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1 Satisfação Com o Curso de Graduação: Um Estudo Junto Aos Estudantes de Administração da Universidade Federal de Lavras Autoria: Rafael Campos Rolim, Marcela Diniz de Oliveira, Antônio Thiago Benedete da Silva, Marcelo Andrade Botelho Mesquita Resumo O presente estudo objetivou levantar o nível de satisfação dos estudantes de graduação em Administração da Universidade Federal de Lavras. Buscou-se detalhar a visão dos mesmos acerca do desempenho dos serviços prestados pela universidade. Para isso, foi utilizada uma abordagem quantitativa e realizada uma pesquisa descritiva. Foram selecionadas, a partir do referencial teórico, algumas variáveis que pudessem mensurar o nível de satisfação dos alunos com o curso de graduação em Administração. Essas variáveis foram subdivididas e inseridas em um questionário estruturado com escala do tipo Likert que, por sua vez, foi distribuído aos alunos de graduação. Com uma amostra de 110 respondentes, foi possível desenvolver este trabalho e realizar o levantamento da satisfação dos estudantes de Administração acerca das variáveis selecionadas. Além disso, foram realizadas análises de correlação entre algumas variáveis buscando encontrar explicações plausíveis para a satisfação ou insatisfação dos estudantes. 1. Introdução Segundo o último levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (INEP/MEC), em 2002 existiam no Brasil 1413 cursos de graduação em Administração. Isto significa que só naquele ano seriam colocados no mercado 54 656 novos profissionais da área. Entretanto, o desempenho destes cursos tem sido constantemente questionado, influenciando de maneira significativa na respeitabilidade dos profissionais formados por estas instituições. Obviamente, não se eximem dos estudantes suas responsabilidades com a própria formação e com o desenvolvimento de competências requeridas pelo mercado de trabalho. Entretanto, questões relacionadas a atributos oferecidos pelas instituições de ensino superior (IES) determinam de maneira significativa a empregabilidade desses futuros profissionais. Para as escolas de administração tem sido um desafio oferecer uma formação sólida, em um ambiente atual marcado pela mutabilidade. Para complicar ainda mais o quadro, há constantes questionamentos quanto à efetividade de suas práticas de ensino-aprendizagem. Em entrevista à revista HSM Management, Fernando Meirelles, diretor da EAESP/FGV, apontou três aspectos do ensino em administração que precisam ser resolvidos. O primeiro é a forma como se tem ensinado: aulas convencionais e mesmo com algumas dinâmicas especiais não tem se apresentado como um formato produtivo. O grau de retenção do conteúdo ministrado é baixo, por melhores que sejam o professor e o conteúdo. O segundo aspecto é que a quantidade de assuntos que precisam ser ensinados é exponencialmente crescente. As instituições de ensino não estão dando conta de abordá-los, passando para as empresas o ônus de tal deficiência. O terceiro aspecto se refere às novas habilidades que são a tônica dos tempos atuais, como o exemplo de trabalho em equipe, liderança, entre outros. Tendo em vista a superação destes desafios, deve ser estabelecido um trabalho conjunto e colaborativo entre o corpo docente e discente, de modo que a instituição possa identificar continuamente oportunidades de melhoria nos cursos de graduação, atendendo de forma efetiva as demandas sociais por profissionais capazes de atuar em nível de excelência. Assim, esta pesquisa objetivou levantar o nível satisfação dos estudantes do curso de graduação em Administração da UFLA acerca do desempenho dos serviços prestados pela instituição. Para atingir esse objetivo, tornou-se necessário identificar os atributos relacionados à satisfação de estudantes em Instituições de Ensino Superior e medir o nível de

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Satisfação Com o Curso de Graduação: Um Estudo Junto Aos Estudantes de Administração da Universidade Federal de Lavras

Autoria: Rafael Campos Rolim, Marcela Diniz de Oliveira, Antônio Thiago Benedete da Silva, Marcelo Andrade Botelho Mesquita

Resumo

O presente estudo objetivou levantar o nível de satisfação dos estudantes de graduação em Administração da Universidade Federal de Lavras. Buscou-se detalhar a visão dos mesmos acerca do desempenho dos serviços prestados pela universidade. Para isso, foi utilizada uma abordagem quantitativa e realizada uma pesquisa descritiva. Foram selecionadas, a partir do referencial teórico, algumas variáveis que pudessem mensurar o nível de satisfação dos alunos com o curso de graduação em Administração. Essas variáveis foram subdivididas e inseridas em um questionário estruturado com escala do tipo Likert que, por sua vez, foi distribuído aos alunos de graduação. Com uma amostra de 110 respondentes, foi possível desenvolver este trabalho e realizar o levantamento da satisfação dos estudantes de Administração acerca das variáveis selecionadas. Além disso, foram realizadas análises de correlação entre algumas variáveis buscando encontrar explicações plausíveis para a satisfação ou insatisfação dos estudantes.

1. Introdução

Segundo o último levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais

(INEP/MEC), em 2002 existiam no Brasil 1413 cursos de graduação em Administração. Isto significa que só naquele ano seriam colocados no mercado 54 656 novos profissionais da área. Entretanto, o desempenho destes cursos tem sido constantemente questionado, influenciando de maneira significativa na respeitabilidade dos profissionais formados por estas instituições. Obviamente, não se eximem dos estudantes suas responsabilidades com a própria formação e com o desenvolvimento de competências requeridas pelo mercado de trabalho. Entretanto, questões relacionadas a atributos oferecidos pelas instituições de ensino superior (IES) determinam de maneira significativa a empregabilidade desses futuros profissionais.

Para as escolas de administração tem sido um desafio oferecer uma formação sólida, em um ambiente atual marcado pela mutabilidade. Para complicar ainda mais o quadro, há constantes questionamentos quanto à efetividade de suas práticas de ensino-aprendizagem. Em entrevista à revista HSM Management, Fernando Meirelles, diretor da EAESP/FGV, apontou três aspectos do ensino em administração que precisam ser resolvidos. O primeiro é a forma como se tem ensinado: aulas convencionais e mesmo com algumas dinâmicas especiais não tem se apresentado como um formato produtivo. O grau de retenção do conteúdo ministrado é baixo, por melhores que sejam o professor e o conteúdo. O segundo aspecto é que a quantidade de assuntos que precisam ser ensinados é exponencialmente crescente. As instituições de ensino não estão dando conta de abordá-los, passando para as empresas o ônus de tal deficiência. O terceiro aspecto se refere às novas habilidades que são a tônica dos tempos atuais, como o exemplo de trabalho em equipe, liderança, entre outros.

Tendo em vista a superação destes desafios, deve ser estabelecido um trabalho conjunto e colaborativo entre o corpo docente e discente, de modo que a instituição possa identificar continuamente oportunidades de melhoria nos cursos de graduação, atendendo de forma efetiva as demandas sociais por profissionais capazes de atuar em nível de excelência.

Assim, esta pesquisa objetivou levantar o nível satisfação dos estudantes do curso de graduação em Administração da UFLA acerca do desempenho dos serviços prestados pela instituição. Para atingir esse objetivo, tornou-se necessário identificar os atributos relacionados à satisfação de estudantes em Instituições de Ensino Superior e medir o nível de

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satisfação em relação ao desempenho atual encontrado nesses atributos. Trata-se de um estudo que se insere no escopo de um projeto mais amplo, que acarretou na realização de um fórum de discussões sobre o tema “Ensino-Aprendizagem em Administração”, estimulando um debate transversal entre os corpos docente e discente.

A urgência da investigação do tema reflete, não só a necessidade de engajar processos educacionais em uma filosofia de melhoria contínua, mas também a grande evasão que tem ocorrido no curso, somando, desde 2003, 28 ocorrências. Dessa forma, investigar a satisfação dos estudantes em relação ao curso apresenta-se como uma possibilidade de identificação de oportunidade de melhorias na qualidade do ensino na instituição.

2. Contextualização: O Ensino de Administração no Brasil

O ensino de Administração no Brasil passou por dois momentos, marcados pelos

currículos mínimos aprovados em 1966 e 1993, culminando com a apresentação da proposta de diretrizes curriculares para os cursos de graduação em Administração, elaborada em 1998.

Com o desenvolvimento das organizações no Brasil e conseqüentes modernizações que demandaram cada vez mais mão-de-obra qualificada, tornou-se indispensável a presença de profissionais para as diferentes funções de controlar, analisar e planejar as atividades empresariais.

A partir da década de 40, com a passagem da sociedade brasileira de um estágio agrário para industrial, acentua-se a necessidade da profissionalização do ensino de Administração. Nesta época, o administrador deveria estar apto para atender ao processo de industrialização. Esse processo foi marcado por dois momentos históricos distintos. O primeiro deles foi marcado pelos governos de Getúlio Vargas, representativos do projeto "autônomo", de caráter nacionalista. O segundo, pelo governo de Juscelino Kubitschek, evidenciado pelo projeto de desenvolvimento associado e caracterizado pelo tipo de abertura econômica de caráter internacionalista. Segundo Lopes (2002), o desenvolvimento socioeconômico brasileiro se dava num ambiente empresarial caracterizado por crescente processo de burocratização, expresso pelo aumento da complexidade com utilização crescente de novas tecnologias. Naquele ambiente, o propósito fundamental dos primeiros cursos de Administração do país foi formar profissionais com domínio de técnicas complexas, analíticas e organizativas, importadas dos Estados Unidos, sobretudo, as relacionadas com disciplinas da área financeira, como técnicas orçamentárias e de controle de custos, para atenderem uma demanda específica das grandes empresas e das estruturas do Estado (Covre, 1981, citado por Lopes, 2002).

Nesse período, o processo de industrialização se acentuou, sobretudo devido à importação de tecnologia norte-americana.

O surto do ensino superior em Administração, é fruto do crescimento econômico observado após 1964, calcado na tendência para a grande empresa, em que a mão-de-obra de nível superior é essencial para lidar com essa realidade. A Tabela 1 apresenta o expressivo crescimento do número de cursos nas últimas décadas.

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DÉCADAS Nº DE CURSOS

Antes de 1960 2

1960 31

1970 247

1980 305

1990 823

2000 1.462 TABELA 01 – Evolução do número de cursos a partir da década de 60

Fonte: elaborado pelos autores, a partir de dados do CFA. O surgimento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a criação da Faculdade de

Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP) marcaram o ensino e a pesquisa de temas econômicos e administrativos no Brasil, contribuindo para o processo de desenvolvimento econômico do país. Lopes (2002) afirma que nessa época, enquanto as matriculas dos cursos de Medicina e Engenharia, cresceram respectivamente, 174% e 483%, na área de Economia e Administração essa taxa alcançou 1.118%, continuando a aumentar nos primeiros anos da década de 70.

Somente no final dos anos 60, a evolução dos Cursos de Administração ocorreria não mais vinculada às Instituições Universitárias, e sim às Faculdades isoladas que proliferaram no bojo do processo de expansão privatizada na sociedade brasileira.

Com as mudanças econômicas, um novo acontecimento acentuou a tendência à profissionalização do Administrador: a regulamentação dessa atividade, que ocorreu na metade da década de 60, pela Lei nº 4.769, de 9 de setembro de 1965. A presente Lei, no seu artigo 3º, afirma que o exercício da profissão de Técnico em Administração é privativo dos Bacharéis em Administração Pública ou de Empresas, diplomados no Brasil, em cursos regulares de ensino superior, oficial, reconhecido ou oficializado, cujo currículo seja fixado pelo Conselho Federal de Educação, nos termos da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, que fixa as Diretrizes e Bases da Educação no Brasil. Isso veio ampliar um vasto campo de trabalho para a profissão de Administrador.

No ano seguinte à regulamentação da profissão, por meio do Parecer nº 307/66, aprovado em 8 de julho de 1966, o Conselho Federal de Educação fixou o primeiro currículo mínimo do curso de Administração. Esse currículo agrupava matérias de cultura geral, objetivando o conhecimento sistemático dos fatos e condições institucionais em que se inseria o fenômeno administrativo. Com a liberdade dada pelo currículo, as escolas poderiam ministrar as matérias do currículo mínimo com diferentes dosagens de tempo e de direcionamento quanto aos objetivos. Algumas matérias eram colocadas à disposição do aluno para escolha, como no caso de Direito Administrativo, Administração de Produção e Administração de Vendas. O estudante deveria optar por uma delas como obrigatória. Por fim, havia a necessidade de realização de um estágio supervisionado de seis meses para se concluir a graduação.

Ainda na década de 60 foram criados os Conselhos Regionais de Administração (CRAs), organismos que controlariam o exercício da profissão.

O ensino de Administração alcançou uma dimensão significativa na sociedade brasileira, considerando que contava com dois cursos apenas em 1954 e no ano de 2000, já atingia cerca de 1.462 cursos no país.

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Atualmente, os cursos de administração de empresas continuam tendo grande procura nas faculdades e universidades. Por mais acirrada que seja a concorrência no mercado de trabalho, esses cursos carregam enormes expectativas entre os universitários. Nesse sentido, as instituições de ensino precisam ter claro o seu papel na formação dos milhares de jovens que se formam na área a cada ano.

Ouve-se muito que as faculdades não preparam adequadamente o aluno de administração para atuar no mundo corporativo. Porém, ultimamente, esse quadro tem apresentado uma mudança significativa. Os cursos de administração estão contribuindo, de forma positiva, para que os novos profissionais consigam uma melhor inserção no mercado de trabalho.

O segredo de uma boa formação é aprimorar as competências e as habilidades do profissional, com o objetivo de gerar negócios para as empresas, ou seja, produzir resultados comerciais com o uso das melhores ferramentas, técnicas e estratégias no mercado-foco da respectiva corporação.

No que depender das instituições de ensino superior, há uma vontade muito grande para que os cursos de graduação em administração dêem um salto de qualidade, com a reestruturação de um conteúdo curricular que contemple uma formação mais generalista em administração de empresas.

Giroletti (2005) afirma que se pode citar certos aspectos positivos atingidos com o progresso do curso de Administração.

Um aspecto positivo alcançado pela evolução da Administração no país foi o atendimento à demanda de gestores no Brasil provindas tanto do setor público quanto das empresas privadas e do terceiro setor.

Outro aspecto que contribui com a melhoria do ensino em Administração é a consolidação da pós-graduação no país. A expansão do ensino pode ser visualizada pelos dados do Censo da Educação Superior do INEP/MEC de 2003, em que a Administração aparece como o curso com maior número de alunos: 564.681 alunos ou 14,5% do total. Por fim, o terceiro aspecto positivo está relacionado ao crescimento de pesquisa e produção acadêmica, tanto em qualidade como em quantidade.

Por outro lado, Giroletti (2005) cita alguns problemas relacionados ao ensino em Administração no país.

Um deles diz respeito à transformação da expansão quantitativa do ensino superior em expansão qualitativa. O número de cursos de Administração no país teve um elevado crescimento nas últimas décadas e a qualidade de muitos desses cursos é questionável. Para o autor, a transformação da quantidade em qualidade estaria mais a cargo de mecanismos próprios do mercado, garantindo a sobrevivência dos melhores cursos.

Outro problema associado ao ensino em Administração é a hiperespecialização. Os novos cursos de administração estão lançando uma excessiva especialização, a fim de diferenciar-se uns dos outros e atrair maior número de alunos.

Por fim, mais um problema relacionado à Administração tem relação com as crises governamentais e de negócios, que abalam as organizações até então tidas como baluartes da retidão. A universidade não tem como objetivo exclusivo formar o autor, pensador e produtor de conhecimento, mas também formar o cidadão e a pessoa humana.

De acordo com o Conselho Federal de Administração, quase todos que atuam na Administração tem buscado a definição de um espaço peculiar, próprio e inconfundível, que dê identidade à profissão do administrador, tão invadida por diversas outras profissões. O conceito de Administração como a arte de liderar pessoas e gerenciar recursos visando o alcance de resultados para a organização estabelece um espaço amplo, de difícil caracterização de limites.

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3. Satisfação em Instituições de Ensino Superior Qualidade em Instituições de Ensino Superior ainda é uma área carente de estudos.

Entretanto, alguns trabalhos têm sido desenvolvidos para identificar as variáveis que determinariam a satisfação de discentes acerca da qualidade oferecida pela IES. Walter et al. (2005) afirmam que a satisfação do consumidor de serviços está relacionada com o desempenho de diferentes atributos em várias dimensões. Assim, a identificação de como o desempenho dos diferentes atributos da IES e de seus cursos afeta a satisfação dos alunos torna-se crítico para o planejamento das atividades de melhoria e manutenção da instituição. Devido, principalmente, às características de intangibilidade e simultaneidade, a mensuração do desempenho dos diferentes atributos deve, necessariamente, envolver a percepção do cliente, isto é, dos alunos.

Para Loreto (2001), no tocante ao processo de avaliação da qualidade de ensino, existem diferentes aspectos que podem ser considerados. A avaliação pode incidir sobre o ensino ministrado (qualidade da prestação), sobre a maneira como foi prestado (qualidade do fornecimento da prestação) ou sobre o modo como a sua qualidade é assegurada (qualidade da garantia da qualidade). Porém, a autora enfatiza que a preocupação principal dever ser com a qualidade dos resultados e seus condicionantes, isto é, a qualidade dos resultados é condicionada pela qualidade dos processos (métodos de ensino) que, por sua vez, é condicionada pela qualidade da estrutura (a instituição).

Coda e Silva (2004) identificaram dez dimensões a serem avaliadas em cursos de graduação em Administração, sendo elas:

1. Identificação com a profissão / curso - procura avaliar a identificação do estudante

com o Curso ou com a profissão de Administrador. Adicionalmente, vocação e contato efetivo com a realidade da escola que está cursando representam os aspectos mais relevantes para compor a identificação do aluno com o curso.

2. Integração / comunicação recebida - mostra um conjunto de assertivas que reúnem aspectos periféricos ou de infra-estrutura do Curso.

3. Seriedade do projeto educacional adotado - mostra um conjunto de atributos relacionados a aspectos que deixam claro para o aluno a preocupação da escola em desenvolver estratégias de ensino e imprimir uma filosofia bem delineada para o ensino da Administração.

4. Imagem da IES e dos alunos - mostra um conjunto de assertivas ligadas ao conceito e à tradição que a escola tem no mercado.

5. Estruturas / ambiente de apoio ao aprendizado - mostra a qualidade do ambiente físico e das instalações da faculdade, envolvendo biblioteca, recursos de informática, navegabilidade do site, entre outros.

6. Qualidade da escola - avalia até que ponto os alunos consideram que tanto o Curso quanto a Faculdade fornecem uma sólida formação que os capacitará para atuar no mercado e conseguir um emprego.

7. Eficácia do aprendizado - mede o valor de diferentes tipos de atividades adotadas para geração e avaliação de aprendizado.

8. Uso do tempo extra - avalia as oportunidades acadêmicas extracurriculares que são geradas pela instituição.

9. Atuação / eficiência externa - avalia as preferências dos discentes em relação ao intercâmbio externo realizado tanto por eles próprios quanto pelo corpo docente da IES.

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10. Motivos de escolha do curso -avalia as razões pelas quais os discentes escolheram o curso, envolvendo aspectos como a possibilidade de remuneração futura e pluralidade de possíveis áreas de atuação.

Os autores buscaram em seu trabalho oferecer uma contribuição metodológica a respeito

do tema, considerando satisfação não somente dentro de parâmetros acadêmicos, mas também considerando aspectos comportamentais e atitudinais dos próprios estudantes.

Abreu e Guimarães (2003) desenvolveram um trabalho semelhante envolvendo instituições privadas do Distrito Federal. Tendo como base quatro fatores identificados por Cunha Jr. (1998), os autores chegaram às seguintes dimensões: Aspectos didáticos (metodologia de ensino, motivação despertada pelos professores, e relacionamento professor - aluno); Instalações físicas (estrutura física oferecida pela IES); Participação dos alunos (relacionamento desenvolvido entre os próprios discentes); Acesso a informações (acesso ao fluxo de informações dentro da IES, envolvendo mudanças, eventos, entre outros); Suprimentos de informática (qualidade, atualização e disponibilidade dos softwares disponíveis para os discentes); e Acervo da biblioteca (atualização e disponibilidade das bibliografias sugeridas).

Outro trabalho que trata do tema, foi o desenvolvido por Alves (2000), que tomando por base as contribuições de Owlia e Aspinwall (1996), fez uma análise das dimensões da qualidade de uma universidade portuguesa, agrupando as variáveis em dois grupos: serviço central e serviços periféricos. As variáveis relacionadas ao serviço central dizem respeito ao ensino diretamente. Já as relacionadas ao serviço periférico, exploram o modo como os serviços periféricos são prestados, sendo eles: cortesia, amabilidade e competência na prestação dos serviços acadêmicos; disponibilidade de apoio social ao aluno; prestação de serviços sociais; atendimento da biblioteca; e operacionalidade da biblioteca em termos de acesso a bibliografia.

Por meio de análise fatorial, no grupo relacionado ao serviço central, Alves (2000) encontrou seis fatores: Docência - fator relacionado à capacidade dos professores em sala de aula, métodos de ensino e avaliação utilizados, relacionamento professor-aluno, acessibilidade aos docentes e existência de bibliografia básica; Meios de Apoio à Docência – compreendendo existência de infra-estrutura laboratorial e de informática atualizados e disponíveis fora do horário de aulas, bem como acesso à Internet; Ligações com o exterior – encontrando-se as variáveis relacionadas ao apoio da universidade à colocação dos alunos em estágios, intercâmbio com o estrangeiro e realização freqüente de palestras e seminários; Atividades Extracurriculares - compreendendo as variáveis relacionadas com a existência de atividades desportivas, atividades culturais e associações de alunos; Empregabilidade potencial do curso - associado ao conteúdo atualizado do curso e diversidade de saídas profissionais oferecidas pelo curso; e Instalações - neste fator estão as variáveis relacionadas com instalações modernas e limpas.

Observa-se, portanto, que há uma convergência entre os estudos realizados por diferentes autores. Todos apontam que o levantamento da satisfação dos estudantes com a IES deve ser feito a partir da análise de múltiplos fatores, que envolvem necessariamente aspectos relacionados ao ensino-aprendizagem, infra-estrutura, oportunidades extracurriculares e imagem da instituição na sociedade, para citar alguns que se sobressaem.

Entretanto, é sensato salientar que a qualidade do curso e da instituição não pode ser determinada avaliando-se somente a percepção dos estudantes a respeito dos serviços prestados. Conforme assevera Costa et al. (2003), o equívoco mais comum é confundir qualidade de ensino com satisfação do aluno/cliente. Segundo os autores, apesar de serem fatores complementares para o sucesso dos cursos, não se pode ter a pretensão de avaliar a qualidade do curso apenas com estes indicadores – é preciso muito mais.

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Os referidos autores afirmam ainda que é necessário que haja a integração dos instrumentos de avaliação, de forma que as instituições possam atender ao propósito de formação sólida de profissionais qualificados para atuarem no mercado de trabalho com consciência crítica, social e ambiental. Avaliações que contemplem fatores críticos como a qualidade do ensino, a satisfação do aluno/cliente e o reconhecimento da sociedade tendem a ser mais completas, obtendo maior sucesso em relação à provisão de informações para os coordenadores de curso tomarem decisões, com vistas à melhoria da qualidade dos cursos de graduação (Costa et al., 2003).

Entretanto, este trabalho teve como foco a avaliação da qualidade percebida pelos estudantes de Administração, de modo que foi possível ter um levantamento do nível de satisfação vigente no curso.

4. Procedimentos Metodológicos

4.1 Universo e amostra de estudo

O universo da presente pesquisa compreendeu os estudantes do curso de Administração

da Universidade Federal de Lavras, o qual, inicialmente, oferecia a habilitação em Administração Rural. Porém, durante os anos 1980, o Departamento de Economia Rural transformou-se em Departamento de Administração e Economia (DAE). Com as transformações, o curso passou a ter um escopo mais generalista, representado pela mudança para a habilitação em Administração Geral em 2001.

O curso de Administração visa formar profissionais com capacidade de atuar em atividades próprias ao campo profissional do Administrador, como profissão liberal ou não, qualificados para desenvolver o processo de gestão em diversas áreas das organizações: gestão da produção e serviços, comercialização e marketing, finanças, recursos humanos, gestão da informação, entre outras (UFLA, 2006).

Para a consecução desta pesquisa, a amostra foi composta por estudantes a partir do terceiro módulo do curso. Esta escolha é justificável, pois, para responder à pesquisa, o respondente precisaria ter vivenciado vários aspectos da IES, fato que não ocorreria se ele estivesse na fase inicial do seu curso.

Foram registrados a partir do terceiro módulo, 157 estudantes do curso de graduação em Administração na UFLA, conforme mostra a Tabela 2.

Módulo Matriculados

3º 27 4º 25 5º 21 6º 26 7º 31 8º 27

Total 157

TABELA 02 – Distribuição dos estudantes nos módulos Fonte: DRCA (2006).

4.2 Tipo de pesquisa

Para identificar o nível de satisfação dos estudantes de Administração com o curso foi

utilizada uma abordagem quantitativa e realizou-se uma pesquisa descritiva.

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Gil (1999) argumenta que a pesquisa descritiva tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então o estabelecimento de relações entre variáveis. Na mesma perspectiva, Malhotra (2001) afirma que a pesquisa descritiva é um tipo de pesquisa que tem como principal objetivo a descrição de algo, normalmente características do objeto de estudo ou relacionamentos entre os fenômenos.

4.3 Técnicas de coleta de dados

Para a coleta de dados foi utilizado um questionário estruturado, o qual, segundo

Alencar (1999), é formado por questões fechadas e todos os entrevistados são submetidos às mesmas perguntas e às mesmas alternativas de respostas. Essas respostas são previamente codificadas, permitindo sua digitação direta para o programa de análise de dados.

Foi utilizada uma escala do tipo Likert, de cinco pontos, utilizando-se em seus extremos, duas expressões de significados opostos. No caso da satisfação, Totalmente insatisfeito e Totalmente satisfeito.

O questionário foi construído a partir do trabalho de Coda e Silva (2004) e Abreu e Guimarães (2003), com adaptações. Ele foi formulado de maneira que cada variável independente ou interveniente do modelo de pesquisa constituísse um bloco de assertivas ao qual o respondente indicaria seu nível de satisfação em um dos cinco pontos da escala Likert. Além disso, o questionário conteve um cabeçalho para preenchimento de idade, sexo, módulo que está cursando e possíveis alternativas de carreira para quando formar. 4.4 Tratamento dos dados

Foram aplicados métodos de estatística descritiva, realizados no software SPSS

(Statistical Package for the Social Sciences) versão10.0.

4.5 Modelo de pesquisa e descrição das variáveis

4.5.1 Modelo de pesquisa Com base no levantamento teórico do trabalho, apresenta-se na Figura 01 o modelo de

pesquisa e o conjunto de variáveis que o compõem.

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FIGURA 01 – Modelo de pesquisa Fonte: elaborado pelos autores

4.5.2 Descrição das variáveis

- Variáveis independentes 1. Aspectos didáticos: relaciona-se a um conjunto de assertivas referentes aos processos

de ensino, qualificação docente e relacionamento professor-estudante. 2. Participação dos alunos: diz respeito a um conjunto de assertivas sobre a integração e

relacionamento entre os próprios estudantes. 3. Imagem do curso: relaciona-se com a imagem do curso de Administração da UFLA

no mercado de trabalho e entre o próprio corpo discente. 4. Acesso a informações: refere-se à eficácia e eficiência do fluxo de informações sobre

as oportunidades, mudanças e acontecimentos que digam respeito ao curso. 5. Instalações físicas: representa um conjunto de assertivas acerca da infra-estrutura para

aprendizagem oferecida pela IES. 6. Aspectos de informática: diz respeito aos recursos de informática disponíveis, bem

como da atualização e navegabilidade do site do curso na Internet. 7. Acervo da biblioteca: refere-se à atualização e disponibilidade das bibliografias

sugeridas pelas disciplinas no acervo da biblioteca. - Variável interveniente

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1. Identificação com a profissão/curso: refere-se à identificação com o curso de

Administração e com a profissão do administrador. - Variável dependente 1. Satisfação com o curso: diz respeito à percepção em relação ao desempenho

encontrado nos atributos explicitados pelas variáveis independentes.

5. Resultados e Discussões Foram distribuídos 157 questionários aos alunos de graduação em Administração da

IES, obtendo um retorno de 110, que corresponde a 70,06%. Para a caracterização da amostra da pesquisa foram consideradas as variáveis módulo,

idade e sexo, presentes no cabeçalho do questionário. Vale ressaltar que a variável idade foi lançada no SPSS em três blocos: até 20 anos; de 21 a 23 anos; 24 anos ou mais. Notou-se que a maioria dos consultados possui idade de 21 a 23 anos e que 52,7% dos mesmos são do sexo masculino e 46,4% do feminino. A soma não corresponde a 100% pois um respondente não detalhou o sexo. Já o módulo dos respondentes se encontra na tabela abaixo, sendo possível observar um equilíbrio quanto à participação dos alunos do terceiro ao sétimo módulo. Nota-se que o oitavo período teve menor representação. Isso é justificado pelo fato de grande parte dos alunos estarem cumprindo estágio obrigatório fora da IES. Dessa forma, o questionário foi enviado por meio eletrônico, obtendo pouco retorno.

MÓDULO DO CURSO %

Terceiro 21,8 Quarto 21,8 Quinto 15,5 Sexto 16,4 Sétimo 17,3 Oitavo 7,2 TOTAL 100

TABELA 03 – Distribuição dos respondentes nos módulos.

Objetivando-se medir o nível de satisfação dos discentes de graduação em

Administração com o curso na UFLA, foram procedidas as distribuições de freqüências de todas as variáveis, através do software SPSS. Esse tipo de distribuição aponta a porcentagem de respondentes que se colocaram em cada opção de resposta. Posteriormente para tentar explicar o motivo da satisfação ou insatisfação em relação às variáveis, foram feitas as análises de correlação. Essa análise visa observar se duas variáveis se correlacionam entre si, de forma significativa.

Embora todas as variáveis tenham sido verificadas no software SPSS, foram analisadas no presente estudo somente aquelas variáveis que obtiveram mais de 50% de satisfação ou total satisfação dos respondentes ou mais de 50% de insatisfação ou total insatisfação dos respondentes. Essa escolha se justifica na medida em que essas são as variáveis que mais contribuem para medir a satisfação dos alunos.

Foram analisadas então o conjunto de assertivas das variáveis independentes: Aspectos didáticos, Participação dos alunos, Imagem do curso, Acesso a informações, Instalação Física, Aspectos de Informática e Acervo da Biblioteca, identificando os fatores de maior satisfação ou insatisfação. Depois de identificados, foram realizadas análises de correlação entre

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algumas das assertivas, buscando-se uma coerência lógica e explicações plausíveis para a satisfação ou insatisfação dos alunos.

O primeiro bloco de assertivas analisado no questionário foi o da variável independente Aspectos Didáticos. Obtiveram mais de 50% do total dos respondentes satisfeitos ou totalmente satisfeitos apenas duas variáveis, sendo elas: relacionamento inter-pessoal dos professores com os alunos; atendimento de professores em horários extra-classe.

Já a insatisfação ou total insatisfação foi notada em quatro variáveis: motivação despertada nos alunos pelos professores; adequação da metodologia de ensino aos objetivos da disciplina; relacionamento da teoria com a pratica efetuada pelos professores; oferta de atividades extracurriculares.

Através da analise de correlação, notou-se que o “atendimento dos professores em horários extra-classe” e “relacionamento inter-pessoal entre professores e alunos” obtiveram correlação positiva e significativa a 1%. Dessa forma, pode-se supor que, na medida em que se aumenta a liberdade de interação e a satisfação dos alunos com o atendimento extra-classe do professor, aumenta-se a satisfação quanto ao relacionamento inter-pessoal entre corpo docente e discente.

Prosseguindo, notou-se também que, quanto mais satisfeitos os alunos se mostram em relação ao atendimento dos professores em horários extraclasse, maior é o respeito adquirido nessa relação e também maior é a motivação do aluno em continuar estudando administração. Ou seja, se o professor se mostra mais disponível em atender os alunos, estes tendem a respeitá-lo mais e sentir-se mais estimulados em seus estudos.

A relação entre a satisfação dos respondentes acerca da “motivação despertada nos alunos pelos professores” com a “adequação da metodologia de ensino aplicada aos objetivos da disciplina” obteve uma correlação positiva significativa a 1%. A possível explicação para essa situação é que, na medida em que os alunos notam que a metodologia de ensino utilizada pelos professores nas disciplinas é adequada e eficiente para seu aprendizado, a motivação despertada nos alunos também aumenta.

Além disso, foi observado que a motivação despertada nos alunos aumenta à medida que há maior satisfação com o relacionamento da teoria com a pratica efetuado pelos professores. Talvez essa hipótese seja confirmada pelo fato de os alunos perceberem a utilidade da teoria para sua profissão, à medida que o professor sabe adequar a teoria dada em aula com as exigências no mercado.

Partindo para a análise da correlação entre a “adequação da metodologia de ensino aos objetivos da disciplina” e “relacionamento da teoria com a pratica efetuado pelos professores”, notou-se que os alunos consideram uma boa metodologia de ensino como sendo aquela que permite o relacionamento da teoria com a prática em sala de aula.

O segundo bloco analisado foi o de Participação dos Alunos, que continha um grupo de seis assertivas. Novamente, apenas duas delas obtiveram o nível mínimo de satisfação para serem citadas no estudo. A primeira delas foi o “respeito dos alunos pelos colegas” e a segunda, o “respeito dos alunos pelos professores”. Por outro lado, a insatisfação foi notada em apenas um item: atuação do centro acadêmico na integração dos estudantes.

Prosseguindo, a variável independente Imagem do Curso de Administração da UFLA no Mercado de Trabalho e entre os Alunos foi subdividida em duas assertivas. Os respondentes se mostraram satisfeitos apenas com a “Valorização dos Estudantes de Administração da UFLA”. O nível de satisfação ou total satisfação foi de 55,45%.

O Acesso a Informações foi o quarto bloco analisado, sendo subdividido em um conjunto de quatro assertivas. Não foram obtidos fatores de satisfação quanto ao acesso às informações. Por outro lado, a insatisfação foi notada em três fatores: acesso às informações sobre as decisões tomadas pela coordenação do curso; informações sobre as regras e normas do curso; nível de divulgação das informações sobre oportunidades do curso.

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Ao realizar-se a correlação da variável “acesso às informações sobre as decisões tomadas pela coordenação do curso” e “informações sobre as regras e normas do curso” com a variável “motivação despertada nos alunos pelos professores”, situada no primeiro bloco, adquiriu-se uma correlação positiva. Uma possível explicação para isso é que, quanto mais os alunos têm acesso a normas e decisões tomadas pela coordenação do curso, mais eles se sentem motivados pelos professores, visto que uma das funções da coordenação do curso é divulgar as oportunidades do mesmo.

Analisando ainda o acesso às informações percebemos a existência de uma correlação positiva entre o “acesso às informações sobre as decisões tomadas pela coordenação do curso”, “informações sobre regras e normas do curso” com “atuação do centro acadêmico na integração dos estudantes”. Dessa forma, conclui-se que a atuação do C.A. influencia na satisfação dos alunos com o acesso às informações e normas do curso, pois Centro Acadêmico de Administração tem a função de promover a ligação entre os alunos e a coordenadoria do curso.

Outra correlação foi realizada entre a assertiva do primeiro bloco “oferta de atividades extracurriculares” e “nível de divulgação das oportunidades relacionadas ao curso”, sendo positiva e significativa a 5%. Possivelmente, a maior divulgação das informações sobre as oportunidades do curso acarretará em maior satisfação com a oferta de atividades extracurriculares. Ou seja, quanto mais satisfeito o aluno estiver com a divulgação das oportunidades do curso, haverá uma tendência de maior satisfação em relação à oferta de atividades extracurriculares.

Dessa forma a eficiência e eficácia do fluxo de informações sobre as oportunidades e mudanças que dizem respeito ao curso são aspectos relevantes para compor o acesso às informações.

A qualidade das Instalações Físicas constituiu o quinto bloco do questionário, com quatro assertivas. Notou-se que o único fator de insatisfação apontado pelos alunos foi a qualidade dos recursos audiovisuais disponibilizados pelo Departamento de Administração e Economia (DAE). Não houve fator de satisfação nesse bloco.

Por conseguinte, fez-se a análise dos Aspectos de Informática disponibilizados aos estudantes de administração da universidade. Os participantes demonstraram-se muito insatisfeitos com todas as três assertivas do bloco. O fator mais grave notado foi a “modernidade dos laboratórios de informática” que apresentou aproximadamente 97% de insatisfação ou total insatisfação por parte dos respondentes.

Ao realizar-se a correlação das assertivas referentes aos aspectos de informática com a “motivação despertada nos alunos pelos professores”, presente no primeiro bloco de assertivas, notou-se uma correlação significativa a 5% e positiva entre elas. Uma possível explicação para tal fato é que, com laboratórios mais modernos, existem maiores possibilidades de aulas mais interessantes. Logo, a satisfação com as aulas aumenta. A modernidade dos laboratórios de informática também possibilita a aplicação de uma metodologia de ensino mais inovadora, estimulando o aprendizado.

Ainda em relação à modernidade dos laboratórios de informática, os respondentes consideraram que há maior facilidade de relacionamento entre teoria e prática nas disciplinas quando se utilizam equipamentos de informática mais atualizados. O fato foi comprovado realizando-se a correlação da assertiva “modernidade dos laboratórios de informática” com o “relacionamento da teoria com a pratica efetuado pelos professores”.

Na análise da variável independente Acervo da Biblioteca, não foram notados os níveis mínimos de satisfação ou insatisfação em nenhuma das duas assertivas que a compunham (atualização do acervo e qualidade do acervo disponibilizado pela biblioteca para o curso de administração). Dessa forma, a análise não foi incorporada ao estudo.

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A análise da variável interveniente Identificação com a profissão/curso mostrou que todas as assertivas obtiveram mais de 50% de concordância por parte dos respondentes. Nesse bloco, a escala apresentada variou de Discordo Plenamente até Concordo Plenamente e foram abordados aspectos de vocação, segurança de escolha e estimulo ao estudo de administração.

Essas variáveis estão altamente correlacionadas entre si, de forma positiva e significativa. Isso mostra que as pessoas que se sentem estimuladas a estudar administração não pensam em abandonar o curso, acreditam estar na profissão correta e, se tivessem que fazer uma nova escolha de carreira não mudariam de opção. Portanto a vocação e a segurança na escolha do curso influencia de forma efetiva o estímulo ao prosseguimento dos estudos.

6. Conclusão

Conclui-se do estudo realizado o quão importante pode se tornar o trabalho colaborativo

entre os corpos docente e discente em uma universidade. A excelência no ensino-aprendizagem das IES e a melhoria contínua nos cursos de graduação só poderão ser atingidas a partir do momento em que se romper o paradigma existente de que professores atuam como detentores ou propagadores de conhecimento e alunos como seres passivos, apenas na posição de receptores de conhecimento. Os estudantes das IES possuem experiências o suficiente para que participem também como agentes reflexivos, criadores e disseminadores de conhecimento na instituição. Pode-se dizer desta forma que a palavra “aluno” (a = sem e luno = luz) deixa de ser condizente com a realidade dos estudantes.

Muito do que foi discutido no estudo e que contribui para a insatisfação dos estudantes de Administração na UFLA envolve, de maneira direta ou indireta, o relacionamento entre corpos docente e discente. Dessa forma, nada melhor do que a interação entre esses agentes para a solução dos problemas indicados. Fato comprovador dessa realidade foi a organização do I Fórum de Ensino-Aprendizagem em Administração na Universidade Federal de Lavras, a partir dos dados obtidos no presente estudo. Nesse evento, estudantes, professores, coordenação e direção do Departamento de Administração e Economia discutiram as falhas no curso de graduação e apontaram, conjuntamente, possíveis soluções.

Nota-se que as percepções e expectativas dos alunos de uma IES envolvem a busca de formação para um mercado competitivo, além da construção de conhecimentos teóricos e práticos condizentes com a demanda social e de mercado. Dessa forma, deve-se construir uma formação acadêmica em sintonia com o contexto atual, considerado amplamente mutável.

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