47
SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDE PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL ANGELA NORONHA PASSOS HISTOPLASMOSE PULMONAR AGUDA: RELATO DE UMA MICROEPIDEMIA DIAGNOSTICADA POR MÉTODOS IMUNOLÓGICOS Monografia apresentada ao Programa de Aprimoramento Profissional/SES, elaborada na Seção de Imunologia, Divisão de Biologia Médica do Instituto Adolfo Lutz. Área: Imunologia e Biologia Molecular aplicadas às doenças de interessem em Saúde Pública. SÃO PAULO 2009

SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDE

PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL

ANGELA NORONHA PASSOS

HISTOPLASMOSE PULMONAR AGUDA: RELATO DE UMA MICROEPIDEMIA DIAGNOSTICADA POR MÉTODOS IMUNOLÓGICOS

Monografia apresentada ao Programa de Aprimoramento Profissional/SES, elaborada na Seção de Imunologia, Divisão de Biologia Médica do Instituto Adolfo Lutz. Área: Imunologia e Biologia Molecular aplicadas às doenças de interessem em Saúde Pública.

SÃO PAULO 2009

Page 2: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

2

Este trabalho foi realizado no

Laboratório de Imunodiagnóstico das

Micoses da Seção de Imunologia do

Serviço de Microbiologia e Imunologia

da Divisão de Biologia Médica do

Instituto Adolfo Lutz de São Paulo

Apoio Financeiro:

Instituto Adolfo Lutz de São Paulo –

Coordenadoria de Controle de

Doenças – SES/SP (Projetos CTC-

IAL#107/97 e #06/04)

Secretaria de Estado da Saúde -

Programa de Aprimoramento

Profissional (PAP)

Page 3: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

3

Dedico este trabalho ao Pietro

que desde que chegou, mudou

completamente minha maneira

de encarar a vida.

Page 4: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, antes de tudo, por todas as graças alcançadas e

por iluminar meu caminho e minhas escolhas a cada despertar do dia.

Aos meus pais, Dirceu e Doralice, pelo carinho, incentivo e muita

paciência dedicados a minha criação.

Ao meu sobrinho Pietro por ser minha razão de acordar todos os dias

e pelo seu sorriso incentivador que me estimula a enfrentar o mundo.

A minha tia Daisy, pelo incentivo à ciência, por ser uma referência

profissional na minha vida e por me abrigar nos momentos em que eu

procurei isolamento.

Á minha orientadora Drª Adriana Pardini Vicentini Moreira pela

oportunidade de orientação e incentivo a pesquisa; por ser minha referência

profissional, por todo carinho dispensado neste período, pela paciência

sempre demonstrada, por sempre me incentivar a tomar decisões da melhor

forma e, acima de tudo, por ser uma grande amiga e uma pessoa

inesquecível na minha vida.

A Drª Elizabeth de los Santos Fortuna por supervisionar o PAP da

Seção de Imunologia com tanta dedicação, pelos ensinamentos profissionais

e pessoais e pelo carinho com o qual me tratou desde o início do Programa.

À Regiane dos Santos Feliciano, por ser uma grande companheira de

trabalho e uma amiga ainda melhor, pela cumplicidade, cooperação mútua e

companheirismo em todos os momentos.

Às colegas de laboratório Val, Simone e Lucia pelo apoio nas horas

críticas, pelas “quebradas de galho” e por todos os momentos de

descontração.

A todos os colegas de Seção, funcionários e pesquisadores pelo

carinho, atenção e respeito com que sempre fui tratada.

Á Mari, Joyce, Késia e pessoal do “Cardume”, Luana, Carlinha, Léo,

Thais, Marcela, Nathy, Roberta, Claudinha, Ale, Eduardo, Victor, Flavia,

Page 5: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

5

Ellen, Alan e Grazi pela troca de experiências e pelos momentos divertidos

que passamos juntos dentro e fora do IAL.

A Secretaria de Estado da Saúde, que através do Programa de

Aprimoramento Profissional me proporcionou uma excelente oportunidade

de crescimento profissional e, também, pela concessão da bolsa de estudo

que muito incentivou para a realização do PAP.

Ao Instituto Adolfo Lutz, em especial à Seção de Imunologia e Divisão

de Biologia Médica por fornecer a infraestrutura necessária ao

desenvolvimento deste projeto e meu aprimoramento profissional.

A Claudia, da Equipe técnica do PAP, da CRH-SES, por todo o auxílio

burocrático e incentivo à luta dos aprimorandos.

À Paula Picciafuoco, Mari Shirabayashi e Cibele Moreira, da Fundap,

por terem cuidado do PAP com tanto apreço por todos estes anos, por

incentivarem os aprimorandos a buscar seus direitos.

À Raylla e Emanuela, em nome de todos os representantes dos

aprimorandos, por lutarem tanto e por todas as conquistas obtidas nestes

últimos anos.

As minhas amigas mais especiais Marcella, Débora, Tais e Mari por

não permitirem que eu me sinta sozinha nunca, mesmo quando não estou

com elas.

A minha irmã Mariana e aos meus amigos Diogo, Rafael, Maira,

Coquinho, Laura, Luiz, José Victor, Michelle, Ludmilla, Chico e todos os

outros não citados por fazerem parte da minha vida.

Page 6: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

6

“.... Os homens perdem a saúde para juntar

dinheiro, depois perdem o dinheiro para

recuperar a saúde. E por pensarem

ansiosamente no futuro esquecem do

presente de forma que acabam por não viver

nem no presente nem no futuro. E vivem

como se nunca fossem morrer... e morrem

como se nunca tivessem vivido.”

Dalai Lama

Page 7: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

7

Resumo

A histoplasmose pulmonar aguda (HPA), causada pelo Histoplasma

capsulatum, é processo infeccioso que acomete indivíduos hígidos que

inalaram grande quantidade de esporos existentes no solo contendo fezes

de pássaros e/ou morcegos. O objetivo deste trabalho foi confirmar, na

ausência de evidências micológicas, a ocorrência de microepidemia de HPA

em um grupo de 35 indivíduos que visitou caverna localizada no Município

de Arapeí, São Paulo, Brasil, empregando-se ensaios imunológicos. Para

tanto, avaliou-se por imunodifusão dupla (ID) e immunoblotting (IB), duas

amostras de soros de cada indivíduo, enviadas ao laboratório em outubro e

novembro de 2007. Das 35 amostras avaliadas na primeira coleta, realizada

menos de um mês após a exposição ao fungo, apenas um indivíduo

apresentou, por ID, presença de anticorpos anti-H. capsulatum. Por IB,

observou-se que 51% dos soros reagiram frente à fração H e M de H.

capsulatum, marcadores sorológicos da doença e indicador de infecção

aguda; 11% frente à fração M, sugerindo contato com o agente etiológico;

34% apresentaram ausência de reatividade frente às frações H e/ou M e um

(3%) indivíduo não foi avaliado por insuficiência de material. A análise do

material coletado dois meses após a exposição do grupo ao H. capsulatum,

30 soros, revelou que 97% apresentaram, por ID, reatividade frente ao

antígeno de H. capsulatum com títulos variando de 1/1 a 1/16, apenas um

indivíduo (3%) apresentou ausência de reatividade. Quando estes soros

foram avaliados pelo IB, verificou-se 100% de reatividade frente às frações H

e M comprovando a infecção aguda por H. capsulatum. Na ausência de

evidências micológicas, o emprego da técnica de immunoblotting foi

fundamental para detecção precoce de anticorpos circulantes anti-H.

capsulatum, contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos

Municípios de Areais e Arapeí na confirmação do surto de histoplasmose.

Palavras Chaves: Histoplasma capsulatum, Histoplasmose pulmonar

aguda, microepidemia, imunodiagnóstico.

Page 8: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

8

Abstract

Acute pulmonary histoplasmosis (HPA), caused by Histoplasma

capsulatum, is an infectious process that affects healthy individuals who

inhaled large amounts of spores in the soil containing bird and/or bats feces.

This study confirms, in the absence of evidence mycology, the occurrence of

microepidemics of HPA in a group of 35 individuals who visited cave located

in Arapeí city, São Paulo, Brazil, using immunological assays. For both, it

was evaluated by double immunodiffusion (ID) and immunoblotting (IB), two

samples of sera from individuals sent to the laboratory in October and

November 2007. Of the 35 samples analyzed at the first gathering,

performed less than a month after exposure to the fungus, only one individual

has, by ID, presence of anti-H. capsulatum. By IB, we observed that 51% of

the sera reacted against the fraction of H and M from H. capsulatum,

serologic markers of disease and an indicator of acute infection, 11% against

the M fraction, suggesting contact with the etiologic agent, 34% showed

absence of reactivity against fractions of H and / or M and one (3%)

individuals has not been evaluated for lack of material. The analysis of

material collected two months after exposure to the group to H. capsulatum,

30 sera showed that 97% presented by ID, reactivity against the antigen of H.

capsulatum with titles ranging from 1/1 to 1/16, only one individual (3%)

showed no reactivity. When these sera were analyzed by IB, there was 100%

of reactivity against the H and M fractions showing acute infection by H.

capsulatum. In the absence of mycology evidence, the use of the

immunoblotting technique was essential for early detection of circulating

antibodies anti-H. capsulatum, contributing therefore to the Epidemiological

Surveillance of Municipalities of Areias and Arapeí in the confirmation of an

outbreak of histoplasmosis.

Keywords: Histoplasma capsulatum, acute pulmonary

histoplasmosis, microepidemics, immunodiagnosis.

Page 9: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

9

Lista de Figuras

Figura 1: Reatividade das amostras (1ª e 2ª remessa) pelas metodologias

de imunodifusão dupla em gel de agarose e immunoblotting frente ao

antígeno da amostra 200, 20 vezes concentrado, cultivada em ágar

Sabouraud-dextrose, por 33 dias a 27o C, segundo Freitas (2005)...............31

Figura 2 - Imunoreatividade dos anticorpos circulantes da classe IgG anti-H.

capsulatum de indivíduos com suspeita clínica histoplasmose pulmonar

aguda frente ao antígeno da amostra 200, 10 vezes concentrado, cultivada

em ágar Sabouraud-dextrose, por 33 dias a 27o C, segundo Freitas

(2005)............................................................................................................32

Page 10: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

10

Lista de Quadros

Quadro 1 - Microepidemias de HP no Brasil: 1958 a 2008 ......................19

Quadro 2 - Identificação das amostras e síntese das análises imunológicas

após avaliação pelas técnicas de ID e IB..................................................30

Page 11: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

11

Abreviaturas Utilizadas

Aids - Acquired Immunodeficiency Syndrome

Ag Hc200 – antígeno obtido a partir da amostra 200 de H. capsulatum

BEPA – Boletim Epidemiológico Paulista

ºC – graus Celsius

C+ - Controle-positivo

CDC – Center Diseases Control

cm – centímetros

ELISA - Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay

EPI – Equipamento de Proteção Individual

EUA – Estados Unidos da América

FC – Fixação de Complemento

H. capsulatum – Histoplasma capsulatum

H. capsulatum var. farciminosum – Histoplasma capsulatum

variedade farciminosum

HIV – Human Immunodeficiency Virus

HP – Histoplasmose

HPA – Histoplasmose Pulmonar Aguda

IB - Immunoblotting

ID – Imunodifusão Dupla

IgG – Imunoglobulina G

kDa – quilodalton

Page 12: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

12

km - quilômetro

LIM/BM/IAL-SP – Laboratório de Imunodiagnóstico das Micoses da

Divisão de Biologia Médica do Instituto Adolfo Lutz

de São Paulo

m - metro

mL - mililitro

mm – milímetro

mM - milimolar

NVE/Areias-SP – Núcleo de Vigilância Epidemiológica do Município

de Areias, São Paulo

PBS - Phosphate-Buffered Saline

PBS-T – solução PBS acrescida de Tween 20

pH - potencial hidrogeniônico

PM – peso molecular

SDS - Sodium Dodecyl Sulfate

SDS-PAGE - Sodium Dodecyl Sulfate-Polyacrylamide Gel

Electrophoresis

SP – São Paulo

HCL – ácido clorídrico

µg – microgramas

µL - microlitros

V - volts

WB – Western blot

Page 13: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

13

Índice

Introdução ............................................................................. 14

Objetivos ............................................................................... 23

Objetivo geral ................................................................... 23

Objetivo específico ............................................................ 23

Material e Métodos ................................................................ 24

Amostras de soro ............................................................. 24

Controles-positivos das reações ........................................ 24

Antígeno de H. capsulatum ............................................... 25

Reações Imunológicas ................................................... 26

Técnica de imunodifusão em gel de agarose ...................... 26

SDS-PAGE e Immunoblotting ............................................ 26

Resultados ............................................................................ 29

Discussão .............................................................................. 33

Conclusões ............................................................................ 40

Referência Bibliográfica ........................................................ 42

Page 14: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

14

Introdução

A histoplasmose clássica (HP), ou Doença de Darling, é uma infecção

causada por um fungo geofílico e termo-dimórfico, o Histoplasma

capsulatum var. capsulatum (Kwon-Chung e Bennett, 1992; Lacaz et al.,

2002; Wheat e Kauffman, 2003).

Trata-se de uma micose sistêmica, cosmopolita e de ampla

distribuição geográfica; com detecção de casos autóctones em mais de 60

países distribuídos nos diversos continentes, com maior prevalência nas

Américas e na África. Em zonas endêmicas, a HP acomete de dois a cinco

porcento dos pacientes com Aids, podendo atingir nas regiões de alta

endemicidade até 25% (Zancopé-Oliveira e Wanke, 1987; Wu-Hsieh e

Howard, 1989; Alves et al., 1994; Silva et al., 1999; Negroni, 2001; Panackal

et al., 2002; Lacaz et al., 2002).

No Brasil, a incidência da HP tem sido demonstrada pela observação

de casos clínicos autóctones, seja sob a forma de casos isolados ou sob a

forma de microepidemias; bem como pela realização de inquéritos

epidemiológicos empregando o teste cutâneo com histoplasmina. Sua

endemicidade é variável; casos de doença e de infecção foram relatados em

São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio

Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Pará, Bahia e

Pernambuco (Lacaz et al., 1984; Zancopé-Oliveira e Wanke, 1987; Silva-

Vergara e Martinez, 1998; Severo et al., 2001; Cury et al., 2001; Oliveira et

al., 2006; Chang et al.; 2007).

H. capsulatum é habitualmente encontrado em regiões de clima

tropical ou temperado, com temperatura média anual entre 15 a 22o C, índice

Page 15: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

15

pluviométrico anual de 1000 mm e umidade relativa do ar de 67 a 87%

(Negroni, 2001; Lacaz et al., 2002). Sua distribuição na natureza associa-se

a microambientes fechados, como cavernas ou grutas, construções

abandonadas, galinheiros, celeiros, florestas ou qualquer local onde o solo

encontra-se enriquecido com excretas aviárias e/ou de morcegos (Zancopé-

Oliveira e Wanke, 1987; Wu-Hsieh e Howard, 1989; Silva et al., 1999;

Negroni, 2001).

O mecanismo de infecção se faz pela via aérea superior, por meio da

inalação de propágulos fúngicos infectantes denominados

microaleuroconídeos. Estes se instalariam primeiramente nos alvéolos

pulmonares, invadindo posteriormente os linfonodos hilo-mediastinais com

conseqüente disseminação pela corrente sangüínea. A partir daí, a extensão

da doença será determinada pela resposta tissular do hospedeiro contra o

processo infeccioso (Wu-Hsieh e Howard, 1989; Eissenberg e Goldman,

1991; Silva et al., 1999; Marques et al., 2000; Lacaz et al., 2002).

As manifestações clínicas da HP incluem desde a forma

assintomática, pulmonar aguda, pulmonar crônica à infecção extra-pulmonar

disseminada (Goodwin e Des Prez, 1978; Eissenberg e Goldman, 1991;

Alves, 1996; Silva et al., 1999). Indivíduos hígidos podem apresentar tosse, febre, dispnéia e astenia em uma (reinfecção) a três (infecção primária)

semanas após exposição ao fungo. Os achados diferenciam-se dependendo

do hospedeiro ter sido previamente infectado ou não e do tamanho do

inóculo (Goodwin e Des Prez, 1978).

Nos pacientes imunodeprimidos, principalmente nos portadores de

HIV/Aids, doenças neoplásicas, transplantados e diabéticos, a infecção por

H. capsulatum representa doença de alta gravidade e com sério risco de

disseminação (Wheat et al., 1991; Wheat et al., 1992; Marques e Shikanai-

Yasuda, 1994; Alves, 1996; Marques et al., 2000).

Page 16: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

16

Estima-se que cerca de 90 a 95% dos indivíduos que se infectam por

H. capsulatum não desenvolvem a doença ou apresentam sintomatologia

clínica leve, sendo o curso da doença, em geral, autolimitado, com

regressão espontânea dos sintomas. Estas manifestações são conhecidas

por HP infecção ou histoplasmose pulmonar aguda (HPA). A gravidade da

doença, em indivíduos imunocompetentes, parece estar relacionada ao

número de microaleuroconídeos inalados, ou seja, tamanho da carga fúngica

e ao tempo de exposição: períodos curtos, como 20 minutos, proporcionam

sintomas leves; enquanto que uma exposição de 50 a 60 horas pode

acarretar no desenvolvimento de doença grave e, por vezes, fatal (Goodwin

e Des Prez, 1978; Larsh, 1983; Wu-Hsieh e Howard, 1989; Eissenberg e

Goldman, 1991; Silva et al., 1999; Marques et al., 2000; Lacaz et al., 2002).

A infecção aguda pode ainda levar a outras manifestações da doença,

como, por exemplo, as formas cavitária crônica e a disseminada (Prager et

al., 1980; Wanke e Capone, 1990; Gurney e Conces, 1996). A HP

disseminada é a forma clínica mais grave e apresenta evolução

potencialmente fatal decorrente da deficiência da imunidade celular do

hospedeiro, estando intimamente relacionada às infecções oportunistas.

Entre os possíveis hospedeiros estão: crianças com imaturidade

imunológica, idosos debilitados, imunossuprimidos e indivíduos portadores

do HIV (Lacaz et al., 1999; Silva et al., 1999).

Com o advento da Aids, em 1981, observou-se aumento do número

de casos de HP disseminada associada àquela patologia, apresentando-se

como a primeira infecção oportunista combinada a outras infecções e/ou

neoplasias, desencadeada provavelmente pelo despertar de processos

pulmonares quiescentes, em pacientes residentes ou procedentes de zonas

endêmicas. Este fato levou o CDC (Center Diseases Control), em 1985,

quando não havia provas sorológicas e moleculares para a identificação do

HIV, a incluir a HP disseminada como infecção “marcadora” de Aids (Wheat

et al., 1986).

Page 17: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

17

A HP associada a Aids pode apresentar quadro clínico benigno,

moderadamente grave ou grave. Em geral, apresenta elevada letalidade,

com grande incidência de lesões mucocutâneas, podendo ser semelhante à

tuberculose miliar, patologia de alta freqüência no Brasil, induzindo os

médicos a pensarem nesta última infecção, não considerando a HP

disseminada no diagnóstico diferencial, promovendo, conseqüentemente,

prejuízo na instauração do tratamento antifúngico adequado (Alves et al.,

1994; Lacaz et al., 2002).

Alves (1996) analisando, do ponto de vista clínico e laboratorial, 27

casos de HP disseminada associadas à Aids evidenciou sintomas como

febre, perda de peso, dispnéia, lesões cutâneas disseminadas,

adenomegalia, hepato e esplenomegalia, bem como infiltrado intersticial

difuso dos pulmões. O tratamento com drogas antifúngicas, nesses casos,

pode conduzir a cura clínica e micológica.

Grande parte dos estudos sobre HP se concentra na descrição das

microepidemias. Os surtos epidêmicos decorrem da movimentação de

agrupamentos humanos em pequenos ambientes com terreno rico em

fungos, pois os mesmos encontram-se nas camadas mais superficiais do

solo e sua propagação dá-se pela dispersão no ar das suas partículas. Essa

condição acaba por favorecer a contaminação simultânea dos indivíduos

(Goodwin e Des Prez, 1978; Wanke e Capone, 1990; Wheat et al., 2004).

Os locais e as circunstâncias que ocasionam essas microepidemias

são bastante variados e incluem cortes de árvores caídas, manipulação de

ocos de árvores, visitas a grutas e cavernas, construção de pontes e torres,

demolição de casas antigas, limpeza ou terraplanagem em locais de pernoite

de pássaros, como parques e sítios, limpeza de galinheiros e asilos

abandonados, pintura de pontes metálicas, exploração de túmulos no antigo

Egito, exposição a ar condicionado “contaminado” com excretas de pombos

Page 18: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

18

etc. Em geral, o tempo de exposição a estes ambientes determina a

gravidade da doença (Larsh, 1983; Pladson et al., 1994; Paula e Aidé, 1985;

Wanke e Capone, 1990).

Wheat et al. (1982) relataram, o que talvez tenha sido, a maior

epidemia de HP já descrita, em uma pequena cidade de Indianápolis, EUA.

Os autores descreveram que após o desmatamento de um bosque,

possivelmente, o vento tenha levado, a “poeira criada”, contendo partículas

fúngicas infectantes, aos prédios vizinhos da região, resultando em um saldo

de 120.000 pessoas presumivelmente infectadas; 488 casos de doença e 60

pacientes com histoplasmose fatal ou muito grave.

No Brasil, pelo fato da HP não ser doença de notificação compulsória,

fica extremamente difícil o mapeamento da real distribuição deste processo

infeccioso, entretanto, o agente etiológico da HP é encontrado de norte a sul

do país e desde 1958, já foram relatadas 28 microepidemias em dez

Estados (Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo, Distrito Federal,

Minas Gerais, Paraíba, Amazonas, Bahia, Santa Catarina e Mato Grosso do

Sul), com isolamento do H. capsulatum do solo em sete destes: Rio de

Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo, Distrito Federal, Paraíba, Santa

Catarina e Mato Grosso do Sul (Lacaz et al., 2002, Unis et al.,2005).

O Quadro 1, sumariza as microepidemias de HP ocorridas no Brasil

no período de 1958 a 2008. Observa-se que o número de casos suspeitos

variou de dois a 34 e as principais fontes de infecção foram: visitas a grutas

contendo grandes quantidades de fezes de morcego, seguidas por visitas a

minas abandonadas e contato com excretas de galinhas confinadas em

galinheiros (Unis et al., 2005; Oliveira et al., 2006; Lima et al., 2008). A

observação de vários surtos nos Estados do Rio de Janeiro e do Rio Grande

do Sul, tanto em áreas rurais como urbanas, coloca estas regiões como

áreas de alta endemicidade no país (Paula e Aidé, 1985; Severo et al.,

2001).

Page 19: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

19

Quadro 1: Microepidemias de HP no Brasil: 1958 a 2008.**

**Adaptado de Unis et al., 2005

# Dados ausentes no quadro original, incluídos neste trabalho

A HP simula a tuberculose nos aspectos clínicos, radiológicos e

histopatológicos, sendo necessária a realização de exames específicos para

identificação do agente etiológico (Alves, 1994; Lacaz et al., 2002). Unis et

al. (2005) e Oliveira et al. (2006) descrevem casos de pacientes que

estiveram sujeitos às complicações e aos efeitos deletérios de um

tratamento para tuberculose, devido ao retardo no diagnóstico da HP. A

diferenciação diagnóstica demanda colorações especiais e isolamento em

cultivo do agente etiológico. Segundo Unis (2000), uma rotina diagnóstica

que inclua a técnica de Gomori-Grocott com metenamina argêntica e/ou

sorologia para HP nos pacientes com diagnóstico presuntivo de tuberculose

pode revelar casos não suspeitos.

Ano Cidade UF Fonte de infecção Casos Sorologia Histoplasmina Referência

1958 Paraíba do Sul RJ Gruta com morcegos 13 0 1 Paula, 19591959 Santa Teresa RJ Caixa d`água 7 NR NR Paula, Aidé, 19791966 Ubatuba SP Forro de casa 8 6 7 Fava Netto et al., 19671967 Brasília DF Gruta com morcegos 14 8 13 Schmidt et al., 1973

1971/73 Ubatuba SP Gruta com morcegos 10 10 9 Fava Netto et al., 19761972 Vassouras RJ Gruta com morcegos 5 NR NR Paula, Aidé, 19791975 Rio de Janeiro RJ Gruta com morcegos 5 0 5 Rêgo et al., 19761978 Angra dos Reis RJ Gruta 8 NR 8 Paula, Aidé, 19851978 Canoas RS Oco de árvore com morcegos 2 1 NR Severo et al., 19811981 Rio de Ouro RJ Gruta 10 NR NR Paula, Aidé, 19851981 São Gonçalo RJ Mina abandonada 10 8 NR Wanke, 19851981 São Gonçalo RJ Mina abandonada 4 4 NR Wanke, 19851981 Itaipava-Petrópolis RJ Minas abandonadas 10 9 NR Wanke, 19851982 São Gonçalo RJ Gruta com morcegos 6 5 NR Verbicário et al., 19931982 Itaipava-Petrópolis RJ Minas abandonadas 5 2 NR Wanke, 19851982 Niterói RJ Mina abandonada 6 5 NR Wanke, 19851984 PendotibaNiterói RJ Galeria de águas 17 8 17 Paula, Aidé, 19851984 Tinguá RJ Galinheiro 12 NR NR Paula, Aidé, 19851986 Borborema PB Chaminé com morcegos 6 4 5 Fernandes et al., 19891993 Taquari RS Galinheiro 2 2 NR Severo et al., 19931993 Manaus AM Gruta com guano 8 8 NR Suzaki et al., 19951997 Pedro Leopoldo MG Caverna com morcegos 4 4 NR Cury et al., 20012000 Jequié BA Porão com morcegos 4 4 NR Martins et al., 20002003 Niterói RJ Forno desativado 5 5 NR Martins et al., 2003

# 2006* Blumenau SC Forro de casa com guano 2 0 NR Oliveira et al., 2006# 2007 Cáceres MS Caverna com morcegos 34 14 NR Lima et al., 2008

Total: 217 107NR: Não referido* Ano da publicação

Page 20: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

20

O diagnóstico definitivo para a maioria das micoses, incluindo HP, é a

identificação do agente etiológico por processos histológicos, pelo exame a

fresco e/ou o isolamento do fungo em cultura, este último considerado o

método padrão ouro. Contudo, em algumas situações o estado físico ou

clínico dos pacientes impossibilita o acesso ao local da lesão, impedindo

assim a coleta do material biológico. O tempo prolongado (duas a seis

semanas) necessário para o crescimento e identificação dos fungos termo-

dimórficos em cultura, também dificulta o diagnóstico, provocando atraso na

liberação do resultado e, conseqüentemente, na introdução de medidas

terapêuticas específicas (Mendes-Giannini e Melhem, 2001; Lacaz et al.,

2002).

Em relação ao diagnóstico micológico da HP, merece atenção

especial o fato de que, em alguns casos, é extremamente difícil diferenciar

em tecido, células de H. capsulatum var. capsulatum de células de Candida

glabrata, Penicillium marneffei, H. capsulatum var. farciminosum e formas

diminutas de Blastomices dermatitidis. Do mesmo modo, é recomendável a

realização do diagnóstico diferencial para protozoários como Leishmania

donovani e Toxoplasma gondii, que apresentam formas intracelulares

semelhantes ao H. capsulatum (Mendes-Giannini e Melhem, 2001; Lacaz et

al., 2002).

A pesquisa de anticorpos circulantes específicos, empregando-se

técnicas imunológicas, assume papel fundamental no diagnóstico presuntivo,

ou indireto, da HP; constituindo, na prática, a mais importante ferramenta do

diagnóstico laboratorial. Por vezes, o resultado sorológico se traduz na

primeira indicação da etiologia da doença, principalmente naqueles

indivíduos que ainda não apresentam sinais clínicos aparentes (Lacaz et al.,

2002). Além disso, a determinação do título de anticorpos circulantes

possibilita ao clínico avaliar a progressão e/ou regressão da doença

(Mendes-Giannini et al., 1994).

Page 21: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

21

Entre os ensaios sorológicos existentes, a imunodifusão dupla (ID) em

gel de agarose tem sido o método utilizado com maior freqüência na rotina

dos laboratórios clínicos para o diagnóstico da HP. Esta técnica oferece

baixo custo operacional, sensibilidade variável, especificidade e valor

preditivo próximos de 100%, além de permitir a avaliação da eficácia

terapêutica através do acompanhamento dos títulos de anticorpos anti-

fúngicos específicos (Elias Costa et al., 2000; Mendes-Giannini e Melhem,

2001).

Na pesquisa de anticorpos anti-H. capsulatum em soros de pacientes

com HP pode-se observar, por ID, até seis faixas de precipitação, sendo

duas mais freqüentes, denominadas H e M. Estas faixas são consideradas

suficientes para diagnosticar, com segurança, a HP (Heiner, 1958).

Os testes imunoenzimáticos, como ELISA e Western blot (WB) ou

immunoblotting (IB), têm sido utilizados para a detecção de anticorpos em

quase todas as micoses sistêmicas, senão em todas. Entretanto, estas

técnicas apresentam altos índices de reatividade cruzada entre algumas

micoses como paracoccidioidomicose, Doença de Jorge Lobo,

coccidioidomicose, blastomicose, aspergilose e, eventualmente, com

infecções por Mycobacterium; tornando necessário tratamento prévio nos

soros de pacientes e/ou nos antígenos fúngicos utilizados (Elias Costa et al.,

2000; Albuquerque et al., 2005).

A aplicação do IB no diagnóstico precoce da HP tem sido

demonstrada, principalmente nos casos de forma aguda da doença, devido à

demora na detecção da soroconversão, quando se utilizam técnicas menos

sensíveis como a ID ou fixação de complemento (FC) (Leimann et al., 2005).

Freitas (2005) avaliou por IB, 22 soros de pacientes com HP-doença e

07 soros de pacientes com HP-infecção verificando que os soros dos

Page 22: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

22

pacientes com HP-doença apresentaram 100% de reatividade frente às

frações H e M, ao passo que todos os soros do grupo HP-infecção reagiram

somente frente à fração M. A reatividade do soro de paciente frente ao

antígeno M sugere que o indivíduo tenha entrado em contato com o H.

capsulatum ou fora imunizado com histoplasmina. A faixa H é detectável

junto com a M em vigência de alguma infecção em curso (Heiner, 1958).

Page 23: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

23

Objetivos

Objetivo geral:

Confirmar, na ausência de evidências micológicas, a ocorrência de

microepidemia de histoplasmose pulmonar aguda em um grupo de 35

indivíduos que visitou caverna localizada no Município de Arapeí, São Paulo,

Brasil, empregando-se ensaios imunológicos.

Objetivo específico:

Avaliar o desempenho das reações de imunodifusão dupla em gel de

agarose e immunoblotting no diagnóstico precoce da histoplasmose

pulmonar aguda.

Page 24: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

24

Material e Métodos

Em 2007, o Laboratório de Imunodiagnóstico das Micoses da Divisão

de Biologia Médica do Instituto Adolfo Lutz de São Paulo (LIM/BM/IAL-SP)

foi informado pelo Núcleo de Vigilância Epidemiológica do Município de

Areias, SP (NVE/Areias-SP) sobre a suspeita de uma microepidemia de

histoplasmose pulmonar aguda no município.

Os indivíduos com suspeita clínica de HPA visitaram, em 07 de

setembro de 2007, uma caverna localizada na cidade de Arapeí, SP,

sabidamente “contaminada” por H.capsulatum.

Amostras de soro

No mês de outubro de 2007, o LIM/BM/IAL-SP recebeu 35 amostras

de soros provenientes dos casos suspeitos (31 adolescentes com idade

entre 14 e 16 anos e 4 adultos com idade entre 22 e 45 anos) coletadas com

menos de um mês da data da possível exposição ao agente etiológico da

histoplasmose. Uma segunda remessa, composta por 30 amostras de soros,

coletadas aproximadamente 60 dias após a exposição ao H. capsulatum foi

enviada ao laboratório no mês seguinte.

Controles-positivos das reações

Foram utilizados soros hiperimunes de coelhos como controles-

positivos nos ensaios de ID e IB.

Resumidamente, coelhos albinos da raça Nova Zelândia e mantidos

no Biotério de Inoculação do Instituto Adolfo Lutz, foram imunizados por via

subcutânea com 100 µg de filtrado de cultura de H. capsulatum em quatro

Page 25: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

25

sítios distintos, com adjuvante completo de Freund (Sigma-Aldrich Co. St.

Louis, EUA), proporção 1:1 na primeira imunização e com adjuvante

incompleto de Freund (Sigma-Aldrich Co. St. Louis, EUA), nas

subseqüentes, repetidas a cada semana, por um período de 30 dias.

Findado o período de imunização, realizou-se sangria teste, coletando-se 5,0

mL de sangue por punção da veia marginal do animal. Após desdobramento

o soro foi analisado, pela técnica de ID, quanto a presença de anticorpos

circulantes anti-antígeno de H. capsulatum.

Antígeno de H. capsulatum: A obtenção do antígeno foi realizada

segundo metodologia proposta por Kaufman e Standard (1978), com

algumas modificações (Freitas, 2005).

Células micelianas da amostra 200 de H. capsulatum, mantidas em ágar

batata a 27º C, foram primeiramente adaptadas em ágar Sabouraud-

dextrose (Difco Laboratories, Detroit, EUA), com repiques mensais,

mantendo-se esta mesma temperatura, durante quatro meses. Após o

período de adaptação, realizou-se a expansão das culturas fúngicas, sendo

a amostra semeada em 50 tubos de ensaio (20x200mm) contendo 20,0 mL

de ágar Sabouraud-dextrose (Difco Laboratories, Detroit, EUA) e incubada a

27ºC por 33 dias. Finalizado o período de incubação, as culturas foram

cobertas com solução de borato-thimerosal a 1:5000 e deixadas em repouso

por 24 horas a 27ºC. Em seguida os sobrenadantes foram coletados,

filtrados em papel Whatman® número 03 (Whatman, Brentford, Reino Unido)

e concentrados por liofilização (Edward’s – Super Modulyo), pela Seção de

Coleção de Culturas da Divisão de Biologia Médica do Instituto Adolfo Lutz,

sendo armazenados a -20ºC até o momento do uso.

O antígeno foi concentrado em 20 vezes para o ensaio de ID e em 10

vezes para a utilização na técnica de IB.

Page 26: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

26

Reações Imunológicas

Técnica de imunodifusão em gel de agarose

Se utilizou a metodologia proposta por Ouchterlony (1949).

Primeiramente revestiu-se lâminas de vidro (26x75 mm) com 1,0 mL

de solução de ágar a 1%, deixando secar em estufa a 60°C. As mesmas

foram posteriormente recobertas com 3,0 mL de solução de agarose-citrato

e deixadas em câmara úmida, até a solidificação da agarose. O gel, então,

foi escavado com auxílio de molde em forma de roseta (Bioficina-Indústria e

Comércio de Aparelhos Laboratoriais São Paulo-Brasil), contendo um orifício

central e seis laterais, sendo o excesso retirado manualmente, com auxílio

de agulha. Após a aplicação de 12 µL dos soros testes, soro controle

positivo e antígeno de H. capsulatum nos orifícios, as lâminas foram

incubadas em câmara úmida, à temperatura ambiente, por 48 horas. Após

esse período, realizou-se leitura prévia para verificação de linhas de

precipitação. As lâminas foram lavadas por 45 minutos em solução citrato de

sódio 5% seguindo-se de sucessivas lavagens, por 24 horas, em solução

salina 0,85%. Ao fim desta etapa, os orifícios foram recobertos com solução

de ágar 1% e as lâminas levadas para secar em estufa a 60°C. Após

secagem, as lâminas foram coradas pela solução Coomassie Brilliant Blue

R-250 (Sigma-Aldrich Co. St. Louis, EUA), durante 05 minutos e em seguida,

descoradas por 10 minutos com solução de metanol-etanol. A leitura

definitiva foi então realizada, com o auxílio de negatoscópio.

SDS-PAGE e Immunoblotting:

Os procedimentos para eletroforese vertical em gel de poliacrilamida

contendo dodecil sulfato de sódio (SDS-PAGE) foram conduzidos segundo

metodologia proposta por Laemmli (1970), com gel de separação linear a

10% para Ag Hc200 e gel de empilhamento a 3% de acrilamida com

Page 27: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

27

espessura de 1,0 mm; empregando equipamento Mini-Protean II

Electrophoresis Cell (Bio-Rad Laboratories, Inc., Hercules, Califórnia, EUA).

A preparação antigênica foi denaturada por aquecimento a 100ºC por

três minutos em tampão de ruptura (62 mM de Tris-HCl pH 6,8 contendo

0,2% (p/v) de SDS, 50 mM de 2-mercaptoetanol, 0,005% de azul de

bromofenol e 10% (v/v), de glicerol, em água deionizada), sendo aplicados

250 µL de antígeno em cada mini-gel.

A corrida eletroforética foi realizada com diferença de potencial de

100V e 120V para o gel de empilhamento e separação, respectivamente. Em

cada corrida realizada foi aplicado padrão de baixo peso molecular (PM): de

175 kDa a 6,5 kDa (New England Biolabs Inc., Woburn, Massachusetts,

EUA).

A transferência eletroforética de proteínas contidas nos géis de

poliacrilamida para membranas de nitrocelulose de 0,22 mm (Sigma-Aldrich

Co. St. Louis, EUA) foi executada conforme metodologia descrita por Towbin

et al. (1979), usando equipamento Trans-Blot System (Bio-Rad Laboratories,

Inc., Hercules, Califórnia, EUA).

A transferência foi realizada empregando-se voltagem constante de

30V “overnight” a 4ºC. Após a transferência, a fim de verificar a eficácia do

processo, as membranas foram coradas com Ponceau-S por 10 minutos e

descoradas em água bidestilada.

As membranas contendo as proteínas transferidas foram

identificadas, cortadas em tiras, de aproximadamente 0,5 cm, depositadas

em canaletas e incubadas por 1 hora, a temperatura ambiente, em solução

salina tamponada com fosfato (PBS) pH 7,4 contendo 5% de leite

desnatado, para a saturação dos sítios inespecíficos; em plataforma

Page 28: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

28

agitadora para blotting (Bioficina-Indústria e Comércio de Aparelhos

Laboratoriais São Paulo-Brasil).

Em seguida, as fitas foram incubadas com 2,0 mL de amostras de

soros a serem testadas e soros controles-positivos, ambos diluídos na

proporção de 1:100 em tampão PBS pH 7,4. Esta etapa do ensaio foi

realizada a temperatura ambiente sob agitação constante (Plataforma

agitadora para blotting, Bioficina-Indústria e Comércio de Aparelhos

Laboratoriais, São Paulo-Brasil), por 2 horas. Finalizado o período de

incubação, as fitas de nitrocelulose foram lavadas por seis vezes, por 10

minutos cada, em solução PBS acrescida de 0,1 % de Tween 20 (PBS-T).

Após esta etapa, as membranas foram incubadas com soro anti-IgG

conjugado à peroxidase (Sigma-Aldrich Co. St. Louis, Mo, EUA), diluído a

1:1000 e mantidas por 2 horas sob agitação constante (Plataforma agitadora

para blotting, Bioficina-Indústria e Comércio de Aparelhos Laboratoriais, São

Paulo-Brasil), a temperatura ambiente, protegidas da luz, sendo em seguida

novamente lavadas por seis vezes, 10 minutos cada, em solução PBS-T.

A reação foi revelada empregando-se solução de 4-cloro-1naftol

(Sigma-Aldrich Co. St. Louis, Mo, EUA) e o bloqueio feito por lavagens

sucessivas em água bidestilada.

Page 29: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

29

Resultados

Os indivíduos com suspeita clínica de histoplasmose pulmonar aguda

apresentavam idade entre 14 e 45 anos (média de 16,7 anos), sendo 22

(62,9%) do sexo masculino e 13 (37,1%) do feminino.

Nas requisições de exame, solicitando pesquisa de anticorpos anti-H.

capsulatum, não havia nenhuma informação quanto à solicitação e/ou

resultado de exames micológicos ou radiológicos.

As informações sobre todas as amostras analisadas estão detalhadas

no Quadro 2. Os resultados da avaliação imunológica podem ser

observados na Figura 1.

Das 35 amostras enviadas na primeira remessa, apenas uma (2,9%)

apresentou anticorpos anti-H. capsulatum por ID na diluição de ¼. Enquanto

que, por IB, em 22 (61,8%) amostras se observou algum tipo de reatividade

para H. capsulatum e 13 (38,2%) apresentaram ausência de reatividade

frente às frações específicas H e/ou M. Um indivíduo não foi avaliado por IB

devido insuficiência de material (Figura 1).

Entre os soros reagentes por IB, 17 (50%) apresentaram anticorpos

anti-frações H e M de H. capsulatum; por sua vez, quatro (11,8%) amostras

reagiram somente frente à fração M.

A análise dos 30 soros enviados posteriormente revelou que 97%

(n=29) apresentaram, por ID, reatividade com títulos variando de 1/1 a 1/16

e apenas uma amostra (3%) apresentou ausência de reatividade. Quando

estes soros foram avaliados pelo IB, verificamos que todos, ou seja, 100%

Page 30: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

30

(n=30) deles apresentaram reatividade frente às frações H e M de H.

capsulatum (Figuras 1 e 2).

Quadro 2: Identificação das amostras e síntese das análises

imunológicas após avaliação pelas técnicas de ID e IB.

Entrada ID IB Entrada ID IB

1 31 Masculino 01/10/07 NR H/M Não Recebida NRE NRE

2 42 Masculino 01/10/07 NR H/M Não Recebida NRE NRE

3 22 Masculino 01/10/07 NR H/M Não Recebida NRE NRE

4 14 Feminino 10/10/07 NR H/M 13/11/07 NR H/M5 45 Masculino 01/10/07 NR NR 13/11/07 1/16 H/M6 15 Masculino 01/10/07 NR H/M 13/11/07 1/8 H/M7 15 Masculino 01/10/07 NR H/M 13/11/07 Reagente H/M8 15 Masculino 01/10/07 NR NR 13/11/07 1/4 H/M9 14 Masculino 10/10/07 NR H/M 13/11/07 1/4 H/M10 14 Masculino 10/10/07 NR H/M 13/11/07 1/1 H/M11 16 Masculino 01/10/07 NR M 13/11/07 1/4 H/M12 15 Masculino 01/10/07 1/4 H/M 13/11/07 1/4 H/M13 14 Masculino 10/10/07 NR H/M 13/11/07 1/1 H/M14 14 Feminino 10/10/07 NR NR 13/11/07 1/2 H/M15 15 Feminino 10/10/07 NR H/M 13/11/07 1/4 H/M16 14 Masculino 01/10/07 NR M 13/11/07 1/4 H/M17 14 Masculino 10/10/07 NR M 13/11/07 1/2 H/M18 14 Feminino 01/10/07 NR M 13/11/07 1/1 H/M19 14 Feminino 01/10/07 NR NR 13/11/07 1/4 H/M20 14 Masculino 10/10/07 NR H/M 13/11/07 Reagente H/M21 14 Feminino 01/10/07 NR NR 13/11/07 1/4 H/M22 14 Feminino 01/10/07 NR NR 13/11/07 Reagente H/M23 14 Feminino 10/10/07 NR H/M 13/11/07 1/16 H/M24 14 Masculino 01/10/07 NR NR 13/11/07 1/4 H/M25 16 Masculino 01/10/07 NR H/M 13/11/07 1/8 H/M26 14 Feminino 01/10/07 NR NR Não Recebida NRE NRE

27 14 Feminino 01/10/07 NR NR 13/11/07 1/1 H/M28 14 Feminino 10/10/07 NR H/M 13/11/07 1/16 H/M29 15 Feminino 01/10/07 NR NR 13/11/07 1/1 H/M30 14 Masculino 10/10/07 NR H/M 13/11/07 1/4 H/M31 14 Masculino 10/10/07 NR NRE 13/11/07 1/16 H/M32 14 Feminino 01/10/07 NR NR 13/11/07 1/4 H/M33 15 Masculino 01/10/07 NR NR 13/11/07 1/8 H/M34 15 Masculino 01/10/07 NR NR 13/11/07 1/1 H/M35 14 Masculino 10/10/07 NR H/M 13/11/07 Reagente H/M

IB: Immunoblotting

ID: Imunodifusão dupla em gel de agaroseNR: Não Reagente

NRE: Não Realizado

1ª Remessa 2ª RemessaAmostra Idade Sexo

Page 31: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

31

3%

65%

97% 100% 97%

34%

3%0%

1ª Remessa 2ª Remessa 1ª Remessa 2ª Remessa

ID

IB

REAGENTES NÃO REAGENTES

Figura 1: Reatividade das amostras (1ª e 2ª remessa) pelas metodologias

de imunodifusão dupla em gel de agarose e immunoblotting frente ao

antígeno da amostra 200, 20 vezes concentrado, cultivada em ágar

Sabouraud-dextrose, por 33 dias a 27o C, segundo Freitas (2005).

.

Page 32: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

32

Figura 2: Imunoreatividade dos anticorpos circulantes da classe IgG anti-H.

capsulatum de indivíduos com suspeita clínica de histoplasmose pulmonar

aguda frente ao antígeno da amostra 200, 10 vezes concentrado, cultivada

em ágar Sabouraud-dextrose, por 33 dias a 27o C, segundo Freitas (2005).

*C+: Controle-positivo da reação

Page 33: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

33

Discussão

As microepidemias ou surtos de HP ocorrem quando um determinado

número de indivíduos encontra-se em uma região restrita e com solo

contaminado por excretas de aves e morcegos sendo expostos aos esporos

fúngicos de H. capsulatum dispersos no ar (Wanke e Capone, 1990). Devido

à ocorrência simultânea dos casos e à fácil identificação da fonte de

exposição, as microepidemias são mais facilmente reconhecidas do que os

casos isolados (Unis et al., 2005).

As microepidemias costumam ser mais freqüentes em áreas de maior

endemicidade. Locais onde existem elevadas concentrações de aves ou

morcegos podem dar origem a surtos epidêmicos ou microepidêmicos que

diferem em sua magnitude quando da exposição simultânea de pessoas ao

agente infectante (Kwon-Chung e Bennett, 1992).

Segundo o Núcleo de Vigilância Epidemiológica do Município de

Areias-SP, a caverna visitada pelos indivíduos citados neste trabalho havia

sido interditada há tempos atrás após isolamento de H. capsulatum. O

município de Arapeí está localizado na Serra da Bocaína, no Vale do

Parnaíba, à distância de 310 km da Capital, situada a 580m acima do nível

do mar, em uma área circundada por montanhas, com grande quantidade de

grutas e cavernas, clima tropical e temperatura média de 25ºC.

A ocorrência de microepidemias ou surtos de HP tem aumentado

entre indivíduos que buscam no ecoturismo uma nova forma de lazer. Na

América do Norte, a HP tem sido considerada por diversos pesquisadores

como doença recreacional entre espeleólogos. Panackal et al. (2002)

relatam que 60 a 64% dos indivíduos que possuem o hábito de freqüentar

cavernas e ou grutas apresentam teste cutâneo positivo à histoplasmina.

Page 34: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

34

Segundo Leimann et al. (2005), a presença de anticorpos anti-H.

capsulatum detectada por métodos sorológicos, como ID e/ou IB, aliada às

evidências clínicas e/ou radiológicas da infecção pode ser considerada como

critério de diagnóstico da HP em casos onde a identificação do agente

etiológico não foi possível, ainda que não exista uma história epidemiológica.

A histoplasmose pulmonar aguda em indivíduos hígidos caracteriza-se por

sintomas respiratórios que surgem de uma a três semanas após a exposição

ao patógeno (Goodwin e Des Prez, 1978; Kwon-Chung e Bennett, 1992).

De acordo com a literatura, na HPA, a cultura e a histopatologia

apresentam baixo percentual de positividade, ao passo que a sensibilidade

dos métodos sorológicos varia entre 80 e 95% (Restrepo, 1998; Wheat,

2003; Wheat and Kauffman, 2003; Leimann et al., 2005).

Neste trabalho, foi possível a detecção de anticorpos circulantes anti-

H. capsulatum em 34 amostras de pacientes, dentre os 35 casos suspeitos

encaminhados para o LIM/BM/IAL-SP (Quadro 2). Dessa forma, a evidência

sorológica possibilitou a confirmação do surto de HP na cidade de Areias,

SP após visitação a cavernas do município de Arapeí, SP.

Microepidemias de HP após visita a cavernas situadas no continente

americano e habitadas por morcegos têm sido relatadas por diversos

autores. Ashford et al. (1999) descrevem um surto de HP ocorrido no Texas

(EUA) durante a Convenção Nacional da Sociedade de Espeleologia, no

qual casos agudos da doença foram associados à exposição a duas

cavernas infestadas por morcegos.

No Estado da Geórgia, EUA um grupo de 15 estudantes visitaram

uma mina de prata na Nicarágua e, três dias após o retorno do grupo para

os EUA, 12 (80%) indivíduos apresentaram sinais clínicos compatíveis com

Page 35: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

35

HP aguda, confirmada posteriormente por meio de provas sorológicas

(Panackal et al., 2002).

Erkens et al. (2002) descrevem a presença de anticorpos circulantes

da classe IgG anti-H. capsulatum, empregando a técnica de IB, em cinco

integrantes de um grupo de oito pesquisadores alemães, que haviam

passado dez dias em Cuba, estudando os hábitos de morcegos. Registrou-

se também, que duas pessoas do grupo que relataram a utilização de

máscaras faciais, não apresentaram nenhuma sintomatologia. Os autores

enfatizam a necessidade e importância do uso de equipamento de proteção

individual (EPI) para pessoas que visitam cavernas.

No segundo semestre de 2007, a Secretaria de Vigilância em Saúde

do Ministério da Saúde foi notificada da suspeita de HP em um trabalhador

que havia participado de um curso de captura de morcegos hematófagos em

Cáceres, município do Estado de Mato Grosso do Sul. Uma investigação no

local considerou 35 indivíduos clinicamente suspeitos. De 18 amostras

sorológicas coletadas dos casos suspeitos, quatro resultaram positivas para

o teste de ID e 14 para o WB. Constatou-se que não foi utilizado

equipamento de proteção individual (EPI) durante as visitas programadas

pelo curso. Os responsáveis pelo trabalho destacam que a ocorrência do

surto de HP foi possivelmente causada pela falta de EPI durante as visitas

programadas pelo curso. Para os mesmos, a caverna identificada como local

de origem da infecção não deve ser aberta a visitação e o público deve ser

orientado sobre os riscos de adoecimento ao adentrá-la e, nesse caso, o uso

de EPI deve ser incentivado (Lima et al., 2008).

A utilização do teste de IB (ou WB) apresenta a vantagem de

identificação prévia em alguns casos de infecção. Este fato deve-se a

possibilidade de detecção da soroconversão anteriormente à FC ou ID

(Leimann et al., 2005) como demonstrado neste trabalho. Dos 34 casos

Page 36: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

36

confirmados sorologicamente, 22 (61,8%) amostras apresentaram algum tipo

de reatividade para H. capsulatum por IB logo na primeira remessa.

Pizzini et al. (1999) avaliando a especificidade do ensaio de WB

evidenciou uma maior capacidade discriminatória desta técnica, frente a 20

soros de pacientes com HPA, quando comparada às reações de ID e FC

freqüentemente utilizadas na rotina diagnóstica. Os autores demonstraram

que a sensibilidade do ensaio foi de 100%.

Kohara et al. (2007) avaliaram 69 soros de pacientes com

confirmação clínica ou micológica de HP pelas técnicas de ID e IB. Os

autores observaram que, por ID, apenas 10% dos soros apresentaram

reatividade anti-H. capsulatum, enquanto que 62% reconheceram, por IB, as

frações H e M indicando doença ativa e 24%, a fração M sugerindo que os

indivíduos haviam sido expostos ao H. capsulatum ou então, imunizados

com histoplasmina através do teste de hipersensibilidade do tipo tardio.

Neste estudo, foi possível demonstrar que o emprego do

immunoblotting, técnica imunológica mais sensível comparada a

imunodifusão, foi fundamental para detecção precoce de anticorpos

circulantes anti-H. capsulatum, contribuindo, desta forma, com a Vigilância

Epidemiológica dos Municípios de Areais e Arapeí na confirmação do surto

de histoplasmose.

A aplicação do ensaio de immunoblotting foi capaz de discriminar já

na primeira análise que 62% (21/34) das amostras avaliadas, apresentaram

reatividade frente a alguma fração antigênica de H. capsulatum. Destas, 17

(50%) amostras apresentaram reatividade frente às frações H e M,

imunodominantes, para H. capsulatum, sugerindo infecção aguda, quatro

(12%) reagiram frente à fração M de H. capsulatum, demonstrando que os

pacientes entraram em contato com o agente etiológico da histoplasmose ao

entrarem na caverna. Treze indivíduos (35%) apresentaram ausência de

Page 37: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

37

reatividade frente às frações H e M. As 30 amostras avaliadas após 60 dias

da visita a caverna infestada por esporos de H. capsulatum, reagiram de

forma específica frente às frações H e M, sugerindo a existência de doença

em curso, pois, segundo Heiner (1958), a faixa H do antígeno é detectável

junto com a M em vigência de alguma infecção em curso (Figura 1).

Uma explicação plausível para o baixo percentual de reatividade

frente às frações imunodominantes de H. capsulatum observado na análise

pela técnica de imunodifusão dupla em gel de agarose das primeiras

amostras (n=35) estaria relacionada à baixa produção de anticorpos

circulantes anti-H. capsulatum apresentado no início do processo infeccioso.

Associado a esta observação deve-se salientar que segundo Romero (2005)

a sensibilidade do ensaio de imunodifusão para casos autolimitados da

doença é de apenas 15%.

A avaliação da segunda remessa de amostras enviadas ao

Laboratório de Imunodiagnóstico das Micoses para nova avaliação

sorológica permitiu a observação e caracterização do fenômeno de

soroconversão, que para H. capsulatum sabe-se ser tardio. Verificou-se por

ID, que 97% (29/30) das amostras de soro reagiram de forma específica

frente ao antígeno 200 de H. capsulatum (Quadro 2).

A imunodifusão dupla em gel de agarose é sem dúvida alguma a

reação imunológica mais utilizada nos laboratórios de mico-sorologia para o

diagnóstico presuntivo ou confirmatório de diversas infecções fúngicas,

incluindo-se a histoplasmose. Entre os fatores que contribuem para esta

escolha pode-se citar não apenas o fato de ser uma metodologia de baixo

custo operacional e fácil exeqüibilidade técnica; mas principalmente por

consentir que os clínicos realizem o acompanhamento sorológico dos

pacientes, verificando a diminuição dos títulos de anticorpos circulantes anti-

H. capsulatum permitindo também avaliar a eficácia da terapia anti-fúngica

durante e pós-tratamento (Elias-Costa et al., 2000). Contudo, não podemos

Page 38: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

38

esquecer que a sensibilidade desta metodologia, esta diretamente

relacionada à qualidade da preparação antigênica utilizada, forma clínica da

doença e início do tratamento (Siqueira, 1982).

Em resumo, os resultados apresentados corroboram com os dados da

literatura e demonstram que o emprego de ensaios imunológicos é de

extrema importância no diagnóstico confirmatório da histoplasmose. Neste

estudo, não nos foi passado nenhuma informação quanto à solicitação de

exames micológicos para o grupo avaliado. Entretanto, sabe-se que a

demonstração do agente etiológico da histoplasmose em exame direto bem

como seu isolamento e identificação muitas vezes apresenta resultados

negativos, principalmente em formas autolimitadas da doença. Além disso,

as provas sorológicas propiciam a obtenção de resultados em menor tempo

quando comparadas as micológicas (Kwon-Chung e Bennett, 1992; Mendes-

Giannini e Melhem, 2001; Lacaz et al., 2002; Wheat , 2003).

Por outro lado, conhecendo-se às características geo-climáticas do

Município de Arapeí pode-se dizer que as condições ambientais favoráveis

para o desenvolvimento de H. capsulatum aliado ao grande potencial

turístico dos municípios situados na Serra da Bocaína corroboram com os

dados da literatura que demonstram a íntima relação entre ocorrência de

microepidemias ou micro surtos de HP a indivíduos que buscam no

ecoturismo uma nova forma de lazer.

A indústria do turismo é, na atualidade, a atividade que apresenta os

mais elevados índices de crescimento no contexto econômico mundial.

Movimenta cerca de US$ 3,5 trilhões anualmente e, apenas na última

década, expandiu sua atividade em 57% (Ambiente Brasil, 1994). Segundo

a Organização Mundial do Turismo estima-se que 10% das pessoas que

viajam pelo mundo são ecoturistas. No Brasil, projeta-se que o ecoturismo

alcance meio milhão de turistas/ano (Oliveira, 2005).

Page 39: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

39

Diante do exposto, apesar de considerar praticamente impossível o

controle no acesso de pessoas a áreas que apresentam potencial risco de

infecção por H. capsulatum, julga-se necessária à conscientização das

mesmas para o risco ao qual estarão expostos. Nesse caso, sugere-se

como medidas preventivas, que os órgãos de saúde (por exemplo, os

Grupos de Vigilância Epidemiológica) alertem tanto a população como as

agências de viagem, que organizam atividades voltadas ao ecoturismo ou

lazer rural, sobre a necessidade e importância do uso de máscara ao

adentrarem nas cavernas. Além disto, deve-se orientar aos turistas que

aqueles que se encontram imunodeprimidos, ou seja, indivíduos que

apresentem um simples quadro gripal devem evitar adentrar a cavernas. Ao

mesmo tempo, deve ser informado que a coleta ou retirada e o transporte de

solo, pedras, plantas e animais não são recomendados, uma vez que se

constituem potenciais fontes de infecção, além de danificarem o ambiente e

ecossistema.

Page 40: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

40

Conclusões

• Na ausência de evidências micológicas, o emprego da técnica de

immunoblotting foi fundamental para detecção precoce de anticorpos

circulantes anti-H. capsulatum, contribuindo portanto com a Vigilância

Epidemiológica dos Municípios de Areais e Arapeí na confirmação do

surto de histoplasmose.

• A técnica de imunodifusão dupla em gel de agarose não apresentou

índice de sensibilidade satisfatório para detectar níveis de anticorpos

circulantes anti-H. capsulatum em amostras de soro coletadas e

analisadas com menos de 30 dias da exposição do grupo de indivíduos a

caverna infestada por esporos fúngicos

• A técnica de imunodifusão dupla em gel de agarose apresentou maior

sensibilidade e, portanto foi mais eficiente na detecção de anticorpos

circulantes anti-H. capsulatum frente às amostras de soro coletadas e

analisadas 60 dias após o contato dos indivíduos com a caverna

infestada por esporos fúngicos.

• A confirmação dos resultados obtidos por IB na primeira remessa

ocorreu por meio da detecção da soroconversão, quando se utilizou uma

técnica mais específica, como a ID.

• A associação de duas provas imunológicas: a imunodifusão dupla em

gel de agarose, com alto grau de especificidade, e o immunoblotting com

alto grau de sensibilidade, permitiu a detecção e/ou confirmação de

histoplasmose pulmonar aguda em 34, dos 35 indivíduos com suspeita

clínica da doença.

Page 41: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

41

• As características geo-climáticas das cavernas situadas no município

de Arapeí, SP parecem propiciar um micro-ambiente favorável ao

desenvolvimento de H. capsulatum, com risco potencial de infecção aos

visitantes.

• O uso de EPI, como máscara facial, deve ser incentivado entre os

praticantes de eco-turismo e/ou espeleologia, assim como para toda

população que adentra em cavernas e outras áreas passíveis de infecção

por H. capsulatum. Assim como, que a coleta ou retirada e o transporte

de objetos e materiais dessas áreas não são recomendados.

Este trabalho pode ser encontrado no “site” do Boletim Epidemiológico

Paulista – BEPA, formato: “Comunicação Breve” e encontra-se disponível

nos seguintes endereços:

http://www.cve.saude.sp.gov.br/agencia/bepa58.htm, ou

http://www.cve.saude.sp.gov.br/agencia/bepa58_histoplasmosis.htm

Page 42: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

42

Referências Bibliográficas

� Albuquerque CF, da Silva SH, Camargo ZP. Improvement of the specificity of an enzyme-linked immunosorbent assay for diagnosis of paracoccidioidomycosis. J Clin Microbiol. 2005 Apr;43(4):1944-6.

� Alves KS, Araujo Filho OF, Araujo MF, Canzian M, Dias MD, Lindoso JA,

Lacaz CS. Histoplasmose disseminada em pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA). Relato de 34 casos. In. 8º Congresso Brasileiro de Infectologia. 3º Congresso de Infectologia Mercosul; 1994; Porto Alegre. p.113.

� Alves K S. Histoplasmose disseminada e síndrome de imunodeficiência

adquirida. Estudo clínico-laboratorial de 28 casos. São Paulo [dissertação de mestrado]. São Paulo: Faculdade de Medicina da USP; 1996.

� Ambiente Brasil. Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo

[artigo na internet]. 1994 [acesso em 14 fev 2008]. Disponível em: http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./ecoturismo/index.html&conteudo=./ecoturismo/diretrizes.html

� Ashford DA, Halley RA, Kelley MF, Kaufman L, Hutwagner L, McNeil MM.

Outbreak of histoplasmosis among cavers attending the National Speleological Society Annual Convention, Texas (1994). Am J Trop Med Hyg. 1999 Jun;60(6):899-903.

� Chang MR, Taira CL, Paniago AMM, Daira TL, Cunha RV & Wanke, B.

Study of 30 cases of histoplasmosis observed in Mato Grosso do Sul State, Brazil. Rev Inst Med Trop Sao Paulo. 2007 Jan-Feb;49(1):37-39.

� Cury GC, Diniz Filho A, Cruz AGC, Hobaika ABS. Outbreak of

Histoplasma capsulatum in Pedro Leopoldo, Minas Gerais, Brazil. Rev Soc Bras Med Trop. 2001;34(5):483-6.

� Eissenberg LG, Goldman WE. Histoplasma variation and adaptive

strategies for parasitism: new perspectives on histoplasmosis. Clin Microbiol Rev. 1991 Oct;4(4):411-21.

� Elias Costa MR, Da Silva Lacaz C, Kawasaki M, De Camargo ZP.

Conventional versus molecular diagnostic tests. Med Mycol. 2000;38 Suppl 1:139-45.

Page 43: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

43

� Erkens K, Lademann M, Tintelnot K, Lafrenz M, Kaben U, Reisinger EC.

Histoplasmosis group disease in bat researchers returning from Cuba. Dtsch Med Wochenschr. 2002 Jan 4;127(1-2):21-5.

� Freitas RS. Caracterização fenotípica e padronização de antígenos de H.

capsulatum var. capsulatum para o diagnóstico da histoplasmose. [dissertação de mestrado]. São Paulo: Coordenadoria de Controle de Doenças - Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo; 2005.

� Gurney JW, Conces DJ Jr. Pulmonary histoplasmosis.Radiology.

1996;199:297–306. � Goodwin RA Jr, Des Prez RM. State of the art: histoplasmosis. Am Rev

Respir Dis. 1978 May;117(5):929-56. � Heiner DC. Diagnosis of histoplasmosis using precipitin reaction in agar

gel. Pediatric. 1958;22:617-27. � Kaufman ED, Standard P. Improved version of the exoantigen test for

identification of Coccidioides immitis and Histoplasma capsulatum cultures. J Clin Microbiol. 1978 Jul;8(1):42-5.

� Kwon-Chung KJ, Bennett JE. Histoplasmosis. In: Kwon-Chung KJ,

Bennett JE. Medical mycology. Philadelphia: Lea & Febiger; 1992. p.248-79.

� Kohara VS, Barreto LC, Freitas RS, Anjos DT, Assis CM, Vicentini-

Moreira AP. Emprego da técnica de immunoblotting para detecção de anticorpos circulantes anti Histoplasma capsulatum. In: VII Encontro do Instituto Adolfo Lutz; 2007; São Paulo, Brasil.

� Lacaz Cd, Del Negro GM , Vidal MS, Heins-Vaccari EM, Santos RF,

Martins MA, Ozaki MM, Romiti R, Proenca R, Castro LG. Atypical disseminated cutaneous histoplasmosis in an immunocompetent child, caused by an "aberrant" variant of histoplasma capsulatum var. capsulatum. Rev Inst Med Trop Sao Paulo. 1999 May;41(3):195-202.

� Lacaz CS, Porto E, Martins JEC, Heins-Vaccari E, Melo NT. Tratado de

Micologia Médica Lacaz. São Paulo: Sarvier; 2002. � Lacaz CS, Porto E, Martins JEC. Micologia Médica. 7. ed. São Paulo:

Sarvier; 1984.

Page 44: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

44

� Laemmli UK. Cleavage of structural proteins during the assembly of the

head of bacteriophage T4. Nature. 1970 Aug 15;227(5259):680-5. � Larsh HW. Histoplasmosis. In: di Salvo AF. Occupational mycoses.

Philadelphia: Lea & Febiger; 1983. p.29-42. � Leimann, BCQ, Pizzini CV, Muniz MM, Albuquerque PC, Monteiro PCF,

Reis RS, Almeida-Paes R, Lazera MS, Wanke B, Perez MA & Zancope-Oliveira RM. Histoplasmosis in a Brazilian center: clinical forms and laboratory tests. Rev iberoamer Micol. 2005; 22: 141-146.

� Lima HCAV, Barrado JCS, Rocha S, Muniz MV, Braga FF, Millington A,

Wada MY e Sobel J. Investigação de surto de histoplasmose após curso de captura de morcegos hematófagos, Cáceres-Mato Grosso, 2007. In: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. 8ª Expoepi: mostra nacional de experiências bem-sucedidas em epidemiologia, prevenção e controle de doenças: anais / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. – Brasília : Ministério da Saúde, 2008. 144 p. – (Série D. Reuniões e Conferências). p.141.

� Marques SA, Robles AM, Tortorano AM, Tuculet MA, Negroni R, Mendes

RP. Mycoses associated with AIDS in the Third World. Med Mycol. 2000;38 Suppl 1:269-79.

� Marques SA, Shikanai–Yasuda MA. Paracoccidioidomycosis associated

with immunosuppression, AIDS and cancer. In: Franco M, Lacaz CS, Restrepo-Moreno A, Del Negro G, editores. Paracoccidioidomycosis. Boca Raton, Flórida, USA: CRC Press; 1994. p. 393-405.

� Mendes-Giannini MJS, Del Negro GB, Siqueira AM. Serodiagnosis. In:

Franco M, Lacaz CS, Restrepo A. Del Negro G. Paracoccidioidomycosis. Boca Raton, Flórida, USA: CRC Press; 1994.

� Mendes-Giannini MJS, Melhem MC. Infecções fúngicas. In: Ferreira AW,

Ávila SLM. Diagnóstico laboratorial das principais doenças infecciosas e auto-imunes. São Paulo: Guanabara-Koogan; 2001.

� Negroni R. Micoses associadas a SIDA (parte 2). Academia Biom. Digital,

set., 2001. � Oliveira FM, Unis G, Severo LC. Microepidemia de histoplasmose em

Blumenau, Santa Catarina. J Bras Pneumol. 2006;32(4):375-8.

Page 45: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

45

� Oliveira JBB. Ecoturismo e desenvolvimento sustentável [monografia na

internet]. Tabatinga; 2005 [acesso em 14 fev 2008]. Disponível em: http://www.monografias.com/trabajos27/ecoturismo/ecoturismo.shtml

� Ouchterlony, O. Antigen-antibody reactions in gels. Acta Pathol Microbiol

Scand. 1949;26(4):507-15. � Panackal AA, Hajjeh RA, Cetron MS, Warnock DW. Fungal infections

among returning travelers. Clin Infect Dis. 2002 Nov 1;35(9):1088-95. � Paula A, Aidé MA. As microepidemias de histoplasmose do Estado do

Rio de Janeiro. J Bras Med. 1985;49:18–28. � Pizzini CV, Zancopé-Oliveira RM, Reiss E, Hajjeh R, Kaufman L, Peralta

JM. Evaluation of a western blot test in an outbreak of acute pulmonary histoplasmosis. Clin Diagn Lab Immunol. 1999 Jan;6(1):20-3.

� Pladson TR, Stiles MA, Kuritsky JN. Pulmonary histoplasmosis. A

possible risk in people who cut decayed wood. Chest. 1984;86:435–8. � Prager RL, Burney DP, Waterhouse G, Bender HW Jr. Pulmonary,

mediastinal, and cardiac presentations of histoplasmosis. Ann Thorac Surg. 1980;30: 385–90.

� Restrepo A. Histoplasmosis: pasos para su diagnostico. Med & Lab.

1998; 7: 665-667. � Severo LC, Oliveira FM, Irion K, Porto NS, Londero AT. Histoplasmosis in

Rio Grande do Sul, Brazil: A 21-year experience. Rev Inst Med Trop S. Paulo. 2001;43(4):183-7.

� Silva RT, Teixeira AA, Falcão SNRS, Ravache LAT, Liberatori Filho AW,

Sawicki WC, Lopes AC. Histoplasmose disseminada. Rev Bras Clin Terap. 1999;25:244-7.

� Silva-Vergara ML, Martinez R. Inquérito epidemiológico com

paracoccidioidina e histoplasmina em área agrícola de café em Ibiá, Minas Gerais, Brasil. Rev Iberoam Micol. 1998;15:294-7.

� Siqueira AM. Avaliação da sensibilidade e especificidade de algumas

provas sorológicas no diagnóstico, prognóstico e controle de cura da paracoccidioidomicose. Caracterização do antígeno E2 de

Page 46: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

46

Paracoccidioides brasiliensis. São Paulo, 1982. [Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo].

� Towbin H, Staehelin T, Gordon J. Electrophoretic transfer of proteins from

polyacrylamide gels to nitrocellulose sheets: procedure and some applications. Proc Natl Acad Sci U S A. 1979 Sep;76(9):4350-4.

� Unis G. Histoplasmose no teste terapêutico para tuberculose. Busca de

casos pela imunodifusão [dissertação de mestrado]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2000.

� Unis G, Roesch EW, Severo LC. Histoplasmose pulmonar aguda no Rio

Grande do Sul. J Bras Pneumol. 2005 Jan-Feb;31(1):52-9. � Wanke B, Capone D. O pulmão na histoplasmose. Arq Bras Med.

1990;64:381–8.

� Wheat LJ, Conces D, Allen SD, Blue-Hnidy D, Loyd J. Pulmonary histoplasmosis syndromes: recognition, diagnosis, and management. Semin Respir Crit Care Med. 2004;25(2):129-44.

� Wheat LJ, Connolly-Stringfield P, Blair R, Connolly K, Garringer T, Katz

BP. Histoplasmosis relapse in patients with AIDS: detection using Histoplasma capsulatum variety capsulatum antigen levels. Ann Intern Med. 1991 Dec 15;115(12):936-41.

� Wheat LJ, Connolly-Stringfield P, Williams B, Connolly K, Blair R, Bartlett

M, Durkin M. Diagnosis of histoplasmosis in patients with the acquired immunodeficiency syndrome by detection of Histoplasma capsulatum polysaccharide antigen in bronchoalveolar lavage fluid. Am Rev Respir Dis. 1992 Jun;145(6):1421-4.

� Wheat LJ. Current diagnosis of histoplasmosis. Trends Microbiol. 2003;

11: 488-494. � Wheat LJ, Kauffman CA. Histoplasmosis. Infect Dis Clin North Am. 2003;

17: 1-19, vii. � Wheat LJ, Kohler RB, Tewari RP. Diagnosis of disseminated

histoplasmosis by detection of Histoplasma capsulatum antigen in serum and urine specimens. N Engl J Med. 1986 Jan 9;314(2):83-8.

Page 47: SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDEbvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/premio2009/angela_noronha.pdf · capsulatum , contribuindo, portanto, com a Vigilância Epidemiológica dos Municípios

47

� Wheat LJ, Slama TG, Norton JA, et al. Risk factors for disseminated or fatal histoplasmosis: analysis of a large urban outbreak. Ann Intern Med. 1982;96:159–63.

� Wu-Hsieh B, Howard DH. Histoplasmosis. In: Cox R A, editor.

Immunology of the fungal diseases. Boca Raton, Flórida, USA: CRC Press; 1989. p.200-5.

� Zancopé-Oliveira RM, Wanke B. Distribuição das fontes de infecção do

Histoplasma capsulatum var. capsulatum em Rio Prata – Município do Rio de Janeiro (RJ). Rev Inst Med Trop São Paulo. 1987;29(4):243-50.