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Artigo técnico Estratégia Global para o Controle das Doenças do lenho da Videira Este projecto recebeu financiamento ao abrigo do programa europeu de investi- gação e inovação Horizonte 2020, através do acordo de subvenção N° 652601 Principais sintomas causados pelos fungos do lenho As doenças do lenho afectam os órgãos perenes da videira, causando a sua morte, a longo prazo. Duas formas podem ser encontradas na vinha, uma lenta/crónica e outra mais severa /apoplética. A forma crónica causa perda de vigor e conduz à morte de uma parte da videira e, numa fase posterior, da sua totalidade. Os sintomas foliares são caracterizados por necroses diversas ou pela deformação das folhas. As inflores- cências e os cachos podem secar ou mesmo deformar-se. As DL promovem a necrose e a degradação na madeira, pelo blo- queio dos vasos condutores e/ou formação de cancros. Este artigo centra-se principalmente nas seguintes três DL: Esca, Botryosphaeria e Eutipiose. Sintomas e agentes causais da Esca A Esca é uma doença causada por vários fungos patogéni- cos, tais como Phaeomoniella chlamydospora e Phaeoacre- monium minimum. Fomitiporia mediterranea é responsável pela denominada “podridão branca”. Esta doença tem uma forma apopléctica e uma forma crónica. A forma apopléc- tica é caracterizada pela repentina secagem de uma parte da videira ou da sua totalidade. A forma crónica é caracterizada por uma clorose inter-nervuras, amarela em castas brancas e vermelha em castas tintas, com um rebordo amarelo. A clo- rose foliar evolui posteriormente para necrose das folhas. As uvas podem secar, causando perdas de produção. No caso da forma lenta, as uvas exibem problemas na maturação. Uma necrose central, com uma zona limpa e macia no centro, cer- cada por um rebordo negro é típica da Esca. Sintomas característicos de Esca: necrose central (1), sintomas foliares em C. Sauvignon (2), Sauvignon B. (3) e sintomas em cachos (4) (IFV Su- doeste). Sintomas e agentes causais de Botryosphaeria A Botryosphaeria há muito que é confundida com a Esca, dado que os sintomas podem ser semelhantes. Esta doença pode também ser observada nas suas formas crónica ou seve- ra. Botryosphaeria é causada por fungos do género Botryos- phaeria (Diplodia seriata e Neofusicoccum parvum). As folhas de castas tintas apresentam cloroses entre-nervuras aver- melhadas e no caso de castas brancas, amarelo /alaranjadas, evoluindo, em ambos os casos posteriormente para necrose. As doenças do lenho (DL) da videira, causadas por um complexo de fungos patogénicos, têm aumentado consideralmente, em especial após a proibição de produtos químicos, numa primeira fase, do arsenito de sódio, utilizado anteriormente para o controlo da Esca e, numa fase posterior, dos benzimidazóis (benomil e carbendazime) e inibidores da biossíntese de esteróis (Cyproconazole e flusilazole). A sua erradicação não é simples: actualmente, não existe um tratamento eficaz. Por esta razão e para evitar a propagação de DL, os métodos preventivos devem ser utilizados e implementados, tanto em viveiros como em vinhas, desde a sua plantação. Page 1

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Artigo técnicoEstratégia Global para o Controle das Doenças do lenho da VideiraEste projecto recebeu financiamento ao

abrigo do programa europeu de investi-gação e inovação Horizonte 2020, através do acordo de subvenção N° 652601

Principais sintomas causados pelos fungos do lenho

As doenças do lenho afectam os órgãos perenes da videira, causando a sua morte, a longo prazo. Duas formas podem ser encontradas na vinha, uma lenta/crónica e outra mais severa /apoplética. A forma crónica causa perda de vigor e conduz à morte de uma parte da videira e, numa fase posterior, da sua totalidade. Os sintomas foliares são caracterizados por necroses diversas ou pela deformação das folhas. As inflores-cências e os cachos podem secar ou mesmo deformar-se. As DL promovem a necrose e a degradação na madeira, pelo blo-queio dos vasos condutores e/ou formação de cancros. Este artigo centra-se principalmente nas seguintes três DL: Esca, Botryosphaeria e Eutipiose.

Sintomas e agentes causais da EscaA Esca é uma doença causada por vários fungos patogéni-cos, tais como Phaeomoniella chlamydospora e Phaeoacre-monium minimum. Fomitiporia mediterranea é responsável pela denominada “podridão branca”. Esta doença tem uma forma apopléctica e uma forma crónica. A forma apopléc-tica é caracterizada pela repentina secagem de uma parte da videira ou da sua totalidade. A forma crónica é caracterizada por uma clorose inter-nervuras, amarela em castas brancas e vermelha em castas tintas, com um rebordo amarelo. A clo-rose foliar evolui posteriormente para necrose das folhas. As uvas podem secar, causando perdas de produção. No caso da forma lenta, as uvas exibem problemas na maturação. Uma necrose central, com uma zona limpa e macia no centro, cer-cada por um rebordo negro é típica da Esca.

Sintomas característicos de Esca: necrose central (1), sintomas foliares em C. Sauvignon (2), Sauvignon B. (3) e sintomas em cachos (4) (IFV Su-doeste).

Sintomas e agentes causais de BotryosphaeriaA Botryosphaeria há muito que é confundida com a Esca, dado que os sintomas podem ser semelhantes. Esta doença pode também ser observada nas suas formas crónica ou seve-ra. Botryosphaeria é causada por fungos do género Botryos-phaeria (Diplodia seriata e Neofusicoccum parvum). As folhas de castas tintas apresentam cloroses entre-nervuras aver-melhadas e no caso de castas brancas, amarelo /alaranjadas, evoluindo, em ambos os casos posteriormente para necrose.

As doenças do lenho (DL) da videira, causadas por um complexo de fungos patogénicos, têm aumentado consideralmente, em especial após a proibição de produtos químicos, numa primeira fase, do arsenito de sódio, utilizado anteriormente para o controlo da Esca e, numa fase posterior, dos benzimidazóis (benomil e carbendazime) e inibidores da biossíntese de esteróis (Cyproconazole e flusilazole). A sua erradicação não é simples: actualmente, não existe um tratamento eficaz. Por esta razão e para evitar a propagação de DL, os métodos preventivos devem ser utilizados e implementados, tanto em viveiros como em vinhas, desde a sua plantação.

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Após a remoção da casca, é visível uma banda acastanhada rodeada por uma coloração amarelo / alaranjada ou uma ne-crose sectorial castanha / preta, que pode ir desde o rebento até ao porta-enxerto. A forma mais severa é caracterizada por uma rápida dessecação dos rebentos (que começa pela zona de inserção) com destruição das inflorescências e dos cachos.A presença de Botryosphaeria conduz, de uma maneira geral, a um atrofiamento do desenvolvimento vegetativo, podendo incluir apoplexia.

Sintomas característicos de Botryopshaeria: sintomas foliares em castas tin-tas (1) e castas brancas (2), e necroses na madeira (3); forma severa (4) (IFV sudoeste).

Sintomas e agente causal da EutipioseA espécie Eutypa lata é o fungo responsável pela eutipiose. Os entrenós nas cepas afectadas apresentam-se curtos e os pâmpanos atrofiados. As folhas adquirem um aspecto defor-mado, clorótico, com necroses de coloração negra, e os bagos apresentam-se com flacidez, com ocorrência de bagoinha. Na madeira, verifica-se uma necrose sectorial castanha e dura. Pode também ser observada a forma apoplética.

Sintomas característicos de Eutipiose: necrose sectorial (1) atrofiamento do crescimento (2,3) ; sintomas foliares (4) (IFV Sudoeste)

Fatores que influenciam a expressão dos sintomas de DL

Factores bióticos ou abióticos podem interferir no desenvolvi-mento das DL e na expressão dos sintomas. Os períodos secos causam stresse hídrico na planta e são favoráveis à expressão de sintomas (Stamp, 2001). Pelo contrário, a presença de outros microrganismos podem limitar, ou mesmo impedir o seu desenvolvimento. Um clima suave e húmido é favorável à expressão das formas lentas, enquanto um clima seco e quente promove a ocorrência de apoplexia (Surico G. e Al., 2006). Os sintomas foliares podem não se manifestar ou a sua expressão diferir de ano para ano, de acordo com diversos factores (ex. idade da vinha, casta, sistema de condução e tipo de poda).

Métodos preventivos para evitar a infecção por DL durante a instalação da vinhaEm geral, na instalação de uma vinha, devem respeitar-se um conjunto de boas práticas, segundo o princípio da precaução. A qualidade do material vegetativo e as condições de planta-ção são elementos importantes a serem considerados na pre-venção das DL. Tem sido reportado que, durante a produção do material vegetal, em várias fases do processo (armazena-mento em frio, hidratação, desbaste, enxertia, formação de “callus” e plantação), pode existir um risco de contaminação das jovens plantas por fungos do lenho (Gramaje & Armen-gol, 2011, Lecomte et al., 2008, Stamp 2001).Em geral, plantas de boa qualidade, com um sistema radicu-lar bem desenvolvido e com uma boa cicatrização do ponto de enxertia darão potencialmente melhores vinhas, mas isso pode não ser suficiente. Ainda que não seja obrigatório, al-guns viveiros localizados na europa passaram a utilizar méto-dos físicos (tratamento por água quente), produtos químicos (fungicidas) ou métodos biológicos (Trichoderma) para pre-venir infecções por fungos do lenho, durante o processo de produção das jovens plantas. O tatamento por água quente pode limitar populações de P. chlamydospora e algumas espécies do género Botryosphaeria-ceae (Larignon et al., 2009, Vigues et al., 2009, Elena et al., 2015). A aquisição de plantas de elevada qualidade e saudáveis é im-portante com vista a iniciar a vinha com uma boa qualidade fitossanitária e promover a sua longevidade. Algumas castas ou porta-enxertos parecem ser mais sensíveis às DL que ou-tras, de modo que, se essa informação existir ao nível de cada país, a escolha deve ser orientada para as mais resistentes. As variedades Pinot Noir, Syrah e Cot tendem a ser menos sensíveis à Esca / Botryosphaeria que a Sauvignon, Ugni B, Gewurztraminer ou Trousseau. A plantação em solo descompactado pode ser realizada entre o final do Outono e o início do Verão (dependendo das re-giões), idealmente durante o período de dormência das videi-ras. Antes da plantação, aconselha-se a imersão da raíz das jovens plantas numa solução contendo Trichoderma, ciprodi-nil e fludioxonil ou metirame e piraclostrobina.

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Especial atenção deve ser dada á preservação do sistema radi-cular, evitando danificá-lo e permitindo que se espalhe corre-tamente ao longo do solo. Durante a instalação, é importante manter um bom nível de humidade no solo, evitando situações de stresse hídrico. É aconselhável colocar um tutor junto da planta para promover o crescimento vertical do tronco e torná-lo menos sensível aos problemas relacionados com a passagem das alfaias agrícolas para remoção de infestantes (danificação por impacto mecânico). Posteriormente, a escolha do sistema de formação (poda) da vinha deve ter em conta o equilíbrio fisiológico da planta, facilitando o curso do fluxo de seiva.

Gestão do solo e prevenção das DL

A relação entre a forma de gestão do solo e o desenvolvimento das DL é difícil de provar cientificamente, devendo, no entanto, implementar-se as boas práticas de gestão do solo. Geralmente, um solo onde o ar e a água circulem facilmente e onde exis-ta uma boa drenagem da água, são condições que reduzem o stresse em videiras afectadas por DL. A fertilização excessiva de azoto deve ser evitada, por promo-ver vigor excessivo e incrementar a expressão dos sintomas das DL. Nesse sentido, o estabelecimento de uma cobertura de solo, permanente ou não, na entrelinha poderia equilibrar a dispo-nibilidade de nutrientes, além de melhorar a estrutura do solo.

Sistema de poda, um importante aspecto a considerar

As feridas de poda são o principal ponto de entrada para os fungos do lenho. Quanto maiores e mais numerosas forem estas feridas, maior será a área de potencial infecção. Além disso, a ferida de poda poderá ter associada uma necrose subjacente (também conhecida como cone de dessecação). Esta necrose pode ser infectada por outros agentes patogénicos do lenho e / ou deteriorar o fluxo da seiva, aumentando o stresse fisioló-gico e, portanto, os efeitos nocivos das formas crónicas e seve-ras. Para evitar essa necrose e seus efeitos, o comprimento do talão deve ser pelo menos 1,5 vezes superior ao seu diâmetro. Portanto, o sistema de poda, o período de poda e a proteção da ferida são factores que devem ser considerados. Especialmente com vista a reduzir infecções por eutipiose, é recomendável efectuar-se uma poda tardia, durante o período de dormência e próximo ao abrolhamento, uma vez que as feridas cicatrizam melhor, sob temperaturas moderadas. De uma forma geral, a poda tardia pode ser conduzida em regiões vitícolas, sob condi-ções de Primavera seca. A susceptibilidade das feridas de poda a infecção por DL é principalmente influenciada pela humidade relativa e pela precipitação (Luque et al., 2014). A precipitação e a temperatura têm um efeito directo sobre a distribuição de agentes patogénicos. Recomenda-se, portanto, realizar a poda sob tempo seco, uma vez que a dispersão do inóculo é menor. O tipo de poda parece desempenhar um importante papel no impacto das DL, mas a informação disponível é divergente. É preferível optar por uma poda menos severa, originando peque-

nas feridas que promovam menor distúrbio no fluxo de seiva. Vários estudos demonstram que a poda longa (sistemas Goblets e Guyot) promovem um menor número de feridas. No entanto, um estudo promovido em Bordéus, mostrou que a manifesta-ção de sintomas foi maior no sistema Guyot. Por outro lado, os sintomas foliares de eutipiose foram maiores na poda curta do que na longa, mas a mortalidade foi menor nas videiras de poda longa. No caso do Guyot, numerosas feridas ficam localizadas na parte superior do tronco; pelo contrário, podas curtas (cor-dão) apresentam uma maior área total de feridas.

O método de poda Guyot-Poussard, recentemente proposto para limitar as DL, preserva o fluxo de seiva, uma vez que as feridas de poda ficam localizadas na parte superior do cordão. As feridas são mais pequenas, menos numerosas e localizadas em madeira jovem, mais resistente a infecções do que as anti-gas. Este tipo de poda pode limitar a disseminação das DL, mas carece ainda de validação científica. Embora a desinfecção das tesouras de poda seja considerada uma boa prática, a contaminação através das tesouras de poda é considerada irrelevante, quando comparada com a importância e impacto das feridas de poda. Consequentemente, e em espe-cial no caso da Esca e da Eutipiose, a desinfecção dos utensílios de poda poderá não ser eficiente na limitação destas duas DL

(Larignon, 2007). Pelo contrário, porque as feridas de poda são a principal porta de entrada para os fungos do lenho, é recomendável proceder à protecção preventiva das mesmas, utilizando para o efeito fungicidas químicos ou biológicos (autorizados em cada país), ou ainda protectores físicos. Estes produtos devem ser aplica-dos localmente nas feridas e o mais rapidamente possível após a poda. Alguns estudos mostram que infecções por D. Seriata e P. chlamydospora podem ser significativamente reduzidas usando uma mistura de benomil, piraclostrobina, tebuconazol e tiofanato-metilo (Díaz y La Torre, 2013). A pulverização com

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estes produtos é mais prática, rápida e menos dispendiosa, mas o produto pode ser facilmente lavado pela chuva. Os produtos à base de Trichoderma (Di Marco et al., 2000) ou quitosanas (Bertsch et al., 2013) também podem ser eficientes na protecção das feridas, bem como pastas (mastique) que actuam como bar-reira física contra os fungos do lenho.

Destruição de fontes de inóculo

O inóculo das DL é encontrado em plantas doentes e/ou mortas (folhas, uvas e madeira necrótica e/ou velha). Os restos da lenha de poda, videiras sintomáticas e/ou mortas são uma potencial fonte de novas infecções na vinha. Os detritos de poda, por exemplo, podem transportar inóculo de Botryosphaeria cuja viabilidade pode ir até aos 42 meses. Assim, como medida pre-ventiva, recomenda-se a eliminação de restos de poda, o mais rapidamente possível (resolução VITI 2/2006). Para destruir o inóculo potencial, a madeira de poda pode ser esmagada e enterrada no solo, queimada (se permitido por lei), esmagada e compactada (40 a 50 ° C por 6 meses) ou removida da parcela.

Renovação do tronco para recuperar vinhas afectadas

Para rejuvenescer videiras afectadas por DL, o tronco deve ser cortado abaixo da necrose e acima do ponto de enxertia. A vi-deira produzirá um “rebento ladrão” que terá que ser auxiliado com um tutor, com vista a obter um novo tronco. Esta técnica simples tem demonstrado bons resultados em castas vigorosas e tem demonstrado ser eficaz no controlo da eutipiose ((BNIC, Chamber of Agriculture (1989), BNIC, INRA Bordeaux (1989), Mette et al. (2004), Sosnowski et al., (2011)). Estes procedimen-tos também podem ser úteis contra a Esca e Botryosphaeria, mas dependendo do estado sanitário geral da planta (o que não acontece no caso do tronco abaixo do corte estar infectado), as videiras podem vir a expressar sintomas nos anos seguintes (Calzarano et al. 2004, Larignon & Yobregat, 2016.). É possí-vel antecipar a renovação do tronco, mantendo previamente

para o efeito, um “rebento ladrão” o que geralmente se chama de “espera”. Assim, ao cortar a videira afectada, a nova estrutura já estará for-mada. Se a renovação for efectuada durante o Inverno, é preferível proteger a ferida para limitar novas infecções. Smart (2015) estabeleceu um protocolo (The Timely Trunk Renewal protocol) com vista a implementar esta técnica de renovação do tronco. Como parte do projecto Winetwork,

uma pesquisa realizada no sudoeste da França estimou o custo dessa operação entre 225 e 275 € / ha para uma parcela plantada com 4500 videiras/ha com uma proporção de 250 videiras sob

intervenção.Reenxertia para limitar as infecções por DL

Um método alternativo para tratar videiras afectadas por DL é a reenxertia. A operação consiste em reenxertar novamente uma videira que esteja doente, a partir do seu porta-enxerto saudá-vel. Aparentemente, a enxertia de fenda é o método mais ade-quado para a regeneração de videiras doentes (fonte CICAVAC). Este método pode ser realizado na Primavera ou no Outono, quando a seiva está em circulação, evitando no entanto a fase de maior actividade, e sob tempo seco. É necessário verificar se, na localização do corte, a mesma aparenta estar saudável (confir-mar se o porta enxerto está saudável). As videiras submetidas a reenxertia num determinado ano produzem uma meia colheita, no ano seguinte à reenxertia e uma colheita normal, dois anos após. A vantagem desta técnica é que o sistema radicular é pre-servado, proporcionando uma produção com a mesma quali-dade de videiras saudáveis. Esta técnica é bastante complexa, mas a taxa de sucesso e recuperação pode atingir 80 a 90%. A reenxertia pode ser realizada por prestação de serviços ou pelo próprio viticultor. O custo do serviço pode variar entre 1,35 a 2,05 € por videira, dependendo da superfície. O custo associado aos procedimentos, uso de equipamentos, força de trabalho e encargos fixos para os dois primeiros anos foi estimado em 12 000 € / ha (Fonte Chambre d’Agriculture Loir-et-Cher). Para poder realizar esta técnica numa área de 4500 videiras enxer-tadas, estima-se ser necessária a contratação de um prestador deste serviço a tempo inteiro por 3 meses (Fonte IFV).

Limpeza do tronco

A limpeza do tronco é uma espécie de cirurgia de limpeza, que pode ser eficaz na limitação da Esca e da Botryosphaeria. Consiste em remover a madeira podre do tronco, numa analo-gia simplista, tal como um “dentista limpa uma cárie”. A lim-peza do tronco pode ser realizada logo que ocorram os primei-ros sintomas e quando a madeira podre é observada. Se feito no início do desenvolvimento vegetativo, a colheita do ano pode ser preservada. Previa-mente à limpeza, é necessário localizar os pedaços de madeira podre e esponjosa afectados. O fluxo da seiva deve ser sempre preservado. Em Sancerre, um viticultor constatou que, com a aplicação desta cirurgia, 99% das videiras doentes deixaram de maifestar sintomas de Esca (Fonte SICAVAC). Na Alsácia, um ensaio realizado eviden-ciou igualmente uma redução significa de sintomas em videi-ras tratadas com esta cirurgia. Nesta região existem referências que indicam que são necessários em média 5 minutos / videira para efectuar este procedimento, dependendo da severidade da

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doença e da experiência do viticultor (Fonte IFV). Esses estu-dos necessitam de mais anos de recolha de dados, para que se possam determinar períodos de ausência das doenças do lenho nas videiras tratadas

Uso de produtos fitofarmacêuticos para limitar os sintomas das DL

Desde a proibição de arsenito de sódio e do carbendazime e flusilazole, não há fungicidas químicos autorizados para tra-tamento das DL. Por este motivo, vários estudos estão actual-mente focados em encontrar outras alternativas eficientes. Fungicidas sistémicos como o N-carboximetil-3-ciano-4- (2,3-diclorofenil) pirrole podem circular no floema da videira (Chollet et al., 2004, Jousse, 2004), tendo um efeito sobre a eutipiose. Outros estudos têm sido realizados com fenpiclonil (Jousse, 2004) para controlar a Esca. As DL podem ser controladas preventivamente através de várias substâncias activas ou misturas tais como tebuconazol + resinas sintéticas, tebuconazole, fluazinam ou piraclostrobina ou ainda através de agentes de controlo biológico como o Trichoderma atroviride. Uma aplicação de Bion (acibenzolar-S-methyl) + Cupro-col (oxicloreto de cobre), seguida de Bion + Score (difecona-zole) parece reduzir a incidência e a gravidade dos ataques de Botryosphaeria. A aplicação do nutriente Boro é capaz de reduzir a infecção por eutipiose (Sosnowski et al., 2008; Rolshausen et al., 2010). Vários ensaios foram realizados com estimuladores das defe-sas naturais, Trichoderma ou fertilizantes, como preventivos ou curativos, mas nenhum resultado foi significativo. No entanto, a aplicação foliar de uma mistura de cloreto de cálcio, nitrato de magnésio e extrato de algas, ao longo de vários anos, resultou numa redução significativa nos sintomas em videira tratadas.

Métodos inovadores aplicados pelos viticultores sem valida-ção científica

Aplicação de nanopartículas de cobre (Cu): a injecção de Cobre com recurso a uma seringa é uma prática inovadora rea-lizada em Espanha (região da Galiza) com vista a lutar contra a Esca. São realizadas duas injecções e 4 a 5 tratamentos foliares de uma mistura de Cu e um elicitor de aminoácidos de origem animal. No entanto, ainda não existe validação científica sobre os efeitos desta técnica na Esca. O cobre tem um amplo espectro de acção contra bactérias e fungos e tem sido usado há muito na agricultura como um pesticida. Recentemente, as nanopartícu-las de cobre (partículas entre 10-7 e 10-9 metros) tornaram-se muito populares devido às suas propriedades físicas, químicas e antimicrobianas (Betancourt et al., 2013). Segundo a bibliogra-fia disponível, as nanopartículas de Cu foram eficazes in vitro, contra fungos e leveduras patogénicas (Ren et al., 2009, Rupa-reli et al., 2009, Ramyadevi et al., 2012).

Pregos de cobre: esta técnica consiste em espetar um prego de cobre num tronco afectado por DL. É suposto que o cobre se

difunda do prego para o tronco, através da seiva, e exerca um efei-to fungicida contra os fungos do lenho. Esta prática foi testada por um viticultor há 3 anos na Ale-manha mas ainda carece de vali-dação científica.

Tratamento com água oxigena-da (H2O2): A injecção de H2O2 na videira, recorrendo a uma seringa, é uma técnica inovadora aplicada nas vinhas da Região Demarcada dos Vinhos Verdes (Monção) em Portugal, na Gali-za em Espanha e no sul de França em videiras com sintomas de Esca ou Botryosphaeria. As plantas, quando sujeitas a um ataque biótico, produzem em resposta H2O2. As espécies reac-tivas de oxigénio (ROS) exercem uma actividade tóxica directa sobre esses microrganismos patogénicos e muitas vezes inibem o seu desenvolvimento. Reconhece-se que os ROS desempen-ham um papel na expressão génica da resposta hipersensível (Lamb & Dixon, 1997), nos reforços parietais e na resistência das plantas à doença, permitindo a expressão de genes de defesa e acumulação de proteínas relacionadas com a pato-génese (Van Breusegem & Dat , 2006).

Emersão das plantas em fungicidas: antes da plantação, as plantas enxertadas são emersas numa solução fungicida por 50 minutos (consul-tar referência atrás). Esta técnica, realizada em portugal, não foi ainda avaliada cientificamente.

ConclusãoControlar um problema de DL não é uma tarefa fácil, tendo em conta que os sintomas são influenciados por múltiplos factores, de entre os quais se destaca o impacto do clima no desenvol-vimento dos fungos do lenho e na expressão de sintomas. A microflora indígena pode interagir com os fungos do lenho, limitando ou impedindo seu desenvolvimento. As condições de crescimento e a escolha do sistema de poda podem ser factores com relevância na limitação das DL. Um melhor conhecimento destas doenças auxilia na compreensão do seu modo de acção. Muitos métodos, já utilizados nos vinhedos da Europa, pare-cem promissores, mas carecem ainda de validação científica. A aplicação de um único método de protecção contra as DL será sempre apenas parcialmente efectiva. Assim, recomenda-se a aplicação de uma estratégia global de protecção, com destaque

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para a aplicação das medidas preventivas, para uma gestão mais eficaz das doenças do lenho.Bertsch C, Ramírez-Suero M, Magnin-Robert M. Larignon P, Chong J, Abou-Mansour E, Spagnolo A, Clément C & Fontaine F (2013) Grape-vine trunk diseases: complex and still poorly understood. Plant Pathology 62(2):243-265

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Estratégia Global para o Controle das Doenças do lenho da Videira