24
relatório Sacrário do Santo Lenho Santa Casa da Misericórdia de Proença-a-Nova estudo laboratorial e de intervenção de conservação e restauro coordenação científica: Mercês Lorena (conservadora-restauradora, DCR) Vanessa Antunes (bolseira de doutoramento SFRH/BD/37929/2007 e investigadora do projecto PTDC/EAT- HAT/100868/2008) equipa técnica: Ana Cardoso (bolseira do projecto PTDC/EAT-HAT/100868/2008) Ana Fryxell (bolseira de investigação SFRH/BGCT/33598/2009) Ana Mesquita e Carmo (física, LCR-JF) Carlos Marques (bolseiro de investigação, DCR-FCT) Maria José Oliveira (física, LCR-JF) Luís Piorro (fotógrafo, LCR-JF) Sónia Costa (bolseira do projecto PTDC/EAT-HAT/115692/2009) Luís Dias (bolseiro do Laboratório HERCULES / Universidade de Évora) O Director do DCR: José Maria Amador O Director do LCR-JF: António Candeias

Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

  • Upload
    dohanh

  • View
    230

  • Download
    9

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

relatório Sacrário do Santo Lenho Santa Casa da Misericórdia de Proença-a-Nova

estudo laboratorial e de intervenção de conservação e restauro coordenação científica: Mercês Lorena (conservadora-restauradora, DCR)

Vanessa Antunes (bolseira de doutoramento SFRH/BD/37929/2007 e investigadora do projecto PTDC/EAT- HAT/100868/2008)

equipa técnica: Ana Cardoso (bolseira do projecto PTDC/EAT-HAT/100868/2008)

Ana Fryxell (bolseira de investigação SFRH/BGCT/33598/2009) Ana Mesquita e Carmo (física, LCR-JF) Carlos Marques (bolseiro de investigação, DCR-FCT) Maria José Oliveira (física, LCR-JF) Luís Piorro (fotógrafo, LCR-JF) Sónia Costa (bolseira do projecto PTDC/EAT-HAT/115692/2009)

Luís Dias (bolseiro do Laboratório HERCULES / Universidade de Évora)

O Director do DCR: José Maria Amador O Director do LCR-JF: António Candeias

Page 2: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

1

Índice

1. Identificação 2

2. Apreciação sumária do objecto à vista desarmada e exames de área 3

3. Diagnóstico do estado de conservação 5

4. Análise laboratorial dos materiais constituintes 7

5. Intervenção de conservação e restauro efectuada 19

Page 3: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

2

Fig.1 e 2. Imagem geral do sacrário, com as portas fechadas e abertas respectivamente.

1. Identificação

Sacrário do Santo Lenho

Autor: Jorge da Mota

Santa Casa da Misericórdia de Proença-a-Nova

Data/Época: 1604 1

Dimensões.620 x 295 x 170 cm

Assinatura/ inscrições: IHS no frontão triangular

1 Cf. Vítor SERRÃO, A Pintura Proto-Barroca em Portugal, 1612-1657. O triunfo do naturalismo e do

tenebrismo, tese doutoral, 2 vols., Universidade de Coimbra, 1992, vol. I, pp. 657-658 (Doc. nº 18) e vol. II, pp. 499-304.

620

295 170

Fig.3 e 4 Vistas de trás e de lado respectivamente.

Page 4: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

3

2. Apreciação sumária do objecto à vista desarmada e exames de área

O Sacrário de secção rectangular, apresenta duas portas e frontão triangular, onde se podem ler

as iniciais IHS. Nas portas estão representados S.Paulo e S. Pedro. O interior, com pintura

decorativa, apresenta motivos vegetalistas. Estes motivos apresentam duas fases de execução

com padrões diferentes. Foi executado um primeiro padrão, que se observa através das marcas

incisas na preparação localizadas na parede fundeira do sacrário (Ilustração 3,4,5). Esta incisão

com motivos decorativos em forma de alcachofra foi abandonada, dando lugar ao padrão

fitomórfico dourado e policromado visível (Ilustração 1, 2).

Ilustração 1-Padrão fitomórfico final

Ilustração 2-Padrão fitomórfico – pormenor

Ilustração 3-Padrão fitomórfico –puncionado do decalque inicial

Ilustração 4-Padrão inicial inciso na camada de preparação subjacente ao padrão visível (decalque: Mercês Lorena)

Ilustração 5-Padrão inicial inciso na camada de preparação (decalque: Mercês Lorena; tratamento da imagem Sónia Costa)

Page 5: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

4

No exame de reflectografia de infravermelho foi possível verificar que o desenho subjacente não

se destaca da restante execução pictórica, sendo na sua maioria difícil de observar (Ilust. 6).

Destaca-se neste exame, em tom mais escuro, o empastado repinte que cobria o fundo (Ilust. 7).

Ilustração 6 -Reflectografia de infravermelho da frente do Sacrário (foto: Luís Piorro)

Ilustração 7- Pormenor de repinte contornando a cabeça de S.Paulo (foto:Luís Piorro)

Page 6: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

5

3. Diagnóstico do estado de conservação

Destacamento e faltas pictóricas

A obra apresenta problemas de destacamento e faltas pictóricas, sobretudo ao longo das duas

tábuas laterais, quer no lado exterior, de cor verde, quer no lado interior, da pintura decorativa.

Nas pinturas das portas do lado interior identificam-se também algumas faltas pictóricas,

deixando à vista a camada preparatória.

Zonas de lacuna

As arestas do frontão apresentam todas lacunas de pequena e média dimensão, deixando

visível o suporte de madeira e ou a camada de preparação branca. Na tábua inferior identificam-

se várias lacunas de dimensões variadas, as quais abrangem quase a totalidade da área da

tábua.

Fig. 7 e 8 - Zonas douradas do frontão onde se identificam faltas de ouro e lacunas estruturais.

Fig.9 - Interior da tabua inferior onde se identifica uma grande área de lacuna.

Fig.5 e 6 - Faltas pictóricas presentes nas tábuas laterais, lado exterior e nas pinturas das portas.

Page 7: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

6

Fig.11 e 12 - Aspecto das dobradiças das portas devido à corrosão do metal.

Fissuras

A tábua traseira apresenta uma fissura no sentido vertical, ao centro, com cerca de 23 cm.

Corrosão dos elementos metálicos

Os pregos utilizados para fixar a estrutura e as 4 dobradiças das portas apresentam uma

camada espessa de ferrugem, o que indica um estado avançado de corrosão do metal.

Fig.10 - Verso do sacrário onde se identifica uma fissura, ao centro.

Page 8: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

7

4. Análise laboratorial dos materiais constituintes

Objectivo

Estudo estratigráfico e identificação de pigmentos e aglutinantes para apoio à intervenção de conservação e restauro.

Amostragem

Fig. 13 - Sacrário - Calvário “Arma Cristi”: Identificação dos locais de amostragem.

Estratigrafia

- Montagem das amostras, num molde de PVC, envolvendo cada amostra numa matriz constituída pela mistura de uma resina epóxida e endurecedor. Após a cura, as amostras inclusas são retiradas do molde e lixadas, até ser possível expor, à superfície da resina, um corte transversal. - Observação ao microscópio óptico da estratigrafia de cada amostra, distinguindo-se entre duas a cinco camadas de espessuras muito finas, conforme se indica na Tabela 1.

Porta dir. Porta esq. Interior

Page 9: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

8

Tabela 1 - Sacrário: Estratigrafia das amostras

Amostra - Cor/ Localização

Corte estratigráfico Nº da

camada Camada

Cor do grão

Espessura (µm)

1 - vermelha/ manto da

Figura

Ampliação 220x

2 Vermelha Branco e vermelho

8

1 Preparação

Branco, castanho e preto

23

2 - dourada/ cercadura da

porta

Ampliação 110x

5 Orgânica ____ 11

4 Dourada ____ 3

3 Castanha

Branco, laranja e

preto 20

2 Laranja Branco 21

1 Preparação

Branco, castanho e preto

281

3 - verde/ fundo da

porta

Ampliação 110x

5 Verde escura

Branco, vermelho e preto

20

4 Cinzenta escura

Branco, vermelho, laranja e

preto

16

3 Castanha

clara

Branco e laranja

38

2 Laranja Branco e laranja

22

1 Preparação Branco 96

4 - carnação/ pé da Figura

Ampliação 110x

4 Orgânica ____ 6

3 Castanha

Branco, vermelho,

laranja, azul e preto

35

2 Orgânica ____ 12

1 Preparação Branco 162

Page 10: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

9

Tabela 1 - Sacrário: Estratigrafia das amostras (continuação)

Amostra - Cor/ Localização

Corte estratigráfico Nº da

camada Camada

Cor do grão

Espessura(µm)

5 - amarela/ manto da

Figura

Ampliação 110x

3 Orgânica ____ 6

2 Branca Branco e

preto 33

1 Preparação Branco, laranja e

preto 28

6 - dourada/ interior do sacrário

Ampliação 65x

4 Orgânica ____ 9

3 Dourada ____ 6

2 Laranja Branco e laranja

44

1 Preparação Branco, laranja e

preto 128

6’ - verde/ interior do sacrário

Nota: 6’ foi retirada do

mesmo local da amostra 6

mas tem a camada dourada

coberta por uma camada

verde.

Ampliação 110x

3 Verde Branco 22

2 Dourada ____ 4

1 Laranja

Laranja, vermelho, amarelo e

branco

46

Identificação de pigmentos e aglutinantes

Os aglutinantes e alguns pigmentos foram identificados por Microespectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier (µS-FTIR). A Espectroscopia de Fluorescência de raios X por dispersão de energia (EDXRF) e Micro-difracção de raios X (µ-XRD) e, em alguns casos, a análise por Microscopia Electrónica de Varrimento com Espectroscopia de raios X por dispersão de energia (SEM-EDS), foram outras técnicas complementares utilizadas na identificação dos materiais.

Page 11: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

10

Na Figura 14 encontra-se representado o espectro, obtido por µS-FTIR, referente à camada de preparação da amostra 2.

Fig. 14 – Espectro µS-FTIR: Amostra 2, camada de preparação.

Na Tabela 2, constam os materiais identificados e a atribuição das respectivas bandas.

Tabela 2 - Sacrário: Materiais identificados por µS-FTIR e atribuição das bandas

Materiais identificados Bandas/cm-1 Atribuição das bandas

Gesso dihidratado

3546s, 3488sh, 3402s, 3246vw

1681vw, 1622m

1144vs

1015vw

ʋ(OH) antissimétrica e simétrica

δ(OH)

ʋ(SO42-) assimétrica

ʋ(SO)

Anidrite 673s δ(SO)

Proteína

2929w, 2856vw

1542vw

1446w

ʋ(CH)

amida II (+ʋ(COO-))

amida III

(s-strong; vs-very strong; sh-shoulder; w-weak; vw-very weak; m-medium; ʋ-elongação; δ-deformação)

Esta análise revelou que a camada de preparação contém sulfato de cálcio dihidratado, sulfato de cálcio anidro e, uma proteína, provavelmente cola animal. A análise, por µ-XRD, à camada de preparação desta amostra confirmou a presença de gesso dihidratado e de anidrite, conforme se apresenta nos difractogramas da Figura 15.

Page 12: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

11

00-037-1496 (*) - Anhydrite, syn - CaSO4 - Y: 18.43 % - d x by: 1. - WL: 1.54184 - Orthorhombic - a 6.99330 - b 7.00170 - c 6.24110 - alpha 90.000 - beta 90.000 - gamma 90.000 - Base-centered - Bmmb (63) - 4 - 30

00-033-0311 (*) - Gypsum, syn - CaSO4·2H2O - Y: 74.16 % - d x by: 1. - WL: 1.54184 - Monoclinic - a 6.28450 - b 15.20790 - c 5.67760 - alpha 90.000 - beta 114.090 - gamma 90.000 - Base-centered - C2/c (15) - 4 -

Operations: Background 1.000,1.000 | Range Op. Merge | Import [001]

Camada preparatoria [001] - File: 63-10-2_Prep_01 [001].raw - Type: 2Th alone - Start: 12.420 ° - End: 77.500 ° - Step: 0.020 ° - Step time: 900. s - Temp.: 25 °C (Room) - Time Started: 0 s - 2-Theta: 12.420 ° - Theta:

Lin

(C

ps)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

2-Theta - Scale

13 20 30 40 50 60 70

00-037-1496 (*) - Anhydrite, syn - CaSO4 - Y: 3.90 % - d x by: 1. - WL: 1.54184 - Orthorhombic - a 6.99330 - b 7.00170 - c 6.24110 - alpha 90.000 - beta 90.000 - gamma 90.000 - Base-centered - Bmmb (63) - 4 - 305

00-033-0311 (*) - Gypsum, syn - CaSO4·2H2O - Y: 48.36 % - d x by: 1. - WL: 1.54184 - Monoclinic - a 6.28450 - b 15.20790 - c 5.67760 - alpha 90.000 - beta 114.090 - gamma 90.000 - Base-centered - C2/c (15) - 4 -

Operations: Bezier Background 1.000,1.000 | Range Op. Merge | Import [001]

Camada preparatoria [001] - File: 63-10-2_Prep_02 [001].raw - Type: 2Th alone - Start: 6.420 ° - End: 71.500 ° - Step: 0.020 ° - Step time: 900. s - Temp.: 25 °C (Room) - Time Started: 0 s - 2-Theta: 6.420 ° - Theta: 1

Lin

(C

ps)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

2-Theta - Scale

7 10 20 30 40 50 60 70

00-037-1496 (*) - Anhydrite, syn - CaSO4 - Y: 18.43 % - d x by: 1. - WL: 1.54184 - Orthorhombic - a 6.99330 - b 7.00170 - c 6.24110 - alpha 90.000 - beta 90.000 - gamma 90.000 - Base-centered - Bmmb (63) - 4 - 30

00-033-0311 (*) - Gypsum, syn - CaSO4·2H2O - Y: 74.16 % - d x by: 1. - WL: 1.54184 - Monoclinic - a 6.28450 - b 15.20790 - c 5.67760 - alpha 90.000 - beta 114.090 - gamma 90.000 - Base-centered - C2/c (15) - 4 -

Operations: Background 1.000,1.000 | Range Op. Merge | Import [001]

Camada preparatoria [001] - File: 63-10-2_Prep_01 [001].raw - Type: 2Th alone - Start: 12.420 ° - End: 77.500 ° - Step: 0.020 ° - Step time: 900. s - Temp.: 25 °C (Room) - Time Started: 0 s - 2-Theta: 12.420 ° - Theta:

Lin

(C

ps)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

2-Theta - Scale

13 20 30 40 50 60 70

00-037-1496 (*) - Anhydrite, syn - CaSO4 - Y: 3.90 % - d x by: 1. - WL: 1.54184 - Orthorhombic - a 6.99330 - b 7.00170 - c 6.24110 - alpha 90.000 - beta 90.000 - gamma 90.000 - Base-centered - Bmmb (63) - 4 - 305

00-033-0311 (*) - Gypsum, syn - CaSO4·2H2O - Y: 48.36 % - d x by: 1. - WL: 1.54184 - Monoclinic - a 6.28450 - b 15.20790 - c 5.67760 - alpha 90.000 - beta 114.090 - gamma 90.000 - Base-centered - C2/c (15) - 4 -

Operations: Bezier Background 1.000,1.000 | Range Op. Merge | Import [001]

Camada preparatoria [001] - File: 63-10-2_Prep_02 [001].raw - Type: 2Th alone - Start: 6.420 ° - End: 71.500 ° - Step: 0.020 ° - Step time: 900. s - Temp.: 25 °C (Room) - Time Started: 0 s - 2-Theta: 6.420 ° - Theta: 1

Lin

(C

ps)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

2-Theta - Scale

7 10 20 30 40 50 60 70

Fig. 15 - Difractogramas da camada de preparação. a) Compostos identificados: gesso e anidrite (análise realizada numa zona próxima da camada cromática); b) Compostos identificados: gesso e anidrite (análise realizada numa zona próxima do suporte).

a)

b)

Gesso dihidratado (CaSO4.2H2O)

Anidrite (CaSO4)

Page 13: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

12

A análise à amostra 2, realizada por EDXRF, confirmou a existência de cálcio e enxofre. A identificação de cálcio e fósforo poderá indicar a existência de carvão animal. Entre os outros elementos detectados, identificou-se também ouro, na cercadura da porta (Figura 16).

Fig. 16 - Elementos identificados na folha metálica, por EDXRF

Nas Figuras 17 e 18 apresentam-se os espectros FTIR da amostra 2, das camadas 2 e 3, respectivamente.

~

Fig. 17 - Espectro µS-FTIR: Amostra 2, camada 2 (laranja).

keV

cps/

eV

Page 14: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

13

Fig. 18 - Espectro µS-FTIR: Amostra 2, camada 3 (castanha).

Na Tabela 3, constam os materiais identificados e a atribuição das respectivas bandas, referentes às camadas 2 e 3 da amostra 2. Tabela 3 - Amostra 2, camadas 2 e 3: materiais identificados por µS-FTIR e atribuição das bandas

Na camada laranja de bólus (camada 2), identificou-se caulinite, constituída por argilas (aluminossilicatos e óxidos de ferro) aglutinadas com proteína, provavelmente cola animal, e

Camada/Cor Materiais

identificados Bandas/cm-1 Atribuição das bandas

2/laranja

Gesso dihidratado 3403s, 3244vw

1622m 669s

ʋ(OH) δ(OH) δ(SO)

Caulinite

3698s, 3669w, 3649s, 3620m

1115vs, 1032vs 1006vs 913s 796m

ʋ(OH) ʋ(Si-O-Si) ʋ(Si-O-Al) ʋ(Al-O-H)

ʋ(SiO)

Proteína

2925w, 2851w 1652m 1558vw 1456w

ʋ(CH) amida I ʋ(C=O)

amida II (+ʋ(COO-))

amida III

3/castanha

Branco de chumbo 1407vs

839m, 678m

ʋ(CO32-)

simétrica/assimétrica δ(O-C-O)

Caulinite

3699s, 3621m 1112vs, 1033vs

1009vs 913s

798m, 781sh

ʋ(OH) ʋ(Si-O-Si) ʋ(Si-O-Al) ʋ(Al-O-H)

ʋ(SiO)

Óleo 2921vs, 2851vs

1708vs ʋ(CH)

ʋ(C=O)

Proteína 1642m 1546vw 1460vw

amida I ʋ(C=O)

amida II (+ʋ(COO-))

amida III

Page 15: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

14

gesso proveniente da camada de preparação. Na camada castanha (camada 3) foi identificada caulinite, branco de chumbo, proteína e óleo, possivelmente, óleo de linho. A análise SEM-EDS evidenciou a distribuição dos pigmentos presentes na amostra 2 e a sua granulometria (Figura 19).

Fig. 19- Amostra 2: a) Corte estratigráfico observado por microscopia óptica (OM); b) Imagem de SEM-EDS obtida por electrões secundários (SE); c) Mapeamento químico da distribuição dos elementos: Ca, Fe, Au e

Pb, detectados por SEM-EDS na região analisada; d) Espectro EDS de um ponto analisado na folha dourada.

Na Figura 20 encontra-se representado o espectro obtido por µS-FTIR, da amostra 4, camada 3.

Fig. 20 - Espectro µS-FTIR: Amostra 4, camada 3 (castanha).

a) b)

c) d)

Page 16: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

15

Na camada 3 da amostra 4, foram identificados, por µS-FTIR, os seguintes materiais: calcite, gesso dihidratado, branco de chumbo, caulinite e óleo, conforme consta na Tabela 4.

Tabela 4 - Amostra 4, camada 3: materiais identificados por µS-FTIR e atribuição das bandas

Materiais identificados Bandas/cm-1 Atribuição das bandas

Calcite 876s δ(OCO)

Gesso dihidratado 3487sh, 3403s, 3247vw

1621m 669s

ʋ(OH) antissimétrica e simétrica

δ(OH) δ(SO)

Branco de chumbo 3527w 1406vs

839m, 679m

ʋ(OH)

ʋ(CO3

2-) simétrica/assimétrica

δ(O-C-O)

Caulinite

1034vs 914s 780m 691m

ʋ(Si-O-Si) ʋ(Al-O-H)

ʋ(SiO) δ(SiO)

Óleo 2919vs, 2849vs

1708vs ʋ(CH)

ʋ(C=O) (s-strong; vs-very strong; sh-shoulder; w-weak; vw-very weak; m-medium; ʋ-elongação; δ-deformação)

A análise à amostra 4, realizada por EDXRF, identificou os elementos: chumbo, cálcio, ferro, mercúrio, cobre, enxofre e potássio, conforme está representado no espectro (Figura 21).

Fig. 21 - Espectro EDXRF.

cps/

eV

keV

Page 17: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

16

A análise SEM-EDS evidenciou a distribuição dos pigmentos presentes na amostra 4 e a sua granulometria (Figura 22).

Fig. 22 - Amostra 4. a) Corte estratigráfico observado por microscopia óptica (OM); b) Imagem de SEM obtida por electrões retrodifundidos (BSE); c) Pormenor da amostra. Imagem de SEM obtida por electrões secundários (SE); d) Mapeamento químico da distribuição dos elementos: Al, Ca, Fe e Pb detectados por EDS na região analisada; e) Espectro EDS do grão negro assinalado na camada 3.

A não existência de fósforo na análise do grão negro indica que se trata de carvão vegetal. Na Tabela 5 encontram-se os resultados das análises efectuadas e a composição atribuída a cada uma das camadas.

a) b)

c)

d)

e)

Page 18: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

17

Tabela 5 - Resultados e composição das amostras/camadas analisadas

Amostra

Camada - Cor µS-FTIR EDXRF SEM-EDS Composição

1

2 - vermelha

branco de chumbo; carboxilatos metálicos;

óleo; proteína

Pb, Ca, Fe, Cu, S,

K, Hg, Mg, Al, Si

____

branco de chumbo; óleo; proteína

1 - preparação gesso dihidratado;

proteína gesso dihidratado;

proteína

2

5 - orgânica ____

Pb, Fe, Ca, Au,

Cu, K, Ba, Cr, Hg,

Si, S, Mg, Al, P

____ ____

4 - dourada ____ Au Ouro

3 - castanha

branco de chumbo; caulinite;

óleo; proteína

Pb, Al, Si, Fe, K, Cu,

Hg, S

branco de chumbo; aluminossilicatos de Fe e K;

vermelhão; óleo; proteína

2 - laranja caulinite;

gesso dihidratado; proteína

Fe caulinite;

gesso dihidratado; proteína

1 - preparação gesso dihidratado;

anidrite; proteína

Ca, S gesso dihidratado;

anidrite; proteína

3

5 - verde escura

calcite; gesso;

caulinite; proteína

Ca, Pb, Fe, Ba,

Cu, S, Cl, P, K,

____

calcite; gesso;

caulinite; proteína

4 - cinzenta escura

____ ____

3 - castanha clara ____

2 - laranja caulinite;

gesso dihidratado; proteína

caulinite; gesso dihidratado;

proteína

1 - preparação ____

4

4 - orgânica ____

Pb, Ca, Fe, Hg, Cu, S, K

____ ____

3 - castanha

calcite; gesso dihidratado; branco de chumbo;

caulinite; óleo

Pb, Fe, Cu

calcite; gesso dihidratado; branco de chumbo;

caulinite; carvão vegetal

óleo

2 - orgânica ____ ____ ____

1 - preparação ____ Ca, S gesso

5

3 - orgânica

branco de chumbo; caulinite;

óleo; carboxilatos metálicos;

proteína

Pb, Cu, Fe, Co, K, Ca, S, Si,

Hg, Al

____

branco de chumbo; caulinite;

óleo; proteína

2 - branca azurite;

branco de chumbo; óleo

azurite; branco de chumbo;

óleo

1 - preparação anidrite; proteína

anidrite; proteína

6

4 - orgânica ____ Fe, Ca, Ba, K, Sr, Pb, Hg, Si, Cu,

Mg, Al, P, S

____

____

3 - dourada ____ ____

2 - laranja ____ ____

1 - preparação gesso dihidratado;

proteína gesso dihidratado;

proteína

Page 19: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

18

Conclusão:

Os resultados obtidos2 permitiram identificar que, na camada de preparação, constituída por

gesso dihidratado e anidrite, foi utilizada uma proteína, possivelmente cola animal.

O aglutinante utilizado na pintura foi óleo, provavelmente, óleo de linho.

Nas camadas cromáticas foram identificados os seguintes materiais inorgânicos:

- pigmentos brancos: branco de chumbo, calcite e gesso;

- pigmentos vermelhos: ocre vermelho e vermelhão;

- pigmentos laranja: ocre laranja;

- pigmentos amarelos: ocre amarelo;

- pigmentos azuis: azurite;

- pigmentos pretos: carvão vegetal.

2 Para uma informação mais detalhada sobre os compostos presentes nas amostras deverão ser realizadas análises de µ-XRD,

nomeadamente às amostras:

- 2 para identificação do composto à base de cobre, na camada castanha, e para especificar as percentagens de ouro e prata existentes

na liga metálica;

- 4, camada 3, para identificação do pigmento à base de cobre;

- 5, camada 2, para verificar se existe algum pigmento à base de cobalto.

Page 20: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

19

5. Intervenção de conservação e restauro efectuada O tratamento da obra consistiu nas seguintes fases:

- Desmontagem da estrutura

- Correcção da fissura da tábua traseira, através de colagem e pressão;

- Consolidação das zonas em destacamento, utilizando adesivo de natureza vinílica;

- Remoção mecânica da camada de ferrugem dos pregos e dobradiças;

- Protecção dos elementos metálicos;

- Limpeza da camada pictórica (das pintura das portas, dos dois lados);

- Preenchimento das lacunas;

- Reintegração cromática;

- Douramento das lacunas nas áreas douradas;

- Montagem da estrutura.

Materiais utilizados

- goma laca

- verniz damar

- guaches

- pigmentos em pó

- folha de ouro falso

- mordente aquoso

- massa Modostuc

- paraloid B72

- cola branca (Mowilite)

- xileno

- white spirit

- etanol

- lã de vidro

Page 21: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

20

Fig.27 e 28 - Tábua lateral e inferior - Preenchimento das lacunas com massa Modostuc.

Fig.24 e 25 - Pormenores dos rostos das figuras representadas nas portas do oratório, antes e após a operação de limpeza.

Fig.26 - Pormenor do manto da figura de S. Pedro antes e após a limpeza.

Fig.23 - Desmontagem da estrutura.

Page 22: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

21

Fig.29 e 30 - Pintura das portas após a limpeza e preenchimento de lacunas com massa Modostuc

Fig.31 e 32 - Pintura das portas após a reintegração cromática.

Page 23: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

22

Fig.34 e 35 - Aplicação do bolus (guache) seguida da aplicação da folha de ouro falso.

Fig.33 - Área de lacuna da tábua inferior após a reintegração cromática.

Page 24: Sacrário do Santo Lenho – estudo laboratorial e intervenção de

23

Fig.36 e 37 - Imagens da obra após concluída a intervenção.