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______________________ 1 Professor de Fruticultura/UFLA. 2 Eng°. Agrônomo, aluno de Mestrado - Fitotecnia/UFLA. RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS PARA A CULTURA DA VIDEIRA Nilton Nagib Jorge Chalfun 1 Rafael Pio 2 Fabíola Villa 2 1 INTRODUÇÃO A uva é cultivada principalmente com duas finalidades: produção de sucos e fermentados, e consumo “in natura”. A cor varia conforme o tipo. Existe uvas com diferentes tonalidades de amarelo, verde, rosa, roxo e até mesmo preta. A viticultura tem se tornado importante no ramo da fruticultura, especialmente para a produção de vinhos. Atualmente, encontra-se em grande crescimento a produção de uvas de mesa, requerendo sistemas e manejo de produção adequado. O Brasil tem participação no mercado internacional de produção vitícola como exportador de vinhos, sucos e uvas de mesa. O estado de Minas Gerais é o sétimo maior produtor do Brasil, com destaque para a região sul, no segmento de uvas para vinhos. Embora esteja distribuída por diversos municípios de Minas Gerais, a viticultura vem se destacando como uma ótima alternativa para os fruticultores do sul do estado. Isso ocorre principalmente pela tradição e

Cultura de videira 1

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______________________ 1 Professor de Fruticultura/UFLA. 2 Eng°. Agrônomo, aluno de Mestrado - Fitotecnia/UFLA.

RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS PARA A CULTURA DA VIDEIRA

Nilton Nagib Jorge Chalfun1 Rafael Pio2

Fabíola Villa2

1 INTRODUÇÃO

A uva é cultivada principalmente com duas finalidades: produção de

sucos e fermentados, e consumo “in natura”. A cor varia conforme o tipo.

Existe uvas com diferentes tonalidades de amarelo, verde, rosa, roxo e até

mesmo preta.

A viticultura tem se tornado importante no ramo da fruticultura,

especialmente para a produção de vinhos. Atualmente, encontra-se em

grande crescimento a produção de uvas de mesa, requerendo sistemas e

manejo de produção adequado.

O Brasil tem participação no mercado internacional de produção

vitícola como exportador de vinhos, sucos e uvas de mesa. O estado de

Minas Gerais é o sétimo maior produtor do Brasil, com destaque para a

região sul, no segmento de uvas para vinhos.

Embora esteja distribuída por diversos municípios de Minas Gerais,

a viticultura vem se destacando como uma ótima alternativa para os

fruticultores do sul do estado. Isso ocorre principalmente pela tradição e

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pelo importante trabalho desenvolvido pelas instituições de pesquisa, que

atuam na região notadamente no aspecto da propagação, manejo, porta-

enxertos e cultivares.

2 CLIMA E SOLO As videiras preferem, para seu maior desenvolvimento, climas secos

com temperaturas entre 10º e 40°C. Em regiões onde a temperatura é mais

baixa, o ciclo de produção, conseqüentemente, é menor, permitindo apenas

uma safra por ano. Já em regiões com temperaturas mais elevadas, há

possibilidade de se ter duas safras/ano, como é o caso do norte do estado de

Minas Gerais.

As uvas são muito sensíveis a ventos fortes, sendo necessária, muitas

vezes a utilização de quebra-ventos.

O solo tem grande influência sobre a qualidade das uvas e,

conseqüentemente, dos vinhos. Adapta-se a diversos tipos de solos, com

exceção dos úmidos e encharcados. Devem ser ricos em matéria orgânica,

sendo os melhores aqueles de textura média.

3 ESCOLHA DA CULTIVAR O destino da produção (mesa, vinho ou suco) é fator determinante na

escolha da cultivar. Sendo assim, as cultivares mais importantes dividem-se

em:

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3.1 Cultivares para mesa a) Brancas

Itália (Piróvano 65) – planta é vigorosa, produtiva, muito sensível à

antracnose e ao míldio. Os cachos são cônicos e semi-soltos. As bagas são

grandes, de cor verde-amarelado e alongadas. Resiste bem ao transporte,

podendo ser armazenada por um a dois meses em câmaras frias. Adapta-se

bem a regiões quentes com baixa precipitação e, nestas condições, sob

irrigação, permite até duas safras por ano.

Niágara branca – produz cachos pequenos a médios, com 12 a 15

cm de comprimento, de aspecto cilíndrico. As bagas são esféricas e branco-

esverdeadas. É pouco susceptível ao míldio e à antracnose e moderadamente

resistente ao oídio. Embora seja uma cultivar para consumo “in natura”,

também é utilizada para produção de vinhos brancos de grande aceitação

pelo consumidor brasileiro.

b) Rosadas Niágara rosada – vigorosa, produtiva com cachos e bagas de boa

aparência. É uma das cultivares mais plantadas no Brasil para consumo “in

natura” e, em algumas regiões, é também utilizada na fabricação de vinho

rosado doce.

Rubi (Itália Rosada) – possui bagas de coloração rosada e alto teor

de açúcar. Estas características agradam ao consumidor brasileiro, tendo

estimulado grandemente a expansão desta cultivar no Brasil.

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c) Pretas

Diamante negro (Piróvano 87) – a planta é vigorosa, produtiva e

muito sensível ao oídio. Os cachos são grandes e alongados, as bagas

grandes, arredondadas e de cor preta. Exige proteção dos cachos contra a

insolação, por serem sensíveis à queimadura.

Ferral roxa – os cachos são grandes e longos. As bagas são grandes,

ovaladas e de cor rosa-escuro. O teor de açúcar, quando a uva está bem

madura, é bastante elevado. É uma uva de consumo “in natura”,

recomendada para regiões quentes e de baixa precipitação.

Isabel (Isabella) – é a cultivar mais difundida no Brasil,

especialmente no Rio Grande do Sul para a produção de vinhos, devido à

sua rusticidade. A planta é de grande vigor e produtiva, com cachos grandes

e cilíndricos, com bagas pretas. Os frutos se prestam para fabricação de

vinhos, consumo “in natura”, geléias e sucos.

3.2 Cultivares especialmente para vinho

a) Vinho branco

Couderc 13 – planta vigorosa, produtora de cachos médios a

grandes, semi-soltos e de formato cônico. As bagas são branco-esverdadas,

de formato esférico. A planta é moderadamente susceptível ao míldio e à

antracnose e moderadamente resistente ao oídio. É pouco susceptível à

podridão dos cachos.

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Niágara branca – descrita junto às cultivares brancas de mesa.

Riesling itálico – produz cachos de tamanho pequeno a médio,

cilíndricos a cônicos e as bagas são brancas, com pontuações. Quando

ocorrem chuvas na época da maturação, que é tardia, a podridão pode

prejudicar a produção.

Trebiano – é uma cultivar bastante vigorosa, produzindo cachos

médios ou grandes, com bagas médias e esféricas, com coloração branco-

esverdeado. A cultivar é susceptível ao míldio e moderadamente susceptível

à antracnose e oídio.

b) Vinho tinto

Cabernet franc – produz cachos grandes, com bagas pretas,

esféricas e pequenas. Apresenta relativa resistência ao míldio e ao oídio,

sendo sensível à antracnose.

Concord (Niágara preta) – planta é vigorosa e produtiva. Produz

cachos de tamanho médio a grande, com bagas médias, redondas e pretas.

Esta cultivar pode ser usada para mesa ou para suco.

Folha de figo (Bordô) – é bastante cultivada na região Sul de Minas,

rústica e produtiva. É resistente às principais doenças. A planta não tolera

aplicações de produtos cúpricos em sua folhagem. Apresenta cacho pequeno

a médio, com bagas médias e com maturação em fins de janeiro.

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Isabel – descrita junto com as cultivares pretas de mesa.

Jacques ou Jacquez – a planta é vigorosa, produtiva e os cachos são

de tamanho médio a grande, com bagas esféricas, de cor preta. É muito

sensível à antracnose, ao míldio e às podridões da uva madura.

Merlot – é uma cultivar bastante cultivada no Rio Grande do Sul e

considerada uma das melhores para a produção de vinho tinto. Possui vigor

médio e é bastante resistente a doenças, exceto ao oídio. O cacho é de

tamanho médio a pequeno e cônico. As bagas são de tamanho médio,

redondas e pretas. Nos anos chuvosos, recomenda-se eliminar um pouco das

folhas próximas aos cachos para se evitar a ocorrência de podridões.

c) Vinho rosado

Niágara rosada – descrita junto com as cultivares rosadas de mesa.

3.3 Cultivares para suco

Folha de figo – descrita junto com as cultivares para vinho tinto.

Concord – descrita junto com as cultivares para vinho tinto.

Isabel – descrita junto com as cultivares pretas de mesa.

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4 PROPAGAÇÃO

A videira pode ser propagada por via sexual (semente) ou via

assexual por meio de estacas, mergulhia e enxertia. A propagação por via

sexual não é indicada para plantios comerciais, principalmente pelo longo

tempo que leva para a formação das plantas e pela variabilidade conferida,

sendo um processo usado somente em programas de melhoramento.

4.1 Propagação por estaquia

Na propagação por estaquia em videiras, as estacas devem ser

coletadas da parte mediana dos ramos maduros no período do inverno (julho

e agosto). Recomenda-se aproveitar o material da poda, podendo armazenar

as estacas em câmara fria (2º a 4º C), em areia ou serragem úmida

(estratificação).

As estacas devem apresentar comprimento de 30 a 50 cm e diâmetro

semelhante ao de um lápis (0,8 cm), fazendo um corte na base da estaca

próximo a um nó e, na parte de cima, um pouco acima da gema terminal.

Preparada a estaca, é comum “cegar” as gemas da parte baixa da estaca,

deixando-se apenas duas gemas por estaca, para evitar o excesso de

brotações.

No plantio, devem-se enterrar 2/3 da estaca, comprimindo o solo em

volta da mesma. Logo após, irriga-se e cobre-se a estaca até a altura de sua

ponta, para evitar o dessecamento. Após, seleciona-se apenas um broto

terminal, eliminando-se os demais. As irrigações devem ser realizadas

periodicamente, sempre que necessário.

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4.2 Propagação por mergulhia

Para se propagar a videira por mergulhia, basta enterrar uma planta

ou seus ramos no solo. Quando os ramos apresentarem a formação de raízes,

cortam-se estes da planta, tendo assim uma estaca já enraizada. É um

processo de propagação muito pouco usado na cultura da videira.

4.3 Propagação por enxertia a) Enxertia por garfagem

A enxertia por garfagem é feita nos meses de julho e agosto,

podendo ser realizada por meio de garfagem por fenda cheia ou simples. Se

os porta-enxertos apresentarem diâmetro semelhante ao dos garfos, utiliza-

se a garfagem em fenda simples; caso o diâmetro seja maior, utiliza-se a

garfagem em fenda cheia. No momento da enxertia, o porta-enxerto é

cortado rente ao solo, após fendido no sentido de seu diâmetro. Nesta fenda,

introduz-se o garfo com duas gemas, cortando duplo bisel e colocando de

modo que um dos lados da casca coincida perfeitamente com a casca do

porta-enxerto. A seguir, amarra-se firmemente com fita plástica ou com

barbante de algodão, cobre-se o local da enxertia com terra, para evitar a

dessecação. Após o pegamento, faz-se o desamarrio.

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b) Enxertia de mesa

A enxertia de mesa apresentava baixo pegamento e pouco

desenvolvimento das plantas jovens no campo. Atualmente, com os avanços

tecnológicos obtidos nas etapas do processo de enxertia de mesa, consegue-

se a produção de mudas de videira em larga escala e com um baixo custo,

tornando este método um dos mais usados em viveiros comerciais.

As principais etapas da enxertia de mesa são:

1- Coleta do material: retirar partes de ramos, entre julho e agosto, com

diâmetro entre 10 a 15 mm, podendo armazenar este material até 30 dias em

geladeira.

2- Preparo do material e enxertia: se os ramos estiverem armazenados em

geladeira, retirar dois dias antes de se fazer a enxertia de mesa. Utilizar

como cavaleiro ou enxerto, ramos com mesmo diâmetro dos cavalos ou

porta-enxertos. O método de enxertia de mesa mais utilizado é o tipo ômega,

realizado com uma ferramenta própria, que permite um bom número de

enxertos por dia. Após a realização da enxertia, mergulhar o ponto de

enxertia em parafina na temperatura entre 60 a 70°C , resfriando logo em

seguida em água fria.

3- Enraizamento: colocar o material em caixas de madeira ou plástico com

altura de 40 cm, com capacidade entre 300 e 500 enxertos, em pé, de modo

que o porta-enxerto fique para baixo, colocando no fundo da caixa substrato

formado de uma parte de areia e uma de terra. Após enraizados, colocar as

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mudas em sacos plásticos ou bandejas de isopor, sendo posteriormente

levadas para o campo.

A- porta-enxerto ou cavalo; B- enxerto ou cavaleiro.

Figura 1: Enxertia tipo omega.

5 IMPLANTAÇÃO DA CULTURA

5.1 Escolha e preparo da área

Na escolha da área para implantar a viticultura, verificar a

proximidade do vinhedo de fontes de água e de estradas, para permitir a

fácil comercialização da produção. Deve-se evitar proximidades de áreas

úmidas, baixadas, terrenos muitos declivosos (acima de 20%), solos

compactados e rasos, que dificultam a incorporação dos corretivos e

fertilizantes.

Em solos muitos leves (arenosos), recomenda-se incorporar matéria

orgânica anualmente com a aplicação dos fertilizantes, para melhorar a

retenção de umidade e dos próprios fertilizantes.

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As etapas de preparo do terreno para a implantação do vinhedo são:

a) Limpeza da área: dependendo do local, realizar o desmatamento e roçada,

destoca e retirada dos restos vegetais, raízes e pedras. Essa operação deve

ser realizada, no mínimo, seis meses de antecedência ao plantio;

b) Subsolagem ou aração profunda: o ideal é realizar a subsolagem cruzada,

sendo a primeira no sentido do declive, ou uma aração profunda de 25 cm;

c) Análise do solo: realizar a análise do solo pelo menos três meses antes da

implantação das videiras. Deve-se retirar amostras das camadas de 0 a 20

cm e de 20 a 40 cm;

d) Calagem: a aplicação de calcário deve ser realizada dois meses antes da

implantação das videiras, aplicando e incorporando o calcário na área total

do terreno. A dosagem a aplicar deve ser referente a necessidade corretiva,

procurando elevar o pH a 6,0.

5.2 Abertura, preparo de cova e adubação de plantio O espaçamento depende de vários fatores, tais como: topografia do

terreno, exposição, vigor da cultivar/porta-enxerto, fertilidade do solo e

sistema de condução. Não se recomendam distâncias entre fileiras menores

que 2 m. O sistema de espaldeira requer espaçamentos menores do que o

sistema em latada. Em geral, os espaçamentos mais comuns são de 2 a 3 m

entre fileiras e 1,5 a 3 m entre plantas na fileira. Estes espaçamentos

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correspondem a densidades que variam entre 1.111 plantas/ha a 3.333

plantas/ha.

As covas devem apresentar dimensões próximas a 50 x 50 x 50 cm.

A adubação pode ser feita em área total, sendo incorporados os

fertilizantes por meio de gradagens. No caso de plantio em covas, realizar a

abertura trinta dias antes do plantio, fazendo-se a adubação apenas do solo

da cova.

Em geral, invertem-se as camadas do solo da superfície (A) e do

fundo da cova (B), utiliza-se metade do calcário com esterco curtido (20

litros) na parte inferior e a outra metade com adubo mineral, na porção

superior da cova. A adubação de plantio deve ser realizada segundo a

análise de solo. Recomenda-se adicionar 4,5 g de zinco mais 1,0 g de boro

por cova.

Figura 2: Abertura e preparo de cova para plantio da videira.

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6 SISTEMAS DE CONDUÇÃO

Os sistemas de condução da videira mais utilizados no Brasil são a

latada e a espaldeira.

Na escolha de qual sistema de condução a ser utilizado, devem-se

levar em consideração alguns fatores, como:

a) número de plantas por ha;

b) tipo de clima da região;

c) poda de formação;

d) tipo de poda anual a ser utilizada;

e) operações em verde (podas).

6.1 Latada, pérgula ou caramanchão É o sistema de condução mais utilizado no do Rio Grande do Sul e

no nordeste brasileiro. Este sistema permite altas produções, pois possibilita

grande crescimento vegetativo da planta.

Cada latada deve ter, no máximo, 200 m de comprimento, que é uma

área equivalente a 4 ha, e altura de 2 m. O espaçamento entre linhas e entre

plantas deve ser 3 x 3 m ou 4 x 2 m.

Na construção da latada, inicia-se pela colocação das cantoneiras (10

x 15 x 230 cm) nos quatro cantos da latada, devendo ser amarradas a dois

rabichos (15 x 15 x 120 cm) no lado externo da cantoneira, para suportar

bem a pressão. Após, são colocados os postes externos (10 x 15 x 230 cm)

em todo o contorno da latada, espaçados de 3 a 4 m, inclinados 60° para o

lado externo da latada e amarrados com um rabicho cada. Em seguida,

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colocam-se os postes internos (10 x 10 x 230 cm) a cada 5 m na linha de

plantio. Após a instalação dos mourões, coloca-se o aramado. Os postes

devem ser ligados entre si por três fios de arame n° 8 bem enrolados entre

si, formando o cordão primário. Após, instalam-se os cordões secundários

de fios n° 8, ligando os postes internos entre si. Finalmente, coloca-se a

malha ou rede, que é formada de fios n° 12 ou 14, ligada entre os postes a

uma distância de 50 cm de cada, passada entre os cordões primários e

secundários.

Neste sistema, deixa-se a muda enxertada se desenvolver em haste

única até alcançar o aramado. No 2º ano, poda-se esta haste, deixando-se

duas gemas acima do aramado, para mudas de pouco vigor, ou 4 a 6 gemas

para mudas de alto vigor. As brotações localizadas abaixo destas deverão ser

eliminadas. As gemas selecionadas darão novas brotações, que serão

distribuídas e amarradas sobre a estrutura da latada.

A- cantoneira; B- poste externo; C- poste interno; D- rabicho;

B- E- cordão primário; F- cordão secundário; G- malha ou rede.

Figura 3: Sistema de condução tipo latada

Fonte: Informe Agropecuário (1998).

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6.2 Espaldeira Este sistema é muito utilizado na região Sul de Minas e em São

Paulo. Na espaldeira, a ramagem e a produção ficam na vertical, sendo a sua

construção semelhante a uma cerca. A construção da estrutura e o manejo da

planta são mais simples neste sistema do que na latada.

O comprimento da espaldeira deve ser, no máximo, de 100 m, altura

de 1,8 m e espaçamento entre linhas de 3 a 5 m. Colocam-se os mourões

externos (10 x 12 x 250 cm) no final de cada linha de plantio, amarrando

um rabicho (15 x 15 x 120 cm) por poste. Após colocam-se os mourões

internos (10 x 10 x 230 cm) a cada três plantas ou a cada 6 ou 8 m. Neste

sistema, colocam-se três fios de arame galvanizado. O primeiro fica a 1 m

do solo, o segundo a 1,4 m e o terceiro a 1,8 m do solo, utilizando fios n° 12

para o primeiro fio e n° 14 para o segundo e terceiro fios.

Para a formação da planta, o ramo é conduzido até o primeiro fio.

Em seguida, faz-se o desponte, deixando apenas duas gemas laterais,

conduzindo os braços na horizontal até encontrar o braço da outra planta.

Em seguida, faz-se o mesmo procedimento para o segundo e terceiro fios.

Figura 4: Sistema de condução tipo espaldeira.

Fonte: Informe Agropecuário (1998).

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7 TRATOS CULTURAIS

7.1 Poda A poda é uma prática que deve sempre ser utilizada na cultura da

videira, tanto para a formação da planta quanto para a formação dos ramos

produtivos. Uma vez que a produção ocorre em ramos do ano, é necessário

forçar a emissão de novos ramos a cada ciclo, formando os ramos

produtivos.

A poda tem por finalidade básica o equilíbrio entre as partes

vegetativas e produtivas da planta, regulando a produção e melhorando as

condições fitossanitárias.

a) Poda de inverno ou poda seca

É realizada durante o inverno, nos meses de julho a agosto. É

dividida em dois tipos de podas: poda de formação e de frutificação.

1- Poda de formação

A poda de formação da videira tem a função de formar os braços da

planta. Em geral, a formação da videira é concluída em dois anos após o

plantio.

Page 17: Cultura de videira 1

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2- Poda de frutificação

A poda de frutificação ou de produção é também realizada durante o

repouso da planta, objetivando preparar a planta para a safra posterior. Nesta

operação, reduz-se o volume da copa, retirando ramos não-frutíferos ou

ramos do ano anterior e mantendo somente aqueles ramos que poderão dar

novos frutos.

b) Poda de verão ou poda verde

É realizada no verão. Divide-se em:

1- Desbrota

Na operação de desbrota, devem ser eliminadas todas as brotações

que surgem no caule da videira. Essa operação é realizada quando as

brotações atingem cerca de 8 a 15 cm. Nunca deixar duas brotações na

mesma gema, eliminando sempre as mais fracas.

2- Desfolha

Durante o período de crescimento dos ramos, realiza-se a desfolha,

que tem como objetivo eliminar o excesso de folhas, melhorar a ventilação e

a incidência de insolação na videira. A quantidade de folhas a ser eliminada

irá depender da quantidade de folhas que tem a planta. Deve-se tomar

cuidado para não retirar a folha oposta ao cacho, para evitar exposição do

mesmo ao sol.

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22

3- Eliminação das gavinhas e desnetamento

Durante a fase de crescimento da planta, deve-se retirar as gavinhas

e os netos (ramos terciários que surgem nas axilas das folhas).

4- Desponte

É realizado uma ou duas vezes no ciclo. Realiza-se o primeiro

desponte alguns dias antes da floração, eliminando-se a gema apical da

planta. O segundo desponte é feito de 60 a 80 dias após a realização do

primeiro.

O desponte do cacho é feito com a finalidade de eliminar a porção

basal, para melhorar a sua conformação e aparência.

5- Desbaste dos cachos

O desbaste de cachos tem a finalidade de equilibrar a produção e a

conformidade dos cachos. Para isso, retira-se o excesso de cachos da planta.

É realizado em duas fases: a primeira é feita com a retirada dos cachos

florais e a segunda retirando-se os cachos novos depois dos frutos se

formarem.

6- Raleio de bagas

Tem a função de eliminar o excesso de bagas e produzir cachos de

melhor aspecto e qualidade.

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Esta prática pode ser realizada em duas fases: na primeira, o raleio é

realizado com pente plástico na pré-floração, quando os botões florais

soltam-se facilmente do cacho; na segunda fase, é realizado um segundo

raleio, com o pente plástico na fase de frutificação, quando as bagas estão

do tamanho de uma ervilha. Deve-se ter o cuidado de não passar o pente nos

dias chuvosos e eliminar somente o excesso de botões.

7- Anelamento

O anelamento consiste na remoção de um anel da casca do caule ou dos

ramos de 3 a 6 mm de espessura. O anelamento tem o objetivo de:

- aumentar o pegamento dos frutos;

- aumentar o tamanho das bagas;

- antecipar a maturação;

- melhorar a coloração dos frutos.

7.2 Controle de plantas invasoras Como em qualquer outra espécie frutífera, as invasoras ou plantas

daninhas devem ser mantidas sob controle para evitar perdas na produção ou

na qualidade do produto. Podem ser adotados, na cultura da videira,

diversos tipos de manejo do solo relativos ao controle de invasoras, sendo os

tipos básicos: solo coberto, solo parcialmente coberto e solo limpo.

No sistema de solo coberto, a cobertura pode ser obtida por

manutenção da vegetação natural, com leguminosas, com restos de culturas

ou com plástico preto, em toda ou na maior parte da área do vinhedo.

Page 20: Cultura de videira 1

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Podem ser, também, adotadas formas de cobertura parcial do solo,

mantendo-se limpas as linhas e as entrelinhas, faixas de vegetação nativa

roçada, com cobertura morta, adubos verdes ou plástico em uma faixa

distante 80 cm de cada lado da planta.

No sistema de solo limpo, a planta não sofre concorrência de

invasoras, mas o solo fica mais sujeito à erosão. Por isso, esta técnica

somente deve ser usada em área planas ou de baixíssima declividade. O solo

pode ser mantido limpo com capinas, gradeações ou uso de herbicidas.

7.3 Nutrição e adubação Há dois tipos básicos de adubação da videira: a de correção e a de

manutenção.

A adubação de correção é realizada para corrigir a fertilidade do solo

e repor os nutrientes absorvidos pela planta durante o ano. Deve ser feita

com base na análise de solo, com amostras retiradas nas camadas de 0 a 20 e

20 a 40 cm.

A adubação de manutenção ou de produção tem o objetivo de repor

os nutrientes extraídos pela planta, compreendendo nitrogênio, fósforo e

potássio. Esta adubação é geralmente feita incorporando-se os fertilizantes

ao solo por meio de uma valeta feita entre as linhas das plantas. Esta

adubação é efetuada no período de repouso (julho-agosto, na maioria das

regiões produtoras) das plantas. Para um melhor aproveitamento dos

adubos, estes devem ser aplicados em duas etapas, dentro do período

recomendado.

Page 21: Cultura de videira 1

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A adubação orgânica pode ser utilizada, pois favorece tanto as

características químicas quanto físicas e biológicas do solo, além de reduzir

a quantidade de fertilizantes químicos.

8 IRRIGAÇÃO A irrigação do vinhedo é uma prática que visa ao aumento da

produção.

Os dois sistemas de irrigação para videira com maior eficiência são o

gotejamento e a microaspersão. Sendo ambos métodos de irrigação

localizada, permitem a aplicação controlada de água e nutrientes

(fertirrigação), com menor risco de problemas fitossanitários, além de

poderem ser automatizados.

Ao longo do ciclo da cultura, a planta apresenta uma sensibilidade

variável à falta de água, principalmente no início do período de brotações. A

produção e a qualidade dos frutos são mais afetados pela falta de água

durante a fase de formação e crescimento dos cachos e das bagas.

9 DOENÇAS a) Antracnose

Esta doença é também conhecida por carvão ou olho de passarinho.

O ataque se dá sobre toda a planta, formando-se cancros de bordas negras e

centro mais claros nos brotos, ramos e gavinhas. Nas folhas, aparecem

Page 22: Cultura de videira 1

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pequenas manchas escuras, que podem perfurar a folha. Nas bagas, formam-

se manchas arredondadas e escuras. O ataque na floração causa

escurecimento e morte de flores.

O controle é feito por meio de diversas medidas, incluindo o plantio

em áreas com baixa umidade, protegidas dos ventos frios, poda hibernal e

arranquio e enterrio dos ramos com sintomas. Caso tenha havido ataque

intenso da doença no ciclo anterior, o tratamento com calda sulfocálcica

durante o período de inverno auxilia no controle no próximo ciclo.

b) Míldio

Esta doença é uma das mais importantes da cultura. O ataque ocorre

sobre as folhas, brotos, flores, bagas e ramos herbáceos. Observa-se,

inicialmente, uma mancha de aspecto oleoso, seguida da formação de uma

penugem branca na parte inferior da folha. A folha atacada acaba secando,

causando a desfolha precoce da planta. O ataque durante a floração reduz

significativamente a produção. O controle deve ser preventivo, quando

aparecerem os primeiros sintomas nas folhas, com uso de produtos

orgânicos, sistêmicos e cúpricos.

c) Oídio

Também conhecida por cinza ou mufeta, esta doença é de grande

importância em regiões de clima quente. Causa rachadura das bagas, com

exposição das sementes em ataques mais severos, além de serem formadas

manchas, depreciando a sua qualidade para consumo “in natura”. A

aplicação de enxofre proporciona bom controle desta doença, devendo

Page 23: Cultura de videira 1

27

aplicar nas horas mais frescas do dia. Deve-se cuidar, entretanto, com a

sensibilidade das plantas de algumas cultivares ao enxofre, tais como

Niágara, Concord e Herbemont.

d) Fusariose

É uma doença que ataca as plantas por meio do solo. Os sintomas

são a murcha das folhas e morte dos ramos, podendo ocorrer a morte da

planta.

O controle químico é oneroso e pouco eficiente. A prática mais

efetiva para o controle é a eliminação da planta doente, queimando-a

posteriormente e fazendo uma calagem profunda no local afetado. Deve-se

evitar o plantio em áreas úmidas, fazer a correção do solo e usar mudas ou

material de propagação sadios.

e) Podridão amarga

Esta doença se manifesta principalmente nos cachos. Os frutos

colhidos são contaminados e apodrecem durante o transporte e

armazenamento. Em geral, os demais fungicidas que são aplicados para o

controle de outras doenças também controlam a podridão amarga.

f) Viroses

A videira pode ser atacada por mais de 20 vírus diferentes, sendo os

mais importantes no Brasil: enrolamento da folha, entrenós curtos,

entumescimento dos ramos, mosaico das nervuras e mosaico do ‘Traviú’.

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28

Conforme a região, outras viroses podem ser mais importantes. O controle

das viroses só pode se obtido com uso de mudas ou material de propagação

sadios, obtendo-se este material de viveiristas ou, preferencialmente, de

instituições de pesquisa.

10 PRAGAS a) Filoxera

É um pequeno pulgão que suga o sistema radicular e as folhas,

podendo matar a planta. O maior prejuízo ocorre nas cultivares viníferas

plantadas de “pés -francos”. Nas folhas, os sintomas são galhas na parte

inferior das mesmas, podendo deformá-las. Nas raízes, são formadas galhas

em forma de gancho. O controle é feito por meio do uso de porta-enxertos

resistentes e, no caso de matrizes de porta-enxertos, inseticidas sistêmicos.

b) Cochonilhas

Atuam sugando ramos e formando colônias de cor branca ou

marrom. Durante o inverno, os insetos formam carapaças sobre si,

reduzindo a eficiência do controle. O controle é feito manualmente por

raspagem ou poda dos ramos infestados ou, em ataques intensos, com uso

de inseticidas após a colheita.

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c) Mosca-das-frutas

Os maiores prejuízos são causados pelas larvas no interior das bagas.

Os danos causados pela mosca das frutas vão desde a perfuração da casca da

baga até a total destruição da polpa da mesma. O controle é feito por meio

de iscas tóxicas ou pulverização em área total, conforme o monitoramento

feito com uso de armadilhas.

d) Formigas

Causam danos significativos principalmente no período de formação

da planta, época em que deve ser dada grande atenção ao controle destes

insetos. Como controle, utilizar iscas tóxicas, como o mirex.

11 COLHEITA E PÓS-COLHEITA Os cachos devem ser colhidos maduros, sendo o ponto de colheita

um dos aspectos fundamentais para a obtenção de frutos de qualidade. A

maturação dos cachos, em média, ocorre de 110 a 130 dias do início da

vegetação ou de 85 a 90 dias do início da floração.

As características dos frutos na colheita e o seu manejo variam

conforme o destino da produção. Uvas destinadas à indústria devem ser

colhidas no estádio adequado de maturação. A colheita é feita manualmente.

Os cuidados a serem tomados na colheita referem-se ao manuseio do cacho,

com um mínimo de dano às bagas. O manuseio inadequado e grosseiro dos

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frutos provoca rachadura das bagas, o que se torna uma eficiente “porta de

entrada” para fungos.

Os cuidados na pós-colheita a serem tomados são os seguintes:

- o transporte para o barracão deve ser feito com cuidado;

- realizar toalete dos cachos (eliminação dos cachos contaminados por

fungos e danificados), retirando as partes com defeitos;

- selecionar os cachos por peso e diâmetro das bagas;

- embalar individualmente os cachos em caixas de papelão de 6 kg, em

camada única;

- colocar uma folha de papel glassine ou de seda sobre os cachos para

promover proteção.

A produtividade média da uva pode chegar a 30 ou 40 t/ha/ano,

dependo das condições climáticas, irrigação e, principalmente, do manejo

adequado.

12 CUSTO DE PRODUÇÃO

A determinação de custos de produção se revela de suma

importância na agricultura, não somente como um componente para a

análise da rentabilidade da unidade de produção, mas também como

parâmetro de tomada de decisão e de capitalização do setor rural.

Em relação à cultura da videira, os custos de produção devem ser

abordados de duas maneiras: custos anuais de produção (que são variáveis,

de acordo com a idade das plantas) e os custos anuais com as safras e suas

respectivas despesas.

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O custo de produção de um hectare de videiras para mesa, uvas tipo

Itália, gira em torno de US$ 1.270,20 no primeiro ano de cultivo e US$

3.481,05 para a manutenção da videira no segundo ano de cultivo.

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13 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BRASIL. Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária. Uva para exportação: aspectos técnicos da produção. Brasília: EMBRAPA-SPI, 1996. 53 p. (EMBRAPA-SPI. Série Publicações Técnicas FRUPEX, 25). FRÁGUAS, J. C. Preparo e manejo do solo e adubação para videira. Lavras: EPAMIG, 1997. 4 p. (EPAMIG. Circular Técnica, 76). FREGONI, M. Viticoltura generale: compendi didattici e scientifici. Roma: Reda, 1987. 728 p. INFORME AGROPECUÁRIO. Viticultura. Belo Horizonte: EPAMIG, v. 10, n. 177, set. 1984. 128 p. INFORME AGROPECUÁRIO. Viticultura tropical. Belo Horizonte: EPAMIG, v. 19, n. 194. 1998. 100 p. MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. Uva de mesa. Brasília, 2000. 4 p. (FrutiSéries, 5).