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Secretaria de Estado da Educação · a arte é fonte de humanização, pois, o homem se torna consciente da sua existência individual e social; através da arte percebe-se e se

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Secretaria de Estado da Educação – SEED Superintendência da Educação – SUED

Diretoria de Políticas e Programas Educacionais – DPPE Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE

MEIRE CELI CAMPANA

GRAFITE: A arte urbana como expressão de pensamentos e comportamentos

contemporâneos

CAMBÉ - PARANÁ

2012

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MEIRE CELI CAMPANA

GRAFITE: A arte urbana como expressão de pensamentos e comportamentos contemporâneos

Artigo Final apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE da Secretaria Estadual de Educação do Paraná – SEED – Turma PDE 2010, pela Universidade Estadual de Londrina – UEL, na área de Arte.

Orientadora: Doutoranda Elke Pereira Coelho Santana

CAMBÉ - PARANÁ

2012

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GRAFITE: a arte urbana como expressão de pensamentos e comportamentos contemporâneos.

Autora: Meire Celi Campana1

Orientadora: Doutoranda Elke Pereira Coelho Santana2

RESUMO

Neste artigo constam registros do processo, assim como os resultados da implementação de conteúdos relativos ao tema “grafite como expressão contemporânea de arte”. Tal implementação aconteceu em uma turma de 8ª série do Ensino Fundamental no Colégio Estadual Érico Veríssimo, na cidade de Cambé-PR, através de um trabalho que partiu de uma pesquisa apresentada ao Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná. O grafite faz parte da Arte Contemporânea. Desta forma, alguns estudos foram realizados para levar os alunos a conhecerem e fazerem leituras da arte produzida em seu tempo. Assim, o objetivo da pesquisa foi discutir o grafite no ensino de arte, pensar esta manifestação cultural como elemento propulsor de diálogo entre a percepção da arte em suas múltiplas nuances e o cotidiano. Falar sobre o tema implicou em fazer uma diferenciação entre grafite e pichação, através da análise concisa de alguns autores e obras de artistas que fazem uso dessas formas de expressão. Tal proposta possibilitou aos alunos o contato com a arte contemporânea, levando-os a desenvolver ideias próprias através das leituras feitas.

PALAVRAS-CHAVE: Grafite; Ensino de Arte; Arte Contemporânea.

ABSTRACT: This paper contained records of the proceedings, as well as the results of the implementation of content relating to the theme (graphite as an expression of contemporary art). This implementation was in class 8th grade of elementary school in the State College Erico Verissimo, in the city of Cambé - PR through a work that came from a survey presented to the Educational Development Program of the State of Paraná. The graphite is part of Contemporary Art, thus, some studies were

1 Pesquisadora, professora de Arte no Colégio Estadual Érico Veríssimo, em Cambé. Possui

graduação em Educação Artística pela Universidade Estadual de Londrina (l981); especialização em Administração Supervisão e Orientação Educacional, pela Universidade Norte do Paraná (2001). 2 Pesquisadora, artista e professora no Departamento de Arte Visual da Universidade Estadual de

Londrina. Possui graduação em Educação Artística pela Universidade Estadual de Londrina (2005); especialização em Literatura Brasileira, pela mesma instituição (2007), mestrado em Artes Visuais - Poéticas Visuais - pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2009) e doutoranda em Artes Visuais – Poéticas Visuais – pela Escola de Comunicações e Artes da USP (2010).

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conducted to take the students to know and do the readings of the art produced in his time. Thus, the research objective was to discuss the graffiti is in art education, thinking this cultural manifestation as propulsive element of dialogue between the perception of art in its many nuances and everyday life. Speaking on the subject involved in making a distinction between graffiti and graffiti, through concise analysis of some authors and works of artists who make use of these forms of expression. This proposal allowed the students contact with contemporary art, leading them to develop their own ideas through the readings.

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1 INTRODUÇÃO

A implementação da unidade pedagógica ocorreu no Colégio Estadual Érico

Veríssimo, no município de Cambé-PR, em uma turma de 8ª série do Ensino

Fundamental, do turno matutino, com o intuito de cumprir um dos objetivos do

Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), que busca levar às salas de aula

do Estado do Paraná novas abordagens de conteúdos, buscando a aprendizagem

dos alunos e atualização dos docentes. Para isto, os mesmos tiveram

conhecimentos relacionados a diferentes pensamentos e criações artísticas,

expandindo, assim, a capacidade de criação e o pensamento crítico. (PARANÁ,

2008).

Sabe-se que a escola tem grande importância na formação do aluno, pois é

nela que ele vai aprender a olhar, vivenciar, familiarizar-se, conhecer e pensar a arte

do seu tempo. Assim, as atividades de estudo da arte devem levá-los a entenderem

e observarem as diversas manifestações culturais e artísticas de seu tempo, como

sujeitos históricos da Arte Contemporânea.

Com isso, estratégias foram centradas no ato de ler e apreciar a Arte

Contemporânea, realizando diversos estudos, com a consequente reflexão sobre o

Grafite. O tema foi escolhido com a intenção de um aprofundamento teórico-prático

sobre uma das manifestações da Arte Contemporânea.

Foram realizados alguns estudos para levar os alunos a conhecerem e

fazerem as leituras da arte produzidas no seu tempo. O grafite não é apenas um

estilo de desenho ou de pintura, mas uma estética que envolve manifestações dos

jovens, em que há ligação com a música e com a dança, buscando valorizar um

importante traço da cultura brasileira que se articula com o processo educativo e

com a função social da escola.

O grafite é uma manifestação possível da arte, assim, pode-se dizer que o

assunto está contemplado nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do

Estado do Paraná, que iam nortear o estudo quanto ao ensino da arte. Segundo as

novas diretrizes, o conhecimento deve ser realizado nas dimensões artística,

filosófica e científica, tendo uma articulação com políticas que valorizem a arte e o

ensino da mesma na rede estadual do Paraná (PARANÁ, 2008).

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A Arte na escola, conforme a Lei de Diretrizes e Bases 9394/96, deve

desenvolver os aspectos culturais aliados aos conteúdos presentes na realidade do

educando. As diretrizes apontam que é necessário haver um encaminhamento

metodológico voltado às necessidades educativas da maioria da população, levando

o educando a conhecer e refletir sobre a realidade, de tal forma que venha

transformá-la.

De acordo com as diretrizes, os sentidos devem ser expandidos através da

interferência da Arte, ampliando a visão de mundo do aluno, fazendo-o mais crítico,

de forma que se torne sujeito de sua história (PARANÁ, 2008).

Desta forma, o desenvolvimento do estudo do grafite veio colaborar para

uma reflexão sobre temas diversos dentro do cotidiano dos alunos. Este projeto

tomou como base metodológica a leitura de imagem, a contextualização e

aproximação com a realidade circundante.

Ao fazer uma abordagem histórica e comentários sobre técnicas

relacionadas com o grafite, buscou-se desenvolver o assunto em sala de aula,

procurando dar entendimento dos propósitos da pesquisa aos alunos. Falando sobre

o tema, analisou-se as estruturas sociais, abordando questionamentos sobre

pichação e grafite.

A leitura de imagens favorece a compreensão do universo social

contemporâneo, despertando no leitor a humanização. O aluno refletiu sobre seu

contexto social, tornando-se sensível às questões de justiça social, ambientais e

culturais que estão ao seu redor. Sendo o grafite uma das manifestações da Arte

Contemporânea, foi necessário fazer uma contextualização de forma histórica,

social, econômica e política. Sabe-se que o artista transmite sua linguagem através

de sua obra e nela estão suas experiências. Ele é sensível aos signos da arte,

tornando visíveis suas reações ao mundo através de sua criação artística

(MARTINS, 1998).

Com este processo de inserção na arte, o homem passa por uma

experiência sensível em busca da humanização. Segundo as Diretrizes Curriculares,

a arte é fonte de humanização, pois, o homem se torna consciente da sua existência

individual e social; através da arte percebe-se e se interroga. A arte é desafiadora,

expondo contradições, emoções e sentidos de suas construções (PARANÁ, 2008).

Desta forma, o presente estudo possibilitou uma abertura às reflexões sobre

diversos assuntos do cotidiano dos alunos.

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2 DESENVOLVIMENTO

A Arte Contemporânea é a arte de hoje. Ela se apresenta sob diversas

formas de expressão, fazendo uso de novos suportes, ou seja, usando materiais de

variadas espécies para expressar ideias. Nesta arte, os materiais usados podem ser

convencionais, assim como também há abertura para novos suportes.

Um exemplo de uso de novos suportes é citado por Maria Helena Fontoura,

em sua obra “A obra de Arte Além da Aparência” ao falar de instalações feitas com

materiais diversos como sangue de rato, fezes humanas resinadas e bife de vaca.

Segundo as palavras da autora:

e vai por aí... Além, é claro, de muitas expressões belíssimas, conceitos belíssimos, porque, onde tudo se pode, pode-se tudo: o feio, o horrível, o belo, o terrível, o maravilhoso, o riso, o pranto, o hilário, o ridículo [...] mantendo a liberdade e a irreverência que são próprias da contemporaneidade. (FONTOURA, 2002, p. 237).

O espectador da Arte Contemporânea percebe a realidade a sua volta

através de reflexões, tornando-se mais crítico, observador, percebendo-se e

reconhecendo-se como sujeito histórico. “Há uma concorrência na arte hoje, entre

criadores e receptores, exatamente pelo fato de a Arte Contemporânea abrir espaço

para a interatividade” (FONTOURA, 2002, p. 236).

Desta forma, é preciso observar a maneira como a obra foi feita, que

suportes foram utilizados e para que estes foram usados, observando as

características do mundo de hoje na obra.

A Arte Contemporânea pode refletir o cotidiano, trazendo nas imagens

informações e comunicando valores. Assim, é de suma importância aprender a fazer

sua leitura. Para isso, a escola deve oportunizar essa forma de expressão em seu

ambiente.

Pensando neste aspecto, foi escolhido como objeto de estudo o Grafite, pelo

fato de ser uma manifestação artística contemporânea e que tem como objetivo

apresentar o pensamento e a criação humana que estão intimamente

interseccionados com o cotidiano.

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2.1 ESTABELECENDO UM PARALELO ENTRE O GRAFITE E A PICHAÇÃO

A Arte Contemporânea tem como uma das manifestações artísticas o grafite.

Os grafites fazem parte das conquistas artísticas da história de nosso tempo. Os

grafites constroem e valorizam espaços, com eles percebemos novos espaços,

enredos e vivências cotidianas. Muitos grafiteiros são artistas, produzem recados

através de sua arte e fazem dos espaços da cidade ambientes de opinião, de

investigação, de diálogo, da Arte.

Uma das características da Arte Contemporânea é a interação com o

público, o que a faz participativa. Para falar sobre o tema faz-se necessário analisar

as estruturas sociais, abordando questionamentos sobre pichação e grafite.

O Grafite tem como objetivo um resultado bem elaborado e preocupado com

questões técnicas e compositivas. A pichação é uma ação mais rápida, gestual, sem

intenção de elaborações artísticas. Ambos apresentam-se em espaços públicos,

com ou sem autorização.

Célia Maria Antoniacci Ramos afirma que o Grafite apresenta-se mais

pensado, com menos agressividade, enquanto que a pichação parte de um processo

anárquico de criação, onde o que importa é transgredir e até agredir, marcar a

presença, provocar, chamar atenção sobre si e sobre o suporte.

Aos pichadores interessa mais o ato, o rito, o aparecer, o transgredir, e menos o processo criador. A eles o resultado estético não é só secundário, como chega, em alguns casos (como nos rabiscos e palavrões), a ser algo a ser desafiado; já que, com uma estética dissonante que busca o rabisco, o sujo, mais se transgride os padrões da cultura, e, logo, mais se chama atenção sobre si e sobre o trabalho (RAMOS, 1994, p.49).

Apesar de serem diferentes formas de interferência, o grafite e a pichação

têm a mesma raiz e dão uma nova visão aos muros.

O Grafite surgiu por volta de 1970, em Nova Iorque. Está ligado aos

movimentos da cultura Hip Hop. Tanto o grafite quanto a pichação são formas de

manifestação visual desses seguimentos. A proposta deste estilo de arte consistia

em lutar para que as singularidades étnicas da cultura negra fossem aceitas. Nas

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décadas de 1960 e 1970, membros do Hip Hop faziam protestos aos regimes

governamentais nos muros e paredes das cidades Parisienses. Nas décadas de

1980 e 1990 o grafite se espalhou pelas grandes cidades do mundo, principalmente

do mundo ocidental, sendo muito combatido nas cidades da América do Sul e da

Europa.

No início do século XXI, Jean Michel Basquiat teve sua participação no

mundo das artes plásticas, em Nova Iorque. No Brasil, em São Paulo, Alex Vallauri,

Waldemar Zaidler e Carlos Matuck atuaram na produção de grafites, sendo

“abraçados” por galerias de arte. Entre os grafiteiros que tiveram um grande

reconhecimento, alçando vôo para as galerias de arte e comercialização, estão “Os

Gêmeos”, grafiteiros paulistas altamente reconhecidos pelo mercado de arte.

2.2 ESPAÇO URBANO COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO

O espaço urbano pode ser considerado como o lugar físico e virtual onde

são lançadas as mensagens, podendo ser os muros, fachadas, telas, revistas e

jornais, assim como o mundo virtual. Estes espaços têm sido usados

constantemente em campanhas com recursos sonoros, idealizando um mundo de

sonhos.

Umberto Eco aborda a utilização do espaço urbano como ação da cópia e

não da criação, em seu livro “Viagem na irrealidade cotidiana”. Com essa ocupação

do espaço visual, cresce o grafite na sociedade. Com ele existe o poder de agir no

espaço de forma compromissada e descompromissada. No espaço visual, acontece

o processo de “ver” e de “mostrar”. O espaço tem relação com a personalidade

social e individual; toda interferência neste espaço vai agregar ou retirar conteúdos

que passarão a influenciar o pensamento dos seres humanos.

Assim, pensando na realidade dos alunos, que estão inseridos em espaços

diversos das cidades, se tornou importante trabalhar o tema grafite, que certamente

veio complementar conhecimentos e instigar o espírito crítico dos mesmos.

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2.3 IMPLEMENTAÇÃO DO TEMA NA SALA DE AULA

A implementação foi realizada em uma sala com alunos da 8ª série do

Ensino Fundamental. Inicialmente, foi elaborado um cronograma de ações, de

acordo com o calendário escolar e um texto de apoio com conteúdos, tendo como

base as orientações das Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do

Paraná. De acordo com as Diretrizes, na metodologia devem ser contemplados três

momentos da organização pedagógica: teorizar (conhecimento contextualizado da

arte), sentir e perceber (momento de acesso e leitura da obra de arte) e o trabalho

artístico do aluno.

Segundo as Diretrizes, nas Artes Visuais as abordagens para a 8ª série

devem dar ênfase à arte como ideologia e fator de transformação social. Passou-se

ao estudo da Arte Contemporânea, realizando um trabalho de leitura comparativa de

obras de arte, com o intuito de levá-los a perceberem e buscarem o conteúdo

expressivo das mesmas.

Ao realizar as leituras, verificou-se como o artista aplicou os elementos

formais – linha, cor, textura, espaço e materiais – buscando uma obra expressiva.

Prosseguindo o estudo, observou-se obras de diferentes épocas, estilos e artistas,

de forma contextualizada.

Algumas obras foram analisadas, tais como:

Auto-Retrato (1924) de Tarsila do Amaral e Auto-Retrato (1907) de

Pablo Picasso.

The face of de war, (1940) de Salvador Dali e Guernica (1937) de Pablo

Picasso.

De acordo com a análise, chegou-se à conclusão que a maneira como o

artista usou os elementos formais pode mudar o conteúdo expressivo da obra.

Assim, é preciso compreender instâncias de acontecimento da arte para entender as

obras.

Durante a leitura, observou-se que os alunos valorizaram o estudo das

particularidades da pintura, tais como: a perspectiva, o uso correto da perspectiva

geométrica, contornos precisos e o uso da luz e sombra na criação de efeito de

volume, ou seja, a reprodução naturalista da realidade foi uma das características

muito apreciada pelos alunos.

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Com esta ação, os estudantes puderam perceber que as obras de arte

comunicam ideias, fazendo-nos pensar e questionar sobre assuntos diversos,

levando-os a concluir que a arte se define de diferentes maneiras, revelando a visão

do artista a partir do contexto histórico e social. Enfim, a arte é uma forma de

conhecimento.

Toda esta reflexão os conduziu ao estudo da Arte Contemporânea. Para

chegar ao assunto, foram mostradas algumas imagens sobre obras de movimentos

artísticos de diferentes épocas. Inicialmente, fez-se um paralelo entre os suportes

utilizados em cada época, como por exemplo: a tela, o mármore, a argila, o papel e a

madeira que o artista utiliza para expressar suas ideias. Ao analisar tais suportes,

surgiu a discussão em relação às causas destas mudanças e seus possíveis

significados.

Outro assunto que provocou a curiosidade dos alunos foi o fato de que a arte

recebe influência de crenças, costumes e transformações de cada época, e que as

preocupações sócio-históricas sempre estiveram presentes nas mesmas. Discutindo

sobre esta questão, concluíram que a Arte Contemporânea também comunica as

preocupações atuais sobre questões sociais, políticas e culturais, levando o homem

à reflexão. Tal assunto é contemplado nas Diretrizes quando esta aponta para a

“produção de trabalhos, com os modos de organização e composição como fator de

transformação social” (PARANÁ, 2008, p. 93).

Como já foi comentado, ao estudar diversos momentos da história da arte

estudou-se a arte em suas origens, ou seja, a pré-história, falando da função mágica

da arte, pois o homem, naquela época, vivia da caça e provavelmente acreditava

que desenhando os animais nas paredes das cavernas teria a posse destes e,

consequentemente, sucesso na caça. Os desenhos geralmente eram feitos nos

lugares mais afastados e escuros das cavernas, o que reforça a ideia da função

mágica da representação.

Para exemplificar a arte do período, foi mostrada a imagem da pintura

rupestre Touro Negro, 15.000-10.000 a.C. – Gruta de Lascaux . Na ocasião, os

alunos refletiram sobre as possíveis relações existentes entre as pinturas rupestres

e as pinturas nos muros. O gráfico abaixo apresenta a resposta dos 35 alunos

questionados sobre o que a pintura rupestre e o grafite têm em comum (Gráfico 1).

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Gráfico 1. O que a pintura rupestre e o grafite têm em comum.

A representação nas paredes das cavernas sugeriu aos alunos pesquisar

sobre o grafite na cidade vizinha em que habitam, Londrina, Paraná (Figuras 1, 2 e

3).

Figuras 1, 2 e 3. Fotos de muros da cidade de Londrina feitas pelos alunos.

Sabendo que o grafite, “Arte de Rua”, é uma pintura feita, com intenção

artística, nos muros, casas e prédios, geralmente usando spray, veio a necessidade

de falar sobre pichação. Foi explicado que o grafite é feito com a autorização do

proprietário do espaço, tendo o muro ou a parede como tela para realização da

pintura, enquanto que a pichação desrespeita o patrimônio alheio, por se apresentar

nos espaços urbanos sem autorização prévia.

Em seguida fez-se um questionário em relação ao assunto “Grafite”, em que

os mesmos alunos participaram (Tabela 1).

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Questões Respostas

Sim Não

1) A arte representa os pensamentos dos homens? 29 6

2) Entre os pensamentos estão preocupações envolvendo problemas comuns. Em sua cidade existem problemas?

24 11

3) Existe um modo de demonstrar estas preocupações através de uma manifestação artística contemporânea?

30 5

4) Você acha que é possível usar o grafite como expressão de pensamentos?

31 4

5) Você conhece algum estilo de grafite? 23 12

6) Grafite é arte? 33 2

7) Há relações entre os grafites existentes em sua cidade e as pinturas pré-históricas?

23 12

8) Você conhece algum artista de grafite? 6 29

9) Você considera que o grafite faz parte da Arte Contemporânea? 23 12

10) Pichação é arte? 10 25

11) O homem das cavernas era pichador? 20 15

12) Os meios de comunicação têm feito referências a grafites produzidos em sua região?

30 5

Tabela 1. Questionário realizado com alunos em relação ao assunto “Grafite”, com as respectivas respostas.

Tais dados indicaram a necessidade de refletir sobre grafite e pichação.

Então foi iniciada a segunda proposta. O aluno foi conduzido a pensar sobre sua

realidade, vendo quais os motivos de se pichar e grafitar. Foi comentado sobre Jean

Baudrillard, que destaca em seu livro, “A sombra das maiorias silenciosas”, que a

massa não tem pensamento definido e nem manifesta sua vontade. Desta forma,

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pichar e grafitar é uma manifestação singular diante do mundo, colocando voz na

boca das massas, utilizando elementos tais como a linha, a cor e a forma:

A revolta radical, nestas condições, está inicialmente em dizer: “Eu existo, eu sou tal, eu habito esta ou aquela rua, eu vivo aqui e agora”. Mas isso seria apenas a revolta da identidade: combater o anonimato reivindicando um nome e uma realidade próprios. Os grafitis vão mais longe: ao anonimato eles opõem nomes, mas sim pseudônimos. (BAUDRILLARD, 1979, p.37)

O grafite torna-se ato de crítica à postura da sociedade. Os trabalhos de

grafite são pensados em relação à questões sociais, com sentido sociológico e

filosófico. Desta forma, a opção de trabalho foi com a 8ª série do ensino

fundamental, por entender que os mesmos já têm condições de discutir assuntos

complexos.

Os alunos estudaram as implicações do grafite e da pichação. Para entender

a proposta, foi promovida uma reflexão, com debate, sobre a diferenciação entre

grafite e pichação. Durante a análise, foi colocado que os grafiteiros geralmente

expressam ideias por meio de imagens ou palavras ligadas à política, ao esporte,

aos sentimentos, às brincadeiras, enquanto que os pichadores, normalmente,

deixam recados cifrados lidos e interpretados por pessoas pertencentes a

determinados grupos. Verificou-se que os grafites são desenhos com cores

chamativas, verdadeiros quadros nos muros da cidade, podendo ser uma figura ou

um conjunto de letras e palavras, usando signos linguísticos quebrados e misturados

a setas, curvas, asas, olhos, pés, raios e outros elementos gráficos; podendo ser

realizado com diversos materiais, desde o giz até o spray, através de máscaras para

se obter repetições de uma mesma imagem.

Através do estudo do texto “A História do Graffiti” (A HISTÓRIA DO

GRAFFITI, 2011), os alunos constataram que essa arte nasceu nas periferias de

Nova York, nos Estados Unidos e se espalhou pelo mundo graças ao movimento Hip

Hop, chegando ao Brasil, assim como a música Rap e a dança Break, que também

fazem parte da cultura Hip Hop. Foi ainda ressaltado que muitos jovens se afastaram

da criminalidade e desenvolveram seus talentos através desta arte.

Para mostrar a importância dessa diferenciação, houve a apresentação de

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imagens e vídeos de grafites de diferentes lugares e autores.

Além de abordar a questão do grafite e da pichação, foram trabalhadas as

diversas modalidades de grafite, até a produção de máscaras e letras de diversos

tipos para levar o aluno a experimentar o processo pelo qual passa o grafiteiro.

Através de imagens expostas na TV Pendrive, foi possível mostrar algumas

modalidades de grafite, dentre elas o Grafite 3D, WildStyle, Bomber, Letras

grafitadas, Grafite artístico (ou livre figuração) e Grafite com máscaras e spray.

Após o conhecimento de tais modalidades, passou-se ao momento de

criação que procedeu da seguinte forma: enfatizando a necessidade de abordar

temas como denúncia ou crítica à sociedade à qual estão inseridos os alunos, foi

realizada uma atividade em que os mesmos deveriam fotografar lugares diversos da

cidade, expondo tais fotos aos demais da sala, para criar uma discussão sobre as

questões sociais nelas inseridas. Com isso gerou-se uma conversa informativa sobre

o trabalho. Na ocasião, os 35 alunos foram questionados em relação a assuntos que

têm preocupado os pais e que poderiam influenciar na formação de seus filhos. O

resultado foi o seguinte:

Gráfico 2. Resposta dos alunos sobre a preocupação dos pais quanto a fatores que influenciam a formação de seus filhos.

Observou-se que a realidade de cada aluno é diferente, pois, o meio em que

vivem tem variações em relação à escolaridade dos pais e o encaminhamento

metodológico dado pela escola (Gráfico 2). Diante disso, tornam-se variadas as

posturas de cada aluno em relação ao grafite e à pichação, gerando

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questionamentos na área econômico-social e cultural. Como a atividade sugeriu uma

análise de algumas produções artísticas da atualidade, surgiu a necessidade de

mostrar a relação entre a arte contemporânea e o grafite.

Uma das atividades, dentro desta proposta, teve a participação da estudante

de arte Talita Teixeira da Silva que falou sobre a Arte Contemporânea e seus

representantes. Ela discorreu sobre diversos artistas (abaixo relacionados). Na

ocasião, destacou artistas e características de obras contemporâneas, mostrando

que a arte é contextualizada e voltada ao homem.

Para contextualizar o Grafite dentro da Arte Contemporânea, a aula partiu da

ideia do estudo dos meios de comunicação: rádio, telefone, cinema e quadrinhos. Ao

estudar os artistas que estiveram ligados à questão da imagem na propaganda,

pensou-se em Andy Warhol, pois foi o artista mais conhecido da Pop Art e um dos

mais polifacetados desse movimento. Warhol, depois de estudar desenho, trabalhou

como desenhista publicitário em Nova York. No final dos anos de 1950 já utilizava,

em suas obras, motivos oriundos da publicidade, empregando tintas acrílicas. Nos

anos de 1960, escolheu como tema, para suas obras, artigos de consumo cotidiano,

como latas de sopa e garrafas de Coca-Cola; ídolos populares, como Marilyn

Monroe e Elvis Presley; e imagens da história da arte, como a Mona Lisa,

reproduzindo-as em série com diversas variações cromáticas. Warhol refletiu

também a imagem mais negativa da moderna sociedade norte-americana, fazendo

uso de materiais acrílicos, combinados com a técnica de colagem. Sua obra serviu

para abordar, de um ponto de vista crítico, a moderna sociedade industrial.

Baseando-se no dadaísmo, Warhol desenvolveu novas formas de integração entre

os conceitos plásticos e a realidade.

Os artistas deste movimento buscaram inspiração na cultura de massas para

criar suas obras de arte, aproximando-se e, ao mesmo tempo, criticando de forma

irônica a vida cotidiana materialista e consumista. Destaca-se a imagem de Marilyn

Monroe, atriz dos anos 1950, feita por Andy Warhol que reproduzia as imagens que

as pessoas já estavam cansadas de ver. Na ocasião os alunos interagiram fazendo

comentários sobre o que já haviam visto a respeito do assunto. Desta forma,

perceberam que a arte pode ser algo próximo e acessível.

Outro artista estudado foi Roy Lichtenstein, que, com as histórias em

quadradinhos, procurou valorizar os clichês como forma de arte. Com elas, o artista

pretendia conduzir as pessoas a uma reflexão sobre a linguagem e as formas

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artísticas. Os quadros, com pinturas chapadas e descontextualizados, aparecem

como imagens frias, intelectuais, símbolos ambíguos do mundo moderno, resultando

em uma combinação de arte comercial e abstração.

Talita ainda falou de Marcel Duchamp, um dos precursores da arte

conceitual, introduziu a ideia de ready-made (transporte de um elemento da vida

cotidiana, a priori não reconhecido como artístico, para o campo das artes).

Duchamp fez parte do movimento chamado dadaísmo, que surgiu na Europa

(cidade suíça de Zurique), no ano de 1916. Sua característica principal foi a ruptura

com as formas de arte tradicionais. Seu significado vem do termo infantil: dadá

(brinquedo, cavalo de pau), explicando a falta de sentido e a quebra com o

tradicional deste movimento. Duchamp criou o ready-made introduzindo objetos da

vida cotidiana no campo das artes plásticas. Também trabalhou com vários

conceitos artísticos do impressionismo, cubismo e expressionismo. Criou A Fonte, o

urinol, de porcelana branco, considerado uma das obras mais representativas do

dadaísmo na França, criada em 1917. Descontextualizou o objeto (urinol), ao levar à

galeria, mudando assim o conceito de arte, o que vale agora é a ideia. Desta forma

entramos na Arte Contemporânea. Marcel Duchamp questionou, através de seu

trabalho, o que é uma obra de arte propondo um novo método: partindo de ideias, ao

invés de partir de assuntos do cotidiano. Duchamp nunca atendeu às expectativas

da época como artista, com o passar do tempo sua obra adquiriu características

irônicas e contestadoras.

Os ready mades tiveram destaque da produção de Duchamp. Como

exemplo, tem-se a obra L.H.O.O.Q. (sigla que, lida em francês, assemelha-se ao

som da frase “Elle a chaud au cul”, que, traduzida para o português, significa “Ela

tem fogo no rabo”), que é uma reprodução da Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci, com

um bigodinho.

Outra criação de Duchamp foi a "Roda de bicicleta" (1913) que desafiou as

ideias tradicionalmente pré-concebidas sobre a definição de arte. Sua intenção foi

desconstruir a ideia de que a obra de arte é algo precioso e intocável, tirando um

objeto comum de seu cenário habitual e colocando-o num contexto novo e incomum.

A Arte contemporânea tem relação com a vida. É possível perceber esta relação ao

estudar a vida de Joseph Beuys, que sofreu acidente na guerra e o povo tártaro

cuidou de suas queimaduras quando caiu de avião. A partir daí, ele investe na arte,

utilizando a gordura na representação (cadeira de gordura), pois o povo tártaro usou

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gordura para curá-lo. Os alunos mostraram-se bastante interessados neste tipo de

arte, fazendo diversas pesquisas que posteriormente foram compartilhadas com os

colegas. Apresentaram um seminário sobre o artista e criaram composições com

objetos presentes em sala de aula, proporcionando análise e reflexão sobre a

produção. Durante as discussões, analisaram a arte do passado e a arte

contemporânea, tendo acesso a alguns termos tais como: performance, instalação e

happening.

A palestrante falou sobre os termos acima citados, definindo-os. A

performance art ou performance artística pode combinar teatro, música, poesia ou

vídeo, com ou sem público. Está ligada aos movimentos de vanguarda do início do

século XX. Realizada para uma plateia quase sempre restrita ou mesmo ausente,

sendo registrada através de fotografias, vídeos e/ou memoriais descritivos - para se

tornar conhecida para o público.

A instalação é uma manifestação artística em que a obra é composta de

elementos organizados em um ambiente, com a intenção de criar uma relação com

o espectador. É uma obra de arte que só "existe" na hora da exposição, e após, é

desmontada, ficando fotos e relatos.

O happening é uma forma de expressão das artes visuais que apresenta

características das artes cênicas, com espontaneidade ou improvisação.

Além das definições acima, foi falado sobre as Stickers (modalidade de Arte

urbana que se utiliza de etiquetas adesivas). É uma manifestação da arte pós-

moderna e popularizada na década de 1990 por grupos urbanos ligados à cultura

alternativa. A intenção dessa manifestação é transmitir uma mensagem ou o

simples prazer de enfeitar a rua, expondo seu gosto ou ponto de vista no alto de um

poste, no final de uma placa ou até mesmo no pé de um muro.

Os primeiros stickers chegaram ao Brasil como adesivos utilizados na

decoração de residências e lojas. Os artistas de rua também trabalham com

cartazes Lambe-Lambes, agregados nas superfícies com cola comercial ou caseira

(mais difícil de arrancar). Também pode-se falar do Stencil, que é usado para

imprimir imagens sobre inúmeras superfícies, do cimento ao tecido de uma roupa.

Todas estas produções artísticas foram parte importante na história da arte,

mostrando todo um processo de pensamento até chegar ao estudo do tema em

questão, o Grafite.

Após falar sobre os diversos conceitos da Arte Contemporânea e seus

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representantes, foram realizadas atividades práticas em espaços diversos da escola,

utilizando elementos extraídos da natureza, mostrando que é possível compor com

os mesmos. Tal produção fez os alunos refletirem sobre suas práticas,

compartilhando suas emoções e visões sobre as mesmas (Figuras 4, 5, 6, 7 e 8).

Figuras 4, 5, 6, 7 e 8. Construções, com objetos e elementos da natureza, realizadas pelos alunos.

O contato com a produção artística despertou nos alunos o interesse em

visitar algum local de exposição de arte. Desta forma, foi realizada uma visita ao

Museu de Arte de Londrina para que os mesmos tivessem contato com a Arte

Contemporânea. Em outro momento, no Centro Cultural de Cambé, os alunos

tiveram contato com o artista plástico Narciso Coppo que expunha seus trabalhos

em giz de cera, chamados “Átimos-instantes”.

Tais visitas despertaram nos alunos o desejo de produzir. Em sala de aula,

observando algumas imagens na TV Pendrive, em duplas, analisaram alguns

grafites, fizeram a leitura dos mesmos e responderam a alguns questionamentos

voltados às temáticas que poderiam ser abordadas na produção de grafite. O quadro

abaixo mostra essas temáticas, de acordo com os 35 alunos (Gráfico 3).

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Gráfico 3. Sugestões dos alunos sobre temáticas a abordar no grafite.

Após a análise dos grafites foi possível perceber que são muitas as

características da composição capazes de enriquecer a expressão no grafite: a cor

do grafite, o estilo dos traços, a forma da composição, o espaço ocupado, o contexto

da arte, a crítica veiculada e a(s) associação(ões) produzida(s) com outros contextos

sócio-históricos.

A partir desta análise passou-se à idealização de grafites (projetos),

pensando no tema “Grafite: arte ou poluição visual? Cultura urbana ou

marginalidade?”.

Muitas foram as ideias surgidas que enriqueceram a produção. Como o

assunto levou os alunos à reflexão, os mesmos lembraram que na ocasião da visita

ao Museu de Arte de Londrina, foi oportunizada a visualização de um grafite feito no

calçadão de Londrina, em um muro, com a imagem de Mahatma Gandhi. Foi

proposto ler um pouco sobre ele e sobre os movimentos revolucionários que lutavam

pela libertação nacional, com luta armada, como forma de ação. Verificaram que

uma admirável exceção foi Mahatma Gandhi, que liderou a luta pela independência

da Índia. Grande defensor da não-violência, preferiu recorrer à desobediência civil,

conclamando os indianos a não cooperarem com o governo inglês. Em 1930, por

exemplo, Gandhi liderou uma campanha contra o imposto do sal, pedindo aos

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indianos que não comprassem o produto. Tal revolução foi conhecida como a

Revolução da Paz. (FIGUEIRA, 2003).

Ao falar de paz, pensou-se em uma inter-relação com outras modalidades da

arte. Assim, foi falado sobre as músicas com temas relacionados à paz. Sabe-se

que música também pode falar de paz, assim, foi colocado um vídeo com imagens

representando a paz, com a música “A Paz”, composição de Gilberto Gil e João

Donato, interpretada por Zizi Possi, para que os alunos refletissem sobre sua

mensagem.

O assunto fez com que os alunos pensassem sobre a sociedade em que

estão inseridos, levando-os a alguns questionamentos, como por exemplo:

Questões Respostas

Sim Não

Você acha importante abordar o tema “Paz” nas atividades artísticas?

20 15

A questão da paz é tratada em sua cidade? 17 18

Em sua escola, há projetos voltados à paz? 20 15

Sabe-se que o tema paz pode ser tratado em outras formas de manifestação artística. A música pode falar de paz. Você conhece alguma música que trate de paz?

28 7

Você já encontrou outras músicas que tenham a paz como assunto? 28 7

Com certeza você pode citar novas músicas que retratem este assunto. Se pararmos para analisar suas letras, será que encontraremos diferenças?

23 12

Existem obras de arte, na pintura, que retratam a paz? 23 12

Tabela 2. Questionamentos sobre o tema paz, respondidos pelos alunos.

Diante destes questionamentos foi sugerida a criação de composições sobre

a paz, aplicáveis ao grafite (Tabela 2).

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Fez-se a escolha de duas músicas citadas pelos alunos, Paz de Gabriel

Pensador e A Paz do grupo Roupa Nova, prosseguindo à analise de suas letras e à

criação de composições usando a linguagem do grafite.

Em seguida foi falado sobre a Guernica, de Pablo Picasso, obra esta cheia

de sentimentos. A Guernica é repleta de significados, nela o artista expressou os

diversos efeitos provocados pela Guerra Civil Espanhola. Analisando o vídeo em 3D

sobre a Guernica, os alunos refletiram e responderam alguns questionamentos, tais

como:

Ela tem alguma relação com a ideia da paz? Por quê?

Você já viu outra imagem parecida? Vamos localizar imagens que

tenham relação com este grafite e compará-las a ele.

Sendo a Guernica uma grande obra que desperta sentimentos capazes de

criar reflexões e posicionamentos nos alunos, proporcionou uma temática a ser

trabalhada no grafite. Foi também colocado que muitos são os artistas que

representaram sentimentos e momentos importantes da história , tais como Keith

Haring e Jean Michel Basquiat.

Assim, fizemos grafites (painéis em grandes dimensões que foram aplicados

na parede da escola) em espaços diversos e refletimos sobre a produção (Figuras 9,

10, 11 e 12).

Figuras 9, 10 e 11. Processo de produção.

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Figura 12. Grafites realizados pelos alunos.

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CONCLUSÃO

Como docente da área de Arte, senti a necessidade de aprimorar a prática

pedagógica sobre a Arte Contemporânea. Visando este aprimoramento, pesquisei

material bibliográfico sobre o assunto. Para elaborar a metodologia e aplicar na

implementação do projeto, procurei atender a alguns questionamentos como: Na

arte de hoje o que se deve buscar? Nos dias atuais, a arte tem significado? Qual?

Fazendo este estudo mais aprofundado, o aluno será capaz de dar significado à

arte? Como fazer a leitura de novos suportes?

Assim, houve uma reflexão sobre a função da arte hoje, com olhares novos.

É preciso olhar atentamente buscando a decifração da arte. Quais os materiais com

que foram feitos os trabalhos e porquê foram usados. Familiarizar o olhar para as

novidades da Arte Contemporânea para gerar uma aproximação.

O professor deve ser o mediador do conhecimento, criando momentos de

reflexão. Assim, ele deve provocar o aluno para que elabore novas proposições

sobre a arte contemporânea, com o intuito de entendê-la e apreciá-la. Diversas são

as possibilidades de leitura.

As ações para implementação do projeto tiveram a intenção de mostrar/criar

possibilidades de leitura instrumentalizando os alunos para isso.

Segundo Mirian Celeste Martins (1998, p. 130), “É preciso abrir espaço para

que possa desvelar o que pensa, sente e sabe, ampliando sua percepção para uma

compreensão de mundo mais rica e significativa”. Através dos momentos de

reflexão, diversos questionamentos foram feitos por parte dos alunos, o que

colaborou para a ampliação de conhecimentos sobre o assunto.

Os trabalhos artísticos produzidos apresentaram técnicas tradicionais, mas

apontaram produções interessantes em expressão contemporânea, com materiais

diversos. Foi possível perceber que os alunos se interessam pela Arte

Contemporânea. Assim, pode-se dizer que os objetivos para a implementação foram

alcançados, complementando a formação docente, despertando o interesse e

formação dos alunos em relação à Arte Contemporânea.

A temática do grafite e pichação estão presentes no cotidiano dos alunos

que fazem parte das cidades. Assim, a escola pública se mostra atenta às questões

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sociais buscando discutir as mesmas, propiciando variadas formas de expressão de

pensamentos.

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REFERÊNCIAS

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COSTA, Cristina. Arte: resistências e rupturas – ensaios de arte pós-clássica. São Paulo: Moderna, 1998.

ECO, Umberto, Viagem na Irrealidade Cotidiana. Rio de Janeiro: Novafronteira,1984

FIGUEIRA, D.G. HISTÓRIA. São Paulo: Ática, 2003.

FONTOURA, Maria Helena. A obra de arte além de sua aparência. São Paulo: Annablume, 2002.

GITAHY, Celso. O que é graffiti. São Paulo: Brasiliense, 1999.

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PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da educação básica - arte. Curitiba, 2008.

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RAMOS, Célia Maria Antonacci. Grafite, pichação & cia. São Paulo: ANNABLUME, 1994.