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Se soubesses, minha esperança, Que anelar ardente e incerto Na aridez deste deserto Me fazia esperar e crer! Ai, bem-vinda, mensageira De uma indizível ventura! A uma vida de amargura, Ridente imagem, põe fim! Para longe esta tristeza, Vejo enfim formosos dias! Oh! dá-me, dá-me alegrias, Que me cansa a vida assim! Qual a terra desflorida Pelas mãos do Inverno agreste, Que de gelos a reveste,

Se Soubesses

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Page 1: Se Soubesses

Se soubesses, minha esperança,

Que anelar ardente e incerto

Na aridez deste desertoMe fazia esperar e crer!

Ai, bem-vinda, mensageira

De uma indizível ventura!

A uma vida de amargura,

Ridente imagem, põe fim!

Para longe esta tristeza,

Vejo enfim formosos dias!

Oh! dá-me, dá-me alegrias,

Que me cansa a vida assim!

Qual a terra desflorida

Pelas mãos do Inverno agreste,Que de gelos a reveste,

Page 2: Se Soubesses

E lhe afrouxa a luz do Sol;

Cinge as vestes de verdura,

Toda de amor palpitante,

Qual virgem junto do amante

Da Primavera ao arrebol;

De um passado de incerteza,

Rasga o seu véu de tristeza,

Ao ver-te surgir, amor!

E num hino de alegria

Saúda a risonha aurora,

Que deslumbrante a namora

Com fatídico fulgor,

Bela flor, fragrante rosa

Nos agros campos da vida,

Tal minha alma envolta em trevas

Page 3: Se Soubesses

Entre as outras escondida,

Como pudeste florir!

Como os vendavais furiosos

Das tempestades humanas,

Em suas fúrias insanasTe não puderam ferir?

Foi condão do Céu por certo,

Foi talvez aura celeste

Que, ao nasceres, recebeste

E em ti se difundiu;

E, forte, desceste ao mundo,

Brilhando de luz divina;

Essa luz que me fascina,

Que nas trevas me sorriu!

Também, tu, bela, aspiravasA um futuro vago ainda?