Saúde Bucal Idoso III Módulo III

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  • Curso de

    SADE BUCAL DO IDOSO

    MDULO III

    Ateno: O material deste mdulo est disponvel apenas como parmetro de estudos para este Programa de Educao Continuada. proibida qualquer forma de comercializao do mesmo. Os crditos do contedo aqui contido so dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada.

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    MDULO III

    1. Farmacologia no Paciente Idoso

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    O aumento na expectativa de vida da populao trouxe um desafio aos sistemas

    de sade, uma vez que a populao idosa apresenta, na maioria das vezes, uma ou mais

    doenas crnicas que requerem o uso de medicao diria. Dessa forma, o risco de

    ocorrerem as chamadas interaes medicamentosas indesejveis entre as drogas de uso

    odontolgico e as que o paciente usa de forma contnua devem ser evitadas. Mesmo um

    paciente idoso sistemicamente saudvel que se apresenta ao consultrio para tratamento

    odontolgico possui alteraes fisiolgicas importantes decorrentes do envelhecimento

    que devem ser estudadas cuidadosamente.

    No caso do idoso, as alteraes relacionadas s funes orgnicas e presena

    de patologias tornam mais difceis o estabelecimento do regime teraputico ideal, j que a

    absoro, distribuio, metabolismo e excreo dos medicamentos so menos

    previsveis.

    Os idosos apresentam, em mdia, uma diminuio do volume de plasma e dos

    lquidos corporais em torno de 8% e 17%, respectivamente, e possuem a massa muscular

    corporal diminuda, com cerca de 35% de tecido gorduroso aumentado. Tudo isso

    modifica as propriedades farmacocinticas dos medicamentos nesses pacientes,

    principalmente em relao aos processos de distribuio e excreo. Da mesma forma,

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    uma reduo no nmero de protenas plasmticas contribui para que uma maior

    quantidade de medicamento fique na forma livre circulante, podendo tornar-se um fator de

    sobredose e toxicidade.

    Pode-se concluir que a prescrio correta de grande importncia quando do

    tratamento do idoso:

    a) o quadro clnico geral do paciente deve ser sempre considerado;

    b) o nmero total de frmacos a serem administradas deve ser minimizado;

    c) o tratamento deve sempre ser iniciado com doses mais baixas e adequadas,

    conforme a resposta do paciente;

    d) o uso de medicamentos imprprios deve ser sempre evitado;

    e) o paciente idoso deve ser constantemente monitorado.

    1.1. Perodo de atendimento e durao das sesses

    Diante do que foi exposto em relao ao atendimento do paciente idoso, o

    cirurgio-dentista deve se organizar para que o tratamento odontolgico seja realizado

    preferencialmente no segundo perodo da manh ou incio da tarde, sempre com sesses

    de curta durao (em torno de 50 minutos). O paciente idoso pode apresentar, ainda,

    doenas crnicas importantes como a Diabetes Mellitus. Aquele paciente com diabetes

    bem-controlado e sem grandes complicaes pode ser atendido seguindo os mesmos

    procedimentos que o paciente no-diabtico, com raros quadros de hipoglicemia durante

    o tratamento. Quando do atendimento odontolgico do paciente diabtico deve-se buscar:

    reduo do estresse, administrao de antibitico, mudana na dieta e horrio das

    consultas.

    A reduo do estresse e o controle adequado da dor so importantes no

    atendimento ao diabtico. A epinefrina e a secreo de cortisol geralmente aumentam as

    situaes estressantes. Esses dois hormnios elevam a glicemia e interferem com o

    controle. Deve-se seguir um planejamento para diminuir a tenso do paciente e minimizar

    o desconforto, podendo-se incluir sedao e analgesia.

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    Normal

    Intolerncia glicose

    Diabetes

    Glicose em jejum

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    (AVC) no paciente idoso maior no incio do perodo da manh, com maior incidncia nos

    pacientes com histria anterior da doena. Na presena de cardiopatias, podem ser

    atendidos no consultrio pacientes com:

    TRATAMENTO ODONTLGICO DO PACIENTE CARDIOPATA COMPENSADO

    TRATAMENTO ODONTLGICO DO PACIENTE CARDIOPATA COMPENSADO

    6 meses aps infarto do miocrdio 6 meses aps AVC 3 meses aps cirurgia de revascularizao do

    miocrdio

    Angina pectoris estvel Insuficincia cardaca estvel Hipertenso arterial controlada FC em repouso menor que 100 bpm

    6 meses aps infarto do miocrdio 6 meses aps AVC 3 meses aps cirurgia de revascularizao do

    miocrdio

    Angina pectoris estvel Insuficincia cardaca estvel Hipertenso arterial controlada FC em repouso menor que 100 bpm

    Andrade, 2002

    O tratamento desses pacientes pode ser realizado, entretanto, o planejamento

    deve ser formulado juntamente com o mdico especialista. Algumas situaes de

    emergncia como a taquicardia, o infarto e picos hipertensivos podem ocorrer durante o

    atendimento, principalmente quando uma boa anamnese no feita. Frente a esses

    quadros, o CD deve seguir alguns procedimentos importantes.

    Nos casos de taquicardia, a estimulao vagal pode ser realizada, por exemplo,

    atravs da massagem do seio carotdeo, diminuindo a frequncia cardaca do paciente.

    Se o paciente no retornar a uma frequncia cardaca normal, podem ser empregadas

    outras manobras. A manobra de valsava pode ser empregada, solicitando ao paciente

    que inspire e prenda a respirao, forando o ar com as vias areas superiores fechadas

    com as mos. Ao final dessa manobra a frequncia cardaca diminui.

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    1. Interrompa o atendimento

    2. Avalie a FC em uma artria superficial

    3. Se o pulso tiver irregular, no faa nada, encaminhando o paciente para avaliao mdica

    4. Se a FC estiver alta, mas regular; neste caso institua as manobras de estimulao do tnus vagal

    1. Interrompa o atendimento

    2. Avalie a FC em uma artria superficial

    3. Se o pulso tiver irregular, no faa nada, encaminhando o paciente para avaliao mdica

    4. Se a FC estiver alta, mas regular; neste caso institua as manobras de estimulao do tnus vagal

    PROTOCOLO DE ATENDIMENTO NAS TAQUICARDIAS

    PROTOCOLO DE ATENDIMENTO NAS TAQUICARDIAS

    Andrade & Ranali, 2002

    5. Institua a manobra de Valsalva

    6. Oferea um copo de gua gelada, instruindo para ser tomado rapidamente

    7. Provoque o vmito estimulando a orofaringe

    8. Se a recuperao no for imediata, solicite um socorro mdico de urgncia

    9. No caso de perda de conscincia, institua as manobras de RCP

    5. Institua a manobra de Valsalva

    6. Oferea um copo de gua gelada, instruindo para ser tomado rapidamente

    7. Provoque o vmito estimulando a orofaringe

    8. Se a recuperao no for imediata, solicite um socorro mdico de urgncia

    9. No caso de perda de conscincia, institua as manobras de RCP

    PROTOCOLO DE ATENDIMENTO NAS TAQUICARDIAS

    PROTOCOLO DE ATENDIMENTO NAS TAQUICARDIAS

    Andrade & Ranali, 2002

    1.2. Uso de medicamentos em idosos: ansiolticos

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    Os procedimentos odontolgicos podem produzir ansiedade, excitao e medo

    nos pacientes, o que se constitui em uma barreira para a manuteno da sade oral,

    principalmente nos pacientes mais idosos. O diagnstico do paciente ansioso pode ser

    feito por meio da expresso de alguns sinais: palpitao, sudorese na palma das mos,

    palidez, tremores, taquipneia, aumento na tenso muscular, verborreia ou at mesmo o

    contrrio, dificuldade de comunicao.

    Essas manifestaes podem ser detectadas pelo profissional atravs da

    observao do paciente na primeira consulta ou atravs questionrios que podem ser

    produzidos especificamente para diagnosticar a ansiedade.

    Fig.1. Causas do aparecimento da ansiedade.

    Fonte: http://www.jornalsaindodoescuro.com.br/informe_2005_001.htm

    Os benzodiazepnicos so drogas bastante benficas no controle da ansiedade

    frente ao tratamento odontolgico, quando apenas a tranquilizao verbal ou outros

    mtodos de condicionamento psicolgico so insuficientes. Quando no se atingem os

    objetivos esperados com o uso dos ansiolticos, no adianta aumentar sua dosagem,

    deve-se optar por um plano teraputico alternativo, que inclua anestesia geral, por

    exemplo.

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    O diazepam (ex: Valium, Diempax) consiste no ansioltico mais empregado em

    odontologia, devido segurana clnica que apresenta, porm seu uso no idoso deve ser

    evitado, por provocar com maior frequncia o chamado efeito paradoxal e por apresentar

    uma meia-vida plasmtica muito longa, que torna sua eliminao mais lenta. O efeito

    paradoxal do diazepam se caracteriza pelo efeito contrrio ao desejado; o paciente pode

    apresentar agitao, irritabilidade, paranoia, depresso e pode tornar-se agressivo.

    Os estudos tm demonstrado que o tempo mdio de eliminao do diazepam em

    pacientes jovens de 20 horas, enquanto que no idoso cerca de 90 horas, devido s

    alteraes das funes heptica e renal que ocorrem com a idade.

    Fig.2. Molcula do diazepam.

    Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0a/Diazepam.png

    Assim, a melhor alternativa para esses pacientes so os benzodiazepnicos de

    ao curta, como o lorazepam (ex: Lorax), que pode ser administrado como medicao

    pr-anestsica na dose nica de 1 mg ou 2 mg, duas horas antes da interveno.

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    Fig.3. Molcula do lorazepam. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/

    2/24/Lorazepam.svg/692px-Lorazepam.svg.png

    Estes medicamentos tm ao sedativa e tranquilizante. Quando o paciente

    apresenta dor, o uso prvio de analgsicos e a realizao de uma anestesia local efetiva

    contribuem para o controle da ansiedade.

    1.3. Uso de medicamentos em idosos: anestsicos locais

    A dor um problema comum a todas as especialidades da Odontologia.

    Infeces orais, cries, doena periodontal, prteses mal-adaptadas ou outras

    doenas das estruturas orais causam dor. Alm disso, o prprio tratamento

    odontolgico pode determinar algum grau de desconforto ou dor. A caracterizao da

    dor importante para a conduta anestsica e analgsica a ser adotada. A dor aguda

    em Odontologia compreende a dor da dentina exposta e a dor inflamatria.

    A primeira caracteriza-se por uma dor sbita que ocorre aps estmulos como

    o frio e presena de acares. Postula-se que haja movimento de fluido nos tbulos

    dentinrios que estimularia fibras nociceptivas localizadas na poro pulpar dos

    microtbulos. A exposio de dentina ocorre por perda de esmalte, de cemento ou

    gengiva, aumentando a sensibilidade com a idade ou aps a irritao crnica.

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    A dor proveniente de processo inflamatrio tem um curso mais prolongado

    devido a estmulos mais sustentados em nociceptores perifricos, determinando a

    liberao de mediadores qumicos locais. Pode ainda haver edema, eritema,

    aumento de temperatura local e perda da funo. Por vezes, apesar da origem

    inflamatria, esses sinais concomitantes esto ausentes, sendo a dor um fenmeno

    isolado, e como tal devendo ser manejada.

    Fig. 4. Esquema mostrando os sinais cardinais da inflamao.

    Fonte: http://www.biomaterial.com.br/ inflama/Image120.gif

    A dor crnica, de menor frequncia em Odontologia, inclui a odontalgia atpica, a

    dor facial psicognica, a neuropatia diabtica, as desordens tempomandibulares e a

    fibromialgia. Nesses casos, o tratamento da dor torna-se mais complexo. A intensidade

    da dor dentria pode suplantar a das originadas em outras estruturas orgnicas ou

    dependentes de patologias diversas. Melzack (1975) comparou atravs de um de dor

    total, as sensaes advindas de procedimentos odontolgicos e de outras condies.

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    Da mesma forma como acontece com os demais pacientes odontolgicos, a

    anestesia local o procedimento mais rotineiro nos idosos. Por isso, o cirurgio-dentista

    deve sempre observar alguns procedimentos importantes na sua execuo, como o

    conhecimento sobre o estado de sade geral do paciente, seleo correta do anestsico

    que est injetando e domnio da tcnica anestsica escolhida.

    Especificamente no idoso sabe-se que, com o avano da idade, ocorrem

    importantes alteraes nos processos de distribuio, metabolizao e eliminao dos

    medicamentos. Isso no diferente com relao aos anestsicos locais, j que uma vez

    administrados na cavidade oral, tambm so absorvidos, distribudos, metabolizados e

    eliminados, como qualquer outro medicamento. Alm disso, aps a absoro para a

    corrente sangunea, os anestsicos locais passam a agir sistemicamente em todas as

    clulas com membranas excitveis, principalmente as clulas nervosas e cardacas.

    O anestsico local at ento mais utilizado em odontologia a lidocana, que

    sofre metabolizao no fgado e eliminao pelos rins. Portanto, em pacientes com

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    atividade heptica ou filtrao glomerular reduzida, como o caso dos idosos, o risco de

    sobredose maior.

    Fig.5. Lidocana. Fonte: http://www.dentalcapitalbh.com.br/media/anestesicos/alphacaine100.jpg

    Em funo disto, recomenda-se que as doses de lidocana neste grupo de

    pacientes devam ser reduzidas, sendo que a dose mxima no deve ultrapassar o

    equivalente ao contido em trs tubetes de uma soluo de lidocana a 2%. Agregados

    lidocana encontram-se os vasoconstritores nas solues anestsicas locais, que

    normalmente pertencem ao grupo das aminas simpatomimticas: adrenalina (epinefrina),

    noradrenalina (norepinefrina) e fenilefrina.

    Essas drogas possuem ao sobre o sistema cardiovascular; a adrenalina

    provoca por estimulao direta aumento da atividade cardaca, desencadeando a

    taquicardia; j a noradrenalina e a fenilefrina provocam bradicardia por ao reflexa,

    devido a uma ao constritora sobre os vasos perifricos. Dependendo da situao, essa

    atividade bradicrdica pode levar o paciente a uma parada cardaca.

    Portanto, nos idosos portadores de insuficincia cardaca crnica ou arritmia

    cardaca, sob acompanhamento mdico, recomenda-se evitar o uso de solues

    anestsicas contendo vasoconstritores do tipo noradrenalina ou fenilefrina, devendo-se

    optar por aquelas solues que contenham adrenalina em baixas concentraes

    (1:100.000 ou 1:200.000).

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    Da mesma forma que nos pacientes de outras faixas etrias, deve-se evitar o uso

    de solues anestsicas locais sem vasoconstritor, pois se o paciente sentir dor durante o

    atendimento poder ocorrer uma liberao endgena de adrenalina pelas glndulas

    suprarrenais em at 40 vezes, podendo acarretar efeitos sistmicos relevantes. Alm

    disso, o uso desses agentes em pacientes diabticos tem efeito mnimo no nvel de

    glicemia, provavelmente devido sua absoro relativamente lenta, sua baixa

    concentrao e aos pequenos volumes usados. Uma anestesia profunda com

    vasoconstritores diminui a liberao de epinefrina endgena, contribuindo para a

    manuteno dos nveis glicmicos dos pacientes diabticos.

    Quando houver contraindicao absoluta da utilizao de vasoconstritores, pode-

    se optar pela mepivacana 3%, um anestsico local quimicamente similar lidocana, que

    alm de apresentar baixa toxicidade, possui uma menor atividade vasodilatadora,

    podendo ser empregada sem estar associada aos vasoconstritores em procedimentos

    com durao de at 30 minutos.

    Fig.6. Mepivacana. Fonte: http://www.dentalcapitalbh.com.br/media/anestesicos/mepisv.jpg

    No Brasil a mepivacana tambm encontrada na concentrao de 2%,

    associada adrenalina 1:100.000, que tambm pode ser empregada no idoso, sem

    esquecer de que ela tambm metabolizada pelo fgado e, portanto, deve ser usada em

    doses baixas para evitar possibilidade de nveis plasmticos altos. Recomenda-se o seu

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    emprego na concentrao de 2% associada adrenalina a 1: 100.000, at o limite de trs

    tubetes anestsicos.

    Fig.7. Anestubes de Mepivacana 2% com epinefrina. Fonte: NOBRE, M.D.P.

    A prilocana deve ser empregada com precauo em pacientes idosos,

    principalmente naqueles que apresentam alteraes da srie vermelha do sangue e nos

    que estejam fazendo uso de medicamentos que contenham paracetamol ou fenacetina,

    substncias estas que sabidamente tambm podem provocar metemoglobinemia. Este

    anestsico, aps metabolizado, gera orto-toluidina. Em funo dessa caracterstica

    qumica, seu uso em altas doses pode provocar o quadro clnico de metemoglobinemia,

    caracterizado por um aumento do teor de metemoglobina no sangue, que pode induzir

    cianose.

    No Brasil a prilocana est disponvel na concentrao de 3% associada

    felipressina 0,03 UI/ml, comumente conhecida como octapressin. A ao vasoconstritora

    da felipressina muito menor quando comparada com a exercida pelas aminas

    simpatomimticas. Por isso se acredita que a felipressina seja desprovida de uma ao

    sistmica significativa sobre o sistema cardiovascular, recomendando seu uso em

    pacientes que no podem receber vasoconstritores do tipo amina simpatomimtica.

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    Da mesma forma que os demais anestsicos locais, a prilocana metabolizada

    principalmente pelo fgado e, alm disso, apresenta uma menor taxa de ligao s

    protenas plasmticas. Como no idoso h uma reduo da quantidade das protenas

    plasmticas, haver um aumento do teor de prilocana circulante e, como consequncia,

    uma possibilidade maior de efeitos txicos. Diante disso, a prilocana, quando selecionada

    para pacientes idosos, no deve ultrapassar a quantidade contida em dois tubetes

    anestsicos.

    Fig.8. Anestubes de Prilocana a 3% com felipressina. Fonte: NOBRE, M.D.P.

    Uma ltima opo que pode ser considerada para o idoso a bupivacana, um

    anestsico local quimicamente derivado da mepivacana, que se encontra no comrcio

    associado adrenalina 1:200.000. Para tcnicas tronculares de bloqueio, a bupivacana

    cerca de 3 a 4 vezes mais potente que a lidocana, proporcionando uma anestesia mais

    intensa e de maior durao de ao, chegando a durar por 6 a 7 horas, em mdia. Essa

    caracterstica bastante til, principalmente em intervenes cirrgicas complexas, onde

    h perspectiva de dor ps-operatria de maior intensidade. Outro aspecto a ser

    considerado a baixa concentrao de vasoconstritor associado a este sal anestsico

    (adrenalina 1:200.000), permitindo sua utilizao no idoso.

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    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    Por outro lado, como tambm metabolizada no fgado, as doses devem ser

    reduzidas. No idoso, no se deve ultrapassar a utilizao em dois tubetes anestsicos,

    sendo que normalmente apenas um tubete (1,8 ml) suficiente para a maioria das

    intervenes odontolgicas nestes pacientes.

    Fig.9. Anestesia local durante procedimento de cirurgia de implantes. Fonte: NOBRE, M.D.P.

    1.3. Uso de medicamentos em idosos: analgsicos e anti-inflamatrios

    O uso de medicamentos para a preveno e controle da dor inflamatria aguda,

    de origem dental, em idosos, no difere do indicado aos pacientes mais jovens,

    destacando-se apenas que o idoso normalmente necessita de doses menores de

    analgsicos por apresentar diminuio na percepo dor. O processo inflamatrio

    representa um dos mecanismos de defesa do nosso organismo. A inflamao pode ser

    definida como a reao do tecido vivo a uma agresso local, ocorrendo envolvimento

    celular, aumento da permeabilidade vascular e acmulo de lquidos. Esta inflamao,

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    geralmente aguda, a resposta inicial ao agressor e pode tornar-se desconfortvel para o

    paciente devido ao edema e a dor.

    Na inteno de minimizar os sinais e sintomas do processo inflamatrio, o

    profissional da sade pode fazer o uso de analgsicos e anti-inflamatrios na interveno

    da doena ou no pr ou ps-operatrio. Estes so os anti-inflamatrios esteroidais ou os

    no esteroidais (AINES).

    I. Anti-inflamatrios no-esteroidais (AINES)

    Os frmacos anti-inflamatrios no-esteroidais (AINES) constituem um grupo

    heterogneo de substncias que, em geral, no esto relacionados quimicamente, e que

    apesar disso, tem em comum certas aes teraputicas, como atividade antipirtica,

    analgsica e anti-inflamatria. Isto porque atuam na biossntese das prostaglandinas,

    agindo diretamente na inibio de enzimas da via cicloxigenase, mas no na via

    lipoxigenase. De acordo com Meade et al. (1993) e Mitchel et al. (1993), existem dois

    tipos de cicloxigenase: COX-1, enzima presente nas plaquetas sanguneas, envolvida na

    sinalizao celular e na homeostase tecidual; COX-2, presentes nas clulas inflamatrias

    ativadas e que produz mediadores da inflamao.

    COX-1: enzima constitutiva expressa na maioria dos tecidos, inclusive nas plaquetas. importante para a manuteno das funes corporais.

    COX-2: enzima induzida nas clulas inflamatrias, quando estas so ativadas. responsvel pela produo dos mediadores prostanoides da inflamao.

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    Fig. 10. Fenmeno da hiperalgesia. Fonte: http://www.endodontia.com.br/index_arquivos/Terapeutica.pdf

    Os AINEs so bastante eficazes contra a dor associada inflamao ou leso

    tecidual, uma vez que diminuem a produo das prostaglandinas que sensibilizam os

    nociceptores e dos mediadores da inflamao, como a bradicinina. No controle da dor de

    intensidade leve a moderada, deve-se optar pelo paracetamol ou dipirona, nas doses

    habituais e por no mximo 24 horas. Esses medicamentos apresentam propriedades

    analgsicas similares ao cido acetilsaliclico, com a vantagem de no provocarem

    irritao da mucosa gstrica ou interferncia na hemostasia.

  • 95

    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    Fig. 11. Esquema teraputico do paracetamol.

    Fonte: http://www.endodontia.com.br/index_arquivos/ Terapeutica.pdf

    II. Anti-inflamatrios esteroidais

    Em procedimentos mais invasivos, quando haver uma reao inflamatria mais

    intensa, a primeira opo pelo uso de um corticosteroide (betametasona ou

    dexametasona), ao invs dos AINES, j que estes podem provocar reaes adversas

    similares s da aspirina, alm da possibilidade de interferir na funo renal dos pacientes

    idosos, quando empregados por tempo prolongado.

    Os anti-inflamatrios esteroidais ou corticosteroides, como so mais conhecidos,

    so drogas que inibem a formao da fosfolipase A2 e, por isso, alm de diminurem a

    sntese das prostaglandinas, tambm atenuam a sntese dos leucotrienos, reduzindo,

    desta forma, o acmulo de neutrfilos na regio da agresso. Este mecanismo parece ser

    o principal responsvel pelas aes antilgicas e anti-inflamatrias deste grupo de

    medicamentos, pois o controle da quimiotaxia de neutrfilos para o foco inflamatrio

    implica diretamente na reduo dos mediadores qumicos pr-inflamatrios.

  • 96

    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    A classificao dos corticosteroides pode ser feita em relao a sua durao de

    ao:

    AO CURTA (< 12 horas)

    Hidrocortisona Cortisona

    AO INTERMEDIRIA (18 - 36 horas)

    Prednisona Prednisolona Metilprednisolona Triancinolona

    AO LONGA (36 - 54 horas)

    Betametasona Dexametasona / Parametasona

    1.3. Uso de medicamentos em idosos: antibiticos

    As penicilinas so os antibiticos mais empregados em odontologia, pela sua

    eficcia e baixssima toxicidade. Portanto, quando houver indicao do uso de antibiticos

    no tratamento das infeces odontognicas j instaladas, em idosos, a escolha deve

    recair sobre a penicilina V ou amoxicilina, sendo esta ltima a primeira opo tambm na

    profilaxia da endocardite bacteriana em pacientes idosos.

    Normalmente as penicilinas so empregadas nas doses habituais. Entretanto, por

    serem excretadas por via renal, pode haver a necessidade de se adequar sua dosagem e

    posologia nos indivduos idosos com comprometimento da funo renal, aps troca de

    informaes com o mdico que trata da doena. Em infeces mais graves, o

    metronidazol pode ser associado s penicilinas aps anlise cuidadosa da relao

    risco/benefcio.

    Nos casos de pacientes alrgicos s penicilinas, a opo recai sobre a

    eritromicina quando se tratam de infeces leves a moderadas, ou clindamicina em

    infeces mais srias, respeitando-se as mesmas dosagens, posologia, precaues e

    contraindicaes relativas ao emprego em adultos. Em pacientes diabticos, o uso de

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    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    antibitico sistmico da famlia das tetraciclinas associado ao tratamento

    periodontal pode promover efeitos benficos no apenas ao periodonto, mas

    tambm sobre o controle glicmico.

    Miller et al. (1992) avaliaram a glicemia de nove pacientes diabticos pouco

    controlados e com periodontite, aps a raspagem e o alisamento radicular

    combinado com uso sistmico de doxiciclina, durante 14 dias. Nos exames aps

    quatro e oito semanas depois do tratamento, cinco dos nove pacientes tinham

    melhorado significativamente o sangramento sondagem. Estes mesmos cinco

    pacientes tambm obtiveram melhora no controle metablico, indicada pela

    reduo nos valores de HbA1. Os quatro pacientes que no mostraram melhora

    no sangramento durante a sondagem tambm no tiveram melhora do controle

    metablico do diabetes.

    PROTOCOLO INDICADO NO ATENDIMENTO PERIODONTAL DE PACIENTES DIABTICOS

    Doxiciclina - drgeas 100 mgPosologia: 1 drgea, em dose nica diria, por 14 dias

    Amoxicilina - suspenso 250 mgPosologia: 375 mg (7,5, ml da suspenso) a cada 8 horas, por 7 dias

    ou

    Metronidazol - comprimidos 250 mgPosologia: 1 compromidoa cada 8 horas, por 7 dias

    +

    A reduo na produo de colagenase pelo hospedeiro pode ser obtida

    pelo tratamento com tetraciclina. Isto realizado por mecanismos independentes

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    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores

    das propriedades antimicrobianas desses agentes. Baixas doses de tetraciclina e

    de tetraciclinas modificadas quimicamente (TMQs), que no possuem efeito

    antimicrobiano, tm mostrado a diminuio significativa na produo de

    colagenase, como na degradao de colgeno. Embora TMQs no estejam dis-

    ponveis para uso rotineiro, as tetraciclinas como doxiciclina e minociclina, tm

    sido usadas por muitos anos.

    Devido aos seus efeitos anticolagenolticos, as tetraciclinas tm benefcios

    potenciais na inibio tanto no incio quanto na progresso das periodontites,

    osteoporoses, artrites, entre outras patologias. No diabetes, por exemplo, esses

    agentes podem ser benficos para a normalizao do metabolismo do colgeno e

    nos eventos para o reparo da ferida. Desta forma, pode-se concluir que garantir a

    sade bucal dos pacientes idosos requer grandes conhecimentos mdicos e

    odontolgicos, principalmente na rea da farmacologia aplicada.

    ---------------FIM DO MDULO III-----------------