Saber Cui Dar

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  • Realizao: Patrocinio: Parceria:

    Apoio Institucional: Apoio:

    Agradecemos o apoio recebido:Editora Paulus Al Abreu Drigo e Vasconcellos

  • 2009 Instituto EcofuturoTodos os direitos reservados.

    Concepo e coordenao editorial: Instituto EcofuturoBaseado no livro A vida que a gente quer depende do que a gente faz, de concepo e coordenao editorial de Maria Betnia Ferreira e Dora Carrasse, Pingo Letra

    Organizao: Instituto EcofuturoDireo: Christine Castilho FontellesResponsvel pelo projeto: Palmira Petrocelli NascimentoCoordenao de comunicao: Alessandra AvanzoAssistente de comunicao: Viviani Gasparini

    Design: Carol S Jamault, Ganz DesignPreparao de textos: Adriana PepeReviso de textos: Denis ArakiProduo grfica: Andrea Burity

    ISBN 978-85-60833-03-0

    Instituto EcofuturoAv. Brigadeiro Faria Lima, 1355 7 andar01452-919 So Paulo, SPtel.: (11) 3503-9554www.ecofuturo.org.br

    Instituto EcofuturoSo Paulo, 2009. Primeira Edio.

  • Educaopara a sustentabilidade

    Agir com respeito

    Muito se fala em sustentabilidade, o que tem at vulgarizado essa palavra, mas h ainda muitas dvidas e enten-dimentos distorcidos sobre o que este conceito de fato encerra.

    Para ns, sustentabilidade implica agir com respeito em relao s pessoas e ao planeta, cons-truindo relaes de longo prazo e permitindo que ciclos virtuosos possam ser repetidos. Assim, a no-gerao de desperdcios e o estmulo ao con-sumo responsvel, a utilizao correta dos recursos naturais, a prtica de iniciativas bsicas para evitar (ou conter) o aquecimento global, entre outras aes, so fundamentais para a sadia preservao da vida neste planeta.

    Considerando o trabalho que o Instituto Ecofu-turo vem realizando desde sua fundao, de gerar e difundir conhecimentos e prticas que contribuam para a construo coletiva de uma cultura de sus-tentabilidade, criamos em 2009 o Prmio Ecofu-turo de Educao para a Sustentabilidade, por en-tendermos que a educao um dos instrumentos indispensveis para que as pessoas sejam capazes de compreender, criticar e melhorar a vida.

    Professores de todo o Brasil foram convidados a compartilhar ideias criativas para o aprendizado

    da sustentabilidade em seu sentido mais amplo, e o retorno no poderia ter sido melhor: cerca de 400 trabalhos foram recebidos. A todos esses mestres, nosso mais sincero agradecimento, por terem acei-tado nosso convite e, em especial, pelo seu enorme poder transformador.

    Este Prmio Ecofuturo de Educao para a Sus-tentabilidade d mais uma contribuio para que temas de tamanha relevncia venham a se tornar, ra-pidamente, alvo de uso tranversal nas diversas ativi-dades desenvolvidas dentro das escolas em todo este pas, transmitindo conhecimentos para que cada um de ns possa atuar de maneira consciente, autnoma e sintonizada com o desenvolvimento sustentvel.

    Seguem aqui as ideias vencedoras desta primei-ra edio do Prmio Ecofuturo de Educao para a Sustentabilidade, resultado de anlise cuidadosa e criteriosa. Esperamos que elas possam motivar milhares, milhes de pessoas a agir de forma res-ponsvel e consciente, pois ainda h uma chance de corrigir erros do passado e viabilizar um mundo melhor para todos.

    Aproveitem! Pratiquem!

    Daniel Fe erPresidente do Instituto Ecofuturo

    H quase dez anos, quando o Institu-to Ecofuturo foi criado, Max Feffer, seu fundador, afirmou que seria o atestado pblico do nosso compro-misso em empreender esforos para construir um hoje melhor e um amanh melhor ainda. Este amanh chegou, um pouco a cada dia, ao longo desses anos, sempre renovando nossa certeza de que o caminho escolhido, a educao para a sustentabilidade, era sem volta.

    Neste ano em que celebramos marcos vitais das duas instituies Suzano 85 Anos e Eco-futuro 10 Anos , reafirmamos nosso compro-misso com o desenvolvimento da educao e a iniciativa de preservao do meio ambiente. Ficamos orgulhosos ao verificar que milhares de alunos e professores tm sistematicamente participado dos projetos realizados pelo Insti-tuto Ecofuturo, sempre apoiados pela Suzano,

    com destaque para o Concurso de Redao e a implantao de bibliotecas.

    Apoiar o I Prmio Ecofuturo de Educao para a Sustentabilidade reconhecer os pro-fessores conectados com as demandas de um tempo que exige conhecimento crtico e atitude diante da vida, que sempre e mais nos demanda inovaes, excelncia em tudo o que fazemos, coerncia e determinao para que a sustenta-bilidade, mais do que uma palavra viva, se torne um jeito de ser, um caminho sem volta.

    Parabns aos professores que aderiram ao concurso e comprovaram uma das mximas da grande poetisa Cora Coralina: Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.

    Antonio Maciel NetoDiretor Presidente da Suzano

    Papel e Celulose

  • O pensamento que no passa pelo corao no chega ao cu

    Somos e queremos o ttulo do livro pu-blicado em 2006 com as 60 redaes pre-miadas no V Concurso de Redao Ler Preciso. Recebemos algo em torno de 21 mil textos de todos os cantos do pas, com crian-as e jovens a nos dizer o que pensavam e o que sonhavam. Descobrimos que sonhavam baixinho: a fronteira de seus planos de voo eram as carncias de todas as ordens. Sem a experincia de terem sido cuidados, traziam em suas mos a responsabilidade de cuidar alm de sua prpria maturidade.

    O menino pergunta ao sonho: Onde voc se es-conde? Mas ele no responde, escreveu Allef, 11 anos. ...Cresci e vi a violncia de perto e hoje nada mudou. Se eu pudesse melhorar o mundo, ia ser melhor pra todo mundo, contou Aline, de 8 anos. Est nas crian-as o poder de mudar, segundo Edilene, de 10 anos.

    Ns decidimos buscar e apresentar-lhes pro-postas: convidamos 34 pesquisadores e literatos que tinham coisas a dizer e a compartilhar, que mereciam a ateno de muitos olhos e ouvidos, que possuiam conhecimento e aes propositivas que podem levar mais gente para mais perto do melhor lugar do mundo. Nascia o livro A vida que a gente quer depende do que a gente faz e o VI Concurso de Redao Ler Preciso, ao qual demos o nome de

    O melhor lugar do mundo. Recebemos 30 mil textos de todos os cantos do pas, de alunos e professores.

    Elton, de 9 anos, nos escreveu: Temos que con-vencer as pessoas de que tudo isso srio, temos que comear pelas crianas na escola, que contam para seus pais, que comentam no trabalho com os colegas, que entram num acordo e talvez tentem fazer alguma coisa acontecer.

    Neste ano em que celebramos dez anos de trabalho pela vida, lanamos o I Prmio Ecofuturo de Educao para a Sustentabilidade, convidando professores a comparti-lhar ideias criativas para o aprendizado da sustentabili-dade em seu sentido mais amplo, a partir da leitura do livro A vida que a gente quer depende do que a gente faz.

    Aqui esto reunidas as oito ideias vencedoras entre as 398 recebidas de todos os estados do Bra-sil. Cada qual, a seu jeito, fala sobre a importncia de escutar, ler, escrever, tomar a palavra, dialogar, interagir, ajudar o outro a aprender, construir junto. Em comum, nos falam sobre aprender a aprender, aprender a sentir, aprender a cuidar. Sigamos em frente, como dizia Gandhi, sendo as mudanas que queremos ver no mundo.

    Christine Castilho FontellesDiretora de Educao e CulturaIlu

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  • Aquecimento global: umdesafio ambiental e educacional

    O tema ambiental no sculo XX se limitava poluio e s espcies ameaadas. Proble-mas graves que afetam a sade, enfeiam as cidades, produzem doenas respiratrias, empobrecem a natureza mas como um fenmeno local com efeitos limitados no espao.

    No sculo XXI o fenmeno ambiental mudou. Pe a humanidade em risco. O acmulo de gases que emitimos muitos no poluentes na atmosfera, a fina cobertura que garante a vida, aquece o planeta para alm do suportvel. O aquecimento altera o clima. Ficamos sujeitos s leis da natureza.

    Civilizaes foram destrudas por desastres ambientais. Pases j enfrentam riscos iminentes sua existncia. H perigo de novos conflitos entre desterrados ambientais e pases que vo querer fechar suas fronteiras. A cincia alerta que o mundo e a vida vo mudar muito nos prximos anos.

    O efeito estufa, a fotossntese, o carbono e seu papel no ciclo da vida e no clima. A diferena entre clima e tempo. Tudo matria.

    Muito disso ensinado, porm de modo fracio-nado. Esses fenmenos devem passar ao centro das disciplinas, para mostrar o sistema da vida de manei-ra que ensine e mobilize, para dar a viso de que toda ao nossa de cada dia deixa uma pegada pegada

    que emite gases estufa, que aquecem o planeta. O aquecimento muda o clima e ameaa a vida.

    Tudo isso no cabe numa disciplina. tarefa da educao apresentar o todo em toda a sua vasta dimenso. Ensinar como enxerg-lo em cada uma das partes. Somar as partes de que cada disciplina trata. Integr-las em atividades transdisciplinares que mostrem sua complexidade e transmitam esse conhecimento de modo a ser compreendido. Ajudar a entender as dimenses local e global dessa mudana planetria. Como viver, fazer escolhas e produzir riquezas de forma equilibrada. Repor o que tiramos da Terra. Retirar o excesso.

    Ningum aprende aterrorizado com o fim do mundo. O desafio mostrar os novos horizontes que podemos conquistar pelo entendimento, pela educa-o. Criar a conscincia da capacidade de usar cincia e tecnologia para reconquistar o equilbrio perdido.

    Srgio Abranches

    Srgio Abranches: mestre em Sociologia pela UnB, PhD em Cincia Poltica pela Universidade de Cornell (EUA), professor visitante do Instituto Coppead de Administrao UFRJ, diretor e colunista do site de jornalismo ligado ao meio ambiente O Eco e comentarista do boletim Ecopoltica, da rdio CBN.Ilu

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  • 14. Ideias vencedoras16. Audes: patrimnio da comunidade de Santa Luzia 25. Projetando um futuro melhor 33. Land Art: a criana na terra fazendo arte 47. Do leo ao sabo: uma mo lava a outra mo 63. Com contos mudo a minha comunidade 77. Cuidando da natureza 85. Trabalhando educao ambiental na infncia 95. Por um mundo melhor102. Os oito fi nalistas112. Os jurados117. O prmio e a continuidade119. O Ecofuturo

    Sumrio

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    AUDES: Patrimnio da Comunidade de Santa LuziaErisd da Silva Borges

    Nessa tica da gua, as articulaes insti-tucionais so fundamentais. A participa-o da comunidade de usurios associada tecnologia disponvel pode mudar subs-tancialmente a situao atual. Se o ge-renciamento contar com a participao ativa da comunidade, as perdas podero ser significativamente reduzidas.

    ( Jos Galizia Tundisi, gua no terceiro milnio: perspectivas e desafios, p. 107)

    TEMPO REI, , TEMPO REI/ , TEMPO REI!/ TRANSFORMAI AS VELHAS FORMAS/ DO VIVER/ ENSINAI-ME, , PAI/ O QUE EU AINDA NO SEI/ ME SENHORA DO PERPTUO, SOCORREI

    (Gilberto Gil, Tempo Rei)

    Em uma entre tantas visitas Biblioteca Comunitria Ler Preciso de Joselndia (MA), l estava majestosamente fixado no mural o convite para participar do I Prmio Eco-futuro de Educao para a Sustentabilidade. E o aceitei imediatamente. No entanto, o dilema: o que fazer e como fazer? Ento, em uma tarde, na companhia de minha me, passando em frente ao audinho do povoado, nos deparamos com uma cena anormal: um ex-aluno meu, o Lzaro, diante do aude praticamente coberto por uma vegetao aqutica, tentava, sozinho, com as prprias mos, retirar as plantas que insistiam em permanecer l. Lembrei-me imediatamente da linda histria do pequeno beija-flor tentando salvar a sua floresta do fogo.

    Ver o adolescente fazendo a sua parte na tenta-tiva de salvar o seu aude levou-me a refletir sobre tantas coisas, considerando a eficcia da prtica pedaggica como ao transformadora do meio sociocultural, a partir de uma relao que envolve os conhecimentos adquiridos por nossos alunos em sala de aula e seu uso no cotidiano. Primeiro, porque nem tudo o que transmitimos totalmente absorvido. Segundo, porque a qualidade no est no excesso, mas em competncias e habilidades que constroem aprendizagens significativas, por menores que sejam, mas capazes de libertar atos de uma verdadeira conscincia cidad.

    Resolvido o dilema em relao ao tema, inspi-rei-me a tocar na ferida de todos, mas que ningum

    quer tratar Audes: patrimnio da comuni-dade de Santa Luzia. este o foco a ser trabalha-do, tendo como fundamento os princpios bsicos dos Parmetros Curriculares Nacionais, o livro A vida que a gente quer depende do que a gente faz e a rea-lidade local, com o intuito de levar a comunidade a refletir sobre seus atos em relao aos audes, sua importncia para a sobrevivncia da comunidade quando prevalecia a escassez de gua, o abandono, os perigos sade e o atual desperdcio de gua.

    constrangedor percorrer diariamente o mes-mo trajeto e verificar o quanto a ao humana afeta de forma negativa a paisagem natural, ameaando os recursos disponveis e a qualidade de vida, e sen-tir-se envolvida por uma sensao de impotncia nos argumentos diante do desmatamento de nossos babauais e da poluio dos audes.

    H de se enfatizar que esses audes um dia fo-ram to sonhados, to almejados, fontes de vida a abastecer a comunidade de Santa Luzia, que muito sofria com a falta de gua. Os moradores tinham de andar quilmetros e quilmetros para carregarem na cabea uma lata de gua para suprir suas neces-sidades mnimas.

    Este contexto sensibilizou os operrios que nos anos 1970 estavam trabalhando na construo da estrada de Joselndia ao povoado So Joaquim, e eles, nas horas vagas entre o espao do almoo e antes da hora de dormir, trabalhavam para a comunidade. Tamanha generosidade construiu o nico patrimnio comum da comunidade. s margens da estrada localizam-se o aude do Seu Joo Aurora e o aude da V Incia, cujos nomes homenageiam os moradores que doaram o terre-no para a construo.

    Just i f icativa

    Uma nova tica para a gua deve

    ser considerada.

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    Da gente que contribuiu para uma vida melhor os operrios generosos nunca mais se teve notcia; Seu Joo Aurora hoje mora em Roraima, e a V Incia comemorou recentemente, em julho de 2009, seus 104 anos, bem lcida, ao lado de filhos, netos, bisnetos, parentes, amigos e o seu aude, que ajudou a criar toda essa gente. Ela no se cansa de dizer que a mensagem que quer deixar para novas geraes de preservao e de respeito:

    Geral:

    Identifi car-se como parte integrante do meio em que vive e contribuir para sua conservao e ma-nuteno de forma mais ativa e imediata, a partir do redimensionamento de atitudes e prticas tanto pes-soais quanto coletivas com atividades que envolvam tomadas de posio diante de situaes relacionadas sustentabilidade dos audes da comunidade.

    Especficos:

    Ler, produzir e interpretar textos diver-sificados.

    Buscar coletar, organizar e registrar infor-maes referentes ao ambiente em que vivemos por intermdio de entrevistas, visitas, desenhos, grfi cos, tabelas, esquemas, listas de textos, maquetes, carta-zes, concursos etc., sob orientao da professora.

    Orientar a comunidade escolar para a impor-tncia dos hbitos de autocuidado com a higiene e a sade, respeitando as possibilidades e os limites do prprio corpo e do ambiente em que vive.

    Objetivos

    Isso tudo importante, mas nem todo mundo pensa assim e muita gente no cuida, no valoriza, usufrui e destri ao mesmo tempo sem ter noo do que faz. Conscientizar, mobilizar uma comunidade muito difcil; nesse perodo no fizemos milagres e, na medida das limitaes, procuramos incansa-velmente orientar a comunidade a se desprender um pouco da busca desenfreada do capitalismo para poder dedicar-se mais valorizao e preservao de suas conquistas por meio do redimensionamen-to de suas prticas atuais.

    O aude que a gente quer depende do que a gente faz. s querer fazer!

    Preservar gua que uma coisa muito importante, s quem sofreu muito com a falta de gua que sabe do que eu estou falando.Sem gua no existe vida. E o respeito muito bom, respeite sempre o branco e o negro, o rico e o pobre, o feio e o bonito, respeite todo mundo. S assim reina a paz. (2006)

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    he) Metodologia

    Contedos Curriculares

    Para alcanar tais objetivos, fez-se necessria a aplicao interdisciplinar dos respectivos contedos curriculares, sedimentados em leitura, produo e interpretao textual de bilhetes, anncios, cartas, pardias, msicas, poesias, entrevistas, relatos, car-tazes, lendas, convites grficos, tabelas, resoluo de situaes e problemas que envolvem as quatro operaes; Higiene pessoal e do ambiente; gua: cuidados, poluio e desperdcio; Lixo: cuidados, decomposio, coleta seletiva e reciclagem; Me-lhorar as condies de vida da comunidade: as oito metas do milnio; Como se formou o povoado de Santa Luzia? Aspectos Naturais e Ao.

    O presente projeto didtico, com o tema Audes: patrimnio da comunidade de Santa Luzia, tem como pblico-alvo um total de 12 alunos de 3 e 4 sries (multisseriado) da Escola Municipal Santa Luzia e seus respectivos familiares, e se estende, em sua complexidade, a toda a comunidade de Santa Luzia. Na verdade, a populao local basicamente constituda por duas famlias fundadoras do povoa-do. Como as pessoas do local geralmente casam-se entre si, de certo modo todos so como parentes.

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    O ponto de partida para a insero da pro-blemtica a ser abordada em relao ao tema Audes: patrimnio da comunidade de Santa Luzia deu-se por meio da observao de uma cena comum que me incomoda diariamente. An-tes de entrarmos na escola, sempre ficamos de dez a quinze minutos sentados na calada. Durante esse tempo, alunos, funcionrios e alguns pais, en-quanto conversam, presenciam uma cena de total desperdcio: a caixa de gua que abastece o povo-ado se enche e fica, por horas, derramando gua, o que me deixa indignada. Um dia, no deu mais para aguentar e convidei a pessoa responsvel pelo poo a vir at a escola e explicar o porqu de tanto desperdcio. Sugerimos a colocao de uma boia, mas o responsvel disse que isso no resolveria o problema, prometendo, no entanto, ficar mais atento para evitar tanto desperdcio. Realmente o problema foi amenizado, mas, at o momento, ainda no solucionado. Estou procurando uma alternativa com o poder pblico local.

    Depois de familiarizar a turma com a situao do desperdcio de gua, enfatizei a importncia de se preservar para no faltar, visto que num passado no to distante o povoado Santa Luzia sofreu e muito com a falta de gua e que o aude do Seu Joo Aurora e o aude da V Incia foram muito importantes para a manuteno do povoado, mas atualmente, com a construo do poo artesiano, predomina um grande descaso com os audes e reina o desperdcio de gua.

    Na elaborao do projeto foram uti-lizados vrios recursos e critrios de desenvolvimento, entre os quais me-recem destaque: observaes, rela-tos, leitura, produo e interpretao de textos selecionados; ilustraes alusivas ao tema; confeco de mu-rais; msicas, pesquisas, exerccios diversos relacionados ao tema, caa-palavras; jogos; maquetes, concursos e leitura de livros informativos e de literatura, como:

    GOMBERT, Jean Ren. Eu protejo a natureza para salvar os animais e as plantas. So Paulo: Girafinha, 2007.GOMBERT, Jean Ren. Eu fecho a torneira para economizar gua. So Paulo: Girafinha, 2007.SECCO, Patrcia Engle. Juca Brasileiro a gua e a vida. Educar D. Paschoal, 2004.

    A dinamizao do trabalho deu-se atravs da I Feira de Higiene e Sade Pessoal e Am-biental, organizada pelos funcionrios da Escola Municipal Santa Luzia juntamente com a agente de sade do povoado, Socorro Aurora, e a enfermei-ra Joelma. Nessa ocasio, os alunos participaram ativamente na confeco de cartazes, pardias e diversas apresentaes sobre higiene, sade, lixo, desperdcio etc.

    Processos Enfatizados Convidamos Dona Maria Aurora, uma das pri-meiras moradoras do local e que ainda est aqui, para relatar um pouco da histria do povoado que recebeu este nome em homenagem a Santa Luzia, a padroeira , seus habitantes, costumes, dificuldades e conquistas, como os audes, a estrada, a energia eltri-ca, a escola, o poo, a igrejinha e o orelho.

    Sugeri aos alunos uma visita ao aude acompa-nhados de um adulto para observarem a paisagem e fazerem ilustraes, e pedi que cada um cole-tasse gua do aude em um frasco de garrafa PET (pitula) e a levassem escola no dia seguinte. Cada criana chegou com sua garrafinha de gua suja, e eu, com a minha garrafa de gua limpa, filtrada e gelada. Servi aos alunos, que adoraram a gentileza. Perguntei s crianas quem gostaria de beber um pouco da gua que elas trouxeram. claro que todas responderam no e fizeram uma cara de nojo e repdio. Aproveitei esse momento para confront-los: Mas eu servi uma gua cuja origem vocs desconheciam e vocs aceitaram. Por qu?. As respostas foram unnimes: A nossa gua ns sabemos que dos audes e est suja, poluda, nojenta e imprpria para beber, e a sua gua limpa. Alm do mais, ns confiamos em voc, porque voc higinica, gosta de limpeza e jamais nos daria gua poluda para beber.

    Questionei os alunos: Se a gua est imprpria para consumo humano, por que os vejo tomando banho, pescando, e at suas mes lavando louas e roupas nessas guas?.

    Assim, abri espao para o debate, justifica-tivas e o relato de suas experincias vivencia-das nos audes.

    Realizamos em sala de aula uma experincia

    coletiva de purificao da gua coletada no aude; com material reciclvel, construmos um filtro de garrafa PET com camadas de algodo, areia e casca-lho. Acompanhamos todo o processo de filtrao e, depois, fervemos a gua filtrada. Comentamos a respeito disso: as poucas pessoas no povoado que possuem filtro no o utilizam, alegando que a gua demora para filtrar.

    Reservamos diariamente um tempo para leituras, produo, interpretao e resoluo de atividades referentes aos textos selecionados.

    Msicas: Depende de ns, Ivan Lins; Planeta gua, Guilherme Arantes; Rap da limpeza, Patrcia Engle Seco; Baila comigo, Rita Lee (Som Livre, 1980).

    Poemas: Paraso, Jos Paulo Paes; Esse pequeno mundo, Pedro Bandeira; Um poema piolhento, revista Amae Educando; Amigo Planeta e Tudo Vida, Jos Augusto e Paulo Srgio Valle; A herana da criana, Paulo Csar D. de Oliveira; Classificados poticos, Roseana Murray, e outros.

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    Sugeri s crianas que dialogas-sem com seus familiares sobre a origem, a importncia e o atual descaso em relao aos audes. Coletamos com a comunidade informaes relacionadas quantidade de audes, famlias, mu-lheres grvidas, idosos, banheiros em casa, pessoas alfabetizadas e filtros existentes no povoado para a elaborao de grficos, tabelas e resoluo de cl-culos matemticos.

    Recebemos a visita da agente de sade na escola para explicar aos alunos hbitos de higiene corporal e do ambiente, os diversos tipos de po-luio, doenas e preveno, alm dos cuidados ao ingerir, consumir ou manter contato com a gua e a constante necessidade de evitar o desperdcio.

    Realizamos um concurso de frases relaciona-das ao tema, com os seguintes critrios de avaliao: ortografia, caligrafia, criatividade, originalidade, ilustrao e coerncia com o tema.

    Confeccionamos cartazes voltados prtica de preservao dos diversos ambientes.

    Apoiamos o mutiro comunitrio organiza-do pela comunidade para retirar parte do lixo s margens do aude e a vegetao que cobria pratica-mente toda a superfcie.

    Realizamos uma nova visita ao aude. Dessa vez, os alunos foram acompanhados pela professora para a fixao de cartazes.

    Expliquei sobre o descarte inadequado do lixo no meio ambiente, a decomposio dos resduos slidos e a coleta seletiva.

    Confeccionamos lixeiras com caixas de pa-pelo e as distribumos no povoado nos locais mais movimentados: o Pau da Mentira, o Bar do Seu Nazaro (onde o lixo vai parar dentro do aude da V Incia), a escola, a igreja e os arredo-res do orelho, com a permisso dos respectivos responsveis. Explicamos o porqu e pedimos a colaborao de todos.

    Dividi a turma em dois grupos para monta-rem, com maquetes, dois tipos de ambiente: um poludo e outro natural.

    Organizamos lbuns sobre regras bsicas de higiene pessoal e do ambiente.

    Selecionamos rtulos de produtos de lim-peza e higiene pessoal para a realizao de leituras, jogos, quebra-cabeas.

    Confeccionamos placas sobre limpeza para colocar em vrios locais da escola.

    Orientei os alunos a elaborar e distribuir os convites para a I Feira de Higiene e Sade Pessoal e Ambiental, ao que foi fortalecida pela direo da escola e pela agente de sade do povoado.

    A concluso das atividades deu-se com uma ao interativa realizada em 27 de agosto de 2009, organizada pelos funcionrios da escola e da rea de sade e direcionada comunidade local.

    Foi um dia educativo que conciliou sade e lazer, iniciado s 8 horas da manh com um ma-ravilhoso caf da manh na casa da professora Erisd, oferecido especialmente aos profissionais engajados no projeto.

    S ento s 9 horas nos dirigimos escola para a abertura do evento, que aconteceu com sauda-es de boas-vindas e agradecimentos a todos os presentes, pelo apoio e participao. Apresen-tamos os profissionais de sade e a verdadeira finalidade do evento comunidade. A enfermei-ra Joelma proferiu a palestra educativa Higiene e sade pessoal e ambiental, seguida de apresentaes dos alunos relacionadas ao tema. Encerrada as apresentaes, os funcionrios da escola intera-giram com os funcionrios da sade, a fim de auxili-los de forma significativa na realizao das atividades, de acordo com a funo de cada um em salas reservadas segundo a necessidade.

    A secretaria da escola tornou-se o consultrio da enfermeira Joelma, para a realizao de exa-mes preventivos.

    Socorro Aurora, em uma sala bem menor, dis-tribua preservativos aos adolescentes, enquanto em outras salas se realizavam consultas mdicas e aplicao de flor, alm de orientaes sobre a forma correta de escovao, uso do fio dental e antissptico bucal etc.

    Algumas equipes orientavam as pessoas, distribuindo kits de combate a piolhos, cries e verminoses, e outras distribuam hipoclorito de

    sdio e explicavam seu uso correto para a pre-veno de doenas.

    Por intermdio da enfermeira Joelma, solicita-mos ao presidente da Cmara dos Vereadores do municpio a implantao de fossas no povoado (poucas casas da comunidade possuem fossas; ge-ralmente as necessidades so feitas ao ar livre).

    Realizamos o sorteio de um filtro doado pela professora Erisd.

    Deu-se uma pequena pausa para o almoo, e as atividades s foram dadas por encerradas quando no havia mais nenhum visitante.

    Um dia de sade nunca antes proporcio-nado comunidade no nesta dimenso de valorizao da divulgao dos conhecimentos cons-trudos na escola e repassados para a comunidade, no sentido de orientao e participao ativa na conservao de um ambiente limpo e saudvel em casa, na escola e nos lugares pblicos em geral.

    Que seja um novo recomeo! J plantamos a semente; que agora germine a higiene e que a comunidade a regue diariamente na tentativa de construir coletivamente a vida que a gente quer.

    No dia seguinte, eu e os alunos participantes do projeto brindamos ao sucesso do evento base de chocolate, com os deliciosos bombons Garoto. Tintim!!!

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    PROJETANDOUM FUTURO MELHORZoraia Aguiar Bittencourt

    ... j que este mundo insustentvel. E educar para outro mundo possvel educar preparando para aquilo que ainda no , o ainda-no, a utopia. Assim, estamos assumindo a histria como possibilidade e no como fatalidade (...) A diversidade humana implica a diversidade de modos de produzir e de reproduzir a nossa existncia no planeta.

    (Moacir Godotti,Educar para uma cultura de sustentabilidade, p. 62)

    DA JANELA, O MUNDO AT PARECE O MEU QUINTAL/ VIAJAR, NO FUNDO, VER QUE IGUAL/ O DRAMA QUE MORA EM CADA UM DE NS/ DESCOBRIR NO LONGE O QUE J ESTAVA EM NOSSAS MOS/ MINHA VIDA BRASILEIRA VIDA UNIVERSAL/ O MESMO SONHO, O MESMO AMOR/ TRADUZIDO PARA TUDO O QUE HUMANO FOR/ OLHAR O MUNDO CONHECER / TUDO O QUE EU J TERIA DE SABER

    (Milton Nascimento e Fernando Brant, Janela para o Mundo)

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    A vida que a gente quer depende do que a gente faz. Um belo debate sobre o ttulo do livro foi o que deu incio presente proposta pedaggica de escrita de projetos de trabalho e execuo de aes voltadas conscincia da corres-ponsabilidade ambiental de todos, realizada com 180 alunos dos 8 anos do Ensino Fundamental do Colgio Fundao Bradesco Gravata (RS). Es-tando as aulas de Lngua Portuguesa voltadas no somente para a aprendizagem da Gramtica e da Literatura, mas tambm para a construo de competncias, tais como as de argumentar, cri-ticar, defender, assumir, promover, participar, em atividades que envolvam tanto a oralidade quanto a escrita, o trabalho com diferentes reas do co-nhecimento se torna algo to natural e familiar que os debates versam sobre os mais diferentes e atuais temas do nosso cotidiano. Percebendo o debate so-bre sustentabilidade como um dos temas que vm exigindo cada vez mais a nossa ateno e prin-cipalmente a ateno de nossos adolescentes , um grande crculo de alunos foi formado em cada uma das quatro turmas envolvidas neste trabalho para que pudssemos ouvir e falar sobre nossas opinies, nossos conhecimentos e nossas prticas quando o assunto um modo de vida sustentvel. Aps ouvir suas falas e constatar que o entendi-mento dos alunos em relao a esta temtica estava direcionado exclusivamente a questes ecolgicas,

    Just i f icativaforam apresentadas a eles as Oito metas do mi-lnio, como uma possvel forma de ampliar seus conhecimentos e lev-los a repensar o conceito de sustentabilidade.

    O livro A vida que a gente quer depende do que a gente faz foi apresentado aos alunos como resultado da (re)unio de diferentes e convergentes textos de gente que, assim como eles, estava pensando sobre sustentabilidade. L que estavam as Oito metas do milnio, e estas foram lidas e registra-das no caderno de cada um destes alunos. Olhos de surpresa quando ouviram palavras como educao, fome, mulher, Aids, trabalho entre metas que, para eles, envolviam exclusivamente geleiras, florestas, rios, aterros, atmosfera. Aps irresistvel propaganda dos textos que faziam parte daquele livro e dos comentrios mais do que entusiasmados em relao ao texto Desigualdade no Brasil, de Ricardo Paes de Barros, todos ficaram curiosos para ler este e outros textos. Ficou combinado que leramos juntos um texto do livro a cada 15 dias, como for-ma de aprendermos mais sobre sustentabilidade sob o agradvel libi de simplesmente ouvir boas histrias, sem a sombra de uma folha com questes de interpretao textual. Nas semanas seguintes, alm do texto citado, lemos No somos donos da teia da vida, de Daniel Munduruku, o tex-to de Lya Luft, o texto Sade da modernidade, de Eugnio Sccannavino, e, por ltimo, o texto que d nome ao livro A vida que a gente quer depende do que a gente faz, de Luiz Percival Leme Britto. Todos esses textos trazem em si a ideia de que o futuro agora e depende daquilo que fazemos e deixamos de fazer com o mundo onde vivemos.

    Como o dicionrio um companheiro das aulas de Lngua Portuguesa, foi nele que os alunos foram buscar o significado da palavra sustentabilidade. Foi nele tambm que descobriram este vazio in-compreensvel na letra S. L estava sustentao, sustentvel e sustento, mas nada de sustentabilidade. Sendo assim, este conceito foi trabalhado a partir do prprio livro que embasou este trabalho, pois l, sim, ele aparecia no s com todas as letras, como tambm com todas as suas facetas. As histrias geraram, alm de debates, ideias que culmi-naram no que este texto vem relatar e compartilhar.

    Entre a escrita de textos sobre diversos as-pectos do que estaria envolvido em modos de vida sustentvel e a leitura coletiva de notcias de jornais relacionadas ao tema, surgiu o questiona-mento da frase que impulsionou o primeiro contato dos alunos com o livro, ou seja, o prprio ttulo da obra. O que estaramos ns fazendo para ter a vida que queremos? O que recebemos de herana e que legado deixaremos para o mundo? O que cada um de ns poderia fazer para vivermos no melhor lugar do mundo? A regra aqui foi a de que algo poderia ser feito agora, neste exato momento, sem precisar cres-cer e ficar adulto para poder resolver os problemas do mundo. Os alunos foram, ento, desafiados a, junto com um colega de turma, pensar em algo que, relacionado a uma das Oito metas do milnio, pudes-se ser feito exclusivamente por eles para amenizar, melhorar ou resolver uma situao que eles conside-rassem como um problema na sua sala de aula, na sua escola ou na sua comunidade. O entendimento foi de que grandes mudanas comeam com pequenas atitudes e que tudo fica mais fcil quando cada um faz a sua parte, por menor que esta parea.

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    Como todo processo de construo precisa de um projeto, foi necessrio que os alunos aprendessem a projetar suas ideias e suas hipteses no papel de forma organizada, clara e objetiva, o que mais uma vez vem ao encontro dos estudos do componente curricular de Lngua Portuguesa, mais especificamente em relao s prticas de produo de diferentes gneros textuais. E foi assim que aprenderam, no auge de seus 13 anos de idade, a construir projetos de trabalho, no melhor estilo de Fernando Hernndez e tantos outros estudiosos. Etapa por etapa, passo a passo, os alunos foram se apropriando de nomenclaturas que aos poucos iam fazendo sentido para eles: diagnstico, objetivos, estratgias, cronograma. Na folha em branco, as palavras davam corpo s ideias que, dia a dia, iam surgindo e surtindo cada vez mais surpresa em todos, pela capacidade de ver tantas possibilidades de ao em situaes e espaos que sempre estiveram ali, mas que at ento no se pensava por que eram de tal jeito ou por que deveriam continuar como estavam. Torneiras do banheiro abertas aps lavar as mos; folhas de caderno arrancadas indiscriminadamente; papis do lanche jogados no cho do colgio; atitudes preconceituosas de colegas; jovens desinformados em relao a bullying, leitura, higiene pessoal, alimentao saudvel, doenas sexualmente transmissveis, Aids, gravidez precoce, mtodos anticoncepcionais; bueiros do bairro entupidos; matagais ameaando a integridade fsica e ambiental da comunidade: esses foram alguns dos problemas diagnosticados pelos alunos na primeira etapa de seus projetos. Todos os alunos tiveram liberdade de definir o seu objeto de trabalho e assim o fizeram, com exceo de uma dupla de alunas que queria resolver a situao do uso de drogas no seu

    bairro. Essas foram orientadas, inclusive pelo grupo de colegas da turma, que este seria um problema da polcia e que o melhor que poderiam fazer seria uma campanha na escola de preveno ao uso de drogas, uma vez que isso seria algo mais seguro para elas e prximo de suas realidades.

    Questes escolhidas, o prximo passo foi pro-blematizar a situao construindo hipteses sobre suas possveis causas. Objetivos e estratgias preci-saram ser traados para que o trabalho no se per-desse em meio a tantas divagaes. Trs meses foi o tempo determinado para a concluso dos projetos de trabalho, sendo que, ao trmino desse perodo, os alunos deveriam ter, por si prprios, amenizado, melhorado ou resolvido, atravs das estratgias traadas por eles, o problema escolhido. Durante esses meses, os alunos montaram uma pasta na qual constavam, alm de seus projetos descritos por etapas, fotos, anotaes e cpias de materiais que haviam sido distribudos em suas campanhas. A escrita de um processoflio* (Gardner, 1995) tambm foi sugerida como parte integrante desta pasta, para que ali ficassem registrados todos os passos pensados e os que realmente foram dados em direo aos objetivos propostos inicialmente.

    .*Processoflio: registro ativo realizado pelo aluno sobre instrumentos, trabalhos, hipteses, comparaes, aferies e observaes realizados ao longo de um processo de estudos sobre determinado assunto, de modo a permitir ao professor acompanhar o processo de construo do conhecimento.

    Conhecimentos cientficos, lingusticos, geo-grficos e matemticos precisaram ser mobilizados para que muitos projetos pudessem seguir adiante. Ao fazerem o levantamento do nmero de alunos do colgio que moravam em determinado local do mu-nicpio e montarem para esses, de forma autnoma, uma reunio para que levassem a seus pais folders informativos (escritos e revisados por eles) sobre os problemas ambientais e de segurana causados por um matagal prximo a um dos pontos de nibus daquele bairro, incentivando por escrito estes pais a colocarem seus nomes em um abaixo-assinado redigido pelo grupo para que fosse levado prefei-tura, estes alunos no s mobilizaram mais de uma rea do conhecimento, como tambm pensaram em formas de melhorar o lugar onde vivem, enquanto praticavam sua cidadania. Ao montarem grficos de barras para que pudessem compreender por que o nmero de papis jogados no ptio do colgio, aps o lanche da tarde, era to inconstante em diferentes dias da semana, estes alunos, alm de compreende-rem que um nmero maior ou menor de lanches distribudos tambm poderia interferir no nmero de papis encontrados no cho, aprenderam que no somente a escrita de bilhetes de conscientizao para serem afixados s mesas onde os colegas comem pode ser capaz de mudar hbitos, tal como o de economizar alguns passos at as diversas lixeiras do colgio. Ao pesquisarem e contarem semanalmente histrias infantis sobre higiene bucal para crian-as em processo de alfabetizao com o objetivo de diminuir o nmero de doenas dentrias entre estas crianas, eles aprenderam, alm de diferentes tc-nicas de contar histrias, a valorizar a informao e a educao como um direito de todos.

    Para a contao de histrias, as duas alunas envolvidas neste projeto realizaram uma busca na biblioteca de livros relacionados ao tema proposto e direcionados faixa etria com que elas escolheram trabalhar. O nico livro com estas caractersticas especficas encontrado por elas foi Sorriso alegre: dentinho limpo, boca perfumada, de autoria de Tnia Medrano Rotta Oizumi e Josepha Medrano Rotta. Ao analisar o livro, as alunas tiveram a ideia de conversar com uma das duas dentistas que trabalham em nosso colgio em busca de mais informaes sobre o assunto. Qual no foi a surpresa delas quando a dentista, Dr Snia Valria Arajo Cardoso, apresentou um livro de dimenses imensas que havia sido usado anos atrs por este setor do colgio para o trabalho com os alunos da pr-escola? O livro, intitulado Fio Maravilha e Superescova, confeccionado em cartolina pelo Dr. Gil Carlos Catanio Spolavori, imediatamente foi eleito pelas alunas para ser contado na turma de alfabetizao do colgio como a estratgia propulsora de seu projeto. Antes da contao, solicitei s alunas que pedissem dicas de como contar histrias para alguns alunos do grupo de contadores de histrias do Colgio Fundao Bradesco Gravata. Este grupo coordenado por mim e composto por adolescentes do Ensino Mdio do colgio que, semanalmente, visitam duas escolas municipais de Gravata com o objetivo de contar histrias para alunos em processo de alfabetizao e, com isso, contribuir para o incentivo leitura. Dicas de como baixar o livro em direo aos olhos dos pequenos alunos,

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    As aprendizagens citadas acima foram extradas das escritas dos processoflios dos alunos. A avalia-o dos resultados obtidos a partir das estratgias que foram traadas pelo grupo de trabalho e a ava-liao das aprendizagens realizadas ao trmino do projeto fazem parte da ltima etapa constituinte de um projeto de trabalho. Os relatos orais e escritos dos alunos versam sobre o sucesso de terem atin-gido total ou parcialmente os objetivos propostos na busca pela soluo do problema selecionado. Trabalhos como os que almejaram a conscientiza-o dos colegas em relao preveno de DSTs e gravidez precoce, inclusive com o manuseio em aula de mtodos contraceptivos que faziam parte de um kit informativo que este grupo conseguiu emprestado na Secretaria da Sade do municpio aps expor seus objetivos, certamente no obtive-ram resultados to visveis e imediatos quanto o de acompanhar o desperdcio de gua no banhei-ro da escola. Projetos como os de informar um grupo de jovens obesos aps extensa pesquisa na internet e com os professores de Educao Fsica do colgio sobre como poderiam melhorar sua alimentao com pequenas mudanas obteve tan-to sucesso que algumas mes destes adolescentes fizeram questo de deixar registrados no processo-flio dos alunos elogios em relao aos encontros organizados pelo grupo, uma vez que perceberam que a fala de adolescente para adolescente soa como boas dicas e no como represso e fiscaliza-o maternas, o que contribuiu para que seus filhos perdessem alguns quilos nestes trs meses. Mesmo assim, o grupo relatou que, no incio do trabalho, encontrou dificuldades de ser levado a srio nas reunies de orientao a estes jovens.

    mudar o tom de voz, realizar introduo e concluso referente ao livro que ser/foi lido para as crianas, cuidar/adaptar o tamanho das imagens do livro, usar recursos variados quando as imagens do livro no forem suficientemente atraentes, transmitir alegria de estar contando histrias foram relatadas pelas alunas como as mais importantes informaes que receberam dos contadores de histrias, os quais se sentiram extremamente importantes por estarem socializando suas aprendizagens e experincias adquiridas ao longo de seis meses. A avaliao das alunas foi to positiva que resolveram estender o projeto at o final deste ano letivo.

    At o momento realizamos a socializao dos projetos apenas entre as turmas envol-vidas na sua execuo. Estamos em fase de construo de material em Power Point no laboratrio de informtica do colgio para que sejam realizadas as apresentaes do processo e dos resultados dos projetos para turmas de diferentes sries, incluindo justifi-cativas, estratgias, objetivos, relatrios, fo-tos, depoimentos, ou seja, todos os materiais que os grupos entenderem que sero capazes de retratar nos slides os projetos que reali-zaram. O convite aos alunos pela Superviso do colgio j foi realizado, e as datas desta socializao sero agendadas assim que os slides estiverem finalizados. Nas prprias turmas de 8s anos, os trabalhos que tive-ram maior destaque e repercusso foram os relacionados preveno das doenas sexualmente transmissveis, diminuio do lixo no ptio do colgio e nas salas de aula, contao de histrias sobre higiene bucal e ao abaixo-assinado a favor do corte do mata-gal prximo ao colgio, que estava servindo como rea de acmulo de resduos e impe-dindo o acesso ao ponto do nibus.

    Os processoflios foram trocados entre as tur-mas para que todos pudessem conhecer, desta vez atravs da leitura dos textos, os projetos que foram colocados em ao pelos colegas. Cada dupla, aps a leitura das pastas, escreveu bilhetes coloridos em que elogiaram o trabalho, su-geriram correes ortogrficas e metodo-lgicas, questionaram estratgias usadas e incentivaram os colegas a darem sequncia aos seus projetos. Em virtude disso, a maioria dos alunos questionou se no poderia estender seus projetos por mais este segundo semestre, ampliando as conquistas j realizadas, modificando as aes que no deram certo ou at mesmo partindo para novos projetos relacionados a outra das Oito metas do milnio. Estes novos projetos j esto surgindo e j grande o entusiasmo por criar solues a partir da responsabilidade de poder tomar decises sozinhos, o que faz da autonomia e da autoria as grandes aprendizagens deste trabalho.

    O ltimo momento do projeto foi o de socia-lizao dos resultados. Alguns projetos ganha-ram tanta visibilidade no colgio que os grupos foram convidados a montarem palestras para alu-nos de outras sries, o que foi motivo de pensar-mos em formas de socializar estes trabalhos para um maior nmero de pessoas. O nosso objetivo demonstrar que a corresponsabilidade por um mundo melhor de cada um de ns e que, para isso, pequenas aes podem ser feitas diariamente de forma bem simples, mesmo por crianas e ado-lescentes. O grande desafio no somente educar estes alunos para a sustentabilidade, mas, mais do que isso, faz-los tambm educadores a partir da socializao de seus projetos de trabalho.

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    LAND ART: A CRIANANA TERRA FAZENDO ARTERosane Mari dos Reis

    AS COISAS QUE NO TM NOME SO MAIS PRONUNCIADAS POR CRIANAS(Manoel de Barros, O Livro das Ignoras)

    ... imperativo que ns, os povos da Ter-ra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras geraes (...) A proteo da vitalidade, diversidade e beleza da Terra um dever sagrado (...) Quando as necessidades b-sicas forem atingidas, o desenvolvimen-to humano ser primariamente voltado a ser mais, no a ter mais.

    (A Carta da Terra, p. xviii)

    Os primeiros passos a caminho de uma ref lexo

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    Desde que nasce, a criana evolui de forma a buscar a prpria aprendizagem. Quanto mais seu corpo fsico permite, mais ela busca experincias e interaes que satisfaam sua curiosidade e desejo de sentir os objetos. Nessa caminhada, vai-se ampliando sua capacida-de de pensar, de se comunicar e de compreender as coisas ao seu redor. E assim, ao longo do tempo e gradualmente, a criana apropria-se de concei-tos e constri atitudes e opinies prprias sobre os fenmenos naturais e sociais com os quais se depara no dia-a-dia. Para Didonet (p.11, 2009), os primeiros anos de vida so os mais favorveis para desenvolver atitudes e valores que formam a base da personalidade. A estrutura de valores e as atitudes construdas na primeira infncia traam a rota mais firme e mais estvel para a vida [...]. Portanto, se quisermos que as prximas geraes respeitem a natureza e cuidem do planeta Terra, importante incluir agora no currculo da educao infantil o estudo da natureza e da interdependn-cia entre o ser humano e o ambiente.

    Ao fazer-se referncia a temas ambientais na educao infantil, a primeira e fundamental providncia colocar a criana no contato emprico com a natureza, aproveitando toda

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    a sua curiosidade e entusiasmo natural, para que, desse modo, ela possa perceber-se tambm como parte integrante da biodiversidade. Ao mesmo tempo, esse contato deve permitir que ela es-tabelea relaes entre a natureza e o modo de vida das pessoas, observando a interdependncia que existe entre as espcies e as consequncias que podem ocorrer com o mau uso dos recursos naturais. Segundo o Referencial Curricular Na-cional para a Educao Infantil (p.182, 1998), os componentes da paisagem so tanto decorrentes da ao da natureza como da ao do homem em sociedade. A percepo dos elementos que com-pem a paisagem do lugar onde vive uma apren-dizagem fundamental para que a criana possa desenvolver uma compreenso cada vez mais ampla da realidade social e natural e das formas de nela intervir. Para tanto, as crianas podero obter a aprendizagem de como uma comunida-de pode viver de forma sustentvel a partir da combinao de experincias de pesquisa de campo e de criao atravs de construes artsticas, nas quais podero utilizar o aprovei-tamento de espaos, de elementos naturais e de outros materiais e objetos produzidos e descarta-dos pelos indivduos sobre a natureza.

    No ensino da primeira infncia, preciso con-siderar metodologias baseadas em experincias artsticas, pois a Arte a disciplina com maior poder de alcance no desenvolvimento das lingua-gens necessrias s aprendizagens infantis. Atravs da arte as crianas tm a oportunidade de vivenciar e experimentar situaes que implicam o uso da escolha, da criao, da imaginao, da apreciao, do raciocnio lgico, da pesquisa, da contempla-

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    o, da expresso e de outras atitudes e decises necessrias ao desenvolvimento humano integral. E ainda, de acordo com Buoro (1998, p.19), a arte uma forma de o homem entender o contexto ao seu redor e relacionar-se com ele. O conhecimento do meio bsico para a sobrevivncia, e represen-t-lo faz parte do prprio processo pelo qual o ser humano amplia seu saber.

    Baseada nestes pressupostos, fui busca de informaes sobre tcnicas e movimentos arts-ticos que integrassem arte e meio ambiente para trabalhar com minhas crianas. Tinha um pro-blema prtico em minhas mos: queria desen-volver um projeto ambiental com crianas pequenas, mas no tinha um espao natural adequado para promover pesquisas e expe-rincias dirias com elas. Ento me surgiu a ideia de construir esse espao juntamente com as crianas utilizando a mistura de tcnicas de escultura e paisagismo.

    A ideia foi amadurecendo e tomou forma quando conheci o trabalho do escultor, fotgrafo e ambientalista britnico Andy Goldsworthy. Em suas experincias artsticas baseadas numa tendncia da arte contempornea denominada Land Art, o artista aproveita-se de recursos e de espaos da paisagem local para construir obras que podem interferir ou sofrer a interferncia da prpria natureza. Ou seja, o ambiente ou o suporte deixa de ser mero coadjuvante e se torna parte integrante do significado e emoes do trabalho. A potica do seu trabalho e sua cumplicidade com o meio ambiente ao esculpir delicadas obras que se interligam de alguma forma natureza sem agredi-la entusiasmaram-me a

    criar juntamente com as crianas um conjunto de pequenos ecossistemas expressados em forma de arte. Imaginei suas pequeninas mos apalpando a terra, organizando pedrinhas e conchas, formando labirintos de plantas, trajetos de pisos texturizados com elementos naturais, terrrios, minicanteiros em formatos diversos, pergolado com trepadeiras e flores perfumadas, jardins pendentes, sobreposio de vasos com plantas diferentes, escavao de tneis, composio de declives e tudo o mais que no conjunto possa, alm de oferecer oportunidades de aprendizagens cientficas, colocar a criana no contato sensvel com a natureza.

    Por tudo isso, idealizei o projeto Land Art: a criana na terra fazendo arte, que ser desenvolvido com 23 crianas de 3 e 4 anos, em parceria com suas famlias e demais interessados da comunidade escolar. Como produto final desse trabalho, o ambiente construdo ser transformado num pequeno laboratrio natural e permanente de observao, experimentao, percepo e aprendizagem ambiental para todas as crianas da instituio. Pretendo, com o projeto, que as experincias desenvolvidas a partir de intervenes artsticas com o meio ambiente propiciem s crianas a experimentao e a criao atravs de seu contato sistemtico com elementos da natureza; produzam vivncias integralizadoras, cooperativas e solidrias atravs do trabalho em equipe e da interao com a biodiversidade local e suscitem tudo o mais que possa implicar o desenvolvimento de suas habilidades, competncias e nos modos de bem viver em comunidade.

    Interferir de forma artstica com a paisagem local de modo a construir num determinado espao externo da instituio um conjunto de pequenos ecossistemas naturais a servio da pesquisa ambiental permanente de todas as crianas da instituio (de pouco em pouco, eu posso fazer algo de bom por todos).

    Manter contato com elementos orgnicos, inorgnicos e descartveis da natureza, apropriando-se de conceitos sobre suas principais caractersticas fsicas e sobre suas possibilidades de transformao e de criao (o que foi, como e como pode ser aproveitado).

    Vivenciar e integrar-se com a natureza, de modo que as aes criadas possam desenvolver gradativamente o conhecimento sobre a existncia de uma interdependncia entre as espcies (eu preciso dela e ela de mim).

    Desenvolver atitudes de cooperao e de compreenso diante das diferentes opinies e das dificuldades de aprendizagem dos colegas em meio das experincias educativas propostas (ajudar o outro a aprender).

    Objetivos

    Desenvolver pensamento lgico e esttico, a partir das experincias visuais, grfi cas, modelagens e a construo das formas geomtricas representadas nos objetos do cotidiano, relacionando essas formas com as criaes artsticas a serem desenvolvidas na natureza, e atravs da identifi cao, seleo, classifi cao e organizao dos elementos disponveis para o fazer artstico (preciso pensar sistematicamente para criar o todo).

    Desenvolver o senso crtico, criativo e refl exivo sobre as representaes das obras de arte do artista contemporneo apresentado, ampliando, assim, seu repertrio artstico visual (minha criatividade no pode partir do nada);

    Aprender novas palavras e frases, interpretando-as, acrescentando-as e usando-as de maneira habitual no vocabulrio do seu dia-a-dia ( preciso comunicar-se com clareza para evitar mal-entendidos).

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    Contedos Curriculares

    Conceituais Analisar, comparar e fazer relaes: ob-servar formigueiros, cupinzeiros, minhocrio, colmeias, ninhos e outras formas de organizao social da natureza, fazendo relao com nosso cotidiano. Identificar nas esculturas do artista as formas e as semelhanas com as obras criadas pelos minianimais de jardim (aranhas, minhocas, abelhas, pssaros, formigas, borboletas etc.).

    Perceber com todos os sentidos: parti-cipar de atividades de observao, produo grfica e manipulao de objetos que levem apropriao de conceitos sobre formas, linhas, cores, combinaes, sobreposies e outros elementos bsicos da organizao esttica do processo criativo.

    Procedimentais

    Investigar: participar de pesquisas de campo explorando o ambiente e seus elementos fazendo relaes e associaes.

    Escolher e organizar: selecionar e classificar os elementos da natureza para criao de objetos artsticos.

    Criar: construir figuras artsticas no solo, utili-zando a sobreposio de elementos naturais, trans-formando o ambiente num atelier e galeria de arte ao ar livre.

    Manusear com habilidade: utilizar ferra-mentas como lpis, pincis, giz, rolos de pintura, cmera fotogrfica, utenslios de jardinagem e outros equipamentos disponveis para os fazeres artsticos.

    Ouvir e comunicar: participar das rodas de conversa, contribuindo com ideias, opinies e com outras informaes trazidas do contexto familiar.

    Destacar o significativo e ressignificar: fazer comparaes e relaes entre as informaes com-piladas em livros, vdeos, internet e outros meios visuais e textuais e os objetos reais da natureza, identificando os pontos em comum, para utiliz-los como parmetros nas prprias criaes.

    Atitudinais

    Cooperar e socializar: ajudarem-se mutuamen-te durante a execuo das atividades coletivas.

    Apreciar e construir uma potica pessoal:observar, apreciar, comparar, fazer releitura e re-produzir as obras de Andy Goldsworthy, construin-do e revelando a prpria potica nas atividades de livre criao artstica, tanto no suporte tradicional quanto na natureza.

    Sentir-se como parte: contemplar e cuidar da natureza enquanto age poeticamente sobre ela.

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    Metodologia

    Sequncia didtica

    1 passo: em roda de conversa, introduzir o tema e fazer um diagnstico sobre o que as crianas j conhecem sobre formas geomtricas bsicas, linhas, pontos e sobre a natureza e seus elementos.

    2 passo: trazer para a sala objetos, figuras e desenhos para explorao visual e ttil para com-parao e identificao dos elementos estticos bsicos que os compem.

    3 passo: identificar na natureza as formas ante-riormente estudadas e represent-las em desenhos e modelagens de massas (ninhos, formigueiros, teias, galerias de minhocas, colmeias etc.).

    4 passo: aps reiterados estudos (observao, manipulao e reproduo grfica) sobre linhas, formas, pontos, cores, massa, tamanhos etc., pas-sar para a fase de observao das obras de Andy Goldsworthy, atravs de gravuras e de vdeos exibi-dos no data-show. Nesta oportunidade, as crianas podero observar o artista trabalhando em suas obras e os materiais que est utilizando.

    5 passo: em roda de conversa, propor s crianas um trabalho de construo com base artstica de um conjunto de pequenos ecossistemas e outras interven-es criativas na natureza, utilizando as obras do escultor Andy Goldsworthy como inspirao. Levar as crianas para conhecer o local a ser revitalizado e tirar fotos para o planejamento das aes e para futura comparao.

    6 passo: disponibilizar s crianas os elementos naturais que serviro para os trabalhos artsticos e pedir que separem e classifiquem esses materais por tamanho e/ou semelhana; combinar uma medida-padro (peque-no, mdio e grande) para os elementos, de forma que seja facilitada a sua manipulao pelas crianas.

    7 passo: aps selecionados e classificados os ele-mentos, as crianas faro pequenas construes sobre superfcies planas, atentando para as tcnicas de sobrepo-sio e organizao observadas anteriormente no trabalho do artista estudado. Essa atividade ser repetida tantas vezes quantas forem necessrias para que as crianas desenvolvam a habilidade para sobrepor, combinar e or-ganizar os objetos. No entanto, os suportes e elementos sero variados, podendo a criana trabalhar sobre papel, madeira, piso e outros. No solo j podero interferir, cavando pequenos tneis, construindo declives e cami-nhos, fazendo buracos e enchendo-os de gua ou criando desenhos com o borrifar ou com o derramar gradativo da gua sobre a areia; enfim, outras intervenes podero ser criadas nesses momentos com os elementos da natureza.

    8 passo: para o incio da sistematizao do projeto propriamente dito, delinearemos um esboo do em-preendimento artstico sobre uma cartolina, na qual as crianas, em comum acordo, desenharo e organizaro

    as formas que querem representar na natureza (crculos, quadrados, tringulos, espirais, pontilhados, escadados, traos livres etc.). Repetir a operao em mais duas cartolinas. Decidir a forma do esboo, transcrev-la de forma vazada para um plstico de construo numa dimenso do tamanho de um tero do terreno, para que as crianas aprendam a se situar espacialmente. Repetir duas vezes a operao nos outros dois teros, modifican-do a organizao e os tipos de formas.

    9 passo: num outro momento, sobre as trs cartolinas menores j com os desenhos prontos, as crianas podero colar e sobrepor elementos da natu-reza (terra, sementes, pedras, gravetos, flores, fo-lhas secas etc.), preenchendo e cobrindo as formas definidas, simulando uma prvia da construo do jardim externo.

    10 passo: prender as trs partes dos plsticos com as formas vazadas sobre o terreno, deixando-as bem firmes e esticadas, para que as crianas trabalhem ao longo do tempo e gradativamente sobre cada forma vazada, criando minicanteiros, declives, tneis, caminhos, pisos texturiza-dos, labirintos e tudo o mais que a criatividade permitir, utilizando apenas elementos naturais (pedras, paus, vasos e cacos de cermica, madeira, sementes, argila, plantas etc.).

    11 passo: terminada a etapa de criao e construo, retirar os plsticos e trabalhar sobre as partes que ficaram sob eles, preenchendo com pedrinhas variadas, grama e outras possibilidades naturais. Plantar cerca viva ao redor para protejer o jardim e construir um portal na entrada com um tnel em forma de um pergolado de bambu onde plantas trepadeiras e cips funcionaro como uma

    cortina natural para percepo visual, ttil e olfati-va das crianas quando passarem atravs dela para entrar no jardim. Nas rvores e arbustos do lugar, penduraremos elementos naturais como sinos com catutos e sementes, tocos de bambus e outros ele-mentos que possam produzir sons ao serem movi-mentados pelo vento ou pelas crianas.

    12 passo: avaliao posterior sobre o produto final acompanhar e cuidar do desenvolvimento das plantas e da evoluo dos ecossistemas, fotografando, refletindo, registrando, avaliando e discutindo em sala sobre todo o processo. Com o professor de escriba, um texto coletivo poder ser produzido sobre as apro-priaes e avaliaes que as crianas fizeram sobre todo o trabalho coletivo e sobre o produto final.

    13 passo: avaliao do processo de ensino/apren-dizagem dever ser efetuada no decorrer do processo, pois dela vo depender os encaminhamentos seguintes ou os ajustes que se fizerem necessrios para que todas as crianas alcancem as mesmas aprendizagens. Poder ser elaborada em forma de registros em dirio de bordo, fotografias e filmagens, sendo depois organizada na forma de portflios individuais.

    14 passo: culminncia promover uma inau-gurao com a escolha de um nome pela comunidade escolar para esse novo espao de aprendizagens. Trazer as famlias, profissionais e todas as crianas do CEI para participar e apreciar o novo ambiente natural construdo, acertando um compromisso com todos de que este espa-o seja utilizado como habitual recurso natural a servio da educao para a sustentabilidade com as crianas da educao infantil, do berrio ao maternal.

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    Tradio/ lugar: perceber, captar o mundo, avaliar, encantar-se com o tico.Os educadores no devem se dirigir apenas a alunos ou educandos, mas a habitantes do planeta, considerando todos e a todas cida-dos da mesma Mtria, a Ptria-me. [...] Educar para outro mundo possvel e tambm educar para o rompimento com o estabeleci-do, para a rebeldia, para a recusa, para dizer no, para gritar. Para sonhar com outros mundos possveis.

    Moacir Gadotti, A vida que a gentequer depende do que a gente faz, p. 64.

    Processos Enfatizados

    Relao: comunicar,relacionar-se e cuidar.Pedra que faz fortaleza faz tambm mercado, bazar. Se eu conversar contigo, disto estou muito certo, consigo me aproximar...Com muito encontro e negcio, inimigo vira amigo, quem est longe fica perto.A caravana de Marco se encarregou de provar.

    Ana Maria Machado, A vida que a gente quer depende do que a gente faz, p. 45.

    Meu av costumava dizer que tudo est in-terligado entre si e que nada escapa da trama da vida. Ele costumava me levar para uma abertura da floresta, deitava-se sob o cu, apontava para os pssaros em pleno voo e nos dizia que eles escreviam uma mensagem para ns. Nenhum pssaro voa em vo. Eles trazem sempre uma mensagem do lugar onde todos nos encontraremos, dizia ele em um tom de simplicidade, a simplicidade dos sbios.

    Daniel Munduruku, A vida que a gentequer depende do que a gente faz, p. 58.

    Observar a natureza local como espao de inte-rao e de aprendizagem.

    Contemplar as mnimas manifestaes de vida e sua forma de conviverem em harmonia num mesmo espao.

    Reconhecer e diferenciar pequenos animais, plantas e elementos da natureza, atravs de expe-rincias de comparao do objeto real observado e manipulado na pesquisa de campo, com imagens e informaes compiladas em livros, vdeos, inter-net e revistas cientficas.

    Apreciar uma forma de arte contempornea e contextualiz-la no espao natural que ser trans-formado.

    Trabalhar em equipe, socializando espaos, mate-riais e ideias.

    Contribuir com falas, sugestes, questionamen-tos e ideias trazidas do cotidiano.

    Ouvir o que o outro tem a dizer e respeitar opi-nies alheias.

    Respeitar regras e combinados.

    Formar opinio sobre as informaes obtidas.

    Interpretar imagens, discursos, narrativas e outras formas de comunicao.

    Viso: conhecer, sistematizar.No sei se as crianas, ao crescerem, inve-jaro o caminho j pisado por ns. Suponho que nossa maneira de exercer o poder as faa buscar outras passagens. Para elas, imagino, todas as mudanas sero operadas, um dia, por meio de uma fada que vai descer das nu-vens, por uma estrela que brilhar na luz do dia, por um pssaro que vai nos emprestar suas asas para a liberdade.

    Bartolomeu Campos de Queirs. A vida que a gente quer depende do que a gente faz, p. 154.

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    45REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:

    BUORO, Anamlia Bueno. O olhar em construo: uma experincia de ensino e aprendizagem da arte na escola. So Paulo: Cortez, 1998.

    BRASIL, Referencial Curricular para a Educao Infantil. Ministrio da Educao e do Desporto. Secretaria de Educao Fundamental Braslia: MEC/SED, 1998.

    DIDONET, Vital. Educao infantil para uma sociedade sustentvel: Revista Ptio 2009 n.18 Editora Artmed, Porto Alegre (RS), 2009.

    O livro despertou-me a coragem de ousar e transpor as pedras do caminho...

    Confesso que no conhecia o livro. J li muitas coisas sobre susten-tabilidade, mas nunca algo to completo e verdadeiro em termos de reflexes sobre o que poderia ser uma vida melhor. Quando li o enunciado do prmio, pensava em inscrever outros projetos que j havia desenvolvido com minhas crianas, pois to-dos estavam dentro dos critrios exigidos no regulamento. Porm, ao deparar-me com o conjunto de textos e fragmentos do livro A vida que a gente quer depende do que a gente faz, senti coragem para desengavetar minhas ideias, o projeto que inscrevi. Decidi retirar as pedras do caminho e torn-lo realidade para mim e para minhas crianas. Com isso a inexistncia de um espao fsico natural propcio s intervenes infantis e a falta de recursos financeiros deixaram de ser um problema para se tornarem parte importante do processo. No s inscrevi o projeto no concurso, mas tambm compartilhei com a direo do CEI, que com entusiasmo se comprometeu a apoiar sua implementao para o prximo ano. Por isso, desde j estamos mon-tando estratgias na busca de parcerias com a comunidade local.Percebo que a felicidade, o sucesso, as oportunidades de progres-so enfim, a vida melhor que minhas crianas puderem querer tambm dependem muito do que eu como edu-cadora possa e deva fazer. Como diria Daniel Munduruku, tenho o marac em minhas mos, s preciso sacudi-lo mais forte e mais alto para que muitos mais ouvidos possam ouvir.

    Observar e apreciar fotografias e vdeos das obras do escultor, identificando em seus trabalhos com terra, gua, gelo, folhas, flores, pedras, grave-tos e galhos as formas geomtricas, as linhas, os pontilhados, a proporo de tamanho em relao ao espao, a organizao das cores e a sobreposio por tamanho e forma dos elementos. Experimentar uma nova proposta de arte (Land Art);

    Relacionar as informaes obtidas com fatos de seu cotidiano.

    Apropriar-se de conceitos sobre elementos bsi-cos da construo artstica, tais como ponto, linha, formas geomtricas, peso, massa, tamanho, superf-cie, profundidade e tridimensionalidade, atravs da manipulao, observao, comparao e da reprodu-o grfica e estrutural desses elementos.

    Fotografar as obras produzidas na natureza e pro-mover exposio atravs de instalaes nas depen-dncias internas para toda a comunidade escolar.

    Efetuar trabalhos de colagem de pequenos elementos da natureza em suportes planos, de for-ma a evidenciar o conjunto de tcnicas observadas no trabalho do artista estudado.

    Conhecer novas palavras para uso no vocabulrio.

    Construir as prprias obras partindo do conhecimen-to adquirido anteriormente, comeando por aquelas de pequenas dimenses montadas em maquete at as cons-trues maiores elaboradas na prpria natureza.

    Ao: decidir, criar.

    Tudo se complica porque trazemos nosso equipamento psquico. Nascemos do jeito que somos: algo em ns imutvel, nossa es-sncia so paredes difceis de escalar, fortes demais para admitir aberturas. Essa batalha ser a de toda a nossa existncia [...] a gente pode pensar. Pode exercer uma relativa liber-dade. Dentro de certos limites, podemos in-tervir [...] somos responsveis, tambm por ns. Somos no mnimo corresponsveis pelo que fazemos com a bagagem que nos deram para esse trajeto entre nascer e morrer.

    Lya Luft, A vida que a gente querdepende do que a gente faz, p. 68.

    Desenhar e estruturar livremente suas formas criando uma potica pessoal, tendo como base os conceitos estticos aprendidos anteriormente.

    Desenvolver autonomia e liberdade de expresso.

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    ESCOVA DE DENTES EU USO/ PRA ESCOVAR OS DENTES EU USO/ S VEZES PRA LIMPAR AS UNHAS DO P/ S VEZES EU USO CHICL/ CABELO ME DEIXA CONFUSO/ ESCOVA DE CABELO EU NO USO/ PALITO DE DENTES NAS UNHAS DA MO/ S VEZES EU USO SABO (...) NEM TUDO QUE SE TEM SE USA/ NEM TUDO QUE SE USA SE TEM. (Arnaldo Antunes, Nem Tudo)

    DO LEO AO SABO:UMA MO LAVA A OUTRA MOCludia de Almeida Pires

    Ns individualmente estamos pensando de maneira coletiva, ou na nossa capa-cidade de participar e influenciar? (...) Pensemos na quantidade de lixo, doen-as e destruio ambiental que estamos produzindo. Isto ser homem civilizado? Isto modernidade e tecnologia? Consu-mir, consumir e consumir o mximo que for capaz (mais que seus vizinhos, para ter status). Seja qual for a origem dos produtos, sejam quais forem as condies em que foram produzidos. Qual o preo social e ambiental de cada produto que consumimos no dia-a-dia?

    (Eugnio Scannavino, Sade da modernidade, p. 82)

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    O trabalho ora apresentado surgiu da ideia de integrao entre as disciplinas de Biologia e Qumica em atividades a serem vivenciadas em turmas do 1 ano do Ensino Mdio da Esco-la de Referncia em Ensino Mdio Monsenhor Antnio de Pdua Santos. A escola faz parte do Programa de Ensino Integral e est localizada em Afogados da Ingazeira, em Pernambuco.

    No Programa de Ensino Integral as disciplinas de Qumica e Biologia contam com quatro aulas semanais, com uma delas voltada para atividades prticas e de experimentao. Nesse sentido, os trabalhos buscaram unir as referidas disciplinas, o mais que possvel, em suas atividades tericas e prticas, dada a afinidade de seus conceitos nas relaes biolgicas e do meio ambiente.

    A estrutura fsica da escola tambm contri-buiu para a integrao das atividades, ao passo que disponibiliza um ambiente de laboratrio es-pecificamente equipado para ser compartilhado entre as disciplinas de Biologia e Qumica.

    A idealizao das atividades buscou evidenciar experimentao e descoberta, e a apresen-tao de uma cincia viva, conectada em seus diversos saberes e personificada no cotidiano. As atividades de sala de aula buscaram estender-se

    comunidade escolar primando pelo princpio da educao integral e do protagonismo ju-venil, gerando oportunidade para que os alunos pudessem pr em prtica a resoluo de confli-tos, o estabelecimento de metas e prioridades, a proposio e o entendimento de diferentes perspectivas e a percepo da inter-relao entre as cincias.

    As atividades deram margem instaurao de bases para uma alfabetizao ecolgica (CAPRA, 2007), com debates sobre ecologia, ecologia humana e conceitos de sustentabilidade associados soluo de problemas.

    Mediante proposta de promover um conhe-cimento integrador, que leve o aluno a compre-ender os processos vivos como manifestaes de sistemas organizados, com forte interao entre os ambientes fsico-qumicos (BRASIL, 2006), foram abordados diversos aspectos relacio-nados aos problemas do acmulo de res-duos em depsitos de lixo, evidenciando as vantagens dos processos de reciclagem dos resduos.

    A busca por situaes ocorridas dentro do prprio ambiente escolar a exemplo do uso de copos descartveis por si s j con-tribuiu para a compreenso das relaes existen-tes entre microssistemas (escola) e sistemas mais complexos (bairro, comunidade, cidade, pas) ou macrossistemas (planeta), j que educar para uma cultura de sustentabilidade educar para encontrar nosso lugar na histria, no universo (GADOTTI, 2007).

    Nesse sentido, com o objetivo de instituir atividades concretas referentes aos processos de

    reciclagem, foram desenvolvidas sequncias de atividades para a fabricao de sabo a partir do leo de cozinha. O problema do tempo de espera para a coleta de leo de cozinha em quan-tidade suficiente para a reciclagem e o fabrico do sabo foi contornado com a proposio de uma ao experimental prvia para a fabricao do sabo com o uso do leo virgem, com uma segunda ao investigativa, utilizando ento o leo de cozinha descartado. Essa dinmica per-mitiu uma ampliao do carter investigativo da experincia ao passo que as mudanas nos com-ponentes puderam gerar novas hipteses quanto aos resultados.

    Por partirmos de um procedimento de recicla-gem de um item utilizado como alimento e que produz grande quantidade de resduo poluente, a dinmica tambm permitiu o comparativo en-tre a crescente produo de resduos poluentes e os princpios naturais, com a introduo de conceitos relacionados ao satisfatrio compor-tamento dos sistemas cclicos da natureza, onde (1) todos os organismos produzem resduos, (2) os resduos gerados so alimentos para outras espcies, que, ao consumi-los, (3) permitem que o ecossistema fique livre de resduos. Assim, o trabalho buscou permitir o reconhecimento da importncia do planejamento dos padres sus-tentveis de produo e consumo.

    A utilizao de um elemento alimentcio como fonte de uma dinmica de reciclagem permitiu ainda a introduo de um debate sobre a impor-tncia de se evitar o desperdcio de alimentos, com base numa discusso sobre seus nutrientes como fonte para uma vida mais saudvel.

    Just i f icativa

    A evoluo das atividades culminou com a proposta de continuidade da realizao de ofi-cina para a criao de sabo ecolgico pela reciclagem do leo de cozinha, de modo que o sabo fabricado pudesse ser utilizado em parte na prpria unidade escolar e em parte doado para uma instituio de apoio ao idoso, em contribui-o a um projeto existente na escola, vivenciado na disciplina de Direitos Humanos. Da a justi-ficativa para o ttulo do projeto Do leo ao sabo: uma mo lava a outra mo, fazendo um trocadilho com a compreenso dos sis-temas em rede e das relaes de interao existentes entre os seres.

    A ideia de fabricao de sabo a partir da reciclagem do leo de cozinha ganhou tamanho destaque como resultado das atividades inter-disciplinares que acabou transformando-se num projeto. Nesse sentido, o trabalho atua buscan-do alicerar-se nas bases de uma educao para uma vida sustentvel (CAPRA, 2007), mediante a abordagem de princpios ecolgicos segundo a interdisciplinaridade, explorando a experimenta-o e a participao coletiva na construo do conhecimento, favorecendo a participao dos alunos num debate contemporneo.

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    Especficos

    Instaurar atividades de pesquisa com margem ao levantamento de hipteses e levantamento de dados atravs da observao e experimentao;

    levantar dados reais, com base no ambiente escolar, que refl itam os problemas ambientais glo-bais, a exemplo do uso de copos descartveis;

    compreender o estudo da Ecologia como um estudo de fatores em rede;

    reconhecer a inter-relao entre os organismos por meio de suas relaes mtuas;

    analisar fatores globais a partir dos dados locais;

    compreender a inter-relao entre os problemas locais e os problemas globais;

    compreender a linearidade das relaes entre a economia e a ecologia: produo consumo (produtos) lixo (resduos) ;

    reconhecer a importncia do planejamento dos padres sustentveis de produo e consumo com base nos sistemas cclicos da natureza: (1) todos os organismos produzem resduos; (2) os resduos so alimentos para outras espcies; (3) o ecossistema fi ca livre de resduos.

    Geral

    A necessidade de criao de atividades prticas que mostrassem a cincia como uma parte viva do pro-cesso evolutivo do homem e a descoberta de novos saberes mediante simples questionamentos resul-taram na elaborao de uma sequncia pedaggica que pudesse reunir elementos de prtica e teoria, observao e experimentao.A preocupao em ligar o que se aprende na esco-la ao mundo cotidiano aparece evidente entre os objetivos por acreditarmos no carter motivacional desse componente, uma vez que os alunos passam a perceber conexes reais entre a vida (emprico) e a escola (cincia universo acadmico), alm de po-tencializar a ancoragem de novos conhecimentos, de forma signifi cativa.Dessa forma, buscamos fazer o aluno reconhecer a interdependncia fundamental de todos os indi-vduos e comunidades, compreendendo que todos esto encaixados nos processos cclicos da natu-reza, resultando na reciclagem de resduos (CA-PRA, 2004), dentro de uma abordagem conceitu-al que evidenciasse a interligao entre as reas de Biologia e Qumica.

    Comunidade

    A Escola Monsenhor Antnio de Pdua San-tos tem um relevante histrico de atuao com o alunado oriundo da zona rural, bem como de jovens atuantes no comrcio local, que buscam sua formao em Ensino Mdio. Seu memorial de atuao revela uma constante e caracterstica preocupao com assuntos referentes ao meio ambiente e questes relacionadas valorizao do Semirido. Os estudos ambientais sempre apresentaram grande importncia dentro do con-texto pedaggico da escola.

    Em 2009 a escola passou por uma ampla mudana em seu quadro discente e docente, mediante sua adeso ao Programa de Educao Integral do Estado de Pernambuco, passando a atuar numa proposta de Escola de Referncia em Ensino Mdio.

    Vida Escolar

    A adeso da escola ao Programa de Educao Integral, conforme descrito anteriormente, trou-xe diferentes grupos de alunos, que passaram a integrar o corpo discente da escola, agregando novos desafios aos trabalhos j caractersticos da escola. Na modalidade de Ensino Integral, con-tamos, portanto, com seis turmas do 1 ano do Ensino Mdio.

    Objetivos Contedos Curriculares

    A variedade de interesses dos alunos introduziu novas perspectivas diante dos diferentes compor-tamentos quanto aos trabalhos realizados em sala de aula, em atividades prticas de laboratrio e em dinmicas de socializao. A diversidade de saberes empricos, a variao de contextos econmicos e familiares e a diferenciao entre habilidades e limitaes favoreceram a troca de experincias, a superao de desafios e a valorizao e o respeito pelas diferenas.

    Currculo

    A proposta da atividade ora descrita se con-trape nfase na memorizao de informaes, frmulas e fragmentao do conhecimento, des-conectados da realidade. Sua estruturao buscou dar ao aluno a oportunidade de compreenso das transformaes, reaes e processos qumi-cos e biolgicos em diferentes contextos do meio ambiente, de forma integrada e significativa.

    A proposta do projeto foi idealizada de for-ma a dar a oportunidade de participar de atividades de interao entre as diferentes turmas de alunos, dando destaque s ativida-des de protagonismo juvenil, base do Programa de Educao Integral, de modo a possibilitar (1) o estmulo descoberta de saberes, (2) a troca de experincias, (3) a capacidade de superao de desafios e (4) o trabalho em equipe.

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    Ensino

    Nas etapas de desenvolvimento das atividades de ensino, o aluno passou a interagir como um ser ativo no processo da aprendizagem planejada, defi-nindo e guiando os diferentes momentos voltados para os objetivos de aprendizagem.

    Nesse sentido, foram observados os compor-tamentos que diferentes pessoas assumem e ado-tam para que uma aprendizagem acontea:

    Grande envolvimento dos alunos nas ativi-dades desenvolvidas, dado o forte componente ldico e dinmico das atividades, e do componente motivacional agregado pelos componentes partici-pativos e investigativos utilizados.

    Forte preocupao dos alunos em apresentar seus conhecimentos de forma clara durante as atividades de socializao.

    Avano no nmero de alunos envolvidos nas atividades de protagonismo juvenil.

    Maior compreenso dos fenmenos, fatos e processos dos conceitos envolvidos, resultando na elaborao de generalizaes.

    Grande envolvimento dos alunos na utilizao das noes e conceitos observados, apresenta-dos em novas situaes de aprendizado escolar.

    Evoluo no potencial de relacionamento de conhecimentos prvios (empricos ou cientficos) para o entendimento de fatos, processos ou fen-

    menos biolgicos (a exemplo das demonstraes e exemplificaes ocorridas durante a socializao das atividades).

    Aumento da capacidade de apresentao do conhecimento apreendido por meio de texto, desenho, representao grfica, artstica e apresen-tao oral, bem como uma maior autonomia no desenvolvimento de estratgias de representao.

    Aumento na capacidade de integrao entre o conhecimento cientfico em atividades de apren-dizagem (elaborao de materiais para etapas de socializao; apresentao de representaes).

    Capacidade de relao entre conhecimentos empricos e conhecimentos cientficos, em atividades de representao e apresentao dos conceitos abordados.

    Instruo

    A abordagem simultnea e conjunta dos aspectos relacionados ao meio ambiente e poluio durante as atividades das disciplinas de Biologia e Qumica gerou a oportunidade de um debate referente aos diferentes assuntos, mediante os enfoques discipli-nares, graas afinidade dos conceitos.

    Assim, temas como a poluio das guas dos rios e dos solos, pelo descarte inapropriado do leo de cozinha, passaram a ser entendidos como uma prtica que est causando muitos efeitos noci-vos nossa sade e ao meio ambiente, pelos aspectos relacionados aos processos qumicos e biolgicos.

    Os conhecimentos e conceitos da Qumicadevem proporcionar ao aluno:

    compreenso de que as ligaes qumicas mltiplas so essenciais para a formao de estruturas bioqumicas complexas;

    compreenso da transformao qumica como resultante da quebra e formao de ligaes qumicas;

    proposio e utilizao de modelos explicativos para compreender o equilbrio qumico e as transformaes qumicas;

    compreenso da polaridade das molculas de gua por meio de comportamentos observveis nas ligaes qumicas;

    reconhecimento da polaridade eltrica da gua como um dado fundamental ao entendimento de detalhes moleculares da bioqumica;

    compreenso das relaes qumicas presentes no processo de surgimento de membranas e vesculas formadas por lipdios (micelas);

    compreenso da hidrofilia e da hidrofobia com base na polaridade da gua;

    identificao das propriedades de hidrofilia e hidrofobia e formaes das micelas durante a ao do sabo no processo de lavagem;

    identificao dos lipdios como uma espcie de molcula com uma cabea hidroflica e um corpo hidrofbico;

    compreenso das caractersticas qumicas dos diferentes materiais geradores de resduos poluentes, a exemplo dos plsticos, PET, isopor, alumnio, vidro, copos descartveis e leo, e das propriedades que dificultam sua decomposio.

    traduo da linguagem simblica da Qumica.

    Tabela 1. Abordagem dos contedos e conceitos de Qumica.

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    55Assim, foram abordados con-

    ceitos, propriedades e processos, especficos ou comuns, das dis-ciplinas de Biologia e Qumica, de modo a permitir um maior entendimento das relaes de poluio e meio ambiente.

    Os conhecimentos e conceitos da Biologia devem proporcionar ao aluno:

    compreenso da vida como manifestao de sistemas organi-zados e integrados, interagindo com o ambiente fsico-qumico;

    compreenso da clula como um sistema organizado, no qual ocorrem reaes qumicas;

    compreenso da similaridade entre as membranas formadas por lipdios (micelas) e as membranas celulares;

    reconhecimento do homem como um organismo e, portanto, sujeito aos mesmos processos e fenmenos que os demais;

    compreenso de que cuidar do meio ambiente uma responsabilidade coletiva, visando produzir aes e produtos para o consumo sustentvel;

    compreenso dos problemas ambientais causados por resduos como plsticos, PET, isopor, alumnio, vidro, copos descartveis e leo;

    reconhecimento das vantagens na realizao de prticas simples, voltadas para a coleta e o correto descarte de lmpadas, papis, alimentos e demais resduos;

    reconhecimento das vantagens na realizao de prticas de reciclagem de resduos, a exemplo da produo de sabo a partir do leo de cozinha;

    compreenso da necessidade de modificao nas relaes de consumo, visando diminuio da linearidade das relaes entre a economia e a ecologia, que resultam em (1) produo (2) consumo (produtos) (3) lixo (resduos);

    reconhecimento da importncia do planejamento dos padres sustentveis de produo e consumo com base nos sistemas cclicos da natureza: (1) todos os organismos produzem resduos; (2) os resduos so alimentos paraoutras espcies; (3) o ecossistema fica livre de resduos.

    Tabela 2. Abordagem dos contedos e conceitos de Biologia.

    O projeto foi desenvolvido por meio de uma metodologia participativa, ldica e interdisciplinar, envolvendo atividades das disciplinas de Biologia e Qumica, abordando questes ambientais do ponto de vista da na-tureza e da cincia.

    Entre as atividades realizadas pode-se ressal-tar: leitura de textos informativos; pesquisas; elaborao, criao e montagem de modelos tridimensionais de representaes celulares e de substncias e reaes qumicas; compara-es entre os processos biolgicos e qumicos; prtica da coleta seletiva; identificao de diferentes resduos e tempo de decomposio; entrevistas; experimentos sobre a decomposi-o de materiais; oficinas de reaproveitamento e confeco de material didtico com PET e oficina de fabricao de sabo.

    As principais atividades tiveram o seguinte cronograma e sequncia didtica:

    Metodologia

    1 Etapa (AGOSTO 2009)Leitura de textos, pesquisas

    Em atividades de sala de aula e com uso do laboratrio de informtica; realizao de estudos quanto s semelhanas das es-truturas das membranas plasmticas e as vesculas formadas por lipdios, a exemplo das misturas de leo e gua e na ao da espuma do sabo; elaborao, criao e montagem de modelos tridimensionais de representaes celulares e de substncias e reaes qumicas

    Em atividades prticas: criao de modelos qumicos com a reciclagem de garrafas PET.

    Em trabalho em grupo: criao de repre-sentaes celulares com uso de material reciclado diverso (papelo, isopor, alumnio e plstico) e com alimentos, por grupos ali-mentares (lipdios, protenas, carboidratos e vitaminas).

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    Oficina de fabricao de sabo a partirde leo de cozinha (virgem)

    Em atividades de intercmbio (duas turmas simultaneamen-te aulas de Biologia e Qumica) fabricao de sabo com observao dos procedimentos e resultados.

    Experimentos quanto ao uso de formas e ao tempo de endu-recimento e corte.

    Observao das propriedades do sabo quanto consistncia e perfume.

    Experimentos quanto qualidade do sabo.

    Socializao dos modelos tridimensionaisde representaes celulares e de substnciase reaes qumicas.

    Modelos celulares com material reciclado abordagem das partes que compem a clula, da similaridade entre as propriedades das membranas plasmticas e as vesculas de lipdios que ocorrem na ao do sabo e do tempo de decomposio de cada material utilizado.

    Modelos celulares com alimentos abordagem das partes que c