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PROJECTOS & ESTALEIROS Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 2007 Tema de Capa A intervenção proposta para os es- paços exteriores do Adro e Envol- vente do Santuário do Bom Jesus do Monte surge na sequência do "Plano de Ordenamento da Estância do Bom Jesus do Monte" (Farinha Marques, P. e Dias Costa, M. J., 1998). Integra- -se numa das fases de pormenoriza- ção indicadas por este trabalho. surreição, unificando o Percurso Sa- grado; 3) ordenar a envolvente ao nível de pavimentos e circulações (pedonal e automóvel). A filosofia de abordagem assenta em princípios que orientam a inter- venção em paisagens históricas, os quais pressupõem acções discretas, sustentáveis e minimalistas. Neste processo pretende-se a manutenção e celebração dos referenciais históri- cos e dos valores culturais e naturais adquiridos que hoje tornam essas paisagens distintas e patrimoniais. O Adro da Igreja do Bom Jesus nun- ca chegou a ser rematado, apesar de existirem desenhos e intenções ante- riores para levar a cabo esta tarefa (Carlos Amarante no fim do séc. XVIII e Januário Godinho no séc. XX). Januário Godinho (1963) alude que o projecto de Carlos Amarante chegou a ser parcialmente executa- do tendo sido posteriormente des- truído. Não fica claro, no entanto, se esta descrição se refere ao Adro exis- tente ou ao projectado por Amarante, não havendo de momento nenhum outro dado em nossa posse que per- mita clarificar esta indicação. A intervenção apresentada respon- de ao programa apresentado pela Confraria do Bom Jesus do Monte: 1) o desejo de ver adoptada uma solução similar à desenhada por Carlos Amarante; 2) a localização de mais quatro estátuas alusivas ao ce- nário da Crucificação; 3) pavimen- tação em lajeado de granito. A equipa desenvolveu uma abor- dagem contemporânea, que inter- preta e conjuga a linguagem tardo- -barroca do espaço existente com Os objectivos desta proposta de in- tervenção, desenvolvida pela equi- pa constituída por Maria João Dias Costa, Paulo Farinha Marques, Ma- ria Cristina Marques e Maria do Céu Lira, podem resumir-se nos se- guintes pontos: 1) rematar a forma do Adro existente; 2) ligar os Passos da Crucificação aos Paços da Res- Santuário do Bom Jesus do Monte Projecto de Arquitectura Paisagista para o Adro e Envolvente da Igreja 26 Plano geral de intervenção para a recuperação do Santuário do Bom Jesus do Monte BOM JESUS DO MONTE2.QXD 10-08-2007 16:44 Page 1

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PROJECTOS & ESTALEIROS

Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 2007

Tema de Capa

A intervenção proposta para os es-paços exteriores do Adro e Envol-vente do Santuário do Bom Jesus doMonte surge na sequência do "Planode Ordenamento da Estância do BomJesus do Monte" (Farinha Marques,P. e Dias Costa, M. J., 1998). Integra--se numa das fases de pormenoriza-ção indicadas por este trabalho.

surreição, unificando o Percurso Sa-grado; 3) ordenar a envolvente aonível de pavimentos e circulações(pedonal e automóvel).A filosofia de abordagem assentaem princípios que orientam a inter-venção em paisagens históricas, osquais pressupõem acções discretas,sustentáveis e minimalistas. Nesteprocesso pretende-se a manutençãoe celebração dos referenciais históri-cos e dos valores culturais e naturaisadquiridos que hoje tornam essaspaisagens distintas e patrimoniais.O Adro da Igreja do Bom Jesus nun-ca chegou a ser rematado, apesar deexistirem desenhos e intenções ante-riores para levar a cabo esta tarefa(Carlos Amarante no fim do séc.XVIII e Januário Godinho no séc.XX). Januário Godinho (1963) aludeque o projecto de Carlos Amarantechegou a ser parcialmente executa-do tendo sido posteriormente des-truído. Não fica claro, no entanto, seesta descrição se refere ao Adro exis-tente ou ao projectado por Amarante,não havendo de momento nenhumoutro dado em nossa posse que per-mita clarificar esta indicação.A intervenção apresentada respon-de ao programa apresentado pelaConfraria do Bom Jesus do Monte:1) o desejo de ver adoptada umasolução similar à desenhada porCarlos Amarante; 2) a localização demais quatro estátuas alusivas ao ce-nário da Crucificação; 3) pavimen-tação em lajeado de granito.A equipa desenvolveu uma abor-dagem contemporânea, que inter-preta e conjuga a linguagem tardo--barroca do espaço existente com

Os objectivos desta proposta de in-tervenção, desenvolvida pela equi-pa constituída por Maria João DiasCosta, Paulo Farinha Marques, Ma-ria Cristina Marques e Maria do CéuLira, podem resumir-se nos se-guintes pontos: 1) rematar a formado Adro existente; 2) ligar os Passosda Crucificação aos Paços da Res-

Santuário doBom Jesus do Monte

Projecto de Arquitectura Paisagistapara o Adro e Envolvente da Igreja

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Plano geral de intervenção para a recuperação do Santuário do Bom Jesus do Monte

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PROJECTOS & ESTALEIROS

Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 2007

Tema de Capa

desenho de Amarante sintetizadopor Januário Godinho. Evitou-se arecriação histórica literal que só fa-ria sentido se fosse suportada porregistos óbvios da existência préviade um adro construído.O desenho proposto e manifestadono Plano Geral, recorre a geometriasdadas pelas existências construídas,e ajusta-as às estátuas presentes eaos encontros com as escadas late-rais da Igreja, localizando aindaquatro novas estátuas. O Adro de-limita-se a nascente, para ambos oslados da Igreja, por baixos muros desuporte em grandes pedras apare-lhadas de granito, que se desenvol-vem desde a cota mais alta das es-cadas laterais da Igreja até a uma cotabaixa, junto às estátuas de Caifás ePilatos. Aí assumem o carácter de pe-quenos degraus que marcam a entra-da no Adro. Estas estruturas relacio-nam as estátuas sem lhes tocar, dis-tinguindo passado do presente. A zona com maior desnível é re-matada por uma sebe talhada deteixo (Taxus baccata), a qual acompa-nha o muro da cota alta à cota baixa,

Passos; 2) corte da circulação auto-móvel neste local, impedindo que es-tes cruzem a Via Sacra. Cria-se assim uma vasta área pe-donal na envolvente imediata aoAdro, que no entanto mantém apossibilidade de circulação de veí-culos prioritários, pela instalação dedissuasores metálicos rebatíveis.Ao longo do novo caminho lajeadoque liga os Passos, e para acentuar aligação acima referida, planta-seuma pequena alameda de carvalhosroble (Quercus robur). As árvores pro-postas, de porte e crescimento ade-quados aos espaços e ritmos do San-tuário, localizam-se de modo a nãointerferir com as estátuas do Adro.Detêm ainda significativo valorautóctone, sensorial e referencial.

criando costas ao Adro e algumaclausura na sua envolvente imediata,não comprometendo, contudo, a vis-ta para planos mais afastados.O chão do Adro desenhou-se emgrandes lajes de granito igual ao dasescadas da Igreja, com uma estereo-tomia em espinha.Os lugares para implantar as quatronovas estátuas estão previstos nodesenho apresentado. Sugere-se quesejam esculpidas com uma lingua-gem plástica actual, mantendo asmesmas proporções das existentes ecelebrando o dramatismo e o movi-mento barrocos. Em relação às per-sonagens a incluir, e seguindo a ori-entação dos Evangelhos, propomosque sejam Maria, Mãe de Jesus, Ma-ria Madalena, Maria, Mãe de Tiago,e João, o Evangelista, incontor-náveis protagonistas da Paixão deCristo.Para consumar a unidade do Percur-so Sagrado, ligando espacialmente osPassos da Crucificação aos Passos daRessurreição, tomaram-se duas deci-sões determinantes: 1) criação de umpercurso em linha recta ligando os

PAULO FARINHA MARQUES,Arquitecto Paisagista e Professor Auxiliarda Universidade do Porto,Membro CIBIO/ICETA

MARIA JOÃO DIAS COSTA,Arquitecta Paisagista do Mosteirode S. Martinho de Tibães

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASFarinha Marques, P. e Dias Costa, M. J. (1998). Planode Ordenamento da Estância do Bom Jesus do Monte.Confraria do Bom Jesus do Monte, Braga.Godinho, Januário (1963). Projecto de Conclusão doAdro Fronteiro ao Templo - Memória Descritiva eJustificativa. Confraria do Bom Jesus do Monte,Braga.

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