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Sebenta TGDC – 2015/2016 DNB
Regência: MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO
DISTINÇÃO ENTRE PÚBLICO E PRIVADO:....................................................................................... 5
Evolução Histórica do Direito Civil ............................................................................................... 8
História do Direito Civil Português ............................................................................................... 9
Situações Jurídicas ...................................................................................................................... 11
Situação Jurídica Absoluta vs. Relativa...................................................................................... 12
Situação Jurídica Unissubjetiva vs. Plurissubjetiva .................................................................... 12
Situação Jurídica Ativas vs. Passivas.......................................................................................... 12
Situação Jurídica Patrimonial vs. Não-Patrimonial .................................................................... 12
Situação Jurídica Simples vs. Complexa .................................................................................... 13
Situação Jurídica Compreensiva vs. Analítica ............................................................................ 13
Direito Subjetivo ......................................................................................................................... 14
Direito Estrito.......................................................................................................................... 16
Direitos Potestativos .............................................................................................................. 16
Com Destinatário e Sem Destinatário ................................................................................. 17
De Exercício Judicial e Extrajudicial ..................................................................................... 17
Constitutivo, Modificativo, Extintivo ................................................................................... 17
Patrimoniais e Não-Patrimoniais ......................................................................................... 17
Crédito, reais, familiares, sucessórios ................................................................................. 17
Figuras Afins do Direito Subjetivo .............................................................................................. 17
Situações Jurídicas Passivas ....................................................................................................... 18
Obrigações .............................................................................................................................. 19
Prestações de Facto ............................................................................................................ 19
Obrigações de Suportação ................................................................................................. 19
Deveres ................................................................................................................................... 19
Deveres Genéricos: ............................................................................................................. 19
Deveres Funcionais: ............................................................................................................ 20
Sujeições ................................................................................................................................. 20
Ónus ........................................................................................................................................ 20
INSTITUTOS JURÍDICOS ............................................................................................................... 21
INSTITUTOS CIVIS .................................................................................................................... 21
1. Personalidade e tutela ................................................................................................... 21
Direitos Gerais de Personalidade .................................................................................................. 25
Art.70º - Tutela geral da personalidade ................................................................................... 25
Art. 71º - Ofensas a pessoas já falecidas ................................................................................. 25
Art. 81º - Limitação voluntária dos direitos de personalidade................................................. 25
Sebenta TGDC – 2015/2016 DNB
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Direitos Especiais de Personalidade .......................................................................................... 26
Não-explícitos no Código Civil ................................................................................................. 26
Direito à Vida ...................................................................................................................... 26
Direito à Integridade Física................................................................................................. 27
Direito à Integridade Moral................................................................................................ 28
Explícitos no Código Civil ......................................................................................................... 28
Direito ao Nome – art. 72º a 74º........................................................................................ 28
Direito à Inviolabilidade de Correspondência – art. 75º a 78º ......................................... 29
Direito à Imagem – art. 79º ................................................................................................ 29
INSTITUTOS CIVIS (cont.) ........................................................................................................ 31
2. Autonomia Privada ......................................................................................................... 31
3. Responsabilidade Civil .................................................................................................... 31
4. Boa-fé .............................................................................................................................. 32
5. Propriedade .................................................................................................................... 33
Teoria das Pessoas ....................................................................................................................... 34
Pessoas Singulares ................................................................................................................... 34
Personalidade Jurídica ......................................................................................................... 34
Capacidade Jurídica ............................................................................................................. 36
Esfera Jurídica ...................................................................................................................... 37
Domicílio (art. 82º a 88º) ..................................................................................................... 37
Ausência (art. 89º a 121º) .................................................................................................... 38
Incapacidades (art. 122º e ss.) ............................................................................................. 39
Sebenta TGDC – 2015/2016 DNB
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Ordem Jurídica – organiza-se como um sistema, ordenado segundo determinados critérios
lógicos que o dividem em subsistemas menores (ramos).
Universo Jurídico é vasto e complexo.
Proposta de divisão romana (remonta a Justiniano e Ulpiano):
• PÚBLICO: Relações das pessoas com o estado e dos estados entre si.
• PRIVADO: Relações dos particulares entre si.
Critérios de distinção
o 1) Interesse prosseguido pelas normas jurídicas – se as normas a serem
aplicadas são de interesse geral, estamos perante direito público. Se forem
normas de interesse particular estamos perante direito privado.
▪ É um critério falível quando isolado porque há áreas do direito privado
em que também há normas que prosseguem o interesse público.
Ex: Direito da Família – normas imperativas (de interesse geral) em
relação ao poder parental de forma a proteger o superior interesse da
criança. Não se pode alterar critérios de filiação como aprouver.
Direito do Trabalho – normas imperativas de forma a assegurar a
proteção dos trabalhadores (o Estado não intervêm no contrato)
Num Estado Social de Direito o Estado presta serviços que
correspondem aos interesses dos particulares
Ex: abre creches, escolas, dá oportunidades para o ensino superior)
o 2) Natureza dos sujeitos envolvidos – se a norma se aplicar a 2 particulares
então é direito privado, se o estado intervir então é público.
▪ É um critério falível pois o Estado também intervém enquanto particular
Ex: Direito das Sucessões – quando ninguém reclama uma herança o
Estado candidata-se a recebê-la.
Quando o Estado vende edifícios públicos fá-lo enquanto particular.
o 3) Posição relativa dos sujeitos envolvidos – depende apenas do modo como
atuam em casos concretos. Se um ente público tiver poder de autoridade (jus
imperii), é direito público. Se partirem de um pé de igualdade, é direito privado.
O que interessa é saber se estão ou não munidos de autoridade.
▪ Ex: Estado a recolher impostos fá-lo com autoridade para tal.
O Estado ao candidatar-se a uma herança não reclama está em pé de
igualdade com os outros candidatos (não têm mais poder por ser o
Estado).
❖ Palma Ramalho: último critério conjugado com o primeiro – é apenas verificando se algum
deles possui autoridade e se há um prosseguimento do interesse geral que se pode
distinguir. Classifica-se como Público o direito onde preponderantemente (não
exclusivamente) vigoram os interesses públicos e o Estado tem uma certa supremacia.
Classifica-se como Privado o direito onde preponderantemente (não exclusivamente – pois
pode haver um cruzamento com os interesses públicos) vigoram os interesses privados e os
dois sujeitos partem de um pé de igualdade.
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❖ Menezes Cordeiro:
➢ Direito Privado – Igualdade: partem na mesma posição (nenhum tem poder sobre
outro); Liberdade: os particulares podem fazer tudo o que a lei não proibir (daí haver
liberdade contratual e etc.) – direito voluntarista, princípio da autonomia privada
➢ Direito Público – Autoridade: não estão na mesma posição relativa, há um desnível em
que um tem poder sobre o outro – age com jus imperii; Competência: o Estado só pode
fazer o que está no seu âmbito de ação (não pode fazer tudo, daí não se falar de
liberdade) – atua no âmbito que a norma prevê.
Especifico a nível de sistema (conjunto ordenado no qual ganha pleno sentido).
Teorias que visam explicar a distinção:
1. Teorias Materiais (natureza das regras)
a. Teoria do Interesse – indivíduos vs. generalidade da população.
b. Teoria da Importância – interesse público prevalece sobre o privado.
c. Teoria da Subordinação – no público à superioridade de uma das partes e no privado
há uma igualdade.
d. Teoria da Soberania – público é mais importante que o privado.
e. Teoria da Tradição – fronteiras apenas de índole histórico-cultural.
2. Teorias do Sujeito (tipo de sujeito na situação jurídica)
a. Teoria do Sujeito Formal – se é o Estado ou um particular.
b. Teoria do Sujeito Material – atuação do Estado como Estado (com atributos próprios)
ou como particular.
c. Teoria da Ordenação – público tem regras especiais.
d. Teoria da Competência – no privado todos são competentes para agir e no público é
apenas aquele que é legitimado pela norma.
e. Teoria da Gestão Público – normas nas quais atuaria como gestor do bem comum
(conceitos mal definidos).
f. Teoria do Direito Especial – privado é base e público é especializado perante certas
situações.
Utilidade da Diferenciação:
1. Contexto histórico-cultural – historicamente surgiu primeiramente o direito privado
(individuo surge antes do Estado). Primeiras relações de Direito Civil.
a. O Direito Privado corresponde à expressão cultural mais profunda de
cada sociedade e tem vindo a ser reconhecido como uma eficaz garantia
da posição das pessoas e do próprio espaço – eficaz contra a exploração
do Estado e de grupos. Ex: os totalitarismos do séc XX tentaram eliminar a
distinção entre público e privado, havendo claros abusos.
2. Sistemática: sistematiza os problemas jurídicos facilitando a regulação de certas
situações (e posteriormente facilitando onde encontrar as respostas aos problemas).
Condiciona o funcionamento dos institutos.
3. Didática: na transmissão de conhecimentos
4. Dogmática: isola-se valores ligados a cada ramo do Direito.
Proposta de divisão dos anos 20:
• Direito Comum – público e privado
• Institucional – regia a atividade das coletividades
❖ Pedro Pais Vasconcelos (assistente): falsa separação com a existência de uma
instituição.
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Ex: direito administrativo diz respeito a instituições públicas, tem o direito civil
como subsidiário. Instituição “família” tem direito privado.
Proposta de divisão dos anos 30:
• Direito Público
• Direito Privado
• Direito Social – onde se inserem as coletividades e o desenvolvimento das suas
atividades. Há uma instituição como centro.
❖ Palma Ramalho: Não faz sentido esta divisão pois o Direito Privado acomoda
facilmente as associações e coletividades, é meramente um conceito
sociológico.
ADOTAMOS A
DISTINÇÃO ENTRE PÚBLICO E PRIVADO:
Direito Privado
• Especial: menos extenso e mais intenso, atendem à atuação dos particulares não
enquanto cidadãos comuns, mas sim numa qualidade específica, interesses privados
não enquanto cidadãos mas sim enquanto comerciantes (por exemplo)
➔ Ex: Direito do Trabalho, Direito Comercial e do Consumo, Direitos de Autor
Direito Comercial
Direitos ligados à atividade mercantil e empresária – 1ª área a autonomizar-se em
relação ao Direito Civil, para que a atividade comercial fosse mais expedita. “Ordenâncias” – normas escritas de direito comercial até à Revolução Francesa, quando
Napoleão faz o código do comércio.
Codificação Comercial anda a par do civil. Passa dos atos dos comerciantes (mais subjetivo)
para um código mais empresarial.
Muito complexo e com variados sub-ramos: Direito das Sociedades Comerciais
(permite autonomizar o negócio do património dos sócios); Direito da Concorrência;
Direito da Propriedade Industrial; Direito Bancário; Direito Cooperativo
Direito do Trabalho
Regula as relações entre um sujeito individual e o empregador – interesses das
partes atinentes à situação como trabalhador ou empregador. Menezes Cordeiro: diz que vem do Direito Romano.
Palma Ramalho: discorda
Tem processo e regime contraordenacional próprio.
Palma Ramalho: Tem autonomia dogmática
Menezes Cordeiro: Não, porque não tem autonomia de princípios.
Palma Ramalho: tem sim, o princípio principal é o de proteger o trabalhador e
também o empregador. Onde ambos partem de uma posição diferente.
Autotutela – não se recorre aos tribunais e pode aplicar processos disciplinares e
atribuir sanções. A greve é um exemplo de uma liberdade de não cumprir o contrato
– princípio apenas deste direito.
Direitos de Autor
Direito do Consumo
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Protege o consumidor no ato do consumo – pois ele não tem todo o seu
discernimento. Melhora assim o acesso à informação.
➔ Grau de Autonomia – em relação ao tronco comum – Civil. Varia de área para
área
▪ Autonomia Sistemática: organiza-se num sistema à parte – corpo normativo
diferente - mas obedece aos princípios do Direito Civil. Ex: Direito Comercial
▪ Autonomia de Dogmática: organiza-se de acordo com uma autonomia de
princípios. Ex: Direito do Trabalho. Discute-se se os Direitos de autor são
uma área automizada do direito civil, uma vez que não há autonomia de
princípios.
• Comum: trata dos problemas das pessoas enquanto cidadãos comuns (mais
abstrato e vasto) = Civil
➔ DIREITO CIVIL
▪ Complexo de normas e princípios jurídicos que regulam as situações
atinentes aos particulares, ou públicos sem autoridade (jus imperii), na
qualidade de indivíduos e na persecução de interesses particulares.
▪ Corpo fundamental do Direito – exprime o modo de viver do povo
que o criou e aplica. Tronco comum de onde parte todo o Direito.
▪ Abarca regras e princípios historicamente derivados do Direito
Romano – nas relações diretas de pessoas que partilham vivências –
direito da cidade e do cidadão.
Historicamente o Público tinha uma base legal para todos e o
Privado é de contratos particulares. O Direito Civil seria público
quando legislado (não havia carácter sistemático).
▪ 1ª Aceção: Conjunto sistematizado de normas e princípios (cada
termo pode ter uma grande riqueza significativa)
▪ 2ª Aceção: Resolução de casos dos cidadãos – requer instâncias
especializadas de ensino e aplicação (é permeável a diversas leituras e
técnicas jurídicas)
▪ Direito codificado (código civil)
▪ Importância:
É Subsidiário – tem uma aplicação residual aos outros ramos do Direito
(Palma Ramalho: que público que privado). É sempre sucedâneo aos
outros ramos do direito (se o específico não tem resposta, vê-se no
tronco comum). Ex: se não há certa situação regulada no código do
trabalho, vê-se no código civil. Basta ter em atenção os princípios que
os regem.
Direito Positivo – traduz regras jurídicas destinadas a facultar soluções a
casos concretos (responde a um quid iuris)
Ciência do Direito – fixa o caminho das fontes às soluções em termos
previsíveis, justificáveis e controláveis.
Cultura Jurídica – comporta linguagens e instituições de todas as
disciplinas jurídicas; papel mediador nas dimensões positiva e científica
onde dá a unidade e identidade de um determinado Direito.
• A ordem jurídica é um todo unitário – divide-se apenas para objetivo pedagógico e
sistemático.
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• O direito subdivide-se em ramos de forma agilizar o processo de consulta e
de forma a dar soluções diferentes a áreas com princípios diferentes.
Teoria Geral do Direito Civil ➢ Distinção entre o Direito Civil por si e a sua parte geral, que pode ser feita a partir do
Código Civil.
o Divisão inspirada no Código Civil Alemão (BGB)
▪ 1) Art. 66º e seguintes: Parte Geral
• A parte Geral do CC surge para se definir princípios, normas e
conceitos (regras gerais) que depois podem ser aplicados às
partes que se seguem. É definido o conceito aglutinador do
código. Explicitado o conceito de relação jurídica.
• Depois o conceito de relação evolui para o conceito de situação
jurídica que será decomposto nos restantes elementos.
• Subsidiário do direito privado
▪ 2) Art. 397º e seguintes: Direito das Obrigações
• Contratos e responsabilidade civil
▪ 3) Art. 1251º e seguintes: Direito das Coisas
• Propriedade e situações da titularidade de bens.
▪ 4) Art. 1576º e seguintes: Direito da Família
• Regula vínculos que emergem do casamento, parentesco,
afinidade e adoção.
▪ 5) Art. 2024º e seguintes: Direito das Sucessões
• Destinação dos bens – efeitos patrimoniais da morte.
o As partes especiais do código é direito privado comum, mas mais especializado.
Tem dogmáticas ligeiramente diferentes. O geral (mais importante) cede
perante o particular.
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Evolução Histórica do Direito Civil É o mais antigo de todos – a sociedade primeiro quis saber dos assuntos particulares de cada um.
Provém do Direito Romano (jus civili romano) – o Direito Civil é direito romano atual
• Direito de base tópica – assente em problemas – parte dos problemas para as soluções, e
encontra soluções por recurso a critérios pré definidos. Resolução do caso concreto, da base para
o topo.
o Opõe o pensamento sistemático do topo para a base
• Direito com base em ações – direito de base pretoriana, jurisprudencial – (pretor = juiz de
Roma), assenta em ações: algo acontece e é levado ao pretor que decide e cria a norma ao aplica-
la (outros pretores basear-se-ão nele)
• Direito como objeto de compilação – regras escritas em cadernos legislativos onde há uma
descrição de leis sem organização sistemática, não é codificado como o atual
o Compilações como o Corpus Juris Civili e as Digesta.
Receções de Direito Romano
➔ Idade Média: recebido Direito Romano que passa por um filtro dos comentadores e glosadores
que o interpretam à luz dos valores da idade média. Há um filtro que torna o direito diferente do
original, devido à forte influência católica.
Idade Moderna (séc. XIV)
➔ Jurisprudência Elegante: regresso aos preceitos de Direito Romano originais.
o Tentam redescobrir a pureza clássica no tratamento dos textos normativos.
o Tentam unificar e sistematizar as normas.
Pensamento moderno evoluiu em fases:
1. Sistemática Periférica – aglutinação de normas de acordo com critérios lógicos, mas sem grande
condição geral (jurisprudência elegante) – reuniram-se os temas de acordo com certas
semelhanças exteriores por eles aparentadas – sistemática externa.
2. Sistemática Racionalista – (influência de Descartes, séc. XVII e XVIII) parte-se do topo para a
base, em cascata.
a. Hobbes propôs uma organização do sistema jurídico em princípios chave, donde fez
decorrer cada norma com progressiva concretização.
Ex: primeiros códigos civis: CC Francês. Código Napoleónico assenta na ideia de pessoa,
de bem e de negócio (ver mais à frente)
3. Sistemática Integrativa/Integrada – (influência de Savigny) tenta integrar as outras sistemáticas
– conserva a articulação logicista dos racionalistas com a herança romana dos elementos
jurídicos pré dados por via histórica e cultural, património insubstituível dos povos.
a. Aposta em conceitos fundamentais mas sem o excesso de racionalismo que desliga as
normas da realidade, apelou ao “espírito do povo” para resolver casos concretos
(voltando à base tópica) – retirar valores fundamentais do Direito Romano sem deixar
cair os critérios lógicos: há um apuramento de conceitos lógicos para ligar as partes do
código (Pandectistas – intenção de facultar a aplicação do atual direito romano –
respeitando a forma mas enriquecendo o conteúdo).
Começa a surgir a ciência jurídica civil
➔ Codificação – normas sistematizadas com recurso a argumentos lógicos coerentes. (Essa
codificação exige maturação do pensamento jurídico. CC só surgiu no séc. XIX). Clarificação de
normas com reflexão prévia.
Antes dos códigos havia Compilações – junção de normas sem critérios lógicos.
Código Napoleónico, 1804 (início séc. XIX), França
❖ Sistemática Racionalista.
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❖ Unificou as fontes de Direito: direito romano, práticas de direito civil francês e cânones (do
direito de família e etc.).
❖ Passou a escrito com ideais chave da revolução francesa:
▪ Pessoas e Igualdade – personalidade jurídica e etc.
▪ Propriedades e Bens – burguês queria ser proprietário.
▪ Convenções/Formas de se adquirir a propriedade – contratos, negócios e etc.
➢ Contratos válidos entre as partes como se fossem lei – Responsabilidade Civil.
➢ Liberdade de praticar atos não proibidos.
❖ Influenciador de grande número de países europeus e valorado pela sua longevidade.
BGB (fim do séc. XIX), Alemanha
❖ Sistemática Integradora.
❖ Organização técnico-jurídica: base racionalista, conceito racional para todo o código – conceito
de relação jurídica.
❖ Estruturação em partes: vários livros para decompor o conceito de relação jurídica conforme a
situação.
Grande apuro técnico para decompor as relações oriundas da parte geral.
❖ Códigos Civis tardios – os elaborados posteriormente ao BGB.
Duas classificações no Direito Civil:
• Napoleónicas
• Germânicas (caso de Portugal)
Críticas:
o 1. Várias partes do Código não correspondem a um critério unitário (uno e coerente)
– em cada parte se lida com uma determinada coisa. ▪ Palma Ramalho: deve contrapor-se que é uma classificação de grande utilidade
– permite regular tudo de uma forma lógica. Isto ajuda a que resistam muito em termos de tempo.
o 2. O conceito de relação jurídica é definido de certa maneira e transmutado em várias
áreas.
▪ Palma Ramalho: mas este conceito aplicado a diferentes partes do código não
seria o mais correto (relação é dirigido a pessoas, falaremos de situação).
o 3. A parte geral do BGB é muito mais teórica. ▪ Palma Ramalho: conceito de que parte é fabricado, teórico e abstrato. Mas é
um instrumento técnico que não tem significado cultural por si só para o comum cidadão. Técnica do BGB é relativizar a realidade social da pessoa, transpondo para uma realidade jurídica.
História do Direito Civil Português Inicialmente, o Direito Civil Português era o jus civile romano vigente em Portugal – e influenciado pelos
canonistas nas receções da idade média.
➔ Nascem as primeiras compilações de normas civis: Ordenações
1. Afonsinas (1446-1447, D. Afonso V)
2. Manuelinas (1512-1514, D. Manuel I)
3. Filipinas (1603, D. Filipe I)
➔ Compilações normativas com critérios fragmentários, agrupados sem critérios lógicos nem
técnico-jurídicos. Direito ainda não codificado.
➔ Englobam também normas de Direito Público, Penal, Processual e etc.
Proliferação das fontes do Direito (a par das ordenações)
• Fontes sem coordenação entre elas e provenientes de períodos históricos diferentes.
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• Ordenações tentaram diminuir essa multiplicidade. Mas muitas áreas eram consuetudinárias
tendo um carácter regional ou local.
o Lei da Boa Razão (séc. XVIII)
Veio tentar unificar as fontes do direito afirmando que as normas escritas prevalecem
sobre tudo o resto.
Mas, a par com as ordenações vigoravam outros diplomas avulsos; leis extravagantes
como o direito romano, o direito canónico e etc. Pelo que o problema apenas diminuiu
de intensidade.
No séc. XIX, os autores portugueses bebem do civilismo francês e temos um período de pré-codificação,
de que os compêndios de Pascoal de Mello são exemplo por se basearem nas institutiones.
Código de Seabra (1867)
1º Código Civil Português
• No âmbito de um sistema económico liberal, de matriz de sistemática civil racionalista e baseado
nos ideais liberais da revolução francesa (integra-se no sistema napoleónico).
• “É filho do seu tempo” na sistemática de princípios e soluções.
• Assenta na tradição românica – mantém institutos que já figuravam no Direito anterior.
• Manteve a linha das ordenações para estar adaptado ao povo.
• Foi útil para sedimentar conceitos, dar soluções adequadas e permitir o tratamento mais
avançado das questões.
• 4 Partes:
i. Capacidade Civil: normas para o exercício dos direitos.
ii. Aquisição dos Direitos – originários (da natureza do homem); de aquisição
voluntária (contratos); por força da lei ou de outros (sucessões).
iii. Propriedade.
iv. Ofensa de Direitos e reparação
• Código esteve em vigor 100 anos – sobreviveu à República e a parte do Estado Novo.
• Críticas:
o É centrado no indivíduo e menos social que os do séc. XX (dirige-se demasiadamente
para o valor e a dignidade da pessoa).
o Excessivamente lacunoso – dá lugar a muita legislação extravagante.
Código de 1966 (Código Vaz Serra)
Código civil atual
• Autores que elaboram o código: Galvão Telles, Gomes da Silva, Paulo Cunha, Vaz Serra, Pires de
Lima
• Mudança de paradigma cultural e sistemático, na receção ao pandetismo – trabalhos de
Guilherme Moreira e etc. Adota-se a classificação germânica.
• A nível de fontes, consagrou-se o pensamento da sistemática integrada com todas as
consequências no plano científico e cultural.
• É o resultado de uma reflexão e maturação: daí ser continuar estável até agora.
• Resistiu ao 25 de Abril e foi alterado em 1977
o Carácter estrutural: alteração do quadro social vigente; novos princípios da sociedade. Ex: idade da maioridade, dos 21 para só 18 anos, alterou-se o regime da emancipação;
desapareceu a figura do chefe de família; desapareceram as incapacidades da mulher casada
o Institutos ou matérias são criadas e outra mutáveis. Algumas mais delicadas são mais
vezes alteradas. Ex: contratos (art. 410º), arrendamentos, propriedade horizontal – ganham
uma legislação independente.
o É alterado também na adesão ao Euro e sob o programa simplex, para haver menos
burocracia.
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• A Legislação complementar é também importante pois são diplomas necessários para aplicar as
normas civis. Ex: código processo civil, Registo Civil e Predial e etc.
• Está sujeito às mesmas críticas que o BGB alemão.
Situações Jurídicas Direito incide sobre a vida das pessoas em sociedade.
Situações da Vida: aquilo que acontece com as pessoas – autonomiza-se uma parte do contínuo
da vida
Direito: normas de conduta da vida em sociedade
Situações da Vida + Direito = Situação Jurídica
Situação Jurídica: Situações da vida humana valoradas pelo Direito – aquelas situações da vida
às quais o Direito confere relevância para os fins próprios do Direito. Situação sempre concreta
que só nasce de uma situação da vida intercruzada com o Direito. Produto de uma decisão
apropriada correspondendo ao ato e ao efeito de realizar o direito, resolvendo um caso
concreto.
➢ Do cruzamento entre uma situação da vida e uma norma de direito, nasce uma situação
jurídica que é intersubjetiva - não se resume ao interior de um indivíduo e participa do
universo da cultura.
➢ A decisão de uma situação jurídica é um ato de criação de Direito – estudar uma situação
jurídica é estudar o Direito no momento em que ele se concretiza, em que ele se
constitui, em que ele soluciona problemas jurídicos:
o Fonte para a decisão – lei
o Interpretação da lei
o Concretização da norma ao caso
Ex: Situação da vida: ter a caneta da mão; Direito: poder fazer o que quiser com a caneta;
Situação jurídica: direito a usar a caneta para tirar apontamentos.
Situação da vida: A mata B; Direito: B tem direito à vida; Situação jurídica: A comete um crime
ao matar B pois violou o seu direito
BGB – conceito de Relação Jurídica
Savigny: situação jurídica em que estamos todos em relação. Pessoas que atuam sobre coisas e que
interessa ao direito (tutela)
Código Civil Português – conceito de Situação Jurídica
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Oliveira Ascensão: retira o fator relação e amplia o conceito para casos em que não há relação. Ex: tenho
sempre direito à vida, não apenas quando me estão a tentar matar.
Conceito de Situação Jurídica veio explicar e aplicar-se a tudo (até às absolutas)
• Posição Jurídica: exprime a situação jurídica relacional, ou não, em que se encontra
colocado alguém, no Direito. Estatuto da pessoa enquanto classificação dada pelo
Direito. Ex: proprietário, usufrutuário, comprador, marido, filho, herdeiro e etc.
Tipos de Situações Jurídicas:
Situação Jurídica Absoluta vs. Relativa • Relativa – quando se pressupõe uma relação entre duas pessoas em sentido inverso
uma em relação à outra. Precisa de se equacionar com outra de sentido inverso. Ex:
um é o devedor e o outro é o credor.
• Absoluta – quando não se pressupõe a existência de uma relação de sentido inverso.
Existe por si, sem dependência de uma de sentido contrário. Ex: não há o ser dono
e o ser possuído – devido a estas situações, não se deve falar de relação jurídica
Situação Jurídica Unissubjetiva vs. Plurissubjetiva • Unissubjetiva – só há um sujeito em relação
• Plurissubjetiva – há vários sujeitos na relação
o Unilateral: tem apenas uma parte (podem ser uma ou mais pessoas que
partilham um interesse comum)
o Plurilateral: tem duas ou mais partes diferentes. Ex: 4 sujeitos, 2 partes: parte
dos 2 vendedores e parte dos 2 compradores)
Situação Jurídica Ativas vs. Passivas • Ativas – titular em vantagem; o sujeito tem o poder de determinar, pela sua vontade,
os efeitos, dispondo deles – coloca os sujeitos sob a vontade do próprio Ex: poder
parental, está em posição preponderante de autoridade
• Passivas – titular em desvantagem. Efeitos jurídicos na dependência de uma pessoa
que não o próprio.
Ex: do contrato resulta para as partes tanto situações ativas como passivas – o comprador tem
situações ativas porque poderá vender, mas passiva porque terá que dispor do bem se lhe for
pago.
Situação Jurídica Patrimonial vs. Não-Patrimonial • Patrimonial – tem uma avaliação económica em dinheiro.
• Não-Patrimonial – não é possível ter uma avaliação monetária
Ex: quando alguém morre, ouvimos nas notícias que há uma indemnização. É falso. Há
uma compensação não para atribuir o valor que tinha mas para atenuar a dor
Menezes Cordeiro: Critério tende a perder nitidez pois todas as situações tendem
a poder ser avaliadas em dinheiro.
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Situação Jurídica Simples vs. Complexa • Complexa – formadas por outras situações jurídicas e admitem a sua decomposição em
mais simples. Ex: ser casado tem outras situações jurídicas associadas como os deveres
conjugais e etc.
• Simples – não pode ser mais dividida; tem um único elemento e ao ser retirado do
seu conteúdo um qualquer fator, torna-se inteligível. Ex: A tem direito a exigir 100
euros de B – é simples pois nada mais pode ser retirado.
Tendencialmente há uma identificação com:
Situação Jurídica Compreensiva vs. Analítica • Compreensiva – critérios jusculturais que se formam na história (autonomização
cultural) e englobam múltiplos elementos – englobam várias analíticas. Ex: direito da
propriedade da caneta, compreende toda uma série de direitos relativos à propriedade
como o direito de escrever com a caneta.
• Analítica – só ao analisar parte do universo; identifica-se, aprofunda-se, afunila-se de
forma a restringir a situação apenas ao que nos interessa – nasce da análise.
Ex: compreensiva: casamento; analítica: marido pode bater na mulher?
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Bens Jurídicos – Gomes da Silva: Tudo o que sirva para o homem atingir um fim (lícito). Esse
fim não pode ser uma pessoa, mas pode ser a atividade de uma pessoa.
Interesse Jurídico – Jhering: Temos interesse em bens quando são úteis para atingirmos algo.
Temos interesse no bem quando é útil para a nossa atividade.
Poder Jurídico – Gomes da Silva: Disponibilidade de um bem para atingir um fim. Dentro do
Direito temos disponibilidade sobre um meio.
Direito Objetivo
Conjunto de leis, princípios e valores que vigoram num certo ordenamento jurídico.
Direito Subjetivo No direito Romano os cidadãos não tinham direitos mas sim ações.
• Possibilidade de obterem do magistrado uma ordem sobre o problema em questão.
• Pretensões levadas perante o pretor.
O conceito (elevadamente abstrato) de Direito do Sujeito surgiu no séc. XIV (1325) por Ockham
nas suas lutas contra o papa e o reconhecimento da propriedade dos Franciscanos -
consequências ideológicas e políticas, porque se está a pôr um travão ao poder do Estado ou da
lei, ao reconhecer direitos aos cidadãos.
Significa o espaço de liberdade de cada um – há coisas que são do sujeito e outras que não são,
as pessoas têm direitos, pertencem-lhos e são originários (direito das pessoas enquanto
pessoas). “O que é meu e vantajoso”:
• Tem que haver Sujeito
• Tem que haver Objeto
o Sujeito e Objetos específicos de um caso concreto. No CC diz “proprietário” e
“coisa”, logo é objetivo pois pode ser aplicado a todos – para ser objetivo tem
que ser aplicado a alguém
• Tem que haver relação de pertença
Situação jurídica Ativa (é boa e traz vantagens) e Complexa (confere poderes).
Tem que ser predominantemente ativa, senão passa a ser um dever. Ex: rouba a caneta, não
tem direito sobre ela pois tem o dever de a devolver.
Para identificarmos o direito subjetivo temos de olhar para o regime jurídico.
Savigny (séc. XIX)
Como pandectístico, pega no direito Romano vigente na Alemanha e cria uma nova teoria onde
as pessoas têm direitos.
➢ Direito Subjetivo: Vontade tutelada pelo Direito
o É o poder da vontade. Reconhecimento ao sujeito titular do direito de vontade
e liberdade – alguém detém o poder porque quer. Ex: o proprietário (que tem
vontade, apetência para ter algo) pode arrendar ou dispor desse algo
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➢ Conceção voluntarista e subjetivista – deu respostas a vários problemas jurídicos.
Liberdade jurídica das pessoas exterioriza-se na sua vontade e na sua atuação
sobre os bens.
➢ Não explica todos os direitos subjetivos
Jhering (séc. XIX)
Direito subjetivo não pode ser apenas poder da vontade (é dispensável) pois os bebés não têm
vontade, pessoas em coma ou desmaio não têm vontade – logo não poderiam ter direitos
subjetivos.
➢ Direito Subjetivo: Interesse tutelado pelo direito/Interesse juridicamente protegido
o O que me é útil, a mim. Não basta ter o poder, tem que conduzir a um interesse.
o Segurança jurídica do aproveitamento dos bens – tutela do interesse.
o Críticas: Direitos genéricos (que interessam ao geral) – “Interesses
reflexamente protegidos” – são apenas interesses, não direitos. Ex: temos
interesse que não haja poluição mas não temos domínio sobre as fábricas
poluentes da China, nem direitos subjetivos sobre elas.
Conseguimos sempre encontrar interesses no Direito Subjetivo, mas nem todos
os interesses são direitos subjetivos. Ex: Carros na AE com velocidade superior
a 120, interessa-nos que eles cumpram os limites, não temos direitos sobre os
carros das outras pessoas.
Ex: Não temos vontade de usar a camisola, mas ela tem interesse pois continua a ser útil. Mesmo
já não tendo vontade de a utilizar, tenho ainda direito sobre ela pois é útil.
Não é só vontade nem só interesse.
➢ Regelsberger: Direito subjetivo -> ordem jurídica faculta a uma pessoa a realização de
um fim, reconhece e protege esse fim. Ou seja, por um lado na primeira parte defende o
interesse e a sua prossecução, e na segunda parte atribui a essa pessoa um poder.
Críticas: não se deve confundir direito e poder e o interesse é apenas titular do
direito.
➢ Gomes da Silva: Afetação jurídica de um bem ao interesse subjetivo da pessoa –
criticada porque pode originar deveres. Ao ter um domínio sobre o poder, está em
posição ativa e geram-se deveres.
Críticas: À afetação jurídica de um bem não equivale o próprio direito, pois há
afetações jurídicas que correspondem a deveres ou deveres-poderes
➢ Oliveira Ascensão: Posição de vantagem que resulta da afetação de um bem aos fins
de uma determinada pessoa.
➢ Teixeira de Sousa: Situação objetiva que resulta de uma permissão de ação ou de
omissão. Alude à posição do sujeito (titular do direito) quanto a um determinado modo
de atuar.
➢ Paulo Cunha: Poder conferido e assegurado pelo Direito objetivo de realização de um
interesse mediante uma vontade que o exerça e defenda.
➢ Menezes Cordeiro: omnipresença de uma ordem de liberdade e de
autodeterminação. Liberdade concreta no desfrutar de vantagens precisas
relacionadas com a afetação de bens que ficam na disponibilidade da atuação
do sujeito.
➢ Escola jurídico-formal: é difícil definir Direito Subjetivo (figura rica e complexa), deve-se
apenas identificar a estrutura:
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o Permissão normativa específica de aproveitamento de um bem – é um Direito
Subjetivo porque a ordem jurídica permite algo a uma pessoa concreta. Ex: quem
pode andar no meu jardim? O proprietário e quem eu quiser. Quem pode andar nas
ruas de Lisboa? Toda a gente, não é então um direito subjetivo.
o Ao ter essa permissão está-se em vantagem em relação a outros.
o Só se tem o poder que a norma permite – destinado a aproveitar os bens, é útil
a alguém.
➢ Pedro Pais Vasconcelos: distingue estrutura de função/conteúdo
o Tudo o que for lícito para proteger o uso que fazemos da coisa.
Ex: legítima defesa, ir a tribunal e etc.
O Direito subjetivo é o expoente máximo da situação jurídica (ativa e complexa).
Classificações de Direito Subjetivo:
Direito Estrito • Assenta na estrutura do direito em causa e nos efeitos que ele produz.
• Palma Ramalho e Menezes Cordeiro: permissão normativa de aproveitamento de um
bem.
o Não têm os direitos que querem, mas os que a ordem jurídica confere – decorre
da norma.
Direitos Potestativos • O titular do direito, por si só, pode alterar a esfera jurídica de outro.
• Poder para alterar uma situação jurídica de outro, que apenas tem que suportar essa
alteração unilateral. Ex: A tem prédio encravado, atrás do terreno de B. A tem direito de
passar pelo terreno de B – que nada tem de fazer, apenas suportar o facto.
o Critério de sujeição
• Posição de poder fazer algo que, sendo feito, altera a esfera jurídica de outrem. Ex:
aceitar ou rejeitar a proposta contratual de comprar: pode surgir uma situação jurídica
nova de um contrato
o Há uma liberdade de aceitar ou não – aproveita uma permissão concedida por uma norma para alterar a esfera jurídica
• O efeito jurídico de um poder potestativo é quando cria, modifica ou extingue uma situação jurídica. Ex: A tenta vender a caneta. Coloca na esfera jurídica de B o poder potestativo de aceitar ou não. B recusa. Usou o seu poder potestativo pois extinguiu a situação jurídica que se criou.
• Tem efeitos imediatos mesmo que não se goste.
• A lei conferida ao titular é vista como um bem que fica ao seu próprio critério de uso.
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Critérios de Classificação:
Com Destinatário e Sem Destinatário ❖ Com Destinatário – ex: compra e venda – a outra pessoa está em sujeição, mas o sujeito
passivo nada tem que fazer
❖ Sem Destinatário – ex: encontra algo na tua, altera a minha esfera jurídica pois passo a
ser dono – só há alterações na esfera jurídica do titular do direito. Mas é um direito do
eu perante o nada/toda a gente.
De Exercício Judicial e Extrajudicial ❖ Exercício Judicial – só pode ser exercido por intermediação judicial, exige intervenção
do Tribunal
❖ Extrajudicial – apenas por manifestação da vontade
Constitutivo, Modificativo, Extintivo ❖ Constitutivo – o exercício do direito dá lugar a uma situação jurídica nova. Ex: ao
comprar algo, dá lugar ao direito de propriedade sobre isso.
❖ Modificativo – altera o conteúdo de uma situação jurídica já existente.
❖ Extintivo - efeito do exercício do direito é o cessar de uma situação jurídica.
Patrimoniais e Não-Patrimoniais ❖ Patrimoniais – quando o direito incide sobre um bem com valor económico.
❖ Não-Patrimoniais – quando incide sobre bens não avaliáveis em dinheiro (é diferente de
não ter existência física)
Crédito, reais, familiares, sucessórios ❖ Direitos subjetivos na técnica do nosso código civil.
❖ Direitos das pessoas enquanto tais – parte geral
O direito subjetivo é a situação jurídica ativa por excelência; é o que evidencia a posição de vantagem de
uma pessoa, que lhe é dada por uma norma jurídica permissiva para aproveitar um bem (em sentido
amplo). O direito potestativo é uma modalidade do direito subjetivo, daí a distinção entre direito subjetivo
em sentido amplo (que inclui o direito potestativo) ou em sentido estrito.
Poderes de crédito exigem a colaboração de outra pessoa, nos potestativos basta uma querer que a outra
se sujeita.
Não é possível violar o Direito Potestativo pois ele produz efeitos logo.
Situações jurídicas ativas que não são direitos subjetivos:
Figuras Afins do Direito Subjetivo Conteúdo essencial são Vantagens para o titular, embora não como Direitos Subjetivos.
Poder – Gomes da Silva – disponibilidade de um meio para atingir um fim. Aquilo que permite
alguém chegar a um objetivo. Situação jurídica analítica, o direito subjetivo é uma categoria
ampla e com carga axiológica enquanto o poder é uma categoria simples e técnica
1. Poderes e Faculdades
• Menezes Cordeiro: Faculdades – conjunto de poderes. Palma Ramalho discorda, usa apenas
o conceito de poderes.
➔ Poderes Materiais – meios essencialmente materiais (fazer algo)
➔ Poderes Jurídicos – meio de atuação é o ato jurídico.
o Poderes Constitutivos, Modificativos e Extintivos
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➔ Poderes Autónomos
➔ Poderes Integrados – relativo a situações jurídicas mais amplas.
➔ Poder de Gozo – o que tem a ver com a relação de alguém com um bem
➔ Poder de Crédito – exigir de alguém uma conduta
➔ Poder de Garantia – desencadeia mecanismos de responsabilidade
➔ Poder potestativo
2. Poderes Funcionais
• Poderes deveres: vinculam ao exercício desse poder, associado a uma função.
• Elemento de vantagem ténue
• Ex: poder paternal, educa-se o filho como quer mas essa educação, que é um direito
de escolha dos pais, é exercido pelo interesse do filho. Poder Hierárquico
• Poder Altruísta: poder exercido para defender os destinatários do poder e não o
próprio titular.
3. Exceções
• Permite ao respetivo titular não cumprir o dever, ou adiar. A vantagem é a exceção
que permite não cumprir esse dever (logo é uma situação jurídica ativa) – conteúdo
fundamental da exceção é vantajoso
• Meio de defesa. Invocam-se as exceções parasse defender. Usamos o nosso direito
para nos defender.
➔ Perentória – se isenta do cumprimento do dever para sempre. Ex: prescrições
➔ Dilatória – adia/protela o cumprimento do dever. Ex: A não paga o código que
comprou de B pois este ainda não lho entregou.
4. Expectativas (Juridicamente tuteladas)
• “Meio caminho entre a esperança material e o direito subjetivo”
• Situação jurídica em que há expectativa tutelada juridicamente mas ainda não há
um direito – pois os direitos consomem as expectativas.
• Interesses indiretamente protegidos – não dão lugar a direitos subjetivos, mas
disfrutam de uma tutela eficaz que preserva os bens em jogo.
Ex: A convence B que vai assinar contrato de promessa compra e venda. B, nessa expectativa
pede crédito para pagar o sinal. No último instante, A desiste.
5. Proteções reflexas ou indiretas
• Tutela os interesses de alguém impondo deveres a outrem. Mas o que é protegido
não tem o direito subjetivo pois ele beneficia reflexamente do facto de a outra
pessoa cumprir um dever.
Ex: norma ambiental penaliza fábricas poluentes, quem vive perto beneficia
Situações Jurídicas Passivas Coloca o titular numa posição desvantajosa em que está dependente de um terceiro quanto à
produção dos seus efeitos.
• Os titulares destas situações jurídicas estão sujeitos a normas que proíbem e outras
que impõe certos comportamentos – está-se juridicamente obrigado a essa
situação desvantajosa.
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• Até se pode gostar dessa situação desvantajosa. Ex: gosto de saber os segredos e
não poder contar a ninguém pois tenho obrigação de sigilo.
• Tem que se ver na lei quem está do outro lado da situação passiva – quando o lado
ativo é toda a gente/ninguém, normalmente é o Estado (Ministério Público)
Obrigações Art. 397º do CC – vincula juridicamente a realização de algo (uma prestação)
• Menezes Cordeiro: Situação Jurídica Passiva Compreensiva
• Pode-se decompor, e descobrem-se situação não passivas.
• Funcionam sempre em relação – se alguém tem uma obrigação, outrem tem direito de
crédito
o Relação obrigacional: MC não aplica pois, podemos ver só as obrigações ao ver
um caso… seria uma obrigação de mim perante o resto do mundo
• Dentro de uma relação jurídica – pois nasce das (5) fontes das obrigações:
acontecimentos que existem na sociedade em que há relações.
Prestações de Facto Entrega de coisas
➢ Prestação principal
➢ Prestação secundária: complementa a prestação principal
Ex: contrato para criar um site (prestação principal), fornece ao empregado um
computador (prestação secundária).
Obrigações de Suportação Ex: obrigação do vizinho suportar que eu coloque um andaime no terreno dele para pintar a
minha casa pois fizemos um contrato em que ele se obrigava a fazê-lo.
Existem ainda obrigações de dare, de facere (que podem ser: Fungíveis – um terceiro
realiza a ação, Infungíveis – obrigação de executar o dever), de facto positivo, de facto
negativo, de pati (de suportação – alguém faz algo na nossa esfera jurídica que, em
princípio, não poderia ter lugar)
Deveres Juridicamente está-se vinculado a realizar esse dever.
➢ Não relacional – não é necessário uma relação jurídica
➢ A sua violação é um ato ilícito
Deveres Genéricos: O dever é a figura base.
➢ As outras pessoas têm o dever genérico de respeitar o direito de um indivíduo
➢ Atribuem a um sujeito o monopólio dos seus deveres ligados a uma única coisa
(exclui todos quantos não sejam titulares da situação considerada)
➢ Não dão lugar a comportamentos que possam, exclusivamente, ser exigidos por
um indivíduo a outro, não são direitos. Ex: que não se fume nos restaurantes, é um dever
genérico mas nenhum outro cidadão pode exigir o cumprimento desse dever embora possa advir
sanções
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Deveres Funcionais: Deveres não associados ao titular mas à função que o titular desempenha.
➢ Age por critérios impostos em virtude da função que desempenha
Ex: poder potestativo funcional de dar a norma – relação com o aluno; dever funcional de
dar a nota – relação perante a faculdade, pois dá as notas em função dos critérios de
classificação e não porque odeia o aluno; no poder paternal há o dever de educar, mas de
acordo com o direito (não pode educar filhos para fazer assaltos); Cavaco Silva, como
Presidente da República nomeia o Primeiro-Ministro, não porque gosta do candidato mas
porque os deveres funcionais da sua função assim o diz.
Sujeições Lado passivo dos direitos potestativos.
• Alguém pode ver a sua esfera jurídica alterada unilateralmente por outra pessoa.
• Sujeito ao direito potestativo de outrem.
• É irrelevante a vontade de quem está numa situação jurídica de sujeição – pois o facto
de o outro te rum direito potestativo, produz de imediato efeitos na minha esfera
jurídica independentemente do meu querer.
Ex: poder paternal; poder de representação – quem se faz representar está sujeito ao
procurador
Ónus Dever que proporciona vantagens, mas cujo cumprimento não pode ser exigido.
• Situações absolutas – não estão numa relação jurídica.
• Para se ter uma vantagem tem que se sujeitar a uma desvantagem. Ex: vantagem –
tirar o curso, desvantagem – estudar muito; Não temos o dever nem a obrigação, nem é
ilícito a sua não realização. Temos apenas o ónus.
• Situação jurídica que quando o “dever” é violado não é ilícito.
• Ónus jurídicos – não há um dever (se houvesse, ao não ser cumprido agir-se-ia
ilicitamente) mas ao não se cumprir, não há sanções, mas não há vantagens – assenta
numa permissão. Ex: ónus da prova, não é um dever provarem-se os factos, mas ao fazê-
lo ganha-se o caso.
o Menezes Cordeiro: é um regime particular que se distingue dos deveres e das
obrigações e é reservado para o direito processual
• Tem-se o Ónus de algo quando se invoca um direito. Ex: jornalista diz que jogador jogou
mal. Direito: liberdade de imprensa -> ónus de provar que é jornalista, ónus de provar
que a notícia é de interesse público e etc. Se provar tudo, pode ganhar o caso e perceber
que tem o direito de dizer mal
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INSTITUTOS JURÍDICOS Instrumento de operacionalização: conjunto de normas que tomadas em conjunto revelam uma
identidade cultural orientadora (válido para qualquer área do Direito).
É composto pelas normas que compõe os regimes jurídicos. A cultura dos juristas diz que certo
instituto é um Instituto pois em muitos regimes jurídicos do Direito Privado vigora esse instituto
– essa verificação é feita jusculturalmente.
Conjunto concatenado de normas e de princípios que permite a formação típica de
modelos de decisão.
Instrumento técnico jurídico que faz a síntese de um conjunto de normas com carácter cultural
e compreensivo.
• Fornece quadros gerais – perpassa por várias normas para dar uma orientação geral.
A. Meio caminho da norma e do princípio Norma: gerais e abstratas mas regulam uma situação concreta. Têm previsão e estatuição.
Princípios: orientações abstratas do sistema jurídico
B. Grau de aperfeiçoamento científico da realidade a que se reporta. Ex: ao falar de
propriedade fala-se de direitos, deveres e imposições – muito mais que as normas do
código
C. Carga Cultural
D. Aspetos fundamentais da regulação jurídica de uma certa categoria de situações – é
um conceito retirado da realidade, operacional e não meramente abstrato.
INSTITUTOS CIVIS Valores na base da construção do Direito Civil – pilares axiológicos do Direito Civil. Comunicam
com simplicidade e eficácia um considerável número de dados.
1. Personalidade – e a tutela da personalidade
2. Autonomia privada – liberdade contratual mais ampla -> o que o indivíduo pode fazer
3. Responsabilidade Civil – imputação de danos, as pessoas devem ser responsáveis pelos
danos que causam a outros.
4. Boa-fé – comportamento leal
5. Propriedade – as pessoas têm bens e sobre eles propriedade
1. Personalidade e tutela O Direito Civil trata das pessoas enquanto tais. A pessoa em si mesma não é um instituto
jurídico – pois é uma realidade pré-jurídica, anterior a que Oliveira Ascensão chama “um dado
pré-legal”. Pessoa extrajurídica.
• Pessoa Jurídica – acrescenta algo à pessoa em sentido biológico – centro de imputação
de normas.
o No direito, uma pessoa jurídica pode ser não apenas a pessoa humana no
sentido ontológico mas também uma organização: pessoa coletiva ≠ pessoa
singular (pessoa no sentido físico)
o Suscetível de ser titular de direitos e de ficar adstrito de obrigações: pessoa é o
ser humano apenas enquanto sujeito de direitos.
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o Nas sociedades antigas, havia pessoas no sentido ontológico que não eram
pessoas jurídicas: escravos eram coisas.
o Hoje em dia: Toda a pessoa biológica é pessoa jurídica.
o Papel da pessoa biológica é que tende a haver uma correspondência entre ela e
os centros de imputação de normas jurídicas, direta ou instrumentalmente. A
presença de um centro de imputação de normas não equivale, por si, a qualquer
modelo de decisão. Para além desse aspeto, a pessoa no sentido ontológico do
termo conduz ao aparecimento de verdadeiros institutos – conjuntos articulados
de normas e de princípios que permitam a figuração de modelos de decisão
típicos.
BASE: situações jurídicas de personalidade.
• Personalidade: dado extrajurídico que se impõe ao Direito. Qualidade de ser pessoa que o Direito
reconhece a todas pelo simples facto de o serem, que se traduz no tratamento jurídico das pessoas
como pessoas, isto é, sujeito e não como objeto de direitos e deveres, como originariamente
dotadas da dignidade inviolável das pessoas humanas que constitui um dado extralegal que o
Direito respeita.
Direitos de Personalidade
• O instituto/figura civil que tutela as pessoas em sentido antropológico, ontológico ou
biológico. Primeiro eixo fundamental do Direito Civil é a preservação da personalidade,
da qualidade de pessoa em sentido biológico e dos direitos inerentes (aquilo que tem
a ver com a identidade de cada um) a esta qualidade.
o CC – art. 70º e ss.
o Código de Seabra: Direitos originários inerentes ao ser pessoa e impõe-se ao
Estado e a outros indivíduos.
o Núcleo basilar de bens juridicamente reconhecidos.
o Ex: direito à vida, integridade física, honra, reserva da intimidade da vida
privada, imagem, privacidade de correspondência e etc.
o Fora da disponibilidade do legislador e dos próprios titulares
• Direito da pessoa sobre a própria pessoa – domínio sobre uma parte da sua esfera
de personalidade: classificações em círculo biológico (vida, integridade física,
saúde e etc.), círculo moral (integridade moral, bom nome, reputação) -
geralmente não têm conteúdo patrimonial - círculo social (intimidade, nome,
imagem)
• Situações jurídicas ativas, não patrimoniais, originárias
o Em alguns casos podem-se fazer negócios jurídicos sobre direitos de
personalidade, como direito à imagem. Ex: a imagem do Ronaldo vende milhões
e por isso a Nike usa-a pra publicidade
o Direito da Personalidade -> direito objetivo – ramo do Direito
o Direitos de Personalidade -> direito subjetivo
➔ Direitos Privados: ligados à qualidade de pessoa humana enquanto tal
➔ Direitos Gerais: assistem a todas as pessoas
➔ Direitos Absolutos: impõe-se só por si, não precisam de uma posição jurídica de sinal
contrário. Art. 483º CC, quem vir os direitos de personalidade desrespeitados pode pedir
responsabilidade a quem lesou.
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➔ Direitos não-patrimoniais: não impede que não haja uma compensação monetária pela
violação dos direitos mas não é reconstitutiva.
o Não patrimonialidade em sentido forte – não admite que seja permutados por
dinheiro (direito à vida)
o Não patrimonialidade em sentido fraco – dentro de regras permite trocar por
dinheiro (ex: boxe, em que dispõe da integridade física)
o Natureza patrimonial – podem ser trocados livremente por dinheiro (direito à
imagem)
➔ Direitos Inatos: coessenciais à pessoa humana
➔ Direitos Perpétuos: mantêm-se do nascimento até à morte (art. 71º CC). Após a pessoa
morrer, fica em causa o direito dos vivos à memória
➔ Direitos Intransmissíveis: ninguém pode transmitir os seus direitos de personalidade
➔ Direitos Indisponíveis por princípio: não são limitáveis. O próprio titular pode aceitar
restrições aos próprios direitos mas com um regime de tutela especial (art. 81º CC)
➔ Há certos direitos que são eventuais, a sua existência depende da verificação de certos
pressupostos. Ex: direito à confidencialidade da correspondência implica que tenha
havido correspondência.
Os direitos de personalidade serão extensíveis às pessoas coletivas?
Menezes Cordeiro: sim. Direitos de imagem, nome e etc. são inerentes à qualidade de pessoa
coletiva.
Palma Ramalho: não. Os direitos são inerentes apenas à pessoa em sentido biológico. Se o bem
que é tutelado é a personalidade da pessoa em sentido ontológico, não faz sentido aplicar ao
resto. As pessoas coletivas têm é valores análogos tutelados pela responsabilidade civil – o
nome, a imagem e etc. tem tudo efeitos para a responsabilidade civil.
Direitos de Personalidade vs. Direitos Fundamentais
Código Civil: Os direitos de personalidade estão consagrados desde o código de Napoleão.
Constituições: possuem os direitos fundamentais (direitos, liberdades e garantias) que muitas
vezes se sobrepõe com os direitos de personalidade.
• Direitos de Personalidade – situações ativas dos particulares.
o Regime de tutela horizontal (situação de igualdade, nenhum tem autoridade
sobre o outro)
• Direitos Fundamentais – situações da relação do Estado com os particulares, garantindo
que o Estado não restringe o indivíduo.
o Regime de tutela muito forte (art. 18º CRP) – regime vertical (cidadão vs. Estado,
dotado de imperium).
o Vinculação imediata e direta das entidades públicas e privadas
o A constituição é subsidiária do Direito Civil e preenche as lacunas deste
(concretização de conceitos indeterminados – posições jurídicas ativas
mas como posições genéricas)
Eficácia Civil / Horizontal
Direitos fundamentais e penetração dogmática – passa dos textos à ação civil; alcance
material – pretensões contra o estado ou privados que atentem contra os direitos
fundamentais.
Se numa relação entre privados se pode invocar um direito fundamental.
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➢ Gomes Canotilho – radical: pode-se usar os direitos fundamentais quer em vínculos
públicos quer em vínculos privados.
➢ Jorge Miranda: só se pode utilizar os direitos fundamentais nas relações privadas em que
haja um elemento de poder (semelhante a relação de Direito Público)
➢ Menezes Cordeiro – e maioria dos civilistas: direitos fundamentais apenas para Direito
Público. Só se pode utilizar no direito Privado recorrendo a princípios próprios de Direito
Civil – só se admite a eficácia dos direitos fundamentais mediante a utilização de
princípios de Direito Civil.
➢ Palma Ramalho: meio caminho entre as opiniões de Jorge Miranda e de Menezes
Cordeiro – os direitos fundamentais não têm eficácia civil, só apenas nas relações de
poder mas com ponderação de colisão de direitos e quais os princípios a utilizar.
Os direitos de personalidade têm uma dimensão pessoal e uma dimensão familiar – caso da
reserva da intimidade, do nome, da violação da correspondência – também se revelam factos
da vida íntima de outras pessoas.
A responsabilidade civil sobre danos aos direitos de personalidade recai sobre o património.
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Direitos Gerais de Personalidade A pessoa é um bem para si e para os outros. Os bens de personalidade são necessários
ao ser humano biológico (vida, integridade física, saúde), ao ser humano moral
(identidade, nome, imagem, intimidade) e ao ser humano social (família, bom nome,
respeito).
Bens de personalidade – aspetos específicos de uma pessoa, presentes e suscetíveis de
serem desfrutados pelo próprio.
A permissão normativa de um direito de personalidade (direito subjetivo) é específica de
aproveitamento de certo bem de personalidade. É em relação a algo determinado de
alguém.
Art.70º - Tutela geral da personalidade Regra geral de proteção aos direitos de personalidade de bens necessariamente
existentes.
Reconhece tutela geral de direitos de personalidade. Dá um conceito amplo de personalidade –
física e moral.
Não diz respeito às ofensas mas também às ameaças de ilicitude.
Dá respostas de como reagir num meio normal de ação – indemnização se bem que com margem
para alguma reparação.
É subsidiário dos outros artigos.
No nº2 há os remédios preventivos (evitam ameaças) e atenuantes (reduzir os efeitos da ofensa) e a
remissão para a responsabilidade civil.
Art. 71º - Ofensas a pessoas já falecidas Tutela o direito à memória – estende os direitos de personalidade a pessoas mortas.
Os herdeiros têm legitimidade para requerer providências atípicas.
• Palma Ramalho: pode dar lugar a indemnização
• Capelo de Sousa: bens da personalidade física e moral do defunto continuam a influir
nas relações jurídicas e daí são protegidos.
• Pires de Lime e Antunes Varela: proteção dos direitos de personalidade após morte é
um desvio à regra enunciada no 68º
• Carvalho Fernandes: não há extensão da personalidade jurídica, mas sim da
personalidade moral
• Leite de Campos: familiares defendem o interesse do defunto
• Oliveira Ascensão: protege-se a memória - pode não haver indemnização.
• Mota Pinto: proteção de interesses das pessoas vivas que seria afetadas por atos
ofensivos da memória do falecido
• Menezes Cordeiro: protege a sensibilidade dos vivos
• PPV: não se trata de tutelar a personalidade dos mortos mas defender o direito que
os vivos têm de verem os seus mortos respeitados
A ofensa remete para o art.71º/1 conjugado com o art.483º.
Art. 81º - Limitação voluntária dos direitos de personalidade Pode ter efeitos patrimoniais. A lei admite.
Ex: eu vou ser o teu escravo não é permitido; Ex: concorrentes de reality-shows podem revogar
a qualquer altura e ir embora
Remete para o art. 280º
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A vida não pode ser trocada por dinheiro, mas é lícito o voluntariado para experiências médicas
ou doações de órgãos (tudo gratuito) – atividade altruísta e com utilidade coletiva.
Unilateralmente vinculante – só uma das partes o pode revogar livremente, devido à
natureza dos bens de personalidade. Só assim se garante que o titular do direito não fica
rigorosamente privado dele.
Não é um sinalagma perfeito: O titular do direito tem um poder de exigir
judicialmente o cumprimento e invocar a exceção de incumprimento para reter
ou resolver o contrato.
Eficácia legitimadora (torna lícita dentro de limites algo que sem consentimento seria
ilícito) e reguladora (torna lícito o negócio e regula o modo, regimes e termos).
Direitos Especiais de Personalidade ➢ Círculo Biológico – direito à vida, direito à integridade física
➢ Círculo Moral – direito à integridade moral, ao bom nome ou reputação
➢ Círculo Social – direito à intimidade da vida privada, ao nome, à imagem
PPV: poderes que integram o direito subjetivo de personalidade. A dignidade humana pode ser ofendida
em diversos bens que a integram e para a defesa de cada um, o direito de personalidade contém
específicos meios ou bens, que beneficiam de específicos poderes jurídicos (poderes que são exercidos
quando a dignidade humana está ameaçada ou ofendida).
Não-explícitos no Código Civil Direito à Vida
• Visa a preservação biológica do ser humano – quando está em causa a sobrevivência
(noutros casos é direito à integridade física) – assegura a preservação das funções
vitais do organismo biológico humano. Não admite compreensão nem se aceita
a sua supressão.
• Não admite limitação – nem por vontade do titular.
• Prevalece sobre todos os outros e é indispensável, irrenunciável e não é alienável.
Não é autonomizado no Código Civil mas é dado pelo art.70º, nº1 pois a personalidade física
subentende-se como sendo a vida.
Tem-se sobre ele uma tutela fortíssima – pode ser por violação não consumada e há
responsabilidade civil a ser apurada.
Art. 495º e 496º, sempre que se atenda quanto à personalidade física é grave
Só se indemnizam os direitos de quem ficou prejudicado.
Palma Ramalho e Menezes Cordeiro: devia de se indemnizar pela morte, pois
no momento da morte surge o dano, que é transmitido aos descendentes.
Há ainda uma margem de tutela civil preventiva. E: proibição da roleta russa e limitação de
práticas violentas.
Suicídio
O direito à vida é indisponível, nem mesmo pelo próprio – ato ilícito.
Sebenta TGDC – 2015/2016 DNB
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• Os contratos em que alguém se veja privado da sua vida, são nulos (contrários à ordem
pública – art. 280º) – tudo o que vise dispor do direito à vida é ilícito.
• O consentimento do próprio é nulo – nos casos de auxílio ao suicídio, que são atos ilícitos
• Podem ser imputadas responsabilidades aos que tentam se suicidar e causem prejuízos
a terceiros e a ilicitude acentua-se.
Pena de Morte
Portugal foi um dos primeiros países a abolir a pena de morte (art. 24º CRP) e não extradita
criminosos para países em que lhes possa ser aplicado tamanha pena.
• O direito à vida é alienável e indisponível.
• A morte não é reversível – não é possível corrigir erros.
Eutanásia
Não preserva a vida inteligente e a supressão de uma pessoa é um ato antissocial – não
faz sentido para os interesses humanos em presença. Encurtamento da vida de pessoas que
estão em estado terminal ou em sofrimento – ato ilícito.
Penas aliviadas, mas, em Portugal é considerado homicídio.
• Eutanásia ativa direta – agente atua diretamente para encurtar a vida
• Eutanásia ativa indireta – agente ministra substâncias para aliviar a dor (e essa é a sua
intenção) mas que provocam um encurtamento da vida. Não é ilícito pois a intenção não
é a de encurtar a vida.
Em Portugal temos a Lei do Testamento Vital (reconhecida pelo notário) o que garante, em
certas situações de morte cerebral, que os médicos não tratarão os pacientes pois esta é a sua
vontade.
Aplicação do art. 81º - autolimitação dos seus direitos, mas apenas pode autolimitar os seus e
não o dos filhos. Ex: testemunhas de Jeová não aceitam transfusões de sangue, mas não podem
limitar os direitos dos filhos.
Muitas vezes, as pessoas tentam negar auxílio, autolimitando assim os seus direitos. Mas, à luz
do art. 340º, nº3 do CC, dependendo dos casos, presta-se auxílio – pois a pessoa pode não estar
bem psicologicamente e o que diz na altura não é efetivamente a sua vontade.
Direito à Integridade Física
• Tutela o ser biológico e as suas funções, sem por em causa a sua própria vida.
• Interligado com o direito à saúde e ao bem-estar.
• Atentado ao sofrimento do organismo sem que a sobrevivência esteja em causa.
A ofensa tem consequências indemnizatórias (de responsabilidade civil) e algumas configuram
crimes. Art. 483º do CC.
• Ofensas diretas: agressões diretas
• Ofensas indiretas: poluição que tem consequências graves
• Todas estas ofensas podem ser físicas ou morais (art. 496º)
É possível renunciar, á luz do art.81º?
Sebenta TGDC – 2015/2016 DNB
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Depende.
➢ Órgãos e substâncias orgânicas sem consentimento – NÃO. Sejam quais forem os fins, é
um ato de ofensa à integridade física.
➢ Órgãos e substâncias orgânicas com consentimento e para fins altruístas – SIM. Desde
que o dador não perca a função. Ex: doação de sangue, medula e etc.
➢ Disponibilização do corpo para efeitos económicos – NÃO. O corpo não é um bem como
os outros. Ex: barrigas de aluguer pagas
Direito à Integridade Moral
• Bem jurídico tutelado é a honra, o bom nome
• Integridade moral de cada ser humano. Fonte de vantagens que acarretam.
o Honra Pessoal - autoestima ou imagem que cada um faz das suas próprias
qualidades
o Honra Social - conjunto de apreciações valorativas que cada um desfruta
na sociedade, opinião (pública) dos outros sobre o nosso valor e o medo
dessa opinião. Reputação que abrange os mais diversos setores (familiar,
profissional, cívica, política).
• Art. 484º CC – bom nome das pessoas singulares ou coletivas. Pode também haver
crimes contra a honra: difamação sob a forma escrita ou verbal, notícias infundadas e
etc.
Muitas vezes há conflitos e colisão entre o direito ao bom nome e à honra. Quando o interesse
público o imponha, o direito à honra e à privacidade, não podem impedir a revelação daquilo que for
estritamente necessário e apenas isso. Cessa se for em excesso. No plano civil é justificado o atentado se o agente provar a verdade da afirmação (exceptio
veritatas). Mas nem tudo o que seja verdadeiro merece ser revelado, não se compactua
com maldade gratuita. Há uma punição (efeito indemnizatório) pois pode violar o direito à
reserva da vida privada. Ou seja, é ilícito.
Na dúvida prevalece o direito de personalidade.
Explícitos no Código Civil
Direito ao Nome – art. 72º a 74º
• Decorre da individualidade de cada um (a pessoa é o nome que tem) e está em causa a
identificação da pessoa.
• Cada ser humano é uma individualidade autónoma e o nome surge como a
representação linguística de uma pessoa, é uma parcela da sua personalidade.
• Defesa do que garante a infungibilidade, indivisibilidade e a irrepetibilidade de cada uma das
pessoas humanas - direito à individuação como pessoa única e com dignidade própria.
o Direito a utilizar o nome – de forma completa e/ou abreviada. O que obsta a
que outros usem o mesmo nome
Abrange os pseudónimos, nome por que se é conhecido, títulos nobiliárquicos
e nomes artísticos.
Também os endereços eletrónicos são aqui tutelados, na medida que permitem
identificar alguém.
o Limites de uso adequado do nome – a nível profissional, impede que outros que
tenham nome parecido não sejam prejudicados.
Sebenta TGDC – 2015/2016 DNB
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Direito de personalidade com interesse nos campos profissionais e comerciais. Extensível a
pessoas coletivas que protege analogamente.
Também as pessoas mortas gozam ainda de proteção ao seu nome. (O nome sobrevive à pessoa)
A lei prevê que se instaure ações para defender o nosso nome, impedindo que outros o usem
indevidamente.
Direito à Inviolabilidade de Correspondência – art. 75º a 78º
• Todos temos direito a que a nossa correspondência não seja pública
• A palavra missiva deve ser interpretada amplamente – normas interpretadas face à
atualidade.
A confidencialidade resulta do seu conteúdo (que não pode ser revelado fora do círculo
entre o remetente e o destinatário) e não no título qualificativo que a pessoa lhe dá.
Algo do senso comum ou público não é confidencial. Há um critério objetivo que
tipicamente define cartas confidenciais como: as cartas profissionais, amorosas,
familiares, saúde e etc.
Tutela relativa às cartas confidenciais:
➢ Destinatário tem que dar reserva e não se aproveitar do conteúdo.
➢ Após a morte, a missiva deve ser restituída ao emitente.
➢ Publicação dessas cartas apenas com consentimento do autor e dos envolvidos na carta
Se a carta não for confidencial, a tutela é menor – o destinatário deve é utilizá-la de forma não
contrária às expectativas do autor. Direitos exercidos tendo em conta a função com que foram
instituídos e não abusivamente.
Direito à Imagem – art. 79º
• Está em causa o retrato da pessoa e a reprodução desse retrato – em sentido amplo,
sentido de imagem sob qualquer forma.
• Representação exterior da pessoa. Dimensão pessoal - de personalidade - da
imagem humana. Imagem materializada é um bem de personalidade.
Regras de tutela (art.79º):
1º. Princípio geral – É necessário o consentimento. Mesmo quando há essa autorização, a
utilização da imagem tem que ser exatamente nos limites da autorização
2º. Restrição – Se a pessoa for notória não é necessário o consentimento, nem se for uma
situação de eventos culturais ou científicos desde que a difusão seja dentro dos limites
adequados (não extravasando para situações abusivas).
3º. Exceção da restrição – A difusão das imagens não pode atentar contra a honra.
a. Teoria das Esferas: esfera pública, profissional, social, privada, secreta (o que
decide não revelar) e íntima – o nível de tutela é gradualmente maior.
b. Doutrina alemã que nos diz que é consoante estas esferas que se definem as
diferentes restrições.
Ao direito à imagem também se associa o direito à palavra (o que dizemos).
Sebenta TGDC – 2015/2016 DNB
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Direito à Reserva da Intimidade da Vida Privada – art. 80º A seguir ao direito à vida e à integridade física, é o direito mais importante pois abarca todos os
outros.
• Está em causa a intimidade da vida das pessoas – abrange tudo o que não for público
ou social – espaço de privacidade em que se pode estar à vontade, ao abrigo da curiosidade dos
outros. o Liberdade fundamental de cada um orientar a usa vida privada como
deseja.
o Direito de ser deixado em paz.
• Ninguém deve revelar algo sobre a vida privada de outrem – de novo se aplica a teoria
das esferas.
o PPV: Falha a teoria das esferas pois há diferentes graus e os limites “fixos” variam
conforme as circunstâncias (um dia pode estar numa de revelar mais e noutro não)
• Há uma tentativa de contrabalançar o direito à informação e o princípio da reserva. O
direito de reserva prevalece sobre o outro.
Sebenta TGDC – 2015/2016 DNB
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INSTITUTOS CIVIS (cont.)
2. Autonomia Privada A liberdade da pessoa não está consagrada nos Direitos de Personalidade mas sim no instituto
da autonomia privada, que caracteriza os privados.
• Espaço de liberdade reconhecido a cada pessoa para agir como entende.
o Permite encontros de vontade (contratos)
o Manifestações ao nível da decisão – “fazemos a nossa própria lei”
• Num sentido estrito, a autonomia privada é a área na qual as pessoas podem
desenvolver as atividades jurídicas que entenderem. Na ocorrência de factos
voluntários – originários da vontade. É limitada pela lei, ordem pública, moral e bons
costumes.
o Liberdade de Celebração: permite fazer determinados atos – liberdade de
dizer sim ou não a atos jurídicos.
o Liberdade de Estipulação: permite estabelecer os efeitos desse acordo – que
cláusulas é que fazem o contrato ser realizado com o conteúdo que
queremos.
o Decide-se dentro do Direito o que se pode ou não fazer e o regime jurídico
que passa a vigorar.
o Ex: art.º 405 – Autonomia privada subjacente a este artigo de liberdade
contratual.
• Tem como limite a autonomia privada das outras pessoas
As limitações voluntárias dos Direitos de Personalidade são sempre revogáveis –
enfraquecimento das disposições autonómicas.
Com a liberdade vem a responsabilidade (a estipulação estabelece um regime que temos de
cumprir) – só se pode imputar responsabilidade a quem é verdadeiramente livre.
3. Responsabilidade Civil Há dano quando alguém sofre uma supressão ou redução de vantagens protegidas pelo direito.
Os danos podem ser patrimoniais ou não patrimoniais, emergente (supressão de certa utilidade)
ou lucro cessante (não obtenção de uma vantagem que seria obtida)
Quem sofre um dano fica com o dano – corresponde à natureza das coisas e faculta uma
solução rápida e eficaz. O Direito tira o dano da esfera de uma pessoa e imputa-o na esfera de
outra pessoa (o que não é feito materialmente) – o dano é sentido numa esfera e o que permite
transferi-lo para outro é a responsabilidade civil.
Não funciona num sistema de Autonomia Privada, porque ninguém quer o dano, mas sim num
sistema de Heteronomia.
• Surge uma obrigação de indemnizar a pessoa que sofre o dano – tem por um lado a
fonte (deriva de um dano e de uma imputação); conteúdo (prestação tem que
ser equivalente); objetivo (supressão de um dano que vai ser repercutido na
esfera adstrita a tal operação).
• Deve efetuar uma prestação a favor do lesado de forma a suprimir o dano.
• Art.º 483º do CC
Tipos de Imputação – títulos pelos quais é possível imputar o dano a outrem: Alguém, violando o Direito, provoca danos em esfera alheia
Sebenta TGDC – 2015/2016 DNB
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1. Atos Ilícitos: tem que haver um ato ilícito, sem justificação e com culpa (o Direito
censura-o em dolo ou negligência) – transfere-se o dano para a esfera do perpetrador
2. Risco: uso de meios que implicam riscos para terceiros, agindo licitamente – têm que
suportar o dano (casos previstos na lei art.º483 que são os dos art.º500 e ss.) – quando
o Direito faz correr por determinada esfera a eventualidade de danos registados
em esferas diferentes. Ex: risco do acidente de trabalho é do empregador
3. Atos Lícitos: quando um dano é causado, mas sem ilícito (não contraria a lei).
Responsabilidade por facto lícito é excecional, só tem lugar nos casos previstos na lei.
Ex: revogação do art.º81/2; ação em Estado de Necessidade
4. Boa-fé Conceito indeterminado mas que sustenta as decisões e as normas – cerne de vários regimes
jurídicos em que a resolução das questões é com um sentido de ética e de regras de atuação.
Associado à lealdade, honra (respeito pela palavra dada) e comportamento leal.
• Objetiva: Apela a uma regra exterior e que as pessoas devem observar – modos de
atuação (conforme os valores dominantes da ordem jurídica). Quando diz como se tem
que comportar. Tem várias projeções.
o Art. 227º - Culpa in Contrahendo: antes da formação dos contratos, as partes já
têm diversos deveres a respeitar como proteção, lealdade e informação.
Deveres que visam prevenir que uma das partes atinja a confiança da outra e a
lese.
o Art. 239º - Integração dos Negócios: na escassez de material subscrito pelas
partes, tem-se em conta a lógica imanente ao contrato.
o Art. 334º - Abuso do Direito: só se pode abusar de algo que se tem de facto o
direito – o titular do direito deve exercê-lo dentro dos limites adequados e
razoáveis. Ex: construção de chaminé para chatear o vizinho da frente. Ilícito
porque agiu de má-fé.
o Art. 437º - Modificação dos contratos por alteração das circunstâncias: valoriza
as condições e alterações imprevistas. Se o contrato, na sua aplicação e devido
a certas circunstâncias, assume feições injustas para uma das partes
inesperadamente.
o Art. 762º - Complexidade das Obrigações: a propósito de cada vínculo há um
conjunto de obrigações.
Tutela da Confiança: confiança das pessoas nas relações que se estabelecem
interpessoalmente. Não equivale a crença! Devem ser definidos os pressupostos para
se tutelar o princípio da confiança
➢ Tem que ser criada a relação – a outra pessoa tem que agir em boa-fé subjetiva
no sentido ético.
➢ Tem de ser justificada – elementos objetivos capazes de provocarem uma
crença plausível: elementos razoáveis, suscetíveis de provocar a adesão de uma
pessoa normal através de um ato de outrem ou facto.
➢ Investimento na confiança – desenvolvimento de uma atuação (escolha de
opções) baseada nessa confiança e agindo em conformidade.
➢ Imputação da confiança – existência de um autor em quem confiar. Não pode
haver frustração da confiança
Sebenta TGDC – 2015/2016 DNB
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Primazia da Materialidade Subjacente: as atuações jurídicas são atinentes à substância
e não à aparência. Tutela-se o valor da essência – o que verdadeiramente está por trás.
São avaliados materialmente de acordo com as efetivas consequências que acarretam.
Ex: A pede a B que se faça passar por ele para comprar uma casa, na aparência B é que
comprou mas na realidade foi A
• Subjetiva: estado do sujeito – como se devia comportar. Direito valoriza o estado de
conhecimento, ignorância ou consciência de determinados factos.
o Sentido Psicológico: está de boa-fé quem pura e simplesmente desconhecesse
ou estivesse convencido de certo facto ou estado de coisas, por muito óbvio que
fosse. O que está na nossa cabeça – se sabe ou não. É irrelevante a necessidade
de saber ou não.
o Sentido Ético: está de boa-fé quem se encontra num estado de
desconhecimento não culposo, ou seja, está de má-fé quem desconhece aquilo
que deveria conhecer. Postula os deveres de cuidado e indagação – exige o
mínimo de diligência à pessoa que esta convencida (porque não investigou, o
que é exigido). O dever de saber é relevante. Ex: A queria construir casa em zona
protegida, mas não sabe que é uma zona protegida, mas também não quis saber
– agiu de má-fé.
5. Propriedade O que os particulares têm ou podem ter. Pode ser: direitos subjetivos, relação entre direitos
subjetivos e o objeto, o objeto dos direitos subjetivos em causa
1. Direito Subjetivo de Propriedade – instituto civil.
a. Sentido Amplo: quaisquer direitos de natureza patrimonial
b. Sentido Restrito: (direito subjetivo) permissão normativa específica de
aproveitamento de uma coisa corpórea de modo pleno e exclusivo
Preserva o direito dos indivíduos terem bens próprios – conteúdo art.º 1305
i. Fornece ao titular o poder de usar, dispor, transmitir e etc.
Pode haver transmissão por morte – sucessão.
2. Direito Objetivo de Propriedade – bem, coisa jurídica sobre a qual se é Titular -> tem o
direito subjetivo de propriedade que incide sobre essa coisa
Sebenta TGDC – 2015/2016 DNB
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Teoria das Pessoas A pessoa é um dado pré-legal – como já definido em sentido ontológico.
Pessoa Jurídica – ente suscetível de ser titular de direitos (pode mover-se na esfera do Direito)
➔ Centro de imputação de normas jurídicas.
• Singulares – seres humanos (equivalente a pessoas físicas): art. 66º e ss.
• Coletivas – agremiações de pessoas, criação do Direito para poder funcionar na ordem
jurídica (conceito de pessoa com sentido técnico): art. 157º e ss.
➔ Conceitos Operatórios:
o Personalidade Jurídica
o Capacidade Jurídica
o Esfera Jurídica
Pessoas Singulares
Personalidade Jurídica Os direitos de personalidade protegem bens jurídicos inerentes à pessoa humana e aplicam-se
às pessoas singulares - já foram abordados.
➔ Qualidade de ser pessoa no Direito – da qual resulta a suscetibilidade de se ser titular
de situações jurídicas.
Início da Personalidade A lei não define a personalidade jurídica e preocupa-se apenas em perceber quando se inicia
essa personalidade.
Art. 66º/1 CC – “A personalidade jurídica adquire-se com o nascimento completo e com vida”
• O direito reconhece essa qualidade às pessoas – é automaticamente reconhecida
• Quando nascem com vida – os nados mortos não têm personalidade jurídica
• E o nascimento é completo – quando vive independente da mãe e não morre durante o
parto
o Não há um lapso temporal em que não tem personalidade jurídica, o que é
importante em matérias sucessórias
• O artigo parece só reconhecer personalidade jurídica após o nascimento, logo antes não
há personalidade jurídica.
Art. 66º/2 CC – “Os direitos que a lei reconhece aos nascituros dependem do seu nascimento”
• Aparente contradição, pois fala-se em direitos dos nascituros.
o NASCITUROS: termo jurídico geral para não nascidos – que o nº2 utiliza
Sentido Estrito – vida intrauterina (já concebido e não nascido)
Concepturo – não concebidos – relevantes juridicamente pois nos testamentos
há quem deixe o seu património aos filhos que X vai ter. A lei admite que lhe sejam
destinadas certas atribuições patrimoniais, caso venham a ser gerados. Ex: numa sucessão, pode não se repartir as coisas pois pode sempre haver mais
filhos
Sebenta TGDC – 2015/2016 DNB
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A consequência de reconhecer personalidade jurídica aos concepturos
é que ter-se ia que reconhecer também a pensamentos ou ideias.
Leitura do art. 66º
➢ Menezes Cordeiro e PPV: condição conceptiva – o início da personalidade jurídica deve
reportar-se ao momento da conceção e não ao do nascimento, com base na ideia de
que há uma pessoa em sentido ontológico, ainda que não em sentido jurídico – a fase
uterina é uma situação transitória e limitada no tempo.
Se o nascituro morrer, os direitos são extintos e retroativamente desconsidera-se a existência da
sua personalidade.
➢ Pires de Lima e Antunes Varela: condição suspensiva – os nascituros não têm
personalidade jurídica, mas, ela é reconhecida retroativamente no momento do
nascimento. Direitos condicionados, dependem de um evento futuro.
➢ Castro Mendes, Mota Pinto e Carvalho Fernandes: são direitos sem sujeito, pois ainda
não há personalidade jurídica, ou seja, há direitos mas ainda não têm titular.
➢ Capelo de Sousa - personalidade jurídica parcial "vida intrauterina, desenvolvimento
com vista a extrauterina"
➢ Palma Ramalho, Galvão Telles: existe como ser vivo a partir da conceção mas não logo
como sujeito de direito – os direitos do nº2 são direitos em formação. São uma
expectativa jurídica – carecem de uma certa proteção e o resultado é o nascimento.
Direitos atribuídos aos nascituros, não enquanto tal, mas sim na perspetiva de se
verificar o nascimento.
o Não se deve não tutelar o interesse em manter a gravidez, mas não é necessário
que, para isso, se atribua personalidade jurídica – tutela-se como expectativa.
Termo da Personalidade
Art. 68º/1 CC – “A personalidade cessa com a morte”
• Para se declarar a morte é necessário uma certidão de óbito (que tem de ser pedida em
48 horas -> Código do Registo Civil
• MORTE: cessamento irreversível das funções do tronco cerebral – termo da medicina
incorporado pelo Direito.
o O médico que declara a morte é o médico responsável pelo doente ou o
primeiro a comparecer ao local.
• Se a personalidade jurídica cessa com a morte, o que tutela o art. 71º? – Direitos Gerais
de Personalidade
Art. 68º/2 CC – “Quando certo efeito jurídico depender da sobrevivência de uma a outra pessoa,
presume-se, em caso de duvida, que uma e outra faleceram ao mesmo tempo”
• Devido aos efeitos sucessórios que estejam em causa.
• COMORIÊNCIA: presunção que os indivíduos morreram ao mesmo tempo e nas
mesmas circunstâncias
o Impede transmissões sucessórias entre os falecidos quando não se sabe qual
morreu primeiro e onde há efeitos jurídicos duma pessoa associada à outra.
o Contrapõe a ideia de premoriência anterior, com critérios de idade e sexo
Art. 68º/3 CC – “Tem-se por falecida a pessoa cujo cadáver não for encontrado, ou reconhecido,
quando o desaparecimento se tiver dado em circunstâncias que não permitam duvidar da morte
dela”
Sebenta TGDC – 2015/2016 DNB
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• Quando a morte é declarada (civilmente) mas há erros, há mecanismos que reinstauram
a personalidade, mas até lá não se tem direitos: cessou personalidade.
Cadáver
Corpo humano sem vida – destinado a desaparecer. Não é pessoa nem coisa – está a meio caminho
entre a pessoa e a coisa (Gomes da Silva).
Menezes Cordeiro: coisa especial.
Tem um regime próprio – a morte faz nascer o cadáver.
• Os familiares têm interesse legitimo em cuidar do cadáver – legitimidade do cônjuge,
herdeiros e etc.
A nível de órgãos
• Antes não era preciso consentimento (perspetiva solidarista). Agora é preciso consentimento, pelo
que ele é geral é só não se pode colher os órgãos se houver declaração expressa em contrário.
Fundamento ético de cura ou alívio de outros que torna lícito a colheita e aproveitamento dos seus
órgãos.
• É permitido a colheita de órgãos para fins terapêuticos. Os fins científicos têm tutela
própria e o esperma e óvulos têm tutela especial.
o Regime de confidencialidade do dador e do recetor
o Obrigatoriamente gratuito (qualquer negócio jurídico será nulo)
o Todos podem ser dadores de órgãos – exceto se manifestarem-se previamente
em contrário.
▪ Testamento vital – diretivas antecipadas de vontade: documento
unilateral e livremente revogável no qual os maiores, capazes,
manifestam a sua vontade quanto ao tratamento a receber.
Capacidade Jurídica Art. 67º CC
➔ Medida concreta das situações jurídicas (ativas e passivas) da qual uma pessoa é
suscetível de ser titular e/ou de exercer.
➔ Conceito quantitativo, diz de quantas situações se pode ser titular – quantidade da
suscetibilidade
• Capacidade de Gozo: se é ou não o titular dos direitos e obrigações. Capacidade de se
ser titular – quantidade de que se pode ser titular.
• Capacidade de Exercício: possibilidade de exercer direitos ou obrigações suas, por si
próprio e de uma forma pessoal e livre
• Os conceitos são distintos pois uma pessoa pode ser titular de direitos (capacidade de
gozo) mas não os poder gerir (capacidade de exercício) – pode alguém exercer os
direitos por essa pessoa. Ex: menores podem ter bens (capacidade de gozo) mas não os
podem gerir (capacidade de exercício); menores não podem casar (incapacidade de
gozo), mas a partir dos 16 anos têm a capacidade (de gozo) de casar mas não de
exercício, pois só podem casar mediante uma autorização dos pais (não é exercido
livremente); loucos; deficientes mentais e menores (incapacidade de exercício)
• Regra geral é a plenitude da capacidade de gozo. E a de gozo e exercício.
Sebenta TGDC – 2015/2016 DNB
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Na personalidade jurídica, não existe uma medida – ou se tem ou não. Não pode ser medida
pois umas pessoas seriam mais pessoas que outras.
Art. 69º: ninguém pode renunciar à capacidade jurídica no todo ou em parte. Qualificação que
uma pessoa tem, e à qual não pode renunciar. Ex: renuncia-se a direitos, nunca a capacidade
jurídica
Capacidade ≠ Legitimidade
Quem tem legitimidade sobre um direito é o seu titular, mas isso pode não ser sempre assim.
Pode-se ter a legitimidade sobre algo sem se ser titular de tal. A capacidade não funciona assim.
Esfera Jurídica ➔ Conjunto de situações jurídicas que a pessoa efetivamente tem concretização da
capacidade jurídica.
Conceito variável de pessoa para pessoa (Jorge tem uma casa, Paulo uma esposa) e ao longo
do tempo.
Efeito de transparência da vida jurídica das pessoas – importante para os factos da sua vida
pessoal e da sua vida patrimonial.
Esfera Jurídica Pessoal: conjunto de situações jurídicas (ativas ou passivas) de natureza não
patrimonial – não avaliável em dinheiro.
• Cada pessoa tem um Estado – revela a situação pessoal de alguém (ser pai, filho,
insolvente e etc.) – A essa situação estável está associado um regime sujeito a registo
(com o objetivo da transparência)
Situação à qual se associam direitos. Ex: o meu estado de nacional português dá-
me certos direitos.
Esfera Jurídica Patrimonial: conjunto de situações jurídicas (ativas ou passivas) com valor
patrimonial – bens avaliáveis em dinheiro.
O Património pode variar por atos alheios à vontade ou até pela vontade.
• Unidade do Património – cada pessoa apenas tem o seu – corresponde apenas um que
pode ser mais exíguo ou mais extenso, mas é uno. Todo o seu património, e apenas ele,
responde em situações de dívida. Todos têm património, embora possa ser um património
vazio ou negativo. o Pode haver uma exceção quando um comerciante em nome individual afeta
determinada parte para o seu negócio, que fica limitado apenas a essa parte.
• Autonomia Patrimonial – as dívidas de um património restringem-se apenas aos ativos
desse património. Ex: heranças - pelas situações passivas dum património respondem apenas
as situações ativas que o integram - os credores nao podem recorrer a outro património.
Domicílio (art. 82º a 88º) Sede jurídica da pessoa – local onde, para efeitos jurídicos, a pessoa se tem por localizada.
Pode coincidir com a residência da pessoa, mas não necessariamente.
• Domicílio Geral – art. 82º: o domicílio coincide com a residência habitual da pessoa –
onde é o centro da vida habitual.
Sebenta TGDC – 2015/2016 DNB
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Não é necessário que seja residência permanente pois pode ter diversas residências e o
domicílio pode ser em qualquer uma delas
Se não tiver paradeiro fixo, o domicílio é a residência ocasional ou o sítio onde esteja.
• Domicílio Especial – art. 83º e ss.: locais específicos para a prática de certos atos
o Domicílio Profissional – art. 83º: local onde a profissão é exercida – se exercer
em vários locais, cada um deles é seu domicílio.
o Domicílio Eletivo/Voluntário – art. 84º: local escolhido pelas partes para a
prática de certo negócio – deve ser escrito (PL, AV: princípio de certeza das
relações jurídicas)
o Domicílio Legal
▪ Dos menores e interditos – art. 85º
▪ Dos empregados públicos – art. 87º
▪ Dos agentes diplomáticos portugueses – art. 88º
Ausência (art. 89º a 121º) Juridicamente: pressupostos do art. 89º cumpridos cumulativamente
1. A administração dos bens tem que ser assegurada;
2. Alguém desapareceu;
3. Desaparecimento qualificado – não se sabe onde está;
4. Não deixou representante legal. (quem não tiver bens para serem administrados não pode ser classificado juridicamente ausente)
• Tem que se suprir os inconvenientes – perigos por danos – aos bens da pessoa
desaparecida. Têm que haver uma gestão desses bens.
• Defesa da paz pública para evitar danos a uma massa de bens pela cobiça alheia.
• Assegurar que os interesses dos sucessores são satisfeitos. Á medida que a ausência se
prolonga, mais são valorizados estes interesses.
Curadoria Provisória (art. 89º e ss.)
➢ Objetivo de proteger o património do ausente, administrando os bens na perspetiva de
um regresso.
➢ O curador provisório é nomeado pelo Tribunal e pode ser requerido pelo Ministério
Público ou um qualquer interessado
o Podem ser curadores os do art. 92º/1 CC – sujeitos ao regime de mandato geral
de disposição livre dos bens sem necessitar de autorização.
➢ Cessa a curadoria provisória pelos dispostos do art. 98º
Curadoria Definitiva (art. 99º e ss.)
➢ Começam a relevar os interesses dos futuros titulares dos bens, na perspetiva do
ausente estar morto – antecipa a sucessão.
➢ Para se requerer tem que se cumprir os requisitos do art. 99º. Não é necessário que
tenha ocorrido curadoria provisória, mas se esta estiver em vigor, passa-se para a
definitiva.
➢ A sucessão é aberta e os bens são entregues aos curadores definitivos – os herdeiros,
que atuam na qualidade de curadores.
➢ Cessa com o art. 112º
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Morte Presumida (art. 114º e ss.)
➢ Não é necessário a precedência de curadorias (art. 114º/3)
➢ Pressupostos do art. 114º/1: 10 anos sem notícias, 5 anos se o ausente tiver mais de 80
anos (critério da esperança média de vida) ou for menor.
➢ Considera-se que a personalidade jurídica cessou.
➢ Há abertura de sucessão (nor termos gerais) e são distribuídos os bens aos herdeiros –
quem tem legitimidade para tal.
➢ O vínculo do casamento não se extingue. (art. 116º)
o Se não houver novo, considera-se que o casamento se manteve para sempre.
o Se o ausente voltar e tiver havido novo casamento, considera-se o primeiro
dissolvido por divórcio à data da morte presumida.
Morte presumida dá-se o direito de propriedade. Na curadoria definitiva dá-se o poder de administrar os
bens. (Situação jurídica complexa do direito de propriedade que tem situações jurídicas mais simples como
os poderes de administração)
Incapacidades (art. 122º e ss.) Situações excecionais em que as pessoas singulares, não têm o discernimento necessário à
adequação das situações jurídicas – pode ter incapacidade se ser titular de uma situação jurídica
(incapacidade de gozo) ou então não a pode exercer de forma pessoal e livre (incapacidade de
exercício).
Incapacidade Acidental – momentânea
Incapacidade Estável – permanente ou duradoura
• Objetivo de proteger os incapazes através de meios estabelecidos para que sejam
praticados os atos que eles não podem praticar.
• Castro Mendes:
Meio de suprimento - institutos jurídicos previstos na lei que permitem a prática dos
atos que o incapaz, pelo facto de o ser, não pode praticar livre e pessoalmente.
Poder Paternal: suprime a incapacidade por menoridade.
Tutela: suprime a incapacidade por menoridade quando não há poder paternal
ou para suprir a incapacidade por interdição.
Curatela: suprime a incapacidade por inabilitação.
Forma de suprimento – modos de atuação para suprimir as incapacidades
Representação Legal: ação em nome do incapaz como sendo ele a praticar, com
efeitos na esfera jurídica deste.
Assistência: atos praticados pelo próprio incapaz mas coadjuvado por um
curador – comum na inabilitação.
Incapacidade por Menoridade Devido a uma menor ponderação.
Art. 122º - Delimitação formal da situação da menoridade: no dia em que se faz 18 anos não
há alterações significativas que sejam indício de maior consciência.
O sistema jurídico é sensível e admite patamares intermédios de capacidade a menores
de 18 anos tendo em conta as situações e para certos efeitos jurídicos.
A ordem jurídica reconhece a aptidão natural das pessoas, independentemente da
aquisição da sua capacidade plena – o código valoriza esta aptidão para os atos
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decorrentes da vida normal do menor. Ex: Maria, 15 anos, vai comprar o jornal ao pai;
Rodrigo, 11 anos, vai à papelaria comprar cromos.
Reconhece-se uma evolução com a idade: aos 7 anos cessa a inimputabilidade, aos 14
pode ser ouvido pelo juiz para decidir sobre o poder paternal, aos 16 pode casar, cessa
inimputabilidade penal e adquire capacidade de trabalhar – podendo administrar os
bens que obtenha com o próprio trabalho.
Art. 123º - Incapacidade genérica de exercício: não pode praticar atos pessoal e livremente
Em certas situações há incapacidade de gozo.
Exceções à incapacidade genérica de gozo são as do art. 127º:
a) Atos de administração e disposição de bens adquiridos pelo trabalho – a partir dos 16 anos, se
o menor já pode trabalhar, naturalmente pode administrar os bens do seu trabalho.
Conjuga-se com normas do Código de Trabalho que permite que os progenitores se
oponham a auferir diretamente a remuneração.
b) São válidos os negócios jurídicos decorrentes da vida do menor, que estejam ao seu alcance, e
que impliquem despesas de pequena importância – capacidade natural (= aptidão natural)
– o menor consegue perceber o que está a fazer, progressivamente com a idade tem
essa consciência – fórmula legal elástica, dependente da maturidade e apurada
casuisticamente.
➢ Palma Ramalho: (visão relativa) O conceito de vida corrente e de pequena
importância são conceitos jurídicos indeterminados que dependem do jovem
em questão. Ex: um bem de pequena importância é diferente para um menor
rico e para um menor pobre.
c) Negócios relativos à profissão, arte ou ofício que o menor tenha sido autorizado a exercer –
interpretação atualizada de prestação de serviços. Há autorizações diferentes conforme
a idade.
➢ Em a) falava-se de dispor os rendimentos, aqui fala-se de praticar atos no
âmbito de certa profissão, conjugada com o nº2. Ex: um menor empregado
numa loja, os atos de venda são válidos
Art. 124º - Como se suprime a incapacidade dos menores
• Poder Paternal: Este poder-dever é atribuído automaticamente com o nascimento do
menor. Quem tem o poder paternal (1901º) difere conforme os pais sejam ou não
casados e cabe aos dois, normalmente – se um pai agir, presume-se que tem o
consentimento do outro.
• Tutela: quando os poderes-deveres são exercidos incorretamente (inibição) ou quando
faltam os progenitores. Podem estar apenas impedidos relativamente a direitos
patrimoniais – quando não é exercido no interesse dos filhos (ex: prodigalidade dos
pais). Nomeia-se um tutor que tem os mesmos deveres que o poder paternal e é uma
forma de representação legal.
Art. 125º - Atos praticados pelos menores no âmbito da sua incapacidade
• Os negócios jurídicos são anuláveis – de forma a proteger o menor, que pode não ter
consciência do que está a fazer.
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a) Os progenitores podem pedir a anulação – prazo de 1 ano, a contar da data que
se teve conhecimento do negócio (se o negócio não estiver concluído aplica-se
287º/2)
b) O próprio menor pode pedir a anulação – prazo de 1 ano a partir da maioridade
ou emancipação. Se os pais não pedirem a nulidade, o menor tem este outro
prazo. Se morrer e deixar herdeiros, eles podem pedir nulidade desde que o
menor morra antes de atingir os 19.
O menor não pode fazer-se passar por maior, isso seria agir com dolo (art. 126º) o que não
levaria à nulidade do negócio. Nem ninguém podia requerer esta anulação.
Oliveira Ascensão, Pires de Lima e Antunes Varela: os pais podem mas os herdeiros não.
A incapacidade cessa ao atingir a maioridade (art. 129º) e atinge os plenos efeitos (art. 130º).
Segundo o art. 131º, pode não cessar o poder paternal quando, para sua proteção desse
menor que se torna maior se instituir o instituto da interdição ou da inabilitação.
Emancipação – possibilidade do menor ser equiparado, para diversos efeitos, ao facto de ser
maior e pode ocorrer pelo casamento (art. 132º).
• O menor passa a ser Menor Emancipado – mas os pais têm que dar autorização para o
casamento (art. 133º)
Interdição (art. 138º e ss.) Apenas a quem é maior mas incapaz de governar as suas pessoas ou bens, devido a deficiência
incapacitante.
• Art. 139º - Suprimento da incapacidade: equiparados a menores com incapacidade
genérica de exercício, havendo representação legal.
• Art. 143º - Quem exerce a tutela dos incapazes
• Nos restantes atos práticos aplica-se analogamente o regime da menoridade.
A interdição tem uma grande estabilidade, mas a lei coloca a possibilidade de ser levantada
segundo o art. 151º.
Inabilitação (art. 152º e ss.) Pressupostos comuns à interdição mas menos graves – se bem que de caráter permanente.
Pode ser também com base em fundamentos específicos como a prodigalidade (dissipação de
bens – um pródigo é incapaz de gerir o património) e o abuso de bebidas alcoólicas ou
estupefacientes.
O curador – curatela é o meio de suprimento – assiste o incapaz na prática do ato, mas não o
substitui. Apenas são necessários para certos atos (art. 153º) vinculados à autorização.
A lei remete para o regime da interdição – logo, a inabilitação remete duplamente para o regime
da menoridade.
A interdição pode ser levantada ao fim de 5 anos.