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12 | 30 OUT 2014 | QUINTA-FEIRA Entrevista Salvador Malheiro, presidente da Câmara Municipal de Ovar Luís Ventura Diário de Aveiro: Que ba- lanço é possível fazer de um ano de governo na Câmara de Ovar? Salvador Malheiro: Já sabía- mos que ia ser um desafio muito estimulante, que seria necessária uma dedicação ex- trema e é isso que tem sido feito. O nosso guião é, apenas e só, o nosso programa eleitoral; um quadro de acção, no qual situamos 110 medidas para im- plementar. Portanto, cada dia que entramos nesta Câmara é para cumprir essas promessas e essas expectativas e é com orgulho que posso dizer que mais de 40 por cento desse programa está concretizado. A este ritmo, não quer dizer que dentro de três anos entremos de férias, pois muitas destas medidas precisam de ser con- solidadas ao longo do tempo. E porque há muito ainda para fazer. Mas este é o nosso com- promisso inicial. Um ano depois, a defesa da costa continua no cume das suas preocupações? Esse é o problema do Municí- pio de Ovar. Já o dizia antes das eleições e continuo a dizê- lo. Estamos muito empenha- dos em defender e proteger o nosso território. Essa é a pre- missa inicial. As agruras da Na- tureza apanham-nos, por ve- zes, de surpresa, mas temos obrigação de defender o nosso território da melhor forma possível e vamos continuar a fazê-lo intransigentemente. Es- tas riquezas naturais são fun- damentais para colocar Ovar no mapa, para atrair gente à nossa terra. Neste contexto, su- blinho, desde logo, a mudança de paradigma na forma de agir deste Executivo em contra- ponto com a prática anterior. Esta não é uma competência que esteja dentro da esfera das autarquias, mas isso não im- pede que a tenhamos elencado como a nossa principal priori- dade. Temos aglomerados ur- banos perto do mar que têm de ser tratados como os outros. Desde logo, porque estão em causa pessoas e bens. A nossa actuação tem passado por duas situações: estar ao lado das pessoas nos momentos mais complicados e encarar estes problemas como se fos- sem competências nossas e isso está a ser feito. As populações já estão de novo em sobressalto só de pensar no próximo Inverno. Depois das últimas intempéries, sensibilizámos, preparámos candidaturas e isso fez com que tivessem sido investidos 700 mil euros no nosso Litoral. Sou dos que diz que o problema do Litoral não se resolve com no- tas, mas foi preciso realizar ac- ções para minimizar estragos, salvar a época balnear, tentar proteger a nossa primeira linha de costa. E aqui temos que ser gratos àAdministração Central, porque o certo é que as obras foram para o terreno e tivemos bandeiras azuis e areais quando as pessoas pensavam que já não iam ter. As avenidas mar- ginais do Furadouro, Cortegaça e Esmoriz animaram-se e o Ve- rão correu bastante bem, com a animação a atrair milhares tu- ristas. Isso deixa-nos, de certa forma, satisfeitos com o que foi feito e que não foi mais que ac- ções de remedeio. “Realizámos 40 por cento do nosso programa de acção num ano” Balanço O social-democrata Salvador Malheiro diz que entra na Câmara Municipal todos os dias para cumprir as medidas do programa de acção sufragado há um ano Salvador Malheiro faz da defesa da costa uma bandeira FOTOS: RICARDO CARVALHAL O que é que o comum dos habitantes ganha com a ins- talação da Central Fotovol- taica da Marinha? Isso é uma questão que vale a pena explicar porque as pessoas não têm noção dos compromissos que o Muni- cípio de Ovar tinha com esse projecto. Estamos obrigados a reduzir, em 20 por cento, os nossos consumos energéti- cos para reduzir as emissões de dióxido de carbono. O facto de termos uma central fotovoltaica que produz elec- tricidade a partir de um re- curso endógeno e completa- mente limpo que é o sol en- che-nos de satisfação, porque estamos a diminuir a nossa dependência energética a partir de combustíveis fós- seis. Este projecto aconteceu porque havia uma licença para se produzir energia a partir do sol e injectável na rede para ser imediatamente consumido. Todos os parques fotovoltaicos existentes no país são feitos assim. É ver- dade que esta instalação, ape- sar de estar no nosso territó- rio, não tem consequência di- recta na nossa factura, mas o Estado paga a quem produz energia limpa mais do que aquilo que paga a quem a produz a partir de uma fonte poluente. Agora, eu defendo o que se chama de micropro- dução, que já existe em vários países, em que a instalação da nossa casa ou condomínio, é para produzir para nosso consumo e não para injectar na rede. O que acontece é que ainda não temos uma tecno- logia suficientemente amadu- recida para tornar tudo isto mais rentável, em termos de preço, pois a energia a partir de combustíveis fósseis é ainda muito mais barata. | “Estamos obrigados a reduzir as emissões de dióxido de carbono” “(Re)Colocar Ovar no mapa” Uma das frases que mais o ouvimos dizer é que quer recolocar Ovar no mapa. Porquê e como? Em primeiro lugar, devo dizer que, no passado, Ovar perdeu alguma da sua competitividade no contexto dos Municí- pios do distrito de Aveiro. Eu nunca es- condi que esse era um dos meus objectivos, quer partindo das suas riquezas naturais e po- tenciá-las, quer através da criação de novos eventos culturais e des- portivos de índole na- cional que projectem o nome de Ovar. Esta é uma estratégia que está perfeitamente definida e é para consolidar. E va- mos ter muitas surpre- sas no futuro, porque vamos voltar a ouvir fa- lar de Ovar por coisas que não ouvíamos no passado. |

Salvador malheiro

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Entrevista ao Jornal Diário de Aveiro, 30.10.2014.

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12 | 30 OUT 2014 | QUINTA-FEIRA

Entrevista Salvador Malheiro, presidente da Câmara Municipal de Ovar

Luís Ventura

Diário de Aveiro: Que ba-lanço é possível fazer de umano de governo na Câmarade Ovar?Salvador Malheiro: Já sabía-mos que ia ser um desafiomuito estimulante, que serianecessária uma dedicação ex-trema e é isso que tem sidofeito. O nosso guião é, apenas esó, o nosso programa eleitoral;um quadro de acção, no qualsituamos 110 medidas para im-plementar. Portanto, cada diaque entramos nesta Câmara épara cumprir essas promessase essas expectativas e é comorgulho que posso dizer quemais de 40 por cento desseprograma está concretizado. Aeste ritmo, não quer dizer quedentro de três anos entremosde férias, pois muitas destasmedidas precisam de ser con-solidadas ao longo do tempo.E porque há muito ainda parafazer. Mas este é o nosso com-promisso inicial.

Um ano depois, a defesa dacosta continua no cume dassuas preocupações?Esse é o problema do Municí-pio de Ovar. Já o dizia antesdas eleições e continuo a dizê-lo. Estamos muito empenha-dos em defender e proteger onosso território. Essa é a pre-missa inicial. As agruras da Na-tureza apanham-nos, por ve-zes, de surpresa, mas temosobrigação de defender o nossoterritório da melhor formapossível e vamos continuar afazê-lo intransigentemente. Es-

tas riquezas naturais são fun-damentais para colocar Ovarno mapa, para atrair gente ànossa terra. Neste contexto, su-blinho, desde logo, a mudançade paradigma na forma de agirdeste Executivo em contra-ponto com a prática anterior.Esta não é uma competênciaque esteja dentro da esfera dasautarquias, mas isso não im-

pede que a tenhamos elencadocomo a nossa principal priori-dade. Temos aglomerados ur-banos perto do mar que têmde ser tratados como os outros.Desde logo, porque estão emcausa pessoas e bens. A nossaactuação tem passado porduas situações: estar ao ladodas pessoas nos momentosmais complicados e encarar

estes problemas como se fos-sem competências nossas eisso está a ser feito.

As populações já estão denovo em sobressalto só depensar no próximo Inverno.Depois das últimas intempéries,sensibilizámos, preparámoscandidaturas e isso fez com quetivessem sido investidos 700

mil euros no nosso Litoral. Soudos que diz que o problema doLitoral não se resolve com no-tas, mas foi preciso realizar ac-ções para minimizar estragos,salvar a época balnear, tentarproteger a nossa primeira linhade costa. E aqui temos que sergratos à Administração Central,porque o certo é que as obrasforam para o terreno e tivemos

bandeiras azuis e areais quandoas pessoas pensavam que jánão iam ter. As avenidas mar-ginais do Furadouro, Cortegaçae Esmoriz animaram-se e o Ve-rão correu bastante bem, coma animação a atrair milhares tu-ristas. Isso deixa-nos, de certaforma, satisfeitos com o que foifeito e que não foi mais que ac-ções de remedeio.

“Realizámos 40 por cento do nosso programa de acção num ano” Balanço O social-democrata Salvador Malheiro diz que entra na Câmara Municipal todos os dias para cumprir as medidas do programa de acção sufragado há um ano

Salvador Malheiro faz da defesa da costa uma bandeira

FOTOS: RICARDO CARVALHAL

O que é que o comum doshabitantes ganha com a ins-talação da Central Fotovol-taica da Marinha?Isso é uma questão que valea pena explicar porque aspessoas não têm noção doscompromissos que o Muni-cípio de Ovar tinha com esse

projecto. Estamos obrigadosa reduzir, em 20 por cento, osnossos consumos energéti-cos para reduzir as emissõesde dióxido de carbono. Ofacto de termos uma centralfotovoltaica que produz elec-tricidade a partir de um re-curso endógeno e completa-

mente limpo que é o sol en-che-nos de satisfação, porqueestamos a diminuir a nossadependência energética apartir de combustíveis fós-seis. Este projecto aconteceuporque havia uma licençapara se produzir energia apartir do sol e injectável na

rede para ser imediatamenteconsumido. Todos os parquesfotovoltaicos existentes nopaís são feitos assim. É ver-dade que esta instalação, ape-sar de estar no nosso territó-rio, não tem consequência di-recta na nossa factura, mas oEstado paga a quem produz

energia limpa mais do queaquilo que paga a quem aproduz a partir de uma fontepoluente. Agora, eu defendoo que se chama de micropro-dução, que já existe em váriospaíses, em que a instalação danossa casa ou condomínio, épara produzir para nosso

consumo e não para injectarna rede. O que acontece é queainda não temos uma tecno-logia suficientemente amadu-recida para tornar tudo istomais rentável, em termos depreço, pois a energia a partirde combustíveis fósseis éainda muito mais barata. |

“Estamos obrigados a reduzir as emissões de dióxido de carbono”

“(Re)ColocarOvar no mapa”

Uma das frases que maiso ouvimos dizer é quequer recolocar Ovar nomapa. Porquê e como?Em primeiro lugar, devodizer que, no passado,Ovar perdeu alguma dasua competitividade nocontexto dos Municí-pios do distrito deAveiro. Eu nunca es-condi que esse era umdos meus objectivos,quer partindo das suasriquezas naturais e po-tenciá-las, quer atravésda criação de novoseventos culturais e des-portivos de índole na-cional que projectem onome de Ovar. Esta éuma estratégia que estáperfeitamente definida eé para consolidar. E va-mos ter muitas surpre-sas no futuro, porquevamos voltar a ouvir fa-lar de Ovar por coisasque não ouvíamos nopassado. |

Page 2: Salvador malheiro

O que é que se pode esperaragora?Não quer dizer que haja mávontade, mas a verdade é quea escala do tempo dos nossosgovernantes não é a mesma dequem vive junto ao mar. Tenhoa consciência de que vamos terque apresentar soluções defundo e o Ministério do Am-biente está receptivo a elas. Noentanto, tal não será para serimplementado no imediato. Deresto, estive em Bruxelas recen-temente, no âmbito da CIRA,para participar nos Open Daysda Comissão Europeia e tive aoportunidade de contactarcom os responsáveis da DGMare, uma espécie de direc-ção-geral da Europa de tudo oque tem a ver com os assuntosdo mar. Claro que tentei saberquais são as possibilidades deintegrarmos um consórcio eu-ropeu para aceder a verbasdeste programa. Ficou claroque os municípios vão ter queter no futuro a ousadia e a ca-pacidade de, sozinhos ou inte-grados, irem a estas fontes definanciamento, ou seja, tere-mos que ir para além dos pro-gramas nacionais. Se tivermosprojectos capazes e equipastécnicas que demonstrem cla-ramente ser uma mais-valia,não devemos ter medo decompetir com os outros.

Poderemos obter financia-mento europeu para os taisprojectos inovadores de de-fesa da costa?Sem querer criar falsas expec-tativas, este foi um dos grandesobjectivos da nossa ida a Bru-xelas. Estamos em contactoscom especialistas nestas ques-tões relacionadas com a DGMare e posso adiantar que,para o Furadouro, temos pre-visto um investimento de cincomilhões de euros para umaobra que visa construir que-bra-mares destacados, parale-los à linha de mar, em frenteaos dois esporões existentes. Aideia será fazer um esporãoperpendicular em frente aosexistentes, com uma distânciaconsiderável, nunca inferior a100 metros para cada lado, oque irá permitir alguma acu-mulação de areia a jusante des-ses esporões.

O que quer dizer quandoafirma que o tempo dos nos-sos governantes é diferentedo das populações?O risco que temos ali é o depassarmos a ter uma praia quevai perder competitividade re-

lativamente às outras e é assimque nós temos de pensar. Agora,quando digo que a escala detempo dos nossos governantesé diferente da nossa, neste par-ticular, é porque, por exemplo,neste momento, foi constituídoum grupo para o litoral, as pri-meiras conclusões ainda vãoser apresentadas com os se-nhores autarcas, as medidas deimplementação serão entãodiscutidas e, após tudo isso, éque surgirão programas paraas concretizar. Portanto, tendoa consciência disto, o que esta-mos a fazer é estar um passo àfrente porque se tivermos osprojectos prontos será muitomais fácil avançar.

Quando é que prevê a con-clusão do processo de revi-são do PDM?A verdade é que nós consegui-mos colocar o PDM em dis-cussão pública, um processoque se estava a arrastar há bas-tante tempo. Mas, justiça sejafeita, o grande trabalho já es-tava feito pelo Executivo ante-rior e nós tivemos que desblo-quear duas questões funda-mentais. A fase de audição pú-blica e de recolha de sugestõespor parte dos munícipes ter-minou. Neste momento, esta-mos a analisar as sugestões,também já temos algu-mas para incluir,mas agora vaisurgir uma fasedecisiva que étentar sensibili-zar as autori-dades compe-tentes para asalteraçõesque são ab-solutamentenecessárias.Por

exemplo, no que diz respeitoàs áreas do município queconstituem Reserva AgrícolaNacional, temos zonas que es-tão circunscritas por áreas in-dustriais ou áreas urbanas con-solidadas, o que não faz qual-quer sentido. A esse respeito járeunimos com a Direcção Re-gional da Agricultura e Pescase há receptividade para resol-vermos uma série de questõesque temos em mãos. Porexemplo, não faz sentido haveruma descontinuidade entre acidade de Ovar e a praia do Fu-radouro. A cidade deve crescere desenvolver-se para todaaquela zona que vai do centro

comercial até aoCarregal.

Temos o desejo e o objectivode promover a ampliação dacidade para o Norte da Avenidada Régua, pensar a cidade parao futuro, mas tudo tem que seranalisado com muita minúcia.

Num momento de retracçãoeconómica, é prioritário pen-sar-se em criar novas zonasindustriais?Eu penso que uma das grandesvirtudes deste PDM passa pelaconsolidação e ampliação dasnossas zonas industriais. Te-nho contactado e visitado asempresas sediadas em Ovar etemos tido agradáveis surpre-sas. Elas não ficaram à esperaque a economia global voltassea crescer, colocando-se na li-nha da frente desta batalhapara contrariar a crise econó-mica que se instalou. Muitasdelas estão a ampliar as suasinstalações, a criar postos detrabalho, a admitir funcioná-rios e a crescer.

O apoio aos manuais esco-lares, às rendas, a comparti-cipação nas vacinas, entreoutras, são medidas paramanter?A filosofia do PSD parte doprincípio de que tem de haver

uma gran de preocupa-ção com a compo-

nente social e aprova dis so é

que este Executivo tem dire-cionado grande parte do seuesforço para a acção social.Não só porque toda a genteestá a sofrer na pele com a criseinstalada, mas porque, na ver-dade, queremos acudir e aju-dar os mais vulneráveis. Julgoque este é o papel fundamentalde quem está à frente de umacomunidade.

O Município vai reduzir o IMIem 0,01 por cento, mas háquem considere essa redu-ção pouco ambiciosa.É verdade, mas convém recor-dar que esta é a nossa segundaredução da taxa do IMI emapenas um ano. E aqui devorecordar o partido que está a

lançar-me essa crítica é omesmo que, nos últimos anos,aprovava a manutenção dataxa em 0,4 por cento. Por-tanto, parece-me haver aquialguma incoerência na sua to-mada de posição. Deviam, sim,estar satisfeitos por a taxa estara reduzir. Eu creio que essaspessoas querem que o Muni-cípio de Ovar tenha contas lim-pas e indicadores financeirosestáveis. Para nós, isso é fun-damental e vamos manter-nosnessa trajectória, e mesmo as-sim, decidimos abdicar de umareceita de mais de 200 mil eu-ros que poderia entrar nos co-fres da autarquia para reduzir

a taxa de IMI que vai aliviaro bolso dos ovarenses. Se

a mantivesse, ao con-trário, seria uma conta

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Salvador Malheiro, presidente da Câmara Municipal de Ovar Entrevista

Ovar perdeu alguma da suacompetitividade no contexto dosmunicípios do distrito de Aveiro

Temos o desejo e o objectivo depromover a ampliação da cidade, pensar a cidade para o futuro

Temos que estar um passo à frente e apresentar os projectos prontos