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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL “MANOEL GUEDES” Escola Técnica “Dr. Gualter Nunes” Curso de Habilitação Profissional de Técnico em Enfermagem Saúde Coletiva e Epidemiologia MÓDULO II Tatuí-SP

Saúde Coletiva e Epidemiologia · A saúde e doença são processos íntimos e limítrofes, que se manifestam continuamente durante a vida das pessoas, de forma individual ou coletiva,

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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL “MANOEL GUEDES”

Escola Técnica “Dr. Gualter Nunes”

Curso de Habilitação Profissional de Técnico em Enfermagem

Saúde Coletiva e Epidemiologia

MÓDULO II

Tatuí-SP

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Sumário 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................. 2 2. O PROCESSO SAÚDE-DOENÇA ................................................................................................................ 2 3. O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) ........................................................................................................ 3 4. EDUCAÇÃO EM SAÚDE ............................................................................................................................ 18

4.1 Introdução ............................................................................................................................................. 18 4.2 De que trata a Educação em Saúde ..................................................................................................... 18 4.3 Tópicos Emergentes em Educação em Saúde ..................................................................................... 19

5. O AMBIENTE E OS PROCESSOS DE RESTAURAÇÃO ......................................................................... 19 5.1 Introdução .............................................................................................................................................. 19 5.2 O processo de desajustamento do organismo e as doenças transmissíveis ............................... 20

6. IMPLEMENTAÇÃO DE MEDIDAS ............................................................................................................. 21 6.1 Removendo Obstáculos ......................................................................................................................... 23

7. NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE ............................................................................................................... 23 7.1 História Natural e Prevenção de Doenças ............................................................................................. 24 7.2 Período Pré-Patológico .......................................................................................................................... 24 7.3 Período Patológico ................................................................................................................................. 24 7.4 Níveis de Prevenção .............................................................................................................................. 25

8. PROGRAMAS DE ATENÇÃO À SAÚDE ................................................................................................... 26 8.1 Programa de Atenção Integral à Saúde do Adulto ................................................................................ 26 8.2 Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher .............................................................................. 27 8.3 Programa de Atenção Integral à Saúde da Criança .............................................................................. 27 8.4 Programa de Atenção à Saúde do Adolescente ................................................................................... 28 8.5 Programa de Atenção à Saúde do Trabalhador .................................................................................... 28 8.6 Programa de Assistência Integral à Saúde do Idoso ............................................................................ 28 8.7 Programa Saúde da Família (PSF) ........................................................................................................ 29 8.8 Programa de Saúde Bucal .................................................................................................................... 29 8.9 Programa Nacional de Imunização ........................................................................................................ 30

9. Programa Saúde da Família ..................................................................................................................... 30 10. CUIDANDO DE QUEM CUIDA: ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR DE ENFERMAGEM ....... 31

10.1 Como Manter ou repor a energia perdida no trabalho......................................................................... 32 11. NOÇÕES DE EPIDEMIOLOGIA ............................................................................................................... 33

11.1 História Natural da Doença .................................................................................................................. 38 12. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA ............................................................................................................. 39

12.1 AÇÕES DE ENFERMAGEM NA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA .................................................... 41 13. VIGILÂNCIA SANITÁRIA ......................................................................................................................... 42

13.1 DEFINIÇÃO .......................................................................................................................................... 42 13.2 AREAS DE ATUAÇÃO ........................................................................................................................ 43

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................................... 44

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1. INTRODUÇÃO

Um olhar sobre a Saúde Pública deve levar em conta o

novo paradigma que pressupõe atitudes e hábitos de vida

saudáveis; que considera a prevenção como a melhor maneira

de garantir a saúde; que incentiva pesquisas em que a

assistência à saúde se faça por meio de abordagens alternativas

para atuar junto à assistência usual, medida por uma abordagem puramente biomédica e pouco

preocupada com a satisfação humana pouco gratificante e bem menos desafiadora.

A Saúde Pública é a ciência e a arte de prevenir as doenças, de prolongar a vida e

melhorar a saúde e a eficiência mental e física dos indivíduos, por meio da intervenção técnica e

política do Estado na assistência, que irá intervir no processo saúde-doença quebrando sua

cadeia causal mediante o tratamento e a reabilitação do indivíduo doente, ou evitando seus riscos

e danos por intermédio da prevenção e promoção da saúde, além do controle dos sadios com

base no conhecimento científico, ancorado nas técnicas de investigação empíricas que voltam-se

tanto para o individual (ações preventivas e de promoção à saúde com atividades de assistência

médica e reabilitação) como para o coletivo (através de ações governamentais das políticas de

saúde dirigidas ao coletivo).

2. O PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

A saúde e doença são processos íntimos e

limítrofes, que se manifestam continuamente

durante a vida das pessoas, de forma individual ou

coletiva, em determinado espaço físico e tempo.

Observamos que, ao longo de nossa

história de vida e da vida de nossos antepassados,

as formas de atendimento das necessidades de

saúde mudam. Essas mudanças não acontecem

por acaso. A limitação ou o avanço do

conhecimento, as culturas dos povos, a forma do

homem se relacionar com o meio em que vive, sua

visão sobre o processo de ter saúde e de adoecer,

são os principais fatores que definem os caminhos para o desenvolvimento de políticas públicas

de saúde, que visam atender às pessoas em seus estados de saúde e de doença.

A partir da década de 1970, os movimentos políticos mundiais orientam-se para uma

política de saúde para todos, de forma a atender de fato às necessidades da população,

considerando, saúde e doença como um processo determinado pelas condições socioeconômicas

e políticas nas quais as pessoas vivem e trabalham, ampliando, assim, o conceito de saúde para

além da simples ausência de doenças.

Passou-se a apontar as constantes mudanças na relação do homem com o meio ambiente

por causa da exploração ambiental, do crescimento demográfico, das relações com o mundo do

trabalho e do avanço da tecnologia como interferências diretas no modo de viver da população e,

consequentemente, no estado de saúde das pessoas e no perfil epidemiológico. A forma com que

o homem evolui e sua interação com o meio em que vive, por meio do acesso à renda que

possibilita o consumo de bens e serviços e do exercício da cidadania, definem os determinantes

do processo saúde-doença de uma geração ou um momento histórico. Os problemas de saúde

são, então, resultados de um processo complexo e dinâmico que se produz no interior da

sociedade.

São determinantes do processo saúde-doença os modos de viver da população,

considerando o estilo de vida resultante de acesso à moradia, aos meios de transporte, à

educação, à assistência à saúde, à alimentação, ao lazer, ao saneamento; o meio ambiente,

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destacando-se a relação com a sociedade e com o trabalho; e as características particulares de

cada pessoa, compreendendo os fatores genéticos, imunológicos e psicológicos.

É nessa lógica que percebemos mudanças consideráveis no perfil epidemiológico, quando

passamos a conviver com uma alteração no quadro de doenças da população, com a inclusão de

moléstias relacionadas ao trabalho, a acidentes de trânsito, à violência urbana, ao êxodo rural

desgovernado, à poluição ambiental, entre outras.

É preciso compreender o que determina o processo de saúde e de doença para que as

atividades/ações propostas pelas políticas de saúde/serviços de saúde venham a atender as

necessidades das pessoas, com resultados voltados para a melhoria da qualidade de vida.

Desenvolver o processo de trabalho em saúde é hoje um dos grandes desafios par os

profissionais da área, tanto nas atividades individuais como nas coletivas. É preciso incorporar

novos olhares para fora e para dentro das Unidades de Saúde, atrelando a esses olhares a noção

de saúde como processo de movimento instável, de ordem biológica, de vivências, de condições

de vida e de trabalho dos indivíduos, da família e da sociedade.

Desenvolver ações de promoção da saúde e prevenção de agravos, nos espaços de saúde

coletiva, exige da equipe de enfermagem um agir profissional dentro desse contexto, rompendo

com a prática dos serviços, viciada na atuação curativa, cujas ações estão voltadas somente para

a solução de queixas específicas e pontuais.

Essa nova forma de atuação pressupõe um trabalho consciente, criativo, solidário,

construído pelos gestores, pelo conjunto de trabalhadores das equipes de saúde e pelos usuários

do serviço, promovendo, ainda, a integração da saúde com as demais áreas de gestão pública,

para a consolidação das propostas e apropriação do direito à saúde e à cidadania.

Conhecer os determinantes de saúde da população do município/bairro/território de

atuação dos profissionais da saúde e buscar dentro das políticas públicas de saúde, estratégias

ou meios para atender às demandas oriundas das necessidades das pessoas, famílias ou grupos

sociais são formas de ampliar a possibilidade da atenção à saúde, cujas ações devam contemplar

o atendimento ampliado de saúde, propiciando à população espaços para troca de conhecimento

sobre o processo saúde-doença, passo decisório para a formulação de conceitos e mudanças no

estilo de vida.

3. O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)

O atendimento à saúde antes da constituição de 1988, sempre foi garantido para quem era

registrado no emprego e tinha aquele desconto no salário para aposentadoria e assistência

médica. A outra parte da população ficava com o que sobrava.

O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado para melhorar a saúde do povo e significa uma

conquista de várias pessoas isoladas ou em grupos, institucionalizadas ou não que lutaram por

mais de 10 anos para que isso acontecesse. O que está na Constituição e nas Leis da saúde é

uma vitória da sociedade unida e organizada que lutou por seus direitos. Agora, é a mesma

sociedade que deve fazer cumprir o que está definido na lei.

O Sistema Único de Saúde é uma nova formulação política e organizacional para o reordena

mento dos serviços e ações de saúde, estabelecida pela Constituição de 1988. O SUS não se

pretende um novo serviço ou instituição, mas um sistema sob responsabilidade dos três setores

autônomos de Governo – federal, estadual e municipal – e significa um conjunto de unidades,

serviços e ações integradas para uma ação comum. Responsabiliza-se pelas atividades de

promoção, proteção e recuperação da saúde seguindo a mesma doutrina e princípios em todo

território nacional.

As premissas desse novo sistema estão dispostas na Lei nº 8080, de 19/09/90 ou Lei Orgânica

da Saúde, conforme o estabelecido nos artigos 196 a 200 da Constituição Federal, que

explicitamente reconhece a saúde como direito de todos e dever do Estado e determina sua

implantação.

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Doutrinas do SUS

Universalidade – É a garantia de atenção à saúde, por parte do sistema, a todo e

qualquer cidadão em todos os níveis devendo, o poder público, proverem o pleno gozo

desse direito, inclusive em serviços contratados.

Equidade - É assegurar que todo cidadão é igual perante o SUS, devendo ser atendido

conforme suas necessidades, de acordo com a complexidade que cada caso exija, até o

limite que o sistema possa oferecer a todos.

Integridade – É o reconhecimento de que cada pessoa é um todo individual e integrante

de uma comunidade e que, por isso, deve ser atendida integralmente por um sistema de

saúde também integral, voltado a promover, proteger e recuperar a saúde.

Princípios do SUS

1 – Os serviços devem ser organizadas de forma REGIONALIZADA e HIERARQUIZADA em

níveis crescentes e complexidade, dispostos numa área geográfica delimitada, com sua

população definida para atendimento. O acesso da população à rede de saúde ocorreria através

dos serviços de nível primário, qualificados para resolver as principais demandas. A partir daí,

conforme a necessidade de cada caso seriam referenciados para serviços de maior complexidade

tecnológica até a solução de seus problemas e, quando possível, contra-referenciados para sua

unidade primária de origem. Dessa forma ter-se-ia um conhecimento maior dos problemas de

saúde daquela região delimitada, possibilitando ações específicas de vigilância epidemiológica,

sanitária, controle de vetores, educação em saúde, além das atenções ambulatoriais e

hospitalares.

2 – Os serviços, até o nível de sua competência, estariam capacitados para enfrentar com

RESOLUBILIDADE o atendimento individual ou um problema de impacto coletivo sobre a saúde.

3 – A responsabilidade e o comando das ações e serviços de saúde seria

DESCENTRALIZADA entre os vários níveis de governo, entendendo quanto mais próximo do fato

for tomada a decisão, mais chance de acerto haverá. Portanto, deverá ocorrer uma profunda

redefinição das atribuições dos vários níveis do Governo, reforçado e poder municipal que teria

uma responsabilidade maior na promoção das ações de saúde diretamente voltadas aos seus

cidadãos. É o que denominamos MUNICIPALIZAÇÃO DA SAÚDE.

4 – A garantia da PARTICIPAÇÃO DA POPULAÇÃO, através de suas entidades

representativas no processo de formulação das políticas de saúde e do controle da sua execução,

em todas as esferas, desde a federal até a local. Essa participação se dá nos CONSELHOS DE

SAÚDE que têm representação partidária de usuários – governo, profissionais de saúde e de

prestadores de saúde –, quando necessário. A participação deveria ocorrer ainda nas

conferências de saúde, para definir prioridades e linhas de ação. Nesse processo é dever das

instituições oferecerem informações e conhecimentos necessários para que a população se

posicione livremente sobre as questões de saúde.

5 – Como princípio geral fica estabelecido que o SETOR PRIVADO só possa participar do

SUS quando for provada a insuficiência do setor público.

Financiamento do SUS

Antes da Constituição, os recursos para financiar a assistência médica eram provenientes da

Previdência Social e os recursos para financiar as ações coletivas eram provenientes do Ministério

da Saúde. Com a criação do SUS, a Constituição de 88 determinou que as ações de saúde, tanto

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a assistência médica como as ações coletivas, deveriam ser financiadas com recursos

provenientes do Orçamento da Seguridade Social, do Orçamento da União, do Distrito Federal,

dos Estados, dos municípios e das contribuições sociais (dos empregadores, incidentes sobre a

folha de salário, o faturamento e o lucro; dos trabalhadores; sobre a receita de concursos e

prognósticos – Loterias, Sena, Super Sena), além de outras fontes.

Controle Social do SUS

O controle social e a participação da população são os pilares do SUS. Isto acontece através

de dois instrumentos básicos:

a) Conselho Municipal de Saúde:

Reúne representantes de diferentes setores da sociedade. Ele tem caráter permanente e

deliberativo, isto é, deve existir e se reunir sempre e resolver, após discussão, o que, e como,

será feito na área da saúde em determinada localidade. Deve também controlar e fiscalizar a

execução da política de saúde, inclusive quanto aos aspectos econômicos e financeiros,

lutando junto às diferentes instâncias de poder para que mais recursos sejam garantidos.

b) Conferência de Saúde (municipais, estaduais e nacionais):

Onde se discute o que é importante para cada município, para cada localidade. É um

momento de consulta ampliada à sociedade, a cada comunidade. Elas têm a função de avaliar

a situação de saúde e propor diretrizes para a política de saúde, quer dizer, o que é decidido

nas conferências deve ser seguido pelo dirigente ou secretário da saúde nas diferentes

esferas do Governo. Elas devem ser convocadas a cada quatro anos, mas sempre que se

achar necessário pode ser criado mecanismos como assembléias e plenários para discutir os

problemas de saúde de uma localidade.

Para exercer efetivamente o controle social, o cidadão, seja ele conselheiro ou não, precisa

estar bem informado. A informação é uma ferramenta básica para melhorar a saúde da

população.

Ações do SUS

Como exemplos das ações que devem ser desenvolvidas pelo SUS, no campo da promoção

da saúde, citam a educação em saúde, bons padrões de nutrição e alimentação, estímulo à

prática de exercícios físicos, hábitos de higiene pessoal, domiciliar e ambiental, desestímulo ao

sedentarismo, ao tabagismo, ao alcoolismo, ao consumo de drogas e à promiscuidade sexual. Já

no campo da proteção da saúde, as ações seriam as inerentes à vigilância epidemiológica e

sanitária, vacinação, saneamento básico, exames médicos e odontológicos periódicos. Quanto às

ações de recuperação da saúde temos as consultas médicas e odontológicas, o ato de vacinar, o

atendimento de enfermagem, os exames, diagnósticos e tratamentos, inclusive em regime de

internação e em todos os níveis de complexidade, e a reabilitação. Estas devem corresponder às

necessidades básicas, transparecendo tanto pela procura aos serviços, como pelos estudos

epidemiológicos e sociais de cada região.

Competências

1. Ao nível Federal

Formulação e condução de política nacional de saúde;

Regulamentação das normas, acompanhamento e avaliação das ações de saúde e

relacionamento entre os setores públicos e privados;

Execução de programas emergenciais;

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Administração do Fundo Nacional de Saúde com transferência para as unidades

descentralizadas;

Vigilância sanitária adequada ao controle e fiscalização da qualidade e comercialização

dos insumos, equipamentos, medicamentos e alimentos;

Estímulo ao desenvolvimento e controle dos imunobiológicos, do sangue e derivados e da

pesquisa.

2. Ao nível Estadual

Formulação e condução das atividades do Sistema Regional de Saúde;

Prestação de serviços em coordenação com os sistemas municipais;

Transferência dos municípios, dos serviços básicos de saúde;

Administração do Fundo Regional de Saúde, com transferência para as unidades locais.

3. Ao nível municipal

Planejamento, coordenação do sistema municipal ou distrital;

Compatibilização das normas com as peculiaridades locais;

Prestação de serviços básicos de saúde e serviços de maior complexidade quando houver

recursos;

Administração do Fundo Municipal de Saúde.

Lei Federal 8.080, de 19 de Setembro de 1990 (Lei Orgânica da Saúde)

Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e

o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a

seguinte lei:

DISPOSIÇÃO PRELIMINAR

Art. 1º Esta lei regula, em todo o território nacional, as ações e serviços de saúde, executados

isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas

de direito Público ou privado.

TÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições

indispensáveis ao seu pleno exercício.

§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas

econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no

estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos

serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.

§ 2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade.

Art. 3º A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a

moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o

lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a

organização social e econômica do País.

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Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto no artigo

anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental

e social.

TÍTULO II

DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

DISPOSIÇÃO PRELIMINAR

Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas

federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo

Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS).

§ 1º Estão incluídas no disposto neste artigo as instituições públicas federais, estaduais e

municipais de controle de qualidade, pesquisa e produção de insumos, medicamentos, inclusive

de sangue e hemoderivados, e de equipamentos para saúde.

§ 2º A iniciativa privada poderá participar do Sistema Único de Saúde (SUS), em caráter

complementar.

CAPÍTULO I

Dos Objetivos e Atribuições

Art. 5º São objetivos do Sistema Único de Saúde SUS:

I - a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde;

II - a formulação de política de saúde destinada a promover, nos campos econômico e social, a

observância do disposto no § 1º do art. 2º desta lei;

III - a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da

saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas.

Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS):

I - a execução de ações:

a) de vigilância sanitária;

b) de vigilância epidemiológica;

c) de saúde do trabalhador; e

d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;

II - a participação na formulação da política e na execução de ações de saneamento básico;

III - a ordenação da formação de recursos humanos na área de saúde;

IV - a vigilância nutricional e a orientação alimentar;

V - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho;

VI - a formulação da política de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos e outros insumos

de interesse para a saúde e a participação na sua produção;

VII - o controle e a fiscalização de serviços, produtos e substâncias de interesse para a saúde;

VIII - a fiscalização e a inspeção de alimentos, água e bebidas para consumo humano;

IX - a participação no controle e na fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de

substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;

X - o incremento, em sua área de atuação, do desenvolvimento científico e tecnológico;

XI - a formulação e execução da política de sangue e seus derivados.

§ 1º Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou

prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da

produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo:

I - o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde,

compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo; e

II - o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde.

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§ 2º Entende-se por vigilância epidemiológica um conjunto de ações que proporcionam o

conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e

condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as

medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos.

§ 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de atividades que se

destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e

proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos

trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho, abrangendo:

I - assistência ao trabalhador vítima de acidentes de trabalho ou portador de doença profissional e

do trabalho;

II - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), em estudos,

pesquisas, avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo

de trabalho;

III - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), da normatização,

fiscalização e controle das condições de produção, extração, armazenamento, transporte,

distribuição e manuseio de substâncias, de produtos, de máquinas e de equipamentos que

apresentam riscos à saúde do trabalhador;

IV - avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde;

V - informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindical e às empresas sobre os riscos

de acidentes de trabalho, doença profissional e do trabalho, bem como os resultados de

fiscalizações, avaliações ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos e de demissão,

respeitados os preceitos da ética profissional;

VI - participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de saúde do trabalhador

nas instituições e empresas públicas e privadas;

VII - revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo de trabalho, tendo na

sua elaboração a colaboração das entidades sindicais; e

VIII - a garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao órgão competente a interdição de

máquina, de setor de serviço ou de todo ambiente de trabalho, quando houver exposição a risco

iminente para a vida ou saúde dos trabalhadores.

CAPÍTULO II

Dos Princípios e Diretrizes

Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados

que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes

previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios:

I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;

II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e

serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os

níveis de complexidade do sistema;

III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral;

IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie;

V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;

VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo

usuário;

VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e

a orientação programática;

VIII - participação da comunidade;

IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo:

a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios;

b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde;

X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico;

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XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da

população;

XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e

XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos.

CAPÍTULO III

Da Organização, da Direção e da Gestão.

Art. 8º As ações e serviços de saúde, executados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), seja

diretamente ou mediante participação complementar da iniciativa privada, serão organizados de

forma regionalizada e hierarquizada em níveis de complexidade crescente.

Art. 9º A direção do Sistema Único de Saúde (SUS) é única, de acordo com o inciso I do art. 198

da Constituição Federal, sendo exercida em cada esfera de governo pelos seguintes órgãos:

I - no âmbito da União, pelo Ministério da Saúde;

II - no âmbito dos Estados e do Distrito Federal, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão

equivalente; e

III - no âmbito dos Municípios, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão equivalente.

Art. 10. Os municípios poderão constituir consórcios para desenvolver em conjunto as ações e os

serviços de saúde que lhes correspondam.

§ 1º Aplica-se aos consórcios administrativos intermunicipais o princípio da direção única, e os

respectivos atos constitutivos disporão sobre sua observância.

§ 2º No nível municipal, o Sistema Único de Saúde (SUS), poderá organizar-se em distritos de

forma a integrar e articular recursos, técnicas e práticas voltadas para a cobertura total das ações

de saúde.

Art. 11. (Vetado).

Art. 12. Serão criadas comissões intersetoriais de âmbito nacional, subordinadas ao Conselho

Nacional de Saúde, integradas pelos Ministérios e órgãos competentes e por entidades

representativas da sociedade civil.

Parágrafo único. As comissões intersetoriais terão a finalidade de articular políticas e programas

de interesse para a saúde, cuja execução envolva áreas não compreendidas no âmbito do

Sistema Único de Saúde (SUS).

Art. 13. A articulação das políticas e programas, a cargo das comissões intersetoriais, abrangerá,

em especial, as seguintes atividades:

I - alimentação e nutrição;

II - saneamento e meio ambiente;

III - vigilância sanitária e farmacoepidemiologia;

IV - recursos humanos;

V - ciência e tecnologia; e

VI - saúde do trabalhador.

Art. 14. Deverão ser criadas Comissões Permanentes de integração entre os serviços de saúde e

as instituições de ensino profissional e superior.

Parágrafo único. Cada uma dessas comissões terá por finalidade propor prioridades, métodos e

estratégias para a formação e educação continuada dos recursos humanos do Sistema Único de

Saúde (SUS), na esfera correspondente, assim como em relação à pesquisa e à cooperação

técnica entre essas instituições.

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CAPÍTULO IV

Da Competência e das Atribuições

Seção I

Das Atribuições Comuns

Art. 15. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios exercerão, em seu âmbito

administrativo, as seguintes atribuições:

I - definição das instâncias e mecanismos de controle, avaliação e de fiscalização das ações e

serviços de saúde;

II - administração dos recursos orçamentários e financeiros destinados, em cada ano, à saúde;

III - acompanhamento, avaliação e divulgação do nível de saúde da população e das condições

ambientais;

IV - organização e coordenação do sistema de informação de saúde;

V - elaboração de normas técnicas e estabelecimento de padrões de qualidade e parâmetros de

custos que caracterizam a assistência à saúde;

VI - elaboração de normas técnicas e estabelecimento de padrões de qualidade para promoção da

saúde do trabalhador;

VII - participação de formulação da política e da execução das ações de saneamento básico e

colaboração na proteção e recuperação do meio ambiente;

VIII - elaboração e atualização periódica do plano de saúde;

IX - participação na formulação e na execução da política de formação e desenvolvimento de

recursos humanos para a saúde;

X - elaboração da proposta orçamentária do Sistema Único de Saúde (SUS), de conformidade

com o plano de saúde;

XI - elaboração de normas para regular as atividades de serviços privados de saúde, tendo em

vista a sua relevância pública;

XII - realização de operações externas de natureza financeira de interesse da saúde, autorizadas

pelo Senado Federal;

XIII - para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e transitórias, decorrentes de

situações de perigo iminente, de calamidade pública ou de irrupção de epidemias, a autoridade

competente da esfera administrativa correspondente poderá requisitar bens e serviços, tanto de

pessoas naturais como de jurídicas, sendo-lhes assegurada justa indenização;

XIV - implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e Derivados;

XV - propor a celebração de convênios, acordos e protocolos internacionais relativos à saúde,

saneamento e meio ambiente;

XVI - elaborar normas técnico-científicas de promoção, proteção e recuperação da saúde;

XVII - promover articulação com os órgãos de fiscalização do exercício profissional e outras

entidades representativas da sociedade civil para a definição e controle dos padrões éticos para

pesquisa, ações e serviços de saúde;

XVIII - promover a articulação da política e dos planos de saúde;

XIX - realizar pesquisas e estudos na área de saúde;

XX - definir as instâncias e mecanismos de controle e fiscalização inerentes ao poder de polícia

sanitária;

XXI - fomentar, coordenar e executar programas e projetos estratégicos e de atendimento

emergencial.

Seção II

Da Competência

Art. 16. A direção nacional do Sistema Único da Saúde (SUS) compete:

I - formular, avaliar e apoiar políticas de alimentação e nutrição;

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II - participar na formulação e na implementação das políticas:

a) de controle das agressões ao meio ambiente;

b) de saneamento básico; e

c) relativas às condições e aos ambientes de trabalho;

III - definir e coordenar os sistemas:

a) de redes integradas de assistência de alta complexidade;

b) de rede de laboratórios de saúde pública;

c) de vigilância epidemiológica; e

d) vigilância sanitária;

IV - participar da definição de normas e mecanismos de controle, com órgãos afins, de agravo

sobre o meio ambiente ou dele decorrentes, que tenham repercussão na saúde humana;

V - participar da definição de normas, critérios e padrões para o controle das condições e dos

ambientes de trabalho e coordenar a política de saúde do trabalhador;

VI - coordenar e participar na execução das ações de vigilância epidemiológica;

VII - estabelecer normas e executar a vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras,

podendo a execução ser complementada pelos Estados, Distrito Federal e Municípios;

VIII - estabelecer critérios, parâmetros e métodos para o controle da qualidade sanitária de

produtos, substâncias e serviços de consumo e uso humano;

IX - promover articulação com os órgãos educacionais e de fiscalização do exercício profissional,

bem como com entidades representativas de formação de recursos humanos na área de saúde;

X - formular, avaliar, elaborar normas e participar na execução da política nacional e produção de

insumos e equipamentos para a saúde, em articulação com os demais órgãos governamentais;

XI - identificar os serviços estaduais e municipais de referência nacional para o estabelecimento

de padrões técnicos de assistência à saúde;

XII - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde;

XIII - prestar cooperação técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios

para o aperfeiçoamento da sua atuação institucional;

XIV - elaborar normas para regular as relações entre o Sistema Único de Saúde (SUS) e os

serviços privados contratados de assistência à saúde;

XV - promover a descentralização para as Unidades Federadas e para os Municípios, dos

serviços e ações de saúde, respectivamente, de abrangência estadual e municipal;

XVI - normatizar e coordenar nacionalmente o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e

Derivados;

XVII - acompanhar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde, respeitadas as

competências estaduais e municipais;

XVIII - elaborar o Planejamento Estratégico Nacional no âmbito do SUS, em cooperação técnica

com os Estados, Municípios e Distrito Federal;

XIX - estabelecer o Sistema Nacional de Auditoria e coordenar a avaliação técnica e financeira do

SUS em todo o Território Nacional em cooperação técnica com os Estados, Municípios e Distrito

Federal.

Parágrafo único. A União poderá executar ações de vigilância epidemiológica e sanitária em

circunstâncias especiais, como na ocorrência de agravos inusitados à saúde, que possam escapar

do controle da direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) ou que representem risco de

disseminação nacional.

Art. 17. À direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) compete:

I - promover a descentralização para os Municípios dos serviços e das ações de saúde;

II - acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do Sistema Único de Saúde (SUS);

III - prestar apoio técnico e financeiro aos Municípios e executar supletivamente ações e serviços

de saúde;

IV - coordenar e, em caráter complementar, executar ações e serviços:

a) de vigilância epidemiológica;

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b) de vigilância sanitária;

c) de alimentação e nutrição; e

d) de saúde do trabalhador;

V - participar, junto com os órgãos afins, do controle dos agravos do meio ambiente que tenham

repercussão na saúde humana;

VI - participar da formulação da política e da execução de ações de saneamento básico;

VII - participar das ações de controle e avaliação das condições e dos ambientes de trabalho;

VIII - em caráter suplementar, formular, executar, acompanhar e avaliar a política de insumos e

equipamentos para a saúde;

IX - identificar estabelecimentos hospitalares de referência e gerir sistemas públicos de alta

complexidade, de referência estadual e regional;

X - coordenar a rede estadual de laboratórios de saúde pública e hemocentros, e gerir as

unidades que permaneçam em sua organização administrativa;

XI - estabelecer normas, em caráter suplementar, para o controle e avaliação das ações e

serviços de saúde;

XII - formular normas e estabelecer padrões, em caráter suplementar, de procedimentos de

controle de qualidade para produtos e substâncias de consumo humano;

XIII - colaborar com a União na execução da vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras;

XIV - o acompanhamento, a avaliação e divulgação dos indicadores de morbidade e mortalidade

no âmbito da unidade federada.

Art. 18. À direção municipal do Sistema de Saúde (SUS) compete:

I - planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde e gerir e executar os

serviços públicos de saúde;

II - participar do planejamento, programação e organização da rede regionalizada e hierarquizada

do Sistema Único de Saúde (SUS), em articulação com sua direção estadual;

III - participar da execução, controle e avaliação das ações referentes às condições e aos

ambientes de trabalho;

IV - executar serviços:

a) de vigilância epidemiológica;

b) vigilância sanitária;

c) de alimentação e nutrição;

d) de saneamento básico; e

e) de saúde do trabalhador;

V - dar execução, no âmbito municipal, à política de insumos e equipamentos para a saúde;

VI - colaborar na fiscalização das agressões ao meio ambiente que tenham repercussão sobre a

saúde humana e atuar, junto aos órgãos municipais, estaduais e federais competentes, para

controlá-las;

VII - formar consórcios administrativos intermunicipais;

VIII - gerir laboratórios públicos de saúde e hemocentros;

IX - colaborar com a União e os Estados na execução da vigilância sanitária de portos, aeroportos

e fronteiras;

X - observado o disposto no art. 26 desta Lei, celebrar contratos e convênios com entidades

prestadoras de serviços privados de saúde, bem como controlar e avaliar sua execução;

XI - controlar e fiscalizar os procedimentos dos serviços privados de saúde;

XII - normatizar complementarmente as ações e serviços públicos de saúde no seu âmbito de

atuação.

Art. 19. Ao Distrito Federal competem as atribuições reservadas aos Estados e aos Municípios.

TÍTULO III

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DOS SERVIÇOS PRIVADOS DE ASSISTÊNCIA à SAÚDE

CAPÍTULO I

Do Funcionamento

Art. 20. Os serviços privados de assistência à saúde caracterizam-se pela atuação, por iniciativa

própria, de profissionais liberais, legalmente habilitados, e de pessoas jurídicas de direito privado

na promoção, proteção e recuperação da saúde.

Art. 21. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

Art. 22. Na prestação de serviços privados de assistência à saúde, serão observados os

princípios éticos e as normas expedidas pelo órgão de direção do Sistema Único de Saúde (SUS)

quanto às condições para seu funcionamento.

Art. 23. É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou de capitais estrangeiros na

assistência à saúde, salvo através de doações de organismos internacionais vinculados à

Organização das Nações Unidas, de entidades de cooperação técnica e de financiamento e

empréstimos.

§ 1° Em qualquer caso é obrigatória a autorização do órgão de direção nacional do Sistema Único

de Saúde (SUS), submetendo-se a seu controle as atividades que forem desenvolvidas e os

instrumentos que forem firmados.

§ 2° Excetuam-se do disposto neste artigo os serviços de saúde mantidos, em finalidade lucrativa,

por empresas, para atendimento de seus empregados e dependentes, sem qualquer ônus para a

seguridade social.

CAPÍTULO II

Da Participação Complementar

Art. 24. Quando as suas disponibilidades forem insuficientes para garantir a cobertura assistencial

à população de uma determinada área, o Sistema Único de Saúde (SUS) poderá recorrer aos

serviços ofertados pela iniciativa privada.

Parágrafo único. A participação complementar dos serviços privados será formalizada mediante

contrato ou convênio, observadas, a respeito, as normas de direito público.

Art. 25. Na hipótese do artigo anterior, as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos terão

preferência para participar do Sistema Único de Saúde (SUS).

Art. 26. Os critérios e valores para a remuneração de serviços e os parâmetros de cobertura

assistencial serão estabelecidos pela direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS),

aprovados no Conselho Nacional de Saúde.

§ 1° Na fixação dos critérios, valores, formas de reajuste e de pagamento da remuneração aludida

neste artigo, a direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) deverá fundamentar seu ato

em demonstrativo econômico-financeiro que garanta a efetiva qualidade de execução dos serviços

contratados.

§ 2° Os serviços contratados submeter-se-ão às normas técnicas e administrativas e aos

princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), mantido o equilíbrio econômico e

financeiro do contrato.

§ 3° (Vetado).

§ 4° Aos proprietários, administradores e dirigentes de entidades ou serviços contratados é

vedado exercer cargo de chefia ou função de confiança no Sistema Único de Saúde (SUS).

TÍTULO IV

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DOS RECURSOS HUMANOS

Art.27. A política de recursos humanos na área da saúde será formalizada e executada,

articuladamente, pelas diferentes esferas de governo, em cumprimento dos seguintes objetivos:

I - organização de um sistema de formação de recursos humanos em todos os níveis de ensino,

inclusive de pós-graduação, além da elaboração de programas de permanente aperfeiçoamento

de pessoal;

II - (Vetado)

III - (Vetado)

IV - valorização da dedicação exclusiva aos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS).

Parágrafo único. Os serviços públicos que integram o Sistema Único de Saúde (SUS) constituem

campo de prática para ensino e pesquisa, mediante normas específicas, elaboradas

conjuntamente com o sistema educacional.

Art. 28. Os cargos e funções de chefia, direção e assessoramento, no âmbito do Sistema Único

de Saúde (SUS), só poderão ser exercidos em regime de tempo integral.

§ 1° Os servidores que legalmente acumulam dois cargos ou empregos poderão exercer suas

atividades em mais de um estabelecimento do Sistema Único de Saúde (SUS).

§ 2° O disposto no parágrafo anterior aplica-se também aos servidores em regime de tempo

integral, com exceção dos ocupantes de cargos ou função de chefia, direção ou assessoramento.

Art. 29. (Vetado).

Art. 30. As especializações na forma de treinamento em serviço sob supervisão serão

regulamentadas por Comissão Nacional, instituída de acordo com o art. 12 desta Lei, garantida a

participação das entidades profissionais correspondentes.

TÍTULO V

DO FINANCIAMENTO

CAPÍTULO I

Dos Recursos

Art. 31. O orçamento da seguridade social destinará ao Sistema Único de Saúde (SUS) de acordo

com a receita estimada, os recursos necessários à realização de suas finalidades, previstos em

proposta elaborada pela sua direção nacional, com a participação dos órgãos da Previdência

Social e da Assistência Social, tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na Lei de

Diretrizes Orçamentárias.

Art. 32. São considerados de outras fontes os recursos provenientes de:

I - (Vetado)

II - Serviços que possam ser prestados sem prejuízo da assistência à saúde;

III - ajuda, contribuições, doações e donativos;

IV - alienações patrimoniais e rendimentos de capital;

V - taxas, multas, emolumentos e preços públicos arrecadados no âmbito do Sistema Único de

Saúde (SUS); e

VI - rendas eventuais, inclusive comerciais e industriais.

§ 1° Ao Sistema Único de Saúde (SUS) caberá metade da receita de que trata o inciso I deste

artigo, apurada mensalmente, a qual será destinada à recuperação de viciados.

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§ 2° As receitas geradas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) serão creditadas

diretamente em contas especiais, movimentadas pela sua direção, na esfera de poder onde forem

arrecadadas.

§ 3º As ações de saneamento que venham a ser executadas supletivamente pelo Sistema Único

de Saúde (SUS), serão financiadas por recursos tarifários específicos e outros da União, Estados,

Distrito Federal, Municípios e, em particular, do Sistema Financeiro da Habitação (SFH).

§ 4º (Vetado).

§ 5º As atividades de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico em saúde serão co-

financiadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pelas universidades e pelo orçamento fiscal,

além de recursos de instituições de fomento e financiamento ou de origem externa e receita

própria das instituições executoras.

§ 6º (Vetado).

CAPÍTULO II

Da Gestão Financeira

Art. 33. Os recursos financeiros do Sistema Único de Saúde (SUS) serão depositados em conta

especial, em cada esfera de sua atuação, e movimentados sob fiscalização dos respectivos

Conselhos de Saúde.

§ 1º Na esfera federal, os recursos financeiros, originários do Orçamento da Seguridade Social, de

outros Orçamentos da União, além de outras fontes, serão administrados pelo Ministério da

Saúde, através do Fundo Nacional de Saúde.

§ 2º (Vetado).

§ 3º (Vetado).

§ 4º O Ministério da Saúde acompanhará, através de seu sistema de auditoria, a conformidade à

programação aprovada da aplicação dos recursos repassados a Estados e Municípios.

Constatada a malversação, desvio ou não aplicação dos recursos, caberá ao Ministério da Saúde

aplicar as medidas previstas em lei.

Art. 34. As autoridades responsáveis pela distribuição da receita efetivamente arrecadada

transferirão automaticamente ao Fundo Nacionais de Saúde (FNS), observado o critério do

parágrafo único deste artigo, os recursos financeiros correspondentes às dotações consignadas

no Orçamento da Seguridade Social, a projetos e atividades a serem executados no âmbito do

Sistema Único de Saúde (SUS).

Parágrafo único. Na distribuição dos recursos financeiros da Seguridade Social será observada a

mesma proporção da despesa prevista de cada área, no Orçamento da Seguridade Social.

Art. 35. Para o estabelecimento de valores a serem transferidos a Estados, Distrito Federal e

Municípios, será utilizada a combinação dos seguintes critérios, segundo análise técnica de

programas e projetos:

I - perfil demográfico da região;

II - perfil epidemiológico da população a ser coberta;

III - características quantitativas e qualitativas da rede de saúde na área;

IV - desempenho técnico, econômico e financeiro no período anterior;

V - níveis de participação do setor saúde nos orçamentos estaduais e municipais;

VI - previsão do plano qüinqüenal de investimentos da rede;

VII - ressarcimento do atendimento a serviços prestados para outras esferas de governo.

§ 1º Metade dos recursos destinados a Estados e Municípios será distribuída segundo o quociente

de sua divisão pelo número de habitantes, independentemente de qualquer procedimento prévio.

§ 2º Nos casos de Estados e Municípios sujeitos a notório processo de migração, os critérios

demográficos mencionados nesta lei serão ponderados por outros indicadores de crescimento

populacional, em especial o número de eleitores registrados.

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§ 3º (Vetado).

§ 4º (Vetado).

§ 5º (Vetado).

§ 6º O disposto no parágrafo anterior não prejudica a atuação dos órgãos de controle interno e

externo e nem a aplicação de penalidades previstas em lei, em caso de irregularidades verificadas

na gestão dos recursos transferidos.

CAPÍTULO III

Do Planejamento e do Orçamento

Art. 36. O processo de planejamento e orçamento do Sistema Único de Saúde (SUS) será

ascendente, do nível local até o federal, ouvidos seus órgãos deliberativos, compatibilizando-se as

necessidades da política de saúde com a disponibilidade de recursos em planos de saúde dos

Municípios, dos Estados, do Distrito Federal e da União.

§ 1º Os planos de saúde serão à base das atividades e programações de cada nível de direção do

Sistema Único de Saúde (SUS), e seu financiamento será previsto na respectiva proposta

orçamentária.

§ 2º É vedada a transferência de recursos para o financiamento de ações não previstas nos

planos de saúde, exceto em situações emergenciais ou de calamidade pública, na área de saúde.

Art. 37. O Conselho Nacional de Saúde estabelecerá as diretrizes a serem observadas na

elaboração dos planos de saúde, em função das características epidemiológicas e da organização

dos serviços em cada jurisdição administrativa.

Art. 38. Não será permitida a destinação de subvenções e auxílios a instituições prestadoras de

serviços de saúde com finalidade lucrativa.

DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 39. (Vetado).

§ 1º (Vetado).

§ 2º (Vetado).

§ 3º (Vetado).

§ 4º (Vetado).

§ 5º A cessão de uso dos imóveis de propriedade do Inamps para órgãos integrantes do Sistema

Único de Saúde (SUS) será feita de modo a preservá-los como patrimônio da Seguridade Social.

§ 6º Os imóveis de que trata o parágrafo anterior serão inventariados com todos os seus

acessórios, equipamentos e outros bens móveis e ficarão disponíveis para utilização pelo órgão

de direção municipal do Sistema Único de Saúde (SUS) ou, eventualmente, pelo estadual, em

cuja circunscrição administrativa se encontrem, mediante simples termo de recebimento.

§ 7º (Vetado).

§ 8º O acesso aos serviços de informática e bases de dados, mantidos pelo Ministério da Saúde e

pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social, será assegurado às Secretarias Estaduais e

Municipais de Saúde ou órgãos congêneres, como suporte ao processo de gestão, de forma a

permitir a gerência informatizada das contas e a disseminação de estatísticas sanitárias e

epidemiológicas médico-hospitalares.

Art. 40. (Vetado).

Art. 41. As ações desenvolvidas pela Fundação das Pioneiras Sociais e pelo Instituto Nacional do

Câncer, supervisionadas pela direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), permanecerão

como referencial de prestação de serviços, formação de recursos humanos e para transferência

de tecnologia.

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Art. 42. (Vetado).

Art. 43. A gratuidade das ações e serviços de saúde fica preservada nos serviços públicos

contratados, ressalvando-se as cláusulas dos contratos ou convênios estabelecidos com as

entidades privadas.

Art. 44. (Vetado).

Art. 45. Os serviços de saúde dos hospitais universitários e de ensino integram-se ao Sistema

Único de Saúde (SUS), mediante convênio, preservada a sua autonomia administrativa, em

relação ao patrimônio, aos recursos humanos e financeiros, ensino, pesquisa e extensão nos

limites conferidos pelas instituições a que estejam vinculados.

§ 1º Os serviços de saúde de sistemas estaduais e municipais de previdência social deverão

integrar-se à direção correspondente do Sistema Único de Saúde (SUS), conforme seu âmbito de

atuação, bem como quaisquer outros órgãos e serviços de saúde.

§ 2º Em tempo de paz e havendo interesse recíproco, os serviços de saúde das Forças Armadas

poderão integrar-se ao Sistema Único de Saúde (SUS), conforme se dispuser em convênio que,

para esse fim, for firmado.

Art. 46. o Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecerá mecanismos de incentivos à participação

do setor privado no investimento em ciência e tecnologia e estimulará a transferência de

tecnologia das universidades e institutos de pesquisa aos serviços de saúde nos Estados, Distrito

Federal e Municípios, e às empresas nacionais.

Art. 47. O Ministério da Saúde, em articulação com os níveis estaduais e municipais do Sistema

Único de Saúde (SUS), organizará, no prazo de dois anos, um sistema nacional de informações

em saúde, integrado em todo o território nacional, abrangendo questões epidemiológicas e de

prestação de serviços.

Art. 48. (Vetado).

Art. 49. (Vetado).

Art. 50. Os convênios entre a União, os Estados e os Municípios, celebrados para implantação

dos Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde, ficarão rescindidos à proporção que seu

objeto for sendo absorvido pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Art. 51. (Vetado).

Art. 52. Sem prejuízo de outras sanções cabíveis, constitui crime de emprego irregular de verbas

ou rendas públicas (Código Penal, art. 315) a utilização de recursos financeiros do Sistema Único

de Saúde (SUS) em finalidades diversas das previstas nesta lei.

Art. 53. (Vetado).

Art. 54. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 55. São revogadas a Lei nº. 2.312, de 3 de setembro de 1954, a Lei nº. 6.229, de 17 de julho

de 1975, e demais disposições em contrário.

Brasília, 19 de setembro de 1990; 169º da Independência e 102º da República.

FERNANDO COLLOR

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Alceni Guerra

4. EDUCAÇÃO EM SAÚDE

4.1 Introdução

Certamente você já estudou alguns conceitos de saúde, mas

podemos lhe apresentar mais um. Saúde é o resultado das

condições de vida, logo do acesso ao trabalho, à escola, à moradia e

à alimentação. Com isso, ter ou não estas condições implica saúde

ou adoecimento.

Com base nesse conceito de saúde, podemos discutir o que é

educação em saúde. Ao longo de sua vida, você certamente ouvirá:

“Você é um educador em potencial!” Já que saúde é um “direito de

todos” e uma “conquista social” chamamos atenção para o fato de a

educação em saúde não ser de competência exclusiva de uma única categoria profissional; ela

deve contar com uma participação multiprofissional. O papel educativo do profissional de saúde,

como um dos componentes das ações básicas de saúde, é tarefa de toda a equipe na unidade de

saúde.

Passamos a idéia de que as pessoas não têm saúde porque não querem, porque não se

esforçam, porque não tem vontade de ter saúde. As pessoas que trabalham com educação em

saúde muitas vezes acham que uma grande parte da população tem problemas porque é

ignorante. Faltam condições de viver e saúde para a maioria da população brasileira, não porque

ela ou eu nos descuidamos, mas porque as autoridades não usam o dinheiro público de acordo

com os nossos interesses.

Ao realizar uma atividade educativa, devemos considerar:

Para quem se destina a ação educativa;

Conteúdos, objetivos e metodologia;

A participação ativa, crítica e reflexiva das pessoas envolvidas no processo educativo;

A atividade educativa pode acontecer individualmente ou para um grupo, e vários recursos

podem ser utilizados – por exemplo, dramatização, álbuns, cartazes, folders, vídeos,

músicas, dinâmicas, etc.

4.2 De que trata a Educação em Saúde

Trata-se de uma tarefa que depende, no caso da saúde, de profissionais com habilidade e

competências para orientar as pessoas a:

Promover a saúde;

Evitar riscos à saúde;

Restaurar a saúde;

Prevenir doenças.

Seus desafios são trazer o sujeito da Unidade em Saúde Pública/Coletiva para a

reaproximação da natureza e das coisas naturais, afetadas pelos males da modernidade; orientar

as pessoas para a tomada de decisões em suas vidas no sentido da promoção à saúde; e

conseguir, por meio da educação em saúde, que as pessoas possam ter uma melhor qualidade de

vida.

No mundo de hoje, as pessoas vivem tensas, excessivamente preocupadas e não se

sentem motivadas a cuidar devidamente de sua própria saúde. O homem e a mulher modernos

têm hábitos que causam mais danos que benefícios a sua saúde:

Vida sedentária;

Irritação no trânsito;

Perigo e inalação do ar poluído;

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Superalimentação de carboidratos e gorduras saturadas;

Automedicação, componentes de cafeína e nicotina;

Falta de atividades de lazer;

Aquisição de produtos anti-higiênicos e nocivos à saúde;

Ansiedade provocada pela mídia, cheia de notícias desagradáveis;

Falta de tempo para cuidar da saúde – comer, dormir e divertir-se.

E tantos outros que você mesmo é capaz de citar. Que tal o desafio?

Como saúde não dói nem causa mal estar, as pessoas não se dão conta de que ela existe,

de que é um bem valioso e que só será “sentido” quando faltar. As práticas educativas devem

possibilitar aos indivíduos a aquisição de habilidades para a tomada de decisões na busca de uma

melhor qualidade de vida. É dentro dessas concepções de educação, saúde e educação em

saúde que acreditamos caber ao profissional de saúde (aí incluído o profissional da área da

enfermagem) o papel de defensor/facilitador para os grupos sociais com os quais interagem e

que necessitam de mudanças sociais. É fazer com que os indivíduos resgatem a sua cidadania,

colocando-a em evidência na promoção da saúde.

Educação em saúde pressupõe uma combinação de oportunidades que favoreçam a

promoção e manutenção da saúde. Sendo assim, não podemos entendê-la somente como a

transmissão de conteúdos, comportamentos e hábitos de higiene do corpo e do ambiente, mas

também como a adoção de práticas educativas que busquem a autonomia dos sujeitos na

condução da sua vida.

Educação em saúde nada mais é que o exercício de construção da cidadania.

4.3 Tópicos Emergentes em Educação em Saúde

Alguns assuntos, que agora consideramos emergentes, historicamente não eram tidos

como questões do campo da saúde. A modernidade, com suas mudanças nos valores e nos

modos de vida, fez emergir problemas sociais ainda não contemplados pela área da saúde

pública:

Prevenção do uso de drogas;

Acidentes domésticos;

Violência contra crianças e adolescentes;

Violência contra a mulher;

Entre outros.

5. O AMBIENTE E OS PROCESSOS DE RESTAURAÇÃO

5.1 Introdução

Trataremos de uma relação especial: a relação que os seres vivos

estabelecem entre si e com o meio ambiente. Por isso falar de saúde é

falar da nossa vida, do nosso trabalho e das nossas relações.

Nota: Sugerimos que vocês façam uma pesquisa sobre esses assuntos e outros de interesse da classe e do professor. Na apresentação, como vocês realizariam atividades educativas dos temas desenvolvidos?

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A coexistência entre os seres vivos se dá de forma pacífica?

Nem sempre. Quando os seres convivem harmonicamente, o equilíbrio pode gerar

benefícios para todos; quando há desarmonia, essas relações podem gerar adoecimento, uma

vez que uma das partes perde mais do que recebe. As doenças transmissíveis representam um

bom exemplo de uma relação desarmônica entre homens e micro-organismos.

Contato requer interação, troca. Da mesma forma que as pessoas podem ser contagiadas

por sentimentos de felicidade, prazer, sofrimento, dor, alegria, também podem ser contagiadas por

micro-organismos que se escondem no corpo infectado. As permutas entre seres (corpos) muitas

vezes ocorrem sem que percebamos; trata-se de um processo complexo que independe do

estado de saúde atual daquele que transmite. Mesmo estando saudáveis, podemos transmitir

micro-organismos a outros seres/corpos. Como o próprio verbo revela, transmitir significa “fazer

passar de um ponto ou de um possuidor para outro”. Para transmitir uma doença infecciosa, é

necessário que três elementos interajam:

O agente (micro-organismo causador);

O receptor (se vivo sujeito ao adoecimento);

O ambiente. (interno – organismo humano e externo – ambiente propriamente dito)

5.2 O processo de desajustamento do organismo e as doenças transmissíveis

O ser humano passa por muitas situações que exigem o desenvolvimento de mecanismos

de compensação e adaptação, tanto por parte do ambiente interno quanto do externo. O

adoecimento de um órgão ou sistema pode ser visto como um dos mecanismos de adaptação do

corpo a uma condição adversa (de agressão) que ameaça o equilíbrio do todo. Esses

mecanismos, no entanto, nem sempre são capazes de conter e reverter todos os desequilíbrios

presentes interna e externamente ao indivíduo.

A doença infecciosa é a “doença, clinicamente manifesta, do homem ou dos animais,

resultante de uma infecção”. A compreensão dos processos de transmissão de doenças dessa

natureza requer respostas a algumas perguntas:

O que é transmitido? – Um agente infeccioso específico (vírus, bactéria, fungo,

protozoário, etc.) ou produtos tóxicos.

De onde? – De uma fonte.

Para onde? – Para um ser vivo sujeito ao adoecimento (receptor).

Por que meios? – Através de alimentos, água utilizada como bebidas, ar atmosférico,

fômites (refere-se aos objetos de uso que podem estar contaminados).

Estas respostas fazem toda a diferença em relação às ações e aos cuidados a serem

implementados.

Sabemos que as doenças transmissíveis resultam da associação de múltiplos fatores,

dentre eles a presença de um agente indispensável ou de produtos do seu metabolismo. Dois

Agente

Receptor Ambiente

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fatores influenciam fortemente a produção de doenças de origem infecciosa: as características

dos micro-organismos e as características do hospedeiro.

Características dos microorganismos na produção da doença.

Os micro-organismos apresentam características que dirigem sua relação com o

hospedeiro e contribuem para o aparecimento de doença.

Infectividade: capacidade que certos organismos apresentam de penetrar, se

desenvolver ou se multiplicar no novo hospedeiro, ocasionando infecção.

Patogenicidade: capacidade de um agente infeccioso de causar enfermidade em um

organismo.

Virulência: capacidade de um agente infeccioso de produzir casos graves ou fatais.

Está associada à capacidade de multiplicação no organismo do hospedeiro e à

produção de substâncias tóxicas.

Poder invasor: capacidade de invadir os tecidos do organismo do hospedeiro.

Características do hospedeiro de resistência à doença.

Vários fatores encontram-se associados à capacidade de resistência às doenças:

Fatores genéticos;

Estresse;

Estado nutricional;

Consumo de álcool, narcóticos e fumo;

Integridade da pele e mucosas;

Capacidade de reação e adaptação aos estímulos do meio;

Estado atual de saúde;

Imunidade específica.

Peculiaridades das doenças transmissíveis.

Se por um lado o corpo age e reage às agressões dos agentes biopatogênicos, por outro

medidas terapêuticas podem (e devem) ser implementadas, algumas delas antes mesmo do

aparecimento da doença propriamente dita. Conhecendo os agentes infecciosos, sua ação

patogênica, seu ciclo de vida (dentro e fora do corpo humano) e seus mecanismos de penetração

(ingestão, inalação através das vias respiratórias, penetração através das mucosas e de solução

de continuidade, transmissão por via placentária, etc.), podemos atuar de forma preventiva.

Quando falamos de doenças de natureza infecciosa, interessa-nos conhecer não apenas

seu comportamento entre os indivíduos, mas também entre as coletividades. Doenças que

surgiram recentemente (emergentes) ou que já se encontravam controladas e retornaram (re-

emergentes) podem produzir um grande impacto negativo em determinados grupos da população,

trazendo como consequência inclusive o aumento do número de complicações e mortes.

Isso porque a suscetibilidade (resistência contra determinado agente patogênico) não é um

atributo que depende exclusivamente de características individuais. Neste caso, o coletivo pode

fazer toda a diferença, quer protegendo, quer aumentando a chance de exposição. Sabendo

disso, nós, profissionais de enfermagem, precisamos conhecer mais do que os aspectos

referentes às manifestações das doenças a fim de lidar com a diversidade e a adversidade. Para

tanto, individualidade e coletividade devem ser tratadas como faces de uma mesma moeda.

6. IMPLEMENTAÇÃO DE MEDIDAS

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As medidas a serem tomadas dependerão do agente, das características e condições do

suscetível e do contexto. As ações necessárias só poderão ser definidas depois de saber qual é o

problema, quem é afetado, onde, quando e como ele ocorre.

QUAL É O PROBLEMA

Conhecer o agravo e suas características é fundamental. Ainda que todas as doenças

transmissíveis sejam causadas por agentes infecciosos específicos ou por seus produtos tóxicos,

cada uma delas manifesta-se de maneira muito particular. É necessário ficar atento aos seguintes

aspectos:

Agente etiológico

Modo de transmissão

Período de incubação

Período de transmissibilidade

Suscetibilidade e resistência

Diagnóstico diferencial

Sinais

Sintomas

Complicações

Tratamento

Medidas de Controle

Nem sempre é fácil romper os elos que compõem a cadeia de transmissão, ainda que a

estrutura dessa cadeia já esteja amplamente estudada. Nesse aspecto, o ambiente desempenha

papel fundamental, contribuindo ou não para a manutenção das doenças. A definição, por

exemplo, de medidas de isolamento (de contato, respiratório, gotículas e aerossóis e precauções

padrão) podem ser decisivas em alguns casos.

Como você pode concluir, trata-se de uma tarefa complexa que requer profissionais

comprometidos com a qualidade da assistência prestada em âmbito tanto individual quanto

coletivo. Para isso é necessário estar sempre se atualizando, pois novas descobertas implicam

novos procedimentos a serem adotados. Felizmente trabalhamos com pessoas e não com

receitas de bolo.

QUEM É AFETADO

Quais os grupos da população mais atingidos? Quais as características desses grupos

(idade, sexo, grupo étnico, classe social, ocupação, etc) É importante compreender que há um

conjunto de características que interagem, tornando-nos mais ou menos vulneráveis a certos tipos

de agravos à saúde. Essas características podem ser genéticas, biológicas, ambientais,

socioeconômicas, culturais, etc.

A faixa etária, por exemplo, é um fator que pode conferir maior gravidade ao caso. O

sarampo, por exemplo, pode levar a óbito principalmente lactentes e crianças menores de dois

anos. Entre as complicações mais frequentes decorrentes do sarampo estão pneumonia, otite

média, laringite, encefalite e gastroenterite.

ONDE

Conhecendo a distribuição do agravo e as características do local (bairro, município,

estado, país) onde as pessoas foram afetadas ou expostas, é possível identificar áreas de risco,

realizar o acompanhamento dessas áreas e propor as melhores soluções. A letalidade do cólera,

por exemplo, varia muito entre os países; enquanto na Índia trata-se de uma doença endêmica, na

Europa a ação de uma epidemia pode ser devastadora.

QUANDO

Por meio do acompanhamento da distribuição de um evento durante um período de tempo

(horas, dias, semanas, meses ou anos), podemos conhecer os riscos a que as pessoas estão

sujeitas, prever acontecimentos e, principalmente, propor soluções. O tempo de observação

dependerá do agravo à saúde a ser estudado. Podem ser necessários alguns anos ou dias.

COMO

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Qual a magnitude do agravo? Há associação com alguma condição específica? Que

fatores encontram-se relacionados à sua ocorrência? Como se distribui o agravo? Agravos

infecciosos podem assumir comportamentos “normais” ou “anormais” quanto a sua frequência e

distribuição. Por isso, sempre que falamos na concentração de casos (ou de mortes) em um

período de tempo e espaço, quatro conceitos são fundamentais: endemia, epidemia, surto,

pandemia.

Endemia – é definida como uma variação no número de casos novos dentro dos

padrões regulares e esperados em um determinado período de tempo. Pode

representar o “comportamento normal” de um agravo à saúde.

Epidemia – define o “comportamento anormal” de um agravo, uma alteração além dos

valores esperados. Ela não significa, necessariamente, a ocorrência de um grande

número de casos. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (1992), há

situações em que dois casos de uma dada doença infecciosa podem caracterizar uma

epidemia, desde que representem uma elevação brusca que exceda os padrões

considerados “normais” e estejam associados no tempo e no espaço.

Surto e Pandemia – constituem formas particulares de epidemia. Enquanto a

pandemia destaca-se pelas suas proporções, atingindo um elevado número de

pessoas em mais de um continente, o surto é mais restrito e apresenta proporções

reduzidas ( uma cidade, um bairro, um colégio).

6.1 Removendo Obstáculos

A compreensão do processo saúde, nos níveis individual e coletivo, e a identificação dos

fatores capazes de influir positiva ou negativamente no estado de saúde nos permitem encontrar

alternativas de intervenção ou controle.

No passado, o alvo das ações mais tradicionais na área de saúde pública eram as doenças

que se apresentavam sob forma de epidemias (cólera, peste, etc). A ênfase estava no verbo

transmitir e o objetivo dos que trabalhavam com a área era romper um ou mais elos da cadeia de

transmissão das doenças infecciosas. Bastaria conhecer os mecanismos de transmissão dessas

doenças e os elementos nele envolvidos (agentes infecciosos, hospedeiro, ambiente) para que o

problema estivesse resolvido.

É bem verdade que as grandes epidemias que dizimavam populações inteiras deixaram de

fazer parte do perfil de morbi-mortalidade (adoecimento e morte) das populações residentes nos

países desenvolvidos. No entanto, a interação entre o homem e o ambiente mostrou-se muito

mais complexa e apesar de muitas descobertas científicas (antibióticos, vacinas, compostos

químicos de combate aos vetores, entre outras medidas específicas), as doenças infecciosas

permanecem como um desafio.

Infelizmente esses agravos, apesar de evitáveis através de medidas como imunização e

saneamento básico, permanecem compondo um quadro perverso relacionado à pobreza e ao

subdesenvolvimento.

Diríamos que os elos mais frágeis dessa cadeia de transmissão de doenças foram

rompidos. Os elos mais difíceis de contornar têm sido: a resistência de algumas bactérias aos

antibióticos disponíveis, o surgimento de novas doenças infecciosas em todo o mundo ( a

pandemia da AIDS, febres hemorrágicas provocadas pelo vírus Ebola e pelo antavírus) e a re-

emergência de algumas doenças infecciosas. Três

bons exemplos desse fenômeno de recrudescimento

de doenças infecciosas já conhecidas são a

tuberculose, dengue e hepatite B. Em comum estas

doenças só têm o fato de serem transmissíveis.

7. NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE

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Adoecer ou não adoecer, mais uma vez eis a questão. Determinar sinais, sintomas e

características de adoecimento tem sido tema constante na prática e nas pesquisas realizadas

pelos vários profissionais que trabalham na área da saúde. Construir quadros clínicos capazes de

agrupar semelhanças e diferenças no modo de adoecer dos indivíduos é tentar de alguma forma

descrever e ordenar acontecimentos, resgatando assim a história natural da doença ou construir

um discurso sobre a história natural da saúde.

A expressão “história natural da doença” refere-se a um conjunto de relações específicas

existentes entre três elementos:

O agente causador de doença;

O suscetível ao adoecimento (indivíduo);

O meio ambiente repleto de interações.

7.1 História Natural e Prevenção de Doenças

A história natural da doença compreende “as interrelações do agente, do suscetível e do

meio ambiente que afetam o processo global e seu desenvolvimento, desde as primeiras forças

que criam o estímulo patológico no meio ambiente, ou em qualquer outro lugar. Passando pela

resposta do homem ao estímulo, até as alterações que levam a defeitos, invalidez, recuperação

ou morte”.

É possível estabelecer medidas de prevenção voltadas tanto para a fase anterior ao

adoecimento (período pré-patológico) como para a fase posterior (período patológico).

7.2 Período Pré-Patológico

É a fase inicial, em que há apenas condições favoráveis ao aparecimento da doença. A

doença ainda não existe de fato, só existe a suscetibilidade. Em outras palavras, é na fase inicial

que encontramos os fatores determinantes do processo saúde doença.

São característicos do período pré-patológico os primeiros estímulos ao adoecimento,

presentes no meio ambiente ou em outro lugar. Por exemplo:

Falta de saneamento básico;

Poluição atmosférica;

Contaminação de produtos diversos;

Ingestão de água contaminada;

Exposição a altas doses de radiação;

Capacidade de resposta do organismo humano à agressão sofrida.

Nessa interação entre o estímulo ao adoecimento e o indivíduo suscetível, temos algumas

condições fundamentais para o surgimento da doença - fatores como idade, estado

nutricional e situação vacinal.

7.3 Período Patológico

Compreende o desenvolvimento do processo de adoecimento, a instalação da doença, sua

evolução, as alterações provocadas no organismo afetado e os seus possíveis “desfechos” ( de

recuperação a invalidez, cronicidade e morte). Nesse período, três fases distintas podem ser

identificadas.

A primeira fase, em que a doença já existe, mas o organismo ainda não manifesta seus

sintomas.

A segunda fase, marcada pelo aparecimento dos sinais e sintomas característicos da

doença. O grau de acometimento da doença dependerá de fatores como:

Características da própria doença;

Condições do doente;

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Assistência pretada.

E uma terceira fase, em que o desfecho da doença não é a cura completa ou a morte; é

possível que não haja reabilitação completa do doente. Nesse caso, é necessário promover

medidas de reabilitação capazes de melhorar o funcionamento da parte afetada e reduzir

incapacidades.

7.4 Níveis de Prevenção

Prevenir significa atuar antecipadamente, impedir determinados desfechos indesejados,

que seriam: o adoecimento, a invalidez, a cronicidade de uma doença ou a morte. De acordo com

a situação, os níveis de prevenção podem ser três:

Prevenção Primária

Conjunto de ações voltadas para a prevenção da ocorrência. Engloba medidas que têm

como objetivo atuar sobre o período que antecede a ocorrência da doença, destinadas a evitar o

desencadeamento de fatores que podem causá-la. Visa à promoção da saúde por meio do

atendimento às necessidades básicas do homem e por meio da prevenção de doenças, ou seja,

da proteção específica.

As ações de promoção da saúde incluem o conjunto de medidas que não se dirigem a uma

doença específica, mas à manutenção do bem estar geral. Podemos citar como exemplos de

medidas de promoção da saúde:

Saneamento básico;

Habitação em condições adequadas;

Recreação e lazer;

Remuneração adequada e condições de trabalho favoráveis e seguras;

Educação sexual;

Planejamento familiar.

As ações de proteção específica incluem o conjunto de medidas voltadas para o combate

de uma doença ou de um conjunto de doenças específicas. São exemplos:

Acompanhamento pré-natal;

Vacinação contra doenças imunopreveníveis ( poliomielite, tétano, sarampo, difteria

e coqueluche);

Controle de vetores;

Desinfecção concorrente e terminal;

Proteção contra riscos ocupacionais;

Cloração da água.

Prevenção Secundária

Conjunto de medidas voltadas para o período em que a doença já existe, visando impedir

sua evolução e suas complicações. As ações voltadas para o diagnóstico e tratamento precoce

englobam medidas que têm por objetivo identificar o processo patológico antes mesmo do

aparecimento dos sintomas.

Enquadram-se:

Descoberta de casos em levantamentos e exames seletivos – por exemplo, exame de

mamas (mamografia) e exame ginecológico (Papanicolau);

Notificação dos casos e, se necessário, tratamento dos contatos;

Emprego dos recursos laboratoriais disponíveis no diagnóstico e tratamento adequado

com o objetivo de prevenir complicações e sequelas;

Uso de serviço de enfermagem domiciliar ou hospitalização, se necessário.

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Prevenção Terciária

Nessa etapa a doença já se instalou e o seu desenvolvimento deixou algum tipo de

sequela. As medidas relacionadas englobam ações voltadas para a limitação do dano e a

reabilitação do indivíduo após a cura da doença. Destina-se também ao controle da doença e a

reintegração do trabalhador e cidadão a uma nova vida.

As ações voltadas para limitação do dano incluem medidas que visam prevenir ou limitar a

extensão das sequelas e as complicações causadas por doenças clinicamente avançadas. Já a

reabilitação engloba medidas que objetivam readaptar uma pessoa com deficiência a uma nova

condição em que possa manter uma vida útil e produtiva. Entre as ações estão:

Terapia ocupacional;

Dietas especiais;

Reintegração social;

Emprego selecionado;

Proporcionar à família instrução e supervisão no cuidado a doentes portadores de

deficiência;

Educação do público para a integração do reabilitado à comunidade e aos locais de

trabalho.

É importante conhecer a história natural das doenças porque, a partir do estudo dos

elementos que fazem parte dessa história, é possível identificar os fatores que predispõem à

ocorrência de doenças. Uma vez detectados esses fatores, é possível avaliar o grau de risco a

que os grupos estão submetidos, e assim proceder o acompanhamento e planejar estratégias de

intervenção.

Nos dias atuais fica mais claro que a lógica que concebia a saúde como resultado de uma

intervenção médica por meio de medicamentos está ultrapassada. Hoje já se pensa em saúde

como um projeto não só de recuperação, mas de manutenção do bem estar físico, psíquico, social

e ambiental.

8. PROGRAMAS DE ATENÇÃO À SAÚDE

Podemos dizer que política pública é a

materialização da ação do Estado. Por exemplo,

temos política econômica, política de segurança,

política de educação, política de saúde e outras

áreas de atuação. Obviamente essas políticas não

são dissociadas umas das outras, ou não deveriam ser. No caso da saúde, temos políticas

públicas que se materializam na forma de Programas de Atenção à Saúde.

8.1 Programa de Atenção Integral à Saúde do Adulto

As práticas ou ações programáticas configuram-se

como forma de organização do trabalho coletivo. A

preocupação com a necessidade de saúde da população –

principalmente com agravos de grande magnitude, implicou, no

decorrer da década de 1980, uma reorganização da

assistência à saúde, até então voltada apenas para o pronto-

atendimento e a demanda espontânea.

A priorização de alguns agravos específicos como

hipertensão arterial, diabetes mellitus, tuberculose,

hanseníase, pautada no perfil epidemiológico da população,

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veio articular ações de caráter individual e coletivo.

8.2 Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher

As proposições básicas de ação formuladas pelo Ministério da Saúde

para a assistência integral à saúde da mulher devem ser situadas no

contexto da política de expansão e consolidação dos serviços básicos de

saúde. Esse programa específico foi oficializado na década de 1980 e

configura-se como uma estratégia de destinação seletiva de recursos que

permitam a operacionalização de conteúdos de grande prioridade vinculados

à população feminina.

O programa nasceu com o objetivo de:

Aumentar a cobertura e a concentração do atendimento pré-natal, proporcionando

iguais oportunidades de utilização do serviço para toda a população;

Melhorar a qualidade da assistência ao parto, ampliando a cobertura do atendimento

prestado por pessoal treinado e diminuindo os índices de cesáreas desnecessárias;

Aumentar os índices de aleitamento materno, fornecendo as condições para

implantação do alojamento conjunto;

Implantar ou ampliar as atividades de identificação e controle do câncer cérvico uterino

e de mamas;

Implantar ou ampliar as atividades de identificação e controle de doenças sexualmente

transmissíveis;

Implantar ou ampliar as atividades de identificação e controle de outras patologias de

maior prevalência no grupo;

Desenvolver atividades de regulação da fertilidade humana, implementando métodos e

técnicas de planejamento familiar, diagnosticando e corrigindo estados de infertilidade;

Evitar aborto provocado, mediante prevenção da gravidez indesejada.

Os conteúdos da assistência integral à saúde da mulher serão desenvolvidos através de

atividades de assistência clínico ginecológica, assistência pré-natal e assistência ao parto

e puerpério imediato.

8.3 Programa de Atenção Integral à Saúde da Criança

Este programa também da década de 1980, está voltado para a

maximização do alcance da assistência à saúde infantil, o que significa

tanto estender a cobertura dos serviços de saúde quanto aperfeiçoar seu

poder de resolução diante dos problemas de saúde mais prevalentes e

relevantes.

As ações básicas na assistência integral à saúde da criança envolvem:

Acompanhamento do crescimento e desenvolvimento;

Aleitamento materno e orientação para o desmame;

Controle de doenças diarreicas;

Controle de infecções respiratórias agudas;

Controle de doenças que se podem prevenir por imunização.

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Considera-se prioritário o grupo de menores de cinco anos.

8.4 Programa de Atenção à Saúde do Adolescente

Criado em 1988 pelo Ministério da Saúde.

Seus objetivos são:

Promover a saúde integral do adolescente,

favorecendo o processo geral de seu crescimento e desenvolvimento, buscando

reduzir a morbi-mortalidade e os desajustes individuais e sociais;

Promoção da saúde, identificação de grupos de risco, detecção precoce de agravos,

tratamento adequado e reabilitação nas áreas prioritárias de: crescimento e

desenvolvimento, sexualidade, saúde bucal, saúde mental, saúde escolar, prevenção

de acidentes, trabalho cultural, lazer e esporte.

8.5 Programa de Atenção à Saúde do Trabalhador

A saúde do trabalhador é a mais moderna forma de se

estudar, discutir e pensar o binômio trabalho-saúde, já que traz

uma visão mais ampliada do que a estabelecida inicialmente a

partir da saúde ocupacional. É uma área do conhecimento

científico que tem como objeto de estudo a relação entre o

trabalho e o processo saúde-doença nos grupos humanos.

A saúde do trabalhador busca estabelecer vínculos e

explicações acerca do adoecimento e da morte de

trabalhadores a partir do estudo dos processos de trabalho. A

saúde do trabalhador engloba ações destinadas à promoção,

proteção, recuperação e reabilitação de todos os trabalhadores

submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho.

8.6 Programa de Assistência Integral à Saúde do Idoso

Apenas recentemente começaram a se delinear no Brasil políticas de saúde voltadas

especificamente para a população idosa. As mudanças verificadas não ocorreram por acaso.

Foram motivadas, de um lado, pelo visível crescimento desse

grupo etário e pela mudança do perfil de adoecimento e morte da

população; de outro lado, foram pautadas em avanços verificados

no sistema de atenção – o SUS

É o Ministério da Saúde, através da Secretaria de Políticas

de Saúde, em articulação com as Secretarias de Saúde dos

estados, do Distrito Federal e dos municípios, e em consonância

com a Lei Orgânica da Saúde e com a lei 8.842 de janeiro de

1994, que dispõe sobre a política nacional. Assim, a partir dessa

lei são estabelecidos os objetivos e as estratégias do Programa

de Atenção Integral à Saúde do Idoso, que envolve um conjunto de ações voltadas para:

Promoção;

- Informações sobre o idoso para o próprio idoso, sua família, seus cuidadores e a

sociedade em geral.

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Prevenção;

- Protocolo de prevenção a agravos da saúde na terceira idade; vacinação para idosos

(antitetânica, antipneumocóccica e antigripal)

Recuperação da saúde ou manutenção de uma qualidade de vida a mais digna

possível.

- Assistência ambulatorial através das unidades básicas de saúde; assistência

domiciliar através do Programa de Saúde da Família; política de medicamentos

voltadas para o idoso, garantindo assim medicamentos adequados de uso contínuo;

internação domiciliar para doentes crônicos.

8.7 Programa Saúde da Família (PSF)

O Programa Saúde da Família (PSF) tem como principal objetivo

contribuir para a reorientação do modelo assistencial a partir da atenção

básica, em conformidade com os princípios do Sistema Único de Saúde

(SUS). Isso imprimiria uma nova dinâmica de atuação nas unidades

básicas de saúde, com definição de responsabilidades entre os serviços

de saúde e a população.

O PSF visa tanto prestar assistência na unidade de saúde quanto

desenvolver tradicionalmente as ações de saúde no domicílio, numa

perspectiva de ação integral em que todos os membros de uma família são acompanhados. O

programa intervém sobre os fatores de risco aos quais a população está exposta e ainda estimula

a organização da comunidade para o efetivo exercício do controle social.

A proposta do PSF nasceu em 1994, quando foi sugerida a descentralização e a

municipalização dos serviços de saúde em que era um desafio a implementação efetiva do SUS.

A adesão dos secretários municipais de saúde também foi expressiva e significante. O programa

do Ministério da Saúde tenta valorizar os princípios de:

Territorialização;

Vinculação com a população;

Garantia de integridade na atenção;

Trabalho em equipe com o enfoque interdisciplinar;

Ênfase na promoção da saúde, com fortalecimento das ações intersetoriais.

A enfermagem, como categoria profissional que vida à saúde individual e coletiva, sempre

buscou a interface entre a comunidade e os serviços de saúde. De imediato, incorporou as

estratégias do PSF, contribuindo de forma significativa nos processos de planejamento,

coordenação, implantação e avaliação dessa nova proposta.

8.8 Programa de Saúde Bucal

O Brasil Sorridente é uma política do governo federal com o objetivo

de ampliar o atendimento e melhorar as condições de saúde bucal da

população brasileira. É a primeira vez que o governo federal desenvolve

uma política nacional de saúde bucal, ou seja, um programa estruturado,

não apenas incentivos isolados à saúde bucal.

O Brasil Sorridente foi lançado pelo Ministério da Saúde em 17 de

março de 2004 para ampliar o acesso ao tratamento odontológico. Grande

parte dos brasileiros não sabe que podem receber tratamento odontológico

gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Nota: Pesquise os programas de saúde existentes em sua cidade, desenvolvendo um trabalho para ser apresentado e discutido em sala de aula.

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8.9 Programa Nacional de Imunização

https://souenfermagem.com.br/artigo/programa-nacional-de-imunizacoes-

pnihttps://souenfermagem.com.br/artigo/programa-nacional-de-

imunizacoespni

9. Programa Saúde da Família

A Atenção Primária à Saúde (APS) está sendo desenvolvida e reconhecida no mundo, por

mais de três décadas, como uma estratégia capaz de estruturar redes integradas de atenção à

saúde, estas como círculos virtuosos na construção de sistemas de saúde efetivos. Ao longo

desse período, as experiências, tanto em países mais desenvolvidos a exemplo da Inglaterra,

Canadá, Espanha, Portugal e Cuba, quanto em países em seus cursos de desenvolvimentos

evidenciam que a APS, melhora a eficiência e efetividade da Atenção à Saúde, com

racionalização de custos, satisfação dos indivíduos, famílias e comunidades, vinculação e

corresponsabilidade entre estas, profissionais, gestores e gerentes dos serviços e sistemas de

saúde.

Portanto, um sistema de saúde estruturado, segundo os valores, princípios e bases

organizativas da APS, tem como objetivo superior a melhoria da qualidade de vida e saúde das

famílias a ele vinculadas, onde a equidade, a integralidade e a participação social representam

imperativos éticos, morais e científicos para a realização do direito à saúde e à solidariedade

social. Por isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem defendido a Atenção Primária à

Saúde (APS), desde a Declaração da Alma Ata "Saúde para Todos" em 1978, como potencial

estratégia para alcançar a equidade e ganhos equitativos em saúde e no desenvolvimento

humano.

O Brasil adotou o Programa de Agentes Comunitários de Saúde-PACS (1991) e o

Programa de Saúde da Família-PSF (1994) como estratégias para contribuir na construção de um

novo modelo de atenção integral à saúde das famílias. Logo, são estratégias voltadas para a

reorganização das ações de ABS, que se fundamentam em uma nova ética política institucional,

cujos princípios e bases organizativas revelam-se nos seguintes objetivos:

· Prestar, na unidade de saúde e no domicílio, assistência integral, contínua, com

resolubilidade e boa qualidade às necessidades de saúde da população adstrita;

· Intervir sobre os fatores de risco em que a população está exposta;

· Eleger a família e o seu espaço social como núcleo básico de abordagem no atendimento à

saúde;

· Humanizar as práticas de saúde através do estabelecimento de um vínculo entre os

profissionais de saúde e a população;

· Proporcionar o estabelecimento de parcerias através do desenvolvimento de ações Inter

setoriais;

· Contribuir para a democratização do conhecimento do processo saúde/doença, da

organização dos serviços e da produção social da saúde;

Realizar Pesquisa em:

https://souenfermagem.com.br/artigo/programa-nacional-de-imunizacoes-pni

http://saude.es.gov.br/Media/sesa/Imuniza%C3%A7%C3%A3o/Calend%C3%A1rio%20Nacional%20de

%20Vacina%C3%A7%C3%A3o%20da%20Crian%C3%A7a%20-%20PNI%20-%202016.pdf

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Fazer com que a saúde seja reconhecida como um direito de cidadania e, portanto,

expressão da qualidade de vida e;

· Estimular a organização da comunidade para o efetivo exercício social. (Brasil, 1998).

Para que essa nova prática se concretize, faz-se necessária a presença de um profissional

com visão sistêmica e integral do indivíduo, família e comunidade, um profissional capaz de atuar

com criatividade e senso crítico, mediante uma prática humanizada, competente e resolutiva, que

envolve ações de promoção, de proteção específica, assistencial e de reabilitação. Um

profissional capacitado para planejar, organizar, desenvolver e avaliar ações que respondam às

reais necessidades da comunidade, articulando os diversos setores envolvidos na promoção da

saúde. Para tanto, deve realizar uma permanente interação com a comunidade, no sentido de

mobilizá-la, estimular sua participação e envolvê-la nas atividades ¾ todas essas atribuições

deverão ser desenvolvidas de forma dinâmica, com avaliação permanente, pelo acompanhamento

de indicadores de saúde da área de abrangência.

Um dos caracteres de diferenciação desse processo é que os profissionais das equipes de saúde devem residir no município onde atuam, trabalhando em regime de dedicação integral. Por sua vez, para garantir a vinculação e identidade cultural com as famílias sob sua responsabilidade, os agentes comunitários de saúde (ACS) também devem residir nas respectivas áreas de atuação.

Responsabilidades da equipe do PSF

As atribuições básicas de uma equipe de Saúde da Família são:

• conhecer a realidade das famílias pelas quais são responsáveis e identificar os problemas de saúde mais comuns e situações de risco aos quais a população está exposta;

• executar, de acordo com a qualificação de cada profissional, os procedimentos de vigilância à saúde e de vigilância epidemiológica, nos diversos ciclos da vida;

• garantir a continuidade do tratamento, pela adequada referência do caso;

• prestar assistência integral, respondendo de forma contínua e racionalizada à demanda, buscando contatos com indivíduos sadios ou doentes, visando promover a saúde por meio da educação sanitária;

• promover ações Inter setoriais e parcerias com organizações formais e informais existentes na comunidade para o enfrentamento conjunto dos problemas;

• discutir, de forma permanente, junto à equipe e à comunidade, o conceito de cidadania, enfatizando os direitos de saúde e as bases legais que os legitimam;

• incentivar a formação e/ou participação ativa nos conselhos locais de saúde e no Conselho Municipal de Saúde.

Por seus princípios, o Programa Saúde da Família é, nos últimos anos, a mais importante

mudança estrutural já realizada na saúde pública no Brasil. Junto ao Programa dos Agentes

Comunitários de Saúde ¾ com o qual se identifica cada vez mais ¾ permite a inversão da

lógica anterior, que sempre privilegiou o tratamento da doença nos hospitais. Ao contrário,

promove a saúde da população por meio de ações básicas, para evitar que as pessoas fiquem

doentes. Porém, se o programa restringir-se apenas à atenção básica, fracassará. A aposta do

Brasil é no SUS, na atenção integral e em todos os níveis de complexidade.

10. CUIDANDO DE QUEM CUIDA: ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR DE

ENFERMAGEM

Este capítulo abordará um assunto fundamental e

imprescindível: o fato de estarmos atentos para cuidar de nós,

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mesmos profissionais da equipe de enfermagem, antes de nos preocuparmos em cuidar do outro.

Na nossa formação não aprendemos que também merecemos ser cuidados e não existe uma

política que contemple os aspectos relativos aos riscos aos quais os profissionais de enfermagem

estão expostos no seu exercício de cuidar de pessoas doentes: riscos de ordem emocional, física,

biológica, ambiental, química.

10.1 Como Manter ou repor a energia perdida no trabalho

Alimentação e Hidratação

Ao sair de um plantão desgastante, especialmente o noturno, dê

preferência a uma alimentação saudável, evitando frituras e embutidos. A

alimentação natural preserva as vitaminas e os sais minerais que

precisamos para nos recompor.

Lembre-se também que a hidratação

é muito importante, beba água e sucos com

regularidade. Assim, eliminam-se as toxinas

e hidrata-se o corpo que, normalmente, não foi hidratado durante

o plantão. Um dos primeiros sinais de desidratação é a

irritabilidade, e o que se percebe de profissional irritado... Beber

água pode ser um grande remédio.

Sono e Repouso

No seu dia de folga, opte por descansar e/ou por atividades que

tragam paz e quietude ao seu corpo, porque o desgaste de um dia de

plantão, queima muita energia, deve ser corrigido pela reposição dessa

mesma energia. Todavia, é muito comum observar-se a superposição de

atividades dos profissionais da equipe de saúde de quando estão em seu

dia de folga.

Respiração

Por vezes a ansiedade em nossa prática profissional é tanta que

não temos tempo “nem de respirar”. Essa expressão é tão usada quanto

verdadeira, pois não podemos dizer que usamos uma respiração nutritiva

par o nosso organismo quando, conscientemente, não expandimos o

nosso pulmão tanto quanto necessário para alimentá-lo com oxigênio, e também não o

comprimimos suficiente para expelir todo o gás carbônico que poderíamos.

Sendo assim, é importante que reservemos,no mínimo 20 minutos por dia só para

respirarmos conscientemente, o que pode ser feito andando, dirigindo, tomando banho. O

importante é a consciência do movimento, como se estivéssemos massageando o pulmão, esse

órgão vital responsável por tantas atividades, e que sobrevive, e nos deixa sobreviver, em meio a

uma atmosfera poluída e à agitação do dia-a-dia que superficializa a nossa respiração.

Cuidando das Emoções

Seja gentil consigo mesmo - Trate-se bem, não exija mais

do que o seu corpo pode lhe dar.

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Respire fundo - Muitas vezes, uma parada, mesmo durante o plantão, recarrega a nossa

energia.

Ande descalço – Sempre que possível, e dependendo do local par descarregar as energias

e deixar que ela flua pelo nosso corpo.

Ouça músicas lentas – Uns 20 minutos por dia, mesmo que você prefira músicas agitadas. A

música lenta associada à respiração profunda, induz as ondas cerebrais a diminuírem o seu

ciclo, e nesse estado, será possível conseguir um bom relaxamento corporal.

Tenha bons pensamentos e cultive boas amizades – Às vezes, o ritmo de trabalho,

o sofrimento e a dor que presenciamos durante a nossa profissão não nos deixam

ter bons pensamentos, e isolam-nos do convívio social. Portanto vá ao cinema, leia

textos que façam você refletir positivamente. Lembre-se que o cérebro é como um

computador, e recebe mensagens que nós mandamos para ele.

Valorize a sua profissão – A Enfermagem é você e que, de alguma forma, você

investiu para adquirir conhecimento. Sendo assim, não permita que desvalorizem o

seu empenho, mostre, cada vez mais, por meio de seu equilíbrio e de suas atitudes

pessoais, que um bom profissional de enfermagem faz a diferença numa sociedade

competitiva e que cada dia mais quer saber quem é o melhor.

11. NOÇÕES DE EPIDEMIOLOGIA

Definição

Defini-se Epidemiologia como ramo da ciência destinado a estudar “tudo sobre a população”,

do grego – epi (sobre) + demos (população).

A Associação Internacional de Epidemiologia define alguns objetivos principais, que são:

Descrever a distribuição e a magnitude dos problemas de saúde nas populações

humanas;

Proporcionar dados essenciais para o planejamento, execução, avaliações de prevenção,

controle e tratamento das doenças, bem como estabelecer prioridades;

Identificar fatores etiológicos na origem das enfermidades;

Analisar e classificar a história natural das doenças.

Definições fundamentais

Agente- (infeccioso, etiológico ou patogênico) – ser vivo capaz de produzir infecção ou

doença infecciosa no ser humano e em outros animais superiores; pode ser um microorganismo

(vírus, bactérias, protozoário, fungo) ou um organismo visível a olho nu (helminto, artrópode).

Anticorpo – substância natural produzida pelo organismo exposto a um antígeno, capaz de

reagir com aquele antígeno específico, inativando-o. Tipo de proteína (imunoglobulina),

modificada pelo organismo para sua própria defesa.

Antígeno - toda substância que, reconhecida como estranha pelo organismo, provoca uma

reação, induzindo à formação de anticorpos.

Antibiograma – é um teste de sensibilidade para detectar qual antibiótico deve ser usado

numa certa infecção.

Técnica: Semeia-se material da infecção no meio de cultura com discos de antibióticos, deixa

na estufa por certo tempo.

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Leitura: em volta dos discos, com antibiótico determinado, que não cresceu micro organismo,

dizemos que ele é SENSÍVEL ao antibiótico. Se crescer micro organismo diz que ele é

RESISTENTE.

Contágio – transmissão de doença de um indivíduo para outro por meio de contato direto ou

indireto.

Comunicante - é aquele que mantêm ou manteve contato com o doente, Ex: familiar de

paciente com tuberculose é comunicante porque convive com o doente.

Doenças infecciosas – processo de infecção orgânica, seguida de efeitos patológicos

manifestos.

Doenças transmissíveis – processo de infecção orgânica causada por um agente etiológico

que é capaz de transferir-se do hospedeiro em que está alojado para um ser humano (ou outro

animal superior), por contágio.

Endemia – ocorrência habitual de uma doença ou de um agente infeccioso em determinada

região, no decorrer de um largo período de tempo (incidência constante).

Epidemia – elevação brusca da incidência de uma doença numa comunidade, no decorrer de

um período de tempo determinado (é um conceito estatístico).

Epidemiologia – ciência que estuda o processo de saúde e doença na comunidade,

analisando a distribuição e os fatores determinantes das enfermidades e dos agravos à saúde

coletiva, propondo medidas específicas de prevenção, controle e irradiação.

Foco – concentração da ocorrência de uma moléstia em área determinada, durante um

período de tempo extenso (incidência constante).

Fômites - veículos inanimados (roupas, utensílios e objetos de uso pessoal) capazes de

alojar microorganismos vivos que podem contagiar o ser humano.

Fases do processo infeccioso:

a) Período de Incubação: - período compreendido entre a exposição do indivíduo ao agente

patogênico e a instalação deste no organismo do doente e as primeiras manifestações

clínicas da moléstia.

b) Período de Transmissibilidade: período precursor à doença propriamente dita.

c) Período Prodrômico: período em que o organismo apresenta um quadro clínico de febre,

mal-estar, cefaléia e outras reações orgânicas comuns a diversas doenças, não

caracterizando claramente a moléstia que está atacando o indivíduo. Período precursor a

doença propriamente dita.

d) Período de Estado: sinais clínicos bem definidos caracterizam a doença.

e) Período de Convalescença: período em que o organismo vai se restabelecendo.

Hospedeiro – ser humano ou outro animal superior em que se aloja um agente infeccioso. Há

dois tipos de hospedeiro: o definitivo (em que o agente alojado está em sua fase adulta, sexuada,

e, portanto é capaz de se reproduzir) e o intermediário (em que o agente está alojado em fase

larvar, assexuada, sem condições de reprodução).

Imune – indivíduo que está protegido contra a doença.

Imunidade – resistência orgânica a determinado tipo de infecção ou infestação.

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Imunidade Ativa – AG => AC.

É duradoura e pode ser:

Natural (pela doença)

Artificial (pela vacina)

Imunidade Passiva – (transferência de Ac. prontos)

É transitória e pode ser:

Natural: (pela placenta e colostro)

Artificial: (através de imunoglobulina).

Infecção – penetração, alojamento, multiplicação e desenvolvimento de microorganismos

patogênicos no corpo de um hospedeiro, provocando neste, reações orgânicas patológicas, com

evolução para a cura ou morte.

Infestação - penetração, alojamento, multiplicação e desenvolvimento de artrópodes nas

camadas superficiais da pele.

Meio de cultura – são espécies de gelatinas que possuem substâncias necessárias para o

desenvolvimento do micro organismo. Esses meios são colocados em placas de vidro, placas de

Petry e nela “semeados” o material no qual se deseja pesquisar presença do micro organismo.

Esses meios de cultura podem ser:

Sólidos: possuem uma substancia AGAR, extraída de algas marinhas, responsáveis pela

solidificação do meio de cultura e líquidos (não contém AGAR).

Meios de transmissão

a) Contato direto

b) Contato indireto

c) Gotículas de flügge

d) Veículos (água, alimentos, sangue, etc.)

e) Vetores (moscas, baratas)

f) Poeiras contaminadas

Memória imunológica – células imunológicas retêm a configuração do AG.

Modos de Transmissão

1. Direto: dispensa veículo (fômites, vetores, etc.) pode ser:

a) Imediato: contato físico (relações sexuais, beijo, etc).

b) Mediato: através de secreções

2. Indireto: através de:

a) Vetores: seres inanimados (geralmente insetos)

b) Fômites: seres inanimados

Morbidez – estado de abatimento e enfraquecimento orgânico causado por uma doença (do

latim morbus = doença).

Patogenia – capacidade de produzir doença. (Do grego pathos = sofrimento).

Portador – hospedeiro (ser humano ou animal superior) em cujo organismo se aloja um

agente infeccioso, mas que não apresenta sintomas e sinais da moléstia; assim, propicia que

aquele agente se transfira para outros hospedeiros. Há o portador são (cujo organismo, embora

transporte o agente, não foi infectado por ele) e o portador assintomático (que foi infectado, mas

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não apresenta os sintomas e sinais típicos da moléstia causada pelo agente que se alojou em seu

organismo).

Prevenção – capacidade de evitar doenças, tanto por meios que impeçam a penetração de

agentes patológicos no organismo dos indivíduos, como por medidas que combatam eficaz e

especificamente o agente infeccioso alojado no organismo.

Profilaxia – conjunto de iniciativas ligadas à prevenção e ao combate às moléstias.

Reservatório – ser vivo (animal ou vegetal) ou matéria orgânica (solo, água) onde o agente

infeccioso pode viver e se multiplicar; o reservatório abriga o agente patogênico, mas este não lhe

causa a moléstia.

Resistência – conjunto de mecanismos corporais dos seres vivos que servem de defesa

contra a invasão e a multiplicação de agentes infecciosos ou contra os efeitos nocivos de seus

produtos tóxicos; capacidade do organismo de se defender dos desgastes orgânicos e/ou

psicológicos provocados por doença.

Respostas imunes inespecíficas – são acionadas mediante agressão de qualquer agente

etiológico. Ex: leucócitos: são células sangüíneas móveis (parte branca), com capacidade de

locomoção e fagocitose.

Resposta imune específica – elimina o micro organismo de forma seletiva, específica.

AG AC

Agente Resposta

Sistema imunológico – é formado por órgãos e agentes responsáveis pela defesa do

organismo (leucócitos, linfócitos, timo, etc.).

Quando o organismo é atacado por algum micro organismo ele apresenta 3 meios de se defender.

1º. A resposta imunitária da fagocitose: envolve os leucócitos (granulócitos e macrófagos) que

tem capacidade de ingerir partículas estranhas. Estas células podem mover-se até o ponto

de ataque, englobar e destruir os agentes estranhos.

2º. Resposta humoral ou de anticorpos: começa com células linfocitárias que podem

transformar-se em células plasmáticas que produzem anticorpos. Os anticorpos são

proteínas altamente específicas, transportadas pela corrente sangüínea podem incapacitar

os invasores.

3º. Resposta imunológica celular: envolve linfócitos que além de se transformar em células

plasmáticas, transforma-se em células T, especificamente destruidores.

Suscetível – diz-se do ser humano ou animal que não possui resistência contra um

determinado agente patogênico.

Soro – Composto de anticorpos produzidos por outro organismo que, aplicado a um

indivíduo, confere a ele uma imunidade específica, passiva e temporária.

Surto – elevação anormal da incidência de casos de uma doença, em curto período de tempo

(é um conceito estatístico).

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Toxóide (ou anatoxina) – toxina produzida por um microorganismo que, submetida a diversos

processos, perdeu sua toxicidade, mas conserva a capacidade de provocar a produção de

anticorpos no organismo em que é administrada. Produz imunidade ativa e duradoura.

Vacina – substância com antígenos (atenuados ou mortos) que, aplicada ao indivíduo

suscetível, induz o organismo à produção de anticorpos específicos que lhe conferem imunidade

ativa e duradoura contra aquele antígeno.

Veículo – vetor biológico, fômite ou alimento / substância que transporta um agente

etiológico. Quando é um animal inferior, é chamado de vetor; quando é um ser humano ou animal

superior, é chamado de portador.

Vetor – animal inferior (inseto, roedor, molusco, ave, etc.) que transmite o parasita de um

hospedeiro para outro(s).

Vias de penetração – é a porta de entrada do agente etiológico.

a) Aparelho digestivo

b) Aparelho respiratório

c) Aparelho geniturinário

d) Solução de continuidade

Fases do Processo Infeccioso

É necessária uma cadeia de eventos, sem interrupção para a disseminação de uma doença

infecciosa:

Um agente causador

Um reservatório

Uma porta ou forma de escapar ou sair (porta de saída)

Uma forma de transmissão

Uma porta de entrada

Um hospedeiro suscetível

O controle da disseminação das doenças infecciosas diminui os índices de mortalidade de

pacientes suscetíveis, minimizar os custos de assistência à saúde e a duração da permanência no

hospital e aumenta a capacidade de os indivíduos levarem uma vida saudável e produtiva.

Agente Infeccioso

Reservatório

Hospedeiro Remover um dos elos da ou Fonte

cadeia, interrompe a

transmissão

Porta Entrada Porta de Saída

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Transmissão

11.1 História Natural da Doença

A história de qualquer processo mórbido passa pelos períodos antes da doença (pré-

patogênico) e o da doença propriamente dita (patogênico).

A prevenção da doença depende do conhecimento das inúmeras causas que contribuem para

o seu aparecimento.

Com a evolução do tratamento das doenças, tornou-se possível à prevenção das mesmas.

Não basta tratar, tem que prevenir. Hoje há uma mudança de paradigma, não basta prevenir a

doença tem que promover a saúde. O pensamento mundial voltou-se para uma proposta para a

melhoria da qualidade de vida da população.

Seguindo este pensamento, Lewis e Clarck, propôs os níveis de aplicação de medidas

preventivas na história natural das doenças, conforme o quadro a seguir:

NÍVEIS DE APLICAÇÃO DAS MEDIDAS PREVENTIVAS

Período Pré-patogênico Período Patogênico

Prevenção Primária Prevenção Secundária Prevenção

Terciária

Promoção da

Saúde Proteção Específica

Diagnóstico

Precoce

Atendimento

Imediato

Limitação da

invalidez Reabilitação

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-Educação

Sanitária

-Bom padrão de

nutrição, ajustando

às fases de

desenvolvimento da

vida

-Atenção ao

desenvolvimento da

personalidade

-Moradia adequada,

recreação e

condições

agradáveis de

trabalho

-Aconselhamento

matrimonial e

educação sexual

-Genética

-Exames seletivos

periódicos

-Uso de

imunizações

específicas

-Atenção à higiene

pessoal

-Hábito de

saneamento do

ambiente

-Proteção contra

riscos ocupacionais

-Proteção contra

acidentes

-Uso de alimentos

específicos

-Proteção contra

substâncias

carcinogênicas

-Controle de

alérgenos

-Medidas

individuais e

coletivas para a

descoberta de

casos

-Pesquisas de

triagem

-Exames seletivos

Objetivos:

Curar e evitar o

processo da

doença

Evitar a

propagação de

doenças

contagiosas

Evitar

complicações e

seqüelas

Encurtar o

período de

invalidez

-Tratamento

adequado para

interromper o

processo mórbido e

evitar futuras

complicações e

seqüelas

-Provisão de meios

para limitar a

invalidez e evitar a

morte

-Prestação de

serviços

hospitalares e

comunitários para

reeducação e

treinamento, a fim

de possibilitar a

utilização máxima

das capacidades

restantes

-Educação do

público e indústria,

no sentido de que

empreguem o

reabilitado

-Emprego tão

completo quanto

possível

-Colocação seletiva

-Terapia

ocupacional em

hospitais

-Utilização de asilos

É fundamental o papel da educação, da informação e da comunicação na promoção da saúde

para gerar uma nova cultura da saúde.

12. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

Conceitua-se Sistema de Vigilância Epidemiológica (SVE) como o conjunto de atividades que

proporcionam a informação indispensável para conhecer, detectar ou prever qualquer mudança

que possa ocorrer nos fatores condicionantes do processo saúde-doença, com a finalidade de

recomendar, oportunamente, as medidas indicadas que levem à prevenção e ao controle das

doenças.

Trata-se de um subsistema de informações, voltado às enfermidades específicas, que serve

de base para a tomada de decisões relativas à prevenção e controle destas doenças, bem como

subsídio ao planejamento e avaliação em saúde.

O SVE foi implantado no Estado de São Paulo em 1978, após reestruturação formulada pelo

nível federal (Lei 6259/75, que dispõe sobre a organização do Sistema Nacional de Vigilância

Epidemiológica). A coordenação do SVE foi delegada às Secretarias Estaduais de Saúde.

Com a reforma administrativa da Secretaria de Estado da Saúde de 85/86 a coordenação do

SVE em nível estadual passou a ser feita pelo Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE).

O CVE é organizado estruturalmente por uma Diretoria Técnica, apoiada por uma equipe de

assistentes e dez Grupos de Vigilância Epidemiológica (Divisões), sendo 08 responsáveis por um

conjunto de doenças de transmissão comum ou semelhante: doenças de transmissão respiratória,

hídrica, por vetores e zoonoses, hanseníase, tuberculose, crônico-degenerativas, ocasionadas

pelo meio ambiente, infecção hospitalar. Há ainda um Grupo responsável pela coordenação das

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atividades de imunização e outro pelo desenvolvimento de métodos de pesquisa e capacitação

em epidemiologia.

No nível regional a coordenação do SVE é responsabilidade das DIRs (Direções Regionais de

Saúde). Em cada DIR existe um Grupo Técnico de Vigilância Epidemiológica. Nos 5 Núcleos

Regionais de Saúde da Capital e nos 4 Núcleos Regionais de Saúde do Interior existe um Grupo

de Vigilância Epidemiológica e nos GTVEs das DIRs de Mogi das Cruzes, Osasco, Araçatuba,

Bauru, Botucatu, Campinas, Marília, São José do Rio Preto, Sorocaba e Taubaté há um sub grupo

de Vigilância Epidemiológica.

No nível local, a execução das ações de Vigilância Epidemiológica cabe aos municípios. As

competências de cada nível do SVE estão definidas na Constituição Federal de 1988 e

especificadas na Lei 8080/90.

DOENÇAS DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA

Botulismo

Carbúnculo ou Antraz

Cólera

Coqueluche

Dengue

Difteria

Doença de Chagas

Doença Meningocócica e outras meningites

Esquistossomose

Febre Amarela

Febre do Nilo Ocidental

Febre Maculosa

Febre Tifóide

Hanseníase

Hantaviroses

Hepatites Virais

Infecção pelo vírus da Imunodeficiência Adquirida Humana (HIV) em gestantes e crianças

expostas ao risco de transmissão vertical

Leishmaniose Tegumentar Americana

Leishmaniose Visceral

Leptospirose

Malária,

Meningite por Haemophilus Influenzae

Peste

Poliomielite

Paralisia Flácida Aguda

Raiva Humana

Rubéola

Sarampo

Síndrome da Rubéola Congênita

Sarampo

Sífilis Congênita

Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids)

Síndrome Respiratória Aguda Grave

Tétano

Tularemia

Tuberculose

Varíola

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Portaria Nº 2.325/GM, de 8 de dezembro de 2003

12.1 AÇÕES DE ENFERMAGEM NA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

O profissional de nível médio é freqüentemente o suporte mais importante do sistema no nível

local. Dele depende muitas vezes a qualidade da informação, o fluxo adequado da mesma, a

rapidez das medidas de controle, o relacionamento com a comunidade, a identificação precoce de

novos problemas. Sua presença em grande número de atividades da VE, ainda que varie com as

diversas conformações do sistema local, pode revestir-se de importância fundamental. No entanto,

isto nem sempre é valorizado.

A seguir estão alguns dos objetivos da VE no nível local:

Acompanhar o sistema de registro de nascidos vivos;

Acompanhar e estimar a magnitude da morbidade e da mortalidade de agravos

selecionados;

Contribuir para identificar e estabelecer prioridades locais no acompanhamento da

morbidade e da mortalidade;

Detectar precocemente surtos e epidemias;

Identificar e monitorar fatores de risco para o desenvolvimento de agravos e doenças

selecionadas;

Recomendar e executar, quando couber, medidas de prevenção e controle de agravos;

Avaliar o impacto das medidas de prevenção;

Contribuir para a divulgação de informações de saúde para a população;

Contribuir para o planejamento dos serviços de saúde e saneamento e para a definição de

estratégias e táticas adequadas para o controle de doenças e agravos;

Identificar necessidade de educação continuada.

Os Indicadores Epidemiológicos

Para entender melhor o que está acontecendo numa área, usa-se os indicadores. O indicador

mais importante é o da mortalidade.

A coleta de dados começa com o correto preenchimento da declaração de óbito padrão. Se

isto não for feito o estudo da mortalidade fica comprometido.

Os profissionais precisam estar esclarecidos sobre o assunto, não só para divulgação de sua

utilidade, mas também para trabalhar no sistema local.

O atestado de óbito, cujo preenchimento é obrigatório, é a principal fonte de dados de

mortalidade. Trazem informações importantes sobre sexo, idade, local, profissão, entre outros

dados. No entanto, a causa da morte é o aspecto mais importante.

Coeficiente de Mortalidade Geral (MG)

O cálculo deste coeficiente possibilita, teoricamente, relacionar o nível de saúde de regiões

diferentes em uma mesma época, fazendo estudos comparativos.

Para isto, divide-se o número total de óbitos de todas as causas, em um determinado ano,

pela população naquele ano, de determinada área.

MG = número total de óbitos x 1.000 em determinada área e ano

População total da mesma área e ano

Coeficiente de Mortalidade por Causa (MC)

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Este é um bom coeficiente para revelar o estado geral de saúde da comunidade.

MC = número de óbitos por causa x 100.000 em determinada área e período

População total da mesma área e ano

Mortalidade Proporcional (MP)

Ë a porcentagem em que relacionamos os óbitos de uma determinada característica (sexo,

idade, causa etc) aos óbitos totais.

MP = número de óbitos por câncer num período x 100

Número total de óbitos no mesmo período

Mortalidade Infantil (MI)

Refere-se à probabilidade de crianças menores de um ano morrer. Calcula-se também

separadamente, os coeficientes de mortalidade infantil ou neonatal, usando o número de óbitos

até 28 dias de idade e a mortalidade infantil tardia usando o número de óbitos de 28 dias a um

ano de vida.

No Brasil, o coeficiente de mortalidade infantil vem decrescendo significativamente, segundo

dados oficiais. O saneamento básico, o acesso aos serviços de saúde, a melhoria do nível

nutricional e condições socioeconômicas, em geral, são itens intimamente relacionados ao nível

de vida.

MI = número de óbitos 1 ano x 1.000 em determinada região

Nascidos vivos

O coeficiente de mortalidade infantil (MI) em Tatuí no ano de 2000 era de 17,6 e do estado de

São Paulo no período de 2001 foi de 16,4.

Desde 1991, vem sendo implantado o acompanhamento dos nascimentos por meio da

Declaração de Nascidos Vivos, que deve ser emitida pelas maternidades e hospitais, onde

ocorrem os partos.

Atualmente, ao classificar a mortalidade infantil, considera-se baixo um valor quando este for

inferior a vinte por mil nascidos vivos, e altos, quando acima de sessenta por mil.

A solução para a questão passa inicialmente por uma decisão política que privilegie as ações

básicas de saúde. Assim, um bom atendimento pré-natal, o estímulo ao aleitamento materno, o

Programa Ampliado de Imunizações, a Terapia de Reidratação Oral (TRO), bem como a

monitorização do crescimento e desenvolvimento são ações propostas pela Organização Mundial

da Saúde (OMS) e Fundo das Nações Unidas para Infância e Adolescência (UNICEF), com vistas

à diminuição dos coeficientes de mortalidade infantil.

13. VIGILÂNCIA SANITÁRIA

13.1 DEFINIÇÃO

E uma contínua luta, individual e coletiva, pela harmoniosa adaptação do homem à natureza,

pelo racional aproveitamento dos recursos naturais, pela proteção contra os riscos decorrentes do

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processo de produção e pela segurança no consumo de bens e serviços, ou seja, pela qualidade

de vida.

Para tanto é condição absolutamente indispensável que o cidadão tenha acesso a

informações que permitam a constante conquista de sua cidadania.

Consequentemente, Vigilância Sanitária é um instrumento de cidadania e a conquista de

cidadania representa seu avanço.

Vigilância Sanitária é o "conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à

saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e

circulação de bens e da prestação de serviços de interesse à saúde, abrangendo:

I. Controle de bens de consumo, que direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde,

compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo.

II. Controle da prestação de serviços que se relacionem direta ou indiretamente com a

saúde." (Lei 8080/90).

A Vigilância Sanitária ganhou, a partir da publicação da Lei 8080/90, novas atribuições, com a

integração das ações e serviços voltados para a saúde do trabalhador e do meio ambiente.

13.2 AREAS DE ATUAÇÃO

O Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo foi criado

através do Decreto nº 26.048 de 15 de outubro de 1986, com o objetivo de "planejar, coordenar,

supervisionar, realizar estudos e propor normas e programas", abrangendo quatro subsistemas

fundamentais:

O controle de bens de consumo que direta ou indiretamente se relacionam à saúde,

envolvendo todas as etapas e processos de produção até o consumo final,

compreendendo portanto: matérias primas, transporte, armazenamento, distribuição,

comercialização e consumo de produtos de interesse à saúde, tais como alimentos, água,

bebidas, medicamentos, insumos, cosméticos, produtos de higiene pessoal, saneantes

domissanitários, produtos químicos, produtos agrícolas, agrotóxicos, biocidas, drogas

veterinárias, correlatos (entre eles os equipamentos médico-hospitalares e odontológicos),

e outros.

O controle dirigido a prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com

a saúde, abrangendo entre outros, a prestação de serviços: médico-hospitalares, de apoio

diagnóstico, hemoterápicos, de hemodiálise, odontológicos e os que utilizam radiação;

casas de repouso, de idosos, lares abrigados, centros de convivência, creches, bancos de

órgãos, de leite humano, práticas alternativas, casas de massagem, tatuagem, clínicas de

emagrecimento, aplicadoras de produtos relacionados à saúde, dentre outras que podem

constituir-se em risco para a população.

O controle dirigido às ações de saneamento do meio (formas de intervenções sobre os

efeitos advindos do uso e parcelamento do solo, das edificações, do sistema de produção

em geral , e dos sistemas de saneamento básico – coletivos e individuais), visando a

promoção da saúde pública e prevenção da ocorrência de condições desfavoráveis,

decorrentes das ações do Homem.

Page 45: Saúde Coletiva e Epidemiologia · A saúde e doença são processos íntimos e limítrofes, que se manifestam continuamente durante a vida das pessoas, de forma individual ou coletiva,

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