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III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. SAÚDE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: OS EDIFÍCIOS VERDES Eduardo Antonio Licco (SENAC) - [email protected] RESUMO Os edifícios são enganosamente complexos. No seu melhor conectam o homem com o seu passado e representam seu maior legado para o futuro. Fornecem abrigo, incentivam a produtividade e incorporam cultura. Por outro lado, sua construção e manutenção consomem uma parcela relevante de recursos materiais e energéticos e geram quantidades consideráveis de resíduos. No passado esta questão era tratada analisando-se individualmente os componentes e subsistemas de cada edifício, otimizando-os separadamente. Nos dias de hoje, o projeto dos edifícios verdes pede aos membros do planejamento, projeto e construção para olhar componentes, materiais e montagens sob uma perspectiva diferente, global e integradora. O projeto verde é avaliado por custo, qualidade de vida, flexibilidade, eficiência, impactos ambientais, produtividade e criatividade. O objetivo é criar edifícios que sejam responsivos, responsáveis e defensáveis. Este estudo apresenta e discute o conceito de edifício verde e construção sustentável como uma ferramenta para evitar a exaustão dos recursos naturais e a degradação ambiental. Palavras-chaves: edifícios verdes ambientes construídos, sustentabilidade ABSTRACT Buildings are deceptively complex. At their best, they connect man with his past and represent his greatest legacy for the future. They provide shelter, encourage productivity and embody culture. But they also consume an extraordinary share of energy and material resources. In the past, this issue was addressed by analyzing the individual components and subsystems of each building and optimizing them separately. Nowadays, the 'whole buildings' design approach asks the members of the planning, design and construction team to look at the materials, systems and assemblies from many different perspectives. The design is evaluated for cost, quality-of-life, future flexibility, efficiency; overall environmental impact; productivity and creativity. The goal is to create buildings that are responsive, responsible,

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III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006.

SAÚDE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: OS EDIFÍCIOS

VERDES

Eduardo Antonio Licco (SENAC) - [email protected]

RESUMO

Os edifícios são enganosamente complexos. No seu melhor conectam o homem com o

seu passado e representam seu maior legado para o futuro. Fornecem abrigo, incentivam a

produtividade e incorporam cultura. Por outro lado, sua construção e manutenção consomem

uma parcela relevante de recursos materiais e energéticos e geram quantidades consideráveis

de resíduos. No passado esta questão era tratada analisando-se individualmente os

componentes e subsistemas de cada edifício, otimizando-os separadamente. Nos dias de hoje,

o projeto dos edifícios verdes pede aos membros do planejamento, projeto e construção para

olhar componentes, materiais e montagens sob uma perspectiva diferente, global e

integradora. O projeto verde é avaliado por custo, qualidade de vida, flexibilidade, eficiência,

impactos ambientais, produtividade e criatividade. O objetivo é criar edifícios que sejam

responsivos, responsáveis e defensáveis. Este estudo apresenta e discute o conceito de edifício

verde e construção sustentável como uma ferramenta para evitar a exaustão dos recursos

naturais e a degradação ambiental.

Palavras-chaves: edifícios verdes ambientes construídos, sustentabilidade

ABSTRACT

Buildings are deceptively complex. At their best, they connect man with his past and

represent his greatest legacy for the future. They provide shelter, encourage productivity and

embody culture. But they also consume an extraordinary share of energy and material

resources. In the past, this issue was addressed by analyzing the individual components and

subsystems of each building and optimizing them separately. Nowadays, the 'whole buildings'

design approach asks the members of the planning, design and construction team to look at

the materials, systems and assemblies from many different perspectives. The design is

evaluated for cost, quality-of-life, future flexibility, efficiency; overall environmental impact;

productivity and creativity. The goal is to create buildings that are responsive, responsible,

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and defensible. This study presents and discusses green building’s concept as a usefull tool to

avoid natural resources depletion and environmental degradation.

key words: green building, built environment, sustennability

1. FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA

O grande número de fatores ambientais que afetam a saúde humana é um indicativo

da complexidade e das interações que ocorrem no meio ambiente. A maioria dos problemas

ambientais tem causas múltiplas e também podem ter efeitos múltiplos. Isto leva ao estreito

vínculo entre a saúde, o ambiente e o desenvolvimento. (OPAS, 2006a). A manifestação mais

evidente deste vínculo é materializada pelo ambiente construído que tem nos edifícios a sua

representação máxima.

Mandolesi define ambiente construído como sendo o espaço e o ambiente que o

homem cria artificialmente para desenvolver uma determinada atividade (Mandolesi apud

ROSSI, 2003). Os edifícios são, evidentemente, partes destacadas desse ambiente. Algumas

construções onde mais convive o ser humano no curso de sua vida são a sua casa, a escola e

seus lugares de trabalho e lazer.

No seu melhor os edifícios conectam o homem com o seu passado e representam seu

maior legado para o futuro. Fornecem abrigo, incentivam a produtividade e incorporam

cultura. Por outro lado, sua construção e manutenção consomem uma parcela relevante de

recursos materiais e energéticos e geram quantidades consideráveis de resíduos. Ao mesmo

tempo em que protegem contra a agressividade dos agentes naturais ameaçam a saúde humana

e degradam o meio ambiente natural.

Uma edificação pode impactar o ambiente de diversas maneiras: i) pela transformação

do espaço natural, interferindo com os ecossistemas locais, ii) pelo uso de recursos ambientais

(matéria e energia em sua maior parte não renováveis) e iii) pela geração de resíduos

associados com sua construção, operação e demolição.

Pode, igualmente, ameaçar a saúde física e mental dos seus ocupantes em função de

seu projeto e dos materiais de construção e acabamento que utiliza. Os fatores de risco mais

evidentes à saúde humana no que tange às edificações são: a qualidade do ar nos ambientes

internos, iluminação, temperatura, umidade, falta de visão para o ambiente exterior, presença

de agentes químicos e biológicos. Nas cidades passa-se, em média, 90% do tempo nos

ambientes fechados das edificações. Se as condições ambientais nesses espaços forem

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inadequadas essa exposição pode levar a sérios prejuízos à saúde e ao bem estar humano. Esta

situação é especialmente verdadeira no caso de pessoas doentes, idosas e de crianças

pequenas.

Conforme os impactos ambientais e à saúde humana das edificações foram se

tornando mais aparentes, um novo campo de desenvolvimento chamado edificação verde

ganhou espaço. A construção verde é uma prática relativamente recente de criar modelos mais

saudáveis e mais eficientes de edifícios em termos de uso de recursos materiais e energéticos

para construção, ampliação, operação, manutenção e demolição. A teoria e a prática

demonstram cada vez mais que quando as edificações são projetadas e operadas com seu ciclo

de vida de impactos em mente, elas respondem com benefícios ambientais, econômicos e

sociais. Nos países ditos desenvolvidos a indústria da construção está cada vez mais

nitidamente focada em fazer seus edifícios verdes.

2. OBJETIVO

Considerando que o espaço construído está na base dos maiores fluxos de matéria e

energia comandados pelo homem e que estes fluxos são, conforme atualmente gerenciados,

insustentáveis, este estudo objetiva apresentar e discutir o conceito de construção verde como

solução possível para um consumo mais durável dos recursos ambientais. É também objetivo

do trabalho difundir a idéia e os conceitos por trás dos edifícios verdes.

3. METODOLOGIA

Trata-se de estudo investigativo, baseado na literatura e na vivência do autor. Os

dados e valores apresentados estão calcados na experiência dos países desenvolvidos que

entenderam a relevância dos edifícios verdes tanto para a questão ambiental como para a

social e a econômica.

A primeira parte do trabalho é dedicada ao ambiente construído e aos seus impactos

sobre o meio ambiente. Na segunda parte escreve-se sobre os riscos à saúde, nomeadamente

aqueles associados aos materiais de acabamento utilizados nos ambientes internos dos

edifícios. Segue uma apresentação do conceito de edifício verde e das barreiras que ainda são

enfrentadas na sua implementação. O trabalho conclui com uma análise crítica sobre os

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fatores que facilitariam ou dificultariam a aplicação desta ferramenta de apoio à gestão

ambiental no Brasil.

4. DESENVOLVIMENTO

O Ambiente Construído

Quando vista de longe a Terra se apresenta como uma esfera azulada, entremeada por

manchas brancas. Uma imagem mais aproximada permite identificar os contornos e as cores

das quatro esferas conceituais que formam o planeta: a atmosfera, a hidrosfera, a litosfera e a

biosfera. Mesmo ainda a uma considerável distância é possível perceber alterações bruscas no

tecido natural da litosfera e biosfera, Estas alterações, os espaços construídos, são a parte do

meio ambiente natural modificada e explorada pelo homem e utilizada em suas atividades.

Eles constituem a quinta esfera conceitual do planeta: a antroposfera (LICCO, 2002).

A relação homem meio ambiente data de milhões de anos. A partir do momento em que

os primeiros hominídeos deixaram a proteção das árvores para se arriscar nos espaços abertos

iniciou-se um processo irrefreável de busca de adaptação do meio natural aos desejos e

necessidades da nova espécie.

A evolução biológica do homem proveu-o com alguns diferenciais que, em conjunto, o

fizeram especial frente aos demais animais: postura ereta, polegar opositor dominado, visão

binocular e um cérebro desenvolvido a permitir raciocínio lógico e capacidade de

aprendizagem contínua. Estas peculiaridades permitiram uma adaptação mais fácil a seus

habitats e a ampliação de seu nicho ecológico, garantindo a preservação da espécie, ampla

ocupação dos espaços e a dominação de outras espécies. Inicialmente herbívoro passa a

carnívoro e finalmente a onívoro ampliando as possibilidades de fontes de alimentos.

O homem é uma criatura singular: possui um conjunto de dons que o torna único entre os animais. Diferentemente destes, não é apenas uma peça na paisagem, mas um agente que a transforma. Este animal ubíquo, usando seu corpo e sua mente na investigação da natureza construiu seu lar em todos os continentes, mas, na realidade, não pertence a nenhum lugar determinado. Comparado aos demais animais, ele vem ao mundo trazendo um equipamento de sobrevivência muito rudimentar; no entanto - e é esse o paradoxo da condição humana - essa desproteção propicia-lhe a adaptação a todos os ambientes. Entre a multidão de animais que voa, escava e nada, o homem é o único que não está encerrado em seu habitat. Sua imaginação, sua razão, sua sutileza emocional e robustez, representam condições fundamentais que lhe permitem transformar o meio antes de o aceitar como tal. E a série de invenções através das quais, de tempos em tempos, o homem reconstituiu seu habitat se configura em um tipo diferente de evolução; não mais biológica, mas cultural. (Toynbee citado por LICCO, 1997)

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Como ensina Milton Santos o homem é ativo. A ação humana, a ação que realiza

sobre o meio que o rodeia para suprir as condições necessárias à manutenção da espécie é

trabalho geográfico. “toda ação humana é trabalho e todo trabalho é trabalho geográfico.

Viver para o homem é produzir espaço”(SANTOS, 1988). No início as transformações do

meio eram mínimas e resumiam-se a adaptações de cavernas ou outras aberturas naturais para

abrigo contra as agruras do clima e ataques de animais. Com o passar do tempo, o

aprendizado contínuo e o uso de ferramentas ampliaram a capacidade transformadora do

homem permitindo uma maior produção de espaços. Há cerca de 13.000 anos, quando deixa

de ser coletor e caçador para se dedicar à agricultura e à criação de animais dá início a uma

nova fase de intervenções ambientais, trabalhando a terra, criando meios de irrigação,

construindo abrigos para armazenamento de seus excedentes de produção. Este

armazenamento atraía a cobiça de grupos vizinhos o que acabou exigindo fortificações para

defesa do patrimônio acumulado. Jericó, considerada a primeira cidade murada do mundo

data de cerca de 10.300 anos atrás.

De dentro das muralhas desenvolveram-se as cidades e, entre elas o comércio, as

estradas, os portos. Da pedra ao aço, da madeira ao plástico o ambiente construído é a marca

indelével do engenho humano.

5. IMPACTOS AMBIENTAIS DOS AMBIENTES CONSTRUÍDOS

Desde a revolução industrial o mundo assiste a incalculáveis realizações tecnológicas,

um crescimento populacional exponencial e um preocupante aumento no consumo de recursos

ambientais. Assiste também os efeitos colaterais das atividades humanas: poluição, resíduos

tóxicos, aquecimento global, ausência de espaços para disposição de resíduos, destruição da

camada de ozônio e extensos desmatamentos.

Conforme a população mundial continua se expandindo a implementação de medidas

de economia de recursos em todas as áreas de atividade humana se torna imperativa. O

ambiente construído é um exemplo claro do impacto antrópico sobre os recursos naturais. Os

edifícios respondem por 1/6 das retiradas mundiais de água doce, 1/4 da demanda da

produção madeira e 2/5 dos fluxos de matéria e energia. (USGBC, 1996).Os recursos

requeridos para criar, operar e repor o atual nível de infra-estrutura, e aquele que se delineia,

são imensos e estão escasseando. Para continuar competitiva, crescente e lucrativa a industria

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da construção sabe que precisa considerar seriamente as conseqüências econômicas e

ambientais de suas ações.

Como e onde o espaço construído se desenvolve leva a diferentes tipos e intensidades

de impactos ambientais. A produção do espaço pode afetar a qualidade e a disponibilidade da

água, a qualidade do ar e a biodiversidade, alterando irreversivelmente áreas naturais e

interferindo nos ecossistemas.

A ação humana interfere direta e indiretamente sobre os componentes tanto do meio

físico como biótico. Grandes reflexos desse processo podem ser verificados nas atividades

agrícolas e florestais quando grandes extensões de terra são desmatadas com reflexos locais e

regionais na quantidade e qualidade da água, clima e biodiversidade.

A produção do espaço urbano é igualmente impactante. Seus reflexos extrapolam a

área urbana (área de influência direta), podendo se estender a centenas de quilômetros de

distância (área de influência indireta). Localmente interfere no solo (ao substituir, por

exemplo, a cobertura natural da vegetação pela impermeabilizante do concreto ou do asfalto),

nos recursos hídricos (poluindo ou escasseando a água superficial e subterrânea), no micro ou

meso clima (por influência das ilhas de calor que promove), na qualidade do ar pelas fontes de

poluição que abriga. A vegetação nativa é via de regra suprimida e, às vezes, parcialmente

substituída, o que influencia negativamente na biodiversidade local.

De acordo com O’Meara (1999) as áreas urbanas, com um pouco mais da metade da

população mundial, são responsáveis por 80% das emissões de carbono, 75% do uso da

madeira e 60% do consumo de água. As cidades ocupam apenas de 1 a 5% da área do mundo,

mas consomem 75% dos seus recursos. As cidades podem ser consideradas como “pontos

quentes”, pois um hectare de uma área metropolitana consome 1.000 vezes ou mais energia de

uma área semelhante em um ambiente natural

A interferência urbana ocorre também fora das fronteiras da cidade, indo até os locais

de onde são obtidas as matérias primas e a energia que alimentam a construção dos edifícios.

Extração mineral e vegetal, processamento e refino de matéria primas metálicas e não

metálicas, represamento de rios, geração de termo-eletricidade são algumas das atividades que

dão sustentação à construção do espaço urbano, mas que se localizam muito além de seus

limites. A figura 1 é uma representação simplificada das atividades de suporte à formação do

ambiente construído com suas respectivas demandas e emissões no meio ambiente.

No início da década de 1990, os pesquisadores da Universidade de British Columbia

começaram a medir a área de terra necessária para suprir as populações com recursos

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(inclusive importados) e a área necessária para absorver seus resíduos. Chamaram essa área

conjunta de pegada ecológica. Em algumas cidades, como Nova York e São Paulo a pegada

ecológica é muitas vezes maior do que sua área total. Isto é também realidade para alguns

países como os Estados Unidos e o Japão. O uso de materiais para construção tem influência

significativa no tamanho da pegada de uma população, assim como a demanda por energia.

Figura 1. Algumas atividades que dão sustentação ao ambiente construído. Os impactos resultantes atingem o meio físico (o ar, as águas, o solo, o clima) o meio biótico (fauna e flora) e o próprio meio sócio econômico.

Segundo dados do WWI, em 1995 quase 10 bilhões de toneladas de materiais –

minerais, metais, produtos de madeira e sintéticos industriais e de construção – foram

introduzidos na economia global. Considerando os bilhões de toneladas de materiais que

nunca entraram na economia, ficando nas minas, botas-fora e fundições (resíduos) o valor

bruto da demanda duplicaria. Os danos ambientais resultantes da extração, processamento e

disposição de materiais pós-consumo ressaltam a pouca sustentabilidade do processo

(GARDNER e SAMPAT, 1999).

De acordo com o Green Building Committee of the American Society of Healthcare

Engineering - ASHE, a construção e a manutenção de edifícios em todos os setores da

economia americana consomem, anualmente, algo como 3 bilhões de toneladas de matérias

primas virgens (40% da pedra, cascalho, areia e aço, 25% da madeira virgem, 40% dos

recursos energéticos, 75% do PVC e 17% da vazão de água fresca) e geram uma quantidade

significativa de resíduos (25-40% do resíduo sólido municipal vem da construção e da

demolição de edificações; 50% dos CFCs emitidos; aproximadamente 30% da produção norte

americana de CO2 e emissões substanciais de substâncias tóxicas (ASHE, 2004).

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Segundo LEVIN (1997) as porcentagens dos impactos ambientais causados pelos

edifícios em relação ao total dos impactos causados pelas atividades sócio econômicas norte

americanas são as que seguem: Uso de energia 42%

Emissões atmosféricas 40%

Consumo de matérias primas 30%

Resíduos sólidos 25%

Consumo De Água 25%

Efluentes líquidos 20%

Ocupação do solo 12%

Ainda com relação a dados norte americanos, os edifícios respondem por 49% das

emissões de dióxido de enxofre, 25% das emissões de óxidos de nitrogênio e 10% das

emissões de particulados, todas elas com reconhecidos danos à qualidade do ar urbano.

Apenas a título de ilustração o Quadro 1 faz um elenco de atividades com emissão de

Carbono, associadas à produção de alguns materiais comumente utilizados na construção dos

edifícios.

Quadro 1. Fontes de emissão de carbono associadas às atividades de extração, produção e entrega de alguns materiais comumente utilizadas na construção de edifícios.

Atividade Produto

Extração Produção Transporte até o consumidor

Cimento Queima de Combustível Queima de combustível Descarbonatação

Queima de Combustível

Aço Queima de Combustível (mineração do ferro)

Queima de combustível Redução do ferro

Queima de Combustível

Cerâmica Queima de Combustível Queima de combustível Queima de Combustível Madeira Queima de Combustível Plástico (PVC) Queima de combustível Queima de Combustível Pedra Queima de combustível Queima de Combustível Areia Queima de combustível Queima de Combustível

6. A SAÚDE NAS EDIFICAÇÕES

Assim como impactam o meio ambiente, as edificações podem, igualmente, impactar

a saúde física e mental dos seus ocupantes em função de seu projeto, dos materiais de

construção e acabamento que utilizam e das atividades que abrigam. As pessoas nas cidades

passam, em média, de 18 a 20 horas por dia em edifícios. Espaços fechados, mal iluminados e

ventilados estressam e reduzem produtividade, além de representar risco de prejuízo à saúde.

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A ausência de luz natural e a falta de visão para o exterior, por exemplo, deprimem o

ser humano, interferem com seu bem estar e afetam sua saúde mental. Como se constata pela

leitura do Center for Health Design Report 2004, há uma consistente redução do estresse e

sensíveis benefícios emocionais e psicológicos pelo simples fato de se poder ver a natureza.

Emoções negativas e estressantes como medo ou raiva diminuem quando o nível das imagens

agradáveis (entenda-se, vista para o exterior) aumenta (BOEHLAND, 2005).

A liberação de substâncias químicas pelos materiais de acabamento, equipamentos e

mobiliário é outro fator de influência na degradação da qualidade dos ambientes interiores.

Por suas múltiplas características de forma e composição os materiais e produtos de

acabamento podem liberar compostos químicos e/ou facilitar o desenvolvimento de

microorganismos como bolores, fungos e bactérias patogênicas.

Os revestimentos e os protetores de piso são freqüentemente citados como fontes

primárias de contaminação do ar de interiores. Isto se deve aos constituintes voláteis presentes

nos adesivos usados durante a fabricação de tapetes e carpetes e nas colas usados na fixação

de carpete, tacos de madeira e placas de PVC. Como muitos edifícios trabalham fechados

devido ao condicionamento do ar interno, a liberação de produtos químicos pelos materiais

torna-se preocupante. A liberação de formol é uma das maiores preocupações com a emissão

de gases pelos protetores de pisos de madeira como o CascolacTM. Ventilar um ou mais

cômodos antes de ser ocupado dilui os produtos liberados durante os estágios iniciais de

emissão. Contudo, altos níveis de compostos orgânicos voláteis continuam sendo liberados

por meses e, em alguns casos, por anos.

Os carpetes, especificamente, emitem compostos orgânicos voláteis (VOCs) típicos

como o 4-phenylcyclohexene, o composto associado ao “cheiro de carpete novo” e o acido

perfluooctanóico, composto presente nos produtos anti-mancha como o Scotchgard TM e o

StaimasterTM. Estes produtos estão presentes também nos revestimentos de sofás e poltrona,

cortina, papeis de parede, almofadas, toalhas e colchões.(WALSH, 2006).

O mobiliário de madeira manufaturada pode emitir formaldeído, um provável

carcinogênico humano. Os produtos de PVC utilizados como revestimento de móveis, pisos,

tetos e paredes podem liberar uma variedade de compostos perigosos, dentre eles metais

pesados como chumbo, cádmio e ftalatos (nomeadamente o di-etilhexil ftalato um interferente

do desenvolvimento do trato reprodutivo de mamíferos masculinos). As tintas, os materiais de

limpeza, as ceras e outros protetores de pisos e mobiliário emitem compostos orgânicos que

podem ser extremamente alergênicos ao ser humano. Equipamentos como impressoras e

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copiadoras emitem hidrocarbonetos aromáticos provenientes do toner e do próprio papel

(GODISH, 2001).

Na maioria dos projetos de construção, materiais de acabamento, mobiliário e

equipamentos são escolhidos em função de aspectos estéticos, desempenho e custo. Nos

edifícios verdes ou sustentáveis este seleção tradicional de parâmetros foi expandida para

incluir os impactos à saúde e ao meio ambiente.

7. OS EDIFÍCIOS VERDES

Conforme a economia e a população se expandem, projetistas e construtores

enfrentam o desafio de atender as demandas por novas e renovadas edificações: acessíveis,

seguras, saudáveis e produtivas e, ao mesmo tempo, com mínimos impactos sobre o meio

ambiente. O objetivo é criar edifícios que sejam responsivos, responsáveis e defensáveis.

Para esse fim, os edifícios devem ser competentemente planejados, funcionalmente

adequados, apropriados em sua forma. Devem apresentar custos razoáveis, serem possíveis de

ser construídos, adaptáveis, duráveis e contextuais.

A construção verde é uma prática relativamente recente de criar modelos mais

saudáveis e mais eficientes de edifícios em termos de uso de recursos materiais e energéticos

durante sua construção, ampliação, operação, manutenção e demolição. A teoria e a prática

demonstram cada vez mais que quando as edificações são projetadas e operadas com seu ciclo

de vida de impactos em mente, elas respondem com benefícios ambientais, econômicos e

sociais. Nos países ditos desenvolvidos a indústria da construção está cada vez mais

nitidamente focada em fazer seus edifícios mais verdes.

Genericamente definida como construir conservando os recursos ambientais, o

conceito de edificação verde se confunde com o da habitação saudável e o da construção

sustentável ao incluir os inúmeros elementos que afetam cada aspecto do processo do

desenvolvimento do ambiente construído.

Segundo a OPAS, Habitação Saudável é a concepção da habitação como um agente da

saúde de seus moradores. Implica em um enfoque sociológico e técnico de enfrentamento dos

fatores de risco, e promove uma orientação para a localização, construção, moradia, adaptação

e manuseio, uso e manutenção da habitação e do seu ambiente. De acordo com aquela

Organização o conceito de Habitação Saudável se introduz desde o ato do projeto da

habitação, sua micro-localização e construção, e se estende ao seu uso e manutenção. Este

conceito está relacionado com o território geográfico e social onde está localizada a habitação,

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os materiais usados para a sua construção, a segurança e qualidade dos elementos usados, o

processo construtivo, a composição do seu espaço, a qualidade do seu acabamento, o contexto

periférico global (comunicações, energia, vizinhança) e a educação sanitária dos seus

moradores sobre os estilos e condições de vida saudável (OPAS, 2006b)

O escritório da Federal Environmental Executive (2006) define construção verde

como a prática de: i) aumentar a eficiência com a qual as edificações utilizam a energia, a

água e os materiais e, ii) reduzir os impactos da construção sobre a saúde humana e ambiental

por meio de melhor assentamento, projeto, construção, operação, manutenção e demolição, ou

seja, durante todo o ciclo de vida da edificação.

Não obstante as constantes modificações no entendimento e na definição do que seja

construção verde, edifício sustentável ou, construção saudável, existem seis princípios

fundamentais com os quais todos concordam:

1. Otimizar as potencialidades do local_ a criação de edifícios sustentáveis

começa com a correta seleção do local, incluindo considerações sobre o reuso ou reabilitação

de construções já existentes. A localização, orientação e o paisagismo de um edifício afetam

as condições ambientais locais, meios de transporte, serviços públicos e o uso da energia.

Relevo local, vegetação existente, presença de corpos d´água devem ser considerados em

todos os seus aspectos, no sentido de uma exploração máxima com um mínimo de

interferências. Situar um edifício em função de aspectos de segurança é outro ponto crítico

no projeto de otimização das potencialidades do local. A localização do edifício em relação

às vias de acesso, áreas para estacionamento, controle de velocidade de veículos,

identificação de ocupantes e forma de iluminação do perímetro do empreendimento devem

ser integrados ao projeto juntamente com os aspectos de sustentablidade (consumo de

energia elétrica, demanda por materiais, perda de áreas vegetadas, canalização de córregos).

2. Otimizar o uso da energia_ no contexto de escassez de oferta de energia, seja

por dificuldades de geração (disponibilidade do potencial hidroelétrico ou termoelétrico),

seja por impactos ambientais locais e globais (da hidroeletricidade ou da termoeletricidade),

seja por dificuldades de distribuição (rede elétrica) é essencial a busca de meios para reduzir

cargas e aumentar a eficiência da aplicação da energia. A otimização na demanda por

energia elétrica é fundamental para a escolha e dimensionamento de materiais (fios, cabos,

transformadores...), operação e manutenção da edificação, segurança contra acidentes

elétricos.

3. Proteger e conservar a água_ a água tem se tornado um bem escasso. Um

edifício verde deve utilizar eficiente e parcimoniosamente a água tratada, reusando ou

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reciclando-a quando viável. A captação e o aproveitamento da água de chuva devem ser

considerados para lavagem de áreas, irrigação das áreas vegetadas e, até mesmo, para

lavagem de veículos ou outros serviços eventualmente realizados no empreendimento.

Córregos e regos das proximidades devem ser protegidos contra lançamentos poluidores,

canalizações e outras intervenções que alterem suas características naturais. Ao

impermeabilizar grandes áreas os edifícios acabam por gerar volumes significativos de água

que drenam para os corpos d’água locais. Este escoamento superficial, se não devidamente

controlado, pode vencer a capacidade de recepção dos córregos e regos, provocando

extravazamentos. O escoamento superficial deve ser entendido também como fonte

potencial de contaminação da água pelo arraste de inúmeros materiais poluentes. Por estas

razões a vegetação aos redores dos corpos d’água deve ser conservada, notadamente aquela

que protege suas margens e controla assoreamento. O controle dos efluentes líquidos, em

quantidade e qualidade, deve se executado visando proteger corpos receptores e

equipamentos comunitários.

4. Utilizar produtos com menor impacto ambiental_ edifícios sustentáveis devem

ser construídos com materiais que miniminizam impactos ambientais e perigos á saúde

humana. Materiais com significativos impactos ao meio ambiente e/ou à saúde humana em

seu ciclo de vida devem ser evitados, assim como aqueles que requerem matérias com estas

características em sua aplicação ou manutenção. Sempre que possível, materiais de matriz

renovável devem ser utilizados em substituição a materiais de matriz não renovável. Da

mesma forma, o emprego de materiais reciclados deve ser priorizado frente ao uso de

materiais virgens. A escolha dos materiais leva outros aspectos em consideração que são a

geração inerente de resíduos, o grau de perdas, os riscos de manuseio e a durabilidade, tendo

sempre em foco a saúde e segurança dos trabalhadores e do meio ambiente, e a redução de

custos de disposição e de responsabilidades. O local de origem dos materiais deve ser

igualmente considerado para evitar transportes de longas distâncias. O suprimento local de

materiais deve ser fortemente considerado, assim como a mão de obra para construção.

5. Garantir uma boa qualidade do ar nos ambientes internos_ a qualidade do ar

nos ambientes interiores tem um impacto significativo na saúde, conforto e produtividade

dos seus ocupantes. Para garantir uma boa condição ambiental interna um edifício

sustentável deve maximizar o uso da luz natural, dispor de uma adequada ventilação, evitar

o uso de materiais com emissão de compostos voláteis, manter vista para o exterior.

Sistemas de ventilação e condicionamento do ar devem ser projetados para conservação de

energia, facilidade de manutenção e proteção contra o desenvolvimento e arraste de material

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biológico como fungos e bactérias. Os níveis de ruído interno devem minimizados através

do tamanho e formato dos módulos internos, com o emprego de materiais que geram pouca

reverberação e pelo tipo de mobiliário a ser usado. Materiais de acabamento e mobiliário são

igualmente responsáveis por emissão de substâncias tóxicas no ar, acumulação de poeira e

desenvolvimento de material biológico perigoso.

6. Otimizar práticas de operação e manutenção_ incorporar considerações de

operação e manutenção no projeto de um edifício irá contribuir de forma relevante para

melhoria do ambiente de trabalho, maior produtividade e redução de custos de energia e

materiais. Os projetistas de edifícios sustentáveis são encorajados a especificar materiais e

sistemas que simplificam e reduzem os requisitos de manutenção, consomem menos água e

energia, demandam materiais de limpeza menos tóxicos e em menores quantidades,

apresentam uma boa relação custo:benefício e baixos impactos em seu ciclo de vida. A

seleção de materiais deverá ser sempre norteada na reciclabilidade, na durabilidade e nos

impactos causados durante sua produção, uso e descarte.

Como se lê, edifícios sustentáveis otimizam o uso da energia, água e materiais;

propiciam uma qualidade ambiental e conforto nos espaços internos que criam; utilizam

processos e materiais ambientalmente saudáveis, e são localizados de forma tal a tirar

vantagem da iluminação e ventilação natural, preservar a comunidade e sua integridade

histórica, dar segurança e facilitar acesso a transporte público

A edificação verde, entretanto, será sempre uma criação local, isto porque o clima, os

costumes, a economia, a disponibilidade de materiais e as preferências variam entre

sociedades e nações. Medidas que são essenciais para edifícios verdes em algumas áreas ou

países podem não ser apropriadas para outras.

8. MATERIAIS VERDES

Materiais com preferência ambiental são aqueles que têm um efeito menor ou

reduzido na saúde humana e no meio ambiente quando comparados com outros produtos

que servem o mesmo propósito. Os produtos verdes devem apresentar um ou mais dos

seguintes atributos ambientais e de proteção à saúde: i) propiciarem condições para uma boa

qualidade de ar nos ambientes interiores (tipicamente por liberar menos VOCs, e não abrigar

ou permitir o desenvolvimento de microorganismos); ii) serem duráveis e ter baixa

manutenção (não exigindo substâncias perigosas para limpeza e conservação); iii)

incorporarem um conteúdo mínimo de material reciclado; serem feitos a partir de materiais

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naturais ou provenientes de fontes renováveis; iv) terem baixo nível de energia incorporada;

v) não conterem CFCs, HCFCs ou outras substâncias destruidoras da camada de ozônio; vi)

não conterem compostos altamente tóxicos nem que de sua produção resultem compostos

altamente tóxicos; vii) serem obtidos de fontes ou fabricantes locais; viii) quando produtos

de madeira que esta seja certificada; ix) poderem ser facilmente reusados e reciclados; x)

serem biodegradáveis.

Na seleção dos materiais e produtos verdes é necessário considerar seus impactos em

todas as fases de seus ciclo de vida. Esta análise deve considerar, pelo menos, as seguintes

fases: extração das matérias primas, fabricação, construção, uso, manutenção, reuso e

disposição.

9. DISCUSSÃO

Barreiras a serem vencidas na construção verde

Pelo que se pôde depreender da literatura atual, o conceito de construção verde, embora

correto do ponto de vista ambiental, econômico e social ainda enfrenta resistências para sua

plena adoção, mesmo nos países desenvolvidos. Algumas barreiras identificadas apontam

para: i) a falta de integração entre os diferentes gestores de fases de uma construção;

ii) falta de informações de custos no ciclo de vida da edificação;

iii) ausência ou insuficiência de padrões de operação e desempenho que possam orientar

ou motivar a adoção de princípios verdes;

iv) falta de incentivos;

v) ausência de informações técnicas que justifiquem as vantagens desse tipo de

edificação.

Na opinião do autor, no Brasil, embora este conceito ainda não permeie a maioria dos

construtores civis, é de se esperar uma certa resistência à sua adoção considerando que o

clima no país é ameno, o que permite uma boa ventilação natural. Este fato praticamente

elimina o problema maior de acumulação de compostos perigosos no ar de ambientes

internos. Não discorda o autor que muitos dos modernos edifícios brasileiros, por questões de

projeto, são totalmente fechados e exigem ventilação forçada. Não operando esta

adequadamente, manifestar-se-ão os problemas anteriormente mencionados. Não ignora

também o autor o fato de que muitos edifícios, por questões de custos, empregam materiais de

acabamento baratos que demandam produtos bastante agressivos para manutenção,

notadamente para limpeza e conservação.

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Outra barreira prevista à adoção dos edifícios verdes é a questão dos custos. A adoção de

princípios verdes efetivamente aumenta os custos iniciais de uma edificação, muito embora os

custos de operação e manutenção sejam menores. Na economia brasileira ainda prevalece a

compra pelo menor preço, sendo pouco considerados os custos de operação e de manutenção.

Some-se ainda o fato da manutenção da maioria dos edifícios ser de responsabilidade do

proprietário e não do construtor. Assim, não há motivação para construir um edifício mais

caro, mesmo se com menos manutenção, se não houver uma forte demanda para tal.

Dados da agência americana de proteção ambiental US.EPA mostram que ao longo de 40

anos, 50% do custo de um edifício de escritório dizem respeito a sua operação; que o custo de

construção se restringe a 11% e que é possível uma economia entre 10% e 20% no custo de

operação de um edifício se ele for projetado dentro de normas verdes Assim, a despeito de

apresentarem um custo inicial cerca de 15% mais elevado do que edifícios comuns os

edifícios verdes recuperam esta diferença em termos de custos de operação e manutenção.

(NAVI, 2002).

A barreira mais forte a ser vencida, contudo, diz respeito ao quase total desconhecimento

popular sobre os impactos causados ao meio ambiente e à saúde humana pelos edifícios e as

vantagens econômicas e sócio-ambientais dos edifícios verdes.

10. REFERÊNCIAS

ASHE - Green Building Committee of the American Society of Healthcare Engineering. Green Healthcare Construction Guidance Statement. October 2004. disponível em: www.ashe.org/ashe/products/pdfs/ ashe_guidance_sustainconst_rev2_0410.pdf

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Gardner, G., Sampat,P., Forjando uma economia de materiais sutentáveis.In: BROWN, L.R. et al. (org).Estado do mundo.Salvador: Editora Uma 1999, p.-42-61.

GODISH, Thad. Indoor environmental quality.Boca Raton:Lewis, 2000.

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LICCO, E.A. Controle da poluição ambiental. Campinas, 1997.[Apostila do curso de Gestão Ambiental. Escola de Engenharia mecânica, Unicamp]

LICCO, E.A. Fundamentos da prevenção e controle da poluição ambiental.São Paulo, 2002.[Apostila do curso de Gestão e Tecnologias Ambientais. Escola Politécnica, USP.]

SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado, São Paulo, Hucitec, 1988.

NAVI, A. Método Engenharia traz o conceito dos edifícios "verdes". BoletimIDEA, edição 017, ano 2, 2002.

O’Meara, M. “Explorando uma nova visão para as cidades”. In: BROWN, L.R. et al. (org). Estado do mundo.Salvador: Editora Uma 1999, p.-138-157, 1999.

13.OPAS – Organização PanAmericana da Saúde. Saúde e ambiente -marco conceitual, disponível em: htpp//www.opas.org.br/ambiente/carta.cfm 2006a

14.OPAS – Organização PanAmericana da Saúde. Espaços Saudáveis, disponível em: htpp//www.opas.org.br/ambiente/temas.cfm?id=34&área=Conceito 2006b

15. ROSSI, Ana M.G. Ambiente construído. Rio de Janeiro, 7 Letras, AFEBA, 2003)

16. USGBC - United States Green Building Council. Sustainable Building Technical Manual.Washington, Public Technology, Inc., 1996.

17. US.EPA. Buildings and the Environment: A Statistical Summary. December 2004. disponível em: www.epa.gov/greenbuilding/pubs/gbstats.pdf

18. Walsh, B. Scotchgard™ and Stainmaster™: A Precautionary Tale for the Green Building Movement . Healthy Building Network, February 24, 2006. disponível em: http://www.healthybuilding.net/news/060224pfoa.html