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Saindo da sua oração privada, Jesus faz aos seus discípulos a dupla pergunta que há muito tempo está no seu coração: «Quem sou eu, segundo o povo?... E para vocês, quem sou eu? ». Jesus fez esta pergunta ao sair de sua oração, como se aqueles instantes de intimidade com o Pai, devessem torná-lo mais transparente aos olhos dos discípulos. De fato, a pergunta de Jesus era também de proveito, sobretudo, para os seus discípulos. Os discípulos escutaram as reflexões do povo. Colheram as opiniões contraditórias, cada vez mais críticas dos Escribas, ou seja, os teólogos da época, que procuravam entender como podiam, quer dizer sempre do exterior, ponderando aquilo que viam com os próprios olhos ou aquilo que sabiam por ouvir dizer. Escribas que se limitam a considerar Jesus em relação àquilo que já conhecem de outras fontes, que se limitam a comparar Jesus com outros grandes personagens de quem recorda talvez algumas certas características. Poderia ser João Batista, por exemplo, talvez Elias, de que se espera o retorno, ou qualquer outro profeta, entre tantos que existiram ao longo de toda a sagrada história. Quanto aos discípulos, podemos dizer que deram um passo a mais. À pergunta de Jesus: «E para vocês, quem sou eu? », Pedro, em nome de todos os outros, confessa resolutamente: «O Cristo de Deus», quer dizer, o seu Ungido, o seu enviado. A resposta dos discípulos, portanto, vai mais longe do que aquela dos

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Saindo da sua oração privada, Jesus faz aos seus discípulos a dupla pergunta que há muito tempo está no seu coração: «Quem sou eu, segundo o povo?... E para vocês, quem sou eu? ». Jesus fez esta pergunta ao sair de sua oração, como se aqueles instantes de intimidade com o Pai, devessem torná-lo mais transparente aos olhos dos discípulos.

De fato, a pergunta de Jesus era também de proveito, sobretudo, para os seus discípulos. Os discípulos escutaram as reflexões do povo. Colheram as opiniões contraditórias, cada vez mais críticas dos Escribas, ou seja, os teólogos da época, que procuravam entender como podiam, quer dizer sempre do exterior, ponderando aquilo que viam com os próprios olhos ou aquilo que sabiam por ouvir dizer. Escribas que se limitam a considerar Jesus em relação àquilo que já conhecem de outras fontes, que se limitam a comparar Jesus com outros grandes personagens de quem recorda talvez algumas certas características. Poderia ser João Batista, por exemplo, talvez Elias, de que se espera o retorno, ou qualquer outro profeta, entre tantos que existiram ao longo de toda a sagrada história.

Quanto aos discípulos, podemos dizer que deram um passo a mais. À pergunta de Jesus: «E para vocês, quem sou eu? », Pedro, em nome de todos os outros, confessa resolutamente: «O Cristo de Deus», quer dizer, o seu Ungido, o seu enviado. A resposta dos discípulos, portanto, vai mais longe do que aquela dos

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teólogos da época. Os discípulos já tinham percebido que Jesus não era um profeta como os outros que passaram ao longo da história da Salvação. É algo mais, único, incomparável. Não poderia, portanto, ser aquele que é chamado o Messias, cuja vinda o povo eleito espera há séculos? E eis que Pedro avança e se arrisca a pronunciar a confissão de fé que todos tinham na ponta da língua.

No texto correspondente de Mateus, Jesus se congratulou com a resposta de Pedro: mas deixou claro que um tal conhecimento acerca de sua pessoa não provinha somente de Pedro, pois esta revelação do ser de Jesus foi escondida aos sábios e aos prudentes. E não foi a carne e o sangue, quer dizer, a inteligência de Pedro por si própria que teve esta revelação de Jesus, mas o Pai que está no céu foi quem a manifestou a Pedro.

Os discípulos intuíram algo a mais que os Escribas, é verdade; mas não sabem ainda tudo sobre Jesus. Aliás, estão ainda bem longe de conhecer Jesus. Estão certos quando afirmam que ele é o Messias. Mas o que quer dizer «o Messias»? E qual Messias esperavam? Talvez aquele que os esclarecerá acerca das astúcias da Lei e colocará fim uma vez por todas aos inumeráveis problemas de casuística pelos quais as escolas rabínicas se inflamavam? Talvez o Messias será aquele que organizará a unificação da resistência contra o exército romano de ocupação para reconquistar, com

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o apoio das tropas dos zelotes, a terra dos antepassados?

Pedro intuiu corretamente: sim, Jesus é o Messias. Mas Pedro é incapaz de dizer algo mais. Será Jesus quem irá regular um pouco melhor o binóculo, que vai focalizá-lo melhor, uma focalização não só importante, mas decisiva, uma focalização que, convenhamos é pouco aceitável que Jesus a faça veladamente, em segredo, quase enigmático somente aos discípulos e os proíbam de publicar à multidão: «É necessário que o Filho do Homem sofra muito, seja rejeitado pelos anciãos, chefes dos sacerdotes e escribas, seja morto e ressuscite ao terceiro dia».

Eis, os traços característicos do messias com os quais Jesus se apresenta e sem os quais não pode ser reconhecido. Quem quisesse conhecê-lo com estes traços não poderia senão escandalizar-se. De fato, quinze minutos depois foi esta a reação dos discípulos, a começar por São Pedro. Caros irmãos e irmãs, para reconhecer verdadeiramente Jesus é necessário ainda algo a mais. Não basta ver Jesus ou encontrar-se com ele com a Bíblia nas mãos; é necessário seguí-lo, quer dizer assumir a sua condição, a sua forma de ser, quer dizer, de viver. Jesus não teve medo de dizer: «Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me». Esta é a forma da vida de Jesus. Vejamos se é mesmo. O que diz A Carta aos Filipenses 2,4-8?

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Ele tinha a condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz!

Esta é a forma da vida do cristão, ou seja, a de um servo obediente que toma a sua cruz. Com o nosso batismo e, para nós monges, também com a nossa profissão monástica, fomos lançados em uma dinâmica dentro da qual “somos conformados a Jesus Cristo”. Pena que dizemos frases deste tipo muito gratuitamente, sem pensar. Mas meus caros cristãos, esta frase é incredível se a tomarmos a sério: “Somos conformados a Jesus Cristo”, não somente de maneira geral, mas nos mínimos detalhes. Ser conformado a Jesus Cristo tem um valor imenso. Conhecemos a forma da sua vida. Resta-nos sermos conformados a ela.

Caros irmãos e irmãs, o caminho para conhecer Jesus segue o percurso de uma via crucis, que é o destino da cada um de nós. Com efeito, quem é Jesus senão o amor do Pai? E qual é o máximo amor senão aquele que doa a própria vida? E como conhecer o amor senão doando a própria vida como fez Jesus? AMÉM.