POLÍTICA A-3JornalSão José do Rio Preto, quarta-feira25 de outubro de 2017

Temer não tem o que temerANÁLISE

“Apatia da população está sendo decisiva para enterrar a segunda denúncia apresentada na Câmara dos Deputados

contra o presidente Michel Temer

“

OLHA ELE AÍ Se alguém tem dúvida de que a campanha para as eleições 2018 já está nas ruas, basta dar uma olhada na agitada agenda dos políticos que vão às urnas ano que vem. E o governador Geraldo Alckmin passa outra vez pela região nesta quarta (25). No roteiro, a queridinha Votuporanga (incrível como ele visita esta cidade), Fernandópolis, Dolcinópolis e Marinópolis. Claro que não é deselegante para chegar de mãos vazias. Vai anunciar uns agradinhos ou tirar fotos em obras em andamento, como o início de melhorias num trecho da SP-461 (rodovia Péricles Bellini). Terá ainda inauguração de padaria e assinatura de convênio para compra de ambulâncias.

SÓ DEUS NA CAUSA O vereador de Mirassol Daniel Sotto (PMDB) atirou no que viu e acertou em cheio no que não viu. Ele mandou para a Câmara um projeto criando o Dia Municipal do Orgulho LGBTI. Era só mais uma efeméride, coisa que parlamentares adoram, a se juntar ao Dia Internacional do Orgulho LGBTI (28 de junho) e Dia Nacional do Orgulho Gay (25 de março). Mas se a iniciativa em si parecia redundante, a reação provocada acabou revelando muito do tsunami conservador e preconceituoso que varre o País. O projeto de lei, acredite, foi reprovado por maioria esmagadora: dois votos favoráveis (incluindo o do autor) e sete contrários. O presidente da Casa não votou. Vale registrar que a bancada do contra conta com três representantes da comunidade evangélica e um da Igreja Católica.

ZONA ELEITORAL

Divulgação SMCS

por Beck

Olar, brazeeel! Comenta-se, no insalubre terreno das redes sociais, a vinda de João Doria a Rio Preto, marcada para a próxima segunda (30).

De acordo com o IBHD (Instituto de Bajulações e Honrarias Desnecessárias), Doria será homenageado na Câmara Municipal, onde receberá, vejam só, uma ‘honraria pelos serviços prestados ao município’.

Peralá: ou eu acordei hoje do berço esplêndido ou o Rivotril deu efeito rebote, porque não me lembro de nenhum serviço prestado por Doria a Rio Preto, com exceção, claro, da influência botulínica que o prefeito de São Paulo vem exercendo em seus congêneres do interior do Estado.

Seja como for, acredito que Doria, com toda sua sagacidade e testa brilhante, já deve ter ligado seu ‘bajuladar’ – o radar que identifica diferentes níveis de bajulação política -, a fim de não fazer feio na tribuna, como por exemplo, chamar Rio Preto de Ribeirão Preto.

Mas este risco, penso eu, o prefeito de São Paulo não corre, uma vez que ele já ‘prestou muitos serviços ao município’. Também penso que não seja necessário avisá-lo de que o animal símbolo de Rio Preto não é o veado campeiro, mas a capivara suada.

Tampouco vamos nos incomodar em informá-lo quanto ao clima da cidade, este que, segundo o finado Clodovil, para queimar a rosca basta sair à rua. Assim sendo, damos por encerrada a coluna desta quarta, faça chuva ou faça escova. Para outras simbologias rio-pretenses, favor usar nosso e-mail no cabeçalho desta página. Ah, sim: um abraço virtual a Edinho Araújo...

Fabrício Carareto, Maria Elena Covre e Beck

Pastel de bajulação

Reprodução/Facebook

Colaborou com a coluna: Thais Covre

XÔ, BRUXADeve ser a proximidade do Dia das Bruxas, mas o fato é que uma delas parece mesmo solta lá pelos lados do vereador Júnior (DEM). Não bastassem os enroscos relacionados a irregularidades no auxílio-atleta, ele agora teve de entrar na faca. Uma crise de apendicite levou Júnior para a mesa de cirurgia. O parlamentar contou com a solidariedade do amigo Peixão, que usou a Tribuna da Câmara para desejar-lhe melhoras. Fica aqui também o desejo das capivaras de um pronto restabelecimento físico ao vereador.

NOVOO Movimento Cidadania Brasil (MCB), de Rio Preto, está convocando seus simpatizantes por meio das redes sociais para participar de encontro do Partido Novo, que será realizado no próximo sábado (28) na sede do Ciesp. A convocação é feita pelo próprio presidente do movimento, o empresário Manuel Torres. O MCB, que reuniu 20 mil pessoas em Rio Preto na marcha a favor do impeachment de Dilma, chegou a se declarar no início como sendo uma organização apartidária, mas depois mudou seu conceito para pluripartidária. E agora tem uma legenda para chamar de sua – o Novo.

DESCULPAO vereador Marco Rillo (PT) pediu desculpas à população ontem (24) na leitura do relatório da CPI do Canal Antienchente. Aliás, nem leu o relatório da investigação, que não chegou a lugar nenhum. Segundo ele, que era o relator, só o projeto da obra realizada nos córregos Borá (Bady Bassitt) e Canela (Alberto Andaló) tinha 15 mil páginas. A CPI não conseguiu a contratação de um técnico, estimada em R$ 40 mil, para auxiliar na apuração. “Foi coisa de ouvir falar. Disseram que o prefeito (Valdomiro Lopes) levou dinheiro, que vereadores levaram dinheiro, mas não conseguimos o fio da meada. Peço desculpas aos rio-pretenses”, afirmou o petista, que foi consolado depois pelo autor do pedido de CPI, o vereador Renato Pupo (PSD).

conexaocapivara@gmail.com

CAPIVARAS PENSANTES

Rosa Maria AbrãoPOSTADO NO

REAGIU Diante da gritaria de professores, diretores e pais de alunos em redes sociais e veículos de comunicação, mais a ameaça de protesto em frente à Prefeitura no dia 27, o prefeito Edinho Araújo (PMDB) quebrou, enfim, a letargia que tomou conta da Secretaria da Educação e do governo como um todo em meio à onda de invasões a escolas do município. O prefeito chamou um verdadeiro batalhão ao seu gabinete na tarde desta terça (24), após mais duas unidades se tornarem alvo da bandidagem, totalizando 12 registros na polícia somente no mês de outubro, logo após a demissão de 498 vigilantes. Participaram da reunião representantes da Prefeitura, da Guarda Municipal, Polícia Militar, Polícia Civil e Defesa Civil para discutir o problema e tentar encontrar uma solução. Segundo material divulgado pela assessoria de Comunicação, ficou decidido que haverá uma ação coordenada entre as polícias no sentido de intensificar o trabalho preventivo junto às escolas para combater as invasões. Da parte da administração municipal, o prefeito também determinou mais rapidez nos estudos para monitoramento por câmera nas escolas, projeto que já estaria sendo desenvolvido pela Guarda Municipal. A secretária de Educação, Sueli Costa, também esteve presente, mas segue não fazendo nenhum pronunciamento sobre este ou qualquer outro assunto espinhoso envolvendo a pasta.

“Não dá para salvar todo mundo da sua própria ignorância”“Nunca devemos tocar tambor para maluco dançar”

DORIA SEM VAZ O tucano João Doria, prefeito de São Paulo, vem a Rio Preto na segunda-feira, dia 30, receber homenagem da Câmara proposta por Paulo Pauléra (PP). E não terá nenhum correligionário com mandato para apertar-lhe mão. O Legislativo que banca a honraria não tem representante do PSDB e o deputado estadual Vaz de Lima já “confirmou sua ausência”. Justamente neste dia, Vaz tem compromisso em Campinas. “É um evento importante da Igreja Presbiteriana, da qual faço parte. Ajudei na formatação, não tenho como não ir”, diz ele, que tem feito críticas públicas contundentes ao modo Doria de governar a capital. Isso sim é providência divina, não deputado?

Última pesquisa Ibope, contratada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e divulgada em 28 de setembro, mostra o presidente Michel Temer (PMDB) com aprovação de apenas 3% dos brasileiros. 77% acham o governo ruim ou péssimo. É a mais baixa aprovação de um presidente da República desde 1986.

Esses 3% da população, porém, são firmemente representados em Brasília pelos parlamentares eleitos pela região. Está mar-cada para hoje a votação da segunda denún-cia apresentada pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot contra Temer. A acusação é certamente a mais grave feita com o presidente da República na recente

história do País. O presidente foi denun-ciado com base em investigações da Polícia Federal que teria comprovado a existência do “quadrilhão do PMDB”, liderado por Temer. Segundo a PF, os valores movimen-tados atingem a casa dos impressionantes R$ 587 milhões, recursos desviados de ope-rações com a Petrobras, a Caixa Econômica Federal, Furnas, o Ministério da Integração Nacional e até a Câmara dos Deputados.

Os dois deputados federais que restam à região devem votar mais uma vez pela suspensão da denúncia, como já fizeram em agosto em relação à conversa nada re-publicana entre o presidente e o empresário Joesley Batista – só para constar, o delator

Excelentes colocações de Leandro Karnal sobre a arrogância do conhecimento, que faz a pessoa confundir “ter informação” com “ter formação”

Alô, Rio Preto, tô chegando pra comer coxinha, ops, pastel com vocês...

permanece preso e Temer continua no co-mando do País. Fausto Pinato (PP), de Fer-nandópolis, fez uma defesa apaixonada do presidente na Comissão de Constituição e Justiça. Já Sinval Malheiros (Podemos), que ainda não declarou voto, apoiou Temer na votação de agosto. Para eles, o presidente não deve ser investigado pelo Supremo Tri-bunal Federal (STF). Não fez nada de erra-do, na visão dos nossos dois representantes.

Até o ano passado, a região contava

com outros dois deputados em exercício em Brasília: Edinho Araújo (PMDB), que renunciou para assumir a Prefeitura de Rio Preto, e Rodrigo Garcia (DEM), que está afastado do mandato para ocupar a Secreta-ria de Estado da Habitação. Caso estivessem na Câmara, seriam mais dois votos garanti-dos para Temer.

O que ocorre em Brasília é reflexo da apatia que tomou conta do brasileiro. Nem mesmo os R$ 12 bilhões em emendas par-

lamentares liberadas para os deputados se-riam suficientes para enterrar a denúncia na Câmara caso a indignação tivesse tomado conta das ruas, como ocorreu no impeach-ment da ex-presidente Dilma Rousseff. O tal gigante que havia acordado caiu numa hibernação letárgica. Um sono profundo e sem sonhos, apenas pesadelos. Quando acordar, se é que vai acordar, verá que tais pesadelos se transformaram na realidade política do País.

VILA ITÁLIA FICA O juiz da 1ª Vara da Fazenda, Adilson Araki Ribeiro, evocou “a nova realidade social” para negar liminar da Prefeitura de Rio Preto que solicitava o despejo de 500 moradores da favela do Vila Itália. A decisão do magistrado foi tomada na segunda-feira (23) e divulgada ontem. Ribeiro afirmou que, embora a área ocupada pelas famílias seja pública, a Prefeitura nunca tomou posse efetivamente do local. “Aos particulares que ocupam terras públicas sem destinação específica (caso dessa área) é permitido o uso dela, garantindo a função social da propriedade e cristaliza valores constitucionais como a dignidade da pessoa humana, o direito à moradia e o aproveitamento do solo. A possibilidade não retira o bem do patrimônio do Estado, mas reconhece a posse do particular”, destacou o juiz. Ribeiro ainda continua: “O interesse da municipalidade, neste caso em análise superficial, não deve prevalecer sobre o do particular, pois estão em desigualdades. Reintegrar a posse neste caso, seria deixar várias famílias em situação mais desconfortável do que estão agora. Os direitos a moradia, educação, saúde, estão previstos na Constituição Federal”. O juiz indeferiu a realização de uma audiência de tentativa de conciliação, solicitada pelo promotor Sérgio Clementino, “ante a resistência das partes envolvidas na lide, o que apenas ocasionaria tumulto processual e a demora em seu julgamento”. O processo ainda não está encerrado em primeira instância. O juiz negou a liminar, mas não analisou o mérito da ação. Juristas ouvidos pela coluna elogiaram o posicionamento do juiz. “Não se pode criar uma injustiça maior do que aquela que se busca reparar. Decisão impecável”, afirmou um advogado. Por outro lado, a outra favela instalada no município, no Brejo Alegre, deve ter outro desfecho em breve: a Justiça Federal, que havia concedido liminar em março deste ano pela reintegração de posse movida pela Rumo-ALL, já começou a comunicar as famílias para que deixem o local. Mas, neste caso, o impacto será bem diferente: a reintegração só vale para os barracos construídos a menos de 15 metros dos trilhos, área que pertence à concessionária – que é a minoria dos casos.

Arquivo DHoje