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ANTIQUALHAS E MEMORIAS DO RIO DE JANEIRO 393 I lhe beijam a mão, este nosso infatigavel patricio vive no meio de suas ovelhas como verdadeiro patriarcha. ' Sanct'Anna o protegerá, porque monsenhor Araujo realiza pela mansidão, saber, virtude e exemplo a promessa de Christo Dabo uobis pastores, qui pascent vós sciencia et doctrina . 2!f fie Agosto de 1908. ROQUE Muito agastado com o povo desta nossa capital deve estar o sancto advogado contra a peste. O dia 16 de Agosto, consa- gr; do pela Egreja ao antigo e milagroso padroeiro da esmeral- dina Paquetá,passou este anno quasi despercebido dos Ca- riocas. Si não fossem o zêlo e solicitude do bom e digno vi- gari o, o padre Juvenal Madeira, auxiliado pelos velhos devotos da ilha, S. Roque não teria nem novenas, nem missa cantada. Até a chuva impertinente afastou da proverbial romaria os poucos, que se lembravam da festa. A maioria, porém, ape- zar tia ínclemencia do tempo, olhos voltados para a Exposição, deixou no exquecimento o sancto, de cujo patrocínio muito havemos mister, agora que a varíola vai atirando ao tumulo tantas e tantas victimas! Até os sanctos soffrem os caprichos do tempo e das modas! E S. Roque, neste 1908 dernier cri, bem .pudera, em soliloquio, repetir os versos da modinha cantada pelos velhos trovadores da ilha: \ - Quando as glorias que eu gosei Vou na mente revolvendo. Em verdade, não vai longe o tempo, em que o grande sanoto gosava de verdadeira popularidade nos mezes, que decorrem de Agosto fi Dezembro. Quasi sempre era escolhido um domingo destes mezes, quando se previa que o tempo fosse mais conveniente, para a enorme concurrencia de fieis, que da cidade e das redondezas da face ira Guanabara deviam vir á ilha por d . João VI deno- minada dos Amores. Na grande massa dos devotos destacavam-se navegantes, pescadores e homens do mar.

S· ROQUE - outrora.xyz · Não se olvidava todavia de seus deveres de monarcha e de cuidar dos negocios da republica,-eomo então se dizia, e da felicidade de seus vassallos ,

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ANTIQUALHAS E MEMORIAS DO RIO DE JANEIRO 393

I

lhe beijam a mão, este nosso infatigavel patricio vive no meiode suas ovelhas como verdadeiro patriarcha. '

Sanct'Anna o protegerá, porque monsenhor Araujo realizapela mansidão, saber, virtude e exemplo a promessa de ChristoDabo uobis pastores, qui pascent vós sciencia et doctrina .

2!f fie Agosto de 1908.

S· ROQUE

Muito agastado com o povo desta nossa capital deve estaro sancto advogado contra a peste. O dia 16 de Agosto, consa-gr; do pela Egreja ao antigo e milagroso padroeiro da esmeral-dina Paquetá,passou este anno quasi despercebido dos Ca-riocas. Si não fossem o zêlo e solicitude do bom e digno vi-gari o, o padre Juvenal Madeira, auxiliado pelos velhos devotosda ilha, S. Roque não teria nem novenas, nem missa cantada.

Até a chuva impertinente afastou da proverbial romariaos poucos, que se lembravam da festa. A maioria, porém, ape-zar tia ínclemencia do tempo, olhos voltados para a Exposição,deixou no exquecimento o sancto, de cujo patrocínio muitohavemos mister, agora que a varíola vai atirando ao tumulotantas e tantas victimas!

Até os sanctos soffrem os caprichos do tempo e das modas!E S. Roque, neste 1908 dernier cri, bem .pudera, em soliloquio,repetir os versos da modinha cantada pelos velhos trovadoresda ilha: \

- Quando as glorias que eu goseiVou na mente revolvendo.

Em verdade, não vai longe o tempo, em que o grande sanotogosava de verdadeira popularidade nos mezes, que decorremde Agosto fi Dezembro.

Quasi sempre era escolhido um domingo destes mezes,quando se previa que o tempo fosse mais conveniente, para aenorme concurrencia de fieis, que da cidade e das redondezasda face ira Guanabara deviam vir á ilha por d . João VI deno-minada dos Amores.

Na grande massa dos devotos destacavam-se navegantes,pescadores e homens do mar.

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REVISTA DO INS'l'ITU'l'O HISTORIOO

,

Delles era S. Roque tambem o supremo recurso, comoattestavam suggestivas placas de madeira penduradas do teetoao chão, nas paredes da sacristia da velha capelIa ora demo-lida. Continham taes placas a historia e os nomes dos nau-tragos salvos pela poderosa intervenção de S. Roque.

As chamadas promessas de cêra, eram tantas todos osannos, que de vez em quando se tornava preciso mandar con-verter as mais velhas em tochas e velas para o serviço reli-;/

. gíoso do Sancto. .Era isto necessario para dar logar e accommodar novos

• testímunhos de graças e milagres alcançados.Na véspera da festa, as praias de Paquetá ficavam coa-

lhadas de falúas e barcos da roça, embandeirados e gan-ida-mente engalanados de flores e folhagens. Conduziam famíliasvindas de longe. Cozinhavam e dormiam a bordo, aguardandoo alvorecer do grande dia. Neste, ás 3 horas da tarde, che-gavam de Petropolis, Magé, Niteroi e da cidade os devotos emnumerosas caravanas. E na enseada da Freguezia podiam sercontados 14 a 16 vapores. Não seria isto para admirar hoje.Tal quantidade de embarcações, ha 20 ou 25 annos atraz, eraverdadeiro acontecimento, '

Havia cavalhadas, fados, argolinha e cavaIlinhos de pão.Terminava a festança com o tradicional leilão de prendas e ofogo de artificio, queimado ãs 10 horas da noite.

Começava, então, o movimento da retirada, e de terra edo mar ouviam-se as acclamações do povo, dando vivas -aS. Roque para o anno. E tudo acabava em alegrias e sanctapaz, sem desordens nem facadas,

Fez excepção á regra o anno, em que se deu o sinistro,do qual foi victima o dr . Sabino Frougeth ,

Este distincto cavalheiro fôra visto no meio de amigosvisitar contente a ermida de S, Roque. Na volta e ao entrarna barca, tropeçou em um balde e caiu ao mar. Apezar detodas as providencias, só foi encontrado o corpo dias depois,já meio devorado pelos peixes!

Como tudo muda! Este anno nem a Cantareíra poz barcasextraordinarias no dia da festa de S, Roque. Tambem para que?Si não havia concurrencía, e seria certo o prejuizo. Bem ocomprehendeu o benemerito visconde de Moraes (s6mente oconheço de retrato e pela fama de seu espirito egual ao deFrontin, Mauá e José Clemente), S. Ex., perfeito conhecedordas COUBase dos homens, viu que S. Roque seria este annoposto ã rnargeID.

Nem se pense que nas romarias antigas figurasse s6-mente gente de pouco mais ou menos. O proprio d. João VI láfoi algumas vezes, e em uma dellas pagou promessa pelo cura-

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AN'rIQUALHAS E MEMORIAS no RIO DE JANEIRO 390

tívo de uma úlcera, que muito o molestava. Esta havia resis-tido á sciencía dos medicos, cirurgiões e licenciados do tempo,não somente cá da terra como de fóra. Dera causa á queieaum carrapato imprudentemente arrancado pelo principe. Aindaha dias, o illustrado dr. Pereira da Silva, alludindo a esse facto,asseverou qu e d . João ficara Iivre da úlcera graças á interven-Cão de um curandeiro de nomeada. Não sei porque o meuamigo acceitou esta versão, elIe tão devoto de S. Christovam.Por que attribuir á obra humana - milagre que o filho ded. Maria T obteve por intermedio de S. Roque? Pelo menos,é esta a tradição conservada entre os antigos habitantes dePaquetã ,

Hospedava-se d. João na grande casa pertencente ao orrt-('ia] dI" milícias Francisco Gonça'ves da Fonseca (negociavapara Angola), o qual, por esta honra foi promovido à briga-deiro, O predio ainda existe, collocado no meio de grandechácara e sito na rua dos Muros. Em tempos posteriores, sime não falha a memoria, neste Rolar foi proprietaria d. Annado Brifo, mãe do ríesembargador Luiz Fortunato de Brito Souzae Menezes.

Do lado opposto da rua existe tambem ainda um prediobaixo, subdividido hoje em diversos compartimentos. Ahi davad, João audíeneía e despachava. Prova é de que o rei diver-l ia-se na ilha. Não se olvidava todavia de seus deveres demonarcha e de cuidar dos negocios da republica, -eomo entãose dizia, e da felicidade de seus vassallos ,

Em parte desta casa reside um amigo meu, a quem vi-Ritf'i no dia 9 do corrente. Cheguei ás 2 horas e parti na barcadas 7. Foi um dia cheio; percorri os principaes e mais pítto,rescos logares da ilha. Havia mais de quarenta annos que eunão pisava terras onde, segundo 'l'heodoro Sampaio, havia abun-danei a ele pacas , Na opinião do illustre philologo, etá signi-rica em Iíngua tupi - muito - grande numero, quantidade.

Visitei de propósito a antiga capella de S. Roque. Foidemolida, e em seu logar está outra em via de construecão . Omotivo ao deante se dirá. Eis porque S. Roque está hospe-dado na freguezia - São Bom Jesus do Monte, bello e elegantesanctuar ío reconstruido pelo commendador Antonio MartinsLage e aberto ao culto em 2 de Septembro de 1900.

Tive uma decepção ao procurar o célebre poço, do qual, se-gundo a tradição, se tirava agua para as obras da primitivaerrnida . Segundo é fama, moça solteira que fosse a Paquetãe bebesse da tal agua, casaria infallivelmente dentro de umanno , E' mais uma virtude que possue S. Roque. Não é, pois,Sancto Antonio o uníeo a ter este privilegio, com referenciaás jovens.

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• 396 REVISTA DO INSTITUTO HISTORICO

Quanto ás velhas, gosou e ainda gosa do monopolio decasamenteiro dellas S. Gonçalo de Amarante. E por signal queaqui tem altar na egreja de S. Pedra; foi instituido pelo bispod .. Antonio de Guadelupe, compatriota de S. Gonçalo. For-mou-se até uma confraria numerosa, que durou enquanto aquiesteve o prelado. Removido este para outra diocese, caiu osodalicio em decadencia, e S. Gonçalo de Amarante é hoje co-nhecido por pouca gente. Sic transit gloria mundi!

Mas o poço de S. Roque já não é o mesmo. Esboroado, deparedes sujas, cheias de plantas parasitas, contém pouca agua,e esta mesma cheia de limo. Creio que si alguma joven qui-zesse, hoje, verificar o milagre casamenteiro, não ficaria ligadapelo conjugo vos. Agarraria com certeza alguma febre inter-mittente.

Voltemos, porém, ao passado. Das visitas de d. João VIguarda Paquetá perpétua lembrança. E' uma peça enterradana antiga praça do Medeiros. Quando moço e muito rrequen,tador de Paquetá, nunca obtive explicação para este facto.Velho e conversando com antigo habitante da ilha, eis o queeste me referiu: esse pequeno canhão e outro que desappareceu

/ serviram p.ara salvar e anunciar a approximação do rei. Par-tiu elle da Quina do Cajú, do Engenho da Pedra ou mesmo dailha do Governador, onde se hospedava na casa dos fradesBentos. A galeota real. fazia prõa para Paquetá, e o rei des-embarcava saudado e acclamado pelos fiéis insulanos. Que-riam todos beijar-lhe a mão carnuda. ElIe a dava com satis-fação, vendo em tudo e por toda parte quanto era querido erespeitado. Por isto derramava lagrimas sentidas, quando aodeixar as plagas do Rio de Janeiro dizia a seus favoritos: "aquipassei os melhores annos da minha vida".

D. Pedra I, José Bonifacio, o regente Braulio Moniz, Eva-risto da Veiga e muitos outros personagens illustres frequen-tavam Paquetá e fizeram parte das romarias de S. Roque. Amocidade do tempo, medicas, advogados, capitalistas, visitavama ilha dos Amores, do mesmo modo por ilue hoje se prefere oLeme, a 'I'ijuca, o 'Sumaré e Petropolis. Era a moda e o smar-tismo da épocha.

Aos dias de folganças succoderam para Paquetá outros desustos, horror e desgraças. Foi em nossos tempos. Ninguémainda se exqueceu dos luctuosos dias da Revolta de 1893-94.Citarei aqui trechos de uma carta que me foi dirigida por pes.soa respeitavel e digna da maior consideração. Testemunhouos factos c delles escreveu.

"Os poucos mortos na cidade encontravam seu ultimo aga-salho nas necropoles dos arrabaldes. E os que morriam sôbreas salsas águas da bahia, victimados pelas peças e obuzes de

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AN1'IQUALHAS E MEMORIAS DO RIO DE JANEIRO m

terra? Houve geral repugnancia em atirar ao mar os cada-veres dos que heroicamente perdiam a vida, persuadidos de sesacrificarem pela honra da patria. Paquetá os accolheu.

Todas as tardes para alli seguia uma lancha e ás vezesduas, carregadas de marinheiros mortos, de troncos sem per-nas, de braços despedaçados, de cabeças irreconheciveis, e esses'membros. ainda sangrando, enchiam de dó e de pavor os queesperavam na praia de S. Roque tão lúgubres despojos. D'ahieram transportados para a capella e depostos no chão. Nãopodia ser de outra fórma. Procedia-se ao cálculo da extensãode terra, que era necessario cavar para receber aquelIes restos.Chegavam as carroças ás 2 ou 3 horas;da noite á porta da ca-pella , Os coveiros eram os proprios carroceíros, e fazia-se oenterro ás primeiras horas da madrugada. O sangue empoçadono soalho entranhou-se de tal modo, que, cessando o morticinio,depois de seis mezes de luctas, foi impossivel extinguir ou apa-gar as rubras nodoas, que pareciam haver atravessado a ma-deira de lado a lado. As pessoas que visitavam a egreja, depoisde passada a épocha de terror mais intenso, não querendo pisarsobre taes manchas, andavam cosidas ás paredes, porque só.mente juncto delIas havia um trilho estreito sem aquelles si-gnaes de morte violenta. "

Felizmente, com a demolição da capclla de S. Roque des-appareceram estes terriveis vestígios das amaldiçoadas luctascivis de crmãos contra errnãos, filhos todos desta generosa egrande terra brasileira!

Domingo, 30 de Agosto de 1908.

II

Na ilha de Brocoió, á Oéste, e distante, da de Paquetácêrca de quatrocentos metros, fundara importante fabrica decal um operoso Portuguez ,

Fôra homem do mar e, após repetidas viagens de longoeUl'SO em navio de sua propr-iedade, juntara cabedal , Visi-tando as cercanias tia bahia do Rio de Janeiro, enamorou-sede suas maravilhosas belIezas. Feitos os necessarios calculascconomicos, resolveu mudar de vida se tornou-se industrial.

Chamava-se este capitão de navio Joaquim José Pinto::lerqueira, tronco da arvore genealogíca da muito conhecidae dístincta familia dos Serqueiras de Paquetá. Della, seja-melicito salientar Thomaz José Pinto Berqueíra, modelo doeíunooionaríos publicos, publícista notavel e auxiliar de pres-

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REVlSTA Do iNSTITUTO HISTORIOO

llgio junto de Bernardo Pereira de Vasconcellos,dedicado companheiro de mesa de Josél::)ancta Casa de Misericordia.

Foi Serqueira quem, na qualidade de escrrvao, assumiua provedor-ia e annuncíou a seus confrades a morte do grandeprovedor. Taes eram as qualidades moraes de Thomaz Ser-queira, que a terceira imperatriz por vezes lhe confioumissões de verdadeira e confiante amiga. Leia quem quizerno Album Imperial, publicado em S. Paulo, a narrativa doarranjo de oito contos de réis emprestados: Delles careciaa imperatriz para salvar de apuros e vexames um velho ededicado amigo de d. Pedro lI. O modo críteríoso por queem tal cmergencía se houve Thomaz Serqueira dá bem me-dida do quilate de seu bello character.

Mas o patriarcha Joaquim Serqueira, incansável traba-lhador, viu em breve .satisf'eítas suas aspirações. Augmentoua fortuna e em 1822 mandava vir a familia, que deixaraem Portugal , Pouco depois comprou a d. Maria Florenciade Gordilho, ermã da marqueza de Jacarépaguá, a fazendade S. Roque, situada em Paquetá. Desta fazenda fazia partea capella do mesmo saneto , As terras adquiridas haviamconstituído, outr'ora, importante sesmaria concedida quandoainda a cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro tinha pordefesas naturaes o Pão de Assucar e o mQrFO Cara de Cão(hoje S. João).

Cabe aqui rapida descrípção da capella, tal qual a re-cobeu o velho Serqueira. Sirvo-me ainda aqui da carta, aque já alludi. Nella existem importantes notas, das quaes,com a devida auctorização, me aproveito.

Era o pequeno e antigo sanctuario consagrado a SãoRoque, dividido em ires partes: a menor e mais estreitaconstituía a capella mór, onde se elevava o throno do pa-droeiro, e era naquelle tempo o uníco altar existente. Se-guia-se a nave, occupando maior espaço e dividida em duasoutras partes: a primeira tinha entrada por larga porta la-teral, proxima de pulpito movel. A segunda parte (terceiraele todo edificio) era formada por uma parede com porta aocentro c uma janella de cada lado.> Por último se via dedentro dacapella a porta principal ou da frente e mais uma,ao lado.

Por címa destas duas últimas portas ficava o 'cõro, para.U qual da rua se subia por uma escada a eéo aberto, feitade tijollos e do lado do mono de S. Roque.

A portinha do cõro, que era de tecte haíxo, dava tambémentrada para uma uníca tribuna, sustentada por varões de

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ANTIQUALHAS E MEMORIAS DO RIO DE JANEIRO 399

feno, e da qual assistia a todas as ceeímonías a fam ihaSerqueira.

Esta mesma escada eommunícava com a da torre, demedíocre altura, levantada sobre paredes de grossura des-propositada. Desse mesmo lado, e juncto á egrejinha, estavada outra extremidade uma pequena casa, dividida em dousoompartimenlos : no maior, communicando-se com a capellamor, estava a sacristia, e )10 menor eram guardados os ohiectosdo culto.

Vire folha e não seja cacete, dirá o amavel leitor. Tendepaciencia e nada de egoísmo,

Da capella não foram, creio, tiradas photographias. Ora,demos de barato que daqui a muitos annos algum roman-cista queira ter a celebridade do Macedo com a sua Morei-niuua; Preciso é que elle não confunda alhos com buga-lhos e não colloque á direita o que ficava á esquerda e více-versa Pelo menos com a minha pallida descripção ficamsalvas as minucias da cõr local.

Mas que indicava no corpo da capella a parede solídacom uma porta e duas janellas gradeadas, de ferro batido,como si fossem de cafua? Para que serviria? Di-Ia a tra-dição, Era a industria de cal a uníca explorada em Paquetãc nella se occupavam negros captivos. Quando á missa iatoda a gente moradora nas terras da fazenda e na resto dailha, os livres tomavam lagar no corpo da egreja e os es-cravos, no espaço ladrilhado apenas, das grades para o fimda nave por baixo do cOro.

De tal separação ainda existem vestígíos em capellas doBrasil, as quJaes pertenceram a fazendas onde era numerosaa escravatura, como se brancos ou negros, Iívres ou escravosnão tossem todos ermãos perante Deus. A familia Serqueira,se.ia dicto em 'honra sua, nunca fez sair da parte média dacapclla qualquer preto, que alli entrasse inconscientemente.

Falleceu o velho Joaquim Serqueira a 2 d!l Maio de 1848,.1 em partilha julgada a 6 de Julho do anno seguinte coubea eupella ao 2° fill10 Pedra José Pinto Serqueira. Fez estesr-r ios reparos na antiga ermída , Mandou derrubar a paredenf'f'vontosa, assoalhou toda a nave, apagando assim o últimosigual de separação de classes.

Nos ultimes tempos 8 capella de S. Roque poesuía maisrlnus altares: o primeiro dedicado a Nossa Senbora das Dôres,nor haver salvo d~ morte uma: doente - a filha do com-mondador Pedro Serquelfa.

A bellissima imagem foi mandada vir de Portugal emoumpr ímento de promessa foeitaem IBM pelo dedicado amigo

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REViSTA DO INS'l'l'l'U'l'O HISTORICO

da Iainilia, O commendador Guilherme Pinto de Magalhães,abastado habitante de Paquetá. De Pinto de Magalhães es-crcveu a híographia o meu amigo dr. Marques Pinheiro.

O leitor encontra-Ia-ha não só em opúsculo separadocomo em uma das Revistas do Instituto Historico ,

O outro altar ainda não definitivo era occupado pelaimagem de S. Sebastião em consequencia de um voto feitopor distincta senhora da Oôrte perigosamente enferma, e quena ilha recuperara a saude.

Em 13 de Outubro' de 1876 falleeec o commendadorPedra Ser queira, e a capella de S. Roque ficou pertencendoli d. Adelaide Adelina Serqueira de Alambary Luz; verda-deira e virtuosa mãí de familia.

A 1 de Outubro de 1897 deixou de existir a prupric-tal'i'da capella, que hoje pertence ao Arcebispado do IUode Janeiro. A leitura dos seguintes documentos durá oxpli-cação do facto:

"Eu, abaixo firmado, no pleno goso do direito, que meli assegurado pela sentença do Tribunal Civil e Criminal de25 de Abril do anno proximo preteríto de 1901, nos autosde inventaria dos bens deixados por minha fallecida mulherd , Adelaide Adelina Berqueíra de Alambary Luz, mandandolançar á minha meação a capslla de S. Roque, em cuiaposse nesta Ilha me acho na mais de um quarto de seculo(primitivamente como cabeça de casal, depois como proprie-Lario); attendendo a que maior lustre e merecimento assu-mirá o culto do referido e venerado saneto, estando o seupequeno e velho templo sob a ímmediata administração dasaltas autoridades ecolesíasticas, e ao mesmo tempo aceedendoás instantes solicitações de meus filhos, que de egual modopensam, acêrca de tão elevado assumpto, - resolvi muito vo-luntariamente, e sem a menor insinuação de pessôa estranhaá minha familia, ceder, como de facto cedo, com todos osmeus direitos .sobre a mesma eapella de S. Roque ao ar-cebispo do Rio de Janeiro, hoje, sob o paternal govêrno domuilo digno e illustrado Exmo. e Revdmo. Sr. ArcebispoO. Joaquim Arcóverde,transferindo. para as benignas mãosde Sua Eminencia Revdma. não só a sobredícta capella, comotudo quanto aella pertence. E para que produza todos oseffeltos legaes, escrevo do meu proprio punho esta irretra-ctavel declaração, que é por mim assígnada e pelos meusdous filhos Adelina e Pedro, meus unicos legítimos her-deiros. Ilha de Paquetá, 17 de Agosto de 1902. - José Carlosd'Alambary Luz. - Adelina 'Verginia Serqueira d'Alambar1lLuz. - Pedra Serqueirc fEAlambarv L~."

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AN'l'IQUALHAS E MEMORIAS DO mo DE JANElRO 401

o sr. arcebispb, hoje cardeal, mandou lavrar o ségu iuteacl.o :

..Declaramos, para que em todo o tempo conste, queacce itamos no devido valor -canoníco a declaração acima decc 'são de Lodos os seus direitos sôbre a Capella de 8. Roquena iIlia de Paquetá e tudo que a ella pertence, feita aoArcebispado de 8. Sebastião do Rio de Janeiro pelo sr. dr.José Cailos dAlambary Luz e seus í'il'hos Adelina BerqueíradAlamhary Luz e Pedro Serqueira d'Alambary Luz.

"Querendo agora Nós dar 'uma prova de Nossa benevo-lcncja ao mesmo sr. dr. José Garlos d'Alambary Luz pelapiedosa correcção, com que se houve nessa circunstanciapara com a auctoridade ecclesíastíca, Havemos por bem de--tcrm inar, como pela presente determinamos, que a tribunaexistente na dieta Capella de S. Roque seja exclusivamentereservada para uso do mesmo sr. dr. José Carlos d'Alam-luuy IJlIZ c qualquer de seus filhos acima assignados em-q uun Lo viverem, etc.. etc. - Qumpra-se. Conceição" 24 de.\1O'u:5Lode 1902. - Assignado + Joaquim, arcebispo do Riodc' Janeiro".

Demolida a velha capella, vai outra sendo oonstruidanu mesmo local.

Mas aquelle antigo e modesto sanctuario deve ter his-tor-ia anterior á acquisição feita pelo velho Joaquim' Ser-queira.

E' o que procurarei conhecer para concluir estas notas.

G L1e8epLembro de 1908.

lII

A ilhn de Paqueí.á, em nossa hahia de Guanahara, está nadistancia de quasi dez milhas da Cap ital Federal e extende-scirregubn-mcnto PO!' quasi meia légua, obedecendo em seumaior coruprimení li lt lin lia Norte-Sul.

Nas exlremidndcs destes dous pontos alarga-se extraordi-nariamon te c na parte média estreita-se, de modo que umcana I apenas de quatro ou cinco dezenas de metros poderiaconvert ntl aquella unidade de bollczus naturaes em duas outras,- não tivaos, mas ostentando nmbas cgual lindeza e fôrça deattracção.

Parece que alguns dos antigos, de mais fino gosto, per-sonalizaram aquellc todo em fada magica de terrestre perfei-

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REVISTA DO INS'l'IIt'U'fu atsroarco

Cão; porquanto, ainda hoje, o ponto em que o mar lhe cons-trange extremamente o corpo adoravel é conhecido pelo nomede cintura.

Outros habitantes, mais positivos, os que não se abando-navam a enlevos poetícos, deram a essa faixa de terreno Domede ladeit'u do Vicente, devido a seu principal morador, conhe-cído geraltnente na ilha por Vicente da ladeira.

Tal é a succinta, exaota e poetioa descrípção da antigaPacataá, oU Paquetã, feita pelo íllustre missívísta, a quem devopreciosas notas ácerca do assumpto destes artigos sobre SãoRoque .:

Mal M ia lançado Estacio de Sá junoto do Pão de Assu-oar os alicerces da cidade de S. Sebastião, seus companheirosda luctas e fadigas pediram a esta primeiro capítão-mõr ter-ras e sesmarías com intuito de as cultívar. Deu-lh'as com ge-nerosidade o sobrlnho de Mern de ISá, não só nas redondezas liabahia \utHr1IJ em diversas ilhas ríellas existentes.

Para se avalía» o número de aqulnhoados basta lêr a listade seus nomes, no volume ô3" da Revista do Instituto Bistorico.Um delles, Ignacio de Bulhões, requereu e obteve em 10 de~eptembro do 1565 um 10Lede terras na ilha de Pnquetá ,

A porção concedida ficava entre o caminho hoje do Ví-cente e o extremo norte da ilha. Comprehendia por isso todosos montes, enseadas e praias círcuniacentes, formando quasimetade de Paquetá e fronteira aS. Francisco de Coroará, SãoGonçalo' e Suruhi.

Pouco depois, e foi titulo de 11 de Fevereiro de 1566 outropovoador do Rio de Janeiro, Fernão Baldez, obtinha ainda deEsLacio de Sá a parte sul da ilha.

Este Baldez parece Ler sido pessoa de ímportancia .. Ligouseu nome ao trecho de uma rua da cidade. Supponho ser a daMiser icordia, no ponto em que se abriu a antiga ladeira doCollegio.

Por maiores dilígencias feitas para saber a data primeirada fundação da 'capella de S. Roque, nada consegui. AppeUeipara o mau amigo Eduardo Marques Peixoto, a vêr si elle, noArchivo Nacional, do qual é digno e operoso funcoionario,algo encontrava nos antigos livros da Mesa de Consciencia eOrdens.

Por em quanto tenho que me contentar com o que escreveumonsenhor Pizarro. Beí'ere este que na parte norte da ilha(portanto na sesmaria de Bulbões) existiu uma capella dedi-cada-a S: Roque, pelo padre Manoel Antonio Espinha, que afundara com provisão de 29 de Dezembro de 1697, narsadaem Lisbôa por faculdade do hispo d . José de Barros Alarcãoe fôra banzi~ a 24 de Novembro do anno seguinte ~ara entrarem uso.

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ANTIQUALHAS E :M:EMORlAS DO RIO DE JANEIRO 40S

Como já disse em outro artigo, este bispo fôra chamado ámetropole para se defender de sérias accusações, que lhe fa-ziam os povos, não só do Rio de Janeiro, como de S. Paulo.

Distando Paquetá da parochia de Magepe (hoje Magé), aque pertencia, cerca de duas ou tres leguas, os habitantes dailha, tendo necessidade de soccorros espirituaes, eram obri-gados a vencer grande extensão de mar, nem sempre bonan-coso.

Para attenuar taes inconvenientes, o bispo d, Antonio deGuadalupe, em visita de 17 de Novembro de 1728, co deu ácapella de S. Roque o privilegio de pia baptismal e o de eon-servar à Extrema Uncção ,

• Annos depois, outro prelado, d , frei Antonio do Desterro,augmentou aquellas graças e 'concedeu á citada capeIlinha apermissão de conservar perpetuamente o Sacramento em Sa-crario , Erigiu a Capella Curada e nomeou para primeirp capel-lão o padre Antonio Ramos de Macedo, provido em data de1761.

Ora, por aquelle tempo levantava, na parte sul da ilha,Manuel Cardoso Ramos uma capella edificada ao Senhor BomJesus do Monte. Para patrimonio do sanctuarío, doara o mesmo·Ramos terras com 20 braças de testada sõbre 27 de nindo, -tudo por escriptura de 29 de Novembro de 1758.

Por suggestão, talvez de RJmos, os habitantes da antigaSesmaria de Baldez pediram ao bispo Desterro a cresção deuma parochia, cuia séde fo;se o Bom Jesus do Monte. Para" ga-nhar as boas graças do prelado, ainda Ramos doou nova porçãode terras.

Cedeu o. bispo Desterro, e a nova freguezia oi erecta poredital de 23 de Junho de 1769. Foram desmembradas terrasdas freguezias de Magé e S. Gonçalo.

Sacerdote cordato, não protestou o parqcho de Magé contrao côrte que' soffreram os seus dominios. Não o podia nem odevia fazer,attentos ás oondíções com que, quando nomeados,os sacerdotes acceítavam as parochias.

Não esteve pelos autos o vigario de S. Gonçalo: tiravam-lhe as ilhas Jerobaibas e do Itaocara. Tanto fez que conseguiu,em 1770, voltassem para sua .iurisdícção as precítadas ilhas.

Por sua vez os habitantes do norte da ilha de Paquetá re-quereram ficasse toda a ilha sujeita de novo á freguezia deMagé, conservando-se o antigo statu quo, isto é, que S. Roquecontinuasse a ter sacrario, pia baptismal e capellão curadolPor ahi se deixa vêr a desordem, ciumes e intriga'! que sepa-ravam então os insulanos no norte dos do sul de Paquetá.

.Alcançaram o desejado por um accórdam, ao qual se se-guiram mais tres, por não haver sido cumprido o segundo pelo

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404 HEVIS'l'A DO INS'l'ITU'1'O HISTORICO

biSPO, o por fim pelo assento do Desembargoõdode Julho de 1771.

Baseava-se este nas seguintes razões: 1" incompetenciado hispo de poder a seu arbitrio erigir parochias sem aucto-ridado cio rei padroeiro e grão mestre da Ordem de Christo.2", a falta de justa causa para a desmembração ; 3., a nata deconsetimento e vontade dos parochianos; 4", a falta de assentodo padroeiro.

Em extensa nota, morisenhor Pizarro discute todas essasquestões (Pags 2'76-277, tomo 5 das Memoi'ias Historicas).Mostr -se favor avel ao proceder do bispo.

Ficou supprimida a freguezia do Bom Jesus. Durante otempo do litígio e final decisão foram vigarios de Paquetá ospadres José da Silva Furtado e João de Araujo Macedo. •

Reunida de novo a Ilha de Paquetá á freguezia de Magé edecorridos trinta annos, diz o dr . Moneira de Azevedo (que re-sume o referido 'por monsenhor Pizarro) pretendeu o padreJoaquim José da Silva ser parocho daquella ilha. Conseguiuser apresentado sob o falso pretexto de' haver sido novamenteer eota essa parochia. Pediu demissão da vigararia de S. Bar-nabé . Foi esta acceita por aviso de 19 de Junho de 1806.

Mas, não existindo parochia em Paquetá, não teve effeitoa graça pedida. Foi feliz. NãO~fiCOUsem Deus, sem amor e semti. Voltou para o seu antig beneficio! E Paquetá continuoucomo dantes, annexa ao dist .cto de Magé .

• Com a vinda da Familia Real, d. João visitou a ilha. e osmoradores della, exquecidos de antigas dissidencias, requere,rarn ao príncipe a creação alli de uma parochia.

O bispo informou a favor em 13 de Janeiro de 1809.Consultada a Mesa de Consciencias e Ordens, não hoüve porparte desse tribunal opposição alguma. Afinal, por decreto de4 de Agosto, de 1810, foi apresentado como parocho do BomJesus do Monte o -padre Manuel Teixeira Campos .

Por decreto de 23 de Março de 1833, a freguezia de Pa-quetá foi desmembrada do Districto de Magé, e passou a fazerparte do Municipio da Côrte.

De tudo quanto vai dicto, se conclue: os antigos habi-tantes de Paquetá, apezar dos encantos de sua natureza "desuas praias de limpidas areias prateadas á noite pela lua" eonde tudo convida á paz e tranquilidade, tambem pagaram seutributo á mania do tempo. Houve brigas por amor dos Santos.Quem não era S. Roquista, devia ser por fôrça S. Bom Je-suista .

Depois vieram as luctas políticas, e Paquetá contou emseu seio patriotas, corcundas, exaltados, moderados, federativos,luzias e saquaremasl

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ANTIQUALHAS E MEMORJAS DO RIO DE JANEIRO" 405

Em epocha mais proxima de nós, a encantadora ilha ficouaté convertida em praça de guerra! Mas ponhamos de ladocousas tristes.

Hoje felizmente já não existem questões em Paquetá,nem por motivos divinos, nem por pendencias devidas á fra-gilidade humana.

r .odos são amigos e vivem contentes sob a auctoridade es-piritual do padre Juvenal Madeiro.

Temiiora muttmtur: S. Roque ficou sem tecto e é gentil-mente recebido e hospedado no Bom Jesus do Monte, antigoquartel do partido contrario!

Reina enfim a paz na egreja d'Elvas.Antes assim. Ha pelo menos alli ordem e progresso incon-

testavel ,Paquetá vai se constituindo em verdadeira pequena vílla

moderna, sem corntudo destruir a luxuriante moldura que acerca.

Já Lem agua encanada, theatro, bóa illumínação, 'novasruas, jon-ion, telephonio e até cinematographot

Que no meio de tantas novidades não se exqueçarn 05 Pa-quetaenscs ele S. Roque, o antigo padroeiro da ilha dos Amo,,..es_

13 ele Septembro de 1908.

o ROTEIRO DE MALDONADOI

Dividido o Brasil em capitanias, couhe. em 1536, a Perode Góes da ,Silveira, crrnão rio célehre Damião de Góes, a zonade terras conhecida pelo nome de capitania da Parohiba doSul e Cabo de S. Thomé. ~ella ficavam cornprehendidos oschamados Campos dos Goitacás.

E' hoje hom sabido o mallogro das tentativas de colo-nização postas em práct ica pelo infeliz donatar io . 'I'eveafinal ele se conlentar com o poslo do capitão-rnór da cosia,cargo r111 que prestou bons serviços.

Não foi mais feliz Gil de Góes, seu rilho, apezar de se terassociado com João Gomes Leitão. Em' 1630 voltou Gil fi

Portugal, declinou na coroa Lodos os seus direitos e privile-gios mediante a concessão de certos favores.

Tendo nol icias das riquezas elos Campos dos Go itaoãs eno intuito de povoa-Ios, reuniram-se os capitães Gonçalo