retração de investimento público”, lembrou.

Com o cenário internacional fragilizado e a redução dos investimentos do Estado, a pesquisadora aponta como teve início o ciclo de problemas vistos hoje, como a queda no con-sumo, endividamento das famílias, redução no crescimento nacional, dentre outros. Tudo isso gerado não pelas despesas do Estado, e sim pela queda nas receitas quando o Brasil passa a crescer menos. “É necessária uma política de investimento

R REPORTAGEM

papel do Estado na linha de frente do financiamento dos investimentos privados complementados por investimentos públicos, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o investimento em estatais e políticas de financiamento com suporte de instituições como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Portanto, o consumo vinculado aos gastos públicos e os investimentos ligados às iniciativas do Estado foram cruciais, segundo a pes-quisadora, para o desenvolvimento do Brasil.

Vanessa Petrelli lembra que, em 2011, as principais potências mundiais começavam a demonstrar que a econo-mia estava em fase de mudança com taxas de crescimento menor. Exemplos estavam na Europa, com índices pratica-

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om um programa de microcrédito que é conside-rado caso de sucesso em todo o país e que já apro-vou mais de R$ 500 milhões em pequenos finan-ciamentos, nos últimos 12 anos, o Banco de Desenvolvimento do Espírito

Santo (Bandes) se impôs um novo desafio: chegar aos bairros com alta vulnerabilidade social, para mudar a realidade social e econô-mica dessas regiões, a partir de pequenos empreendedores que atuem em áreas-chave nesses locais e que necessitem de uma ajuda para impulsionar seu negócio.

Para isso, o banco lançou recentemente o Bandes Comunidades, um braço do progra-ma de Nossocrédito, especialmente voltado às populações mais vulneráveis. Os peque-nos empresários moradores dos bairros poderão contar com o apoio do banco, em empréstimos de até R$ 20 mil, para ativida-des que, neste primeiro momento, se con-centram prioritariamente em quatro áreas: turismo, economia criativa, economia verde e comércio exterior.

A primeira operação realizada pelo pro-grama foi o financiamento de obras em um hostel localizado no bairro Jesus de Nazareth, em Vitória, como parte de uma ideia maior de se criar uma infraestrutura turística no local e em outras regiões do estado. A ideia de dar foco ao turismo nessas regiões, relata o presidente do Bandes, Luiz Paulo Vel-lozo Lucas, foi inspirada em iniciativas bem-sucedidas em favelas cariocas e experiências semelhantes em outros lugares do mundo.

“Vitória é um arquipélago com 48 ilhas e as comunida-des estão localizadas em territórios que possuem um enor-me potencial de turismo, mas esse potencial econômico não é explorado. Algumas possuem vistas maravilhosas para o mar, por exemplo. O programa surge justamente para despertar as vocações econômicas nos bairros”, afir-mou Vellozo.

O diretor de Crédito e Fomento, Everaldo Colodetti, que está coordenando a operacionalização do programa, afirmou que essa é uma forma de o banco estar mais próximo das comu-nidades, destacando que o objetivo é atingir capilaridade nos

78 municípios do estado. Para chegar a esse propósito, estão procurando parceiros para identificar o potencial existente em cada região e buscar os produtos mais adequados às realidades locais. “Estamos ainda no início, mas tem sido muito positivo. A economia cria-tiva, por exemplo, tem um apelo grande, que até então não sabíamos. Estamos felizes por-que o programa foi muito bem recebido”, comentou Colodetti.

De acordo com o presidente, as parcerias prioritárias se dão com as prefeituras, por meio de encontros e treinamentos, além do apoio na identificação das atividades com grande potencial em cada localidade, o que às vezes extrapola os limites oficiais de cada município. “Vários municípios têm caracterís-ticas parecidas e podemos atuar em conjun-to”, afirmou Vellozo.

Dimensões – Para além de um programa que busca dinami-zar o ambiente econômico local, com o Bandes Comunidades, a instituição deseja também que o desenvolvimento da econo-mia esteja alinhado a outras dimensões da vida comunitária. Para o presidente Vellozo, a experiência com o microcrédito e outras ações já realizadas pela instituição, e também por outras instituições de fomento que cita como exemplo, aponta para o fato de que o desenvolvimento econômico é harmônico com o desenvolvimento social e ambiental.

Ele lembra que muitas das comunidades que deverão ser atendidas com o novo programa se encontram em áreas que historicamente foram construídas a partir de ocupação desordenada, com impacto para o meio ambiente. O progra-ma pode auxiliar a qualificar a relação dos moradores, em especial os empreendedores, com o ambiente em que vivem –

RUMOS – 27 – Setembro/Outubro 2015

e por isso a economia verde é um dos eixos prioritários nesta fase inicial.

“O social, o ambiental e o econômico são as três dimen-sões da economia verde, que consiste em mirar os ativos ambi-

entais com um olhar de desenvolvimento econômico e social”, explicou Vellozo. Para ele, os patrimônios cul-turais e ambientais do estado também preci-sam ser vistos como ativos, como possibili-dade de geração de riqueza e de geração de atividade econômi-ca, principalmente por meio do turismo. “O Brasil e o Espírito San-to não têm força no mercado internacio-nal de turismo. Nosso país responde por ape-nas 0,5% do turismo

global. Nós não existimos para o turismo internacional, e podemos existir”, completou.

Segundo Vellozo, o Bandes Comunidades possui ainda um papel pedagógico, ao indicar à população em geral que o empreendedorismo não é um valor válido apenas para as clas-ses empresariais mais ricas, mas sim precisa ser disseminado em toda a sociedade. Ele defendeu que a ideia de empreender deve ser democrática.

“A carteira do Bandes é quase que inteiramente formada por pequenos empresários e pessoas físicas. Acreditamos que a ideia de empreender, de vislumbrar a possibilidade de negócio é central para o progresso. É importante apoiarmos aqueles que têm visão e que têm a coragem de traduzir sua visão em ações concretas para aproveitar as oportunida-des”, finalizou.

MICROCRÉDITOR REPORTAGEM

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O Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo busca ampliar apoio a projetos que criam oportunidades de emprego e geração de renda em locais de alta vulnerabilidade social e cria ações visando ao desenvolvimento econômico, social e ambiental dessas regiões

RUMOS – 26 – Setembro/Outubro 2015

Comunidades empreendedoras

Levando em conta as dificuldades do cenário econô-mico atual – tanto, de um lado, para os empreendedores, que hesitam na decisão de investir; quanto, de outro, para as instituições financeiras, que tradicionalmente diminu-em a oferta de crédito em momentos como esse –, o Ban-des Comunidades está inserido em um contexto mais amplo da política operacional do banco, que analisa o momento que o país vive e sugere caminhos para que ele cumpra sua missão mesmo em períodos de dificuldades externas à instituição.

“Estamos falando de um contexto mais geral de políti-cas operacionais que foram adaptadas para a realidade da conjuntura difícil que vivemos. Não desconhecemos a cri-se, pelo contrário, mas nossa análise parte da ideia de que a atividade econômica, que inclui os investimentos, não paralisa; ela se reduz e muda suas prioridades. Fatos que eram relevantes deixam de ser, e novos fatos ficam rele-vantes”, explicou Vellozo.

Foi com base nessa análise, detalhou o presidente, que a área de comércio exterior foi uma das contempladas como prioritárias para o Bandes Comunidades neste momento. Com a desvalorização da moeda brasileira, a exportação, junto com o turismo, são dois setores que podem gerar atratividade e rentabilidade. “É o lado bom da crise”, brincou.

Para o diretor Everaldo Colodetti, diante deste cenário de crise, é necessário que os bancos de desenvolvimento cumpram com seu papel de levar ao setor produtivo solu-ções de desenvolvimento. “Logicamente não podemos investir onde não há retorno, mas temos que buscar solu-ções, juntamente com a atividade produtiva e com parcei-ros, para atravessarmos essa crise da melhor maneira. Nes-te momento, precisamos ter um papel de articulação e fomento ainda maior”, comentou.

Um olho na crise, o outro no desenvolvimento

Com bela vista para o mar, hostel em Jesus de Nazareth, bairro de Vitória, foi o primeiro empreendimentocontemplado com o empréstimo.

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Luiz Paulo Vellozo Lucas, presidente do Bandes

Everaldo Colodetti, diretor de Crédito e Fomento.

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om um programa de microcrédito que é conside-rado caso de sucesso em todo o país e que já apro-vou mais de R$ 500 milhões em pequenos finan-ciamentos, nos últimos 12 anos, o Banco de Desenvolvimento do Espírito

Santo (Bandes) se impôs um novo desafio: chegar aos bairros com alta vulnerabilidade social, para mudar a realidade social e econô-mica dessas regiões, a partir de pequenos empreendedores que atuem em áreas-chave nesses locais e que necessitem de uma ajuda para impulsionar seu negócio.

Para isso, o banco lançou recentemente o Bandes Comunidades, um braço do progra-ma de Nossocrédito, especialmente voltado às populações mais vulneráveis. Os peque-nos empresários moradores dos bairros poderão contar com o apoio do banco, em empréstimos de até R$ 20 mil, para ativida-des que, neste primeiro momento, se con-centram prioritariamente em quatro áreas: turismo, economia criativa, economia verde e comércio exterior.

A primeira operação realizada pelo pro-grama foi o financiamento de obras em um hostel localizado no bairro Jesus de Nazareth, em Vitória, como parte de uma ideia maior de se criar uma infraestrutura turística no local e em outras regiões do estado. A ideia de dar foco ao turismo nessas regiões, relata o presidente do Bandes, Luiz Paulo Vel-lozo Lucas, foi inspirada em iniciativas bem-sucedidas em favelas cariocas e experiências semelhantes em outros lugares do mundo.

“Vitória é um arquipélago com 48 ilhas e as comunida-des estão localizadas em territórios que possuem um enor-me potencial de turismo, mas esse potencial econômico não é explorado. Algumas possuem vistas maravilhosas para o mar, por exemplo. O programa surge justamente para despertar as vocações econômicas nos bairros”, afir-mou Vellozo.

O diretor de Crédito e Fomento, Everaldo Colodetti, que está coordenando a operacionalização do programa, afirmou que essa é uma forma de o banco estar mais próximo das comu-nidades, destacando que o objetivo é atingir capilaridade nos

78 municípios do estado. Para chegar a esse propósito, estão procurando parceiros para identificar o potencial existente em cada região e buscar os produtos mais adequados às realidades locais. “Estamos ainda no início, mas tem sido muito positivo. A economia cria-tiva, por exemplo, tem um apelo grande, que até então não sabíamos. Estamos felizes por-que o programa foi muito bem recebido”, comentou Colodetti.

De acordo com o presidente, as parcerias prioritárias se dão com as prefeituras, por meio de encontros e treinamentos, além do apoio na identificação das atividades com grande potencial em cada localidade, o que às vezes extrapola os limites oficiais de cada município. “Vários municípios têm caracterís-ticas parecidas e podemos atuar em conjun-to”, afirmou Vellozo.

Dimensões – Para além de um programa que busca dinami-zar o ambiente econômico local, com o Bandes Comunidades, a instituição deseja também que o desenvolvimento da econo-mia esteja alinhado a outras dimensões da vida comunitária. Para o presidente Vellozo, a experiência com o microcrédito e outras ações já realizadas pela instituição, e também por outras instituições de fomento que cita como exemplo, aponta para o fato de que o desenvolvimento econômico é harmônico com o desenvolvimento social e ambiental.

Ele lembra que muitas das comunidades que deverão ser atendidas com o novo programa se encontram em áreas que historicamente foram construídas a partir de ocupação desordenada, com impacto para o meio ambiente. O progra-ma pode auxiliar a qualificar a relação dos moradores, em especial os empreendedores, com o ambiente em que vivem –

RUMOS – 27 – Setembro/Outubro 2015

e por isso a economia verde é um dos eixos prioritários nesta fase inicial.

“O social, o ambiental e o econômico são as três dimen-sões da economia verde, que consiste em mirar os ativos ambi-

entais com um olhar de desenvolvimento econômico e social”, explicou Vellozo. Para ele, os patrimônios cul-turais e ambientais do estado também preci-sam ser vistos como ativos, como possibili-dade de geração de riqueza e de geração de atividade econômi-ca, principalmente por meio do turismo. “O Brasil e o Espírito San-to não têm força no mercado internacio-nal de turismo. Nosso país responde por ape-nas 0,5% do turismo

global. Nós não existimos para o turismo internacional, e podemos existir”, completou.

Segundo Vellozo, o Bandes Comunidades possui ainda um papel pedagógico, ao indicar à população em geral que o empreendedorismo não é um valor válido apenas para as clas-ses empresariais mais ricas, mas sim precisa ser disseminado em toda a sociedade. Ele defendeu que a ideia de empreender deve ser democrática.

“A carteira do Bandes é quase que inteiramente formada por pequenos empresários e pessoas físicas. Acreditamos que a ideia de empreender, de vislumbrar a possibilidade de negócio é central para o progresso. É importante apoiarmos aqueles que têm visão e que têm a coragem de traduzir sua visão em ações concretas para aproveitar as oportunida-des”, finalizou.

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O Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo busca ampliar apoio a projetos que criam oportunidades de emprego e geração de renda em locais de alta vulnerabilidade social e cria ações visando ao desenvolvimento econômico, social e ambiental dessas regiões

RUMOS – 26 – Setembro/Outubro 2015

Comunidades empreendedoras

Levando em conta as dificuldades do cenário econô-mico atual – tanto, de um lado, para os empreendedores, que hesitam na decisão de investir; quanto, de outro, para as instituições financeiras, que tradicionalmente diminu-em a oferta de crédito em momentos como esse –, o Ban-des Comunidades está inserido em um contexto mais amplo da política operacional do banco, que analisa o momento que o país vive e sugere caminhos para que ele cumpra sua missão mesmo em períodos de dificuldades externas à instituição.

“Estamos falando de um contexto mais geral de políti-cas operacionais que foram adaptadas para a realidade da conjuntura difícil que vivemos. Não desconhecemos a cri-se, pelo contrário, mas nossa análise parte da ideia de que a atividade econômica, que inclui os investimentos, não paralisa; ela se reduz e muda suas prioridades. Fatos que eram relevantes deixam de ser, e novos fatos ficam rele-vantes”, explicou Vellozo.

Foi com base nessa análise, detalhou o presidente, que a área de comércio exterior foi uma das contempladas como prioritárias para o Bandes Comunidades neste momento. Com a desvalorização da moeda brasileira, a exportação, junto com o turismo, são dois setores que podem gerar atratividade e rentabilidade. “É o lado bom da crise”, brincou.

Para o diretor Everaldo Colodetti, diante deste cenário de crise, é necessário que os bancos de desenvolvimento cumpram com seu papel de levar ao setor produtivo solu-ções de desenvolvimento. “Logicamente não podemos investir onde não há retorno, mas temos que buscar solu-ções, juntamente com a atividade produtiva e com parcei-ros, para atravessarmos essa crise da melhor maneira. Nes-te momento, precisamos ter um papel de articulação e fomento ainda maior”, comentou.

Um olho na crise, o outro no desenvolvimento

Com bela vista para o mar, hostel em Jesus de Nazareth, bairro de Vitória, foi o primeiro empreendimentocontemplado com o empréstimo.

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Luiz Paulo Vellozo Lucas, presidente do Bandes

Everaldo Colodetti, diretor de Crédito e Fomento.

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Por Carmen Nery

assados 11 anos da aprovação da Lei das Parcerias Público-Privadas (PPPs) – Lei nº 11.079, de 30 de dezembro de 2004 –, o país avançou pouco na implementação de PPPs na esfera federal, embora

tenha obtido bons resultados nos estados que criaram suas próprias leis e secretarias específicas. Apenas a PPP para a construção do datacenter compartilhado entre o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal saiu do papel na esfera federal, mas o número de PPPs é crescente em 11 estados, especialmente em Minas Gerais, Bahia e São Paulo. A Assessoria Econômica do Ministério do Planejamento contabiliza 42 PPPs, que somam R$ 105 bilhões.

Uma das razões – o avanço lento do governo federal – pode estar relacionada à folga de orçamento no período, um cenário que agora, em tempos de ajuste fiscal, tende a mudar e as PPPs podem ser consideradas alternativa de investimento em infraestrutura. Segundo informações da Assessoria Econômica do Ministério do Planejamento, há 12 projetos declarados como prioritários pelo Comitê Gestor de Parceria Público-Privada Federal (CGP). Alguns estão na fase inicial dos estudos e outros em fases mais avançadas, como as PPPs do Colégio Militar de Manaus (CMM), do Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (Cefan) e dos Parques Nacionais de Jericoacoara e Ubajara, no Ceará, e Sete Cidades e Serra das Confusões, no Piauí, cujos estudos foram concluídos recentemente.

A Assessoria Econômica conta com uma unidade de PPP que tem por objetivo recepcionar e analisar previamente os projetos para encaminhá-los ao Grupo Executivo e ao CGP. Além disso, a revisão no Decreto de Procedimento de Mani-festação de Interesse (PMI) visa a atrair o setor privado para realizar estudos para viabilidade de empreendimentos de infraestrutura. A Assessoria Econômica destaca que o gover-no federal tem apoiado PPPs nos estados e municípios, sobre-tudo as relativas à mobilidade urbana. A Portaria do Ministério das Cidades n° 262 de 2013 estabeleceu regras paras enquadra-

PPP

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Onze anos se passaram depois da aprovação da Lei das Parcerias Público-Privadas, as famosas PPPs, mas pouco se sabe sobre o andamento desses projetos. A Rumos foi conhecer melhor esse assunto e traz um retrato dessas parcerias no país

mento de projetos de PPPs com vistas a aperfeiçoar os trâmi-tes operacionais e agilizar os processos administrativos.

E por meio de acordo de cooperação celebrado com o Ban-co Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a criação do Programa Nacional de Desenvolvimento Institucional de PPPs, o governo federal ajudou a estruturar dois projetos de PPPs nos estados da Bahia e no Piauí que são, respectivamente, a Plataforma Logística de Juazeiro e a Rodovia Transcerrados. Esses esforços, no entanto, precisam ser intensificados, na ava-liação de José Bento Amaral, professor da Escola de Adminis-tração de São Paulo e diretor adjunto da Fundação Getulio Var-gas (FGV) Projetos. Ele observa que o Brasil investe apenas 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em PPPs, quando o ide-al seria ao menos 3%, pois esse tipo de concessão tem por obje-tivo suprir a capacidade de investimento em infraestrutura. Mas ele diz que o modelo brasileiro não oferece um ambiente favo-rável. A começar pelo limite mínimo de investimentos de R$ 20 milhões, o que praticamente restringe as PPPs ao governo fede-ral, estados e grandes cidades, deixando de fora a maior parte dos 5,6 mil municípios brasileiros. “Além disso, o setor privado não consegue ter garantia para mitigar risco. E os constantes questionamentos dos órgãos de controle geram instabilidade jurídica, a exemplo da PPP para iluminação pública da prefeitu-ra de São Paulo, cuja licitação está travada pelo Tribunal de Con-tas do Município. Sem falar que para entrar numa PPP, os lici-tantes gastam para fazer os estudos”, enumera Amaral.

No mundo todo, acredita-se que, até 2030, US$ 40 trilhões precisariam ser investidos para construir e manter projetos de infraestrutura. O Banco Mundial estima que o Brasil e os de-mais países da América Latina e do Caribe invistam, em média, apenas 2,3% de seu Produto Interno Bruto em infraestrutura. Para reduzir gargalos e aumentar os níveis de produtividade e competitividade, este percentual deveria atingir, no mínimo, 5%. Mas especialistas apontam que esse aumento em mais de 2% do PIB no investimento dificilmente pode ser acomodado apenas no balanço de setores públicos e, portanto, a participa-

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RUMOS – 30 – Setembro/Outubro 2015 RUMOS – 31 – Setembro/Outubro 2015

Desafios e oportunidades

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ção de agentes privados surge como uma alternativa para solucionar este pro-blema e suprir tais lacunas.

No Brasil, as PPPs se diferenciam dos modelos comuns de concessão por contarem com contraprestação do setor público pela oferta dos serviços. De acordo com a Lei nº 11.079/2004, há duas modalidades de PPPs: as patrocina-das, quando há cobrança de tarifa aos usuários; e as adminis-trativas, quando não há cobrança e o investidor privado é remu-nerado apenas pela contraprestação do ente público. O inves-timento mínimo das PPPs é de 20 milhões e o governo federal pode comprometer apenas 1% de sua receita corrente líquida, e os estados, até 5% para o pagamento das contraprestações.

“A lei também não permite a PPP só de obra, tem de haver operação também. O privado tem que prestar serviço de qualidade e o pagamento está condicionado ao desempe-nho. Por isso é contraprestação e não subsídio”, explica Vania Lucia Lins e Souto, especialista em PPP e até o início do ano diretora substituta da unidade de PPP do Ministério do Planejamento.

Ela diz que os estados andaram mais rápido porque esta-vam mais pressionados por uma situação fiscal menos favorá-vel, enquanto o governo federal tinha folga fiscal e muitos con-troles. “Rodamos muitos projetos, mas eles não foram para a frente. A vontade política é muito importante. A PPP exige uma capacidade de gestão e coordenação grandes para que se coloquem na mesma mesa atores que trabalhavam sozinhos”,

analisa Vania.As PPPs enfrentam inúmeros desa-

fios, a começar pela necessidade de se reconstruir a capacidade institucional para elabo-

rar projetos de qualidade dos entes federativos. Outro desafio para a estruturação de PPPs é a obtenção dos estu-

dos de modelagem. Essas análises podem ser licitadas pelo governo. Também podem ser executadas por meio de termos de cooperação ou contratação direta por inexigibilidade quan-do organismos multilaterais assumem a tarefa; ou ainda por meio de Procedimento de Manifestação de Interesse, quando empresas de projetos ou empresas privadas interessadas em participar da licitação geram tais estudos. O governo federal editou recentemente uma nova regulamentação sobre o assun-to, ampliando o escopo do PMI e permitindo que entes priva-dos possam provocar o início do procedimento.

Instituições Financeiras de Desenvolvimento – Uma alternativa que ganhou corpo no Brasil é a modelagem por meio dos bancos de desenvolvimento, agências de fomento e organismos multilaterais. Em 2007, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Banco Mundial – por meio da Corporação Financeira Internacional (IFC, na sigla em inglês) – e o Banco Interamericano de Desenvolvimento fecharam um acordo para a criação de um programa que visava destinar recursos financeiros e técnicos à estruturação e modelagem de projetos de infraestrutura na

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Por Carmen Nery

assados 11 anos da aprovação da Lei das Parcerias Público-Privadas (PPPs) – Lei nº 11.079, de 30 de dezembro de 2004 –, o país avançou pouco na implementação de PPPs na esfera federal, embora

tenha obtido bons resultados nos estados que criaram suas próprias leis e secretarias específicas. Apenas a PPP para a construção do datacenter compartilhado entre o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal saiu do papel na esfera federal, mas o número de PPPs é crescente em 11 estados, especialmente em Minas Gerais, Bahia e São Paulo. A Assessoria Econômica do Ministério do Planejamento contabiliza 42 PPPs, que somam R$ 105 bilhões.

Uma das razões – o avanço lento do governo federal – pode estar relacionada à folga de orçamento no período, um cenário que agora, em tempos de ajuste fiscal, tende a mudar e as PPPs podem ser consideradas alternativa de investimento em infraestrutura. Segundo informações da Assessoria Econômica do Ministério do Planejamento, há 12 projetos declarados como prioritários pelo Comitê Gestor de Parceria Público-Privada Federal (CGP). Alguns estão na fase inicial dos estudos e outros em fases mais avançadas, como as PPPs do Colégio Militar de Manaus (CMM), do Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (Cefan) e dos Parques Nacionais de Jericoacoara e Ubajara, no Ceará, e Sete Cidades e Serra das Confusões, no Piauí, cujos estudos foram concluídos recentemente.

A Assessoria Econômica conta com uma unidade de PPP que tem por objetivo recepcionar e analisar previamente os projetos para encaminhá-los ao Grupo Executivo e ao CGP. Além disso, a revisão no Decreto de Procedimento de Mani-festação de Interesse (PMI) visa a atrair o setor privado para realizar estudos para viabilidade de empreendimentos de infraestrutura. A Assessoria Econômica destaca que o gover-no federal tem apoiado PPPs nos estados e municípios, sobre-tudo as relativas à mobilidade urbana. A Portaria do Ministério das Cidades n° 262 de 2013 estabeleceu regras paras enquadra-

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Onze anos se passaram depois da aprovação da Lei das Parcerias Público-Privadas, as famosas PPPs, mas pouco se sabe sobre o andamento desses projetos. A Rumos foi conhecer melhor esse assunto e traz um retrato dessas parcerias no país

mento de projetos de PPPs com vistas a aperfeiçoar os trâmi-tes operacionais e agilizar os processos administrativos.

E por meio de acordo de cooperação celebrado com o Ban-co Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a criação do Programa Nacional de Desenvolvimento Institucional de PPPs, o governo federal ajudou a estruturar dois projetos de PPPs nos estados da Bahia e no Piauí que são, respectivamente, a Plataforma Logística de Juazeiro e a Rodovia Transcerrados. Esses esforços, no entanto, precisam ser intensificados, na ava-liação de José Bento Amaral, professor da Escola de Adminis-tração de São Paulo e diretor adjunto da Fundação Getulio Var-gas (FGV) Projetos. Ele observa que o Brasil investe apenas 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em PPPs, quando o ide-al seria ao menos 3%, pois esse tipo de concessão tem por obje-tivo suprir a capacidade de investimento em infraestrutura. Mas ele diz que o modelo brasileiro não oferece um ambiente favo-rável. A começar pelo limite mínimo de investimentos de R$ 20 milhões, o que praticamente restringe as PPPs ao governo fede-ral, estados e grandes cidades, deixando de fora a maior parte dos 5,6 mil municípios brasileiros. “Além disso, o setor privado não consegue ter garantia para mitigar risco. E os constantes questionamentos dos órgãos de controle geram instabilidade jurídica, a exemplo da PPP para iluminação pública da prefeitu-ra de São Paulo, cuja licitação está travada pelo Tribunal de Con-tas do Município. Sem falar que para entrar numa PPP, os lici-tantes gastam para fazer os estudos”, enumera Amaral.

No mundo todo, acredita-se que, até 2030, US$ 40 trilhões precisariam ser investidos para construir e manter projetos de infraestrutura. O Banco Mundial estima que o Brasil e os de-mais países da América Latina e do Caribe invistam, em média, apenas 2,3% de seu Produto Interno Bruto em infraestrutura. Para reduzir gargalos e aumentar os níveis de produtividade e competitividade, este percentual deveria atingir, no mínimo, 5%. Mas especialistas apontam que esse aumento em mais de 2% do PIB no investimento dificilmente pode ser acomodado apenas no balanço de setores públicos e, portanto, a participa-

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ção de agentes privados surge como uma alternativa para solucionar este pro-blema e suprir tais lacunas.

No Brasil, as PPPs se diferenciam dos modelos comuns de concessão por contarem com contraprestação do setor público pela oferta dos serviços. De acordo com a Lei nº 11.079/2004, há duas modalidades de PPPs: as patrocina-das, quando há cobrança de tarifa aos usuários; e as adminis-trativas, quando não há cobrança e o investidor privado é remu-nerado apenas pela contraprestação do ente público. O inves-timento mínimo das PPPs é de 20 milhões e o governo federal pode comprometer apenas 1% de sua receita corrente líquida, e os estados, até 5% para o pagamento das contraprestações.

“A lei também não permite a PPP só de obra, tem de haver operação também. O privado tem que prestar serviço de qualidade e o pagamento está condicionado ao desempe-nho. Por isso é contraprestação e não subsídio”, explica Vania Lucia Lins e Souto, especialista em PPP e até o início do ano diretora substituta da unidade de PPP do Ministério do Planejamento.

Ela diz que os estados andaram mais rápido porque esta-vam mais pressionados por uma situação fiscal menos favorá-vel, enquanto o governo federal tinha folga fiscal e muitos con-troles. “Rodamos muitos projetos, mas eles não foram para a frente. A vontade política é muito importante. A PPP exige uma capacidade de gestão e coordenação grandes para que se coloquem na mesma mesa atores que trabalhavam sozinhos”,

analisa Vania.As PPPs enfrentam inúmeros desa-

fios, a começar pela necessidade de se reconstruir a capacidade institucional para elabo-

rar projetos de qualidade dos entes federativos. Outro desafio para a estruturação de PPPs é a obtenção dos estu-

dos de modelagem. Essas análises podem ser licitadas pelo governo. Também podem ser executadas por meio de termos de cooperação ou contratação direta por inexigibilidade quan-do organismos multilaterais assumem a tarefa; ou ainda por meio de Procedimento de Manifestação de Interesse, quando empresas de projetos ou empresas privadas interessadas em participar da licitação geram tais estudos. O governo federal editou recentemente uma nova regulamentação sobre o assun-to, ampliando o escopo do PMI e permitindo que entes priva-dos possam provocar o início do procedimento.

Instituições Financeiras de Desenvolvimento – Uma alternativa que ganhou corpo no Brasil é a modelagem por meio dos bancos de desenvolvimento, agências de fomento e organismos multilaterais. Em 2007, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Banco Mundial – por meio da Corporação Financeira Internacional (IFC, na sigla em inglês) – e o Banco Interamericano de Desenvolvimento fecharam um acordo para a criação de um programa que visava destinar recursos financeiros e técnicos à estruturação e modelagem de projetos de infraestrutura na

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R REPORTAGEM

modalidade de concessões públicas e Parcerias Público-Privadas no Brasil e na América do Sul.

O programa, denominado Brazil PSP Development Pro-gram, resultou na criação de um fundo, com aporte inicial de US$ 3,99 milhões, constituído pelo BNDES, por meio da BNDESPAR (US$ 1,99 milhão), IFC (US$ 1 milhão) e BID (US$ 1 milhão). Esses recursos passaram a ser aplicados no financiamento dos trabalhos e serviços de estruturação técni-ca dos projetos. Segundo Tomas Anker, especialista em PPP da IFC, o fundo só apoia governos diretamente e uma parte da remuneração do BNDES e da IFC está atrelada à licitação. “Quem paga é o consórcio vencedor. Caso a licitação seja declarada deserta, não recebemos. Assumimos, portanto, os riscos do projeto. Além disso, a remuneração está atrelada a um valor fixo estabelecido a priori e não a um percen-tual do investimento do projeto. Os recursos recebi-dos realimentam o fundo”, esclarece Anker.

O BNDES e a IFC assessoraram diversas PPPs, das quais dez já foram licitadas e assinadas, todas das esferas estadual e municipal. Dentre os projetos, des-tacam-se a primeira PPP em Saúde no Brasil, a do Hospital do Subúrbio em Salvador (2010), escolhi-da como um dos projetos mais inovadores pela KPMG no seu relatório “Infrastructure 100: World Cities Edition”. Os outros projetos concluídos no Brasil são: Escolas em Belo Horizonte (2012) – pri-meira PPP de Escolas do Brasil –, Concessão das Rodovias BR-116/324 (2009), Concessão do Siste-ma Rodoviário BA-093 (2010), Concessão dos Aero-portos Galeão e Cofins (2014), Rede de Diagnósti-co por Imagem (2015), Bahia (BA). Esses seis pro-jetos já concluídos trouxeram investimentos de mais de US$ 4 bilhões do setor privado, e beneficia-ram mais de 15 milhões de pessoas.

Além deles, outros projetos estão em fases diversas de implementação, como os projetos de Unidades de Atenção Básica à Saúde de Belo Hori-zonte (BH), de Gestão de Resíduos Sólidos em Curi-tiba, de Manejo Sustentável de Floresta na Região Amazônica e da Operação e Manutenção do Siste-ma Rodoviário BA-052, além da assessoria para a privatização da CELG Distribuidora.

Fernando Camacho, chefe da área de estruturação de pro-jetos do BNDES, explica que o programa foi criado porque havia uma urgência de se ter bons projetos a fim de se destra-varem os investimentos em infraestrutura. Além da parceria com o BID e o Banco Mundial, o BNDES fechou outra par-ceria para a criação da Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP). Por meio dessas duas parcerias, o banco ajudou na estruturação de 43 projetos – entre PPPs e concessões –, dos quais 24 já foram licitados e assinados, 11 estão em andamento e oito foram suspensos.

“A taxa de sucesso é de 75% e o impacto estimado é de R$ 66,5 bilhões de investimentos dos 24 projetos concluí-dos, fora os 11 que ainda serão fechados. A concorrência média é de cinco licitantes por processo e o tempo de estru-turação é de 20 meses”, comemora Camacho.

Dos 24 projetos concluídos, oito são PPPs. São elas:

Saneamento no município de Serra (ES); Companhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais (Copasa – Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG); Centro de Diagnós-tico por Imagem (BA); Hospital do Subúrbio (BA); Hospital Metropolitano em BH (MG); Unidades Básicas de Saúde (BH); Educação Infantil e Fundamental em BH (MG); Está-dio Mineirão em Belo Horizonte (MG). O total de investi-mentos foi de R$ 970 milhões para os quatro projetos em saú-de, R$ 840 milhões para os dois projetos de saneamento, R$ 160 milhões para o projeto de educação e R$ 677 milhões para o Mineirão. O banco conta ainda com quatro PPPs em andamento: Manutenção da Rodovia BA-052; Saneamento de Vila Velha (ES); Disposição de resíduos sólidos, Curiti-ba(PR); e Iluminação Pública, Belo Horizonte (MG).

RUMOS – 32 – Setembro/Outubro 2015 RUMOS – 33 – Setembro/Outubro 2015

rar recebíveis não tributários como participações acionárias. Uma das propostas atualmente em discussão é usar o Fundo Garantidor das Parcerias Público-Privadas (FGP), criado jun-to com a Lei das PPPs com a finalidade de prestar garantias ao parceiro privado para o pagamento da contraprestação pelo parceiro público. O fundo foi criado pelo governo federal e já chegou a ter cerca de 5 bilhões, mas hoje está praticamente zerado por falta de uso”, sugere Camacho.

Tomaz Anker, da IFC, diz que o cenário atual é particular-mente desafiador por conta do limite imposto pela Lei das PPPs de comprometimento máximo de 5% da receita corren-te líquida do ente público. Além disso, ele observa que a garan-tia é o grande nó do mercado de PPPs e impõe o desafio de se buscarem novos arranjos num momento de aperto fiscal. “Até

sários, mas que não são interessantes para o parceiro privado, o ente público deve assumir a responsabilidade.

Tomás Bruginski de Paula, diretor da CPP do estado de São Paulo, informou que há três projetos em fase operacional, quatro em fase inicial de execução dos investimentos e qua-tro em etapa preliminar precedente à ordem de início de exe-cução. Os projetos são variados e em diversas áreas – como mobilidade urbana, água, transportes, saúde e habitação. O diretor explicou que a Lei das PPPs permite que as garantias públicas sejam oferecidas por meio de vinculação de receitas, instituição ou utilização de fundos especiais, contratação

de seguro-garantia, garantia prestada por organis-mos internacionais, fundo garantidor ou por empresa estatal criada para essa finalidade. Em São Paulo, optou-se pela criação de uma empresa esta-tal, no caso a CPP.

Nos estados – O Programa de PPPs do estado da Bahia – um dos estados que mais avançaram na implementação de PPPs – foi instituído pela Lei Estadual nº 9.290, de 27 de dezembro de 2004, que mantém semelhanças com a Lei Federal nº 11.079, de 30 de dezembro de 2004. Para avaliar os projetos e as prioridades de governo, a Lei das PPPs da Bahia criou o Conselho Gestor do Programa de PPP. Também instituiu a Secretaria Executiva de PPP, como órgão técnico para promover a coorde-nação e a articulação entre a administração pública e os parceiros privados.

“A secretaria emite pareceres, aconselha e subsi-dia as decisões do Conselho Gestor do Programa de PPPs formado pelo secretário de Fazenda, que o preside – e à qual a Secretaria Executiva de PPP está subordinada –, os secretários de Administração, Casa Civil, Planejamento e de duas secretarias por escolha do governador – Desenvolvimento Econô-mico e Infraestrutura – além da Procuradoria Geral

do Estado”, explica Rogério Princhak, secretário-executivo de PPP. A primeira PPP da Bahia aconteceu em 2007, para a cons-trução do emissário submarino. Com investimentos de R$ 179 milhões, a PPP foi vencida pela empresa de saneamento do Grupo Odebrecht. Trata-se de uma PPP administrativa com contrato de 18 anos, que entrou em operação em 2011 com uma contraprestação anual de R$160 milhões.

Outra PPP administrativa é a Arena Fonte Nova com pra-zo de 35 anos, contraprestação de R$ 107 milhões e comparti-lhamento de 50% da receita entre a concessionária e o estado, que abate o valor da contraprestação. Outro projeto é o Siste-ma Metroviário Salvador-Lauro de Freitas, trecho de 35 quilo-metros e 17 estações com investimentos de R$ 3,9 bilhões. Para viabilizá-lo, a Lei das PPPs foi alterada e passou a permitir o aporte de investimentos pelo poder público. O estado assi-nou um contrato com a Caixa Econômica Federal e o Ministé-rio das Cidades e obteve financiamento de R$ 1 bilhão do Pro-grama de Aceleração do Crescimento (PAC Mobilidade) e R$

PPP

O BNDES também já aprovou 21 financiamentos para PPPs, num total de R$ 6 bilhões. A IFC ainda não fez nenhum investimento específico em projetos de PPPs no Brasil. Por outro lado, já realizou diversos investimentos em infraestrutu-ra, por meio de empréstimos corporativos ou participações minoritárias, em empresas que assinaram contratos de PPPs, como o caso da AEGEA (administradora de concessões públicas na área de saneamento), que recebeu R$ 100 milhões para expandir seus serviços em regiões de baixa renda, como o Norte e Nordeste do Brasil, trazendo um benefício para 2 milhões de pessoas até 2016.

O financiamento para os investimentos e, sobretudo, as garantias do setor público para o pagamento das contrapresta-ções são outros desafios importantes das PPPs. Fernando Camacho diz que, durante a modelagem de uma PPP, um dos trabalhos mais complexos é a estruturação das garantias e a difi-culdade é encontrar ativos que possam compô-las. “Não é pos-sível penhorar bens públicos nem impostos. É preciso procu-

hoje têm-se usado fundos de investimentos lastreados em imó-veis; debêntures de operações de dívida ativa; e fundo de parti-cipação dos estados. A Companhia Paulista de Parcerias (CPP) – criada pela Lei das PPPs de São Paulo – tem o manda-to para oferecer garantias e tem atuado com excedente acioná-rio de empresas como Sabesp e Cesp. Além disso, as outorgas das concessões rodoviárias foram cedidas à CPP”, exemplifica Anker.

Em São Paulo, já foram assinados 11 contratos de PPP. Renato Villela, secretário estadual de Fazenda, destacou, durante o seminário “PPPs em Grandes Obras de Infraestru-tura: Processo de Construção, Implantação e Desafios de PPPs” – realizado em julho, em Brasília –, a criação da CPP, que formula estruturas de garantia específicas para cada proje-to e também a oferta de boas oportunidades de investimentos. Para ele, a racionalidade indica que um projeto só deva ser exe-cutado por meio de uma PPP quando há possibilidade de gerar retorno para o setor privado. No caso de projetos neces-

O Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão, no Rio de Janeiro) foi objeto de estudo e depois feita concessão da operação.

O Estádio do Mineirão, reformado para a Copa do Mundo de 2014, também foi objeto de uma PPP.

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modalidade de concessões públicas e Parcerias Público-Privadas no Brasil e na América do Sul.

O programa, denominado Brazil PSP Development Pro-gram, resultou na criação de um fundo, com aporte inicial de US$ 3,99 milhões, constituído pelo BNDES, por meio da BNDESPAR (US$ 1,99 milhão), IFC (US$ 1 milhão) e BID (US$ 1 milhão). Esses recursos passaram a ser aplicados no financiamento dos trabalhos e serviços de estruturação técni-ca dos projetos. Segundo Tomas Anker, especialista em PPP da IFC, o fundo só apoia governos diretamente e uma parte da remuneração do BNDES e da IFC está atrelada à licitação. “Quem paga é o consórcio vencedor. Caso a licitação seja declarada deserta, não recebemos. Assumimos, portanto, os riscos do projeto. Além disso, a remuneração está atrelada a um valor fixo estabelecido a priori e não a um percen-tual do investimento do projeto. Os recursos recebi-dos realimentam o fundo”, esclarece Anker.

O BNDES e a IFC assessoraram diversas PPPs, das quais dez já foram licitadas e assinadas, todas das esferas estadual e municipal. Dentre os projetos, des-tacam-se a primeira PPP em Saúde no Brasil, a do Hospital do Subúrbio em Salvador (2010), escolhi-da como um dos projetos mais inovadores pela KPMG no seu relatório “Infrastructure 100: World Cities Edition”. Os outros projetos concluídos no Brasil são: Escolas em Belo Horizonte (2012) – pri-meira PPP de Escolas do Brasil –, Concessão das Rodovias BR-116/324 (2009), Concessão do Siste-ma Rodoviário BA-093 (2010), Concessão dos Aero-portos Galeão e Cofins (2014), Rede de Diagnósti-co por Imagem (2015), Bahia (BA). Esses seis pro-jetos já concluídos trouxeram investimentos de mais de US$ 4 bilhões do setor privado, e beneficia-ram mais de 15 milhões de pessoas.

Além deles, outros projetos estão em fases diversas de implementação, como os projetos de Unidades de Atenção Básica à Saúde de Belo Hori-zonte (BH), de Gestão de Resíduos Sólidos em Curi-tiba, de Manejo Sustentável de Floresta na Região Amazônica e da Operação e Manutenção do Siste-ma Rodoviário BA-052, além da assessoria para a privatização da CELG Distribuidora.

Fernando Camacho, chefe da área de estruturação de pro-jetos do BNDES, explica que o programa foi criado porque havia uma urgência de se ter bons projetos a fim de se destra-varem os investimentos em infraestrutura. Além da parceria com o BID e o Banco Mundial, o BNDES fechou outra par-ceria para a criação da Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP). Por meio dessas duas parcerias, o banco ajudou na estruturação de 43 projetos – entre PPPs e concessões –, dos quais 24 já foram licitados e assinados, 11 estão em andamento e oito foram suspensos.

“A taxa de sucesso é de 75% e o impacto estimado é de R$ 66,5 bilhões de investimentos dos 24 projetos concluí-dos, fora os 11 que ainda serão fechados. A concorrência média é de cinco licitantes por processo e o tempo de estru-turação é de 20 meses”, comemora Camacho.

Dos 24 projetos concluídos, oito são PPPs. São elas:

Saneamento no município de Serra (ES); Companhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais (Copasa – Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG); Centro de Diagnós-tico por Imagem (BA); Hospital do Subúrbio (BA); Hospital Metropolitano em BH (MG); Unidades Básicas de Saúde (BH); Educação Infantil e Fundamental em BH (MG); Está-dio Mineirão em Belo Horizonte (MG). O total de investi-mentos foi de R$ 970 milhões para os quatro projetos em saú-de, R$ 840 milhões para os dois projetos de saneamento, R$ 160 milhões para o projeto de educação e R$ 677 milhões para o Mineirão. O banco conta ainda com quatro PPPs em andamento: Manutenção da Rodovia BA-052; Saneamento de Vila Velha (ES); Disposição de resíduos sólidos, Curiti-ba(PR); e Iluminação Pública, Belo Horizonte (MG).

RUMOS – 32 – Setembro/Outubro 2015 RUMOS – 33 – Setembro/Outubro 2015

rar recebíveis não tributários como participações acionárias. Uma das propostas atualmente em discussão é usar o Fundo Garantidor das Parcerias Público-Privadas (FGP), criado jun-to com a Lei das PPPs com a finalidade de prestar garantias ao parceiro privado para o pagamento da contraprestação pelo parceiro público. O fundo foi criado pelo governo federal e já chegou a ter cerca de 5 bilhões, mas hoje está praticamente zerado por falta de uso”, sugere Camacho.

Tomaz Anker, da IFC, diz que o cenário atual é particular-mente desafiador por conta do limite imposto pela Lei das PPPs de comprometimento máximo de 5% da receita corren-te líquida do ente público. Além disso, ele observa que a garan-tia é o grande nó do mercado de PPPs e impõe o desafio de se buscarem novos arranjos num momento de aperto fiscal. “Até

sários, mas que não são interessantes para o parceiro privado, o ente público deve assumir a responsabilidade.

Tomás Bruginski de Paula, diretor da CPP do estado de São Paulo, informou que há três projetos em fase operacional, quatro em fase inicial de execução dos investimentos e qua-tro em etapa preliminar precedente à ordem de início de exe-cução. Os projetos são variados e em diversas áreas – como mobilidade urbana, água, transportes, saúde e habitação. O diretor explicou que a Lei das PPPs permite que as garantias públicas sejam oferecidas por meio de vinculação de receitas, instituição ou utilização de fundos especiais, contratação

de seguro-garantia, garantia prestada por organis-mos internacionais, fundo garantidor ou por empresa estatal criada para essa finalidade. Em São Paulo, optou-se pela criação de uma empresa esta-tal, no caso a CPP.

Nos estados – O Programa de PPPs do estado da Bahia – um dos estados que mais avançaram na implementação de PPPs – foi instituído pela Lei Estadual nº 9.290, de 27 de dezembro de 2004, que mantém semelhanças com a Lei Federal nº 11.079, de 30 de dezembro de 2004. Para avaliar os projetos e as prioridades de governo, a Lei das PPPs da Bahia criou o Conselho Gestor do Programa de PPP. Também instituiu a Secretaria Executiva de PPP, como órgão técnico para promover a coorde-nação e a articulação entre a administração pública e os parceiros privados.

“A secretaria emite pareceres, aconselha e subsi-dia as decisões do Conselho Gestor do Programa de PPPs formado pelo secretário de Fazenda, que o preside – e à qual a Secretaria Executiva de PPP está subordinada –, os secretários de Administração, Casa Civil, Planejamento e de duas secretarias por escolha do governador – Desenvolvimento Econô-mico e Infraestrutura – além da Procuradoria Geral

do Estado”, explica Rogério Princhak, secretário-executivo de PPP. A primeira PPP da Bahia aconteceu em 2007, para a cons-trução do emissário submarino. Com investimentos de R$ 179 milhões, a PPP foi vencida pela empresa de saneamento do Grupo Odebrecht. Trata-se de uma PPP administrativa com contrato de 18 anos, que entrou em operação em 2011 com uma contraprestação anual de R$160 milhões.

Outra PPP administrativa é a Arena Fonte Nova com pra-zo de 35 anos, contraprestação de R$ 107 milhões e comparti-lhamento de 50% da receita entre a concessionária e o estado, que abate o valor da contraprestação. Outro projeto é o Siste-ma Metroviário Salvador-Lauro de Freitas, trecho de 35 quilo-metros e 17 estações com investimentos de R$ 3,9 bilhões. Para viabilizá-lo, a Lei das PPPs foi alterada e passou a permitir o aporte de investimentos pelo poder público. O estado assi-nou um contrato com a Caixa Econômica Federal e o Ministé-rio das Cidades e obteve financiamento de R$ 1 bilhão do Pro-grama de Aceleração do Crescimento (PAC Mobilidade) e R$

PPP

O BNDES também já aprovou 21 financiamentos para PPPs, num total de R$ 6 bilhões. A IFC ainda não fez nenhum investimento específico em projetos de PPPs no Brasil. Por outro lado, já realizou diversos investimentos em infraestrutu-ra, por meio de empréstimos corporativos ou participações minoritárias, em empresas que assinaram contratos de PPPs, como o caso da AEGEA (administradora de concessões públicas na área de saneamento), que recebeu R$ 100 milhões para expandir seus serviços em regiões de baixa renda, como o Norte e Nordeste do Brasil, trazendo um benefício para 2 milhões de pessoas até 2016.

O financiamento para os investimentos e, sobretudo, as garantias do setor público para o pagamento das contrapresta-ções são outros desafios importantes das PPPs. Fernando Camacho diz que, durante a modelagem de uma PPP, um dos trabalhos mais complexos é a estruturação das garantias e a difi-culdade é encontrar ativos que possam compô-las. “Não é pos-sível penhorar bens públicos nem impostos. É preciso procu-

hoje têm-se usado fundos de investimentos lastreados em imó-veis; debêntures de operações de dívida ativa; e fundo de parti-cipação dos estados. A Companhia Paulista de Parcerias (CPP) – criada pela Lei das PPPs de São Paulo – tem o manda-to para oferecer garantias e tem atuado com excedente acioná-rio de empresas como Sabesp e Cesp. Além disso, as outorgas das concessões rodoviárias foram cedidas à CPP”, exemplifica Anker.

Em São Paulo, já foram assinados 11 contratos de PPP. Renato Villela, secretário estadual de Fazenda, destacou, durante o seminário “PPPs em Grandes Obras de Infraestru-tura: Processo de Construção, Implantação e Desafios de PPPs” – realizado em julho, em Brasília –, a criação da CPP, que formula estruturas de garantia específicas para cada proje-to e também a oferta de boas oportunidades de investimentos. Para ele, a racionalidade indica que um projeto só deva ser exe-cutado por meio de uma PPP quando há possibilidade de gerar retorno para o setor privado. No caso de projetos neces-

O Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão, no Rio de Janeiro) foi objeto de estudo e depois feita concessão da operação.

O Estádio do Mineirão, reformado para a Copa do Mundo de 2014, também foi objeto de uma PPP.

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1,1 bilhão do Orçamento Geral da União. “Ao antecipar o investimento com financiamento de baixo custo e a fundo per-dido, reduzimos a contraprestação de R$ 398 milhões para R$ 117 milhões”, justifica Princhak.

Na área de saúde, o destaque é o premiado Hospital do Subúrbio, que consumiu investimentos de R$ 70 milhões, tem prazo de dez anos e contraprestação de R$ 150 milhões. A PPP foi vencida pelo Consórcio Promédica e Vivant, que fornecem, inclusive, o corpo médico. O novo Hospital Instituto Couto Maia consumirá investimento de R$ 125 milhões e terá contra-prestação de R$ 62 milhões, com corpo médico do estado. Já a Rede de Serviços de Diagnóstico por Imagens visa a equipar 12 hospitais – sendo sete na região metropolitana de Salvador e cinco no interior – com equipamentos de ressonância magnéti-ca, raios X, tomografia, mamografia, densintometria.

“O concessionário realiza os exames que são enviados para uma central de laudos em Salvador. O tempo de perma-nência do paciente no hospital cai de 11 para cinco dias. O investimento foi de R$ 80 milhões, a contraprestação é de R$ 96 milhões, e o prazo, de 12 anos. O vencedor foi o consórcio formado por Elliar, Philips e Fundação da Faculdade Paulista de Medicina. O projeto está em implantação e deve entrar em operação plena em nove meses”, diz Princhak.

O estado conta com dois instrumentos para responder aos desafios das garantias: o mecanismo de pagamento das con-traprestações e o Fundo Garantidor Baiano de Parcerias (FGBP). Nos dois casos, a Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia), como braço financeiro do estado, se envolve diretamente nas atividades decorrentes. A agência ope-racionaliza o mecanismo de pagamento sem os riscos ineren-tes à gestão financeira da administração pública direta, o que dá conforto ao setor privado e ainda viabiliza a estruturação de contragarantias para os financiadores do projeto. Parte dos recursos do FPE recebidos pelo estado é destacada e alocada em conta específica da Desenbahia, que, assim, realiza os paga-mentos das contraprestações.

A Desenbahia é a gestora do FGBP, garantindo as obriga-ções assumidas pelo estado nos projetos de PPPs. O instru-mento foi criado após as alterações na legislação de PPPs, que permitiu ao poder público participar dos investimentos por meio de aportes. Como na modelagem do projeto do metrô ficaram estabelecidos aportes do estado, a criação do FGBP foi a saída encontrada para garantir a obrigação que o governo assumiu.“Precisamos reconhecer que o estado da Bahia con-seguiu desenvolver bem esses mecanismos de garantia pública e o que é desafio para a maioria se tornou vantagem para nós”, diz Otto Alencar Filho, presidente da Desenbahia.

A agência criou a Superintendência de Estruturação de Projetos (SEP), com a finalidade de trabalhar diretamente na modelagem dos projetos que podem se transformar em con-tratos de PPPs ou em contratos de concessão comum. Segun-do Alencar, até o momento, a SEP colaborou com formatação do projeto da Arena Fonte Nova e do metrô de Salvador. Ela também está envolvida com o projeto de construção de um novo centro de convenções para a capital baiana e no desen-volvimento do projeto da ponte Salvador – Ilha de Itaparica.

“É importante esclarecer que, antes mesmo da criação da SEP, a Desenbahia já vinha acompanhando a estruturação de

grandes projetos na Bahia, por meio do financiamento do Hos-pital do Subúrbio e da concessionária da Rodovia BA-093. Com a escassez de recursos por conta da situação econômica atual, a SEP tem se voltado a colaborar com o estado na cons-trução de mecanismos que viabilizem a formação de fundings para projetos de infraestrutura. Por força da Resolução nº 2.828 do Banco Central, para viabilizar a captação desses recursos

internacionais, está sendo contratada uma agência internacio-nal para avaliar o rating da Desenbahia”, acrescenta Alencar.

O presidente da agência explica que o financiamento tam-bém é desafiador, pois são projetos de longo prazo, de grande porte e de capital intensivo que necessitam de alavancagem e uso de múltiplas fontes de financiamento. Ele diz que, para que apresentem viabilidade financeira, são feitas avaliações de indicadores de rentabilidade sobre o capital investido e assun-ção de riscos compatíveis. Os contratos de financiamento resultam de análises técnicas que adotam premissas de project finance e, desse modo, a engenharia financeira fica suportada contratualmente pelo fluxo de caixa do projeto. Os ativos e recebíveis do projeto, por sua vez, assumem a condição de garantia das operações de crédito. “Isso requer uma estrutura-

de engenharia e tecnologia, a avaliação de aspectos legais e regulatórios, a confecção de edital e minuta de contrato, além da interlocução com a iniciativa privada que irá investir no pro-jeto”, ressalta Jorge Leonardo de Oliveira, gerente geral de ope-rações estruturadas do BDMG.

Um exemplo de atuação do BDMG é a coordenação dos diversos estudos necessários para estruturar um edital de con-cessão à iniciativa privada da segunda fase do Parque Tecnoló-gico de Belo Horizonte (BH-TEC). O projeto envolve um con-junto de cinco edifícios e uma área de convivência, formando um complexo de 207 mil metros quadrados de área construí-

da. A implantação será realizada em etapas e o investimento no primeiro prédio será de aproxi-madamente R$ 190 milhões. O edital da licitação deve ser publicado ainda neste ano.

O banco também foi contratado pela Compa-nhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais (Copasa) para coordenar os estudos dos aspectos financeiros, operacionais e jurídicos da concessão administrativa à iniciativa privada do sistema de esgotamento sanitário de Divinópolis, no Centro-Oeste mineiro. A PPP tem duração de 26 anos e permitirá que o sistema de esgotamento sanitário seja ampliado de 430 litros tratados por segundo para até 630 litros por segundo.

No âmbito municipal, o BDMG apoia dois projetos em Belo Horizonte: a construção de 37 escolas municipais e a execução da obra do Hospi-tal Novo Metropolitano. A Sociedade de Propósi-to Específico (SPE) Inova BH é a concessionária responsável pela construção e operação de servi-ços não pedagógicos de 37 escolas municipais, sen-do 32 Unidades de Educação Infantil (UMEIs) e cinco Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEFs). Já a SPE Novo Metropolitano está encarregada de construir e operar o Hospital Novo Metropolitano, que contará com 440 leitos

(80 de CTI) e terá capacidade para realizar duas mil consultas especializadas por mês, 1,4 mil internações, 700 cirurgias men-sais e 500 atendimentos de pronto-socorro diariamente.

Na esfera federal, o BDMG apoia a duplicação da BR-040, entre Juiz de Fora (MG) e Brasília (DF). A instituição compõe um consórcio com mais três bancos comerciais que é fiador bancário da Via-040, SPE controlada pela Invepar, que execu-ta a ampliação, manutenção e operação de um trecho de 937 quilômetros da rodovia federal.

Para a estruturação das garantias, o estado criou o Fun-do Garantidor de PPPs, gerido pelo BDMG, mas que não está ativo porque o governo preferiu oferecer outras garan-tias, como recebíveis de dividendo de participações societá-rias, outros recebíveis de fundos de financiamento e outras receitas como royalties.

No Paraná, as Parcerias Público-Privadas estão regula-mentadas pela Lei Estadual nº 17.046, de 11 de janeiro de 2012, regulamentada pelo Decreto Estadual nº 1.575, de 02

s parcerias público-privadas surgiram nos anos 1990, em um contexto de crise fiscal e como alternativa ao

modelo puro de privatização – transferência/venda efetiva dos serviços antes providos pelo Estado à iniciativa privada. De forma usual, as PPPs reguladas pela Lei nº 11.079, de 2004 (Lei das PPPs) se situam entre duas formas de contra-tação tradicional adotadas no Brasil: o que se denomina regi-me de Concessão de Serviços Públicos, instituído pela Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, e o regime de Licitações e Contratos Públicos, criado pela Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993.

No regime de Concessões da Lei nº 8.987/95, o ente pri-vado vencedor da licitação assume a gestão, risco e custo da obra sem qualquer pagamento de complementação pecu-niária pela administração pública, sendo-lhe devidas apenas as tarifas dos usuários e eventuais receitas acessórias ou adi-cionais como pagamento pelos investimentos realizados e serviços prestados. Já nos contratos firmados com base na Lei nº 8.666/93, todos os aspectos citados são de responsa-bilidade da administração pública e o parceiro privado desempenha o papel de mero prestador de serviço.

Segundo Vania Lucia Lins e Souto, a parceria, no seu con-ceito geral, é um contrato administrativo de médio/longo prazo firmado com o setor privado com objetivo de viabili-zar projetos de infraestrutura e de provisão de serviços pres-tados pelos entes públicos.

“A inovação da PPP foi permitir fazer concessões onde o Estado operava diretamente. Trata-se de uma compra de serviços pelo Estado que está necessariamente atrelada à efi-ciência do privado, que deve prestar um serviço de qualida-de. As PPPs requerem um investimento significativo do setor privado para prestar o serviço e por isso os contratos são de longo prazo. O privado em geral elabora o projeto, constrói, financia e opera os ativos/serviços. No final os ati-vos são transferidos para o Estado. O setor público é parcei-ro na compra do serviço na sua totalidade ou em parte”, comenta Vania.

A PPP é definida pela lei como uma concessão, mas se difere da concessão comum pela necessidade de subsídio público parcial ou total pago na medida em que o serviço é prestado pelo concessionário. Segundo dados da Assessoria Econômica do Ministério do Planejamento, já foram assina-dos 42 contratos, atingindo um valor total de R$ 105 bilhões.

A

PPP

O que diz a lei

Os projetos e obras de infraestrutura estão no horizonte de ação das PPPs.

Tân

ia R

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ção complexa envolvendo uma imensa gama de negociações e acordos, não só entre os sócios e financiadores, como também com fornecedores, clientes, empresas seguradoras etc. O resultado dessas negociações gera uma estrutura de comparti-lhamento de riscos e garantias, que são expressos em diversos instrumentos jurídicos”, resume.

Outro estado que avançou no desenvolvimento de PPPs foi Minas Gerais, com o apoio do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Desde 2012, o BDMG vem coor-denando os estudos necessários para a estruturação de editais de PPPs relacionados a projetos de infraestrutura, o que tem contribuído para viabilizar projetos da administração pública estadual e municipal, atrair investimentos e até para a geração de receitas adicionais. Ao todo o estado conta com cinco PPPs em desenvolvimento. “A atividade de modelagem de PPPs demanda equipe especializada e multidisciplinar, tendo em vis-ta a variedade de aspectos envolvidos – como a estruturação de modelo econômico-financeiro, a definição dos parâmetros

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1,1 bilhão do Orçamento Geral da União. “Ao antecipar o investimento com financiamento de baixo custo e a fundo per-dido, reduzimos a contraprestação de R$ 398 milhões para R$ 117 milhões”, justifica Princhak.

Na área de saúde, o destaque é o premiado Hospital do Subúrbio, que consumiu investimentos de R$ 70 milhões, tem prazo de dez anos e contraprestação de R$ 150 milhões. A PPP foi vencida pelo Consórcio Promédica e Vivant, que fornecem, inclusive, o corpo médico. O novo Hospital Instituto Couto Maia consumirá investimento de R$ 125 milhões e terá contra-prestação de R$ 62 milhões, com corpo médico do estado. Já a Rede de Serviços de Diagnóstico por Imagens visa a equipar 12 hospitais – sendo sete na região metropolitana de Salvador e cinco no interior – com equipamentos de ressonância magnéti-ca, raios X, tomografia, mamografia, densintometria.

“O concessionário realiza os exames que são enviados para uma central de laudos em Salvador. O tempo de perma-nência do paciente no hospital cai de 11 para cinco dias. O investimento foi de R$ 80 milhões, a contraprestação é de R$ 96 milhões, e o prazo, de 12 anos. O vencedor foi o consórcio formado por Elliar, Philips e Fundação da Faculdade Paulista de Medicina. O projeto está em implantação e deve entrar em operação plena em nove meses”, diz Princhak.

O estado conta com dois instrumentos para responder aos desafios das garantias: o mecanismo de pagamento das con-traprestações e o Fundo Garantidor Baiano de Parcerias (FGBP). Nos dois casos, a Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia), como braço financeiro do estado, se envolve diretamente nas atividades decorrentes. A agência ope-racionaliza o mecanismo de pagamento sem os riscos ineren-tes à gestão financeira da administração pública direta, o que dá conforto ao setor privado e ainda viabiliza a estruturação de contragarantias para os financiadores do projeto. Parte dos recursos do FPE recebidos pelo estado é destacada e alocada em conta específica da Desenbahia, que, assim, realiza os paga-mentos das contraprestações.

A Desenbahia é a gestora do FGBP, garantindo as obriga-ções assumidas pelo estado nos projetos de PPPs. O instru-mento foi criado após as alterações na legislação de PPPs, que permitiu ao poder público participar dos investimentos por meio de aportes. Como na modelagem do projeto do metrô ficaram estabelecidos aportes do estado, a criação do FGBP foi a saída encontrada para garantir a obrigação que o governo assumiu.“Precisamos reconhecer que o estado da Bahia con-seguiu desenvolver bem esses mecanismos de garantia pública e o que é desafio para a maioria se tornou vantagem para nós”, diz Otto Alencar Filho, presidente da Desenbahia.

A agência criou a Superintendência de Estruturação de Projetos (SEP), com a finalidade de trabalhar diretamente na modelagem dos projetos que podem se transformar em con-tratos de PPPs ou em contratos de concessão comum. Segun-do Alencar, até o momento, a SEP colaborou com formatação do projeto da Arena Fonte Nova e do metrô de Salvador. Ela também está envolvida com o projeto de construção de um novo centro de convenções para a capital baiana e no desen-volvimento do projeto da ponte Salvador – Ilha de Itaparica.

“É importante esclarecer que, antes mesmo da criação da SEP, a Desenbahia já vinha acompanhando a estruturação de

grandes projetos na Bahia, por meio do financiamento do Hos-pital do Subúrbio e da concessionária da Rodovia BA-093. Com a escassez de recursos por conta da situação econômica atual, a SEP tem se voltado a colaborar com o estado na cons-trução de mecanismos que viabilizem a formação de fundings para projetos de infraestrutura. Por força da Resolução nº 2.828 do Banco Central, para viabilizar a captação desses recursos

internacionais, está sendo contratada uma agência internacio-nal para avaliar o rating da Desenbahia”, acrescenta Alencar.

O presidente da agência explica que o financiamento tam-bém é desafiador, pois são projetos de longo prazo, de grande porte e de capital intensivo que necessitam de alavancagem e uso de múltiplas fontes de financiamento. Ele diz que, para que apresentem viabilidade financeira, são feitas avaliações de indicadores de rentabilidade sobre o capital investido e assun-ção de riscos compatíveis. Os contratos de financiamento resultam de análises técnicas que adotam premissas de project finance e, desse modo, a engenharia financeira fica suportada contratualmente pelo fluxo de caixa do projeto. Os ativos e recebíveis do projeto, por sua vez, assumem a condição de garantia das operações de crédito. “Isso requer uma estrutura-

de engenharia e tecnologia, a avaliação de aspectos legais e regulatórios, a confecção de edital e minuta de contrato, além da interlocução com a iniciativa privada que irá investir no pro-jeto”, ressalta Jorge Leonardo de Oliveira, gerente geral de ope-rações estruturadas do BDMG.

Um exemplo de atuação do BDMG é a coordenação dos diversos estudos necessários para estruturar um edital de con-cessão à iniciativa privada da segunda fase do Parque Tecnoló-gico de Belo Horizonte (BH-TEC). O projeto envolve um con-junto de cinco edifícios e uma área de convivência, formando um complexo de 207 mil metros quadrados de área construí-

da. A implantação será realizada em etapas e o investimento no primeiro prédio será de aproxi-madamente R$ 190 milhões. O edital da licitação deve ser publicado ainda neste ano.

O banco também foi contratado pela Compa-nhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais (Copasa) para coordenar os estudos dos aspectos financeiros, operacionais e jurídicos da concessão administrativa à iniciativa privada do sistema de esgotamento sanitário de Divinópolis, no Centro-Oeste mineiro. A PPP tem duração de 26 anos e permitirá que o sistema de esgotamento sanitário seja ampliado de 430 litros tratados por segundo para até 630 litros por segundo.

No âmbito municipal, o BDMG apoia dois projetos em Belo Horizonte: a construção de 37 escolas municipais e a execução da obra do Hospi-tal Novo Metropolitano. A Sociedade de Propósi-to Específico (SPE) Inova BH é a concessionária responsável pela construção e operação de servi-ços não pedagógicos de 37 escolas municipais, sen-do 32 Unidades de Educação Infantil (UMEIs) e cinco Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEFs). Já a SPE Novo Metropolitano está encarregada de construir e operar o Hospital Novo Metropolitano, que contará com 440 leitos

(80 de CTI) e terá capacidade para realizar duas mil consultas especializadas por mês, 1,4 mil internações, 700 cirurgias men-sais e 500 atendimentos de pronto-socorro diariamente.

Na esfera federal, o BDMG apoia a duplicação da BR-040, entre Juiz de Fora (MG) e Brasília (DF). A instituição compõe um consórcio com mais três bancos comerciais que é fiador bancário da Via-040, SPE controlada pela Invepar, que execu-ta a ampliação, manutenção e operação de um trecho de 937 quilômetros da rodovia federal.

Para a estruturação das garantias, o estado criou o Fun-do Garantidor de PPPs, gerido pelo BDMG, mas que não está ativo porque o governo preferiu oferecer outras garan-tias, como recebíveis de dividendo de participações societá-rias, outros recebíveis de fundos de financiamento e outras receitas como royalties.

No Paraná, as Parcerias Público-Privadas estão regula-mentadas pela Lei Estadual nº 17.046, de 11 de janeiro de 2012, regulamentada pelo Decreto Estadual nº 1.575, de 02

s parcerias público-privadas surgiram nos anos 1990, em um contexto de crise fiscal e como alternativa ao

modelo puro de privatização – transferência/venda efetiva dos serviços antes providos pelo Estado à iniciativa privada. De forma usual, as PPPs reguladas pela Lei nº 11.079, de 2004 (Lei das PPPs) se situam entre duas formas de contra-tação tradicional adotadas no Brasil: o que se denomina regi-me de Concessão de Serviços Públicos, instituído pela Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, e o regime de Licitações e Contratos Públicos, criado pela Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993.

No regime de Concessões da Lei nº 8.987/95, o ente pri-vado vencedor da licitação assume a gestão, risco e custo da obra sem qualquer pagamento de complementação pecu-niária pela administração pública, sendo-lhe devidas apenas as tarifas dos usuários e eventuais receitas acessórias ou adi-cionais como pagamento pelos investimentos realizados e serviços prestados. Já nos contratos firmados com base na Lei nº 8.666/93, todos os aspectos citados são de responsa-bilidade da administração pública e o parceiro privado desempenha o papel de mero prestador de serviço.

Segundo Vania Lucia Lins e Souto, a parceria, no seu con-ceito geral, é um contrato administrativo de médio/longo prazo firmado com o setor privado com objetivo de viabili-zar projetos de infraestrutura e de provisão de serviços pres-tados pelos entes públicos.

“A inovação da PPP foi permitir fazer concessões onde o Estado operava diretamente. Trata-se de uma compra de serviços pelo Estado que está necessariamente atrelada à efi-ciência do privado, que deve prestar um serviço de qualida-de. As PPPs requerem um investimento significativo do setor privado para prestar o serviço e por isso os contratos são de longo prazo. O privado em geral elabora o projeto, constrói, financia e opera os ativos/serviços. No final os ati-vos são transferidos para o Estado. O setor público é parcei-ro na compra do serviço na sua totalidade ou em parte”, comenta Vania.

A PPP é definida pela lei como uma concessão, mas se difere da concessão comum pela necessidade de subsídio público parcial ou total pago na medida em que o serviço é prestado pelo concessionário. Segundo dados da Assessoria Econômica do Ministério do Planejamento, já foram assina-dos 42 contratos, atingindo um valor total de R$ 105 bilhões.

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PPP

O que diz a lei

Os projetos e obras de infraestrutura estão no horizonte de ação das PPPs.

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ção complexa envolvendo uma imensa gama de negociações e acordos, não só entre os sócios e financiadores, como também com fornecedores, clientes, empresas seguradoras etc. O resultado dessas negociações gera uma estrutura de comparti-lhamento de riscos e garantias, que são expressos em diversos instrumentos jurídicos”, resume.

Outro estado que avançou no desenvolvimento de PPPs foi Minas Gerais, com o apoio do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Desde 2012, o BDMG vem coor-denando os estudos necessários para a estruturação de editais de PPPs relacionados a projetos de infraestrutura, o que tem contribuído para viabilizar projetos da administração pública estadual e municipal, atrair investimentos e até para a geração de receitas adicionais. Ao todo o estado conta com cinco PPPs em desenvolvimento. “A atividade de modelagem de PPPs demanda equipe especializada e multidisciplinar, tendo em vis-ta a variedade de aspectos envolvidos – como a estruturação de modelo econômico-financeiro, a definição dos parâmetros

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RUMOS – 36 – Setembro/Outubro 2015

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Hospital do Subúrbio, em Salvador, projeto escolhido como um dos mais inovadores em infraestrutura por consultoria.

iniciativa privada na busca de prestação de serviços públicos com qualidade”, diz Silvana.

Conforme previsão da Lei Estadual nº 17.046/12, foi ins-tituído em 2014 o Fundo Garantidor de Parcerias Público-Privadas (FGP/PR), sob a gestão da Agência de Fomento do Estado do Paraná (Fomento Paraná), cuja finalidade é prestar garantias de pagamento de obrigações pecuniárias assumidas pelos parceiros públicos nas PPPs do estado.

No Rio de Janeiro foi criada a Lei nº 5.068, de 10 de julho de 2007, mas, até o momento, o estado formalizou apenas a PPP do Maracanã. O estado conta com um Conselho Ges-

tor formado pelas Secretarias de Desenvolvimento Econômico Energia Indústria e Serviços (Sedeis), Casa Cilvil, Fazenda, Planejamento, Obras, Ambiente, Procuradoria Geral do Estado e, para assuntos que envolvem a região metropolitana, também a Câmara Metropolitana. Segundo Paula Martins, subsecretária de PPPs da Sedeis, o estado avançou pouco em PPPs porque vinha conduzindo investimentos com recur-sos próprios. Mas estuda atualmente oito PPPs e três operações estruturadas.

“Agora a realidade é diferente e o governador Luiz Pezão estabeleceu, no final de 2014, cinco projetos prio-ritários. São eles: os projetos de saneamento na Baixada Fluminense e na Região Leste Metropolitana, totalizan-do 22 municípios; a Linha 3 do Metrô de Niterói a São Gonçalo com 22 km, a Expansão da Linha 2 do Metrô do Rio para a Praça da Cruz Vermelha e a Praça XV; e o projeto de tecnologia digital para integrar todos os prédi-os públicos do estado e municípios”, enumera Paula.

A AgeRio, agência de fomento do estado, passa a ser a unidade modeladora das PPPs, uma atribuição que era da Secretaria de Planejamento. Segundo Dario Araújo, diretor de Operações AgeRio, a agência vem se prepa-rando desde o início do ano com uma equipe especializa-da e a criação de uma gerência executiva de PPP com qua-

tro profissionais.Os projetos de saneamento são da Cedae, com o suporte

da Câmara Metropolitana. A estruturação da modelagem das PPPs será feita pela Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP), que venceu o edital de manifestação de interesse e terá seis meses para avaliar se será PPP ou concessão. A expectativa é de que a licitação ocorra em 2017. Já a expansão da Linha 2 do metrô do Rio não poderá ser feita por PPP porque o con-cessionário tem garantido o direito da operação de qualquer expansão.

“As demais PPPs em análise incluem projetos para a área de segurança pública, como uma nova unidade de ressocializa-ção de menores, presídios e a modernização dos batalhões da Polícia Militar. Na educação, estuda-se PPPs para a construção de escolas; na saúde, para a criação do centro de diagnóstico por imagem. E, por fim, a ligação da estação de tratamento de água do Guandu à Usina Hidroelétrica de Lages, para dar segu-rança no abastecimento de água, que está sendo estudada pelo estado e a Light”, conclui Paula.

R REPORTAGEM PPP

No Paraná, as Parcerias Público-Privadas estão regulamentadas pela Lei Estadual nº 17.046, de 11 de janeiro de 2012, regulamentada pelo Decreto Estadual nº 1.575, de 2 de junho de 2015. Recentemente, a estrutura do estado sofreu alterações com o intuito de aprimorar a delegação de serviços públicos. Foi criado o Conselho Gestor de Concessões, que veio substituir o Conselho Gestor de Parcerias Público-Privadas, por meio da Lei Estadual nº 18.468, de 29 de abril de 2015, que altera o artigo 6º da Lei Estadual das PPPs. O Decreto nº 1.575/15 traz a estrutura de elaboração, desenvolvimento e acompanhamento de projetos de concessões no estado e institui o Grupo Técnico de Análise às Concessões (GTAC).

Segundo Silvana Cristina Bittencourt, secretária-executiva

do Conselho Gestor de Concessões do governo do Paraná, atualmente existe apenas um contrato de parceria público-privada celebrado entre o Departamento de Estradas de Roda-gem (DER-PR) e a Concessionária Rota das Fronteiras S.A. para a exploração de um trecho de 220 quilômetros da rodovia estadual PR-323, entre os municípios de Maringá e Francisco Alves, na região noroeste. O contrato foi assinado em setem-bro de 2015, mas o estado ainda aguarda manifestação da empresa vencedora, que busca financiamento no mercado financeiro para dar início aos projetos. Trata-se de uma Con-cessão Patrocinada. O investimento é de R$ 7 bilhões ao longo de 30 anos, com uma contraprestação pecuniária mensal por parte do estado no valor de R$ 95,7 milhões.

“Existem várias PMIs em elaboração, já aprovadas pelo Conselho Gestor de Concessões. Projeto dos Pátios Veicula-res Integrados encontra-se em fase final de elaboração dos ins-trumentos convocatórios. O objeto da licitação já foi aprova-do. O caminho para o futuro é o investimento em serviços de infraestrutura, a serem prestados em conjunto pelo estado e a

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RUMOS - 37 – Setembro/Outubro 2015

REFLEXÃO

omos 7,3 bilhões de pessoas vivendo num planeta finito e exploramos cada vez mais a capacidade da Terra de nos ofertar recursos naturais. Em constante movimento na luta pela sobrevivência, desde os primórdios tra-

balhamos os sentidos, a inteligência e nossos músculos em busca de soluções inovadoras para nos apropriarmos basi-camente de água, comida, energia e moradia. Desenvolve-mos técnicas e estratégias para nos adaptarmos ao meio ambiente, transformando bens da natureza em produtos e serviços. Com isso, impulsionamos mercados, movemos indústrias, geramos riquezas, criamos leis e provocamos movimentos sociais. Mas, embora tenhamos nos lançado ao espaço, ainda não conseguimos superar a pobreza, a fome e os flagelos da guerra em muitos lugares.

Nesse modus operandi extrativista, consumista e poluidor, que retira incessantemente recursos minerais, energéticos e alimentícios – e devolve grandes quantidades de gases nocivos –, a biocapacidade do planeta Terra de oferecer recursos e absorver resíduos está cada vez mais pressionada pelo padrão desenfreado de produção, consumo e descarte. Esse modelo que privatiza os lucros e socializa os custos ambientais, dife-rentes ameaças interagem entre si: aprendemos a produzir mais comida em menos terras, empregando petróleo e tecno-logia, mas temos problemas agrícolas, energéticos e de insegu-rança hídrica. Além disso, a pulverização intensiva de pestici-das e fertilizantes na produção rural gera desequilíbrios ao ciclo biogeoquímico da “biosfera”, contaminando as águas (hidrosfera), os solos (litosfera), o ar (atmosfera) e os organis-mos vivos (ecossistemas terrestres).

Nossa civilização é extremamente dependente da queima intensiva dos combustíveis fósseis. Esses recursos não renová-veis alimentam o processo de combustão produzindo quanti-dades significativas de energia. E o indicador de crescimento da riqueza material, o Produto Interno Bruto (PIB), estabelece uma relação direta com a poluição atmosférica: quanto maior o PIB, maior a emissão de CO . “Crescimento” e “desenvolvi-mento” são semânticas distintas no vocabulário econômico-social. Por isso, estamos diante do desafio de reduzir a queima desenfreada da energia fóssil, que libera grandes quantidades

de gases e agrava o fenômeno das mudanças climáticas.E o Brasil? O Brasil é um “credor ecológico”, ou seja, a sua

biocapacidade excede a demanda ecológica de sua própria população. O país detém cerca de 12,5% do estoque de água doce do planeta, a maior demarcação de reservas ecológicas, o terceiro maior potencial hidrelétrico, terras cultiváveis, inci-dência solar e de ventos regulares, abundância de petróleo e gás, e produção de biocombustíveis. Entretanto, o desperdício e a degradação ainda são desafios a serem superados, princi-palmente quando se trata da gestão correta e inteligente das florestas e das águas (superficiais e subterrâneas). Afinal, somos a nação campeã em perda anual de área verde e a derru-bada da vegetação nativa favorece os processos de erosão, desertificação e seca da nascente dos rios. Não por acaso, o rio Paraíba do Sul – que banha os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro – vem sofrendo os impactos do cresci-mento urbano desde os tempos áureos do cultivo de café, com desmatamento, assoreamento e redução de seu corpo hídrico.

O país também sofreu forte impacto na primeira década deste século com a descoberta do pré-sal, em 2006, que o elevou a um novo patamar no cenário energético mundial. O imenso reservatório dessa nova fronteira, que se estende por mais de 800 km (e 200 km de largura), desde a costa de Santa Catarina até o norte do litoral capixaba, abrangendo as bacias de Santos, Campos e Espírito Santo, fez com que os olhos do mundo se voltasse para cá. A alta produtividade de seus poços vem possibilitando ao país retomar a curva de crescimento da produção de hidrocarbonetos. Entretanto, é preciso destacar que 43,5% da matriz energética brasileira é baseada em fontes renováveis, quase três vezes mais do que a média mundial. Além das hidrelétricas, entram nesse conjunto o potencial de geração de energia através da biomassa (baseada em recursos vegetais como a cana-de-açúcar), das fontes solar e eólica (que atingiu a marca de 7 gigawatts de capacidade instalada, repre-sentando 5% da parcela de geração de energia).

Diante da iminência da Conferência Mundial sobre o Clima (COP 21), que será realizada em novembro em Paris, cabe perguntar: o que falta ao Brasil para se posicionar na vanguarda da diplomacia ambiental e liderar a agenda global do desenvolvimento sustentável?

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Por uma nova Agenda Global de DesenvolvimentoFelipe Salgado é jornalista, com pós-graduação em Gestão Ambiental e MBA em Economia de Petróleo e Gás pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente, é mestrando em Dinâmica dos Oceanos e da Terra pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

Luiz Gamboa é geólogo, mestre em Geociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e PhD. pela Columbia University e pro-fessor da UFF.

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a execução (art. 651, CPC), remir o bem (art. 685-A, § 2º, CPC) ou concedê-la, ou mesmo dar aos demais associados a preferência na aquisição das cotas (art.685-A, § 4º, CPC), ou, ainda, em situação extrema, facultar-se ao credor a absurda possibilidade (em desprezo ao direito da maioria) de requerer a dissolução parcial da sociedade, forçando a saí-da de cooperado para “liberar” as suas quotas.

Por fim, apenas para que não passe em branco, é igual-mente incogitável a integração compulsória de um terceiro (o credor particular de um cooperado) como sócio da socie-dade cooperativa (pela transferência a ele dos direitos credi-tórios sobre as quotas-partes), pois, além de ofender ao prin-cípio da livre adesão (1º dos sete postulados universais do cooperativismo), o ingresso em tal condição estaria destituí-do da (indispensável) afecctio societatis.

Agregue-se a relevante circunstância de a sociedade coo-perativa ser entidade autogestionária por excelência, tanto assim que a Constituição Federal, no art. 5º, XVIII, veda a interferência do Estado em seu funcionamento. E mais. Impor o vínculo associativo afrontaria um dos mais relevan-tes fundamentos da República, que é o da livre iniciativa, con-sagrado no art. 1º, IV, da Carta Magna.

Em síntese, afirma-se ou no mínimo ganha considerável reforço a linha doutrinária que vem sustentando a impossi-

bilidade de penhora das quotas-partes, tese esta até aqui assentada unicamente no art. 4º, IV, da Lei Cooperativista, e no art. 1.094, IV, do Código Civil.

Com isso, (re)abre-se a possibilidade de rever-ter a tendência jurisprudencial, endossada pelo Superior Tribunal de Justiça (ex.: REsp 1.278.715 – PR), que, majoritariamente, em decisões anteri-ores à mudança legislativa em questão, vem desco-nhecendo as peculiaridades do tipo societário, em afronta à Lei Cooperativista, ao Código Civil e à Constituição Federal (art. 174, §2º). Vale lembrar que à cooperativa é assegurado o direito processu-al (conforme REsp n°s 248.417/SP, 30.854/SP e

285.735/MG), e o dever material, de intervir (como 3ª embargante) em demandas que proponham a constri-ção de quotas-partes para garantir dívida de associado em particular.

Conclamam-se, portanto, os ope-radores do direito cooperativo, em especial os advogados das socieda-des cooperativas, a instruírem suas teses, seus pareceres e suas decisões sobre a indisponibilidade e impe-nhorabilidade das quotas-partes enquanto durar o vínculo societá-rio, levando em conta o §4º do art. 24 da Lei nº 5.764, de 1971.

RUMOS – 41 – Setembro/Outubro 2015 RUMOS – 40 – Setembro/Outubro 2015

á pouco tempo operou-se modi-ficação no marco regulatório do cooperativismo brasileiro cuja importância ainda não se fez repercutir adequadamente

entre nós. Refiro-me à adição do §4º ao art. 24 da Lei nº 5.764, de 1971 (através da Lei 13.097, de 19-01-15, art. 140), destinado a todos os ramos cooperativos, entre eles o crédito (financeiro).

O dispositivo prevê que “as quotas (…) deixam de integrar o patrimônio líquido da cooperativa quando se tornar exigível, na forma prevista no estatuto social e na legis-lação vigente, a restituição do capital inte-gralizado pelo associado, em razão do seu desligamento, por demissão, exclusão ou eliminação”.

Ao estipular que as quotas são exigíveis apenas por ocasião da desfiliação, a inova-ção legislativa conduz a duas conclusões de elevado impacto, a saber:

1º) elimina de vez, na leitura à contrario sensu, a dúvida sobre ser o capital compo-nente do patrimônio líquido enquanto o associado mantiver o vínculo associativo;

2º) torna indisponíveis as quotas-partes, inclusive para fins de penhora judi-cial em ações contra associados, uma vez que durante o vínculo associativo o capital assume caráter institucional, ou seja, é da cooperativa.

No primeiro caso – natureza contábil das quotas-partes de capital –, consolida-se a corrente que defende integrar as quotas ao patrimônio líquido da cooperativa para todos os efeitos, especialmente para fins de apuração de limites regulamentares (nas coope-rativas financeiras: Basileia, exposição por clien-

AARTIGO

te/associado, imobilização etc.), enquanto não se efetivar o desligamen-to do cooperado do quadro social da entidade.

Com relação à indisponibilidade das quotas durante o vínculo associati-vo, resta inequívoco que o cooperado tem mera expectativa de direito sobre esse valor, não podendo dele dispor senão depois de afastar-se da coopera-tiva (a exceção fica por conta do resgate parcial de quotas em cooperativa de cré-dito, em razão do disposto no art. 10 da Lei Complementar 130, de 2009). E nada assegura que o associado possa dispor dessas quotas no futuro, pois elas poderão vir a ser utilizadas para qui-tar dívidas da cooperativa com tercei-ros, caso a entidade torne-se insolvente (lato sensu) antes do desligamento do associado (arts. 11 e 13 da Lei Coopera-tivista).

Aliás, pelos mesmos fundamentos, é vedado utilizar as quotas como garan-tia (caução, penhor ou cessão fiduciá-ria) de obrigações que o associado tenha com a própria cooperativa. Nada impede, contudo, a sua retenção para compensar débitos por ocasião do des-ligamento do associado, como geral-mente consta dos estatutos sociais das cooperativas.

Note-se, em reforço a esse entendi-mento, que a parte final do dispositivo,

representada pela expressão “por demissão, exclusão ou eli-minação”, é separada por vírgula da oração, combinada, “se tornar exigível a restituição do capital integralizado pelo associado em razão do seu desligamento”. Isso quer dizer

H

que unicamente o desligamento do associado, igualmente limitado pelo parágrafo às hipóteses de demissão, exclusão e eliminação, dá a ele o direito de exigir as quotas-partes, desde que com ele (cooperado) não concorram credores da pró-pria cooperativa.

E se as quotas são inexigíveis pelo próprio associado enquanto se mantiver nessa condição, elas não podem servir como bens ou direitos (ainda que futuros), na forma do art. 591 do Código de Processo Civil, passíveis de penhora judi-cial ou ser objeto de garantia – passíveis de expropriação, enfim – em face de obrigações que o cooperado tenha com terceiro. Do contrário, considerando que a cooperativa, ago-ra de forma indiscutível, é a titular real desse capital enquan-to o associado não se desvincular, ela (a cooperativa) seria colocada na posição de devedora ou garantidora, sem que tivesse assumido qualquer compromisso obrigacional, com evidente prejuízo à coletividade de cooperados.

Ademais disso, estaria prejudicando seus credores, pois reduziria a sua capacidade de pagamento (lembrando que os associados, no caso do regime de responsabilidade limitada, respondem perante os credores da sociedade até o limite das quotas-partes que subscreverem – arts. 11 e 13 da Lei Coo-perativista). Não se pode cogitar de a sociedade cooperativa, na qualidade de terceira interessada (art. 499 do CPC), remir

*Ênio Meinen, advogado, pós-graduado em direito (FGV/RJ) e em gestão estratégica de pessoas (UFRGS), e autor/coautor de vários artigos e livros sobre cooperativismo financeiro – área na qual atua há 31 anos -, entre eles “Cooperativismo financeiro: percurso histórico, perspectivas e desafios”. Atualmente, é Diretor de Operações do Bancoob.

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Impenhorabilidade das quotas-partes de sociedades cooperativas

“A Lei apoiará e estimulará o cooperativismo…” (Constituição Federal de 1988, art. 174, §2º).

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a execução (art. 651, CPC), remir o bem (art. 685-A, § 2º, CPC) ou concedê-la, ou mesmo dar aos demais associados a preferência na aquisição das cotas (art.685-A, § 4º, CPC), ou, ainda, em situação extrema, facultar-se ao credor a absurda possibilidade (em desprezo ao direito da maioria) de requerer a dissolução parcial da sociedade, forçando a saí-da de cooperado para “liberar” as suas quotas.

Por fim, apenas para que não passe em branco, é igual-mente incogitável a integração compulsória de um terceiro (o credor particular de um cooperado) como sócio da socie-dade cooperativa (pela transferência a ele dos direitos credi-tórios sobre as quotas-partes), pois, além de ofender ao prin-cípio da livre adesão (1º dos sete postulados universais do cooperativismo), o ingresso em tal condição estaria destituí-do da (indispensável) afecctio societatis.

Agregue-se a relevante circunstância de a sociedade coo-perativa ser entidade autogestionária por excelência, tanto assim que a Constituição Federal, no art. 5º, XVIII, veda a interferência do Estado em seu funcionamento. E mais. Impor o vínculo associativo afrontaria um dos mais relevan-tes fundamentos da República, que é o da livre iniciativa, con-sagrado no art. 1º, IV, da Carta Magna.

Em síntese, afirma-se ou no mínimo ganha considerável reforço a linha doutrinária que vem sustentando a impossi-

bilidade de penhora das quotas-partes, tese esta até aqui assentada unicamente no art. 4º, IV, da Lei Cooperativista, e no art. 1.094, IV, do Código Civil.

Com isso, (re)abre-se a possibilidade de rever-ter a tendência jurisprudencial, endossada pelo Superior Tribunal de Justiça (ex.: REsp 1.278.715 – PR), que, majoritariamente, em decisões anteri-ores à mudança legislativa em questão, vem desco-nhecendo as peculiaridades do tipo societário, em afronta à Lei Cooperativista, ao Código Civil e à Constituição Federal (art. 174, §2º). Vale lembrar que à cooperativa é assegurado o direito processu-al (conforme REsp n°s 248.417/SP, 30.854/SP e

285.735/MG), e o dever material, de intervir (como 3ª embargante) em demandas que proponham a constri-ção de quotas-partes para garantir dívida de associado em particular.

Conclamam-se, portanto, os ope-radores do direito cooperativo, em especial os advogados das socieda-des cooperativas, a instruírem suas teses, seus pareceres e suas decisões sobre a indisponibilidade e impe-nhorabilidade das quotas-partes enquanto durar o vínculo societá-rio, levando em conta o §4º do art. 24 da Lei nº 5.764, de 1971.

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á pouco tempo operou-se modi-ficação no marco regulatório do cooperativismo brasileiro cuja importância ainda não se fez repercutir adequadamente

entre nós. Refiro-me à adição do §4º ao art. 24 da Lei nº 5.764, de 1971 (através da Lei 13.097, de 19-01-15, art. 140), destinado a todos os ramos cooperativos, entre eles o crédito (financeiro).

O dispositivo prevê que “as quotas (…) deixam de integrar o patrimônio líquido da cooperativa quando se tornar exigível, na forma prevista no estatuto social e na legis-lação vigente, a restituição do capital inte-gralizado pelo associado, em razão do seu desligamento, por demissão, exclusão ou eliminação”.

Ao estipular que as quotas são exigíveis apenas por ocasião da desfiliação, a inova-ção legislativa conduz a duas conclusões de elevado impacto, a saber:

1º) elimina de vez, na leitura à contrario sensu, a dúvida sobre ser o capital compo-nente do patrimônio líquido enquanto o associado mantiver o vínculo associativo;

2º) torna indisponíveis as quotas-partes, inclusive para fins de penhora judi-cial em ações contra associados, uma vez que durante o vínculo associativo o capital assume caráter institucional, ou seja, é da cooperativa.

No primeiro caso – natureza contábil das quotas-partes de capital –, consolida-se a corrente que defende integrar as quotas ao patrimônio líquido da cooperativa para todos os efeitos, especialmente para fins de apuração de limites regulamentares (nas coope-rativas financeiras: Basileia, exposição por clien-

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te/associado, imobilização etc.), enquanto não se efetivar o desligamen-to do cooperado do quadro social da entidade.

Com relação à indisponibilidade das quotas durante o vínculo associati-vo, resta inequívoco que o cooperado tem mera expectativa de direito sobre esse valor, não podendo dele dispor senão depois de afastar-se da coopera-tiva (a exceção fica por conta do resgate parcial de quotas em cooperativa de cré-dito, em razão do disposto no art. 10 da Lei Complementar 130, de 2009). E nada assegura que o associado possa dispor dessas quotas no futuro, pois elas poderão vir a ser utilizadas para qui-tar dívidas da cooperativa com tercei-ros, caso a entidade torne-se insolvente (lato sensu) antes do desligamento do associado (arts. 11 e 13 da Lei Coopera-tivista).

Aliás, pelos mesmos fundamentos, é vedado utilizar as quotas como garan-tia (caução, penhor ou cessão fiduciá-ria) de obrigações que o associado tenha com a própria cooperativa. Nada impede, contudo, a sua retenção para compensar débitos por ocasião do des-ligamento do associado, como geral-mente consta dos estatutos sociais das cooperativas.

Note-se, em reforço a esse entendi-mento, que a parte final do dispositivo,

representada pela expressão “por demissão, exclusão ou eli-minação”, é separada por vírgula da oração, combinada, “se tornar exigível a restituição do capital integralizado pelo associado em razão do seu desligamento”. Isso quer dizer

H

que unicamente o desligamento do associado, igualmente limitado pelo parágrafo às hipóteses de demissão, exclusão e eliminação, dá a ele o direito de exigir as quotas-partes, desde que com ele (cooperado) não concorram credores da pró-pria cooperativa.

E se as quotas são inexigíveis pelo próprio associado enquanto se mantiver nessa condição, elas não podem servir como bens ou direitos (ainda que futuros), na forma do art. 591 do Código de Processo Civil, passíveis de penhora judi-cial ou ser objeto de garantia – passíveis de expropriação, enfim – em face de obrigações que o cooperado tenha com terceiro. Do contrário, considerando que a cooperativa, ago-ra de forma indiscutível, é a titular real desse capital enquan-to o associado não se desvincular, ela (a cooperativa) seria colocada na posição de devedora ou garantidora, sem que tivesse assumido qualquer compromisso obrigacional, com evidente prejuízo à coletividade de cooperados.

Ademais disso, estaria prejudicando seus credores, pois reduziria a sua capacidade de pagamento (lembrando que os associados, no caso do regime de responsabilidade limitada, respondem perante os credores da sociedade até o limite das quotas-partes que subscreverem – arts. 11 e 13 da Lei Coo-perativista). Não se pode cogitar de a sociedade cooperativa, na qualidade de terceira interessada (art. 499 do CPC), remir

*Ênio Meinen, advogado, pós-graduado em direito (FGV/RJ) e em gestão estratégica de pessoas (UFRGS), e autor/coautor de vários artigos e livros sobre cooperativismo financeiro – área na qual atua há 31 anos -, entre eles “Cooperativismo financeiro: percurso histórico, perspectivas e desafios”. Atualmente, é Diretor de Operações do Bancoob.

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Impenhorabilidade das quotas-partes de sociedades cooperativas

“A Lei apoiará e estimulará o cooperativismo…” (Constituição Federal de 1988, art. 174, §2º).

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RUMOS – 43 – Setembro/Outubro 2015

Por Sarah Barros

Desempenho

O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul fecha primeiro semestre de 2015 com mais de 34 mil clientes ativos e ampliação em 56,7% no volume de contratação de crédito, atendendo a demanda por financiamento da economia do sul do país

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busca por recursos para financiar novos investi-mentos na região Sul do Brasil fez com que o Banco Regional de Desenvolvimento do Extre-mo Sul (BRDE) ampliasse em 56,7% o volume de contratações de crédito no primeiro semestre

de 2015 em comparação com o mesmo período do ano passa-do, atingindo R$ 1,85 bilhão. Nesse intervalo, as liberações de recursos totalizaram R$ 1,528 bilhão, que irão viabilizar cerca de R$ 2,7 bilhões em investimentos nos estados do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. O montante atendeu principalmente à demanda de investidores do setor agrope-cuário, mas também inclui resultados de esforços do banco em ampliar a carteira de investimentos em outros setores, como na área de infraestrutura.

Ao todo, 4.629 novas operações de crédito foram realiza-das no primeiro semestre deste ano, o que representa um crescimento de 32,11% frente aos primeiros seis meses de 2014. Em número de contratações aprovadas, o aumento foi de 30%, passando para 4.843, somando R$ 1,625 bilhão. Esse volume de recursos é 51,14% superior ao contabilizado no mesmo intervalo em 2014. Com essa participação em projetos de investimento na região, agregando mais de 34 mil clientes ativos e com atuação em quase 90% dos municípios, o BRDE estima a geração ou manutenção de mais de 24 mil postos de trabalho nos três estados do sul brasileiro. Em receitas adicio-nais aos governos locais, espera-se o recolhimento de ICMS da ordem de R$ 406,9 milhões por ano.

Os resultados apresentados pelo BRDE em seu balanço financeiro do primeiro semestre de 2015 apontam para a manutenção de investimentos na região Sul do Brasil a despei-to da crise econômica, que afetou a oferta de crédito por ban-cos de varejo. “O que torna os bancos de desenvolvimento mais atrativos é o fato de que eles continuam oferecendo crédito a quem precisa, mesmo em tempos de retração econô-mica”, avaliou o presidente do BRDE, Neuto Fausto de Con-to. Paralelamente, segundo ele, os bancos de varejo se veem obrigados a exigir contrapartidas dos clientes como a contra-tação de seguros, abertura de conta corrente e outros serviços bancários para alcançar metas rigorosas de desempenho.

Já o BRDE procura se diferenciar das instituições de mer-cado com a expertise da equipe técnica, que avalia cada projeto e busca a solução de crédito mais adequada, e com agilidade. O diretor Administrativo, Orlando Pessuti, ressalta ainda ser função dos bancos de desenvolvimento atuar no contraciclo, encontrando soluções para atender à demanda represada do mercado. “No Paraná, o estado capitalizou o BRDE em R$ 200 milhões no ano passado e isto proporcionou força para que a instituição ampliasse significativamente o volume aplica-do de recursos sem reduzir a qualidade do crédito concedido”, pontuou. Outro diferencial destacado por Pessuti, que possi-bilitou ao BRDE expandir sua carteira em tempos de crise, é a possibilidade que os bancos de desenvolvimento têm de apro-veitar oportunidades em segmentos específicos da economia local. “Grandes conglomerados bancários não percebem que aqui as oportunidades se mantêm em nichos específicos e o BRDE encontra esses nichos”, afirmou.

Soma-se a esses fatos a posição das instituições de fomen-to em momentos adversos da economia, como frisa o diretor de Planejamento do banco, Luiz Corrêa Noronha: “Em momentos de crise, em que o sistema privado de crédito sofre retração natural e se torna mais avesso ao risco, os bancos de desenvolvimento podem desempenhar uma importante fun-ção anticíclica, em particular nos segmentos do mercado de crédito com os quais os bancos comerciais não se envolvem integralmente e onde há lacunas de financiamento. Isso inclui áreas fundamentais como infraestrutura sustentável, energia, agricultura, industrialização, ciência, tecnologia, inovação, inclusão financeira e financiamento para micro, pequenos e médios empreendimentos.”

Por segmentos – Neste sentido, o setor agropecuário conti-nuou a responder, no primeiro semestre, pela maior parte do saldo de financiamento do BRDE, com R$ 4,3 bilhões ou 35% do saldo total de R$ 11,92 bilhões, impulsionado também pelas boas condições de financiamento do Plano Safra 2014-2015. “O BRDE definiu em sua estratégia alguns segmentos que são prioritários e o agronegócio continua sendo um desses segmentos, dada a característica da região como potência nos

negócios ligados à agropecuária e à agroindústria, especial-mente as cooperativas de produção”, disse o presidente da instituição. A indústria veio em seguida, com 29% da carteira de crédito, enquanto o setor de comércio e serviço respondeu por 19%, e o de infraestrutura, por aproximadamente 16%, praticamente o dobro da participação verificada nos seis pri-meiros meses de 2014. “Na Infraestrutura continuamos a apoiar investimentos apesar do cenário desfavorável. Isso porque os projetos têm um prazo de maturação mais longo, e são extremamente necessários, especialmente os de geração de energias renováveis”, explicou o diretor financeiro do BRDE, Renato Vianna.

Diante da maior demanda por recursos voltados para investimentos em geração de energia e na promoção de efi-ciência energética, o banco criou o BRDE Energia, operado com recursos da própria instituição. “Certamente, esta é uma maneira de ampliar a atuação do BRDE no segmento de infraestrutura, especialmente o setor de geração de energias renováveis, considerando que o desenvolvimento do país passa pelo aumento da oferta de energia e existe o interesse cada vez maior de investidores em geração de energia limpa, como a eólica, a solar e as pequenas centrais hidrelétricas”, elencou De Conto.

A atuação do BRDE nesta área contribuiu, por exemplo, para a criação do programa SC + Energia, por parte do gover-no do estado de Santa Catarina, que visa estimular investimen-tos no setor. Outra parceria importante foi firmada entre o BRDE e a Federação das Indústrias do Paraná para promover a eficiência energética e a redução de custos no setor produti-vo. “O programa é inteligente porque é complementar e busca ampliar a oferta de crédito para um segmento estratégico para o país. Com o aumento dos custos de energia, os empresários precisam buscar soluções a fim de minimizar esses custos”, acrescentou o diretor de Operações do BRDE, Wilson Quin-teiro. Para ele, o banco pode ampliar ainda mais sua atuação por meio do incentivo a investimentos em projetos como estradas, armazenagem e estruturas portuárias.

Além das iniciativas para manter e ampliar sua presença junto a investidores da agropecuária e da infraestrutura, a

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instituição não perdeu de vista as oportunidades abertas em outros ramos. No balanço geral do banco, a participação do setor de Comércio e Serviços apresentou um crescimento de 185% em relação ao mesmo perío-do de 2014, com investimentos signifi-cativos em estruturas de armazenagem de grãos. “Neste momento, no Paraná, estamos novamente nos comunicando com os sindicatos patronais e as asso-ciações de empresários a fim de apro-ximar o BRDE daqueles que estão produzindo”, adiantou o diretor Pes-suti. Outras frentes de trabalho estão sendo abertas junto ao setor público municipal, com o programa BRDE Municípios, e o segmento de Inova-ção, com o programa BRDE Inova. Já

na área de microcrédito, o banco aprovou recentemente um programa para financiar cooperativas de crédito e Organiza-ções da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips) que atuam no segmento e poderão acessar recursos próprios e do BRDE para ampliar suas carteiras de microcrédito.

Qualidade de crédito - A diretoria do BRDE frisa que os resultados alcançados pelo banco no primeiro semestre e os planos de avanços futuros continuam calcados nas melhores práticas de concessão de crédito, com criteriosa análise de novos clientes e projetos e o acompanhamento próximo de clientes com contratos já firmados. Esses procedimentos permitiram manter a inadimplência abaixo dos índices do mercado ao longo do primeiro semestre, cenário que deve se manter até o final do ano. “O controle e a minimização da inadimplência com certeza começa no processo de análise e concessão do crédito, realizando uma boa análise econômico-financeira da empresa, um estudo de viabilidade do projeto coerente e dentro da realidade da empresa e do setor na qual ela está inserida e a vinculação de boas garantias”, comentou o diretor financeiro.

Outra forma adotada pelo banco para evitar a inadim-plência de seus clientes tem sido o acompanhamento mais próximo das empresas mais suscetíveis à crise, como o setor moveleiro no Paraná, por exemplo. O BRDE também recor-reu, no primeiro semestre, ao aumento das provisões para créditos de liquidação duvidosa, reflexo da piora na econo-mia. Com isso, o lucro líquido da instituição fechou em R$ 98,777 milhões, no período de janeiro a junho deste ano. “O BRDE sempre assume uma postura conservadora e é muito responsável no provisionamento. As incertezas da economia levaram a uma necessidade de ampliar o volume de recursos provisionados para eventuais casos de inadimplência”, expli-cou o vice-presidente e diretor de Acompanhamento e Recu-peração de Créditos, Odacir Klein. Para fechar o ano, o banco prevê atingir R$ 3,05 bilhões em novas operações de crédito, havendo uma mudança de comportamento: a indústria será responsável pela maior parte, com 38,7%, seguida da agrope-cuária, com 30,5% do total.

RUMOS – 42 – Setembro/Outubro 2015

O setor agropecuário continuou a responder, no primeiro semestre, pela maior parte do saldo de financiamento do banco, com R$ 4,3 bilhões, ou 35% do saldo total de R$ 11,92 bilhões.

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Fonte de crédito parao desenvolvimento no Sul

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RUMOS – 43 – Setembro/Outubro 2015

Por Sarah Barros

Desempenho

O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul fecha primeiro semestre de 2015 com mais de 34 mil clientes ativos e ampliação em 56,7% no volume de contratação de crédito, atendendo a demanda por financiamento da economia do sul do país

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busca por recursos para financiar novos investi-mentos na região Sul do Brasil fez com que o Banco Regional de Desenvolvimento do Extre-mo Sul (BRDE) ampliasse em 56,7% o volume de contratações de crédito no primeiro semestre

de 2015 em comparação com o mesmo período do ano passa-do, atingindo R$ 1,85 bilhão. Nesse intervalo, as liberações de recursos totalizaram R$ 1,528 bilhão, que irão viabilizar cerca de R$ 2,7 bilhões em investimentos nos estados do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. O montante atendeu principalmente à demanda de investidores do setor agrope-cuário, mas também inclui resultados de esforços do banco em ampliar a carteira de investimentos em outros setores, como na área de infraestrutura.

Ao todo, 4.629 novas operações de crédito foram realiza-das no primeiro semestre deste ano, o que representa um crescimento de 32,11% frente aos primeiros seis meses de 2014. Em número de contratações aprovadas, o aumento foi de 30%, passando para 4.843, somando R$ 1,625 bilhão. Esse volume de recursos é 51,14% superior ao contabilizado no mesmo intervalo em 2014. Com essa participação em projetos de investimento na região, agregando mais de 34 mil clientes ativos e com atuação em quase 90% dos municípios, o BRDE estima a geração ou manutenção de mais de 24 mil postos de trabalho nos três estados do sul brasileiro. Em receitas adicio-nais aos governos locais, espera-se o recolhimento de ICMS da ordem de R$ 406,9 milhões por ano.

Os resultados apresentados pelo BRDE em seu balanço financeiro do primeiro semestre de 2015 apontam para a manutenção de investimentos na região Sul do Brasil a despei-to da crise econômica, que afetou a oferta de crédito por ban-cos de varejo. “O que torna os bancos de desenvolvimento mais atrativos é o fato de que eles continuam oferecendo crédito a quem precisa, mesmo em tempos de retração econô-mica”, avaliou o presidente do BRDE, Neuto Fausto de Con-to. Paralelamente, segundo ele, os bancos de varejo se veem obrigados a exigir contrapartidas dos clientes como a contra-tação de seguros, abertura de conta corrente e outros serviços bancários para alcançar metas rigorosas de desempenho.

Já o BRDE procura se diferenciar das instituições de mer-cado com a expertise da equipe técnica, que avalia cada projeto e busca a solução de crédito mais adequada, e com agilidade. O diretor Administrativo, Orlando Pessuti, ressalta ainda ser função dos bancos de desenvolvimento atuar no contraciclo, encontrando soluções para atender à demanda represada do mercado. “No Paraná, o estado capitalizou o BRDE em R$ 200 milhões no ano passado e isto proporcionou força para que a instituição ampliasse significativamente o volume aplica-do de recursos sem reduzir a qualidade do crédito concedido”, pontuou. Outro diferencial destacado por Pessuti, que possi-bilitou ao BRDE expandir sua carteira em tempos de crise, é a possibilidade que os bancos de desenvolvimento têm de apro-veitar oportunidades em segmentos específicos da economia local. “Grandes conglomerados bancários não percebem que aqui as oportunidades se mantêm em nichos específicos e o BRDE encontra esses nichos”, afirmou.

Soma-se a esses fatos a posição das instituições de fomen-to em momentos adversos da economia, como frisa o diretor de Planejamento do banco, Luiz Corrêa Noronha: “Em momentos de crise, em que o sistema privado de crédito sofre retração natural e se torna mais avesso ao risco, os bancos de desenvolvimento podem desempenhar uma importante fun-ção anticíclica, em particular nos segmentos do mercado de crédito com os quais os bancos comerciais não se envolvem integralmente e onde há lacunas de financiamento. Isso inclui áreas fundamentais como infraestrutura sustentável, energia, agricultura, industrialização, ciência, tecnologia, inovação, inclusão financeira e financiamento para micro, pequenos e médios empreendimentos.”

Por segmentos – Neste sentido, o setor agropecuário conti-nuou a responder, no primeiro semestre, pela maior parte do saldo de financiamento do BRDE, com R$ 4,3 bilhões ou 35% do saldo total de R$ 11,92 bilhões, impulsionado também pelas boas condições de financiamento do Plano Safra 2014-2015. “O BRDE definiu em sua estratégia alguns segmentos que são prioritários e o agronegócio continua sendo um desses segmentos, dada a característica da região como potência nos

negócios ligados à agropecuária e à agroindústria, especial-mente as cooperativas de produção”, disse o presidente da instituição. A indústria veio em seguida, com 29% da carteira de crédito, enquanto o setor de comércio e serviço respondeu por 19%, e o de infraestrutura, por aproximadamente 16%, praticamente o dobro da participação verificada nos seis pri-meiros meses de 2014. “Na Infraestrutura continuamos a apoiar investimentos apesar do cenário desfavorável. Isso porque os projetos têm um prazo de maturação mais longo, e são extremamente necessários, especialmente os de geração de energias renováveis”, explicou o diretor financeiro do BRDE, Renato Vianna.

Diante da maior demanda por recursos voltados para investimentos em geração de energia e na promoção de efi-ciência energética, o banco criou o BRDE Energia, operado com recursos da própria instituição. “Certamente, esta é uma maneira de ampliar a atuação do BRDE no segmento de infraestrutura, especialmente o setor de geração de energias renováveis, considerando que o desenvolvimento do país passa pelo aumento da oferta de energia e existe o interesse cada vez maior de investidores em geração de energia limpa, como a eólica, a solar e as pequenas centrais hidrelétricas”, elencou De Conto.

A atuação do BRDE nesta área contribuiu, por exemplo, para a criação do programa SC + Energia, por parte do gover-no do estado de Santa Catarina, que visa estimular investimen-tos no setor. Outra parceria importante foi firmada entre o BRDE e a Federação das Indústrias do Paraná para promover a eficiência energética e a redução de custos no setor produti-vo. “O programa é inteligente porque é complementar e busca ampliar a oferta de crédito para um segmento estratégico para o país. Com o aumento dos custos de energia, os empresários precisam buscar soluções a fim de minimizar esses custos”, acrescentou o diretor de Operações do BRDE, Wilson Quin-teiro. Para ele, o banco pode ampliar ainda mais sua atuação por meio do incentivo a investimentos em projetos como estradas, armazenagem e estruturas portuárias.

Além das iniciativas para manter e ampliar sua presença junto a investidores da agropecuária e da infraestrutura, a

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instituição não perdeu de vista as oportunidades abertas em outros ramos. No balanço geral do banco, a participação do setor de Comércio e Serviços apresentou um crescimento de 185% em relação ao mesmo perío-do de 2014, com investimentos signifi-cativos em estruturas de armazenagem de grãos. “Neste momento, no Paraná, estamos novamente nos comunicando com os sindicatos patronais e as asso-ciações de empresários a fim de apro-ximar o BRDE daqueles que estão produzindo”, adiantou o diretor Pes-suti. Outras frentes de trabalho estão sendo abertas junto ao setor público municipal, com o programa BRDE Municípios, e o segmento de Inova-ção, com o programa BRDE Inova. Já

na área de microcrédito, o banco aprovou recentemente um programa para financiar cooperativas de crédito e Organiza-ções da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips) que atuam no segmento e poderão acessar recursos próprios e do BRDE para ampliar suas carteiras de microcrédito.

Qualidade de crédito - A diretoria do BRDE frisa que os resultados alcançados pelo banco no primeiro semestre e os planos de avanços futuros continuam calcados nas melhores práticas de concessão de crédito, com criteriosa análise de novos clientes e projetos e o acompanhamento próximo de clientes com contratos já firmados. Esses procedimentos permitiram manter a inadimplência abaixo dos índices do mercado ao longo do primeiro semestre, cenário que deve se manter até o final do ano. “O controle e a minimização da inadimplência com certeza começa no processo de análise e concessão do crédito, realizando uma boa análise econômico-financeira da empresa, um estudo de viabilidade do projeto coerente e dentro da realidade da empresa e do setor na qual ela está inserida e a vinculação de boas garantias”, comentou o diretor financeiro.

Outra forma adotada pelo banco para evitar a inadim-plência de seus clientes tem sido o acompanhamento mais próximo das empresas mais suscetíveis à crise, como o setor moveleiro no Paraná, por exemplo. O BRDE também recor-reu, no primeiro semestre, ao aumento das provisões para créditos de liquidação duvidosa, reflexo da piora na econo-mia. Com isso, o lucro líquido da instituição fechou em R$ 98,777 milhões, no período de janeiro a junho deste ano. “O BRDE sempre assume uma postura conservadora e é muito responsável no provisionamento. As incertezas da economia levaram a uma necessidade de ampliar o volume de recursos provisionados para eventuais casos de inadimplência”, expli-cou o vice-presidente e diretor de Acompanhamento e Recu-peração de Créditos, Odacir Klein. Para fechar o ano, o banco prevê atingir R$ 3,05 bilhões em novas operações de crédito, havendo uma mudança de comportamento: a indústria será responsável pela maior parte, com 38,7%, seguida da agrope-cuária, com 30,5% do total.

RUMOS – 42 – Setembro/Outubro 2015

O setor agropecuário continuou a responder, no primeiro semestre, pela maior parte do saldo de financiamento do banco, com R$ 4,3 bilhões, ou 35% do saldo total de R$ 11,92 bilhões.

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Fonte de crédito parao desenvolvimento no Sul

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Por Jader Moraes

aís sem grandes concepções é país destinado ao fracasso.” Ancorado na conhecida frase do ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kis-singer, o economista João Paulo dos Reis Velloso

abriu a sessão especial de 2015 do Fórum Nacional com fortes críticas aos caminhos econômicos do país nas últimas décadas, ancoradas em um pensamento de curto prazo e sem visão estratégica. Realizado mais uma vez na sede do Banco Nacio-nal de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro, o Fórum reuniu especialistas e gestores públi-cos para debater os caminhos para que o país volte à rota do alto crescimento.

O conceito de Nova Revolução Industrial, da qual o Brasil ainda estaria à margem neste novo século, tem sido defendido nas últimas edições do evento, tradicional na agenda econômi-ca do país. Para Reis Velloso, o país precisa se livrar da crise em que se encontra, não apenas política e econômica, mas também social e ética, para voltar a ter o desenvolvimento como norte. “O imediatismo com que estão formulando as políticas não leva a nada. Tivemos voos de galinha nos últimos anos e agora temos recessão. Precisamos de um plano de médio e longo pra-zo, com integração à nova revolução industrial, para voltarmos a ter alto crescimento, que no momento significa crescer entre 5% e 6% ao ano, continuamente”, defendeu o economista.

Em uma áspera crítica ao Executivo brasileiro, que foi com-parado ao monstro mitológico Leviatã, Velloso lembrou que apenas o governo federal possui 34 fundações, 128 autarquias, 141 empresas estatais, além dos 39 ministérios. Por isso, acre-dita que o desequilíbrio fiscal deve ser corrigido prioritaria-mente com o corte de despesas.

“Os Três Poderes têm que entender: com esse nível de despesa pública, o crescimento é inviável. O Executivo bra-sileiro tem cerca de 40 ministérios, mas algo como 15 já seria suficiente. Precisamos optar por um Estado que evite a tra-gédia atual, em que ele gasta demais e, por isso, cobra impos-to demais”, afirmou.

Para além das críticas, o Fórum, por meio do seu coorde-nador, propôs um receituário que, seguido, pode auxiliar o país na busca por desenvolvimento. Entre as medidas sugeridas estão o investimento em capital humano, com mudanças na educação, para que incorpore os “códigos da modernidade”

FÓRUM NACIONAL

“P

Fortalecimento da indústria e um planejamento assertivo podem levar o país de volta ao caminho do crescimento, é o que apontaram os economistas presentes à Sessão Especial do Fórum Nacional

(capacidades cognitiva, de tomar decisões e de comunicar-se); o incentivo para maior participação das empresas brasileiras no mercado de capitais; o apoio ao estímulo empreendedor, especialmente na área da inovação; e o investimento em infra-estrutura para fortalecer a competitividade do país, inclusive com ampliação e aperfeiçoamento institucional da participa-ção privada no setor.

Segundo Velloso, o Brasil tem oportunidades relevantes de desenvolvimento em diferentes áreas, como as tecnologias do futuro, os setores intensivos em recursos naturais e o desen-volvimento ambiental. Precisa, no entanto, estar preparado para aproveitar as oportunidades e construir uma agenda que lhe permita alcançar uma posição mais sólida de desenvolvi-mento no espaço de uma geração.

“A verdadeira revolução está na integração de desenvolvi-mento e democracia, ainda que não haja relação necessária entre as duas coisas. Precisamos optar por um desenvolvimen-to que alcance as grandes massas e, pois, trabalhe em favor do fortalecimento da democracia no país, com a modernização das nossas instituições políticas e o desenvolvimento de uma sociedade ativa e moderna”, declarou.

Para o secretário do Desenvolvimento de Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exte-rior (MDIC), Carlos Augusto Gadelha, voltar a ter uma indús-tria forte é premissa para o país crescer. Ele afirmou que a indústria alavanca o setor de serviços de alto valor agregado, é determinante para as taxas de exportação e paga salários mais altos, o que expande o poder de compra do mercado interno.

Por isso, Gadelha acredita que o fortalecimento da indús-tria é parte da solução e não do problema por que o país passa e o obriga a implementar um ajuste fiscal. “Não podemos ter uma agenda paralisante. Sabemos que o ajuste, neste momen-to, é essencial para o desenvolvimento, mas, em perspectiva, o desenvolvimento é fundamental para a saúde fiscal do país”, observou.

Produtividade – O secretário defendeu que o investimento em inovação tem que ser a marca do novo padrão de desenvolvi-mento buscado pelo país, junto com a melhoria do ambiente de negócios e redução dos custos e o aumento da produtividade.

“A recuperação da eficiência produtiva é central para reto-

R REPORTAGEM

RUMOS – 44 – Setembro/Outubro 2015 RUMOS – 45 – Setembro/Outubro 2015

marmos uma trajetória de desenvolvimento. É preciso investi-mento para ampliarmos e transformarmos a capacidade pro-dutiva do país, pois isso é fundamental para sermos mais com-petitivos. Esta é a agenda que está sendo decantada e trará mus-culatura para darmos o salto: produtividade, redução de custos e capacidade de inovação”, resumiu.

Na mesma linha, o presidente da Associação Brasileira de Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Carlos Pas-toriza, avaliou que a baixa produtividade é um dos principais entraves para o desenvolvimento da indústria brasileira e o cres-cimento econômico do país. Durante sua exposição, Pastoriza apresentou dados que, para ele, explicam em parte a baixa pro-dutividade do segmento.

Segundo o presidente, cer-ca de um terço dos equipamen-tos utilizados nas indústrias bra-sileiras possui mais de 25 anos de uso, o que faz com que a ida-de média do parque fabril bra-sileiro seja de 17 anos, enquan-to em países desenvolvidos este número é bem menor – na Alemanha, que Pastoriza citou como exemplo, são apenas sete anos. A idade avançada dos equipamentos representa para as fábricas do país deficiências como atraso tecnológico, perda de produtividade e maior quan-tidade de danos ambientais.

O resultado é que, em um comparativo, a taxa de produti-vidade alemã é quatro vezes superior à brasileira. “Não é porque, como alguns dizem, o trabalhador brasileiro trabalha menos. Pelo contrário. Mas é que o fator humano representa apenas 25% do índice de pro-dutividade, enquanto mais de 60% tem a ver exclusivamente com o capital físico à disposição do trabalhador”, informa Pas-toriza. “Se a gente não modernizar nosso capital físico, não há como aumentarmos a produtividade e alcançarmos o alto cres-cimento”, decreta.

Ele reforçou a ideia, já defendida por Carlos Augusto Gadelha, de que o fortalecimento da indústria é fundamental para um país como o Brasil. “Serviço é importante, claro, mas 50% desse setor também depende da indústria”, argumentou.

Em uma fala mais contundente, o presidente da Abimaq criticou as altas taxas de juros aplicadas no país e afirmou que elas são um fator de desestímulo para os empresários que dese-jam investir no Brasil, além de também serem danosas ao pró-prio governo, que compromete parte considerável do orça-mento para pagar os juros da dívida pública. “O sistema finan-ceiro brasileiro é tão distorcido a ponto de comprometer o futuro do país. Se não atacarmos isso, esses juros pornográfi-cos, não teremos indústria forte, produtividade, nem cresci-mento”, opinou.

Política – O vice-presidente da Associação Brasileira da

Indústria de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialida-des (Abifina), Nelson Brasil, defendeu que o Estado deva ser protagonista na tarefa de planejar o desenvolvimento econô-mico de longo prazo, a exemplo do que acontece com êxito em países asiáticos como China, Coreia do Sul, Índia e, mais recentemente, Indonésia.

“Esses países atribuíram ao Estado essa tarefa e isso resul-tou em índices de crescimento de 5 a 10% ao ano, enquanto no Brasil essa relevante política foi totalmente abandonada nos anos 1990, pelo pensamento neoliberal segundo o qual somente um mercado totalmente livre resolveria desajustes macroeconômicos”, afirmou.

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Receitas para o “alto crescimento”

Em gráficos, Nelson Brasil demonstrou que o crescimen-to do PIB entre 1980 e 2013 nos países que ele citou como exemplo foi bastante superior ao do Brasil no mesmo período, o que mostra a fragilidade da economia brasileira frente aos demais países desenvolvidos. Nas três décadas que ele listou, o Brasil cresceu a uma taxa média anual inferior a 3%, enquanto a China cresceu quase 10% ao ano; a Coreia do Sul, 6,33%; a Indonésia, 5,53%; e a Índia, 6,18%.

Ele lembrou que o Brasil possui as melhores condições glo-bais para o desenvolvimento em termo de recursos naturais, abundância de reservas aquíferas, ausência de problemas étni-cos, clima adequado e favorável relação área/população. Pedindo que o Ministério do Planejamento volte a ocupar um papel de coordenador estratégico no governo e que o Legisla-tivo seja partícipe na elaboração de um projeto de nação, Nel-son Brasil fez um chamado à construção coletiva de um proje-to de nação de longo prazo.

“Sem ódios ou preconceitos, temos que buscar conver-gências políticas para a definição de um grande projeto nacio-nal de longo prazo, a ser implementado pelos nossos repre-sentantes em diferentes mandatos governamentais com uma única visão de nação, mesmo que componentes de distintos partidos políticos”, pediu.

Questões políticas ocuparam espaço nas discussões sobre o fortalecimento da economia brasileira dentre os presentes do Fórum Nacional, no Rio de Janeiro.

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Por Jader Moraes

aís sem grandes concepções é país destinado ao fracasso.” Ancorado na conhecida frase do ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kis-singer, o economista João Paulo dos Reis Velloso

abriu a sessão especial de 2015 do Fórum Nacional com fortes críticas aos caminhos econômicos do país nas últimas décadas, ancoradas em um pensamento de curto prazo e sem visão estratégica. Realizado mais uma vez na sede do Banco Nacio-nal de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro, o Fórum reuniu especialistas e gestores públi-cos para debater os caminhos para que o país volte à rota do alto crescimento.

O conceito de Nova Revolução Industrial, da qual o Brasil ainda estaria à margem neste novo século, tem sido defendido nas últimas edições do evento, tradicional na agenda econômi-ca do país. Para Reis Velloso, o país precisa se livrar da crise em que se encontra, não apenas política e econômica, mas também social e ética, para voltar a ter o desenvolvimento como norte. “O imediatismo com que estão formulando as políticas não leva a nada. Tivemos voos de galinha nos últimos anos e agora temos recessão. Precisamos de um plano de médio e longo pra-zo, com integração à nova revolução industrial, para voltarmos a ter alto crescimento, que no momento significa crescer entre 5% e 6% ao ano, continuamente”, defendeu o economista.

Em uma áspera crítica ao Executivo brasileiro, que foi com-parado ao monstro mitológico Leviatã, Velloso lembrou que apenas o governo federal possui 34 fundações, 128 autarquias, 141 empresas estatais, além dos 39 ministérios. Por isso, acre-dita que o desequilíbrio fiscal deve ser corrigido prioritaria-mente com o corte de despesas.

“Os Três Poderes têm que entender: com esse nível de despesa pública, o crescimento é inviável. O Executivo bra-sileiro tem cerca de 40 ministérios, mas algo como 15 já seria suficiente. Precisamos optar por um Estado que evite a tra-gédia atual, em que ele gasta demais e, por isso, cobra impos-to demais”, afirmou.

Para além das críticas, o Fórum, por meio do seu coorde-nador, propôs um receituário que, seguido, pode auxiliar o país na busca por desenvolvimento. Entre as medidas sugeridas estão o investimento em capital humano, com mudanças na educação, para que incorpore os “códigos da modernidade”

FÓRUM NACIONAL

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Fortalecimento da indústria e um planejamento assertivo podem levar o país de volta ao caminho do crescimento, é o que apontaram os economistas presentes à Sessão Especial do Fórum Nacional

(capacidades cognitiva, de tomar decisões e de comunicar-se); o incentivo para maior participação das empresas brasileiras no mercado de capitais; o apoio ao estímulo empreendedor, especialmente na área da inovação; e o investimento em infra-estrutura para fortalecer a competitividade do país, inclusive com ampliação e aperfeiçoamento institucional da participa-ção privada no setor.

Segundo Velloso, o Brasil tem oportunidades relevantes de desenvolvimento em diferentes áreas, como as tecnologias do futuro, os setores intensivos em recursos naturais e o desen-volvimento ambiental. Precisa, no entanto, estar preparado para aproveitar as oportunidades e construir uma agenda que lhe permita alcançar uma posição mais sólida de desenvolvi-mento no espaço de uma geração.

“A verdadeira revolução está na integração de desenvolvi-mento e democracia, ainda que não haja relação necessária entre as duas coisas. Precisamos optar por um desenvolvimen-to que alcance as grandes massas e, pois, trabalhe em favor do fortalecimento da democracia no país, com a modernização das nossas instituições políticas e o desenvolvimento de uma sociedade ativa e moderna”, declarou.

Para o secretário do Desenvolvimento de Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exte-rior (MDIC), Carlos Augusto Gadelha, voltar a ter uma indús-tria forte é premissa para o país crescer. Ele afirmou que a indústria alavanca o setor de serviços de alto valor agregado, é determinante para as taxas de exportação e paga salários mais altos, o que expande o poder de compra do mercado interno.

Por isso, Gadelha acredita que o fortalecimento da indús-tria é parte da solução e não do problema por que o país passa e o obriga a implementar um ajuste fiscal. “Não podemos ter uma agenda paralisante. Sabemos que o ajuste, neste momen-to, é essencial para o desenvolvimento, mas, em perspectiva, o desenvolvimento é fundamental para a saúde fiscal do país”, observou.

Produtividade – O secretário defendeu que o investimento em inovação tem que ser a marca do novo padrão de desenvolvi-mento buscado pelo país, junto com a melhoria do ambiente de negócios e redução dos custos e o aumento da produtividade.

“A recuperação da eficiência produtiva é central para reto-

R REPORTAGEM

RUMOS – 44 – Setembro/Outubro 2015 RUMOS – 45 – Setembro/Outubro 2015

marmos uma trajetória de desenvolvimento. É preciso investi-mento para ampliarmos e transformarmos a capacidade pro-dutiva do país, pois isso é fundamental para sermos mais com-petitivos. Esta é a agenda que está sendo decantada e trará mus-culatura para darmos o salto: produtividade, redução de custos e capacidade de inovação”, resumiu.

Na mesma linha, o presidente da Associação Brasileira de Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Carlos Pas-toriza, avaliou que a baixa produtividade é um dos principais entraves para o desenvolvimento da indústria brasileira e o cres-cimento econômico do país. Durante sua exposição, Pastoriza apresentou dados que, para ele, explicam em parte a baixa pro-dutividade do segmento.

Segundo o presidente, cer-ca de um terço dos equipamen-tos utilizados nas indústrias bra-sileiras possui mais de 25 anos de uso, o que faz com que a ida-de média do parque fabril bra-sileiro seja de 17 anos, enquan-to em países desenvolvidos este número é bem menor – na Alemanha, que Pastoriza citou como exemplo, são apenas sete anos. A idade avançada dos equipamentos representa para as fábricas do país deficiências como atraso tecnológico, perda de produtividade e maior quan-tidade de danos ambientais.

O resultado é que, em um comparativo, a taxa de produti-vidade alemã é quatro vezes superior à brasileira. “Não é porque, como alguns dizem, o trabalhador brasileiro trabalha menos. Pelo contrário. Mas é que o fator humano representa apenas 25% do índice de pro-dutividade, enquanto mais de 60% tem a ver exclusivamente com o capital físico à disposição do trabalhador”, informa Pas-toriza. “Se a gente não modernizar nosso capital físico, não há como aumentarmos a produtividade e alcançarmos o alto cres-cimento”, decreta.

Ele reforçou a ideia, já defendida por Carlos Augusto Gadelha, de que o fortalecimento da indústria é fundamental para um país como o Brasil. “Serviço é importante, claro, mas 50% desse setor também depende da indústria”, argumentou.

Em uma fala mais contundente, o presidente da Abimaq criticou as altas taxas de juros aplicadas no país e afirmou que elas são um fator de desestímulo para os empresários que dese-jam investir no Brasil, além de também serem danosas ao pró-prio governo, que compromete parte considerável do orça-mento para pagar os juros da dívida pública. “O sistema finan-ceiro brasileiro é tão distorcido a ponto de comprometer o futuro do país. Se não atacarmos isso, esses juros pornográfi-cos, não teremos indústria forte, produtividade, nem cresci-mento”, opinou.

Política – O vice-presidente da Associação Brasileira da

Indústria de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialida-des (Abifina), Nelson Brasil, defendeu que o Estado deva ser protagonista na tarefa de planejar o desenvolvimento econô-mico de longo prazo, a exemplo do que acontece com êxito em países asiáticos como China, Coreia do Sul, Índia e, mais recentemente, Indonésia.

“Esses países atribuíram ao Estado essa tarefa e isso resul-tou em índices de crescimento de 5 a 10% ao ano, enquanto no Brasil essa relevante política foi totalmente abandonada nos anos 1990, pelo pensamento neoliberal segundo o qual somente um mercado totalmente livre resolveria desajustes macroeconômicos”, afirmou.

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Receitas para o “alto crescimento”

Em gráficos, Nelson Brasil demonstrou que o crescimen-to do PIB entre 1980 e 2013 nos países que ele citou como exemplo foi bastante superior ao do Brasil no mesmo período, o que mostra a fragilidade da economia brasileira frente aos demais países desenvolvidos. Nas três décadas que ele listou, o Brasil cresceu a uma taxa média anual inferior a 3%, enquanto a China cresceu quase 10% ao ano; a Coreia do Sul, 6,33%; a Indonésia, 5,53%; e a Índia, 6,18%.

Ele lembrou que o Brasil possui as melhores condições glo-bais para o desenvolvimento em termo de recursos naturais, abundância de reservas aquíferas, ausência de problemas étni-cos, clima adequado e favorável relação área/população. Pedindo que o Ministério do Planejamento volte a ocupar um papel de coordenador estratégico no governo e que o Legisla-tivo seja partícipe na elaboração de um projeto de nação, Nel-son Brasil fez um chamado à construção coletiva de um proje-to de nação de longo prazo.

“Sem ódios ou preconceitos, temos que buscar conver-gências políticas para a definição de um grande projeto nacio-nal de longo prazo, a ser implementado pelos nossos repre-sentantes em diferentes mandatos governamentais com uma única visão de nação, mesmo que componentes de distintos partidos políticos”, pediu.

Questões políticas ocuparam espaço nas discussões sobre o fortalecimento da economia brasileira dentre os presentes do Fórum Nacional, no Rio de Janeiro.

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PPELO MUNDO

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Canadá atravessou a recessão de 2008-2009 com maior tranquilidade do que seus coirmãos entre as nações industrializadas do mundo. Mesmo que seu Produto Interno Bruto (PIB) tenha se contraído 2,7% em 2009, todas as demais nações

do G-7 tiveram desempenho pior.Ainda assim, foi um período difícil para as empresas e

para os consumidores canadenses. Em 2009, houve queda na renda per capita e no nível de emprego, além de elevação na taxa de desemprego, de 6,2% para 8,3%. A incerteza abalou o Sistema Financeiro Nacional e uma das consequências foi o represamento do crédito pelos bancos comerciais priva-dos do Canadá. O crédito disponível para negócios caiu 1,2% no período. Ou seja, no momento em que as Pequenas e Médias Empresas (PMEs) precisavam de mais capital e cré-dito para enfrentar a tempestade, elas tinham acesso a menos. Foi nesse período, contudo, que o Banco de Desenvolvimento do Canadá (BDC) reagiu ao aperto no mercado ampliando em 35% o comprometimento de sua carteira de crédito com a disponibilização de recursos para Pequenas e Médias Empresas.

O BDC é uma organização de propriedade da Coroa Federal, que opera como braço do governo canadense. É a única instituição financeira do país dedicada exclusivamente a empreendedores, com foco em Pequenas e Médias Empresas. Por meio de financiamentos diretos, serviços de consultoria e securitização, a missão do banco é contribuir para a criação e desenvolvimento de negócios sólidos no Canadá. Ele atende a mais de 30.000 clientes em todo o país, com carteira de crédito de CDN$ 21 bilhões em 2015 (cerca de US$ 18,9 bilhões). Seu principal papel é emprestar recur-sos a empresas que têm dificuldade em encontrar financia-mento no setor privado. Assim, o banco empresta a empresas que estão crescendo muito rapidamente e apresentam dificul-dades em serem atendidas por bancos privados, estão muito alavancadas, são novas ou consideradas muito arriscadas. Desde o início da recessão, seu papel se tornou ainda mais importante, porque o setor privado está limitando seu envol-vimento e deve até reconsiderar parte do crédito que ofere-ceu. Este apoio foi central durante a recessão e nos anos que se seguiram. De fato, o BDC publicará, em breve, um Estudo de Impactos Econômicos que examina o desempenho das Pequenas e Médias Empresas apoiadas pela instituição durante a recessão.

Um investimento com retorno – Cabe destacar uma desco-berta importante, que fará parte deste relatório. Ao comparar o desempenho dos clientes com o de “não clientes” dos ban-cos, os resultados mostram que os primeiros estão em melho-res condições, em termos de crescimento do lucro e da receita do que os outros. Isto não quer dizer que o BDC seja um con-corrente dos bancos comerciais privados canadenses. Ao con-trário, é uma relação complementar. A instituição usualmente estabelece parcerias com bancos comerciais em acordos financeiros com empresas, dividindo o montante do financia-mento para ajudar a mitigar o risco para o banco parceiro.

Sendo assim, não há uma relação de concorrência direta entre o BDC e seus congêneres privados. Ao contrário, em muitos casos há parceria em projetos de forma a garantir ao cliente a melhor opção nas operações.

Contudo, vale destacar que o papel do BDC é muito maior do que o de um simples emprestador. Um exemplo são os ser-viços de consultoria do banco, que têm como objetivo melho-rar a produtividade, acelerar o crescimento e aprimorar as capa-cidades organizacionais e de planejamento de seus clientes.

Considerando que as PMEs correspondem a quase dois terços dos empregos do Canadá e contribuem para cerca de metade do seu PIB, a garantia desta gama de serviços faz bas-tante sentido, do ponto de vista econômico. Além disso, é importante notar que o papel vital das Pequenas e Médias Empresas não é, de forma alguma, limitado ao Canadá, uma vez que são importantes para qualquer economia, sendo que em todo o mundo elas são a principal fonte de emprego.

O BDC e organizações similares de outros países se rela-cionam e trocam ideias sobre as melhores maneiras de contri-buir com suas respectivas economias e de combater os efeitos dos reveses econômicos. Nem todos os bancos de desenvol-vimento operam da mesma maneira, ou provêm a mesma for-ma de apoio direto a esse seguimento. A depender das cir-cunstâncias, o que funciona para determinado país pode não

atender a outro. De todo modo, tais diferenças criam oportu-nidades de aprendizado.

O surgimento do Grupo de Montreal – Por este motivo, o Banco de Desenvolvimento do Canadá capitaneou recente-mente a criação de um fórum internacional, chamado Grupo de Montreal. O grupo inclui bancos de desenvolvimento do Brasil, França, China, Finlândia, México, Índia e Rússia. Seu objetivo é promover o diálogo entre os participantes do gru-po, de modo a identificar e compartilhar melhores práticas em temas e produtos relevantes para estes bancos, como garantias para empréstimos internacionais, financiamento de ativos intangíveis, avaliação de desempenho, financiamento verde, além de disponibilizar serviços de consultoria.

O objetivo do grupo é permitir a comparação com outras experiências internacionais similares, proporcionando mui-tas reflexões sobre a atuação de cada entidade quando com-parada às congêneres no mundo. A ideia é aprender com os outros bancos sobre formas de proporcionar melhor apoio às empresas, de modo a cumprir o mandato do BDC de for-ma mais efetiva.

Tome-se o exemplo da Finlândia. Assim como o Canadá, este país possui regiões remotas, com infraestrutura relativa-mente pobre e populações autóctones. Todos os dois enfren-tam o mesmo desafio de atender adequadamente às empresas destas regiões. A Finlândia enfrenta outro desafio similar ao Canadá – um mercado doméstico pequeno, que leva à neces-sidade de exportar. Para ajudar a ampliar o mercado exporta-dor, a Finlândia encoraja suas empresas a pensar globalmen-te, tendo combinado seu banco de desenvolvimento com uma versão própria da agência de crédito para exportação do Canadá, a Export Development Canada.

A habilidade do BDC para continuar apoiando as Pequenas e Médias Empresas canadenses reside em sua capa-cidade de se adaptar e proporcionar o apoio adequado, no momento conveniente. No clima econômico volátil dos tem-pos atuais, nenhuma nação pode ignorar as lições aprendidas por outras, ou perder a oportunidade de construir sólidas redes de intercâmbio de ideias. Mesmo que ainda na infância, o Grupo de Montreal promete comprovar o ditado de que “uma onda em movimento carrega todos os barcos”. Ao tra-balhar com seus pares internacionais, o BDC pode aprender novas formas de aperfeiçoar seus instrumentos, em resposta às mudanças globais.

RUMOS – 48 – Setembro/Outubro 2015 RUMOS – 49 – Setembro/Outubro 2015

Pierre Cléroux

Divulgaçã

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O BDC usualmente estabelece parcerias com

bancos comerciais em acordos financeiros com empresas,

dividindo o montante do financiamento para ajudar a mitigar o risco para o banco

parceiro.

Uma contribuição vital para os negócios canadensesO décimo primeiro artigo da série “Pelo Mundo” trata do Banco de Desenvolvimento do Canadá (BDC) e sua atuação na economia do país. O artigo foi escrito por Pierre Cléroux, vice-presidente e economista chefe da instituição.

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PPELO MUNDO

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Canadá atravessou a recessão de 2008-2009 com maior tranquilidade do que seus coirmãos entre as nações industrializadas do mundo. Mesmo que seu Produto Interno Bruto (PIB) tenha se contraído 2,7% em 2009, todas as demais nações

do G-7 tiveram desempenho pior.Ainda assim, foi um período difícil para as empresas e

para os consumidores canadenses. Em 2009, houve queda na renda per capita e no nível de emprego, além de elevação na taxa de desemprego, de 6,2% para 8,3%. A incerteza abalou o Sistema Financeiro Nacional e uma das consequências foi o represamento do crédito pelos bancos comerciais priva-dos do Canadá. O crédito disponível para negócios caiu 1,2% no período. Ou seja, no momento em que as Pequenas e Médias Empresas (PMEs) precisavam de mais capital e cré-dito para enfrentar a tempestade, elas tinham acesso a menos. Foi nesse período, contudo, que o Banco de Desenvolvimento do Canadá (BDC) reagiu ao aperto no mercado ampliando em 35% o comprometimento de sua carteira de crédito com a disponibilização de recursos para Pequenas e Médias Empresas.

O BDC é uma organização de propriedade da Coroa Federal, que opera como braço do governo canadense. É a única instituição financeira do país dedicada exclusivamente a empreendedores, com foco em Pequenas e Médias Empresas. Por meio de financiamentos diretos, serviços de consultoria e securitização, a missão do banco é contribuir para a criação e desenvolvimento de negócios sólidos no Canadá. Ele atende a mais de 30.000 clientes em todo o país, com carteira de crédito de CDN$ 21 bilhões em 2015 (cerca de US$ 18,9 bilhões). Seu principal papel é emprestar recur-sos a empresas que têm dificuldade em encontrar financia-mento no setor privado. Assim, o banco empresta a empresas que estão crescendo muito rapidamente e apresentam dificul-dades em serem atendidas por bancos privados, estão muito alavancadas, são novas ou consideradas muito arriscadas. Desde o início da recessão, seu papel se tornou ainda mais importante, porque o setor privado está limitando seu envol-vimento e deve até reconsiderar parte do crédito que ofere-ceu. Este apoio foi central durante a recessão e nos anos que se seguiram. De fato, o BDC publicará, em breve, um Estudo de Impactos Econômicos que examina o desempenho das Pequenas e Médias Empresas apoiadas pela instituição durante a recessão.

Um investimento com retorno – Cabe destacar uma desco-berta importante, que fará parte deste relatório. Ao comparar o desempenho dos clientes com o de “não clientes” dos ban-cos, os resultados mostram que os primeiros estão em melho-res condições, em termos de crescimento do lucro e da receita do que os outros. Isto não quer dizer que o BDC seja um con-corrente dos bancos comerciais privados canadenses. Ao con-trário, é uma relação complementar. A instituição usualmente estabelece parcerias com bancos comerciais em acordos financeiros com empresas, dividindo o montante do financia-mento para ajudar a mitigar o risco para o banco parceiro.

Sendo assim, não há uma relação de concorrência direta entre o BDC e seus congêneres privados. Ao contrário, em muitos casos há parceria em projetos de forma a garantir ao cliente a melhor opção nas operações.

Contudo, vale destacar que o papel do BDC é muito maior do que o de um simples emprestador. Um exemplo são os ser-viços de consultoria do banco, que têm como objetivo melho-rar a produtividade, acelerar o crescimento e aprimorar as capa-cidades organizacionais e de planejamento de seus clientes.

Considerando que as PMEs correspondem a quase dois terços dos empregos do Canadá e contribuem para cerca de metade do seu PIB, a garantia desta gama de serviços faz bas-tante sentido, do ponto de vista econômico. Além disso, é importante notar que o papel vital das Pequenas e Médias Empresas não é, de forma alguma, limitado ao Canadá, uma vez que são importantes para qualquer economia, sendo que em todo o mundo elas são a principal fonte de emprego.

O BDC e organizações similares de outros países se rela-cionam e trocam ideias sobre as melhores maneiras de contri-buir com suas respectivas economias e de combater os efeitos dos reveses econômicos. Nem todos os bancos de desenvol-vimento operam da mesma maneira, ou provêm a mesma for-ma de apoio direto a esse seguimento. A depender das cir-cunstâncias, o que funciona para determinado país pode não

atender a outro. De todo modo, tais diferenças criam oportu-nidades de aprendizado.

O surgimento do Grupo de Montreal – Por este motivo, o Banco de Desenvolvimento do Canadá capitaneou recente-mente a criação de um fórum internacional, chamado Grupo de Montreal. O grupo inclui bancos de desenvolvimento do Brasil, França, China, Finlândia, México, Índia e Rússia. Seu objetivo é promover o diálogo entre os participantes do gru-po, de modo a identificar e compartilhar melhores práticas em temas e produtos relevantes para estes bancos, como garantias para empréstimos internacionais, financiamento de ativos intangíveis, avaliação de desempenho, financiamento verde, além de disponibilizar serviços de consultoria.

O objetivo do grupo é permitir a comparação com outras experiências internacionais similares, proporcionando mui-tas reflexões sobre a atuação de cada entidade quando com-parada às congêneres no mundo. A ideia é aprender com os outros bancos sobre formas de proporcionar melhor apoio às empresas, de modo a cumprir o mandato do BDC de for-ma mais efetiva.

Tome-se o exemplo da Finlândia. Assim como o Canadá, este país possui regiões remotas, com infraestrutura relativa-mente pobre e populações autóctones. Todos os dois enfren-tam o mesmo desafio de atender adequadamente às empresas destas regiões. A Finlândia enfrenta outro desafio similar ao Canadá – um mercado doméstico pequeno, que leva à neces-sidade de exportar. Para ajudar a ampliar o mercado exporta-dor, a Finlândia encoraja suas empresas a pensar globalmen-te, tendo combinado seu banco de desenvolvimento com uma versão própria da agência de crédito para exportação do Canadá, a Export Development Canada.

A habilidade do BDC para continuar apoiando as Pequenas e Médias Empresas canadenses reside em sua capa-cidade de se adaptar e proporcionar o apoio adequado, no momento conveniente. No clima econômico volátil dos tem-pos atuais, nenhuma nação pode ignorar as lições aprendidas por outras, ou perder a oportunidade de construir sólidas redes de intercâmbio de ideias. Mesmo que ainda na infância, o Grupo de Montreal promete comprovar o ditado de que “uma onda em movimento carrega todos os barcos”. Ao tra-balhar com seus pares internacionais, o BDC pode aprender novas formas de aperfeiçoar seus instrumentos, em resposta às mudanças globais.

RUMOS – 48 – Setembro/Outubro 2015 RUMOS – 49 – Setembro/Outubro 2015

Pierre Cléroux

Divulgaçã

o

O BDC usualmente estabelece parcerias com

bancos comerciais em acordos financeiros com empresas,

dividindo o montante do financiamento para ajudar a mitigar o risco para o banco

parceiro.

Uma contribuição vital para os negócios canadensesO décimo primeiro artigo da série “Pelo Mundo” trata do Banco de Desenvolvimento do Canadá (BDC) e sua atuação na economia do país. O artigo foi escrito por Pierre Cléroux, vice-presidente e economista chefe da instituição.

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O Banco de Brasília apoiou a realização do 1º Fórum HSM sobre Gestão Pública, ocorrido em setembro, na capi-tal federal. Entre os participantes do encontro, estiveram presentes Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York, Vicente Falconi, consultor de gestão no Brasil, Rivadávia Drummond, presidente da HSM Educação Executiva e pro-fessor especializado em gestão da inovação, e Clóvis de Bar-ros, acadêmico e pesquisador da Unesco.

O presidente do BRB, Vasco Gonçalves (foto), partici-pou do fórum e destacou que no encontro seria possível adquirir o maior número de informações e de conhecimen-to em gestão pública: “Foi uma oportunidade de conhecer projetos e ações implantadas, inclusive em outros países; adaptá-las para a realidade do BRB; e com isso, contribuir ainda mais com o crescimento e o aperfeiçoamento da insti-tuição”, explica o presidente.

RUMOS – – Setembro/Outubro 2015 50 RUMOS – – Setembro/Outubro 2015 51

A direto-ra-técnica do Sebrae, Heloí-sa Menezes, e o presidente do Banco do N o r d e s t e (BNB), Mar-cos Holanda, realizaram em setembro, em Fortaleza, uma reunião para operacionalização do Acordo de Cooperação Técnica entre as duas instituições. Assinado em 31 de julho, no 21º Fórum do Banco do Nor-deste de Desenvolvimento, o acordo tem o objetivo de esti-mular a produtividade e a competitividade dos pequenos negócios da região e prevê que as duas entidades vão dar ori-entações sobre capacitação técnica e gerencial, financiamen-to e acesso a crédito.

No encontro, discutiu-se o desenvolvimento de ações de capacitação para as equipes das duas instituições sobre temas como acesso aos serviços financeiros e a participação em feiras de negócios, projetos e eventos promovidos pelas duas institui-ções com foco nas micro e pequenas empresas.

O presidente do Banco do Nordeste, Marcos Holanda, clas-sificou o acordo como “um desafio importante, que vai ajudar o trabalho das duas instituições”. Para a diretora-técnica do Sebrae, Heloísa Menezes, o acordo vai permitir homogeneizar procedimentos e aumentar a escala e a capacidade de execução de projetos e serviços oferecidos. “Esse acordo é particular-mente importante, principalmente nesse momento econômi-co, onde precisamos potencializar os resultados dos recursos investidos e, ao mesmo tempo, manter um processo de fina observação para adequar ou até criar novos produtos, tanto no âmbito do BNB quanto no do Sebrae”, enfatizou.

F FOMENTO

Com o objetivo de aumentar a capacidade de atendimento ao público, além de oferecer maior agilidade e conforto a clientes e colabo-radores, a Agência de Fomento do Estado do Tocantins inaugurou nova sede. As novas instalações contam com 31 salas estruturadas para suprir as demandas operacionais da insti-tuição.

Durante a inauguração, foi lançada uma linha de crédito voltada aos taxistas de Palmas para a renovação da sua frota de carros, visando

o melhor atendimento aos visitantes que chegam à cidade. A interface na web também foi renovada, com o lançamento do novo site da instituição, mais moderno e que atenderá às demandas exigidas por uma instituição financeira de desenvol-vimento, como pré-atendimento e serviços disponíveis aos clientes, tais como a simulação de crédito e a emissão de boleto.

AgeRio concede financiamento para projeto de inovação

A Agência Estadual de Fomento (AgeRio) financiou, com R$ 2 milhões, um projeto inovador da empresa Pixel House, pela linha Inovacred. Com a operação, a agência se tornou a primeira instituição a se credenciar e utilizar o FGI Livre, do BNDES.

O projeto financiado consistiu no desenvolvimen-to de uma nova plataforma Web to Print, com o objetivo de oferecer diversas funcio-nalidades para que os clientes e usuários possam solicitar impressões e montagens de fotografias digitalizadas.

Com uma tecnologia pioneira no Brasil, o projeto da Pixel House consiste em imprimir fotos, montar foto-livros e fotoprodutos perso-nalizados online e entregar em

Por meio da linha de financiamento Badesul Cidades, a agência de fomento do Rio Grande do Sul irá destinar o mon-tante de R$ 19.376.250,00 para 14 municípios investirem em infraestrutura urbana, infraestrutura de redes de comunicação, construção de centros administrativos, entre outras melhorias. O anúncio, feito durante a Expointer, terá impacto na vida de 153.000 gaúchas e gaúchos. Na ocasião, a presidente do Bade-sul, Susana Kakuta, destacou a importância da instituição como agente colaborador da ampliação da infraestrutura do desenvolvimento dos municípios gaúchos. “Consolidar a infraestrutura básica ao desenvolvimento de municípios é uma forma concreta do Badesul auxiliá-los no enfrentamento da crise e na construção de um futuro melhor para o RS”, ressaltou Kakuta.

Badesul Cidades financiará R$ 19,3 mi para investimentosem 14 municípios

O município de Almeirim, região do Baixo Amazonas, no oeste paraense, está em festa pelos 125 anos de funda-ção. No f im de agosto, o governa-dor Simão Jatene

participou da programação de comemoração do aniversário da cidade com a entrega da nova agência do Banpará no municí-pio. Com uma estrutura moderna e amplo espaço físico, a nova unidade bancária tem como objetivo proporcionar um atendi-mento ágil e eficiente à população.

O gerente geral da Agência Almeirim, Marcos Eduardo Campos, fala sobre os benefícios que a nova agência vai pro-porcionar para os clientes. “O Banpará, chega a Almeirim trazendo um resgate do compromisso em ser o banco do povo paraense! Digo isso porque a população local e das adjacências ganha muito com nossa chegada. Além da como-didade gerada, outro fator preponderante de nossa instalação no município é possibilitar que a população seja beneficiada economicamente”, conclui.

O diretor de crédito e fomento do Banpará, Jorge Antunes, lembrou que até 2011 havia 42 agências Banpará e que esse número praticamente dobrou. “Com o Banpará de Almeirim completamos 82 agências. Ou seja, nos últimos quatro anos o banco duplicou sua estrutura, graças ao apoio do governo do Estado”, reiterou Jorge Antunes ao destacar que até o final de 2015 serão 101 agências inauguradas. A Agência Almeirim está localizada na Rua São Benedito, nº 1035.

Agência de Fomento do Estado do Tocantins tem nova sede

Banpará expande atuação no Baixo Amazonas

BRB participa de fórum sobre gestão pública

Sebrae e Banco do Nordeste discutem capacitação e crédito

casa. Desde 2004 no mercado de fotografia digital, a Pixel House tem como clientes Oi Fotos, IG Fotos, Porang! e Nicephotos.

Em outra frente, a agência também aprovou recente-mente um financiamento de R$ 200 mil com a produtora MPC Filmes, que atua nas áreas de produção e difusão de conteúdo audiovisual. A empresa, que possui vinte funcionários e tem em sua trajetória filmes como “Ama-zônia – Heranças de uma Utopia”, “A Ópera do Malan-dro” e “A Esperança é a Últi-ma que Morre”, está no seu segundo financiamento com a AgeRio – o primeiro foi realizado no ano de 2012, pela linha do BNDES PER.

A Agência de Fomen-to do Estado de Santa Catarina (Badesc), por meio de seu presidente, assinou, em setembro, a liberação de recursos para a recuperação de empre-endimentos afetados pelo tornado ocorrido na região de Xanxerê em abril deste ano. Os contratos fazem parte do programa Badesc Emergencial Juro Zero no valor de R$ 10 milhões. O presidente da agência, Olívio Rocha, desta-cou que o “Badesc tem profunda experiência com o auxílio às empresas que atravessam grandes dificuldades durante desas-tres metereológicos e mais uma vez está presente na recupera-ção econômica de importantes municípios de Santa Catarina”.

Badesc libera recursos delinha emergencial

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O Banco de Brasília apoiou a realização do 1º Fórum HSM sobre Gestão Pública, ocorrido em setembro, na capi-tal federal. Entre os participantes do encontro, estiveram presentes Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York, Vicente Falconi, consultor de gestão no Brasil, Rivadávia Drummond, presidente da HSM Educação Executiva e pro-fessor especializado em gestão da inovação, e Clóvis de Bar-ros, acadêmico e pesquisador da Unesco.

O presidente do BRB, Vasco Gonçalves (foto), partici-pou do fórum e destacou que no encontro seria possível adquirir o maior número de informações e de conhecimen-to em gestão pública: “Foi uma oportunidade de conhecer projetos e ações implantadas, inclusive em outros países; adaptá-las para a realidade do BRB; e com isso, contribuir ainda mais com o crescimento e o aperfeiçoamento da insti-tuição”, explica o presidente.

RUMOS – – Setembro/Outubro 2015 50 RUMOS – – Setembro/Outubro 2015 51

A direto-ra-técnica do Sebrae, Heloí-sa Menezes, e o presidente do Banco do N o r d e s t e (BNB), Mar-cos Holanda, realizaram em setembro, em Fortaleza, uma reunião para operacionalização do Acordo de Cooperação Técnica entre as duas instituições. Assinado em 31 de julho, no 21º Fórum do Banco do Nor-deste de Desenvolvimento, o acordo tem o objetivo de esti-mular a produtividade e a competitividade dos pequenos negócios da região e prevê que as duas entidades vão dar ori-entações sobre capacitação técnica e gerencial, financiamen-to e acesso a crédito.

No encontro, discutiu-se o desenvolvimento de ações de capacitação para as equipes das duas instituições sobre temas como acesso aos serviços financeiros e a participação em feiras de negócios, projetos e eventos promovidos pelas duas institui-ções com foco nas micro e pequenas empresas.

O presidente do Banco do Nordeste, Marcos Holanda, clas-sificou o acordo como “um desafio importante, que vai ajudar o trabalho das duas instituições”. Para a diretora-técnica do Sebrae, Heloísa Menezes, o acordo vai permitir homogeneizar procedimentos e aumentar a escala e a capacidade de execução de projetos e serviços oferecidos. “Esse acordo é particular-mente importante, principalmente nesse momento econômi-co, onde precisamos potencializar os resultados dos recursos investidos e, ao mesmo tempo, manter um processo de fina observação para adequar ou até criar novos produtos, tanto no âmbito do BNB quanto no do Sebrae”, enfatizou.

F FOMENTO

Com o objetivo de aumentar a capacidade de atendimento ao público, além de oferecer maior agilidade e conforto a clientes e colabo-radores, a Agência de Fomento do Estado do Tocantins inaugurou nova sede. As novas instalações contam com 31 salas estruturadas para suprir as demandas operacionais da insti-tuição.

Durante a inauguração, foi lançada uma linha de crédito voltada aos taxistas de Palmas para a renovação da sua frota de carros, visando

o melhor atendimento aos visitantes que chegam à cidade. A interface na web também foi renovada, com o lançamento do novo site da instituição, mais moderno e que atenderá às demandas exigidas por uma instituição financeira de desenvol-vimento, como pré-atendimento e serviços disponíveis aos clientes, tais como a simulação de crédito e a emissão de boleto.

AgeRio concede financiamento para projeto de inovação

A Agência Estadual de Fomento (AgeRio) financiou, com R$ 2 milhões, um projeto inovador da empresa Pixel House, pela linha Inovacred. Com a operação, a agência se tornou a primeira instituição a se credenciar e utilizar o FGI Livre, do BNDES.

O projeto financiado consistiu no desenvolvimen-to de uma nova plataforma Web to Print, com o objetivo de oferecer diversas funcio-nalidades para que os clientes e usuários possam solicitar impressões e montagens de fotografias digitalizadas.

Com uma tecnologia pioneira no Brasil, o projeto da Pixel House consiste em imprimir fotos, montar foto-livros e fotoprodutos perso-nalizados online e entregar em

Por meio da linha de financiamento Badesul Cidades, a agência de fomento do Rio Grande do Sul irá destinar o mon-tante de R$ 19.376.250,00 para 14 municípios investirem em infraestrutura urbana, infraestrutura de redes de comunicação, construção de centros administrativos, entre outras melhorias. O anúncio, feito durante a Expointer, terá impacto na vida de 153.000 gaúchas e gaúchos. Na ocasião, a presidente do Bade-sul, Susana Kakuta, destacou a importância da instituição como agente colaborador da ampliação da infraestrutura do desenvolvimento dos municípios gaúchos. “Consolidar a infraestrutura básica ao desenvolvimento de municípios é uma forma concreta do Badesul auxiliá-los no enfrentamento da crise e na construção de um futuro melhor para o RS”, ressaltou Kakuta.

Badesul Cidades financiará R$ 19,3 mi para investimentosem 14 municípios

O município de Almeirim, região do Baixo Amazonas, no oeste paraense, está em festa pelos 125 anos de funda-ção. No f im de agosto, o governa-dor Simão Jatene

participou da programação de comemoração do aniversário da cidade com a entrega da nova agência do Banpará no municí-pio. Com uma estrutura moderna e amplo espaço físico, a nova unidade bancária tem como objetivo proporcionar um atendi-mento ágil e eficiente à população.

O gerente geral da Agência Almeirim, Marcos Eduardo Campos, fala sobre os benefícios que a nova agência vai pro-porcionar para os clientes. “O Banpará, chega a Almeirim trazendo um resgate do compromisso em ser o banco do povo paraense! Digo isso porque a população local e das adjacências ganha muito com nossa chegada. Além da como-didade gerada, outro fator preponderante de nossa instalação no município é possibilitar que a população seja beneficiada economicamente”, conclui.

O diretor de crédito e fomento do Banpará, Jorge Antunes, lembrou que até 2011 havia 42 agências Banpará e que esse número praticamente dobrou. “Com o Banpará de Almeirim completamos 82 agências. Ou seja, nos últimos quatro anos o banco duplicou sua estrutura, graças ao apoio do governo do Estado”, reiterou Jorge Antunes ao destacar que até o final de 2015 serão 101 agências inauguradas. A Agência Almeirim está localizada na Rua São Benedito, nº 1035.

Agência de Fomento do Estado do Tocantins tem nova sede

Banpará expande atuação no Baixo Amazonas

BRB participa de fórum sobre gestão pública

Sebrae e Banco do Nordeste discutem capacitação e crédito

casa. Desde 2004 no mercado de fotografia digital, a Pixel House tem como clientes Oi Fotos, IG Fotos, Porang! e Nicephotos.

Em outra frente, a agência também aprovou recente-mente um financiamento de R$ 200 mil com a produtora MPC Filmes, que atua nas áreas de produção e difusão de conteúdo audiovisual. A empresa, que possui vinte funcionários e tem em sua trajetória filmes como “Ama-zônia – Heranças de uma Utopia”, “A Ópera do Malan-dro” e “A Esperança é a Últi-ma que Morre”, está no seu segundo financiamento com a AgeRio – o primeiro foi realizado no ano de 2012, pela linha do BNDES PER.

A Agência de Fomen-to do Estado de Santa Catarina (Badesc), por meio de seu presidente, assinou, em setembro, a liberação de recursos para a recuperação de empre-endimentos afetados pelo tornado ocorrido na região de Xanxerê em abril deste ano. Os contratos fazem parte do programa Badesc Emergencial Juro Zero no valor de R$ 10 milhões. O presidente da agência, Olívio Rocha, desta-cou que o “Badesc tem profunda experiência com o auxílio às empresas que atravessam grandes dificuldades durante desas-tres metereológicos e mais uma vez está presente na recupera-ção econômica de importantes municípios de Santa Catarina”.

Badesc libera recursos delinha emergencial

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RUMOS – 53 – Setembro/Outubro 2015

primeiro volume dessa série foi lançado em 2006, há quase dez anos. O que mudou no panorama

nesse período em relação à questão traba-lhista brasileira?Ricardo Antunes – Naquele momento, quan-do lançamos o livro, o primeiro mandato do pre-sidente Lula estava terminando e já se viam algu-mas tendências no mercado de trabalho: índice alto ainda de informalidade (mesmo que não nos níveis agudos da década de 1990), aumento da terceirização e a expansão do setor de servi-ços, dando origem ao que venho chamando do novo proletariado de serviços. Essas tendências se intensificaram de lá para cá. Passado o perío-do de crescimento do mercado de trabalho, até 2012, o que estamos vendo nos últimos anos, com clara e trágica tendência de se intensificar? Saímos daquela fase do “mito do Brasil em que tudo dava certo” e vemos um aumento expo-nencial do desemprego e da informalidade, além de uma epidemia de terceirização, com pelo menos 13 milhões de pessoas nessa situação. Agora estamos na iminência de ver alterada a legislação social protetora do trabalho no que concerne à terceirização. Se for aprovada a terceirização total, sem a distinção da atividade-meio e atividade-fim, significaria rasgar a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) no Brasil.

Rumos – O senhor tem um artigo no livro em que se posi-ciona contra a terceirização, mas alguns estudiosos e espe-cialistas dizem que esse é um processo irreversível na rea-lidade do trabalho no mundo de hoje. O que acha?Antunes – Que as empresas e “seus” intelectuais digam que a terceirização é inevitável não me surpreende. Eles estão sendo pagos para isso. Mas não existe processo irreversível na Histó-ria, porque a História não é uma construção ideal feita por um ente secreto que, do céu ou do inferno, diz para onde a huma-nidade caminha. Então, isso é uma construção ideológica. A terceirização é um processo imposto pelas empresas transna-cionais em escala global, que vêm pressionando com muita for-ça os governos. Não é uma coisa inevitável, mas uma imposi-ção de uma lógica financeira que concebe o trabalho como cus-to e quer corroer os direitos do trabalho até a medula, mas não pode eliminá-lo porque o capital não se reproduz sem força humana. Aliás, se a terceirização fosse inevitável não haveria resistência. E o que vemos é que nos lugares onde há resistên-cia, como na França e Alemanha, a terceirização é limitada e restringida; onde não há, como nos Estados Unidos e Ingla-

Novas realidades no mundo do trabalho

L LIVROS

terra, ela é vorazmente ampliada. Cabe ao movimento sindical e também aos movi-mentos sociais a resistência contra a tercei-rização.

Rumos – Existe na obra desde artigos mais teóricos até outros bastante empí-ricos, com estudos de casos. Qual a importância de conjugar esses modelos?Antunes – Nosso esforço é fazer artigos empíricos com reflexão. Às vezes um artigo empírico é tão rico que por si só já descorti-na o novo; de outro lado, alguns textos teó-ricos aparentemente muito abstratos são vitais, pois ajudam a oferecer o pano de fun-do mais amplo onde conceitualmente os temas empíricos se remetem. Um livro só teórico e abstrato seria insuficiente, assim como um livro só empírico e factual. Arti-cular e fazer as devidas mediações entre a empiricidade e a devida análise e reflexão, a

meu juízo, é um bom caminho para se fazer pesquisa científica dos estudos do trabalho.

Rumos – Este é um livro denso, com 24 artigos de autores importantes. Que reflexões este conjunto de texto traz, em síntese? Existe alguma linha que guia esses pensamentos?Antunes – Existem fios condutores. Primeiro, os temáticos: na primeira parte, uma análise global do que se passa com o mundo do trabalho, com autores de várias partes do mundo e temas como o fenômeno explosivo das migrações e a redução da jor-nada de trabalho nos países mais avançados; na segunda, exis-tem análises muito concretas do caso brasileiro, refletindo sobre categorias diversas, desde trabalhadores rurais e da indústria metalúrgica, até trabalhadores da arquitetura, da construção civil e das artes, pensando também regionalmente; e na terceira parte, apresentamos as formas possíveis de resistência – sindi-catos que atuam fortemente, empresas com autogestão, expe-riência de trabalhadores que ocupam fábricas, entre outros.

Além disso, o conjunto possui um perfil claro: são pesqui-sas críticas e independentes, não há pesquisas pagas por empresas. Sem pesquisas independentes não é possível aquila-tar o que se passa no espaço da fábrica porque sempre haverá a vedação daquelas instituições que sustentam a pesquisa. É evi-dente que o livro tem a entonação crítica como determinação, pois não existe uma isenção absoluta de valores nas pesquisas das Ciências Sociais, mas há muita pluralidade e diferença, den-tro de um respeito à pesquisa científica rigorosa.

A Rumos conversou com Ricardo Antunes, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp e autor de livros e trabalhos publicados em mais de dez países. Ele é o organizador da série Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil, que começou como um livro único e, devido à boa receptividade, está em seu terceiro volume – com o quarto e quinto volumes a caminho. Na entrevista, ele apresenta alguns dos temas destacados na obra e defende sua posição contra a “epidemia da terceirização” no país.

RUMOS – 52 – Setembro/Outubro 2015

O

Em tempos de turbulência, nada melhor do que a reflexão para encontrar novos eixos ou reorganizar os atuais. Para ajudar a pensar, o economista André Lara Resende, em seu novo livro, traz para o papel a experiência de uma vida atuando tanto no setor priva-do como público, tendo sido um dos formuladores dos planos Cru-zado (1986) e Real (1994). No livro, uma compilação de 13 arti-gos de diferentes épocas, divididos em três grandes grupos: “As fortu-nas do crescimento”, “das insatis-fações difusas” e “para repensar o Estado”, o autor detalha a cons-trução do Produto Interno Bruto e sua importância, analisa o papel do Estado e seu tamanho e discute o mito de se buscarem taxas de crescimento contínuas.

O texto bem escrito flerta com o erudito, ao mesmo tempo que convida o leitor a ver como tais

Tempos atuais

questões dialogam com sua vida. A obra é mais uma ferramenta para quem quer entender a rea-lidade brasileira.

Devagar e Simples - Economia, Estado e Vida ContemporâneaAndré Lara ResendeCompanhia das Letras, 216 p.,2015.

Em sua 15ª edição, o “Cader-nos do Desenvolvimento”, edita-do pelo Centro Internacional Cel-so Furtado, traz uma entrevista com o brigadeiro Sérgio Xavier Ferolla, um nacionalista convicto que prestou relevantes contribui-ções para o desenvolvimento eco-nômico do país, tendo exercido cargos importantes, como o de diretor do Centro Técnico Aero-espacial (CTA) e o de ministro do Superior Tribunal Militar.

Também compõem o livro seis artigos que passam por temas como a inserção externa da econo-mia brasileira entre os anos de 1996 e 2009, a teoria econômica frente à crise financeira e um estu-do de caso sobre o efeito do pro-grama Famílias em Ação para a sua-vização do consumo na Colômbia. A obra conta ainda com uma rese-nha do livro A construção política do Brasil, de Luiz Carlos Bresser-

Desenvolvimento em debate

Cadernos do DesenvolvimentoCentro Internacional Celso Furtado, 204 p., 2015.

Pereira, realizada pelo professor do Instituto de Economia da Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presi-dente da Associação Key-nesiana Brasileira, José Luis Oreiro.

O capitalismo está saindo len-tamente do palco mundial e o sur-gimento da Internet das Coisas tem levado à ascensão de um novo sistema econômico que está trans-formando o modo de vida em soci-edade. Essa é a tese do economista Jeremy Rifkin, que, neste livro, explica como a Internet das Comu-nicações, da Energia e dos Trans-portes está convergindo para criar uma rede neural global, uma estrutura inteligente e indissolúvel que tem acelerado a produtividade e reduzido o custo marginal de pro-duzir e distribuir unidades adicio-nais de bens e serviços a pratica-mente zero.

Como resultado, o lucro cor-porativo começa a secar, os direi-tos de propriedade perdem força e a noção convencional de escassez econômica dá lugar à possibilidade de abundância à medida que seto-

Novo mundo

res inteiros da economia ingressam na web com custo marginal zero. O desafio é garantir a segu-rança dos dados e a pro-teção do sigilo pessoal em um mundo aberto, transparente e conectado globalmente.

Sociedade com custo marginal zeroJeremy RifkinM.Books, 400 p., 2015.

Reconstituindo os aconteci-mentos políticos mais importan-tes no mundo desde o fim da Segunda Guerra até os dias atuais, o historiador inglês Perry Ander-son faz uma análise nesta obra das principais inflexões da política externa dos Estados Unidos nos últimos setenta anos. Em sua aná-lise crítica, ele expõe sobre como foram tecidas as bases ideológicas, políticas, militares e institucionais em que se sustenta, atualmente, o poder imperial do país. A obra, sucinta, se inscreve dentro da lite-ratura crítica do imperialismo, mas não repete os seus argumentos clássicos.

O livro traz uma compilação de ensaios publicados original-mente na New Left Review (NLR), divididos em duas partes: Império e Conselho, em que o autor se debruça sobre o pensamento dos

Hegemonia norte-americana

principais analistas estra-tégicos do establishment norte-americano, e, ao mesmo tempo, delimita seu campo de análise ao se diferenciar da extensa literatura já existente sobre o tema.

A política externa norte-americana e seus teóricosPerry AndersonBoitempo, 224 p., 2015.

Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil IIIRicardo Antunes (org.)Boitempo, 464 p., 2014.

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RUMOS – 53 – Setembro/Outubro 2015

primeiro volume dessa série foi lançado em 2006, há quase dez anos. O que mudou no panorama

nesse período em relação à questão traba-lhista brasileira?Ricardo Antunes – Naquele momento, quan-do lançamos o livro, o primeiro mandato do pre-sidente Lula estava terminando e já se viam algu-mas tendências no mercado de trabalho: índice alto ainda de informalidade (mesmo que não nos níveis agudos da década de 1990), aumento da terceirização e a expansão do setor de servi-ços, dando origem ao que venho chamando do novo proletariado de serviços. Essas tendências se intensificaram de lá para cá. Passado o perío-do de crescimento do mercado de trabalho, até 2012, o que estamos vendo nos últimos anos, com clara e trágica tendência de se intensificar? Saímos daquela fase do “mito do Brasil em que tudo dava certo” e vemos um aumento expo-nencial do desemprego e da informalidade, além de uma epidemia de terceirização, com pelo menos 13 milhões de pessoas nessa situação. Agora estamos na iminência de ver alterada a legislação social protetora do trabalho no que concerne à terceirização. Se for aprovada a terceirização total, sem a distinção da atividade-meio e atividade-fim, significaria rasgar a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) no Brasil.

Rumos – O senhor tem um artigo no livro em que se posi-ciona contra a terceirização, mas alguns estudiosos e espe-cialistas dizem que esse é um processo irreversível na rea-lidade do trabalho no mundo de hoje. O que acha?Antunes – Que as empresas e “seus” intelectuais digam que a terceirização é inevitável não me surpreende. Eles estão sendo pagos para isso. Mas não existe processo irreversível na Histó-ria, porque a História não é uma construção ideal feita por um ente secreto que, do céu ou do inferno, diz para onde a huma-nidade caminha. Então, isso é uma construção ideológica. A terceirização é um processo imposto pelas empresas transna-cionais em escala global, que vêm pressionando com muita for-ça os governos. Não é uma coisa inevitável, mas uma imposi-ção de uma lógica financeira que concebe o trabalho como cus-to e quer corroer os direitos do trabalho até a medula, mas não pode eliminá-lo porque o capital não se reproduz sem força humana. Aliás, se a terceirização fosse inevitável não haveria resistência. E o que vemos é que nos lugares onde há resistên-cia, como na França e Alemanha, a terceirização é limitada e restringida; onde não há, como nos Estados Unidos e Ingla-

Novas realidades no mundo do trabalho

L LIVROS

terra, ela é vorazmente ampliada. Cabe ao movimento sindical e também aos movi-mentos sociais a resistência contra a tercei-rização.

Rumos – Existe na obra desde artigos mais teóricos até outros bastante empí-ricos, com estudos de casos. Qual a importância de conjugar esses modelos?Antunes – Nosso esforço é fazer artigos empíricos com reflexão. Às vezes um artigo empírico é tão rico que por si só já descorti-na o novo; de outro lado, alguns textos teó-ricos aparentemente muito abstratos são vitais, pois ajudam a oferecer o pano de fun-do mais amplo onde conceitualmente os temas empíricos se remetem. Um livro só teórico e abstrato seria insuficiente, assim como um livro só empírico e factual. Arti-cular e fazer as devidas mediações entre a empiricidade e a devida análise e reflexão, a

meu juízo, é um bom caminho para se fazer pesquisa científica dos estudos do trabalho.

Rumos – Este é um livro denso, com 24 artigos de autores importantes. Que reflexões este conjunto de texto traz, em síntese? Existe alguma linha que guia esses pensamentos?Antunes – Existem fios condutores. Primeiro, os temáticos: na primeira parte, uma análise global do que se passa com o mundo do trabalho, com autores de várias partes do mundo e temas como o fenômeno explosivo das migrações e a redução da jor-nada de trabalho nos países mais avançados; na segunda, exis-tem análises muito concretas do caso brasileiro, refletindo sobre categorias diversas, desde trabalhadores rurais e da indústria metalúrgica, até trabalhadores da arquitetura, da construção civil e das artes, pensando também regionalmente; e na terceira parte, apresentamos as formas possíveis de resistência – sindi-catos que atuam fortemente, empresas com autogestão, expe-riência de trabalhadores que ocupam fábricas, entre outros.

Além disso, o conjunto possui um perfil claro: são pesqui-sas críticas e independentes, não há pesquisas pagas por empresas. Sem pesquisas independentes não é possível aquila-tar o que se passa no espaço da fábrica porque sempre haverá a vedação daquelas instituições que sustentam a pesquisa. É evi-dente que o livro tem a entonação crítica como determinação, pois não existe uma isenção absoluta de valores nas pesquisas das Ciências Sociais, mas há muita pluralidade e diferença, den-tro de um respeito à pesquisa científica rigorosa.

A Rumos conversou com Ricardo Antunes, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp e autor de livros e trabalhos publicados em mais de dez países. Ele é o organizador da série Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil, que começou como um livro único e, devido à boa receptividade, está em seu terceiro volume – com o quarto e quinto volumes a caminho. Na entrevista, ele apresenta alguns dos temas destacados na obra e defende sua posição contra a “epidemia da terceirização” no país.

RUMOS – 52 – Setembro/Outubro 2015

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Em tempos de turbulência, nada melhor do que a reflexão para encontrar novos eixos ou reorganizar os atuais. Para ajudar a pensar, o economista André Lara Resende, em seu novo livro, traz para o papel a experiência de uma vida atuando tanto no setor priva-do como público, tendo sido um dos formuladores dos planos Cru-zado (1986) e Real (1994). No livro, uma compilação de 13 arti-gos de diferentes épocas, divididos em três grandes grupos: “As fortu-nas do crescimento”, “das insatis-fações difusas” e “para repensar o Estado”, o autor detalha a cons-trução do Produto Interno Bruto e sua importância, analisa o papel do Estado e seu tamanho e discute o mito de se buscarem taxas de crescimento contínuas.

O texto bem escrito flerta com o erudito, ao mesmo tempo que convida o leitor a ver como tais

Tempos atuais

questões dialogam com sua vida. A obra é mais uma ferramenta para quem quer entender a rea-lidade brasileira.

Devagar e Simples - Economia, Estado e Vida ContemporâneaAndré Lara ResendeCompanhia das Letras, 216 p.,2015.

Em sua 15ª edição, o “Cader-nos do Desenvolvimento”, edita-do pelo Centro Internacional Cel-so Furtado, traz uma entrevista com o brigadeiro Sérgio Xavier Ferolla, um nacionalista convicto que prestou relevantes contribui-ções para o desenvolvimento eco-nômico do país, tendo exercido cargos importantes, como o de diretor do Centro Técnico Aero-espacial (CTA) e o de ministro do Superior Tribunal Militar.

Também compõem o livro seis artigos que passam por temas como a inserção externa da econo-mia brasileira entre os anos de 1996 e 2009, a teoria econômica frente à crise financeira e um estu-do de caso sobre o efeito do pro-grama Famílias em Ação para a sua-vização do consumo na Colômbia. A obra conta ainda com uma rese-nha do livro A construção política do Brasil, de Luiz Carlos Bresser-

Desenvolvimento em debate

Cadernos do DesenvolvimentoCentro Internacional Celso Furtado, 204 p., 2015.

Pereira, realizada pelo professor do Instituto de Economia da Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presi-dente da Associação Key-nesiana Brasileira, José Luis Oreiro.

O capitalismo está saindo len-tamente do palco mundial e o sur-gimento da Internet das Coisas tem levado à ascensão de um novo sistema econômico que está trans-formando o modo de vida em soci-edade. Essa é a tese do economista Jeremy Rifkin, que, neste livro, explica como a Internet das Comu-nicações, da Energia e dos Trans-portes está convergindo para criar uma rede neural global, uma estrutura inteligente e indissolúvel que tem acelerado a produtividade e reduzido o custo marginal de pro-duzir e distribuir unidades adicio-nais de bens e serviços a pratica-mente zero.

Como resultado, o lucro cor-porativo começa a secar, os direi-tos de propriedade perdem força e a noção convencional de escassez econômica dá lugar à possibilidade de abundância à medida que seto-

Novo mundo

res inteiros da economia ingressam na web com custo marginal zero. O desafio é garantir a segu-rança dos dados e a pro-teção do sigilo pessoal em um mundo aberto, transparente e conectado globalmente.

Sociedade com custo marginal zeroJeremy RifkinM.Books, 400 p., 2015.

Reconstituindo os aconteci-mentos políticos mais importan-tes no mundo desde o fim da Segunda Guerra até os dias atuais, o historiador inglês Perry Ander-son faz uma análise nesta obra das principais inflexões da política externa dos Estados Unidos nos últimos setenta anos. Em sua aná-lise crítica, ele expõe sobre como foram tecidas as bases ideológicas, políticas, militares e institucionais em que se sustenta, atualmente, o poder imperial do país. A obra, sucinta, se inscreve dentro da lite-ratura crítica do imperialismo, mas não repete os seus argumentos clássicos.

O livro traz uma compilação de ensaios publicados original-mente na New Left Review (NLR), divididos em duas partes: Império e Conselho, em que o autor se debruça sobre o pensamento dos

Hegemonia norte-americana

principais analistas estra-tégicos do establishment norte-americano, e, ao mesmo tempo, delimita seu campo de análise ao se diferenciar da extensa literatura já existente sobre o tema.

A política externa norte-americana e seus teóricosPerry AndersonBoitempo, 224 p., 2015.

Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil IIIRicardo Antunes (org.)Boitempo, 464 p., 2014.

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CARTAS DO LEITOR

Redação e AdministraçãoAvenida Nilo Peçanha, 50, 11º andar Grupo 1109 Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20020-906Telefone (21) 2109.6041Fax (21) 2109.6004

[email protected] Gerente de Comunicação - Editora Thais Sena Schettino

EquipeJader MoraesLivia Marques PimentelNoel Joaquim Faiad

Revisão Renato R. Carvalho

E C O N O M I A & D E S E N V O L V I M E N T O P A R A O S N O V O S T E M P O S

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CONSELHO DOS ASSOCIADOSPresidente: Luciano Coutinho

DIRETORIAPresidente: Milton Luiz de Melo Santos

1º Vice-Presidente: Marco Aurélio Crocco Afonso

2º Vice-Presidente: Ilton Luis Schwaab

Diretores: Francisco das Chagas Soares, José Henrique Paim, Humberto Tannús Junior, Otto Alencar Filho, Rogério Tavares, Susana Kakuta, Valmir Rossi. Secretário-Executivo: Marco Antonio A. de Araujo Lima

Publicação bimestralISSN 1415-4722

Instituições Associadas à ABDE

AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S.A.AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A.AFERR – Agência de Fomento do Estado de Roraima S.A.AGÊNCIA DE FOMENTO TOCANTINS – Agência de Fomento do Estado de TocantinsAGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S.A.AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A.AGERIO – Agência Estadual de FomentoBADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A.BADESUL Badesul Desenvolvimento S.A. Agência de Fomento – – BANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S.A.BANCO SICREDI – Banco Cooperativo Sicredi S.A.BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A.BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A.BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S.A.BB – Banco do Brasil S.A.BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A.BNB – Banco do Nordeste do Brasil S.A.BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e SocialBRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo SulBRB – Banco de BrasíliaCAIXA – Caixa Econômica FederalDESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A.DESENVOLVE – Agência de Fomento de Alagoas S.A.DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento PaulistaFINEP – Inovação e PesquisaFOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S.A.GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento de Goiás S.A.MT FOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A.PIAUÍ FOMENTO – Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A.SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

Capa Noel Joaquim Faiad

Impressão e CTP J. Sholna Reproduções Gráficas

Distribuição SVD/Sistemas de Venda Direta

Conselho EditorialMilton Luiz de Melo Santos, João Paulo dos Reis Velloso, Maurício Borges Lemos e Thais Sena Schettino.

As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da ABDE. Sua reprodução é livre em qualquer outro veículo de comunicação, desde que citada a fonte.

Tiragem: 13.000 exemplares

RUMOS – – Setembro/Outubro 2015 54

@

Ano 40 – Nº 283 Setembro/Outubro 2015

HoteleiroA edição nº 282, julho/agosto, da Revista Rumos está muito boa. Para-béns. Sami Curi Hallal. Hotel Curi Palace. Pelotas (RS)

Brasil-Alemanha

Gostaria de solicitar que, por gentileza, façam uma atualização de nos-sos cadastros em seu banco de dados. A atual diretoria do Departa-mento de Meio Ambiente, Energias Renováveis e Eficiência Energéti-ca da Câmara Brasil- Alemanha é Senhora. Daniely Andrade. Leandro Balabanian. Deutsch-Brasilianische Industrie- und Handelskammer. São Paulo (SP).

AdvogadoSão valiosas as considerações de André Pimentel, no artigo Melhoria de desempenho em tempos de crise. É preciso ser otimista em situações adver-sas. Renato Drumond. Advogado. Rio de Janeiro (RJ).

Edição 2015

Prêmio ABDE-BID

Con�ra os vencedores em:www.abde.org.br

Realização

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