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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA ENGENHARIA CIVIL Sandra Santos Cunha PERSPECTIVA DE UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS COMPÓSITOS COM FIBRAS VEGETAIS EM HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL FEIRA DE SANTANA BAHIA 2007

Sandra Santos Cunha PERSPECTIVA DE UTILIZAÇÃO DE …civil.uefs.br/DOCUMENTOS/SANDRA SANTOS CUNHA.pdf · Monografia apresentada ao Departamento de Tecnologia da Universidade Estadual

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA

ENGENHARIA CIVIL

Sandra Santos Cunha

PERSPECTIVA DE UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS

COMPÓSITOS COM FIBRAS VEGETAIS EM HABITAÇÕES

DE INTERESSE SOCIAL

FEIRA DE SANTANA – BAHIA

2007

SANDRA SANTOS CUNHA

PERSPECTIVA DE UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS

COMPÓSITOS COM FIBRAS VEGETAIS EM HABITAÇÕES

DE INTERESSE SOCIAL

Monografia apresentada ao Departamento de

Tecnologia da Universidade Estadual de Feira de

Santana - UEFS, como requisito parcial para

obtenção do grau de bacharel em Engenharia Civil.

Orientador: Pofº Esp Carlos Antônio Alves Queirós

Co-orientador: Profº Dr. Paulo Roberto L. Lima

FEIRA DE SANTANA – BAHIA

2007

SANDRA SANTOS CUNHA

PERSPECTIVA DE UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS COMPÓSITOS

COM FIBRAS VEGETAIS EM HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL

Monografia submetida ao corpo docente do Departamento de Tecnologia da Universidade

Estadual de Feira de Santana como parte dos requisitos necessários para aprovação na

disciplina Projeto Final II.

Feira de Santana, 08 de Outubro de 2007

Profº. Carlos Antônio Alves Queirós

Orientador

Profº. Dr. Paulo Roberto Lopes Lima

Co - Orientador

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________

Esp. Carlos Antônio Alves Queirós

________________________________________________

Dr. Paulo Roberto Lopes Lima

________________________________________________

Msc. Antônio Freitas da Silva Filho

Este trabalho é dedicado a maior de todas as heroínas e grande

incentivadora de minha vida, minha mãe, Eunice Santos Cunha.

AGRADECIMENTOS

Agradeço inicialmente ao grande Arquiteto do Universo, Deus, por todas as bênçãos

realizadas em minha vida, e pela força que fez continuar lutando até nos momentos mais

difíceis desta caminhada. E a Nossa Senhora, por interceder sempre por mim junto a Deus.

Aos meus pais, Jorge e Eunice, por todo apoio afetivo, financeiro e por estar sempre ao meu

lado, principalmente nos momentos em que eu mais precisei. Além das orações que me

fortificaram ao longo dessa jornada.

Ao meu irmão Jorginho, por ser meu grande admirador e incentivador.

Ao professor Paulo Roberto Lima, por ter me dado a primeira oportunidade de desenvolver

um trabalho científico e por ter me dedicado seu tempo, idéias, materiais, enfim, tudo que foi

necessário para o início e efetivação deste trabalho.

Ao professor Carlos Alves, por aceitar meu convite para ser meu orientador, por todo apoio,

atenção, idéias, tempo dedicado, enfim, muito obrigada pelo suporte necessário para

conclusão deste trabalho.

Aos meus amigos e colegas da UEFS, pela ajuda acadêmica e por compartilhar momentos

difíceis e de extrema alegria, e que de alguma forma contribuíram de maneira significativa

para elaboração e conclusão deste trabalho, especialmente para: Amiga Lú, Jonas, Mauro,

Rafael Santos, Floildo, Jamerson, Julinho, Jorge e Geovan. Muito obrigada pelos momentos

de grande descontração.

A Jefferson Willes por acreditar sempre no meu potencial.

"É graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa.

Mas a graça das graças é não desistir nunca."

Dom Hélder Câmara

RESUMO

Este trabalho foi realizado com o objetivo de apresentar a perspectiva de utilização de

materiais compósitos com fibras vegetais nos elementos construtivos para habitações de

interesse social. A metodologia empregada foi baseada num levantamento bibliográfico sobre

habitação, enfocando os seus principais problemas, além da definição de habitação de

interesse social, assim como sua importância, função e sua relação com a estrutura social do

Brasil. Além disso, realizou-se um estudo aprofundado sobre fibras vegetais, tendo como

principais focos as fibras de sisal e de coco. Através da análise feita, tem-se, por objetivo,

demonstrar que há a possibilidade de se empregar fibras vegetais nos elementos construtivos,

tornando possível a utilização de um sistema construtivo consideravelmente barato, ordenado,

versátil, racional e ecologicamente viável. A intenção é mostrar que pode ser realizada a

fabricação de elementos construtivos como, telhas, elementos pré-moldados e modulares com

adição de fibras vegetais, e que estes se apresentam como alternativa viável para a redução

dos custos das construções de interesse social.

Palavras chave: Habitação de interesse social; fibras vegetais; sistemas construtivos; déficit

habitacional.

ABSTRACT

This work was accomplished with the purpose of presenting the perspective of employing

composite materials with vegetable fibres inside the constructive elements for low cost

housing. The methodology employed was based on a bibliographical research on habitation,

focusing its main problems, in addition to the definition of low cost housing, as well as its

importance, function and relation with brazilian social structrure. Additionally, a deep study

on vegetable fibres was accomplished, which main focus was sisal and coconut fibres.

Through this study it was focused as main objective the possibility of employing vegetables

fibres to develop a constructive system considerably cheap, organized, versatile, rational and

ecologically viable. The intention is to show that constructive elements, like roofing tiles or

prefabricated and modular elements may be made with addition of vegetable fibres and that

they present thenselves as a viable alternative for the reduction of costs at low cost

constructions.

Keywords: housing for low-income people; vegetable fibres; constructive system; housing

deficit.

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS 10

LISTA DE TABELAS 11

1. INTRODUÇÃO 12

1.1 JUSTIFICATIVA 13

1.2 PROBLEMATIZAÇÃO 15

1.3 OBJETIVO 15

1.4 HIPÓTESE 16

1.5 METODOLOGIA 16

1.6 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA 17

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 18

2.1. HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL 18

2.1.1. Definições 18

2.1.2. Importância e funções da habitação 19

2.1.3. Habitação e o desenvolvimento social 20

2.2. FIBRAS VEGETAIS 22

2.2.1. Introdução 22

2.2.2. Classificação das fibras vegetais 22

2.2.3. Microestrutura das fibras vegetais 23

2.2.4. Propriedades físicas e mecânicas das fibras vegetais 24

2.2.5. Propriedade mecânica dos compósitos reforçados com fibras vegetais 27

2.2.6. Durabilidade dos compósitos com fibras vegetais 28

2.2.7. Vantagens de se empregar as fibras vegetais 31

3. APLICABILIDADE DAS FIBRAS VEGETAIS NOS ELEMENTOS

CONSTRUTIVOS 34

3.1. TELHA ECOLÓGICA 34

3.2. PAINEL COM FIBRA DE SISAL 40

4. PROJETO: HABITAÇÃO COM FIBRA VEGETAL 46

4.1. ESPECIFICAÇÃO TÉCNICA DO SISTEMA CONSTRUTIVO 46

4.1.1. Painéis 46

4.1.2. Pilares 49

4.1.3. Telha Ecológica com fibra de sisal 49

4.2. ESPECIFICAÇÃO TÉCNICA DA UNIDADE HABITACIONAL 50

5. CUSTO DE PRODUÇÃO 53

5.1. TELHAS 53

5.2. PAINÉIS 55

6. CONCLUSÃO 56

REFERÊNCIAS 58

APÊNDICE 62

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Plantação de sisal 22

Figura 2 - Esquema de uma fibro-célula de sisal 25

Figura 3 - Durabilidade das fibras de (a) sisal e (b) coco submetidas a diferentes soluções

alcalinas 30

Figura 4 - Moldagem das telhas 35

Figura 5 - Ensaio de flexão 35

Figura 6 - Ensaio de permeabilidade 36

Figura 7 - Bancada de envelhecimento 36

Figura 8 - Esteira 37

Figura 9 - Sistema de calandras 38

Figura 10 - Mantas moldadas e expostas ao tempo 38

Figura 11 - Corte das mantas moldadas 39

Figura 12 - Telha impermeabilizada e sem impermeabilização 39

Figura 13 - Configuração do ensaio de flexão 40

Figura 14 - Curva típica experimental tensão-deflexão para matriz e para laminados

com reforço manufaturado 41

Figura 15 - Curva típica experimental tensão-deflexão para matriz e para laminados

com reforço de sisal 41

Figura 16 - Desaguadouro 44

Figura 17 - Compósito obtido com mistura de papel usado e fibra de coco verde 44

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Valores de algumas propriedades físicas e mecânicas das fibras de sisal e coco 26

Tabela 2 - Comparativo das características físicas e mecânicas de algumas fibras 33

Tabela 3 - Resultados experimentais 42

Tabela 4 - Experimentos para obtenção de compósitos 43

Tabela 5 - Média dos resultados obtidos 45

Tabela 6 - Especificações dos painéis 47

Tabela 7 - Custo dos materiais das telhas 53

Tabela 8 - Comparativo de preços das telhas 54

Tabela 9 - Custo dos materiais dos painéis 55

12

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, evidenciamos que um dos grandes problemas sociais enfrentados por milhares de

brasileiros está relacionado ao déficit habitacional. O Ministério das Cidades publicou o livro

―Déficit Habitacional no Brasil 2005‖, com base em dados da Fundação João Pinheiro, e a

conclusão é que o Brasil apresentava um déficit habitacional de 7,9 milhões de moradias.

Os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2000),

mostram que este fenômeno está relacionado com o crescimento vegetativo da população, que

é caracterizado pela falta de controle na taxa de natalidade da população carente e pela

migração desordenada do homem do campo para os grandes centros urbanos, aumentando o

número de moradores de rua e um crescente aumento de aglomerados subnormais (favelas).

Além desses fatores temos as questões sociais como, o desemprego, a pobreza, a má

distribuição de renda, falta de políticas públicas na área de habitação que atendam a demanda,

falta de disponibilidade física e financeira de terrenos adequados para este fim, além dos

custos elevados dos materiais de construção que indisponibiliza o acesso da população com

baixo poder aquisitivo.

O principal problema é que quando se tem um crescimento da população, fatalmente você

precisa de mais habitações. O último censo demográfico, elaborado pelo IBGE, relativo ao

ano 2000, mostrou que a população brasileira evoluiu 15,7% em relação ao censo anterior de

1991, passando de 146,8 milhões de habitantes para mais de 169 milhões de pessoas.

No censo de 2000 o déficit habitacional brasileiro era 6,6 milhões, cresceu em mais de um

milhão no ano de 2005 e foi para 7,9 milhões, segundo dados publicados pelo Ministério das

Cidades no ano de 2005. Este déficit de 7,9 milhões de unidades é 86% constituído por

pessoas com renda de até três salários mínimos. Os números nos levam a concluir que

atualmente o principal problema do déficit habitacional não está apenas relacionado ao

crescimento da população, e sim à falta de condições financeiras da população de baixa renda,

que em sua grande maioria não tem condições de adquirir um imóvel de qualidade.

Diante dos fatos citados observa-se que há a necessidade de buscar alternativas econômicas,

simples e que requeiram baixo investimento. Neste sentido, vários pesquisadores vêm

13

desenvolvendo métodos alternativos que viabilizem a construção de habitações de interesse

social com padrões adequados de conforto, segurança e que sejam economicamente viáveis.

Por isso, este trabalho tem como finalidade propor como solução aos problemas apresentados,

mostrar que há a perspectiva de utilização de compósitos com fibras vegetais nos elementos

construtivos, como uma alternativa viável para a construção de habitações populares, fazendo

com que seja possível a utilização de um sistema construtivo consideravelmente barato,

ordenado, versátil e racional. A intenção é mostrar que se pode empregar telhas e elementos

pré-moldados e modulares com fibras vegetais, e que estes se apresentam como alternativa

viável para a redução dos gastos das construções de interesse social.

1.1- JUSTIFICATIVA

O tema estudado neste trabalho refere-se à perspectiva de utilização de materiais compósitos

com fibras vegetais no sistema de Habitação de Interesse Social (HIS). Este trabalho está

inserido na temática ―materiais não convencionais para construção civil‖ com o foco de

aplicabilidade nas habitações populares.

A construção civil conheceu os componentes laminares (de seção fina), a partir do século

XVIII, através de Ludwing Hatschek que produziu placas de cimento e asbesto. O

aperfeiçoamento desse processo de fabricação, denominado Hatschek, fez com que o cimento

amianto (cimento + fibras de asbesto) se tornasse o principal produto laminado utilizado na

construção civil sob a forma de telhas, caixa d´água, painéis, etc. (LIMA 2004). Porém, o

amianto ou asbesto pode causar doenças como a asbestose (o material se aloja nos pulmões,

comprometendo a capacidade respiratória) e o câncer do pulmão. Por isso, seu uso foi

proibido em 42 países, o que poderá ocorrer também no Brasil, onde há 13 projetos de lei

federal e estadual nesse sentido (SAVASTANO 2002).

Devido o banimento do asbesto, outras fibras têm sido testadas e novos processos de

fabricação desenvolvidos para compensar o déficit de produtos laminares a base de cimento.

As dificuldades em substituir a fibra de asbesto estão associadas às suas excelentes

propriedades de resistência e à capacidade de reter finos do cimento. Além disso, o asbesto é

quimicamente inerte, o que provê uma grande durabilidade quando exposto ao meio ambiente

(LIMA 2004).

14

O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CEPED), em Camaçari na Bahia, através do

Programa Tecnologia do Habitat (THABA) desenvolve um trabalho com materiais

alternativos para habitações de baixo custo desde a década de 70. Um dos primeiro trabalhos

desenvolvidos pelo CEPED foi com solo estabilizado com cimento aplicado à construção de

habitações de baixo custo, propondo assim, a utilização do solo-cimento compactado nas

fundações, paredes monolíticas e contrapiso de uma habitação.

O primeiro estudo sistemático das fibras naturais no Brasil foi apresentado pelo CEPED na

década de 80. Pode-se destacar o trabalho desenvolvido por Suely Guimarães (GUIMARÃES

1984) onde algumas propriedades físico-mecânicas das fibras de sisal, coco, bambu, piaçava e

bagaço de cana de açúcar foram estudadas, além de realizar misturas experimentais com sisal

e fibra de coco com argamassa de cimento, avaliadas através de ensaios de flexão,

compressão, absorção e peso específico.

O termo déficit habitacional significa uma noção imediata da necessidade de construir

moradias para solucionar os problemas sociais de habitações. A deficiência de residências e a

inadequação dos domicílios que apresentam condições precárias de infra-estrutura refletem os

problemas da qualidade de vida de seus moradores.

No Brasil, um dos grandes problemas sociais enfrentados por milhares de brasileiros está

relacionado à falta de moradias dignas e de qualidade, e esta preocupação é algo que vem

desde a década de 30 quando o Estado passou a assumir a coordenação das ações pela redução

do déficit habitacional junto às camadas populacionais de baixa renda. A sucessão de políticas

habitacionais desde então apresenta grande variação nas estratégias adotadas, com diferentes

graus de eficácia. Visualizamos isto se fizermos uma retrospectiva da habitação popular que

vai das ações descentralizadas dos anos 30 e 40, passando pelo centralismo e massificação da

produção do Banco Nacional de Habitação (BNH) nos anos 60 e 70, chegando as condições

atuais onde as soluções arquitetônicas da habitação de interesse social obedecem aos

contextos socioeconômicos e tecnológicos em que são aplicadas ( FARAH 1996:1998 apud

LARCHER 2005).

Atualmente, observa-se um grande interesse no desenvolvimento de pesquisas voltadas para

habitações de interesse social com a implementação de tecnologias alternativas que visem um

desenvolvimento ambiental, mostrando novos conceitos com qualidade, sustentabilidade,

15

desempenho e redução dos custos operacionais e de aquisição, que significam um novo

patamar de desenvolvimento e eficácia para o sistema habitacional em geral.

O presente trabalho pretende mostrar que há a perspectiva de se utilizar fibras vegetais nos

elementos construtivos das habitações populares, como uma alternativa viável a ser

empregada, aproveitando todo o conhecimento já publicado a cerca do tema, tendo o intuito

de auxiliar na solução de um dos problemas mais evidente nas famílias de baixa renda

brasileira.

1.2- PROBLEMATIZAÇÃO

A principal pergunta que define a problematização deste trabalho é: ―Existe uma forma de

empregar materiais alternativos, como as fibras vegetais, nos elementos construtivos das

Habitações de Interesse Social?‖

1.3- OBJETIVOS

1.3-1. Objetivo Geral

Este trabalho se propõe a mostrar que o emprego de fibras vegetais na confecção de elementos

construtivos para construção civil, é uma alternativa viável e de grande potencialidade a

serem empregados em habitações de interesse social.

1.3-2. Objetivos Específicos

Apresentar uma solução de habitação popular, que seja economicamente viável e que

possa empregar de forma racional e mecanizada, os materiais e as técnicas construtivas;

Mostrar que o emprego de fibras vegetais nas habitações populares pode ser uma maneira

de se obter a redução do custo final da obra.

Mostrar que o emprego de compósito com fibra vegetal, na construção civil, apresenta-se

não apenas como uma solução tecnológica de cunho social, mas também de cunho

ambiental.

16

1.4- HIPÓTESE

Este trabalho está limitado em realizar um levantamento bibliográfico a respeito do tema e

mostrar uma alternativa hipotética em cima do que está sendo estudado, ou seja, mostrar de

forma teórica que os compósitos com fibras vegetais podem ser empregados nos elementos

construtivos do sistema HIS.

O termo, alternativa hipotética, está sendo empregado, pois não foi realizado, para elaboração

deste trabalho, nenhum ensaio prático com os componentes construtivos mencionadas ao

longo do trabalho. Por isso, o propósito deste estudo foi o aprofundamento e o entendimento

do assunto em discussão, tendo como principal limitação a falta de resultados práticos para a

aplicabilidade da alternativa mencionada.

Em caso de componentes esbeltos ou em aplicações onde a massa específica tenha que ser

levada em consideração, como os painéis, telhas e divisórias, o reforço tem que ser feito com

material compatível, em dimensão e massa, com a aplicação desejada. As fibras surgem então

como uma alternativa tecnicamente recomendável e viável. Por este motivo, as fibras vêm

sendo bastante difundidas e tornou-se um campo de pesquisa em extensão em todo o mundo,

inclusive no Brasil, onde existem diversas pesquisas que visam o desenvolvimento de

componentes com o emprego de fibras.

1.5- METODOLOGIA

A metodologia de trabalho empregada foi baseada na revisão de diversos acervos literários a

respeito dos dois subtemas embutidos no tema geral, que é a habitação de caráter social e os

compósitos com fibras vegetais.

E assim, realizou-se uma junção entre os assuntos analisados, e buscou-se mostrar que há a

possibilidade de se empregar os compósitos com fibras vegetais em elementos construtivos,

como painéis e telhas.

17

1.6- ESTRUTURAÇÃO DA MONOGRAFIA

No presente capítulo, é apresentada a estrutura que fundamenta a monografia, assim como os

principais motivos e argumentos para seu desenvolvimento: a justificativa, problematização,

objetivo geral e específico, hipótese de pesquisa, a metodologia empregada e a estruturação da

monografia.

Capítulo 2: Desenvolvimento da Revisão Bibliográfica. Sendo dividido em duas partes: A

primeira apresenta as definições sobre habitação de interesse social, assim como sua

importância, função e sua relação com a estrutura social do Brasil. Neste capítulo também

serão mostrados os tipos mais usuais de construções do sistema construtivo de HIS. A

segunda parte, trata da definição de materiais compósitos e mostra as características das fibras

vegetais, dentre elas: classificação, propriedades físicas e mecânicas das fibras, propriedade

mecânica dos compósitos reforçados com fibras vegetais, durabilidade dos compósitos

reforçados com fibras naturais e vantagem de se utilizar as fibras vegetais.

Capítulo 3: Demonstra a perspectiva de aplicabilidade das fibras vegetais nos elementos

construtivos. Neste capítulo será mostrado o emprego de fibras de sisal em telhas e painéis

como elemento construtivo.

Capítulo 4: Este capítulo mostra as especificações técnicas do sistema construtivo e da

habitação sugerida neste trabalho.

Capítulo 5: Trata do custo de produção das telhas e painéis com fibras vegetais.

Capítulo 6: Conclusão sobre o que foi pesquisado para elaboração deste trabalho e do que foi

realizado.

18

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL

2.1.1. Definições

A palavra habitação, em qualquer dicionário, refere-se ao ato ou efeito de habitar, casa,

moradia, residência. Porém, para os estudiosos da questão, a definição de habitação não se

resume única e exclusivamente a um lugar em que se habita, existem outras definições muito

mais aprofundadas no assunto, dentre elas pode-se destacar os seguintes conceitos:

A habitação é um bem de consumo de características únicas, sendo um produto

potencialmente muito durável onde muito freqüentemente são observados tempos de vida útil

superior a 50 anos (ORNSTEIN, 1992; WORLD BANK, 2002;). Por ser um produto caro, as

classes menos privilegiadas constituem a maior demanda imediata por habitação, no Brasil

(Fundação João Pinheiro, 2001).

O termo Habitação de Interesse Social define uma série de soluções de moradia voltada à

população de baixa renda. O termo tem prevalecido nos estudos sobre gestão habitacional e

vem sendo utilizado por várias instituições e agências, ao lado de outros equivalentes, como

apresentado abaixo (ABIKO, 1995):

- Habitação de Baixo Custo (low-cost housing): termo utilizado para designar habitação barata

sem que isto signifique necessariamente habitação para população de baixa renda;

- Habitação para População de Baixa Renda (housing for low-income people): é um termo

mais adequado que o anterior, tendo a mesma conotação que habitação de interesse social;

estes termos trazem, no entanto a necessidade de se definir a renda máxima das famílias e

indivíduos situados nesta faixa de atendimento;

- Habitação Popular: termo genérico envolvendo todas as soluções destinadas ao atendimento

de necessidades habitacionais.

19

A repercussão do problema da habitação de interesse social vai além da simples construção da

mesma. Sua solução está ligada a fatores como a estrutura de renda das classes sociais mais

pobres, dificuldades de acesso aos financiamentos concedidos pelos programas oficiais e a

deficiências na implantação das políticas habitacionais (BRANDÃO, 1984). Depende,

também, da vontade coletiva de toda uma comunidade, ciclo de vida da família, cultura,

história, entre outros fatores (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2004).

Na conceituação das abordagens da gestão habitacional, Abiko (1995) defende que ―a

habitação popular não deve ser entendida meramente como um produto e sim como um

processo, com uma dimensão física, mas também como resultado de um processo complexo

de produção com determinantes políticos, sociais, econômicos, jurídicos, ecológicos,

tecnológicos‖. Neste conceito, o autor propõe que a habitação não se restringe apenas à

unidade habitacional, para cumprir suas funções.

O ―Interesse Social‖ como terminologia na habitação no Brasil já era utilizada nos programas

para faixas de menor renda do extinto Banco Nacional da habitação (BNH) (ABIKO 1995).

Como diretriz de políticas públicas, segundo Bonduki et al. (2003), a Constituição Federal de

1988 previa o princípio da função social do uso do solo urbano. Sob este princípio, o conceito

de Interesse Social é constitucionalmente incorporado às políticas habitacionais para os

setores de população de baixa renda.

2.1.2. Importância e função da habitação

Desde os primórdios verifica-se que a função principal da habitação é a de abrigo. Com o

desenvolvimento de suas habilidades, o homem passou a utilizar materiais disponíveis em seu

meio, tornando o abrigo cada vez mais elaborado. Mesmo com toda a evolução tecnológica,

sua função primordial tem permanecido a mesma, ou seja, proteger o ser humano das

intempéries e de intrusos.

Segundo Rapoport (1984), como obra arquitetônica, a função de abrigar não é sua única nem

a principal função da habitação. O autor observa que a variedade observada nas formas de

construção, num mesmo local ou sociedade, denota uma importante característica humana:

transmitir significados e traduzir as aspirações de diferenciação e territorialidade dos

habitantes em relação a vizinhos e pessoas de fora de seu grupo.

20

Santos (1999), afirma que a habitação é uma necessidade básica e uma aspiração do ser

humano. A casa própria, juntamente com a alimentação e o vestuário é o principal

investimento para a constituição de um patrimônio, além de ligar-se, subjetivamente, ao

sucesso econômico e a uma posição social mais elevada (BOLAFI 1977).

Junqueira e Vita (2002), observam que a aquisição da habitação faz parte do conjunto de

aspirações principais de uma parcela significativa da população brasileira, embora venha

perdendo importância relativa, ao longo dos anos, para a educação, saúde e previdência

privada. Esta perda de importância relativa não foi devido à realização da aspiração da

moradia pela população, mas, em grande parte, devido à deficiência crescente destes serviços

públicos.

Segundo Fernandes (2003), a habitação desempenha três funções diversas: social, ambiental e

econômica. Como função social, tem de abrigar a família e é um dos fatores do seu

desenvolvimento.

Segundo Abiko (1995), a habitação passa a ser o espaço ocupado antes e após as jornadas de

trabalho, acomodando as tarefas primárias de alimentação, descanso, atividades fisiológicas e

convívio social. Assim, entende-se que a habitação deve atender os princípios básicos de

habitabilidade, segurança e salubridade.

2.1.3. Habitação e o desenvolvimento social

Os indicadores sociais, juntamente com aspectos sobre o comportamento demográfico

brasileiro são importantes para o estudo da expansão da habitação de interesse social, pois sua

evolução provoca mudanças consideráveis nos requisitos dos usuários de habitações, exigindo

flexibilidade e adaptabilidade dos ambientes construídos (ANTAC, 2002; TRAMONTANO,

1993).

Entre os vários fatores que têm influenciado as outras mudanças dos modos de vida, destaca-

se como tendência global os novos hábitos de consumo, maior tempo gasto em lazer, em

função da redução gradual da jornada de trabalho e do aumento do poder aquisitivo; a

individualização do modo de vida e o aumento do nível educacional. No Brasil, entretanto,

21

tais fatores provavelmente não se desenvolverão na velocidade observada em países

desenvolvidos, sobretudo entre as faixas populacionais de baixa renda (ANTAC, 2002).

Os indicadores necessários à compreensão das necessidades habitacionais estão contidos na

metodologia conhecida como Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O IDH é um índice

sintético composto por quatro indicadores que medem o desempenho médio dos países em

três dimensões do desenvolvimento humano.

Do ranking de 2004 do IDH, fazem parte 175 países. Os países com IDH até 0,499 têm

desenvolvimento humano considerado baixo, os países com índices entre 0,500 e 0,799 são

considerados de médio desenvolvimento humano e países com IDH superior a 0,800 têm

desenvolvimento humano considerado alto (PNUD, 2004). O Relatório de Desenvolvimento

Humano (RDH) de 2004 atribui ao Brasil um IDH de valor 0,775, o que coloca o país na 72ª

colocação entre 177 territórios. Esse resultado mantém o Brasil na parte superior do grupo dos

países com desenvolvimento humano médio (0,500 a 0,800).

O IDH não apresenta dados sobre habitação em sua metodologia, porém, permite um perfil

bastante aproximado da qualidade de vida das populações, onde a disponibilidade de um

habitat de qualidade certamente faz parte do seu desenvolvimento.

22

2.2. FIBRAS VEGETAIS

2.2.1. Introdução

Entre a diversidade de fibras existentes, as vegetais têm sido muito estudadas, principalmente

para reforço de componentes para construções de interesse social, em virtude do seu baixo

custo, ao serem empregadas na própria região de origem, ou como rejeitos de outras

aplicações (SAVASTANO apud TONOLI 2006). Por outro lado, o desempenho delas tem

mostrado algumas deficiências quando adicionadas a matrizes cimentícias, fato que é

evidenciado devido a necessidade de aderência com a matriz e melhoria da durabilidade em

presença de meio alcalino e de umidade. O estudo da estrutura da interface fibra-matriz tem

importante papel no desenvolvimento dos compósitos fibrosos, para que o seu comportamento

mecânico se torne desejável.

A fibra idealizada neste projeto como reforço da matriz é a fibra de sisal. Isto porque o sisal

(Agave Sisalana) apresenta boas propriedades físicas e mecânicas, custo relativamente baixo,

disponibilidade na região do semi-árido baiano, é biodegradável e pode ser colhido durante

todo o ano. Atualmente o Brasil é o maior exportador de sisal do mundo e o Estado da Bahia

contribui com 80% do total de exportação. A figura 1 mostra a imagem de uma plantação de

sisal.

Figura 1: Plantação de sisal

Fonte: [8]

23

2.2.2. Classificação das fibras vegetais

As fibras se dividem em naturais e artificiais, sendo a primeira o objeto de estudo deste

trabalho. As fibras naturais, por sua vez, estão subdivididas em vegetais, animais e minerais.

A fibra vegetal é o foco principal deste trabalho. Segundo TOLEDO FILHO (1997), podem

ser classificadas em quatro classes:

As originárias das folhas: Têm origem nas plantas monocotiledônea. As fibras ocorrem

em feixes com extremidades sobrepostas de tal forma que produzem filamentos contínuos

através do comprimento da folha. Elas são ligadas umas as outras por lignina e sua função

é conferir resistência à folha e dar suporte aos vasos de condução de água do vegetal.

Pode-se citar como exemplo, as fibras de: sisal, palma, banana e caroá.

As originárias do talo ou tronco: Têm origem em plantas dicotiledôneas. Essas fibras

ocorrem no floema, que fica na entrecasca do talo. Os feixes de fibras são unidos entre si e

mantidos no lugar pelo tecido celular do floema e pelas substâncias gomosas e graxas. As

fibras podem ser obtidas colocando-se os talos em tanques de água quente ou deixando-os

espalhados no chão para permitir que a ação das bactérias dissolva o material que envolve

as fibras. Depois realiza-se a secagem das fibras. Pode-se citar como exemplo, as fibras

de: juta, rami, linho e piaçava.

As originárias do lenho ou da madeira: São fibras relativamente curtas, grossas e

inflexíveis. Pode-se citar como exemplo, as fibras de bambu e as de cana de açúcar. O

processamento das fibras de bambu envolve o esmagamento da planta com rolos

projetados especificamente para este fim. As fibras de cana de açúcar passam por um

tratamento de fervura para retirar o açúcar residual.

As fibras de superfície: Formam uma camada protetora de caules, folhas, frutos e

sementes de plantas, como, por exemplo, coco e algodão.

2.2.3. Microestrutura das fibras vegetais

As fibras naturais de origem vegetal podem ser diferentes em sua aparência física, entretanto,

possuem particularidades que as identificam com uma família. As características e o

24

comportamento das fibras dependem das propriedades dos seus constituintes individuais, da

estrutura fibrilar e da matriz lamelar. As fibras naturais são compostas de numerosas fibro-

células alongadas fusiformes que são unidas pelas lamelas médias as quais são constituídas de

lignina, hemicelulose e pectina.

Fisicamente cada fibro-célula é constituída de quatro partes: a parede primária, a parede

secundária, a parede terciária e o lúmen. A figura 1 mostra, esquematicamente, a fibro-célula

da fibra de sisal. Para uma melhor compreensão das propriedades mecânicas e durabilidade

das fibras, os componentes estruturais das fibras (celulose, hemicelulose e lignina) devem ser

estudados e analisados previamente.

Celulose é um polímero derivado da glicose: -D-glicopiranose. De acordo com Gram

(GRAM apud TOLEDO FILHO 1997) o grau de polimerização da fibra de sisal é de cerca de

25000. Nessa área cristalina da fibra, a penetração de outras moléculas, tais como as de água

ou de outros produtos químicos, é difícil e ela apresenta boa resistência aos álcalis.

A hemicelulose também é um polímero de açúcares (como a galactose e manose) raramente,

ou nunca, cristalino. Apresenta baixo grau de polimerização e são solúveis em álcalis. A

hemicelulose está presente principalmente na parede primária e seu grau de polimerização

para fibra de sisal varia de 50 a 200 (GRAM apud TOLEDO FILHO 1997).

A lignina é uma substância aromática cuja estrutura ainda não foi completamente

demonstrada, ela pode ser dissolvida ou lixiviada em meios alcalinos. Cerca de 25% do total

de lignina está localizada nas lamelas intermediárias. Considerando-se que as lamelas

intermediárias são muito finas, a concentração de lignina é conseqüentemente alta (cerca de

70%) (GRAM apud TOLEDO FILHO 1997).

25

Figura 2: Esquema de uma fibro-célula de sisal

Fonte: GRAM apud TOLEDO FILHO (1997)

2.2.4. Propriedades físicas e mecânicas das fibras vegetais

A utilização das fibras vegetais em compósitos para a construção civil pode ser de grande

interesse para os países em desenvolvimento e seria capaz de contribuir para o crescimento de

suas infra-estruturas (SAVASTANO 2000).

Ao analisarmos as propriedades físicas e mecânicas de algumas fibras vegetais como sisal,

coco, juta, bambu, dentre outros, publicadas por pesquisadores de diversos países verifica-se

uma larga faixa de valores, isto porque, tais propriedades dependem da idade da planta, do

local de cultivo, das condições climáticas e da microestrutura das fibras. Outro fator é que não

existe uma metodologia mundialmente estabelecida a ser seguida pelos pesquisadores.

Os dados obtidos para a elaboração da tabela 1 foram retirados do livro do Simpósio sobre

―Materiais não convencionais para construções rurais‖ (TOLEDO FILHO 1997), e mostram

faixas de valores publicadas por alguns pesquisadores das seguintes propriedades: diâmetro,

comprimento, peso específico, teor de umidade natural, absorção de água, resistência a tração,

módulo de elasticidade e deformação de ruptura das fibras. Esta tabela foi colocada neste

trabalho com o intuito de mostrar esta variação de valores de pesquisador para pesquisador,

para isso, pegou-se apenas as fibras de sisal e coco para fazer esta comparação.

26

27

2.2.5. Propriedades mecânicas dos compósitos reforçados com fibras vegetais

Resistência à compressão

Segundo TOLEDO FILHO (1997), a adição de fibras naturais em matrizes cimentícias como

o concreto, reduz sua resistência à compressão em cerca de 10% a 30% dependendo do tipo,

comprimento e fração volumétrica de fibra, bem como do tipo e traço da matriz. O módulo de

elasticidade da matriz é ligeiramente reduzido e o coeficiente de Poisson não apresenta

variações significantes. Entretanto, a vantagem de se empregar fibras a matriz é que as fibras

confinam o material e, portanto, retardam a propagação da primeira fissura, aumentando a

tenacidade pós-carga de pico.

Resistência à tração

Sabe-se que as matrizes cimentícias apresentam um comportamento frágil quando submetidas

à tração, sendo essa uma das razões que motivou o surgimento dos materiais compósitos,

onde as fibras são adicionadas para resistir aos esforços de tração, aos quais a maioria dos

elementos estruturais estão submetidos direta ou indiretamente.

A influência da fibra sobre o comportamento a tração depende de vários parâmetro como o

tipo de fibra, comprimento, diâmetro, teor de fibra incorporado e forma de distribuição na

matriz. A finalidade de se empregar as fibras é garantir a manutenção da resistência mesmo

após a fissuração da matriz, permitindo uma maior deformação do compósito antes da ruptura,

e propiciando resistência ao impacto e tenacidade maiores que o da matriz. (LIMA 2004).

Resistência à flexão

A maioria das aplicações de materiais compósitos em matrizes cimentícias estão sujeitas a

carga de flexão. Através dos estudos realizados por TOLEDO FILHO (1997) para argamassas

reforçadas com fibras de sisal, pode-se verificar que, os compósitos apresentam um

comportamento quase que perfeitamente elástico até o surgimento da primeira fissura. Após

fissurar, a capacidade de suportar carga é instantaneamente reduzida e então pode aumentar

ou decrescer dependendo do comprimento, volume e arranjo de fibras. Para compósitos

reforçados com fibras muito curtas ou com pequena fração volumétrica, após a primeira

28

fissura o mesmo perde a capacidade de resistir aos esforços. Para efeito de projeto, o módulo

de ruptura do compósito será então o limite elástico da argamassa.

A presença da fibra muda o modo de ruptura do material (a ruptura não é instantânea como

observada para a matriz) e aumenta a sua capacidade de absorver energia. Para compósitos

reforçados com fibras longas (ou curtas numa combinação ótima de fração volumétrica e

comprimento), a carga máxima pode quase que triplicar a carga de primeira fissura.

As curvas carga-deslocamento dos compósitos reforçados com fibras naturais podem, ser

divididas em duas partes: a) zona elástica até a primeira fissura e b) zona inelástica até a

fratura. Na zona elástica considera-se que apenas a matriz suporta a carga. Como o módulo de

elasticidade das fibras naturais é baixo comparado com o da matriz, elas não são eficientes

para prevenir a fissuração. Na zona inelástica, apenas as fibras suportam as tensões trativas

(como no caso do concreto armado). No caso dos compósitos reforçados com fibras longas,

essa região pode ser subdividida em três partes: (a) região onde a carga é transmitida da

matriz para as fibras (caracterizada pela redução da carga após a primeira fissura), (b) região

onde as fibras suportam as forças de tração a aumentam a capacidade de carga do material

(trecho ascendente da curva carga-deslocamento) e (c) a região onde a capacidade de suportar

carga do compósito decresce devido a ruptura ou deslizamento das fibras até a fratura do

material (trecho descendente da curva carga-deslocamento). Compósitos com fibras curtas ou

pequeno volume de fibras não apresentam a região (b).

2.2.6. Durabilidade dos compósitos com fibras vegetais

A durabilidade pode ser definida como a capacidade que um produto possui de manter suas

condições de serviço durante o tempo, para o qual foi projetado e construído. Pode ser

avaliada pelo seu tempo de vida em anos ou pela sua resistência a agentes que afetem seu

desempenho. Vida útil é o período de tempo que um material, componente construtivo ou

edificação, mantém seu desempenho acima dos níveis aceitáveis. Degradação é o processo no

qual um material sofre transformações irreversíveis que implicam perda de qualidade ou

valor. Agentes ou fatores de degradação são ações físicas, químicas, ambientais ou biológicas

que causam degradação do material. Mecanismos de degradação são as formas como os

29

agentes causam uma seqüência de mudanças físicas e/ou químicas que levam a perda nas

propriedades esperadas do material.

A durabilidade das fibras vegetais é considerada, por diversos autores, como sendo o

problema mais crítico dentre aqueles apresentados pelos materiais compósitos que podem

perder resistência e tenacidade com o tempo.

Segundo RILEM apud MESA 2004, pesquisas conjuntas, de uma maneira clara e concisa, são

necessárias em estudos de durabilidade, e destaca como critérios de uma metodologia

sistemática para estes estudos, a necessidade de serem genéricos e aplicáveis a um amplo

número de materiais e compósitos, permitindo, ainda, a identificação dos fatores de

degradação.

Segundo esta mesma fonte, os ensaios de durabilidade devem incluir a exposição dos corpos-

de-prova às condições de laboratório ou de campo, para acompanhamento das mudanças que

possam ocorrer durante sua vida útil, e os métodos de ensaio de durabilidade devem

contemplar os seguintes quesitos:

Definição dos requerimentos de desempenho do elemento;

Caracterização dos materiais e componentes, para entendimentos dos mecanismos de

degradação;

Identificação dos possíveis mecanismos de degradação;

Definição das condições às quais estarão expostos os materiais ou componentes;

No caso de serem utilizados ensaios acelerados, a confirmação de que os mecanismos de

degradação induzida estão corretos;

Desenvolvimento de modelo matemático descrevendo o processo de degradação na

predição da vida útil.

As fibras naturais podem sofrer vários graus de degradação quando expostas a ambientes

alcalinos. A intensidade do ataque, determinado pela perda de resistência da fibra, depende do

tipo de fibra e do tipo de solução alcalina. A figura 3 (a) e (b) mostra os resultados de um

estudo elaborado por TOLEDO FILHO (1997), onde ele analisa o efeito da alcalinidade do

meio na resistência à tração das fibras de sisal e coco com o tempo. As fibras foram

submetidas aos seguintes ambientes por 420 dias:

30

Tratamento 1 : fibras imersas em água de torneira de pH 8.3;

Tratamento 2: fibras imersas em uma solução de hidróxido de cálcio de pH 12;

Tratamento 3: fibras imersas em uma solução de hidróxido de sódio de pH 11.

(a)

(b)

Figura 3: Durabilidade das fibras de (a) sisal e (b) coco submetidas a diferentes soluções

alcalinas Fonte: TOLEDO FILHO (1997).

31

Uma significante redução na resistência das fibras de sisal e coco pode ser notada para as

fibras condicionadas em solução de hidróxido de cálcio. Após 300 dias de imersão, as fibras,

quando secas, perderam completamente sua flexibilidade. GRAM (GRAM 1983 apud

TOLEDO FILHO 1997) estudou várias formas para melhorar a durabilidade dos compósitos

reforçados com fibras naturais, sendo elas:

a) Proteção superficial das fibras, com silicato de sódio, sulfito de sódio, sulfato de

magnésio, agentes repelentes de água, ácido esteárico e ―formine‖. Somente os dois

últimos tratamentos impediram a fibra de ser mineralizada;

b) Redução da alcalinidade da matriz, empregando-se cimento de alumina ou substituindo o

cimento Portland por microsílica, escória de alto-forno e pozolanas naturais;

c) Selar os poros da matriz, adicionando-se cera ou estearato de zinco em pó à mistura fresca

ou impregnar o produto endurecido com enxofre;

d) Combinação das alternativas acima.

O emprego de pozolana natural, como a metacaulinita, também é uma alternativa que vem

sendo empregada para reduzir a alcalinidade da matriz e tem trazido resultados bastante

satisfatórios. Isto porque a metacaulinita promove à matriz acréscimo de resistência à

compressão, acréscimo da resistência química, reduz o pH e reduz a permeabilidade da

matriz.

2.2.7. Vantagem de se empregar as fibras vegetais

Atualmente, fala-se muito em sustentabilidade que é um conceito ligado à preocupação

crescente em todo o mundo, em vista da escassez de recursos naturais e de energia, geração de

resíduos sólidos e emissão de gases. Existe substancial conhecimento de materiais e técnicas

que envolvem construção de terra, plantas vegetais e cimento alternativo, e que poderia ser

aplicado em construções não convencionais. Entretanto, as especificações de norma são

demasiadamente centradas em materiais modernos e, em diversos casos, difíceis de serem

observadas em situações específicas de obras rurais ou de habitações para atendimento de

necessidades sociais urgentes (PLESSIS 2001).

32

Fibras naturais, como reforço de matrizes frágeis à base de materiais cimentícios, têm

despertado grande interesse nos países em desenvolvimento, por causa de seu baixo custo,

disponibilidade, economia de energia e também no que se refere às questões ambientais.

Os telhados de fibrocimento constituem a solução de cobertura mais barata para habitações de

interesse social, instalações rurais, galpões industriais e obras de infra-estrutura, em

comparação a diversos sistemas disponíveis no país com outros tipos de telha (ex.: cerâmicas,

aço galvanizado, alumínio). Segundo dados da Associação Brasileira das Industrias e

Distribuidores de Produtos de Fibrocimento (ABIFibro), as indústrias brasileiras de produtos

de fibrocimento geram cerca de 10 mil empregos diretos e 200 mil empregos indiretos.

Por isso, a solução é substituir o fibrocimento do mercado apresentando soluções alternativas

como as fibras vegetais, que não representam qualquer risco à saúde humana, ao longo das

diversas etapas do ciclo de vida do material, desde a obtenção da fibra, produção do

fibrocimento vegetal, instalação, uso, até a demolição da construção, se for o caso.

Outra questão de grande preocupação está relacionada aos impactos ambientais gerados pelos

resíduos lançados na natureza. Mais um motivo que nos leva a destacar as fibras celulósicas

que advêm de fonte renovável e são obtidas a partir de madeira de reflorestamento ou de

plantas fibrosas abundantes em regiões de clima tropical.

A substituição do amianto na fabricação de compósitos por fibras que não apresentam risco à

saúde ocupacional é também um benefício de suma importância. A tabela 2 mostra um

comparativo das características físicas e mecânicas das fibras vegetais, de celulose, amianto e

polipropileno.

33

Tabela 2: Comparativo das características físicas e mecânicas de algumas fibras.

PROPRIEDADES

Massa

específica

(kg/m³)

Absorção

máxima

(%)

Alongamento

na ruptura

(%)

Resistência

à tração

(MPa)

Módulo de

elasticidade

(GPa)

Coco 1177 93,8 23,9 a 51,4 95 a 118 2,8

Sisal 1370 110,0 4,9 a 5,4 347 a 378 15,2

Malva 1409 182,2 5,2 160 17,4

Amianto 2200-2600 - 2 560 a 750 164

Polipropileno 913 - 22,3 a 26 250 2,0

Celulose 1609 643 - 700 10-40

Fonte: SILVA (2002)

A análise da tabela 2 permite concluir que, apesar da variabilidade nas características das

fibras, seu uso como reforço pode melhorar as propriedades dos compósitos a base de

cimento. As fibras vegetais são fibras de baixo módulo de elasticidade e elevada resistência à

tração. Seu emprego como reforço proporciona às matrizes cimentícias maior resistência ao

impacto, causada por maior absorção de energia, possibilidade de trabalho no estágio pós

fissurado e um aumento na capacidade de isolamento termo-acústico.

34

3. APLICAÇÃO DAS FIBRAS VEGETAIS NOS ELEMENTOS

CONSTRUTIVOS

Neste capítulo serão mostrados exemplos de materiais à base de cimento reforçados com

fibras vegetais, produzidos por pesquisadores que procuram meios de processos de baixo

custo e com potencial para construções destinadas a áreas de interesse social. As principais

frentes de pesquisa envolvem a seleção das fibras e sua adequação ao cimento, a determinação

das propriedades mecânicas, físicas, químicas e microestruturais do novo material, além de

estudos de envelhecimento para avaliação da durabilidade.

São diversas as aplicações das fibras vegetais nos elementos voltados para a construção civil,

mas, neste trabalho mostraremos apenas alguns tipos de aplicações como, telhas, painéis,

blocos.

3.1. TELHA ECOLÓGICA

Na fabricação de telhas podem-se destacar as pesquisas lideradas por SAVASTANO (2002),

da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP, que desde 1992, realiza o

projeto denominado Sistemas de Cobertura para Construção de Baixo Custo. Este projeto vem

desenvolvendo telhas denominadas de fibrocimento vegetal e submetendo-as a diversos testes

para comprovar sua eficiência. Os testes realizados são os mecânicos de tração e testes físicos

de permeabilidade, densidade e absorção de água.

Durante a fase de testes Savastano produziu telhas de 50 centímetros de comprimento por 25

centímetro de largura, formato semelhante às produzidas em escala comercial conhecidas em

alguns locais como telhas romanas. Os resultados dos ensaios revelaram algumas vantagens

dessas telhas em relação às de amianto. Uma delas é sua maior capacidade de isolamento

térmico. Em um dos testes térmico realizado pela equipe de Holmer Savastano foi observado

que a temperatura ficou 6 graus mais baixa embaixo de uma cobertura de 160 m² feita com

telhas de fibrocimento vegetal do que de outra feita com telhas de amianto. Além disso, o

produto apresenta-se mais leve e dura tanto quanto o amianto. Além de não oferece riscos à

saúde. O principal objetivo deste projeto é oferecer um material compatível com a construção

35

para a população de baixa renda. Este tipo de produção requer técnicas apropriadas e um

rigoroso controle da qualidade, por se tratar de uma mistura de fases distintas — fibra natural

em cimento — que podem apresentar incompatibilidade entre si, e perda das propriedades

mecânicas ao longo de sua vida útil.

Este tipo de telha é produzido com matriz cimentícia e polpa celulósica residual de eucalipto.

A polpa deve ser desintegrada por dispersão em água. As figuras 4 a 7 mostram o esquema de

produção e testes das telhas de fibrocimento vegetal.

¹Figura 4: Moldagem da telha

¹Figura 5: Ensaio de flexão

36

¹Figura 6: Ensaio de Permeabilidade

¹Figura 7: Bancada de Envelhecimento

¹Fonte: SAVASTANO (2002)

Outro estudo significativo foi desenvolvido por PASSOS (2005), que utilizou uma alternativa

que propicia o uso sustentável da casca do coco verde e celulose de papel usado, constituindo-

se um produto que utiliza material 100% reciclado em sua formulação.

PASSOS empregou fibra de coco verde fornecidas pelo Centro de Pesquisas Ambientais

(CENPA) com comprimento médio na faixa de 2-4 cm, sendo obtidas a partir do coco inteiro

com o uso de moinho de martelo. Já o papel usado na parte laboratorial foi de resíduo de

escritórios, enquanto na parte industrial foi de procedência variada.

37

O processo de fabricação das telhas descrito por PASSOS foi:

a) Trituração de papel e formação de polpa

O papel usado passou por um triturador com uso abundante de água, formando uma massa

que foi levada a um tanque com agitação proporcionada por uma bomba de água.

b) Mistura da polpa de papel com as fibras de coco

As fibras de coco verde, fornecidas pelo CENPA, com comprimento médio de 4 cm, foram

adicionadas manualmente ao tanque e homogeneizadas com a massa de papel.

a) Formação da manta e moldagem das telhas

A mistura aquosa de papel e fibras de coco foi bombeada para uma esteira (Figura 8) e levada

para um sistema de calandras (Figura 9), onde houve definição da espessura e formação das

mantas, que posteriormente foram moldadas manualmente com uso de barras cilíndricas de

aço.

Figura 8: Esteira

Fonte: PASSOS (2005)

38

Figura 9: Sistema de calandras*

Fonte: PASSOS (2005)

b) Secagem e corte das aparas das telhas;

As mantas moldadas foram secas ao tempo (Figura 10) e posteriormente cortadas (Figura 11)

para assumir as dimensões de 1,6 m x 0,60 m, com massa total de 1,5 Kg, sendo 0,375 Kg de

fibras de coco e 1,125 Kg de papel.

Figura 10: Mantas mondadas expostas ao tempo

Fonte: PASSOS (2005)

39

Figura 11: Corte das mantas moldadas

Fonte: PASSOS (2005)

c) Impermeabilização das telhas.

As mantas aparadas (telhas) foram submetidas ao processo de impermeabilização com

cimento asfáltico (CAP 20) a 180ºC por 2 horas e estocadas. As telhas foram denominadas de

―telhas ecológicas‖.

Figura 12: Telha impermeabilizada (à esquerda) e telha sem impermeabilização (à direita)

Fonte: PASSOS (2005)

40

3.2. PAINEL COM FIBRA DE SISAL

Na fabricação de painéis podemos destacar as pesquisas realizadas por LIMA e CUNHA

(2006) lideradas por Paulo Roberto Lima, da Universidade Estadual de Feira de Santana, cujo

trabalho consiste na análise do tipo de reforço no comportamento à flexão de painéis

laminados. Foram produzidos laminados reforçados com fibras de sisal, fios de sisal, telas de

aço e telas de nylon, distribuídos manualmente em seis camadas e com volume de fibra de

2,5% e 5,0%. A matriz (M1) consistiu de uma argamassa de cimento, com traço, em massa,

de 1 : 1 (cimento : areia ) e relação água/cimento de 0,35. Foi utilizado cimento CPII-F32,

areia de rio e água do sistema de abastecimento de água local em todas as misturas. A matriz

foi produzida em uma betoneira de 100 dm³ e lançada manualmente em moldes metálicos.

A moldagem consistiu de lançamento manual de camadas alternadas de matriz e reforço, com

vibração externa em mesa vibratória. Foram produzidas três amostras por mistura, com

dimensões 150 x 500 x 30 mm. A cura foi realizada em câmara úmida por 60 dias. O ensaio

de flexão foi realizado em uma máquina servocontrolada de capacidade 2000 kN usando

configuração de quatro pontos, com taxa de carregamento de 35 Kgf / s, vide figura 13 (a). As

deflexões no meio do vão foram medidas utilizando dois transdutores elétricos (LVDT),

sendo os sinais de carga e deflexão medidos com um sistema de aquisição de sinais de 32 bits,

vide figura 13 (b).

a) sistema de carregamento e aquisição b) detalhe da amostra

Figura 13. configuração do ensaio de flexão Fonte: LIMA e CUNHA (2006)

41

A partir das curvas carga-deflexão, obtidas no ensaio de flexão, alguns parâmetros foram

calculados para a avaliação da eficiência do reforço:

Resistência de primeira fissura (FCS), correspondente ao primeiro pico de fissuração;

Resistência pós-fissuração (b), determinando pela carga máxima resistida pelo

compósito após a primeira fissura;

Energia absoluta (Tn), definida pela norma japonesa JCI-JCSCE SF-4 (1983) como a área

sob a curva carga-deflexão.

Nas figuras 14 e 15 são apresentadas as curvas tensão equivalente versus deflexão para as

misturas estudadas. Já os valores médios da resistência de primeira fissura (FCS), resistência

pós-fissuração (b) e energia absoluta (Tn), com os respectivos coeficientes de variação (CV),

são mostrados na tabela 3, Fonte: (LIMA e CUNHA 2006).

Figura 14: Curva típica experimental tensão-deflexão para matriz e para laminados com

reforço manufaturado.

Figura 15: Curva típica experimental tensão-deflexão para laminados com reforço de sisal.

42

Tabela 3: Resultados experimentais

Reforço Volume de

reforço

FCS (CV)

(MPa) (%)

b (CV)

(MPa) (%)

Tn (CV)

(N/mm) (%)

Matriz - 9,56 (3,0) - 1,36 (9,7)

Fibra de sisal 2,5

5,0

10,97 (3,9)

9,73 (1,8)

6,68 (12,6)

10,77 (11,6)

17,99 (3,0)

23,88 (6,1)

Fio de sisal 2,5

5,0

12,23 (1,4)

13,87 (-)

1,43 (29,6)

1,85 (-)

8,40 (2,6)

6,59 (-)

Tela de nylon 2,5 11,21 (8,1) 8,84 (5,0) 15,56 (3,2)

Tela de aço 2,5 11,93 (3,4) 14,63 (7,3) 41,25 (10,4)

Fonte: LIMA e CUNHA (2006)

Com base nos resultados apresentados na tabela 3 pode-se concluir que a utilização de 5,0%

de fibras de sisal ou 2,5% de tela de aço nos compósitos permite um aumento da resistência

mesmo após a formação da primeira fissura, o que não acontece com os demais laminados. O

aumento do volume de fibras de sisal implicou na redução da tensão de fissuração, entretanto

verifica-se um aumento na resistência pós-fissuração e na energia absoluta. A utilização de

fios de sisal isolados mostrou-se ineficiente.

Para os laminados com 2,5% de volume de reforço, observa-se que a utilização de fibras ou

telas conduz à melhoria de todas as propriedades da matriz. O comportamento da curva

tensão-deflexão para os laminados com fibras de sisal e telas de nylon são bem similares, com

uma queda brusca de resistência após a primeira fissura e posterior aumento de resistência.

Isto reflete a baixa tensão de aderência entre esses materiais e a matriz a base de cimento

(Toledo Filho, 1997; Lima, 2004; Bentur; Mindess,1990) e também é função do baixo módulo

de elasticidade do sisal e do nylon, quando comparado com a matriz. O reforço em tela de

aço, por outro lado, possui maior aderência com a matriz e maior rigidez, propiciando um

material com comportamento quase elástoplástico com ganho de resistência.

Os laminados reforçados com fios de sisal apresentaram queda significativa de tensão após a

primeira fissura, sem posterior aumento significativo de resistência. Esse comportamento,

verificado também por Melo Filho (2005) apud LIMA (2004), foi atribuído pelo autor à

43

redução da área específica de contato fibra-matriz, quando em comparação ao reforço com

fibras isoladas.

Para avaliar a influência do volume de fibras no comportamento à flexão de compósitos com

fibras naturais, foram moldadas placas com fios e fibras de sisal com 2,5% e 5,0% de reforço.

Os resultados mostraram um ganho de resistência pós-fissuração e de tenacidade dos

compósitos laminados com fibras de sisal à medida que se aumenta o teor de fibras. Houve

um aumento de 62,23% na resistência (b) e de 32,74% na energia absoluta (Tn). Além disso,

verificou-se que com 5,0% de reforço, o laminado apresenta uma resistência pós-fissuração

maior que a resistência de primeira fissura. Para os laminados com fios de sisal não há

variação expressiva com o aumento do teor de fibras.

PASSOS (2005) também desenvolveu um estudo sobre placas compósitas utilizando misturas

com vários percentuais de fibra de coco e papel reciclado. Na Tabela 4 constam os

experimentos efetuados que foram testados e avaliados.

Tabela 4 : Experimentos para obtenção de compósitos

EXPERIMENTO ESPECIFICAÇÃO

A 100% de papel usado

B 15% de fibra de coco + 85% de papel usado (p/p)

C 20% de fibra de coco + 80% de papel usado (p/p)

D 25% de fibra de coco + 75% de papel usado (p/p)

E 30% de fibra de coco + 70% de papel usado (p/p)

Fonte: PASSOS (2005)

A metodologia produtiva deste processo descrito por PASSOS foi:

Misturar inicialmente água, fibra de coco verde e papel usado em um Refinador Bauer .

Empregando 1,5 kg de material sólido (fibra e papel) e 60 litros de água;

Colocar no refinador 57 litros de água, ligar a agitação e adicionar aos poucos a fibra de

coco e o papel, mantendo-se a agitação;

Após a adição de todos os componentes, prossegue-se com a agitação no refinador por 10

minutos;

Recolhe-se o material, através da válvula localizada no fundo do refinador, para um

recipiente plástico e, depois, transfere-se para um ―desaguadouro‖ (Figura 15)

equipamento que é formado por três compartimentos, aos quais se encaixaram três

44

molduras quadradas de 50 cm de lado com uma tela para a retenção da massa de

papel/fibras de coco, com a conseqüente formação dos compósitos propriamente ditos;

O ―desaguadouro‖ era dotado de um sistema acoplado a uma bomba de vácuo para sucção

de água dos compósitos. Em cada experimento foram produzidos três painéis de 45 cm x

45 cm para a retirada dos corpos-de-prova;

Os painéis formados (Figura 16) foram levados à estufa por 24 horas a uma temperatura

de 70°C e depois prensados a frio a uma pressão de 2,45 MPa, ficando com espessura

nominal de 2 mm, sendo submetidos, posteriormente, aos ensaios de avaliação.

²Figura 16: ―Desaguadouro‖

²Figura 17: compósito obtido com mistura de papel usado e fibra de coco verde

²Fonte: PASSOS (2005)

Os corpos de prova foram submetidos aos ensaios de Flexão Estática - Módulo de Ruptura1

(MOR); Flexão Estática - Módulo de Elasticidade2 (MOE); Resistência à tração perpendicular

à superfície da chapa – Ligação Interna3 (LI); Absorção de água – aumento de massa (AA) e

45

inchamento em espessura (IE). A Tabela 5 apresenta as médias dos resultados de todos os

testes realizados nos experimentos descritos na Tabela 4.

Tabela 5: Média dos resultados obtidos

Fibras

(%p/p)

MOR1

(MPa)

MOE2

(MPa)

LI3

(KPa)

ABSORÇÃO DE ÁGUA

Aumento de massa

(%)

Aumento de

espessura (%)

2 horas 24 horas 2 horas 24 horas

0 8,8 411 89,2 134 174 85 130

15 15,5 541 107,8 171 193 114 126

20 8,0 162 69,6 254 276 112 121

25 7,5 131 65,7 274 293 136 159

30 7,8 174 59,8 275 296 137 150

1- MOR – Módulo de ruptura Fonte: PASSOS (2005)

2- MOE – Módulo de elasticidade

3- LI – Ligação Interna

Passos concluiu neste trabalho que com 15% de fibras incorporadas, houve uma tendência ao

aumento do MOR, sugerindo uma faixa ótima entre 8% e 17%. Segundo ele o aumento

observado entre os compósitos sem adição de fibras e com 15% foi da ordem de 75%. Além

de observar que os resultados obtidos para o MOE apresentaram tendência semelhante àquela

observada para o MOR, quanto à faixa ideal para incorporação de fibras. Entretanto, o

acréscimo entre o valor medido para o compósito sem adição de fibras e o com 15% de adição

foi de aproximadamente 30%. Já os compósitos com percentuais maiores de fibras (20%, 25%

e 30%) provocaram a diminuição do valor do MOE. Quanto ao LI, os compósitos também

apresentaram tendência a um comportamento semelhante ao observado para o MOR, com um

aumento do valor entre o compósito sem fibras de coco e o com 15%, de cerca de 20%.

Diante de todos os resultados obtidos, Passos chegou a conclusão de que os compósitos com

20%, 25% e 30% de fibras, em todos os três parâmetros, MOR, MOE e LI, apresentaram

valores semelhantes dentro de cada um dos testes. A absorção de água, tanto para o aumento

de massa quanto para o aumento em espessura, teve tendência a aumentar proporcionalmente

ao aumento do percentual de fibras, tendendo a estabilizar a partir de 20% de fibras.

46

4. PROJETO: HABITAÇÃO COM FIBRA VEGETAL

Desenvolvemos o projeto arquitetônico de uma habitação com área de 41,42 m². Este sistema

consiste em peças estruturais (pilares) pré-moldados em concreto-armado e painéis para

fechamento das paredes, pré-fabricados, reforçados com fibras longas de sisal. Além de telhas

em fibrocimento vegetal. O projeto arquitetônico completo encontra-se no apêndice.

4.1. ESPECIFICAÇÃO TÉCNICA DO SISTEMA CONSTRUTIVO

4.1.1. Painéis

Para a produção de placas reforçadas com malha de sisal ou fibras isoladas, Person e

Skarendahl apud LIMA (2004), classificam os métodos de produção em três níveis, a

depender do desenvolvimento tecnológico empregado, são eles: nível manual; escala semi-

industrial e mecanizado.

Para a produção dos painéis idealizados neste projeto pode-se empregar o processo semi-

industrial. Sendo utilizada fibras curtas de sisal dispersas na matriz cimentícia , e uma

porcentagem de 20% (em relação a massa de cimento) de metacaulinita.

Os painéis idealizados apresentam 2 tipos de encaixes, são eles:

Encaixe entre painéis com alinhamento a 0º, tipo macho-fêmea, que facilita a montagem e

o alinhamento entre elas, sendo aplicada uma fina camada de nata de cimento entre elas;

Encaixe específico para ligação painel–pilar, sendo aplicado uma fina camada de nata de

cimento entre a ligação;

No projeto arquitetônico os painéis estão divididos em algumas classes, que dependem do tipo

de ligação e da dimensão, tendo então as seguintes subdivisões:

47

Classificações dos painéis:

Painéis P * : os painéis que apresentam uma ligação com os pilares;

Painéis P**: são os que apresentam duas ligações com os pilares;

P20, P50, P60... : são os painéis com indicação da largura em centímetro;

Painéis Janela: são os painéis localizados na região superior e inferior das janelas;

Painéis porta: são os painéis localizados na região superior das portas;

Painéis basculantes: são os painéis localizados na região superior e inferior dos

basculantes.

Na tabela 6 encontram-se todas as especificações dos painéis, como dimensões, quantidades,

tipo de encaixe e a descrição de onde os painéis estão localizados.

Tabela 6: Especificações dos painéis Tipo do

Painel

Dimensões

(L x C x E)

(cm)

Quantid.

Total

Volume

Total

(m³)

Tipo de

encaixe

Especificação

Painel

janela

60 x 50 x 5 12 0,18 Macho-fêmea Parte inferior: 04 painéis

por janela

60 x 70 x 5 06 0,126 Macho-fêmea Parte superior: 02

painéis por janela

Painel

porta

(70 x 210)

70 x 70 x 5 04 0,098 Macho-fêmea Parte superior: 01 painel

por porta

Painel

porta

(60 x 210)

40 x 70 x 5 01 0,014 Macho-fêmea Parte superior: 01 painel

por porta

Painel

Basculante

60 x 70 x 5 04 0,084 Macho-fêmea Parte inferior: 02 painéis

por basculante

60 x 50 x 5 04 0,06 Macho-fêmea Parte superior: 02

painéis por basculante

48

Painéis de

vedação

do

banheiro

50 x 50 x 5

20

10

0,25

0,125

Painel / pilar

Macho-fêmea

Alguns painéis estão

encaixados nos pilares,

conforme projeto.

20 x 50 x 5

10

10

0,05

0,05

Pilar / livre

Painel / pilar

Os painéis da região da

porta têm 01 bordo livre

e outro encaixado no

pilar.

Painéis de

vedação

demais

cômodos

20 x 70 x 5

8

8

0,056

0,056

Pilar / livre

Painel / pilar

Os painéis da região da

porta têm 01 bordo livre

e outro encaixado no

pilar.

25 x 70 x 5

04

12

0,035

0,105

Painel / pilar

Pilar / livre

Os painéis da região da

porta têm 01 bordo livre

e outro encaixado no

pilar ou em painel.

50 x 70 x 5

28

40

0,49

0,70

Painel / pilar

Macho-fêmea

Alguns painéis estão

encaixados nos pilares,

conforme projeto.

60 x 70 x 5 24

44

0,504

0,924

Painel / pilar

Macho-fêmea

Alguns painéis estão

encaixados nos pilares,

conforme projeto.

70 x 70 x 5

04

08

08

0,098

0,196

0,196

Painel / pilar

Pilar / livre

Macho-fêmea

Alguns painéis estão

encaixados nos pilares,

conforme projeto.

40 x 70 x 5

04 0,014 Pilar / Pilar Estes painéis apresentam

dupla ligação entre

pilares. **

VOLUME TOTAL 4,411

49

4.1.2. Pilares

Os pilares são pré-fabricados em concreto armado, nas dimensões de 20 x 20 cm, estes pilares

apresentam uma geometria diferenciada devidos os encaixes dos painéis.

Os pilares são classificados em:

PC2: são os pilares com dois encaixes, cada encaixe com profundidade de 4 cm;

PC3: são os pilares com três encaixes, cada encaixe com profundidade de 4 cm.

Todos os detalhes construtivos encontram-se no projeto que está no apêndice.

4.1.3. Telha Ecológica com fibra de sisal

A idéia é a produção de um tipo de telha, denominada de telha ecológica, que é produzida

com material 100% natural. Fabricada a partir de fibra vegetal (sisal) e impermeabilizada com

betume (mistura natural de hidrocarbonetos). O objetivo é desenvolver telhas nas dimensões:

2000 x 950 x 3 mm

O processo de fabricação desse tipo de telha pode ser semelhante ao empregado por PASSOS

(2005). Entretanto, idealizamos telhas cujo reforço seja de fibra de sisal.

O processo de fabricação das telhas pode ter as seguintes etapas:

a) Trituração de papel e formação de polpa de resíduo de sisal;

b) Mistura da polpa de papel com fibras curtas de sisal;

c) Formação da manta e moldagem das telhas;

d) Secagem e corte das aparas das telhas;

e) Impermeabilização das telhas.

50

Sistema de montagem das telhas:

Fixada sobre madeiramento leve, com espaçamento de 50 cm, utilizando caibros com

medida de 5 x 6 cm (largura x altura);

Tesoura em madeira na fachada frontal e no fundo para sustentação do telhado;

Inclinação de 20%;

Beiral (sem apoio) de 10 cm.

4.2. ESPECIFICAÇÃO TÉCNICA DA UNIDADE HABITACIONAL

Resumo

Padrão Habitacional Popular

Cômodos: sala, cozinha, sanitário, 2 quartos, circulação;

Área construída: 41,42 m²

Terreno mínimo: 8,00 x 6,00 m

a) Fundação

No estudo levou-se em conta a execução de lajes de cobertura, apenas para o banheiro, e por

isto a sobrecarga de lajes sobre as fundações foi desconsiderada.

Por se tratar de habitações de interesse social de um pavimento o tipo de fundação

recomendado, inclusive por questões econômicas, sãos as fundações diretas ou superficiais,

como por exemplo, alvenaria em pedra argamassada ou sapata corrida (em concreto armado).

b) Cômodos

Sala

Piso: cimentado liso;

Parede: painéis modulares;

Teto: Telhado em fibrocimento vegetal;

Porta: 70 x 210 cm;

Janela: 120 x 110 cm;

51

Circulação

Piso: cimentado liso

Parede: painéis modulares em fibras vegetais;

Teto: Telhado em fibrocimento vegetal.

Quartos

Piso: cimentado liso;

Parede: painéis modulares;

Teto: Telhado em fibrocimento vegetal;

Porta: 70 x 210 cm;

Janela: 120 x 110 cm.

Cozinha

Piso: cimentado liso;

Parede: painéis modulares;

Teto: Telhado em fibrocimento vegetal;

Porta: 70 x 210 cm;

Basculante: 60 x 40 cm.

Banheiro

Piso: cimentado liso;

Parede: painéis modulares;

Teto: Cobertura de laje para sustentação do reservatório;

Porta: 60 x 210 cm;

Basculante: 60 x 40 cm.

52

c) Instalações

A rede de instalações elétricas podem ser feitas por fora dos painéis, fixando-os a estrutura

por meio de braçadeiras. Da mesma maneira, pode-se proceder à fixação das instalações

sanitárias.

d) Madeiramento para cobertura

Pode-se colocar duas tesouras para resistir aos esforços da cobertura e transmiti-los paras os

pilares, esses esforços são transmitidos para as tesouras através de caibros de madeira serrada

de comprimento igual ao vão a ser coberto, nas dimensões de 5 cm de largura por 6 cm de

altura.

e) Cobertura

A idéia para este sistema habitacional é utilizar telha ecológica nas dimensões já especificada

no capítulo anterior.

53

5. CUSTOS DE PRODUÇÃO

Descrever os custos de um material que ainda não está sendo produzido em escala de

produção comercial é uma tarefa árdua. Mas este capítulo tem como finalidade realizar um

levantamento de custos de produção das telhas e painéis idealizados neste trabalho, além de

realizar um comparativo de custos destes materiais com alguns que são comercializados.

5.1. TELHAS

Tabela 7: Custo dos materiais das telhas

Matéria-prima Quantidade

em massa

(kg)

Preço por Kg

(R$)

Preço por Telha

(R$)

25% de fibra 0,750 0,99 0,75

75 % de papel 2,250 2,25 5,10

Cimento asfáltico

3,00

1,20

3,60

TOTAL POR TELHA IMPERMEABILIZADA 9,45

A fibra longa de sisal está sendo comercializada no atacado atualmente a 0,99 R$ / kg,

segundo dados da CONAB [7]. Se fizermos uma analogia aos custos de produção mostrados

por PASSOS (2005), uma telha de 2000 x 950 x 3 mm impermeabilizada com cimento

asfáltico e produzida com 25% de fibras de sisal e o restante de papel usado, teríamos um

custo de R$ 9,45 e o custo por metro quadrado sairia por R$ 4,97.

A tabela 8 mostra um comparativo dos preços comerciais de algumas telhas. Existem dois

tipos de telhas de fibrocimento vegetal mostrado nesta tabela, a primeira é a telha que está

sendo comercializada, a outra é a telha que foi idealizada neste trabalho onde só consta o

custo da matéria-prima para produção da mesma. Os preços das demais telhas foram

adquiridos na revista Mercado e Construção de Maio de 2007.

54

TABELA 8: Comparativo de preços das telhas

TIPO DE TELHA UNIDADE PREÇO

Cerâmica Colonial¹

(25 UN / m2)

m2

13,81

Custo comercial

Aço²

Ondulada Galvanizada

(0,43 x 912) mm

espessura x largura

m2

17,76

Custo comercial

Fibrocimento³

(1850 x 500 x 8) mm

comprimento x largura x espessura

m2

59,31

Custo comercial

Fibrocimento vegetal*

(2000 x 950 x 3) mm

comprimento x largura x espessura

m2

11,55

Custo comercial

Fibrocimento vegetal**

(2000 x 950 x 3) mm

comprimento x largura x espessura

m2

4,97

Custo dos materias

1,2,3 Fonte Revista Mercado e Construção (Maio 2007)

* Telha comercializada e disponível em [4];

** Telha idealizada neste trabalho.

55

5.2. PAINÉIS

Tomamos como base para elaboração do orçamento dos painéis, a produção de um painel que

apresenta as dimensões 60 x 50 x 5 cm. Sabendo que o volume total de um painel está

dividido em:

5% de fibra longa de sisal;

30 % de cimento (sendo 20% de metacaulinita);

30% de areia;

35% água.

Tabela 9: Custo dos materiais dos painéis

Especificação Unidade Quantidade Preço Unit

(R$)

Preço Total

(R$)

Cimento CPII F32 kg 10,98 0,35 3,84

Areia seca m³ 4,5 x 10-3

32,00 0,15

Fibra de sisal Kg

1,03

0,99

1,02

Metacaulinita Kg 2,75 1,26 3,47

TOTAL GERAL 8,48

Este valor de 8,48 é o valor estimado pra produzir uma placa com as dimensões de (60 x 50 x

5) cm. Neste valor não está sendo levando em consideração o custo com energia elétrica, água

e mão de obra. Os preços dos materiais foram adquiridos na revista Mercado e Construção de

Maio de 2007. O preço da fibra longa de sisal foi adquirido no site da CONAB [7]. O preço

da metacaulinita foi adquirido em [9].

56

6. CONCLUSÃO

A indústria da construção civil engloba vários sub setores que vai da produção de materiais,

passando pela construção residencial e obras de infra-estrutura. O setor da construção civil é

considerado de grande importância no avanço econômico e social de um país, principalmente

no Brasil. Podemos perceber esta afirmação quando verificamos a participação do PIB

nacional e na geração de empregos do setor.

Quando analisamos o sub setor da habitação, verificamos que as necessidades habitacionais

brasileiras estão ainda longe de serem atendidas de maneira satisfatória. Mesmo com

inúmeros esforços desenvolvidos nesta área, observa-se carências que estão se tornando

desafios para a sociedade nos próximos anos. Ao lado do déficit de moradias, historicamente

alto, percebe-se que, para as populações que já conseguiram adquirir habitação, a necessidade

de realização de melhorias e expansões é constante, sobretudo nas faixas da população de

baixa renda que são objeto das políticas e programas de interesse social.

Segundo os pesquisadores da questão habitacional, a mudança observada nos modos de vida

das populações urbana ao longo dos últimos anos tem intensificado a necessidade do

conhecimento aprofundado sobre a dinâmica familiar e as necessidades daí decorrentes, em

termos de habitação. A evolução no ciclo de vida das famílias, com o surgimento de novas

formas de convivência familiar, interpõe ao mesmo tempo novas necessidades de espaços que

anteriormente não eram considerados. Estas mudanças nos modos de vida contribuem, ao lado

dos aspectos econômicos, para a evolução do conceito de Inadequação Habitacional, como

fundamento na visão do problema da expansão de habitações de interesse social.

Na tentativa de buscar soluções para amenizar seu problema habitacional, na maioria das

vezes a população de baixa renda realiza construções sem critérios técnicos, resultando em

soluções de baixa qualidade construtiva e de conforto para si próprios. Nesta perspectiva,

portanto, se compreende a relevância dos trabalhos voltados à solução ou redução do déficit

habitacional, através do estudo e aplicação de conceitos que, sem a pesquisa, podem continuar

restritos aos setores mais privilegiados do mercado habitacional.

57

Neste trabalho foi apresentado o projeto de um sistema habitacional voltado para a população

de baixa renda, que consiste no emprego de fibras vegetais nos painéis de vedação e telhas de

uma habitação, com o intuito de reduzir o custo final destas habitações. Além disso, este

trabalho contempla um outro fator relevante que é a questão ambiental, que atualmente é

considerada um dos principais desafios a ser equacionados pelo setor da construção. Por isso,

ações do setor voltadas para a preservação do meio ambiente contribuem para o

estabelecimento de um modelo de desenvolvimento sustentável.

Entretanto, o emprego de fibras vegetais ainda traz consigo algumas dificuldades associadas

ao uso em compósitos à base de cimento e, por isso, há a necessidade de estudos e

aperfeiçoamento desta tecnologia. As pesquisas voltadas para os materiais alternativos vêm

sendo realizadas desde o início da década de 80, quando o principal objetivo era desenvolver

um material que substituísse o fibrocimento a base de amianto. Mas até hoje nenhum

pesquisador conseguiu produzir um compósito com fibras manufaturadas ou vegetais com as

mesmas propriedades do compósito com fibras de asbestos. Por isso, os estudos realizados

nas últimas décadas demonstram que o asbesto não pode ser substituído por outro tipo de

fibra sem sacrificar algumas de suas propriedades. Segundo Balaguru e Shah apud LIMA

2004 ―o asbesto não poderá ser substituído por uma única fibra para todos os tipos de

aplicações‖. Logo, atualmente tem-se por objetivo desenvolver um produto que atenda a

resistência e a durabilidade para aplicações específicas.

A relevância e a importância deste trabalho se dá pelo fato de que as fibras vegetais, além de

serem ecologicamente viáveis, surgem como boa opção para redução dos custos dos materiais

de construção empregados na habitação. Além da disponibilidade e custos adequados, podem

ser usadas na produção de novos fibrocimentos que venham a substituir o cimento amianto

como material para produção de componentes esbeltos reforçados.

58

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APÊNDICES

63

PROJETOS

APÊNDICE A - Planta baixa 64

APÊNDICE B - Planta baixa modulada 65

APÊNDICE C - Corte AA 66

APÊNDICE D - Corte BB 67

APÊNDICE E - Detalhes construtivos 68

APÊNDICE F - Fachada frontal 69

26

TABELA 1: Valores de algumas propriedades físicas e mecânicas das fibras de sisal e coco

Toledo Filho (1990)

Brasil

CEPED (1982)

Brasil

Chand (1988)

Mukherjee (1986)

Índia

Sisal coco Sisal Coco Sisal Coco Sisal Coco

Diâmetro

(mm)

0,08 - 0,3 0,2 - 0,4 - - 0,05 - 0,3 0,1 - 0,4 0,1 - 0,3 0,1 - 0,4

Comprimento

(cm)

38 - 94 6 - 23 - - - - - -

Peso Específico

(kN / m³)

7,5 - 11 6,7 - 10 12,7 10,8 14,5 11,5 14,5 11,5

Absorção de água

(%)

190 - 250 85 - 135 240 127 - - - -

Resistência à

Tração

(MPa)

227 - 1002 108 - 174 458 180 530 - 640 131 - 175 530 - 630 106 - 175

Deformação na

ruptura

(%)

2,1 – 4,2 13,7 - 41 4,2 29 3 - 7 15 - 40 4,3 15

Módulo de

Elasticidade

(MPa)

11 - 27 2,5 - 4,5 15,2 2,8 9 - 22 4 - 6 17 - 22 3 - 6