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SacerdoteS 21

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O Jardim de Briluem

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Capítulo 21 – O jardim de Briluem

— Então me diga logo, Gauton – Meithel estava muito irritado. Gauton, aquele traidor desprezível de quem ele sentia tanta raiva, agora estava exigindo que conversassem. Impediu Meithel de ir ajudar Elkens e Laserin na luta contra Algoz e não permitiria que ele passas-se a menos que Meithel o ouvisse até o fim. Káfka estava caído a um canto, com o seu escudo branco partido, mas a única coisa que Meithel queria agora era ouvir o que Gauton tinha para dizer. Tinha pressa para se livrar dele e ir ajudar seus amigos – O que você disse que eu precisava saber? Você mesmo disse que não se arrependeu por ter nos traído… — Não me arrependi – Gauton confirmou – porque nunca tive a in-tenção de fazer aquilo. Meithel soltou uma risada irônica. — Quer dizer que você nunca soube que seríamos mortos assim que entrássemos nos Domínios da Magia? Você mentiu para nós desde a primeira vez que nos encontramos no lago Lushizar; você disse que es-tava preso do lado de fora dos Domínios assim como eu, mas não era verdade. Você recebeu ordens dos nove Cavaleiros para sair dos Do-mínios por algum portal paralelo do qual vocês tinham o cristal que era a chave e trazer quem quer que estivesse com o último cristal ime-diatamente para cá. O cristal de Laserin, que estava escondido em Rismã, era o único que faltava para vocês conseguirem o Cristal de quatro Faces completo. “Mas como você deve ter percebido logo, nunca conseguiria tirar Lase-rin da nossa proteção para trazê-la sozinha para cá, por isso concor-dou em trazer a todos nós. Agora eu me lembro que enquanto estáva-mos lutando contra os kenrauers em Buor, você não participou da lu-

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ta. Você já sabia que os kenrauers estariam na cidade e por isso se es-condeu. Parece que Mon tem mais pressa em conseguir os quatro cris-tais que os Cavaleiros da Magia, não é?”. “Mas você teve a sua chance de trazer Laserin sozinha para cá, isso quando ela foi separada de nós e levada para o Templo do Sacrifício. Elkens e eu passamos a confiar ainda mais em você porque pensamos que se arriscou para salva-la, mas na verdade você correu para encon-trá-la antes que nós e poder fugir sozinho com ela e o cristal. Era a sua chance perfeita! Felizmente nós chegamos a tempo e você não pô-de fugir, por isso resolveu continuar com o seu teatrinho de que só es-tava querendo nos ajudar; era a única chance que tinha…”. — Não nego nada do que você diz, Meithel – Gauton consentiu sem mostrar um pingo de ressentimento. – Tudo o que você diz é a mais pura verdade, porém… A raiva de Meithel só aumentava com as palavras de Gauton. — Me lembro também que todos os perigos que enfrentamos na Flo-resta de Pedra foram causados pelo Espelho das Ilusões. O mesmo es-pelho que nós tivemos que destruir para fugir do Templo do Sacrifício, e eu sei que espelho é aquele. Aquele espelho é a arma branca de Shi-ron, o sexto Cavaleiro da Magia, então aposto como tudo fazia parte do plano. Shiron criou toda aquela situação para você ter a chance de fugir sozinho com Laserin e chegar o quanto antes aqui… — Aí você se engana, Meithel – disse Gauton interrompendo-o. – Enfrentei tantos perigos quanto vocês naquela floresta e juro que eu não sabia de nada. Não sei qual foi a intenção de Shiron em criar to-das aquelas ilusões, mas ele não me favoreceu em nada. Não fazia parte do plano… Como eu disse, não nego nada do que você disse an-tes, porém…

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Gauton olhou profundamente nos olhos de Meithel. O Sacerdote da Magia teve a impressão de estar vendo aqueles olhos pela primeira vez. Tinha a impressão de nunca ter conhecido aquele homem com quem passou os últimos dias. Parecia ser uma pessoa completamente diferente. — Porém, Meithel, eu nunca agi por vontade própria. Eu fui obriga-do a fazer aquilo. Fui obrigado a mentir para vocês e traí-los, apenas para trazer de qualquer forma o cristal para dentro dos Domínios. — Sinto muito Gauton, mas não consigo acreditar em você. Para mim nenhum motivo é forte o bastante para trair alguém do modo como você nos traiu. Você percebe o que a sua traição teria causado? El-kens, Laserin e eu estaríamos mortos caso o plano de vocês tivesse da-do certo… — Você se esquece de duas coisas, Meithel. Primeira: eu também seria morto. Você pode achar que eles iriam me matar de surpresa, mas está enganado. Eu sempre soube que seria morto, mas mesmo assim não pude evitar. Segunda: eu não trouxe Yusguard e seus homens para morrer, eu os salvei. Eles não tinham qualquer envolvimento com o cristal, então eu pude escolher salva-los e assim o fiz. Meithel não conseguia entender. Como Gauton podia dizer que sabia que todos seriam mortos e ainda assim afirmar que não teve escolha, que fora obrigado? Tudo aquilo não fazia o menor sentido. De repente sentiram mais um tremor e sabiam de onde ele vinha. Meithel fez menção de correr para o portal, que permanecia aberto, e seguir para ajudar Elkens e Laserin, mas Gauton o deteve mais uma vez: — Por favor Meithel, espere só mais um pouco. Sei que Elkens e La-serin estão lutando contra Algoz e sua marreta agora, mas peço que me ouça só mais um pouco.

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Meithel consentiu; Gauton continuou: — Eles querem me matar Meithel, porque eu sei de muitas coisas. Eles não conseguiram me matar até agora, então eu vou lhe contar: os únicos inimigos verdadeiros são os Cavaleiros da Magia. Ego, Calar-rin, Mudriack, Adeigos e todos os outros Guerreiros e Generais que es-tão lá fora, além de vários Feiticeiros, Magos, Mensageiros, Sacerdo-tes, entre outros, todos eles estão sendo obrigados a obedecer aos nove Cavaleiros, assim como eu fui obrigado. — Ainda não entendo… – começou Meithel confuso, mas na verdade ele já começava a entender. O Gauton que ele conheceu antes foi ape-nas uma marionete mágica, controlada pelos nove Cavaleiros. — Eu não sei que tipo de feitiço eles podem estar utilizando… Tal-vez tenham usado algum feitiço proibido, não sei, mas a questão é que eles conseguem controlar qualquer um que use um colar da Magia. Eles estão fazendo isso com todos que podem ser úteis para eles de al-guma forma. — E os que não são úteis? – perguntou Meithel. Agora ele achava que estava prestes a descobrir onde estavam todos os protetores da Magia, por que os Domínios estavam tão vazios. – O que eles fazem com os que não são úteis? Gauton deu um suspiro profundo e doloroso. — Quando essa tal revolução começou, todos nós fomos aprisionados nos subsolos dos Domínios. Eu fui tirado de lá junto com alguns ou-tros que eles julgaram ser úteis por algum motivo, mas… muitos já fo-ram mortos! Acho que os Cavaleiros pretendem controlar cada um que tenha um colar da Magia, criando assim um grande exército para au-xiliar Mon.

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Meithel não conseguia se conformar. Fazia tão poucos dias que ha-via deixado os Domínios da Magia, como tanta coisa pôde ter aconte-cido em tão pouco tempo? — Mas como isso é possível? – perguntou ele com sua raiva crescente pelos Cavaleiros. – Como é possível que eles tenham conseguido tanto poder? Como ninguém até agora pôde enfrentá-los? — Já enfrentaram sim, Meithel – Gauton respondeu. – Ou você acredita que os Cavaleiros conseguiriam controlar os quatro Sábios e o Guardião assim como fizeram comigo e os outros? Houve uma terrível batalha assim que tudo começou, e eu presenciei cada momento. O Guardião já estava aprisionado, é claro, mas eu vi quando os quatro Sábios foram assassinados por Kaiser e seus companheiros. Um a um eles foram assassinados, uns antes, outros depois, mas todos estão mortos agora. Meithel sentiu uma pontada em seu coração e chegou a lhe faltar o ar. Seu tutor, aquele que havia lhe ensinado tudo o que sabia, era Lakar, um dos quatro Sábios. Ele já sabia que seu senhor estava morto, sem-pre soube, mas a confirmação disso foi cruel, dolorosa para ele. Mais uma confirmação e era cada vez mais doloroso. Meithel refletiu por um bom tempo. De repente pensou em algo que fez seu coração doer ainda mais, mas que lhe deu algum tipo de espe-rança, que, mesmo na terrível situação em que se encontrava, lhe dei-xou feliz. Pensou em Mudriack e agora tudo fez sentido. Jamais en-tendeu o motivo de Mudriack ter se voltado contra a Magia, jamais compreendeu por que Mudriack chegou a tentar matá-lo, mas agora tudo se encaixava. Mudriack foi apenas mais uma marionete dos Ca-valeiros, apenas mais uma vítima. E por causa disso agora estava morto, e Meithel jamais teve a chance de ajudá-lo.

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Já havia um bom tempo que eles não sentiam mais tremores vindos do segundo templo. Isso significava que ou Algoz foi derrotado, ou El-kens. Meithel precisava se apressar. — Mas ainda não sei se posso acreditar em você, Gauton – concluiu Meithel. – Acredito que tudo o que disse é verdade, mas como saberei se ainda não está sob ordens dos Cavaleiros? Como saberei se não está me preparando uma armadilha? Gauton pareceu decepcionado por algum tempo, mas logo sorriu e dis-se: — Muito sábio o que diz e eu concordo com você. Está sendo muito prudente e isso é necessário nos dias de hoje. Mas acredito que eu te-nha sido libertado do feitiço porque os Cavaleiros planejaram que eu morreria assim que entrasse aqui. Creio que o feitiço de controle se en-cerrou no momento em que cumpri minha missão, momento em que eu seria morto. Mas ninguém contava que Elkens estaria portando um colar ancestral da proteção quando entramos aqui, nem mesmo eu, e por isso estou vivo e livre do feitiço de controle. Mas ainda assim você não acredita em mim… Vou lhe dar uma prova, Meithel. Vou provar que estou do seu lado agora. Mas enquanto isso se apresse e vá ajudar Elkens e Laserin. Gauton tocou seu colar de Mensageiro e usou o teletransporte, desa-parecendo instantaneamente. Meithel nem perdeu tempo tentando imaginar para onde ele poderia ter ido, apenas seguiu correndo e atra-vessou o portal que já estava aberto. Precisava alcançar Elkens e La-serin.

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3° Cavaleiro da Magia (Amazona) – Shanara Arma Branca – Báculo-Lírio

Treze anos atrás Shanara patrulhava os becos de uma das doze Gran-des Cidades de Gardwen: Condarin, no reino de Kadharran. Estava escuro, pois já passava do meio da madrugada, mas ela estava conten-te por estar concluindo sua missão. Dois dias atrás o prefeito da Grande Cidade solicitou auxílio da Magia e o Guardião atendeu, sele-cionando Shanara para realizar a missão. O problema relatado pelo prefeito dizia que nos últimos oito dias a ci-dade vinha sendo invadida durante a noite. No inicio eram apenas roubos pequenos e desconfiavam que alguém dentro da própria cidade é que era responsável. Mas depois os ladrões começaram a deixar víti-mas e, na última invasão, vinte guardas da cidade foram executados. Foi então que resolveram pedir ajuda a um dos Elementos da Vida, pois o problema se tornou crítico. Ficou óbvio que os assassinos esta-vam vindo do lado de fora das muralhas da cidade, mas ninguém na cidade foi capaz de dizer por onde eles entravam. E foi para esta mis-são que Shanara foi enviada: descobrir e destruir as passagens secretas utilizadas pelos saqueadores e, se possível, descobrir quem eram esses saqueadores. Uma missão simples, na verdade tão simples que parecia ridícula. Telepaticamente Shanara chamou por um de seus Guerreiros: Adeigos, ela disse mentalmente, está tudo resolvido aí? Sim, ela ouviu a voz do Guerreiro em resposta. A última passagem foi tampada. Dezessete ao todo e não há mais nenhuma, acabamos de ve-rificar mais uma vez. Não há por onde os saqueadores entrarem agora.

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Me admira que houvesse tantas passagens sem o consentimento de ninguém daqui de dentro… Condarin é uma cidade milenar, Shanara respondeu. É comum escon-der este tipo de segredo. O que me admira é terem descoberto isso. Pre-pare o relatório da missão porque quero ir embora logo. Enquanto isso mande os demais verificarem mais uma vez, só por garantia. Shanara tocou seu colar de General enquanto caminhava por becos es-curos, apenas por capricho, orgulhosa de todos os seus nove pingentes. Enquanto caminhava sob as estrelas, algo passou a incomodá-la. Se-gundo o prefeito, os roubos que foram feitos não representavam muito valor, sequer eram tesouros muito importantes. Estou esquecendo de alguma coisa, Shanara pensou. Tem alguma coisa por trás disso, sei que tem. Tem alguma coisa que eu não estou conseguindo enxergar. Realmente não fazia sentido. Tanto trabalho para localizar as passa-gens secretas para a cidade e ainda mais trabalho para as tornarem acessíveis novamente após séculos sem serem usadas, e tudo isso para roubos sem grande valor. Outra coisa que a intrigava era o fato de vinte guardas terem sido assassinados; tudo isso seria para evitar tes-temunhas? Por que os saqueadores queriam tanto assim continuarem sendo desconhecidos? Por que o segredo uma vez que foram pegos? Por que simplesmente não fugiram? Shanara entrou na rua principal da Grande Cidade, que a atravessava de um lado a outro e levava para a saída, onde havia uma gigantesca porta que geralmente ficava fechada durante a noite. Condarin fica no alto do Monte Turo, completamente rodeada por uma muralha for-tificada. Shanara parou de andar e passou a admirar as estrelas, ain-da meditando, tentando entender algo que a estava atormentando. Sabia que o objetivo de quem quer que estivesse invadindo a cidade não era roubar. Não fazia sentido. Ela lembrou-se de Adeigos lhe di-

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zendo que todas as passagens foram bloqueadas e que ninguém mais poderia entrar, mas e se, na verdade, os saqueadores estivessem ali dentro? Estariam presos ali, pois não poderiam sair. Isso seria possí-vel, que ainda estivessem escondidos dentro da cidade sem que Shana-ra e seus homens os tivessem localizado? Mas isso não era problema seu, não mais. Em alguns minutos partiria de volta para os Domínios da Magia com o relatório da missão já em mãos, então poderia dormir. Se houvesse algum invasor na cidade, mesmo que esta possibilidade fosse remota e improvável, seria obrigação dos guardas da cidade o lo-calizarem. Automaticamente olhou para a torre de vigia que ficava ao lado da grande porta da cidade e tentou localizar os vigias lá em cima. Mas não os viu e isso a deixou preocupada. Duvidou que isso merecesse algum crédito, mas resolveu verificar. Cor-reu até a escada da torre e subiu os degraus com calma. A torre real-mente era muito alta, pois precisava ficar acima da muralha e do grande portão que mantinha a cidade protegida. Ao chegar ao topo da torre Shanara levou um susto; havia três vigias na torre, todos mor-tos. No chão, uma poça de sangue se acumulava sob cada um deles. ADEIGOS, ela chamou mentalmente por seu Guerreiro. Os saqueado-res ainda estão aqui dentro. Não sei por que, mas eles mataram os vi-gias… Então Shanara começou a entender o plano como se já soubesse dele há muito tempo. Agora tudo se encaixava em sua mente e ela ficou aterrorizada. Levantando a cabeça, olhou para além da grande mura-lha e enxergou um exército que se aproximava na escuridão, um exérci-to que os vigias teriam visto há muito tempo se ainda estivessem vi-vos. Estava muito escuro e eles se aproximavam sem nenhuma tocha ou qualquer coisa que pudesse alertar alguém na cidade. O ataque se-ria surpresa!

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Agora os roubos sem valor faziam sentido. Era apenas uma distra-ção. Os saqueadores estiveram se infiltrando na cidade nos últimos di-as para fazer preparativos para a invasão, era tão óbvio. Adeigos, a cidade vai ser atacada. Diga ao Mensageiro que precisamos de reforços imediatamente e reúna os outros Guerreiros aqui no por-tão. Não sei como eles vão fazer para entrar, mas precisamos manter o portão protegido… Então houve uma explosão tão forte que Shanara se silenciou. Houve um momentâneo clarão, depois o barulho ensurdecedor, poeira e por último fogo. O portão estava completamente destruído, logo a frente de Shanara. Então era isso o que eles estavam fazendo durante as noites, pensou Shanara compreendendo. Estavam instalando explosi-vos. Como ninguém percebeu antes? Mas ela não tinha tempo para se preocupar com isso agora. O exército estava muito próximo do portão destruído e logo a cidade seria invadida. Ela localizou uma trompa ao lado de um dos vigias mortos e a soprou com toda sua força, anunci-ando a toda Condarin o perigo que se aproximava. Enquanto ela descia da torre de vigia, seus Guerreiros já estavam es-perando por ela no chão, diante da porta destruída, e os primeiros sol-dados da Grande Cidade já começavam a aparecer. — Não são homens – disse Adeigos quando ela chegou ao seu lado. Shanara apertou os olhos para tentar enxergar no escuro as criaturas que se aproximavam. Eram seres esqueléticos, com três metros de altu-ra. Suas cabeças achatadas e largas, com chifres e olhos que brilhavam num tom vermelho-sangue. Os braços longos continham garras e, mesmo de onde estavam, Shanara era capaz de ouvir a respiração rui-dosa daquelas criaturas.

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— Okorrenis – disse Shanara ao reconhecê-los. ‒ Estão tentando formar a pátria de Okor aqui na cidade de Condarin. Precisamos de reforços imediatamente. Os okorrenis sempre foram inimigos de toda Gardwen, pois sempre se enfrentaram com qualquer outra criatura que andasse sobre o mundo. Foram os servos de Mon e lutaram ao lado dele todas as vezes que ele surgiu. Tanto os protetores, quanto humanos, elendurs e os falarrin jamais fizeram qualquer acordo com eles e sempre sofreram baixas quando se enfrentavam. Os okorrenis matam por prazer, são criaturas más por natureza. Após séculos de confronto e muito sangue inocente derramado, os protetores se uniram ao resto dos habitantes de Gar-dwen e iniciaram a guerra que destruiu o reino de Okor. Os okorrenis foram perseguidos em cada canto do continente e hoje, sem pátria, vi-vem escondidos nas montanhas, em grupos pequenos, apenas esperan-do que Mon retorne para auxiliá-los a formarem sua pátria novamen-te. Mas parecia que eles se cansaram de esperar por Mon e estavam agindo por conta própria, tentando tomar uma das doze Grandes Ci-dades. Os reforços que Shanara pediu jamais chegariam a tempo e ela sabia disso. Sabia que aquela seria uma terrível batalha onde certamente en-contraria a morte ao lado de seus Guerreiros. Ela era uma General da Magia com nove pingentes em seu colar, inegavelmente forte e prepa-rada para a batalha, mas estava praticamente sozinha; e um grande exército de Okor estava diante dos portões de Condarin. A batalha começou em questão de minutos e o primeiro de seus Guer-reiros encontrou a morte imediatamente. Mas isso foi muito importan-te para ela superar o choque e parar de tremer, pois precisava tomar a liderança ali, não só de seus Guerreiros, como também dos soldados da cidade. E foi isso o que fez. Realmente foi uma batalha terrível. Qua-

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tro dos seus seis Guerreiros foram mortos, assim como dezenas de soldados humanos. Shanara mostrou toda a sua fibra na batalha, to-da sua força, coragem e incrível habilidade para liderar. Mas estavam indiscutivelmente em desvantagem. Ela agüentou o máximo que pôde, até que não conseguiu mais impedir que a cidade fosse invadida. O ca-os se alastrou imediatamente. Shanara estava exausta, já sem voz alguma de tanto gritar, e muito ferida. Jamais se esqueceria daquela batalha. Jamais. Aquela batalha foi um teste e, felizmente, por um oportuno acaso do destino, ela pas-sou por ele. Isso aconteceu quando ela desmoronou em meio ao caos. Um dos okorrenis fincou suas garras em suas costas, transpassando sua armadura, transpassando seu corpo. Shanara foi capaz de enxer-gar as pontas das garras quando olhou para seu peito. Então o okor-reni a deixou para morrer. Shanara caiu de joelhos, sangrando, e soube que dali não se levantaria mais. Mas foi nesse momento que o destino sorriu para ela. Sangue e lágri-mas dificultavam sua visão, mas, quando sentiu um rápido lampejo de magia, Shanara olhou para sua frente para entender o que estava acontecendo. E ali viu um objeto que levou tempo para reconhecer. Um objeto entalhado em algum tipo de material branco. Tinha a for-ma de uma flor, composto por caule, raízes e por um botão de lírio en-tre duas folhas que se cruzavam a sua volta. Ela sabia o que era aque-le objeto. Era o Báculo-Lírio, uma das armas brancas dos Cavaleiros da Magia. E ele estava ali, diante de Shanara, oferecendo-se para ajudá-la. Shanara estendeu a mão e o segurou. A magia do báculo fluiu para seu corpo, curando-a de seus ferimentos e preenchendo-a com magia e forças para recomeçar a lutar. E foi assim, sob sua lide-rança e com o báculo em mãos, que o exército de Okor foi derrotado e se viu forçado a fugir. Shanara passou pelo teste treze anos atrás e

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desta forma tornou-se uma Amazona da Magia, não escolhida pelo Guardião, mas por sua arma branca. Elkens e Laserin atravessaram o portal de Algoz e novamente se en-contraram em um lugar completamente diferente. Sentiram a grama macia sob seus pés. Tudo a volta era cheio de plantas e flores, de uma enorme variedade de tipos, cores, tamanhos e perfumes. Um odor ado-cicado chegava às narinas de Elkens e Laserin e por um momento se esqueceram de que estavam prestes a enfrentar outro Cavaleiro da Magia. O lugar era extremamente belo e pacífico. Eles seguiram em frente pelo imenso jardim. Árvores enormes estendi-am-se à frente deles, todas cobertas por flores magníficas. O céu bran-co dos Domínios da Magia era quase imperceptível em meio a tantas cores. Mas Elkens e Laserin mal deram muitos passos quando algo final-mente aconteceu. Elkens percebeu que alguma forma de magia estava se manifestando, então fez sinal para Laserin parar. Uma energia in-color surgiu diante deles e aos poucos foi tomando a forma difusa de uma mulher, onde era apenas possível ver o seu vulto flutuando à frente deles. — Sou Shanara, Amazona da Magia, protetora do jardim de Briluem e do terceiro portal. Laserin assustou-se ao ouvir isso, mas Elkens a acalmou: — É só uma mensagem mágica. Shanara está longe daqui. O vulto continuou a falar. A voz doce saía quase como uma canção. — Serão punidos com a morte por profanarem o meu jardim. — Vocês é que profanaram os Domínios da Magia! – Elkens a en-frentou. – Vocês Cavaleiros que trouxeram a maldade para cá e suja-ram a Magia. Antes que você nos mate, será castigada pelo seu colar.

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O vulto mexeu-se, inquieto. Elkens achou que o vulto iria desapare-cer, mas ele ainda disse algo antes que isso acontecesse: — Eu permitirei que vocês vivam mais um pouco. Quero que cheguem até aqui para que eu possa enfrentá-los pessoalmente. Receberão o castigo pelo que fizeram com Káfka e Algoz. Então o vulto finalmente desapareceu, deixando-os mais uma vez so-zinhos. Mas algo que Elkens disse o deixou pensativo. Ele disse que Shanara seria punida pelo seu colar e isso realmente era verdade. Um protetor é punido pelo próprio colar quando começa a usar magia para o mal, mas isso já deveria ter acontecido aos Cavaleiros da Magia por terem se aliado à Mon. Os Cavaleiros já haviam se declarado como inimigos, então por que ainda não foram punidos? Com um aperto no peito, Elkens se lembrou de algo que parecia ter ouvido há muito tem-po: “Logo estaremos independentes de nossos colares, pois nosso poder fluirá em nosso sangue…”. Isso foi dito por Mudriack, no dia em que o Feiticeiro criou um Fogo da Magia para prender Elkens e os outros assim que deixaram o vilarejo Rismã. Será que isso era verdade? Pode-riam os Cavaleiros ter encontrado um modo de enganar seus colares? Mas logo Elkens percebeu que isso talvez não fosse verdade. Lem-brou-se das lutas contra Káfka e Algoz e percebeu que em momento algum os dois usaram seus colares. Lutaram apenas usando suas ar-mas brancas, o que significava que estavam evitando ao máximo usa-rem seus colares. Estavam com medo de serem punidos! — Vamos, Laserin – Elkens chamou-a e recomeçaram a andar. – Pre-cisamos seguir em frente. Laserin deu apenas dois passos antes de chamar o Sacerdote: — Elkens… ‒ ela levou um breve momento para formular a pergun-ta: – Como iremos enfrentar Shanara?

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Elkens não sabia o que responder. Ele não tinha mais seu colar e a garota perdeu seu cristal. Elkens torcia para que Meithel chegasse lo-go, mas não podia ficar esperando por ele. Meithel já se atrasou muito e Elkens começava a temer que algo pudesse ter acontecido ao seu amigo. Sabia que ele não podia ter sido ferido, graças ao colar de Mor-ton que estava com ele, mas temia que algo tivesse dado errado no plano, por isso não podia ficar esperando por ele. A cada passo que davam, muitas flores diferentes apareciam, cada vez mais belas. O jardim de Briluem brilhava intensamente com suas flo-res maravilhosas, uma exuberante demonstração de vida.

Arkas… Arkas, já estou aqui. Mifitrin chamava o Mensageiro Arkas mentalmente com a telepatia. Se Arkas estivesse dentro dos Domínios do Tempo ele viria buscar Mi-fitrin imediatamente. Ela já estava no portal paralelo que fica no Ter-ritório das Feras, apenas aguardando que o Mensageiro viesse para levá-la através do portal. O vento estava soprando forte, levantando uma tempestade de areia; apesar de tudo Mifitrin estava feliz. A sensação do vento batendo em seu rosto era a melhor sensação do mundo. Pouco mais de um minuto se passou até que Arkas finalmente se materializou diante da Guerrei-ra. — Que bom vê-la, Mifitrin – ele a cumprimentou. – Como foi com os elendurs? Mifitrin apenas balançou a cabeça num gesto negativo, mas não disse nada. Arkas não soube o que dizer, apenas colocou uma das mãos so-

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bre o ombro de Mifitrin e juntos entraram nos Domínios do Tempo. Era muito bom estar de volta, estar de novo no lugar que podia cha-mar de casa. Apesar de ela ter ficado pouco tempo fora, sentiu-se in-crivelmente bem por estar pisando naquele solo mais uma vez. — Onde está Manjourus? – perguntou Mifitrin ao amigo, referindo-se ao seu tutor. – Preciso conversar com ele e pedir autorização para ir até os Domínios da Magia ajudar Elkens e os outros. — Sinto muito, Mifitrin, mas creio que agora não seja possível falar com seu tutor. Ele está em Convocação Elementar. — Foi feita uma nova convocação? – perguntou ela surpresa. Arkas confirmou: — Desde que vocês descobriram em Buor que os kenrauers estão se multiplicando, os sábios dos Elementos se reúnem constantemente. Como você sabe, Kalimuns está aqui, mas há outros protetores da Al-ma também, inclusive Sáturan, o Guardião da Alma. Mifitrin ficou curiosa. — O que eles estão discutindo agora, você sabe? — Sei muito pouco – Arkas respondeu. – Como Mensageiro, estou ajudando a vigiar os portais, por isso preciso avisar constantemente aos membros da convocação o que está acontecendo. Assim eu fico sa-bendo um pouco do que estão dizendo, mas apenas o mínimo. Partici-po parcialmente da Convocação Elementar. Mifitrin olhou em direção ao Palácio do Guardião, que fica no grande paredão de pedra que é a fronteira dos Domínios do Tempo. Cascatas de água caiam a cada lado da porta de entrada, e uma comprida ponte de pedra era a única coisa que se permitia atravessar o rio e chegar até o palácio. Era para lá que Mifitrin iria.

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Os quatro Sábios do Tempo: Cronos, Taiglin, Morpheus e Linus; Ta-randil, o protetor das Esferas; Manjourus, General do Tempo; Kan-tus, Mestre do Tempo; O Mestre da Alma Nai-Kalimuns; Nai-Sáturan, o Guardião da Alma, além de alguns Magos do Tempo e da Alma e alguns Cavaleiros também dos dois Elementos. Estes são to-dos os que se encontram em Convocação Elementar neste momento, dentro do Palácio do Guardião do Tempo, um Guardião que ainda não havia sido escolhido para subir ao trono. O Sábio Cronos é quem tinha a voz agora: — Como Arkas nos contou, toda a magia que protegia o lago Lushi-zar foi morta, desapareceu. O portal principal para os Domínios da Magia já não existe mais. — Os Elementos da Vida foram criados para viver juntos. Nem o Tempo nem a Alma irão resistir por muito tempo ‒ dizia Sáturan, o Guardião da Alma. – Ambos irão morrer caso a Magia não seja liber-tada. Um curto silêncio foi feito, mas logo foi quebrado por Taiglin: — E quanto aos que partiram para os Domínios da Magia? Quais são as últimas notícias que temos deles? — Já faz algum tempo que não consigo sentir o meu Sacerdote, Nai-Elkens – disse Kalimuns pesaroso. – Não sei o que pode ter aconteci-do… Ouviu-se um forte estrondo e as portas do palácio foram escancara-das. Todos olharam para ela e viram Mifitrin, que vinha andando a passos firmes em direção a eles. Mifitrin esqueceu-se completamente das boas maneiras e não saudou sequer Sáturan, o Guardião da Alma, a pessoa mais importante da convocação.

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— Elkens e Meithel já conseguiram entrar nos Domínios da Magia! – ela disse. – Fui avisada há pouco tempo de que Elkens já estava nas Montanhas Gêmeas. Um murmúrio percorreu entre os presentes, até que a voz de Manjou-rus se sobressaiu à dos demais: — Mas se eles conseguiram entrar, quer dizer que foi possível uma li-gação dos Domínios da Magia com Gardwen? — Sim – respondeu Kalimuns contente. Ele também ficou surpreso em saber que Elkens e os outros já tinham ido tão longe. – Então isso significa que a Magia não está mais afastada de Gardwen e, conse-qüentemente, do Tempo e da Alma. Sáturan levantou uma mão e todos se calaram, ansiosos para ouvir o que ele tinha a dizer: — Se eles realmente conseguiram entrar por um portal paralelo, pode ser que a Magia tenha conseguido se libertar! — O que quer dizer, Guardião? — Não há sequer um vestígio de magia no lago Lushizar, isso quer dizer que há uma pequena chance de o portal principal ter sido trans-ferido para o portal paralelo nas Montanhas Gêmeas. — Mas se há um novo portal principal para os Domínios da Magia – começou Manjourus excitado – então estamos salvos. — Não exatamente – disse Cronos não tão contente como o outro. – O mal que foi feito dentro dos Domínios da Magia foi enorme. Preci-saremos de tempo para descobrir quais serão as conseqüências… Ninguém disse nada por algum tempo, então Mifitrin aproveitou para dizer o que queria: — Se o portal realmente passou para as Montanhas Gêmeas, quer di-zer que podemos entrar. Devemos ir até lá e enfrentar os nove Cava-leiros!

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— Não! – exclamou Manjourus seriamente para sua pupila. – Pen-sei que já tivéssemos esclarecido isso, Mifitrin. Já lhe disse que não podemos lutar… — Como não? – perguntou ela irritando-se. – O mal está vindo de dentro de um dos três Elementos da Vida. Como não podemos lutar? Manjourus abriu a boca para responder, mas Kalimuns fez um leve sinal para que ele se calasse. Manjourus podia ser o tutor de Mifitrin, mas não a conhecia tão bem quanto Kalimuns, por isso ele interferiu com sua voz calma: — Mifitrin, não sabemos nada do que está acontecendo dentro dos Domínios da Magia. Sabemos apenas que é o poder de Mon que está se manifestando lá dentro e também chegamos à conclusão de que os Cavaleiros realmente estão corrompidos e agindo sob ordens dele, mas mesmo assim não podemos entrar lá e enfrentar os Cavaleiros da Ma-gia. Se isso acontecer, Elemento estará lutando contra Elemento. En-tende o que quero dizer? Podemos estar antecipando a Guerra Ele-mentar, a que Mon quer causar e a que queremos evitar a todo custo. Não podemos correr este risco. — Mas é preciso… – começou Mifitrin quase entrando em desespero; sua voz já estava falhando. – Elkens, Meithel, Gauton e Laserin es-tão lá dentro agora e nem ao menos sabemos se eles estão vivos. Eu vim até aqui para avisar que nem Roldur nem Emeldis concordaram em se preparar para a guerra e vir pedir ajuda para os Elementos. En-tendem o que quero dizer? Tudo depende de nós agora, pois nenhuma das raças livres de Gardwen suportará o poder de Mon. Se vocês que-rem ficar aqui então fiquem, mas eu estou indo ajudar Elkens e os ou-tros… Mifitrin deu às costas para todos que estavam na Convocação Ele-mentar e seguiu a passos firmes em direção à saída do palácio. Mas

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antes que chegasse à porta, Manjourus, seu tutor, se levantou e gri-tou com sua Guerreira: — MIFITRIN! A Guerreira parou imediatamente, atônica, sem sequer se virar para encarar seu General. — Você não irá a lugar algum. Eu te proíbo de deixar os Domínios do Tempo. Se ainda assim você ousar me desobedecer e seguir para os Domínios da Magia, terei de mandar Guerreiros atrás de você para que seja capturada e punida. Mal puderam ouvir o que Mifitrin disse a seguir, pois sua voz havia quase desaparecido: — Mas Elkens está lutando… — Tanto Elkens quanto Meithel são Sacerdotes, não são treinados com o intuito de lutar, por isso não podemos proibir que permaneçam lá – explicou Cronos, um dos quatro Sábios do Tempo. – Mas espera-mos que eles se lembrem disso e não ousem enfrentar os nove Cavalei-ros, pois como Sacerdotes eles devem saber o risco que isso pode signi-ficar para todos os Elementos. Como Sacerdotes eles podem permane-cer lá e tentar ajudar a Magia da forma que puderem, desde que não entrem em luta alguma. “Mas quanto a você, Mifitrin, é uma Guerreira, treinada para lutar, portanto está proibida de ir ajudar Elkens e os outros”. Mifitrin ficou parada por alguns segundos, ainda de costas para os presentes. Sentiu-se terrivelmente mal, inútil por não poder ir ajudar Elkens. Passado alguns segundos em que ela lutou desesperadamente para não atirar sua raiva contra seus superiores, atravessou a grande porta a sua frente e saiu sem dizer mais nada.

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Elkens e Laserin caminharam por um bom tempo pelo jardim de Bri-luem. A cada passo que davam ficavam ainda mais maravilhados com sua diversidade de flores. Laserin gostava de flores. Ela se lembrava de quando Baldor lhe trazia flores que encontrava pelos bosques que cercavam o vilarejo de Rismã, mas Laserin brigava com ele. Brigava com ele porque não gostava de ver as flores morrendo, e foi então que Baldor passou a levar Laserin até as flores, sem colhê-las. Aquele jar-dim lhe trazia lembranças felizes dos dias que passou com seu velho amigo em Rismã. Elkens, como um Sacerdote da Alma, também apreciava as flores, as-sim como qualquer forma de vida. Aquele não era um jardim comum, ele logo percebeu. Ali se encontravam flores que cresciam em todas as partes de Gardwen e ele ficava cada vez mais encantado com o que via. Alguns minutos depois eles finalmente chegaram a uma parte do jar-dim onde não havia mais árvore alguma, nem mesmo outro tipo de planta. A única coisa que havia era um belo gramado, que se estendia por uns quarenta metros até que as árvores e plantas novamente sur-giam. — O jardim acabou? – perguntou Laserin. — Não – respondeu Elkens apontando para o outro lado do grama-do, onde o jardim continuava. Elkens olhou mais atentamente para o gramado, mas ainda não conseguiu entender por que ele estava no meio do jardim. Em meio a tantas diversidades de flores, o que um gramado como aquele estava fazendo ali, por mais bem cuidado que fosse? O gramado não deixava de ser bonito, mas era insignificante perto de tudo o que eles já haviam visto por ali.

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Mas eles logo voltaram a andar sobre o gramado, sem pensar mais nisso. Estavam mais preocupados com Shanara; não teriam chances contra a Amazona da Magia caso ela resolvesse lutar com eles, mas isso já parecia inevitável desde o primeiro contado que tiveram com a protetora daquele jardim. De repente Elkens sentiu algo prendendo-se em seu pé e olhou para baixo, então finalmente compreendeu o significado daquele gramado. Não era um gramado comum. — Laserin, precisamos correr! Ele segurou a garota pelo braço e começou a puxá-la o mais rápido que podia em direção ao outro lado. O gramado, que até então parecia apenas parte do jardim, agora crescia rapidamente como cipó, pren-dendo-se em seus pés e tentando segura-los. — O que é isso? – perguntou a garota assustada. — Não é grama – respondeu Elkens ainda correndo. – É um canteiro de limíceas. Não é a toa que está aqui, pois tem a fama de ser uma das flores mais belas que crescem sobre o território de Gardwen. Mas ela precisa se alimentar de magia para florescer… Elkens nem precisou terminar de falar. Laserin já havia entendido e começou a correr ainda mais rápido. Enquanto corriam, arrebentavam as frágeis limíceas que tentavam se prender aos seus pés. Logo Elkens passou a sentir um odor adocicado chegar às suas narinas e um segun-do depois começou a se sentir sonolento. — Tampe o nariz, Laserin – ele advertiu. – O odor das limíceas é ve-nenoso. A garota obedeceu. O canteiro não era muito longo e logo estavam na metade dele, mas agora começavam a sentir os efeitos da planta, e tanto o Sacerdote quanto a garota de Rismã eram afetados.

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Os olhos de ambos estavam ardendo e lacrimejando e mal conse-guiam deixá-los abertos. Mesmo tentando proteger os olhos com o bra-ço, sem enxergar nada, Elkens continuava correndo às cegas, ainda puxando Laserin pelo braço. Estavam perdendo os sentidos rapida-mente e não havia nada que Elkens pudesse fazer sem o seu colar. Rapidamente os efeitos foram se agravando. Elkens mal conseguia sentir suas pernas que agora relutavam em correr. De repente percebeu que Laserin havia caído no chão logo atrás dele, então voltou para ajudá-la. Estava inconsciente e as limíceas passaram a se prender em seu corpo com grande velocidade. Elkens fazia o que podia para aju-dá-la, mas arrebentar as plantas não era o suficiente. Elas eram mui-tas e ele não podia ser tão rápido. Logo ele também estava sendo preso pelas plantas que cresciam e se prendiam em seu corpo. Sentiu-se muito fraco e não demorou para que ele perdesse os sentidos também, então caiu adormecido sobre o canteiro de limíceas, que aos poucos envolveu todo o seu corpo. Os dois corpos tombados logo desa-pareceram, sendo engolidos pelo jardim… Meithel estava correndo dentro de uma das inúmeras cavernas de Al-goz. Com os consecutivos terremotos que aconteceram, várias partes da caverna haviam desmoronado, e Meithel não conseguia encontrar a saída. Desde que estava no Templo dos Cavaleiros conversando com Gauton não houve mais nenhum terremoto. A batalha havia acabado, mas Meithel quase não conseguia acreditar que Elkens fosse o vence-dor. Atrasou-se demais para vir ajudar Elkens e Laserin e não se per-doaria se alguma coisa tivesse acontecido aos dois. Ele utilizava seu colar para conseguir luz e tentar abrir uma saída se-gura, mas não conseguia. Por mais que tentasse, não conseguia abrir uma saída direta da caverna e por duas vezes suas tentativas quase o

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mataram, pois ele acabou provocando novos desmoronamentos. Com raiva, ele guardou seu colar; teria de encontrar uma saída sem auxílio de magia. Mas foi então que percebeu: quando foi guardar seu colar sob as vestes, o colar de Morton não estava mais ali. Meithel perdeu o colar de Morton e não sabia como. Por um momento pensou que fosse Gauton quem roubou seu colar, mas não era. Meithel se lembrava de ter atravessado o primeiro portal com ele. Mas então como foi que ele perdeu o colar ancestral? Não po-dia se perdoar por isso. O colar era a única esperança que eles tinham de passar pelos Cavaleiros e agora Meithel o havia perdido. Elkens fi-caria com raiva dele por isso, e com razão. Meithel estragou tudo. Mas também não tinha tempo para procurá-lo; precisava seguir em frente sem a proteção deixada por Morton.

Kalimuns encontrava-se agora na Floresta Eterna, onde estavam as imensas árvores milenares, cujos troncos só podem ser abraçados por dez homens e cujas copas atingiam alturas infinitas. Ele sempre vem aqui, pois raramente os protetores do Tempo vão até a floresta, o que a torna o lugar ideal para quem procura ficar sozinho. Assim, a flores-ta é também o lugar ideal para se encontrar com Morton em segredo. Haviam dado uma trégua na Convocação Elementar até que alguém conseguisse alguma nova informação ou algo importante para se dis-cutir. Kalimuns estava exausto, pois era a primeira trégua em mais de vinte e três horas de reunião. Discutiram muitas coisas importantes e chegaram a várias conclusões, mas tudo dependia do que estava acon-tecendo nos Domínios da Magia e das respostas que Elkens e Meithel

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pudessem trazer. Enquanto isso não acontecesse, não havia muito a ser feito. Morton estava parado ao lado de Kalimuns, e sorria. — Como consegue ficar tão tranqüilo, Morton? – perguntou Ka-limuns que estava muito nervoso. – As coisas não estão seguindo exa-tamente como você planejou. — Engana-se, meu velho amigo. As coisas estão seguindo exatamente como planejei. Kalimuns olhou para Morton. Ainda achava incrível poder estar fa-lando com seu amigo mesmo depois de sua morte. Na verdade não es-tava falando com ele, pois Morton já não vivia mais. Era apenas um reflexo, uma lembrança. Kalimuns tinha conhecimentos do feitiço que Morton utilizou para fazer isso, um instante antes de morrer, quinze anos atrás. Kalimuns acreditava que Morton foi o primeiro a executá-lo desde os protetores ancestrais. Este feitiço estava descrito no per-gaminho de Rovenus, um antigo pergaminho contendo feitiços secre-tos que Morton levou anos para encontrar, realizando a façanha que gerações mais gerações de protetores não foram capazes de concluir. Este pergaminho relatava, entre tantas outras coisas, um meio de en-ganar a morte, confundindo o tempo em que o individuo se encontra. Era um feitiço que envolvia os três Elementos da Vida, uma junção da Alma, Magia e Tempo. Enquanto a alma de Morton permanecesse em Gardwen, mesmo sendo numa nova reencarnação, Morton também poderia permanecer, quase como se realmente estivesse vivo. Isso irá perdurar até que a alma de Morton volte a abandonar o mundo corpó-reo ou até que o feitiço seja quebrado de alguma forma. Seja lá em qual ser a alma de Morton havia reencarnado alguns dias atrás, en-quanto este ser continuasse vivo a lembrança de Morton também per-maneceria ao lado de seu amigo.

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— A Convocação Elementar está em recesso até que alguém descu-bra algo novo que mereça ser discutido – disse Kalimuns. – Acha que eu devo liberar mais algumas informações? Morton sorriu e Kalimuns sabia o motivo. Tudo estava girando exclu-sivamente em torno deles, dependendo do que eles faziam e do quanto estavam dispostos a contar. Mesmo que fosse em segredo, tudo o que estava acontecendo já foi discutido entre Morton e Kalimuns inúme-ras vezes. Morton respondeu com sua voz suave: — Não. Vamos deixar que eles procurem mais um pouco. Logo vão descobrir que não podem fazer nada. Tudo depende do que está acon-tecendo nos Domínios da Magia. Kalimuns não disse nada, apenas consentiu e olhou para seu amigo. Levou um certo tempo, mas então percebeu que havia algo diferente em Morton desde a última vez que eles conversaram. — O seu colar…? – perguntou Kalimuns assustado. Morton estava usando o seu colar anil pendurado sobre o peito, o mesmo colar que Kalimuns sabia que ele tinha entregado para Mifi-trin e ela, por sua vez, para Elkens. O colar ancestral da proteção es-tava novamente com seu antigo dono. — Por que o colar está com você? – perguntou Kalimuns perplexo. – Quer dizer que ele não está mais protegendo o Elkens? — Na verdade – começou Morton ainda calmamente – este colar es-tava com Meithel – o Mago ainda sorria. – Apenas resolvi pegar de volta o que já me pertenceu. — Mas por quê? Eles não terão chances de passar pelos Cavaleiros da Magia sem a proteção do seu colar… — Meu colar não poderá protegê-los para sempre, Kalimuns – Mor-ton havia deixado de sorrir agora, como se pensasse nas coisas terrí-veis que ainda aconteceriam. – Eles têm que passar por isso. Precisam

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passar por isso para que estejam preparados para enfrentar Mon quando a hora chegar. A guerra contra os Cavaleiros da Magia, por mais terrível que seja, não passa de um teste preparatório para o que eles realmente enfrentarão. Kalimuns sempre foi o amigo mais próximo do Mago Morton, mesmo sendo protetores de Elementos diferentes. Os dois sempre agiram jun-tos e fizeram os planos juntos, porém, Kalimuns muitas vezes não conseguia entender as verdadeiras intenções por trás dos atos e pala-vras de Morton. Ele tem conhecimento de tudo o que está acontecen-do, do quanto um passo em falso pode pôr tudo a perder, e por isso mesmo não consegue entender o motivo da alegria de Morton. — Morton – chamou ele após alguns segundos, assumindo um tom de voz que indicava uma conversa mais séria. – Não sei até quando pos-so confiar em você. Será que não percebe que as coisas estão fugindo do seu controle? Você sempre disse, desde o início, que precisava de três Sacerdotes nos Domínios da Magia, um de cada Elemento. Há somente Elkens e Meithel lá e ainda não surgiu nenhum Sacerdote do Tempo. A Elemantísses não irá acontecer se ele não aparecer… — Ele aparecerá – disse Morton ainda calmamente, a mesma calma que Kalimuns não conseguia compreender. – Tudo em seu tempo, meu caro amigo. — Não sei se você percebeu também, mas Mifitrin é uma Guerreira agora, não é mais uma Sacerdotisa e, além do mais, ela está detida aqui nos Domínios do Tempo. Ela não irá ajudar o Elkens… Morton sorriu mais uma vez. — Ela irá, Kalimuns, ninguém conseguirá detê-la. Mifitrin irá aju-dar Elkens assim que chegar a hora. E falando em Elkens, ele está precisando da sua ajuda neste momento. Você precisa ajudá-lo, Ka-limuns, uma última vez…

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Dizendo isso, Morton desapareceu, deixando que Kalimuns fizesse o que devia ser feito. — Elkens, acorde! Tudo estava escuro. — Acorde Elkens. Vamos, acorde. Elkens tentou abrir os olhos, mas não conseguiu. Não fazia idéia de onde estava, mas tinha a impressão de que alguém estava chamando por ele. — Você precisa acordar Elkens, não pode se entregar… Assim que Elkens reconheceu a voz que chamava por ele, toda verda-de atingiu-o de repente. Ele abriu os olhos e se lembrou de tudo. Não conseguia se mexer, pois vários tentáculos de limíceas prendiam seu corpo. Estava completamente preso nas plantas do jardim de Briluem. — Senhor Kalimuns? – perguntou ele com a voz muito fraca. Seu tu-tor veio para salvá-lo. Um pilar de luz rubra pairava no ar diante de Elkens. No interior do pilar estava Kalimuns. Do mesmo modo que Elkens pode utilizar o feitiço Invocar Tutor para falar com seu tutor, Kalimuns também po-de utilizar o feitiço inverso, Invocar Pupilo. Mas tudo não passa de uma magia de comunicação, tanto auditiva como visual, embora am-bos estejam em lugares distintos. Nos Domínios do Tempo a única coi-sa que Kalimuns via era Elkens no interior de um pilar de luz rubra, assim como Elkens o via. — Elkens, você precisa se soltar – disse Kalimuns. Desculpe senhor, mas não posso fazer isso. Meu colar não existe mais. Kalimuns emudeceu-se com a notícia, mas logo se recuperou, pois não queria deixar se pupilo ainda mais decepcionado e sem esperanças.

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— Elkens – disse ele com calma – desde quando você precisa do seu colar para utilizar magia? Aquela pergunta pegou Elkens de uma forma inesperada. Não sabia explicar como, mas sabia quer era verdade. — Eu sei, Elkens, que você já despertou esse poder. Eu senti quando você foi capaz de executar esse tipo de magia que não vem nem de vo-cê nem do seu colar. Era verdade. Kalimuns estava falando daquela misteriosa energia verde que emanou do corpo de Elkens nas duas vezes em que ele esta-va prestes a ser morto pelos Cavaleiros da Magia: da primeira com Káfka, que o fez adquirir forças e se levantar e, na segunda, contra Algoz, que além de lhe dar forças para se levantar, ainda o fez conju-rar uma Mundus Solven mesmo sem colar. — Por mais que eu possa te ver Elkens, te aconselhar, você sabe mui-to bem que não estou aqui. Estou nos Domínios do Tempo, muito lon-ge de você e não posso utilizar nenhuma magia para te ajudar. Você terá que se salvar sozinho. Elkens tentou se mover, mas não conseguiu; estava realmente preso. Com o pouco que podia ver, ele percebia o quanto o canteiro de limí-ceas havia se transformado no período em que ele ficou desacordado. Tudo o que antes parecia um belo e inofensivo gramado, agora havia se transformado num canteiro de grandes tentáculos cheios de espi-nhos, que continuavam sugando a magia de seus corpos e se fortale-cendo. Alguns botões de flores já apareceram em torno de Elkens e Laserin e elas desabrochavam a medida que em que os dois enfraque-ciam. Quando as flores atingissem o auge de sua beleza, Elkens e La-serin estariam mortos. Elkens continuava lutando, mas realmente não conseguia. Os tentá-culos verdes o apertavam cada vez mais enquanto tentava se soltar,

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cortando-o com os espinhos pontiagudos. Ele não conseguia se deci-dir se as limíceas eram muito fortes ou se ele é que estava fraco de-mais. Provavelmente as duas opções eram válidas. — Sei de suas preocupações – continuou Kalimuns enquanto obser-vava a luta sem resultados de seu pupilo para se soltar das plantas que sugavam magia – eu posso senti-las quase como se fossem as mi-nhas próprias preocupações. Por isso eu sei que a maior delas diz res-peito à Mifitrin. Era verdade, mais uma vez Kalimuns lhe dizia a verdade. Elkens an-dava muito preocupado com a Guerreira do Tempo desde que se sepa-raram em Buor e sentia muita falta dela também. — Ela está aqui, Elkens. Mifitrin está segura aqui nos Domínios do Tempo. Não lhe deram permissão para que ela fosse te ajudar, mas ela está fazendo o possível para ir atrás de você. Por isso não pode se en-tregar agora Elkens, ou nunca mais a verá novamente. Não era isso o que Elkens queria. Não podia se entregar agora, Mifi-trin não o perdoaria. E foi esse pensamento que lhe renovou as forças. Uma chama se acendeu no peito de Elkens. Por um momento ele pen-sou que fosse seu colar, mas logo se lembrou que não podia ser, uma vez que ele não existia mais. Logo percebeu que não era um colar ou qualquer outro objeto, era o seu próprio coração que estava se rompen-do em chamas, quase explodindo em seu peito. Uma energia passou a percorrer por todo o seu corpo, a mesma energia que o salvou de Káfka e Algoz. Essa mesma energia voltou a surgir em seu corpo pela tercei-ra vez e ele foi se enchendo de poder e esperança. A cada segundo que passava, a energia aumentava mais e mais; esta-va se acumulando no corpo de Elkens, pronta para auxiliá-lo. Se ele quisesse se soltar das limíceas, teria de liberar toda a energia acumu-lada de uma vez.

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Enquanto a misteriosa energia verde ia se acumulando em seu corpo, Elkens pressentiu alguma outra forma de magia se manifestando à sua frente. Não era de Kalimuns, mas era uma magia que ele já conhe-cia. A magia que se materializava diante dele era de Shanara. — Você não é bem-vindo aqui ‒ Elkens ouviu Shanara dizendo para Kalimuns com sua voz doce. ‒ Vá embora! — Não posso permitir que você machuque o Elkens – disse Kalimuns enfrentando a Amazona. A magia de Shanara até então era fraca, pois não passava de um simples feitiço de comunicação, assim como o de Kalimuns. Mas de repente a magia passou a ficar mais forte; Sha-nara iria atacar! Elkens voltou a abrir os olhos nesse instante. Assustou-se com o ata-que de Shanara, mas ele não foi o alvo. Elkens viu apenas um forte clarão, mas então olhou para Kalimuns; um filete de sangue escorria por seu rosto. Elkens não sabia como, mas Shanara foi capaz de ata-car Kalimuns, mesmo ela estando nos Domínios da Magia e ele nos Domínios do Tempo. De alguma maneira Shanara conseguiu fazer o que Elkens acreditava ser impossível. Nesse momento ele sentiu uma fúria tomar conta dele, o que potencia-lizou toda a energia acumulada e a libertou de uma vez. Em um se-gundo as limíceas que prendiam Elkens passaram do verde para um marrom sem vida, e logo para o negro, até que se desintegraram e vira-ram pó. Elkens estava livre! A visão de Kalimuns desapareceu. Elkens não soube se foi de propósi-to ou se foi por causa do ataque de Shanara, mas não queria se preo-cupar com isso. O vulto de Shanara também havia desaparecido, então o importante agora era libertar Laserin e sair o quanto antes do can-teiro de limíceas.

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Porém, Laserin ainda estava presa e inconsciente no meio das plan-tas. Elkens tentou libertá-la, mas não conseguiu. Sua fúria fez com que toda a energia fosse liberada de uma única vez, esgotando-se. O desespero começou a tomar conta do Sacerdote da Alma. Ele cha-mava por Laserin, mas ela não respondia. Sabia que ela ainda estava viva, mas não sabia por quanto tempo. Dependia do quanto de magia ainda havia em seu corpo para que as plantas pudessem se alimentar. Aos poucos Elkens voltou a sentir os efeitos das limíceas: seus olhos começaram a arder e o sono voltou a tomar conta dele; seu corpo todo estava enfraquecendo. Não adiantava. Antes que Elkens conseguisse libertar Laserin estaria preso novamente e com certeza não conseguiria se soltar mais uma vez. Só havia uma coisa a fazer: precisava deixar Laserin para trás e chegar o quanto antes até Shanara. Só ela poderia salvar Laserin. Então Elkens começou a correr. Correu tão rápido que logo saiu do canteiro de limíceas, que não conseguiu mais detê-lo. Fora do canteiro correu pela continuação do jardim de Briluem, de encontro à Shanara, deixando sua preciosa e corajosa amiga para trás. Finalmente Meithel conseguiu encontrar uma saída das cavernas do segundo templo. Agora ele estava correndo entre as grandes muralhas de pedra. Estava muito preocupado, pois de algum modo perdeu o co-lar de Morton nas cavernas. Não sabia como isso havia acontecido, o colar simplesmente desapareceu, como se alguém tivesse tirado do seu pescoço enquanto ele estava distraído, procurando uma saída. Agora estava completamente desprotegido. Logo ele avistou, não muito longe, um grande arco de pedra sobre um altar. Aquele era o portal defendido por Algoz, que levaria até Shana-ra. Alegrou-se muito ao constatar que o portal estava aberto, pois com

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certeza aquilo significava que Elkens havia derrotado Algoz e se-guido em frente. Meithel sentiu um grande alívio e chegou até mesmo a sorrir, mesmo em meio a tanta preocupação. Antes de chegar ao portal ele viu os sinais da luta: fendas abertas no chão pela marreta de Algoz, assim como partes da muralha que tam-bém haviam desmoronado; logo ele viu a principal prova da vitória de Elkens: Algoz caído inconsciente no chão, ao lado de sua marreta branca. Meithel não demorou-se ali, então continuou correndo. Atravessou o portal e chegou ao jardim de Briluem, o terceiro templo. Estava perto de ajudar Elkens e Laserin…

Elkens atravessou mais um trecho cheio de árvores carregadas de flo-res e ainda continuava a se impressionar com a beleza do jardim. Logo chegou a um pequeno espaço onde não havia mais nenhuma árvore, mas as flores ainda estavam presentes. Canteiros vermelhos, azuis, amarelos, roxos, de todas as cores. Ali estavam as flores mais belas de todo o jardim, mas Elkens não deu a devida atenção a isso. No centro da pequena clareira sem árvores estava o já esperado arco de pedra so-bre o altar. Aquele era o portal protegido por Shanara, portanto ela devia estar por perto. O portal ainda estava fechado, mas Elkens não se importava com isso. Mesmo que o portal estivesse aberto ele não poderia seguir adiante, pois precisaria obrigar Shanara a salvar Lase-rin que ainda estava no canteiro de limíceas. Várias plantas trepadei-ras cresciam pelo arco de pedra, caracterizando o portal da Amazona da Magia.

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— EU ESTOU AQUI, SHANARA! – gritou Elkens sem medo. – VIM ATRÁS DE VOCÊ! Por alguns segundos nada aconteceu e Elkens não obteve resposta al-guma, mas não demorou para ele perceber que realmente não estava sozinho. Com um sorriso no rosto, Shanara saiu detrás do altar e se revelou para seu inimigo. Elkens ficou surpreso com a sua beleza e sensualidade. Os cabelos claros de Shanara caiam-lhe pelos ombros desnudos; sua pele era branca e parecia tão macia quanto seda. Sardas adornavam seu rosto, onde os grandes olhos castanhos chamavam atenção. Ela não parecia ser uma Amazona da Magia, embora não aparentasse ser tão frágil quanto queria parecer. Não usava armaduras, e sim um sensual vestido branco, todo adornado com flores. Seus cabelos tam-bém estavam enfeitados com pequenas flores e ela andava descalça so-bre seu jardim. Seu sorriso parecia ser sincero, o que deixou Elkens confuso; não era um sorriso malicioso, cheio de ódio e maldade como ele esperava. Logo ele percebeu algo estranho. Shanara não usava o colar pendura-do ao pescoço, pois não tinha nada sobre o peito, deixando o decote à mostra. Seu colar estava preso em um báculo que segurava com uma das mãos. Aquela era a sua arma branca, como Elkens logo descobriu. Seu báculo foi forjado com a forma de um caule, onde embaixo se en-contravam as raízes e no topo duas folhas entrecruzadas em torno de um botão de flor, tudo esculpido com o mesmo material branco que as demais armas brancas. O botão de flor, Elkens logo percebeu, repre-sentava um lírio; ao perceber isso ele lembrou-se da clareira que havia no Bosque da Alma, onde cresciam os lírios brancos e onde costumava treinar com Nai-Merian, tantos anos atrás.

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— Sou Shanara – Elkens ouviu sua voz doce, que saía quase como uma canção. – Amazona da Magia e estou entre os Nove Cavaleiros. Não permitirei que cruze este portal. Elkens ficou pasmo, sem saber o que pensar. Pela segunda vez se de-cepcionou com um dos Cavaleiros da Magia; primeiro foi com Káfka, a quem ele achou ser uma pessoa de bom coração assim que o viu, mas com quem também foi obrigado a lutar, e agora o mesmo acontecia com Shanara. Sua aparência, sua voz, seu modo de andar e falar, na-da combinava com o que ela dizia. Mas desta vez Elkens não hesita-ria, lutaria contra ela caso fosse atacado, mesmo sem saber como faria isso sem o seu colar. — Quer dizer que você ousou chegar até aqui para me enfrentar? – perguntou ela ainda com o seu sorriso no rosto. – Eu não queria que fosse derramado sangue em meu jardim, mas já que você ousou vir até aqui não terei outra escolha… Elkens viu quando as mãos delicadas de Shanara pressionaram o seu báculo com mais força, então ele se antecipou antes que fosse atacado: — Estou sem meu colar e não tenho condições de lutar com você, mas também não vou fugir. No entanto sei que no fundo você é uma boa pessoa e antes que me ataque, peço que me ouça: salve a minha amiga que ainda está presa no canteiro de limíceas, por favor… Shanara deixou o sorriso de lado, assumindo um tom de voz mais pe-saroso: — Não vou soltá-la. — Mas Laserin está com o cristal que vocês tanto querem! – disse Elkens tentando achar argumentos que a forçasse a salvar sua amiga. — Eu sei disso, mas não há problema algum. O cristal continuará lá e minhas limíceas não farão nada com ele. Assim que eu te derrotar,

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provavelmente as limíceas estejam completamente floridas e a garota morta, então vou até lá e pego o cristal. — Ele perdeu seus poderes! – Elkens informou. – O cristal virou pe-dra… — Eu sei disso também. Sei que vocês ousaram atacar uma arma branca com ele e por isso ele virou pedra. Mas não se preocupe, sei co-mo recuperá-lo. Enquanto falava, Shanara lentamente levantou seu báculo alguns centímetros do chão e o deixou à sua frente; estava se preparando pa-ra o ataque. Elkens percebeu em tempo de correr, mas antes que visse qualquer coi-sa, sentiu quando foi atingido pelo ataque. Foi como se uma lâmina em brasas perfurasse o seu umbigo em um segundo e ele caiu ao chão. Mas seu tombo não foi devido à dor, que não foi tão grande quanto ele esperava, foi devido à surpresa que teve com o ataque. Shanara não podia ser tão rápida assim, ele não havia dado nem dois passos. Como pôde ser atingido tão rapidamente? Ele se levantou, recuperado da dor e do susto, e encarou sua inimiga. Shanara olhava para ele com uma expressão vazia, sem qualquer sen-timento ou emoção. — Você não pode escapar do meu ataque – ela disse. – Não há como fugir ou se defender. Meu ataque não é como os demais; ele não deixa o meu báculo e vai até você, ele o atinge diretamente, sem percorrer o espaço que nos separa. Não há como se desviar dele e nenhum escudo pode bloqueá-lo, pois o ataque nem precisa passar pelo escudo. Elkens ficou sem reação. Quer dizer que não podia ver o ataque de Shanara antes de ser atingido? Mas então como teria chances de ven-cê-la? Não podia se defender de seus golpes e também não podia ata-

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car já que continuava sem colar. Realmente não tinha a menor chan-ce de vencer a Amazona. — Meu báculo tem a capacidade atacar por ligações mágicas. — Como assim? – perguntou Elkens ainda assustado, tentando man-ter Shanara falando. Mas quanto mais fazia isso, menos tempo Lase-rin tinha. — Como você deve saber, nem mesmo um Guardião pode atacar al-guém que esteja fora do Domínio em que se encontra, mas eu posso fa-zer isso. — E foi assim que atacou o senhor Kalimuns! – Elkens compreendeu. — Exatamente. Quando seu tutor estava se comunicando com você, havia uma ligação mágica entre você, que está aqui, e seu tutor, que está nos Domínios do Tempo. O ataque do meu báculo percorreu por esta mesma ligação e chegou até ele. Por mais simples que seja uma li-gação entre um ponto e outro, por mais frágil que seja, meu báculo me permite atacar por esta ligação. Eu apenas preciso me concentrar em você, estabelecendo uma ligação mágica entre nós dois, e assim você não pode se defender. Elkens e Shanara ficaram em silêncio por algum tempo. A única coisa que Elkens queria agora era que a Amazona salvasse Laserin, mas ela já deixou claro que não faria isso. Mas ele não tinha outro recurso; Shanara era sua última esperança de salvar a garota, mas ela o derro-taria a qualquer momento e ele não poderia fazer mais nada. — Por mais que você não tenha chances de me derrotar – disse ela de repente, acenando levemente seu báculo no ar – não costumo partici-par de uma batalha covarde. Não posso lutar com alguém desarmado. O báculo de Shanara brilhou por alguns instantes; Elkens teve a im-pressão de ver o botão de lírio desabrochando, por mais bizarro que is-so fosse, afinal de contas, não passava de uma flor de pedra, mas logo

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Elkens viu um colar rubro ser conjurado. Shanara segurou o colar e o atirou para Elkens, que se assustou. Aquele era o seu colar de Sacer-dote da Alma, completamente refeito e com todos os seus cinco pin-gentes que ganhou nos últimos anos. — Como fez isso? – perguntou Elkens grato enquanto analisava seu colar. – Você é capaz de regenerar um colar que foi destruído? — Não seja tolo – disse Shanara. – Até mesmo para os Guardiões é impossível fazer isso, porém, destruir um colar não é tão simples quanto parece. Algoz conseguiu destruir apenas parcialmente seu co-lar, pois ele não é capaz de destruir a magia que há nele. Eu apenas recriei o recipiente para armazenar a magia novamente. Agora – disse ela mudando seu tom de voz – prepare-se para lutar. Elkens recolocou o colar em seu pescoço no mesmo momento em que a Amazona agitava seu báculo. Pela segunda vez Elkens foi atingido sem qualquer chance de fugir. A dor que sentiu foi a mesma, a de uma lâmina em brasa perfurando seu corpo, mas desta vez foi em seu braço esquerdo. Elkens não caiu como da outra vez, pois já esperava pelo ataque e não foi pego desprevenido. Sabendo que não podia se proteger, decidiu que tinha que atacar com todas as suas forças. Tocando seu colar ele conjurou o kotetsu e seus braços foram envolvidos pela conhecida luz rubra, dando-lhe força fí-sica. Ele sabia que a Amazona podia ser muito poderosa, mas certa-mente não resistiria a um ataque direto como aquele. Se ele conseguis-se chegar perto o bastante para golpeá-la com o seu punho, a luta es-taria acabada. Ele correu o mais rápido que pôde em sua direção, preparando-se para atacá-la com toda a sua força. Mas, antes que se aproximasse muito, ela agitou sua arma branca novamente e ele sentiu a mesma dor pela terceira vez, agora no braço direito. Aquela era a confirmação de que

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nenhum escudo podia protegê-lo, pois o ataque atingiu seu braço mesmo ele estando protegido pelo kotetsu. Mas isso não foi o bastante para detê-lo e ele continuou correndo. Po-rém, quando estava muito próximo de Shanara, ela segurou o báculo com as duas mãos à sua frente e começou a girá-lo com incrível veloci-dade. Elkens mal podia enxergar Shanara detrás do borrão branco e, no segundo seguinte, sentiu uma energia invisível deixar o báculo e levantá-lo no ar, arremessando-o de costas no chão. O kotetsu foi in-terrompido, desmanchando-se em flocos de luz que se perderam no jar-dim de Briluem. Elkens se levantou e encarou sua inimiga. Shanara continuava com a mesma expressão vazia no rosto. Ele sabia que ela era poderosa, mas ainda assim seus ataques não pareciam ser grande coisa. Elkens não podia fugir ou se defender dos seus ataques, embora eles lhe pareces-sem praticamente inofensivos. Até mesmo a dor que sentia quando era atingido desaparecia em questão de segundos. — Umbigo, braço esquerdo e braço direito – disse Shanara com sua voz doce. – Você já foi atingido três vezes. Os ataques não estão lhe causando dano algum porque se trata de um ataque cumulativo. Nove ataques compõem o principal ataque do meu báculo e, assim que você receber o nono, será derrotado. Agora Elkens compreendia. Se isso realmente fosse verdade, e ele não duvidava disso, tinha pouco tempo para derrotar Shanara e obrigá-la a salvar Laserin. Mais seis ataques e ele seria derrotado. O que ele precisava fazer era separar Shanara da sua arma branca; assim ela não o atacaria mais. Mas, sem que se desse conta, Elkens a estava su-bestimando apenas pelo fato de ser mulher, e isso ainda poderia lhe custar caro.

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Ele não teve tempo de pensar em qual feitiço para usar, apenas to-cou seu colar e utilizou o primeiro que lhe veio à mente: raízes de ro-zan. Enormes raízes rubras brotaram do chão sob Shanara e a prende-ram, levantando-a no ar. — Foi assim que me senti quando estava preso pelas limíceas! – disse Elkens provocando-a. Aquelas raízes cresciam apenas dentro dos Do-mínios da Alma e desde os tempos ancestrais que os protetores da Al-ma aprenderam a controlá-la, fazendo-as surgir em qualquer lugar pa-ra ajudá-los. Apesar de presa e imobilizada pelas raízes, Shanara sor-riu. Sem qualquer palavra ou movimento, as raízes dobraram-se, colocan-do Shanara no chão com suavidade. Elkens ficou pasmo, mas Shanara continuou sorrindo e disse: — Reconheço que esse feitiço pode ser muito útil, mas não passa de um feitiço para invocar as raízes e controlá-las, mas no fundo elas não passam de plantas. Então aviso que nenhuma planta me atacará no meu jardim. Terminando de falar, Shanara voltou a agitar seu báculo. Desta vez Elkens sentiu a lâmina em brasa perfurar-lhe duas vezes consecuti-vas, em cada uma das pernas, forçando-o a se ajoelhar por um momen-to. — Você já foi atingido cinco vezes, Sacerdote. Esta luta se encerrará em breve. O kotetsu não havia dado prova, assim como as raízes de rozan. El-kens precisava pensar em alguma coisa logo. Precisava de um ataque poderoso e que não levasse muito tempo para ficar pronto. Pensou du-rante a longa pausa que surgiu na batalha; desviou os olhos do seu co-lar e olhou para Shanara, depois olhou para o arco de pedra sobre o al-tar e finalmente seu olhar se recaiu sobre as várias árvores e plantas

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que estavam circundando-os. A idéia foi imediata, como se no fundo já estivesse planejando aquilo desde que se viu no jardim de Briluem. Cada protetor conta com um dom e um sexto sentido, concedidos pelo seu Elemento regente. O protetor da Magia tem o dom de retirar ma-gia de outras fontes que estejam por perto, e tem como sexto sentido a capacidade de sentir a magia de forma mais profunda e intensa. O sexto sentido dos protetores do Tempo é a previsão, capacidade de prever certas coisa que estão por acontecer e o dom concedido por seu Elemento é o controle sobre as forças da natureza. Já os protetores da Alma, assim como Elkens, têm como sexto sentido a capacidade de se comunicar com qualquer forma de vida, seja ela encarnada ou não, e seu dom é retirar energia de outros seres vivos que estejam por perto, desde que não seja a força. E era exatamente esta habilidade que El-kens estava prestes a usar. Estando no meio de tantas plantas, Elkens pode juntar energia mais rápido do que o normal e esse é o ponto principal do seu plano. Ele caminhou alguns passos para trás e pegou um pequeno graveto que es-tava caído no chão, então voltou à sua posição inicial e passou a ris-car o chão, desenhando símbolos em sua volta. Enquanto ele desenha-va os símbolos entre os canteiros de flores, dizia: — Todo mundo tem um depósito de magia em seu próprio corpo. Essa magia, enquanto não é liberada, é considerada uma forma primitiva de magia, por isso dizemos apenas que é nossa energia, nossa energia vital. Com a devida concentração e com o auxilio de nossos colares, somos capazes de aprimorar essa energia, transformando-a em magia e assim podendo usá-la das mais variadas formas. Por fim, há várias maneiras de liberar essa magia, seja por símbolos, palavras, gestos ou mesmo pensamentos, dependendo da forma como iremos utilizar a ma-gia.

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Elkens agora já havia terminado de desenhar os devidos símbolos no chão, então fechou os olhos e segurou o colar entre as duas mãos que já estavam dispostas nas posições corretas para o que iria fazer. Len-tamente passou a elevar sua concentração; para realizar o que tinha em mente, precisaria chegar pelo menos até o quarto nível de concen-tração, o Ginden-gan. Ainda assim Elkens continuou a falar: — Mas o que pretendo usar contra você não é um simples feitiço, por isso preciso de toda a energia que seu jardim pode me ceder. O que es-tou fazendo é um ritual, o Ritual de Controle da Alma! Entre os vários rituais que um Sacerdote podia ou devia aprender, es-te era especialmente difícil de ser realizado, embora fosse muito útil. Porém, havia algo nele que o tornava mais simples que os demais: ele não necessitava de nenhum tipo de sacrifício ou de qualquer objeto ou outro item como oferenda, nem mesmo dependia de circunstâncias na-turais, climáticas ou geográficas. A única coisa que o ritual exigia era uma quantidade exorbitante de energia, além de que os dois estivessem dentro do circulo de ação, quem teria a alma controlada e quem a con-trolaria, que geralmente era o mesmo protetor que realizava o ritual. Enquanto Elkens estava concentrado na realização do ritual, reci-tando as palavras certas, acumulando energia e elevando sua concen-tração, Shanara o atacou pela sexta vez. Foi em sua garganta que ele sentiu a lâmina em brasa desta vez. Elkens não tinha muito tempo. Logo os símbolos que havia desenhado passaram a brilhar, então um grande círculo de luz rubra surgiu no chão, envolvendo ele e Shanara. O primeiro estágio do ritual estava concluído e Shanara não poderia mais fugir dali. Elkens sentiu o sétimo ataque do báculo diretamente em sua espinha, o mais doloroso até então, mas ele não se desconcentrou. Com a ajuda de cada planta do jardim de Briluem, desde a maior árvore até o me-

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nor broto, Elkens conseguiu juntar toda a energia necessária, no mesmo momento em que atingiu o Ginden-gan. O ritual estava quase concluído. Sem parar de recitar as palavras do ritual, Elkens abriu os olhos e, pela primeira vez, Shanara se assustou. Os olhos de Elkens estavam tão negros quanto o céu na noite mais escura; ela achou até mesmo que era capaz de ver o brilho das estrelas dentro de seus olhos. Era um olhar de gelar o coração e a voz que saía da sua boca agora também não era a dele. Elkens parecia um monstro. Ele sequer sentiu o oitavo ataque do báculo atingi-lo no crânio. Era agora ou nunca. Felizmente o ritual estava pronto e Elkens seria o vencedor. Assumiria o controle sobre a alma de Shanara e a obrigaria a salvar Laserin e a deixá-los em paz. Mas antes que o ritual fosse concluído, Elkens ouviu a voz doce e sensual de Shanara em seu ouvido: — A luta acabou! Ele viu o último aceno de seu báculo, então sentiu uma terrível dor no coração, como se os nove ataques o atingissem de uma única vez, en-tão perdeu a consciência e caiu de costas no jardim de Briluem, derro-tado. Tudo estava acabado. Shanara olhou com respeito para o rosto do co-rajoso Sacerdote, o primeiro que chegou a assustá-la tão profunda-mente, mesmo que por um único segundo. Agora ela o levaria até a presença de Kaiser, o Cavaleiro-Líder, e o coitado teria sua merecida punição. Mas antes de dar qualquer passo na direção de Elkens, Shanara disse: — Pode sair daí, Sacerdote. Preciso derrotá-lo logo para poder expur-gar o meu jardim. Um homem vestido de branco saiu detrás das árvores, onde esteve es-condido nos últimos segundos observando sua inimiga. Ele caminhou

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lentamente até ela, carregando o corpo de uma jovem garota incons-ciente em seus braços. — Como soube que eu estava aqui, Shanara? – o homem perguntou. — Você deveria saber que ninguém entra no meu jardim sem o meu conhecimento, Sacerdote Meithel – disse Shanara alteando o tom de voz ao finalizar a frase: – Agora prepare-se para lutar. Meithel colocou o corpo de Laserin no chão e ficou de frente para sua inimiga. — DROGA! – exclamou Yusguard com raiva, socando um dos quatro pilares de pedra que circundavam o portal do deserto Arkver. – Já faz muito tempo que eles estão lá dentro e até agora não recebemos ne-nhum sinal. — O que faremos, Yusguard? – perguntou Roeron. Ele estava mais preocupado com seu velho amigo do que com Elkens e os outros. Ele não tinha tanto conhecimento quanto Yusguard sobre os Elementos e seus protetores, já que este precisava saber um pouco disso para assu-mir o trono de Covarmen. Mas nenhum dos dois fazia idéia do mau que havia surgido dentro dos Domínios da Magia. – Os dragões estão inquietos. Eles querem voar e se alimentar… Yusguard quase não ouvia as palavras de Roeron, tamanha preocupa-ção por Elkens e os outros, somada ao ódio que sentia por seu irmão que neste momento também estava dentro dos Domínios da Magia. Yusguard precisava entrar lá a todo custo. — Deixe que vão – ordenou para o amigo. – Deixe que os dragões vão. Não iremos sair daqui enquanto não tivermos alguma notícia do que se passa lá dentro.

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Meithel estava se levantando do chão, pois acabara de receber o quar-to ataque do báculo de Shanara. — Você é um protetor da Magia, Meithel – dizia Shanara em meio a luta. – Jure lealdade a mim e aos outros Cavaleiros e talvez eu poupe a sua vida. Sei que você não participou das lutas contra Káfka e Al-goz. — Nunca farei isso, Shanara. Eu não participei das lutas contra os outros Cavaleiros porque estive ocupado, mas me arrependo de ter dei-xado Elkens enfrentá-los sozinho. Para me redimir com ele vou derro-tá-la sozinho, Shanara… Meithel mal terminou de falar e Shanara já havia agitado seu báculo, atacando-o pela quinta vez sem que ele pudesse se defender. — Sabe o que vai acontecer assim que você receber o meu nono ata-que, não sabe Meithel? — Sei Shanara, mas você se engana se pensa que vai conseguir me atacar todas as nove vezes. Meithel estava em pé novamente, após receber o ataque na perna di-reita. Tocou seu colar e rapidamente conjurou um gládio de luz bran-ca. Aquela era a sua arma conjurada. Com a grande espada em mãos, Meithel correu contra sua inimiga. Assim que estava próximo o sufici-ente desferiu o ataque, mas Shanara o deteve, segurando o gládio com o báculo. — Você realmente acreditou que sua espada fosse capaz de enfrentar o meu báculo, Meithel? – Os dois lutavam agilmente, um bloqueando o ataque do outro. Meithel dava o seu melhor, mas Shanara apenas brincava com ele, frustrando todas as suas investidas. Só por seus há-beis movimentos na arte da luta com armas já era possível perceber que ela merecia ser uma Amazona, estando acima de qualquer Guer-

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reiro ou General. – Sua espada é apenas uma fraca magia que você é capaz de transformar em arma, um simples feitiço de luz sólida. Mas assim que a magia acaba, a espada desaparece. Uma arma conjurada não é párea para uma arma forjada, ainda mais se tratando de uma das armas brancas. Ao terminar de falar Shanara empurrou Meithel para trás e, antes que ele pudesse atacá-la novamente, a Amazona desferiu o sexto ataque do báculo, atingindo sua garganta e deixando-o sem reação por um momento. Meithel se recuperou do ataque rapidamente, mas sua espada de luz já havia se desmanchado em flocos de luz. Ele olhou fundo nos olhos castanhos da Amazona, então uma lembrança o impediu de reiniciar a batalha. Ele lembrou-se de quando ainda era um Aprendiz. Faltavam dois pingentes para ele se tornar um Sacerdote, mas seus ensinamentos es-tavam cada vez mais difíceis e exigiam cada vez mais concentração, e ele não conseguia ganhar seu oitavo pingente. Os feitiços que tinha de realizar eram muito complexos, por isso levou anos para conseguir rea-lizá-los. Uma noite, após falhar na frente de seu tutor pela vigésima vez, Meithel desobedeceu às ordens de Lakar e saiu sem permissão dos Domínios da Magia, desacompanhado, indo para o lago Lushizar. Meithel gostava de ir para lá quando estava se sentindo mal, pois era raro alguém ir para lá durante a noite, e ele gostava de ficar vendo as estrelas. Ele ficava escondido no topo da árvore mais alta da pequena ilha no centro do lago. Costumava ficar lá durante horas, perdido em pensamentos. Nesta noite Meithel chorou muito e pensou em desistir de se tornar um Sacerdote. Ele estava pensando seriamente em jogar seu colar nas profundezas do lago e nunca mais voltar a aparecer ali, mas foi então

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que algo aconteceu. A árvore na qual estava encheu-se magicamente de flores e, no segundo seguinte, Shanara apareceu ao seu lado, senta-da no mesmo galho que ele. A Amazona ficou durante horas conver-sando com Meithel, lhe contando histórias e lhe dando conselhos, até que conseguiu convencê-lo a não desistir de se tornar um Sacerdote. Não foi no próximo teste que Meithel conseguiu ganhar seu oitavo pingente de Aprendiz, nem no próximo, mas a partir daquele dia, sempre que Meithel ia fazer o teste, uma bela flor aparecia para ele e Shanara lhe incentivava a continuar lutando, sem desistir. — O que aconteceu com você, Shanara? – perguntou Meithel enca-rando a Amazona. – Era uma boa pessoa, sempre foi. O que lhe fez se rebelar contra o Guardião da Magia e a todos? Você nunca desejou o poder para si mesma e sempre foi muito bondosa e justa. Não posso acreditar que esteja lutando por Mon agora… Shanara sorriu. Desta vez não era um sorriso sincero. — Desistiu de lutar, Meithel? Mas não se preocupe, acabarei logo com o seu sofrimento. A um simples aceno de seu báculo, Meithel sentiu o ataque mais dolo-roso até então, que atingiu a sua espinha. Finalmente estava se entre-gando, não iria mais lutar contra Shanara. Levante-se Meithel! Ele ouviu uma voz em sua mente. Alguém estava se comunicando telepaticamente com ele. Era Gauton. Meithel, eu estou chegando ai, por favor, não desista. Não julgue Shanara pelo o que ela era, todos sabemos que ela mudou muito. Não hesite em atacá-la… Meithel ouviu uma exclamação de dor de Gauton e no segundo se-guinte a comunicação foi interrompida. Shanara sorria mais uma vez, então Meithel entendeu que ela havia atacado Gauton através da li-

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gação mágica que havia entre os dois enquanto estavam se comuni-cando. Meithel se enfureceu. — Eu devo muito a você Shanara, pois, depois do meu tutor, você é a principal responsável por eu ter me tornado um Sacerdote. Mas eu não vou perdoá-la por isso. Você sabe muito bem que Mudriack era meu amigo, mas por culpa de vocês ele está morto agora. Muitos inocentes morreram por culpa de vocês: Calarrin, os quatro Sábios, Luftar, que não tinha nada a ver com os Elementos, além de muitos outros prote-tores da Magia que vocês assassinaram. Vocês estão ajudando Mon e por causa dele muito horror está sendo feito lá fora. Vi muitos homens morrem em Rismã e em Buor, e vocês estão contribuindo para que Mon continue com essa carnificina. Shanara cansou-se de ouvir e então atacou Meithel pela oitava vez, atingindo-lhe o crânio. Agora só restava mais um ataque e Meithel se-ria derrotado, assim como Elkens, mas ele parecia não se importar com isso. Enquanto ele falava de todo o sofrimento que os Cavaleiros es-tavam causando, seus olhos lacrimejavam. Em sua mente viu cada uma das mortes que presenciou, todas causadas graças ao apoio que Shanara e os outros estavam dando a Mon. Logo a Amazona se assustou, mais ainda do que havia se assustado com o ritual de Elkens, pois percebeu que uma estranha energia estava se manifestando no corpo de Meithel. Era uma energia verde, algo que ela jamais sentiu em toda a sua vida, nem presenciou. Era algo com-pletamente novo, diferente de qualquer tipo de magia que ela já tives-se sentido. Era algo mais puro e poderoso. Meithel continuava a falar destemidamente. Com seu medo crescente, Shanara acenou seu báculo e atacou pela última vez. Nove. Nove era o número de vezes que a Amazona atacou o Sacerdo-te. Esse era o número de vezes que qualquer um agüentou ser atacado

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pelo báculo de Shanara, mas parecia que isso finalmente havia mu-dado. Meithel não expressou dor ao receber o nono ataque, que deveria ser o último. Meithel sequer recebeu o ataque. A estranha energia ver-de que envolvia seu corpo o protegeu do último ataque da Amazona. Shanara ficou assustada por um momento, mas seu medo não era mai-or porque sabia que qualquer ataque que Meithel utilizasse contra ela seria inofensivo. — MEITHEL! Nesse momento o Sacerdote da Magia se virou para as árvores às suas costas e se surpreendeu. Gauton estava ali. Shanara também viu o Mensageiro, mas antes que o atacasse, Gauton disse: — Não precisa me atacar, Shanara. Não estou aqui para lutar com você, vim apenas trazer algo para o Meithel. Meithel olhou curioso para o Mensageiro. — Vim lhe trazer isso – disse Gauton mexendo em suas vestes e ti-rando um cristal muito semelhante ao de Laserin, mas Meithel sabia que era outro. – Esta é a quarta face do Cristal de quatro Faces. Es-pero que seja prova suficiente de que realmente estou do seu lado. Desculpe-me, mas não posso ficar para lhes ajudar. Tenho que fazer algo muito importante agora… Gauton jogou o cristal e Meithel o segurou com as duas mãos. Shanara soltou um grito de fúria ao ver a traição de Gauton, então acenou seu báculo. Gauton foi atingido pelo primeiro ataque do bácu-lo e soltou uma exclamação de dor, mas o sorriso continuou em seu rosto quando ele disse: — Você já era! Ele tocou seu colar e desapareceu ao usar o teletransporte. Shanara então voltou-se para Meithel, que segurava o tão poderoso cristal com as duas mãos. O cristal começou a brilhar de repente. Meithel sabia o

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que era, já havia visto Laserin fazer aquilo várias vezes, então olhou para Shanara e sorriu ao ver sua expressão, uma mistura de me-do e ódio. — Como eu disse Shanara, vou te derrotar! O cristal brilhava ameaçadoramente, brilhando mais a cada segundo e acumulando uma grande quantidade de magia. — PÁRE! – gritou Shanara realmente muito assustada, balançando freneticamente seu báculo sem nenhum resultado. Então Meithel gritou e liberou toda a energia acumulada pelo cristal, disparando-a contra a Amazona. Ela segurou o báculo à sua frente e passou a girá-lo na tentativa de bloquear o ataque, mas era impossível deter tamanho poder. Shanara foi atingida em cheio e jogada vários metros atrás, caindo de costas sobre um dos canteiros de flores, já in-consciente. Seu báculo girou no ar e caiu ao seu lado, fincando-se no chão. Agora só restavam seis Cavaleiros! O cristal nas mãos de Meithel se transformou em pedra também, assim como aconteceu com o cristal de Laserin. Ele sabia que este era o cas-tigo por atacar uma arma branca. Mas não se importou com isso. Cor-reu até Elkens e Laserin, então tentou reanimar o Sacerdote da Alma. Elkens logo acordou. Meithel conhecia os pontos vitais em que preci-sava bombear magia para reanimá-lo do ataque do Báculo-Lírio; a própria Shanara lhe ensinou isso tantos anos antes. Elkens Estava muito fraco, mas ainda assim conseguiu se levantar. Ficou feliz em ver Meithel e ainda mais feliz em ver Shanara caída a um canto. Os dois caminharam vagarosamente até o corpo da Amazona, então pe-garam seu colar e o usaram para abrir o terceiro portal que dava aces-so ao quarto templo e ao quarto Cavaleiro da Magia. Com o portal aberto, eles se viraram para o corpo de Laserin no chão, então Meithel disse:

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— Ela ficará bem aqui. Normalmente só os Cavaleiros da Magia passam por aqui, então acho que não haverá nenhum inimigo. Shana-ra também não irá se recuperar tão cedo… — O que está querendo dizer, Meithel? – Elkens perguntou. — Quero dizer que Laserin ficará bem aqui, estará mais segura. Não podemos arriscar a vida dela levando-a conosco enquanto enfrentamos os demais Cavaleiros da Magia. Ela já foi muito além do que qualquer um poderia exigir dela. Vamos deixá-la de fora desta guerra daqui em diante. Elkens meditou por um momento, mas logo concordou que a opção de Meithel era a mais prudente. Após olhar uma última vez para o rosto da jovem Laserin, Elkens atravessou o portal, sendo seguido de perto por Meithel. Estavam juntos agora e Elkens estava mais confiante. Acreditava que podiam ir mais longe agora. Estou chegando Kam, pensou Meithel ao ir de encontro ao quarto Cavaleiro da Magia. Estou aqui, meu amigo…

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