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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · afirma Siman (2004), “Ensinar história não é uma tarefa fácil, sobretudo se o professor pretende formar alunos capazes de raciocinar historicamente,

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

ROSANGELA BRAMBILA YASUTAKE

QUINZE ANOS DE HISTÓRIA:

MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS EM RAÇA BRASIL

Londrina 2012

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ROSANGELA BRAMBILA YASUTAKE

QUINZE ANOS DE HISTÓRIA:

MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS EM RAÇA BRASIL

Artigo, apresentado ao PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional, na área de História, ofertado pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná, em parceria com a Universidade Estadual de Londrina – UEL.

Orientadora: Profª. Dra. Edméia Ribeiro

Londrina 2012

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QUINZE ANOS DE HISTÓRIA: MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS EM RAÇA

BRASIL.

Autor: Rosangela Brambila Yasutake 1

Orientador: Profª Drª Edméia Ribeiro 2

RESUMO

Este artigo procura refletir as mudanças e permanências editoriais e de conteúdo na

revista Raça Brasil ao longo de seus quinze anos de existência. Esta obra constitui-

se, ao mesmo tempo, em fonte e objeto desta pesquisa. Este periódico nasceu em

1996, para o público afro-brasileiro com poder de compra. A filosofia e o objetivo

deste, era incentivar a autoestima da população afrodescendente, através da moda,

beleza, entretenimento e informações, em especial o público feminino e jovem. Este

tema foi desenvolvido com os alunos da 8ª série ou 9º ano do Colégio Estadual

Professora Cléia de Godoy Fabrini da Silva, os quais fizeram uma análise da Revista

Raça Brasil buscando suas permanências e mudanças editoriais e de conteúdo nos

seus quinze anos de existência.

Palavras-chave: afrodescendentes, revista Raça Brasil, raça, preconceito e

autoestima.

Abstract

This article tries to reflect the changes and editorials permanencies and of content in

the magazine Raça Brasil along their fifteen years of existence. This work is

1 Graduada em História pela Universidade Estadual de Londrina – UEL. Pós-graduada com o titulo de

Especialização em Metodologia do Ensino de 1º e 2º graus. Docente da rede publica estadual de ensino do Estado do Paraná, atua no Colégio Estadual Profª. Cléia de Godoy Fabrini da Silva – Ensino Fundamental e Médio. 2 Graduada pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Mestrado e Doutorado pela UNESP/ASSIS e professora do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

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constituted, at the same time, in source and object of this research. This newspaper

was born in 1996, for the Afro-Brazilian public of being able to of purchase. The

philosophy and the objective of this, was to motivate the self-esteem of the

population African descent, through the fashion, beauty, entertainment and

information, especially the feminine and young public. This theme was developed

with the 8th grade or 9th year students of the “Professora Cléia de Godoy Fabrini da

Silva” State School which made an analysis of the magazine Raça Brasil looking for

their permanencies and editorial changes and of content in their fifteen years of

existence.

Key-words: afrodescendentes, reviewed Raça Brasil, race, prejudice and self-

esteem.

1 – INTRODUÇÃO

Na última copa do mundo, um dos eventos esportivos de maior importância

no globo Terrestre, e que em 2010 foi realizada no continente Africano, contribuiu

para que à maioria das nações do mundo conhecessem um pouco mais sobre os

costumes, a história e a cultura africana.

Assim como o Brasil, a África é um vasto continente, com diferentes regiões

climáticas, religiosas e culturais. O continente africano com uma pluralidade cultural

muito rica se manifesta de forma variada de uma região para outra. A África é

também o berço dos antepassados dos seres humanos, ou seja, dos primeiros

hominídeos. É através das artes africanas como a escultura, pintura, literatura,

estamparia, vestimentas que são verificadas as várias formas de expressão da

criatividade do povo africano.

O Brasil é um país multi-étnico racial, com muitas influências culturais, é um

país que, ao longo dos seus 510 anos, receberam imigrantes de vários países da

Europa, do Extremo Oriente, do Oriente Médio e da África.

As regiões brasileiras mostram bem essa diversidade de povos que para cá

vieram. Tendo como exemplo a região Sul, de colonização predominantemente

europeia, e a região nordeste com um número maior de africanos, sendo que muitos

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vieram no período colonial, devido à economia canavieira predominante na época.

Hoje, porém os afrodescendentes estão presentes em todas as regiões brasileiras e

são em torno de 45 a 50 por cento da população brasileira.

Segundo a última PNAD/IBGE, 49,4% da população brasileira se auto-declarou da cor ou raça branca, 7,4% preta, 42,3% parda e 0,8% de outra cor ou raça. A população negra é formada pelos que se reconhecem pretos e pardos. (HADDAD; SANTOS, 2009, p.2).

Da África vieram para o Brasil povos de diferentes regiões e com costumes e

crenças variadas. Os africanos que para cá vieram, foram na condição de escravos.

Em sua bagagem trouxeram suas crenças, costumes, danças, músicas, vestimentas,

e que na troca com os portugueses, e indígenas deram o contorno cultural do Brasil.

Esses elementos da sua cultura associados a sua criatividade foram importantes

contribuições dos africanos para a formação cultural do Brasil.

Durante muito tempo relegadas ao nível do folclore, a arte e a cultura africanas renascem, reencontrando a sua vitalidade e originalidade profundas. Esse passado que foi muitas vezes apresentado sem interesse e grandeza merecidos, os africanos na África e na diáspora tem procurado redescobrir. Apesar de ser negada quase toda a influência dos negros na cultura brasileira, com exceção do folclórico, existem elementos que devem ser creditados à cultura africana, e que encontramos no modo de ser e de vestir do brasileiro, características que prevalecem, apesar da importação quase que integral da moda européia. Podemos assim destacar a estamparia vistosa, o uso da cor, o vestir sem o preconceito moral, o adorno em profusão, a liberdade gestual, a exuberância. (MENEZES, 1992, p.13).

Podemos perceber o quanto somos parecidos com esse povo, seja na

alegria, na ginga, no colorido de suas roupas. A cultura africana influenciou a cultura

brasileira. Um exemplo desta influência é a vestimenta, ou seja, a maneira de vestir

do povo brasileiro assim como relata Menezes (1992, p. 12):

Outro comportamento semelhante entre negros africanos e brasileiros é a preferência por cores vibrantes independentemente dos modelos e ocasiões, e ainda da idade de quem usa, fato que nunca acontece nos países europeus, e onde uma mulher de mais idade sempre se veste de maneira sóbria, clássica.

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Os africanos, de diferentes regiões da África que desembarcaram no Brasil,

trouxeram em sua bagagem sua cultura e sua força de trabalho que ajudaram a

construir este país, seja com seus elementos culturais que influenciaram na

formação cultural do Brasil, com sua força de trabalho que contribuíram para o

desenvolvimento econômico do Brasil. Esse povo que para cá veio e os seus

descendentes travaram e travam uma luta constante pelo seu reconhecimento e

pela sua visibilidade dentro da sociedade e da economia brasileira, como afirma

Fraga e Albuquerque (2009, p. 120): “A vida como escravo e mesmo como liberto

significava lutar cotidianamente contra muitos limites que impediam o acesso dos

africanos e de seus descendentes ao exercício da cidadania”.

Dessa luta ao longo desses anos podemos citar algumas conquistas. Uma

delas é a lei 10.639/03, sistema de cotas em universidades, e tantas outras.

Hoje discute muito sobre racismo, preconceitos contra os afrodescendentes,

e as discussões tomaram um impulso maior, quando em janeiro de 2003, no

governo de Luís Inácio Lula da Silva, foi regulamentada a Lei 10.639/2003, que

estabelecia as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações

Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira. Em março de

2008, a Lei 10.639/2003 foi alterada pela Lei 11.645/2008, que estabeleceu a

obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.

A obrigatoriedade de inclusão de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos currículos da Educação Básica trata-se de decisão política, com fortes repercussões pedagógicas, inclusive na formação de professores. Com esta medida, reconhece-se que, além de garantir vagas para negros nos bancos escolares, é preciso valorizar devidamente a história e a cultura de seu povo, buscando reparar danos, que se repetem há cinco séculos, à sua identidade e a seus direitos. A relevância do estudo de temas decorrentes da história e cultura afro-brasileira e africana não se restringe à população negra, ao contrário, dizem respeito a todos os brasileiros, uma vez que devem educar-se enquanto cidadãos atuantes no seio de uma sociedade multicultural e pluriética, capazes de construir uma nação democrática. (PARANA, 2005, p.13).

As políticas de ações afirmativas, por parte do governo brasileiro, não é

privilégio de governos do final do século XX e início do século XXI. O governo

brasileiro, desde a década de 1950 teve uma preocupação com a população

afrodescendente. “Em 1951, foi sancionada a Lei Afonso Arinos (Lei nº 1390) que

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tornou o preconceito racial contravenção penal”. (ABREU; MATTOS; DANTAS,

2010).

As políticas de ações afirmativas, dos anos 1990 para cá, passam a ter uma

maior fundamentação, e esta fundamentação está respaldada na Constituição de

1988.

Que garantiu nos artigos 215 e 216, proteção às manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e estendeu a noção de direito às práticas culturais. No artigo nº 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT nº 68), concedeu direito à Terra aos descendentes de escravos através da titulação dos quilombos. (ABREU, MATTOS; DANTAS, 2010).

A partir dos anos de 1990, debates sobre as ações afirmativas têm se

intensificado, não ficando apenas nos debates, mas em ações políticas.

Cotas nos concursos do funcionalismo público, apoio do INCRA às comunidades quilombolas, verbas especiais para pesquisa e saúde dos afro-descendentes, cotas nas universidades publicas, preferências para obtenção dos financiamentos do PROUNI e políticas educacionais e culturais especiais implementadas pelo MEC, através de vários programas, como os inventários dos patrimônios imateriais e ponto/pontões de cultura (ABREU; MATTOS; DANTAS, 2006).

Com a publicação da lei 10.639/03, os professores de História da Educação

Básica têm a obrigatoriedade de abordar os conteúdos pragmáticos estabelecidos

nas diretrizes. Muitos professores, mesmo antes da publicação da lei, já trabalhavam

com temas que lhes possibilitassem desconstruir conceitos que favorecessem

embutir preconceitos nos alunos da Educação Básica.

Muitos docentes, mesmo antes da edição dessa regulamentação legal, já vinham desenvolvendo propostas que tinham entre seus objetivos a desconstrução de estereótipos, permitindo que os alunos construíssem novas concepções acerca dos processos históricos, do significado do advento de novos sujeitos sociais e das interações culturais pautadas pela valorização da pluralidade cultural. (PEREIRA, 2008, p.23).

Com a obrigatoriedade da Lei 10.639/2003 e depois da Lei 11.645/2008, o

professor da Educação Básica tem que ter o cuidado de não privilegiar, seja a

cultura africana ou a cultura europeia, atentando para que uma não sobrepuje à

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outra; cada uma deve ser entendida em seu momento histórico, visto que, como

afirma Siman (2004), “Ensinar história não é uma tarefa fácil, sobretudo se o

professor pretende formar alunos capazes de raciocinar historicamente, criticamente

e com sensibilidade sobre a vida social, material e cultural das sociedades”. (SIMAN,

2004, p.81).

O objetivo desse artigo é apresentar reflexões e o desenvolvimento do

projeto “Quinze anos de História: mudanças e permanências em Raça Brasil”, que

foi desenvolvido com os alunos da oitava série do Ensino fundamental no Colégio

Estadual Professora Cléia Godoy Fabrini da Silva na cidade de Londrina. Para isso

utilizamos como fonte a revista Raça Brasil, publicada entre os anos de 1996 (ano

do seu surgimento) e 2011.

2 – RAÇA BRASIL E METODOLOGIA DE ANÁLISE

Levando em consideração as questões anteriormente mencionadas, neste

trabalho, foi analisada a Revista Raça Brasil, como fonte e objeto de pesquisa. O

foco de análise são suas mudanças e permanências editoriais ao longo de seus 15

anos de existência. Este interesse deu-se ao perceber a transformação no seu perfil,

que no início tinha um caráter mais voltado para o entretenimento e comportamento,

e que ao longo dos anos optou-se por privilegiar a informação.

A revista Raça Brasil foi lançada em setembro de 1996, com sua edição nº

01. A revista nasceu da ideia de se fazer uma revista para o publico afro-brasileiro

com poder de compra, isto é, para uma classe média, que tinha por filosofia

incentivar a autoestima da população afro-brasileira. Para que isto acontecesse e a

revista tivesse sucesso, era muito importante que todos, que estavam envolvidos no

projeto, estivessem em sintonia com a filosofia da mesma, pois “o negro não quer,

no Brasil, uma coisa inferior, ele não quer um produto inferior. É um projeto muito

bem pensado, e ela não é uma revista panfletária, não é uma revista militante”

(MELO, 1996, p. 251).

Segundo Roberto Melo (1996, p. 242), a revista derrubou três dogmas que

existia nos meios de comunicação, o primeiro dogma é que o negro não tem poder

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aquisitivo para comprar produtos supérfluos; o segundo dogma era que negros em

capas de revistas não vendem revistas; o terceiro dogma era que os negros têm

vergonha de ser negros.

A revista Raça Brasil foi lançada com um objetivo, que era trazer moda,

beleza, horóscopo, culinária, entretenimento, entrevistas e reportagens informativas

e de memória, para os afrodescendentes da classe média (alta) e com poder de

compra. É uma revista para esta parcela da população brasileira. Uma revista

também destinada em especial ao público feminino e jovem, como afirma Roberto

Melo (1996, p. 276): “Nós falamos para uma família inteira, nós falamos ao jovem,

homens e mulheres, jovens e velhos. Mas, por causa de questões estatísticas nós

dirigimos sim a revista para os mais jovens e para as mulheres”.

A Revista Raça Brasil era um veículo de comunicação de comportamento,

destinada aos afrodescendentes, em especial para mulheres e jovens, dessa forma,

uma das mensagens transmitidas pela revista é que “negro é bonito, nós somos

bonitos, nós somos fortes, nós somos viris”. (MELO, 1996, p. 260).

Mas porque a Revista Raça Brasil era destinada em especial ao público

feminino e jovem? A resposta também é dada por Roberto Melo (1996, p.276),

Porque mulheres lêem mais revista de comportamento que os homens, mulheres lêem mais revistas, e entre os negros a gente supôs que acontecia a mesma coisa, então, fizemos a revista projetando que o público seria 70% feminino.

Ainda nessa questão, por que a revista também visava o público jovem? A

resposta dada foi, “porque os jovens têm mais chance, teriam mais horizonte pela

frente e teriam mais possibilidades, mais esperança, poderiam mudar a sua

profissão”. (MELO, 1996, p. 277).

Ao ler e manusear a revista Raça Brasil, nas edições de outubro e novembro

de 2010, e também alguns exemplares de 1996 e 1997, e ao comparar os

exemplares mais antigos com as edições atuais, pode se perceber que ela não traz

as abordagens sobre o que ela se propunha quando foi criada que era trazer moda,

beleza, culinária, horóscopo, etc.

Em suas seções, a revista continua trazendo reportagens; entrevistas com

pessoas de origem africana, que contam sua história de vida, os preconceitos que

sofreram como atingiram seus objetivos, seus sonhos e a ajuda que tiveram. Esta

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impressão que tive sobre a revista foi de certa forma confirmada com as cartas de

dois leitores que acompanham sempre a revista e afirmam que ela está muito séria,

fora de seu intuito inicial.

Porém, se o seu objetivo era levantar a autoestima dos afro-brasileiros por

meio da beleza e moda, será que ela deixou de cumprir o seu papel inicial, por não

trazer mais a seção Beleza? Será que a autoestima de uma pessoa, seja ela branca

ou negra, só é levantada através dos seus aspectos físicos?

Os exemplares da Revista Raça Brasil utilizados para pesquisa e analise

foram: ano 01 nº 1 setembro de 1996; ano 02 nº 7 março de 1997, nº 11 julho de

1997 e nº 12 agosto de 1997; ano 03 nº19 março de 1998; setembro 2010 edição

147; outubro de 2010, edição 148; fevereiro de 2011 edição 151; março de 2011

edição 152; outubro de 2011 edição 159.

Com o objetivo de perceber mudanças e permanências editoriais e de

conteúdo no decorrer dos quinze anos de existência da Revista Raça Brasil. O

projeto foi apresentado aos alunos, e estes foram organizados em grupos. Os

grupos constituídos neste momento permaneceram assim até a fase final da

execução, já que os mesmos sempre trabalharam em grupo.

O primeiro passo da implementação do projeto foi levar os grupos a

discutirem o conceito de raça. Em seguida fizeram a leitura e discussão do texto

Uma Abordagem conceitual das Noções de Raça, Racismo, Identidade e Etnia (a

leitura feita foi somente da parte que fala do conceito de raça), também procuraram

o conceito no dicionário, reelaborando os seus próprios conceitos.

Os grupos também realizaram uma pesquisa e apresentação sobre as leis

10.639/03 e 11645/08. Na apresentação os grupos expuseram suas conclusões

sobre a importância da obrigatoriedade das referidas leis.

Antes de iniciarmos a analise da revista Raça Brasil, os alunos fizeram

também uma análise das revistas que costumam ler. A análise de suas revistas

aconteceu em dois momentos, primeira análise foi feita sem seguir nenhum roteiro,

apenas lhes foi dado alguma sugestão. No segundo momento foi fornecido aos

grupos um roteiro para analise de suas revistas que deveriam ser seguidos por eles.

Enfim, começamos a analise da revista Raça Brasil, que também foi feita em

dois momentos. No primeiro momento, os grupos seguiram um roteiro que tinha por

objetivo levar os alunos a conhecer o periódico. No segundo momento, foi feita a

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analise da revista, seguindo um roteiro que levaria os alunos a perceber e a buscar

as mudanças e permanências em Raça Brasil.

Os grupos, por fim, deveriam criar suas próprias revistas, foram sugeridos

alguns temas afros que deveriam constar em seus trabalhos. Para suas pesquisas

utilizaram o laboratório de informática localizado na biblioteca da escola, sempre

orientados para que não desviassem do objetivo do trabalho. Antes de finalizar os

trabalhos, os alunos foram levados a visitar uma gráfica na cidade de Londrina que

produz revistas para o comércio em geral, para que conhecessem e aprendessem

um pouco sobre seu funcionamento e como se produz uma revista.

A questão que colocamos para este trabalho refere-se à análise e às

reflexões a respeito das permanências e transformações de conteúdo e editorial que

ocorreram na Revista Raça Brasil no decorrer da sua existência.

3 – CONCEITO DE RAÇA E A OBRIGATORIEDADE DA LEI 10.639/03 SOB O

OLHAR DOS ALUNOS DO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL.

Antes de iniciar a analise da Revista Raça Brasil e dar continuidade a

apresentação da implementação do projeto, entendemos ser necessário discorrer

sobre o conceito de raça.

Segundo o dicionário Houais, raça “s.f. é a divisão racional e arbitrária dos

grupos humanos, determinada pelo conjunto de caracteres físicos hereditários (cor

da pele, formato da cabeça, tipo de cabelo etc.)”. Ainda, segundo o mesmo

dicionário, “etnologicamente a noção de raça é rejeitada por se considerar

proximidade cultural de maior relevância do que fator racial”. (HOUAIS, 2009,

p.1602)

No Novo Dicionário Aurélio raça é um “conjunto de indivíduos cujos

caracteres somáticos, tais como cor da pele, a conformação do crânio e do rosto, o

tipo de cabelo, etc., são semelhantes e se transmitem por hereditariedade, embora

variem de individuo para individuo”. (FERREIRA, 1986, p.1442)

A respeito destes dois conceitos trazidos, percebemos que são semelhantes,

pois se referem aos caracteres físicos hereditários.

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Os dois dicionários trazem ainda o conceito de “descendência, origem,

estirpe, casta. Ou também ser forte, lutador, determinação, coragem”. (HOUAIS,

2009, p.1602 e FERREIRA, 1986, p.1442)

Quando utilizamos a palavra raça, podemos dar a ela uma infinidade de

significados. Segundo Kabengele Munanga (2003), etimologicamente, o conceito de

raça veio do italiano “razza”, que por sua vez veio do latim “ratio” que significa sorte,

categoria, espécie. O conceito de raça foi utilizado primeiro na Botânica e na

Zoologia para classificar espécies de animais e vegetais.

Ainda segundo Kabenlenge Munanga, o conceito de raça, que é utilizado

pela antropologia, foi inspirado na Botânica e na Zoologia, sendo usada para dividir

a raça humana em três grupos: a raça branca, a raça negra e a raça amarela.

De acordo com esta divisão a raça branca é tida como superior e, partindo

dessa premissa, os europeus se julgam superiores por pertencerem à raça branca e

acabam submetendo os negros à escravidão por serem considerados inferiores.

Mas, na verdade, esta divisão não existe, o que de fato existe é a raça humana, com

sua diversificação na cor da pele, tipo de cabelo, aspectos físicos, etc.

A palavra raça também pode ser empregada no sentido de que é quem tem

vontade, força, garra para atingir um determinado objetivo.

Os africanos que foram trazidos para o Brasil pelos portugueses como

escravos, desde sua chegada nesta terra, tem uma história de luta por liberdade,

reconhecimento e visibilidade dentro da sociedade e da cultura brasileira. Uma luta

que foi determinante (Qual? Esse pedaço está confuso) muita “raça”, e a “raça

Negra” tiveram e tem, e não foi pouca, mas sim muita “raça” para obter algum

reconhecimento e visibilidade dentro da sociedade e da cultura brasileira, e uma

dessas conquistas é a lei 10.639/03.

Hoje, discute-se muito sobre questões relacionadas a racismo, preconceito e

raça. Levando em consideração estas discussões foi realizado um trabalho de

pesquisa junto aos alunos da oitava serie do ensino fundamental, a fim de saber

qual era o conceito deles sobre raça, o que é raça para eles. Após discussões sobre

o tema, as conclusões que os grupos chegaram, já que os alunos foram divididos

em grupo, foram:

“Para nós raça se define em origem, cor da pele, preconceito, religião”. (sic).

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(...)

“Existem muitos tipos de raças, negros, pardos, brancos, entre eles os negros e pardos são nossos afrodescendentes. Originalmente vindos da África e crescendo no mundo atual. A raça diferencia as pessoas e nos distingue um dos outros”. (sic). (...)

“Pode ser definidas como a cor da pele de uma pessoa, a classe social e também pode ser uma palavra muito ofensiva. Pode ser definido também como a raça de um animal”. (sic) (...) ”Existem muitos tipos de raças, por exemplo, a raça humana, raça animal, classes sociais”. (sic).

Com estas colocações, podemos concluir que para os alunos o conceito de

raça está relacionado à cor, à classe social, e também à raça de animal.

Os alunos, sempre trabalhando em grupo, realizaram uma pesquisa e, em

seguida, uma apresentação sobre as leis 10.639/03 e 11645/08. Na apresentação os

grupos expuseram suas conclusões sobre a importância da obrigatoriedade das

referidas leis.

O grupo “boy and girls” concluiu que as leis 10.639/03 e 11.645/08,

são muito boas, pois servem para integrar a cultura afro-brasileira e a sua história nos estabelecimentos de educação básica, diminuindo o preconceito e ensinando jovens a aceitar e a respeitar as diferenças culturais e raciais, dando assim o conceito de ética que precisamos para viver num mundo mais justo e sem preconceitos. (sic).

Para o grupo “All Star”:

“concluímos que essas leis são muito importantes, porque coloca mais cultura e educação nas escolas tanto publicas quanto particular. Isso é bom, porque quanto mais se compreende nossa história, um futuro melhore teremos”. (sic).

De maneira geral os grupos entendem que é importante estudar a história e

cultura africana, que é uma das formas de acabar com o preconceito. Para eles,

somente a disciplina de História que tem a obrigatoriedade de se trabalhar história e

cultura africana, segundo os mesmos “matemática não tem jeito não”. Outra questão

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que foi abordada pelos grupos estava relacionada ao fato de que somente História,

Artes e Português têm trabalhado com conteúdos relacionados à cultura africana.

4 – REVISTA COMO FONTE DE PESQUISA NA AULA DE HISTÓRIA

Hoje se discute como deixar as aulas de História mais dinâmicas, atraentes

e interessantes para os alunos. O professor, sendo o mediador do processo ensino-

aprendizagem, tem o dever de fazer o aluno sentir que faz parte da história e, para

que isso ocorra, uma das sugestões é o uso de fontes históricas.

O professor, da Educação Básica, como mediador do processo de

construção do conhecimento, não pode ignorar os conhecimentos que os alunos

trazem em sua bagagem de experiência, pois os mesmos fazem parte de um grupo

social que de certa forma interfere nos seus conceitos e na sua aprendizagem de um

raciocínio histórico.

Não podemos ignorar que, já na infância, os alunos, por suas experiências de participação nos acontecimentos do cotidiano, pela transmissão e pelas heranças de seus grupos de convivência social e pelo contato com os veículos de difusão da memória histórica formulam idéias e raciocínios relacionados à História. Muito mais cedo do que supomos nossos alunos vivenciam formas de discriminação social e cultural a negros, índios, mulheres e pobres; ou ainda experimentam efeitos das visões estereotipadas ou fatalistas que prevalecem em relação às diferentes culturas, grupos e classes sociais. (SIMAN, 2004, p.84).

O professor, como mediador do conhecimento, busca outros elementos

como a linguagem, fontes documentais, imagens, etc., que possa ajudar-lhe nessa

ação mediadora do ensino/aprendizagem, como afirma Cainelli, a “questão principal

é proporcionar à criança possibilidades de dialogar com o passado através das

vozes e vestígios que o tempo multifacetado permite”. (CAINELLI, 2006, p.70).

O professor pode utilizar como fonte histórica fragmentos de documentos,

objetos, fotografias, e porque não revistas, já que este veículo de comunicação

exerce uma atração muito grande ao leitor/consumidor, ao utilizá-las o educador

pode levar o aluno a dialogar com o passado.

15

Ramos, concorda com Ricardo Filho quando esse diz que as revistas de iniciativa privada, nem sempre foram fontes documentais admitidas pela História da Educação, mas que, certamente, desde que se considerem suas características próprias, deve-se reconhecer que elas também propiciam condições para investigar como se configura o campo educacional. (RICARDO apud RAMOS, 2009, p. 5).

Como descrito anteriormente, para chegar à analise da Revista Raça Brasil,

os alunos começaram fazendo uma analise das revistas que costumavam ler.

Trouxeram para a sala de aula revistas que faziam parte de seus universos, voltadas

para o público jovem e adolescente.

As revistas utilizadas pelos alunos foram: Capricho, Caras, Love Teen, Viva,

DM e Ana Maria. Serão apresentadas algumas das conclusões das analises feitas

pelos discentes sem a interferência do professor, estas conclusões foram:

”A revista Capricho é uma revista contemporânea do mundo jovem que trata de diversos assuntos como: moda, música, artistas, garotos, profissão, escola, pais, amigos, vida social. A revista Capricho é uma revista feita especialmente para as meninas, pois a revista trata de assuntos e curiosidades que todas as garotas querem saber.”

(...)

“E também na edição 1130 de agosto de 2011 na matéria “Peça da Vez” há uma menina na foto ela é afrodescendente seu nome é Ariadne Silveira de 16 anos. Na matéria “peça da vez” fala sobre a peça da moda ou o acessório que todo mundo está usando é quase um tutorial de moda nessa matéria os leitores podem entrar no site da Capricho e postar uma foto com a peça da vez que nesta edição foi o colete ‘aconchoado’.”(sic)

(...)

“Revista Love Teen: é uma revista voltada mais para os jovens, é uma revista bem colorida, fala sobre a vida dos artistas tem várias fotos, de músicos e atores, fala sobre moda tem uma reportagem sobre bullyng, e varias propagandas”.

(...)

“Revista Viva: tem propaganda de pizza, comenta sobre horóscopo, sobre a dieta dos signos, dicas de manicures, propaganda de esmalte, moda curiosidades sobre amor e sexo, dicas de batom, receitas de culinária, capítulos de novelas e anúncios.”

(...)

“Nossas revistas abordam temas bem diferentes e interessantes.”

(sic).

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(...)

“Revista Love Teen: é uma revista exclusivamente de testes. Fala sobre flores, cores, letras, autoconhecimento, rabiscos, segredos, brigas, Harry Potter, linhas das mãos, novelas, irmãs, popularidade, relacionamento, casais, famosos, noivas, economia, saúde, amigos, Tudo isso destinado aos adolescentes.”

(...)

“Ana Maria, tem propagandas sobre remédios, comidas, cosméticos, limpeza, roupas, etc. A revista fala sobre educação, saúde, lazer, beleza, moda e entretenimento. Destinada aos adultos.”

(...)

“Caras: tem muitas propagandas sobre cosméticos, moda, saúde, lazer, etc. a revista procura falar mais sobre a vida de pessoas famosas.”

O professor de História durante a Educação Básica, ao utilizar uma revista

como fonte deverá estar atento a muitos aspectos deste veículo de comunicação.

Portanto, para tal, eles deverão definir o seu foco de pesquisa dentro de um

periódico, exemplos: trabalhar com capas, imagens, propagandas, editorial, e outros.

Os educadores, ao definir o seu objeto de pesquisa partindo de uma revista,

precisam deixar claro o que se pretende com este trabalho, que tipo de leitura o

professor quer que seus alunos façam e, principalmente, o que deverão analisar e

criticar.

Procuraremos atentar à materialidade das revistas em diferentes momentos históricos ou perceber as mudanças ocorridas em uma mesma revista em sua apresentação visual. Formato, tipo de papel, tamanhos de letras, diagramação e disposição de imagens e textos, qualidade de impressão, cores utilizadas, a divisão de seções, a distribuição de títulos e subtítulos são alguns elementos que necessitam de leitura, nada inocente, direcionando o olhar do leitor a determinadas imagens ou manchetes em destaque, o que nos coloca outros vetores: as orientações dos editores e o público alvo de anúncios e reportagens, ou seja, o circuito produção, circulação e recepção. (MOLINA, 2009, p.11-12).

Também foi feita uma analise das revistas seguindo um roteiro fornecido

pela professora (ver roteiro em anexo). Três grupos fizeram análise da Revista

Veja, outro da Caras, e os demais grupos analisaram as revistas Sou + eu!, Yes

Teen, Love Teen, Capricho, Malu, que são revistas destinadas ao publico jovem e

17

adolescente. As capas, em geral, são bem coloridas e chamam a atenção do seu

publico, trazem dicas de maquiagem, de como emagrecer, sobre moda. .

O grupo “Teen Girls And Boys” utilizou a “Revista Veja com a edição 2144

numero 51, do dia 23 de dezembro de 2009, editora abril”. Capa com os anjos

animados da raça branca famosos. As cores utilizadas não são chamativas: branco,

bege, dourado, preto e cinza, deixando a capa não muito colorida.

Nas análises realizadas das revistas Caras e Veja os alunos perceberam

que a maioria das propagandas que os periódicos trazem é feita por brancos, são

destinadas ao publico jovem e adulto e em suas matérias aparecem poucas pessoas

afrodescendentes. A opinião de um grupo em relação à revista Caras:

De cem propagandas quatro propagandas com afrodescendentes poucos e alguns artistas. (sic) (....)

A Revista Caras não traz nada de inovador e nem de informação importante mais todos nós lemos porque todo mundo gosta dos artistas.” (sic)

O uso de revista em sala de aula como fonte de pesquisa pode ir além de

uma simples analise como esta que foi realizada pelos alunos que participaram

deste projeto, tudo vai depender do direcionamento, do foco, do objetivo que o

professor pretende alcançar no planejamento de sua aula.

5 – MUDANÇAS E PERMANENCIAS EM RAÇA BRASIL NA VISÃO DOS

ALUNOS DO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL.

Quando trabalhar revista como fonte documental, o professor, de História

poderá levar o aluno a refletir sobre as manifestações sociais, políticas

governamentais, questões econômicas, de uma determinada época e conduzi-los a

fazer reflexões sobre mudanças e permanências, oferecendo ao educando, uma

leitura crítica das mensagens que este veículo de comunicação trás.

A educação formal deveria fornecer condições para que o educando pudesse elaborar uma leitura crítica dos textos, imagens,

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aprendendo como avaliar, decodificar e interpretar o discurso midiático, analisando tanto a forma como ele é construído e opera no cotidiano, quanto o conteúdo de suas mensagens. (RAMOS, 2009, p.3).

O professor, ao utilizar a revista como fonte histórica, deve levar em

consideração se é um veículo de comunicação, se é semanal ou mensal, se visa

lucro e se tem um público alvo, assim como afirma Silva (2003, p. 44):

A revista é uma mídia privilegiada para o mercado publicitário tem público selecionado, específico, significando retorno garantido de investimentos em propaganda. Além disso, as revistas semanais são consideradas “transmissoras de Idéias” e “meios de maior credibilidade”.

A análise da revista Raça Brasil feita pelos alunos foi dividida em duas

partes, ou seja, foram usados dois roteiros com perguntas diferentes.

A primeira análise tinha como objetivo levar o aluno a conhecer a revista

Raça Brasil.

O que mais chamou a atenção dos grupos foi tanto o fato de participar da

revista somente pessoas afrodescendentes, o que é muito legal e interessante,

quanto o orgulho dos entrevistados de ser afrodescendentes. As entrevistas e

reportagens estão relacionadas com afrodescendentes que se destacaram na

sociedade, foram bem sucedidos, com o objetivo de dar mais informações sobre

eles. Os temas geralmente são sobre discriminação.

Para os grupos, a maioria das propagandas é feita por afrodescendentes e

são sobre produtos de beleza.

O significado da palavra raça na capa, segundo os grupos, é: “a diversidade

cultural afro-brasileiro”, “raça negra”, “cor e cultura” e “definição de

afrodescendente”.

O sumário vem organizado em matérias, seções e entrevistas e, segundo os

grupos, “é bem organizado”:

A organização e apresentação geral da revista conduzem os alunos a

expressar uma opinião sobre a mesma, assim destacamos que eles não gostaram

dela nessa primeira análise, pois revelam:

(...)

19

“Não gostamos da revista porque é para adultos negros e nós gostamos de revistas de adolescentes, não importa a cor”. (sic).

A segunda análise tinha como objetivo, levar os alunos a buscar as

mudanças e permanências na revista Raça Brasil, para isso os educandos, sempre

organizados em grupos, utilizaram dois exemplares do periódico, um mais antigo e

outro mais atual, ou seja, um da primeira fase da revista e outro da segunda fase

deste meio midiático. Segundo Santos (2004, p.78)

A vida da revista Raça Brasil pode ser dividida em duas partes distintas quanto ao conteúdo da publicação. A primeira fase inicia-se no ano de 1996, com o lançamento da revista, e vai até o ano de 2001, quando se dá uma profunda mudança na linha editorial.

Segundo análise feita pelos grupos, com relação às mudanças e

permanências da Revista Raça Brasil, as conclusões que seus integrantes

chegaram são bem interessantes, visto que, para eles, as capas se diferenciam nos

tamanhos das manchetes. Na antiga traz identificações na revista dos negros

brasileiros e na nova não traz nada disso. Salientam o destaque do nome da revista

nova, e a presença de pessoas do meio artístico. Além disso, a revista nova traz o

site bem destacado.

Ainda na visão dos grupos, em relação à editora, houve mudanças, na

revista antiga a editora era a Símbolo e, na atual, a editora Escala. Mudou também o

editor responsável. Com respeito ao sumário, o da revista mais antiga estava mais

explicativo do que o da mais nova, o qual está bem simples, só que com letras

diferentes, com imagens mostrando o que vai acontecer nas matérias e ele está

mais colorido, chamando mais a atenção.

Segundo os mesmos as propagandas quase não mudaram, a maioria

continua sendo sobre cosméticos e produtos capilares, propagandas estas

realizadas por afrodescendentes, embora haja poucos comerciais realizados por

brancos.

Observaram que os nomes das seções mudaram, há também seções que

nos periódicos atuais não existe mais como horóscopo, dicas de moda e beleza,

batuque na cozinha (culinária), antes e depois, controle remoto e a ultima pagina.

Hoje a revista traz humor, com as charges de Mauricio Pestana, Gingas do Brasil

20

que conta a história de vida de afrodescendentes que se destacaram na musica, na

conservação da cultura africana, que lutaram contra a escravidão, o preconceito,

além de outras seções que, às vezes, mudam um pouco dependendo da edição.

Para eles, as entrevistas falam sobre coisas parecidas e são entrevistas

com os afrodescendentes. Na revista atual, as entrevistas são menos longas. O

tema central das entrevistas são quase os mesmos (“negros que se destacam por

algum motivo”), mas a revista atual traz mais os famosos. Os temas são mais

polêmicos e, para os grupos, as entrevistas das antigas são mais explicativas elas

têm mais conteúdo que a nova.

Na opinião dos grupos o estilo das reportagens não mudou muito. As

reportagens são bem variadas. Falam também a respeito da discriminação, as

matérias permanecem sobre afrodescendentes, traz muitas novidades de artistas.

Tanto a revista antiga e a atual trazem reportagens sobre anônimos e famosos.

Está analise pode ser constatada pela fala do grupo citado abaixo e pela

opinião dos grupos. O grupo Papo de Meninas fez a comparação entre os

exemplares nº 01 e 152. Para o grupo, as capas das revistas permanecem com

cores que chamam a atenção, as pessoas que aparecem na capa são

afrodescendentes. As reportagens e entrevistas permanecem interessantes e com

pessoas famosas, o público alvo continua sendo os afrodescendentes, as

propagandas, em sua maioria, também não mudaram, pois continuam sendo de

cosméticos. Para o grupo, a antiga edição 12 interessava o horóscopo e agora na

atual, as charges. Na opinião do grupo, a revista atual é mais interessante, embora

não fale do que “a gente gosta”, ou seja, sobre adolescentes, sobre os seus ídolos e

as novidades da atualidade deles. Não houve mudança, segundo o grupo, no

publico alvo, já que continua sendo os afrodescendentes.

Na parte final do trabalho, os alunos criaram uma revista. Nesta revista tinha

que conter elementos da cultura afro-brasileira e ou indígena, como comida, moda,

lenda, charge, vestimentas, entrevistas, entre outros elementos.

Os alunos também foram levados a visitar uma gráfica, e lá conheceram o

departamento comercial, o de criação e a parte gráfica de produção.

As revistas, que fazem parte dos meios midiáticos, estão presentes no dia a

dia do alunado, utilizando-se de uma linguagem mais simples, de uma

representação gráfica, de elementos coloridos, que chamam a atenção deste público

consumidor. Esses periódicos, de certa forma, acabam influenciando na maneira de

21

ser, pensar e vestir e também embutindo valores a esses alunos, como afirma

Ramos (2009, p. 2):

Sobre as conexões entre mídia e escola, são mais recorrentes as pesquisas que consideram a influência dos artefatos midiáticos no modo do alunado construir as noções de classe, etnia, gênero, nacionalidade sexualidade e raça.

Se as revistas conseguem exercer um fascínio sobre seus leitores e suas

leitoras, influenciando em comportamentos, porque não trazê-la para o lado e auxílio

do professor? Afinal, podemos utilizá-las em nosso favor, ensinando nossos alunos

a terem uma postura mais crítica com este veiculo de comunicação, com a

sociedade em que vivem, com a economia e com a política de seu país e do mundo;

assim como diz Jorge Luiz Romanello (2006, p. 240) “em país capitalista, a imprensa

significa também poder”.

A Revista Raça Brasil surgiu em 1996, com o objetivo de constituir-se num

veículo de comportamento e entretenimento para a parcela do público

afrodescendente. Busca-se, com esta publicação, valorizar a autoestima destes

sujeitos. No entanto, no decorrer de seus quinze anos de existência, observa-se

uma mudança no perfil da revista, considerando que passou a caracterizar-se mais

pelo conteúdo informativo, do que pelo de comportamento.

6 – CONCLUSÃO

Os alunos que participaram do projeto perceberam algumas mudanças e

permanências na Revista Raça Brasil em seus quinze anos de existência, notaram

mudanças no editorial, na capa, nas reportagens e, em fim, no perfil da revista.

Observaram que a revista está bem diferente do que era quando ela foi criada,

conforme foi relatado durante a exposição deste artigo.

Os objetivos propostos para este trabalho de certa forma foram cumpridos,

pois os alunos conseguiram analisar as propagandas, o conteúdo, o editorial da

revista e as transformações das seções.

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Os grupos conheceram a Revista Raça Brasil e, com isso, perceberam à

qual público a revista destina os temas centrais de suas matérias, reportagens e

entrevistas. Conseguiram, portanto, construir uma análise e desenvolver um senso

crítico em relação aos periódicos trabalhados.

No que diz respeito à Revista Raça Brasil, existe mudança e permanência.

Os alunos detectaram mudanças na capa que não mais traz “A revista dos negros

brasileiros”, não traz horóscopo, culinária, editoriais de moda e beleza e, de acordo

com eles, houve ainda mudanças com relação à apresentação do sumário, aos

editores responsáveis pela revista, estas foram algumas das mudanças percebidas

pelos alunos (as). Em contrapartida, a respeito do que se manteve presente, eles

destacaram que a revista mantem as entrevistas com afrodescendentes, que contem

perguntas que questionam se sofreram algum tipo de preconceito e mantem também

matérias relacionadas aos afrodescendentes e a cultura afro-brasileira. A revista traz

charge do Mauricio Pestana e seu público continua sendo a população

afrodescendente.

Os estudantes de maneira geral demonstraram interesse pelo trabalho, mas,

vale salientar, que os grupos formados com meninas demonstram um pouco mais de

interesse em relação aos grupos formados por meninos, já que a criação de uma

revista no fechamento do trabalho chamou mais a atenção das meninas. Enquanto

que nos grupos mistos, as opiniões se divergem em relação aos temas a serem

abordados no trabalho, além de que os meninos esperam que as meninas façam

tudo por eles.

23

7 – REFERÊNCIAS

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24

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8 – ANEXO 1

1- ROTEIRO PARA ANÁLISE DA REVISTA ESCOLHIDA PELO ALUNO 1- Informações/apresentação da revista (nome, edição, número, mês. ano e editora,

etc.)

2- Sobre a capa da revista responda:

a) Quem são os personagens

b) Pessoas famosas ou comuns

c) Negros ou brancos

d) As cores utilizadas na capa

e) São atraentes

f) Muito colorida

g) Opinião sobre as cores utilizadas nesta capa.

h) As reportagens de destaque que está na capa

3- Folheie a revista e verifique:

a) Aparece afrodescendentes na revista (Muitos, poucos, nenhum)

b) Se aparece, em qual seção.

c) Anônimo/a ou famoso/a

d) A reportagem de destaque da capa é interessante

e) Assunto tratado

f) Idéia central

g) Chamou mais a sua atenção

4- Sobre as propagandas

a) Tipos de propaganda que aparece em sua revista

b) Propagandas são realizadas por afrodescendentes (tipo, Sobre o que).

5- Sobre as reportagens/entrevistas

a) TIPOS de reportagem da revista

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b) Tema central dessas reportagens

c) Tipo de entrevista

d) Pessoas entrevistas (quem é: famosos/anônimos, afrodescendente/branco, tema

central da entrevista).

6- Faça uma analise critica da revista que você que você escolheu.

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ANEXO 2

2- PRIMIERO ROTEIRO SOBRE A REVISTA RAÇA BRASIL: (PARA CONHECER

A REVISTA).

1- O ano, mês, edição da Revista Raça Brasil que você tem em mãos

2- Nome da editora da revista

3- Responsável pela revista, Sobre o que escreve.

4- Sobre a capa da Revista Raça Brasil, responda;

5- Significado da palavra “raça”, que a revista utiliza.

6- As cores predominantes desta capa, em sua opinião, porque utilizaram essas

cores.

7- Personagens da capa

8- Famosos, ou pessoas comuns (anônimos)

9- Negros ou brancos

10- Reportagem de destaque da capa

11- Tema central desta reportagem (interessante, era o que você esperava?).

12- Sobre as propagandas

a. Tipos de propaganda que aparece revista Raça Brasil

b. Propagandas que são realizadas por afrodescendentes (Que tipo, Sobre o

que).

c. Propagandas realizadas por brancos (Que tipo, produto).

d. Faça uma analise sobre as propagandas que aparecem afrodescendentes e

as que aparecem brancos, faça uma comparação.

13- Sobre as reportagens/entrevistas

14- Tipo de reportagem a revista traz

15- O tema central dessas reportagens

16- Essas reportagens estão relacionadas com brancos ou afrodescendentes

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17- Tipo de entrevista a revista traz

18- As pessoas entrevistas (Algum afrodescendente)? Algum branco? É

anônimo/a ou famoso/a? Qual foi o tema central dessa entrevista?

19- De maneira geral, os temas das entrevistas.

20- Sobre o sumário da revista (Como vem organizado)?

21- O que mais chama a atenção de vocês, por quê?

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ANEXO 3

3- SEGUNDO ROTEIRO PARA ANALISE DA REVISTA RAÇA BRASIL (MUDANÇAS E PERMANENCIAS)

Sobre a Revista Raça Brasil responda:

1- O ano, mês, edição, editora da Revista Raça Brasil que você tem em mãos,

2- Analisando o sumário da revista, o que mudou o que permanece?

3- Faça uma analise comparativa das capas e destaque suas mudanças e

permanências.

4- Sobre as entrevistas façam uma comparação sobre os temas centrais, pessoas

que são entrevistadas.

5- Com relação às reportagens existem alguma diferença entre os periódicos (mais

antigos e atuais)

6- Sobre as matérias que a revista traz o que permanece, o que não faz mais parte

da revista.

7- Tipo de público que a revista atendia nos exemplares mais antigos, e nos atuais.

8- Com relação às propagandas percebe-se alguma mudança. Descreva.

9- Faça uma analise geral sobre a revista Raça Brasil, destacando suas mudanças e

permanências.

10- Em sua opinião, em que momento a revista é mais interessante: primeiras ou

atuais. Por que.

11- Faça um quadro comparativo sobre os exemplares analisados