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1 Ruth Cardoso: análise político-teórica de uma trajetória Vinícius Pedro Correia Zanoli 1 O presente trabalho tem por objetivo apresentar um panorama geral da vida e obra de Ruth Cardoso, antropóloga brasileira. Fazendo uma breve discussão sobre sua trajetória político-teórica. A escolha da autora deve-se não só à influência de seus escritos na teoria social nacional, mas também à inspiração que suas discussões vêm causando, desde a graduação, em minhas pesquisas. Em se tratando de um trabalho final, levando-se em consideração a extensão da obra de Ruth Cardoso, optei por dar ênfase aos escritos que impactaram diretamente em minha trajetória acadêmica: suas pesquisas sobre teoria antropológica e sobre movimentos sociais. Para a confecção deste trabalho utilizei um conjunto de entrevistas, além de três livros. São eles: (1) a antologia organizada por Teresa Caldeira (2011), que congrega todos os artigos publicados pela autora, dois escritos sobre Ruth Cardoso, bem como um currículo da autora; (2) um livro de Mariza Corrêa (2013) que se configura como um conjunto de artigos sobre história da antropologia brasileira, e que conta com algumas entrevistas em anexo, uma delas com Ruth Cardoso; e (3) uma publicação encomendada pelo Centro Ruth Cardoso em homenagem a o que seriam os oitenta anos da autora caso ainda estivesse viva (Associação AlfaSol, 2012), que reuni depoimentos de Manuel Castells e Ignácio de Loyola Brandão. É importante apontar ainda, antes de apresentar o que foi proposto, que boa parte do que será dito nas páginas a seguir é fruto da compilação de leituras de todo esse material, por isso, só é feita referência a uma obra específica quando apenas ela for tema da discussão. Os estudos sobre japoneses: uma crítica ao culturalismo Em 19 de Setembro de 1930, há pouco mais de 80 anos, nasceu em Araraquara, interior de São Paulo, Ruth Vilaça Corrêa Leite (nome de solteira). Dezenove anos depois, ingressou na primeira colocação no curso de Ciências Sociais da extinta Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Em 1952 formou-se bacharel e licenciada em Ciências Sociais. Um ano mais tarde, casou-se com Fernando Henrique Cardoso, passando a ser Ruth Corrêa Leite Cardoso. Ainda antes de ser contratada, em 1957, como auxiliar voluntária de Egon Schaden na Cadeira de Antropologia da Universidade de São Paulo, Ruth foi professora da cadeira de “Antropologia e Etnografia Geral e do Brasil” na Faculdade Municipal de Filosofia, Ciência e 1 Aluno regularmente matriculado no curso de mestrado do PPGAS da Unicamp, sob o RA: 093219.

Ruth Cardoso - Fichamento

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Fichamento sobre texto da antropóloga Ruth Cardoso. Professora do Departamento de Ciência politica da Universidade de São Paulo.

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Ruth Cardoso: análise político-teórica de uma trajetória

Vinícius Pedro Correia Zanoli 1

O presente trabalho tem por objetivo apresentar um panorama geral da vida e obra de Ruth

Cardoso, antropóloga brasileira. Fazendo uma breve discussão sobre sua trajetória político-teórica.

A escolha da autora deve-se não só à influência de seus escritos na teoria social nacional, mas

também à inspiração que suas discussões vêm causando, desde a graduação, em minhas pesquisas.

Em se tratando de um trabalho final, levando-se em consideração a extensão da obra de Ruth

Cardoso, optei por dar ênfase aos escritos que impactaram diretamente em minha trajetória

acadêmica: suas pesquisas sobre teoria antropológica e sobre movimentos sociais.

Para a confecção deste trabalho utilizei um conjunto de entrevistas, além de três livros. São

eles: (1) a antologia organizada por Teresa Caldeira (2011), que congrega todos os artigos

publicados pela autora, dois escritos sobre Ruth Cardoso, bem como um currículo da autora; (2) um

livro de Mariza Corrêa (2013) que se configura como um conjunto de artigos sobre história da

antropologia brasileira, e que conta com algumas entrevistas em anexo, uma delas com Ruth

Cardoso; e (3) uma publicação encomendada pelo Centro Ruth Cardoso em homenagem a o que

seriam os oitenta anos da autora caso ainda estivesse viva (Associação AlfaSol, 2012), que reuni

depoimentos de Manuel Castells e Ignácio de Loyola Brandão.

É importante apontar ainda, antes de apresentar o que foi proposto, que boa parte do que será

dito nas páginas a seguir é fruto da compilação de leituras de todo esse material, por isso, só é feita

referência a uma obra específica quando apenas ela for tema da discussão.

Os estudos sobre japoneses: uma crítica ao culturalismo

Em 19 de Setembro de 1930, há pouco mais de 80 anos, nasceu em Araraquara, interior de

São Paulo, Ruth Vilaça Corrêa Leite (nome de solteira). Dezenove anos depois, ingressou na

primeira colocação no curso de Ciências Sociais da extinta Faculdade de Filosofia, Ciências e

Letras da USP. Em 1952 formou-se bacharel e licenciada em Ciências Sociais. Um ano mais tarde,

casou-se com Fernando Henrique Cardoso, passando a ser Ruth Corrêa Leite Cardoso.

Ainda antes de ser contratada, em 1957, como auxiliar voluntária de Egon Schaden na

Cadeira de Antropologia da Universidade de São Paulo, Ruth foi professora da cadeira de

“Antropologia e Etnografia Geral e do Brasil” na Faculdade Municipal de Filosofia, Ciência e

1 Aluno regularmente matriculado no curso de mestrado do PPGAS da Unicamp, sob o RA: 093219.

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Letras de Sorocaba e da cadeira de “Sociologia Educacional” da Fundação Escola de Comércio

Álvares Penteado. Além disso, foi pesquisadora no Serviço de Pesquisas do Mercado de Trabalho

da Secretaria do Trabalho, Indústria e Comércio do Estado de São Paulo. Foi também pesquisadora

do Centro Regional de Pesquisas Educacionais de São Paulo. No decorrer de sua trajetória, depois

da entrada na USP, Ruth foi, ainda, pesquisadora no CEBRAP (Centro Brasileiro de Análise e

Planejamento).

Em 1957, por ocasião de sua recente vinculação à Cadeira de Antropologia da USP, foi

designada a Ruth Cardoso, por Egon Schaden, uma pesquisa sobre imigrantes japoneses. Esses

imigrantes seriam seu tema de pesquisa desde o mestrado, até a defesa da tese de doutorado, em

1972.

Apesar da escolha do tema pelo catedrático, em decorrência de alguns desentendimentos de

Ruth com Schaden, a defesa do mestrado foi realizada na cátedra Sociologia II, chefiada por

Florestan Fernandes. No entanto, mesmo tendo se desentendido com Schaden, o artigo referente a

sua pesquisa (Cardoso, 1959) tem forte influência das ideias de aculturação, que tinham como um

dos grandes entusiastas o próprio Schaden.

Já sua pesquisa de doutorado era baseada na crítica a ideia de aculturação, que vinha do

culturalismo americano, que por sua vez, foi influenciada por outra crítica, a de Leach (1954) ao

funcionalismo britânico. A revelia de pensar em aculturação, Ruth se interessava pelos processos

sociais e pela mudança cultural. Em entrevista a Mariza Corrêa (2013 [1990]), Cardoso comenta a

forte dificuldade em realizar essa crítica, uma vez que Schaden, o catedrático, buscava demonstrar

como os imigrantes que Ruth estudava, os japoneses, teriam perdido sua cultura, aculturando-se à

brasileira.

Além da influência de Leach, a própria pesquisa teria influenciado Ruth a criticar as teorias de

aculturação. A viagem às pressas para o Chile teria distanciado-a de seu material de pesquisa. Ao

voltar para o Brasil e olhar novamente para o que havia produzido, a autora percebeu que, nem toda

a “cultura japonesa” dos imigrantes teria sido jogada fora. Apesar de terem “abandonado sua

religião”, como afirmava Schaden, outros traços de sua cultura teriam se mantido. Um bom

exemplo dessa manutenção de traços culturais seria, segundo a autora, a manutenção de um caráter

associativista bem característico do Japão do período entre o fim do século XIX e o início do século

XX. Portanto, sua pesquisa, iluminada pelas discussões de Leach, a fez ver a cultura daqueles

migrantes japoneses – ou a cultura no geral – como um processo, o que a induziu, nos anos

seguintes, a se interessar fortemente pelos estudos de mudança cultural. Sua tese acabou por ser

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defendida sob a orientação de Eunice Durham, recém-doutora na época. Schaden não foi seu

orientador na defesa porque se aposentara pouco tempo antes.

Voltando a 1964, com a mudança para o Chile, a autora tornou-se ávida leitora de Lévi-

Strauss, que era objeto de suas aulas nas diversas faculdades nas quais lecionou naquele país, como

a FLACSO2. Ainda assim, o antropólogo francês não parece ter influenciado de maneira substancial

a obra de Cardoso. Lévi-Strauss foi também tema de disciplinas oferecidas por Ruth na USP em

conjunto com Eunice Durham. Esta última (Durham, 2011), comenta que foi incentivada a ler as

obras do antropólogo estruturalista por Ruth.

Antropóloga ou cientista política? Nasce uma teórica social interdisciplinar

Pouco tempo depois da defesa de Ruth Cardoso, o sistema de cátedras foi extinto na USP,

dando origem ao departamento de Ciências Sociais, divido nas áreas de Antropologia, Sociologia e

Ciência Política. Como resultado de uma disputa interna dentro da área de Antropologia, Ruth passa

a compor a área de Ciência Política do departamento, área que, diferentemente de Eunice Durham,

que mudara com ela, ocupou até o fim de sua carreira.

Nesse período, uma série de antropólogos brasileiros passaram a ser formados na pós-

graduação em Ciência Política da USP sob orientação de Ruth Cardoso. Dentre eles cito: Gilberto

Velho, que foi professor no Museu Nacional da UFRJ; Lygia Sigaud, também professora do Museu

Nacional; Guita Debert, que atualmente leciona no Departamento de Antropologia da Unicamp;

Mauro Almeida, também da Unicamp; José Guilherme Cantor Magnani, professora da USP; Teresa

Caldeira, professora da Universidade da Califórnia em Berkeley; Mariza Corrêa, professora

aposentada do Departamento de Antropologia da Unicamp; Maria Filomena Gregori, professora do

Departamento de Antropologia da Unicamp.

Além desses antropólogos, Ruth formou também Ana Maria Doimo, importante estudiosa de

movimentos sociais que, apesar de ter formação híbrida na ciência política e na antropologia, atua

hoje como professora no Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas

Gerais.

Além de orientar esses e outros professores, apesar de continuar na Ciência Política, Ruth

produziu importantes textos metodológicos na área de antropologia, sozinha e com a colaboração de

Eunice Durham. Dentre suas preocupações estava o lugar que o discurso passa a ocupar nas análises

de antropologia urbana. Segundo a autora, as interações entre antropólogo e grupo estudado são

diferentes em trabalhos de antropologia urbana e aqueles em outras comunidades. Nos trabalhos

2 Faculdade Latina Americana de Ciências Sociais.

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sobre antropologia urbana os discursos, em detrimento das práticas, é que passam a ser centrais à

análise. Contudo, segundo Cardoso, nos anos 1970 quando começa a produzir essas críticas, pouco

se discutia sobre essas questões.

Como resultado de suas discussões metodológicas em conjunto com Durham temos a ideia de

participação observante. Segundo tais autoras, em decorrência de uma politização do trabalho dos

antropólogos, uma vez que os grupos por eles estudados passaram a ser atores políticos centrais nos

anos setenta, os jovens antropólogos em formação estariam mais preocupados em participar do que

observar. Isso incorreria em um deslize semântico, uma vez que observação seria a principal função

do antropólogo, sendo a participação um exercício subjetivo que colabora na interpretação do que

foi observado. Menos do que produzir uma crítica, de fato, à participação ou a politização dos

antropólogos, a preocupação de Cardoso e Durham era com a discussão acerca do que esses deslizes

semânticos produziam na interpretação do antropólogo.

Antes de seguir em direção a sua produção acerca dos movimentos sociais, é importante

enfatizar que, apesar de inovadora em diversos aspectos, como nos estudos de mudança cultural e

nos próprios estudos de movimentos sociais, a autora mantinha uma distinção entre sociedades

simples e complexas. Tanto em seus trabalhos teórico-metodológicos, quanto naqueles sobre

antropologia urbana, Ruth deixa transparecer a ideia de que as sociedades urbanas (capitalistas,

industriais, modernas) eram complexas e, por esse motivo, não era possível observar a totalidade da

vida social daqueles grupos. Nessas afirmações a autora deixa subentendido uma crença de que

grupamentos não urbanos seriam menos complexos o que possibilitaria ao antropólogo olhar para o

todo daquelas sociedades.

Antropóloga e cientista política: cultura e política nos estudos de movimentos sociais

Dentre os trabalhos de Ruth, aqueles que mais marcaram sua carreira e também minha

pesquisa de mestrado são seus pioneiros escritos sobre movimentos sociais. Sua perspectiva de

estudos ficou conhecida como enfoque institucional e tem como representantes, além de seu próprio

trabalho, o de Ana Maria Doimo (1995), uma de suas orientandas. A denominação da perspectiva

estava ligada ao questionamento do caráter anti-Estado atribuído aos movimentos sociais por

algumas vertentes analíticas vigentes no período que Ruth escrevia, bem como, por situar

exatamente no aumento das funções do Estado o caráter dessas formas de participação, cuja

fragmentação interna circunscreveria seu alcance à ampliação dos direitos de cidadania.

Cardoso (1987) apontava ainda, que com o processo de redemocratização, ficou evidente que

parcela significativa dos movimentos daquele período não buscava transformar drasticamente a vida

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social, postulado de boa parte das teorias do início da década de 1970, mas possibilidades de

interlocução com os agentes estatais, procurando diálogo na construção de políticas. Evidência que,

segundo a autora, colaborou para o fortalecimento de estudos de caso que visavam compreender a

ação desses movimentos. Tais estudos apontaram que o que fora interpretado como uma disposição

anti-Estado por parte dos movimentos poderia ser melhor compreendido como uma reação ao

governo tal qual configurado no período da ditadura militar e não como um repúdio ao Estado em

si.

Cardoso assinala, ainda, a necessidade de se analisar de que maneira os movimentos sociais

estabelecem interlocução com agências públicas. Para tanto, seria preciso investigar a dinâmica

interna dos movimentos e suas relações com outros atores, seus interlocutores. Tal perspectiva

confere ao contexto específico em que se inserem os movimentos sociais um lugar de destaque,

pressupondo que estes não podem ser compreendidos a partir da abstração de um panorama mais

amplo em que se situam e das relações que tecem com outros atores.

Dessa maneira, a autora colaborou não só para uma institucionalização dos estudos de

movimentos sociais na antropologia, como também na disseminação do estudo etnográfico para

outras áreas do conhecimento, como é o caso da Ciência Política. Sua perspectiva colaborou,

portanto, para que uma série de pesquisadores não tomasse de antemão o caráter e o ideário de

certos grupos dos movimentos sociais organizados, mas sim, se ocupasse de pesquisas de campo

onde seria possível atestar, ou não, tais características teorizadas pelas vertentes mais presentes nos

anos 1970.

Considerações Finais

Discorrendo sobre sua trajetória e a de alguns antropólogos britânicos, Leach (1984) propõe

uma espécie de inseparabilidade entre política e teoria no pensamento social. Ainda que no caso

desse artigo o autor tenha se utilizado de uma espécie de visão depreciativa da trajetória de

antropólogos como Max Gluckman para se diferenciar deles, apresentando-se como alguém política

e teoricamente mais interessante, a metodologia em si, se filtradas as acusações e leituras

tendenciosas, apresenta um referencial interessante para a análise da trajetória de um antropólogo.

Tendo isso em mente, é preciso esclarecer que parcela importante do enfoque institucional de

Ruth Cardoso está ligada a uma maneira específica de ver o Estado. Em entrevista a Martes e Alves

(2006), a autora chega a acusar a esquerda de estadista, uma vez que essa esquerda a que se refere,

vê a delegação de certas funções à sociedade civil por parte do Estado como um problema, isso

porque, segundo essa visão, caberia ao Estado garantir a cidadania, e não aos cidadãos. Cardoso não

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concorda com a visão dos “estadistas”, ela acreditava que as ações da sociedade civil eram

importantes, justamente, por serem mais inovadoras que a do Estado, que, segundo ela, tinha pouca

capacidade de inovação.

Alguns poderiam acusá-la aqui de liberal, no sentido político-econômico do termo, isto é,

como defensora do Estado mínimo. E de fato, era o que eu mesmo pensava em fazer quando dei

início à redação deste trabalho. No entanto, afirmei acima a necessidade de não ser tendencioso e

incorrer no mesmo deslize que Leach (op. cit.) e buscar, justamente nas crenças políticas da autora

os motivos e ideias que colaboraram para seu enfoque institucional.

Foi com a leitura de Castells (2010) e de algumas das entrevistas que pensei que, menos que

taxar Ruth de liberal, podemos vê-la como uma entusiasta das organizações da sociedade civil,

sejam elas compostas por pessoas pobres e/ou das periferias, ou por grupos de empresários.

Como apontei poucos parágrafos atrás, Ruth postula uma espécie de distinção entre sociedade

civil e Estado, e vê nas associações da sociedade civil a capacidade de inovar as políticas estatais.

Capacidade que não é incongruente com sua visão teórica, citada no começo deste trabalho, uma

vez que a autora não só via como os movimentos sociais passaram a se relacionar com o Estado por

demandas específicas, como pensava também no Estado como uma instância necessária para a

transformação social:

[Ruth] via o processo político relativo ao Estado como uma instância necessária para uma

melhora da sociedade, mas uma instância na qual um projeto de reforma só poderia triunfar

caso se enraizasse na dinâmica dos movimentos sociais, sem por isso segui-los em seu

deslocamento utópico (Castells, op. cit.).

Além disso, na entrevista dada a Martes e Alves (op. cit.) a autora afirma também acreditar na

responsabilidade social das empresas e ver nessa forma, uma maneira interessante de financiar

ações de ONGs. Esse modelo de financiamento privado era seguido por sua ONG, que se valia de

empresas interessadas em responsabilidade social para financiar suas ações. Dessa maneira estariam

todos, empresários, políticos e população, trabalhando juntos na transformação social do país.

Ruth foi, inegavelmente, uma mulher política. Entretanto, segundo Castells (op. cit.) ela não

se considerava feminista, pois acreditava que a teoria feminista ideológica da América Latina,

importava da Europa e dos Estados Unidos modelos de feminismo incongruentes com a realidade

brasileira. Contudo Castells aponta a forte preocupação da autora com relação às mulheres, atuando

principalmente na emancipação das mulheres das classes populares. Preocupando-se principalmente

com “igualdade legal, as condições de vida das famílias, a defesa do direito ao aborto e a proteção

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das mulheres contra a violência doméstica”. A essa preocupação prática com as mulheres Castells

denominou feminismo prático (op. cit. pp. 17-18).

Tal preocupação com a emancipação das mulheres pode nos informar muito bem sobre seu

entusiasmo com o terceiro setor. Uma vez que ela assume maior criatividade por parte da sociedade

civil em relação ao Estado, usar-se de dinheiro privado para financiar ações que emancipassem

mulheres pobres era uma maneira de produzir a mudança social tão desejada por Ruth.

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