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Sofia de Ruival Ferreira Franklin Quintas SALVA DE PÉ EM FILIGRANA DE PRATA INDO-PORTUGUESA. LISBOA 2007

Salva de Pé em Filigrana de Prata Indo-Portuguesa

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Estudo sobre uma salva indo-portuguesa em filigrana de prata

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Page 1: Salva de Pé em Filigrana de Prata Indo-Portuguesa

Sofia de Ruival Ferreira Franklin Quintas

SALVA DE PÉ EM FILIGRANA DE PRATA

INDO-PORTUGUESA.

LISBOA 2007

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UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA ESCOLA DAS ARTES

Mestrado em Artes Decorativas

SALVA DE PÉ EM FILIGRANA DE PRATA

INDO-PORTUGUESA

Por Sofia de Ruival Ferreira

Trabalho para o seminário «Artes Decorativas Luso-Orientais»

Regente: Doutor Pedro Moura Carvalho

LISBOA 2007

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Indice Introdução ............................................................................. 6 1. – A salva de aparato: a filigrana e técnica de execução. ... 7 1.2 – A arte Indo-portuguesa. ............................................... 8 2 – A decoração da salva. ..................................................... 9 3 – A forma da salva de pé e os seus referentes ................. 10 Conclusão. ........................................................................... 11 Bibliografia ......................................................................... 13

Fontes Computorizadas ................................................................................................ 13 Fontes Bibliográficas ................................................................................................... 13

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Abreviaturas, siglas e sinais

Alt. - Altura

C. – Circa/cerca de

Cf. - Conforme

Col. – Colecção

Consult. – Consulta / consultado

Diam. - Diâmetro

Ed. – Edição

Fig. – Figura

Grs. – Gramas

Larg. – Largura

M.N.A.A. – Museu Nacional de Arte Antiga

Mm – milímetros

N.d. – Não diz

Op. cit. – Opus citatum / Obra citada

P. – Página

Pp. - Páginas

Prof. – Professora / Professor

Vd. – Vide

Vol. – Volume

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Introdução Vamos no presente trabalho analisar uma salva de pé em filigrana de prata Indo-

portuguesa, produzida no continente indiano provavelmente em Goa, com formas

europeias e decoração, técnicas e manufactura orientais.

Este “estudo de caso” desenvolve-se por três capítulos: no primeiro capítulo por não nos

ter sido possível analisar esta peça pessoalmente, baseámos o estudo na descrição feita por

Maria Helena Mendes Pinto, no catálogo Via-Orientális, a partir do qual organizámos uma

pequena explicação sobre a técnica de produção de filigrana, seguindo-se um segundo

ponto onde desenvolvemos uma análise sobre a arte Indo-portuguesa. O segundo capítulo

dedica-se totalmente à temática da decoração, terminando no terceiro capítulo com a

análise da forma e as comparações entre diversas salvas de aparato.

Produzida no séc. XVII, segundo a descrição do catálogo Via-Orientális, encontra-se

totalmente embebida na estética e na mentalidade de uma época de descoberta de novas

culturas, que aliadas a um espírito europeu ávido de coleccionismo permitiram a criação e

a comercialização de variados e espantosos artefactos.

Esta peça actualmente numa colecção particular, foi totalmente decorada com elementos

que se enrolam e cruzam ao gosto oriental, que lhe transmitem uma dualidade

ornamento/forma por não possuir uma estrutura própria para além da alcançada com o

trabalho de filigrana. No trabalho optamos por apresentar as medidas na seguinte ordem: altura, largura e

profundidade da peça e para uma maior precisão as medidas métricas apresentadas

encontram-se expressas em milímetros.

Gostaríamos ainda de agradecer a todas as pessoas que tornaram este trabalho possível,

ao Dr. Pedro Aguiar Branco, pela imagem e pormenores da salva estudada, aos particulares

que permitiram o acesso às suas colecções e ainda sem esquecer um agradecimento

especial à nossa família e amigos que em muito nos apoiaram.

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1. – A salva de aparato: a filigrana e técnica de execução.

“Salva com pé. Filigrana de prata. Arte Indo-portuguesa, século XVII.

Dim. – 35 x 280 mm.

Lisboa, Colecção José Lico.

Pequena salva em filigrana de prata, com fundo rebaixado e preenchido por uma grande flor de lótus

aberta, com dez pétalas ornamentadas por caprichosos motivos vegetalistas estilizados, contornados

por enrolamentos em fio estirado e martelado, convergindo para o centro marcado por uma minúscula

flor de pétalas perfuradas. A orla é constituída por doze composições de florais à maneira indiana, com

enrolamentos idênticos aos do fundo do prato. A mesma florzinha, agora simplificada, repete-se no

bordo da salva, separando os botões de orla recortada e decorada com folhas de boteh1 Este padrão

decorativo deriva da estilização da folha do ficus religiosa, muito utilizada na Índia, nomeadamente na

decoração de têxteis, encontrando-se frequentemente nos xailes de Cachemira. A salva assenta sobre

um pé de nó esferóide com a base igualmente ornamentada com folhas de boteh.2

Tal como esta descrição sugere, esta salva de pé em filigrana de prata é claramente uma

peça de aparato, com a finalidade de apresentar algo, visto a sua forma e decoração não

permitirem um uso diário e funcional.

O trabalho de filigrana3 é também designado por “Telkari”, nome atribuído na Anatólia4,

que significa “trabalho em fio” ou “Cift-isi”, que significa “trabalho de tesouras5”, é

fundamentalmente um trabalho relacionado com a produção de ourivesaria e que consiste

em enrolar delicados fios de ouro ou prata, conseguindo criar uma decoração única67

Por todo o mundo conhecem-se variados locais onde o desenvolvimento da arte da

filigrana foi relevante. Desde o norte da Europa, onde o povo celta atingiu um nível técnico

elevado, passando pela zona mediterrânea de Chipre e da Sardenha e terminando a leste na

Crimeia, encontramos variadas peças descobertas em escavações tumulares, expostas em

colecções do museu Britânico, do museu Victoria & Albert, no museu do Hermitage ou

ainda no museu do Louvre, entre outros.

.

1 Bote, Buta ou Buti – palavra de origem persa significando literalmente “flor” ou “arbusto”, in Pinto, Maria Helena Mendes - Via Orientalis, Europália 91. 1991. P. 151. Fig. 98. 2 Cf. Leonor D´Orey no catálogo da exposição Vasco da Gama e a Índia. 1988, p. 151. fig. 98. 3 ARMINJON, Catherine; BILIMOFF, Michèle. 1988. P. 107. 4 Actual Turquia. 5 Provavelmente relacionado com a utilização de determinados alicates de pontas finas. 6A filigrana também pode ser utilizada na aplicação de pequenos fragmentos noutras peças para as tornar ainda mais ricas e opulentas como è visível no caso das pedras de Bezoar (figs nºs 4 e 5). 7 Para uma explicação técnica do trabalho de filigrana vd. figs. nºs 13 a 16.

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1.2 – A arte Indo-portuguesa. Em grande parte a vasta difusão de peças exóticas pelo Mundo, deve-se ao espírito

empreendedor de navegadores portugueses, como Vasco da Gama, que em 1498 conseguiu

desbravar o caminho marítimo para a Índia “Por mares nunca dantes navegados8…”e

alcançando a costa do Malabar e por Pedro Alvares Cabral ao atingir as terras brasileiras.

A par das rotas marítimas seguras, a manutenção de postos de abastecimento ao longo da

costa de África, permitiu aos navegadores trazerem como lastro nos porões das naus,

variados tipos de bens orientais como por exemplo peças de mobiliário, peças de ouro e de

prata, especiarias, marfins, sedas, loiças e peças exóticas e raras nos mercados europeus,

como os chifres de rinoceronte (fig. nº 6) ou pedras de Bezoar910 “lembranças de lugares e

gentes que marcaram vidas11”. Este tipo de objecto muitas vezes relacionada com poderes

mágicos e curativos eram muito cobiçados pelos príncipes e humanistas da época de

quinhentos e seiscentos. A criação de Kunstkammern ou câmaras de maravilhas, salas de

aparato onde eram expostas peças exóticas relacionadas com a naturália, a minerália e a

arte ou artesanato, que tinham como finalidade o pasmo e a admiração social dos seus

proprietários, homens eruditos do Renascimento. O particular interesse pelo

coleccionismo, cedendo a um interesse de natureza intelectual e enciclopédico, impulsiona

o desenvolvimento das artes. Famílias de mecenas como os Medici ou a casa real de

Habsbourg, da qual gostaríamos de referir a singularidade do saleiro em cristal de rocha

polido em forma de elefante com aplicações em ouro, pertencente ao espólio da rainha

portuguesa D. Catarina de Áustria (1507-1578), foram uns dos exemplos que figurariam

naquela que podia ser a primeira Kunstkammern portuguesa12

Por outro lado no continente asiático, a acção missionária realizada nestas novas

paragens aliada à movimentação de elites sociais, permitiram o transporte de variadas

peças para a Índia, nomeadamente peças de cariz religioso, enquanto que paralelamente

.

8 Retirado de CAMÕES, Luís de. 1965. Canto I, estrofe 3ª. P. 11. 9 Pedras de bezoar são pequenas pedras (cálculos) que se encontravam no estômago das cabras bezoar persas. GSCHWEND, Annemarie Jordan – As Maravilhas do Oriente: colecções de Curiosidades Renascentistas em Portugal, in A Herança de Rauluchantim. 1996. P. 91. 10 Era transportado também: benjoim, âmbar, civeta, mirobálanos, almíscar e cânfora Ob. Cit. P. 83. 11 Cf. DIAS, Pedro, 1998, P.28. 12 Cf. GSCHWEND, Annemarie Jordan – As Maravilhas do Oriente: colecções de Curiosidades Renascentistas em Portugal, in A Herança de Rauluchantim. 1996. P. 85.

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eram enviadas para a metrópole peças exóticas, destinadas a presentear as casas reais e

pessoas ilustres. Neste fluxo de estéticas13

Esta harmonia oficinal terá repercussões a nível artístico, visto que na Índia e em

especial em Goa, coexistiam múltiplas religiões – a hindu, a cristã e a muçulmana – às

quais os artistas estavam obviamente relacionados, sendo então só permitida a manufactura

de determinadas peças caso se convertessem ao cristianismo. Apesar do controlo existente

por parte da Igreja católica, esta viu-se obrigada a adaptar-se ao contexto local, tolerando a

sensibilidade e gostos das populações que desejava converter, permitindo a mescla

artística, já que ultima análise revia um contexto catequético nas próprias imagens

produzidas. O vocabulário artístico europeu foi assimilado pelos artistas locais, filtrado

pela sua cultura, técnica e sensibilidade autóctones e aplicado em peças de carácter ímpar.

, o facto de saírem muitos artistas do reino para o

território indiano em busca de uma vida melhor, criando “escolas” onde explicavam as

técnicas e as decorações lusitanas aos povos autóctones, determinou as influências que

iriam assumir na manufactura de peças. Portanto a mistura de formas e de vocabulários

decorativos europeu e oriental, aliados à utilização de mão-de-obra local, permitiu o

desenvolvimento de uma fusão artística denominada como arte Indo-portuguesa.

2 – A decoração da salva. O intrincado trabalho da filigrana correspondeu de uma forma objectiva aos ideais

estéticos dos gentios indianos, que possuem um grande gosto pela sobrecarga decorativa.

Para o forte desenvolvimento da arte da filigrana na Índia foi determinante não só a

abundância de mão-de-obra local, mas também a tradição de trabalhos em metais nobres

não só para peças ornamentais, como também para adornos pessoais entre os quais

braceletes, brincos, colares, cintos, etc. Por entre os motivos de cariz cristão, desenvolvem-

se outros de formas naturalistas, abstractas, figurativas e fantasistas, denunciadores de uma

forma diferente de pensar o Mundo. Também do ponto de vista morfológico e formal as

peças mostram especificidades ao nível dos volumes, mais rígidos e contidos, com menor

plasticidade, em oposição à estética europeia. 13 Não podemos deixar de referir o facto de o ourives indiano Rauluchantim ter vindo trabalhar na corte do rei D. Manuel (1495-1521) entre 1518 e 1520, de tal forma a sua arte era apreciada que o monarca no final do seu reinado, convidou-o a vir para Lisboa, para ensinar as suas técnicas e ao mesmo tempo aprender as técnicas ocidentais. Cf. SILVA, Nuno Vassalo e - A Herança de Rauluchantim. 1996. P. 15.

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Seguindo o esquema apresentado no livro Arab Silver, existem múltiplos desenhos que

ao longo dos séculos adquiriram uma interpretação intrínseca da realidade muçulmana. A

base da arte islâmica advém da herança mediterrânea do povo grego e romano, mesclada à

influência do Império Sassânida da Pérsia (d.C. 224-642)14 e posteriormente à aculturação

dos invasores turcos e mongóis que trouxeram consigo novas influências. Contudo apesar

de tantas influências a sua arte possui características únicas de expressão comum, como

por exemplo a representação de espirais ou de estrelas de seis pontas que significam

progresso, enquanto a cruz de pontas curvas significa o movimento infinito15

Nesta peça em termos decorativos, encontramos motivos geométricos e naturalistas

indianos, como por exemplo, as espirais e as folhagens estilizadas, habilmente conjugadas

com a forma europeia de salva de pé alto (fig. nº 1). Podemos observar outra salva do

mesmo período (fig. nº 2), com múltiplas semelhanças a nível da forma, variando

ligeiramente a nível da decoração. O centro da salva, bem como a zona da caldeira

.

16

Esta decoração encontra-se também presente em variados suportes, como por exemplo

uns azulejos e fragmentos de têxteis que encontramos durante a pesquisa, que corroboram

esta opinião. A análise das figs. nºs 7 a 10, um azulejo e três fragmentos de têxteis,

permitem estabelecer um denominador comum entre as variadas decorações: a tal

exuberância decorativa fundamentada com elementos vegetalistas sinuosos.

,

apresentam soluções decorativas idênticas, com folhagens estilizadas, existindo apenas

uma variante na apresentação do bordo, enquanto que no exemplar em estudo, este

apresenta saliências rendilhadas, na salva da fig. nº 2 podemos observar um contorno

curvo, quase gomado.

3 – A forma da salva de pé e os seus referentes Vamos agora passar a analisar a sua forma: salva17

14 Tait, Hugh – Seven Thousand Years of Jewellery. 1986. P. 91.

de secção circular, bordo decorado

com recortes vazados, assente sobre uma esfera que por sua vez está assente sobre outra

15 SAADAL-JADIR - Arab and Islamic silver. 1981. P. 18. 16 Cf. Maria Antónia Pinto Matos, as paredes que unem o centro da salva ao bordo designam-se por caldeira. 17 “Salva: a origem mais certa é atribuível ao “tomar a salva” referido por Bluteau (1728), que se referia ao acto do derramar do liquido na salva para o trinchante o provar antes do Príncipe…Existem diversos tipos de utilização para estas peças, como por exemplo, os fruteiros, pratos, bacias de águas às mãos, ou lavandas, salvas bilheteiras, salvetas, etc…” Cf. Luísa Penalva in Inventário do M.N.A.A. 1995. Vol. 1. P. 224.

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forma circular que funciona como base de suporte. Esta tipologia pode ser encontrada em

variados materiais, como por exemplo na faiança portuguesa da mesma época, do qual

encontramos dois exemplos que nos pareceram suficientemente semelhantes para servirem

de base de comparação, mas apenas em termos formais. Como afirmámos anteriormente as

peças acompanhavam as elites que partiram para o Oriente e serviam de modelo para

encomendas, ou seja, não é difícil imaginar uma destas salvas em faiança possa ter servido

de modelo para um artista indiano a reproduzir consoante a sua técnica e gosto decorativo

(figs. nºs 11 e 12). Em termos ornamentais a salva de faiança18 apresenta nos “gomos”

cabeças de anjos, enquanto a salva de filigrana apresenta uma solução floral19

Gostaríamos ainda de adiantar mais um dado para a identificação desta

salva, o seu peso - 548 grs., que se fizermos corresponder aos 280 mm de

diâmetro, permite-nos afirmar que estamos perante uma peça leve, o que

atesta o seu delicado trabalho de filigrana.

. A influência

ocidental encontra-se patente na forma enquanto a influência oriental se faz notar na total

ausência de figuras humanas, representação completamente interdita pela religião

muçulmana, onde existe a figura de um rapaz ou de uma dama, na salva de faiança, na

salva de filigrana existe um intrincado trabalho de enrolamentos e arabescos (figs. nºs 11 e

12). O arabesco, típico ornato que emprega desenhos de flores, folhagens ou frutos - às

vezes, animais, esboços de figuras ou padrões geométricos, produz desenhos de rectas,

curvas e contracurvas entrelaçadas simbolizam o movimento infinito.

Conclusão. Desta tipologia de peças apenas se conhecem três exemplares, talvez devido ao facto de

serem extremamente frágeis e se danificarem com facilidade ou também pelo facto de

“passarem de moda“ sendo substituídas por outras com estéticas mais modernas. Como

afirmámos no início do trabalho, não nos foi possível analisar esta peça pessoalmente, o

que dificultou a apreensão da salva “num todo”. Faltou uma análise sobre a qualidade do

trabalho da filigrana e sobre o seu estado de conservação, que tentámos compensar com a 18 Cf. Reinaldo dos Santos esta tipologia de peças em faiança foram produzidas para consumo interno em Portugal, não para exportação, daí que sejamos levados a crer que para algum artista indiano ter acesso a uma peça desta tipologia, ela teria sido transportada junto dos bens de alguém que tenha embarcado rumo à Índia. 19 No entanto, existem numerosas representações de figuras animais e humanas na arte islâmica, que surgem em contextos não religiosos, pois é considerado idolatria segundo a doutrina islâmica.

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descrição feita por Maria Helena Mendes Pinto e com outras peças idênticas que nos foram

facultadas para este estudo. O trabalho foi desenvolvido da seguinte forma, após a

descrição pormenorizada, segue-se uma pequena explicação sobre a arte da filigrana,

técnica que foi desenvolvida um pouco por todo o Mundo. Em termos decorativos a

filigrana varia consoante a percepção estética dos povos e pode apresentar formas de tal

forma complexas e ornamentadas, que é inegável o desenvolvimento do conhecimento

técnico no trabalho desta arte. Dentro do primeiro capítulo mas num segundo ponto surge

então o estudo sobre a arte Indo-portuguesa, a forma europeia associada à decoração

autóctone, que indicia a sua origem oriental sintetizada com a influência portuguesa.

Gostaríamos de recordar que as descobertas marítimas levadas a cabo pelos portugueses,

podem ser considerados uns dos maiores feitos da humanidade, por terem permitido o

contacto entre variados povos, de que apenas conheciam comentários vagos e fantásticos a

seu respeito. Contudo, o paralelismo de influências que se fizeram notar não correspondera

a uma transposição fiel dos modelos europeus mas antes na sintetização de soluções

originais. Surge assim a estética Indo-portuguesa, que conferiu a esta salva de aparato uma

decoração exuberante e exótica própria das Kunstkammern europeias. No segundo e

terceiro capítulos abordamos as partes decorativas e formais da peça, terminando então

este “estudo de caso” com o desenvolvimento da análise comparativa da salva de pé com

outras apresentadas em exposições, enquanto propomos paralelamente a análise

comparativa com peças referentes em faiança portuguesa, visto pensarmos que esta

tipologia poderá ter sido um dos modelos pelo qual os artífices se inspiraram durante o

processo criativo.

Com este trabalho esperamos, dentro do tempo disponível, ter desenvolvido um estudo

sobre esta salva de pé em filigrana de prata Indo-portuguesa, analisando a sua tipologia, a

sua origem e a quem se destinava, a época, as técnicas de fabrico e a sua decoração.

Como nota final gostaríamos ainda de realçar que Portugal nos sécs. XVI/XVII,

encontrava-se na vanguarda da Europa, abrindo efectivamente uma porta para a

globalização, temática tão debatida nos nossos dias, cujo impacto se evidenciou não só a

nível das descobertas de novas terras como também na assimilação e transmissão de

influências.

Page 13: Salva de Pé em Filigrana de Prata Indo-Portuguesa

Bibliografia

Fontes Computorizadas

http://www.pokimica.com/lang_en/filigran_en.htm

http://www.marinha.pt/extra/revista/ra_jul2004/pag_15.html

http://www.museofiligrana.org/asia.htm

Fontes Bibliográficas

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Coimbra. Instituto Português de Museus. Secretaria de Estado da Cultura. 1992.

A Herança de Rauluchantim. Comissão Nacional para as Comemorações dos

Descobrimentos Portugueses. Nuno Vassalo e Silva. Museu de São Roque. Lisboa 1996.

ARMINJON, Catherine; BILIMOFF, Michèle – L´art du Métal – Vocabulaire

Technique. Editions du Patrimoine. Imprimerie Nationale Editions.1988.

BORGES, Charles J. - Questões em Torno das Formas de Representação na Arte

Religiosa Indo-Portuguesa. Revista Oceanos. Números 19/20. Lisboa. Comissão

Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. 1994. Pp. 72-86.

CAMÕES, Luís de – Os Lusíadas. Colecção de Clássicos Sá da Costa - Obras Completas.

Livraria Sá da Costa Editores. Lisboa. 1965.

COUTO, João – Alguns subsídios para o estudo técnico das peças de ourivesaria no

estilo denominado indo-português – Três peças de prata que pertenceram ao

convento do Carmo da Vidigueira. I Congresso da História da Expansão Portuguesa no

Mundo. 2ª Secção. Lisboa. 1938.

Page 14: Salva de Pé em Filigrana de Prata Indo-Portuguesa

DIAS, Pedro - História da Arte Portuguesa no Mundo (1415-1822), O Espaço do

Índico. Navarra. Círculo de Leitores 1998.

Exótica: Os Descobrimentos Portugueses e as Câmaras de Maravilhas do

Renascimento. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa. 2001.

Inventário do Museu Nacional de Arte Antiga - Colecção de Ourivesaria - do

Românico ao Manuelino. Instituto Português de Museus. 1995. Volume 1.

SANTOS, Reynaldo - A Índia Portuguesa e as Artes Decorativas. Belas Artes. 2ª Série.

Nº 7. Lisboa. 1954.

SANTOS, Reynaldo – Faiança Portuguesa séculos XVI e XVII. Galaica. Porto. 1º Vol.

1960.

SAADAL-JADIR - Arab and Islamic silver. Stacey International. London. 1981.

TAIT, Hugh – Seven Thousand Years of Jewellery. British Museum Press. 1995.

Topkapi Sarayi : objets d'art. Editions du Jaguar. Paris. 1987.

Vasco da Gama e a Índia. Conferência Internacional 11-13 de Maio. 3 volumes.

Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa - Paris. 1988.

Vasco da Gama e a Índia. Catálogo da exposição na Capela da Soborne 11 de Maio a 30

de Junho. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa - Paris. 1988.

Via Orientalis. Europália 91 - 24 de Setembro a 15 de Dezembro. Fundação Oriente,

CGER. Portugal. Bruxelas. 1991.

Page 15: Salva de Pé em Filigrana de Prata Indo-Portuguesa

WATT, James C. Y., WARDWELL - When silk was gold - Central Asian and Chinese

textiles. The Metropolitan Museum of Art. New York. 1998.

Page 16: Salva de Pé em Filigrana de Prata Indo-Portuguesa

ANEXOS

Page 17: Salva de Pé em Filigrana de Prata Indo-Portuguesa

Figura nº 1

Salva com pé. Filigrana de prata. Arte indo-portuguesa, século XVII. Dim. – 35 x 280 mm. Peso - 548 grs. Lisboa. Colecção José Lico.

Pormenor do pé da salva. Imagem do pormenor e descrição retiradas de D´OREY, Leonor. 1988, p. 151. fig. 98.

Page 18: Salva de Pé em Filigrana de Prata Indo-Portuguesa

Figura nº 2

Salva de pé alto. Filigrana de prata. Trabalho indo-português. séc. XVII (?) Dim – 60mm x 280 mm. Lisboa. Colecção José Lico.

Pormenores do centro da salva à esquerda e da orla gomada à direita. Imagens e descrição retiradas de Pinto, Maria Helena Mendes - Via Orientalis. 1991. P. 133. Fig. 106.

Page 19: Salva de Pé em Filigrana de Prata Indo-Portuguesa

Figura nº 3

Salva em fligrana de prata, paquistanesa, decorada com desenhos florais e sólidas bolas de prata. Séc. N. d. Dim. – N. d.

Pormenores do centro da salva à esquerda e da orla rendilhada à direita. Imagens e descrição retiradas de SAADAL-JADIR. 1981. P. 202.

Page 20: Salva de Pé em Filigrana de Prata Indo-Portuguesa

Figuras nº 4 e 5

Fig. 4 - Bezoar, Goa, India, Fig. 5 - Bezoar. Goa, India, Século XVII finais do século XVII. Bezoar e filigrana de ouro. Bezoar e ouro Dim. - 90 mm (alt.) Dim. - 116 mm (alt.) Imagens e descrições retiradas de: Exótica: Os Descobrimentos Portugueses e as Câmaras de

Maravilhas do Renascimento. 2001. Pp 153/4. Figs. 48 e 49.

Page 21: Salva de Pé em Filigrana de Prata Indo-Portuguesa

Figura nº 6

Taça com tampa. Corno de rinoceronte com montagem em prata dourada. Goa (?).

Séc. XVI (1540). Alt. - 209 mm

Imagens e descrição retiradas de:

Page 22: Salva de Pé em Filigrana de Prata Indo-Portuguesa

Figura nº 7

Pedaço de argila encarnada coberta por pasta branca, pigmentos azul-cobalto e verde; verniz estanhífero transparente.Indo-persa (?), indo-turco (?).Goa séc. XVII. Velha Goa, Igreja do convento de Santa Mónica, séc. XVII (?). Dim. – 220 x 195 x 30 mm Imagem e descrição de Pinto, Maria Helena Mendes - Via Orientalis. Europália 91. 1991. P.113.

Comparação entre a temática decorativa azulejar e o trabalho de filigrana da salva:

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Figuras nº 8, 9 e 10

Comparação decorativa entre texteis indianos produzidos no séc. XIII/XIV e a filigrana de prata.

Fig. 8 - Textil com decoração floral. Pormenor da parte central da salva. Dim - 182mm x 121mm Ásia central, periodo mongol, séc. XIII-XIV. The Metropolitan Museum of Art. Nº 46.

Fig. 9 - Textil com decoração “Fenix e Flores” Pormenor da decoração. Dim. – 165mm x 237 mm Ásia central, periodo mongol, séc. XIII/XIV. The Metroplotan Museum of Art. New York. Nº 39.

Fig. 10 - Textil com palmetas. Pormenor da orla da salva. Dim. – 250 mm x 885 mm Ásia central, periodo mongol, séc. XII-XIV. Cleveland Museum of Arte. Nº 46. Imagens de texteis e descrições retiradas de WATT, James C. Y., WARDWELL.1998. P. 147, 149 e 160.

Page 24: Salva de Pé em Filigrana de Prata Indo-Portuguesa

Figura nº 11

Possivel comparação entre um prato em faiança portuguesa e a salva em filigrana de prata.

Prato oitavado orla de querubins. Salva com pé. Filigrana de prata Policromo. Tipo Majólica Arte Indo-portuguesa, século XVII. Séc. XVI. ; Dim. – 35 x 280 mm. Dim. – c. 200mm Lisboa, Colecção José Lico. Museu de Viana do Castelo. Fig. 5, p. 20.

Pormenores para comparação entre os gomos da salva em faiança á esquerda

e a salva de filigrana de prata à direita.

Imagens e decrição da salva em faiança retiradas de Santos, Reynado dos – Faiança Portuguesa séculos XVI e XVII, I vol., p. 17.

Page 25: Salva de Pé em Filigrana de Prata Indo-Portuguesa

Figura nº 12

Possivel comparação entre um prato em faiança portuguesa e a salva em filigrana de prata.

Prato oitavado, com orlas onduladas, Salva com pé. Filigrana de prata Decoradas com cabeças de querubins Arte Indo-portuguesa, século XVII. tendo no octógono central Dim. – 35 x 280 mm. um rapaz. Séc. XVI; Dim. – c. 200 mm Lisboa, Colecção José Lico. Museu de Viana do Castelo. Estampa II.

Pormenores para comparação entre os gomos da salva em faiança portuguesa á esquerda

e a salva de filigrana de prata à direita.

Imagens e decrição da salva em faiança retiradas de Santos, Reynado dos – Faiança Portuguesa séculos XVI e XVII. P. 17.

Page 26: Salva de Pé em Filigrana de Prata Indo-Portuguesa

Figuras nº 13, 14, 15 e 16

Figura nº 13 Figura nº 14

Imagens referentes ao processo de manufacrura da filigrana. À esquerda: em primeiro

lugar trabalha-se a prata ou o ouro até se conseguir o diâmetro ideal do fio, geralmente

entre 0,8 mm a 1,8 mm1

Figura nº 15 Figura nº 16

(figs. nºs 13 e 14), sendo se seguida consecutivamente dobrado,

enrolado e martelado, desenhando arabescos de curvas e contracurvas, flores e espirais.

A união das partes da peça é realizada través de pequenos pontos de soldadura,

acompanhado da aplicação de uma lâmina ou um fio no contorno da peça que permite a

manutenção destes delicados enrolamentos unidos numa só peça, como se pode ver nas

figuras seguintes.

Imagens retiradas de http://www.pokimica.com/lang_en/filigran_en.htm 1 Achamos importante referenciar estas medidas por serem as que mais se encontram em peças semelhantes à estudada, embora seja possível encontrar peças com variados diâmetros de fio de filigrana.

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