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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O ENCAMINHAMENTO EM SAÚDE MENTAL OFERECIDO PELO CAPS - SÃO CARLOS/SP E PELO CENTRO DE SAÚDE II – CACONDE/SP. Marina Ceres Silva Pena SÃO CARLOS – SP DEZEMBRO/2003

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O ENCAMINHAMENTO EM

SAÚDE MENTAL OFERECIDO PELO CAPS - SÃO

CARLOS /SP E PELO CENTRO DE SAÚDE II – CACONDE/SP.

Marina Ceres Silva Pena

SÃO CARLOS – SP

DEZEMBRO/2003

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O ENCAMINHAMENTO EM

SAÚDE MENTAL OFERECIDO PELO CAPS - SÃO

CARLOS /SP E PELO CENTRO DE SAÚDE II – CACONDE/SP.

Marina Ceres Silva Pena

RA: 203742

Trabalho desenvolvido para obtenção do título

de Bacharel em Psicologia, sob a orientação da

Profª Georgina Faneco Maniakas.

SÃO CARLOS – SP

DEZEMBRO/2003

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“A ausência de qualquer projeto, a perda de um futuro, o estar

constantemente em poder dos outros sem o mínimo impulso

pessoal, o ter dividida e organizada a própria jornada sob

tempos ditados só por exigências organizativas... este é o

esquema institucionalizante sobre o qual se articula a vida do

asilo. O doente mental, fechado no espaço apertado da sua

individualidade perdida, oprimido pelos limites que lhe foram

impostos pela doença, é forçado, pelo poder institucionalizante

da internação a objetivar-se nas próprias regras que o

determinam, em um processo de aparvalhamento e de restrição

de si que – originariamente sobreposto à doença – não é sempre

reversível “ (Basaglia, 1964).

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AgradecimentosAgradecimentosAgradecimentosAgradecimentos

Á minha orientadora, Georgina, pelo apoio, confiança e auxílio

no trabalho realizado durante esses dois anos.

Aos meus amigos, principalmente Alessandra, Aninha e Teresa

pelo apoio nos momentos difíceis; por compartilharem as

alegrias; pela amizade sincera, confiante e por contribuírem (e

muito) no meu crescimento como pessoa, assim como na

escolha dos melhores caminhos.

À minha família, sendo os meus irmãos, Ricardo e Fernando, por

serem como eles são, me ensinando a lidar com as desavenças, e

principalmente aos meus pais, Alfredo e Ceres, pela educação,

moral e ética que me ensinaram, por confiarem na minha

capacidade, sempre apoiando e incentivando minhas decisões e

escolhas.

E acima de tudo à Deus, pela vida saudável e pelas

oportunidades que me proporcionou e proporciona até hoje.

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DedicatóriaDedicatóriaDedicatóriaDedicatória

Dedico esse trabalho a todas as pessoas que de uma forma ou

de outra se encontram ou já se encontraram alguma vez

envolvidas com a Saúde Mental, sejam usuários de serviços de

Saúde Mental, familiares, amigos, médicos, enfermeiros,

farmacêuticos, psicólogos ou quaisquer outros. Que este

trabalho possibilite às pessoas repensarem a forma como se lida

com a Saúde Mental hoje em dia, tanto no que diz respeito à sua

história, às ações realizadas, quanto às suas conseqüências.

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SUMÁRIO

Resumo ......................................................................................

07

I. Introdução ..................................................................................

08

II. Justificativa ................................................................................

19

III. Objetivos ....................................................................................

23

IV. Metodologia ...............................................................................

24

Local ............................…........................................................

25

Participantes …………………………………………………...….

28

Material ………………………………………………………...…..

28

Instrumento ……………………………………………………..…

28

Procedimento …………………………………………………...…

29

V. Resultados .................................................................................

32

VI. Discussão ...................................................................................

57

VII. Conclusão ..................................................................................

63

VIII. Referências Bibliográficas ........................................................

66

Anexo 1........................................................................................

68

Anexo 2 .......................................................................................

70

Anexo 3 .......................................................................................

71

Anexo 4 ....................................................................................... 82

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RESUMO

Na antiguidade o homem não se conhecia; as distorções e aberrações da

natureza humana eram entendidas vagamente e, na ausência de qualquer

psicologia, atribuídas às forças e entidades desconhecidas. Mais tarde surgem os

manicômios como lugares de tratamento da loucura, onde impera o princípio do

isolamento social: os internados perdem todas as suas referências de vida, são

excluídos do convívio familiar, do trabalho e do local onde moram, perdendo,

portanto, a subjetividade e a autonomia e a maior garantia que a sociedade moderna

pretende dar a todos, a cidadania.

Com o passar do tempo, o foco do atendimento realizado pelos manicômios

veio se mostrando não somente ineficaz como também segregador e iatrogênico.

Com o objetivo de mudança dessa situação começou a ser realizada uma reforma

psiquiátrica, que consiste em uma série de transformações na assistência em saúde

mental propostas pela chamada "Luta Antimanicomial", um movimento social que se

iniciou na Itália com Franco Basaglia e que propõe a substituição do modelo

manicomial pela criação de uma rede de serviços territoriais de atenção psicossocial

e de base comunitária.

Buscando refletir a respeito das práticas substitutivas em Saúde Mental,

torna-se interessante estudar comparativamente uma instituição inserida no contexto

dessa reformulação - o CAPS-São Carlos - e uma outra instituição de atendimento

aos usuários, de caráter exclusivamente ambulatorial – o Centro de Saúde II,

Caconde/SP.

A investigação proposta foi orientada predominantemente, pelos princípios da

pesquisa qualitativa; e sua análise, por meio da abordagem psicossocial.

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I. INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde seria um estado

completo de bem-estar físico, mental, social e não somente a ausência de doenças

ou enfermidades (Capra, 1982). Mas saúde é uma experiência subjetiva, algo que

pode ser conhecido intuitivamente, mas nunca descrito ou quantificado; saúde é uma

experiência de bem-estar resultante de um equilíbrio dinâmico que envolve os

aspectos físicos e psicológicos do organismo, assim como sua interação com o meio

ambiente natural e social.

Para Wickert (1998),

“a saúde só se dá quando o sujeito tem possibilidades de traçar o

seu próprio destino, conforme seu desejo, em direção ao seu bem-

estar físico, psíquico e social e que o caminho construído nem

sempre é condizente com a modelagem social (...)” 1

Saraceno (2001-a), entende que saúde mental seja o conjunto de ações de

promoção, manutenção e tratamento referentes à melhora, manutenção ou

restauração da saúde mental de uma população.

A subjetividade é um objeto de pesquisa psicológica, sendo esta um

“sistema complexo de significações e sentidos subjetivos produzidos

na vida cultural humana, se definindo ontologicamente como

diferente dos elementos sociais, biológicos, e de qualquer outro tipo,

relacionados entre si no complexo processo de seu desenvolvimento

individual e social (...) a subjetividade e a cultura são processos

construtivos complexos que ocorrem de forma simultânea; a

subjetividade não é determinada pela cultura; a cultura depende da

subjetividade”.2

Segundo Pessotti (1994), na antiguidade grega o homem não se conhecia; as

distorções e aberrações da natureza humana eram entendidas vagamente e, na

ausência de qualquer psicologia, atribuídas à forças e entidades desconhecidas.

1 Wickert, 1998. Loucura e direito a alteridade., pp. 38. 2 Rey, 2002. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios, p.36-37 e 43.

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Textos do séc.V a.C. como a Ilíada, de Homero ou As Obras e os Dias, de Hesíodo

confirmam essa idéia, uma vez que mostram a intervenção direta e permanente dos

deuses (principalmente Zeus) e dos seus instrumentos (Atê, Moira e Erínias) na vida

dos homens, que roubam ou confundem sua razão e os enlouquecem. Existe uma

clara ambigüidade no conceito de responsabilidade; o homem não se exime

totalmente da responsabilidade de seus atos, pois o que o levou a cometê-los foi sua

iniciativa, mas fica claro que a decisão foi da divindade, uma vez que elas se

apoderam do entendimento a fim de subtrair sua razão; a loucura seria um recurso

utilizado pelas divindades para que suas vontades sempre prevalecessem sobre a

vontade dos homens. A Atê é um estado transitório de insanidade produzida pelos

deuses, uma perda da razão ou da consciência; Moira é a justificativa para os atos

insensatos, os infortúnios da vida individual, os desastres pessoais, os azares;

enquanto as Erínias são os verdadeiros agentes de vingança; já o thymos é uma

espécie de alma funcional; responsável pelas motivações, aprendizagens,

sensações, memória e emoções (mais tarde chamados de comportamento,

personalidade ou vida mental), mas ainda assim não garante autonomia aos homens

De acordo com Pessotti (1994), em Homero, a loucura é um estado de

desrazão, de perda do controle consciente sobre si mesmo, de insensatez, de perda

do contato ordenado com a realidade física ou social, tendo como origem a obra de

Zeus, outros deuses ou de entidades subalternas. Quanto à forma, corresponde à

mania (tida como os furores), à melancolia, aos episódios de insensatez, aos atos

falhos e aos sonhos mais significativos. No que diz respeito à terapia, Homero faz

menção a um pharmakon, uma bebida produto de um ritual humano que acalmaria

as aflições, os tormentos da ansiedade e proporcionaria a aceitação tranqüila das

vontades dos deuses; mas que seu efeito dependeria de agentes externos. O

importante, nessa época, é ressaltar que não há identificação entre loucura e

doença, não havendo, portanto, necessidade de cura, mas sim de uma

reorganização entre o indivíduo e as suas relações com seu grupo social. Nos textos

trágicos, o termo Atê passa a significar não só o estado de espírito que transgride a

ordem, mas também as desgraças reais decorrentes da transgressão, castigo, ruína

devido ao crime, o destino desastroso do criminoso que o conduz a decisões erradas

e fatais. Os principais representantes dessa época são os escritores Ésquilo,

Sófocles, Eurípedes e Orestes. Nas peças trágicas a interferência da divindade vai

cedendo gradualmente o papel de causa aos conflitos de paixões e ao choque entre

o desejo e as normas éticas, e mesmo que os deuses ainda tenham participação no

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ódio, desejo sexual, inveja ou culpa dos personagens, a loucura é resultante de

conflitos entre paixões, lealdades ou deveres; esses conflitos são pessoais e

cotidianos. Há uma substituição do modelo mítico-teológico por uma visão um pouco

mais racional, a respeito da vontade, das forças das paixões. Na obra de Eurípedes

percebe-se o começo de uma psicologia enquanto concepção de individualidade

intelectual e afetiva, uma vez que ele descobre e revela a natureza do homem como

contraditória, conflitiva e às vezes patológica.

Na obra de Hipócrates, o distanciamento do mito da interferência da divindade

no processo de loucura de extrema: ele passa a entender a loucura como um

desarranjo da natureza orgânica do homem; defende uma posição naturalista oposta

a explicações mitológicas, marcando assim o fim da Medicina sacerdotal na Grécia

Antiga. Demonstra uma grande convicção organicista, o que significa um progresso

na psicopatologia e um retardo do desenvolvimento de uma explicação psicológica e

de uma conseqüente psicoterapia. A loucura enquanto delírio e descontrole seria

somente um sintoma de um desarranjo, desequilíbrio do estado humoral do cérebro

devido a alterações de estado físico dos humores ou de sua localização e

movimentação no interior do corpo. A terapia sugerida por Hipócrates combinava

intervenções do tipo catártico, que visava alterar com mudanças de alimentação e de

hábitos, a economia humoral desequilibrada, sendo que com esses recursos a

doença seria curada com o tempo. Platão (427-348 a.C.) também endossa a teoria

humoral da vida mental e da loucura, de tradição hipocrática, mas com algumas

mudanças; Platão considera a loucura como um desarranjo entre as partes da

psyche, como um desvio da racionalidade do sistema, sendo que há diferentes

loucuras dependendo da parte afetada.

Já Aristóteles (384-322 a.C.) situa a alma racional e a irracional no coração e

não no cérebro, uma vez que acredita que o cérebro não possui participação nas

sensações. O coração viveria do calor vital, e quanto mais se aquecesse melhor

funcionaria, sendo que variações abruptas na temperatura explicariam todas as

formas de loucuras. No período alexandrino, é lançada a idéia de que o centro da

vida psíquica e sensorial não seja o coração, e sim as meninges do encéfalo. Para

Cláudio Galeno (131-200 d.C.), a loucura ainda era um sintoma de um mero

desarranjo no equilíbrio humoral, pnemática; as doenças mentais poderiam ser

imaginativa, racional ou mnemônica, sendo sua sede o cérebro; o conceito de

pneuma, ampliado por Galeno, estabeleceu a base para uma visão psicossomática

da loucura (Pessotti, 1994).

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É a doutrina demonista que associa a loucura à possessão diabólica e marca

a concepção medieval da psicopatologia, não é apenas um artifício religioso da

época para repreender as heresias e impor a ortodoxia teológica e moral, mas

também uma forma de pensar, que tem suas raízes na própria formação doutrinária

do cristianismo, uma vez que nos três primeiros séculos do cristianismo havia

crenças gnósticas e dualísticas, sendo que no cristianismo propriamente dito, suas

mitologias evoluem de um lado para as divindades pagãs (culto ao demônio) e de

outro para os hereges, instrumentos do demônio, dividindo o mundo em dois reinos:

o do bem e o do mal. Entre os séculos II e III, enquanto alguns entendem o demônio

como o espírito de perversão que existe em nós mesmos, outros pensam os

demônios como anjos decaídos que resistem entre o céu e a terra e os deuses

pagãos como corporificações dos demônios que tentam os homens com magias e

heresias. Com o fanatismo religioso da Idade Média, quase tosos os

comportamentos acabam sendo tidos como suspeitos e gradualmente atribuídos ao

demônio como, inicialmente, a perda de colheitas, os abortos naturais e as

tempestades, sempre produtos de bruxarias (Pessotti, 1994).

Muitas obras foram publicadas com o objetivo de facilitar a identificação dos

que agem por obra do demônio, seja por meios de encantamentos, por terem

condutas estranhas ou poderes anormais para sua condição social. Em 1484 é

publicado o terrível Malleus Maleficarum (Martelo das Bruxas) escrito por Sprenger e

Institor (Heinrich Kramer), destinado a instrumentalizar inquisidores e eclesiásticos

em geral com sólida doutrina demonológica, para capacitá-los a identificar casos de

possessão diabólica ou comércio com o diabo e intervir nesses casos, ou seja,

legitimizar a caça às bruxas, sendo que a característica da loucura é a de considerar

demoníaca praticamente todas os comportamentos aberrantes ou indecentes. Esse

modelo de pensamento copia distorcidamente o modelo mitológico da Grécia antiga,

uma vez que a loucura não é vista apenas como a interferência de entidades

extranaturais, mas também porque é negativa, patológica, estigma de imperfeição e

de culpa; campo de batalha entre o bem e o mal, sendo o homem passivo frente ao

demônio e frente também ao poder do salvador, o exorcista. Essa concepção

demonista cristã exclui as paixões, os instintos e os desejos humanos da etiologia da

loucura, uma vez que tudo isso é obra do demônio; ao homem cabe fugir delas e

culpar-se quando erradas ou entregar-se a elas quando santas. Para o Malleus e

seus congêneres, toda loucura, enquanto delírio ou mero descontrole, é obra do

demônio, por iniciativa própria (possessão e obsessão) ou por pedido de alguma

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bruxa. O texto ainda está repleto de recomendações terápicas como jejuns, orações,

freqüência a igrejas e finalmente o exorcismo para a cura de qualquer fenômeno de

aberração ou bizarrice do comportamento, como a violência física, a excitação

erótica, as alucinações, os meros enganos, as ilusões de óptica, a obstinação, a

mania, a melancolia, a ansiedade, a esterilidade a impotência e a frigidez sexual ou

qualquer outra doença (Pessotti, 1994).

Em 1576 é editado o Compendio dell’Arte Essorcistica, et Possibilita delle

Mirabili et Stupende Operazioni delli Demoni, et Melefici, de Menghius. O Compendio

se destina a leigos e tem como propósito defender as aplicações ortodoxas do

exorcismo contra a difusão de práticas charlatanescas e supersticiosas feitas por

pessoas sem preparação doutrinária sem credenciais canônicas para isso. No

Compendio, assim como no Malleus, não há formulação de uma teoria

demonológica da loucura, mas a desrazão não é vista necessariamente como sua

essência: loucura também é avareza, luxúria, ambição desmedida e desrespeito ao

que é sagrado. Quanto às causas, a loucura é quase sempre devida à ação do

demônio; quanto à natureza, pode ser o comprometimento de funções mentais ou o

descontrole dos instintos ou das paixões, e com relação à classificação, são vários

os casos clínicos descritos, como de paralisia histérica e melancolia, onde o

tratamento é sempre o exorcismo (Pessotti, 1994).

Segundo Pessotti (1994), nos séculos XV e XVI, a loucura passa a ser

elaborada sob influência do organicismo pneumático e da doutrina da alma ou da

mente. Para Zacchias, qualquer demência pode ser devida à diminuição

(imbecilidade, estultice, fraqueza de espírito e amnésia), depravação (delírio) ou

perda da função mental (loucura: mania, melancolia, furor, licantropia amor

insensato e melancolia hipocondríaca). Já Plater, refletindo a visão médica galênica,

descreve a doença mental como lesão da inteligência (razão, imaginação e

memória), podendo resultar num défict (fraqueza mental ou abolição da mente) ou

numa depravação (esgotamento, estafa mental, alienação mental ou extravio da

inteligência). Para Plater, a loucura pode derivar de causas físicas, passionais ou

internas, onde se inclui a possessão demoníaca, iniciando assim uma tendência a

dar maior ênfase ao delírio e menor interesse na bizarrice dos comportamentos e

nas distorções perceptivas.

É nessa época também que se dá abertura ao enfoque iatroquímico e

iatromecânico, a primeira negação da origem sobrenatural das doenças, uma vez

que as explicações são fornecidas em termos da química e mecânica dos humores,

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de acordo com a tradição hipocrática. Na concepção de Descartes não há um

componente psicológico na etiologia da loucura; sua natureza é o desgarramento do

espírito, o erro de julgamento das coisas durante a vigília;e seus tipos são a mania e

a melancolia. A loucura passa a ser tida como uma doença natural como as outras

doenças; isso facilita o caminha para uma abordagem científica do desvario e do

descontrole emocional (Pessotti, 1994).

São criados os manicômios, termo genérico usado para classificar hospícios,

asilos, hospitais psiquiátricos e demais lugares de tratamento da doença mental que

se valem do princípio do isolamento do louco da sociedade. O ambiente do

manicômio é um lugar aonde os internados perdem todas as suas referências de

vida: são excluídos do convívio familiar, do trabalho, do local onde moram, da

cidade; perdem, portanto, a maior garantia que a sociedade moderna pretende dar a

todos: a cidadania; tem origem na cultura árabe, datando o primeiro hospício

conhecido do século VII, sendo os primeiros hospícios europeus criados no século

XV. Nos tratamentos buscava-se dar um "choque" no paciente, fazer com que

passasse por uma sensação intensa, que o tirasse de seu estado de alienação;

eram correntes as práticas de sangria, de isolamento em quartos escuros, de

banhos de água fria, além dos aparelhos que faziam com que o paciente rodopiasse

em macas ou cadeiras durante horas para que perdesse a consciência.

Com a Revolução Industrial, a necessidade de aproveitamento de mão de

obra para a produção, intensificou a necessidade de excluir do corpo social todo

aquele que não pudesse produzir; internam-se nos manicômios, então, não somente

os loucos, mas também os inválidos de todos os gêneros, os velhos, os nobres

decadentes e esbanjadores, estes últimos, sobretudo para que não dessem o mal

exemplo a uma sociedade trabalhadora. No Brasil, o primeiro hospício foi inaugurado

pelo imperador D. Pedro II, no Rio de Janeiro, em 1852.

A psicopatologia do século XIX caracteriza-se pela pesquisa médica dispersa

em uma pluralidade de linhas teóricas, muitas mutuamente exclusivas. Ao longo

desse período, a etiologia diabólica da loucura vai sendo progressivamente

eliminada; explicações humoristas vão perdendo a importância e as especulações

fisiológicas procuram harmonizar dados da observação clínica; os distúrbios de

comportamento começam a ser analisados e discriminados entre tipos diferentes de

loucuras e as perturbações intelectuais e cognitivas passam a ter importância

fundamental no diagnóstico.

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De acordo com Pessotti (1994), em 1801 é publicado o Traité Médico-

Philosophique sur l’aliénation mentale, de Pinel, obra esta que inaugura a psiquiatria

como especialidade médica. Para ele, a loucura é entendida como comprometimento

ou lesão do intelecto e da vontade, se manifestando no comportamento do paciente

sob as mais variadas formas. As grandes formas da alienação mental seriam

loucura, mania, melancolia, demência e idiotia, podendo ser herdada, resultado das

influências de uma educação corrompida sobre a perda de razão, produto da

menopausa ou das paixões ardentes, como conflitos, frustrações, hábitos, gostos,

vícios e repressão do desejo. O diagnóstico implica na sapiência da história de vida

anterior do paciente; da observação prolongada, rigorosa e sistemática das

mudanças biológicas, das atividades mentais e de comportamento social deste. A

psicoterapia de Pinel se resume num diretor espiritual e num regime físico e moral

para eliminar a alienação mental. A contribuição do Traité está na mudança de

atitude metodológica da medicina diante o paciente alienado; a doutrina de Pinel,

moralista e pedagógica, deriva numa prática terapêutica de encorajamento e

repressão, eventualmente eficaz para os propósitos de reinserção do paciente na

vida social.

A partir dos anos 50, com surgimento dos psicofármacos e o conseqüente

esvaziamento dos hospícios, tem início uma nova perspectiva para o tratamento dos

doentes mentais. No entanto algumas dificuldades já são observadas: as causas das

doenças mentais ainda não são claras, o que compromete uma abordagem

terapêutica realmente eficaz; as várias formas de compreender a loucura, fruto de

variados pressupostos teóricos, leva a uma pluralidade no atendimento que torna

difícil a comparação de eficácia; a própria clientela desses serviços tem

peculiaridades: a doença mental, diferentemente de outras doenças, não cursa

necessariamente com dor e sofrimento; o doente não sabe que está doente, alguém

lhe confere esse status; as internações compulsórias transformam esses indivíduos,

assim, em não-cidadãos, pessoas desqualificadas no seu poder de verbalizar

reivindicações, por serem social e moralmente ilegítimas.

Assim, o hospital psiquiátrico, ou hospício, acabou se tornando: (1) um meio

para obtenção de licença na Previdência Social; (2) um lugar de repouso, de

restauração da energias, das populações de baixa renda; (3) abrigo e asilo para os

sem lar e sem família; (4) casa correcional para toxicômanos perturbadores; (5)

espaço onde se exerce o “comércio da loucura” , com os pacientes (sobretudo

alcoólatras) que internam-se periodicamente, gerando lucro para os donos dos

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hospitais. Mas o hospício se revela mais perverso na medida em que ao invés de

recuperar, confirma e reforça a doença mental; o hospício traz embutido em seu

papel o lento processo de “mortificação do Ego” dos que nele estão internados.

Segundo Pessotti (1994), a confusão doutrinária das últimas décadas do

século XIX gera vários absurdos terapêuticos; há uma desorientação geral da teórica

médica quanto à etiologia e conseqüentemente da terapêutica da loucura; há o

desaparecimento do modelo mitológico religioso e destaca-se o organicismo que

incentiva a busca por maiores explicações das funções orgânicas, culminando num

conflito entre o modelo organicista clássico e um modelo médico biopsicossocial,

que por sua vez, testemunha a fragmentação e o paralelismo da teoria psiquiátrica,

já que aquilo que não se explica com o “bio”, se explica com o “psico” e/com o social,

gerando uma espécie de ilusão e impotência terapêutica (Saraceno, 2001-a).

Para Wickert (1998),

“no pensar coletivo atual, louco é aquele que não tem razão, que dá

medo, que não controla seus próprios impulsos, escapando aos

padrões sociais a serem seguidos e mantidos, necessitando, então,

de tratamento especializado (...) Como o insano não é

controlável/suportável nos termos morais, a razão coexiste com a

loucura em contraposição, assim quem tem a razão não é louco e

quem é louco não tem a razão.” 3

Segundo Dittrich (1998),

“será sempre em relação a uma ordem de ‘normalidade’,

‘racionalidade’ ou ‘saúde’ que a loucura é concebida nos quadros de

‘anormalidade’, irracionalidade’ ou ‘doença’ ”.4

A prática de submeter o paciente psiquiátrico às instituições manicomiais são

práticas que visam moldar a conduta do sujeito sem levar em consideração o seu

desejo, a sua subjetividade, num único objetivo de exclusão, a massificação e a

dominação social. Os loucos passam a ser enclausurados em um lugar delimitado e

afastado, para que os ditos como sãos saibam a história do sofrimento psíquico

3 Wickert, 1998. Loucura e direito a alteridade, pp. 39. 4 Dittrich, 1998. Psicologia, direitos humanos e sofrimento mental: ação, renovação e libertação, pp. 52.

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desses doentes, saibam quais males os ameaçam e busquem maneiras de evitar tal

sofrimento, nascendo dessa estrutura os manicômios, lugares onde se despejavam

aquelas pessoas que a sociedade, apesar de produzir, rejeitava (Wickert, 1998).

Para Goffman (1996) apud Wickert (1998), os manicômios assim como as

prisões, os conventos, os quartéis e as casas de recolhimento de indigentes são

instituições totais, uma vez que as instituições totais são caracterizadas por locais

onde as atividades são realizadas num mesmo local e sob uma única autoridade;

todas as pessoas são tratadas da mesma forma e obrigadas a realizar tarefas em

conjunto, sendo estas rigorosamente organizadas por um sistema de regras formais

explícitas e por um grupo de funcionários. Além disso, há uma divisão básica e de

pouca mobilidade social entre o grupo de internados e a equipe de supervisão. Na

estrutura manicômio-instituição total, uma estufa para mudar pessoas, o paciente é

obrigado a despir-se não só das suas roupas, mas também da sua história, sua

subjetivação, sua individualidade, tornando-se apenas um simples número ou uma

categoria da CID-10.

Com o processo de internação, as barreiras que separam o manicômio do

mundo externo acarretam perdas de papéis sociais e a aquisição de um padrão de

comportamento homogeneizado a ser seguido, sendo uma agressão à subjetividade

e à individualidade do paciente, além da perda do rótulo de saudável, de quem “tem

a razão”, pois dizer socialmente “doente mental” é sê-lo para o resto da vida,

condicionando o passado e o futuro do sujeito e marcando-o para toda a vida

(Wickert, 1998).

Segundo Saraceno (2001-a), os anos 70 se caracterizaram pela idéia de que

a psiquiatria seria um conjunto de técnicas terapêuticas a serem aprendidas a fim de

escolher aquela mais convincente, além da manutenção da idéia equivocada de

cientificidade, na qual

“científico é tudo aquilo que se exprime com categorias do

quantitativo, que se refere a modelos claros e distintos, que exclui a

subjetividade”.5

No entanto, como expressar em categorias puramente quantitativas um

fenômeno cujo objeto às vezes é e as vezes não é alguma coisa ?6

3 Saraceno, 2001-a. Libertando Identidades, pp.13. 6 Simanke, 1997, Loucura e Psicose: a abordagem psicanalítica. Apostila.

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17

Partindo da análise do discurso comum, Simanke (1997) observa que o termo

loucura, longe de seu significado psicopatológico atual, formou uma rede ou campo

de significações, do qual se alimentaram, posteriormente, os discursos mais

organizados. A denominação “loucura” não representa nada de específico. Ela

somente vai sofrer uma determinação estreita ao ver-se apropriada de formas de

conhecimento mais organizadas, a partir dos parâmetros que definem as diversas

teorias, adquirindo, somente desse modo, um sentido próprio, mas que permanece

circunscrito a essa dada disciplina7.

Somente quando a psiquiatria se impõe como o campo de domínio das

doenças mentais, é que a loucura passa a se restringir ao significado “científico” que,

hoje, lhe é atribuído.

No entanto, ainda segundo Simanke (1997), o significado “científico” da

loucura nasceu de práticas sociais mais ou menos simétricas à maneira como o

fenômeno era percebido. O autor nota que tais práticas,

“desencadeadas pelos aspectos mais superficiais das

manifestações, podiam ser exercidas sem necessidade de entrar no

mérito da natureza última dos fenômenos em foco; em outras

palavras, ao menos nesse caso, a ação precedeu a reflexão” 8.

Inspirado por algumas noções gerais foucaultianas, o autor arrisca um esboço

de definição dizendo que

“histórica e culturalmente, a loucura identifica-se com um certo

campo de discursos, que emergem de práticas sociais e/ou

institucionais mais ou menos concretas.” 9

Tais práticas foram rapidamente institucionalizadas, e foi através de um

modelo hospitalocêntrico para o tratamento das doenças mentais que chegaram até

nós.

A Reforma Psiquiátrica consiste em uma reação a essa modelo, por meio de

uma série de transformações na assistência em saúde mental propostas pela

chamada "Luta Antimanicomial", um movimento social que se iniciou na Itália com

7 Simanke (1997), p. 5 8 Idem, ibid, p. 6

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Franco Basaglia e teve seus primeiros momentos no Brasil a partir do final da

década de 70, se intensificando ao longo dos anos 80, 90 e 2000. Este movimento

reúne diversos atores sociais como usuários de serviços de saúde mental, seus

familiares e técnicos da área de saúde; não pretende acabar com o tratamento

clínico da doença mental, mas sim eliminar a prática do internamento como forma de

exclusão social dos indivíduos portadores de transtornos mentais. Propondo, para

isso, a substituição do modelo manicomial pela criação de uma rede de serviços

territoriais de atenção psicossocial, de base comunitária. A extinção dos manicômios

deve ser gradual, sendo que para que isso ocorra, foi aprovada uma Lei Federal de

Saúde Mental em abril de 2001 (após 12 anos de tramitação no Congresso), que

regulamenta o processo de Reforma a Assistência Psiquiátrica no Brasil.

9 Idem, ibid, p. 7

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II. JUSTIFICATIVA

A partir da década de 70, percebe-se no país alguns movimentos de crítica ao

modelo hospitalocêntrico no que se refere à assistência psiquiátrica, sendo a

exclusão e a violência nos manicômios pautas de discussões que reivindicavam os

direitos dos doentes mentais. Os principais questionamentos eram relacionados à

natureza do modelo privatista e à sua incapacidade de produzir um atendimento que

contemplasse as necessidades de seus usuários, mas ainda não havia um modelo

muito claro nem uma proposta de intervenção clínica. Já na década de 80, período

marcado pela ditadura, o movimento pela reforma psiquiátrica no Brasil ganha

importância política e social, possibilitando mudanças na saúde, permitindo a

participação de outros setores que não médicos, enfatizando críticas às noções de

clínica e cidadania, ambas ancoradas a uma concepção universal do sujeito onde a

normalidade deve ser reconstituída. A construção de um novo espaço social para a

loucura exigia não só que a noção de cidadania e a base do saber psiquiátrico

fossem colocados em debate, mas também a invenção de novos locais,

instrumentos técnicos, terapêuticos e novos modos de estabelecer relações com

esses sujeitos (Santos, Almeida & Venâncio, 2000).

Nesse período foi muito importante a influência da psiquiatria democrática

italiana, propondo o questionamento da suposta universalidade do racionalismo

científico das psiquiatrias; usuários e familiares passaram a reivindicar mais

intensamente por outras possibilidades de atenção assim como espaços, avanços

técnicos e formas de reabilitação psicossocial. Começaram a ser implantados os

hospitais-dia, mas só nos anos 90 foram criados e consolidadas propostas como os

Centros de Assistência Psicossocial (CAPS), os Núcleos de Atenção Psicossocial

(NAPS) e os Lares Abrigados (Santos, Almeida & Venâncio, 2000).

Originada do grego, a palavra autonomia surgiu para designar a capacidade

de um indivíduo de se autodeterminar, de se auto-realizar (Santos, Almeida &

Venâncio, 2000). Para Kinoshita (2001), autonomia seria

“a capacidade de um indivíduo gerar normas, ordens para a sua vida,

conforme as diversas situações que enfrente (...) não se trata de

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confundir autonomia com auto-suficiência nem com independência.” 10

No campo da saúde mental, entretanto, seu conceito parece ser mais

impreciso, uma vez que os sujeitos se tornam destituídos de todo e qualquer valor

ao receber o atributo de doente mental, além da dúvida de se as instituições que

utilizam novos dispositivos contrários àqueles do tradicional manicômio, propiciarem

ou não a produção de autonomia para os usuários que se beneficiam do tratamento

(Santos, Almeida & Venâncio, 2000). Aqui, se torna muito importante a questão da

reabilitação psicossocial.

Para a OMS, segundo Pitta (2001-a), a reabilitação psicossocial seria

“o conjunto de atividades capazes de maximizar oportunidades de

recuperação de indivíduos e minimizar os efeitos desabilitantes da

cronificação das doenças através do desenvolvimento de insumos

individuais, familiares e comunitários”. 11

Segundo Pitta (2001-b), reabilitação psicossocial

“implica numa ética de solidariedade que facilite aos sujeitos com

limitações para os afazeres cotidianos, decorrente de transtornos

mentais severos e persistentes, o aumento da contratualidade

afetiva, social e econômica que viabilize o melhor nível possível de

autonomia para a vida na comunidade.” 12

Já Kinoshita (2001) pensa que reabilitação seria a reconstrução dos valores, o

aumento do poder contratual do usuário; a criação de condições para que o paciente

possa participar do processo de trocas sociais; a produção de dispositivos que

mudem o pressuposto de desvalor natural; em suma, um processo de restituição do

poder contratual do usuário, com vistas a ampliar a sua autonomia.

Complementando a idéia, Saraceno (2001-b) afirma que

10 Kinoshita, 2001. Contratualidade e reabilitação psicossocial, pp. 57. 11 Pitta, 2001-a. O que é reabilitação social no Brasil, hoje?, pp. 21.

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“o processo de reabilitação seria, então, um processo de

reconstrução, um exercício pleno da cidadania, e, também, de plena

contratualidade nos três grandes cenários: habitat, rede social e

trabalho com valor social.” 13

Marques (2001), ainda define como metas da reabilitação

“prevenir e/ou reduzir incapacitações ou perda de habilidades;

restaurar habilidades potenciais em desempenhar papéis sociais;

fortalecer habilidades latentes e dignidades potenciais; facilitar

adaptação social e psicológica aos efeitos de prejuízos sociais na

vida do indivíduo; minimizar a deterioração; capacitar níveis ótimos

de autodeterminação, execução de responsabilidades pessoais e

independentes, melhorar o sentido de bem-estar da pessoa.” 14

A reabilitação deve ser a principal característica da psiquiatria; um

“entretenimento” do doente. Tendo em vista que entreter significa “ter dentro” e

também “passar prazerosamente o tempo”; na espera de que o doente morra ou que

a doença se cure sozinha, o significado empregado pode ser o de que o doente

“fique dentro” do hospital psiquiátrico, nas alas, nas enfermarias, nas salas de

contenção, na violência e na miséria; ou então o de que o doente também pode ser

entretido com conversas, com oficinas terapêuticas, em um hospital dia e/ou no meio

da sua própria família, adotando assim o sentido de inserção em um sistema onde a

espera é de melhora. É importante também conhecer as ações que contribuíram

para a melhora do paciente, pois assim talvez fosse verificado que as ações formais

não são especialmente influentes sobre a evolução das doenças; que a psiquiatria

clínica com suas terapêuticas constitui um conjunto de entretenimentos danosos ou

indiferentes, raramente úteis. A ruptura deste entretenimento não é apenas uma

ruptura à prática da psiquiatria, mas também uma busca de caminhos que confluam

para a reconstrução da cidadania plena do paciente psiquiátrico, sendo esta não só

a restituição de seus direitos formais, como também a construção afetiva, relacional,

material, habitacional e produtiva dos seus direitos substanciais (Saraceno, 2001-a).

12 Pitta, 2001-b. Prefácio à 1ª edição, pp. 9. 13 Saraceno, 2001-b. Reabilitação psicossocial: uma estratégia para a passagem do milênio, pp. 16.

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É buscando refletir sobre as práticas substitutivas em Saúde Mental que o

presente trabalho realizou um estudo comparativo entre o encaminhamento dado

aos usuários que procuram os serviços de saúde mental em duas unidades de

saúde mental. Uma delas, o CAPS-São Carlos, inserido no contexto de reformulação

da atenção em Saúde Mental e pretendendo ser um serviço que de alguma forma

venha a inaugurar o “novo” em termos de atendimento ao doente mental, e o Centro

de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, em Caconde-SP, que funciona em

esquema ambulatorial tradicional.

Para tal, este estudo caracterizou, por meio da consulta aos Prontuários, o

tratamento oferecido à população atendida, o tipo de demanda, assim como a

questão da construção da autonomia dos sujeitos psicóticos atendidos pelos

serviços, sempre considerando as características próprias de cada serviço.

A indagação é pertinente, pois a discussão sobre a “autonomia” dos sujeitos

psicóticos põe em debate os tradicionais conceitos de alta e cura em psiquiatria,

além de, depois aproximadamente uma década de implantação dos “novos

serviços”, parece ser este um bom momento para refletir e avaliar as possíveis

transformações no campo da Atenção em Saúde Mental.

14 Marques, 2001. Reabilitação psicossocial e a reforma psiquiátrica, pp. 107.

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III. OBJETIVOS

� OBJETIVO GERAL: realizar uma comparação descritiva entre o

encaminhamento oferecido aos usuários dos serviços de Saúde Mental no

CAPS de São Carlos-SP e o Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do

Valle”, em Caconde-SP, de acordo com os recursos disponíveis em cada

serviço.

� OBJETIVO ESPECÍFICO: caracterizar a população atendida e o tipo de

demanda.

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IV. METODOLOGIA

Segundo Capra (1982), a influência do paradigma cartesiano (concepção

mecanicista da vida) sobre o pensamento médico resultou no modelo da moderna

medicina científica, onde o corpo humano é considerado uma máquina que pode ser

analisada em termos de suas peças; a doença é tida como um mau funcionamento

dos mecanismos biológicos, que são estudados do ponto de vista da biologia

molecular; o papel dos médicos é intervir, física ou quimicamente, para consertar o

defeito no funcionamento de um mecanismo específico enguiçado. O paradigma

biomédico reduz as doenças às causas biológicas. Em se tratando das doenças

mentais, postula uma relação linear de causalidade entre danos do sistema nervoso

e o surgimento das doenças mentais, considerando que os tratamentos das doenças

não são outro que modificações (essencialmente farmacológicas) da função cerebral

alterada.

A abordagem biopsicossocial procura contemplar o processo de saúde-

doença como uma relação contínua entre fatores biológicos, psicológicos e sociais

(agora também espirituais). Fatores macrossociais, diferenças culturais, eventos

externos (guerras, desastres), condições sócio-econômicas (desemprego, recessão

econômica, condições de insuficiente suporte social, ambientes psicológicos

adversos) e contextos microssociais (família) são todos importantes no surgimento e

na evolução de muitas das doenças psiquiátricas (Saraceno, 2001-a).

Segundo Rey (2002) e apoiando a abordagem biopsicossocial, o

conhecimento estaria ligado à cultura, à organização social e à “práxis histórica”,

sendo não só condicionado, determinado e produzido, mas também condicionante,

determinante e produtor.

O que ainda vem acontecendo ultimamente é que o papel biológico vem

dominando o modelo de assistência à saúde mental. O ideal seria uma relação não

simplesmente somatória, mas interativa entre as dimensões biológica, psicológica e

social, sem deixar quer um dos aspectos fosse dominante sobre os outros, pois a

abordagem biopsicossocial não exclui, evidentemente, a biológica, mas coloca em

crise o paradigma biomédico, mostrando sua ineficácia e deterioração.

O presente estudo tomou predominantemente como referência a luta

antimanicomial, os princípios que norteiam a reforma à assistência psiquiátrica no

Brasil e as orientações da pesquisa qualitativa, sendo que esta última, segundo Rey

(2002)

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“enfatiza tanto a compreensão da pesquisa qualitativa como processo

dialógico que impede tanto o pesquisador, como as pessoas que são

objetos da pesquisa, em sua condição de sujeito do processo; (...) a

busca de grandes narrativas vai sendo substituída por teorias mais

locais e de pequena escala. Centradas em problemas e situações

específicas (...). A definição do qualitativo na pesquisa psicológica não

é uma questão instrumental, nem tampouco uma questão definida

pelo tipo de dados que devem ser incluídos, mas que se define

essencialmente pelos processos implicados na construção do

conhecimento, pela forma de se produzir o conhecimento”.15

Local

O estudo foi realizado no CAPS (Centro de Assistência Psicossocial) de São

Carlos-SP e no Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, em Caconde-

SP.

CAPS

Inicialmente somente o Centro Municipal de Especialidades oferecia uma

tímida atenção à Saúde Mental pública à cidade de São Carlos, oferecendo um

serviço basicamente ambulatorial ao doente mental. Devido à grande demanda,

ocorriam problemas que comprometiam a qualidade do tratamento, como

agendamento de consultas e retornos com longos intervalos de espera, marcação

das consultas num único horário, falta de prévia informação ao paciente tanto sobre

a ordem das consultas, quanto à questões de prevenção, sintomatologias das

doenças,procedimentos de emergência, características e adequação dos serviços e

tratamentos disponíveis. Tais circunstâncias tornava-os apreensivos e inseguros,

inviabilizando atuações na manutenção da saúde, autonomia e qualidade de vida.

Sendo observada a falta de recursos adequados encontrados no Centro

Municipal de Especialidades e o alto índice de internações, demonstrando o atraso

de São Carlos em relação às cidades vizinhas, iniciou-se um processo de mudanças

que visava adequar a prestação de serviços em Saúde Mental às tendências de

vanguarda, intervindo com a comunidade, os usuários, os profissionais e a

instituição.

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Essas mudanças iniciaram com a proposta de um serviço de Sala de Espera

do Corredor de Saúde Mental do Centro Municipal de Especialidades, onde

estagiários da UFSCar objetivavam o espaço necessário à orientação de usuários,

acompanhantes e familiares, visando, basicamente o resgate da cidadania e a

reabilitação psicossocial. Isso se deu através de diálogos informativos e orientações

aos usuários, familiares e acompanhantes; exposição dos usuários a situações do

contato social que favorecessem a expressão, além de uma maior interação entre

usuários e membros da equipe de Saúde mental.

Durante o desenvolvimento do Projeto de Atendimento em Sala de Espera, o

contato diário com a realidade do serviço no Corredor de Saúde Mental do Centro

Municipal de Especialidades, com profissionais e usuários, possibilitou aos membros

envolvidos a efetuação de um diagnóstico institucional que apontava a insuficiência

desse serviço (os usuários faziam uso prolongado e contínuo de medicamentos sem

acompanhamento adequado, havia ausência de recursos para serviços alternativos

à hospitalização, carência dos usuários de informações e necessidade de outras

abordagens terapêuticas), assim como a necessidade de reorganizar os serviços de

Saúde Mental do município promovendo mudanças que realmente levem à

reabilitação do usuário, como a implantação de um CAPS, serviço que vem sendo

utilizado com grande eficiência em diversas localidades.

De uma parceria entre a UFSCar e a Secretaria Municipal de Saúde foi

iniciada a construção do projeto de implementação do CAPS, que tinha como

principais objetivos:

• Identificar a forma de organização comunitária, os padrões culturais e sociais,

suas formas potenciais e manifestas de expressão, dentro da área de atuação

e abrangência do usuário;

• Estimular a participação de voluntários da comunidade no serviço proposto;

• Instituir o Plano Terapêutico Individual (PTI) visando a

construção/resignificação dos projetos de vida de cada indivíduo, o

reconhecimento do usuário como cidadão, reconhecimento da capacidade

crítica e a participação do usuário na definição de seu plano terapêutico;

• Criar e manter grupos de acolhimento, em substituição ao serviço de

Atendimento em Sala de Espera;

• Criar oficinas Terapêuticas;

• Criar cooperativas de trabalho;

2 Rey, 2002. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios, pp. ix, 6 e 24.

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• Criar a Associação de Usuários e Familiares;

• Utilizar os meios de comunicação para divulgar o trabalho do CAPS,

ampliando, assim, as possibilidades de inserção dos usuários na comunidade;

• Promover eventos culturais com a participação dos usuários;

• Manter contato permanente com serviços de excelência em Saúde Mental, a

fim de promover troca de conhecimentos, intervenções, pesquisas e

estabelecer critérios comparativos;

• Criar um Núcleo de atenção à Crise

• Criar um Núcleo de Ensino e Pesquisa do CAPS.

O CAPS, apesar de recentemente implantado (março/2002) na cidade de São

Carlos, já presta serviços a uma demanda considerável, uma vez que a cidade

possui quase 200.000 habitantes e ainda é referência regional, atendendo então,

não somente sua população, mas também a população das cidades vizinhas (como

Ibaté, Água Vermelha, Dourado, Ribeirão Bonito, entre outras). O CAPS - São Carlos

oferece tanto o serviço gratuito de fornecimento de medicamentos, de atendimento

médico (diagnóstico psiquiátrico ou neurológico e “troca de receitas”) como

atendimento psicológico, de enfermagem, de terapia ocupacional, de serviço social,

de oficinas terapêuticas e até a permanência de determinados períodos do dia para

os casos mais graves, dependendo do tratamento (intensivo e semi-intensivo).

Centro de Saúde

Já o Centro de Saúde II - Caconde, apesar de ter sofrido recentemente uma

pequena reestruturação no Serviço de Saúde Mental, possui um tipo de serviço

totalmente diferente do realizado nos CAPS em geral, pois oferece um serviço mais

emergencial como fornecimento de medicamentos gratuitamente, consultas com

médico psiquiatra (para diagnóstico e “troca de receitas”) e em alguns casos

encaminhamento para o psicólogo. Além da diferença do tipo de serviço oferecido, é

preciso destacar que a população atendida é bem menor, uma vez que a população

de Caconde é de aproximadamente 20.000 habitantes e a cidade não é referência

regional para nenhum assunto referente à saúde.

Tendo em vista que as duas instituições apresentam diversas diferenças entre

si, somente torna-se viável a realização de um estudo comparativo em relação ao

tipo de encaminhamento oferecido aos usuários se todas essas diferenças puderem

ser consideradas e explicitadas no estudo em questão, realizando, para isso, análise

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do projeto para implantação e estruturação de ambos os tipos de serviços de

atendimento aos doentes mentais; levantamento dos recursos terapêuticos

oferecidos (como consultas médicas, psicoterapias, oficinas terapêuticas, entre

outros); assim como análise dos prontuários dos usuários dos serviços.

Participantes

Participaram do estudo os usuários do Serviço de Saúde Mental do Centro de

saúde II “Dr. Sebastião ribeiro do Valle”, além dos usuários intensivo e semi-

intensivo do CAPS através dos dados contidos nos prontuários, uma vez que não

houve interação direta nem com os usuários nem com os prestadores de serviço, de

qualquer forma que seja.

Material

Durante a fase de coleta de dados foram utilizadas várias cópias do

instrumento-base para a análise dos prontuários, além dos prontuários em questão e

caneta para as anotações. Para o tratamento dos dados foi utilizado

microcomputador.

Instrumento

Foi estruturado um formulário específico (Anexo 1) para o estudo em questão.

Este instrumento consta de vários dados levantados através dos prontuários

dos usuários do CAPS – São Carlos e do Centro de Saúde II – Caconde, como o

Serviço que está utilizando; número do prontuário; iniciais do usuário; sua idade;

data de nascimento; local de nascimento (cidade, estado e país); endereço atual

(bairro e cidade); escolaridade; profissão; data de admissão no serviço em questão;

queixa de entrada; descrição dos principais sintomas; casos de antecedentes

familiares; hipótese diagnóstica; medicação em uso; número de internações

psiquiátricas, assim como locais e datas; outras doenças e/ou medicações

associadas; se recebe benefício do INSS; quais os atendimentos terapêuticos

recebidos como psicoterapia ou terapia ocupacional; qual a modalidade desses

atendimentos terapêuticos recebidos, como em grupo, individual ou ambas; qual a

freqüência (uma, duas ou três vezes/semana); se recebe acompanhamento

psiquiátrico; se participa de alguma atividade terapêutica em oficinas, sendo que em

caso positivo quais seriam essas oficinas; qual o último encaminhamento recebido,

assim como sua data; a evolução clínica do usuário; outros achados não

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contemplados pelas questões acima; data de consulta ao prontuário; nome da

pesquisadora e assinatura da mesma.

Procedimento

Após a concordância de ambas as instituições por meio da assinatura do

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 2) por seus responsáveis, o

projeto foi enviado ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFSCar (Anexo 3). Aprovado

(Anexo 4), iniciou-se a fase de coleta de dados.

A pesquisadora passou a ir diariamente nos serviços, durante um período de

aproximadamente três meses, para coletar os dados dos prontuários.

Para selecionar os prontuários dos usuários dos serviços de Saúde Mental do

Centro de Saúde II - Caconde, foi necessário recorrer a um caderno onde eram

agendadas as consultas com o psiquiatra, uma vez que não havia nenhuma outra

fonte de registro dos usuários desse tipo de serviço. Sendo assim, foram anotados

os nomes e os respectivos números de registro dos pacientes que receberam

atendimento psiquiátrico de janeiro à julho de 2003, para que estes pudessem

posteriormente ser analisados.

No Centro de Saúde, a pesquisadora responsabilizou-se pela retirada e

devolução dos prontuários, estando estes organizados de forma numericamente

crescente. Já no CAPS – São Carlos, os prontuários dos usuários intensivos e semi-

intensivos estavam localizados em pastas específicas (denominadas Intensivo

Feminino, Intensivo Masculino, Semi-intensivo Feminino e Semi-Intensivo

Masculino), sendo que também havia uma atendente que localizava os prontuários

que não se encontravam nessas pastas (caso de usuários que faleceram ou já

haviam recebido alta).

Com os prontuários em mãos, para cada usuário foi utilizado um instrumento

de base de coleta de dados. No Centro de Saúde II – Caconde, esse preenchimento

realizado invariavelmente em uma mesma sala de uso médico que se encontrava

desocupada; bem iluminada, ventilada e com a porta fechada para evitar ruídos e

interrupções. Já no CAPS – São Carlos, o preenchimento foi realizado em diversos

locais, devido à não disponibilização de um local específico ou adequado para tal

tarefa.

Após serem coletados os dados de todos os prontuários disponíveis, estes

foram sistematizados e analisados.

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Com relação às hipóteses diagnósticas encontradas nos prontuários dos

usuários dos serviços de Saúde mental do centro de Saúde II – Caconde, estas

foram previamente classificadas segundo o Código Internacional de Doenças – 10,

mais conhecido como CID-10 (Cooper, 1997) e posteriormente agrupadas em

categorias maiores, sendo estas:

• F00-F09: Transtornos mentais orgânicos, incluindo sintomáticos;

• F10-F19: Transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de

substâncias psicoativas;

• F20-F29: Esquizofrenia, transtorno esquizotípico e delirante;

• F30-F39: Transtornos do humor (afetivos);

• F40-F48: Transtornos neuróticos, relacionados ao estresse e somatoformes;

• F50-F59: Síndromes comportamentais associadas a perturbações fisiológicas

e fatores físicos;

• F60-F69: Transtornos de personalidade e de comportamento em adultos;

• F70-F79: Retardo mental;

• F80-F89: Transtornos do desenvolvimento psicológico;

• F90-F98: Transtornos emocionais e de comportamento com início usualmente

ocorrendo na infância e adolescência;

• F99: Transtorno mental, sem outra especificação;

• OUTROS: outras condições da CID-10 freqüentemente associadas a

transtornos mentais e de comportamento.

Já os medicamentos foram classificados mediante categorias, segundo a tabela

abaixo.

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PRINCÍPIO ATIVO NOME COMERCIAL CLASSIFICAÇÃO alprazolan frontal, aprax ansiolítico benzodiazepínico

amitriptilina amitril, tryptanol antidepressivo biperideno akineton outros (antiparkinsonisano)

bromazepan lexotan, somalium ansiolítico calman fitoterápico ansiolítico

carbamazepina tegretol estabilizador do humor clobazam frisium, urbanil ansiolítico, sedativo

clomipramina anafranil antidepressivo clonazepan rivotril ansiolítico benzodiazepínico

clordiazapóxido psicosedin ansiolítico benzodiazepínico clorpromazina amplictil antipsicótico

clozapina leponex antipsicótico Complexo B Complexo B outros (vitamínico)

diazepan valium ansiolitico benzodiazepínico digoxina digoxina outros (digitálicos ou cardiotônicos) fenitoína hidental outros (anticonvulsivante,

antiepilético) fenobarbital gardenal outros (sedativo, hipnótico, anti

convulsivatnte) fluoxetina prozac antidepressivo haloperidol haldol antipsicótico imipramina tofranil antidepressivo

lítio carbolitium estabilizador do humor levomepromazina neozine antipsicótico

levotiroxina tetroid outros (tireoideano) lorazepan lorax ansiolítico hipnótico

nortriptilina pamelor antidepressivo olanzaprina zyprexa antipsicótico prometazina Fenergan, pamergan outros (anti-histamínico sistêmico) propanolol inderal outros (anti-hipertensivo, anti-

histamínico, betabloqueador) ranitidina antak outros (anti-ulceroso)

risperidona risperidal antipsicótico sertralina zoloft antidepressivo

tioridazina melleril antipsicótico trifluoperazina stelazine antipsicótico

valproato de sódio depakene Estabilizador do humor, anti-convulsivante

Diozenato, fenicure, fenilav ? ? Tabela 1: Classificação dos medicamentos encontrados nos prontuários dos usuários do Centro de

Saúde II - Caconde e do CAPS – São Carlos.

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32

V. RESULTADOS

Os dados obtidos com o preenchimento do instrumento foram sistematizados

e tabulados segundo as questões contidas na Base para análise de dados, e

segundo o serviço em questão para depois serem construídos os gráficos.

Os dados dos 287 prontuários dos usuários dos serviços de Saúde Mental do

Centro de Saúde II - Caconde foram analisados segundo sexo, idade, endereço

atual, escolaridade, profissão, data de admissão no serviço, queixa de entrada,

antecedentes familiares, medicação em uso, hipótese diagnóstica, média de

medicação por paciente, outras doenças associadas, número de internações

psiquiátricas, se é aposentado ou não, se recebe ou recebeu atendimento

psicoterapêutico, se recebe ou não acompanhamento psiquiátrico, se participa de

oficinas e qual o último encaminhamento recebido. Os dados coletados encontram-

se apresentados nas tabelas 2 e 3, abaixo.

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Sexo (287) Qtde. Porcent Antecedentes famil. Qtde. Porcent Outras doenças Qtde. Porcent Feminino 162 56,44% Pai 01 0,34% Artrite/Artrose 06 2,09% Masculino 125 43,55% Mãe 01 0,34% Anemia 03 1,04% Idade Irmão(ã) 02 0,69% Bronq./Rinite/Sinusite 12 4,18% 0-10 08 2,78% Avô/avó -- -- Burcite 05 1,74% 11-20 17 5,92% Tio/tia -- -- Cardiopatia 08 2,78% 21-30 48 16,72% Primo/prima -- -- Déficite Auditivo 03 1,04% 31-40 56 19,51% Sem dados 283 98,60% Diabete 14 4,87% 41-50 58 20,21% Dor de cabeça cte. 03 1,04% 51-60 60 20,90% Medicação em uso Gastrite/Úlcera 39 13,58% 61-70 21 7,31% Akineton 36 7,42% Hanseníase 01 0,34% 71 ou mais 14 4,87% Amitril 08 1,65% Infecção urinária 02 0,69% Sem dados 05 1,74% Amitriptilina 28 5,77% Labirintite 01 0,34% Endereço atual Amplictil 33 6,80% Obesidade 04 1,39% Água Branca 14 4,87% Anafranil 03 0,61% Osteoporose 04 1,34% Bela Vista 31 10,80% Bromazepan 01 0,20% Hipertenção Arterial 36 12,54% Centro 13 4,53% Calman 01 0,20% Pressão Baixa 02 0,69% Cristais 16 5,57% Carbolitium 03 0,61% Tuberculose 03 1,04% Jd dos Estados 43 14,98% Clomipramina 22 4,53% Nenhuma/Sem dados 167 58,18% Nova Estância 01 0,34% Clorpromazina 01 0,20% Prontuários c/ dados 120 41,81% Sta Cruz 23 8,01% Complexo B 07 1,44% Média doença/pac. 1,21 -- Sta Lucia 04 1,39% Depakene 01 0,20% São José 13 4,53% Diazepan 34 7,01% Internações psiq. Várzea 17 5,92% Digoxina 01 0,20% 01 19 6,62% Rural 73 25,43% Diozenato ? 01 0,20% 02 15 5,22% Sem dados 49 13,58% Fenergan 32 6,60% 03 08 2,78% Escolaridade Fenicure ? 01 0,20% 04 06 2,09% Analfabeto 01 0,34% Fenilav ? 01 0,20% 05 02 0,69% Fund. incompleto 13 4,53% Fenobarbital 02 0,41% 06 01 0,34% Fund. completo 06 2,09% Fenitoína 02 0,41% 07 -- -- Médio incompleto 01 0,34% Fluoxetina 24 4,94% 08 02 0,69% Médio completo 01 0,34% Frisium 01 0,20% 09 ou mais 03 1,04% Superior incompleto -- -- Gardenal 05 1,03% TOTAL DE PAC. IN. 56 19,51% Superior completo -- -- Haldol 88 18,14% Sem dados 231 80,48% Sem dados 265 92,33% Imipramina 17 3,50% EM 2003 10 3,48% Profissão Lorax 01 0,20% Lavrador 08 2,78% Melleril 01 0,20% Aposentado Costureira 01 0,34% Neozine 35 7,21% Sim 17 5,92% Doméstica 06 2,09% Pamelor 01 0,20% Sem dados 270 94,07% Manicure 01 0,34% Propanolol 04 0,82% Atendimento Psicot. Sem dados 271 94,42% Psicosedin 04 0,82% Recebe psicoterapia 42 14,63% Data de Admissão Ramitidina 01 0,20% Já recebeu psicoterap. 24 8,36% 71-80 40 13,93% Risperidona 02 0,41% Acomp. Psiquiátrico 81-90 143 49,82% Rivotril 06 1,23% Sim 283 98,60% 91-2000 71 24,73% Tegretol 17 3,50% Não 04 1,40% 2001 10 3,48% Tofranil 08 1,65% Oficinas 2002 08 2,78% Tryptanol 17 3,50% Não 287 100% 2003 07 2,43% Último encam. Sem dados 08 2,78% Sem dados 35 7,21% Psiquiatra 90 31,35% Queixa de Entrada (TOTAL) (485) (100%) Só Medicação 91 31,70% Dentista 07 2,43% Média med/pac. 1,68 Psicólogo 23 8,01% Exames 23 8,01% Clínico geral 52 18,11% Psiquiatra 35 12,19% Média med/pacien Qtde. Porcent Cardiologista 04 1,39% Receita méd. 26 9,06% 01 118 41,11% Ginecologista 09 3,11% outros 145 50,52% 02 74 25,78% Neurologista 01 0,34% Sem dados/ilegível 51 17,77% 03 47 16,37% Ortopedista 03 1,04% 04 07 2,43% Otorrino 04 1,39% 05 06 2,09% Enfermagem 10 3,48% Sem dados 35 12,19% Oficinas Terapêuticas 22 7,66%

Tabela 2: Tabulação dos dados obtidos com a análise dos prontuários do Centro de Saúde II - Caconde.

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HD CID Qtde Porcent. HD CID Qtde Porcent.

Demência não especificada na Doença de Alzheimer.

F 00.9 01 0,20% Transtorno somatoforme, não especificado

F 44.9 20 4,02%

Demência não especificada

F 03.5 e F 03.9

em F 03

03

0,60%

Transtorno de somatização

F 45.0

07

1,41%

Síndrome amnésica orgânica não induzida pelo álcool ou por outras

substâncias psicoativas

F 04.9 Em F 04

01

0,20%

Transtorno doloroso somatoforme persistente

F 45.4

01

0,20%

Delirium não especificado F 05.9 01 0,20% Transtorno somatoforme, não especificado

F 45.9 22 4,42%

Transtorno delirante (esquizofreniforme) orgânico

F 06.2 01 0,20% Neurastenia F 48.0 18 3,62%

Transtorno cognitivo leve F 06.7 01 0,20% Síndrome de despersonalização F 48.1 04 0,80% Transtorno mental decorrente de lesão

e disfunção cerebrais e de doença física, não especificado

F 06.9

04

0,80%

Transtorno neurótico

F 48.9

43

8,65%

Transtorno orgânico de personalidade

F 07.0

01

0,20%

Síndromes comportamentais associadas a perturbações fisiológicas

e fatores físicos não especificados

F 59. 0 e F 59.9 em F 59

01 01

0,40%

Transtorno mental decorrente de doença, lesão e disfunção cerebrais,

não especificada

F 07.9

06

0,30%

Transtorno de Personalidade paranóide

F 60.0

06

1,21%

Transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado

F 09.9 em F 09

14 2,82% Personalidade dissocial F 60.2 01 0,20%

Transtornos mentais e de comportamentos decorrentes do uso

de álcool

F 10.0

06

1,21%

Transtorno de personalidade, não especificado

F 60.9

04

0,80%

Transtornos mentais e de comportamentos decorrentes do uso de álcool com trantorno psicótico

(esquizofreniforme)

F 10.5

01

0,20%

Elaboração de sintomas físicos por razões patológicas

F 68.0

09

1,81%

Transtornos mentais e de comportamentos decorrentes do uso

de álcool com transtornos mentais não especificados

F 10.9

14

2,82%

Produção intencional ou invenção de sintomas ou incapacidades físicas ou

psicológicas (transtorno fictício)

F 68.1

07

1,41%

Uso continuo de álcool F 10.25 01 0,20% Retardo mental leve F 70.9 em F 70

03 0,60%

Transtornos mentais e de comportamentos decorrentes do uso

de múltiplas drogas e do uso de outras substâncias psicoativas com transtorno

psicótico (esquizofreniforme)

F 19.5

01

0,20%

Retardo mental moderado

F 71.9

em F 71

03

0,60%

Transtornos mentais e de comportamentos decorrentes do uso

de múltiplas drogas e do uso de outras substâncias psicoativas com transtorno

mental e de comportamento, não especificado.

F 19.9

01

0,20%

Retardo mental grave

F 72.9

em F 72

07

1,41%

Esquizofrenia paranóide F 20.0 19 3,82% Transtorno não especificado do desenvolvimento psicológico

F 89.0 01 0,20%

Esquizofrenia hebefrênica F 20.1 13 2,61% Transtorno hipercinético, não especificado

F 90.9 04 0,80%

Esquizofrenia residual F 20.5 31 6,24% Transtorno depressivo de conduta e emoções, não especificado

F 92.0 01 0,20%

Esquizofrenia, não especificada F 20.9 11 2,21% Transtorno misto de conduta e emoções, não especificado

F 92.9 01 0,20%

Transtorno persistente delirante, não

especificado

F 22.9

08

1,61%

Transtornos emocionais e de comportamento com início usualmente ocorrendo na infância e adolescência,

não especificados

F 98.9

06

1,21%

Transtorno delirante induzido

F 24.0, F 24.9

em F 24

02

0,40%

Transtorno mental, sem outra especificação

F 99.0

15

3,02%

Outros transtornos psicóticos não orgânicos

F 28.5 em F 28

01 0,20%

Psicose não-orgânica, não

especificada

F 29.0, F 29.1 e F 29.9

em F 29

12 02 12

5,23%

Epilepsia

G 40

03

0,60%

Mania sem sintomas psicóticos F 30.1 01 0,20% Ataques isquêmicos cerebrais transitórios e síndromes relacionadas

G 45 01 0,20%

Transtorno afetivo bipolar, episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos

F 31.1 01 0,20% Isquemia cerebral transitória não especificada

G 45.9

01

0,20%

Transtorno afetivo bipolar, não F 31.9 02 % Endometriose do peritônio pélvico N 80.3 01 0,20%

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35

especificado Episódio depressivo leve F 32.0 07 1,41%

Episódio depressivo moderado F 32.1 01 0,20% Episódio depressivo grave, sem

sintomas psicóticos F 32.2 02 0,40% CLASSIFICAÇÃO INEXISTENTE

NA CID-10 -- 23 4,63%

Episódio depressivo, não especificado F 32.9 07 1,41% Transtorno depressivo recorrente,

episódio atual leve F 33.0 01 0,20% F 07.6 01

Distimia F 34.1 03 0,60% F 25.5 01

Transtorno do humor (afetivo) não especificado

F 39.0, F 39.2 e F 39.9

em F 39

01 01 02

0,80%

F 26.5 01

Agorafobia F 40.0 07 1,41% F 32.5 02 Fobias sociais F 40.1 04 0,80% F 35.5 02

Transtorno fóbico-ansioso, não especificado

F 40.9 21 4,22% F 40.5 03

Transtorno de pânico (ansiedade paroxística episódica)

F 41.0 02 0,40% F 43.5 01

Transtorno de ansiedade, não especificado

F 41.9 08 1,61% F 45.5 01

TOC predominantemente pensamentos obsessivos ou

ruminantes

F 42.0 01 0,20% F 47.9 01

TOC pensamentos e atos obsessivos mistos

F 42.2 01 0,20% F 48.2 01

TOC, não especificado F 42.9 04 0,80% F 48.5 06 Reação aguda a estresse F 43.0 02 0,40% F 58.2 01

Reação a estresse grave, não especifcada

F 43.9 04 0,80% F 58.5 01

Amnésia dissociativa F 44.0 01 0,20% F 90.2 01 Fuga dissociativa F 44.1 01 0,20%

Convulsões dissocativas F 44.5 03 0,60% Transtorno dissociativo (ou

conversivo) não especificado F 44.7 01 0,20% sem HD -- 25 5,03%

Tabela 3: Tabulação das hipóteses diagnósticas obtidas com a análise dos prontuários do Centro de Saúde II - Caconde.

Já os dados dos 66 prontuários dos usuários CAPS – São Carlos foram

analisados segundo o tipo de acompanhamento recebido, sexo, idade, endereço

atual, escolaridade, profissão, data de admissão no serviço, antecedentes familiares,

medicação em uso, hipótese diagnóstica, média de medicação por paciente, outras

doenças associadas, número de internações psiquiátricas, se é aposentado ou não,

se recebe ou recebeu atendimento psicoterapêutico, se recebe ou não

acompanhamento psiquiátrico, se participa de oficinas e qual o tipo, além do último

encaminhamento recebido, como pode ser visto nas tabelas 4 e 5, abaixo.

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36

Acompanhamento 66 Qtde. Porcent Qtde. Porcent Média med/pacien Qtde. Porcent Intensivo 31 47% Operador de máquina 1 1,5% 01 01 1,5% Semi-Intensivo 20 30% Pedreiro 2 3,0% 02 20 30,3% Saiu do CAPS 15 23% Secretária 1 1,5% 03 16 24,2% Sexo Técnico 2 3,0% 04 16 24,2% Feminino 27 41% Sem dados 52 78,0% 05 04 6,0% Masculino 39 59% Data de Admissão Sem dados 09 13,6% Idade 1º sem. 2002 47 71,2% Outras doenças 0-10 -- -- 2º sem 2002 08 12,1% Prontuários c/ dados 12 18,20% 11-20 02 3% 1º sem. 2003 09 13,6% Alergia 02 12,50% 21-30 19 29% 2º sem. 2003 01 1,5% Anemia 01 6,25% 31-40 18 27% Sem dados 01 1,5% Bronq./Rinite/Sinusite 03 18,75% 41-50 19 29% Anteced. famil. Gastrite 03 18,75% 51-60 04 6% Pai 2 3,0% Hipertenção Arterial 06 37,50% 61-70 02 3% Mãe -- -- Tendinite 01 6,25% 71 ou mais -- -- Irmão(ã) 3 4,5% Nenhuma/ sem dados 54 81,80% Sem dados 02 3% Avô/avó 1 1,5% Média doença/pac. 1,33 -- Endereço atual Tio/tia -- -- Intern. psiq. Antenor Garcia 1 1,5% Primo/prima -- -- Várias (s/ especific.) 05 7,6% Arnon de Melo 1 1,5% Sem dados 60 90,9% 01 08 12,1% Bela Vista 4 6,0% 02 02 3,0% Centro 5 7,5% 03 01 1,5% Cidade Aracy 5 7,5% Medicação em uso 04 02 3,0% Jd Bandeirantes 2 3,0% Akineton 03 1,67% 05 02 3,0% Jd Botafogo 1 1,5% Alprazolan 01 ,55% 06 01 1,5% Jd Cruzeiro do Sul 1 1,5% Amitriptilina 04 2,23% 08 01 1,5% Jd Itamaraty 1 1,5% Amplictil 03 1,67% 13 01 1,5% Jd Jacobucci 1 1,5% Biperideno 04 2,23% 15 01 1,5% Jd Monte Carlo 2 3,0% Carbamazepina 06 3,35% 24 01 1,5% Jd São João Batista 2 3,0% Carbolitium 04 2,23% Sem dados 41 62,1% Jd Tangará 3 4,5% Clomipramina 01 0,55% Aposentadoria Jockey Clube 2 3,0% Clonazepan 01 0,55% Sim 12 18,2% Mª Estela Fagá 2 3,0% Clorpromazina 08 4,46% Sem dados 54 81,8% Pacaembu 2 3,0% Clozapina 02 1,11% Atend. Terapêuticos Pq dos Tamborins 1 1,5% Depakene 02 1,11% Psicoterapia indiv. 02 3,0% Romeu Tortorelli 1 1,5% Diazepan 25 13,96% T.O. individual 01 1,5% Sta Felícia 2 3,0% Fenergan 04 2,23% T.O. em grupo 14 21,2% Sta Paula 1 1,5% Fenobarbital 03 1,67% Já recebeu psicot. 03 4,5% Tijuco Preto 1 1,5% Fenitoína 02 1,11% Já T.O. 03 4,5% Vila Alpes 1 1,5% Fluoxetina 14 7,82% Já participou oficina 04 6,0% Vila Carmem 1 1,5% Gardenal 01 0,55% Oficina Vila Conceição 1 1,5% Haldol 19 10,61% Sim 47 71,2% Vila Elizabeth 2 3,0% Haloperidol 08 4,46% Não 19 28,8% Vila Marcelino 1 1,5% Hidental 01 0,55% Tipos (126 no Total) Vila Nery 6 9,1% Imipramina 04 2,23% Bijuteria 01 0,8% Vila Prado 7 10,0% Melleril 03 1,67% Biscuit 01 0,8% Vila São José 2 3,0% Neozine 07 3,91% Bordado 04 3,2% Sem dados 4 6,0% Pamergan 01 0,55% Cestaria 05 4,0% Prometazina 11 6,14% Coral 08 6,3% Escolaridade Risperidona 11 6,14% Dança 06 4,8% Fund. incompleto 03 4,5% Rivotril 06 3,35% Expressão corporal 25 19,8% Fund. completo 07 10,6% Sertralina 01 0,55% Improvisação cênica 15 11,9% Médio incompleto 08 12,1% Stelazina 01 0,55% Jornal 11 8,7% Médio completo 10 15,1% Tegretol 03 1,67% Literatura 24 19,0% Superior incompleto -- -- Tetnoid 01 0,55% Mosaico 01 0,8% Superior completo 01 1,5% Tofranil 01 0,55% Pintura 24 19,0% Sem dados 37 56% Tryptanol 01 0,55% Tai-chi 01 0,8% Umbanil 01 0,55% Acomp. Psiq. Não -- -- Profissão Valproato 01 0,55% Sim 66 100% Ajudante geral 1 1,5% Zyprexa 01 0,55% Último encaminham. Auxiliar de prod. 1 1,5% Psiquiatra 34 51,5% Balconista 2 3,0% Sem dados 09 5,02% Só Medicação 02 3,0% Funcionário Público 1 1,5% Oficina 12 18,2% Guarda 1 1,5% (TOTAL) (179) (100%) T.O. 05 7,5% Jardineiro 1 1,5% Enfermagem 12 18,2% Manicure 1 1,5% Média medicação/pac. 2,71 -- Neurologista 01 1,5%

Tabela 4: Tabulação dos dados obtidos com a análise dos prontuários do CAPS – São Carlos.

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37

HD CID Qtde Porcent.

Alucinose orgánica F 06.0 01 1,12% Transtorno orgânico de personalidade F 07.0 01 1,12%

Transt. mentais e de comportamento decorrentes do uso de álcool F 10.0 02 2,25% Transt. mentais e de comportamento decorrentes do uso de álcool, atualmente

abstinente F 10.2 03 3,37%

Transt. mentais e de comportamento decorrentes do uso de solventes voláteis F 18.0 01 1,12% Transt. mentais e de comportamento decorrentes do uso de múltiplas drogas e

de uso de outras substâncias psicoativas F 19.0 02 2,25%

Esquizofrenia paranóide F 20.0 23 25,84% Esquizofrenia catatônica F 20.2 01 1,12%

Esquizofrenia indiferenciada F 20.3 01 1,12% Esquizofrenia residual F 20.5 01 1,12% Esquizofrenia simples F 20.6 01 1,12%

Transtorno esquizotípico F 21.0 01 1,12% Transtorno delirante F 22.0 01 1,12%

Transtorno psicótico polimórfico agudo sem sintomas de esquizofrenia F 23.0 01 1,12% Transtorno psicótico esquizofreniforme agudo F 23.2 01 1,12%

Transtorno esquizoafetivo, tipo maníaco F 25.0 01 1,12% Psicose não orgânica, não especificada F 29.0 02 2,25%

Transtorno bipolar, episódio atual hipomaníaco F 31.0 02 2,25% Transtorno bipolar, episódio atual maníaco sem sintomas psicóticos F 31.1 01 1,12%

Transtorno bipolar, episódio atual depressivo F 31.2 03 3,37% Transt. bipolar, episódio atual depressivo grave com sintomas psicóticos F 31.5 01 1,12%

Transtorno bipolar, episódio atual misto F 31.7 03 3,37% Episódio depressivo leve F 32.0 03 3,37%

Episódio depressivo moderado F 32.1 02 2,25% Episódio depressivo grave sem sintomas psicóticos F 32.2 02 2,25% Episódio depressivo grave com sintomas psicóticos F 32.3 03 3,37%

Transtorno depressivo recorrente, episódio atual leve F 33.0 03 3,37% Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave sem sintomas psicóticos F 33.2 02 2,25%

Transtorno depressivo recorrente, não especificado F 33.9 01 1,12% Ciclotimia F 34.0 01 1,12% Agorafobia F 40.0 01 1,12%

TOC predominantemente atos compulsivos (rituais obsessivos) F 42.1 01 1,12% Neurastenia F 48.0 01 1,12%

Transtorno de personalidade paranóica F 60.0 01 1,12% Transtorno de personalidade emocionalmente instável F 60.3 02 2,25%

Retardo mental leve F 70.0 01 1,12% Retardo mental moderado com comprometimento significativo de

comportamento requerendo atenção ou tratamento F 71.1 01 1,12%

Retardo mental grave F 72.0 01 1,12%

Epilepsia G 40.0 02 2,25%

sem HD -- 07 7,86% Tabela 5: Tabulação hipóteses diagnósticas obtidas com a análise dos prontuários do CAPS – São

Carlos.

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38

Após agrupar os dados em tabelas, como demonstrado acima, os mesmos

foram analisados através de uma comparação entre os gráficos, item a item, para

ambos os serviços: Centro de Saúde II - Caconde e CAPS – São Carlos.

Com relação à data de admissão no serviço, pode-se notar que no Centro de

Saúde II – Caconde houve um pico entre os anos de 1981 e 1990 (49,82%) e no

CAPS – São Carlos a taxa de admissão foi alta logo no início (71,2%), decaindo

continuamente até os dias de hoje. Isso pode ser observado nas figuras 1 e 2,

abaixo.

0102030405060708090

100

71-80 81-90 91-2000

2001 2002 2003 Semdados

Data de admissão no serviço

Por

cent

agem

Figura 1: Data de admissão dos usuários no Centro de Saúde II - Caconde.

0102030405060708090

100

1º sem.2002

2º sem2002

1º sem.2003

2º sem.2003

Semdados

Data de admissão no serviço

Por

cent

agem

Figura 1: Data de admissão dos usuários no CAPS – São Carlos.

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39

Como era de se esperar, foi constatado que o Centro de Saúde II – Caconde

oferece exclusivamente um acompanhamento ambulatorial (100%), enquanto o

CAPS – São Carlos oferece acompanhamento intensivo (47%), semi-intensivo (30%)

e já proporcionou até algumas altas aos usuários (23%), como mostra as figuras 3 e

4, abaixo.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

ambulatorial outros

Acompanhamento

Por

cent

agem

Figura 3: Tipos de encaminhamentos recebidos pelos usuários do Centro de Saúde II - Caconde.

0

10

20

30

4050

60

70

80

90

100

Intensivo Semi-Intensivo Recebeu alta

Acompanhamento

Por

cent

agem

Figura 4: Tipos de encaminhamentos recebidos pelos usuários do CAPS – São Carlos.

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40

A distribuição dos sexos entre a população usuária de ambos os serviços de

Saúde mental não apresentou-se muito discrepante. No Centro de Saúde II –

Caconde, a quantidade de usuários do sexo feminino (56,44%) foi um pouco maior

que os do sexo masculino (43,55%). Já no CAPS – São Carlos foi verificado o

contrário; o número de usuários do sexo feminino (41%) foi um pouco menor que o

de usuários do sexo masculino (59%), como demonstrado nas figuras 5 e 6, abaixo.

0102030405060708090

100

Feminino Masculino

Sexos

Por

cent

agem

Figura 5: Distribuição dos sexos dos usuários do Centro de Saúde II - Caconde.

0102030405060708090

100

Feminino Masculino

Sexos

Por

cent

agem

Figura 6: Distribuição dos sexos dos usuários do CAPS – São Carlos.

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41

No Centro de Saúde II – Caconde, os usuários dos serviços de Saúde Mental

encontram-se predominantemente na faixa etária que vai dos 21 aos 60 anos

(77,35%), enquanto que no CAPS – São Carlos a faixa etária predominante dos

usuários é de 21 à 50 anos (85%). Isso pode ser observado nas figuras 7 e 8,

abaixo.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0-10 11 -- 20 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71 oumais

Semdados

Faixa Etária

Por

cent

agem

Figura 7: Distribuição da faixa etária dos usuários do Centro de Saúde II - Caconde.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0-10 11 -- 20 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71 oumais

Semdados

Faixa etária

Por

cent

agem

Figura 8: Distribuição da faixa etária dos usuários do CAPS – São Carlos.

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42

Observa-se que enquanto os usuários dos serviços de Saúde Mental do

Centro de Saúde II – Caconde residem tanto na zona urbana (61,99%) quanto na

zona rural (25,43%), os usuários do CAPS residem exclusivamente na zona urbana

(94,00%), sem contar, é claro, com os prontuários nos quais esse dado não

constava, fato que teve maior incidência no Centro de Saúde II – Caconde (13,58%)

que no CAPS – São Carlos (6,00%), como mostram as figuras 9 e 10, abaixo.

0102030405060708090

100

zona urbana zona rural sem dados

Endereço atual

Poc

enta

gem

Figura 9: Endereço atual dos usuários do Centro de Saúde II – Caconde.

0102030405060708090

100

zona urbana zona rural sem dados

Endereço atual

Por

cent

agem

Figura 10: Endereço atual dos usuários do CAPS – São Carlos.

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43

Devido à falta de informações nos prontuários dos usuários de ambos os

serviços, os dados obtidos no que diz respeito ao nível de escolaridade não foram

muito significativos, uma vez que tanto no Centro de saúde II – Caconde quanto no

CAPS – São Carlos a maior parte dos prontuários não tinham esse tipo de

informação (92,33% e 56,00%, respectivamente), como pode ser observado nas

figuras 11 e 12, abaixo.

0102030405060708090

100N

ão A

lfab.

Fun

d.In

com

plet

o

Fun

d.C

ompl

eto

Méd

ioin

com

plet

o

Méd

ioco

mpl

eto

Sup

erio

rin

com

plet

o

Sup

erio

rco

mpl

eto

Sem

dad

os

Nível de Escolaridade

Poc

enta

gem

Figura 11: Nível de escolaridade dos usuários do Centro de Saúde II - Caconde.

0102030405060708090

100

Não

Alfa

b.

Fun

d.in

com

plet

o

Fun

d.co

mpl

eto

Méd

ioin

com

plet

o

Méd

ioco

mpl

eto

Sup

erio

rin

com

plet

o

Sup

erio

rco

mpl

eto

Sem

dad

os

Nível de Escolaridade

Por

cent

agem

Figura 12: Nível de escolaridade dos usuários do CAPS – São Carlos.

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44

Como pode ser observado nas figuras 13 e 14, abaixo, os usuários do CAPS

– São Carlos possuem profissões mais diversificadas que as dos usuários dos

serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde, mas ambos os serviços

possuem muito pouca informação desse tipo nos prontuários, uma vez que a maioria

tanto do Centro de Saúde II – Caconde quanto do CAPS – São Carlos não possuem

esse tipo de dado (94,42% e 78,00%, respectivamente).

0102030405060708090

100

Lavr

ador

Costu

reira

Man

icure

Sem d

ados

Profissões

Por

cent

agem

Figura 13: Profissões dos usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde.

0102030405060708090

100

Ajudan

te g

eral

Auxilia

r de

prod

.

Balcon

ista

Guard

a

Jard

ineiro

Man

icure

Pedre

iro

Sem d

ados

Profissões

Por

cent

agem

Figura 14: Profissões dos usuários CAPS – São Carlos.

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45

Os antecedentes familiares também não indicam dados muito significativos

pelo mesmo motivo do nível de escolaridade; a falta de informação nos prontuários

tanto dos usuários do Centro de Saúde II – Caconde quanto dos usuários do CAPS

– São Carlos foi muito grande (98,6-% e 90,90%, respectivamente), como

demonstrado nas figuras 15 e 16, abaixo.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Pai Mãe Irmão(ã) Avô/avó Tio/tia Primo/prima Sem dados

Antecedentes familiares

Por

cent

agem

Figura 15: Antecedentes familiares dos usuários Centro de Saúde II – Caconde, com problemas

psiquiátricos.

0102030405060708090

100

Pai

Tio/tia

Primo/

prim

a

Sem d

ados

Antecedentes Familiares

Por

cent

agem

Figura 16: Antecedentes familiares dos usuários do CAPS – São Carlos, com problemas psiquiátricos.

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46

Como pode ser observado nas figuras 17 e 18, abaixo, o Centro de Saúde II –

Caconde possui maior número de usuários diagnosticados nas categorias F20-F29

(22,33%) e F40-F48 (35,21%), enquanto o CAPS - São Carlos possui maior número

de usuários diagnosticados nas categorias F20-F29 (38,20%) e F30-F39 (30,33%).

O Centro de Saúde não possui nenhum usuário diagnosticado nas categorias F80-

F89, enquanto o CAPS – São Carlos não possui nenhum usuários diagnosticado nas

categorias F50-F59, F80-F89, F90-F98, F99, nem hipótese diagnóstica sem

classificação segundo a CID-10, diferente dos dados obtidos no Centro de Saúde II

– Caconde que apresentam hipóteses diagnósticas sem classificação segundo a

CID-10 (4,63%).

0

1020

30

4050

60

70

8090

100

F00-F09

F10-F19

F20-F29

F30-F39

F40-F48

F50-F59

F60-F69

F70-F79

F80-F89

F90-F98

F99 Outros Semclass.

SemHD

Hipóteses Diagnósticas

Por

cent

agem

Figura 17: Hipóteses Diagnósticas dos usuários dos serviços de Saúde Mental do centro de Saúde II

– Caconde.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

F00-F09

F10-F19

F20-F29

F30-F39

F40-F48

F50-F59

F60-F69

F70-F79

F80-F89

F90-F98

F99 Outros Semclass.

SemHD

Hipóteses Diagnósticas

Poc

enta

gem

Figura 18: Hipóteses Diagnósticas dos usuários CAPS – São Carlos.

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47

Os tipos de medicamentos encontrados nos prontuários dos usuários dos

serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde e do CAPS – São

Carlos foram organizados previamente segundo a Tabela 1 (pp. 31) e logo depois

agrupados segundo sua classificação, como está demonstrado na tabela 6, abaixo.

MEDICAÇÃO – Centro de Saúde II MEDICAÇÃO – CAPS

MEDICAÇÃO (485) qtde porc. MEDICAÇÃO (179) qtde porc.

ANTIPSICÓTICOS ANTIPSICÓTICOS

clorpromazina 34 7,01% clorpromazina 11 6,14% haloperidol 88 18,14% haloperidol 27 15,08% tioridazina 01 0,20% tioridazina 03 1,67%

levomeprazina 35 7,21% levomeprazina 07 3,91% risperidona 02 0,41% risperidona 11 6,14% TOTAL 160 32,99% clozapina 02 1,11%

trifluoperazina 01 0,55% olanzaprina 01 0,55% TOTAL 63 35,19%

ANTIDEPRESSIVOS ANTIDEPRESSIVOS amitriptilina 53 10,92% amitriptilina 05 2,79%

clomipramina 25 5,15% clomipramina 01 0,55% fluoxetina 24 4,94% fluoxetina 14 7,82% imipramina 25 5,15% imipramina 05 2,79% nortriptilina 01 0,20% sertralina 01 0,55%

TOTAL 128 26,39% TOTAL 26 14,52%

ANSIOLÍTICOS ANSIOLÍTICOS bromazepan 01 0,20% alprazolan 01 0,55%

calman 01 0,20% diazepan 25 13,96% diazepan 34 7,01% clonazepan 07 3,91% clobazam 01 0,20% clobazam 01 0,55% lorazepan 01 0,20% TOTAL 34 18,99%

clordiazepóxido 04 0,82% clonazepan 06 1,23% TOTAL 48 9,96%

ESTAB. DO HUMOR ESTAB. DO HUMOR

litio 03 0,61% carbamazepina 09 5,02% valproato 01 0,20% litio 04 2,23%

carbamazepina 17 3,50% valproato 03 1,67% TOTAL 21 4,32% TOTAL 16 8,93%

OUTROS OUTROS biperideno 36 7,42% biperideno 07 3,91%

Complexo B 07 1,44% prometazina 16 8,93% digoxina 01 0,20% fenobarbital 04 2,23%

prometazina 32 6,60% fenitoína 03 1,67% fenobarbital 07 1,44% levotiroxina 01 0,55%

fenitoína 02 0,41% TOTAL 31 17,31% propanolol 04 0,82% ranitidina 01 0,20% TOTAL 90 18,55%

- Diozenato, Fenicure, Fenilav 03 0,61%

SEM DADOS 35 7,21% SEM DADOS 09 5,02%

Tabela 6: Classificação dos princípios ativos dos medicamentos encontrados nos prontuários dos usuários do Centro de Saúde II – Caconde e do CAPS - São Carlos.

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48

A partir dessa classificação é possível notar que os usuários dos serviços de

Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde utilizam mais antipsicóticos

(32,99%), seguido de antidepressivos (26,39%), outros medicamentos (18,55%),

ansiolíticos (9,96%) e estabilizadores do humor (4,32%). Já no CAPS – São Carlos

faz-se mais uso de antipsicóticos (35,19%), seguido de ansiolíticos (18,99%), outros

medicamentos (17,31%), antidepressivos (14,52%) e estabilizadores do humor

(8,93%), como pode ser observado nas figuras 19 e 20, abaixo.

0102030405060708090

100

Antide

pres

sivos

Estabil

izado

res d

o Hum

or

Outro

s

Sem cl

ass.

Sem d

ados

Tipo de Medicação

Por

cent

agem

Figura 19: Medicações prescritas aos usuários dos serviços de Saúde mental do Centro de Saúde II –

Caconde.

0102030405060708090

100

Antide

pres

sivos

Estabil

izado

res d

o Hum

or

Outro

s

Sem cl

ass.

Sem d

ados

Tipo de Medicação

Por

cent

agem

Figura 20: Medicações prescritas aos usuários do CAPS – São Carlos.

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49

Além das hipóteses diagnósticas que dizem respeito à Saúde Mental dos

usuários, também foram coletados dados sobre doenças associadas. Como pode

ser observado nas figuras 21 e 22, abaixo, os usuários do Centro de Saúde II –

Caconde também sofrem muito de hipertensão arterial (12,54%) e gastrite/úlcera

(13,58%), enquanto os usuários do CAPS – São Carlos também sofrem muito de

hipertensão arterial (37,50%) e gastrite (18,75%), mas também sofrem de doenças

do aparelho respiratório como bronquite, rinite e sinusite (18,75%).

0102030405060708090

100

Artrite

/Artr

ose

Anem

ia

Bronq

./Rini

te/S

inusit

e

Burcit

e

Cardio

patia

Diabet

e

Labir

intite

Obesid

ade

Osteop

oros

e

Tuber

culos

e

Nenhu

ma/

Sem d

ados

Outras doenças associadas

Por

cent

agem

Figura 21: Outras doenças associadas às doenças mentais dos usuários do Centro de Saúde II -

Caconde.

0102030405060708090

100

Alergia

Anem

ia

Bronq

./Rini

te/S

inusit

e

Gastri

te

Tendin

ite

Nenhu

ma/

sem

dad

os

Outras doenças associadas

Por

cent

agem

Figura 22: Outras doenças associadas às doenças mentais dos usuários do CAPS – São Carlos.

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50

Com relação ao número de internações psiquiátricas, há muito mais registro

de internação de usuários do CAPS – São Carlos, tanto em número de vezes por

paciente, pois há caso de paciente que chegou a ser internado 24 vezes, quanto

com relação ao total de usuários uma vez que 37,70% dos usuários já foram

internados pelo menos 1 vez. Enquanto que no Centro de Saúde II – Caconde os

dados encontrados nos prontuários apontam que o número de internações não é tão

grande nem em número de vezes por paciente, pois chegou a 12 vezes, nem para o

número total de usuários, uma vez que 19,51% dos usuários já foram internados

pelo menos 1 vez, sendo que dessas, 3,48% foram realizadas em 2003 (no período

de janeiro à julho).

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1 2 3 4 5 6 7 8 09 oumais

Total Semdados

Em 2003

Internações Psiquiátricas

Por

cent

agem

Figura 23: Internações Psiquiátricas dos usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde

II - Caconde.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Várias 1 2 3 4 5 6 8 13 15 24 Total Semdados

Internações Psiquiátricas

Por

cent

agem

Figura 24: Internações Psiquiátricas dos usuários do CAPS – São Carlos.

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51

Também pôde ser verificado que a maioria dos usuários de ambos os

serviços não recebem aposentadoria, ou pelo menos não há registro nos

prontuários, sendo que os registros encontrados foram em quantidades muito

pequenas tanto para o Centro de Saúde II – Caconde (5,92%) quanto para o CAPS

– São Carlos (18,2%), sendo maior neste que naquele. As figuras 25 e 26, abaixo,

ilustram essa situação.

0102030405060708090

100

Sim Sem dados

Recebe Aposentadoria

Poc

enta

gem

Figura 25: Usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II - Caconde que recebem

aposentadoria ou não.

0102030405060708090

100

Sim Sem dados

Recebe Aposentadoria

Por

cent

agem

Figura 26: Usuários do CAPS – São Carlos que recebem aposentadoria ou não.

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52

No que diz respeito aos atendimentos terapêuticos recebidos pode-se

observar que os usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II –

Caconde só dispõem do serviço de psicoterapia individual, 1 vez por semana,

podendo ser divididos em quem está recebendo psicoterapia, independente de já ter

recebido antes ou não (14,63%) e quem já recebeu por algum período (8,36%). Os

prontuários que não apresentavam qualquer dado dessa espécie (77,01%) foram

considerados como se os usuários não recebessem nenhum tipo de atendimento

terapêutico.

Já o CAPS – São Carlos oferece para seus usuários não só o serviço de

psicoterapia individual, como também terapia ocupacional individual, terapia

ocupacional em grupo e oficinas. Pode ser observado que o atendimento de maior

coro é o de terapia ocupacional em grupo (21,20%), seguido de psicoterapia

individual (3,00%) e depois por terapia ocupacional em grupo (1,50%). Ainda pode-

se agrupar os usuários em grupos de quem no momento não está recebendo

nenhum tipo de atendimento, mas algum dia já recebeu por algum período na

instituição psicoterapia (4,50%), terapia ocupacional (4,50%) ou já participou de

alguma oficina terapêutica (6,00%).

Essa situação pode ser melhor observada nas figuras 27 e 28, abaixo.

0102030405060708090

100

Recebe psicoterapia Já recebeupsicoterapia

Sem dados

Atendimentos Terapêuticos

Por

cent

agem

Figura 27: Usuários dos serviços de Saúde Mental que recebem atendimento terapêutico no Centro de Saúde II - Caconde.

0102030405060708090

100

Psicoterapiaindiv.

T.O.individual

T.O. emgrupo

Já recebeupsicot.

Já T.O. Já participouoficina

Atendimentos Terapêuticos

Por

cent

agem

Figura 28: Usuários que recebem atendimento terapêutico no CAPS – São Carlos.

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53

No que diz respeito à participação em oficinas foi constatado no Centro de

Saúde II – Caconde que nenhum usuário recebe esse tipo de terapia, enquanto que

no CAPS – São Carlos a maioria dos usuários participam de algum tipo de oficina

terapêutica (71,20%), como pode ser notado nas figuras 29 e 30, abaixo.

0102030405060708090

100

sim não

Participação em Oficinas

Por

cent

agem

Figura 29: Usuários do Centro de Saúde II - Caconde que participam de Oficinas Terapêuticas.

0102030405060708090

100

Sim Não

Participação em Oficinas

Por

cent

agem

Figura 30: Usuários do CAPS – São Carlos que participam de Oficinas Terapêuticas.

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54

Com relação aos tipos de oficinas oferecidas aos usuários dos CAPS – São

Carlos, segundo a figura 31 abaixo, estas são muito variadas, mas a mais

freqüentada é a oficina de Expressão Corporal (19,80%), seguida pela de Pintura e

Literatura (19,00% cada), Improvisação Cênica (11,90%), Jornal (8,70%), Coral

(6,30%), Dança (4,80%), Cestaria (4,00%), Bordado (3,20%), Bijuteria, Biscuit,

Mosaico e Tai-chi (0,80% cada).

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Bijute

ria

Biscuit

Borda

do

Cesta

riaCor

al

Jorn

al

Liter

atur

a

Mos

aico

Pintur

a

Tai-ch

i

Tipos de Oficinas

Por

cent

agem

Figura 31: Tipos de Oficinas das quais participam os usuários do CAPS – São Carlos.

Por último, foram coletados dados que dissessem respeito ao último

encaminhamento recebido nas instituições. Os dados obtidos demonstram que em

ambos os serviços a maior parte dos usuários consultaram o psiquiatra, sendo que

no Centro e Saúde II – Caconde à consulta com médico psiquiatra (31,35%) segue-

se de fornecimento de medicação (31,70%), consulta com o clínico geral (18,11%),

terapia com o psicólogo (8,01%), atendimento pelo pessoal da enfermagem (3,48%),

consulta com médico ginecologista (3,11%), consulta com médico cardiologista

(1,39%), consulta com médico otorrinolaringologista (1,39%), consulta com médico

ortopedista (1,04%) e por último, consulta com médico neurologista.

Já no CAPS – São Carlos, pôde ser observada que a variação dos

encaminhamentos foi menor, sendo eles consulta com médico psiquiatra (51,50%),

atendimento pelo pessoal da enfermagem e participação de oficinas terapêuticas

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55

(18,20% cada), atendimento de terapeuta ocupacional (7,50%), fornecimento de

medicação (3,00%) e por último, consulta com médico neurologista.

Esses dados estão ilustrados nas figuras 32 e 33, abaixo.

0102030405060708090

100

Psiquia

tra

Cardio

logist

a

Gineco

logist

a

Neuro

logist

a

Ortope

dista

Otorri

no

Enfer

mag

em

Último encaminhamento recebido

Por

cent

agem

Figura 32: Último encaminhamento recebido pelos usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro

de Saúde II – São Carlos.

0102030405060708090

100

Psiquia

tra

Oficina T.O

.

Enfer

mag

em

Neuro

logist

a

Último encaminhamento recebido

Por

cent

agem

Figura 33: Último encaminhamento recebido pelos usuários do CAPS –São Carlos.

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56

Os itens da Base para análise dos prontuários que diziam respeito à local de

nascimento (cidade, estado e país) e queixa de entrada não puderam ser analisados

uma vez que os prontuários dos usuários do CAPS – São Carlos não dispunham

desses dados e os prontuários dos usuários dos serviços de Saúde Mental do

Centro de Saúde II - Caconde dispunham o local de nascimento em pouca

quantidade (20,55%, sendo 13,94% nascidos em Caconde; 1,39% em outras

cidades do estado de São Paulo; 4,18% em cidades do estado de Minas Gerais e

1,04 em cidades do estado do Paraná) e os dados referentes à queixa de entrada

eram os mais diversos possíveis, uma vez que a instituição oferece uma gama muito

variada de atendimento à população, sendo inviável a classificação dos mesmos.

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57

VI. DISCUSSÃO

A maior disponibilidade de recursos, não só no que diz respeito ao interesse

pela pesquisa, disponibilização dos prontuários, mas também de uma sala para

consulta dos mesmos, oferecida pelo Centro de Saúde II – Caconde, facilitou o

desenvolvimento do estudo, em detrimento do CAPS – São Carlos, no qual o

aparente desinteresse pela pesquisa em si, considerando o estudo somente como

uma fonte de dados levantados por uma pessoa que substituiria o trabalho que

poderia ser realizado por qualquer funcionário interno, a indiferença de alguns

funcionários da instituição, a dificuldade na retirada dos prontuários e a não

disponibilização de uma sala ou de algum lugar onde a pesquisadora tivesse

melhores condições para a coleta dos dados dificultou e atrasou o desenvolvimento

do presente estudo.

No que diz respeito aos resultados obtidos, o que pôde ser observado

inicialmente foi a enorme diferença entre a quantidade de prontuários analisados no

Centro de Saúde II – Caconde (287) e os do CAPS – São Carlos (66), ou seja, a

quantidade de usuários de cada instituição, fato esse já esperado devido ao tipo de

atendimento oferecido por cada uma delas.

Com relação à data de admissão, foi constatado que no Centro de Saúde II –

Caconde houve um pico entre os anos de 1981 e 1990, podendo ser explicado pelo

fato do atendimento público à saúde ter deixado de ser oferecido apenas às

crianças, passando à população em geral, mesmo que exclusivamente ambulatorial.

No CAPS – São Carlos, a maior taxa de admissão encontra-se no 1º semestre do

ano de 2002, época esta em que a instituição foi inaugurada (março/2003). Isso

demonstra que a rotatividade de usuários não tem sido muito alta (23% dos usuários

deste serviço receberam alta), ou seja, eles têm permanecido durante um período

longo de tempo na instituição, ainda mais se considerarmos que a maioria dos

usuários são acompanhados de maneira intensiva (47%) e não semi intensiva (30%).

A distribuição dos sexos dos usuários foi homogênea, não havendo muita

discrepância, a não ser no fato de que enquanto no Centro de Saúde II – Caconde a

maioria é feminino (56,44%), no CAPS a maioria é masculino (59%). O mesmo

aconteceu com relação à faixa etária dos usuários, uma vez que no Centro de Saúde

II – Caconde a maioria se encontrava entre 21 e 60 anos (77,35%) e no CAPS entre

21 e 50 anos (85%).

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No que diz respeito ao local onde os usuários residem, observou-se que nos

serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde os usuários residiam

tanto na zona urbana quanto na zona rural, enquanto que os do CAPS residiam

somente na zona urbana. Provavelmente, entre esses últimos, existam indivíduos

oriundos da zona rural, que se mudaram para cidade devido às condições adversas

do trabalho no campo. Mas, infelizmente, tal hipótese não poderá ser comprovada,

pois, em ambos os serviços, os dados referentes ao local de nascimento, ou em

caso de mudança, da proveniência do usuário, bem como em relação à

escolaridade, antecedentes familiares e queixa de entrada são precários, o que

impossibilita a realização de um levantamento confiável.

Com relação às hipóteses diagnósticas, estas foram as mais diversas

possíveis e até um pouco surpreendentes, na medida em que muitos dos prontuários

continham mais de uma indicação de hipótese diagnóstica, sendo que estas podiam

mudar a cada consulta. Pôde ser observado que entre os usuários do Centro de

Saúde II - Caconde constavam em seus prontuários, em média 1,69 hipóteses

diagnósticas por usuário, sendo observados diagnósticos que não constam da CID-

10. A maioria dos casos se enquadra entre F40 e F48 (35,21%) e entre F20 e F29

(22,33%). Já no CAPS – São Carlos foram encontrados prontuários com uma média

de 2,71 hipóteses diagnósticas por usuário, sendo que a maioria dos casos se

encontra entre F20 e F29 (38,20%) e entre F30 e F39 (30,33%). Isso indica que o

Centro de Saúde II – Caconde atende mais casos de transtornos neuróticos

relacionados ao estresse e somatoformes, além de casos de esquizofrenia,

transtorno esquizotípico e delirante, enquanto o CAPS – São Carlos atende mais

casos de esquizofrenia, transtorno esquizotípico e delirante e também casos de

transtornos do humor (afetivos), fato este que influencia diretamente a prescrição da

medicação.

O Centro de Saúde não possui nenhum usuário diagnosticado entre as

categorias F80-F89, enquanto o CAPS – São Carlos não possui nenhum usuário

diagnosticado entre as categorias F50-F59, F80-F89, F90-F98, F99, nem hipótese

diagnóstica que não obedeça aos critérios da classificatórios da CID-10.

A diferença entre o número médio de hipóteses diagnósticas por usuário pode

indicar tanto uma falta de precisão no levantamento dessas hipóteses diagnósticas

quanto a real existência de mais de um tipo de doença.

Observou-se que os usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de

Saúde II – Caconde utilizam, em maior porcentagem, antipsicóticos (32,99%),

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59

seguido de antidepressivos (26,39%), outros medicamentos (18,55%), ansiolíticos

(9,96%) e estabilizadores do humor (4,32%). No CAPS – São Carlos a maior

porcentagem de medicamentos utilizados também recai sobre os antipsicóticos

(35,19%), seguidos pelos ansiolíticos (18,99%), outros medicamentos (17,31%),

antidepressivos (14,52%) e, por último, estabilizadores do humor (8,93%).

Sabe-se que os antipsicóticos são a primeira escolha no tratamento da

esquizofrenia e outras psicoses, que os antidepressivos são medicamentos cuja

função primordial é o tratamento da depressão (também utilizados para tratar

transtorno bipolar, traumas do sistema nervoso central, demências, transtorno de

ansiedade generalizada, transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos alimentares,

síndromes de dor crônica, enurese e encoprese), que os ansiolíticos são indicados

no tratamento da ansiedade, e que os estabilizadores do humor são utilizados na

prevenção e tratamento dos transtornos do humor e esquizoafetivos.

O fato dos usuários do Centro de Saúde II – Caconde receberem mais

prescrições de medicamentos classificados como antipsicóticos e antidepressivos

encontra-se intimamente relacionado ao índice de hipóteses diagnósticas

levantadas, uma vez que os antipsicóticos tratam a esquizofrenia e outras psicoses,

enquanto os antidepressivos são medicamentos cuja função primordial é o

tratamento da depressão, sendo também indicados para o tratamento de TOC

(Transtorno Obsessivo Compulsivo), um tipo de transtorno neurótico, enquanto que

para os transtornos fóbico-ansiosos o mais indicado são os ansiolíticos. No CAPS –

São Carlos também se faz mais prescrição de antipsicóticos, mesmo porque o maior

índice de hipóteses diagnósticas é de esquizofrenia, seguido de transtornos do

humor.

Foi encontrada uma média de 1,68 medicamentos utilizados por usuário no

Centro de Saúde II – Caconde, enquanto que no CAPS – São Carlos essa média foi

de 2,71 medicamentos por usuário, o que pode ser um indício de que mesmo

oferecendo somente um serviço ambulatorial, o Centro de Saúde II – Caconde se

preocupa com uma possível superdosagem medicamentosa proporcionada aos seus

usuários além de provavelmente conseguir uma maior controle dos sintomas destes

com uma menor quantidade de drogas, algo controverso se pensarmos que essa

deveria ser uma das maiores preocupações do CAPS – São Carlos, e nem tanto da

outra instituição.

Além das hipóteses diagnósticas que dizem respeito à Saúde Mental dos

usuários, também foram coletados dados sobre doenças associadas, podendo ser

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60

observado que tanto os usuários do Centro de Saúde II – Caconde, quanto os do

CAPS – São Carlos sofrem de hipertensão arterial (12,54%; 37,50%

respectivamente) e gastrite/úlcera (13,58%; 18,75% respectivamente), mas os

usuários do CAPS – São Carlos também sofrem de doenças do aparelho respiratório

como bronquite, rinite e sinusite (18,75%). Não há registro de outras doenças

concomitantes à doença mental em 58,18% dos prontuários dos usuários dos

Serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II – Caconde, e em 81,80% dos

prontuários dos usuários do CAPS – São Carlos, fato este que deve ser ressaltado.

E, relação ao número de internações psiquiátricas, há muito mais registro de

internação de usuários do CAPS – São Carlos, tanto em número de vezes por

paciente, pois há caso de paciente que chegou a ser internado 24 vezes, quanto

com relação ao total de usuários, uma vez que 37,70% dos usuários já foram

internados pelo menos 1 vez; enquanto que no Centro de Saúde II – Caconde os

dados encontrados nos prontuários apontam que o número de internações não é tão

grande, nem em número de vezes por paciente (o máximo de internações por

paciente chegou a 12), nem para o número total de usuários, uma vez que 19,51%

dos usuários já foram internados pelo menos 1 vez, sendo que dessas internações

psiquiátricas, 3,48% foram realizadas em 2003 (no período de janeiro à julho).

Para o CAPS – São Carlos não foi possível fazer um levantamento das

internações ocorridas em 2003 devido à falta de dados, já que nessa instituição não

foram encontradas, nos prontuários, as guias de contra-referência, documento este

enviado pelo Hospital Psiquiátrico indicando data de internação, data de saída,

sintomas apresentados, hipóteses diagnóstica, medicamentos utilizados para o

tratamento e indicações de como esse tratamento deve ser continuado.

No Centro de Saúde II – Caconde todas as guias de contra-referência se

encontravam junto aos prontuários, facilitando o trabalho de coleta de dados.

Uma justificativa para o alto índice de internações pode estar relacionada às

hipóteses diagnósticas dos usuários de ambos os serviços, uma vez que indivíduos

esquizofrênicos e com transtornos de humor podem apresentar mais crises de

instabilidade psíquica e emocional do que os neuróticos. Mas, mesmo assim, os

dados referentes às internações ocorridas entre os usuários do CAPS – São Carlos,

que possuem mais diagnósticos de esquizofrenia e de transtornos de humor, foram

considerados muito altos se comparados com os dados referentes às internações

ocorridas entre os usuários do Centro de Saúde II – Caconde, que apresentam mais

casos de transtornos neuróticos e esquizofrenia.

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Não só o alto índice de internações, assim como uma maior média de

medicação por usuário, dados estes encontrados nos prontuários dos usuários do

CAPS – São Carlos, constituem fatos bem estranhos se considerarmos que os

principais objetivos de uma instituição como o CAPS – São Carlos são a orientação

de usuários, acompanhantes e familiares, visando, basicamente o resgate da

cidadania e a reabilitação psicossocial; diminuição do uso prolongado e contínuo de

medicamentos com [sem?] acompanhamento adequado; criação de recursos para

serviços alternativos à hospitalização, além de uma reorganização dos serviços de

Saúde Mental promovendo mudanças que realmente levem à reabilitação do

usuário, é estranho ter dados que mostrem que o que vêm acontecendo nos remete

a uma realidade bem diferente da inicialmente proposta para a criação do CAPS -

São Carlos.

Também pôde ser verificado que a maioria dos usuários de ambos os serviços

não recebem aposentadoria, ou pelo menos não há registro nos prontuários, sendo

que os registros encontrados representam uma parcela mínima de usuários, tanto do

Centro de Saúde II – Caconde (5,92%) quanto do CAPS – São Carlos (18,2%). Esse

é um dado importante, uma vez que a maioria dos usuários apresenta condições

precárias de vida, não só econômica, como também social, demonstrando a pouca

ou não interferência das instituições na tomada de providências que mudem esse

quadro e apontando ainda mais a necessidade urgente de inserção/reinserção

desses usuários na comunidade, principalmente no que diz respeito ao CAPS – São

Carlos, por ser um dos seus objetivos.

No que diz respeito aos atendimentos terapêuticos recebidos pode-se

observar que os usuários dos serviços de Saúde Mental do Centro de Saúde II –

Caconde só dispõem do serviço de psicoterapia individual, 1 vez por semana; sendo

que o CAPS – São Carlos oferece para seus usuários não só o serviço de

psicoterapia individual, como também o de terapia ocupacional individual, terapia

ocupacional em grupo e oficinas, ou seja, uma gama bem maior de possibilidades de

terapias alternativas à internação psiquiátrica. A freqüência de atendimentos

terapêuticos oferece um dado interessante se for observado que a porcentagem de

indivíduos que recebem atendimento psicológico no Centro de Saúde II – Caconde

(14,63%) é bem maior que no CAPS – São Carlos (3,00%), mesmo tendo este

condições mais favorecedores para propiciar tal serviço, pois possui um quadro de

estagiários de psicologia da UFSCar e um número menor de usuários.

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Uma vez que o Centro de Saúde II – Caconde não oferece oficinas como

recurso terapêutico, só puderam ser anotados os dados referentes ao CAPS – São

Carlos, sendo observado que a maioria dos usuários participa de algum tipo de

oficina terapêutica (71,20%), e que as oficinas em que se registra maior freqüência

são as de Expressão Corporal (19,80%), seguida pela de Pintura, Literatura (19,00%

cada) e Improvisação Cênica (11,90%), oficinas estas ministradas por estagiários do

Curso de Psicologia da UFSCar. Esses dados demonstram como tem sido de

fundamental importância a participação ativa da Universidade no CAPS – São

Carlos, assim como a manutenção da parceria entre a UFSCar e a Secretaria

Municipal de Saúde, que poderá continuar trazendo benefícios não só para os

estudantes da Universidade, mas principalmente para o usuários da instituição, seus

familiares, funcionários, enfim, para a comunidade de uma maneira geral.

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63

VII. CONCLUSÃO

O presente estudo revelou alguns dados cuja constatação era esperada,

tendo em vista a proposta dos serviços em questão, e outros dados que

surpreenderam.

Tendo em vista a estrutura e a proposta básica do Centro de Saúde II –

Caconde, este superou as expectativas em relação ao atendimento fornecido e aos

resultados obtidos, como, por exemplo, sua taxa média de medicamentos prescritos

por usuário, o número médio de internações e o número de atendimentos

psicológicos realizados.

Em relação ao CAPS – São Carlos, ao tomarmos como referência seus

objetivos, concluímos que sua prática está distante de refletir uma

desinstitucionalização plena, pois ainda mantêm-se alta a taxa média de

medicamentos prescritos, o alto índice de internações e o baixo índice de

atendimentos psicológicos realizados.

Ambos os serviços foram deficitários no que diz respeito às informações

referentes à escolaridade, à profissão, à antecedência familiar e queixa de entrada

dos usuários dos serviços em questão, apontando para uma insuficiente

organização das informações, o que no caso do CAPS – São Carlos é mais crítico,

uma vez que o serviço é novo e tais dados são importantes para o levantamento e

estruturação das possíveis causas e tratamento mais eficaz da doença.

No decorrer do estudo, através também de observações e conversas

informais com os usuários, foi observada uma aparente desospitalização, mas não

uma desinstitucionalização dos mesmos. Isso levando em consideração o termo

instituição como o conjunto das normas, regras e atividades agrupadas em torno dos

valores e das funções sociais, e não no sentido de uma disposição hierárquica das

funções que se efetuam geralmente no interior de um edifício ou de um espaço

limitado, sendo isso considerado como organização; além de considerar que um

grupo que deixa de ser um processo para se estabelecer como uma organização,

também deixa de ser um grupo terapêutico para se transformar em um grupo anti-

terapêutico, no sentido de uma reação terapêutica negativa (Käes et al.,1991).

Essa desospitalização, mas não desinstitucionalização dos usuários pode ser

explicado por Käes et al. (1991), onde segundo ele a instituição apresenta,

psicanaliticamente, uma identificação como sendo aquela formação intermediária

que mantém juntos os membros das instituições e uma identificação de própria

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64

instituição, onde o sujeito ganha e perde com esse processo e com o que se dá com

ele no conjunto que assim se forma.

De acordo com Käes et al. (1991), a existência de identidade de uma pessoa

ou de um grupo é determinada, na ordem cotidiana e manifesta, pela estrutura e

pela integração atingidas, em cada caso, pelo “eu individual” e pelo “eu grupal” (grau

de organização, amplitude e de integração do conjunto das manifestações de

verbalização, motricidade, ação, julgamento, raciocínio e pensamento). A identidade

grupal pode ser dada por um trabalho efetuado em comum, instaurando regras de

interação e de comportamento, como também através de uma identidade particular

ou identidade grupal sincrética, que se apóia sobre uma socialização na qual esses

limites não existem, uma vez que os indivíduos não têm identidade enquanto tal,

mas sim na sua filiação ao grupo.

Sendo assim, por um lado a instituição pode ser vista como uma celebração

pelo grupo que institui e desinstitui continuamente a função criadora do imaginário

social e da realização dos desejos individuais; mas por outro lado há a denúncia da

instituição instituída, alienante, que pereniza a rigidificação do movimento social, a

permanência dos poderes coercitivos e a hierarquia dos valores oponíveis à

satisfação do desejo, favorecendo o sofrimento humano através da força

esmagadora da própria natureza, da decrepitude do corpo e da insuficiência das

medidas destinadas a regular as relações entre os homens e entre os homens e a

sociedade no geral.

As organizações constituem parte da nossa personalidade, mas o que

também deve ser levado em consideração é a crença incorreta de que há uma

oposição do indivíduo ao grupo e da organização ao grupo, na medida em que é

pensado que indivíduos existem isoladamente e que se reúnem para formar grupos

e organizações. Isso é incorreto, uma vez que o ser humano, antes de ser uma

pessoa, é sempre um grupo, não no sentido de pertencer a um grupo, mas no

sentido em que sua personalidade é grupal.

Sendo assim, faz-se mister uma maior discussão e uma rápida solução para o

que diz Käes et al. (1991), onde

“(...) qualquer organização tem tendência a manter a mesma

estrutura do problema que ela tenta enfrentar e pelo qual foi

criada (...). A função iatrogênica e de confirmação das doenças

desempenhada pelos hospitais psiquiátricos (...) constitui um

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65

aspecto sobre o qual se insiste muito hoje em dia; mas

esquecemos outros aspectos também importantes, que têm o

mesmo efeito burocrático iatrogênico e a mesma função latente:

a de manter a clivagem que controla a sociabilidade sincrética”

(Käes et al.,1991, pp. 68).

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66

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http://www.psicopatologia.hpg.ig.com.br/reforma.htm (site visitado em janeiro/2003)

http://www.comciencia.br (site visitado em janeiro/2003)

http://www.ifb.org.br/ (site visitado em janeiro/2003)

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ANEXO 1

BASE PARA ANÁLISE DE PRONTUÁRIOS

1. Serviço________________________________________________________

2. Prontuário no. __________________________________________________

3. Iniciais_________________________________________________________

4. Idade__________________________________________________________

5. Data de nascimento______________________________________________

6. Local de nascimento: cidade: ______________________________________

Estado: _________________________País___________________________

7. Endereço atual: Cidade_________________, Bairro_____________________

8. Escolaridade____________________________________________________

9. Profissão ______________________________________________________

10. Data de admissão no serviço: ______________________________________

11. Queixa de entrada:_______________________________________________

12. Descrição dos principais sintomas:___________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

13. Antecedentes familiares___________________________________________

_________________________________________________________________

14. Hipótese diagnóstica_____________________________________________

15. Medicação em uso_______________________________________________

16. Nº de internações psiquiátricas_____________________________________

Datas/Locais____________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

17. Outras doenças/medicação_______________________________________

18. Recebe benefício do INSS? ( ) sim ( ) não

19. Atendimentos terapêuticos recebidos

( ) psicoterapia ( ) terapia ocupacional

19.1Modalidade

( ) grupo ( ) individual ( ) ambas

19.2 Freqüência

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( ) uma vez/ semana ( ) duas vezes/ semana ( ) três vezes/semana

20. Acompanhamento psiquiátrico

( ) sim ( ) não

21. Participa de alguma atividade terapêutica expressiva em Oficinas ?

( ) sim ( ) não

21.1Qual (is)? _____________________________________________________

22. Último encaminhamento recebido ___________________________________

22.1 Data: ________________________________________________________

23. Evolução clínica do usuário__________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

24. Outros achados não contemplados pelas questões acima

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

Data da consulta ao Prontuário : _____________________________________

Nome da pesquisadora_____________________________________________

Assinatura_______________________________________________________

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ANEXO 2

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPÁRTAMENTO DE PSICOLOGIA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

São Carlos, ____ de _______________ de 2003. Prezado Senhor (a)

Venho, pela presente, solicitar a autorização de V. Sa. para a realização das atividades da

Pesquisa “ Estudo comparativo entre o encaminhamento em saúde mental oferecido pelo CAPS – São Carlos/SP e pelo Centro de Saúde II – Caconde/SP.

O objetivo dessa pesquisa é caracterizar, por meio da consulta aos prontuários dos usuários, o encaminhamento oferecido à população atendida, sempre considerando as possibilidades de atendimento e as características próprias de cada serviço.

Este trabalho implicará em uma análise dos prontuários dos usuários de ambos os serviços de acordo com um roteiro pré-estabelecido (em Anexo no Projeto).

A aluna que realizará a pesquisa, Marina Ceres Silva Pena, é graduanda do Curso de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos, o qual exige, para sua formação em Bacharel, o desenvolvimento e conclusão desta pesquisa.

O presente trabalho só poderá ser realizado com o devido consentimento de V.Sa., responsável pela instituição. Salientamos que a atividade a ser desenvolvida não trará qualquer prejuízo para a instituição nem para os usuários desta, e que seus nomes permanecerão em absoluto anonimato.

O resultado da pesquisa será depositado, em forma de Monografia de Pesquisa, na Coordenação do Curso de Psicologia, ficando, ainda, à disposição da UFSCar (por meio do Programa de Extensão "Saúde Mental e Cidadania"), da Coordenação e Equipe do CAPS-São Carlos/SP e da Secretaria Municipal de Saúde e do Centro de Saúde II, Caconde/SP, resguardando, em todas essas instâncias, o anonimato dos usuários. Eventualmente, poderá ser divulgado por meio de Congressos, reuniões científicas ou publicações da área, sempre garantindo o anonimato do usuário.

Contando com sua compreensão para o caso, solicito sua autorização por meio da assinatura do presente termo, para que seja efetivado o planejamento das atividades acima referidas e que a execução do projeto seja realizada na instituição, sem nenhum ônus à mesma, durante o primeiro e segundo semestres de 2003.

Atenciosamente,

(Nome do responsável pela Instituição)

(cargo ocupado)

Profª. Georgina Faneco Maniakas Marina Ceres Sil va Pena Orientadora / Pesquisadora responsável Pesquisadora End.: Rod. Washington Luís, km. 235 End: R. Episcopal, 24 74, ap.12-A/ São Carlos-SP São Carlos-SP Fone: (16) 272 5536 Fone: (16) 260 8361 e-mail: [email protected]

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ANEXO 3 COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

MINISTÉRIO DA SAÚDE - Conselho Nacional de Saúde - Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP FOLHA DE ROSTO PARA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS

1. Projeto de Pesquisa: 2. Área do Conhecimento (Ver relação no verso)

3. Código: 4. Nível: ( Só áreas do conhecimento 4 )

5. Área(s) Temática(s) Especial (s) (Ver fluxograma no verso) 6. Código(s): 7. Fase: (Só área temática 3) I ( ) II ( ) III ( ) IV ( )

8. Unitermos: ( 3 opções )

SUJEITOS DA PESQUISA

9. Número de sujeitos

No Centro : Total:

10. Grupos Especiais : <18 anos ( ) Portador de Deficiência Mental ( ) Embrião /Feto ( ) Relação de Dependência (Estudantes , Militares, Presidiários, etc ) ( ) Outros ( ) Não se aplica ( )

PESQUISADOR RESPONSÁVEL 11. Nome:

12. Identidade: 13. 19.Endereço (Rua, n.º ):

14. Nacionalidade: 15. Profissão: 20. CEP:

21. Cidade: 22. U.F.

16. Maior Titulação: 17. Cargo 23. Fone: 24. Fax

18. Instituição a que pertence: 25. Email:

Termo de Compromisso: Declaro que conheço e cumprirei os requisitos da Res. CNS 196/96 e suas complementares. Comprometo-me a utilizar os materiais e dados coletados exclusivamente para os fins previstos no protocolo e a publicar os resultados sejam eles favoráveis ou não. Aceito as responsabilidades pela condução científica do projeto acima. Data: _______/_______/_______ ______________________________________ Assinatura

INSTITUIÇÃO ONDE SERÁ REALIZADO 26. Nome: 29. Endereço (Rua, nº):

27. Unidade/Órgão: 30. CEP: 31. Cidade: 32. U.F.

28. Participação Estrangeira: Sim ( ) Não ( x ) 33. Fone: 34. Fax.: 35. Projeto Multicêntrico: Sim ( ) Não ( ) Nacional ( ) Internacional ( ) ( Anexar a lista de todos os Centros Participantes no Brasil ) Termo de Compromisso (do responsável pela instituição): Declaro que conheço e cumprirei os requisitos da Res. CNS 196/96 e suas Complementares e como esta instituição tem condições para o desenvolvimento deste projeto, autorizo sua execução

Nome:_______________________________________________________ Cargo________________________

Data: _______/_______/_______ ___________________________________

Assinatura PATROCINADOR Não se aplica ( )

36. Nome: 39. Endereço

37. Responsável: 40. CEP: 41. Cidade:

42. UF

38. Cargo/Função: 43. Fone: 44. Fax:

COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP

45. Data de Entrada:

_____/_____/_____

46. Registro no CEP: 47. Conclusão: Aprovado ( )

Data: ____/_____/_____

48. Não Aprovado ( )

Data: _____/_____/_____

49. Relatório(s) do Pesquisador responsável previsto(s) para: Data: _____/_____/____ Data: _____/_____/_____ Encaminho a CONEP: 50. Os dados acima para registro ( ) 51. O projeto para apreciação ( ) 52. Data: _____/_____/_____

53. Coordenador/Nome ________________________________ Assinatura

Anexar o parecer consubstanciado

COMISSÃO NACIONAL DE ÉTICA EM PESQUISA - CONEP 54. Nº Expediente : 55. Processo :

56.Data Recebimento : 57. Registro na CONEP:

58. Observações:

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COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

1-) DESCRIÇÃO DA PESQUISA, CONTENDO: a-) Descrição dos propósitos.

Buscando refletir sobre as práticas substitutivas em Saúde Mental, o presente trabalho pretende realizar um estudo comparativo entre o encaminhamento oferecido aos usuários que procuram os serviços de saúde mental em duas unidades de saúde mental: o CAPS-São Carlos, inserido no contexto de reformulação da atenção em Saúde Mental e pretendendo ser um serviço que de alguma forma venha a inaugurar o “novo” em termos de atendimento ao doente mental, e o Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, em Caconde-SP, que funciona em esquema ambulatorial tradicional. Este estudo também pretende caracterizar, por meio da consulta aos Prontuários, o tratamento oferecido à população atendida, o tipo de demanda, assim como a questão da construção da autonomia dos sujeitos psicóticos atendidos pelos serviços, sempre considerando as características próprias de cada serviço. A indagação é pertinente, pois a discussão sobre a “autonomia” dos sujeitos psicóticos põe em debate os tradicionais conceitos de alta e cura em psiquiatria, além de, depois aproximadamente uma década de implantação dos “novos serviços”, parece ser este um bom momento para refletir e avaliar as possíveis transformações no campo da Atenção em Saúde Mental. b-) Antecedentes científicos e dados que justifique m a pesquisa.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde seria um estado completo de bem-estar físico, mental, social e não somente a ausência de doenças ou enfermidades (Capra, 1982). Mas saúde é uma experiência subjetiva, algo que pode ser conhecido intuitivamente, mas nunca descrito ou quantificado; saúde é uma experiência de bem-estar resultante de um equilíbrio dinâmico que envolve os aspectos físicos e psicológicos do organismo, assim como sua interação com o meio ambiente natural e social. Para Wickert (1998),

“a saúde só se dá quando o sujeito tem possibilidades de traçar o seu próprio destino, conforme seu desejo, em direção ao seu bem-estar físico, psíquico e social e que o caminho construído nem sempre é condizente com a modelagem social (...)” 16

Saraceno (2001-a), entende que saúde mental seja o conjunto de ações de

promoção, manutenção e tratamento referentes à melhora, manutenção ou restauração da saúde mental de uma população. A subjetividade é um objeto de pesquisa psicológica, sendo esta um

“sistema complexo de significações e sentidos subjetivos produzidos na vida cultural humana, se definindo ontologicamente como diferente dos elementos sociais, biológicos, e de qualquer outro tipo, relacionados entre si no complexo processo de seu desenvolvimento individual e social (...) a subjetividade e a cultura são processos

16 Wickert, 1998. Loucura e direito a alteridade., pp. 38.

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construtivos complexos que ocorrem de forma simultânea; a subjetividade não é determinada pela cultura; a cultura depende da subjetividade”.17

Segundo Pessotti (1994), na antiguidade grega o homem não se conhecia; as

distorções e aberrações da natureza humana eram entendidas vagamente e, na ausência de qualquer psicologia, atribuídas à forças e entidades desconhecidas. Acreditavam na intervenção direta e permanente dos e dos seus instrumentos na vida dos homens, e pensavam na loucura como um estado de desrazão, de perda do controle consciente sobre si mesmo, de insensatez, de perda do contato ordenado com a realidade física ou social. Já a doutrina demonista que associa a loucura à possessão diabólica e marca a concepção medieval da psicopatologia, não é apenas um artifício religioso da época para repreender as heresias e impor a ortodoxia teológica e moral, mas também uma forma de pensar, que tem suas raízes na própria formação doutrinária do cristianismo; quase tosos os comportamentos acabam sendo tidos como suspeitos e gradualmente atribuídos ao demônio. Obras importantes foram publicadas como Malleus Maleficarum (Martelo das Bruxas) escrito por Sprenger e Institor, e o Traité Médico-Philosophique sur l’aliénation mentale, de Pinel.

De acordo com Pessotti (1994), a confusão doutrinária das últimas décadas do século XIX gera vários absurdos terapêuticos; há uma desorientação geral da teórica médica quanto à etiologia e conseqüentemente da terapêutica da loucura; há o desaparecimento do modelo mitológico religioso e destaca-se o organicismo que incentiva a busca por maiores explicações das funções orgânicas, culminando num conflito entre o modelo organicista clássico e um modelo médico biopsicossocial, que por sua vez, testemunha a fragmentação e o paralelismo da teoria psiquiátrica, já que aquilo que não se explica com o “bio”, se explica com o “psico” e/com o social, gerando uma espécie de ilusão e impotência terapêutica (Saraceno, 2001-a).

Para Wickert (1998),

“no pensar coletivo atual, louco é aquele que não tem razão, que dá medo, que não controla seus próprios impulsos, escapando aos padrões sociais a serem seguidos e mantidos, necessitando, então, de tratamento especializado (...) Como o insano não é controlável/suportável nos termos morais, a razão coexiste com a loucura em contraposição, assim quem tem a razão não é louco e quem é louco não tem a razão.” 18

Segundo Dittrich (1998),

“será sempre em relação a uma ordem de ‘normalidade’, ‘racionalidade’ ou ‘saúde’ que a loucura é concebida nos quadros de ‘anormalidade’, irracionalidade’ ou ‘doença’ ”.19

A prática de submeter o paciente psiquiátrico às instituições manicomiais são práticas que visam moldar a conduta do sujeito sem levar em consideração o seu desejo, a sua subjetividade, num único objetivo de exclusão, a massificação e a dominação social. Os loucos passam a ser enclausurados em um lugar delimitado e

2 Rey, 2002. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios, p.36-37 e 43. 18 Wickert, 1998. Loucura e direito a alteridade, pp. 39. 19 Dittrich, 1998. Psicologia, direitos humanos e sofrimento mental: ação, renovação e libertação, pp. 52.

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afastado, para que os ditos como sãos saibam a história do sofrimento psíquico desses doentes, saibam quais males os ameaçam e busquem maneiras de evitar tal sofrimento, nascendo dessa estrutura os manicômios, lugares onde se despejavam aquelas pessoas que a sociedade, apesar de produzir, rejeitava (Wickert, 1998). Para Goffman (1996) apud Wickert (1998), os manicômios assim como as prisões, os conventos, os quartéis e as casas de recolhimento de indigentes são instituições totais, uma vez que as instituições totais são caracterizadas por locais onde as atividades são realizadas num mesmo local e sob uma única autoridade; todas as pessoas são tratadas da mesma forma e obrigadas a realizar tarefas em conjunto, sendo estas rigorosamente organizadas por um sistema de regras formais explícitas e por um grupo de funcionários. Além disso, há uma divisão básica e de pouca mobilidade social entre o grupo de internados e a equipe de supervisão. Na estrutura manicômio-instituição total, uma estufa para mudar pessoas, o paciente é obrigado a despir-se não só das suas roupas, mas também da sua história, sua subjetivação, sua individualidade, tornando-se apenas um simples número ou uma categoria da CID-10.

Com o processo de internação, as barreiras que separam o manicômio do mundo externo acarretam perdas de papéis sociais e a aquisição de um padrão de comportamento homogeneizado a ser seguido, sendo uma agressão à subjetividade e à individualidade do paciente, além da perda do rótulo de saudável, de quem “tem a razão”, pois dizer socialmente “doente mental” é sê-lo para o resto da vida, condicionando o passado e o futuro do sujeito e marcando-o para toda a vida (Wickert, 1998).

Segundo Saraceno (2001-a), os anos 70 se caracterizaram pela idéia de que a psiquiatria seria um conjunto de técnicas terapêuticas a serem aprendidas a fim de escolher aquela mais convincente, além da manutenção da idéia equivocada de cientificidade, na qual

“científico é tudo aquilo que se exprime com categorias do quantitativo, que se refere a modelos claros e distintos, que exclui a subjetividade”.20

No entanto, como expressar em categorias puramente quantitativas um fenômeno cujo objeto às vezes é e as vezes não é alguma coisa ?21

Partindo da análise do discurso comum, Simanke (1997) observa que o termo loucura, longe de seu significado psicopatológico atual, formou uma rede ou campo de significações, do qual se alimentaram, posteriormente, os discursos mais organizados. A denominação “loucura” não representa nada de específico. Ela somente vai sofrer uma determinação estreita ao ver-se apropriada de formas de conhecimento mais organizadas, a partir dos parâmetros que definem as diversas teorias, adquirindo, somente desse modo, um sentido próprio, mas que permanece circunscrito a essa dada disciplina22.

Somente quando a psiquiatria se impõe como o campo de domínio das doenças mentais, é que a loucura passa a se restringir ao significado “científico” que, hoje, lhe é atribuído.

No entanto, ainda segundo Simanke (1997), o significado “científico” da loucura nasceu de práticas sociais mais ou menos simétricas à maneira como o fenômeno era percebido. O autor nota que tais práticas,

3 Saraceno, 2001-a. Libertando Identidades, pp.13. 21 Simanke, 1997, Loucura e Psicose: a abordagem psicanalítica. Apostila. 22 Simanke (1997), p. 5

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“desencadeadas pelos aspectos mais superficiais das manifestações, podiam ser exercidas sem necessidade de entrar no mérito da natureza última dos fenômenos em foco; em outras palavras, ao menos nesse caso, a ação precedeu a reflexão” 23.

Inspirado por algumas noções gerais foucaultianas, o autor arrisca um esboço

de definição dizendo que

“histórica e culturalmente, a loucura identifica-se com um certo campo de discursos, que emergem de práticas sociais e/ou institucionais mais ou menos concretas.” 24

Tais práticas foram rapidamente institucionalizadas, e foi através de um

modelo hospitalocêntrico para o tratamento das doenças mentais que chegaram até nós.

A Reforma Psiquiátrica consiste em uma reação a essa modelo, por meio de uma série de transformações na assistência em saúde mental propostas pela chamada "Luta Antimanicomial", um movimento social que se iniciou na Itália com Franco Basaglia e teve seus primeiros momentos no Brasil a partir do final da década de 70, se intensificando ao longo dos anos 80, 90 e 2000. Este movimento reúne diversos atores sociais como usuários de serviços de saúde mental, seus familiares e técnicos da área de saúde; não pretende acabar com o tratamento clínico da doença mental, mas sim eliminar a prática do internamento como forma de exclusão social dos indivíduos portadores de transtornos mentais. Propondo, para isso, a substituição do modelo manicomial pela criação de uma rede de serviços territoriais de atenção psicossocial, de base comunitária. A extinção dos manicômios deve ser gradual, sendo que para que isso ocorra, foi aprovada uma Lei Federal de Saúde Mental em abril de 2001 (após 12 anos de tramitação no Congresso), que regulamenta o processo de Reforma a Assistência Psiquiátrica no Brasil.

A partir da década de 70, percebe-se no país alguns movimentos de crítica ao modelo hospitalocêntrico no que se refere à assistência psiquiátrica, sendo a exclusão e a violência nos manicômios pautas de discussões que reivindicavam os direitos dos doentes mentais. Os principais questionamentos eram relacionados à natureza do modelo privatista e à sua incapacidade de produzir um atendimento que contemplasse as necessidades de seus usuários, mas ainda não havia um modelo muito claro nem uma proposta de intervenção clínica. Já na década de 80, período marcado pela ditadura, o movimento pela reforma psiquiátrica no Brasil ganha importância política e social, possibilitando mudanças na saúde, permitindo a participação de outros setores que não médicos, enfatizando críticas às noções de clínica e cidadania, ambas ancoradas a uma concepção universal do sujeito onde a normalidade deve ser reconstituída. A construção de um novo espaço social para a loucura exigia não só que a noção de cidadania e a base do saber psiquiátrico fossem colocados em debate, mas também a invenção de novos locais, instrumentos técnicos, terapêuticos e novos modos de estabelecer relações com esses sujeitos (Santos, Almeida & Venâncio, 2000).

Nesse período foi muito importante a influência da psiquiatria democrática italiana, propondo o questionamento da suposta universalidade do racionalismo científico das psiquiatrias; usuários e familiares passaram a reivindicar mais intensamente por outras possibilidades de atenção assim como espaços, avanços técnicos e formas de reabilitação psicossocial. Começaram a ser implantados os 23 Idem, ibid, p. 6 24 Idem, ibid, p. 7

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hospitais-dia, mas só nos anos 90 foram criados e consolidadas propostas como os Centros de Assistência Psicossocial (CAPS), os Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) e os Lares Abrigados (Santos, Almeida & Venâncio, 2000).

Originada do grego, a palavra autonomia surgiu para designar a capacidade de um indivíduo de se autodeterminar, de se auto-realizar (Santos, Almeida & Venâncio, 2000). Para Kinoshita (2001), autonomia seria

“a capacidade de um indivíduo gerar normas, ordens para a sua vida, conforme as diversas situações que enfrente (...) não se trata de confundir autonomia com auto-suficiência nem com independência.” 25

No campo da saúde mental, entretanto, seu conceito parece ser mais

impreciso, uma vez que os sujeitos se tornam destituídos de todo e qualquer valor ao receber o atributo de doente mental, além da dúvida de se as instituições que utilizam novos dispositivos contrários àqueles do tradicional manicômio, propiciarem ou não a produção de autonomia para os usuários que se beneficiam do tratamento (Santos, Almeida & Venâncio, 2000). Aqui, se torna muito importante a questão da reabilitação psicossocial.

Para a OMS, segundo Pitta (2001-a), a reabilitação psicossocial seria “o conjunto de atividades capazes de maximizar oportunidades de recuperação de indivíduos e minimizar os efeitos desabilitantes da cronificação das doenças através do desenvolvimento de insumos individuais, familiares e comunitários”. 26

Segundo Pitta (2001-b), reabilitação psicossocial “implica numa ética de solidariedade que facilite aos sujeitos com limitações para os afazeres cotidianos, decorrente de transtornos mentais severos e persistentes, o aumento da contratualidade afetiva, social e econômica que viabilize o melhor nível possível de autonomia para a vida na comunidade.” 27

Já Kinoshita (2001) pensa que reabilitação seria a reconstrução dos valores, o aumento do poder contratual do usuário; a criação de condições para que o paciente possa participar do processo de trocas sociais; a produção de dispositivos que mudem o pressuposto de desvalor natural; em suma, um processo de restituição do poder contratual do usuário, com vistas a ampliar a sua autonomia.

Complementando a idéia, Saraceno (2001-b) afirma que “o processo de reabilitação seria, então, um processo de reconstrução, um exercício pleno da cidadania, e, também, de plena contratualidade nos três grandes cenários: habitat, rede social e trabalho com valor social.” 28

Marques (2001), ainda define como metas da reabilitação

25 Kinoshita, 2001. Contratualidade e reabilitação psicossocial, pp. 57. 26 Pitta, 2001-a. O que é reabilitação social no Brasil, hoje?, pp. 21. 27 Pitta, 2001-b. Prefácio à 1ª edição, pp. 9. 28 Saraceno, 2001-b. Reabilitação psicossocial: uma estratégia para a passagem do milênio, pp. 16.

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“prevenir e/ou reduzir incapacitações ou perda de habilidades; restaurar habilidades potenciais em desempenhar papéis sociais; fortalecer habilidades latentes e dignidades potenciais; facilitar adaptação social e psicológica aos efeitos de prejuízos sociais na vida do indivíduo; minimizar a deterioração; capacitar níveis ótimos de autodeterminação, execução de responsabilidades pessoais e independentes, melhorar o sentido de bem-estar da pessoa.” 29

A reabilitação deve ser a principal característica da psiquiatria; um

“entretenimento” do doente. Tendo em vista que entreter significa “ter dentro” e também “passar prazerosamente o tempo”; na espera de que o doente morra ou que a doença se cure sozinha, o significado empregado pode ser o de que o doente “fique dentro” do hospital psiquiátrico, nas alas, nas enfermarias, nas salas de contenção, na violência e na miséria; ou então o de que o doente também pode ser entretido com conversas, com oficinas terapêuticas, em um hospital dia e/ou no meio da sua própria família, adotando assim o sentido de inserção em um sistema onde a espera é de melhora. É importante também conhecer as ações que contribuíram para a melhora do paciente, pois assim talvez fosse verificado que as ações formais não são especialmente influentes sobre a evolução das doenças; que a psiquiatria clínica com suas terapêuticas constitui um conjunto de entretenimentos danosos ou indiferentes, raramente úteis. A ruptura deste entretenimento não é apenas uma ruptura à prática da psiquiatria, mas também uma busca de caminhos que confluam para a reconstrução da cidadania plena do paciente psiquiátrico, sendo esta não só a restituição de seus direitos formais, como também a construção afetiva, relacional, material, habitacional e produtiva dos seus direitos substanciais (Saraceno, 2001-a). c-) Descrição detalhada e ordenada do projeto.

Segundo Capra (1982), a influência do paradigma cartesiano (concepção mecanicista da vida) sobre o pensamento médico resultou no modelo da moderna medicina científica, onde o corpo humano é considerado uma máquina que pode ser analisada em termos de suas peças; a doença é tida como um mau funcionamento dos mecanismos biológicos, que são estudados do ponto de vista da biologia molecular. Em se tratando das doenças mentais, postula uma relação linear de causalidade entre danos do sistema nervoso e o surgimento das doenças mentais, considerando que os tratamentos das doenças não são outro que modificações (essencialmente farmacológicas) da função cerebral alterada.

A abordagem biopsicossocial procura contemplar o processo de saúde-doença como uma relação interativa entre fatores biológicos, psicológicos e sociais (agora também espirituais). Fatores macrossociais, diferenças culturais, eventos externos (guerras, desastres), condições sócio-econômicas (desemprego, recessão econômica, condições de insuficiente suporte social, ambientes psicológicos adversos) e contextos microssociais (família) são todos importantes no surgimento e na evolução de muitas das doenças psiquiátricas (Saraceno, 2001-a).

Segundo Rey (2002) e apoiando a abordagem biopsicossocial, o conhecimento estaria ligado à cultura, à organização social e à “práxis histórica”, sendo não só condicionado, determinado e produzido, mas também condicionante, determinante e produtor.

O que ainda vem acontecendo ultimamente é que o papel biológico vem dominando o modelo de assistência à saúde mental. O ideal seria uma relação não 29 Marques, 2001. Reabilitação psicossocial e a reforma psiquiátrica, pp. 107.

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simplesmente somatória, mas interativa entre as dimensões biológica, psicológica e social, sem deixar quer um dos aspectos fosse dominante sobre os outros, pois a abordagem biopsicossocial não exclui, evidentemente, a biológica, mas coloca em crise o paradigma biomédico, mostrando sua ineficácia e deterioração.

O presente estudo pretende seguir, predominantemente as orientações da pesquisa qualitativa, sendo que esta última, segundo Rey (2002)

“enfatiza tanto a compreensão da pesquisa qualitativa como processo dialógico que impede tanto o pesquisador, como as pessoas que são objetos da pesquisa, em sua condição de sujeito do processo; (...) a busca de grandes narrativas vai sendo substituída por teorias mais locais e de pequena escala. Centradas em problemas e situações específicas (...). A definição do qualitativo na pesquisa psicológica não é uma questão instrumental, nem tampouco uma questão definida pelo tipo de dados que devem ser incluídos, mas que se define essencialmente pelos processos implicados na construção do conhecimento, pela forma de se produzir o conhecimento”.30 O estudo será realizado no CAPS (Centro de Assistência Psicossocial) de

São Carlos-SP e no Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, em Caconde-SP.

O CAPS foi recentemente implantado (março/2002) na cidade de São Carlos, mas já presta serviços a uma demanda considerável, uma vez que a cidade possui quase 200.000 habitantes e ainda é referência regional, atendendo então, não somente sua população, mas também a população das cidades vizinhas (como Ibaté, Água Vermelha, Dourado, Ribeirão Bonito, entre outras). O CAPS oferece tanto o serviço de fornecimento de medicamentos gratuitamente, de atendimento médico (diagnóstico psiquiátrico ou neurológico e “troca de receitas”) como atendimento psicológico, de enfermagem, de terapia ocupacional, de serviço social, de oficinas terapêuticas e até a permanência de determinados períodos do dia para os casos mais graves, dependendo do tratamento (intensivo e semi-intensivo).

Já o Centro de Saúde, apesar de ter sofrido recentemente uma pequena reestruturação no Serviço de Saúde Mental, possui um tipo de serviço totalmente diferente do realizado nos CAPS em geral, pois oferece serviço um serviço mais emergencial: fornecimento de medicamentos gratuitamente, consultas com médico psiquiatra (para diagnóstico e “troca de receitas”) e em alguns casos encaminhamento para o psicólogo. Além da diferença do tipo de serviço oferecido, é preciso destacar que a população atendida é bem menor, uma vez que a população de Caconde é de aproximadamente 20.000 habitantes e a cidade não é referência regional para nenhum assunto referente à saúde.

Dessa maneira, tendo em vista que as duas instituições apresentam diversas diferenças entre si, somente torna-se viável a realização de um estudo comparativo em relação ao tipo de encaminhamento oferecido aos usuários se todas essas diferenças puderem ser consideradas e explicitadas no estudo em questão, realizando, para isso, análise do projeto para implantação e estruturação de ambos os tipos de serviços de atendimento aos doentes mentais; levantamento dos recursos terapêuticos oferecidos (como consultas médicas, psicoterapias, oficinas terapêuticas, entre outros); assim como análise dos prontuários dos usuários dos serviços.

2 Rey, 2002. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios, pp. ix, 6 e 24.

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Serão analisados os prontuários dos usuários dos serviços em questão de acordo com roteiro já pré-estabelecido (ver Anexo 1 no projeto) com a finalidade de caracterizar o encaminhamento oferecido aos usuários por ambas instituições. d-) Análise crítica dos riscos e benefícios que a p esquisa pode trazer.

O estudo não pretende arriscar a integridade física, moral ou psíquica dos usuários do CAPS - São Carlos-SP nem do Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle” - Caconde-SP, uma vez que os nomes dos usuários envolvidos não serão divulgados e uma solicitação de consentimento para a realização da pesquisa será requerida aos responsáveis de ambas instituições.

Com relação às contribuições que o presente estudo pode trazer, isso de deve ao fato deste englobar uma discussão sobre a “autonomia” dos sujeitos psicóticos, pondo em debate os tradicionais conceitos de alta e cura em psiquiatria. Além do que, depois de aproximadamente uma década de implantação dos “novos serviços”, este parece ser um bom momento para refletir e avaliar as possíveis transformações no campo da Atenção em Saúde Mental, se estas são efetivas e/ou eficazes ou não. e-) Duração total da pesquisa. Sendo o desenvolvimento e a conclusão desta pesquisa necessária para a formação da aluna em Bacharel em psicologia, o estudo terá duração total de dois (2) semestres letivos. f-) Explicitação das responsabilidades do pesquisad or e da instituição. A pesquisadora responsável pelo projeto em questão compromete-se conduzir a pesquisa cumprindo os termos éticos norteados pela resolução 196/96 do Ministério da Saúde após a sua aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa, garantindo também que seu início se dará somente após a autorização de ambas instituições por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, resguardando a identidade e o sigilo sobre os dados obtidos dos usuários dos quais os protocolos serão analisados, além da posterior informação dos resultados obtidos. g-) Critérios para suspender e encerrar a pesquisa. Se nenhum dos princípios da resolução 196/96 do Ministério da Saúde forem infringidos, resultando em prejuízo ao sujeito ou à pesquisa ou se nenhuma das instituições entrarem em desacordo com a pesquisadora, a pesquisa só será encerrada quando todos os procedimentos metodológicos (coleta, análise e interpretação dos dados; resultados e conclusão) forem cumpridos. Caso contrário, a pesquisa será suspensa imediatamente. h-) Local da pesquisa e infra-estrutura do projeto. O presente estudo pretende ser realizado no CAPS-São Carlos (Centro de Atenção Psicossocial), inaugurado em 18/03/2002, sito à Rua Riachuelo nº 171 na cidade de São Carlos-SP, local que abriga usuários adultos da Saúde Mental local e da região, diagnosticados como psicóticos, drogaditos ou neuróticos graves, em recuperação por meio de um serviço intensivo, e semi-intensivo diário, que conta

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com oficinas, psicoterapia, atendimento médico, enfermagem, entre outros, e o Centro de Saúde II “Dr. Sebastião Ribeiro do Valle”, sito à Rua Floriano Peixoto nº 205, na cidade de Caconde-SP, uma instituição multiprofissional de atendimento aos usuários da Saúde mental do município, de caráter exclusivamente ambulatorial, entre os quais serão selecionados para o presente estudo, os usuários adultos diagnosticados como psicóticos, drogaditos ou neuróticos graves. i-) Demonstrativo da infra-estrutura necessária ao desenvolvimento da pesquisa e para atender eventuais problemas dela re sultantes, com a concordância documentada da instituição.

Ambas as instituições possuem infra-estrutura suficiente para dar suporte a esta pesquisa. j-) Orçamento financeiro. Não há recurso financeiro para a realização do projeto. k-) Se vão ser publicados os resultados da pesquisa , sejam eles favoráveis ou não.

Por ser uma monografia de final de curso, os resultados ficarão à disposição na Coordenação do Curso de Psicologia, sendo favoráveis ou não, com cópia entregue à Coordenadoria do CAPS, à Secretaria Municipal de Saúde de São Carlos-SP, ao Centro de Saúde II e à Secretaria Municipal de Saúde de Caconde-SP, sendo que sua divulgação e publicação dependerá de apresentações em Congressos e interesse de revistas especializadas. l-) Sobre a propriedade e destinação dos conhecimen tos.

Os conhecimentos obtidos com o presente estudo serão destinados à Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), à Secertaria Municipal de Saúde das cidades de São Carlos-SP e Caconde-SP, aos usuários e funcionários de ambos os serviços, à comunidade acadêmica e à comunidade em geral. 2-) INFORMAÇÕES RELATIVAS AOS SUJEITOS DA PESQUISA: a-) Características da população.

Usuários adultos dos serviços de Saúde Mental de São Carlos-SP (CAPS-São Carlos) e de Caconde-SP (Centro de Saúde II). b-) Descrever claramente os métodos que possam afet ar os sujeitos. Não haverá interação direta com os usuários e os dados colhidos nos prontuários, bem como o nome dos usuários, serão mantidos em completo anonimato. c-) Identificar os dados e registros a serem obtido s.

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Serão registrados os dados que disserem respeito ao serviço (CAPS ou Centro de Saúde II), nº do prontuário, iniciais do nome do usuário, idade, data de nascimento, local de nascimento (cidade, estado e país), endereço atual (bairro e cidade), escolaridade, profissão, data de admissão no serviço, queixa de entrada, descrição dos principais sintomas, antecedentes familiares, hipótese diagnóstica, medicação em uso, nº de internações psiquiátricas (também datas e locais), outras doenças e medicação, se recebe ou não benefício do INSS, se recebe atendimentos terapêuticos (psicoterapia e/ou terapia ocupacional), qual a modalidade (em grupo, individual ou ambas), qual a frequência desse atendimento (uma vez por semana, duas vezes por semana ou três vezes por semana), se recebe acompanhamento psiquiátrico, se participa de alguma atividade terapêutica em oficinas e quais, qual o último encaminhamento recebido (data) e a evolução clínica do usuário. d-) Informar-se se a pesquisa será usada para outro s fins. A pesquisa poderá ser utilizada para possíveis melhoras na forma de atendimento aos usuários da Saúde Mental tanto no CAPS – São Carlos-SP quanto no Centro de Saúde II, em Caconde-SP. e-) Planos de recrutamento, procedimentos e critéri os para inclusão ou exclusão. A permissão para consulta aos prontuários será dada pelos responsáveis do CAPS – São Carlos-SP e do Centro de Saúde II, Caconde-SP, sendo que serão considerados para esta pesquisa somente os usuários adultos de ambos os serviços. f-) Descrever a possibilidade de risco e avaliar a sua gravidade. Os prontuários serão consultados em local privado e os dados coletados ficarão sob total responsabilidade da pesquisadora. Não será divulgada qualquer informação que possa levar a identificação do usuário. Assim sendo, consideramos que o risco deste procedimento é mínimo ou inexistente. g-) Apresentar previsão de ressarcimento de gastos aos sujeitos.

Não haverá nenhum gasto para as instituições envolvidas.

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ANEXO 4