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SALVADOR BAHIA | JANEIRO DE 2017

SALVADOR BAHIA | JANEIRO DE 2017 · (SAESP), no início de 1996. Presidiu a Sociedade de Aneste-siologia do Estado de São Paulo (SA - ESP) por dois anos, 1994/95, sendo Homenagem

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BAHIANEST é uma publicação da SAEB - Sociedade de Anestesiologia do Estado da Bahia em parceria com a COOPANEST-BA - Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas Estado da Bahia. Presidente - Dra. Vera Lúcia Fernandes de Azevedo - CREMEB 8363 | Vice-presidente - Dr. Macius Pontes Cerqueira - CREMEB 11533 | Secretário Geral - Dr. Elio Ferreira de Oliveira Júnior - CREMEB 18665 | 1º Secretário - Dr. Vinícius Sepúlveda Lima - CREMEB 21749 | 1º Tesoureiro - Dr. Hugo Eckener Dantas de Pereira Cardoso - CREMEB 15709 2ª Tesoureira - Dra. Ana Cláudia Morant Braid - CREMEB 9622 | Diretor de Defesa Profissional - Dr. Aurino Lacerda Gusmão - CREMEB 7182 | Diretora Científica - Dra. Liana Maria Torres de Araújo Azi - CREMEB 18383 | Presidente da COOPANEST-BA Dr. Carlos Eduardo Aragão de Araujo CREMEB 3.811 | Responsável pela revista: Dra. Vera Lúcia Fernandes de Azevedo - CREMEB 8363 | Textos e Edição Cinthya Brandão Jornalista DRT 2397 www.cinthyabrandao.com.br | Designer Gráfico Carlos Vilmar www.carlosvilmar.com.br | Fotografias Cinthya Brandão Tiragem 500 exemplares | Impressão Cartograf

14 Hipertermia malígna – seria de fato essa doença tão rara?

5 Jornada Baiana de Anestesiologia atualização científica e homenagens

12 Entrevista: Ricardo Azevedo assume a presidência da SBA

ÍNDICE BAHIANEST

23 Dr. Hugo Eckener Dantas - uma vida também dedicada ao associativismo

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20 O modelo cooperativista no cenário da

terceirização da saúde19 SAEB recebe curso de

Medicina baseada em evidências

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EDITORIAL BAHIANEST

Mais um ano se inicia e todos se propõem a mudar, a renovar, a acreditar e isso se chama espe-rança. Esperança de dias melho-res, saúde, trabalho, amor e é esse desejo contínuo que nos mantem vivos e que nos faz seguir apesar de tantas pedras no caminho.

2016 foi um ano de tantas tur-bulências, mas sobrevivemos e dias melhores virão. Ninguém po-derá transformar suas convicções se elas são baseadas na honesti-dade, na generosidade, na ética e não podemos deixar que esses valores sejam sucumbidos diante de tanta corrupção.

Vamos recomeçar sempre, mesmo que seja do zero, isso se chama renovação.

Que 2017 seja um ano melhor. Que em 2017 sejamos pessoas melhores! n

Dra. Vera Lúcia Fernandes de Azevedo

Presidente da SAEB

A SAEB mantém o convênio com o Colégio Anchieta que prevê desconto de 15% nas mensalidades dos filhos e/ou dependentes legais dos sócios. Informações na secretaria da SAEB: 71 3247-4333 ou atra-vés do site da escola www. colegioanchietaba.com.br.

Como forma de ampliar os benefícios aos sócios da SAEB, a dire-toria firmou também um contrato de parceria com o Colégio São Paulo que prevê abatimento no valor das mensalidades. Os descontos são de 10% para cada um dos filhos e/ou dependentes legais dos associa-dos à SAEB, matriculado(s) e/ou a serem matriculados regularmente nas séries oferecidas pela instituição Colégio São Paulo, no turno ma-tutino e, de 15% para os matriculados no turno vespertino, a partir do ano letivo de 2017.

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Em sua 28ª edição, realizada de 23 a 25 de setembro, no Hotel Sheraton da Bahia, o evento trouxe como atividades pré-jornada os workshops USG - Curso Básico, USG - Curso Avança-do, Ventilação Mecânica em Anestesia e Via Aérea.

Temas diversos envolvendo a prática anestésica compuse-ram a grade científica que contou com palestrantes na Bahia e outros estados - profissionais que destinam parte do seu tempo em compartilhar seus conhecimentos em prol de uma prática anestésica de qualidade.

A Jornada trouxe também a palestra de dois advogados, abordando os pontos de compliance e responsabilidade civil, fruto da preocupação crescente da especialidade, além de abordar assuntos sobre cooperativismo.

A JORBA comemora a presença dos parceiros da indústria farmacêutica e de equipamentos dispostos em lounges na área de exposição, tornando o contato com os médicos mais próxi-mo e intimista.

As obras de arte fotográfica de Dr. Emmanuel Correia foi uma atração à parte. Numa TV, o trabalho do anestesiologis-ta apaixonado por fotografia foi apresentado, atraindo muitos olhares e admiradores.

28ª JORBA - ATUALIZAÇÃO CIENTÍFICA E HOMENAGENS

JORNADA DE ANESTESIOLOGIA

A Jornada Baiana de Anestesiologia

tradicionalmente mobiliza e atrai grande público todos

os anos. Anestesiologistas se reúnem por três dias

num aprimoramento científico que agrega valor

e recicla conhecimentos da vivência anestésica em

centros cirúrgicos.

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JORNADA DE ANESTESIOLOGIA

A Professora Dra. Maria Ângela-Tardelli é paulistana, casada e mãe de dois filhos, um administrador de empresas e um engenheiro. É uma médica que atua de forma ativa na luta para o desenvolvimento da es-pecialidade, agindo como exemplo para a classe dos médicos aneste-siologistas.

Professora dedicada e grande colaboradora para o desenvolvi-mento da anestesiologia em São Paulo, Dra. Maria Ângela Tardelli iniciou sua carreira na medicina em 1975, ao se formar pela UNIFESP - Escola Paulista de Medicina. Con-cluiu a Residência em Anestesiolo-gia em 1976 e, logo em setembro de 1977, foi contratada como professo-ra da Disciplina de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva do Depar-tamento de Cirurgia da Escola Pau-lista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo.

Em 1981, defendeu seu Mes-trado em Biologia Molecular na Escola Paulista de Medicina. Em 1983, passou no Título Superior em Anestesiologia pela SBA e, em 1990, defendeu seu Doutorado em

Anestesiologia também pela Escola Paulista.

É fundadora e coordenadora da Liga Acadêmica de Anestesiolo-gia, Dor e Medicina Intensiva desde 2002 e também Coordenadora do Internato do Curso Médico da Es-cola Paulista de Medicina também desde 2002.

Sempre atuou no Hospital São Paulo e na Escola Paulista de Medi-cina, alternando atividades acadê-micas e vivências no hospital.

Atualmente, ocupa o cargo de professora associada da Disciplina de Anestesiologia, Dor e Medicina Intensiva da Universidade Federal de São Paulo.

Já publicou, ao longo da car-reira, muitos livros, capítulos e tra-balhos acadêmicos, participando, inclusive, do livro “Anestesiologia”, editado pela Sociedade de Anes-tesiologia do Estado de São Paulo (SAESP), no início de 1996.

Presidiu a Sociedade de Aneste-siologia do Estado de São Paulo (SA-ESP) por dois anos, 1994/95, sendo

Homenagem à Dra. Maria Ângela Tardelli – Sócio Honorário da SAEB

A solenidade de abertura da 28ª JORBA, além de cumprir to-dos os protocolos comuns a todas as jornadas de anestesiologia, trouxe emoção e reconhecimento às aqueles que fazem a diferença na anestesiologia da Bahia e do país. O Título do Sócio Honorário

foi concedido a Dra. Maria Ân-gela Tardelli - parceira da SAEB em diversos eventos contribuin-do na difusão do conhecimento científico, e ao Dr. José Abelardo Meneses - ex-presidente da SAEB e grande representante da espe-cialidade nas entidades médicas.

Solenidade marcada por homenagens

Dr. Elio Ferreira de Oliveira Jr, Secretário Geral da SAEB, e Dra. Maria Ângela Tardelli

a primeira mulher a comandar a en-tidade. Antes, integrou a Comissão Científica da SAESP, em 1984/85, fez parte da Comissão de Defesa de Classe, e foi vice-presidente no biê-nio 1992/93. Desde 1978, frequenta assiduamente congressos e ativida-des propostas pelas Sociedades de Anestesiologia.

Dra. Maria Ângela Tardelli ocu-pou cargos importantes também na Sociedade Brasileira de Anes-tesiologia, como o de Diretora do Departamento Administrativo, em 1996/97, e na Comissão de Ensino e Treinamento, por cerca de três anos. Foi Membro da Comissão de Título Superior em Anestesiologia

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Nascido em Itabuna, filho de José Alves de Meneses e Beatriz Souto Garcia de Meneses, Dr. José Abelardo Garcia de Meneses é graduado pela Escola Bahiana de Medicina, turma de 1979.

Casado, tem quatro filhos: Éri-ca - advogada, Andréa - cirurgiã dentista, Renata – arquiteta e ur-banista e Vitor que é estudante.

Fez Residência Médica na San-ta Casa de Misericórdia de Ribei-rão Preto - Sp e é Especialista em Anestesiologia.

Atuou no Hospital dos Plan-tadores de Cana e Clínica Amalfi, em Piracicaba - SP. Além dos Hos-pitais Santa Cruz (Atual Calixto Filho), Manoel Novaes da Santa Casa de Misericórdia Itabuna e no Hospital Regional Luiz Viana Fi-lho, em Ilhéus.

Na capital baiana, atuou no Hospital Salvador, fazendo parte do Serviço Médico de Anestesia de Salvador - Semas; no Hospital Menandro de Faria; no Hospital Ana Nery; e na Maternidade de Referência Professor José Maria Magalhães Netto. Atualmente mi-lita no Hospital Geral Ernesto Si-mões Filho e nas Clínicas Gastro-centro e Gastroimagem.

Dr. José Abelardo tem uma

trajetória de destaque na vida associativa e de defesa profissio-nal pela classe médica. Foi tesou-reiro da Associação Bahiana de Medicina - Regional de Itabuna e Membro da Delegacia Regional da SAEB - Sul da Bahia. Membro de Comissões da ABM e da Diretoria do SINDIMED.

Na SAEB, foi Secretário na gestão 1990/1991. Assumiu a pre-sidência no biênio 1992/1993, e foi Secretário em duas gestões: 1996/1997 e 1998/1999.

Na SBA, foi presidente da Co-missão Executiva do 42º Congres-so Brasileiro de Anestesiologia e do 5º Congresso Luso-Brasileiro de Anestesiologia, em 1995. Foi membro e presidente da Comis-são de Estatuto, Regulamentos e Regimentos da SBA. Membro e presidente da Comissão de Sindi-cância de Processo Administrativo da SBA.

No Conselho Federal de Me-dicina, foi Conselheiro na Gestão 1994/1999, e Membro da Comis-são do Título de Especialista.

No Conselho Regional de Me-dicina do Estado da Bahia, Dr. José Abelardo foi Conselheiro nas gestões 1998/2003, 2003/2008, 2008/2013, 2013/2018. Foi Corre-

Homenagem ao Dr. José Abelardo Meneses – Sócio Honorário da SAEB

Dr. José Abelardo Meneses e Dr. Macius Pontes, Vice-presidente da SAEB

gedor de 2001 a 2006, Vice-Presi-dente 2006/2011, e Presidente de 2011 a 2016. Atualmente é Corre-gedor na Gestão 2016 até 2018.

Professor do Curso de Pós-Graduação em Direito Médico da Universidade Católica do Salva-dor. E professor do Curso de Di-reito Médico e da Saúde da Escola Superior de Advocacia Orlando Gomes /OAB.

É Sócio Honorário da Socieda-de de Anestesiologia do Estado de Pernambuco, e foi condecorado pelo Ministério Público Federal em reconhecimento pelo apoio ao Projeto “Dez Medidas Pela Cor-rupção” e, em 2016, durante a 28ª Jornada Baiana de Anestesiologia recebeu o Título de Sócio Honorá-rio da Sociedade de Anestesiolo-gia do Estado da Bahia – SAEB.

da Sociedade Brasileira de Aneste-siologia de 2005 a 2008 e é Mem-bro do Conselho Editorial da Re-vista Brasileira de Anestesiologia desde 1991. Desde 2010, passou a ser co-editora e este ano tornou-se a editora-chefe da revista. Ideali-

zou e desenvolveu o curso de en-sino à distância, uma oportunidade para os médicos se atualizarem por meio do site da SBA.

Dra. Maria Ângela recebeu o título de Sócio Honorário das So-ciedades de Anestesiologia dos

Estados de Pernambuco, Minas Gerais, Sergipe e Ceará. O título de Sócio Honorário da Sociedade de Anestesiologia do Estado da Bahia – SAEB foi concedido na Solenida-de de Abertura da 28ª JORBA, em 2016.

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Após a Solenidade de Abertura da 28ª Jornada Baiana de Anes-tesiologia (JORBA), o Médico Psi-coterapeuta, Dr. Antônio Pedreira, ministrou uma palestra de conte-údo profundo e reflexivo, numa abordagem leve e divertida, sobre como se deve melhor administrar o tempo para desfrutar de uma vida produtiva e feliz.

Com exemplos da vivência da classe médica, Dr. Pedreira chamou a atenção sobre a forma com que o médico deve agir quando precisa conciliar família, trabalho, realiza-ção profissional e realização pesso-al. Cada um no seu universo, mas despertando para aquilo que real-mente o faz feliz, colocando uma escala de prioridade para realizar seus sonhos e projetos.

Dr. Antônio Pedreira tem 31 anos de experiência em psicotera-pia, autor de dezenas de livros nas áreas de biomédica e saúde mental, educador, escritor. É Membro Dida-ta UNAT - BR e ALAT, Presidente da Associação Latino Americana de AT (2008/2009), e Presidente da UBAT (União Brasileira de Analistas Tran-sacionais).

Após a palestra, foi servido um coquetel de congraçamento entre os participantes, convidados e par-ceiros da jornada.

A administração do tempo é tema de palestra motivacional durante a 28ª JORBA

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Na noite do dia 23/09, membros da diretoria, sócios, palestrantes e parceiros da indústria farmacêuti-ca e de equipamentos da 28ª JOR-BA participaram de um jantar de adesão no restaurante Genaro de Carvalho, localizado no térreo do Sheraton da Bahia Hotel, num mo-

Jantar reúne participantes da 28ª JORBA

mento de confraternização e reen-contros. Um espaço gastronômico de inspiração e influência medi-terrânica com um acervo artístico apresentado num grande mural do artista plástico baiano que, em 1950, retratou as festas regionais.

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DICA DE LEITURA

Bahianest: Como surgiu o convite para fazer parte do corpo de conselheiros do CREMEB?

Alexandre Figueiredo: Fui convidado para compor a Câmara Técnica de Anestesiologia do CREMEB em 2003, quando passei a ter contato com as questões técnicas envolvidas nas demandas éticas contra os anestesiologistas. Desde então participei da elabora-ção de inúmeros pareceres técnicos solicitados pelo Tribunal de Ética Médica do CREMEB. Em 2013, veio o convite para compor o quadro de Conselheiros da instituição, cargo que assumi após eleição, quando passei a participar também de todos os processos envolvendo os julgamentos das questões éticas, além de coordenar a Câmara Técnica de Anestesio-logia e a compor a Comissão de Especialidades Mé-dicas do Conselho. Desde então passei a observar que na grande maioria de demandas contra colegas,

os médicos acabam envolvidos nas mesmas por des-conhecimento do Código de Ética Médica e das Reso-luções e Pareceres do Conselho Federal de medicina (CFM) e dos Conselhos Regionais de Medicina (CRM); por desconhecimento dos princípios éticos funda-mentais (autonomia, beneficência, não-maleficência e justiça); por possuírem o hábito de não realizar ou realizar registros incompletos ou ilegíveis nos pron-tuários médicos; por terem dificuldade ou evitarem a comunicação com pacientes e familiares.

Bahianest: A falta de conhecimento sobre o Código de Ética Médica do CFM e demais publicações a cer-ca do tema pode ser um dos agravantes na conduta de alguns médicos?

A.F.: O estudo da ética médica em geral nem sem-pre é atrativo para os médicos, talvez por conta do formato (textos longos), talvez por conta de não

“Dilemas Éticos na Prática Anestésica - Discussão de Casos”Umas das paixões do anestesiologista Alexandre Figueiredo é o mundo literário onde já permeia a alguns anos, desenvolvendo crônicas e contos. Muitos deles publicados na revista Bahianest. Além da função médica, Dr. Alexandre passou a conhecer mais a fundo o universo da ética médica e suas nuances depois que assumiu a função de Conselheiro do CREMEB, instituição que passou a fazer parte de sua vida desde 2003. Nesta entrevista, ele nos fala sobre o quanto essa vivência com as demandas éticas impactam na sua visão sobre a profissão médica e suas inspirações para a criação da obra “Dilemas Éticos na Prática Anestésica - Discussão de Casos”. Trata-se de uma publicação do CREMEB com caráter meramente educacional, que será distribuída gratuitamente para os anestesiologistas do estado da Bahia e contará com o apoio da SAEB para seu lançamento em data oportuna.

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ser incentivado nem na gradua-ção médica, nem nos programas de residências médicas, nem nos programas de educação continua-da das sociedades de especialida-de. Uma boa parte das demandas éticas poderia ser evitada se os médicos, durante o exercício de suas atividades, adotassem medi-das básicas (bem assistir, registrar e informar os seus pacientes) para isso, o que exige também um co-nhecimento básico.

Bahianest: Como se deu o pro-cesso de elaboração deste livro? Quais foram suas motivações e fontes de pesquisa, além do relato de casos?

A.F.: O trabalho de pesquisa que durou um ano e além de outras fontes, incluiu um levantamento de todos os pareceres e resolu-ções do CFM e de todos os CRM’s do Brasil relacionados à aneste-siologia. A maior motivação foi perceber que muitos colegas res-pondiam por infrações éticas que poderiam ser facilmente preveni-das com algumas atitudes muitas vezes simples, como realizar re-gistros em prontuário. Na foto da capa do livro inclusive trás uma mensagem de que a caneta é um instrumento de trabalho para o anestesiologista tão importante quanto os demais.

Bahianest: Essa publicação vem

com o objetivo de tornar mais vi-ável e acessível esses conceitos básicos e tão essenciais aos médi-cos no que tange à conduta ética profissional?

A.F.: A ideia dessa publicação é proporcionar informações em um formato inovador, direto e objetivo sobre ética médica. Fo-ram elaborados 25 casos, muitos deles retratando situações reais envolvendo a prática anestésica, sendo que a discussão é inteira-mente voltada para a questão éti-ca, tendo como fundamentação o Código de Ética Médica, as Reso-luções e Pareceres do CFM e dos CRM de vários estados. O obje-tivo é proporcionar informações sobre questões bioéticas ligadas ao exercício da anestesiologia que possam servir de base para maio-res discussões. A ética é soberana, transcende o direito, uma situa-ção pode ser legal, mas não ética; transcende a ciência, uma técnica pode ser cientificamente benéfi-ca, mas não ética, se não for con-sentida pelo paciente. Conhecer o ordenamento ético permite ao médico exercer plenamente a sua profissão, proteger-se não apenas de possíveis infrações éticas, mas também administrativas, cíveis ou penais, instâncias às quais os mé-dicos devem obediência quando exercem suas atividades.

Bahianest: Em se tratando espe-cificamente de casos que chegam

ao CREMEB envolvendo aneste-siologistas, quais os principais di-lemas?

A.F.: O anestesiologista, em geral, é um profissional extremamente técnico, entretanto, a maior par-te das demandas contrárias é de ordem ética. Verdadeiramente, espero que as informações agre-gadas nesse trabalho possam contribuir para que os colegas de especialidade, quando diante de um dilema ético ou uma situação inesperada na sua atuação pro-fissional, saibam como agir e se comportar, entendendo que ética e técnica não podem estar sepa-radas, devem sim coexistir lado a lado, compartilhando o mesmo di-recionamento em busca do objeti-vo maior do ato médico - o amplo bem-estar dos pacientes. n

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ENTREVISTA RICARDO AZEVEDO

EMPENHO E DEDICAÇÃO AO ASSOCIATIVISMO - Ricardo Azevedo assume a presidência da SBA

Bahianest: Conte-nos um pou-co do seu histórico associati-vo. Quando tornou-se sócio da SAEB? Quais diretorias partici-pou até assumir a presidência?

Ricardo Almeida de Azevedo: Tornei-me sócio da SAEB em 1993, assim que voltei da resi-dência no HC-USPRP. A partir de 1996 comecei a participar da diretoria da SAEB como compo-nente da comissão científica que tinha como diretor o Dr. Lucia-no Garrido e como presidente o Dr. Aurino Gusmão. A partir daí participei de todas as diretorias subsequentes até chegar à presi-dência em 2008. Fui Membro da

Comissão Cientifica 1997-1998, Diretor Científico na gestão 1998-1999, Diretor Científico na gestão 2000-2001, 1º Secretário na ges-tão 2002-2003, Vice-Presidente na gestão 2004-2005, Membro do Conselho Superior na gestão 2006-2007, Presidente na gestão 2008-2009, Membro do Conselho Superior na gestão 2014-2015 e Membro do Conselho Superior na gestão 2016-2017.

Bahianest: Como foi a experiên-cia de estar à frente da SAEB?

R.A.A.: Digo que a SAEB me deu a régua e o compasso. Pois foi uma experiência enriquecedo-

ra e de muito aprendizado. Te-nho orgulho da minha Regional e do trabalho que realizei à sua frente deixando um legado que fortifica a especialidade. A Bahia é grande, com interesses muito variados e para que alguma coi-sa aconteça é preciso muita de-dicação e vontade.

Bahianest: Como chegou a SBA como membro da diretoria? De quem partiu o convite? Quais di-retorias participou até chegar a presidência?

R.A.A.: Recebi o convite por parte da então candidata a presidência, Dra. Nádia Duarte. Para mim foi

Formado pela Universidade Federal da Bahia em 1989, Ricardo Almeida de Azevedo

encantou-se pela anestesia ainda na faculdade, no 3º ano do curso de Medicina. O primeiro contato com a especialidade foi em Feira de

Santana, em 1986. A partir daí, foi paixão à primeira vista. A amizade com Dr. Walter

Vianna foi determinante e no 5º ano começou a fazer estágios, no Hospital Português, ao lado

do seu amigo e mentor.

Com uma vida associativa intensa aliada ao trabalho dedicado à especialidade, Dr. Ricardo

Azevedo ocupou diversos cargos até chegar à presidência da Sociedade Brasileira de

Anestesiologia.

Nesta entrevista, o novo presidente da SBA faz um retrospecto de sua trajetória, seus anseios para contribuir para a valorização da anestesiologia no Brasil e manifesta sua preocupação com a qualidade na formação dos novos anestesiologistas brasileiros.

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uma surpresa, pois em nenhum momento havia aspirado fazer parte da diretoria da SBA, talvez o bom trabalho exercido a frente da SAEB tenha me levado até lá, prefiro pensar assim. Hoje, após fazer parte das diretorias enca-beçadas pela própria Dra. Nádia Duarte, Dr. José Mariano, Dr. Air-ton Bagatini, Dr. Sylvio Lemos, Dr. Oscar Pires e Dr. Antônio Carnei-ro, chegou a minha vez de lide-rar os rumos de uma das maiores Associações de anestesiologia do mundo.

Bahianest: Poucos anestesiolo-gistas baianos chegaram ao cargo máximo na anestesiologia asso-ciativa no país. Quais são os de-safios e projetos à frente da SBA?

R.A.A.: Baianos foram mais, mas vinculados a SAEB, foram 3 além de mim: Dr. Valdir Medra-do (1972), Dr. Altamirando San-tana (1983) e Dr. Paulo Medauar (1995). Os desafios são muitos, pois houve um crescimento mui-to grande tanto da especialidade como da SBA nos últimos anos. Nesta gestão que se inicia procu-raremos ampliar a atuação inter-nacional, investir na área de for-mação do especialista, tentando uma maior aproximação com a CNRM/MEC, garantir condições para a educação continuada e reciclagem com ações de qua-lidade e segurança, aproximar a SBA dos cursos de graduação atuando junto às ligas acadê-micas, defender a especialidade das ameaças de outras especia-lidades e profissões, combater o início precoce do exercício pro-fissional e a anestesia simultâ-nea e trabalhar ações de saúde ocupacional.

Bahianest: Como avalia o pro-cesso de ensino em medicina no país, seja ele acadêmico, de es-pecialização e reciclagem?

R.A.A.: O ensino da medicina vem sofrendo com o aumento indis-

criminado dos cursos de gradua-ção sem a devida capacidade em oferecer boa formação e sem um aumento proporcional das vagas de pós-graduação. Segundo a re-cém-criada Frente Parlamentar da Medicina entre 2013-2015 o Brasil saltou de 149 para 349 fa-culdades de medicina, sem con-tar as que ainda estão em forma de projetos, duzentas novas es-colas em dois anos, ou seja, 78% dos médicos serão formados em escolas privadas financiadas em sua maioria pelo FIES, segundo a Frente, numa projeção futura, o Brasil quebrará o recorde de formar 35.000 médicos por ano, o que somará 350.000 em uma década, como a vida profissional do médico é de 40 anos chegare-mos a um milhão e quatrocentos mil médicos em pouco tempo. Portanto, o grande diferencial será a qualidade de formação e a SBA deverá estar pronta para oferecer este diferencial aos seus associados, investindo em recertificação e requalificação dos seus membros.

Bahianest: A qualidade na for-mação do anestesiologista é uma das lutas da SBA e como tem sido lidar com centros que ain-da buscam formar especialistas em anestesiologia sem a devida adequação de ensino?

R.A.A.: A SBA talvez seja a Socie-dade de Especialidade no Brasil que mais investe na formação do especialista. Temos a convicção de que não podemos abrir mão da qualidade, o que muitas ve-zes, entra em confronto com os gestores que insistem em dizer que faltam anestesistas no Brasil e que isto justifica atitudes que desqualificam e desmerecem a especialidade, como o caso es-drúxulo de um cardiologista ser o responsável de uma residência em anestesiologia. Não iremos aceitar de maneira alguma. Esta-mos iniciando um mapeamento

das residências em anestesiolo-gia que não tem a nossa chance-la para que possamos promover uma maior aproximação destes centros com a SBA, oferecendo mais recursos científicos para uma melhor formação. Outro problema que identificamos são os pseudo cursos de especializa-ção que buscam enganar médi-cos seduzidos por uma “capaci-tação” mais fácil, para estes cabe denúncia aos órgãos competen-tes. A SBA ainda simboliza o que há de melhor na especialidade e não consigo imaginar a aneste-siologia brasileira sem a sua pre-sença, sua liderança e seu exem-plo que já dura quase 69 anos de existência. Espero continuar cumprindo a sua missão e defen-dendo seus valores para assim preservar o seu maior patrimô-nio: O anestesista brasileiro.

Bahianest: O que o motiva a de-dicar-se tanto à vida associativa, sem abrir mão de sua atuação como anestesiologista - o que por si só já demanda tempo, ab-negação e ainda assim consegue contribuir na difusão do conhe-cimento científico, participando como palestrante de congressos e jornadas?

R.A.A.: Poderia responder sim-plesmente como o Dr. Altami-rando: “É um vírus que atinge algumas pessoas que passam a atuar em prol do associativismo de maneira intensa e contínua”. Mas prefiro pensar em altruís-mo solidário em que fazemos as ações e participamos da vida as-sociativa porque queremos não só o melhor para a especialida-de, mas também o melhor para nós mesmos que usufruiremos destes benefícios. No fim das contas é uma troca, a diferença é que alguns dão mais, outros menos nesta atividade e ainda tem aqueles que não sabem nem trocar. É isso, acho que estou no primeiro caso n

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A incidência de parada car-díaca relacionada à anestesia é de 0,5 a 1 caso a cada 10.000 anestesias1. A incidência de hi-pertermia maligna, segundo a literatura mundial, é relativa-mente baixa. No entanto, estu-dos recentes regionais apontam incidências maiores que as clas-sicamente descritas de 1:50.000 em adultos e de 1 para cada 5.000 a 10.000 casos em crian-ças 2-5 . O maior conhecimento da doença, a maior notificação dos casos suspeitos e confirma-dos e a crescente atenção para o diagnóstico provavelmente são fatores responsáveis pelo aumento da incidência.

A hipertermia maligna é uma doença farmacogenética, hereditária e latente, que pode ser desencadeada por agentes inalatórios halogenados como sevoflurano, isoflurano, halota-no, desflurano e enflurano ou ainda pelo relaxante muscular succinilcolina. Por ser uma sín-drome subclínica, cuja mani-festação tem reação direta com medicações de uso anestésico, é necessário que os anestesiolo-gistas conheçam sua fisiopato-logia, diagnóstico e tratamento e que tenham o compromisso de notificar sua ocorrência a Cen-trais Especificas. Devido à alta mortalidade, o tratamento será mais eficaz quanto mais precoce o diagnóstico clínico for feito e o tratamento específico institu-ído.

A mortalidade demonstra correlação com idade, comorbi-dades, tipo de internação hos-

ARTIGO CIENTÍFICO

Hipertermia malígna – seria de fato essa doença tão rara?

pitalar e localização hospitalar, sendo superior nos hospitais da área rural6. No paciente sus-ceptível frente à exposição aos agentes desencadeantes pode ocorrer em função de desarran-jo da homeostase intracelular do cálcio, hiperatividade contrátil com hidrólise de ATP, hiperter-mia, aumento do consumo de O2, produção de CO2 e ácido lático, desacoplamento da fosforilação oxidativa, lise celular e extra-vasamento do conteúdo do cito-plasma.

QUADRO CLÍNICODevido à penetração variável,

o quadro clínico é extremamente diverso, desde quadros atípicos e abortivos até casos fulminan-tes com apresentação clássica. O quadro clínico pode ter o início a qualquer momento a partir da ex-posição aos agentes desencade-antes, até mesmo após o término da exposição aos mesmos. Alguns quadros atípicos podem se apre-sentar como parada cardíaca sú-bita após a utilização de agentes desencadeantes, sem nenhuma causa aparente.

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As manifestações iniciais da crise aguda de HM são inespecí-ficas consistindo em hipercarbia e taquicardia, refletindo o hiper-metabolismo. Os demais sinais e principalmente a hipertermia são mais tardios7. A resolução 1802 do Conselho Federal de Me-dicina foi um marco diferencial permitindo o adequado diagnós-tico, reforçando a necessidade

de monitorização adequada, in-cluindo a capnografia, bem como da disponibilidade do tratamen-to específico para HM, o dantro-lene.

Diagnóstico laboratorialO padrão ouro para o diag-

nóstico é o teste de contração halotano-cafeína, realizado por biópsia muscular. Entretanto,

Estimativa da probabilidade de acerto do diagnóstico clínico de HM16

Pontuação para risco de Hipertermia Maligna

esse teste não é realizado na fase aguda e deve ser realizado distante das crises, pois o mús-culo afetado agudamente pode vir a apresentar um resultado falso-negativo pela destruição recente de diversas fibras.

Destaca-se um aumento dos níveis de CPK após o quadro agudo, podendo atingir níveis acima de 20.000UI/L. A succi-nilcolina está relacionada a au-mentos mais acentuados dos ní-veis de CPK. A administração do dantrolene não altera os níveis de CPK. Em até 30% dos casos de HM a CPK permanece dentro do aumento esperado e causado pelo trauma cirúrgico, não sendo útil no diagnóstico8.

TratamentoApós o diagnóstico precoce

algumas medidas inespecíficas devem ser tomadas

imediatamente, enquanto se providencia o tratamento espe-cífico: dantrolene sódico.

As medidas gerais consti-tuem-se de interrupção da admi-nistração do agente

desencadeante, hiperventila-ção com oxigênio a 100%, corre-ção dos distúrbios

metabólicos e ácido-básicos subjacentes como principalmen-te hiperpotassemia,

secundária à destruição mus-cular, e acidose mista, além disso deve-se atentar à correção das arritmias e manutenção da diu-rese.

O tratamento específico con-siste na administração precoce do dantrolene sódico, um deri-vado hidantoínico. O dantrolene modula o fluxo de cálcio através do retículo sarcoplasmático do músculo esquelético. O trata-mento específico reduziu a mor-talidade de 80% para menos de 10%, na década de 80. A precoci-

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dade na instituição do tratamen-to é essencial para seu sucesso e está relacionado à menor morta-lidade9.

Apesar da crise aguda de hi-pertermia ser um desarranjo in-tracelular do cálcio,

bloqueadores dos canais de cálcio não devem ser utilizados na suspeita de HM. Isto se deve à sua interação com o dantrolene sódico, levando a hiperpotasse-mia e depressão cardíaca de di-fícil reversão, podendo culminar em BAVT e parada cardíaca em assistolia10. As recomendações

atuais para tratamento da crise aguda recomendam a utilização de amiodarona ou beta-bloque-adores para o tratamento de ar-ritmias11.

Os efeitos colaterais do tra-tamento específico incluem fle-bite, cefaleia, náuseas e vômitos, tromboflebite, letargia, fraqueza muscular e atonia uterina (post partum). Apesar de todos os efeitos adversos em caso sus-peito é indicado o uso do dan-trole o mais precoce possível 12. Na suspeita de um caso de HM deve-se sempre verificar a do-sagem de potássio. A destruição

celular leva a hiperpotassemia agudamente, podendo levar a al-terações cardiovasculares fatais.

Durante uma crise aguda de HM deve- se atentar para:

1. hiperpotassemia;

2. acidose metabólica e res-piratória.

Apesar de mais tardio, o au-mento da temperatura pode vir a ocorrer, necessitando de resfria-mento ativo, objetivando a nor-motermia, evitando hipotermia excessiva.

ARTIGO CIENTÍFICO

Algoritmo para tratamento do episódio agudo de HM

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DIAGNÓSTICO13

Sinais de HM:

• Aumento da PaCO2-EtCO2;

• Rigidez do tronco ou membros;

• Espasmo do masseter ou triis-mo;

• Taquicardia/taquipneia;

• Acidose;

• Aumento da temperatura (sinal tardio).

Parada cardíaca súbita/inespera-da em pacientes jovens:

• Suspeite de hipercalemia e ini-cie tratamento;

• Medir CK, mioglobina, gasome-tria arterial, até normalizar;

• Considerar dantrolene sódico in-travenoso;

• Geralmente secundária à miopa-tia oculta (p. ex.: distrofia mus-cular);

• PCR pode ser de difícil reversão e prolongada.

Espasmo do masseter ou triismo com succinilcolina:

• Sinal precoce de HM em muitos pacientes;

• Caso ocorra rigidez muscular nos membros, iniciar tratamento com dantrolene;

• Para procedimentos de emer-gência, continue com agentes venosos, considere dantrolene;

• Acompanhar o valor de CK e mio-globinúria por pelo menos 36 horas;

• Mantenha em observação na UTI, por pelo menos 12 horas.

FASE AGUDA DO TRATAMENTO13

SOLICITE AJUDA - UTILIZE DAN-

TROLENE - Comunique os cirurgi-ões:

• Descontinue agentes voláteis e succinilcolina;

• Hiperventile com FiO2 de 1 a 10 L.min-1 ou mais;

• Interrompa o procedimento assim que possível; se for emergência troque por anestésicos venosos.

Dantrolene 2,5 mg.kg-1 rápido IV:

• Repita até controlar os sinais da HM;

• Algumas vezes, mais do que 10mg.kg-1 (até 30 mg.kg -1) são necessários;

• Dissolva 20mg em cada diluente de 60ml de água estéril, se pos-sível aquecida para facilitar a diluição;

• Os cristais também contêm NaOH para um pH de 9, Manitol 3g.

Bicarbonato para acidose meta-bólica:

• 1-2 mEq.kg -1 se a gasometria ar-terial ainda não estiver disponí-vel.

Resfrie o paciente: Se a tempera-tura central for > 39°C, use solução salina fria IV.Lavar as cavidades corporais abertas, estômago, be-xiga ou reto. Aplique gelo na su-perfície corporal. Interrompa o resfriamento se a temperatura for < 38°C para prevenir a queda da temperatura abaixo de 36°C.

As disritmias geralmente respon-dem ao tratamento para acidose e para hipercalemia:

• Use a terapia padrão de drogas, exceto bloqueadores do canal de cálcio que podem causar hi-percalemia e parada cardíaca, associadas a dantrolene de só-dio.

Hipercalemia - trate com hiper-ventilação, bicarbonato, glicose, insulina, cálcio.

• Adulto: 10 U de insulina regular em 50 mL de glicose a 50%;

• Pediátrico: 0,15 U de insulina.kg -1 e 1 mL.kg -1 de glicose a 50%;

• Cloreto de cálcio 10 mg.kg -1 ou gluconato de cálcio 10-50 mg.kg -1 para hipercalemia com altera-ções eletrocardiográficas.

Acompanhe o EtCO2, eletrólitos, gasometria arterial, CK, tempera-tura central, cor e débito urinário e avaliação de coagulopatia.

• Valores da gasometria venosa (p. ex.: veia femoral) podem do-cumentar o hipermetabolismo melhor do que gasometria arte-rial;

• Monitorização da artéria pulmo-nar ou venosa central pode ser necessária.

FASE PÓS-AGUDA

(A) Observe o paciente na UTI por pelo menos 24 horas, devido ao risco de reincidência.

(B) Administre dantrolene 1 mg.kg-1 de 4-6 horas por pelo menos 36 horas. Futuras doses podem ser indicadas.

(C) Acompanhe os sinais vitais e laboratoriais.

•Gasometria arterial frequente;

•CK intermitente 6-8 horas.

(D) Oriente os pacientes e familia-res a respeito da HM e futuras precauções. Informe a respeito e envie uma correspondência para os médicos do paciente.

(E) Encaminhe o paciente a um centro de biópsia muscular mais próximo para acompan-hamento.

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ARTIGO CIENTÍFICO

Paciente do sexo femini-no, 17 meses, peso de 7 Kg, com atraso do desenvolvimento neu-ropsicomotor, comprometimento auditivo e visual, fenda palati-na e alterações osteoarticulares em membros, em programação de palatoplastia primária. Após pré-medicação com midazolam 0,5mg/kg, foi realizada indução inalatória com sevoflurano e pun-cionado acesso venoso periféri-co. Após pré-oxigenação e dose de atropina 0,02mg/kg, foram administrados fentanil 4µg/kg, lidocaína 1% sem vasoconstrictor 1mg/kg e propofol 5mg/kg. Por dificuldade de laringoscopia, foi administrada succinilcolina 1mg/kg sem melhora da abertura bu-cal. Nova tentativa de laringosco-pia, desta vez sendo procedida a intubação traqueal. Pela impos-sibilidade de passagem do afas-tador de boca, mesmo com a ad-ministração de atracúrio 0,04mg/kg, o procedimento foi suspenso. A anestesia foi mantida com se-voflurano por cerca de 45 minu-tos até o retorno da ventilação

espontânea. Nesse período, todos os parâmetros permaneceram normais. Após reversão do blo-queio neuromuscular, a paciente foi extubada. Cerca de uma hora depois, apresentou quadro agudo de desconforto respiratório asso-ciado à hipoxemia, taquicardia, sudorese e hipertermia (tempe-ratura esofágica=39,3°C). Gaso-metria arterial mostrava acidose mista importante. Optada pela intubação, medidas de resfria-mento e administração de dan-trolene sódico (3mg/kg). Paciente encaminhada à unidade de tera-pia intensiva (UTI) onde foram administradas mais 3 doses de dantrolene sódico (1mg/kg). Exa-mes iniciais evidenciaram pico de creatina fosfoquinase de 1.373U/l com eletrólitos séricos normais. A paciente apresentou recuperação completa, recebendo alta hospi-talar após 9 dias.

DISCUSSÃO: O caso em ques-tão levanta pontos importantes sobre segurança em anestesia. A monitorização adequada fornece

parâmetros para suspeita diag-nóstica da HM. Segundo a reso-lução n°1.802/2006 do Conselho Federal de Medicina, recomenda-se monitorização da temperatura para crianças, porém ainda não obrigatória. A necessidade da pronta disponibilidade do dantro-lene é inquestionável, pois é es-sencial para reversão do quadro. Acompanhamento em UTI na fase pós-aguda é fundamental para um desfecho favorável. No caso exposto, a paciente foi conduzida segundo protocolo existente, com coleta seriada de exames labo-ratoriais e terapêutica adequa-da. Devido à alta mortalidade da síndrome e dificuldades ineren-tes ao teste de suscetibilidade, a conduta mais adequada, a priori, é preventiva. Assim, reforçamos a importância da existência de protocolos para abordagem rápi-

da e efetiva n

Dra. Vera Lúcia Fernandes de AzevedoPresidente da SAEB

Relato do Caso-Hipertermia Malígna em criança de 17 meses

REFERÊNCIA: Nelson P, Litman RS.  Malig-nant Hyperthermia in Children: An Anal-

ysis of the North American Malignant Hyperthermia Registry. Anesth Analg

2014;118(2):369-74.

Referências:

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3. Brady JE, Sun LS, Rosenberg H et al. - Prevalence of malignant hyperthermia due to anesthesia in New York State, 2001-2005. Anesth Analg, 2009;109:1162-1166.

4. Denborough M - Malignant hyperthermia. Lancet, 1998;352:1131-1136.

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hyperthermia in the United States, 2000 to 2005. Anesthesiology, 2009;110:89-94.

6- Rosenberg H, Davis M, James D et al. - Malignant hyperthermia. Orphanet J Rare Dis, 2007;2:21.

7- Ruffert H, Olthoff D, Deutrich C et al. - [Current aspects of the diagnosis of malignant hyperthermia].Anaesthesist, 2002;51:904-913

8-. Lee DS, Adams JP, Zimmerman JE - Ma-lignant hyperthermia: a possible new vari-ant. Can Anaesth Soc, 1985;32:268-271

9- Fruen BR, Mickelson JR, Louis CF - Dan-trolene inhibition of sarcoplasmic reticulum Ca2+ release by direct and specific action at skeletal muscle ryanodine receptors. J Biol Chem 1997;272:26965-26971.

10. Saltzman LS, Kates RA, Corke BC et al.

- Hyperkalemia and cardiovascular collapse after verapamil and dantrolene administra-tion in swine. Anesth Analg, 1984;63:473-478.

11-. Glahn KP, Ellis FR, Halsall PJ et al. - Recognizing and managing a malignant hy-perthermia crisis:guidelines from the Euro-pean Malignant Hyperthermia Group. Br J Anaesth 2010;105:417-20.

12-. Krause T, Gerbershagen MU, Fiege M et al. - Dantrolene--a review of its pharmacol-ogy, therapeutic use and new developments. Anaesthesia, 2004;59:364-373.

13- Simões CM .Reanimação em situações especiais :Hipertermia Maligna in SUPORTE AVANÇADO DE VIDA EM ANESTESIA.Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Anestesio-logia/SBA, 2011.

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O curso ministrado por Dr. Luís Cláudio Correia, cardiologista edou-tor em Medicina e Saúde, atraiu vá-rias gerações de anestesiologistas no auditório da COOPANEST-BA, em 29/10, durante todo o dia. Com o propósito de aproximar o pensa-mento clínico do paradigma cien-tífico, Dr. Luís Claudio utiliza uma abordagem informal para demo-cratizar conhecimentos básicos e avançados de metodologia cientí-fica, facilitando o entendimento de conceitos tradicionalmente perce-bidos como complexos.

“Medicina baseada em evidên-cias não se trata apenas de metodo-logia científica ou das burocráticas (e importantes) revisões sistemáti-cas. A sabedoria está em saber uti-lizar as evidências como norte da decisão individualizada, que leva em conta valores e preferências de nossos pacientes. O interesse prin-cipal é o paciente. Nossa maior pro-babilidade de beneficiar o paciente é quando a gente se baseia em algo que tenha maior veracidade do que o ‘achismo’. No pensamento médico tem muito a tradição do ‘achismo’, mas não é nada sem base. Muitas vezes isso acontece com o embasa-mento de um raciocínio lógico, mas isso não é suficiente para retratar a realidade do mundo. Muitas vezes, quando fazemos um raciocínio lógi-co e testa na prática não correspon-de à realidade da melhor conduta. Mesmo que eu ache que a melhor conduta seja essa porque isso faz sentido pra mim quando testamos, muitas vezes não é. Às vezes, pode ser até maléfico. Quando falamos em medicina norteada por evidên-cias científicas é usarmos o nosso raciocínio pra gerar hipóteses, po-

ATUALIZAÇÃO PROFISSIONAL

SAEB recebe curso de Medicina baseada em evidências

rém testar essa hipótese por meios de trabalhos científicos. Esse traba-lho científico vai trazer uma infor-mação que não vai congelar o mé-dico na sua decisão, ele passa a ser somente um norte para sua decisão individualizada. Então o que tem no trabalho científico não é para ser copiado em todos os pacientes, é um conceito que vai guiar o médi-co num raciocínio individualizado. Isso não exclui o julgamento clíni-co ou a experiência do médico, to-nando uma decisão diferente para cada paciente. Mas o profissional estará norteado agora com uma in-formação mais verdadeira do que uma informação baseada simples-mente na lógica. Tradicionalmente, muitas coisas que nós achávamos que era verdadeiro acabaram-se mostrando que não são. Isso tam-bém é um exercício de humildade de reconhecer que não sabemos de tudo, minha mente não garante a realidade do universo. Então eu preciso observar o universo com a

lente científica e partir daí ter uma informação mais verdadeira que vai me nortear. São questões mais filosóficas do que técnicas, porque passamos a testar as nossas hipó-teses, não sabemos de tudo. Muitos conceitos são criados sem alicerce científico. Quando o conceito é cria-do com uma base científica forte tem baixa probabilidade de mudar depois”, explica Dr. Luís Claudio.

Ao abordar “aplicabilidade”, o curso vai além da metodolo-gia científica. Apresenta de forma original princípios de raciocínio clínico embasado em evidências, aspectos psicológicos da decisão, vieses cognitivos típicos do pen-samento clínico, análise crítica das crenças internas, e como alinhar preferências e evidências. Embora este curso tenha origem acadêmi-ca, sua forma foge ao academicis-mo tradicional n

Blog: http://medicinabaseadaemevidencias.blogspot.com.br/

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MUTIRÃO DE ANESTESIAARTIGO JURÍDICO

O modelo cooperativista no cenário da terceirização da saúde

No final de 2016, muitos mé-dicos, preocupados com o que vem sendo noticiado acerca da irregularidade da terceirização na saúde, passaram a questionar até que ponto é lícito ou ilícito o modelo de terceirização dos ser-viços médicos, com pagamento de honorários médicos através de pessoas jurídicas por contratos de prestação de serviços de natureza civil, ao invés da relação celetista, defendida por alguns setores da sociedade.

Antes de qualquer coisa, é fundamental esclarecer que as dú-vidas relacionadas à legalidade da terceirização não são uma exclu-sividade do setor da saúde, mas se afiguram em todos os setores, decorrentes, principalmente, da falta de legislação clara e específi-ca que regulamente a matéria.

Ademais, importante esclare-cer também que esse risco não se restringe a aspectos trabalhistas, mas se estendem às questões de ordem tributária e previdenciária, já que a própria Secretaria da Re-ceita Federal tem se posicionado firmemente no sentido de punir os abusos praticados em alguns casos de evidente fraude à re-lação trabalhista, taxando-as de evasão fiscal, com todas as con-sequências fiscais e criminais ine-rentes.

Atualmente, a terceirização vem sendo disciplinada basica-mente pela Súmula 331 do TST que, a despeito da sua importân-cia, não tem força de lei e, nem de

longe, esgota a matéria, deixando uma série de dúvidas e incerte-zas na sua aplicação prática. De forma simplória, a Súmula 331 do TST estabelece que: 1) a con-tratação de trabalhador por meio de terceira pessoa intermediária é ilegal, estabelecendo-se o vín-culo direto entre o contratante e o trabalhador, salvo na hipótese em que o contratante for inte-grante da administração pública; 2) é permitida a contratação por meio de terceirização quando o serviço prestado corresponder a uma atividade-meio e não à atividade-fim do contratante; 3) mesmo quando a terceirização for legal, persiste a responsabili-dade do tomador do serviço pela fiscalização da empresa contra-tada, respondendo ele (tomador do serviço) pela inadimplência do tomador no pagamento de verbas trabalhistas e demais encargos.

Ocorre que, até mesmo a Sú-mula 331 do TST, que vem pautan-do o entendimento dos tribunais pátrios, vem sendo questionada e se encontra pendente de julga-mento no STF, através da ADPF 324 e do RE 958.252, ainda sem data designada, o que traz ainda mais insegurança para a matéria.

A consequência de tanta in-certeza é que a definição do que é lícito ou ilícito no que tange à ter-ceirização na saúde passa a de-pender da análise individualizada de cada caso. Assim, se na relação mantida entre médicos e clínicas ou hospitais estiverem presentes os elementos formadores da re-

lação empregatícia (onerosidade, não eventualidade, pessoalidade e subordinação) estaremos dian-te de uma terceirização irregular, não importando se existe contrato de prestação de serviço assinado, se há emissão de nota fiscal ou mesmo o tipo societário utilizado na constituição da pessoa jurídica utilizada para a cobrança e rece-bimento dos honorários médicos.

A título ilustrativo vale exa-minar as três situações mais co-muns no mercado da saúde:

a) Médicos que faturam honorá-rios por procedimento (não por plantão) diretamente de opera-doras de planos de saúde ou de forma particular, com ou sem a utilização de cooperativas de es-pecialidades (ex. da COOPANEST) sem a intermediação do hospital. Quando os honorários médicos são cobrados diretamente pelos médicos, suas pessoas jurídicas ou cooperativas (como o caso da COOPANEST) diretamente dos pacientes ou de operadoras de planos de saúde, sem a interme-diação do hospital, resta indubi-tável a inexistência de relação de emprego e, consequentemente, a regularidade da terceirização. Isso, porque ao faturar e cobrar os honorários médicos direta-mente dos pacientes (particular) ou das operadoras de plano de saúde, resta latente a inexistência da onerosidade na relação médi-co x hospital, afastando por si só o risco empregatício. Por outro lado, como a cobrança se dá por procedimento e não por plantão,

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ter a relação considerada como ilegal, com os efeitos respectivos, tanto na álea trabalhista como tributária. É evidente que nem todos os casos em que essa situ-ação se apresenta serão conside-rados como “terceirização ilícita”, dependendo, evidentemente, da forma em que essa relação entre médico e hospital se dá. Ou seja, deveremos analisar os detalhes da relação para identificar se es-tão presentes ou não os elemen-tos configurados da relação de emprego (onerosidade, não even-tualidade, pessoalidade e subor-dinação), mas, sem qualquer dú-vida, essa situação merece muito cuidado quando vivenciada.

Sob o aspecto tributário, im-portante esclarecer que a des-consideração da pessoa jurídica criada e utilizada pelo médico para faturar e receber os seus ho-norários, culminando na cobrança do imposto de renda e contribui-ção previdenciária diretamente do médico como pessoa física depende diretamente da desvir-tuação da relação trabalhista. Ou seja, se a relação, mesmo de terceirização, mantida entre mé-dico de hospital se dá de forma lícita, sem configurar uma relação de emprego, não há que se falar em cobrança do imposto de renda

ou da contribuição previdenciária pela Receita Federal diretamente ao médico, salvo por outros mo-tivos diversos dos aqui tratados. Diferentemente, se a relação en-tre médico e hospital é fraudu-lenta, deixando evidenciados os elementos formadores da relação de emprego (onerosidade, não eventualidade, pessoalidade e su-bordinação), a opção pela contra-tação do médico como prestação de serviços de pessoa jurídica ao invés de empregado não se confi-gura num planejamento tributário com elisão fiscal, mas sim numa hipótese de evasão fiscal, com sonegação de impostos, autori-zando, pois a Receita Federal a adotar as medidas legais.

Concluindo, no caso espe-cífico da cobrança de honorários médicos através de cooperati-vas de especialidades médicas, a exemplo das COOPANESTs, em que a cobrança dos honorários médicos se dá diretamente dos planos de saúde sem a participa-ção dos hospitais, não há qual-quer elemento que leve ao enten-dimento de que haja uma burla à legislação trabalhista, afastando, por conseguinte o risco tributário acima alardeado n

Dr. Adriano ArgonesAssessor Jurídico da COOPANEST-BA

deixam de existir também a con-tinuidade (não eventualidade) e a subordinação, eis que o hospital não interfere nos dias e horários de atendimento, os quais ficam a exclusivo critério do médico. Re-gistre-se que, no caso específico dos anestesiologistas, o fato de se organizarem em grupos e de-finirem plantões não interfere na análise da situação, uma vez que a organização desses plantões é feita direta e exclusivamente pe-los médicos, sem qualquer con-trole, fiscalização ou imposição hierárquica do hospital.

b) Médicos que faturam honorá-rios por procedimento (não por plantão), através de hospitais, utilizando de pessoa jurídica para emissão de nota fiscal. Nes-ses casos, muito embora exista, ainda que em tese, o elemento “onerosidade”, já que os valores dos honorários médicos são co-brados pelos hospitais e, poste-riormente repassados aos médi-cos (ainda que através de suas pessoas jurídicas), há um risco relativamente baixo de ser consi-derada uma relação de emprego entre o médico e o hospital. Isso porque ao receber os honorá-rios, por procedimento realizado, o médico não está subordinado juridicamente ao hospital e nem possui continuidade na prestação do serviço, a partir do momento que define livremente o horário em que prestará o serviço direta-mente ao paciente.

c) Médicos que faturam hono-rários por plantão diretamente para os hospitais utilizando de pessoa jurídica para emissão de nota fiscal. Essa é, sem dúvi-da, a situação mais delicada. Ao faturar honorários médicos por plantão (e não por procedimento), recebendo diretamente do hospi-tal (mesmo com emissão de nota fiscal e contrato de prestação de serviço assinado) o médico e o hospital se submetem ao risco de

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SAÚDE DO HOMEM

No dia 24/11, os colaboradores da COOPANEST-BA tiveram uma tarde de orientações e esclarecimentos a cerca do câncer de próstata, uma do-ença que atinge milhares de homens a cada ano, no mundo inteiro. O onco-logista Dr. Fernando Nunes apresen-tou de forma didática e descontraída quais são as formas de prevenção e os cuidados que se deve ter para evi-tar o agravamento da doença quando diagnosticada.

No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os ho-mens (atrás apenas do câncer de pele não-melanoma). Em valores absolu-tos e considerando ambos os sexos é o quarto tipo mais comum e o se-gundo mais incidente entre o público masculino. O mês de novembro pas-sou a ser referência mundial no alerta sobre a doença. “Essa campanha de Novembro Azul surgiu na Austrália e depois houve a adesão de diver-sos países. Hoje, no Brasil, temos a mobilização de clínicas, hospitais, shoppings centers e isso tem trazido um número maior de pacientes para avaliação e tratamento com urolo-gistas e oncologistas. O paciente está conseguindo superar o preconceito do exame. E, sem dúvida, atualmen-te, temos pelos menos mais de que 50% de diagnóstico quando compa-ramos a outro período”, comenta Dr. Fernando.

Sobre tratamento e cura, Dr. Fernando Nunes traz informações otimistas. “Quando falamos em tipo de tratamento e chances cura é ne-cessário avalia, isoladamente, cada caso e em que estágio a doença foi descoberta. Quando se descobre no estágio inicial as chances de cura são altíssimas, chegando até 90%. Nos pacientes em que o câncer foi desco-berto num estágio mais avançado, as chances de cura diminuem, não tenho dúvida disso. Mas eu afirmo que de 5 a 10 anos atrás aumentou em mais

Câncer de próstata é tema de palestra para colaboradores da COOPANEST-BA

de 100% as chances desse paciente postergar o tempo de vida e, o mais importante, com qualidade.”, explica Dr. Fernando.

A participação com perguntas e o relato de experiências pessoais dos funcionários enriqueceram o mo-mento, reafirmando a importância e necessidade de falar sobre saúde no ambiente de trabalho. Daniel de Castro, do setor de auditoria da CO-OPANEST-BA, tem 28 anos e mesmo ainda não fazendo parte do grupo de risco, reconhece a importância de cuidar desde cedo da saúde com a prevenção. “Eu achei uma inciativa bastante importante, principalmente porque nos ajudou a desmistificar muitas questões sobre o câncer de próstata. Esse mês de campanha aju-da a conscientizar a população sobre os riscos da doença e a necessidade de realizar o exame porque, infeliz-mente, ainda existe muito preconcei-to pela maioria dos homens sobre a realização do exame de toque. A pa-lestra foi muito informativa e esclare-

cedora, o que deixa a gente ficar mais atento com relação aos cuidados que devemos ter não só quando chegar à idade prevista, mas já fazer exames periódicos como forma de prevenir a doença”.

Sr. Ivo Ferreira Santos, colabora-dor da cooperativa, participou atento à palestra e afirma ter saído de lá com mais esclarecimentos sobre o câncer de próstata. “Foi um momento muito bom porque as pessoas que tinham dúvidas conseguiram esclarecer. Eu sempre fui atendo à minha saúde e agora ficarei ainda mais”.

“Eu achei brilhante essa iniciati-va da cooperativa. Nós sabemos que o câncer de próstata é muito preva-lente em nosso meio, principalmente na nossa cidade. Nós temos dados que revelam que a doença na Bahia é uma das mais prevalentes. Então qualquer iniciativa que consiga trazer essa consciência para os funcionários é de extrema importância.”, finaliza Dr. Fernando Nunes.

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SALVADOR BAHIA | JANEIRO DE 2017

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PERFIL

Dr. Hugo Eckener Dantas - uma vida também dedicada ao associativismo

O anestesiologista Dr. Hugo Eckener Dantas de Pereira Cardoso possui uma ampla vivência associa-tiva. Esteve à frente da Febracan- Federação Brasileira das Coope-rativas de Anestesiologia por dois anos. Deixará o cargo de Presidente este ano, mantendo-se na diretoria da instituição como Diretor Tesou-reiro. Durante o 63º Congresso Bra-sileiro de Anestesiologia, entre 10 e 14 de novembro, em Brasília - DF, a nova diretoria que comandará a Febracan pelos próximos dois anos foi apresentada. Presidente -Dr. Wagner Ricardo Soares de Sá; Vi-ce-Presidente- Dr. Sergio Marques de Souza Lima; 1º Diretor Secretário - Dr. Carlos Alberto da Silva Júnior; 2º Diretor Secretário - Dr. Rômulo Augusto Pinheiro; Diretor Tesou-reiro - Dr. Hugo Eckener Dantas de Pereira Cardoso.

Dr. Hugo Eckener atualmente também é membro da diretoria da SAEB e da COOPANEST-BA como 1º Tesoureiro das duas entidades. Nesta entrevista, Dr. Hugo diz como foi a experiência e os desafios de estar à frente da Febracan, quais aspectos os motiva a destinar par-te do seu tempo à vida associativa e os fatores preponderantes para crescimento ascendente das coope-rativas médicas no país.

EXPERIÊNCIA NA FEBRACAN

“Foram dois anos bastante cheios, conturbados onde tive-ram dois aspectos centrais: a evolução da discussão a respei-to de PIS e CONFINS que se en-contra judicializada, e também o acordo com o CADE que culminou numa política de compliance para

que se tenham melhores práticas extensivas a todas as federadas. Nós criamos um manual de com-pliance voltado para as coopera-tivas que foi amplamente divul-gado e se encontra, inclusive, em nosso site. Esses dois aspectos foram marcantes”.

VIDA ASSOCIATIVA“Eu acho muito importante a

cultura do associativismo porque algumas pessoas, eu sei que não é escolha simples em virtude do nosso dia-a-dia, mas precisamos ter uma visão sobre o coleti-vo, pensar e planejar ações que possam trazer o melhor resulta-do para a coletividade. Então eu sempre tive essa visão desde que sai da residência que era conse-guir fazer algo que trouxesse al-gum benefícios à coletividade.

CRESCIMENTO COOPERATIVISTA

“O aspecto democrático é mui-to importante para o crescimento da cooperativa, por isso é neces-sário unir pessoas que comungam o espírito de grupo com os mes-mos ideais de formação e de se ter uma unidade para discutir com as fontes pagadoras. As coopera-tivas surgem muito em virtude da manutenção da sobrevivência de grupos de especialistas. São instituições extremamente inte-ressantes porque possuem carac-terísticas democráticas quer seja na gestão, quer seja na entrada, porque possui adesão livre e vo-luntária. Não se impede a entrada de nenhum profissional na coope-rativa, e qualquer pessoa pode se candidatar a qualquer cargo” n

“O aspecto democrático é muito importante para o crescimento da cooperativa, por isso é necessário unir pessoas que comungam o espírito de grupo com os mesmos ideais de formação...”

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