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Jean-Paul Sartre nasceu em Paris a 21-06-1905 - 15- 04-1980, ataque cardíaco. Estudou desde 1924 na École Normale Supérieure. Em 1931 foi nomeado professor de filosofia em Le Havre; em 1937, no Lycée Pasteur, em Paris. Convocado para o serviço militar em 1939, foi em 1940 prisioneiro dos alemães. Libertado em 1941, voltou para Paris, lecionando no Lycée Condorcet e participando da Resistência. Depois da guerra, em 1945, foi licenciado por tempo indeterminado. Chefe dos grupos existencialistas no bairro de St. Germain-des-Prés, fundou a revista literária e política Les Temps Modernes (Os Tempos Modernos), além de escrever para o jornal de Paris Libértacion, da esquerda. VIDA Parece que sua primeira infância foi um período feliz, em que desfrutou do carinho dos avós maternos, em cuja residência ele e sua mãe foram morar, e do companheirismo materno, que tornava a relação de ambos mais próxima à de irmãos, do que de uma relação entre mãe e filho. Quando tinha doze anos de idade, sua mãe se casa com Joseph Mancy, para horror de Sartre, que deixaria de ser o foco das atenções de Anne-Marie. O padrasto representaria para Sartre, uma espécie de tipo ideal de representação tanto do padrasto malvado, quanto da burguesia que tanto enojaria Jean-Paul Sartre. Viveu a adolescência própria dos meninos prodígio, feio e com "cara-de-sapo", era ao mesmo tempo "gênio

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Jean-Paul Sartre nasceu em Paris a 21-06-1905 - 15-04-1980, ataque cardaco

Jean-Paul Sartre nasceu em Paris a 21-06-1905 - 15-04-1980, ataque cardaco. Estudou desde 1924 na cole Normale Suprieure. Em 1931 foi nomeado professor de filosofia em Le Havre; em 1937, no Lyce Pasteur, em Paris. Convocado para o servio militar em 1939, foi em 1940 prisioneiro dos alemes. Libertado em 1941, voltou para Paris, lecionando no Lyce Condorcet e participando da Resistncia. Depois da guerra, em 1945, foi licenciado por tempo indeterminado. Chefe dos grupos existencialistas no bairro de St. Germain-des-Prs, fundou a revista literria e poltica Les Temps Modernes (Os Tempos Modernos), alm de escrever para o jornal de Paris Librtacion, da esquerda.

VIDA

Parece que sua primeira infncia foi um perodo feliz, em que desfrutou do carinho dos avs maternos, em cuja residncia ele e sua me foram morar, e do companheirismo materno, que tornava a relao de ambos mais prxima de irmos, do que de uma relao entre me e filho.

Quando tinha doze anos de idade, sua me se casa com Joseph Mancy, para horror de Sartre, que deixaria de ser o foco das atenes de Anne-Marie. O padrasto representaria para Sartre, uma espcie de tipo ideal de representao tanto do padrasto malvado, quanto da burguesia que tanto enojaria Jean-Paul Sartre.

Viveu a adolescncia prpria dos meninos prodgio, feio e com "cara-de-sapo", era ao mesmo tempo "gnio e bode expiatrio da turma e alvo constante das chacotas e maldades tpicas da adolescncia.

Aos 19 anos, aprovado no exame do ensino secundrio, Sartre garante sua vaga no curso de filosofia da Escola Normal Superior. Entre os seus contemporneos Maurice Merleau-Ponty, Claude Lvi-Strauss, Simone Weil e Simone de Beauvoir. Este ambiente foi a estufa de sua genialidade.

Em Simone de Beauvoir, Sartre recuperou a figura irm-me de sua infncia. Os dois logo se tornaram amantes, desenvolvendo uma relao que envolvia reciprocidade de crticas agudas e profundas, bem como de conselhos prticos.

Em 1934, de volta a Paris, Sartre comea a redigir suas investigaes fenomenolgicas e, persuadido por Beauvoir, transforma suas anotaes no romance que viria a se transformar em A Nusea (publicado em 1938) um romance filosfico, nem abstrato, nem didtico, que visa evocar a prpria sensao da existncia - um mergulho na conscincia.

De fato, A Nusea e O Muro (coletnea de contos, lanados no mesmo ano) seriam recebidos com aclamao crtica, transformando Sartre na mais promissora figura literria da Rive Gauche. Em 1939 publica O esboo de uma teoria das emoes, que aumenta seu prestgio intelectual, embora no tenha sido recebida com tanto entusiasmo.

Esse perodo coincide com a iminncia da Segunda Guerra, sobre a qual Sartre afirmava se tratar de "um blefe de Adolf Hitler"[vii]. Por haver estado em Berlim, afirmava conhecer o estado de esprito do povo alemo, duvidava que Hitler entrasse em guerra. Vinte e quatro horas depois, Hitler invadiria a Polnia e Sartre seria convocado pelo exrcito francs.

"A Guerra dividiu a minha vida em duas"[viii], afirmaria um Sartre que teve toda a sua percepo transformada pelo evento da guerra. Curiosamente enquanto servia ao exrcito francs numa estao meteorolgica, dedicava-se leitura de Heidegger. A impenetrvel metafsica do alemo absorveu Sartre completamente, pois ele visava escrever uma obra de filosofia realmente grande.

Sob a luz (ou trevas?) da guerra, o pensamento existencialista de Sartre evoluiu rapidamente. Lanando suas razes tanto para o empirismo de Hume, quanto para o racionalismo de Descartes, mostrando todas as suas implicaes. Desenvolve com radicalidade o conceito da liberdade humana, ante o absurdo. O existencialismo mergulha a filosofia na ao, tornando-se quase uma estratgia de vida.

Quando Sartre se torna prisioneiro do exrcito alemo, prossegue com seu programa de leituras de Heidegger, em sua terra natal. Ele possua a chave que levaria o existencialismo a dar o passo seguinte Fenomenologia de Husserl. A noo da certeza ltima firmada no daisen (ser-a) e no no conhecimento, expressa em sua obra "Ser e Tempo", possui conceitos at hoje indecifrveis, cheios de seriedade e profundamente germnicos. Sartre compreendeu que a profunda anlise heideggeriana do ser deveria se desviar do pensamento para a ao, retorna a Kierkgaard e Paris.

Sua libertao se d por motivos humanitrios e graas a um atestado mdico falso que conseguira comprar. Em 1941, na triste Paris ocupada pelos nazistas, Sartre recupera seu emprego de professor, aluga um apartamento prximo ao de Beauvoir e se pe a escrever sua obra-prima "O Ser e o Nada", publicada em 1943.A obra causou grande impacto nos crculos filosficos da Frana, varrendo os cafs do Quartier Latin e a Rive Gauche, popularizando os lemas niilistas do existencialismo.

Quando a guerra termina, em 1945, o cenrio de uma Europa destruda, se torna o pano de fundo propcio compreenso da filosofia existencialista, pois ela falava daquela situao absurda na linguagem do momento. A Frana, humilhada e carente de heris, elegeu Sartre o cone de sua resistncia cultural. Chegou mesmo a escrever um livro que explicasse o existencialismo em termos mais acessveis( O existencialismo um humanismo - 1946), em razo da demanda popular.

O existencialismo e Sartre se tornaram ento, produto francs, tipo exportao. Ambos alcanaram fama em toda a parte. Mas Sartre no se vendeu aos conceitos burgueses de fama e sucesso. Fazia questo de ser imprevisvel. Escrevia, escrevia e escrevia, chegando a apelar para a "vida qumica", que lhe proporcionava a comodidade de manter-se ligado, e desligar-se quando no houvesse mais foras. (Sartre precedeu a Aldous Huxley no uso da mescalina). Nesse caso Simone o levava de frias, ao tempo que Sartre entretinha alguma jovenzinha deslumbrada por seu intelecto.

Seu pensamento continua em evoluo. Entende que a liberdade do indivduo, embora seja uma atitude sustentvel em termos de filosofia, dificilmente seria plausvel em termos sociais. Em O existencialismo um humanismo, a compreenso sartriana da liberdade individual se estabelece em termos de responsabilidade social, de engajamento. Isso somado sua natural antipatia pela burguesia, o aproximou do socialismo, embora ele no de admitisse marxista. Porm em 1952, Sartre torna-se marxista, afirmando que "o marxismo reabsorveu o homem na idia, e o existencialismo o procura por toda parte onde ele esteja - no trabalho, em casa, na rua"[ix]. No ingressou em nenhum partido, pois seu individualismo no o permitiria.

Suas relaes com o marxismo se delinearam teoricamente na obra Crtica Razo Dialtica(1960), refletindo em muito o historicismo marxista, cuja crtica determinista do desenvolvimento da civilizao e a dialtica o atraem intelectualmente.

Em 1964 agraciado com o Prmio Nobel de Literatura, ao qual rejeitou, afirmando que "o escritor no se deve deixar transformar pelas instituies"[x]. Sua revista Les Tempes Modernes, tornou-se sua voz na Frana e no mundo, nela Sartre faz pronunciamentos sobre fatos contemporneos. Os extremistas de direita queriam sua morte, a polcia sua priso, mas ele tinha no general DeGaulle um aliado que afirmava ser Sartre um grande homem da histria e ainda, que no se poderia "prender Voltaire".

A dcada de 70 marcada pelos problemas de sade, preo que teve que pagar por sua opo de "vida qumica". Assistido de perto por Beauvoir e por um squito de jovenzinhas existencialistas, Sartre ficava cada vez mais debilitado. Falece em 15 de abril de 1980, aos 74 anos.

Seu enterro foi um acontecimento que atraiu quase 25 mil pessoas. O cortejo percorreu o Quartier Latin e a Rive Gauche, lugares marcantes de sua vida, onde produziu, viveu e de onde concebeu o pensamento que seria de toda uma gerao. Movimentos radicais em todo o mundo inspiraram-se em seus escritos, embora suas leituras sobre os fatos continuassem mais como idia do que como realidade. "A estava de fato, uma existncia ftil num mundo absurdo".

Sua produo intelectual foi fortemente marcada pela Segunda Guerra Mundial e pela ocupao nazista da Frana. Podemos dizer que h um Sartre de antes da guerra e outro ps-guerra, de tal forma o impacto da Resistncia Francesa agiu sobre sua concepo poltica de engajamento. A noo de engajamento significa a necessidade de um determinado pensador estar voltado para a anlise da situao concreta em que vive, tornando-se solidrio nos acontecimentos sociais e polticos de seu tempo. Pelo engajamento, a liberdade deixa de ser apenas imaginria e passa a estar situada e comprometida na ao. Assim, ao escrever a pea de teatro As moscas, que versa sobre o tema do mito grego de Orestes e Electra, Sartre na verdade faz uma alegoria ocupao alem em Paris. Com essa obra, inaugura o chamado "teatro de situao".

Ao lado de Simone de Beauvoir, tambm filsofa existencialista e sua companheira de toda a vida, Sartre participou da vida poltica no s da Frana, mas mundial. Apesar de marxista, nunca deixou de criticar o autoritarismo, sobretudo quando as foras soviticas invadiram a Tchecoslovquia. Saa rua em protestos e, com a impunidade que lhe conferia a sua figura de cidado do mundo, vendia nas esquinas La Cause du Peuple (A Causa do Povo), jornal maosta, sem que ningum ousasse prend-lo.

Sartre pertence ala dos filsofos existencialistas ateus, entre os quais se inclui Merleau-Ponty; na ala crist, est Gabriel Marcel.

Cronologia

1905 Jean-Paul Sartre nasce em paris, a 21 de junho.

1907 Morte de seu pai. Muda-se para a casa do av materno, em Meudon; retorna a Paris quatro anos depois.

1917 Em novembro, os comunistas conquistam o poder na Rssia.

1922 Mussolini, na Itlia, instaura o regisme fascista.

1924 Sartre matricula-se na Escola Normal Superior, em Paris. Conhece Simone de Beauvoir.

1931 nomeado professor de filosofia no Havre.

1933 Hitler instaura o regime nazista na Alemanha.

1936 Sartre publica A Imaginao e A Transcendncia do Ego.

1938 Eclode a II Guerra Mundial.

1940 Servindo na guerra, Sartre feito prisioneiro pelos alemes e enviado a um campo de concentrao.

1941 Liberto, volta Frana e entra para a Resistncia. Funda o movimento Socialismo e Liberdade.

1943 Publica O Ser e o Nada.

1945 Fim da II Guerra Mundial. Sartre dissolve Socialismo e Liberdade e funda, com Merleau-Ponty, a revista Les Temps Modernes.

1952 Sartre ingressa no Partido Comunista Francs.

1956 Rompe com o Partido Comunista. Escreve O Fantasma de Stlin.

1960 Sartre publica Crtica da Razo Dialtica.

1964 Publica As Palavras. Recusa o Prmio Novel de Literatura.

1968 Durante a revolta estudantil na Frana e em vrias partes do mundo, Sartre pe-se ao lado dos estudantes da barricada.

1970 Sartre assume simbolicamente a direo do jornal esquerdista La Cause de Peuple, em protesto priso de seus diretores.

1971 Publica O Idiota da Famlia.

1973 Colabora na fundao do jornal libertrio Librtacion.

1980 Morre Jean-Paul Sartre.

Jean Paul Sartre nasceu e cresceu em meio marcas histricas, principalmente guerras. Em 1905, quando nasceu, terminava a guerra russo-japonesa. Em 1914, ele tinha 9 anos, comeava a Primeira Guerra Mundial.

Os alemes avanaram para a Frana, mas os franceses juntamente com os ingleses conseguiram det-los. Essa foi a primeira vitria significativa da guerra que persistiu at 1918. No ano seguinte, 1919, houve um fato importante para os franceses : O Tratado de Versalhes.

Este Tratado privou a Alemanha de um oitavo de seu territrio, alm de todas as colnias, limitou os efeitos de seu Exrcito e obrigou-a a pagar vultosa indenizao de guerra, provocou profundos ressentimentos na populao inconformada com essa "paz imposta".

Neste perodo o Brasil passam por agitao tenentistas , pela Coluna Prestes, at chegar a "Era de Vargas"

A dcada de 20 nos Estado Unidos foi marcada pelo progresso econmico, que colocaram a disposio do grande pblico inovao tecnolgica como o rdio, a vitrola, o cinema, a luz eltrica e os eletrodomsticos, enquanto os automveis comearam a tomar conta das ruas e o avio oferecia a opo de transporte areo. O ritmo desses "anos loucos" era dado pelo charleston, dana inventada nos Estados Unidos, que logo em seguida passou pela crise econmica.

A Europa partindo da Itlia, conheceu o fascismo, que foi apresentado por Mussolini.

A Amrica Latina assitia Guerra Civil Espanhola, e em 26 de abril de 1937 a cidade de Guernica foi bombardeada pela aviao alem. A tragdia de Guernica chocou s conscincias democrticas do mundo inteiro.

Sartre viu tambm a Segunda Guerra Mundial, quando os franceses, alm de pouco preparados, no dispunham dos recursos das foras alems.

Primeiro ataque alemo contra a Frana ocorreu em maio de 1940; em 22 de junho, o pas foi obrigado a assinar uma armistcio humilhante, que estabelecia a ocupao da regio setentrional ( inclusive Paris ), e toda costa Atlntica pelos alemes.

Enquanto os franceses ocupam o sul do pas, proclamada, no norte, a Repblica Democrtica do Vietn. A Frana reconhece o novo pas da Unio Francesa, para mais tarde romper as negociaes e bombardear o ponto de Haiphong, sofrendo consecutivas derrotas para os guerrilheiros. Neste perodo, houve tambm a Guerra Fria, que j estava estabelecida desde 1945.

A dcada de 60 foi um perodo emocionante, revolucionrio e turbulento, de grandes mudanas sociais e tecnolgicas: assassinatos, grande revoluo no mundo da moda, novos estilos musicais, direitos civis, libertao de mulheres e homossexuais, a guerra do Vietn, as primeiras expedies Lua, campanhas de paz, flower power, grandes filmes e programas de TV, liberdade sexual.

Nessa poca, os indivduos nascidos no baby boom do ps-guerra haviam crescido e formado um novo e poderoso exrcito de consumidores. Tonavam-se adultos numa poca de otimismo e autoconfiana inigualveis e incontidos: a guerra e a austeridade do ps-guerra haviam acabado; os homens viajavam pelo espao e logo iriam chegar Lua; o primeiro transplante de corao fora realizado e, aps sessenta anos depois de o primeiro avio cruzar o Canal da Mancha, o Concorde atravessava o oceano Atlntico.

Literatura

Literatura engajada: A maior parte dessas peas tem acentuada tendncia poltica. No escrito "Qu est-ce que la littrature?" (1948; "Que a literatura?"), depois includo no segundo volume de Situations (1948), Sartre criou o conceito da literatura engajada, que discute os atuais problemas polticos e sociais: seria essa a nica literatura possvel e til em nosso tempo. A esse conceito subordinou Sartre trs romances, dos quatro projetados de um ciclo a que deu o nome bem existencialista de Les Chemins de la libert (Os Caminhos da liberdade), discutindo a situao do intelectual francs imediatamente antes da guerra e o desastre da Frana em 1940. Saram : Lge de raison 1945; A Idade da razo); Le Sursis (1945; O Prazo concedido); La Mort dans lme (1949; A Morte na lama). O ciclo ficou incompleto.

Conceitos do existenciallismo:

A espcie humana tem tem livre arbtrio;

A vida uma srie de escolhas, criando stress;

Poucas decises no tm nenhuma conseqncia negativa;

Algumas coisas so absurdas ou irracionais, sem explicao;

Se voc toma uma deciso, deve lev-la at o fim.

O existencialismo de sartre

A distino entre essncia e existncia corresponde a distino entre conhecimento intelectual e conhecimento sensvel. Os sentidos pem em contato com os seres particulares e contingentes, nicos que realmente existem, ao passo que a inteligncia permite aprender as idias ou essncias, gneros e espcies universais, meras possibilidades de ser, em si mesmas inexistentes. Sabe-se, no entanto, desde Scrates, que o objeto da cincia o universal e no o particular, quer dizer a essncia e no a existncia. Plato tenta resolver essa contradio hipostasiando as idias, atribuindo-lhes a realidade, no mundo supra-sensvel ou topos ourano (lugar do cu). Poder-se-ia dizer que em nome da existncia que Aristteles critica a teoria platnica das idias, sustentando que as idias, ou essncias, no esto fora mas dentro das prprias coisas, as quais, feitas de matria e de forma, contem, em si mesmas, o universal e o particular, a essncia e a existncia.

Em oposio as filosofias que se poderia chamar essencialistas, as filosofias existencialistas partem do pressuposto de que a existncia e anterior a essncia, tanto ontolgica quanto epistemologicamente ,quer dizer tanto em relao ao ser, ou realidade, quanto em relao ao conhecimento. Na perspectiva do existencialismo, as idias, ou as essncias, no so anteriores s coisas, pois no se acham previamente contidas nem na inteligncia de Deus nem na inteligncia do homem. As idias, ou essncias, so contemporneas das coisas, so as prprias coisas consideradas de determinado ponto de vista, em sua universalidade e no em sua particularidade. Sntese do universal e do particular, o indivduo existente redutvel ao pensamento, ou inteligvel, na medida em que contem o universal, a essncia humana, por exemplo, nesse homem determinado, e irredutvel, enquanto particular, esse homem com caractersticas que o distinguem de todos os demais e o tornam nico e insubstituvel.

A afirmao da anterioridade ou do primado da existncia em relao a essncia, entendida aqui como existncia humana, implica uma srie de teses que distinguem o existencialismo das filosofias essencialistas. O primado da liberdade em relao ao ser, subjetividade, em relao a objetividade, o dualismo, o voluntarismo, o ativismo, o personalismo, o antropologismo, seriam algumas das caractersticas desse tipo ou modalidade de filosofia. O existencialismo no nem uma teologia, ou filosofia de Deus, nem uma cosmologia, ou filosofia do mundo, da natureza. O existencialismo , fundamentalmente, uma antropologia, quer dizer, uma reflexo filosfica sobre o homem, ou melhor, sobre o ser do homem enquanto existente.

Na perspectiva antropolgica, surgem os temas ou problemas caractersticos do pensamento existencial. A finitude, a contingncia e a fragilidade da existncia humana; a alienao, a solido e a comunicao, o segredo, o nada, o tdio, a nusea, a angstia e o desespero; a preocupao e o projeto, o engajamento e o risco, so alguns dos temas principais de que se tem ocupado os representantes do existencialismo. Para essa filosofia, a angstia e o desespero, por exemplo, deixam de ser sintomas mrbidos, objetos da psicopatologia, para se tornarem categorias ontolgicas que propiciam acesso essncia da condio humana e do prprio ser.

A idia de existncia, como j se observou, no nova. Com a mesma palavra, ousa , Plato designa a essncia e a existncia, e a crtica de Aristteles ao idealismo platnico pressupe o hilomorfismo, ou teoria do ser entendido como existente, feito de matria e de forma. Plato, sem dvida, idealista, mas uma experincia existencial, a vida e a morte de Scrates, que o leva a filosofar.

A existncia precede a essncia, por Jean-Paul Sartre

"Quando concebemos um Deus criador, esse Deus idenficamos quase sempre como um artfice superior; e qualquer que seja a doutrina que consideremos, trate-se duma doutrina como a de Descartes ou a de Leibniz, admitimos sempre que a vontade segue mais ou menos a inteligncia ou pelo menos a acompanha, e que Deus, quando cria, sabe perfeitamente o que cria.

Assim, o conceito do homem, no esprito de Deus, assimilvel ao conceito de um corta-papel no esprito do industrial; e Deus produz o homem segundo tcnicas e uma concepo, exatamente como o artfice fabrica um corta-papel segundo uma definio e uma tcnica. Assim, o homem individual realiza um certo conceito que est na inteligncia divina.

No sculo XVIII, para o atesmo dos filsofos, suprime-se a noo de Deus, mas no a idia de que a essncia precede a existncia. Tal idia encontramo-la ns um pouco em todo o lado: encontramo-la em Diderot, em Voltaire e at mesmo num Kant. O homem possui uma natureza humana; esta natureza, que o conceito humano, encontra-se em todos os homens, o que significa que cada homem um exemplo particular de um conceito universal - o homem; para Kant resulta de universalidade que o homem da selva, o homem primitivo, como o burgus, esto adstritos mesma definio e possuem as mesmas qualidades de base. Assim, pois, ainda a, a essncia do homem precede essa existncia histrica que encontramos na natureza. (...)

O existencialismo ateu, que eu represento, mais coerente. Declara ele que, se Deus no existe, h pelo menos um ser no qual a existncia precede a essncia, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser o homem ou, como diz Heidegger, a realidade humana.

Que significar aqui o dizer-se que a existncia precede a essncia? Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que s depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se no definvel, porque primeiramente no nada. S depois ser alguma coisa e tal como a si prprio se fizer. Assim, no h natureza humana, visto que no h Deus para a conceber.

O homem , no apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existncia, como ele se deseja aps este impulso para a existncia; o homem no mais que o que ele faz. Tal o primeiro princpio do existencialismo. tambm a isso que se chama a subjetividade, e o que nos censuram sob este mesmo nome. Mas que queremos dizer ns com isso, seno que o homem tem uma dignidade maior do que uma pedra ou uma mesa? Porque o que ns queremos dizer que o homem primeiro existe, ou seja, que o homem, antes de mais nada, o que se lana para um futuro, e o que consciente de se projetar no futuro. (...)

Mas se verdadeiramente a existncia precede a essncia, o homem responsvel por aquilo que . Assim, o primeiro esforo do existencialismo o de pr todo homem no domnio do que ele e de lhe atribuir a total responsablidade da sua existncia. E, quando dizemos que o homem responsvel por si prprio, no queremos dizer que o homem responsvel pela sua restrita individualidade, mas que responsvel por todos os homens."

Jean-Paul Sartre

"A existncia precede a essncia". Eis a frase fundamental do existencialismo. Para melhor compreender o significado dela, preciso rever o que quer dizer essncia. A essncia o que faz com que uma coisa seja o que , e no outra coisa. Por exemplo, a essncia de uma mesa o ser mesmo da mesa, aquilo que faz com que ela seja mesa e no cadeira. No importa que seja de madeira, frmica ou vidro, que seja grande ou pequena; importa que tenha as caractersticas que nos permitam us-la como mesa.

No famoso texto O existencialismo um humanismo, Sartre usa como exemplo um objeto fabricado qualquer, como um livro ou um corta-papel: neles a essncia precede a existncia; da mesma forma, se imaginarmos um Deus criador, o identificamos a um artfice superior que cria o homem segundo um modelo, tal qual o artfice fabrica um corta-papel. Da deriva a noo de que o homem tem uma natureza humana, encontrada igualmente em todos os homens. Portanto, nessa concepo, a essncia do homem precederia a existncia. No essa, no entanto, a posio de Sartre ao afirmar que a existncia precede a essncia: "Significa que o homem primeramente existe, se descobre, surge no mundo; e que s depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se no definvel, porque primeiramente no nada. S depois ser alguma coisa e tal como a si prprio se fizer. Assim, no h natureza humana, visto que no h Deus para a conceber. O homem , no apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existncia, como ele se deseja aps este impulso para a existncia; o homem no mais que o que ele faz. Tal o primeiro princpio do existencialismo".

O Existencialismo um Humanismo.

Sartre defende o existencialismo contra os catlicos afirmando que esta uma doutrina que torna a vida humana possvel graas a subjetividade humana. Sartre ainda especifica a diferenciao entre as duas escolas do existencialismo, a dos existencialistas cristos Jaspers e Marcel e os ateus Heidegger e o prprio Sartre, afirma que a nica coisa que une estas duas correntes que a existncia precede a essncia. Ou se preferir necessrio partir da subjetividade.

O existencialismo ateu afirma que, se Deus no existe h pelo menos um ser no qual a existncia precede a essncia, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito. Este ser o homem ou melhor a realidade humana . Isto significa que , em primeira instncia , o homem existe, surge no mundo e s posteriormente se define.

O homem, tal como o existencialista o concebe, s no passvel de uma definio porque, de incio, no nada ; s posteriormente ser alguma coisa e ser aquilo que ele fizer de si mesmo. Assim, no existe natureza humana, j que no existe um Deus para conceb-la .

O homem aquilo que ele mesmo faz de si, a isto que chamamos de subjetividade. Porm, se realmente a existncia precede a essncia, o homem responsvel pelo que . Desse modo, o primeiro passo do existencialismo de por todo o homem na posse do que ele de submete-lo responsabilidade total de sua existncia.

Ao afirmarmos que o homem se escolhe a si mesmo, queremos dizer que cada um de ns se escolhe, e tambm escolhe todos os homens.

O existencialista, pensa que extremamente incmodo que Deus no exista, pois, junto com ele, desaparece toda e qualquer possibilidade de encontrar valores num cu inteligvel; no pode mais existir nenhum bem a priori; j que no existe uma conscincia infinita e perfeita para pensa-lo.

Se Deus no existe, no encontramos, j prontos, valores ou ordens que possam legitimar a nossa conduta. Assim no teremos nem atras nem a frente nenhuma justificativa para nossa conduta . Estamos ss , sem desculpas. o que posso expressar dizendo que o homem est condenado a ser livre. Condenado, porque no se criou a si mesmo mas por estar livre no mundo estamos condenados a ser livres.

O existencialista no pensara nunca, que o homem possa conseguir o auxilio de um sinal qualquer que o oriente no mundo, pois o homem quem decifra os sinais.

Principais obras:

Obras filosficas: A Imaginao(1936)

A transcendncia do Ego(1937)

O Imaginrio(1940)

O Ser e o Nada(1943)

O existencialismo um humanismo (1946)

Crtica da Razo Dialtica(1960)

O idiota da famlia(1971)

Anotaes para uma moral(1983)

Ensaios:

So Genet, comediante e mrtir(1952)

Questo de mtodo(1960)

Romances e Contos:

A nusea(1938)

O muro(1939)

A idade da razo(1945)

Sursis(1945)

Com a morte na alma(1949)

Teatro:

As moscas(1943)

Entre quatro paredes(1945)

Mortos sem sepultura(1946)

A prostituta respeitosa(1946)

As mos sujas(1948)

O diabo e o bom Deus(1951)

Os seqestrados de Altona(1960)

Autobiogrficas:

As palavras(1964)

Dirio de uma guerra estranha(1983)

http://www.geocities.com/Area51/Shire/2670/filosof.htmIntroduo. O Existencialismo difundiu-se como o pensamento mais radical a respeito do homem na poca contempornea. Surgiu em meados do sculo XIX com o pensador dinamarqus Kierkegaard e alcanou seu apogeu aps a Segunda Grande Guerra, nos anos cinqenta e sessenta, com Heidegger e Jean-Paul Sartre.

A corrente existencialista assimilou ainda uma influncia da fenomenologia cuja figura principal, Husserl, j citado, prope a descrio dos fenmenos tais como eles parecem ser, sem nenhum pressuposto de como eles sejam na verdade. Para o existencialismo, a fenomenologia de Husserl significou um interesse novo no fenmeno da conscincia.

Reunindo as snteses do pensamento de cada um desses filsofos podemos listar os postulados principais dessa corrente filosfica que so:

1. A primeira o ser humano enquanto indivduo, e no com as teorias gerais sobre o homem. H uma preocupao com o sentido ou o objetivo das vidas humanas, mais que com verdades cientficas ou metafsicas sobre o universo. Assim, a experincia interior ou subjetiva - e a est a influncia da fenomenologia - considerada mais importante do que a verdade "objetiva", um fundamento igual da filosofia oriental.

2. O homem no foi planejado por algum para uma finalidade, como os objetos que o prprio homem cria, mediante um projeto. O homem se faz em sua prpria existncia.

3. O mundo, como ns o conhecemos, irracional e absurdo, ou pelo menos est alm de nossa total compreenso; nenhuma explicao final pode ser dada para o fato de ele ser da maneira que ;

4. A falta de sentido, a liberdade conseqente da indeterminao, a ameaa permanente de sofrimento, da origem ansiedade, descrena em si mesmo e ao desespero; h uma nfase na liberdade dos indivduos como a sua propriedade humana distintiva mais importante, da qual no pode fugir

Kierkegaard. O dinamarqus Soren Aabye Kierkegaard (1813-1855), encontra sua posio filosfica ao insurgir-se contra posies aristotlicas remanescentes na filosofia, o que faz opondo-se filosofia de Hegel (1770 - 1831). Kierkegaard no s rejeitou o determinismo lgico de Hegel (tudo est logicamente predeterminado para acontecer) como sustentou a importncia suprema do indivduo e das suas escolhas lgicas ou ilgicas.

Kierkegaard contribuiu com a idia original do existencialismo de que no existe qualquer predeterminao com respeito ao homem, e que esta indeterminao e liberdade levam o homem a uma permanente angstia.

Segundo Kierkegaard, o homem tem diante de si vrias opes possveis, inteiramente livre, no se conforma a um predeterminismo lgico, ao qual, segundo Hegel, esto submetidos todos os fatos e tambm as aes humanas. A verdade no encontrada atravs do raciocnio lgico, mas segundo a paixo que colocada na afirmao e sustentao dos fatos: a verdade subjetividade. A conseqncia de ser a verdade subjetiva que a liberdade torna-se ilimitada. Consequentemente no se pode, tambm, fazer qualquer afirmativa sobre o homem. O pensamento fundamental de Kierkegaard, e que veio a se constituir em linha mestra do Existencialismo, este: inexiste um projeto bsico, para o homem verdadeiro, uma essncia definidora do homem porque cada um se define a si mesmo e assim uma verdade para si. Da o moto conhecido que sintetiza o pensamento existencialista: "no homem, a existncia precede a essncia"

No caminho da vida h vrias direes, vrios tipos de vida a escolher, dentro de trs escolhas fundamentais: o modo de vida esttico, do indivduo que no busca seno gozar a vida em cada momento; o modo tico, do indivduo que maquinalmente correto com a famlia e devotado ao trabalho, e o modo religioso dentro de uma conscincia de f.

A liberdade, segundo ele, gera no homem a angstia que pode lev-lo, de vrias formas, ao desespero Ento, cada deciso um risco, o que deixa a pessoa mergulhada na incerteza, pressionada por uma deciso que se torna angustiante. Como no modo de vida esttico, ele escolhe fugir dessa angstia e do desespero atravs do prazer e de buscar a inconscincia de quem ele . Outra forma de fuga ignorar o prprio eu, tornar-se um autmato, apegar-se a um papel, como no modo de vda tico.

Heidegger. O filsofo alemo Martin Heidegger (1889-1976) declarou-se um investigador da natureza do Ser. Heidegger contribuiu com seu pensamento sobre o ser e a existncia, de onde o nome dado corrente filosfica de "Existencialismo".

A angustia tem, no pensamento de Heidegger, origem diversa da liberdade. Para ele a angstia resulta da falta da precariedade da base da existncia humana. A "existncia" do homem algo temporrio, paira entre o seu nascimento e a morte que ele no pode evitar. Sua vida est entre o passado (em suas experincias) e o futuro, sobre o qual ele no tem controle, e onde seu projeto ser sempre incompleto diante da morte inevitvel.

Como uma filosofia do tempo, o existencialismo exorta o homem a existir inteiramente "aqui" e "agora", para aceitar sua intensa "realidade humana" do momento presente. O passado representa arquivos de experincias a serem usadas no servio do presente, e o futuro no outra coisa que vises e iluses para dar ao nosso presente direo e propsito..

Portanto, no homem, o ser est relacionado ao tempo e est dado, - existe -, em trs fenmenos, trs "existenciais" que caracterizam como as coisas do passado, do presente e do futuro se manifestem para o homem e a unidade desses trs fenmenos constitui a estrutura temporal que faz a existncia inteligvel, compreensvel. So a afetividade, com que se liga ao passado pelo seu julgamento; a fala, com que se liga ao presente, e o entendimento, que a inteligncia com que lida com o seu futuro, com a angstia de sua predestinao morte. No podemos nos submeter a condicionamentos de nosso passado; no podemos permitir que sentimentos, memrias, ou hbitos se imponham sobre nosso presente e determinem seu contedo e qualidade. Ns tambm no podemos permitir que a ansiedade sobre os eventos futuros ocupem nosso presente, tirem sua espontaneidade e intensidade. No podemos permitir que nosso "aqui e agora" seja liquidado

Na angstia, o homem experimenta a finitude da sua existncia humana. Todas as coisas suprfluas em que estava mergulhado se afastam deixando-o a n, como uma liberdade para encontrar-se com sua prpria morte (das Freisein fr den Tod), um "estar preparado para" e um contnuo "estar relacionado com" sua prpria morte (Sein zum Tode). Essa viso existencial do homem, em que ele se conscientiza das estruturas existenciais a que est condicionado e que o tira da superficialidade em que desenvolve seus conflitos tornou-se sedutora para a psiquiatria.

A angstia funciona para revelar o ser autntico, e a liberdade (Frei-sein) enseja o homem a escolher a si mesmo e governar a si mesmo.

Sartre. Heidegger e Sartre foram os dois mais importantes filsofos da corrente existencialista. Ambos foram profundamente influenciados pela filosofia de Edmund Husserl, a fenomenologia, e desenvolveram um mtodo fenomenolgico como base de suas respectivas posies filosficas. Sartre contribuiu com mais pensamentos sobre a liberdade e chefiou dentro do movimento uma corrente atesta.

Para Jean-Paul Sartre (1905-1980), a idia central de todo pensamento existencialista que a existncia precede a essncia. No existe nenhum Deus que tenha planejado o homem e portanto no existe nenhuma natureza humana fixa a que o homem deva respeitar. O homem est totalmente livre o nico responsvel pelo que faz de si mesmo. E so para ele, assim como havia colocado Kierkegaard, esta liberdade e responsabilidade a fonte da angstia,

Sartre leva o indeterminismo s suas mais radicais conseqncias. Porque no h nenhum Deus e portanto nenhum plano divino que determina o que deve acontecer, no h nenhum determinismo. O homem livre. No pode desculpar sua ao dizendo que est forado por circunstncias ou movido pela paixo ou determinado de alguma maneira a fazer o que ele faz.

O pensamento de Sartre, contido em seus romances e peas de teatro e em escritos filosficos influenciou fortemente os intelectuais franceses, entre eles Gabriel Marcel, que desenvolveu sua filosofia no mbito do catolicismo romano, tornando-se um expoente do existencialismo cristo.

Gabriel Marcel. Apesar do precursor do existencialismo, Soren Kierkegaard, ser profundamente cristo, os principais filsofos que o desenvolveram e divulgaram, Martin Heidegger e Jean-Paul Sartre, eram ateus, com uma filosofia materialista, bastante pessimista, e atia. Surgiu porm uma corrente existencialista crist, sendo o principal filsofo dessa corrente o filsofo Gabriel Marcel.

A psicanlise e a terapia existencial. Ao definir causas de estados mentais como a angstia e o desespero, Kierkegaard criou um elo com a psicologia Este elo prevaleceria e se fortificaria no futuro, com as posies de Sartre e sua crtica psicanlise, com as posies de Gabriel Marcel e finalmente com a adeso a essas duas linhas, respectivamente, de psiquiatras ateus e psiquiatras cristos. A partir das idias filosficas existenciais psicoterapeutas como Ronald David Laing, na corrente materialista de Sartre, e Viktor Emil Frankl, na corrente religiosa de Gabriel Marcel, propuseram prticas psicoterpicas originais.

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Aberta em 04/06/2001

Direitos reservados. Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. - Existencialismo. Site cobra.pages.nom.br, Internet, Braslia, 2001.

Corrente filosfica que se funda na situao do indivduo vivendo num universo absurdo, ou sem sentido, em que os homens so dotados de vontade prpria. Os existencialistas sustentam que as pessoas so responsveis pelas suas prprias aces, e o seu nico juiz, na medida em que a sua existncia afecta a dos outros. A origem do existencialismo geralmente atribuda ao filsofo dinamarqus Kierkegaard. Entre os seus outros proponentes destacam-se Martin Heidegger, na Alemanha, e Jean-Paul Sartre, em Frana.

Todos os indivduos dotados de autoconscincia podem compreender ou intuir a sua prpria existncia e liberdade, da que no devam deixar que as suas escolhas sejam limitadas por nada - nem pela razo, nem pela moral. Esta liberdade para escolher conduz noo de "no-ser", ou "nada", que pode provocar a angstia ou o medo. O existencialismo possui muitas variantes. Kierkegaard salientou a importncia da escolha pura na tica e na crena crist, Sartre procurou combinar o existencialismo com o marxismo.

O pensamento filosfico dos autores existencialistas no se caracteriza nem por uma sistematizao racional sobre a vida nem por reflexo abstracta e logicizante acerca do ser humano. O homem o problema central do existencialismo, no enquanto ser abstracto, com uma natureza definida, mas como um ser concreto, que sofre, que trabalha e ama.

Para os filsofos existencialistas contemporneos, a existncia humana entendida como algo demasiado fludo e rico e, por isso, escapa a todas as sistematizaes abstractas. Assim, para estes autores, acima de tudo a vida para ser vivida. Faz parte inerente da existncia humana o devir, a inquietao, o desespero e a angstia. A existncia algo em aberto, sempre em mudana, e no h nenhum tipo de determinismo ou fatalismo.

A negao de um destino faz da vida um jogo de possveis entre possveis. Cabe ao homem, a cada instante, escolher, optar e, por isso mesmo, ele torna-se um ser responsvel pela sua vida. A escolha humana traz consigo inevitavelmente a angstia e muitas vezes o desespero.

Para os existencialistas, o indivduo no pode ser diludo e apagado num todo, uma vez que cada um um ser concreto, nico e de valor insubstituvel. Por isso, nesta reflexo, o homem sempre entendido como um ser individual e concreto, na sua vida quotidiana, no seu contexto particular, e nunca entendido como uma entidade metafsica e abstracta. Nesta medida, os autores existencialistas so aqueles que colocam a existncia do homem no plano central das suas reflexes, como dir Sartre, a existncia precede a essncia. O homem partida no est definido, ele um projecto em construo, cada pessoa aquilo em que se torna consoante aquilo que faz.

O Existencialismo segundo Kierkegaard

"O existencialismo nunca poder ser uma teoria como outra qualquer, porque a existncia no , em si, susceptvel de teoria. O existencialismo, para Kierkegaard, apenas a expresso da sua prpria vida e a nica coisa de geral ou de universal que contm a exortao que a todos nos dirige para que nos tornemos cristos. A natureza deste existencialismo s poder, portanto, ser definida em funo das condies que so requeridas por um existir autntico - existir que se dever iniciar e intensificar seguidamente, por meio de uma reflexo capaz de fazer, de uma existncia vivida, uma existncia desejada e pensada. Essas condies podem reduzir-se a trs: a necessidade do compromisso e do risco, o primado da subjectividade e a prova da angstia e do desespero."

R.Jolivet, As Doutrinas Existencialistas

O Existencialismo segundo Karl Marx

"O que Marx mais critica a questo de como compreender o que o homem. No o ter conscincia (ser racional), nem tampouco ser um animal poltico, que confere ao homem sua singularidade, mas ser capaz de produzir suas condies de existncia, tanto material quanto ideal, que diferencia o homem."

A essncia do homem no ter essncia, a essncia do homem algo que ele prprio constri, ou seja, a Histria. "A existncia precede a essncia"; nenhum ser humano nasce pronto, mas o homem , em sua essncia, produto do meio em que vive, que construdo a partir de suas relaes sociais em que cada pessoa se encontra. Assim como o homem produz o seu prprio ambiente, por outro lado, esta produo da condio de existncia no livremente escolhida, mas sim, previamente determinada. O homem pode fazer a sua Histria mas no pode fazer nas condies por ele escolhidas. O homem historicamente determinado pelas condies, logo responsvel por todos os seus actos, pois ele livre para escolher. Logo todas as teorias de Marx esto fundamentadas naquilo que o homem, ou seja, o que a sua existncia. O Homem condenado a ser livre.

As relaes sociais do homem so tidas pelas relaes que o homem mantm com a natureza, onde desenvolve suas prticas, ou seja, o homem se constitui a partir de seu prprio trabalho, e sua sociedade se constitui a partir de suas condies materiais de produo, que dependem de factores naturais (clima, biologia, geografia...) ou seja, relao homem-Natureza, assim como da diviso social do trabalho, sua cultura. Logo, tambm h a relao homem-Natureza-Cultura.

O Existencialismo segundo Jean Paule Sartre

A distino entre essncia e existncia corresponde a distino entre conhecimento intelectual e conhecimento sensvel. Os sentidos pem em contacto com os seres particulares e contingentes, nicos que realmente existem, ao passo que a inteligncia permite aprender as ideias ou essncias, gneros e espcies universais, meras possibilidades de ser, em si mesmas inexistentes. Sabe-se, no entanto, desde Scrates, que o objecto da cincia o universal e no o particular, quer dizer a essncia e no a existncia. Plato tenta resolver essa contradio hipostasiando as ideias, atribuindo-lhes a realidade, no mundo supra-sensvel ou topos ourano (lugar do cu). Poder-se-ia dizer que em nome da existncia que Aristteles critica a teoria platnica das ideias, sustentando que as ideias, ou essncias, no esto fora mas dentro das prprias coisas, as quais, feitas de matria e de forma, contem, em si mesmas, o universal e o particular, a essncia e a existncia.

Em oposio as filosofias que se poderia chamar 'essencialistas', as filosofias existencialistas partem do pressuposto de que a existncia e anterior a essncia, tanto ontolgica quanto epistemologicamente ,quer dizer tanto em relao ao ser, ou realidade, quanto em relao ao conhecimento. Na perspectiva do existencialismo, as ideias, ou as essncias, no so anteriores s coisas, pois no se acham previamente contidas nem na inteligncia de Deus nem na inteligncia do homem. As ideias, ou essncias, so contemporneas das coisas, so as prprias coisas consideradas de determinado ponto de vista, em sua universalidade e no em sua particularidade. Sntese do universal e do particular, o indivduo existente redutvel ao pensamento, ou inteligvel, na medida em que contem o universal, a essncia humana, por exemplo, nesse homem determinado, e irredutvel, enquanto particular, esse homem com caractersticas que o distinguem de todos os demais e o tornam nico e insubstituvel.

A afirmao da anterioridade ou do primado da existncia em relao a essncia, entendida aqui como existncia humana, implica uma srie de teses que distinguem o existencialismo das filosofias essencialistas. O primado da liberdade em relao ao ser, subjectividade, em relao a objectividade, o dualismo, o voluntarismo, o aticismo, o personalismo, o antropologismo, seriam algumas das caractersticas desse tipo ou modalidade de filosofia. O existencialismo no nem uma teologia, ou filosofia de Deus, nem uma cosmologia, ou filosofia do mundo, da natureza. O existencialismo , fundamentalmente, uma antropologia, quer dizer, uma reflexo filosfica sobre o homem, ou melhor, sobre o ser do homem enquanto existente.

Na perspectiva antropolgica, surgem os temas ou problemas caractersticos do pensamento existencial. A finitude, a contingncia e a fragilidade da existncia humana; a alienao, a solido e a comunicao, o segredo, o nada, o tdio, a nusea, a angstia e o desespero; a preocupao e o projecto, o engajamento e o risco, so alguns dos temas principais de que se tem ocupado os representantes do existencialismo. Para essa filosofia, a angstia e o desespero, por exemplo, deixam de ser sintomas mrbidos, objectos da psicopatologia, para se tornarem categorias ontolgicas que propiciam acesso essncia da condio humana e do prprio ser.

A ideia de existncia, como j se observou, no nova. Com a mesma palavra, ousa , Plato designa a essncia e a existncia, e a crtica de Aristteles ao idealismo platnico pressupe o hilomorfismo, ou teoria do ser entendido como existente, feito de matria e de forma. Plato, sem dvida, idealista, mas uma experincia existencial, a vida e a morte de Scrates, que o leva a filosofar.

O Existencialismo segundo Verglio Ferreira

"O existencialismo ergue o seu protesto, afirmando que o Homem pessoalmente, individualmente, um valor; que a sua liberdade (em todas as suas dimenses e no apenas em algumas) uma riqueza, uma necessidade estrutural de que no deve perder-se entre a triturao do dia-a-dia; e finalmente que, fixando o homem nos seus estritos limites, s por distraco ou imbecilidade ou por crime se no v ou no deixa ver que ao mesmo homem impende a tarefa ingente e grandiosa de se restabelecer em harmonia no mundo, para que em harmonia a sua vida lucidamente se realize desde o nascer ao morrer.

Possivelmente gostareis ou tereis curiosidade de me ouvir falar de mim, j que vou sendo insensivelmente investido na qualidade de uma espcie de delegado nacional ou regional do Existencialismo. Mas eu jamais me disse "existencialista", embora muito deva temtica existencial e pelo Existencialismo tenha manifestado publicamente o maior interesse. que aceitarmos um rtulo automaticamente obriga a aceitar-lhe todas as consequncias, entre as quais a de nos responsabilizarmos por tudo quanto sob este rtulo se disser ou fizer.

Por mim, preferia definir o Existencialismo como a corrente de pensamento que, regressada ao existente humano, a ele privilegia e dele parte para todo o ulterior questionar. Ou ento - e paralelamente ou implicitamente a essa definio - preferiria dizer, continuando Sartre, alis, que o Existencialismo uma corrente do pensamento que reabsorve no prprio "eu" de cada um toda e qualquer problemtica e a rev atravs do seu raciocinar pessoal ou preferentemente da sua profunda vivncia. A se implica portanto que nenhum questionar se estabelece em abstracto, de fora para dentro, mas antes se retoma a partir da nossa dimenso original, ou seja, verdadeiramente, de dentro para fora."

F. Verglio, Espao Invisvel II

http://vferreira.no.sapo.pt/exist.html1) Vida e obra do autor

JeanPaul Sartre era um filsofo francs, nascido em Paris no dia 21/06/1905. Em 1907 perdeu seu pai e mudou-se para a casa de um av materno, em Meudon, mas volta para Paris quatro anos depois. Em 1924, ele matricula-se na cole Normale Suprieure (Escola Normal Superior), em Paris. Conhece Simone de Beaunvoir, sua futura amante. Em 1931, nomeado professor de filosofia em Le Havre. Em 1936 publica a obra A Imaginao e a Transcendncia do Ego. Em 1937 nomeado professor de filosofia no Lyce Pasteur, em Paris. Em 1938 publicado o romance A nusea, e no mesmo ano eclode a II Guerra Mundial. Em 1939, convocado para o servio militar. Em 1940, servindo na guerra, Sartre feito prisioneiro pelos alemes e enviado a um campo de concentrao. Em 1941 liberto, volta para a Frana e entra para a Resistncia. Lecionando no Lyce Condorcet, no mesmo ano funda o movimento Socialismo e Liberdade. Em 1943 publica sua principal obra O ser e o Nada. Em 1945, com o fim da II Guerra Mundial, licenciado por tempo indeterminado. Sartre dissolve Socialismo e Liberdade e funda, com Merlaun Ponty, a revista Les Temps Modernes (Os Tempos Modernos) e escreve para o jornal de Paris Librtacion. Em 1952 ingressa o Partido Comunista Francs. Em 1956, rompe com o Partido Comunista e escreve O Fantasma de Stlin. Em 1960 ele publica Crtica da Razo Dialtica. Em 1964 publica As Palavras e recusa Nobel de Literatura. Em 1968, durante a revolta estudantil na Frana e em vrias partes do mundo, Sartre pe-se ao lado dos estudantes da barricada. Em 1970 assume simbolicamente a direo do jornal esquerdista La Cause de Peuple, em protesto priso de seus diretores. Em 1971 ele publica O Idiota da Famlia. Em 1973 ele colabora na fundao do jornal libertrio Libertacin. Em 15/04/1980, morre, j senil, de ataque cardaco.

Obras:

A Lenda da verdade - Romance (1928)

A Imaginao e a Transcendncia do Ego, influenciado pela fenomenologia (1936)

A nusea Romance (1938)

Trs ensaios: O muro, Esboo de uma teoria de emoes e O Imaginrio

O ser e o nada Sobre o existencialismo (1939)

As moscas Primeira pea encenada por ele (1943)

Nova pea teatral (1945)

Entre quatro paredes

Romances A Idade da Razo, Surses, Com a morte na alma

O existencialismo um humanismo Significado tico do existencialismo

Toda a produo de Sartre foi marcada pela II Guerra Mundial e pela ocupao nazista da Frana, e a Resistncia tambm influi bastante na sua concepo poltica de engajamento (necessidade de um pensador de estar voltado para a anlise completa da situao em que vive). Pelo engajamento, a liberdade deixa de ser imaginao pra se tornar ao. Participou, ao lado de Simone de Beauvoir, sua companheira por toda a vida, da vida poltica da Frana e do mundo. Era marxista, mas nunca deixou de criticar o autoritarismo. Saa nas ruas em protesto e vendia nas ruas o jornal maosta La Cause du Peuple (A Casa do Povo), sem que ningum ousasse prend-lo.

Frases conhecidas do autor:

- O inferno so os outros

- A vida me deu tudo o que pedi, mas se o que pedi foi muito pouco, a problema meu

- A f, mesmo quando profunda, nunca completa

- preciso ter a coragem de fazer como todo mundo para no ser como ningum : com esta afirmao, Sartre fala do peso da responsabilidade de sermos livres. Com esta liberdade, o homem fica angustiado devido escolha, que s ele pode fazer. Muitos pensam que ao ficarem paralisados no so obrigados a escolher, mas ao no agirem, j esto fazendo a sua escolha, a escolha de no escolher. Se arriscar, agir mesmo sabendo que ser preciso enfrentar conseqncias uma tarefa difcil, mas necessria para termos conhecimento de quem ns realmente somos.

2) Sntese das idias principais do autor

Sartre faz parte da lista dos existencialistas ateus, junto com Jaspers e Heidegger, por exemplo. O Existencialismo no tem muito a ver com a f. O termo existencialismo foi aprendido na Amrica depois da II Guerra. Foi criado justamente por Sartre para descrever suas filosofias. Os conceitos do existencialismo so simples: a espcie humana tem livre arbtrio; a vida uma srie de escolhas; poucas decises no tm nenhuma conseqncia negativa; algumas coisas so absurdas ou irracionais, sem explicao; se voc toma uma deciso, deve lev-la at o fim. O termo aplicado amplamente, os homens acham que tm livre arbtrio apenas quando tomam uma deciso...

Os existencialistas possuem alguns temas comuns:

1) Individualismo moral : eu preciso encontrar a verdade que verdadeira pra mim... a idia pela qual eu vivo ou morro (Kierkegaard). Todos devem achar a sua prpria vocao. Toda escolha envolve um julgamento sobre aquilo que certo e errado. Devido a isso, os existencialistas dizem que nenhuma base racional ou objetiva pode ser encontrada nas decises morais.

2) Subjetividade: A compreenso de determinada situao por algum envolvido nessa situao superior de um observador imparcial. A claridade racional desejvel onde quer que seja, mas a mais importante questo na vida no acessvel razo ou cincia. Nem mesmo a cincia to racional como se supe.

3) Escolha e compromisso: Cada ser humano toma decises que criam sua prpria natureza. Para Sartre, a existncia precede a essncia. At a recusa da escolha uma escolha, e como toda escolha, implica em conseqncias que acarretam compromisso e responsabilidade.

4) Horror e angstia: O horror um sentimento de apreenso generalizado, o que interpretado como um compromisso com um modo de vida pessoal vlido. J a angstia leva ao confronto do indivduo com o nada e com a impossibilidade de encontrar justificativas para as escolhas que ele ou ela devem fazer. Na filosofia de Sartre, a palavra angstia usada para o reconhecimento da total liberdade de escolha que confronta o indivduo a cada momento.

3) Por que Sartre era ateu?

Sartre era o nico existencialista que realmente no acreditava em foras divinas, em algo que o transcendesse. Fora criado num ambiente religioso, mas com a II Guerra Mundial, onde presenciou de perto o sofrimento no mundo, ele se questionava quanto existncia de Deus, pois no entendia que Ele deixaria que as pessoas sofressem tanto.

Apesar de ateu, nos ltimos anos de sua vida, estudou e explorou a f e a dedicao com um judeu ortodoxo. Nada foi registrado e por isso s se pode imaginar as conversas. Para os existencialistas cristos, a f defende o indivduo e guia as decises com um conjunto rigoroso de regras, mas para os ateus, a ironia a que no importa o quanto voc faa para melhorar a si e aos outros, voc sempre vai se deteriorar e morrer. Muitos acreditam que o absurdo da vida aceit-la.

Sartre acreditava que cada um precisava encontrar a verdade para si mesmo, sem seguir padres universais. Ele prezava a liberdade de escolha, tomam decises que criam sua prpria natureza, a escolha inevitvel, e freqentemente, qualquer escolha uma escolha ruim. O livre arbtrio um direito das pessoas, e uma vez que Deus traa nosso destino, se o homem pr-determinado, no se existe liberdade, pois no se tem o direito de mudar o destino.

4) Concluso

Sartre pregava a liberdade e por isso no acreditava em Deus, acreditando que esse era um obstculo para o ser humano ser livre. Pra ele todos tm o direito de decidir sobre sua prpria vida e escolher o rumo que considerar melhor pra ela. Mas tambm acredita que se Deus existisse, no haveria sofrimento e tudo seria perfeito, e as pessoas se matariam pra acabar com o sofrimento.

Muitas idias da sua filosofia fazem sentido e so at bvias, mas ele coloca a culpa de tudo aquilo que acontece de ruim em Deus. Na verdade o livre arbtrio existe, e realmente Deus nos concedeu ele para podermos escolher por quais caminhos andar. Portanto, se sofremos, porque escolhemos sofrer. Deus s teria a capacidade de impedir nosso sofrimento se nos tirasse o livre arbtrio e realmente controlasse nossa vida, da forma que ele julgasse adequada, o que no acontece. Ele no deseja o sofrimento de ningum, no por culpa dele que desgraas acontecem e tudo mais. As pessoas so livres desde que no ultrapassem a liberdade do prximo.

Embora a religio no traga todas as respostas, muitas vezes esse o motivo que faz dela algo to importante. Muitas vezes em nossa vida, respostas claras, bvias e racionais no trazem conforto. Elas no explicam tudo o que sentimos, o porque sentimos. No existe uma explicao concreta que comprove a existncia de Deus, mas a prpria curiosidade das pessoas e a necessidade de se apoiarem em algo que no as decepcionaram e em algum que no as deixar sozinha faz de algo abstrato (Deus), uma coisa concreta. Tudo existe de verdade se acreditamos com f em sua existncia.

Deus no impede a liberdade do homem, apenas o ajuda a alcanar o bem e a respeitar os outros, fazendo com que a vida em sociedade seja possvel , o que no se relaciona com a liberdade que o homem continua tendo.

http://www.sartrerainha.hpg.ig.com.br/index.htm1. Doutrina filosfica segundo a qual o homem no determinado antecipadamente por sua essncia, e sim livre e responsvel por sua existncia.

O nada. A influncia do idealista G. W. F. Hegel em Sartre torna-se aparente quando o filsofo tenta interpretar tudo pelo mtodo dialtico, isto , atravs de uma tenso de opostos. A dialtica do "ser-um-com-o-outro" do homem central: ver e ser visto corresponde a dominar e a ser dominado. Ser e no ser, como em "O Ser e o Nada" outro exemplo dessa influncia hegeliana, em que o confronto entre a conscincia e o seu objeto..

O homem. Como seres conscientes estamos sempre querendo preencher o "nada" que a essncia do nosso ser consciente; queremos nos transformar em coisas em vez de permanecer perpetuamente num estado em que as possibilidades esto sempre irrealizadas.

o principal postulado do existencialismo sartreano que no h afirmaes gerais verdadeiras sobre o que os homens devem ser. Sartre leva esse indeterminismo s suas mais radicais conseqncias; nega que haja uma natureza humana: no h nenhuma coisa como uma natureza humana que seja comum a todos os seres humanos; nenhuma coisa como uma essncia especfica que defina o que seja ser humano existe!. Por exemplo, para Aristteles, e os filsofos gregos, a essncia de ser humano era ser racional. Mas para Sartre, a pessoa deve produzir sua prpria essncia, porque nenhum Deus criou seres humanos de acordo com um conceito, um projeto divino definido. - voc o que voc faz de voc mesmo.

Quando diz "a existncia do homem precede sua essncia", ou "no homem, a existncia precede a essncia", ele quer dizer que o homem se apresentou no mundo sem qualquer projeto concebido previamente por um Criador. No havendo tal essncia, todos so iguais e igualmente livres para se fazerem.

Liberdade. No entender de Sartre, estamos "condenados liberdade"; no h limite para nossa liberdade, exceto o de que "no somos livres para deixarmos de sermos livres." Porque no h nenhum Deus e portanto no h qualquer plano divino que determine o que deve acontecer, no h nenhum determinismo. O homem livre. Nada o fora a fazer o que faz. "Ns estamos sozinhos, sem desculpas." O homem no pode desculpar sua ao dizendo que est forado por circunstncias ou movido pela paixo ou determinado de alguma maneira a fazer o que faz.

A angstia. Seguindo a Kierkegaard, Sartre usa o termo "angstia" para descrever essa conscincia da prpria liberdade. Ns estamos livres porque ns no podemos confiar em um Deus ou na sociedade para justificar nossa ao ou para nos dizer o que e quem ns somos. Ns estamos condenados porque sem diretrizes absolutas, ns devemos sofrer a agonia de nossa tomada de deciso e a angustia de suas conseqncias. A angustia , ento, a conscincia da prpria liberdade... A angstia a conscincia dessa liberdade de escolha, a conscincia da imprevisibilidade ltima do prprio comportamento... Uma pessoa beira de um penhasco perigoso tem medo de cair, e sente angustia ao pensar que nada o impede de se jogar l embaixo, de se lanar no abismo.. O pensamento mais angustioso de todos quando, num dado momento, ns no sabemos como ns iremos nos comportar no momento seguinte.

A "m f". s vezes ns escapamos da ansiedade fingindo que ns no estamos livres, como quando ns fingimos que nossos genes ou nosso ambiente so a causa de como ns agimos. Ns nos permitimos ser auto-enganados ou mentir para ns mesmos, especialmente quando isto toma a forma de responsabilizar as circunstncias por nosso fado e de no lanar mo da liberdade para realizar a ns mesmos na ao. Quando ns fingimos, ns agimos de m f.

A m f a tentativa de fugir da angstia fingindo que no somos livres. Tentamos nos convencer que as nossas atitudes e aes so determinadas pela nossa personalidade, por nossa situao, ou por qualquer outra coisa fora de ns mesmos". Porm, diz Sartre, o que aprendido, ou os propsitos, as experincias passadas, no determinam o comportamento atual.. Segundo ele, "nenhum motivo ou resoluo passada determina o que fazemos agora". "Cada momento requer uma escolha nova ou renovada".

Psicanlise. Sartre rejeita enfaticamente a idia de causas inconscientes dos fatos psquicos; para ele tudo que est na mente consciente. Rompeu com a psicanlise por esta retirar a responsabilidade do indivduo ao invocar a ao de uma fora subconsciente e estados mentais inconscientes, que, para Sartre, no existem. Sustenta que a conscincia necessariamente transparente para si mesma. Todos os aspectos de nossas vidas mentais so intencionais, escolhidos, e de nossa responsabilidade, o que incompatvel com o total determinismo psquico postulado por Freud.

Socialismo. Sartre rompeu com o socialismo e a psicanlise considerando o quanto o Existencialismo se ope teoria psicanaltica. A submisso ao inconsciente significaria cerceamento da liberdade. O mesmo diz do socialismo. Depois de renunciar ele mesmo ao comunismo, denunciou que o planejamento social implica restrio ou perda total da liberdade. Os existencialistas acreditam na capacidade de todo indivduo de escolher as suas atitudes, objetivos, valores e formas de vida e seu postulado de liberdade representa obstculo intransponvel ao conformismo requerido pelo planejamento socialista e sua negao da individualidade em favor do social e coletivo.

Posteriormente Sartre adotou uma forma de marxismo que ele considerava como a "filosofia inescapvel do nosso tempo", que s precisava ser refertilizada pelo existencialismo. Esta mudana de ponto de vista encontra-se na sua "Crtica da Razo Dialtica", volume I, de 1960.

Deus. Sartre um existencialista ateu. Segundo Sartre, o homem est abandonado; Deus no existe e, para Sartre, a no-existncia de Deus tem implicaes extremadas. Alis, alguns dos problemas principais que se levantam do abandono parecem tambm levantar-se meramente do fato de ns no podermos saber se Deus existe. Se Deus realmente existe, ns "no estamos abandonados". O problema do abandono levanta-se meramente do fato de ns no podermos saber se Deus existe. Sua existncia em tais condies equivale, para Sartre, em uma no-existncia efetiva, que tem implicaes drsticas. Primeiro, porque no h Deus, no h nenhum criador do homem e nem tal coisa como um concepo divina do homem de acordo com a qual o homem foi criado. Segundo, diz ele, louvando-se em Dostoivski (na fala de Ivan Karamazov, na famosa novela daquele escritor russo): Se Deus no existe, ento tudo permitido. Terceiro, "No h um sentido ou propsito ltimo inerente vida humana; a vida absurda".

Isto significa que o indivduo, foi jogado de fato na existncia sem nenhuma razo real para ser. "Simplesmente descobrimos que existimos e temos ento de decidir o que fazer de ns mesmos.".

Resta como o nico valor para o existencialismo ateu a liberdade. Afirma que no pode haver uma justificativa objetiva para qualquer outro valor.

Porque no h nenhum Deus, no h nenhum padro objetivo dos valores. Com o desaparecimento dele desaparece tambm toda possibilidade de encontrar valores. No pode ento haver qualquer bem a priori porque se ns no sabemos se Deus existe, ento ns no sabemos se h alguma razo final porque as coisas acontecem da maneira que acontecem; no h nenhuma razo final porque qualquer coisa tenha acontecido ou porque as coisas so da maneira que elas so e no de alguma outra maneira e ns no sabemos se aqueles valores que acreditamos que esto baseados em Deus tm realmente validade objetiva. Consequentemente, porque um mundo sem Deus no tem valores objetivos, ns devemos estabelecer ou inventar, a partir da liberdade, nossos prprios valores particulares. Na verdade, mesmo se ns soubssemos que Deus existe e aceitssemos que os valores devessem basear-se em Deus, ns ainda poderamos no saber que valores estariam baseados em Deus, ns poderamos ainda assim no saber quais seriam os critrios e os padres absolutos do certo e do errado. E mesmo se ns sabemos quais so os padres do certo e do errado (critrios), exatamente o que significam ainda seria matria da interpretao subjetiva. E assim o dilema humano que resultaria poderia ser muitssimo o mesmo como se no houvesse Deus.

tica. Sartre acredita na capacidade de todo indivduo de escolher as suas atitudes, objetivos, valores e formas de vida. uma iluso a crena de que os valores existem objetivamente no mundo, em vez de serem criados apenas pela escolha humana. Recomenda honestidade, ou seja, que faamos nossas escolhas individuais com plena conscincia de que so autenticamente nossas e nada as determina por ns. Parece assim que Sartre, a partir das prprias premissas, teria que elogiar o homem que escolhe devotar a vida exterminao dos judeus, contanto que ele escolha isso com plena conscincia do que est fazendo. Porm, paradoxalmente, a "sinceridade" que iria contrapor-se m f, no inteiramente possvel. O ideal de sinceridade completa parece condenado ao fracasso por dois motivos. Primeiro, uma vez que no podemos ser simplesmente objetos observados e corretamente descritos, no podemos ser considerados, nem por ns mesmos, como honestos. Segundo, por que se sincero no mal. Assim sendo, o nico valor fundamental e universal para o existencialismo a liberdade. Diz Sartre "No pode haver uma justificativa objetiva para qualquer outro valor". A nica recomendao positiva que Sartre pode fazer que deveramos evitar a m f e procurar fazer escolhas autnticas.

Crtica. Sartre foi, sem dvida, essencialmente um filsofo moralista e um psiclogo arguto, e contou com a simpatia de uma vasta imprensa esquerdista em todo o mundo. Porm, pouco do que disse foi concepo original sua. Ele tomou seu ponto de partida das filosofias de Husserl e Heidegger. Seu primeiro trabalho, L'Imagination (1936) e L'Imaginaire: Psychologie phnomnologique de l'imagination (1940), ficam completamente no contexto da anlise da conscincia que fez Husserl. O pensamento de Heidegger aparece com clareza em "A Nusea". A definio do homem como um ser de possibilidades que encontra ou perde a si mesmo nas escolhas que faz com respeito a si mesmo corresponde definio de Heidegger do que chamou Dasein como o ser que tem que se fazer, se materializar. Segundo seus crticos, no L'tre et le nant (1943), um ensaio de ontologia fenomenolgica, est bvio que Sartre copiou de Heidegger. Algumas passagens da obra de Heidegger Was ist Metaphysik? (1929- "Que a Metafsica?"), na verdade foram literalmente copiadas. O significado do "Nada", objeto da investigao de Heidegger em suas aulas, foi a questo que guiou o pensamento de Sartre.

A LIBERDADE

"O homem est condenado liberdade". Tal a mxima sartreana, inmeras vezes citada, que se tornou um lugar comum ao se falar em liberdade. Por que condenado? Afirma Sartre, que a essncia do homem liberdade. Os homens fazem a partir da liberdade, o que bem entendem de si mesmos.

Esta liberdade no deve Ter limites, no est vinculada a nenhuma lei moral. Isto no quer dizer que seja confundida com libertinagem. Liberdade absoluta s existe na projeto fundamental, que escolha condicionada. Todas as outras escolhas esto condicionadas a esta escolha fundamental. Sartre procurou dar liberdade um carter social, vinculando-a responsabilidade que o homem deve sentir pela humanidade.

Por sua liberdade o homem responsvel por tudo o que lhe acontea. A prpria negao da liberdade uma situao de escolha. O homem escolhe, livre, mesmo ao escolher no ser livre, pois este o seu projeto, sua escolha fundamental, ainda que neste caso seja uma escolha covarde.

O medo da liberdade, a fuga da angstia que ela provoca leva o homem atitude de m f. Esta m-f uma atitude paradoxal, irresponsvel, uma mentira , uma iluso de responsabilidade para com o homem e com o mundo. uma mentira que o homem conta para s prprio. a atitude de quem finge escolher.

O homem que recusa a si mesmo naquilo que fundamentalmente o caracteriza a si mesmo, ou seja, a liberdade, torna-se "sujo", recusa a dimenso do para-si, e reduz-se facticidade.

atravs da atitude de assumir o risco da liberdade , e sua conseqente responsabilidade para com o homem e com o mundo que o homem supera a m-f. Ao assumir a liberdade, com todo o seu peso e angstia, o homem assume a responsabilidade para com toda a humanidade. "...nossa responsabilidade muito maior do que poderamos supor, porque ela envolve toda a humanidade". (J-P. Sartre, O existencialismo um humanismo, p.219)

Mesmo tendo como inspirao o pensamento de Kierkeggard, Sartre contraria o pensamento kierkeggardiano ao tomar a posio atesta. Para ele existe incompatibilidade absoluta entre ser-em-si e ser-para-si, portanto no pode conceber Deus como um ser ao mesmo tempo em-si e para-si.

O existencialismo sartreano uma moral de ao, que v o ato humano como definidor do homem. O que importa o que o homem faz com o que fizeram dele, diz Sartre em "O existencialismo o um Humanismo".

Jean-Paul Sartre Vida e Obra

A Filosofia aparece a alguns como um meio homogneo: os pensamentos nascem nele, morrem nele, os sistemas nele se edificam para nele desmoronar. Outros consideram-na como certa atitude cuja adoo estaria sempre ao alcance de nossa liberdade. Outros ainda, como um setor determinado da cultura. A nosso ver, a Filosofia no existe; sob qualquer forma que a consideremos, essa sombra da cincia, essa eminncia parda da humanidade no passa de uma abstrao hipostasiada.

O texto acima constitui as linhas iniciais do livro Questo de Mtodo, escrito, paradoxalmente, por um homem que jamais deixou de fazer de todos os momentos de sua vida uma permanente reflexo sobre os problemas fundamentais da existncia humana.

Jean-Paul Sartre nasceu em Paris, no dia 21 de junho de 1905. O pai faleceu dois anos depois e a me, Anne-Marie Schweitzer, mudou-se para Meudon, nos arredores da capital, a fim de viver na casa de Charles Schweitzer, av materno de Sartre. Sobre a morte do pai, escrever mais tarde: Foi um mal, um bem? No sei; mas subscrevo de bom grado o veredicto de um eminente psicanalista: no tenho Superego.

Seja como for, talvez a ausncia da figura paterna em sua vida possa explicar por que Sartre se tornou um homem radicalmente livre, tomada a expresso no sentido que ele lhe dar posteriormente: no existe uma natureza humana, o prprio homem, numa escolha livre porm situada, quem determina sua prpria existncia.

Outro trao marcante na formao de Sartre foi a imaginao criativa, alimentada pela leitura precoce e intensiva: ...por ter descoberto o mundo atravs da linguagem, tomei durante muito tempo a linguagem pelo mundo. Existir era possuir uma marca registrada, alguma porta nas tbuas infinitas do Verbo; escrever era gravar nela seres novos foi a minha mais tenaz iluso , colher as coisas vivas nas armadilhas das frases... Como conseqncia, aos dez anos de idade quis tornar-se escritor e ganhou uma mquina de escrever. Seria seu instrumento de trabalho por toda a vida.

Em 1924, aos dezenove anos de idade, Sartre ingressou no curso de filosofia da Escola Normal Superior, onde no foi aluno brilhante, mas muito interessado, especialmente pelas aulas de Alain (1868-1951), que dedicava ateno particular discusso do problema da liberdade. Na Escola Normal, Sartre conheceu Simone de Beauvoir (1908 - 1986), uma moa bem-comportada que lhe afirmou : A parti r de agora, eu tomo conta de voc. Desde ento, nunca mais se separaram.

Terminado o curso de filosofia, em 1928, Sartre teve de prestar o servio militar e o fez em Tours, na funo de meteorologista Depois disso obteve uma cadeira de filosofia numa escola secundria do Havre, cidade porturia. Nessa poca escreveu um romance, A Lenda da Verdade, recusado pelos editores. Em 1933, passou um ano em Berlim, estudando a fenomenologia de Edmund Husserl (1859-1938), as teorias existencialistas de Heidegger e Karl Jaspers (1883-1969) e a filosofia de Max Scheller (1874-1928). A partir desses autores, Sartre foi levado a obras de Kierkegaard (1813-1855). Apoiado nessas referncias principais, Sartre elaborou sua prpria verso da filosofia existencialista.

Na Alemanha, Sartre iniciou a redao de Melancolia, romance mais tarde concludo e intitulado A Nusea. De volta Frana, publicou, em 1936, A Imaginao e A Transcendncia do Ego, trabalhos marcados por forte influncia da fenomenologia. Em 1938, foi editada A Nusea. Um ano depois, uma coletnea de contos, O Muro, e o ensaio Esboo de uma Teoria das Emoes; em 1940, mais um ensaio, O Imaginrio, que, como o anterior, utilizava o mtodo fenomenolgico.

O engajamento existencialista

Ao estourar a Segunda Guerra Mundial, Sartre foi convocado para servir como meteorologista na Lorena. Em junho de 1940, caiu prisioneiro e foi encerrado no campo de concentrao de Trier, Alemanha. Cerca de um ano mais tarde, conseguiu escapar e, na primavera de 1941, encontrou-se, em Paris, com Simone de Beauvoir.

Em Paris, Sartre fundou o grupo Socialismo e Liberdade, a fim de colaborar com a Resistncia, produzindo panfletos clandestinos contra a ocupao alem e contra os colaboracionistas franceses. Em maro de 1943, encenou sua primeira pea teatral, intitulada As Moscas, uma lenda grega, segundo o programa. Na verdade, todos os elementos da pea funcionavam simbolicamente: o reino de Agameno era a Frana ocupada; Egisto, o comando alemo que depusera s autoridades francesas; Clitemnestra, os colaboracionistas; a praga das moscas, o medo de setores cada vez mais amplos da populao; o gesto final de Orestes, eliminando a praga das moscas, uma exortao luta contra os alemes.

No mesmo ano, Sartre publicou um volumoso ensaio filosfico, iniciado em 1939: O Ser e o Nada, obra fundamental da teoria existencialista. Em 1945, uma nova pea teatral, Entre Quatro Paredes, pe em cena personagens que vivem os dramas existenciais abordados por Sartre nas obras tericas. Os romances que escreveu na mesma poca fazem o mesmo: A idade da Razo, Sursis, Com a Morte na Alma.

Terminada a Segunda Guerra Mundial, em 1945, Sartre dissolveu o movimento Socialismo e Liberdade, por corresponder apenas a uma necessidade da Resistncia, e fundou a revista Os Tempos Modernos, juntamente com Merleau-Ponty (1908-1961), Raymond Aron (1905-1983) e outros intelectuais. Na revista apareceram os trabalhos mais diversos, colocando e analisando os principais problemas da poca, sem qualquer esprito sectrio.

Em 1946, diante das crticas sua filosofia existencialista, exposta em O Ser e o Nada, Sartre publica O Existencialismo um Humanismo, onde mostra o significado tico do existencialismo. No mesmo ano, publica tambm duas peas, Mortos sem Sepultura e A Prostituta Respeitosa e o ensaio Reflexes Sobre a Questo Judaica, onde defende a tese de que a emancipao dos judeus s ser possvel numa sociedade sem classes. Em 1948, encena As Mos Sujas e, trs anos depois, O Diabo e o Bom Deus. No plano da ao poltica, poltica essa poca marca a aproximao de Sartre do Partido Comunista, ao qual acaba por filiar-se, em 1952. A interveno sovitica na Hungria, em 1956, leva-o, porm, a romper com o Partido e escrever um artigo, O Fantasma de Stlin, no qual explica sua posio, em face dos desvios do esprito do marxismo por parte das autoridades soviticas.

Nos anos seguintes, Sartre continuaria sendo, ao mesmo tempo, um homem de ao e de pensamento. Em 1960, publica um extenso trabalho, ho, a Crtica da Razo Dialtica, precedido ido pelo ensaio Questo de Mtodo, nos quais se encontram reflexes no sentido de unir o existencialismo e o marxismo. A obra literria tambm no cessa e no mesmo ano estreada a pea Seqestrados de Altona, cujo tema o problema do colonialismo francs na Arglia, embora a ao transcorra na Alemanha nazista. O interesse pelo problema argelino liga-se, em Sartre, aos problemas mais gerais do Terceiro Mundo. Viaja para Cuba e para o Brasil (1961) e v no conflito vietnamita um alargamento do campo do possvel por parte dos revolucionrios vietcongs.

Em 1964, surpreende seus admiradores com As Palavras, anlise do significado psicolgico e existencial de sua infncia. No mesmo ano -lhe atribudo o Prmio Nobel de Literatura, mas ele o recusa. Receber a honraria significaria reconhecer a autoridade dos juzes, o que considera inadmissvel concesso.

A carreira Literria de Sartre parecia a muitos ter-se encerrado com As Palavras. Em 1971, porm, Sartre surpreende de novo seu pblico, com a primeira parte de um extenso estudo sobre Flaubert, L'Idiot de Famille.

Itinerrio do pensamento sartreano

Do ponto de vista estritamente filosfico, o itinerrio do pensamento de Sartre inicia-se com A Transcendncia do Ego, A Imaginao, Esboo de uma Teoria das Emoes e O Imaginrio, publicados entre 1936 e 1940. Neles encontram-se aplicaes do mtodo fenomenolgico formulado por Husserl, ao mesmo tempo que o autor se afasta do mestre e chega a criticar algumas de suas posies. Mas a obra na qual se encontra a filosofia existencialista que celebrizou Sartre O Ser e o Nada.

O Ser e o Nada subintitula-se ensaio de ontologia fenomenolgica, o que desde o incio define a perspectiva metodolgica adotada pelo autora A abordagem proposta pretende no confundir o objetivo do livro com as metafsicas tradicionais. Estas sempre contrastaram ser a aparncia, essncias subjacentes realidade e fenmenos, o que estaria atrs das coisas e as prprias coisas como suas manifestaes. A ontologia fenomenolgica superaria essa dual idade pela descrio do ser como aquilo que se d imediatamente, ou seja, no propondo explicar a experincia humana por referncia a uma realidade extrafenomenal. Nesse sentido, a ontologia fenomenolgica seria idntica a outras espcies de descries fenomenolgicas, como as que o prprio Sartre realizou com relao s emoes e ao imaginrio. Para Sartre, o dualismo de ser e parecer no tem mais direito de cidadania na filosofia. O ser de um existente qualquer seria precisamente aquilo que parece e no existiria outra real idade fora do fenmeno: O fenmeno pode ser estudado e descrito enquanto tal, pois ele absolutamente indicativo de si mesmo. Isso no quer dizer que o fenmeno no seja verdadeiramente um ser. Para Sartre, o ser do fenmeno posto pela prpria conscincia e esta tem como carter essencial a intencionalidade. Em outros termos, a conscincia visa a um objeto transcendente, implicando, portanto, a existncia de um ser no-consciente. Poder-se-ia ento concluir que existem dois tipos de ser: o ser-para-si (conscincia) e o ser-em-si (fenmeno).

Do ser-em-si somente se pode dizer que ele aquilo que . Isso significa que o ser-em-si opaco para si mesmo, nem ativo nem passivo, sem qualquer relao fora de si, no derivado de nada, nem de outro ser: o ser-em-si simplesmente . Da o carter de absurdo que o ser-em-si carrega como sua determinao fundamental. A densidade opaca, o absurdo do ser-em-si provocaria no homem o mal-estar, que Sartre denomina nusea.

Para Sartre, o ser-para-si, a conscincia, radicalmente diferente, definindo-se como sendo aquilo que no e no sendo aquilo que ele . Enquanto o ser-em-si inteiramente preenchido por si mesmo e sem nenhum vazio, a conscincia constituda por uma descompresso do ser. A conscincia presena para si mesma, o que supe que uma fissura se instala dentro do ser. Essa fissura, ou descolamento, a marca do nada no interior da conscincia. O nada um buraco mediante o qual se constitui o ser-para-si, e o fundamento do nada o prprio homem: mediante o homem que o nada irrompe no mundo.

O ser-para-si conteria, portanto, uma abertura e seria precisamente essa abertura a responsvel pela faculdade do para-si no sentido de sempre poder ultrapassar seus prprios limites. Enquanto o ser-em-si permaneceria fechado dentro de suas prprias fronteiras, o ser-para-si ultrapassar-se-ia perpetuamente, e esse poder de transcendncia seria expresso atravs das formas do tempo. Em outros termos, o ser-para-si seria um ser para o futuro, seria espontaneidade criadora.

Segundo Sartre, o tempo tambm expresso de mistura entre o em-si e o para-si e essa mistura constitui a existncia humana. Dentro dessa perspectiva, o passado no existe, a no ser enquanto ligado ao presente; todo indivduo pode afirmar: eu sou meu passado e no momento de minha morte no serei mais do que o meu passado que, agora, meu presente. O passado, pensa Sartre, a marca do em-si. Enquanto o homem consciente de si mesmo, no presente, ele vive segundo o modo do para-si; contudo, o seu passado tem todas as caractersticas do em-si. Da mesma forma como o corpo humano das sereias termina em cauda de peixe, a existncia humana constitui-se, sobretudo, pela espontaneidade da conscincia, mas encontra atrs de si um ser que tem toda a fixidez de uma coisa qualquer do mundo.

Apesar disso, afirma Sartre, no possvel ver na conscincia algo distinto do corpo: Este no uma coisa que se liga exteriormente conscincia; pelo contrrio, constitutivo da prpria conscincia. A conscincia , estruturalmente, intencional e, portanto, relao com o mundo; o corpo exprime a imerso no mundo, caracterstica da existncia humana. O corpo um centro, em relao ao qual se ordenam as coisas do mundo e, por isso, constitui uma estrutura permanente que torna possvel a conscincia. Sartre vai mais longe em sua interpretao, dizendo que o corpo a prpria condio da liberdade. No existe liberdade sem escolha e o corpo precisamente a necessidade de que haja escolha, isto , de que o homem no seja imediatamente a total idade do ser. O corpo , por conseguinte, tanto a condio da conscincia como conscincia do mundo, quanto fundamento da conscincia enquanto liberdade.

Dramas da liberdade

A teoria sartreana do ser-para-si conduz a uma teoria da liberdade. O ser-para-si define-se como ao e a primeira condio da ao a liberdade. O que est na base da existncia humana a livre escolha que cada homem faz de si mesmo e de sua maneira de ser. O em-si, sendo simplesmente aquilo que , no pode ser livre. A liberdade provm do nada que obriga o homem a fazer-se, em lugar de apenas ser. Desse princpio decorre a doutrina de Sartre, segundo a qual o homem inteiramente responsvel por aquilo que ; no tem sentido as pessoas quererem atribuir suas falhas a fatores externos, como a hereditariedade ou a ao do meio ambiente ou a influncia de outras pessoas. Por outro lado, a autonomia da liberdade, enquanto determinao fundamental e radical do ser-para-si, vale dizer do homem, faz da doutrina existencialista uma filosofia que prescinde inteiramente da idia de Deus. Sartre tira todas as conseqncias desse atesmo, eliminando qualquer fundamento sobrenatural para os valores: o homem que os cria. A vida no tem sentido algum antes e independentemente do fato de o homem viver; o valor da vida o sentido que cada homem escolhe para si mesmo. Em sntese, o existencialismo sartreano uma radical forma de humanismo, suprimindo a necessidade de Deus e colocando o prprio homem como criador de todos os valores.

Ao lado das anlises volumosas e rigorosamente tcnicas de O Ser e a Nada, nas quais se encontra exposta a filosofia existencialista, Sartre expressou seu pensamento atravs de vrias obras I literrias,

que o colocam como um dos maiores escritores do sculo XX. Nelas encontram-se todos os temas fundamentais de sua concepo do homem, real realizados no plano concreto das personagens, suas aes e suas situaes existenciais.

Antoine Roquentin, personagem principal de A Nusea (1938), vive sozinho, sem amigos, sem amante, nada lhe importando, nem os outros homens, nem ele mesmo; o mundo para ele no tem nenhuma razo de ser e absurdo porque composto de seres em-si: a cidade, o jardim, as rvores.

Pablo Ibietta, republicano espanhol, personagem central de O Muro, vive uma das situaes-limite descritas por Sartre: momentos de intensificao de conflitos sociais e individuais, quando o homem obrigado a fazer uma escolha e afirmar sua liberdade radical. Pablo Ibietta, preso e torturado pelos fascistas de Franco, v postas prova as virtudes da coragem, fidelidade e sangue-frio. O prprio Sartre viveu uma dessas 'situaes-limite, quando preso num campo de concentrao nazista, em 1940, do qual conseguiu fugir, fazendo sua escolha: participar da resistncia ao invasor alemo.

O problema da ao e da liberdade constitui o tema da trilogia de romances Os Caminhos da Liberdade. No primeiro, A Idade da Razo (1945), as questes individuais predominam, a histria e a poltica so panos de fundo. Mathieu Delorme, jovem professor de filosofia, procura a liberdade pura, sem compromisso de qualquer espcie; Brunet, ao contrrio, personifica a renncia da liberdade pessoal em favor do engajamento poltico; Daniel ilustra a tese gideana da liberdade como ato gratuito, sem qualquer motivo; Jacques abandona os sonhos juvenis de liberdade para casar-se, ter um trabalho, viver uma vida regular. No segundo volume da trilogia, Sursis (1945), os acontecimentos polticos revelam que os projetos de vida individuais so, na verdade, determinados pelo curso da histria, tornando-se ilusria a busca da liberdade num plano puramente pessoal: a liberdade sempre vivida "em situao" e realizada no engajamento de projetos voltados para interesses humanos comunitrios. Apenas um compromisso com a histria pode dar sentido existncia individual. Em Com a Morte na Alma (1949), ltimo romance da trilogia, trilogia, Mathieu ilustra a tese do engajamento gratuito; ele arrisca a prpria vida apenas para retardar algumas horas a investida das tropas alems.

Outras obras literrias de Sartre ilustram as teses existencialistas. Canoris, personagem da pea Mortos sem Sepultura (1946), um homem de ao, pronto para enfrentar a morte pela causa da liberdade. Hugo, nas Mos Sujas (1948), um intelectual da classe mdia, engajado no Partido Comunista, no por convico mas para satisfazer sua necessidade de ao. Na pea O Diabo e o Bom Deus (1951), Goetz um nobre da Idade Mdia que abandona seus privilgios para fazer o bem aos camponeses. Inspirados nesse exemplo, os camponeses rebelam-se contra todos os senhores feudais e empregam a violncia. Goetz acaba por concluir que, para transformar o mundo, a violncia, s vezes, necessria; preciso ter as mos sujas, para combater a opresso; o Bem abstrato e sobrenatural nada consegue realizar, s o prprio homem criador de sua liberdade.

Existencialismo e marxismo

O homem enquanto ser-em-situao, a necessidade de engajamento, a responsabilidade pessoal por todas as aes e projetos de vida e, sobretudo, a liberdade como raiz fundamental da pessoa humana so as coordenadas do pensamento existencialista de Sartre. As obras puramente tericas expem seus fundamentos filosficos, e o teatro, o romance e o conto revelam concretamente essas idias. Por outro lado, a prpria vida do autor, principalmente depois de 1940, quando passou a participar ativamente dos acontecimentos polticos de seu tempo, tambm testemunho de suas teses.

As posies filosficas iniciais de Sartre sofreram transformaes, medida que o filsofo buscou inserir o existencialismo numa concepo mais ampla. Essas transformaes derivaram, por um lado, do prprio existencialismo sartreano, que constitui uma filosofia aberta, e, por outro, do engajamento social e poltico do filsofo. Do ponto de vista da fundamentao terica, essa nova concepo de Sartre encontra-se em Questo de Mtodo e Crtica da Razo Dialtica, publicadas em 1960.

Nessas obras, o problema fundamental colocado pelo autor saber se possvel constituir uma antropologia ao mesmo tempo estrutural e histrica. Em outros termos, o objetivo visado por Sartre saber se h possibilidade de se reencontrar uma compreenso unitria do homem, para alm das vrias teorias, das vrias tcnicas, das vrias cincias que o investigam. Sartre, contudo, no pretende inventar esse novo saber do homem. No se trata de opor tradio uma nova filosofia, capaz de fornecer solues para os problemas que as antigas doutrinas sobre o homem no conseguiram resolvera Esse novo saber j existe segundo Sartre e circula anonimamente entre os homens: o marxismo. O marxismo, para Sartre, a filosofia insupervel do sculo XX, o clima de nossas idias, o meio no qual estas se nutrem... a totalizao do saber contemporneo, porque reflete a prxis que a engendrou. Na mesma linha de idias, Sartre afirma que, depois da morte do pensamento burgus, o marxismo , por si s, a cultura, pois o nico que permite compreender as obras, os homens e os acontecimento i mentos.

Sartre, contudo, no quer se referir ao marxismo oficial, tampouco pretende revisar ou superar as obras de Marx, pois para ele o marxismo supera-se a si mesmo, sendo uma filosofia que, por conta prpria, se adapta s transformaes sociais. Por outro lado, tambm no pretende voltar ao materialismo dialtico puro e simples, pois este pensa Sartre no conseguiu dar conta das cincias, que permanecem ainda no estgio positivista. Tambm no se trata do materialismo histrico exclusivamente. Separar o materialismo dialtico do materialismo histrico constituiria uma diviso artificial dos domnios do saber e contrariaria o espr