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SECRETARIA DA EDUCAÇÃO - SEDUC

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Governador

Vice Governador

Secretária da Educação

Secretário Adjunto

Secretário Executivo

Assessora Institucional do Gabinete da Seduc

Coordenadora da Educação Profissional – SEDUC

Cid Ferreira Gomes

Domingos Gomes de Aguiar Filho

Maria Izolda Cela de Arruda Coelho

Maurício Holanda Maia

Antônio Idilvan de Lima Alencar

Cristiane Carvalho Holanda

Andréa Araújo Rocha

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SUMÁRIO

Introdução................................................................................................................................................... 02

Texto Reflexivo “Vida de Grupo”................................................................................................................. 03

Histórico “a Psicologia como Ciência”......................................................................................................... 04

A Importância da Psicologia.........................................................................................................................07

Áreas de atuação do Psicólogo.................................................................................................................... 11

Misticismo X Psicologia................................................................................................................................ 12

Diferenças entre o Psiquiatra e o Psicólogo.................................................................................................13

Principais Escolas da Psicologia..................................................................................................................14

Grupos: C: Conceito, Classificação e Atribuições........................................................................................16

Os diferentes tipos de Grupos......................................................................................................................19

Normas......................................................................................................................................................... 24

Status........................................................................................................................................................... 25

O Conceito de Trabalho.............................................................................................................................. 27

O que é Organização Social do Trabalho................................................................................................... 34

Valores e Atitudes....................................................................................................................................... 53

Visão Biopsicossocial do Trabalho.............................................................................................................. 56

Psicopatologias no Trabalho: Aspectos Contemporâneos.......................................................................... 64

Trabalho e Remuneração - Motivação........................................................................................................ 81

Incentivar habilidades e Comportamentos.................................................................................................. 84

Psicologia do Trabalho................................................................................................................................ 86

As Necessidades Psicológicas.................................................................................................................... 88

Saúde Mental e Psicologia do Trabalho...................................................................................................... 90

Qualidade de Vida no Trabalho - QVT........................................................................................................ 94

Sofrimento no Trabalho................................................................................................................................ 96

Psicologia do Desenvolvimento – Contribuições Teóricas.......................................................................... 98

Sigmund Freud............................................................................................................................................. 98

Jean Piaget................................................................................................................................................. 99

Lev Vigotsky.............................................................................................................................................. 100

Henri Wallon.............................................................................................................................................. 102

Burrhus F. Skinner.................................................................................................................................... 103

Bibliografia................................................................................................................................................. 104

ANEXOS.................................................................................................................................................... 105

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 1

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INTRODUÇÃO

A Segurança do Trabalho, enquanto ciência multidisciplinar, requer o estudo de

muitas outras disciplinas como fundamentação, suporte e apoio às suas ações e entre

elas, destacamos a Psicologia do Trabalho, pois pelo estudo e compreensão dessa

ciência, podemos compreender melhor os diferentes tipos de comportamentos e

personalidades observados nos trabalhadores, nas suas diferentes realidades e poder

interferir de modo positivo a fim de identificar, prevenir e neutralizar potenciais situações

de risco que possam levar os trabalhadores a provocar ou envolver-se em acidentes do

trabalho que possam por em risco a sua vida, o patrimônio das empresas, o

meio-ambiente ou a vida dos seus colegas.

Inúmeras questões que estão na fronteira do senso comum e da ciência. Por

exemplo, você já deve ter ouvido a frase: “De louco, médico e psicólogo todo o mundo

tem um pouco...”

Essa é uma nova formatação para o ditado popular que diz: “De médico e louco

todo mundo tem um pouco”. Podemos explicar essa nova forma pelo fato das pessoas

fazerem referência, no seu cotidiano, à Psicologia, usando-a, na maioria das vezes, de

maneira inadequada, pois não possuem conhecimentos científicos da profissão.

No nosso cotidiano, é comum ainda ouvir frases do tipo: “Fulano tem

personalidade forte”. O que de fato podemos entender dessa frase? Será que podemos

medir a personalidade de alguém afirmando que ela é forte ou fraca?

Na realidade, o uso do termo “personalidade forte” é uma maneira intuitiva de

dizer que uma pessoa tem firmeza em suas atitudes, consistência em sua fala, que não

se intimida, facilmente, diante das dificuldades encontradas.

Estudar a Psicologia é ao mesmo tempo fascinante e atemorizante, no entanto,

indispensável para a nossa profissão onde a todo momento estaremos precisando

estabelecer relacionamentos e trabalhar em grupo, muitas vezes, na condição de

liderança.

Portanto, iniciemos com uma reflexão sobre a “Vida de Grupo”

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 2

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VIDA DE GRUPO

“Vida de grupo dá frustração...

Porque enquanto educando tenho de romper com minha acomodação quieta,autoritária... esperando as ordens do educador... e quando elas não vêm, descubro quesó eu posso lutar, conquistar, construir meu espaço...

O educador pode possibilitar o rompimento da quietude mas não a ação doconstruir, do conhecer. Essa só o educando pode...

Vida de grupo dá medo...

Porque através do outro constato que sou dono do meu saber. Sou dono daminha incompetência e portanto responsável pela minha busca-procura de conhecer, deconstruir minha competência.

Vida de grupo dá desânimo...

Porque em muitas situações nos confrontamos com o caos: acúmulo de temas,processos de adaptação, hipóteses heterogêneas...

Cada situação nos demanda uma reestruturação... demanda uma procura deforma original própria e única adequada ao novo momento.

Vida de grupo dá muito trabalho e muito prazer...

Porque eu não construo nada sozinho, tropeço a cada instante com os limites dooutro e os meus próprios, na construção da vida, do conhecimento da nossa história.”

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 3

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A PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA

A Psicologia é uma ciência que estuda os comportamentos e processos mentais,

partindo da sua descrição para a explicação desses comportamentos de modo a

poder prever e controlar as respostas comportamentais

Tradicionalmente a psicologia foi referida como o estudo da Alma [psiquê + logos

= mente + conhecimento], mas tal interpretação levou a informações erradas baseadas

na fé e crenças populares bem como ao surgimento da parapsicologia.

A palavra Psicologia é a junção de 2 palavras gregas:

Psique + Logia Psique = Mente Logia = Estudo

Como conceituar a Psicologia e atingir o estatuto de ciência?

A Psicologia pode ser conceituada como o estudo da mente do ser humano. E como a

Psicologia faz isso? Através do estudo do comportamento, das atitudes, pensamento e

aprendizagens do ser humano. A Psicologia tem vários autores e diferentes abordagens

referentes ao seu estudo. São exemplos das Escolas da Psicologia o Behaviorismo e a

Psicanálise. O Behaviorismo (que é o estudo do nosso comportamento) ganhou destaque por

estudar, através da observação, o comportamento do ser humano e dos animais. Estudou o

comportamento de ratos, pombos e macacos.

Já a Psicanálise tem como foco o estudo da mente do indivíduo, mais precisamente o

inconsciente. Percebam que é um estudo mais profundo, uma vez que o inconsciente é a nossa

“caixa preta”, onde estão guardados nossos pensamentos e desejos mais reprimidos, como

traumas, desejos proibidos. No decorrer desta aula, vamos estudar melhor cada uma dessas

Escolas da Psicologia.

Esta é a questão que se colocou nos finais do século XIX à Psicologia e que

obteve respostas diferenciadas, levando diversos autores a definirem objetos e métodos

específicos, consoante os problemas estudados.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 4

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Os caminhos possíveis para a Psicologia:

Estudar a consciência ou os comportamentos?

Os comportamentos são inatos ou adquiridos?

Estudar os fatos isolados ou numa perspectiva de conjunto?

Para ser Ciência é necessário:

Objeto específico

Linguagem rigorosa

Métodos e técnicas específicos

Conhecimentos

Objetividade

Analisando o sofrimento mental do trabalhador

como resultado de uma má adaptação do homem ao

meio (trabalho) podemos, numa análise mais ampla,

concluir que os acidentes ou o adoecimento podem ser

resultantes de uma condição inadequada de produção

ou de distúrbios de comportamento coletivo do

conjunto da classe trabalhadora ou de alguns

indivíduos, apresentando uma estreita relação entre o

modo de trabalhar e suas condições de vida.

Daí a importância de se estudar a Psicologia do Trabalho como ciência e como

forma de melhorar a produtividade garantindo a sanidade mental dos trabalhadores e

sua integridade física.

Esse é o primeiro e maior de todos os mitos relacionados com a Psicologia,

defendido conjuntamente por cristãos e não cristãos: a psicoterapia (incluindo

aconselhamentos psicológicos com todas suas técnicas e teorias), é uma ciência - o jeito

de se entender e socorrer a humanidade, com base em evidências concretas, colhidas

de dados consistentes e mensuráveis.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 5

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Ao estudarmos a Palavra de Deus, descobrimos que homens e mulheres de Deus

buscam sabedoria e conhecimento em ambos: a Palavra revelada e o mundo físico.

Paulo ensina que todos nós somos responsáveis diante de Deus por causa da evidência

que a criação dá de Sua existência:

Estudo científico é um caminho válido para se entender as obras de Deus e pode

perfeitamente ser usado com enorme benefício em muitas áreas da vida. Ciência

verdadeira desenvolve teoria com base em observações. Ela examina cada teoria com

rigorosidade para testar se se descreve realidade científica como resposta. O método

científico é posto em evidência quando se observam e registram dados comprováveis

para chegar a uma conclusão que vai confirmar ou anular a teoria.

Durante a metade do século XIX, filósofos quiseram estudar a natureza humana,

aplicando métodos científicos para a observação, registro e tratamento do

comportamento humano. Eles criam que se o ser humano pudesse ser estudado sob

uma perspectiva comprovadamente científica, sem dúvida teríamos uma fórmula precisa

para entender o comportamento presente, predizer o comportamento futuro e alterar os

possíveis desvios provenientes da utilização de ferramentas científicas.

Psicologia, em seu maior expoente, a Psicoterapia, tem-se gabado de ocupar

uma postura científica. Entretanto, do ponto de vista estritamente científico, ela não tem

alcançado, nem de perto, as condições para se enquadrar no campo da ciência.

Devido a insistência de se atribuir qualidades científicas à Psicologia, elevando

assim a sua credibilidade, a esperança de uma ciência psicológica tornou-se quase

indistinguível do fato em si. A história inteira da Psicologia pode ser vista como um

intento ritualista de se apropriar dos métodos da ciência a fim de sustentar que a

Psicologia é científica.

Segundo Book, Furtado e Teixeira (2002), a ciência compõe-se de um conjunto

de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade, expresso por meio de uma

linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira

programada, sistemática e controlada, para que se permita a verificação de sua

validade.

O fato é que aquelas afirmações que descrevem o comportamento humano ou

apresentam os resultados provindos de pesquisas comprováveis, podem ser tidas como

científicas. No entanto, quando nos movemos do ponto de descrever esse

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 6

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comportamento para o de explicar e tentar mudar isso, nós deixamos o campo da

ciência e adentramos o da opinião.

A mudança de descrição para prescrição é sinônimo de mudança de objetividade

para a opinião subjetiva, e opinião sobre o comportamento humano, quando

apresentada como sendo absoluta, e conseqüentemente um fato científico, é meramente

a evidência clara de uma pseudociência. As diversas opiniões serão resultantes de

premissas incertas (opiniões, explanações subjetivas, suposições) o que leva direto a

falsas conclusões.

O Dicionário define pseudociência como "um sistema de teorias, suposições e

métodos erroneamente tidos como científicos."Pseudo ciência ou pseudocientismo inclui

o uso de rótulos científicos para proteger e promover opiniões que não são, na sua

inteireza, comprováveis ou refutáveis (são confusos). Psicoterapia serve para ilustrar a

idéia de pseudociência: se ela tivesse se aprovado como ciência, nós te damos hoje um

consenso entre os profissionais a respeito dos problemas comportamentais provenientes

das nossas desordens psico-emotivas e como tratá-las. A verdade é que este campo

está cheio de teorias e técnicas contraditórias, que quando postas lado a lado

expressam a confusão que nega a possibilidade de ser enquadrado no campo da ciência

onde a lei da comprovação é imperativo absoluto.

A IMPORTÂNCIA DE SE CONHECER A PSICOLOGIA

Você já deve ter ouvido falar em Psicologia,

não é mesmo? Nesta disciplina, você poderá

aprofundar seu estudo sobre essa área do

conhecimento.

Na sua atividade profissional, você irá lidar

com pessoas e, por isso, é importante que você

conheça alguns conceitos da Psicologia.

Essa ciência estuda o comportamento humano e as formas como os homens

interagem e, por isso, irá ajudar você na sua futura atuação como técnico em segurança

do trabalho.

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O HOMEM ENQUANTO SUJEITO QUESTIONADOR

A Psicologia surgiu da Filosofia e a Filosofia

surgiu de perguntas como: Quem eu sou? e Qual a

origem de tudo que existe? Você já deve ter se

interrogado sobre questões parecidas com essas ao

longo da sua vida, não é mesmo?

Desde os tempos mais antigos, essas e muitas

outras questões intrigam os seres humanos: De onde

viemos? Para onde vamos? Por que tenho

determinado sentimento em certas situações? Por que

já me senti como um peixe fora d’água no trabalho,

entre amigos, na sociedade?

Na ANTIGÜIDADE, os povos buscavam compreender os fenômenos da natureza

e encontrar respostas para muitas questões por meio da criação de MITOS.

Cada povo, dentro de uma determinada perspectiva cultural,

busca encontrar o sentido da vida, nas pequenas ou grandes evidências

que a própria vida nos traz. Isso acontece porque o ser humano tem esta

característica: é um sujeito perguntador.

(ARAÚJO e GOULART 2003, p.125.)

VAMOS PENSAR UM POUCO?

- Vamos ler o texto, “O mágico e o cientista” na

página seguinte, para compreendermos melhor o que é

Psicologia:

“Em nossa sociedade, dois grupos de profissionais têm demonstrado

preocupar-se com as inexatidões de nossos sistemas de percepção – os mágicos e os

cientistas. O modo de vida do mágico depende de sua habilidade para explorar as

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 8

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limitações do ser humano como observador. O cientista também registrou progressos na

aquisição de conhecimentos sobre as limitações do homem como percebedor.

Mágico e cientista, no entanto, trabalham de forma diversa.

O mágico usa seus conhecimentos secretos para enganar e confundir as

percepções dos seus expectadores; o cientista, em busca de uma verdadeira imagem do

mundo externo, aprendeu a evitar aqueles tipos de informações e situações em que a

observação não é idônea ou válida. Quando você usa fantasias, opiniões não

comprovadas, “ideias favoritas” – que são sua opinião – pode estar desempenhando o

papel de mágico da palavra.

A Psicologia não aceita “conclusões mágicas”... a Psicologia não aceita

observações como estas:

– Na minha opinião, esse empregado é muito emotivo.

– Eu acho que para resolver a entrada tarde é melhor punir.

– Pela minha experiência, as pessoas altas são tímidas.

A Psicologia consiste em um conjunto de atitudes que nos conduzem a aceitar

fatos, ainda que possam ir de encontro a nossas expectativas, esperanças e desejos.

A Psicologia não trabalha no reino da fantasia quando estuda o comportamento

humano; trabalha com fatos e com todos os fatos possíveis.”

(MINICUCCI,

2001)

Após a leitura do texto “O mágico e o cientista”, discuta com seus colegas e

procure responder as questões abaixo.

1. Qual a diferença do conhecimento do mágico e do cientista?

2. Qual a relação da Psicologia com o mágico?

3. Em uma empresa, quais as vantagens de utilizar os conhecimentos da

Psicologia?

Qual a relação do senso comum com a ciência?

É através do senso comum que o cientista se afasta para observar, estudar e

validar seu conhecimento. No exemplo anterior, foi fundamental o conhecimento do

dia-a-dia para transformar em ciência.

Na nossa vida cotidiana, ouvir frases como:

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 9

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- “Usei da Psicologia para convencer meu chefe a me dar um aumento”

- “Minha melhor amiga é também minha psicóloga”

Essas pessoas, ao dizerem essas frases, na verdade estão

usando termos do senso comum para se referir à Psicologia, mas não

detêm o conhecimento científico. Na realidade, afirmar que usou da

Psicologia para ganhar um aumento, é dizer que usou o poder do

convencimento (persuasão), na negociação com seu gestor (chefe),

para conseguir aumentar o seu salário.

E em relação à afirmação que a melhor amiga é

também a psicóloga, percebemos que isso não é possível,

pois existe uma diferença entre um amigo e um psicólogo, ou

seja, o psicólogo é neutro na relação com seus clientes e o

amigo não, emite sua opinião em relação ao amigo. Ao fazer

essa afirmativa, podemos entender que o amigo é excelente,

talvez possa ouvir como o psicólogo. Vale lembrar que essa

opinião de ouvir como psicólogo não significa ser igual a esse

profissional, o qual estudou para escutar o outro com base em

técnicas e conhecimentos científicos, diferentemente do

amigo.

No Brasil, a Psicologia foi regulamentada em 1962 pela Lei 4.119. Para exercer a

profissão, faz-se necessário concluir o curso de graduação em Psicologia, o qual tem

duração de 5 anos, e ter o registro no conselho de classe da sua região após a

conclusão do curso.

O que faz um Psicólogo?

Você poderia pensar: atende pessoas em um consultório; trabalha selecionando

pessoas em uma empresa, ou ainda, dá suporte aos pacientes internados nos hospitais.

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Áreas de atuação do Psicólogo...

Psicólogos Educacionais e/ escolares

Psicólogos organizacionais/do trabalho

Psicólogos clínicos/saúde

Psicólogos da justiça

Psicólogos dos esportes

Na verdade, em qualquer ambiente que exista uma ou mais pessoas, podemos

ter a presença do psicólogo. De acordo com o Conselho Federal de Psicologia, o

psicólogo pode atuar no âmbito da educação, saúde, lazer, trabalho, segurança, justiça,

comunidades entre outras. Alguns exemplos da atuação do psicólogo são: trabalhar em

um time de futebol para que o grupo desenvolva o espírito de equipe e fique motivado

para ter um melhor desempenho nas competições; quanto a sua atuação nas empresas,

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é muito ligada ao Setor de Recursos Humanos, ou seja, trabalha selecionando novos

funcionários, acompanhando o desempenho destes, organizando treinamentos e outras

atividades voltadas para a integração dos colaboradores, como festividades de fim de

ano, aniversariantes do mês, ações voltadas para o bem-estar e saúde dos

trabalhadores.

Misticismo x Psicologia

Em algum momento da sua vida, provavelmente,

você já ouviu falar em cartomantes, astrologia, bola de

cristal, previsão de futuro. Talvez até tenha lido algum

cartaz sobre algo do tipo “descubra seu futuro” e um

telefone e endereço de contato.Quiromancia ( leitura

das mãos) , astrologia, tarô, numerologia e demais

práticas alternativas não fazem parte do conhecimento

da Psicologia. Essas práticas são baseadas na previsão do futuro e do destino como

algo que não pode ser mudado, enquanto a Psicologia acredita que o destino do ser

humano é construído e pode ser mudado ao longo da sua vida.

A Psicologia não vê o homem apenas como ser autônomo, mas que se

desenvolve e se constitui a partir da relação com o mundo social e cultural, mas também

o homem sem destino pronto, que constrói seu futuro ao agir sobre o mundo.

(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2002)

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Qual a diferença do trabalho do Psiquiatra e do Psicólogo...

O psicólogo e o psiquiatra são profissionais da área da Saúde, os quais devem

trabalhar em conjunto, em prol da saúde mental do ser humano. Mas é importante que

saibamos as diferenças desses profissionais, tais como:

1. O psicólogo não pode receitar medicamentos de nenhum tipo,

e o psiquiatra pode medicar.

2. O psicólogo estuda o funcionamento da mente humana de uma

maneira ampla, e o psiquiatra tem como foco as doenças da mente.

O mais importante é compreender que cabe tanto ao

psicólogo como ao psiquiatra a busca pela saúde mental dos

indivíduos. E para isso ser possível, muitas vezes, o trabalho em

conjunto desses profissionais é imprescindível.

Vamos imaginar uma pessoa com uma depressão profunda e, em consequência

dela, não tenha vontade de passear, trabalhar, estudar, comer, tomar banho, conversar

com outras pessoas. Enfim, não tem ânimo para fazer nada. Se essa pessoa for levada

apenas ao psicólogo, não estamos resolvendo a situação dela, pois a depressão é uma

doença que deve ser tratada tanto pela psiquiatria como pela psicologia.

Da mesma forma que existem diferenças entre esses

profissionais da saúde, precisamos ter clareza que o objetivo

do psicólogo e do psiquiatra é promover bem estar e saúde

mental aos seus pacientes, os quais podem e devem ser

tratados em alguns momentos pelos dois profissionais para

que possam alcançar êxito em seu tratamento.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 13

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As Principais Escolas da Psicologia...

Behaviorismo

O termo Behaviorismo vem da palavra em inglês

Behavior, que em português significa comportamento.

Os psicólogos que utilizam essa escola da Psicologia

acreditam que o nosso comportamento é uma resposta

da relação entre um estímulo e o ambiente.

Para os behavioristas existem dois tipos de comportamento:

1. Comportamento respondente (ou reflexo);

2. Comportamento operante.

Por exemplo, imagine que você vai ao médico

para uma consulta e lá ele solicita a você que fique

sentado para lhe examinar. O médico começa o exame

usando um martelinho para ver como estão seus

reflexos. Ele dá uma batida de leve na sua perna, que

responde a este estímulo com um chute. Perceba que a

batida de martelo é o estímulo, e o chute, a resposta.

Esse comportamento pode ser considerado involuntário ou respondente, pois

não temos como evitar que ele aconteça, ou seja, você não esperava que sua perna

levantasse de repente como se fosse dar um chute.

Agora, imagine você estudando para uma prova,

fazendo o almoço, indo ao supermercado fazer compras,

vendo um filme na televisão ou no cinema. Você escolheu

fazer essas atividades, tem consciência delas, ou seja,

sabe o que está fazendo no momento de sua realização.

Isso é o comportamento operante.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 14

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Gestalt

O termo Gestalt é alemão e muito difícil de

traduzir para o português. Para Bock, Furtado e

Teixeira (2002), as palavras que mais se

aproximam é configuração; forma. Para os

gestaltistas, o ponto de partida dessa teoria é a

percepção.

Cada pessoa tem uma percepção que é particular, pois a história de vida de cada

ser humano é única.

Entendendo a diferença do Behaviorismo para a Gestalt...

O Behaviorismo estuda o comportamento através da

relação estímulo-resposta, procurando isolar o estímulo que

corresponderia à resposta esperada. Já a Gestalt amplia a

relação estímulo-resposta, ou seja, estuda o comportamento

em sua totalidade.

A Gestalt, ao observar o comportamento de uma pessoa irritada, por exemplo,

não vai apenas estudar a raiva que a pessoa sente, mas o que aconteceu com aquela

pessoa, o contexto em que ela estava inserida, se existia alguém irritado antes dela

expressar hostilidade. Enfim, verifica o comportamento da pessoa como um todo.

Psicanálise

Você já deve ter escutado falar em Freud.

Seja lendo um livro, o qual falava em Freud – o

pai da Psicanálise, assistindo a uma cena de TV,

contando uma piada sobre Freud ou um humorista

simulando atender um paciente em um divã (espécie

de sofá).

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 15

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Sigmund Freud nasceu no dia 06 de maio de 1856 emFreiberg, Moravia (hoje Pribor, República Checa). QuandoFreud completou 4 anos, sua família mudou-se para Viena,Áustria, onde permaneceu por quase 80 anos.

A Psicanálise tem como fundador Sigmund Freud, formado em Medicina. Ele

escolheu a Psiquiatria para atender seus pacientes. E foi assim que começou sua paixão

pelo funcionamento da mente.

Seus primeiros estudos foram referentes ao acompanhamento de pacientes com

distúrbios da mente. Mas não parou por aí, ele criou uma teoria sobre o funcionamento

do nosso psiquismo (mente).

Para Freud nossa personalidade é formada por 3 instâncias: ID, EGO E

SUPEREGO.

GRUPOS: CONCEITO, CLASSIFICAÇÃO E ATRIBUTOS...

Como vimos anteriormente, a vida em grupo

é um desafio constante, pois sabemos que as

pessoas são diferentes em relação aos

sentimentos, desejos, necessidades e aspirações,

mas não temos o hábito de observá-las no que diz

respeito ao seu comportamento em grupo.

Agora iremos conhecer o conceito de grupo,

perceber diferentes formas de classificação dos

grupos e identificar os seus atributos básicos.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 16

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Você faz parte de algum grupo na sua escola?

E no seu trabalho, tem um grupo com que você joga bola no fim do expediente?

Ou você faz parte de algum grupo como coral, da igreja, do clube ou outro de sua

preferência?

Agora vamos conversar sobre o que define um grupo, quais os tipos e como é o

funcionamento de um grupo.

Para Bowditch e Buono (2002), um grupo consiste em duas ou mais pessoas que

são psicologicamente conscientes umas das outras e que interagem para atingir uma

meta comum. Para esse autor, os passageiros de um avião não seriam considerados um

grupo, porém os participantes de uma excursão aérea seriam um grupo, pois preenchem

as condições necessárias para sê-lo, tais como: consciência mútua e interação para

atingir uma meta comum.

Leia a história sobre a “Assembleia na Carpintaria”:

Contam que na Carpintaria houve, uma vez, uma estranha assembleia. Foi uma

reunião do grupo de ferramentas para acertar suas diferenças.

O martelo assumiu a presidência, mas os participantes lhe notificaram que teria

que renunciar. O motivo? Fazia demasiado barulho; além do mais, passava todo o

tempo golpeando. O martelo aceitou sua culpa, mas pediu que também fosse expulso o

parafuso, dizendo que ele dava muitas voltas para conseguir fazer alguma coisa.

Diante do ataque, o parafuso concordou, mas, por sua vez, pediu a expulsão da

lixa. Dizia que ela era muito áspera no tratamento com os demais, entrando sempre em

atritos.

A lixa acatou, com a condição de que se expulsasse o metro, que media os outros

segundo sua medida, como se fora o único perfeito.

Nesse momento entrou o carpinteiro, juntou o material e iniciou o seu trabalho.

Utilizou o martelo, a lixa, o metro, o parafuso, o serrote e outras ferramentas. Após

algumas horas de trabalho, uma rústica madeira se converteu num fino móvel.

Quando a carpintaria ficou novamente só, a assembleia reativou a discussão. Foi,

então, que o serrote tomou a palavra e disse: “Senhores, ficou demonstrado que temos

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 17

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defeitos, mas o carpinteiro trabalha com nossas qualidades, com nossos pontos

valiosos. Assim, não pensemos em nossos pontos fracos e concentremo-nos em nossos

pontos fortes.”

A assembleia entendeu que o martelo era forte, o parafuso unia e dava força, a

lixa era especial para limar e afinar asperezas e o metro era preciso e exato. Sentiam

alegria pela oportunidade de trabalharem juntos.

Ocorre o mesmo com os seres humanos. Basta observar e comprovar.

Quando uma pessoa busca defeitos em outra, a situação torna-se tensa e

negativa; ao contrário, quando busca, com sinceridade, os pontos fortes dos outros,

florescem as “melhores conquistas humanas”.

É fácil encontrar defeitos, qualquer um pode fazê-lo.

Mas encontrar qualidades... isto é para os sábios!!!

(TEXTOS..., 2001, p. 112)

Após a leitura do texto, você deve ter percebido a necessidade um

dos outros para que o trabalho tivesse sucesso.

O exemplo mostrou que é preciso cada um estar consciente do

outro e ter metas estabelecidas.

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Os diferentes tipos de grupos...

Você já tentou caracterizar o seu grupo da escola, do bate-bola no fim de semana

ou da balada na sexta-feira? No nosso dia-a-dia fazemos parte de vários grupos, do

grupo da família; dos amigos íntimos, dos colegas da escola e do trabalho, da igreja e de

tantos outros grupos que fazem parte da nossa vida.

Mas como diferenciar um grupo do outro? Quais os critérios para classificar um

grupo e outro? Os estudiosos sobre comportamento em grupo definiram os grupos em

categorias distintas, as quais são as seguintes: grupos primários e secundários; grupos

formais e informais; grupos homogêneos e heterogêneos, grupos interativos ou

nominais; grupos permanentes e temporários.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 19

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Grupos primários e secundários

Lembra do grupo da família e dos amigos mais

íntimos, citados anteriormente? São classificados como

grupos primários, pois estes são voltados para os

relacionamentos interpessoais diretos, enquanto os

grupos secundários são voltados principalmente para

atividades ou metas definidas. Como exemplo dos

grupos secundários, podemos pensar nos colegas da

escola, com os quais nos reunimos para realizar atividades escolares. Embora os grupos

primários sejam diferentes dos secundários, os primeiros podem surgir do segundo. Um

exemplo disso é um grupo de escola, ou seja, o grupo da EEEP Joaquim Nogueira, do

Curso Técnico em Segurança do Trabalho é um grupo secundário, tendo em vista ter

metas e estar voltado para realização de atividades.

Desse grupo com objetivos definidos pode surgir uma

relação mais próxima entre alguns colegas de sala de

aula, os quais se reúnem todas as vezes em que é

solicitada alguma atividade em grupo. Ou seja, esse

grupo surgiu com o objetivo de concluir um curso, mas

pode naturalmente criar laços de amizade os quais irão além desse curso. Os colegas

de sala podem se transformar em grandes amigos e assim continuar por toda a vida.

Na verdade, é muito provável que isso

tenha acontecido com você ainda na sua infância,

quando você era uma criança ou já adolescente.

Na escola, iniciamos com um grupo secundário e

espontaneamente vamos formando grupos

menores, de acordo com a afinidade e

identificação e, quando menos esperamos, esses simples colegas de sala de aula

passam a ser grandes amigos.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 20

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Grupos formais e informais

Você, como aluno de uma determinada escola ou funcionário de uma empresa

pertence a que tipo de grupo? Formal ou informal? Você escolheu as pessoas com as

quais estuda na mesma sala de aula que você? Se você trabalha, pode dizer com quem

gostaria de trabalhar? Sabemos que existem

alguns grupos com os quais nos sentimos muito

bem, transmitimos paz, segurança e até nos

identificamos com as pessoas que o formam. Já

em outros grupos ocorrem conflitos e às vezes

não temos identificação com ele, nem gostamos

das pessoas que compõem o grupo.

Então, como definir esses grupos?

Os grupos formais são aqueles que têm metas estabelecidas, voltadas para

objetivos, e que são explicitamente formados como parte da organização, tais como

grupos de trabalho, departamentos, equipes de projeto. E os grupos informais são

aqueles que surgem com o passar do tempo, através da interação dos membros da

organização. Embora esses grupos não tenham quaisquer metas formalmente definidas,

eles têm metas implícitas, que são frequentemente recreativas e interpessoais.

(BOWDITCH; BUONO, 2002, p. 96)

Grupos homogêneos e heterogêneos

Você tem a mesma idade dos colegas da

escola? Ou dos seus amigos mais íntimos? Tem os

mesmos gostos que eles? Provavelmente você está na

mesma faixa etária que os seus colegas de sala ou

seus amigos, mas quanto às suas preferências em

relação a eles, até podem ter gostos em comum, assim

como pensamentos e desejos, mas vocês também têm suas diferenças, seja em

pequenas coisas, como preferir macarrão e não arroz, como seu melhor amigo, ou tomar

coca-cola e não guaraná. Você deve estar se perguntando: quais os critérios para ser

homogêneo ou heterogêneo?

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 21

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É muito relativa essa classificação, pois quando falamos em homogeneidade ou

heterogeneidade estamos pensando em uma característica especificamente e não na

totalidade das características. Para dizer se um grupo é homogêneo, precisamos

primeiro deixar claro qual a característica que está sendo observada. Um exemplo disso

pode ser o seu grupo da sala de aula, pois dizemos que um grupo é homogêneo

observando a faixa etária, já que todos os alunos

estão na faixa dos 15 aos 20 anos. Mas esse mesmo

grupo pode ainda ser chamado de heterogêneo quanto

ao gosto pelo esporte, pois o grupo é dividido: alguns

alunos gostam de jogar futebol, já outros, de jogar

basquete, e um grupo menor adora nadar.

Grupos interativos ou nominais

Você lembra o seu primeiro dia de aula na escola? Ou quando você foi

convidado para aquela festa em que não conhecia quase ninguém? São

grupos interativos ou nominais?

Para Bowditch e Buono (2002), os grupos interativos são aqueles nos quais os

participantes se envolvem diretamente, com algum tipo de intercâmbio entre si. E os

grupos nominais são aqueles cujos membros interagem

indiretamente entre si.

Grupo em que há relação entre você, aluno, e o

professor a distância constitui um grupo nominal, pois o

contato é indireto, não existe contato presencial, a não ser

através da figura do monitor das aulas e, se existir, será

apenas em alguns encontros. E grupos como o do seu

ambiente de trabalho, no qual os colegas têm contato

frequente e constante são grupos interativos.

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Grupos permanentes e temporários

Sua família é um grupo permanente ou temporário? E seus amigos de infância? E

aquele grupo que se reuniu apenas para ajudar no combate à dengue no seu bairro ou

escola?

De acordo com Bowditch e Buono (2002), um

grupo temporário é aquele formado com uma

tarefa ou problema específico em mente e

cuja dispersão é algo esperado assim que o

grupo concluir a tarefa. Já os grupos

permanentes são aqueles de quem se

espera continuidade ao longo de diversas

tarefas e atividades. Então, podemos chegar

à conclusão de que a sua família e seus amigos fazem parte de grupos permanentes, e

o grupo de combate ao dengue constituem um grupo temporário.

Atributos básicos dos grupos

Os grupos de trabalho não são multidões desorganizadas. Eles possuem

uma estrutura que modela o comportamento de seus membros e torna

possível a explicação e a previsão de boa parte dos indivíduos, bem como

o desempenho do grupo em si. Quais são essas variáveis estruturais?

Podemos citar entre elas os papéis, as normas, o status, o tamanho do

grupo e o seu grau de coesão (ROBBINS, 2005, p. 189).

Para entender melhor a estrutura do grupo proposta por Robbins vamos estudar

sobre cada uma das variáveis citadas por ele.

Papéis

O que você está fazendo agora? Estudando? Este é o seu papel no momento:

você é um estudante. Mas ainda hoje você deverá voltar a sua casa e assumir outros

papéis como o de filho, irmão, neto ou até mesmo pai, se você já tem filhos, e se é

casado, o papel de esposo e dono de casa. Perceba a quantidade de papéis quetemos

ao longo da nossa vida.

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Para Bowditch e Buono (2002), a definição de papel se refere aos diferentes

comportamentos que as pessoas esperam de um indivíduo ou de um grupo numa certa

situação.

Vamos a um estudo de caso...

Bill Patterson é gerente da fábrica da Electrical Industries, um grande fabricante

de equipamentos elétricos situado em Phoenix, no Estado do Arizona. Ele desempenha

diversos papéis em seu trabalho: é funcionário da Eletrical Industries, membro da

gerência de nível médio, engenheiro eletricista e o principal porta-voz da empresa junto

à comunidade. Fora do trabalho, Bill desempenha ainda outros papéis: marido, pai,

católico, membro do Rotary Clube, jogador de tênis, sócio do Thunderbird Country Club

e síndico do condomínio onde mora. Muito desses papéis são compatíveis entre si;

outros geram conflitos. Por exemplo, de que maneira sua postura religiosa afeta suas

decisões administrativas em assuntos como demissões, artifícios de contabilidade ou

informações para os órgãos governamentais? Uma recente oferta de promoções exige

que ele mude de cidade, embora sua família goste de morar em Phoenix.

Como conciliar as demandas de sua carreira profissional com as demandas de

seu papel como chefe de família?

(ROBBINS, 2005, p. 189).

Gostou da história de Bill? Observou que ele tem papéis diversos e seu

comportamento varia de acordo com cada um deles?

Normas

Você segue normas? Na sua escola ou

no seu trabalho você é obrigado a usar um

fardamento? Caso utilize fardamento, esse

comportamento é decorrente de uma norma

estabelecida pela organização e você, como

membro dela, deve seguir a norma.

Para Robbins (2005), todos os grupos estabelecem normas, ou seja, padrões

aceitáveis de comportamento que são compartilhados por todos os membros do grupo.

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As normas norteiam o comportamento dos componentes, indicando o que deve ou não

ser feito em grupo.

Todas as normas são iguais quanto a sua importância?

Bowditch e Buono (2002) afirma que nem todas as normas têm o mesmo peso.

Existem as normas centrais, ou seja, aquelas consideradas como particularmente

importantes para o grupo ou para a organização. E as normas periféricas, as quais não

são tão importantes para os membros do grupo. A distinção do que é uma norma central

ou periférica varia de grupo para grupo. E o desvio das normas periféricas não é punido

tão severamente quanto o das normas que o grupo considera como centrais por

natureza.

Imaginemos que no seu trabalho ou na sua escola o fardamento seja obrigatório e

quem não vier fardado seja punido com a proibição da sua entrada no ambiente escolar

ou de trabalho. Podemos considerar como uma norma central, pois a punição foi severa,

impediu o acesso à organização. Agora imagine que a norma de uma loja de

computadores diz aos seus funcionários que os que chegarem atrasados mais de duas

vezes no mês serão punidos, não ganharão a cesta básica do mês. Esta é uma norma

mais periférica e não central.

Status

A posição social que é atribuída a uma pessoa ou a um grupo é o que

chamamos status. O status de um gerente é diferente do status de um

assistente; o status de um médico também é diferente do de um auxiliar

de enfermagem. O status pode advir tanto da posição formal como das

qualidades individuais (BOWDITCH; BUONO, 2002).

Pensando no caso dos médicos, podemos presenciar enfermeiros com mais

status que médicos em uma equipe de saúde, quando é esperado que os médicos

tenham mais status pela posição que ocupam na hierarquia de um hospital.

O status também pode ser de um determinado grupo, como exemplo, em uma

empresa, o departamento de marketing pode ter mais status que o departamento de

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compras, pois o primeiro participa de todas as reuniões estratégicas e de planejamento

da empresa e tem poder de voz junto a diretoria.

O tamanho do grupo

Na visão de Robbins (2005), o tamanho do grupo afeta o desempenho deste, mas

o efeito depende de quais variáveis dependentes você vai considerar. Na concepção do

autor citado, os grupos menores são mais rápidos na realização das tarefas. Mas se a

questão for resolução de problemas, o mesmo autor afirma que grupos maiores

conseguem melhores resultados.

Coesão

O conceito de coesão nos remete à idéia do grau de desejo que os membros de

um grupo têm em permanecer juntos e à força de seus compromissos para com o grupo

e suas metas (BOWDITCH, BUONO, 2002).

Porém, como os grupos são muito diferentes, a coesão também pode ser maior

ou menor em cada grupo, ou seja, a sintonia estabelecida entre seus componentes não

é uniforme. E para isso, Robbins (2005) faz as seguintes sugestões para aumentar a

coesão:

1. Reduzir o tamanho do grupo.

2. Estimular a concordância sobre

os objetivos do grupo.

3. Aumentar o tempo que os membros

do grupo passam juntos...

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4. Aumentar o status do grupo e a

dificuldade percebida para a admissão

nele.

5. Estimular a competição com outros

grupos.

6. Dar recompensas ao grupo, em vez de

recompensar seus membros

individualmente.

7. Isolar fisicamente o grupo.

O CONCEITO DE TRABALHO

No dicionário de ciências sociais lemos que o homem se colocou acima do reino

animal pelo fato mesmo de sua capacidade criadora; foi definido com muito acerto como

“o animal que produz”. Mas o trabalho não é para o homem apenas uma necessidade

inevitável. É também o seu libertador em relação à natureza, seu criador como ser social

e independente. No processo de trabalho, isto é, no processo de moldar e mudar a

natureza exterior a ele, o homem molda e modifica a si mesmo.

Dos primórdios da Humanidade até aos nossos dias o conceito “trabalho” foi

sofrendo alterações, preenchendo páginas da história com novos domínios e novos

valores. Do Egito à Grécia e ao Império Romano, atravessando os séculos da Idade

Média e do Renascimento, o trabalho foi considerado como um sinal de opróbrio, de

desprezo, de inferioridade. Esta concepção atingia o estatuto jurídico e político dos

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trabalhadores, escravos e servos. Com a evolução das sociedades, os conceitos

alteraram-se. O trabalho-tortura, maldição, deu lugar ao trabalho como fonte de

realização pessoal e social, o trabalho como meio de dignificação da pessoa.

Começamos por apresentar alguns significados das palavras «trabalho» e

«trabalhar» de acordo com o que é definido por um dicionário da língua portuguesa.

«Trabalho» significa: “exercício de atividade humana, manual ou intelectual, produtiva”;

“serviço”; “lida”; “produção”; “labor”; “maneira como alguém trabalha”. «Trabalhar» é

“exercer alguma profissão”; “dar determinada forma a”; “fazer com arte”; “labutar”;

“empenhar-se”; “executar alguma tarefa”; “desempenhar as suas funções”.

BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA DO CONCEITO «TRABALHO»

Segundo R. Cabral (1983), a palavra «trabalho», na sua origem etimológica,

significa “tripalium, instrumento de tortura composto de três paus ou varas cruzadas, ao

qual se prendia o réu” (p. 1774).

Segundo Lobo (2004), a necessidade da delimitação de tal fronteira no que se

refere à proteção de trabalho de menores vai de encontro àquelas situações especiais

em que “o velho prolóquio de Larcordaire merece acolhimento, funda detença e larga

consideração: entre o rico e o pobre e o forte e o fraco é a Lei que liberta e a liberdade

que mata” (p.4).

A palavra «trabalho», esclarece o historiador Jacques Le Goff, não existia antes

do século XI. De acordo com Godelier, citado por Correia (1999), o significado da

palavra «trabalho», conhecido como “obra a fazer, ou execução de uma obra”, surge

somente nos finais do século XV e o significado da palavra «trabalhador» aparece nos

finais do século XVII.

No século XVIII, o trabalho aparece como uma actividade que implica um esforço

penoso. Aliás, José Alberto Correia (1999) refere esta noção sublinhando que ela está

“relacionada com significados que nos referenciam o exercício de atividades penosas”.

Para Brito Correia (1981), “a palavra trabalho é usada correntemente com vários

sentidos:

a) Esforço ou aplicação para fazer uma coisa, ou como ‘ação que altera

a natureza ou a forma de uma coisa’ (Larousse); neste sentido, também um

animal pode prestar trabalho;

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b) Atividade manual ou intelectual própria do homem, frequentemente

(mas não necessariamente) penosa e dirigida a um fim útil: não de mero prazer

ou como jogo, mas para ganhar a vida (por necessidade); neste sentido, o

trabalho contrapõe-se a actividades realizadas por amor do próximo (caridade),

para alcançar prestígio (um lugar na vida social), por amor à Pátria (caso do

soldado voluntário) ou para glória de Deus (caso dos religiosos);

c) Produto ou resultado dessa atividade (é o sentido usado quando se

diz que se vai ‘entregar um trabalho’);

d) Emprego, colocação, lugar ou posto de trabalho;

e) Coletividade dos trabalhadores, isto é, daqueles que se encontram

numa particular ‘relação de produção’ ou pertencem a certa classe social; é usado

por exemplo, na expressão ‘o capital e o trabalho’ ”(p. 3).

De acordo com Giddens (1997), “podemos definir o trabalho como a realização de

tarefas que envolvem o dispêndio de esforço mental e físico, com o objectivo de produzir

bens e serviços para satisfazer necessidades humanas” p. 578).

Ariès e Duby (1989) referem que, “o trabalhador era considerado socialmente

inferior, mas também um ser ignóbil” (p. 124). Estes autores referem também que são

necessárias algumas chaves de leitura para a compreensão das atitudes antigas perante

o trabalho: o desdém pelo seu valor significava desdém social pelos trabalhadores.

Este desdém manteve-se até perto do tempo d’A Cartuxa de Parma; depois, para

manter a hierarquia das classes sociais, reduzindo sempre os conflitos, foi necessário

saudar no trabalho um verdadeiro valor e um valor de todos; foi a paz social dos

corações hipócritas. O mistério do desprezo antigo pelo trabalho reside muito

simplesmente no fato de os acasos da guerra social não terem ainda conseguido este

provisório armistício de hipocrisia. Uma classe social, orgulhosa da sua superioridade,

canta a sua própria glória (é isto a ideologia) (p.124).

De acordo com os mesmos autores, a partir de Marx e Proudhon, a noção de

trabalho tornou-se um valor social universal, um conceito filosófico.

Poder-se-ia dizer que o «trabalho», tal como hoje o descrevemos, é

historicamente recente. O trabalho é fonte de riqueza dos países. As sociedades

desenvolveram-se, desde sempre, através do trabalho produzido por agricultores,

pescadores, comerciantes, artesãos e operários.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 29

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Há uma característica comum, relativamente ao trabalho, que atravessa todos os

tipos de sociedades, desde a escravagista até à industrial passando pela feudal: a

subordinação de quem vive do trabalho prestado a outrem, quer seja rei, imperador,

senhor feudal, industrial ou entidade patronal. A História mostra-nos que só os países

que se organizaram e apostaram nas forças de trabalho atingiram patamares de

bem-estar elevados, mas sempre por força daqueles que produziram a riqueza - os

trabalhadores. Foi com a Revolução Industrial que a ideia de subordinação de quem vive

do seu trabalho se acentuou e que a dependência daqueles que têm como único meio

de subsistência os rendimentos do trabalho se efectivou. Consequentemente, ganham

expressão as novas necessidades de protecção, uma vez que com a produção industrial

em grande escala, os operários deixaram de ter outra fonte de rendimento que não fosse

a sua força de trabalho.

Face a esta realidade de dependência econômica, emergiu a necessidade de

assegurar normas de protecção àqueles que, por razões de sobrevivência, ficavam

coarctados na sua liberdade de escolha, de decisão.

As primeiras leis protetoras dos trabalhadores por conta de outrém aparecem em

tempos diferentes, de acordo com o grau de desenvolvimento e de capacidade de

organização desses trabalhadores. Os trabalhadores constituem a parte mais débil na

relação de trabalho. As leis, enquanto normas de protecção dos trabalhadores, são

factor de combate à exploração a que os mesmos estão sujeitos.

No seu conjunto, e sobretudo nos países do Norte da Europa, há uma evolução

histórica positiva desde uma situação de proletarização, característica de todo o século

XIX, até àquilo que vem a configurar um novo mundo do trabalho em que se vão

conquistando melhores condições de vida, de trabalho e de protecção social.

À época da Segunda Guerra Mundial, muitos destes avanços sociais

cristalizaram, abrindo-se, no entanto, uma frente importante de afirmação teórica e

prática do direito ao trabalho.

Em Portugal, as primeiras leis protetoras foram publicadas na última década do

século XIX, dirigidas às mulheres e aos menores. Tiveram como fundamento razões

higieno-sanitárias, dado que na época da sua publicação as condições de trabalho, de

higiene e de sanidade eram de tal forma graves que constituíam um perigo para a saúde

pública, e em particular para o desenvolvimento das crianças e das próprias mulheres,

tendo em conta a sua função genética na reprodução da espécie.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 30

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Foi na linha da proteção dos trabalhadores que esteve a origem da Organização

Internacional do Trabalho (OIT), criada em 1919, em consequência do Tratado de

Versalhes, desenvolvendo intensa atividade normativa daí para cá. A Convenção n.º 1

sobre a Duração do Trabalho na Indústria foi publicada nesse mesmo ano de 1919.

A criação de todos estes instrumentos de proteção não significava que estava

tudo resolvido e que as condições de trabalho fossem as ideais.

Convém lembrar que se tratava do trabalho em cadeia, massificado, com ritmos

de produção acelerados e com controlo apertado, o que só por si caracteriza bem a

faceta desumanizadora da época. Hierarquizando: não são as pessoas a prioridade,

mas a racionalidade econômica a máxima expressão. Segundo Rebollar (1998), a

racionalidade económica triunfou de tal modo - convertendo a pessoa que trabalha em

produtor-consumidor, ainda que com perda da sua autonomia - que superou a

necessidade que teve no princípio de recorrer à repressão. Esta técnica que tipifica a

publicidade comercial, passava por persuadir os indivíduos de que os consumos que

lhes eram propostos compensavam os sacrifícios a que teriam de se sujeitar para a

obtenção de tais bens, e que estes constituiriam um nicho de felicidade privada que lhes

permitia afastarem-se da “sorte” comum. Por outro lado, o Estado protetor, o Estado

providência oferecia ao trabalhador-consumidor umas compensações sociais pela perda

da sua autonomia. Estas compensações assumiam a forma de direito a prestações e a

serviços sociais.

Com a evolução das sociedades também os conceitos evoluem. Assim o trabalho

adquire um novo sentido associado à criação de valores úteis. Segundo Manuel

Carvalho da Silva (2000), “assume-se a problemática do trabalho tomando este como

valor, ou seja, considerando que a sociedade actual sobre a qual nos debruçamos tem o

trabalho como referência estrutural e estruturante” (p.39). O mesmo autor considera,

ainda, que o conceito «trabalho» é, atualmente, alvo de reflexão necessária e profunda,

dado que se assiste a uma grande mutação no que diz respeito às formas de prestação

de trabalho.

O Papa João Paulo II (1989) refere que:

Com a palavra trabalho é indicada toda a atividade realizada pelo mesmo

homem, tanto manual como intelectual, independentemente das suas

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 31

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características e das circunstâncias, quer dizer, toda a atividade humana

que se pode e deve reconhecer como trabalho, no meio de toda a riqueza

de actividades para as quais o homem tem capacidade e está predisposto

pela própria natureza, em virtude da sua humanidade (p. 7).

Para a Liga Operária Católica - Movimento de Trabalhadores Cristãos –

LOC/MTC “o trabalho humano é a chave essencial de toda a questão social” e, por isso,

ele constitui o centro das suas prioridades na ação que desenvolve.

Trabalho justo

Trabalho digno

Trabalho reconhecido

Por “trabalho justo” entende-se, geralmente,” salário justo”. O salário para ser

justo implica ser calculado de forma a permitir uma vida digna para o/a trabalhador/a e

sua família.

O cálculo remuneratório deve integrar os esforços inerentes a esse trabalho, os

riscos que comporta para a saúde e o tempo necessário para a sua execução.

“O trabalho deve ser remunerado de tal modo que permita ao homem e à família

levar uma vida digna, tanto material ou social, como cultural ou espiritual, tendo em

conta as funções e a produtividade de cada um, e o bem comum”. (G.S.,67)

Quando se refere “trabalho digno”, significa que se fala de “condições de

trabalho”. Trabalhar sem quaisquer constrangimentos, nem discriminações, em razão do

sexo, da etnia ou de qualquer minoria. Significa também o exercício pleno da liberdade

cívica, como poder reunir-se em associações, sem que daí decorram quaisquer

prejuízos para quem nelas participe. Implica ainda proteção da saúde, acesso à

segurança social, estabilidade de emprego e um horário e um ritmo de trabalho que lhe

permita ao trabalhador e à trabalhadora sentir-se bem e planificar a sua vida.

O trabalho reconhecido significa que quem trabalha deve poder fazer a

experiência de sentir que o seu trabalho é reconhecido e valorizado. Isto é válido não só

para o trabalho remunerado, mas também para as numerosas atividades não

remuneradas – tradicionalmente assumidas pelas mulheres - tais como tarefas

domésticas, prestação de cuidados a crianças, pessoas portadoras de deficiência,

pessoas idosas, atendimento a situações de dependência transitória ou prolongada e

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 32

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variadas atividades cívicas e de voluntariado. Daqui surge a chamada “tríade do

trabalho”:

- Trabalho remunerado, aquele que é geralmente reconhecido e valorizado.

- Trabalho em casa (lides domésticas, educação dos filhos, prestação de

cuidados a doentes e idosos)

- Trabalho social (atividades cívicas e de voluntariado), na saúde, na educação,

na cultura, no desporto, na vida associativa…

Refletir sobre o conceito de trabalho, é refletir sobre os modelos dominantes ao

nível das relações sociais de gênero e o questionamento sobre os princípios e

fundamentos da igualdade entre mulheres e homens. A conciliação entre vida pessoal,

familiar e profissional é, então, outra das vertentes que não pode deixar de integrar o

questionamento sobre uma nova atitude, um novo olhar sobre o trabalho humano.

Na opinião do grupo de trabalho “Economia e Sociedade” coordenado por

Manuela Silva “a conciliação entre o trabalho familiar, o trabalho criativo e o trabalho

comunitário com o trabalho mercantil, assalariado ou não, constitui um dos desafios que

temos que enfrentar, neste começo de novo século e milênio, quando a prática é

generalizada os adultos de uma mesma família procurarem trabalho na atividade

econômica. Como lembra João Paulo II: «Dado que temos condições históricas para o

conseguir (…) é tempo de introduzir uma nova cultura do trabalho com uma melhor

gestão e equilíbrio entre trabalho remunerado e socialmente útil, trabalho e repouso,

com uma nova perspectiva sobre as relações humanas e a convivibilidade e uma

conversão de estilos de vida e de comportamento de consumos supérfluos e mesmo

nocivos» (CA, nº 36).

Sistematizando as contribuições diversas apresentadas até o momento podemos

destacar os seguintes elementos constitutivos do trabalho:

a) pressupõe uma ação;

b) realizado por homens e mulheres;

c) com determinado dispêndio de energia;

d) dirigido para um fim determinado e conscientemente desejado;

e) exige sempre o uso da inteligência;

f) com um auxílio instrumental e que, de algum modo produz efeitos sobre a

condição do agente.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 33

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O QUE É ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO?

Sabemos que na sociedade do trabalho – ou seja, na sociedade produtora de

bens e serviços – os métodos, as ferramentas, a produtividade, o fluxo de trabalhadores

e as relações de trabalho são frutos de fatores históricos que estruturam as

organizações. Mas o que determina os diferentes arranjos com vistas às forças

produtivas dessas variantes é a organização do trabalho.

Leia os textos 1, 2, e 3 “Trabalho, Alienação e Exploração”, “A Crise da Sociedade

do Trabalho” e “A Divisão Social do Trabalho”, a seguir, para entendermos melhor como

o trabalho está estruturado na sociedade moderna:

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TEXTO Nº 1

Trabalho, Alienação e Exploração

Rodrigo Gurgel Escritor e editor.O presente texto foi extraído do Caderno do Aluno – Trabalho e Tecnologia, Programa Integrar

CNM-CUT (1998)

Em algum momento da evolução humana, ainda não determinado pelos arqueólogos eantropólogos, o homem – ou seu ancestral –, motivado por algum tipo de dificuldade, observoudemoradamente a natureza que o circundava, escolheu um ponto determinado – uma árvore, umacurva de rio, um animal, uma pedra –, mentalmente interrogou-se sobre como poderia transformá-lode maneira a conseguir resolver seu problema e, após elaborar um plano mental, debruçou-se sobreaquela parcela da natureza e transformou-a segundo a sua necessidade.

Assim nasceu o trabalho, essa atividade proposital, orientada pela inteligência, e produto,unicamente, da espécie humana. Atividade que não se limita apenas a transformar o material sobre oqual o homem decide operar, mas que busca imprimir nele o projeto que, conscientemente, o serhumano tem em mira.

Para nós, acostumados à civilização do trabalho, na qual a variedade de mercadorias criadaspelas mãos humanas parece ter chegado a números quase incalculáveis, talvez fique difícilcompreender a força e a energia que, naquele momento do nosso passado, foram desencadeadas.Mas, a partir do instante no qual o trabalho deixou de ser uma mera atividade do instinto, passando aser o reflexo de um plano previamente elaborado, ali teve início a espécie humana, com suacapacidade original e única de transformar a realidade de acordo com os seus desejos. De lá paracá, ela vem criando e recriando não somente o mundo, mas também a sua própria forma de ser e dese comportar.

Cada ser humano é, portanto, proprietário de uma parte da força de trabalho total dacomunidade, da sociedade e de toda a nossa espécie. Força essa que se inclui numa categoriaespecial, diferente de todas as outras, pelo simples fato de ser humana (pois é um recurso exclusivoda nossa espécie).

Assim, é impossível e inaceitável confundir essa força com qualquer outro meio existente dese executar tarefas, ainda que os patrões insistam em tratar o vapor, a energia elétrica, os animais, odiesel, a energia solar ou das águas e a força humana como se fossem equivalentes, pois para eles oque interessa é apenas o resultado da produção, ou seja, o lucro.

O trabalho, em sua forma original, passou por séculos de transformação – das formasprimitivas de artesanato e agricultura, até as corporações de ofício da Idade Média, chegando àsmodernas fábricas – até atingir o complexo sistema de exploração que hoje conhecemos.

Do século XIII, período no qual o capitalismo começou a ser gerado, até os dias de hoje, empleno século XXI, o trabalho organizou-se, estruturou-se e alcançou níveis de especialização e lucronunca imaginados. Pois os processos de trabalho, nos diferentes ramos da economia, têm sidoincessantemente transformados pelos patrões, que buscam sempre uma maior acumulação decapital. Contudo, é importante não esquecer que, para o trabalhador que vende a sua força detrabalho, essas transformações nunca representaram algum tipo de melhoria ou ganho duradouro esignificativo.

Se, num primeiro momento, ao vender sua força de trabalho para os patrões, aceitandoapenas apertar sempre os mesmos parafusos da linha de produção, o trabalhador é alienado da suacapacidade de criação, da sua capacidade de inventar, depois, quando os mesmos patrões desejam

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aumentar a produção – ou à medida que os meios de produção se aperfeiçoam –, essa alienação éaprofundada e ampliada, ganhando inclusive contornos científicos.

É o que ocorreu, por exemplo, com a adoção, nos meios industriais, das teorias que propõemdiversos sistemas de normas para o controle e o aumento da produção, conhecidas como fordismo etaylorismo. Se já não havia mais o uso da mente no trabalho – “isso consome tempo”, dizem ospatrões –, agora os processos físicos também são executados cegamente, sob o comando dosoutros; tudo é cronometrado e os movimentos dos trabalhadores são medidos e reprimidos. Otrabalhador se torna, ele próprio, um parafuso ou uma alavanca.

No mundo injusto do trabalho, um grupo em particular é duplamente atingido: as mulheres,cuja maioria, após enfrentar a jornada de trabalho na fábrica, vê-se obrigada, por injustos padrõesculturais e sociais, a desempenhar uma segunda jornada de trabalho, dedicada aos serviçosdomésticos. Como se ainda não fosse suficiente, enfrentam também a segregação do emprego – osmelhores postos são sempre ocupados por homens – e a segregação salarial – pois mesmodesempenhando funções iguais, as mulheres recebem, na maioria dos casos, salários menores.Dessa forma, as relações de trabalho acabam por reforçar as desigualdades de gênero, que sereproduzem no interior da classe social e desunem homens e mulheres em nome de velhas eultrapassadas formas de patriarcalismo.

A necessidade de submeter o trabalhador ao trabalho em sua forma capitalista tornou-se umaspecto permanente da nossa sociedade. Assim, a transformação de homens e mulheres em “forçade trabalho”, meros instrumentos do capital, é um processo incessante e interminável. A situação éhumilhante para os trabalhadores, seja qual for o seu salário, porque viola as condições humanas dotrabalho.

Contudo, homens e mulheres, ainda que explorados, não são completamente destruídoscomo seres humanos, preservando suas inteligências e seu poder de crítica e contestação. Serãosempre, portanto, em algum grau, uma ameaça ao capital, por mais enfraquecidos e diminuídos queestejam.

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TEXTO Nº 2

A CRISE DA SOCIEDADE DO TRABALHO

O mundo do trabalho em mutação: as reconfigurações e seus impactosPor Marco Aurélio Santana

Introdução

As últimas três décadas do século XX foram palco de transformações rápidas e radicais quevarreram a sociedade contemporânea e cujas reverberações vão sendo sentidas até hoje. Podemosdizer que as épocas de crise e de mudança sempre se prestaram ao aparecimento de prognósticos eavaliações que, por estarem embasados em uma realidade movediça,muitas vezes, acabam porindicar mais as desesperanças ou expectativas dos avaliadores do que cenários realmenteexistentes. Nos dias atuais, temos, no mercado de análises, um espectro de posições bastantedíspares acerca das transformações sofridas pela sociedade em geral e pelo mundo do trabalho emparticular. Tais análises têm como um dos dados principais de diferenciação a qualificação doscursos e sentidos dessas mudanças. Para onde nos levariam?Este artigo visa a indicar alguns eixos das transformações contemporâneas no mundo do trabalho eseus impactos na vida social. Nesse sentido, tomaremos como foco as mudanças nos processos detrabalho, nas formas de contratação e regulação do trabalho e aqueles que seriam seus novosrequerimentos em termos de qualificação dos trabalhadores.

Mudanças no cenário global

As transformações no mundo do trabalho vêm afetando, de modo intenso, as sociedades industriaisem todo o mundo. Formas de produção, consideradas superadas pelo desenvolvimento de umcapitalismo monopolista, retornam numa outra dimensão, reincorporadas a uma lógica deacumulação que enfatiza a competitividade e a qualidade. O processo de reestruturação dasatividades produtivas, principalmente a partir da década de 1970, inclui inovações tecnológicas enovas formas de gestão da força de trabalho. O resultado tem sido um aumento significativo nosíndices de produtividade, profundas alterações no relacionamento entre as empresas e nas formasde organização da produção, interferindo nas relações de trabalho e no processo de negociação comas instituições de defesa dos trabalhadores. Essa reestruturação, no entanto, vista por muitos comoinevitável na racionalidade do mercado, tem trazido também graves problemas sociais quanto aonível de emprego e à garantia dos direitos conquistados pelos trabalhadores ao longo do século XX.Ao mesmo tempo que os índices de desemprego se tornam elevados, inclusive nas economiascentrais, em muitos países do mundo, se aplica uma política de desmantelamento da ação do estadonas áreas sociais. Nos países subdesenvolvidos, a flexibilização das relações de trabalho só fazaumentar o mercado de trabalho informal e o desemprego. Fala-se em globalização. da produção industrial. De fato, as empresas multinacionais, em busca demaiores taxas de lucro, estendem sua presença por regiões geográficas e econômicas que oferecemuma força de trabalho com salários baixos e menos dispêndios com benefícios sociais. No que serefere a inovações tecnológicas e de gestão, estratégias derivadas do chamado modelo japonês.,embora efetivas em apenas algumas grandes empresas no próprio Japão, vêm sendo anunciadascomo solução para todos os males resultantes da falta de competitividade e das dificuldades nocontrole da força de trabalho. Novas formas de gestão se associam ao anúncio da modernidade.. NoBrasil e na América Latina, aparecem como o caminho inexorável da produção industrial eexpressões, como qualidade total., just in time, etc. passam, de repente, a fazer parte do vocabuláriodas empresas, que impingem aos trabalhadores um discurso .civilizador. sobre a necessidade deaderir aos novos tempos. A exigência de maior competitividade vem introduzindo estratégias deracionalização e redução de custos com sérias conseqüências para os níveis de emprego. Postos detrabalho, que tradicionalmente garantiam estabilidade, se reduziram drasticamente.

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A insegurança passou a fazer parte do cotidiano do assalariado que detém algum tipo de empregoformal. Formas precárias de trabalho, de subcontratação, passaram a ser utilizadas como norma,incorporando-se às práticas das empresas. Fragilizou-se a instituição sindical como representaçãolegítima dos trabalhadores. O desemprego adquiriu dimensões mais amplas, mudando hábitos etrazendo pobreza e desesperança, e o trabalho informal tornou-se uma alternativa freqüente para osexcluídos do mercado de trabalho formalizado, principalmente nos países subdesenvolvidos.De forma bastante esquemática, poderíamos indicar, à guisa de introdução, as principaistransformações na esfera produtiva: em um cenário crescentemente globalizado, de abertura demercados e de forte competição internacional, as unidades produtivas de grande porte ficam maisenxutas. e aumentam a produtividade (a chamada lean production); a atividade produtiva passa aexigir trabalhadores polivalentes/flexíveis que, de posse de ferramentas flexíveis, teriam comoresultado de seu trabalho um produto flexível; a parcela do trabalho fora do .foco. principal daempresa passa a ser subcontratada de outras empresas (ou terceirizada); o setor industrial perdevolume diante do setor de serviços e a flexibilização das atividades produtivas leva também a umaumento da precarização nos contratos de trabalho; na esfera sociopolítica, os sindicatos passam alutar para se desvencilhar de uma realidade marcada pelo grande porte, pela exterioridade àsempresas, pela rigidez e pelo enfrentamento direto, que os estava levando a uma diminuição nasindicalização e a uma dificuldade de competir em velocidade e adequação aos impasses trazidospela nova realidade. Junte-se a isso o desemprego e a informalização que corroem grandemente opoder de agenciamento das instituições sindicais.Em meio a tantas mudanças, nem mesmo a idéia de Estado permaneceu intocada. Pelo menosdesde o segundo pós-guerra, era visão corrente a idéia de que o Estado deveria cumprir não sótarefas referentes ao controle e regulação da economia, mas também de assegurar bem-estar socialaos cidadãos (daí o nome welfare state), o que o sobrecarregaria de outros atributos redistributivos.Foi através deste tipo de formulação que o Estado se encarregou do que seriam encargos sociaisligados, por exemplo, à educação e à saúde.Nesse momento de crise da sociedade industrial, passa-se a argumentar que o Estado deve restringirsua intervenção na economia e nos setores sociais. O Estado de bem-estar social ou EstadoProvidência deveria ceder lugar a um novo formato de Estado, o chamado Estado mínimo.Segundo esta lógica, o Estado deveria reduzir sua inserção na economia, privatizando suasempresas, enxugando seus quadros e repassando ao setor privado a tarefa de gerir a economia semmuitas regulamentações que impedissem o livre trânsito econômico. Mais ainda, quanto ao queseriam as inserções sociais do Estado, deveria imperar a chamada lógica do mercado, de modo quedeixasse de pesar sobre os ombros dos agentes econômicos e dos próprios cidadãos, tornando- semais ágil e dinâmico. Com este quadro de transformações, Claus Offe lançou seu questionamentoacerca da validade de se manter a centralidade da categoria trabalho como chave para oentendimento sociológico. Segundo ele, o trabalho estaria deixando de situar- se como o fato socialprincipal. Dessa forma, as esferas do trabalho e da produção diminuiriam radicalmente suacapacidade de estruturação e de organização da vida social, abrindo espaço para novos campos deação, caracterizados por novos agentes e por uma nova forma de racionalidade. Podemos perceber,então, que, diante desse novo contexto, exige-se cada vez mais explicações da parte dos atoresenvolvidos, e da parte dos pesquisadores que lidam com temáticas centradas, de alguma maneira,no mundo do trabalho. Em um momento no qual, em escala planetária, a humanidade passa porprocessos que levam a transformações materiais e simbólicas, a velocidade vertiginosa com quemuda a realidade tem dificultado ainda mais a sua compreensão e interpretação. O quadro se agravaao percebermos que se pode estar tentando este movimento com ferramentas teóricas ultrapassadase que quaisquer formas de proposição e intervenção prático-política dependem de análises econceituações mais precisas.A sociologia do trabalho, buscando dar conta das transformações quantitativas e qualitativas por quepassa o mundo do trabalho, tem levantado uma série de hipóteses com relação às origens, odesenvolvimento e os destinos destas mudanças. Essas alterações foram conceituadas por unscomo especialização flexível e por outros como um novo conceito de produção. Além disso, já foramanalisadas pela escola da regulação francesa e pelos teóricos do pós-fordismo.O debate gira em torno da crise e continuidade do sistema de produção denominado fordismo, daemergência e vigência de uma nova forma produtiva, vinculada a novos padrões de demanda aespecialização flexível . e dos limites e possibilidades de expansão desta nova forma produtiva,

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muitas vezes identificada com os processos que lhes serviram de base, o toyotismo ou o modelojaponês.Sobressai, no debate, a preocupação com o lugar dos trabalhadores em meio à turbulência atual.Uma grande atenção é dada ao processo de qualificação/desqualificação ao qual estariamsubmetidos os trabalhadores no processo produtivo, sobre o que se esperaria deles nesses novosprocessos, e como seriam suas formas de inserção. Além disso, para completar, que tipo derespostas os trabalhadores podem dar em um quadro como este? As interpretações oriundas de taisanálises são importantes, na medida em que constroem um mapa que pode servir de orientação naleitura de processos em curso. As novas formas de gestão do trabalho e da produção têm seimplantado, ainda que, de forma desigual, ao redor do globo. Caberia discutir agora algumas linhasinterpretativas das transformações mundiais e indicar de que forma as alterações nas lógicas daprodução e do trabalho têm se dado na realidade brasileira.

A crise do fordismo e a especialização flexível

Os estudos voltados à temática do trabalho, tentando dar conta das transformações do sistemafordista, têm apresentado, para além de algumas especificidades, posições variadas que podem seragrupadas em dois conjuntos: aqueles que defendem a existência de um movimento de superaçãodo fordismo, apontando novos rumos possíveis; e aqueles que sustentam que as mudanças são umareadequação e um ajuste ante a crise do sistema produtivo. Ambas as posições concordam que asmudanças estão relacionadas com uma crise no sistema fordista. É neste contexto que seconfrontam noções, tais como as de especialização flexível e de neofordismo, e que também severifica que tanto o entendimento da crise como seus possíveis desdobramentos têm relação diretacom a definição do que vem a ser o sistema fordista. Como lembra David Harvey (1993), aimplantação do fordismo é muito mais complexa do que faz supor a mera apropriação do nome deHenry Ford para o processo. Sem desqualificar o papel de Ford que introduziu o sistema de um diade trabalho de oito horas com o pagamento de cinco dólares aos trabalhadores da linha automáticade montagem de carros de sua fábrica neste processo, ele, na verdade, articulou, de forma singular,certas tendências correntes à época.Para além do uso de inovações tecnológicas e organizacionais, bem como do formato corporativonos empreendimentos de que Ford se apropriou e que já estavam em curso, muitos desde o séculoXIX, vale lembrar a apropriação que ele faz das idéias de Frederik W. Taylor, centradas na noção deadministração científica. Taylor, julgando o trabalhador um ser indolente (natural ouintencionalmente), advogava uma radicalização do processo de separação entre a concepção e aexecução do trabalho (à gerência caberia o trabalho intelectual, e ao trabalhador, o manual).Defendia uma decomposição minuciosa do processo de trabalho em movimentos e tarefasfragmentadas e rigidamente controladas pelo tempo, resultando em um maior grau de hierarquizaçãoe desqualificação no interior do processo de trabalho. Tudo isso, disposto em uma linha demontagem e com recompensa salarial separada do esforço empreendido pelo trabalhador. Destaforma, se articulam, como idéias formadoras da singularidade do fordismo, a separação entreconcepção/execução, a fragmentação/ rotinização/ esvaziamento das tarefas; a noção de umhomem/uma tarefa com especialização desqualificante; o controle do tempo de execução das tarefasestritamente orientadas por normas operacionais em um processo onde a disciplina se torna o eixocentral da qualificação requerida; pouca ou nenhuma aceitação do saber dos trabalhadores, tendoem vista contribuir para a melhoria do processo produtivo, e, conseqüentemente, do produto; eprodução em massa de bens a preços cada vez menores para um mercado também de massa. Oexíguo aproveitamento do saber operário teria como rebatimento político-organizacional o fato de queos sindicatos, embora aceitos, fossem pensados sempre como corpos estranhos, essencialmenteoponentes e externos à produção, e interessados em estimular o choque de interesses antagônicosentre empregadores e empregados.Por mais geral que seja a forma pela qual tentemos reconstruir as características do sistema fordista,dependendo do caminho escolhido, podemos refazê-lo de outras maneiras, acrescentando, retirandoou realçando certas noções. É exatamente pela distinção no entendimento da definição do sistemafordista, de sua crise e de seu destino que podemos lançar luz sobre as noções e posições nodebate. Isso se faz mais facilmente tendo como pano de fundo aquilo que seria o paradigma daespecialização flexível, sistema produtivo que teria superado o paradigma fordista ou pelo menos, emmeio à crise, estaria em vias de superá-lo. Para além da sentida fluidez e amplitude na qualificação

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de processos que caracterizam a chamada especialização flexível levando-se ao risco de que estaprópria conceituação permita dizer qualquer coisa que se deseje ., algumas características podemser identificadas.Para este paradigma, tendo Michael Piore e Charles Sabel, no livro The second industrial divide(1984), como autores de ponta, a crise do sistema fordista foi deflagrada no pólo do sistema que éexterno à produção, isto é, na demanda e no consumo, os quais, ao se instituírem sobre novospadrões de exigência, tornaram o fordismo obsoleto a partir de uma de suas bases. A produção emmassa, verticalizada, de produtos estandardizados, teria se defrontado com mercados cada vez maissaturados. Não foi, porém, apenas neste nível que teria havido um estrangulamento. A partir dosanos de 1970, outros mecanismos institucionais que davam suporte ao sistema, como as formascreditícias e a própria noção de estado de bem-estar, só para dar alguns exemplos, tambémcomeçaram a ser repensadas e restringidas. A resposta à crise não surgia de elementos totalmenteinusitados; antes, viria de uma certa recuperação de formas produtivas que sucumbiram, sem seextinguirem, diante do sistema fordista.Aquilo que poderíamos chamar de sistema de manufatura, concorreu com idéias que se articulariammais tarde no fordismo e, devido, sobretudo, à intervenção de ordem política, sustentada pela visãoevolutiva com seu rebatimento tecnológico, acabou sendo derrotada, embora continuasse a existir aolongo do tempo em experiências isoladas.As idéias do sistema de manufatura, nesse novo contexto, auxiliariam teoricamente a compreensãodas transformações pelas quais passamos e, na prática, se implementadas, poderiam levar àsuperação da crise da produção em massa. Se fizermos um recorte na teoria da especializaçãoflexível e tomássemos, como indicamos, a saturação dos mercados e seus novos padrões deexigência como marco de partida, perceberíamos um dos pontos nodais de inflexão do sistemafordista.Sem seus amplos espaços de mercado, tendo que se adaptar à busca de nichos em um grau deconcorrência extrema, as empresas teriam que produzir com versatilidade e qualidade.A produção de bens estandardizados precisaria buscar uma tecnologia, um complexohomem/máquina, flexível. Às máquinas e ferramentas flexíveis se agregariam trabalhadores flexíveis.A flexibilização no processo de trabalho imporia o deslocamento da relação um homem/umposto/uma tarefa e a aproximação das etapas concepção, execução e controle, baseando-se naincorporação progressiva da competência dos trabalhadores no processo produtivo. Ao trabalhadorparcializado e semidesqualificado ou desqualificado do fordismo, se contrapunha o trabalhadorcoletivo., organizado em grupos ou .ilhas. que, com a redução da hierarquia gerencial no interior doprocesso e, muitas vezes, subsidiado pelo suporte microeletrônico, passa a ter sobre si aresponsabilidade de agir qualificadamente sobre pontos diversos do processo. Estes ajustes seestabeleceriam também na estrutura das próprias firmas. Seria sensível uma desverticalizaçãoorganizacional (desmembramento da empresa faz tudo), baseada na focalização em processos eprodutos, com respectiva redução no porte e no número dos trabalhadores. Esta desverticalizaçãoou, em muitos casos, descentralização (conforme ocorrido na experiência italiana), baseando-se nacooperação e na confiança, estabeleceria um vínculo interempresas, forçando uma relação maisestreita entre comprador e fornecedor; tendo como pontos principais as noções de qualidade erapidez, esta última fundamental, tendo em vista que um dos aspectos essenciais do processo é ojust in time, isto é, a capacidade de operar com estoques reduzidos de matéria-prima com inputsregulados no tempo. Tendo em vista a inter-relação e a velocidade das trocas e dos fornecimentos, aproximidade geográfica tornou-se ponto essencial, e a constituição de distritos industriais passou aser uma tendência mundial. Como exemplo destes procedimentos, temos as experiências concretasdas pequenas e médias empresas da região da Emilia Romana, a chamada Terceira Itália.; da plantada Volvo, em Kalmar, na Suécia; e do fenômeno mais marcante, a experiência da Toyota, no Japão.Conforme já assinalamos, este tipo ideal de desenvolvimento industrial, puro na teoria, possui formahíbrida na realidade. Nesses termos é que vários autores percebem uma série de possibilidades deimplantação e coabitação de processos produtivos. Se a noção de especialização flexível, de algumaforma se encontra presente nas condições identificadas com o chamado pós-fordismo, ela não oesgota. Um problema é que as chamadas teorias pós-fordistas são tratadas homogeneamente, nãose dando atenção suficiente às suas diferentes raízes e implicações.

Processo de trabalho e qualificação: da degradação às competências

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O debate acerca das modificações no mundo do trabalho tem, como um de seus pontos centrais,aquele que se refere ao papel desempenhado pelos trabalhadores no processo produtivo. Asmudanças em curso abriram uma série de indagações acerca dos impactos que trariam para asfunções operárias na produção. O livro Trabalho e Capital Monopolista (1977), de HarryBraverman, serviu, ao longo de muitos anos, como lente de análise para a compreensão dasinserções dos trabalhadores no processo produtivo. Ele partia da idéia de que o trabalho nos marcosdo sistema capitalista de produção era degradado. Haveria uma tendência inexorável no interior doprocesso de trabalho que levaria a uma desqualificação progressiva, como conseqüência doaprofundamento da divisão do trabalho no capitalismo. Este processo simplificaria ao máximo astarefas, exigindo-se maior especialização parcial; e menor, ou reduzida, qualificação global. Segundoeste autor, o modo de produção capitalista destrói, sistematicamente, todas as perícias à sua volta,dando nascimento a qualificações e ocupações que correspondem às suas necessidades. Toda fasedo processo de trabalho é divorciada do conhecimento e preparo especial, sendo reduzida a simplestrabalho. Nesse ínterim, as poucas pessoas para quem se reservam instrução e conhecimento, sãoisentas, tanto quanto possível, da obrigação de simples trabalho.Assim, a modernização tecnológica produziria, no processo de trabalho, dois setores polarizados emtermos de suas qualificações: de um lado, um pequeno setor de trabalhadores altamentequalificados; de outro, toda uma massa de trabalhadores desqualificados. Isso se agravaria com aintrodução de novas tecnologias que, ao reforçarem os delineamentos da divisão do trabalho,intensificariam a desqualificação da força de trabalho.No processo de trabalho capitalista, se quebraria a unidade natural do trabalho, separando-se aconcepção da execução. Frutos de tal separação, teríamos a desqualificação e o controle, marcandoa inserção dos trabalhadores no processo de produção capitalista.Ambos visariam a assegurar a subordinação real do trabalho, convertendo força de trabalho emtrabalho real. Além disso, para os trabalhadores, significariam a redução de seu grau deinterferência/resistência, individual ou coletiva, no processo. As gerências teriam aí um papeldestacado no sentido de controlar o trabalho e garantir que a lógica geral se efetivasse. O aumentodo controle gerencial se daria com a correlata diminuição da influência operária sobre os meios e anatureza da produção. O controle sobre o processo de trabalho passaria das mãos operárias para ados capitalistas, promovendo uma alienação cada vez maior dos trabalhadores frente ao processoprodutivo. Apesar da análise de Braverman referir-se a um momento no qual o mundo das técnicasde produção dava passos iniciais em termos de sua automação e informatização; nem por isso, suasidéias deixaram de vigorar no cenário atual de transformações, já que, para alguns autores, o mesmoaparato conceitual pode ser usado em ambos os cenários. Para esta perspectiva, as novas formasorganizacionais ou tecnológicas surgiriam exatamente da exigência de renovação das técnicas decontrole sobre o trabalho, em um contextono qual o trabalho parcelado e repetitivo entra em crise de eficiência.Devemos assinalar, contudo, que outras pesquisas indicam que as mudanças no mundo do trabalhotrazem consigo fenômenos que podem ser relativos a outros processos que não o dadesqualificação. É interessante notar que, em alguns casos, tais pesquisas foram realizadas porautores que antes defendiam a visão da polarização das qualificações. Para Horst Kern e MichaelSchumann (1984), por exemplo, a racionalização na produção capitalista teria atingido tal ponto queas gerências só conseguiriam aumentar a eficiência do trabalho se flexibilizassem os rígidoscontornos da divisão do trabalho. Eles vão questionar a idéia de que só pela redução radical dotrabalho vivo e/ou pela desqualificação, se conseguiria obter o máximo de eficiência.Esses mesmos autores chegaram a defender a idéia de que nem o mercado, nem o produto, noestágio de racionalização da indústria, poderiam se compatibilizar com o padrão de racionalização domodelo taylorista-fordista. O incremento da valorização do capital não poderia mais se dar sem umanova forma de conceber a utilização da mão-de-obra.Nesse quadro, a introdução de novos conceitos produtivos garantiria a tendência, diferentemente doparadigma anterior, para a formação e reprofissionalização da mão-de-obra industrial, bem comopara o esmaecimento da rígida divisão do trabalho. Assim, este novo conceito de produção,representaria uma ruptura com o taylorismo e o fordismo, possibilitando indagar se isso nãosignificaria o próprio fim da divisão do trabalho. Em muitos estudos, o chamado modelo japonês viroureferência como exemplo maior dos efeitos qualificadores do novo paradigma produtivo que estariasuplantando o fordismo. A forma de organização do trabalho, em algumas empresas japonesas,estaria fundada em um trabalho cooperativo, de equipe, com ausência de demarcação das tarefas a

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partir dos postos de trabalho sob prescrição individual. Dessa forma, teríamos, como efeito central, osurgimento da polivalência, com rotatividade das tarefas. O trabalhador dessas empresas japonesasseria, portanto, o exemplo da polivalência e multifuncionalidade, dando conta dos mais variadosaspectos da produção, tais como fabricação, manutenção, controle de qualidade e gestão daprodução. As qualificações exigidas neste novo modelo produtivo contrastariam com a lógica geraltaylorista, na medida em que se exigiria do trabalhador a capacidade de pensar, ter iniciativa edecidir.Na literatura pertinente, percebemos que uma larga parcela de pesquisadores, apesar dasdiferenças, tem aceitado o fato de que, neste novo quadro produtivo, a qualificação dos trabalhadoresseria uma exigência central para a reprodução do sistema, assim como a desqualificação o fora parao momento anterior.A exigência destas novas qualificações teria colocado em questão a própria maneira de se concebera noção de qualificação. Helena Hirata (1994) afirma já se reconhecer que os componentes implícitose não organizados da qualificação desempenham papel também importante junto aos componentesorganizados e explícitos, como educação escolar, formação técnica e educação profissional.Todo este processo levaria, em termos teóricos, a uma quase superação da tese da polarização dasqualificações, dando surgimento ao chamado modelo da competência. Este poderia ser definidocomo um novo modelo, pós-taylorista, de qualificação, no estágio de adoção de um novo modelo,pós-taylorista, de organização do trabalho e de gestão da produção. Nele, a qualificação real dostrabalhadores passa a constituir-se a partir de características, tais como o conjunto de competênciasimplementados no trabalho, articulando vários saberes, que seriam advindos de múltiplas esferas.As empresas passariam a utilizar e apropriar-se das aquisições individuais da formação, sobretudoescolar. O modelo da competência, que parece assumir espaço central no debate, ainda estámarcado por controvérsias. Para alguns autores, entre eles, Helena Hirata (1994), a noção decompetência estaria perdendo a multidimensionalidade contida na noção de qualificação e estariamarcada, política e ideologicamente, por sua origem (discurso empresarial), deixando de lado a idéiade relação social, essencial na definição do conceito de qualificação.Tendo tal indicação em vista, podemos identificar alguns problemas no tocante à inserção dostrabalhadores no processo produtivo gerenciado pela competência. Ela pode reduzir-se a formas quevisem a adequar, pura e simplesmente, a forma ção ao atendimento dos interesses e necessidadesdo capital, dando mais importância aos resultados do que ao seu processo de construção. Alémdisso, a inserção dos trabalhadores no processo pode se dar sob um ponto de vista individualizante.No quadro geral da ação e organização dos trabalhadores, isso pode representar um grandeproblema, já que acordos individualizados acabam por enfraquecer as práticas e ações coletivas,minando o poder sindical. O pressuposto do aumento progressivo dos requisitos de qualificação nonovo paradigma produtivo, associado ao aumento do desemprego, levou alguns analistas à criaçãodo conceito de empregabilidade. Em torno de tal noção, que toca também ao universo do mercado detrabalho, tem transcorrido parte do debate mais recente sobre a questão da qualificação versusdesqualificação.Empregabilidade poderia ser definida como a capacidade da mão-de-obra de se manter empregadaou encontrar novo emprego, quando demitida, em suma, tornar-se empregável.Na visão de Marcia Leite (1997), a noção de empregabilidade seria um deslocamento da idéia de queo desemprego se daria pelo descompasso entre a população economicamente ativa e a oferta detrabalho. O desemprego seria, para esta nova visão, o resultado das inadequações desta populaçãoàs exigências de qualificação do novo paradigma produtivo. A oferta de trabalho estaria garantidapara toda a população economicamente ativa, conquanto houvesse uma adaptação às demandas danova situação.Alguns argumentos, no entanto, identificam fragilidades na noção de empregabilidade. Um deles serefere ao fato de que, apesar de todos os investimentos feitos na qualificação profissional, não se temconseguido atenuar as tendências do desemprego. A idéia de que a educação, como uma panacéia,seria a saída para este quadro não tem sustentação ao observarmos o número de pessoascapacitadas, com terceiro grau de escolaridade, que tem encontrado dificuldades para encontraremprego. Além disso, o treinamento puro e simples da mão-de-obra não parece ter sido suficientepara aumentar as ofertas de trabalho. Mais delicada ainda é a ênfase na responsabilidade individualdo trabalhador por sua situação de desemprego. A partir do momento em que se coloca sobre osombros do desempregado a responsabilidade de tornar-se empregável, acaba-se por justificar sua

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exclusão do mercado de trabalho pelo fato de ser inadequado quanto às demandas de qualificaçãoexigidas.

O caso brasileiro

O Brasil não escapou, nos anos de 1990, da onda de reestruturação produtiva que já vinha ocorrendono mundo industrializado. Novas formas de gestão do trabalho, flexibilização, terceirização, entreoutras práticas, têm sido experimentadas pelas empresas brasileiras. É verdade que isso vemocorrendo de modo desigual, e se já é possível identificar alterações no processo produtivopropriamente dito, na maioria dos casos, podemos constatar que as novas estratégias empresariaistêm se preocupado mais em cortar custos, eliminando, em definitivo, postos de trabalho, comodemonstrado em José Ricardo Ramalho e Heloísa Martins (1994). A precarização do trabalho podeser considerada uma tendência que se afirma com a abertura de mercado e o aumento dacompetitividade, além de haver uma tendência à perda na qualidade do emprego e das relações detrabalho.Para além da quase eterna discussão teórica sobre a possibilidade de transferência de modelos deuma realidade à outra, percebemos que, na prática dos indivíduos, há uma busca incansável deexemplos ou experiências que orientem ações, mesmo que em contextos renovados. É sensível narealidade brasileira dos últimos anos, a tentativa por setores empresariais da implantação de novastécnicas de organização e gestão do trabalho e da produção. Ainda que visem ao chamado modelojaponês, acabam por contextualizá-lo em termos de interesses empresariais de curto prazo e/ou dasituação nacional, muitas vezes, usando isoladamente métodos e técnicas que antes, articulados,compunham o modelo.O contexto brasileiro não chega a ser o da crise clássica do fordismo em suas claras referências aomercado saturado. Aqui, o contexto das inovações tem relação direta com a tentativa de acesso aomercado mundial e seus padrões de preço e qualidade dos produtos e a abertura comercialatabalhoada promovida durante o governo de Fernando Collor. Este processo forçou àcompetitividade uma economia em grande parte, senão em sua totalidade, desenvolvida sob oguarda-chuva protecionista. A estreiteza de mercado interno impôs também sua contribuição a essecontexto, tendo em vista que, apesar de potencialmente amplo, ele é altamente restringido pelaconcentração de renda, que transforma o quantitativo em qualitativo, abrindo janelas, nichos deespaços de consumo e alta lucratividade, duramente disputadas. Na disputa de tais espaços,entretanto, as empresas estão precisando lidar, nem sempre deforma satisfatória, com problemas que lhes são tanto de ordem interna como externa. Haveria umescasso dinamismo tecnológico e um correlato atraso relativo da indústria brasileira. Conforme jáconstatado por Ruy de Quadros Carvalho (1994), isso poderia ser explicado por um padrão deindustrialização, marcado pela exploração predatória de mão-de-obra barata e de recursos naturaisabundantes e pela manutenção de um protecionismo generalizado e ilimitado no tempo.Deste quadro, resultariam a permanência de processos de trabalho convencionais com poucoespaço e aceitação da inovação e o uso predatório de uma força de trabalho pouco qualificada, quepor isso justificaria seu baixo salário. No que diz respeito à baixa qualificação e até mesmo à baixaescolaridade da força de trabalho no País, muitas vezes, utilizada como argumento justificativo dosobstáculos à modernização, devemos chamar a atenção para o fato de que as mesmas foramresultado, entre outros fatores, de uma demanda que vinha sendo formada de há muito, por umprocesso de recrutamento taylorista. Porém, apesar das limitações, a flexibilização vai ganhandoespaço no mundo da produção. Entretanto, isso se dá de forma bastante desigual entre setoresprodutivos e esferas de relação (empresa, inter-empresa, regulamentação do trabalho, etc.), comresultados também variados.De forma geral, se observarmos a tentativa de implementação da flexibilização via introduçãode métodos e técnicas do que já foi chamado de nova escola de gestão da produção (modelojaponês), perceberemos que ela tem enfrentado barreiras, que vão desde o interior fabril até aregulação geral, por parte da intervenção do Estado (ausência de infra-estrutura, política industrial,investimento em qualificação profissional, política salarial, etc.).Assim, , a flexibilização na produção foi marcada pela introdução de sistemas, tais como o just intime, kan-ban e os Círculos de Controle de Qualidade (CCQs), muitas vezes, isoladamente e comseu sentido transformado. O trabalho, como regra, continuou tendo prescrição individual, via carta deprocessos, roteiros de fabricação ou ordens orais. A polivalência pareceu ser antes multitarefa do

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mesmo teor que um desenvolvimento de múltiplas habilidades por uma força de trabalho altamentequalificada.A isso se agregou o fato de que as gerências apresentaram uma grande dificuldade em incorporar acompetência dos trabalhadores no processo, deixando explícita uma longa herança de autoritarismono interior fabril. Com isso, teríamos o desenvolvimento de um processo que adiciona a adoção denovas técnicas e novos métodos às relações de trabalho retrógradas, que tem por base os baixossalários e a falta de procedimentos que visem à estabilização da mão-de-obra.A flexibilização avançou muito, aproveitando-se da flexibilidade preexistente, na esfera dacontratação do trabalho. Podemos caracterizar este processo como o que John Humphrey (1994)chamou de flexibilidade defensiva, que deixa a organização da produção intocada e aumenta,sobremaneira, a flexibilidade dos contratos de trabalho. Nesse sentido, vemos pipocar terceirizaçãopor todos os lados e das mais variadas formas, intensificando, cada vez mais, o processo deprecarização do trabalho. O que está ocorrendo é uma verdadeira exportação de tensões, conflitos eda própria legislação trabalhista para fora das unidades produtivas, já que, mesmo alocados dentrode seu espaço, os terceirizados são trabalhadores de um terceiro. Isso se explicita mais quando asgrandes empresas transformam as casas de seus funcionários em minifábricas para familiares eamigos em geral, numa cruel reapropriação do trabalho doméstico, corroendo, entre outras, alegislação trabalhista e a representatividade sindical.Tudo isso, com um pano de fundo caracterizado pelo desemprego ampliado e de longa duração. Ostrabalhadores, na maior parte das vezes, têm tido pouco espaço para expressar suas posições eimprimir um pouco de suas demandas e perspectivas. Em um contexto como esse, a flexibilizaçãotem sido vista com reservas, quando não rechaçada pelo movimento sindical, que já traz, ao longo desua história, uma trajetória na qual, pelas circunstâncias, a pró-ação sempre cedeu lugar a propostasreativas e à resistência.Apenas em alguns casos e/ou em alguns setores de ponta, se verifica a intenção de se negociar aimplantação das inovações, dando-lhes, inclusive,novos sentidos. As diferentes forças atuantes no meio sindical de nosso país, conforme as suasorientações político-sindicais, têm tentado enfrentar todas essas questões, apresentando,obviamente, sugestões de caráter variado e, muitas vezes, antagônico. Não existe, até aqui, umaproposta que unifique as diversas posições no movimento sindical no sentido do enfrentamento dacrise. Elas possuem leituras diversas do quadro em curso e proposições de intervenção tambémdiferentes. Um dos pontos que tem sido recorrente, e polêmico, no debate no interior do movimentosindical, é a preocupação dos trabalhadores com a qualificação profissional e com a disputa deespaços nessa área, questão da qual esteve afastado durante muito tempo e que, apesar daslimitações, foi alçada novamente ao primeiro plano.

Buscando alternativas: os trabalhadores e suas organizações

Embora haja certo consenso na literatura acerca da radicalidade das mudanças em curso eque estas teriam duros efeitos sobre os sindicatos, existe pouco consenso se os impactos seriam tãoletais e terminais assim. Uns alegam que há uma crise mundial de sindicalização; outros, qualificandodiferentemente os números, apontam o relativismo de tal afirmação. Uns indicam que o legado dossindicatos como elemento central da representação dos interesses dos trabalhadores está acabado,dando lugar à outras formas identitárias e de representação mais parciais; outros, aceitando, emparte, tal indicação, continuam apontando a importância dos sindicatos na conquista e manutençãode direitos para a classe trabalhadora.É preciso lembrar que a luta dos trabalhadores através da história, se deu sempre de formabastante particular e especificada, dependendo, sobremodo, do contexto onde buscava atuar. Decerta maneira, a ação dos sindicatos experimentou constantes crises e instabilidades, como é dofundamento da existência de qualquer organização em busca do ajuste e adequação de suas formasde estruturação e intervenção. A partir disso, podemos dizer que, diante do quadro de mudanças quevarrem a sociedadecontemporânea, o sindicalismo não poderia ficar parado, como não está. Talvez não esteja sealterando tão rapidamente como gostaríamos, ou projetamos, mas não podemos dizer que outrasperspectivas não estejam se abrindo, apontando para diferentes possibilidades. Dentre essas, já sãosensíveis as articulações que têm sido promovidas pelos sindicatos dentro e fora de seu universo,buscando incorporar novos temas e demandas, ampliando, assim, suas esferas e formas de ação.

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Em um contexto que conjuga informalidade e desemprego, ou, para sermos mais diretos,precarização e aumento da exclusão, em uma lógica que visa a destituir os trabalhadores até mesmode seus mais elementares direitos, como sobreviveria a máquina de organização sindical sem quemuitas de suas premissas sejam alteradas, no sentido de agilizar sua capacidade de dar conta denovas questões, impedindo a corrosão de sua representatividade?A investigação sociológica sobre a crise do sindicato tem levado também à antecipação decenários, desdobramentos e tendências para o futuro.As alternativas propostas variam, basicamente, entre os cenários que enfatizam mudançasnas atividades sindicais mais tradicionais de representação coletiva e aquelas que sugerem umaampliação de atividades no sentido de incluir a representação de trabalhadores desempregados,precarizados ou excluídos do núcleo central da produção e até de um sindicalismo comunitário que,com outros movimentos sociais, voltar-se-ia para atender às necessidades dos que se encontramexcluídos do mundo do trabalho" (Larangeira, 1998,p.181-3). Isso, a nosso ver, resgataria, em muito,uma tradição que foi se enfraquecendo ao longo da história do movimento operário mundial, porconta de sua institucionalização. Tais indicações, baseando-se em experiências concretas, vãoapresentando as novas configurações e práticas que o sindicalismo vem assumindo.A idéia de um sindicalismo tipo movimento social, avançada por Moody (1997, p. 5), propõe umsindicalismo mais dinâmico, aberto às novas demandas, de escopo internacional e informado poruma política socialista renovada.Mais que uma estrutura ou uma área de abrangência e jurisdição, bases da organização dosindicalismo de corte industrial, essa idéia traria, em seu bojo, um tipo de orientação. Essesindicalismo seria democrático, como a melhor maneira de mobilizar os trabalhadores; militante, nosentido de que perceberia que um recuo em qualquer dos pontos de sua rede de lutas levaria tãosomente a mais recuos; lutaria pelo poder e pela organização nos locais de trabalho; seria político,embora agindo independentemente dos partidos; multiplicaria o alcance de seu .poder político esocial na articulação com outros sindicatos, organizações de bairro ou outros movimentos sociais.;finalmente, lutaria por todos os oprimidos, ampliando seu poder neste processo.Indo ainda mais à frente em termos experimentais alternativos, Osterman et al. (2001), em umaanálise menos politizada que a de Moody (1997), assinalam que o sindicalismo do futuro deveassumir uma feição de redes ampliadas. Para os autores, .trabalhadores e suas famílias necessitame merecem uma voz forte, independente e inovativa nos locais de trabalho, em suas comunidades enas formulações de políticas nacionais (Idem, p. 96). Este processo vai requerer, além da ampliaçãode seu escopo, as necessidades e os interesses dos mais variados setores ocupacionais.Mas, para que este tipo de sindicalismo se torne uma realidade, algumas pré-condições deverão serpreenchidas. Além da mudança nas estratégias de recrutamento e manutenção de membros, nosentido de que terão de recrutar e ficar com os indivíduos ao longo de toda sua trajetória profissional,ao invés de perdê-los assim que mudam ou perdem empregos; deve-se buscar uma modificação nasleis trabalhistas e na cultura gerencial, para que incorporem tal possibilidade, permitindo aossindicatos cumprirem seu novo papel e garantindo aos trabalhadores a liberdade de organização noslocais de trabalho, a mesma que, aliás, eles já possuem na sociedade civil.No caso brasileiro, as buscas de alternativas têm apontado também para diversas propostas edireções. Embora ainda se tenha dificuldade de avaliar com maior profundidade os resultados.desses esforços, já é possível assinalar o desenvolvimento de experiências múltiplas e variadas, nosdiversos setores que compõem o movimento sindical brasileiro. Mesmo que não sejam consensuais,elas servem de indicativo das movimentações no novo quadro, no qual a exclusão social e odesemprego assumem papel de destaque na lista de preocupações do sindicalismo de nosso país.A este respeito, podemos indicar, entre outras:A tentativa de articulação com outros movimentos sociais, como, por exemplo, os movimentos pelaterra, por moradia e outros relativos à cidadania, justiça etc.A busca da abertura para novos temas e demandas.Tem-se dado, por exemplo, maior ênfase em políticas concretas para as questões de gênero e raça,de cidadania, dentro e fora dos locais de trabalho, e para uma maior atenção à educação dostrabalhadores, a qual agora ultrapassa a formação político-sindical, passando também a discutir aeducação geral e profissional.A incorporação de práticas alternativas de organização e negociação. Isso pode ser visto

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através de práticas que visam a inserir os sindicatos na luta pelas definições de novasinstitucionalidades, como as Câmaras Setoriais e tentativas recentes de articulação de organização eações no âmbito regional (por exemplo, o Mercosul).Além disso, tem-se intentado sanar uma dificuldade já tradicional de nosso sindicalismo que dizrespeito à manutenção de vínculos e organização de trabalhadores desempregados.A tarefa para os sindicalistas não é das mais fáceis. Terão que, incorporando sua experiênciahistórica . o que constitui um acervo fundamental conseguir analisar e atuar corretamente naconjuntura presente, olhando o futuro de forma aberta e atenta às novas condições. Nesse sentido,muito de sua cultura político-sindical precisa ser colocada em questão. O sindicalismo, parasobreviver, em meio a tantas ameaças reais ou virtuais, necessita não só ampliar seu espectro comoutras demandas e preocupações, como também com formas diversas de luta e estruturação. Issopode lhe oferecer condições de ser mais propositivo e antecipador de cenários, os quais lutará paraconstruir ou obstar.Desse modo, o sindicalismo continuaria a desempenhar seu importante papel na luta pela conquistae manutenção dos direitos dos trabalhadores, levando em conta incluídos e excluídos do mundo dotrabalho. Por certo, não há muitas razões para sermos otimistas, mas nem por isso devemos nosseduzir por um pessimismo paralisante.Nessa nova era das desigualdades em que vivemos, os sindicatos não podem deixar de estarpresentes, a um só tempo, garantindo aos trabalhadores um lugar digno na sociedade e pleiteandoum mundo mais justo e igualitário.

Considerações finais

As mudanças no mundo do trabalho têm exigido novos requerimentos de processos e de seustrabalhadores. Como podemos ver em muitos casos, tais requerimentos endereçam suas demandasà qualificação e formação dos trabalhadores, o que, porém, é feito de forma individualizada,solicitando investimento e empenho pessoal do trabalhador. A própria noção de educação se vê sobpressão daquilo que seria educar para o trabalho.Não só se submete o que deveria ser uma ótica formativa mais plena e crítica a uma perspectivamais restrita de determinação da lógica de mercado, como também se impõe ao trabalhador anecessidade (e o risco) de buscar incansavelmente preencher requisitos definidos pela lógicaempresarial.Se a educação vem assumindo foro de centralidade nesse debate (e em termos de requerimentospráticos), é necessário que a sociedade como um todo se indague de que formação se está falando enecessitando. O fato de que, possivelmente, tenha ficado para trás a demanda taylorista, substituídapelo operário-boi, não pode, por si só, indicar que as demandas educacionais, feitas pelos novosmodelos produtivos sejam positivas para a sociedade em geral e para o trabalhador em particular.Como em todos os demais aspectos, é a sociedade e não o mercado, quem deve definir e guiar oseixos de desenvolvimento social e econômico. A perspectiva de diálogo entre as duas demandas, noqual a social deve ter primazia, parece ser um caminho fértil.Tendo em vista a centralidade atribuída ao trabalho na sociedade moderna, sua relevância emtermos da organização social e sua importante dimensão para o pensamento social, uma crise quetransforme esse campo tende a trazer modifica ções também em suas diversas dimensões. É o queestamos presenciando. Podemos perceber mudanças substanciais no mundo do trabalho, nasanálises sobre ele e mesmo nas formulações políticas dele oriundas ou a ele direcionadas.É provável que os trabalhadores e as suas instituições de representação nunca tenham passado poruma quadra tão adversa. Em um processo conjugado, não só se agravam as condições de vida etrabalho da maioria da população pelo mundo, como também está ameaçada a existência dosorganismos responsáveis pela ação que poderia servir de contraponto a esse processo. O trabalhovai sendo precarizado, a legislação de proteção a ele diminui, e suas formas de organizaçãoenfrentam sérios desafios.Algumas questões ainda estão em aberto.Como ficará esta sociedade que vinculou grande parcela de sua sociabilidade ao trabalho e agoraprescinde dele? Durante muito tempo, foi do trabalho que espraiaram movimentos universalizantesde direitos para toda a sociedade. Será ela, agora, prescindindo daqueles atores, capaz de formularnovos direitos inclusivos ou continuará acelerando o passo atual em direção a novas desigualdades e

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ao aumento da exclusão? Enfim, tais perguntas não parecem ter muitas respostas fáceis, seja nocampo da teoria, seja no campo da prática dos agentes sociais.

TEXTO Nº 3

A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO

A divisão social do trabalho é o modo como se distribui o trabalho nas diferentes sociedadesou estruturas sócio-econômicas e que surge quando grupos de produtores realizam atividadesespecíficas em consequência do avanço dum certo grau de desenvolvimento das forças produtivas ede organização interna das comunidades. Com a determinação de funções para as formas variadas emúltiplas do trabalho constituem-se grupos sociais que se diferenciam de acordo com a suaimplantação no processo de produção. Tais grupos correspondem ao estatuto que adquirem dentroda sociedade e ao trabalho que executam.

Numa fase inicial, a divisão do trabalho limitava-se a uma distribuição de tarefas entrehomens e mulheres ou entre adultos, anciãos ou crianças, em virtude da força física, dasnecessidades ou do acaso, sem que tal conduzisse ao aparecimento de grupos especializados depessoas com os seus próprios interesses ou características, não originando portanto diferenças denatureza social.

O desenvolvimento da agricultura originou profundas divisões sociais no trabalho. Osarroteamentos florestais, os grandes saneamentos de zonas pantanosas, a introdução de pesadosinstrumentos agrícolas, a lavra da terra com a ajuda de animais de tração, tornaram-se trabalhosdemasiado pesados que acentuaram uma separação de atividades entre homens e mulheres, com aconcomitante passagem do matriarcado ao patriarcado.

Esta mudança abriu uma brecha na organização gentílica e refletiu-se na posse dos bensmateriais. A família adquiriu a característica de uma unidade de produção e de transmissãohereditária de bens entretanto acumulados. A divisão social do trabalho entre os sexos tornou-semuito nítida. Os trabalhos domésticos foram-se transformando em ofícios especializados e asmulheres, sobretudo a partir da introdução do arado, terão deixado o trabalho agrícola mais pesado ededicado mais à horticultura, á recolha de frutos e plantas comestíveis, criação de animasdomésticos, à fiação, tecelagem e olaria, atividades concretizadas em áreas muito próximas dospróprios locais de residência. As mulheres ficaram assim excluídas duma participação ativa na vidasocial e política, situação que ocorreu em todas as civilizações. Não gozavam de qualquer dosprivilégios políticos conferidos pela cidadania, não participando em assembléias, na magistratura ouem qualquer posição social comparável. É claro que havia diferenças entre as mulheres escravas, asmulheres de homens livres ou as de membros de nível elevado da sociedade. Mas, mesmo nestescasos, em que as mulheres nada produziam e gozavam de condições materiais excelentes na suavida quotidiana, a sua existência desenrolava-se meramente num contexto dum sistema de vidapatriarcal.

As tribos que povoavam territórios dotados de ricas pastagens tendem a abandonar aagricultura e a dedicar-se à criação intensiva de animais, originando a formação de comunidadesnômades. À medida que se desenvolve a atividade agrária, destacam-se as tribos com atividadesexclusivamente pastoris. Esta separação contribuiu para elevar sensivelmente a produtividade dotrabalho e criou as premissas materiais para o aparecimento da propriedade privada.

A ocupação de todo o tempo de alguns indivíduos na atividade agrícola impede que sedediquem simultaneamente a produzir os instrumentos e os artefatos que lhes são necessários. Ouso de novos instrumentos de trabalho mais aperfeiçoados e complexos determina umaespecialização que contribuiu para o aparecimento dos artesãos, indivíduos dedicados

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exclusivamente ao seu fabrico e manutenção. Surgem assim artífices independentes que ocupam atotalidade do seu tempo na criação desses meios de produção, que depois terão de trocar porgêneros alimentícios. O desenvolvimento destas atividades especializadas culmina na separaçãoentre o artesanato e a agricultura, que conduziu à intensificação das trocas diretas internas e,posteriormente, das trocas indiretas através do mercado e, por fim, ao aparecimento da atividademercantil. Esta especialização do trabalho tende a alargar-se à pesca. O papel dosagricultores-pescadores tende a diminuir para aumentar o de profissionais voltados exclusivamentepara esta faina, quer na água doce, quer no mar.

À medida que aparecem profissões diversificadas, acontece que os indivíduos maisconcentrados num determinado tipo de atividade têm de recorrer à troca daquilo que produzem pelosobjetos que eles próprios não produzem, mas de que precisam a fim de satisfazer as suasnecessidades profissionais, além das individuais ou familiares. A intensificação do intercâmbio entreestes grupos de produtores especializados, a formação de excedentes e a entrega de tributos emdinheiro às classes com um estatuto dominante, ampliou a necessidade de produzir artigosdestinados à troca, dando lugar à produção com um propósito mercantil e à formação duma classede mercadores.

A divisão do trabalho desencadeada pelo incremento da atividade comercial, ligada àampliação das atividades transformadoras e da navegação, deslocou o centro dos interesseseconômicos do interior para o litoral. Ao lado da divisão entre agricultores, artesãos e mercadores,passou a existir uma outra, entre trabalhadores rurais e citadinos, que corresponde, total ouparcialmente, à oposição entre o campo e a cidade. Na estrutura urbana observa-se uma distinçãoentre sectores comerciais, administrativos, culturais, transportadores, artesanais e até agrícolas,fenômeno com menor relevância nos meios rurais.

A divisão social do trabalho manifesta-se também entre trabalho mental e material. Oprocesso geral alcançado a nível bastante elevado de separação entre o trabalho intelectual e otrabalho físico, levou ao surgimento duma elite que escapava ao quadro dos interesses dosdiferentes estados.

As distintas fases de desenvolvimento da divisão social do trabalho contribuíram para elevarsensivelmente a produtividade do trabalho e criar as premissas materiais para o aparecimento dapropriedade do solo, da apropriação dos meios e dos produtos do trabalho. Contribuíram igualmentepara tornar mais consistente a existência de sociedades baseadas na divisão entre classesdominantes e classes subordinadas.

Sob o capitalismo, a produção especializa-se e tem como objetivo exclusivo a obtenção delucro. A divisão social do trabalho desenvolve-se espontaneamente, com o avanço desigual dosdiferentes ramos de produção, acompanhado duma luta constante competitiva e duma desordem edissipação do trabalho social. Os limites das economias nacionais são ultrapassados pelodesenvolvimento do comércio internacional, circunstância que dá lugar a uma divisão internacional detrabalho.

MARX define a jornada de trabalho como sendo composta do trabalho necessário e dotrabalho excedente. Pelo primeiro, entendemos a quantidade de trabalho, considerado socialmentepara a produção do valor de uso, para suprir a necessidade de reprodução do trabalhador. Portrabalho excedente consideramos a quantidade de trabalho executada após e além da produção dotrabalho socialmente necessária.

A mais-valia absoluta é a produção excedente, de que o capitalista se apropria, gerada pelaextensão do trabalho além do socialmente necessário à reprodução da força de trabalho.

A mais-valia relativa é fruto direto da relação entre trabalho necessário e trabalhoexcedente; sendo tanto maior quanto mais o tempo dedicado à produção do excedente adentrar otempo necessário de trabalho. Ou seja, para a produção da mais-valia relativa é preciso que, através

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de novas técnicas produtivas, o trabalhador seja levado a produzir, em menos tempo, tudo aquilo queé necessário a repor sua força de trabalho sem que, mesmo assim, se reduza a jornada de trabalho.

Ao elevar a força produtiva do trabalho, o capitalista barateia a mercadoria e o trabalhador.

Para aumentar-se a produtividade é necessário alterar o instrumental ou o método detrabalho ou ambos ao mesmo tempo.

O ponto de partida da produção capitalista se dá ao se reunir, para atuação simultânea, umgrande número de trabalhadores, no mesmo local, para produzir a mesma espécie de mercadoriasob o comando do mesmo capitalista.

“Entende-se por cooperação a forma de trabalho em que muitos trabalhamjuntos, de acordo com um plano, no mesmo processo de produção ou emprocessos de produção diferentes mas conexos.”

“ O motivo que impele e o objetivo que determina o processo de produçãocapitalista é a maior expansão possível do próprio capital, isto é, a maiorprodução possível de mais-valia, portanto, a maior exploração possível daforça de trabalho.”

O capital lucra com a cooperação dos trabalhadores pois extrai maior produtividade do fato deestarem reunidos, coestimularem-se, dispenderem conjuntamente uma quantidade menor de materialdo que se estivessem separados, por estarem sob a supervisão do capitalista ou seus prepostos.

Após o primeiro passo da produção capitalista, que é reunir um grande número detrabalhadores num mesmo local, para desempenharem em conjunto determinada tarefa, dispondo deinstrumental determinado e sob a égide do capitalista (cooperação simples), o segundo passo édesfazer-se da direta e contínua supervisão por ele exercida e incumbi-la ao que se veio chamar dedirigentes, gerentes, mestres, inspetores, capatazes, feitores, etc.

Alguma tecnologia pode ser considerada imoral, levando em conta seusimpactos na sociedade? A tecnologia por si só afeta o modo como nos comunicamos e vivemos?

O aparecimento de uma nova tecnologia provoca numa sociedade mudanças profundas emtodas as esferas – psíquica, física e sócio-econômica. Esse fenômeno pode ser observado ao longode toda a história da humanidade, desde o Homo erectus ao Homo sapiens. Foi assim com ascivilizações orais, e posteriormente as escritas, com os telégrafos visuais, a invenção da imprensa, adifusão do livro e o surgimento dos jornais, a eletricidade trazendo evoluções como o telégrafo, otelefone, o rádio, atelevisão, os satélites, computadores e novas mídias, como a Internet, revelando a evolução dopensamento humano. Aliás, a evolução das tecnologias nada mais é que a evolução do pensarhumano, num esforço para criar formas de vencer obstáculos, sendo o tempo e o espaço asdificuldades mais prementes de serem vencidas.

"McLuhan observou freqüentemente que nas circunstâncias em que novas mídias sãocolocadas em funcionamento na sociedade, elas se espalham como vírus e provocam danosirrestritos, porque permanecem invisíveis” (McLuhan, Eric, 1995).

Nada mais apropriado para se observar este fato que a atual revolução contemporânea dascomunicações, que é apresentada por Pierre Lévy como “uma das dimensões de uma mutaçãoantropológica de grande amplitude” (Lévy, Pierre, 1996).

Surge aí um paradoxo: modernas tecnologias que foram criadas pelo homem para o domínioda natureza (vencendo distâncias e encurtando espaços de tempo, como já foi dito) tornam-se tãoabrangentes – sem fronteiras num mundo globalizado impossibilitam o controle da extensão do seu

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próprio uso pela humanidade. É o homem perdendo o controle do alcance de suas criações,idealizadas justamente para o controle, ou pelo menos, com possibilidade de controle quasecompleta.

Talvez seja essa uma das maiores angústias de cientistas, estudiosos ecomunicadores contemporâneos: a impotência de interagir, diante da força das tecnologiascontemporâneas em modificar o meio em que se infiltram, que tudo arrastam consigo, como umacorrenteza sem destino, deixando perplexos até mesmo os mais ferrenhos tecnófilos.

A impossibilidade de quantificar, numerar, classificar ou até mesmo conhecer profundamenteas conseqüências ou influências da inserção das tecnologias contemporâneas na sociedade torna-seum dilema na medida em que, sendo impossível esta classificação, não se pode prever o rumo quetomará a humanidade num futuro muito próximo. Não se trata de conhecer ou estudar as possíveistransformações coletivas mundiais para daqui a 100 anos, mas para amanhã, ou para hoje, porque,com a velocidade vertiginosa da evolução das tecnologias no mundo atual, o futuro passou a ser omomento presente. E nada mais angustiante para a humanidade que não saber o que estáacontecendo hoje e nem que caminhos tomará o mundo no próximo minuto. É como caminhar numtúnel escuro, sem luz indicando uma rota segura. (Esta imagem ilustra a angústia da ausência docontrole).

E o dilema aumenta na medida em que cresce a dependência das pessoas pela tecnologia. Onúmero de indivíduos que “entram” e se fascinam pelo universo de informações e virtualidade daInternet é cada vez maior. Seria, para essas pessoas, impossível imaginar a vida sem esse veículoque alia comunicação instantânea e entretenimento a baixo custo. A mesma afirmação pode-se fazerdos automóveis, aviões, telefones celulares, TV’s a cabo e outras mídias e tecnologiascontemporâneas.

“Quando consideram-se os novos meios de comunicação é importantecompreender que a transformação digital acontece dentro do contexto de fabricação social dasociedade”, afirma Talbot. Langdon Winner explica que a digitalização da sociedade não acontecesem conseqüências, e ele descreve esse processo como um vasto experimento corrente cujasramificações ninguém ainda compreendeu profundamente.

Determinismo Tecnológico é atualmente a teoria mais popular sobre a relação entretecnologia e sociedade. Ela tenta explicar fenômenos sociais e históricos de acordo com um fatorprincipal, que no caso é a tecnologia. O conceito de “determinismo tecnológico” foi criado pelosociólogo americano Thorstein Veblen (1857-1929) e cultivado e aperfeiçoado por Robert Ezra Park,da Universidade de Chicago. Em 1940, Park declarou que os dispositivos tecnológicos estavammodificando a estrutura e as funções da sociedade, noção que serviu de ponto de partida para umacorrente teórica em todos os aspectos inovadora.

Desde a Segunda Guerra Mundial, os cientistas têm considerado a tecnologia como umdilema moral e que seu uso pode causar conseqüências profundas na humanidade e no planeta. Ossociólogos vêem o problema através do aumento da complexidade e da velocidade das mudançasque a tecnologia está trazendo para a sociedade. Segundo eles, as mudanças tecnológicasultrapassam a habilidade das pessoas e das diversas sociedades para adaptar-se a elas. Paraoutras, ainda, a tecnologia é vista como uma força dominante na sociedade, colocando obstáculospara a liberdade humana.

De acordo com os deterministas tecnológicos, (como Marshall McLuhan, Harold Innis, NeilPostman, Jacques Ellul, Sigfried Giedion, Leslie White, Lynn White Jr. E Alvin Toffler), as tecnologias(particularmente as da comunicação ou mídias) são consideradas como a causa principal dasmudanças na sociedade, “e são vistas como a condição fundamental de sustentação do padrão daorganização social. Os deterministas tecnológicos interpretam a tecnologia como a base dasociedade no passado, presente e até mesmo no futuro. Novas tecnologias transformam a sociedadeem todos os níveis, inclusive institucional, social e individualmente. Os fatores humanos e sociais sãovistos como secundários” (Chandler, Daniel, 2000).

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Harold Innis, historiador e economista canadense, foi o pioneiro nessa nova corrente. O seuprimeiro trabalho no campo da comunicação surgiu na forma de um artigo publicado em 1940,analisando a importância da imprensa para o crescimento econômico. Mas o mais curioso no ensaiofoi a forma como Innis o concluiu. Conceito da dimensão do tempo”, acrescentando que o tempo “nãopode ser encarado como uma linha reta, mas como uma série de curvas dependentes em parte dosavanços tecnológicos” (citado por Santos, op. cit. 1992, p. 66). O artigo defendia que os jornais, aoexigir que as notícias fossem difundidas rapidamente, estavam alterando a concepção do tempo e doespaço.

Seguidor das idéias de Innis, McLuhan discorda com o comentário de alguns estudiosos quedizem que tecnologias são por si próprias neutras e que o uso que se faz delas é que é o pontoimportante para discussão. Ele sustenta que as máquinas alteram fundamentalmente as relaçõespessoais e interpessoais, não importando o uso que se faz delas. “O efeito das máquinastecnológicas foi reestruturar o trabalho humano e associação pela técnica da fragmentação”.McLuhan chama de “sonâmbulos” os que dizem que é o uso que se faz das tecnologias quedetermina o seu valor. Para ele, o poder transformador da mídia é a própria mídia. “A mensagem dequalquer meio ou tecnologia é a mudança de escala, ritmo ou padrão que introduz na vida humana”

(McLuhan, 1965). A mídia afeta a maneira como os indivíduos agem e interagem na recepçãode suas mensagens, modificando a organização social da vida diária. Segundo o autor canadense, ohomem é constantemente modificado pelas suas próprias invenções, mesmo que tais modificaçõessejam invisíveis. o que verdadeiramente interessa não é o que a rádio ou televisão dizem, mas sim ofato de existirem, trazendo transformações à sociedade. Portanto, para McLuhan, “o meio é amensagem.”

Jacques Ellul também insiste que a tecnologia carrega consigo seus próprios efeitos,independentemente de como é usada. Para Ellul, as tecnologias carregam consigo um número deconseqüências positivas e negativas, não importando como e para que são utilizadas. Não é apenasuma questão de intenções. O desenvolvimento tecnológico não é bom ou mal ou neutro. As pessoastornam-se condicionadas por seus sistemas tecnológicos. Independente de se acreditar que astecnologias são boas ou más, elas continuarão seu curso fazendo o que sempre fazem: subjugandoa humanidade.

Da mesma forma, ele define “A Síndrome de Frankenstein: o homem cria uma máquina paraum propósito particular e limitado. Mas assim que a máquina é construída, nós descobrimos, semprepara nossa surpresa – que ela tem idéias próprias; que ela é capaz não só de mudar nossos hábitosmas... de mudar nossos hábitos mentais”

Na defesa do controle humano sobre a tecnologia, Seymour Melman observa que, nostempos modernos, “não há uma única opção tecnológica. Há várias opções” (Melman, Seymour,1972). Uma tecnologia não cria ou se transforma por si própria. “A tecnologia realmente não podedeterminar a si mesma”. A socióloga Ruth Finnegan complementa dizendo que “o meio por si mesmonão pode dar origem a conseqüências sociais – ela deve ser usada” (Finnegan, Ruth, 1975). A meraexistência de uma tecnologia não leva inevitavelmente ao seu uso.

Raymond Williams argumenta que o Determinismo é um processo social real, mas nunca umcontrole supremo, uma previsão total de causas. Ao contrário, a realidade do Determinismo é oestabelecimento de limites e de exposição de forças pelas quais as práticas sociais sãoprofundamente afetadas, mas não necessariamente controladas.

Deve-se pensar no Determinismo não como uma força isolada, ou forças abstratas isoladas,mas como um processo em que reais fatores determinantes – a distribuição do poder ou do capital,herança social e física, relações entre grupos – estabelece limites e expõe forças, mas nem controlaou prediz totalmente o surgimento de atividades complexas com estes ou aqueles limites, e sob oucontra estas forças” (Williams, Raymond, 1990).

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Alguns estudiosos argumentam que, a dominação realmente existe no controle humano datecnologia, embora ela deva ser mais social que tecnológica, e as conseqüências do uso datecnologia não são sempre intencionais, mas que o homem ainda deve ter considerável liberdade deescolha no uso e controle da tecnologia. Num forte contraste com o Determinismo de MarshallMcLuhan, que afirma que “o meio molda e controla o grau e forma das ações e associaçõeshumanas”, o sociólogo Stuart Hall afirma que “os meios reproduzem a estrutura de dominação esubordinação que caracteriza o sistema social como um todo (Hall, Stuart, in Finnegan, 1975).

Para esta corrente de idéias, alguns estudiosos usam o termo “superdeterminação”, quesignifica que um fenômeno pode ser atribuído a vários fatores determinantes.

Considerações finais

Hoje, quase quatro décadas depois da afirmação “o meio é a mensagem” (1964), deMcLuhan , vive-se a época da comunicação mediada por computador. Muito se fala sobre o impactoconcreto que a tecnologia causa no cotidiano. É perceber, aceitando as idéias do estudiosocanadense, como o determinismo tecnológico atingiu o mundo contemporâneo, e perceber asmudanças no seu uso, tentando assim entender as transformações sociais ocorridas. Qualquermudança tecnológica produz alguma transformação social. E algumas dessas transformações sãomuito difundidas. Até mesmo fortes críticos do Determinismo Tecnológico, como a socióloga RuthFinnegan, são capazes de aceitar que uma tecnologia pode ser vista como causadora de grandesconseqüências na sociedade.

Tecnologia é um dos numerosos fatores das mudanças sociais e docomportamento humano. Criticar o Determinismo Tecnológico não é descartar a importância do fatode que aspectos tecnológicos de diferentes tecnologias de comunicação possibilitam diferentes tiposde uso, ainda que as aplicações potenciais das tecnologias não sejam necessariamente realizadas.Logicamente, numa sociedade onde o grau de interação com outros fatores está evidentementepresente, é difícil justificar uma insistência na tecnologia ou mídia como o fator fundamental dastransformações sociais.

Embora concluindo que as evidências parecem não sustentar a hipótese radical doDeterminismo Tecnológico, a socióloga Ruth Finnegan sugere que “há algo para ser dito sobre istocomo um caminho para clarear a realidade para nós. No passado, cientistas sociais (com exceção,talvez, de economistas, historiadores e geógrafos) tenderam a negligenciar o significado datecnologia e da comunicação. Talvez os sociólogos – de quem era esperado que estudassem sobrecomunicação – tenderam, no passado, a adotar uma linha anti-tecnológica; eles preferiram seguirDurkheim, um dos fundadores da disciplina da sociologia que enfatiza ‘o social’ como algo autônomoe originalmente independente de todos os fatores mecânicos como a tecnologia.

Nesta atmosfera, é estimulante ter uma contra-visão eficaz. A hipótese radical doDeterminismo Tecnológico é talvez extremista – mas o seu radicalismo ajuda a nos tirar da nossacomplacência e dirige nossa atenção para um conjunto de fatos e possíveis conexões causaispreviamente negligenciadas. Como um modo sugestivo de olhar para o desenvolvimento social odeterminismo deve ter seu valor, a pesar do seu fatalismo inadequado”

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VALORES E ATITUDES

Quando não se pode modificar o destino, pode-se tomar uma atitude positiva

diante dele. É o que se chama de valor de atitude. A ação resulta da atitude. Sempre

podemos escolher nossa atitude interior conforme as circunstâncias. A personalidade do

ser humano é conseqüência dessa atitude interior. Quantas pessoas topam com aquilo

que não podem mudar e se derrubam! Se eu não posso mudar as coisas, posso mudar

minha atitude para com elas. Mas importante que o que nos sucede é o modo como

vemos essa situação.

O homem tem que aprender a “aceitar seu destino” e a “lutar contra ele”, contra

as adversidades, a desafiar-se. Aceitar não significa estar de acordo com o erro, com a

injustiça, etc.; pelo contrário, há de lutar-se contra tudo isso. Quantos, por exemplo,

jogam por terra anos e anos felizes de obediência religiosa, por não saberem sair

fortalecidos de uma crise, de um deslize, por se esquecerem do amor e do perdão e

fazerem prevalecer o seu próprio interesse!

A conduta humana não é predeterminada pelas condições, se não que depende

da opção , do esforço, da responsabilidade do próprio homem. Uma senhora fez esta

queixa: Não aceitava o fracasso, não aceitava também a si mesma como era, não

aceitava os demais como são e gostaria que as coisas fossem diferentes. Tinha três

filhos e queria que estudassem num bom Colégio, e também gostaria de construir uma

casa de campo, para passar ali as férias, mas como lhe faltasse o dinheiro necessário,

não se conformava. Esta atitude da própria rebeldia contra a realidade causava-lhe

depressão e vazio interior. Mas eu lhe disse que se não pudesse evitar esses

problemas, ela teria que vencer as resistências de seu egocentrismo: de seu egoísmo,

amor próprio mal orientado, orgulho, individualismo…, que lhe dificultava o amor a si

mesma, e aceitar-se totalmente, a aceitar os demais como são e a aceitar a realidade na

ordem objetiva de valores. Venceria essas resistências e superaria o conflito quando,

com uma grande humildade (a que é indispensável), tivesse “a coragem de enfrentar a si

mesma”: reconhecendo a existência do problema, admitindo que a culpa do mesmo

poderia ser sua, aceitando as próprias limitações (todas elas) e as limitações dos outros,

aceitando, não o erro, mas a quem erra, tentando reconhecer os valores dos outros.

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A possibilidade que tem qualquer pessoa em qualquer situação, por mais

desesperada que seja, de transformar sua vida em algo positivo por suas próprias

forças, por sua vontade decidida. Temos de posicionar-nos livre e responsavelmente

diante do conflito ou do destino. Porque somos condicionados, às vezes há dificuldades

no exercício da liberdade com responsabilidade, em tomar as devidas decisões ou

atitudes. Mas os condicionamentos não podem determinar-nos, ainda que muitos

pensem o contrário.

Não sabemos aguentar, nem aceitar; somos contra tudo e contra todos, reagimos

agressivamente, quando temos de ceder nas mínimas coisas. É um dom inapreciável ter

de agüentar, sofrer um destino e não ser derrotado por ele, poder aceitar o que se tem

de aceitar. Falta-nos coragem para uma forte oposição às nossas debilidades, para

lutarmos contra nossa insegurança, para combatermos a ambição: para superarmo-nos

internamente. Para tomar posição e realizar valores e atitudes, a valoração espiritual é

muito importante, pois nos faz enfrentar a vida de outra maneira, a aceitá-la melhor,

valorar os outros… Como Jesus Cristo que entregou-se à dor e ao sofrimento,

oferecendo sua vida, sem condições. Sua entrega total é a renúncia a toda e qualquer

atitude egocêntrica. Outro exemplo que nos pode confirmar não ser a conduta humana

predeterminada por condicionamentos, senão que depende de livre opção, do esforço e

da responsabilidade, é o seguinte:

Um senhor que se sentia inseguro, e era inconstante naquilo que fazia, inclusive

na parte afetiva; nenhum negócio lhe saia bem, e quando começava um trabalho,

desistia sempre, porque encontrava um certo bloqueio que o impedia de continuar

trabalhando, preocupava-se muito, sentia-se com medo, sem forças para trabalhar e era

muito negativo. Eu lhe respondi que essa insegurança poderia ser devida a algum

fracasso profissional ou afetivo, ao haver sido pouco considerado pelos outros ou muito

controlado pelos pais, e que não sabia o que queria, o que acreditava mais na sua

incapacidade que nas possibilidades de sua existência. Era necessário tomar uma

postura: convencer-se de que precisava lutar contra sua insegurança; saber o que

queria para não entrar em conflito com as diversas opções; valorar-se mais; crer na sua

capacidade; confiar em si mesmo, pois ao não valorar-se e não confiar ou crer em si

estava com medo, se preocupava e tinha um excesso de auto reflexão, o que lhe

causava cansaço mental, deixando-o sem coragem para enfrentar obstáculos. Ademais

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necessitava dar a cada coisa seu tempo. Pois, o tempo do trabalho , é para pensar e

ocupar-se do trabalho. O tempo de casa é para pensar e ocupar-se da família, não do

trabalho, e assim sucessivamente. Não misturemos as coisas. Mantenhamo-nos a certa

distância emocional dos problemas, não nos envolvemos emocionalmente com eles.

Resolvamo-los, na hora certa, num horário marcado para isso; entretanto, não

esqueçamo-los ou deixemo-los de lado:

Às vezes, a preocupação exagerada, a hiper-reflexão ou o excesso de reflexão

sobre si mesmo, além de causar cansaço mental e de tirar, por isso, a coragem para

enfrentar os conflitos, faz com que se “somatizam” os problemas, sentindo-se bater forte

o coração, dores no corpo, formigamento, calafrios, tremores nas mãos…

O confiar e o crer em nós mesmos ajudará também nossa valoração espiritual,

pois sabemos que, como somos à “semelhança e imagem” de Deus, temos dentro de

nós poder para mudar nossa vida: liberdade, vontade, capacidade de eleger atitudes e

tomar decisões. Se a tudo isto somarmos uns minutos de relaxamento lento e profundo

ao oxigenar-se o cérebro, eliminaremos as tensões, teremos mais capacidade para

confiar em nós mesmos; para vermos tudo com mais claridade e, por conseguinte, para

podermos tomar atitudes e decisões mais corretas. Igualmente isto nos ajudará muito a

tomarmos decisões, atitudes durante o relaxamento; de forma convincente, damos a

nosso inconsciente sugestões como esta: “Eu tenho capacidade para fazer muitas

coisas, quero e irei realizá-las”.

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O QUE É A VISÃO BIOPSICOSSOCIAL?

O conceito biopsicossocial tem origem na

MEDICINA PSICOSSOMÁTICA.

Tal conceito aponta uma visão holística de

homem que antes era fragmentado pelas diferentes

ciências.

Essa abordagem divide o ser humano em três potenciais ou camadas:

Biológica: são as características físicas do indivíduo, herdadas dos pais ou

adquiridas ao longo da vida. Temos como exemplo o METABOLISMO, a

resistência física, a vulnerabilidade dos órgãos e sistemas.

Psicológica: são os processos afetivos, emocionais e racionais que formam a

personalidade e o modo do indivíduo de posicionar-se diante das pessoas e das

circunstâncias.

Social: são os valores, crenças, papéis desempenhados nos grupos de que o

indivíduo participa, bem como o meio ambiente e a localização geográfica, tendo

em vista seu contexto cultural.

Considerados esses três potenciais, podemos afirmar que toda pessoa é

considerada um complexo biopsicossocial. Coexistindo simultaneamente, um ou outro

potencial pode se sobressair conforme respostas às condições de vida que o indivíduo

experimenta.

Interessante notar que, por essa perspectiva, o corpo é a expressão das

experiências vividas e desejadas. Os aspectos psicológicos e sociais afetam diretamente

o aspecto biológico, o corpo. Então, a preocupação com a satisfação, com as

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necessidades e, por conseguinte, com o bem-estar entra em voga como sendo um novo

paradigma para as organizações.

As empresas passam a se preocupar com a qualidade de vida de seus

trabalhadores, pois sabem que há influências diretas no trabalho do empregado.

VERTENTE DESCRIÇÃO MANIFESTAÇÃO

BiológicaBiótipo

CorpoGenéticaDesenvolvimento fisiológico

Repouso

PsicológicaResistência a frustrações

MentePersonalidadeConhecimento

Vontade (garra)

SocialPrimeiros grupos de referência (família, escola,

amigos) AmbienteComunidade culturalÁreas de interesse

Turbulência e conflitos*Esquema – Constituição da visão biopsicossocial

Relacionada ao mundo do trabalho, a visão integrada corpo-mente-ambiente

norteia os padrões de relações de trabalho em todas as suas dimensões, características

e abordagens estudadas até o momento.

Essa perspectiva pensada no plano organizacional exige do técnico em

segurança no trabalho uma atitude ética no sentido de identificar, neutralizar ou controlar

os riscos ocupacionais no ambiente físico.

Dito isso, temos de pensar que, apesar de certas organizações primarem pela

produtividade e pelo alcance das metas organizacionais, as empresas também são

constituídas por processos e objetivos pessoais (dos trabalhadores que fazem parte

dela) e, portanto, as organizações devem proporcionar bem-estar, satisfação. Por outro

lado, caso desconsiderem o trabalhador e suas subjetividades, as empresas acabam

proporcionando restrições, provocando certas violências e insatisfações.

Procuraremos estudar agora uma noção moderna do acidente do trabalho no seu

contexto histórico, fornecido pelo movimento de sociedade pré-industrial a uma

sociedade industrial. Esta noção teoriza as causas dos acidentes em termos de

condições inseguras e de atos falhos, e está na base das abordagens que dominam a

prevenção de acidentes hoje. Esta noção está agora entrando em colapso.

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Delinea-se uma teoria sociopsicológica da produção dos acidentes do trabalho na

qual os acidentes são concebidos como produtos de relações sociais e psicológicas do

trabalho. Postula-se que uma perspectiva sociopsicológica tem um papel a

desempenhar na construção de novas práticas de prevenção.

Os atuais métodos de análise dos acidentes do trabalho e as tentativas de

reduzi-los não têm sido muito eficazes na opinião de pesquisadores importantes. Isso

tem levado à sensação generalizada de que “na pesquisa dos acidentes do trabalho, são

necessárias teorias radicalmente novas”. O problema é sério. N década de 1980, mais

de dez milhões de brasileiros tiveram algum tipo de acidente do trabalho, duzentos e

sessenta mil vítimas foram condenadas a invalidez permanente e quarenta mil

encontraram a morte. Isto é o que contam os dados oficiais, muito pouco confiáveis.

Mas os trabalhadores não são os únicos ameaçados pelos acidentes produzidos

pela indústria moderna. Em casos com Chernobyl, Bhopal, Goiânia, etc. grandes

populações civis, futuras gerações e o meio ambiente ficaram ameaçados. E os recursos

gastos em internações relacionadas aos acidentes são enormes: legislação, fiscalização

pelo governo, engenharia de segurança, medicina do trabalho, ergonomia, indenizações

das vítimas. Por toda parte, estão sendo levantadas dúvidas quanto a eficácia de muitas

dessas intervenções. Com isso, o acidente do trabalho está começando a ser percebido

de uma forma totalmente nova, que rompe com a tradição herdada da sociedade

industrial.

Na Europa pré-industrial, os acidentes foram produzidos e as suas conseqüências

tratadas essencialmente na esfera privada. Como outros tipos de infortúnio, o acidente

parece ter sido identificado como punição pelo pecado – essa era uma das noções de

“causa” mais comuns. As consequências no que diz respeito à ajuda prestada às vítimas

e suas famílias foram tratadas pelo sistema corporativo e pelas redes de apoio aos

familiares. O advento do sistema industrial foi acompanhado pelo desmoronamento

desse antigo sistema de processamento das consequências dos acidentes.

A industrialização trouxe também o declínio de um mundo de produção em

pequena escala dominado, de um lado, pelo trabalho artesanal e, de outro, pelo uso

intensivo da força física humana no trabalho. Surgiram locais de trabalho em grande

escala, novas formas de trabalho industrial e o recurso crescente à energia mecânica,

ao vapor e, mais tarde, a energia elétrica. Alguns fatores se combinaram para

transformar não só a produção dos acidentes, mas também o tratamento das suas

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consequências numa questão de ordem pública. Com base em pesquisas sobre a

Inglaterra – berço da civilização industrial – esses fatores podem ser parcialmente

resumidos como: mudança no valor atribuído à vida, crescimento da alfabetização,

desenvolvimento da imprensa, ação de movimentos sociais, conversão de movimentos

sociais em forças políticas, desenvolvimento de uma burocracia baseada em princípios

de uma autoridade legal – racional, aliança entre a ciência e a indústria, ação do

movimento sindical, ampliação do direito de voto, indignação do público com o sistema

industrial e com os grandes danos produzidos por ele. Um impulso a estas forças foi

dado no começo do século XX pelos grandes desastres nas minas de carvão, em vários

países com muitas mortes de trabalhadores.

O problema político dos acidentes do trabalho passa a ser resolvido pela

construção de um importante aparelho estatal com estruturas administrativas e legais,

que divide as atividades industriais em áreas definidas em termos burocráticos e muitas

vezes sobrepostos, como: carvão, construção civil, tecelagem, higiene industrial e, em

tempos mais recentes, petroquímica e nuclear. Com a legislação da segurança do

trabalho, são fixadas normas e contratam-se funcionários para fiscalizar o seu

cumprimento; e as infrações são levadas à justiça. O estado desenvolve e aplica

medidas legislativas que garantem indenizações calculadas de uma maneira

mecanicista às vítimas e, em casos específicos, pode permitir que as reclamações por

danos suplementares sejam feitas, levadas a tribunais e julgadas. Assim, a intervenção

do Estado fornece um mercado para funcionários e profissionais. Os empregadores

tomam suas próprias medidas e, com frequência, de modo independente de requisitos

legais. Assim geram um mercado para técnicos e profissionais: médicos, enfermeiros,

psicólogos, engenheiros e técnicos de segurança e e outras categorias especializadas

que intervêm no local de trabalho. Nas universidades, criam-se e desenvolvem-se

sub-disciplinas e, mais tarde, disciplinas especializadas para lidar com os acidentes.

São várias as mudanças ocorridas nessas instituições ao longo dos primeiros dois

terços desse século. Elas crescem muito, expandem seu raio de ação e os focos de

suas intervenções tornam-se cada vez mais variados. As instituições desenvolvidas

nesses países foram, em seguida “exportadas” para os países em desenvolvimento.

Pode-se dizer que, em geral, nos países industrializados mais avançados, um clima de

paz e harmonia prevaleceu nessa questão dos acidentes do final da I guerra mundial até

o final da década de 1970. Essa é uma medida do êxito político da estrutura institucional

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construída. Todavia, o êxito das instituições de prevenção no cumprimento de sua

finalidade social declarada é menos evidente a partir da década de 1950 até o final da

década de 1960, os índices de acidentes cresceram em alguns desses países.

Neste último terço do século XX, são constatadas práticas baseadas no século IX

e práticas emergentes que buscam a dominação no século XXI. Elas estão lado a lado

e, frequentemente, em conflito umas com as outras.

É dentro desse contexto que se situa o esforço de se criar uma sociopsicologia da

produção dos acidentes do trabalho. É um esforço que se apoia em conhecimentos

gerados pelas disciplinas que, por meio de legislação e de práticas adotadas pelas

empresas, dominam a prevenção dos acidentes – essencialmente a engenharia (que

teoriza que acidentes são produzidos por “condições inseguras”) e a psicologia (que

resgatando a noção antiga do pecado, teoriza que acidentes são produzidos por “atos

falhos”). A abordagem sociológica opõe-se a essas perspectivas. Os acidentes não são

produzidos nem por “atos falhos” nem por “condições inseguras”, mas por relações

sociais do trabalho.

A relação social do trabalho é a maneira pela qual é gerenciado o relacionamento

entre uma pessoa e seu trabalho. Numa teorização que retoma diversas categorias da

sociologia clássica as relações do trabalho podem ser teorizadas como existindo em três

níveis dentro de uma organização: rendimento, comando e organização.

A TRANSFORMAÇÃO DO TRABALHO E DO ACIDENTE

Nos países desenvolvidos, o surgimento de acidentes associados a certos

processos “intensivos em conhecimentos” e que podem ser rotulados de

“pós-industriais” (p. ex. energia nuclear, determinados produtos químicos perigosos,

engenharia genética) criam uma nova ameaça que grandes acidentes representam pra

as populações civis, gerações futuras e para o sistema ecológico. Este é um fator que, a

exemplo do que aconteceu com o universo dos acidentes no desenrolar da sociedade

industrial, leva a um novo contexto. O crescimento do movimento ecológico, sua

conversão em força política e a cobrança crescente no sentido de que profissionais ajam

em função de princípios éticos ao invés de agirem de acordo com os interesses de seus

patrões são fragmentos desse contexto que estão forçando uma transformação na

maneira pela qual é encarado o acidente. O fato de que os custos dos grandes

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acidentes recaem sobre a sociedade como um todo é outro fator que está influenciando

as mudanças.

É esta transformação – e também o reconhecimento de que os custos dos

acidentes do trabalho de todos os tipos estão estimados em 4% do PNB nos países

avançados ( a mesma proporção paga pelo Brasil em juros para os seus credores

externos) – que é em parte responsável pelos rápidos avanços que se observam em

diversos campos do conhecimento. Assim, por exemplo, para compreender a segurança

em centrais nucleares, a engenharia está sendo obrigada a buscar conhecimento de

natureza sociopsicológica.

A noção dos acidentes, de sua prevenção e indenização é produto de uma

complexa articulação de processos sociais e psicológicos. O colapso dessa mesma

noção é igualmente complexo. Uma certeza: forças sociais já estão operando para fazer

com que o futuro dos acidentes seja muito diferentes do seu passado.

Atualmente, pode-se detectar o esfacelamento das bases do tratamento dos

acidentes desenvolvidos ao longo do século. Nos países avançados, observa-se que as

certezas que as disciplinas e profissões ligadas a segurança tiveram no passado

tornam-se mais tênues. É possível sentir as repercussões disso, no Brasil, em

congressos e revistas especializadas. E, mesmo na ausência de estudos precisos

pode-se levantar a hipótese de que o perfil das relações sociais de trabalho é de

natureza diferente daquele que produz acidentes em países do primeiro mundo. Quando

o salário for suficiente para o sustento adequado, os trabalhadores vão ficar menos

sujeitos ao trabalho extra. Onde os sindicatos forem fortes o suficiente para exigir

segurança no trabalho, a relação do autoritarismo produzirá menos acidentes. E onde o

empresariado relacionar a prevenção dos acidentes à produtividade da empresa

pode-se esperar menos organização e menos falta de qualificação. É preciso

desenvolver uma reflexão baseada em estudos que procure captar a realidade da

produção social dos acidentes no Brasil.

A Sociopsicologia do trabalho – disciplina que tem contribuído tanto para

esclarecer dinâmicas do funcionamento de organizações, produtividade, qualidade, uso

de poder e, para fundar noções modernas da gerência de recursos humanos e de

relações industriais começa agora voltar suas atenções para a questão dos acidentes do

trabalho. Pode apostar: aceitação ampla de uma noção simples – a de que os acidentes

são produzidos por relações sociais de trabalho e são prevenidos por mudanças nessas

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 61

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relações – trará uma contribuição muito importante para o tratamento desse fenômeno

trágico.

A VISÃO BIOPSICOSSOCIAL PENSANDO A ORGANIZAÇÃO

Se o homem-trabalhador deve ser considerado como parte e processo do mundo

do trabalho, qual a visão que se precisa ter sobre esse agente?

Enquanto pessoas envolvidas no processo de gestão, planejamento técnico da

Segurança do Trabalho, devemos considerar o trabalhador como ele é, atentando para

suas características, valores, personalidade, motivações e objetivos? Ou devemos

referenciá-lo considerando-o como um instrumento que possui capacidades, destrezas,

conhecimentos e habilidades necessárias à tarefa que irá executar?

De certo que, se atentarmos para os objetivos organizacionais, o homem será

visto com ênfase nas suas características instrumentais, objetivas. Essa visão

secundariza ou até mesmo desconsidera as emoções, os afetos e as intervenções

humanas, mesmo porque ele é equiparado a uma máquina, e qualquer expressão

sentimental pode ser considerada uma disfunção.

No entanto, nas interações sociais estabelecidas dentro de uma organização,

algumas situações apontam para questões do corpo humano e grandes cargas

emocionais. As interações sociais no ambiente de trabalho expressam valores e

representações organizacionais que vão além do homem como mero

instrumento/ferramenta de trabalho.

Vejamos os exemplos:

Caso 1 – “Em uma sala de serviços administrativos, com mais

ou menos 30 empregados, constantemente um ou outro

indivíduo se queixava de tontura, mal-estar e dor de cabeça.

Quando isso ocorria após uma discussão com outros colegas

ou com a chefia, a interação social encontrada em função da

queixa era: isso é psicológico (...).”

*Discussões podem resultar em sintomas corporais de fato, como tontura e dor de cabeça.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 62

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MenteAmbiente

Caso 2 – “Indivíduos que estavam passando por um período de maior dificuldade

em sua vida familiar, profissional ou financeira apresentavam queixas de agravamento

de sintomas físicos já vivenciados anteriormente;nesse caso, com destaque para alergia

e gastrite. A verbalização ou a expressão de sofrimento acabava chamando a atenção

de seus colegas de trabalho, fazendo com que a autoestima do trabalhador doente se

elevasse, além de receber autorização formal e informal para (...) [encaminhar-se] ao

serviço médico da empresa.”

*Problemas financeiros, por exemplo, podem intensificar os sintomas de doenças.

Considerando que os “Transtornos Mentais” são a maior causa de afastamento do

trabalho, superado apenas pelos acidentes em geral e os casos de LER/DORT; nesse

contexto vale ressaltar as alterações de humor, de comportamento e do sono, bem

como, a Síndrome Burn Out, a dependência química e o Bullyng, muito comum nas

escolas. Vamos analisar agora as principais psicopatologias relacionadas ao trabalho,

tomando por base o trabalho da Dra. Edith Seligmann Silva, a seguir:

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 63

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PSICOPATOLOGIAS NO TRABALHO: ASPECTOS CONTEMPORÂNEOS

Edith Seligmann-SilvaDoutora em Medicina Preventiva (FMUSP), Prof. Adjunto do Depto. Fundamentos

Sociais e Jurídicos da Administração, Escola de Administração de Empresas de SãoPaulo/Fundação Getúlio Vargas (EAESP-FGV).

1 INTRODUÇÃO

Nesta exposição, procuraremos apresentar algumas considerações sobre a Psicopatologia noTrabalho e alguns dos desafios que tal campo de estudos e de práticas encontra no mundocontemporâneo. Na sequência, pretendemos mostrar as peculiaridades em que se manifestam,na atualidade, alguns tipos de transtorno mental relacionados ao trabalho.Cabe esclarecer que temos adotado a expressão Psicopatologia no Trabalho (PPT) depreferência à Psicopatologia do Trabalho por considerar que quem sofre e/ou adoece é o serhumano que trabalha.Por mais que, metaforicamente, seja possível falar de um “trabalho mórbido”.Numa perspectiva histórica vemos que o conhecimento da relação entre trabalho e alterações daSaúde Mental é bastante antigo. O reconhecimento da existência de uma psicopatologia notrabalho, igualmente, desde os anos 20 do século passado já mereceu publicações, seja noâmbito do que era denominado Psiquiatria Ocupacional ou, um pouco depois, já sob adesignação de Psicopatologia do Trabalho.Nos estudos de psicopatologia, historicamente, sempre houve obscurecimento do papel que édesempenhado, na gênese de transtornos mentais, pelas condições de trabalho e por certosmodos de obter incremento de produtividade, conforme foi bem analisado por Doray já há maisde 30 anos (DORAY, 1972).Giovanni Jervis, importante integrante da Psiquiatria Democrática italiana, que já nos anos 60realizou pesquisas e ações de saúde coletiva voltados para os trabalhadores fabris, muitocriticou o reducionismo predominante na teorização e na prática psiquiátricas. É o queexemplifica o seguinte trecho de seu livro “Psiquiatria Y Sociedad (JERVIS, 1981): “Se ostranstornos psíquicos, tal e como concretamente se manifestam na vida do indivíduo, sãosobretudo o reflexo pessoal parcial de algumas contradições sociais, se também é certo que atéagora a psiquiatria tentou, ocultar este fato (esforçando-se por apresentar o sofrimento individualcomo um fato privado, contingente e vergonhoso) então é hoje necessário que da contradiçãoindividual e particular passemos à tomada de consciência do dano coletivo, e a partir deste, adas condições sociais que o geraram.” (p. 68).Vale ainda outro esclarecimento inicial: a noção de sofrimento mental não corresponde à dedoença nem à do transtorno mental caracterizado pela nosologia oficial. Existem mecanismospsicológicos de defesa que são acionados nas situações de vida – e portanto, também nas detrabalho – para evitar a ansiedade, o medo, a depressão, as vivências de desproteção ou desentir-se ameaçado. Anna Freud estudou estes mecanismos (ANNA FREUD, 1968). Podemosexemplificar aqui a repressão (ou recalque) como mecanismo de defesa pelo qual sãoexcluídos da consciência os pensamentos relacionados aos impulsos ou sentimentosperturbadores e/ou socialmente censurados. Outro mecanismo que nos parece oportunodestacar é a negação da realidade, muito utilizada na infância, mas que pode se verificar navida adulta, quando o indivíduo vivencia a impotência para o enfrentamento de certas situaçõesameaçadoras ou penosas. O modo pelo qual mecanismos de defesa surgem nas situações detrabalho e assumem caráter coletivo, foi revelado por JAQUES em estudo realizado em umafábrica inglesa, no início dos anos 50 (JAQUES, 1955).Mais tarde, o fenômeno foi analisado em amplo detalhamento por Dejours, que em vários textosexaminou estratégias coletivas defensivas e descreveu a forma pela qual as mesmas chegam aconfigurar uma ideologia defensiva (por ex., DEJOURS, 1993). Tanto os mecanismos individuaisde defesa psicológica quanto as estratégias coletivas defensivas podem amenizar o sofrimento eprotelar a eclosão de transtornos mentais. Mas não são defesas duradouras e podem serrompidas, seja pelo acúmulo dos desgastes, seja por circunstâncias que impactam o trabalhador– como o acidente do trabalho, conforme tivemos oportunidade de constatar em pesquisas, nas

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quais tivemos ocasião de estudar, ainda nos anos 80, as repercussões do trabalho na saúdemental de operários das indústrias de Cubatão (Estado de São Paulo) e de uma siderúrgica dacidade de São Paulo (SELIGMANNSILVA, 1983 e 1994).Nem todas as defesas psicológicas são negativas do ponto de vista da preservação de saúdemental. É preciso lembrar que uma delas – a sublimação - favorece a saúde e tem o potencialde transformar o sofrimento em prazer. Assume, portanto, um papel vitalizador. Através dasublimação o indivíduo lança mão de sua força criativa para transformar o trabalho e torná-losignificativo. Entretanto para que a sublimação tenha lugar é imprescindível um duplo espaçode liberdade - tanto exterior quanto interior à própria subjetividade. A sofisticação e aintrojeção psíquica do controle, no presente, estrangulam cada vez mais este espaço.Constatamos, assim, que para que o sofrimento mental relacionado ao trabalho seja limiar dapsicopatologia, deverão existir condições desfavoráveis à elaboração de defesas individuais ecoletivas. É do que trataremos mais adiante.Do ponto de vista dos estudos epidemiológicos, vêm aumentando o número das pesquisas eanálises que demonstram o papel do trabalho na morbidade psiquiátrica, papel este reconhecidopela OIT (Organização Internacional do Trabalho). Na América Latina, destacamos estudosepidemiológicos pioneiros realizados no México por Miguel Matrajt, que uniu ao enfoquesocioepidemiológico a análise da sociogênese e da dinâmica subjetiva (MATRAJT, 1994).A historiadora e psicanalista Elizabeth Roudinesco critica o reducionismo dos critérios com que aClassificação de doenças e causas de morte oficialmente adotado no plano internacional – aCID-10. categoriza, em seu capítulo V, os transtornos mentais, apontando a ausência dasubjetividade nestes critérios (ROUDINESCO, 2000).A natureza social dos agravos, encontra-se igualmente abstraída, quase sempre, e em especialquando envolve as situações de trabalho. Pois, como já tivemos ocasião de expor anteriormente(SELIGMANN -SILVA, 2003), a classificação oficial reflete bem a hegemonia das ciênciasnaturais e da perspectiva positivista na fixação dos critérios diagnósticos. Procurando contornaressa dificuldade, foi elaborada no Brasil uma lista dos transtornos mentais e do comportamentorelacionados ao trabalho publicada, - no contexto de uma lista maior abrangendo Doençasrelacionadas ao Trabalho, - no Decreto 3.048/99 do Ministério da Previdência e AssistênciaSocial. A mesma lista integra a Portaria do Ministério da Saúde MS/1.339/1999. São 12 osagravos que compõe a lista, que constitui um passo significativo para o reconhecimento darelação entre situações de trabalho e agravos mentais. (Ministério da Saúde, 2001). Trataremos,adiante, de examinar como alguns destes agravos se colocam diante do cenário contemporâneo.Antes, cabem algumas considerações.

2 RESSONÂNCIAS DA METAMORFOSE CONTEMPORÂNEA SOBRE A SUBJETIVIDADE E SOBRE A PSICOPATOLOGIANa atualidade, uma discussão perpassa as fronteiras da Psicopatologia no Trabalho e atravessao campo da Psicopatologia Geral, envolvendo psiquiatras, psicólogos e psicanalistas. Taldiscussão parte da percepção de uma transformação na forma pela qual os processospsicopatológicos se constituem, desenvolvem e expressam no contexto das imensastransformações que, no bojo da chamada globalização, atingiram a estrutura e o funcionamentoda sociedade (seria preferível, em nossa opinião, não adotar o termo globalização, pois omesmo passou a ter conotação de uma ideologia que se sobrepôs à ética e em nome da qualtudo se justifica).As metamorfoses observadas na psicopatologia geral decorrem da multiplicidade detransformações de contexto internacional que, afetando a estrutura e a dinâmica social em suasvárias esferas e instituições – da família ao Estado – provocam reflexos na vida cotidiana, nasociabilidade e na vida mental em pessoas de todas as idades.No que diz respeito às crianças e adolescentes, as depressões infantis e os dados sobresuicídios e tentativas de suicídio em crianças e adolescentes têm causado enorme preocupaçãoem vários países e, assim como o significativo aumento da prevalência de bulimia e da anorexianervosa, expressam o impacto, sobre os mais jovens, das pressões que carregam em si

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injunções de adesão aos valores agora dominantes: competir, maximizar a capacitação paraessa competição, ser rápido, esbelto e esperto para tornar-se um vencedor.A expansão das depressões em todas as faixas etárias constitui um fenômeno complexo quetem merecido muitas tentativas de interpretação.A depressão ocupa o primeiro lugar em frequência no cenário mundial dos transtornos mentais(OMS). É consenso, entre os que estudam a questão, de que esse dado não pode serdissociado do estreitamento das perspectivas de realização pessoal que decorreu, para muitos,do estrangulamento do mercado de trabalho e do aumento da precarização das relações detrabalho.Na atualidade, além do que se modificou no mundo do trabalho, várias grandes mudanças têmsido consideradas nos impactos produzidos sobre a sociogênese dos distúrbios mentais:mudanças socioambientais, demográficas (migrações, aumento da população idosa),urbanização desordenada, hipertrofia das metrópoles, intensificação da velocidade dos meios detransporte e de comunicação, aumento da violência em muitos contextos, poder das mídias,expansão tecnológica em geral, além de tantas outras que afetaram a cultura – os modos deperceber o mundo e andar na vida.As transformações em curso, além de apresentarem reflexos epidemiológicos - isto é, naprevalência e no modo como essas patologias estão distribuídas na população e vinculados adiferentes fatores de risco - também têm sido relacionadas a alterações nas próprias expressõesclínicas dos transtornos, isto é, na forma como estes se apresentam, nas pessoas, desafiando acategorização oficial (CID-10).Não podemos nos alongar na descrição das metamorfoses pelas quais a Psicopatologia Geralvem passando. O que desejamos enfatizar, é que além da Psicopatologia no Trabalho, que noslança novos desafios na atualidade, as transformações contemporâneas também atingiram, maisamplamente, os processos em que se constituem as patologias mentais, e, também - devemosassinalar, apesar de não podermos aqui expandir o tema - as da área psicossomática.

3 A IDEOLOGIA DA GLOBALIZAÇÃO E A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVAA reestruturação produtiva tem sido vinculada à chamada globalização econômica e aodesenvolvimento tecnológico. Analisadas conjuntamente por vários autores, globalização ereestruturação produtiva têm sido objeto de numerosos estudos, alguns dos quais tambémidentificaram reflexos para os relacionamentos humanos, para a identidade e para a saúdemental (BAUMAN, 1999 e 2005; GAULEJAC, 1987).O desenvolvimento tecnológico foi apontado como a grande causa da “globalização” e usadocomo argumento poderoso para justificar a inevitabilidade da reestruturação produtiva em nívelinternacional e das reestruturações que se desencadearam nas organizações empresariaistransnacionais e nacionais.Instaurado o processo de reestruturação em escala internacional, a exclusão social dos queforam considerados excedentes ou “descartáveis” logo se fez sentir. Porém, as reações ourespostas a essas forças “reestruturantes” foram, em grande parte, constringidas pela expansãode uma postura fatalista associada à idéia de inexorabilidade.Mais do que uma idéia, a inexorabilidade se transformou em uma poderosa crença. Vários sãoos pensadores da atualidade que entenderam a disseminação da crença na inexorabilidadecomo fruto de uma instrumentação, pelos ideólogos da doutrina neoliberal, na imposição aomundo contemporâneo de uma ideologia - a ideologia da globalização.Nesta exposição, entretanto, precisamos nos ater aos limites do microssocial e da subjetividade,mas sem esquecer as mediações, que interligam este patamar a estruturas intermediárias e aopanorama internacional. E alertando para que a análise não seja determinista (isto é, interaçõesprecisam ser visualizadas, resiliências e resistências podem ter lugar) nem estabeleça um falsoisolamento entre os planos macro e micro.

4 A CONSTITUIÇÃO DA SUBJETIVIDADE EM SUA RELAÇÃO COM A ÉTICAA economia moderna afastou-se da ética, lamenta o economista Amartya Sen. O autor identifica,nas publicações da economia moderna, “o descaso pela influência das considerações éticas

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sobre a caracterização do comportamento humano real.” (p.23). Sen contrasta uma vertente daeconomia que é profundamente vinculada à ética e tem raízes no pensamento de Aristóteles, àcorrente agora dominante, centrada na logística, na atenção aos meios de alcançar a riqueza,deixando de lado as finalidades humanas da economia (SEN, 1999).Certamente essa tendência identificada por Sen tem muita relação com as diretrizesempresariais prevalecentes quanto às opções de produção e administração de pessoal.No sofrimento mental relacionado ao trabalho e em suas expressões mórbidas, é a subjetividadedo indivíduo que é atingida. A subjetividade é construída ao longo das experiências sociaisda existência de cada ser humano.Para visualizar os processos sociais que vão incidir na subjetivação dos empregados, nãopoderia deixar de ser mencionado o patamar empresarial no qual se definem as políticasinternas da organização. Aí são decididas transformações de processo de trabalho, adoção denovos equipamentos poupadores de mão-de-obra e a política de pessoal.É nesse âmbito que se delineiam novas práticas gerenciais e de organização do trabalho queirão impactar nas subjetividades (HELOANI, 2003). As políticas de pessoal assumem grandepeso na caracterização da sociabilidade e dos mecanismos psicológicos de defesa dostrabalhadores, conforme já estudado no Brasil por Elizabeth Antunes Lima (1996). Ressaltamosa importância das análises críticas feitas por Eugene Henriquez às atuais políticas de pessoal.Essa crítica também é realizada por autores brasileiros (ENRIQUEZ, 1991 e 1992; DAVEL eVASCONCELOS, 1996).Em recente e magnífico livro – “Ética, Trabalho e Subjetividade” - o médico e sociólogo HenriqueCaetano Nardi nos fala das metamorfoses deste processo de subjetivação, a partir de profundarevisão do tema e do estudo de duas gerações de trabalhadores metalúrgicos no Rio Grande doSul (NARDI, 2006a). Conforme Nardi explica em recente entrevista, modo de subjetivação é umconceito tomado de Michel Foucault e, de forma muito resumida, podemos dizer que é a formapredominante como somos conduzidos a nos tornarmos sujeitos de nossos atos pela incitação,imposição ou convencimento com relação aos valores e verdades dominantes em umdeterminado tempo e em um determinado contexto (NARDI, 2006b).Nardi constata que “ética empresarial, embora ressaltada em quase todos os artigos que traçamo perfil dos executivos, é, entretanto uma ética subordinada a um valor maior, a competitividade.”(p. 119).O autor analisou o discurso da empresa em que trabalhavam os metalúrgicos que entrevistou,encontrando elementos essenciais para identificar os valores impostos à subjetivação dostrabalhadores.Além de valores e verdades impostos, as pressões sociopsicológicas também engendramsentimentos, nos processos de subjetivação que vão criar novas condutas e novas culturas.Poderíamos, então, formular a seguinte questão e tentar respondê-la: Quais os componentes,isto é, os ingredientes, que podemos identificar nos processos de subjetivação que tendem cadavez mais a prevalecer na atualidade?1. A disseminação do medo. Como escreveu Pelbart, “O medo já não é reação a um perigoiminente, é a tonalidade afetiva dominante.” O medo generalizado acionou a criação de espaçosmicrossociais onde ele impera e passa a gerar novos medos. Como diz o mesmo autor “seriapreciso compreeender como um tal microfascismo ‘pega’, ‘funciona’, se alastra, se propaga,dispara consensos, produz intimidação, anestesia, sede de vingança, torpor político...”. Pelbart,neste texto, não focalizava o mundo do trabalho e, sim, escrevia a propósito da “guerra urbana”que eclodiu em São Paulo, em 2006, apontando, como esclarece o subtítulo de seu artigo, que“em tempos de Hezbollahh e guerra urbana, o medo não é efeito de perigo à vista.É ojeito-padrão de reagir ao cotidiano.” (PELBART, 2006).Podemos discernir que diferentes medos dominam o panorama contemporâneo no qual aviolência se alastra, atingindo de modo especial os que ainda habitam no interior do mundo dotrabalho. O próprio cotidiano de trabalho é cada vez mais impregnado por violência, às vezesexplícita, mas predominantemente sutil e perversa. Entre os medos que aí proliferam, valelembrar que no chão de fábrica ainda subsiste o medo de sucumbir aos riscos de acidente, paraos operários pressionados por sobrecargas de trabalho em ritmos cada vez mais acelerados.

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Mas sobressaem outros medos: medo do desemprego, o medo da exclusão, o medo de nãoconseguir ser polifuncional ou dominar novos conhecimentos e técnicas; de não agüentar asexigências do trabalho e adoecer; o medo de enlouquecer; o medo de ser desqualificado,prejudicado no desenvolvimento profissional ou na trajetória funcional. E ainda, o medo de seragredido durante o trajeto ou durante o próprio trabalho. É possível evocar, ainda, o medo denão corresponder ao modelo de super-homem ou super-mulher que é imposto, às vezesconjuntamente, pela família, pela mídia e pelas organizações em que atuam.O medo, permeando as relações interpessoais, abre espaço para a desconfiança que vaiimpregnar a sociabilidade fora e dentro dos ambientes de trabalho, rompendo ou impedindolaços interpessoais, produzindo isolamento entre as pessoas. Uma desconfiança que está naraiz das manifestações paranóides que se alastram no mundo do trabalho e na sociedade.Sobre o medo, cabe ainda lembrar que, para alguns, se faz presente juntamente com aconsciência da própria vulnerabilidade. Mas que suscita, na maioria, os mecanismos individuaise coletivos de defesa que se voltam para abafá-lo, convertendo a vulnerabilidade em imagináriaonipotência.2. Insegurança e incerteza. Nem sempre é possível separar o medo de um amálgama depercepções, entre as quais destacamos as de insegurança e incerteza. Em geral, nestascircunstâncias, o medo coletivo desencadeia vivências individuais de insegurança. Estas, porsua vez, brotam de um conjunto complexo, que não se resume aos medos específicos queacabamos de enumerar. Existe uma outra insegurança, gerada pela incerteza quanto aofuturo, que além de ser gerada pelo conjunto das ameaças percebidas, está também fortementeassociada, à insuficiência e ao desmonte do chamado “Estados de Bem-Estar Social”.A propósito da generalização das carências sociais que tem pressionado e transformado ossistemas de proteção social nos países desenvolvidos, Pierre Rosanvallon (1995), em seu livro“A Nova Questão Social”, é bastante esclarecedor quando afirma: “Os fenômenos de exclusão,de desemprego de longa duração, desgraçadamente definem amiúde estados sociais” (p. 27).O autor pontua que, diante da predominância de tais situações de mais difícil reversibilidade, asnecessidades de proteção não dizem respeito, meramente, aos riscos sociais queanteriormente eram objeto da cobertura previdenciária para momentos mais transitórios como adoença, o acidente, o desemprego momentâneo. Perplexo, sem ver perspectiva para superarsua desinserção, o indivíduo vivencia a sensação de sofrer uma paralisia na qual se percebeimpotente para direcionar seu futuro.Atualmente, ao anseio de escapar da insegurança o indivíduo vê contraposto o discurso queremete seu destino pessoal (e o daqueles para os quais é o/a provedor/a) ao nível global. Damesma forma, o trabalhador que teme o desemprego escuta que o destino dos empregos dosetor da economia em que se insere a empresa em que ele trabalha, - e, portanto, seu próprioemprego, - dependem de um patamar “superior”. Resistências individuais ou coletivas sãoinibidas e desacreditadas (“Não adianta recorrer à hierarquia da empresa nem ao sindicato” ou“Não existe a quem recorrer - o que decide é o mercado global)”.Esta incerteza se agrava nos contextos nacionais onde as estruturas de proteção social aindanão haviam alcançado seu desenvolvimento pleno à época em que se avolumou a ondaneoliberal. Nestes países também se desenvolveram pressões e discursos direcionados a umaregressão, em nome da adequação a novos tempos de competitividade, nos quais osindivíduos se autonomizem para cuidar de si mesmos. No Brasil tem estado fortemente ativauma retórica que vem se voltando para mostrar como obsoleta a proteção que emana daformulação dos dispositivos do Título VIII (da Ordem Social), presente na Constituição de 1988.Muito embora reações importantes tenham surgido a esta retórica, o poder da mesma não podeser ignorado.Pois além das ameaças regressivas tem sido obstaculizada a regulamentação de váriosdispositivos constitucionais importantes para o avanço da proteção social.Ainda para acentuar a magnitude da vivência de incerteza, não pode deixar de ser assinalada aextensão da população que se encontra sem cobertura da Previdência Social, seja por estar emsituação de trabalho informal, seja por não ter conseguido inserção no mercado formal, seja,ainda, por viver em desemprego de longa duração. Estima-se que, atualmente, no Brasil, apenas

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aproximadamente um terço da população economicamente ativa (PEA) possua cobertura (DIASe MELO, 2003).3. O apagamento da justiça como valor fundamental (NARDI, 2006). Justiça sempre foi onúcleo da própria ética, assumindo a feição de imperativo ético historicamente consolidado efirmemente inserido na subjetividade. A disseminação da injunção de “competir para sobreviver”aparece como uma explicação insuficiente para que possamos entender a fragilização de umprincípio tão essencial e deve estar associada a aspectos de maior complexidade presentes emnosso momento histórico - numa dinâmica que ainda precisa ser melhor conhecida.4. O individualismo que se sobrepõe à solidariedade(GÉNÉRAUX, 1998; NARDI, 2006; ROSANVALLON, 1995; ZOLL, 2000, entre outros). Trata-sede um individualismo solitário, cuja emergência já vem sendo analisada desde o final dos anos70. Ele vem permeando a sociedade de um modo difuso, mas assume expressões especiais nomundo do trabalho. O individualismo tornou-se essencial para a internalização do controle. Ocontrole dos trabalhadores que se fazia na gestão tayloristafordista passou por umatransformação na empresa hipermoderna. No livro que Pages e Cols publicaram em 1979 naFrança (O Poder das Organizações) já era mostrado o deslocamento em que o poderorganizacional abandonou parcialmente o controle exterior e passou a comandar a subjetividade,atuando sobre os desejos e as fantasias.Deste modo foi internalizada a dominação. Este livro revelou como se fez a articulação entre osobjetivos da direção e as aspirações pessoais.A instrumentação de um individualismo cada vez mais acirrado foi um dos meios utilizadosneste processo (PAGÈS et alli, 1987).Oito anos depois, um dos autores deste livro, Vincent de Gaulejac (1987), descreve asengrenagens que têm conduzido ao domínio deste individualismo: “Em nossas sociedades“narcísicas” dominadas pelo modelo de desenvolvimento das sociedades multinacionais quequalificamos como “modelo gerencial” (modèle managerial), os ideais de sucesso social, depromoção individual, de mobilidade individual permanente (ao mesmo tempo profissional egeográfica) correspondem aos dispositivos dominantes de legitimação social: a ideologia darealização de si, do desenvolvimento pessoal é veiculada através da maioria das mídias, dasinstituições educacionais e das organizações profissionais. Ela atravessa a maior parte dasclasses sociais” (p. 180).

5 SUBJETIVAÇÃO NOS CONTEXTOS ORGANIZACIONAIS CONTEMPORÂNEOS. AIDEOLOGIA E A CULTURA DA EXCELÊNCIANa seqüência, passamos a examinar alguns outros ingredientes, mais específicos dos processosde subjetivação que se fazem a partir de diretrizes que nasceram e foram impostas no contextodas grandes organizações – mas que logo atingiram as demais. Assim, para os trabalhadores,eles coexistem com aqueles que atingem toda a sociedade.Consistem em idéias e princípios que fazem parte de uma ideologia que se tornou predominante.Essa ideologia permeia a reestruturação produtiva e ao impregnar as políticas de pessoal, foiinicialmente identificada na origem do quadro clínico que Aubert e Gaulejac denominaramneurose de excelência (AUBERT e GAULEJAC, 1981).Nosso ponto de vista é de que desvelaram uma ideologia da excelência que é a faceapresentada, no mundo empresarial, pela mesma ideologia da globalização, identificada eanalisada por tantos sociólogos da atualidade. Essa ideologia originou o que se pode reconhecercomo uma verdadeira cultura (cultura da excelência) na qual os valores instaurados presidemaos comportamentos e passaram a conformar crenças e mitos. Pela importância de levar emconta a variedade dos quadros clínicos ‘que tem se apresentado em íntima vinculação aofortalecimento de imposições articuladas a tal ideologia, vamos em seguida examinar algunscomponentes da mesma. Sem desconsiderar que a força de tais princípios também atinge aprópria cultura do entorno social mais amplo, e, portanto, também os indivíduos que estão forado trabalho (por exemplo, aqueles que estão se preparando para ingressar no mercado detrabalho e que tomam conhecimento destas injunções). Passemos, pois, a examinar oselementos que fazem parte da ideologia da excelência e da cultura que lhe corresponde:

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1. competitividade. Como valor maior designado a todos os níveis da organização e diretriz dascondutas individuais;2. flexibilidade. A palavra flexibilidade tem aparecido como um têrmo-chave na retórica quecomanda a reestruturação produtiva, passando a assumir a configuração de valor e de princípioimposto simultaneamente às relações sociais de trabalho, aos processos de produção e àspessoas que trabalham. A empresa que não é flexível está condenada a não sobreviver. Oassalariado não flexível está sob risco de desemprego. A imposição deste princípio aostrabalhadores tem acarretado prejuízos importantes à saúde mental (SELIGMANN-SILVA,2001). Um dos pontos a destacar é a forma pela qual sob o império do princípio de flexiblidade -e aqui estamos falando não só da flexibilização e desregulamentação das relações de trabalho -são criados temores (de não conseguir corresponder às exigências de ser flexível , porexemplo), o que leva a ansiedade, bem como as vivências de instabilidade e insegurança.Richard Sennet, refletindo sobre a flexibilidade, concluiu que ela contribui fortemente para acorrosão do caráter que identificou em casos que estudou. O autor mostra que a mudançacontinuada institui uma superficialidade degradante, pois “as pessoas sentem falta de relaçõeshumanas constantes e de objetivos duráveis” (SENNET, 1999, p. 117). Outro ponto é que aexigência de flexibilidade prejudica freqüentemente duas fontes importantes de Saúde Mental: asublimação e o reconhecimento;3. o culto à velocidade, à agilidade, a tudo que é “rápido” e “enxuto” (estruturas e pessoas“enxutas” nas organizações) (AUBERT e GAULEJAC, 1981; SELIGMANN-SILVA, 1991). Naexaltação a uma mobilidade que deve ser cada vez mais rápida, também o tempo é atingido: opassado é desvalorizado, vale o que se realiza num presente fugaz, que logo será sucedido porum futuro onde as metas poderão já ser outras. Não se aprofundam, nem reflexões, nemcomprometimentos, pois não há tempo para se fixar em nada, logo virá um novo deslocamento;4. a evitação dos sentimentos: um bloqueio que tem sido estudado no que denominamossíndromes da insensibilidade, que foi evidenciado, por exemplo, no estudo de analistas desistemas publicado em texto de ROCHA (2000);5. o apagamento da ética. Dejours nos fala de um sofrimento ético em situações de trabalhonas quais o indivíduo sofre pressões para abandonar seu sentido ético, sofrimento este quepode levar a “estratégias defensivas que se tornem eficazes na atenuação da consciênciamoral e meio de aquiescência ao exercício do mal.” (DEJOURS, 1999, p. 141). Na violentaçãoda dignidade de subordinados, verificada no assédio moral e em outras circunstâncias, ocorre,por exemplo, este apagamento da ética;6. a polivalência pode ser vista como outro componente da cultura da excelência. Quando umtrabalhador especializado é forçado a passar à condição de polivalente, ele vivencia uma perdaimportante, que fere seu amor-próprio e sua identidade. A diretriz voltada à polivalênciatambém pode gerar temor e insegurança, pelo receio de não conseguir dar conta de tantastécnicas e atribuições. A polivalência tende a deslocar para plano secundário, em muitoscontextos de trabalho e para certas atividades, o valor constituído anteriormente pelacompetência, desenvolvida ao longo da formação e da experiência profissional.O impacto destes “ingredientes” na subjetividade, abre um leque amplo de possibilidades quantoao desenvolvimento ou não de um sofrimento mental que venha a tornar-se patológico. E, casohaja adoecimento, irá variar a configuração clínica do mesmo, que poderá ser um quadropsicossomático ou um entre os vários transtornos mentais relacionados ao trabalho. Parece-nosmais apropriada essa reflexão, ao invés de adotar como “rótulo” diagnóstico genérico nasculturas de excelência a expressão neurose de excelência - que consta como alternativadiagnóstica entre as modalidades de transtorno mental consideradas na Lista Brasileira deTranstornos Mentais Relacionados ao Trabalho.A Lista de Transtornos Mentais (oficializada) relacionados ao trabalho traz na descrição dacategoria “Outros transtornos neuróticos especificados” a observação de que “o grupo incluitranstornos mistos de comportamento, crenças e emoções que tem uma associaçãoestreita com uma determinada cultura.” Essa categoria inclui a neurose profissional, sendoque a neurose de excelência é apresentada como uma das formas clínicas desta (MINISTÉRIODA SAÚDE, 2001).

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Passaremos, na seqüência, a enfocar outros transtornos mentais considerados pela mesmaLista. Não será possível tratar aqui de todos eles. Para os interessados nos transtornos mentaisorgânicos referidos pela Lista, em sua maioria relacionados com a exposição a neurotóxicos,sugerimos a leitura do artigo de Camargo, Caetano e Guimarães indicado na bibliografia destetexto (CAMARGO, CAETANO e GUIMARÃES, 2005), além das orientações da própria Lista. Umartigo de Sílvia Jardim e Débora Glina, também constante da bibliografia, traz orientaçãodiagnóstica para o reconhecimento de todas as patologias listadas.

6 EPISÓDIO DEPRESSIVO RELACIONADO AO TRABALHORoudinesco afirma que a sociedade atual pode ser caracterizada como uma sociedadedepressiva, considerando que “a depressão domina a subjetividade contemporânea.” No ano de1999 a autora escrevia: “às vésperas do terceiro milênio, a depressão tornou-se a epidemiapsíquica das sociedades democráticas, ao mesmo tempo que se multiplicam os tratamentospara oferecer a cada consumidor uma solução honrosa” (p.17). Essa depressão, explicaRoudinesco, não é propriamente uma doença, mas um estado. Torna-se necessário, assim,distinguir tal estado dos quadros clínicos (individuais) onde uma ação terapêutica se possa fazerútil e é importante a advertência da autora, apoiada em estudo feito por Pierre Juillet, para osriscos da ampliação da definição clínica de depressão - que vem ocorrendo e conduzindo a umamedicalização da sociedade – através do uso indiscriminado de produtos psicotrópicos - natentativa de amenizar um mal-estar que é de natureza sobretudo social.Discernir, em tal contexto, as formas pelas quais o trabalho atua na gênese e evolução deepisódios depressivos aumenta o desafio diagnóstico, desafio que exige, sempre, um estudoacurado do histórico de vida e trabalho para que as correlações sejam identificadas.A gênese de episódios depressivos em sua vinculação ao trabalho se processa, geralmente,articulada a uma perda importante ou a uma sucessão de frustrações verificadas no contexto. Asprobabilidades de desenvolvimento de episódio depressivo aumentam na falta de apoio social eausência de alternativas concretas para superação do ocorrido.A não obtenção ou a perda de reconhecimento, gera decepção e pode também desencadeardepressão. É o que acontece freqüentemente com pessoas que defrontam uma das seguintessituações: a) trabalhadores que viram suas especialidades serem superadas pelo avançotecnológico; b) trabalhadores que possuíam especialidades e que sofreram deslocamento parasetores ou cargos onde não podiam mais exercê-las, vivenciando desqualificação, e ,em suma,autodesvalorização, mesmo quando os remanejamentos eram feitos sob o disfarce de uma“modernização” em que eram incentivados a se tornarem “trabalhadores polivalentes”(multifuncionais).Outras ocorrências que podem favorecer a patogênese do episódio depressivo são:- sentir-se alvo de injustiça, desconsideração ou humilhação, especialmente, se de formareiterada e se não houver possibilidade de reagir;- ser preterido sistematicamente ou em ocasiões sucessivas, por ocasião das promoções queocorrem na empresa ou em eventos nos quais se efetiva reconhecimento público dosfuncionários (premiações ou outras), percebendo isto como injustiça;- ser excluído de eventos significativos promovidos pela empresa ou pelo grupo de trabalho doqual faz parte;- ser prejudicado freqüentemente por não receber informações importantes para seudesempenho ou progressão funcional;- sofrer outras formas de discriminação, humilhação ou isolamento no ambiente de trabalho.Evidentemente, várias das possibilidades acima elencadas podem corresponder a uma forma depromover intencionalmente o desprestígio, o aniquilamento moral e a desestabilizaçãoemocional do empregado, dentro dos aspectos que atualmente identificam o assédio moral.Margarida Barreto, em tese de doutorado, identificou a correlação entre a reestruturaçãoprodutiva e a expansão do assédio moral, bem como da repercussão deste no surgimento dequadros depressivos (HIRIGOYEN, 1998; BARRETO, 2005).Em conflitos gerados na competição pelos cargos que restaram nas empresas que foramreestruturadas, foram rompidos laços de confiança que uniam antigos companheiros de trabalho,

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provocando prejuízos e decepções dolorosas aos preteridos - ou “perdedores” na linguagemadotada em alguns ambientes onde a retórica é a da guerra pela sobrevivência.Por outro lado, tem sido observado que em sequência às demissões maciças que foramrealizadas na reestruturação de muitas empresas, o corte também feriu psiquicamente osfuncionários remanescentes, ao romper bruscamente parcerias e solidariedades estabelecidasao longo de muito tempo de convívio (ATHAYDE, 1997).No atendimento de trabalhadores atingidos por depressão, os relatos dos mesmos identificammuitas vezes que estes pacientes passaram por situações de humilhação no trabalho. É o quejá havia sido observado por Barreto, em um amplo estudo sobre trabalhadores de indústriasquímicas realizado em São Paulo (BARRETO, 2000).Este estudo evidenciou uma degradação dos relacionamentos interpessoais que feriu adignidade dos atingidos e acarretou profundas feridas à identidade. Determinadas práticas deavaliação podem assumir conotação de humilhação, quando também atacam a dignidade dosavaliados. Outras vezes, a humilhação se processa na ocasião em que ocorre a apresentaçãopública dos resultados das avaliações de que os funcionários foram alvo. Existem relatos,denunciados inclusive pela imprensa, de empresas que adotam a prática de ridicularizarpublicamente, de modo sistemático, os profissionais de vendas que não obtiveram bonsresultados.No amplo leque de circunstâncias em que a depressão brota de situações de trabalhodegradadas, assume enorme proporção na atualidade a problemática dos trabalhadores queatuam no setor informal.Uma vez que constituem aproximadamente um terço da PEA (população economicamenteativa), essa questão não pode ser relegada a segundo plano e demanda, além de maioresestudos, medidas urgentes de enfrentamento. A desproteção previdenciária e a ausência devínculo contratual coexistem, para muitos destes trabalhadores, com condições onde o ambientee a organização do trabalho os expõem a maiores riscos físicos e mentais. Vivendo eminsegurança permanente, acumulando desgastes e vivendo a incerteza quanto ao futuro, muitosdestes trabalhadores mergulham no desalento e desenvolvem quadros depressivos diretamentederivados dessas situações de precariedade.Aqui, mais uma vez, os episódios em que sobrevêm humilhações se fazem sentir comfrequência.SINTOMAS: O episódio depressivo pode se apresentar num quadro agudo ou já cronificado. Asmanifestações predominantes numa depressão são, em geral, o humor triste, o desânimo, asvivências de perda, sentimentos de fracasso, dificuldade de visualizar perspectivas positivas,tendência a se auto-culpabilizar, pensamentos sombrios onde perpassa. Ocorrem, ainda,lentificação do pensamento e dos desempenhos, dificuldade para concentrar atenção,perturbações do sono (frequentemente insônia no final do período noturno, mas em algunscasos, também, sonolência diurna), dificuldades de tomar iniciativa.Ideias negativas ocupam o pensamento, às vezes perpassam pensamentos de morte. A fadigamental advém com facilidade diante do prolongamento das atividades. Diante das exigências dotrabalho, o indivíduo se sente muitas vezes frágil e incapacitado, mesmo em situaçõesnas quais sua formação e experiência profissionais lhe permitiriam sair-se bem, se não houvessea depressão. Nestas circunstâncias, as pressões organizacionais – ou a pressão pessoalexercida pela chefia ou mesmo por colegas de equipe – poderão aumentar a angústia e agravara depressão. Este agravamento será tanto maior quanto mais presente estiver a ameaça deperda da função ou do lugar que o indivíduo ocupa na hierarquia e, pior ainda, a ameaça deperder o emprego.No contexto contemporâneo, as vivências de desesperança são intensificadas com base noconhecimento de uma realidade na qual as alternativas de um novo emprego foramconsideravelmente reduzidas - o que desalenta mais ainda quem já se encontra deprimido.Acrescente-se que a falta de perspectivas é ainda mais desanimadora para aquelestrabalhadores que se aproximam dos 40 anos ou que já ultrapassaram esta idade - conformedemonstram os estudos e as estatísticas sobre desemprego e mercado de trabalho. E ostrabalhadores sabem disso (SELIGMANN-SILVA, 1997).

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Estudos epidemiológicos referentes à depressão associada ao trabalho, embora já tenhamevidenciado elevadas prevalências deste agravo mental em muitas categorias profissionais(JARDIM e GLINA, 2000) merecem ser expandidos.Patologias que se transformam ou que se associam: deve ser lembrado, ainda, que umadepressão pode desenvolver-se em sequência a um acidente de trabalho ou associar-se a umadoença profissional ou relacionado ao trabalho ou, ainda, a outras patologias de longa evolução.BORGES (2000), em caixas de estabelecimentos bancários, verificou que as LER/DORT podemevoluir intimamente imbricadas a sintomas depressivos e prejuízos da sociabilidade.Principalmente, diante de sequelas de um acidente ou do prolongamento de uma doença, otemor de quebra da trajetória de desenvolvimento pessoal e profissional bem como, o medo dedesemprego são vivenciados com angústia e impotência. É, por exemplo, o que tem sidoevidenciado no acompanhamento de numerosos pacientes de LER/DORT.A depressão pode ainda vir a se caracterizar associando-se ao desenvolvimento de outrostranstornos mentais relacionados ao trabalho.Destacamos três situações:1. no transtorno orgânico de personalidade relacionado ao trabalho em que existem agentesquímicos do ambiente de trabalho que agridem as estruturas do sistema nervoso e que, entreoutras manifestações, determinam também sintomas depressivos. Exemplos, entre outras, sãoas seguintes substâncias ou seus compostos tóxicos: mercúrio, chumbo, manganês, solventesaromáticos tóxicos, solventes orgânicos tóxicos (JARDIM e GLINA, 2000). Na progressão dapatologia ocasionada pelos danos orgânicos e funcionais provocados pela ação neurotóxicadessas substâncias, podem surgir manifestações depressivas, a partir do sofrimento psíquicoadvindo da percepção do agravamento dos efeitos da intoxicação. Agressões provenientes dotrabalho ferem assim, duplamente, atingindo o trabalhador no plano orgânico e no planosubjetivo;2. em pessoas com diagnóstico de esgotamento profissional (burnout), ao longo da evolução, asintomatologia pode configurar aos poucos a caracterização de um quadro de depressãocrônica, conforme muitas observações clínicas;3. do mesmo modo, na evolução do estresse pós-traumático relacionado ao trabalho pode vir ainscrever-se um quadro de depressão.Cabe ainda mencionar um achado frequentíssimo nos serviços de atenção psiquiátrica: trata-seda depressão mascarada pelos quadros clínicos de alcoolismo. O que se revela aí à primeiravista, é a sintomatologia do alcoolismo e só uma abordagem mais aprofundada e prolongadapermitirá ao médico ou psicólogo identificar que a busca da bebida alcoólica – que levouposteriormente à dependência alcoólica – foi, em verdade, a busca de um meio de anestesiar osofrimento ligado a uma depressão relacionada ao trabalho (ou a outro tipo de depressão).Poderá ser caracterizado, então, muitas vezes, um diagnóstico associado: depressão ealcoolismo relacionados ao trabalho. Psicopatologia de confluências, onde o uso de bebidatermina por agravar os sentimentos de culpa, aprofundando o quadro depressivo, levando avivências insuportáveis que irão incrementar a procura da bebida. Poderemos ver mais arespeito no próximo tópico.A prevenção tanto quanto o tratamento da depressão ralacionada ao trabalho exigem, quedentro das empresas e de outros contextos de trabalho, se assuma desvelar e modificar ascondicionantes organizacionais responsáveis pela escalada de episódios depressivos queprocuramos resumidamente identificar neste tópico.

7 ALCOOLISMO CRÔNICO RELACIONADO AO TRABALHOA dependência de bebidas alcoólicas é problemática de alta complexidade sendo explicada pelainteração de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Os processos psicossociais assumemimportância decisiva nesta questão.Para contextualizar este tópico parece-nos apropriado o seguinte trecho extraído do livro jácitado de Elizabeth Roudinesco (2000). Diz a autora: “Todos os estudos sociológicos mostram(...) que a sociedade depressiva tende a romper a essência da vida humana entre o medo dadesordem e a valorização de uma competitividade baseada unicamente no sucesso material,

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muitos são os sujeitos que preferem entregar-se voluntariamente a substâncias químicas a falarde seus sofrimentos íntimos.” (p. 30).Neste texto, Roudinesco está apontando para o uso generalizado de psicotrópicos na sociedadedepressiva, mas o que diz se aplica também ao indivíduo oprimido pelo aprisionamento em umasituação de trabalho que se sente impotente (e solitário) para modificar, e que recorre à bebidaalcoólica para anestesiar o sofrimento, “esquecê-lo”, vivenciar uma sensação prazerosa e/ouconseguir uma distensão, um relaxamento (pela ação ansiolítica do álcool). O álcool possuipropriedades farmacológicas relaxantes, calmantes, anestesiantes, euforizantes, desinibidoras eestimulantes e é, assim, capaz de proporcionar um bem-estar que, embora passageiro, constituia grande atração que leva milhões de indivíduos à sua utilização.As bebidas alcoólicas também podem funcionar como indutoras do sono, o que faz com quemuitas vezes sejam procuradas para ajudar a conciliar o sono em portadores de insônia –inclusive das insônias vinculadas às inquietações do trabalho, o que pode tornar-se um hábito.Nestes casos, não é raro que se estabeleça o percurso que pode levar do hábito à dependênciaalcoólica. O alcoolismo crônico é considerado como uma síndrome de dependência -dependência que é psicológica e ao mesmo tempo física - o que significa que quando o individuocessa de incorporar a substância surgem mal-estar e sintomas decorrentes da perturbação nafisiologia (funcionamento do organismo).O desenvolvimento do processo mórbido caracterizado pelo estabelecimento da dependênciapossui ingredientes biológicos, psicológicos e sociais, mas não obstante a complexidade desteprocesso, tornou-se indiscutível a importância das condicionantes sociais que conduzem aohábito alcoólico e à dependência alcoólica. Os aspectos atinentes ao trabalho vêm merecendocrescente destaque neste conjunto.Na prática, os pacientes dependentes de bebidas alcoolicas não procuram os serviços de Saúdedo Trabalhador e sim, afluem a serviços de Atenção Psiquiátrica em fases mais avançadas dadependência.Em crises de agudização do alcoolismo, são levados a serviços de emergência comoprontos-socorros. A explicação da não procura de serviços de Saúde do Trabalhador pelosdependentes pode ser explicada pela fortíssima defesa psicológica de negação da dependência,presente de forma generalizada nestes casos. Desta forma, a caracterização de uma relaçãoentre a dependência alcoólica e o trabalho, quando existe, tende a ser obscurecida pelo modoque se faz a utilização da rede dos serviços de saúde. Pois no atendimento de emergência emgeral a anamnese é sumária e não identifica os aspectos laborais. No contexto brasileiro podeser acrescentado, também, que os conhecimentos de Psicopatologia do Trabalho, de modogeral, ainda passam longe da formação daqueles que atuam em serviços psiquiátricos e deatendimento emergencial.A experiência dos que fazem atendimento de portadores de alcoolismo indica que a prática douso reiterado de bebida alcoólica é causa de demissão em grande parte das empresas, sem queseja analisada a relação do alcoolismo com o contexto do trabalho. Na situação de desemprego,costuma agravar-se o alcoolismo, ocorrendo muitas vezes a ruptura de laços familiares, o queleva os atingidos à marginalidade.Nos anos 70, seu destino era um rodízio pelos hospitais psiquiátricos. Atualmente, sãoencaminhados principalmente à rede de cerca de 400 Centros do SUS (Sistema Único deSaúde) que são, especialmente, voltados às questões de alcoolismo e uso de drogas. Nãodispomos de informações sobre a formação dos profissionais atuantes nestes centros emPsicopatologia no Trabalho nem às conexões interinstitucionais destes serviços com aquelesque se dedicam à vigilância e atendimento em Saúde do Trabalhador.O alcoolismo é o agravo mental que apresenta a 2ª maior magnitude nas estatísticas mundiaisde morbidade psiquiátrica (o primeiro lugar é ocupado pelas depressões). No Brasil, a estimativaé da existência de 12 milhões de adulto em situações de dependência do álcool,segundo publicação da FAPESP (setembro de 2006) na qual é chamada a atenção para umanova preocupação: o mascaramento da embriaguez alcoólica pelo uso concomitante de bebidasenergéticas – que aumentam a euforia e a desinibição. A dependência e o abuso de bebidas

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alcoólicas se apresentam com relevância na problemática mais geral da violência e na questãomais específica dos acidentes de trânsito.Torna-se extremamente difícil isolar dos contextos de trabalho, as condicionantessócio-culturais que, a partir do entorno mais amplo, fortalecem a expansão do uso de bebidasalcoólicas. Por exemplo, a propaganda de bebidas alcoólicas, carregada de apelos sedutores.Reforçada pela mídia, a crença na associação entre bebida, virilidade e coragem é, às vezes,utilizada para tentar neutralizar sensações de desalento e fracasso. Lembramos também quenossa cultura ainda está impregnada pelo sentido milenar atribuído às bebidas alcoólicas comoelemento de confraternização. Os exemplos são numerosos. No espaço desta exposição éimpossível nos estendermos mais a respeito de tantos aspectos sócio-culturais relevantes queindiretamente também influem na problemática do alcoolismo relacionado ao trabalho.Os mesmos contribuem para acentuação do hábito e para o enfraquecimento dos esforços deauto-controle.Ao pensar nas condicionantes da nossa época não podemos deixar de ressaltar, entretanto, avinculação entre alcoolismo e a violência, presente na realidade social e comprovada pornumerosos estudos epidemiológicos que correlacionaram homicídios e outros crimes aoconsumo de bebidas alcoólicas. Mas, assim como o alcoolismo pode levar a decorrênciasviolentas, a ingestão de bebidas pode ser também expressão de violência - violênciaauto-destrutiva, do indivíduo contra si mesmo ou violência indireta contra outros. É somente nonível individual, através de estudos de casos, que estas dinâmicas da violência têm sidoidentificadas e analisadas.Lesões e mortes provocadas por colisões, atropelamentos e outros acidentes com veículosautomotores têm sido analisadas quanto à impressionante relevância que o consumo de bebidasalcoólicas apresenta nos mesmos. Em estudo publicado por Vilma Leyton e colaboradores, sãorelatados os achados de alcolemia verificados em 2360 vítimas fatais de acidentes de trânsito(colisões e atropelamentos), constatando presença de álcool etílico em quase metade (47%) dasvítimas mediante os exames realizados no Núcleo de Toxicologia Forense do Instituto deMedicina Legal (IML) de S. Paulo.O estudo das situações de trabalho de motoristas profissionais em sua relação com a dinâmicacausal da dependência do álcool ainda é incipiente em nosso país.Da mesma forma, o estudo de acidentes de trabalho em sua relação com alcoolismo mereceriaser pesquisado no Brasil. Já existem pesquisas a respeito, no contexto latino-americano, como arealizada no Chile. Lacerda (2000) chama a atenção para o fato de que muitos acidentes detrajeto relacionados ao uso de álcool são em verdade acidentes de trabalho. O mesmo autorapresenta uma revisão de estudos realizados basicamente nos Estados Unidos, onde foramtraçadas correlações entre acidentes de trabalho e uso de bebidas alcoólicas, com oenvolvimento do álcool em 25% de todos os acidentes de trabalho e 16% dos acidentes fatais.Estudos epidemiológicos têm revelado importante prevalência de alcoolismo em determinadasocupações e situações de trabalho. Pesquisas qualitativas analisaram a dinâmica psicossocialque explica tais achados. É possível tentar categorizar essas verificações, mas convêm assinalarque as várias situações que apontaremos constituem terreno fértil não apenas para o alcoolismo,freqüente em todas elas, mas, de modo mais amplo, para o sofrimento mental, que poderá sedesdobrar em diferentes formas de adoecimento. Apenas no primeiro grupo de situações, queiremos apresentar em seguida, o alcoolismo tem se mostrado como o transtorno mental maiscaracterístico:a) situações em que se realizam atividades socialmente desprestigiadas por envolverem atos oumateriais considerados desagradáveis ou repugnantes. Exemplos: o trabalho dos coveiros emcemitérios, atividades em esgotos, trabalho com lixo e dejetos em geral. Inclui-se nesta categoriatambém o trabalho de apreensão e sacrifício de cães. Nestas situações as pessoas costumamser de fato discriminadas e passam a sentir-se “confundidas” e identificadas como componentesdo “trabalho sujo”. Um mecanismo possível é o de que a autodesvalorização conduza àauto-agressão por meio do álcool. Nas entrevistas efetivadas em estudos qualitativos, outrasexplicações têm sido encontradas, mas um agravante concreto tem sido a falta de perspectivas– quanto à capacitação e desenvolvimento profissional. O álcool aparece como forma de

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“anestesiar” o mal-estar e o sentimento de repugnância. Outro fator que aumenta o risco é otratamento desrespeitoso e humilhante que estes trabalhadores recebem muitas vezes de suaschefias, suscitando dor e raiva que a bebida deverá “acalmar”. Em outros indivíduos, de modomais complexo, a bebida servirá à auto-agressão, canalizando contra si próprio a raiva que nãopode ser direcionada para o autor da ofensa, porque é necessário preservar o emprego;b) situações em que a tensão gerada é constante e elevada. Englobam vários tipos de atividadestensiógenas:- trabalho perigoso: o perigo pode estar associado a condições em que há elevado risco deacidente, por condições inseguras, ritmos excessivos e desproteção. Recorrer à bebidaalcoólica, para estes trabalhadores, seria um recurso para não pensar no perigo, esquecê-lo nointervalo entre as jornadas de trabalho - pois é preciso reencarar o perigo no dia seguinte. Issoocorre numa prática que muitas vezes é realizada coletivamente, como bem estudou Dejours emoperários da construção civil (DEJOURS, 1990);- trabalho intensivo sob altas exigências de desempenho e rapidez;- trabalho que exige auto-controle emocional intenso e continuado;- trabalho repetitivo, monótono, que gera tédio e insatisfação;- trabalho em situações de isolamento. Caso em que se situam vigias que zelam pela segurançade empresas ou residências. Também condutores que viajam por longos períodos, em cabinesisoladas, seja em trens ou em outros tipos de transporte. Tivemos ocasião de estudar oproblema no sistema ferroviário de São Paulo;- atividades que envolvem afastamento prolongado do lar. Como exemplo temos ostrabalhadores de plataformas submarinas e aqueles cujas atividades envolvem viagenscontinuadas, como acontece no caso dos marinheiros e dos viajantes comerciais.Deve ser enfatizada a importância dos estudos epidemiológicos, que poderão oferecer baseimportante, sempre que a prevalência do agravo seja indicativa, para estabelecer a relação entrea situação de trabalho e o alcoolismo crônico. Pois se em determinada unidade de uma empresaexistem, por exemplo, porcentuais significatiivos de empregados em afastamento por alcoolismoe/ou por patologias derivadas do mesmo - neuropatias, cirrose hepática, gastrite alcoólica, entreoutras - essa constatação, juntamente com os achados clínicos e o histórico ocupacionalcompatíveis, respaldará o diagnóstico de alcoolismo crônico relacionado ao trabalho.Não nos deteremos na exposição do quadro clínico, limitando-nos a lembrar que o que ocaracteriza é a perda do controle em relação à ingestão de bebidas alcoólicas e que esta perdapode apresentar-se de forma continuada ou em episódios periódicos que se sucedem no tempo.No capítulo que trata dos Transtornos Mentais e do Comportamento relacionados ao Trabalho, oManual de Procedimentos para “Doenças Relacionadas ao Trabalho” (Ministério da Saúde,2001) detalha com clareza os critérios diagnósticos, podendo ser destacada a importância deidentificar no trabalhador examinado um forte desejo ou compulsão de consumir álcool emsituações de forte tensão presente ou gerada pelo trabalho. Outras manifestações sãoelencadas, sendo uma delas a que diz respeito aos sintomas de abstinência (síndrome deabstinência) - típicos e que aparecem na diminuição ou interrupção do uso da bebida.Ressaltamos, ainda, a seguinte diretriz presente no Manual: As manifestações devem ocorrerjuntas, de forma repetida durante período de 12 meses, devendo ser explicitada a relação daocorrência com a situação de trabalho” (p.176).Reiteramos a frequência com que na história clínica poderá ser identificada uma depressãoprévia à instalação do alcoolismo e que, muitas vezes, já estava relacionada com a situação detrabalho.A irritabilidade e outras alterações do humor geralmente levam a dificuldades e conflitos nasrelações interpessoais, tanto no ambiente de trabalho quanto na vida familiar e em outrosespaços sociais. O portador de alcoolismo em geral diminui seu desempenho no trabalho e sofreao sentir que perde credibilidade, que não se confia mais nele.Muitas vezes é concretamente discriminado e acaba sendo demitido por “justa causa”, sem teroportunidade nem de ver reconhecida a relação entre sua doença e a situação de trabalho nema de receber o apoio e orientação necessários à recuperação de sua saúde. Em muitas

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circunstâncias, estas pessoas são submetidas a pressões que as fazem assinar acordos pelosquais são rompidos seus contratos de trabalho.O diagnóstico de alcoolismo para muitos ainda tem o sentido de um rótulo ultrajante. Por isto, etambém para não se sentir pressionado a deixar algo que passou a ser sentido como essencial eimprescindível – a bebida – é que aqueles que desenvolveram a adição às bebidas alcoólicasdesenvolvem, também, tão intensas formas de negação.Negam a dependência e a necessidade de ajuda para enfrentá-la. Vivenciam uma profundaferida no amor próprio (ferida narcísica), a dor e a raiva pelas humilhações e muitas vezestambém fortíssimos sentimentos de vergonha e tristeza. A dinâmica em que são mobilizadosestes conteúdos cresce concomitantemente à incompreensão de seus comportamentos pelosdemais, no ambiente de trabalho e nos demais ambientes de sua vida cotidiana. Em muitoscasos sobrevêm a separação da família e o isolamento social. A exacerbação do consumoalcoólico pode conduzir, nestas circunstâncias, ao agravamento do quadro mental ou ao comaalcoólico. A psicose alcoólica e o delirium tremens são alguns dos agravos que poderão seapresentar.

8 SÍNDROME DO ESGOTAMENTO PROFISSIONAL (BURN-OUT) - Z73-0A expressão inglesa burn-out corresponde a “queimado até o final” e foi traduzida para oportuguês como “estar acabado”, na versão brasileira da CID-10. Esta é a denominação de umquadro clínico, que também foi chamado Síndrome do Esgotamento Profissional e que recebe ocódigo Z73-0 na Classificação oficial. Consideramos pejorativa a designação “estar acabado”,por isso utilizaremos aqui as denominações “síndrome de esgotamento profissional” e por jáhaver se tornado corrente na área “psi”- o termo “burn-out”.Herbert Freudenberger, em seu livro Burn-out, publicado em 1980, associa a síndrome àseguinte representação: um incêndio devastador, um “incêndio interno” (subjetivo) que reduz acinzas a energia, as expectativas e a auto-imagem de alguém que antes estava profundamenteenvolvido em seu trabalho. Baseando-se em um grande número de estudos de caso, Freudenberger identificou queespecialmente dois tipos de pessoas estão expostas ao “apagão interno” consubstanciado no“burn-out”: 1) indivíduos particularmente dinâmicos e propensos a assumir papéis de liderança ou de granderesponsabilidade;2) idealistas que colocam grande empenho em alcançar metas freqüentemente impossíveis deserem atingidas.Foram já realizados numerosos estudos sobre burn-out, tanto em abordagens epidemiológicas -na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá e, mais recentemente, na América Latina - quantoem pesquisas qualitativas. Estes estudos têm analisado profissionais dos setores de educação esaúde. Os profissionais que desenvolvem o burn-out são em sua maioria aqueles que prestamserviços a outras pessoas, especialmente os denominados cuidadores, isto é, aqueles quecuidam de outras pessoas. Têm sido constatadas altas freqüências da síndrome emprofessores/as, enfermeiras/os, médicos/as e assistentes sociais em diferentes países.Freudenberger também estudou casos de executivos.Atualmente, nas empresas, vem sendo observado número crescente de casos da síndrome, apartir da incrementação das grandes mudanças organizacionais que acompanham areestruturação produtiva.Ela tem incidido em gerentes de vários níveis da administração e em outros executivos. Nestasmudanças, as pressões sofridas continuadamente para que os indivíduos atinjam metas cadavez mais avançadas, adquirem caráter extenuante, podendo levar ao esgotamento profissional.Verificase nestes casos de reestruturação, tanto nas áreas administrativas quanto de produção,a importância assumida pelo sentimento de perda de algo que o indivíduo se senteimpossibilitado de reconstituir. No contexto contemporâneo as perdas tornam-se especialmenteimpactantes quando remetem para a dificuldade de encontrar alternativas, seja dentro docontexto de trabalho que foi transformado de modo a não haver retorno a uma situação anterior

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(“minha função desapareceu”, “meu antigo setor foi extinto”, “desfizeram a minha equipe”), sejafora da organização, pelo estreitamento do mercado de trabalho.Existem dois tipos principais de perda quando se “encolhe” a estrutura de uma empresa. Oprimeiro é a perda de uma função, de uma atividade na qual o indivíduo havia desenvolvidoexperiência e muitas vezes investido criatividade, atividade que era fonte de orgulho profissionale alicerce de identidade. Resulta em insegurança diante dos deslocamentos de cargo emudança de função. O segundo tipo de perda corresponde à perda afetiva, dos relacionamentosinterpessoais e da relação solidária que existia dentro de um coletivo que foi extinto (já falamos arespeito no tópico referente aos episódios depressivos).O quadro clínico da síndrome de esgotamento profissional apresenta como manifestação centraluma exaustão que eclode de modo aparentemente brusco, sob forma de uma crise.Freudenberger descreve uma fase prévia à irrupção do “incêndio aniquilador”, na qual se instalauma sensação de tédio que substitui o habitual entusiasmo pelo trabalho aparecendo, também,irritabilidade e mau-humor. O fenômeno central da vivência de esgotamento e exaustão éacompanhado por uma segunda manifestação característica desta síndrome: uma aguda reaçãoemocional negativa, de rejeição, ao que antes, no trabalho, era objeto de dedicação e cuidado.Professoras não suportam mais ver os alunos diante de si; enfermeiras referem não aguentarmais a proximidade dos doentes de quem cuidavam, médicos sentemigualmente esta súbita rejeição pelos clientes, da mesma forma que assistentes sociais sentemnecessidade de se afastar das pessoas que esperam atendimento. Instala-se o desinteressepelo trabalho. Tudo o que, anteriormente, “movia a alma” passa a ser indiferente ou irritante,sobrevém a dificuldade de concentração nas atividades e queda do desempenho - terceiramanifestação característica. O indivíduo percebe com inquietação e desânimo esta queda, aomesmo tempo que diminui seu envolvimento pessoal no trabalho. Uma tonalidade depressivacaracteriza o humor. Há perda de disposição, dificuldade para levantar, alterações do sono, numconjunto de manifestações que costuma exigir um diagnóstico diferencial das depressões. Emalguns casos, a ansiedade pode ser mais evidente que a depressão - que se mantém submersa(FREUDENBERGER ,1980). A insensibilidade, que emerge no que foi identificado como umfenômeno de despersonalização por Maslach (1982), transforma e endurece o relacionamentodos cuidadores com as pessoas que recebem seus serviços (Maslach tem desenvolvido muitaspesquisas sobre burn-out adotando como referencial a teoria do estresse, ao passo queFreudenberger é um psicanalista).Freudenberger (1980) constatou que o esgotamento profissional atinge pessoas que sededicavam intensamente a seu trabalho. Nas atividades voltadas para a formação edesenvolvimento humano (educadores), bem como na prestação de cuidados de saúde eproteção social em geral, essas pessoas tinham muitas vezes uma história pessoal queevidenciava que se atribuíam uma verdadeira missão e que mantinham expectativas grandiosasquanto ao que almejavam realizar e ao reconhecimento que esperavam merecer. Devemosacrescentar que nestas profissões, sempre existiu, em geral, uma consciência sobre o sentidosocial e humano de suas atividades, sentido este que é de natureza ética. Saúde e educaçãoconstituíam valores intrínsecos que davam sentido a seu trabalho, respectivamente paraprofissionais de saúde e para professores. Assistentes sociais formaram sua identidadeprofissional fundamentados na concepção de que proteção social era um direito vinculado àidéia de justiça social, e profundamente integrado à própria ideia da justiça como valor maior, aoqual deveria estar direcionado seu trabalho. Dentro desta perspectiva, podemos entender oesvaziamento subjetivo vivenciado no “burnout” que agora se dissemina no interior das redesinstitucionais em que atuam estes profissionais, considerando que surgiram ameaças e ataquesà preservação do sentido de seu trabalho. Estes constrangimentos estão embutidos emreformulações organizacionais acopladas ou não à introdução de novos recursos técnicos (mas,um alerta: não culpemos as novas tecnologias, o que importa são as decisões quanto aosmodos como elas são inseridas no processo de trabalho).Este ataque ao sentido do trabalho se deu, também, pela imposição de métodos e metas que seopõem ou são estranhos à dimensão ética que era inerente a esses tipos de trabalho e explica,assim, a disseminação atual do esgotamento profissional nas categorias mencionadas.

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A imposição de pressões de tempo e exigências de produtividade prejudicam a qualidade docontato interpessoal com os pacientes, na área de saúde e a própria realização dosprocedimentos e diagnósticos de uma consulta médica. A burocratização do trabalho dasenfermeiras e o volume de registros computadorizados que têm que operacionalizar, impedemque desenvolvam aspectos essenciais de sua profissão, na prestação de atenção direta aospacientes.Divisamos, assim, a questão da agressão ao sentido do trabalho, no cerne da diferença entre oque foi encontrado por Freudenberger nos anos 70 e o que se verifica na atualidade, quanto aoque desencadeia o processo subjetivo do “burn-out” em professores e cuidadores.O esvaziamento que foi descrito por Freudenberger é preponderantemente o do profissional quese dedicava ao trabalho como à uma causa, encontra incompreensão ou outras dificuldades,continua a esforçar- se, até que advenha, dolorosamente, a percepção de que está “dandomurro em ponta de faca” – momento em que ocorre a exaustão e sobrevém a sensação desaturação e fracasso, abrindo dolorosa ferida no amor-próprio (ferida narcísica). A crise ocorre,na atualidade, diante do desmoronamento não apenas de uma visão idealizada de si mesmo ede uma missão (como dizia Freudenberger), mas agora, também diante da percepção de que foiabalado o caráter ético que dava sentido às atividades de educação, saúde e assistência social.Uma observação relevante que tem sido feita é a de que o “burn -out” ocorre principalmentequando o profissional não encontra apoio social para resistir contra pressões que burocratizam,tecnificam artificialmente e esvaziam o sentido de suas atividades. O apoio preventivamentevalioso pode ser o constituído no ambiente de trabalho, mas também são significativos osespaços exteriores nos quais o trabalho e o sofrimento possam ser discutidos e repensados,desenvolvendo-se ações solidárias.Existem diversas pesquisas sobre saúde mental dos professores no Brasil. Assinalamos umaacurada análise de repercussões na saúde relacionadas à uma reforma administrativa queimpôs diretrizes neoliberais à organização do trabalho e aos conteúdos do ensino, na redepública da cidade de Vitória. Esse estudo foi realizado por Maria Elizabeth Barros (2001) e, entreoutras expressões de sofrimento mental, a autora encontrou nos depoimentos destesprofessores a percepção de um “esgotamento físico e mental” que os professores relacionavamàs mudanças administrativas que haviam sido implantadas. Tal “esgotamento”, ao lado de outrossintomas, havia feito com que vários professores tivessem se afastado da atividade docente emlicença médica (BARROS, 2001). As manifestações de desgaste mental que Mary Yale Nevesidentificou em professoras da cidade de João Pessoa assumiram igualmente configurações “queas aproximavam da síndrome patológica do Burnout.” (NEVES, 2000, p.159). É interessantesalientar que tanto Barros como Neves constataram a importância que a sublimação e a criaçãode um espaço coletivo de discussão assumiram, entre as professoras da rede pública de ambasas cidades, na resistência e superação do caráter patogênico do sofrimento mental.Não encontramos estudos publicados no Brasil sobre esgotamento profissional em uma outraárea na qual a ética é ao mesmo tempo princípio e substância, pois a promoção da Justiçaconfigura o objetivo primordial: o sistema Judiciário e o Ministério Público.Finalizando este tópico, para aplicação a questão do “burn-out” entre executivos, desejamossalientar ainda um aspecto: Freudenberger (1980) via uma outra característica psicológicaarticulada ao elevado nível de auto-exigência de desempenho. É algo que também vale a penacomentar no seu aspecto contemporâneo. Trata-se do esforço destas pessoas em identificar-sea um modelo ideal de profissional do campo a que pertence. Sabemos que, correspondendo aesse anseio por um modelo, mitos foram construídos em muitas organizações.Estímulos evidentes ou subliminares são direcionados para acender a identificação com ummodelo que não raro é uma figura mítica no histórico da própria empresa, às vezes, seu própriofundador (no Brasil, tornou-se clássico o caso da organização Bradesco e da mítica figura dodirigente-herói que serviu de modelo de identificação a milhares de funcionários durante váriasdécadas - caso este que foi magnificamente analisado por Segnini no livro A Liturgia do Poder(SEGNINI, 1988).Na cena contemporânea, o discurso empresarial, em consonância com os meios decomunicação, veicula, colado ao ideal e à meta de excelência, a imagem de um colaborador

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autônomo, hiper-responsável e perfeito. O ideal de perfeição é o novo modelo e traz em si avisão de uma saúde e uma disposição inesgotáveis. A imagem é impregnada de onipotência. Oempregado – ou colaborador, no novo discurso empresarial - recebe a imposição – feita comsutileza – de uma imagem que extrapola os limites humanos e a identidade pessoal queconstituiu ao longo da vida. Fabricada e projetada “de fora”, a imagem ideal é interiorizada e viraauto-imagem. Nesta, é abstraído o ser humano que tem um corpo e uma fisiologia, afetos evíinculos sociais, limites e necessidades próprias ( GAULEJAC, 1987). Existe apenas o “produtorincansável”. No ideal de perfeição fica implícita a ideia de saúde perfeita (SFEZ, 1996;SELIGMANN-SILVA, 2001). A persistência continuada em corresponder ao modelo assiminteriorizado, negando o próprio desgaste, encontra após certo tempo, seu limite, desembocandona crise de “burn-out”.O grande número de estudos existentes a respeito do burn-out parece evidenciar a magnitudeque o problema vem assumindo. Não poderíamos, portanto, esgotar aqui o tema.O Manual de Serviços para Doenças Relacionadas ao Trabalho, do Ministério da Saúde (2001),oferece diretrizes para o diagnóstico clínico, a prevenção e o tratamento da síndrome deesgotamento profissional, assim como para os demais transtornos mentais relacionados aotrabalho.Observações complementares: ao tomar em conjunto as análises feitas a respeito das trêspatologias, acreditamos constatar que as três se enraízam num mesmo “terreno” coletivo - oestado depressivo que prepondera no panorama psicossocial contemporâneo. Sustentando aimersão neste estado depressivo aparecem os medos e a incerteza. As características pessoaise situacionais de cada trabalhador presidem às interações que direcionam o desenvolvimentopatológico para uma das três expressões clínicas do sofrimento mental vinculado ao trabalhoque aqui tentamos estudar; nosso plano inicial com relação a esta exposição era incluir oestresse pós-traumático relacionado ao trabalho, o que não seria possível pelo tempo disponível.Resumimos brevemente: é um transtorno decorrente da vivência de uma agressão psíquicadesencadeada por um evento violento: por ex: testemunhar ou passar por um acidente grave,testemunhar ou ser vítima de assalto ou outro tipo de agressão física, encarar cenas onde aviolência deixou corpos mutilados ou pessoas mortas. A sintomatologia se inicia, geralmente,após um período de latência, inclui revivescências da cena traumática (fenômenos de flashback ) e também a ocorrência de sonhos repetidos referentes a mesma cena. O quadro seacompanha de ansiedade e pode desenvolver-se associado a um quadro depressivo.

9 OBSERVAÇÕES FINAISA violência identificada: as origens dos processos psicopatológicos que acabamos dedescrever, além da relação com o trabalho compartilham uma outra vinculação - a relação com aviolência. Às vezes uma violência evidente que passa pela ameaça e pela humilhação ou que sematerializa em condições ambientais de trabalho que atacam a dignidade humana. Outrasvezes, uma violência sutil - violência psicológica que se infiltra nas mentes através da imposiçãodos discursos e das invectivas de que tratamos aqui.A violência, na atualidade, é considerada um problema de saúde pública pela OrganizaçãoMundial de Saúde (DAHLBERG E KRUG, 2006). Consideramos, - a partir da análise dosprocessos sociais e psicológicos, que instauram os transtornos psíquicos relacionados aotrabalho - que na Psicopatologia no Trabalho estamos nos defrontando com uma problemáticade violência que precisa deixar de ser invisibilizada e passar a ser tratada como uma questão deSaúde Pública.Formação profissional e outros desafios: os desafios que a Psicopatologia no Trabalhoapresenta às políticas públicas são muitos. Gostaríamos de enfatizar a importância da inclusãodo tema Psicopatologia do Trabalho na formação dos profissionais dos diferentes setores quepoderão, integradamente, desenvolver ações para superar a expansão dos problemas que aquiforam expostos. Existe também um desafio político e um desafio aos meios de comunicaçãopara inclusão do assunto em seus projetos e ações. Seria ingênuo considerar que o setor dasaúde e seus profissionais poderão, sozinhos, dar conta das questões de Psicopatologia do

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Trabalho. Aqui, como nos outros graves problemas de saúde que atingem os trabalhadores,faz-se necessária uma ação interinstitucional e a participação informada da sociedade.

Trabalho e Remuneração

Numa sociedade cada vez mais

competitiva e que valoriza cada vez mais a

meritocracia (valorização ou recompensa pelo

mérito), a vida se tornará cada vez mais difícil para as pessoas situadas na parte inferior

da escala das capacidades. Mas, através de muito estudo, percebeu-se que a palavra

chave para o desenvolvimento organizacional era MOTIVAÇÃO, pois, é a força

propulsora (desejo) por trás de todas as ações de um organismo. Sem motivação não

chegamos a lugar algum.

Atualmente, as organizações são movidas pela competitividade do mercado e

buscam cada vez mais entender os motivos e razões que influenciam no desempenho

de seus colaboradores, deixando de visar apenas à qualidade final de seus produtos

e/ou serviços, passando a investir e valorizar seu capital intelectual, já que o sucesso de

uma organização depende cada vez mais do envolvimento e comprometimento de

pessoas, tornando a compreensão e implementação dos métodos motivacionais, um

mecanismo de extrema importância para o desenvolvimento sustentável das empresas.

Falaremos da motivação para ao trabalho e questionando o fato de a

remuneração ser ou não um elemento motivador e até que ponto as organizações estão

preparadas para sustentar um plano de motivação pela remuneração sem que isso se

torne uma bola de neve.

MOTIVAÇÃO NO AMBIENTE DE TRABALHO

O que mais preocupa os executivos na atualidade é atrair, desenvolver e manter

talentos. Para as organizações modernas, esse desafio consiste não unicamente na

busca de captar e desenvolver novos talentos, mas também em fazer com que essas

pessoas se sintam estimuladas a produzir criativamente, idealizando ao mesmo tempo a

consecução de metas pessoais e o sucesso organizacional.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 81

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As empresas buscam constantemente ter um quadro de funcionários motivado,

que "vista a camisa da empresa". Motivado para vender mais, atender melhor e superar

metas. É fundamental que as empresas saibam qual o tipo de motivação terá mais efeito

sobre a equipe. Muitas acreditam e fazem grandes investimentos em treinamentos,

distribuem prêmios, viagens, bônus, etc., tudo como forma de alcançarem o

reconhecimento e respeito dos funcionários pela empresa.

Para Bergamini (1997:34), "quanto mais se aprofunda o estudo do

comportamento motivacional humano, mais claramente se percebe que a motivação de

cada um está ligada a um aspecto que lhe é muito caro, aquele que diz respeito à sua

própria felicidade pessoal". Dessa forma, não é fácil a motivar pessoas, uma vez que

necessidades diferentes requerem formas diferentes de recompensa e que cada

indivíduo já traz consigo, quando ingressa na organização, um conjunto de fatores

motivacionais próprios de cada um estreitamente relacionados com habilidades e

talentos pessoais. Aqui deve ressaltar-se que os fatores motivacionais além de variarem

de indivíduo para indivíduo, também variam ao longo de sua vida e em conseqüência do

ambiente de grupo no qual esteja inserido. O que ontem satisfaria o empregado, hoje

pode ser motivo para que ele esteja desmotivado. É preciso descobrir de que forma as

recompensas constituem fator motivador para o trabalhador, para que as tarefas não

lhes pareçam tão-somente imposições, mas que tenham para ele significado.

Motivar passa a ser uma tarefa mais abrangente do que apenas recompensar

financeiramente. Torna-se uma busca diuturna e incessante da satisfação e realização

através do trabalho. Já não basta pagar mais e, sim, pagar melhor. Pois, uma pessoa

motivada é fruto de inúmeros fatores, que somam ou diminuem este sentimento, é o que

torna o ser humano capaz de superar qualquer desafio, e no ambiente de trabalho, isto

não é diferente. Desejos, vontades e instintos nascem da integração do ser humano com

o ambiente em que vive.

MOTIVAÇÃO ATRAVÉS DA REMUNERAÇÃO

Nos tempos atuais não é suficiente apenas atrair e formar

pessoas capazes de aprender constantemente, e que utilizem

racionalmente suas habilidades e competências para lidar com as

novas situações que se apresentam. É necessário seduzir, motivar,

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 82

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manter, comprometer, fidelizar esses talentos. Faz-se necessária assim, uma reflexão

sobre a falência do atual modelo de remuneração da maioria das organizações, que não

fornece suporte para manter um ambiente de compromisso e de motivação entre seus

colaboradores.

Estamos vivendo no mundo da flexibilidade, onde cada vez mais as pessoas têm

acesso a informação e se tornam mais exigentes. As empresas que querem alcançar

resultados diferenciados, inovadores e vencedores deverão, obrigatoriamente, alinhar

seu sistema de remuneração com suas estratégias, levando em consideração que o

reconhecimento é fruto da arte de diferenciar pessoas e, conseqüentemente, isso é o

que gera a mais sólida fidelidade aos resultados da organização.

Um programa bem estruturado de Remuneração deve estar sintonizado com a

complexidade organizacional. Fatores como estratégia, estilo gerencial e estrutura

compõem um diagnóstico indispensável para a sua criação e implementação, uma vez

que cada empresa possui características próprias e necessitam de um plano de

remuneração que a elas se ajuste. É parte imprescindível desse diagnóstico determinar

o perfil das pessoas envolvidas no processo produtivo e, a partir dos resultados de

análise obtidos, compor o melhor programa. As pessoas devem ser recompensadas não

pelo cargo que ocupam, mas pelo papel que desempenham, pelos seus talentos,

habilidades e pela capacidade de se ajustarem às mudanças rapidamente.

O que ocorre é que a maioria das soluções apresentadas, com o intuito de

motivar e fidelizar talentos, é evasiva, apesar do crescente número de especialistas e

idéias que surgem no mercado. Assim, ao invés de integrar novas estratégias, novas

configurações organizacionais, valores e atitudes pessoais em transformação, muitas

empresas continuam simplesmente a incorporar os mais recentes apetrechos da última

moda administrativa. Esta é certamente uma das razões para o ínfimo desempenho de

alguns planos de incentivos.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 83

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INCENTIVAR HABILIDADES E COMPETÊNCIAS

Dentre as diversas maneiras de remunerar

trabalhadores, duas se destacam pelo enriquecimento

profissional que provoca nos indivíduos e, por

conseguinte nas organizações: a remuneração por

habilidades e por competências.

Wood Jr. e Picarelli Filho (1999:69) definem habilidade como "a capacidade de

realizar uma tarefa ou um conjunto de tarefas em conformidade com determinados

padrões exigidos pela organização". A remuneração por habilidades tem como objetivo

justamente valorizar indivíduos e grupos pelo uso de suas capacidades, buscando ainda

um aperfeiçoamento contínuo destas. Na remuneração por habilidades o que se enfoca

é o indivíduo, e não o cargo por ele ocupado; e o fato de sua remuneração estar

relacionada ao uso e desenvolvimento de suas habilidades tende a promover a

motivação para o trabalho.

O desenvolvimento das habilidades proporciona aos empregados e à empresa um

crescimento que se apresenta na forma de vantagens como flexibilidade e

adaptabilidade, visão sistêmica, inovação e comprometimento da mão-de-obra,

reduzindo a rotatividade e o absenteísmo.

Embora a remuneração por habilidades não possa ser utilizada em todos os tipos

de organização, ficando mais restrita aos grupos de trabalho técnico e operacional, é

uma inovação gerencial que promove diferenças quando se trata de enfrentar um

mercado globalizado no qual a busca pela qualidade é uma constante, e a informação e

o conhecimento aliados ao desenvolvimento podem estabelecer diferenças.

A remuneração por competências cobre a área que a remuneração por

habilidades não atinge. Enquanto a remuneração por habilidades trata do trabalho

técnico, funcional, caracterizado pela reprodutibilidade e previsibilidade, a remuneração

por competências abrange o trabalho administrativo, que se caracteriza pela incerteza,

abstração e criatividade.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 84

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Para a implantação de um programa de remuneração, baseado em tais conceitos,

é necessário primeiramente descobrir que habilidades e competências são essenciais

para a organização. Identificá-las é tarefa complexa e árdua, mas não impossível.

Requer um trabalho sistematizado de análise da estratégia e competências da

organização, para então se determinar que habilidades e competências sejam

necessárias nos indivíduos ou grupos. O resultado mostrará o caminho para

remunerá-los adequadamente, promovendo a motivação e o compromisso com as

metas organizacionais.

Podemos concluir que na pressa de mudar, muitas empresas simplesmente

esquecem, desprezam ou, ainda pior, utilizam mal uma das ferramentas mais eficazes

nessa equação de mudança, a remuneração. Não se pode negar que o dinheiro

direciona o comportamento, e é fundamental reenquadrar os sistemas de remuneração

em uma visão mais ampla e abrangente. Nesse contexto, não se pode mais considerar

apenas cargos específicos e resultados financeiros, mas também as pessoas, seu

desempenho individual e em equipe, e a visão organizacional, que é mantida por esse

desempenho.

Com uma equipe saudável

financeiramente, aumentam as

chances. Somente com uma

verdadeira reeducação financeira,

de hábitos e costumes, poderemos

sonhar com uma melhor qualidade

de vida hoje e no futuro. Para

tanto, é preciso que a organização

proporcione ao trabalhador espaço

para a criatividade, o progresso e a realização. Este espaço pode ser construído através

do enriquecimento do trabalho. É preciso entender as necessidades dos funcionários,

não apenas em relação ao trabalho em si, mas, principalmente, no que diz respeito às

suas atividades pessoais, aos seus interesses de crescimento profissional e à sua

família, inclusive.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 85

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Psicologia do trabalho

Psicologia do trabalho é uma ramificação da Psicologia que abrange as áreas

de Psicologia Organizacional, Psicologia do Trabalho e das Empresas e Gestão de

Recursos Humanos.

De acordo com a definição de Daft, organizações são entidades sociais, dirigidas

por metas, desenhadas como sistemas de atividades deliberadamente estruturadas e

coordenados, ligados ao ambiente externo.

Para melhor conhecermos esse campo de conhecimento, vamos nos familiarizar

com alguns conceitos, a seguir:

Máquinas: As organizações são "máquinas feitas de partes que se interligam,

cada uma desempenhando seu papel, claramente definido, de relações

coordenadas com funcionamento semelhante as máquinas, rotinizada, eficiente,

confiável e previsível".

Organismos: São dependentes da satisfação de suas necessidades, são

sistemas abertos, onde necessitam de cuidadosa administração para satisfazer e

equilibrar necessidades internas.

Cérebro: Processam informações, são capazes de aprender, processando

informações, de comunicação e de decisões.

Cultura: São lugares onde residem idéias, valores,normas, rituais, crenças que

sustentam socialmente, produzindo significados comuns.

Sistema político: Moldados pelo conjunto de interesse, conflitos e jogos do

poder.

Prisão Psíquica: Podem tornar-se limitadoras, constrangedoras da criação e da

inovação.

Fluxo e transformação: Característica permanente é a mudança

(transformação), ganhando estabilidade mas sempre se mudando.

Instrumento de dominação: As pessoas são usadas e exploradas para atingir

os fins organizacionais.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 86

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Abordagens Psicológicas

Cognitivista

"Sistemas de comportamento, cooperativo planejado, alocando os membros com

relativa certeza do que os outros irão fazer".

Contribuições

Limites humanos em processar informações

Decisões programadas e não programadas

Limitações

Interesses pessoais frente aos interesses organizacionais

As tomadas de decisões não chegam a ser compreendidas

Culturalista

"Mini-sociedades com padrões distintos de cultura e subcultura, apoiadas em

normas operacionais, exercem influencias decisivas na habilidade em lhe dar com

desafios".

Contribuições

Destaca influencia do lado humano da organização no desempenho da mesma

Reestrutura conceitos clássicos como o de liderança

Limitações

Leituras simplistas dos processos culturais

Marginalização de questões de poder nas organizações

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 87

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As necessidades psicológicas

Em primeiro lugar, é conveniente esclarecer que não há um modelo universal

satisfatório de saúde psicológica, o que torna difícil especificar quais necessidades

deverão ser satisfeitas. Outra dificuldade é que a pessoa pode, prontamente substituir

uma necessidade psicológica por outra. pode-se compensar a deficiência de uma

necessidade satisfazendo-se uma outra necessidade. Pesquisas tem mostrado que as

necessidades psicológicas formam uma hierarquia: algumas necessidades tem

prioridade sobre outras. Quando necessidades prioritárias são satisfeitas, outras

aparecem. Henry Murray selecionou vinte necessidades básicas e Erick Fromm

especificou cinco necessidades humanas universais. E foi Abraham Maslow (1967)

quem apresentou a "Teoria da Hierarquia das Necessidades".

Maslow considera dois tipos de necessidades existentes no homem: as

necessidades básicas (fome, sede, sexo, segurança, realização) e as

meta-necessidades, que são qualidades espirituais tais como justiça, bondade, beleza,

ordem e unidade.

- Na ilustração, ao lado,

podemos ver como Maslow constrói

a hierarquia dessas necessidades:

1. Necessidades fisiológicas

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 88

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Essas necessidades representam a base da pirâmide por terem força maior. Somente

quando satisfeitas, o indivíduo passará a sentir necessidade de segurança, que é o próximo

degrau da escala. Essas necessidades fisiológicas, básicas para a manutenção da vida são:

alimento, roupa, abrigo, etc.

2. Necessidades de segurança

Fundamentalmente é a necessidade de estar livre de perigo físico, de medo e privação

de necessidades fisiológicas básicas.

3. Necessidade de aprovação social

Como o homem é um ser social, ele tem necessidade de participar de grupos e ser

aceito pelas pessoas. Depois que um indivíduo começa a satisfazer sua necessidade de

participação, geralmente deseja ser mais do que apenas um membro do grupo. Sente a

necessidade de estima.

4. Necessidade de estima

É a necessidade que as pessoas têm tanto de amor próprio quanto do reconhecimento

dos outros. A satisfação de tais necessidades traz sentimentos de auto-confiança.

5. Necessidade de auto-realização

No topo da pirâmide encontra-se a necessidade de auto-realização. É a necessidade

de realizar o máximo do potencial individual próprio.

Uma pessoa que busca a auto-realização está caminhando em direção ao uso das

suas potencialidades, talentos e capacidades.

Observa-se, assim, que existe una hierarquia de necessidades no homem. Portanto, se

um homem não tem satisfeitas as suas necessidades fisiológicas, ele não vai possuir a

consciência das necessidades de estima, por exemplo.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 89

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SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA DO TRABALHO

Para Dejours (1994), a psicopatologia tradicional está alicerçada no modelo clássico

da fisiopatologia das doenças que afetam o corpo. Dedica-se, exclusivamente, ao diagnóstico

das doenças mentais, dos transtornos mentais orgânicos, da esquizofrenia, dos transtornos

do humor e dos inúmeros transtornos de personalidade. O debate, porém, que este artigo

pretende explorar abrange as condições de milhares de pessoas sem imunidade que, embora

suportem as pressões, conseguem, de alguma forma, escapar de um transtorno psicótico

severo, mas que se mantêm, por assim dizer, no campo da normalidade.

Não é raro encontrar pessoas que, por uma condição de sua psicodinâmica interna,

possuem a propensão a transtornos mentais.

A ferramenta de que dispõem, sua força de trabalho, pode ser dispensada a qualquer

momento.

O desprezo assola o universo do trabalho e traz conseqüências drásticas para todos os

que têm em seu trabalho sua única forma de sobrevivência.

Contudo, a força de trabalho exigida precisa de especial qualificação, mesmo que seja,

como antigamente, para apertar um simples botão. Assim, para a maior parte das atividades,

exige-se um trabalhador complexo, que saiba muito mais além do que seria preciso para a

execução de determinada tarefa.

Acompanhando a tecnicidade do mundo, vai-se, paulatinamente, necessitando de um

trabalhador com maiores habilidades, ágil, que saiba lidar com uma nova representação de

mundo, mesmo que seja para ocupar um cargo simples como o de telefonista. Essa pessoa

tem de dominar sua língua, em alguns casos outro idioma, tem de ter rapidez tanto manual,

como na voz e na mente, além de uma bagagem de informação disponível enquanto recurso

pessoal para, ante qualquer dificuldade, utilizá-la.

Assim, o mundo do trabalho torna-se, de forma rápida e surpreendente, um complexo

monstruoso, que se por um lado poderia ajudar, auxiliar o homem em sua qualidade de vida,

por outro lado – patrocinado pelos que mantêm o controle do capital, da ferramenta diária que

movimenta a escolha de prioridades –, avassala o homem em todos os seus aspectos.

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Alguns são absorvidos, exigidos, sugados. Outros alçados a postos de poder e de

liderança que reproduzem o capital virtual.

Outros, por assim dizer, alguns milhões, são jogados como a escória cuja água benta

do emprego, da possibilidade do trabalho, não veio a salvar. Esse princípio de realidade

adentra e fere o psiquismo humano, fazendo com que as pessoas sintam-se exigidas; o

sentimento de impotência e de desvalorização, que leva as pessoas pouco resistentes a

degenerar-se rapidamente, avilta de si qualquer potencial humano que pudesse se somar às

conquistas da civilização.

PARADOXOS DO TRABALHO

A barbárie do capital instaura na contemporaneidade a desumanidade das relações

humanas, que se desqualificam quase totalmente, surpreendendo com a forma e a fôrma na

qual o homem atual vai colocando-se.

O capital, por meio do trabalho, organiza e estrutura o mundo. Só que hoje ele não tem

mais nomes, expressa-se por Fundos. As empresas são gerenciadas por executivos, não

mais por seus donos. Podem mudar de cidade, de nome, de país, de ramo de atividade,

deixando seus trabalhadores em pleno mar de incertezas e retirando-lhes a identificação com

sua prática diária e com a empresa para a qual trabalham.

No pensamento e análise precisos e pontuais de Ianni (2000), é principalmente no

neoliberalismo que se dá a dissociação entre o Estado e a sociedade civil, adquirindo o

primeiro características de um aparelho administrativo das classes e grupos que detêm o

poder, configurando-se como blocos dominantes em escala mundial. O que se observa é um

Estado comprometido com a possibilidade de facilitação da produção e dos mercados, tendo

em seu bojo a fluidez do capital produtivo e especulativo, da alta tecnologia, da informática,

etc. No entanto, sempre em sintonia com as políticas geradas pelo Fundo Monetário

Internacional (FMI), Banco Mundial (Bird), Organização Mundial do Comércio (OMC), Grupo

dos 7, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)

comprometidas em facilitar e incrementar a produção, com praticamente nenhum cuidado em

relação aos resultados de suas políticas, sua repercussão social ou conseqüências diretas na

vida de milhões de pessoas. Se o homem passa a maior parte de seu tempo trabalhando,

suas relações pessoais fora de casa deveriam ter um valor afetivo de extrema importância. No

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 91

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entanto, as relações de companheirismo e de amizade no trabalho não se concretizam, pois

elas são passageiras, imediatas, competitivas e as ligações afetivas, os vínculos não podem

estabelecer-se, já que com cada alteração rompem-se os laços, perdem-se as pessoas e daí,

além do castigo do desemprego, há a solidão, a perda irreparável.

Fala-se em corrosão do caráter porque ninguém, nem os que teriam todas as razões

para estarem satisfeitos com o sistema já que representam seu próprio ideal, encara seu

emprego num horizonte a longo prazo. O comportamento de curto prazo, como Sennett

(1998) observou, distorceu qualquer senso de realidade, confiança e comprometimento

mútuo. As empresas descartam seus funcionários e os que podem fazem o mesmo. As

pessoas parecem não mais estarem preocupadas com o significado do seu trabalho ou com a

oportunidade de vivência e troca coletiva. A preocupação volta-se para a acumulação de um

valor de troca, como se todos se convertessem em uma ação de mercado, cujo preço é

julgado por outrem. A verdadeira identificação com o trabalho parece viver de um objetivo que

não chega a concretizar-se: acumula-se aprendizado, dinheiro, experiência, aumentam-se as

páginas do currículo, tudo para o próximo processo seletivo já que o trabalho atual será

apenas momentâneo.

No presente, ao contrário da classe de mineiros descrita em Germinal, por Zola, o que

encontra-se são pessoas isoladas, esquizóides, que olham o colega como alguém não

confiável, não só pelo fato do que o outro realmente é, mas, muito mais, pelo que representa:

sofrimento e dor.

No universo pós-moderno “são muitos os que colocam em plano muito secundário, ou

simplesmente esquecem, o povo, as classes, os grupos e os movimentos sociais, assim como

as correntes de opinião pública e os jogos das forças sociais [...] Em especial, esquecem as

formas de organização social e técnica do trabalho, compreendendo as condições sob as

quais se desenvolvem e realizam a produção, distribuição, troca e consumo, processos com

os quais se funda uma parte fundamental da ‘fábrica’ da sociedade, em escala nacional e

mundial” (Ianni, 2000).

Retrocedendo na História, assim como sugere Marx (1996), mais dependente aparece

o indivíduo, e, conseqüentemente também o indivíduo produtor e o conjunto ao qual pertence.

De início, esse aparece de um modo ainda bastante natural, no seio da família e da tribo, esta

uma família ampliada. Mais tarde, surge nas inúmeras formas de comunidade resultantes do

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 92

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antagonismo e da fusão das tribos. Somente no século XVIII, na “sociedade burguesa”, é que

as diversas formas do conjunto social passaram a apresentar-se ao indivíduo como simples

meio de realizar seus fins privados, como necessidade exterior. Todavia, a época que produz

esse ponto de vista, o do indivíduo isolado, é precisamente aquela na qual as relações sociais

(e, desse ponto de vista, gerais) alcançaram o mais alto grau de desenvolvimento. Não

pretende-se nesse breve artigo sobrepor o homem atual àquele encontrado no século XVIII,

no que se refere, por exemplo, ao trabalho e à forma como ele se organiza. Mas, ao contrário,

esclarecer algumas das determinações históricas que fizeram com que o trabalho fosse e

tivesse a forma atual e porque a relação com o trabalho deve ser de sofrimento, de pena a ser

cumprida, de trabalho forçado e não algo ego-sintônico, motivado e prazeroso. Seriam apenas

as relações de propriedade e de exploração? Ou a própria produção cria aquele que

consome, que, por sinal, cria a própria Produção.

Para Marx (1996:31), “a produção é também imediatamente consumo. Consumo duplo,

subjetivo e objetivo. O indivíduo, que ao produzir desenvolve suas faculdades, também as

gasta, as consome, no ato da produção, exatamente como a reprodução natural é um

consumo de forças vitais”. Se a produção coincide com o consumo dos meios que

obrigatoriamente foram utilizados e gastos para que ela ocorresse, o próprio ato de produção

vai ser, como se verá, em todos os seus momentos, também ato de consumo. O resultado,

em síntese, é que a produção é consumo, e que, imediatamente, é produção. “Cada qual é

imediatamente seu contrário. Mas, ao mesmo tempo, opera-se um movimento mediador entre

ambos. A produção é mediadora do consumo, cujos materiais cria e sem os quais não terá

objeto. Mas o consumo é também mediador da produção ao criar para os produtos o sujeito,

para o qual são os produtos”

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 93

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QUALIDADE DE VIDA

Hoje, o discurso manifesto encontrado nos folhetins que tratam das relações do

trabalho parece demonstrar insistente

preocupação com a melhoria da

qualidade de vida dos que trabalham.

Todavia, encontra-se uma política

mundial de ajuste de custos que leva

governos e empresas a minguarem as

conquistas sociais alcançadas no

último século pela classe

trabalhadora.

Embora não exista uma definição consensual sobre a expressão “Qualidade de Vida no

Trabalho (QVT)”, o termo vem sendo utilizado com diferentes conteúdos e significados – sua

origem, segundo Trist (1981), concerne a uma conferência internacional sediada em Arden

House, em 1972, cujo tema principal versava sobre os “Sistemas Sociotécnicos”. Não

obstante, já no final da década de 50, quando o capital americano promove uma recessão

para organizar o seu parque industrial, observa-se certa preocupação com esse assunto nos

países que ditavam a política do capitalismo. Não teria portanto o “movimento” de QVT sua

verdadeira origem nas conseqüências sociais da primeira retração econômica significativa

após a Segunda Guerra Mundial nos EUA? É o que parece, ainda que tais mazelas só

possam ser conhecidas e sentidas em sua real magnitude na crise do modelo de

desenvolvimento fordista dos anos 60 e 70. O que se constata é que a qualidade de vida do

trabalhador, especialmente dos que vivem no terceiro mundo, vem-se degradando dia após

dia. Doenças até então inexistentes ou restritas a certos nichos empresariais, como a

LER/DORT tornaram-se comuns a todos, e espalharam-se como doenças

infecto-contagiosas, tornando impossibilitados, para o trabalho, milhares de trabalhadores. As

Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares (Dort) relacionados ao

trabalho são nomenclaturas utilizadas para designar inúmeras doenças, entre as quais

tenossinovites e tendinites, ou seja, inflamações que se manifestam nos tendões e nas

bainhas nervosas que os recobrem; são afecções que podem acometer músculos, tendões,

nervos e ligamentos de forma isolada ou associada, com ou sem a degeneração de tecidos, e

que pode ocasionar a invalidez permanente. Em geral, não são facilmente diagnosticadas – o

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 94

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que prejudica o processo de tratamento – e afetam sobretudo trabalhadores do sexo feminino,

das mais variadas atividades, com maior incidência entre os dezoito e trinta e cinco anos.

Parece até que, pelo encolhimento do mercado de trabalho, as lutas dos trabalhadores

restringem-se apenas à sobrevivência, assim como o quadro histórico encontrado no início do

século passado, em que a luta era para não morrer, não importando o preço que teria de ser

pago... viver como um estado apenas emergencial.

No entanto, se a qualidade de vida do trabalhador é vista, pelo menos como uma

política de relações públicas, ou como uma meta quase recorrente, deve-se perguntar o que

no trabalho pode ser apontado como fonte específica de nocividade para a vida mental. A

trama em que essa questão está envolta é quase evidente: a luta pela sobrevivência leva a

uma jornada excessiva de trabalho, e as condições em que o trabalho se realiza repercutem

diretamente na fisiologia do corpo. O rompimento de vínculos de relações fundamentais para

manutenção e fortalecimento da subjetividade humana atua de certa forma que pode

desencadear o assédio moral, o qual tem sido compreendido, atualmente, como a exposição

dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas

durante a jornada de trabalho; e passam a ser mais desestabilizadoras. Mesmo assim, logo

as relações ficam mais desumanas e aéticas, nas quais predominam os desmandos, a

manipulação do medo, a competitividade desenfreada e os programas de qualidade total

associados à produtividade e dissociados da QVT. A qualidade total sem qualidade de vida

não é integral, mas parcial. O trabalho como regulador social é fundamental para a

subjetividade humana, e essa condição mantém a vida do sujeito; quando a produtividade

exclui o sujeito podem ocorrer as seguintes situações: reatualização e disseminação das

práticas agressivas nas relações entre os pares, gerando indiferença ao sofrimento do outro e

naturalização dos desmandos administrativos; pouca disposição psíquica para enfrentar as

humilhações; fragmentação dos laços afetivos; aumento do individualismo e instauração do

pacto do silêncio coletivo; sensação de inutilidade, acompanhada de progressiva deterioração

identitária; falta de prazer; demissão forçada; e sensação de esvaziamento.

As condições laborais, bem como as relações diretas entre os trabalhadores,

influenciam diretamente a qualidade de vida. Essa, portanto, torna-se, nessa perspectiva,

estratégica para a sobrevivência e desenvolvimento futuros das organizações. Como a

produção estimula o consumo e ao mesmo tempo inventa o sujeito para o qual ela se destina,

deve, então, esse sujeito, receber os impactos diretos da organização do trabalho. Resta,

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 95

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então, deduzir que, em grande parte, o sofrimento mental do trabalhador é conseqüência

direta dessa organização, isto é, da divisão do trabalho, do conteúdo da tarefa, do sistema

hierárquico, das modalidades de comando, das relações de poder, etc.; de todo um aparato

que modula a percepção, o controle dos impulsos, as possibilidades de apreensão e a

reflexão do que produz e que também se consome nas tarefas que executa.

O SOFRIMENTO DO TRABALHO

Dejours (1992) afirma que executar uma tarefa

sem envolvimento material ou afetivo exige

esforço de vontade que em outras circunstâncias

é suportado pelo jogo da motivação e do desejo. A

vivência depressiva em relação ao trabalho e a si

mesmo alimenta-se da sensação de

adormecimento intelectual, de esclerose mental, de paralisia da fantasia e da imaginação; na

verdade, marca de alguma forma o triunfo do condicionamento em relação ao comportamento

produtivo e criativo. Para esse pensador, no que diz respeito à relação do homem com o

conteúdo significativo do trabalho, é possível considerar, esquematicamente, dois

componentes: o conteúdo significativo em relação ao sujeito e o conteúdo significativo,

pode-se assim dizer, em relação ao objeto. Quando o progresso e o avanço dessa relação

são bloqueados por algum motivo ou circunstância, observa-se a incidência do sofrimento.

O sofrimento, por seu turno, é desdobrado: o ponto de incidência proveniente das

ações mecânicas, conteúdo ergonômico da tarefa, é o corpo e não o aparelho mental; esse

último será afetado pela insatisfação propiciada pelo conteúdo significativo da tarefa a ser

executada, transformando em sofrimento bem particular, cujo alvo, antes de tudo, é a

subjetividade, ou seja, a mente.

Freud (1987a), ao descrever o desenvolvimento psíquico, relata que uma criança

recém-nascida ainda não diferencia seu ego do mundo externo como origem das inúmeras

sensações que são vivenciadas por ela; apenas, com o passar do tempo, e progressivamente,

vai aprendendo a fazer tal diferenciação, reagindo de modo adequado aos estímulos

correspondentes. Por seu lado, o ego, movido pelo princípio do prazer, tenta afastar as

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 96

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sensações desprazerosas, denotanto uma tendência a isolar e a projetar para fora de si tudo

o que pode ser fonte de desprazer.

Num estágio de maior integração, o ego, com a ação deliberada das atividades

sensórias e da ação muscular correspondente, consegue diferenciar entre o que é interno e o

que origina-se do mundo externo, estabelecendo dessa forma as condições para a introdução

do princípio de realidade. Por meio desse último, o ego pode localizar o sofrimento surgindo

de três direções: de nosso próprio corpo, do mundo externo e da nossa relação com as outras

pessoas.

Pelos problemas aqui abordados, as questões que envolvem a psicodinâmica do

trabalho tornam-se pontos fundamentais de preocupação para os que lidam com Saúde

Pública, sobretudo quando se sabe que a separação entre mente e corpo é apenas uma

questão semântica, didática, e que o conceito de saúde vai muito além do que a mera

ausência sintomática de doenças. Quanto à psicologia, concorda-se com Freud (1987b:61)

quando assinala que “um psicólogo que não se ilude sobre a dificuldade de descobrir a

própria orientação neste mundo, efetua um esforço para avaliar o desenvolvimento do

homem, à luz da pequena porção de conhecimentos que obteve através de um estudo dos

processos mentais de indivíduos durante seu desenvolvimento de criança a adulto”. Não se

pode ser fiador de futuras ilusões para a grande massa de trabalhadores, que sofre com o

trabalho ou com a sua falta. O trabalho não pode ser uma negatividade da vida, mas, muito

pelo contrário, sua expressão, coisa que o capitalismo, em suas mais variadas versões

apresentadas no decorrer da história, não permitiu que ocorresse. Eis a Esfinge que cabe ao

homem contemporâneo decifrar, para não ser definitivamente devorado por ela.

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Psicologia do Desenvolvimento Contribuições Teóricas

Sigmund Freud (1856-1939)

Propõe, à data, um novo e radical

modelo da mente humana, que alterou a

forma como pensamos sobre nós próprios,

a nossa linguagem e a nossa cultura. A

sua descrição da mente enfatiza o papel

fundamental do inconsciente na psique

humana e apresenta o comportamento

humano como resultado de um jogo e de

uma interação de energias.

Freud contribuiu para a eliminação da tradicional oposição básica entre sanidade

e loucura ao colocar a normalidade num continuum e procurou compreender

funcionamento do psiquismo normal através da gênesis e da evolução das doenças

psíquicas.

Estudo do desenvolvimento psíquico da pessoa a partir do estádio indiferenciado

do recém-nascido até à formação da personalidade do adulto. Muitos dos problemas

psicopatológicos da idade adulta de que trata a Psicanálise têm as suas raízes, as suas

causas, nas primeiras fases ou estádios do desenvolvimento.

Na perspectiva freudiana, a “construção” do sujeito, da sua personalidade, não se

processa em termos objetivos (de conhecimento), mas em termos objetais. O objeto, em

Freud, é um objecto libidinal, de prazer ou desprazer, “bom ou mau”, gratificante ou não

gratificante, positivo ou negativo. A formação dos diferentes estádios é determinada,

precisamente, por essa relação objectal. (Estádios: Oral, Anal, Fálico, Latência, Genital)

*A sua teoria sobre o desenvolvimento da personalidade atribui uma nova importância às

necessidades da criança em diversas fases do desenvolvimento e sobre as consequências da negligência

dessas necessidades para a formação da personalidade

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 98

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Jean Piaget (1896-1980)

Jean Piaget (1896-1980) foi um dos

investigadores mais influentes do séc. 20

na área da psicologia do desenvolvimento.

Piaget acreditava que o que distingue o

ser humano dos outros animais é a sua

capacidade de ter um pensamento

simbólico e abstrato.

Piaget acreditava que a maturação biológica estabelece as pré-condições para o

desenvolvimento cognitivo. As mudanças mais significativas são mudanças qualitativas

(em género) e não qualitativas (em quantidade).

Existem 2 aspectos principais nesta teoria: o processo de conhecer e os estádios/

etapas pelos quais nós passamos à medida que adquirimos essa habilidade.

Como biólogo, Piaget estava interessado em como é que um organismo se

adapta ao seu ambiente (ele descreveu esta capacidade como inteligência) - O

comportamento é controlado através de organizações mentais denominadas

“esquemas”, que o indivíduo utiliza para representar o mundo e para designar as

acções. Essa adaptação é guiada por uma orientação biológica para obter o balanço

entre esses esquemas e o ambiente em que está. (equilibração). Assim, estabelecer

um desequilíbrio é a motivação primária para alterar as estruturas mentais do indivíduo.

Piaget descreveu 2 processos utilizados pelo sujeito na sua tentativa de

adaptação: assimilação e acomodação. Estes 2 processos são utilizados ao longo da

vida à medida que a pessoa se vai progressivamente adaptando ao ambiente de uma

forma mais complexa.

Capta as grandes tendências do pensamento da criança

Encara as crianças como sujeitos ativos da sua aprendizagem

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Lev Vygotsky (1896-1934)

Lev Vygotsky desenvolveu

a teoria socio-cultural do

desenvolvimento cognitivo. A sua

teoria tem raízes na teoria

marxista do materialismo dialético,

ou seja, que as mudanças

históricas na sociedade e a vida

material produzem mudanças na

natureza humana.

Vygotsky abordou o desenvolvimento cognitivo por um processo de orientação. Em

vez de olhar para o final do processo de desenvolvimento, ele debruçou-se sobre o

processo em si e analisou a participação do sujeito nas atividades sociais → Ele propôs

que o desenvolvimento não precede a socialização. Ao invés, as estruturas sociais e as

relações sociais levam ao desenvolvimento das funções mentais.

Ele acreditava que a aprendizagem na criança podia ocorrer através do jogo, da

brincadeira, da instrução formal ou do trabalho entre um aprendiz e um aprendiz mais

experiente.

O processo básico pelo qual isto ocorre é a mediação (a ligação entre duas

estruturas, uma social e uma pessoalmente construída, através de instrumentos ou sinais).

Quando os signos culturais vão sendo internalizados pelo sujeito é quando os humanos

adquirem a capacidade de uma ordem de pensamento mais elevada.

Ao contrário da imagem de Piaget em que o indivíduo constrói a compreensão do

mundo, o conhecimento sozinho, Vygostky via o desenvolvimento cognitivo como

dependendo mais das interações com as pessoas e com os instrumentos do mundo da

criança.

Esses instrumentos são reais: canetas, papel, computadores; ou símbolos:

linguagem, sistemas matemáticos, signos.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 100

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Teoria de Vygotsky do Desenvolvimento Cognitivo

Vygostsky sublinhou as influências socioculturais no desenvolvimento cognitivo

da criança:

O desenvolvimento não pode ser separado do contexto social

A cultura afeta a forma como pensamos e o que pensamos

Cada cultura tem o seu próprio impacto

O conhecimento depende da experiência social

A criança desenvolve representações mentais do mundo através da cultura e da

linguagem.

Os adultos têm um importante papel no desenvolvimento através da orientação que

dão e por ensinarem (“guidance and teaching”).

Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) – intervalo entre a resolução de

problemas assistida e individual.

Uma vez adquirida a linguagem nas crianças, elas utilizam a linguagem/discurso

interior, falando alto para elas próprias de forma a direccionarem o seu próprio

comportamento, linguagem essa que mais tarde será internalizada e silenciosa –

Desenvolvimento da Linguagem.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 101

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Henri Wallon (1879 – 1962)

Wallon procura explicar os

fundamentos da psicologia como

ciência, os seus aspectos

epistemológicos, objetivos e

metodológicos.

Considera que o homem é

determinado fisiológica e

socialmente, sujeito às

disposições internas e às

situações exteriores.

Wallon propõe a psicogénese da pessoa completa (psicologia genética), ou

seja, o estudo integrado do desenvolvimento.

Para ele o estudo do desenvolvimento humano deve considerar o sujeito como

“geneticamente social” e estudar a criança contextualizada, nas relações com o meio.

Wallon recorreu a outros campos de conhecimento para aprofundar a explicação dos

fatores de desenvolvimento (neurologia, psicopatologia, antropologia, psicologia animal).

Considera que não é possível selecionar um único aspecto do ser humano e vê o

desenvolvimento nos vários campos funcionais nos quais se distribui a atividade infantil

(afetivo, motor e cognitivo).

Vemos então que para ele não é possível dissociar o biológico do social no homem.

Esta é uma das características básicas da sua Teoria do Desenvolvimento.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 102

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Burrhus F. Skinner (1904 – 1990)

Psicólogo Americano,

conduziu trabalhos pioneiros em

Psicologia Experimental e defendia o

comportamentalismo / behaviorismo

(estudo do comportamento

observável).

Tinha uma abordagem sistemática para compreender o comportamento humano,

uma abordagem de efeito considerável nas crenças e práticas culturais correntes.

Fez investigação na área da modelação do comportamento pelo reforço positivo

ou negativo (condicionamento). O condicionamento operante explica que um determinado

comportamento tem uma maior probabilidade de se repetir se a seguir à manifestação do

comportamento se apresentar de um reforço (agradável). É uma forma de

condicionamento onde o comportamento acabará por ocorrer antes da resposta.

A aprendizagem, pode definir-se como uma mudança relativamente estável no

potencial de comportamento, atribuível a uma experiência - Importância dos estímulos

ambientais na aprendizagem.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 103

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BIBLIOGRAFIA

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Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

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Tradução de José Henrique Lamendorf. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002.

Braverman, Harry. Trabalho e capital monopolista. Editora Zahar, RJ, 3ª edição, 1981.

DEJOURS, C. Psicodinâmica do trabalho. São Paulo: Atlas, 1994.

_______ . A loucura do trabalho. São Paulo: Cortez, 1992.

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Ely, Helena Bins. Feminino e masculino na especialização flexível (trabalho apresentado no

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Hirata, Helena. Relações sociais de sexo e divisão do trabalho (sem referências).

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MINICUCCI, Agostinho. Relações humanas: psicologia das relações interpessoais. São

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<http://www.idph.com.br/conteudos/ebooks/TextosSelecionados.pdf>. Acesso em: 28 jul.

2008.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 104

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JANELA DE JOHARI (Joseph Luft e Harry Ingham, Estados Unidos,1961)

1 – Se eu entro em conflito com alguém que me é particularmente importante e com quem sinto que tenho que cooperar para atingir um dado fim, eu geralmente:a) ( ) Sinto-me parcialmente responsável e tento me colocar na posição dele, vendo como está sendo afetado.b) ( ) Procuro não me envolver muito, pois tenho receio que nossas relações possam romper-se.

2 – Se ao dialogar com outra pessoa, percebo que a conversa está polarizandoem torno de assuntos que me são desconhecidos, na maioria dos casos, eu:a) ( ) Procuro desviar o curso da conversa para assuntos que eu domine.b) ( ) Manifesto abertamente meu desconhecimento do assunto e estimulo o prosseguimento da conversa.

3 – Quando alguém manifesta suas impressões sobre o meu comportamento esua pouca eficácia, eu, freqüentemente:a) ( ) Encorajo-o para que exemplifique e me explique melhor suas impressões.b) ( ) Tento explicar-lhe o “porquê” do meu comportamento.

4 – Se um colega com que tenho um relacionamento próximo passa a evitar-me e a agir de uma forma gentil, mas dissimulada, eu, geralmente:a) ( ) Chamo-lhe a atenção sobre sua atitude e peço-lhe que me diga o que está ocorrendo.b) ( ) Comporto-me tal como ele é, relaciono-me superficialmente, já que é isso que ele deseja.

5 – Se eu e um dos meus colegas tivemos uma discussão acirrada no passado e notei que, a partir de então, ele se sente pouco à vontade junto de mim, eu:a) ( ) Evito agravar a situação e deixo as coisas correrem como estão.b) ( ) Chamo a atenção para os efeitos da controvérsia do nosso relacionamento.

6 – Se você está com algum problema pessoal, torna-se irritável e descarrega sua tensão em coisas sem importância e alguém o alerta sobre isso, você:a) ( ) Diz que está preocupado e gostaria de ficar sozinho, sem ser molestado.b) ( ) Escuta as observações, sem tentar justificar sua atitude.

7 – Se eu observo que alguém com quem tenho um relacionamento relativamente bom está assumindo atitudes que limitam sua eficácia, eu:a) ( ) Guardo minhas opiniões com receio que possa parecer muito intrometido.b) ( ) Digo o que acho e como me sinto a respeito dessas atitudes.

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 105

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8 – Se numa conversação, alguém, inadvertidamente, menciona algum fato que possa afetar minha área de atuação, eu, usualmente:a) ( ) Procuro estimulá-lo a falar a fim de obter maiores informações.b) ( ) Deixo-o à vontade para que, espontaneamente, me dê maiores informações.

9 – Se eu noto que alguém de minha relação está tenso e preocupado e descarrega sua irritação em coisa pequena, eu:a) ( ) Procuro tratá-lo com muito tato, sabendo que essa fase é temporária e que seu problema não é da minha conta.b) ( ) Procuro conversar com ele e mostrar-lhe como está afetando os outros àsua volta, inclusive a mim.

10 – Conversando com alguém que é muito “sensível”, sobre sua própria atuação, eu, freqüentemente:a) ( ) Evito ressaltar seus erros para não melindrá-lo.b) ( ) Enfoco basicamente seus erros numa tentativa de auxiliá-lo.

Procure atribuir um total de dez pontos às duas alternativas, distribuindo-ossegundo uma das seguintes combinações:

( 10/0 ) – ( 0/10 ) – ( 8/2 ) – ( 2/8 ) – ( 6/4 ) – ( 4/6 )

Tabulação do Questionário Janela de Johari

ABERTURA FEEDBACKQUESTÕES OPÇÕES PONTOS QUESTÕES OPÇÕES PONTOS

01 A 03 A02 B 04 A07 B 05 B09 B 06 B10 B 08 A

TOTAL PONTOS TOTAL PONTOS

Técnico em Segurança do Trabalho - PSICOLOGIA DO TRABALHO 106

feedback

Autoexposição

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Hino do Estado do Ceará

Poesia de Thomaz LopesMúsica de Alberto NepomucenoTerra do sol, do amor, terra da luz!Soa o clarim que tua glória conta!Terra, o teu nome a fama aos céus remontaEm clarão que seduz!Nome que brilha esplêndido luzeiroNos fulvos braços de ouro do cruzeiro!

Mudem-se em flor as pedras dos caminhos!Chuvas de prata rolem das estrelas...E despertando, deslumbrada, ao vê-lasRessoa a voz dos ninhos...Há de florar nas rosas e nos cravosRubros o sangue ardente dos escravos.Seja teu verbo a voz do coração,Verbo de paz e amor do Sul ao Norte!Ruja teu peito em luta contra a morte,Acordando a amplidão.Peito que deu alívio a quem sofriaE foi o sol iluminando o dia!

Tua jangada afoita enfune o pano!Vento feliz conduza a vela ousada!Que importa que no seu barco seja um nadaNa vastidão do oceano,Se à proa vão heróis e marinheirosE vão no peito corações guerreiros?

Se, nós te amamos, em aventuras e mágoas!Porque esse chão que embebe a água dos riosHá de florar em meses, nos estiosE bosques, pelas águas!Selvas e rios, serras e florestasBrotem no solo em rumorosas festas!Abra-se ao vento o teu pendão natalSobre as revoltas águas dos teus mares!E desfraldado diga aos céus e aos maresA vitória imortal!Que foi de sangue, em guerras leais e francas,E foi na paz da cor das hóstias brancas!

Hino Nacional

Ouviram do Ipiranga as margens plácidasDe um povo heróico o brado retumbante,E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,Brilhou no céu da pátria nesse instante.

Se o penhor dessa igualdadeConseguimos conquistar com braço forte,Em teu seio, ó liberdade,Desafia o nosso peito a própria morte!

Ó Pátria amada,Idolatrada,Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívidoDe amor e de esperança à terra desce,Se em teu formoso céu, risonho e límpido,A imagem do Cruzeiro resplandece.

Gigante pela própria natureza,És belo, és forte, impávido colosso,E o teu futuro espelha essa grandeza.

Terra adorada,Entre outras mil,És tu, Brasil,Ó Pátria amada!Dos filhos deste solo és mãe gentil,Pátria amada,Brasil!

Deitado eternamente em berço esplêndido,Ao som do mar e à luz do céu profundo,Fulguras, ó Brasil, florão da América,Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Do que a terra, mais garrida,Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;"Nossos bosques têm mais vida","Nossa vida" no teu seio "mais amores."

Ó Pátria amada,Idolatrada,Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símboloO lábaro que ostentas estrelado,E diga o verde-louro dessa flâmula- "Paz no futuro e glória no passado."

Mas, se ergues da justiça a clava forte,Verás que um filho teu não foge à luta,Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada,Entre outras mil,És tu, Brasil,Ó Pátria amada!Dos filhos deste solo és mãe gentil,Pátria amada, Brasil!

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