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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples) Este trabalho ... aflorar sentimentos esquecidos e despertar

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE

Ficha para Catálogo Artigo Final

Professor PDE/2010

Título SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL NAS AULAS DE

INGLÊS ATRAVÉS DE MÚSICA E FOTOS.

Autor Rosemari Komarcheski

Escola de Atuação Colégio Estadual João Afonso de Camargo

Município da Escola Mandirituba

Núcleo Regional de Educação Área Metropolitana Sul

Orientador Wilson Taveira

Instituição de Ensino Superior UFTPR

Área do Conhecimento/Disciplina Língua Estrangeira Moderna - Inglês

Relação Interdisciplinar Geografia, Filosofia, Português, Biologia e Artes

Público Alvo Professores e alunos da escola

Localização (identificar nome e

endereço da escola de implementação)

Colégio Estadual João Afonso de Camargo. Localizada na localidade de Areia Branca dos Assis em Mandirituba- Pr.

Resumo: (no máximo 1300 caracteres,

ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)

Este trabalho foi desenvolvido no Colégio Estadual João Afonso de Camargo durante as aulas de Língua Estrangeira Moderna/Inglês, usando músicas com temas aquáticos e fotos de ambientes fluidos para despertar a sensibilidade da comunidade escolar perante aos problemas ambientais no entorno da escola devido a ocupação do espaço de forma desordenada, sem respeitar a mata ciliar e as encostas dos rios da região. Com esta dinâmica foi possível primeiramente provar que é possível trabalhar Educação Ambiental em outras áreas que não as chamadas áreas ambientais

(química, geografia e biologia) dentro das DCE. Foram analisadas as relações afetivas dos alunos com ambientes aquáticos através das narrativas e comparadas estas com as dos seus professores. A metodologia usada para a coleta dos dados foram as narrativas. Primeiramente foram realizados trabalhos de sensibilização através de músicas para aflorar sentimentos esquecidos e despertar assim a emoção vivida em ambientes aquáticos. Passeios no entorno do colégio serviram para analisar e refletir sobre a ocupação do espaço no local. Posteriormente foi solicitado aos alunos que elaborassem narrativas sobre experiências vividas em ambientes aquáticos, sejam elas positivas ou negativas. Foi solicitado aos professores que colaborassem também narrando suas lembranças com ambientes molhados.

Palavras-chave ( 3 a 5 palavras) água;música; educação ambiental; fotos; narrativas.

SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL NAS AULAS DE INGLÊS ATRAVÉS DE MÚSICA

E FOTOS.

Autor: Rosemari Komarcheski¹

Orientador:Wilson Taveira²

RESUMO

Este trabalho foi desenvolvido no Colégio Estadual João Afonso de Camargo durante

as aulas de Língua Estrangeira Moderna/Inglês, usando músicas com temas

aquáticos e fotos de ambientes fluidos para despertar a sensibilidade da comunidade

escolar perante aos problemas ambientais no entorno da escola devido a ocupação

do espaço de forma desordenada, sem respeitar a mata ciliar e as encostas dos rios

da região. Com esta dinâmica foi possível primeiramente provar que é possível

trabalhar Educação Ambiental em outras áreas que não as chamadas áreas

ambientais (química, geografia e biologia) dentro das DCE. Foram analisadas as

relações afetivas dos alunos com ambientes aquáticos através das narrativas e

comparadas estas com as dos seus professores. A metodologia usada para a coleta

dos dados foram as narrativas. Primeiramente foram realizados trabalhos de

sensibilização através de músicas para aflorar sentimentos esquecidos e despertar

assim a emoção vivida em ambientes aquáticos. Passeios no entorno do colégio

serviram para analisar e refletir sobre a ocupação do espaço no local.

Posteriormente foi solicitado aos alunos que elaborassem narrativas sobre

experiências vividas em ambientes aquáticos, sejam elas positivas ou negativas. Foi

solicitado aos professores que colaborassem também narrando suas lembranças

com ambientes molhados. Percebe-se assim que os relatos positivos são

predominantes, com pescarias, banhos de rio, férias na praia ou piqueniques. Já os

relatos de eventos negativos se referem a afogamentos e inundações. Também fez

parte deste trabalho uma inteiração on-line com professores da rede pública do

Estado do Paraná através do GTR, onde foi discutido o trabalho realizado e as

experiências dos professores em suas escolas e vidas pessoais com relação ao

tema Educação Ambiental.

PALAVRAS CHAVES:água; música; educação ambiental; fotos; narrativas.

1 Mestre em Educação, Letras, Colégio Estadual João Afonso de Camargo

2 Doutor, Letras, UTFPR, Disciplina de Inglês.

1 INTRODUÇÃO

A ocupação do espaço e também a proteção dos recursos hídricos ao redor

do Colégio João Afonso de Camargo, que se localiza no bairro Areia Branca dos

Assis, no município de Mandirituba, é um fato preocupante, são canalizações de rios

sem licença do órgão ambiental responsável pelos recursos hídricos, são

construções em áreas consideradas de risco, falta de preservação da mata ciliar,

aterros em áreas de várzea, na rua do Colégio existe uma casa em que o canto

(pilar de fundação da casa) está dentro do leito do rio. É notório que este tema não é

trabalhado na escola e tão pouco comentado na sala dos professores. A ocupação

desordenada, principalmente através de aterros de rios e várzeas, além de

prejudicarem a qualidade da água na região, trarão futuramente sérios problemas de

enchentes como os que são trabalhados nas músicas escolhidas da Banda

Creedence.

A proteção do ambiente e de todos os seus recursos não deve ser restrita

às áreas chamadas ambientais como química, biologia e geografia. Este é um dos

maiores problemas encontrados na educação ambiental, o cartesianismo, que vê o

conhecimento ou áreas do saber em uma visão fragmentada que separa cada

ciência com limites pré-definidos. Assim não existe uma visão do todo, sempre de

fragmentos do ambiente e seus conflitos. Entre estes limites ficam sempre lacunas

esquecidas que deveriam ser abordadas, mas não encontra espaço em nenhuma

ciência específica. Para conseguir abranger a visão global o educador deve além da

sua formação acadêmica ainda apresentar uma formação holística.

Outro paradigma a ser quebrado é o conceito de educação, que não deve

ficar restrito somente em repassar conteúdos pré-estabelecidos, mas sim saberes

que além da compreensão do planeta também signifiquem mudanças de hábitos,

valores, atitudes e conceitos.

Podemos reforçar esta afirmação através de vários autores, dentre eles

destacamos Enrique Leff, (2001), para ele o saber ambiental está baseado em

racionalidade, sustentabilidade e poder. Saber ambiental é amplo, leva em

consideração não somente o ambiente físico, mas sim toda a sua complexidade,

toda a sua epistemologia. É necessário conhecer a biodiversidade da região, mas

também o conjunto de conhecimentos locais, lendas, histórias, formação étnica e

tudo o que faz parte do ambiente estudado ou vivido. A racionalidade citada por Leff

(2001) é diferente do saber racional, o qual pensa no lucro, na economia, na

apropriação da natureza por poucos. O saber racional se apropria do que é público e

devolve para a população as externalidades geradas. A racionalidade prega o

planejamento ambiental, para usar os recursos da natureza que são finitos de forma

mais econômica possível. A sustentabilidade analisa o ambiente e os recursos como

bem público, e como tal eles devem ser usados de maneira igual pela população, a

qual deverá utilizar somente aquilo que for realmente necessário e não acumular

recursos para não faltar para os outros. Ou seja, saber ambiental também prega

distribuição de riquezas para todos. Outros tópicos ainda tratados pelo autor são

desenvolvimento local e incentivo a agricultura familiar para a fixação do homem em

seu meio. Todas estas idéias poderão ser resumidas em uma nova forma de poder, o

poder ambiental.

O que se percebe dentro dos projetos de Educação Ambiental, quando

existem nas escolas, eles estão resumidos aos temas de resíduos (ou reciclagem),

poluição e hortas caseiras. Ou seja, estão apenas transmitindo e retransmitindo

verdades absolutas que cremos existir. Os Fenomenólogos acreditam que a

sensibilização é mais eficiente do que a famosa “Educação Ambiental”. Educação

pode ser também adestramento, mas a sensibilização através da arte (música) é

capaz de resgatar o “elo Perdido” do homem com a natureza, e assim também

despertar alguma afetividade pelos lugares e não lugares vividos, e ainda possibilitar

o repensar da ocupação do espaço.

A pergunta que este trabalho procurou responder foi: É possível realizar a

sensibilização ambiental através da arte no ambiente escolar? Com o intuito de

nortear o desenvolvimento desta pesquisa, foram traçados alguns objetivos. O

principal seria sensibilizar a comunidade escolar sobre os problemas ambientais

relacionados aos recursos hídricos no seu bairro. Posteriormente foram delimitados

novos objetivos menores como: Coletar dados sobre a percepção ambiental dos

alunos e educadores sobre o espaço vivido; contribuir para a inovação nas práticas

pedagógicas; comparar as narrativas dos professores com a dos alunos; indicar

novas metodologias para trabalhar educação ambiental em diversas disciplinas;

apresentar adjetivos relacionados a água, expressados pela comunidade escolar;

provar que é possível trabalhar educação ambiental dentro das Diretrizes

Curriculares na disciplina de Língua Estrangeira Moderna; verificar a afetividade que

a comunidade escolar tem em relação ao espaço vivido.

1.2 Fundamentação teórica

Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica da Secretaria de

Estado da Educação do Paraná, o planejamento de uma aula na disciplina de Língua

Estrangeira moderna deve partir do Conteúdo Estruturante Discurso como Prática

Social usando gêneros discursivos e seus elementos composicionais, os quais

deveram ser trabalhados nos três eixos; leitura, escrita e oralidade.A leitura deve

trabalhar a intertextualidade, o tema , a intenção, as classes gramaticais e suas

funções dentro do texto, bem como as variações lingüística e marcas lingüísticas. Na

escrita devem ser trabalhados os tópicos da leitura com um pouco mais de

intensidade. A oralidade e deve preocupar-se em trabalhar elementos

extralingüísticos como entonação, pausas e gestos. Também a adequação do

discurso ao gênero, os turnos de fala, as variações e marcas lingüísticas, sem

esquecer-se da pronuncia. (Diretrizes Curriculares da Educação Básica, 2008).

A música como gênero textual é também um instrumento da estética e da

fenomenologia que pode ser utilizado para promover a sensibilidade e também

usado para pesquisas em Percepção Ambiental. A fenomenologia faz parte da

filosofia, e é muito usada nos estudos das artes, mas precisamente na estética. A

psicologia também descobriu que a fenomenologia pode ser útil em suas pesquisas.

Atualmente a fenomenologia está também sendo usada para trabalhar a educação

ambiental através da percepção. Definir fenomenologia não é uma tarefa fácil, então

vamos buscar ajuda em Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) um fenomenólogo que

teve muitos seguidores no mundo pós-estruturalista:

A fenomenologia é o estudo das essências, e todos os problemas, segundo

ela, resumem-se em definir essências: a essência da percepção, a essência

da consciência, por exemplo. Mas a fenomenologia é também uma filosofia

que repõe as essências na existência, e não pensa que se possa

compreender o homem e o mundo de outra maneira senão a partir de sua

facticidade. (MERLEAU-PONTY, 1999, p 01)

Trabalhos de percepção usando a fenomenologia são muito úteis para

despertar o inconsciente adormecido, as emoções, as experiências com os espaços

vividos e o elo perdido entre o homem e a natureza. Através da percepção podemos

conseguir perceber as sensações ou estranhezas provocadas por um determinado

objeto, desta maneira saímos de dentro do nosso eu para perceber um mundo.

Eu poderia entender por sensação, primeiramente, a maneira pela qual sou

afetado e a experiência de um estado de mim mesmo. O cinza dos olhos

fechados que me envolve sem distância, os sons do cochilo que vibram “em

minha cabeça” indicariam aquilo que pode ser o puro sentir. Eu sentirei na

exata medida em que coincido com o sentido, em que não me significa

nada. (MERLEAU-PONTY, 1999, p 23)

Sensações são de difícil definição, o importante não é aquilo que está

visível aos olhos de todos, mas aquilo que nos toca através de todos os sentidos,

não são as informações que nos chegam, mas sim o que elas nos provocam, aquilo

que nos fazem aflorar os desejos e as recordações adormecidas.

Renunciarei portanto a definir a sensação pela impressão pura. Mas ver é

obter cores ou luzes, ouvir é obter sons, sentir é obter qualidades e, para

saber o que é sentir, não basta ter visto o vermelho ou ouvido o lá? O

vermelho e o verde não são sensações, são sensíveis, e a qualidade não é

um elemento da consciência, é uma propriedade do objeto. Em vez de nos

oferecer um meio simples de delimitar as sensações, se nós a tomamos na

própria experiência que a revela, ela é tão rica e tão obscura quanto o

objeto ou quando o espetáculo perceptivo inteiro. . (MERLEAU-PONTY,

1999, p. 25)

A fenomenologia estuda os lugares vividos, os ambientes que nos remetem

a alguma recordação, alguma experiência vivida, algum sentimento, seja feliz ou

não. Mas a nossa vida não está passando somente em lugares vividos, mas também

em não lugares, que seriam espaços que não nos dizem nada, que são espaços não

marcados por histórias ou fatos marcantes. São ambientes por onde a pessoa

caminhou ou apenas viu suas imagens em alguma foto ou filme.

Se um lugar pode se definir como identitário, relacional e histórico, um

espaço que não pode se definir nem como identitário, nem como relacional,

nem como histórico definirá um não lugar. A hipótese aqui defendida é a de

que a supermodernidade é produtora de não lugares, isto é, de espaços que

não são em si lugares antropológicos e que, contrariamente à modernidade

baudelairiana, não integram os lugares antigos...(AUGÉ,1994.p.73)

A água é considerada como o maior recurso natural existente no planeta, e

ela será o principal objeto de estudo deste trabalho. Captar as emoções emanadas

pela água, as experiências vividas em ambientes aquáticos foram também objeto de

estudo do fenomenólogo Gaston Bachelard, um Frances que morou até os seus 19

anos no interior do país, fala da necessidade de nos remetermos aos rios da nossa

infância o “seu papel principal”. Invocando a nossa infância, revivemos momentos

únicos que marcaram a nossa trajetória adulta, desta maneira podemos entender

como se dão as relações cotidianas com o ambiente vivido. São estas lembranças

que na sua simplicidade pode contribuir para o entendimento de problemas

ambientais atuais.

Pois o ser é antes de tudo um despertar, e ele desperta na consciência de

uma impressão extraordinária. O indivíduo não é a soma de suas

impressões gerais, é a soma de suas impressões singulares. Assim se

criam em nós os mistérios familiares, que se designam em raros símbolos.

Foi perto da água e de suas flores que melhor compreendi ser o devaneio

um universo em emanação, um alento adorante que se evola das coisas

pela mediação do sonhador. Se quero estudar a vida das imagens da água,

preciso, portanto, devolver ao rio e às fontes de minha terra seu papel

principal.(BACHELARD, 2002, p.08)

Para Bachelard na literatura a água tem vida, tem sentimentos, tem

humores, assim como o ser humano ela exterioriza seus sentimentos seus humores

através de sua aparência, força e ações! Ela pode ficar ofendida com atitudes

sofridas, com lesões causadas, com o desrespeito, falta de cuidado e gratidão.

Existem, como se vê, as águas que têm a epiderme sensível. Poderíamos

multiplicar os matizes, poderíamos mostrar que a ofensa feita às águas

pode decrescer fisicamente, sempre conservando indene a reação das

águas violentas, poderíamos mostrar que a ofensa pode passar da

flagelação à simples ameaça. Uma só unhada, a mais leve sujeira pode

despertar a cólera da água.(BACHELARD, 2002, p.189)

Quando a água sente-se acuada, ameaçada, ela fica furiosa e de terna e

doce, amável e pura ela pode tornar-se violenta, ameaçadora, pode agarrar, pode

matar, como um rio turbulento, uma chuva torrencial, uma enchente ou um tsunami.

Os nervos da água estão agora à flor da pele. Então o tempestiário

mergulha o bastão até a vasa; chicoteia a fonte até as entranhas. Desta vez

o elemento se enfurece, sua cólera torna-se universal; a tempestade

ribomba, o raio corusca, o granizo crepita, a água inunda a terra. O

tempestiário cumpriu sua tarefa cosmológica. (BACHELARD,2002,p.188)

O poder de transformação da água, depois de passada a ira, volta a

serenidade com toda a sua pureza, matando a sede ora saciando a sede da terra e

de seus seres, através das suas nascentes de suas bicas, rios ou lagos. O frescor

da água cristalina alimentando a vida ou refrescando corpos cansados pela labuta

ou diversão. A água pura e poderosa é alimentada pelo imaginário humano. Quer

seja na vida do pescador caiçara, do marinheiro andante, ou outro vivente com

experiências de mundos aquáticos vividos ou imaginados.

A água é objeto de uma das maiores valorizações do pensamento humano:

a valorização da pureza. Que seria da idéia de pureza sem a imagem de

uma água límpida e cristalina, sem esse belo pleonasmo que nos fala de

uma água pura?A água acolhe todas as imagens de pureza. Procuramos,

pois, colocar em ordem todas as razões que fundamentam o poder desse

simbolismo.Temos aqui um exemplo de uma espécie de moral natural

ensinada pela meditação de uma substância fundamental. (BACHELARD,

2002, p.15)

A força da água seja no sentido empírico ou metafórico está presente no

devaneio humano, através da produção de energia, transporte de matérias ou ainda

no seu poder de limpeza de ambientes ou mesmo do planeta, há quem acredite que

as catástrofes naturais com águas, são a mão dos Deuses limpando a sujeira

humana.

Uma gota de água poderosa basta para criar o mundo e para dissolver a

noite. Para sonhar o poder, necessita-se apenas de uma gota imaginada em

profundidade. A água assim dinamizada é um embrião; dá à vida um

impulso inesgotável. (BACHELARD, 2002, p.10)

2.1 Narrativas em Educação ambiental

A narrativa como metodologia de pesquisa em educação é muito recente,

mas muito eficiente em seus resultados. Através dela é possível captar emoções,

sensações e sentimentos através dos relatos de experiências vividas ao longo da

existência. Esta metodologia pode ser utilizada na educação tanto para pesquisas

como para o ensino.

Trabalhar com narrativas na pesquisa e/ou no ensino é partir para a

desconstrução/construção das próprias experiências tanto do

professor/pesquisador como dos sujeitos da pesquisa e/ou do ensino. Exige

que a relação dialógica se instale criando uma cumplicidade de dupla

descoberta. Ao mesmo tempo que se descobre no outro, os fenômenos

revelam-se em nós.(CUNHA,1997,p.04)

A mesma experiência, vivida por um grupo de pessoas, será narrada de

maneiras diferentes, com detalhes peculiares, com aspectos emocionais que

transmitem intimidade própria, contextualizadas a partir de suas experiências

pessoais. Assim um piquenique realizado por um grupo de professores terá tantas

narrativas diferentes em si quanto for o numero de participantes. Suas experiências

pessoais foram diferentes, assim a maneira de perceber um acontecimento também

é diferente.

O professor constrói sua performance a partir de inúmeras referências.

Entre elas estão sua história familiar, sua trajetória escolar e acadêmica,

sua convivência com o ambiente de trabalho, sua inserção cultural no tempo

e no espaço. Provocar que ele organize narrativas destas referências é

fazê-lo viver um processo profundamente pedagógico, onde sua condição

existencial é o ponto de partida para a construção de seu desempenho na

vida e na profissão. Através da narrativa ele vai descobrindo os significados

que tem atribuído aos fatos que viveu e, assim, vai reconstruindo a

compreensão que tem de si mesmo.(CUNHA,1997, p.03)

Embora pouco usada, as narrativas tem o poder de fazer uma avaliação

diagnóstica e assim resgatar os conhecimentos empíricos ou do senso comum que

fazem parte do espaço familiar vivido pelo educando, nele estão embutidos

conceitos, pré-conceitos, vínculos religiosos, tabus, crenças, superstições e também

porque não dizer conhecimentos práticos do conhecimento que a academia ensina.

Para fins de ensino, especialmente na perspectiva das propostas de

produção do conhecimento, que têm o educando como um ser socialmente

situado, tem sido bastante recomendada e experimentada a produção e a

investigação das narrativas dos sujeitos, como ponto de partida ou de

chegada da análise do objeto de conhecimento. (CUNHA,1997,p.05)

Muitas são as formas para trabalhar estas narrativas, podem ser orais,

escritas ou até desenhadas. Mas é interessante haver algum registro destas

atividades para posteriormente trabalhá-las com o grupo que faz parte do projeto

desenvolvido. Narrativas usadas em pesquisas serão analisadas como outros dados

de forma qualitativa, mas quando são usadas em ensino, devem ser trabalhadas

com o grupo ou individualmente dependendo de cada caso. O próprio narrador fica

surpreso com as recordações que chegam até ele no momento de produzir uma

narrativa, seja de memórias de sua vida ou então relatos e fatos isolados. Muitas

vezes através das narrativas o individuo consegue ver um novo sentido para a

experiência relatada e resignificar vários conceitos e atitudes anteriores ao relato.

Em pesquisa temos usado principalmente a linguagem oral. Entretanto, no

ensino, na utilização de memoriais - que podem ser excelentes materiais de

pesquisa - são usuais os relatos escritos. Sua análise mostra que toda a

construção do conhecimento sobre si mesmo supõe a construção de

relações tanto consigo quanto com os outros. (...) Estas reflexões favorecem

a percepção de que a produção de narrativas serve, ao mesmo tempo,

como procedimento de pesquisa e como alternativa de formação. Ela

permite o desvendar de elementos quase misteriosos por parte do próprio

sujeito da narração que, muitas vezes, nunca havia sido estimulado e

expressar organizadamente seus pensamentos. (CUNHA,1997,p.03)

Com a crescente demanda e procura de cursos de Ensino á distancia, esta

metodologia inovadora está sendo muito utilizada, pois é uma boa maneira do Tutor

do módulo conseguir conhecer e entender o seu aluno virtual, e assim entender

melhor o contexto em que vive, podendo fazer as intervenções que achar

necessário. Mas se tratando de pesquisa em narrativas, para fins de tabulação de

resultados, devem ser escolhidas pessoas de um mesmo contexto social, porque na

pesquisa qualitativa os dados são mais complexos e de maior grau de dificuldade de

interpretação.

Aposta-se na pesquisa narrativa como uma metodologia formativa em

processos de educação continuada. O exercício narrativo possibilita um

caminhar para si, que é formativo, tanto para o sujeito que narra, quanto

para quem lê. Ao narrar-se, o sujeito reflete, inventa-se e amplia a

compreensão sobre o contexto a qual pertence, pois estabelece relações e

complexifica a interpretação da realidade. Acontece, assim, um processo

formativo intenso. Em especial porque os alunos do curso pertencem a

mesma biorregião e, em interação, este processo formativo potencializa-se.

(COUSIN; GALLIAZI,2009)

3 Desenvolvimento

Este trabalho foi realizado no Colégio Estadual João Afonso de Camargo,

localizado no município de Mandirituba, no bairro Areia Branca dos Assis. Ele tem

um porte médio, menos de 1000 alunos. Oferece duas modalidades de ensino, o

fundamental, séries finais e ensino médio ambos distribuídos nos três turnos.

A pesquisa foi realizada com dois grupos distintos:

_Primeiro foi realizado um pré teste em um grupo de professores voluntários, da

referida escola.

_Depois de alguns ajustes, o trabalho foi implementado com 15 alunos da 8ª série

do período da manhã, em turno contrário ao da aula normal.

A metodologia empregada para a coleta de dados foram narrativas de memórias

relativas ao contato com ambientes aquáticos.

Para a aplicação deste trabalho foi produzido uma Unidade Didática para auxiliar na

implementação do projeto na escola com os alunos. Já para trabalhar com os

professores foi usado o texto da fundamentação teórica do projeto.

Quando este trabalho estava em andamento, iniciou-se outra etapa do

trabalho que consistia em uma ação interativa on-line através do sistema

moodle/escola. Neste trabalho foi solicitado aos participantes que realizassem duas

narrativas. A primeira consistia em relatar alguma experiência em educação

ambiental realizada na escola onde trabalha, e a segunda era um relato de uma

experiência pessoal vivida em um ambiente aquático.

3.1 Passos empregados na aplicação da pesquisa com os professores.

Após contato prévio com a direção e equipe pedagógica da escola em

questão, foram utilizados três momentos da Formação continuada no mês de julho,

sendo 50 minutos do dia 20, onde foram explanados rapidamente como seriam

realizados os trabalhos. Na seqüência o grupo ouviu a música “Who’ll Stop the

Rain”, e logo após a música “Green River”, ambas da Banda Norte America

Creedence Clearwater Revival. Então o grupo fez uma rápida discussão sobre o teor

das músicas e o que elas poderiam dizer sobre o entorno do espaço escolar. Um

elemento do grupo fez por escrito uma síntese da discussão. No dia seguinte, dia 21

foram utilizados 30 minutos, onde foi realizada com o grupo uma caminhada no

entorno do Colégio para ver os rios e córregos da região. No terceiro dia foi

apresentada uma série de fotos com temas aquáticos, cada uma com um número de

identificação. A tarefa consistia em atribuir para cada foto um sentimento, uma

emoção, ou então anotar que aquela paisagem não lhe transmite nada. Cada

participante devia anotar em uma folha os sentimentos revelados com a foto e o

respectivo número da gravura. Na finalização do trabalho foi solicitado aos

participantes para narrarem um episódio vivenciado em ambientes aquáticos.

Estes dados serão tabulados em duas etapas:

_A primeira análise foi a elaboração de um quadro demonstrativo com os

sentimentos manifestados pelos professores após verem as fotos aquáticas,

colocando o número e os sentimentos expressados.

_A segunda análise foi das memórias dos professores, que serão divididas em

positivas e negativas.

_Estes gráficos juntamente com as cópias das fotos fizeram parte de um painel na

sala dos professores.

_Foi solicitado aos professores para não identificarem seus trabalhos.

3.2 Passos empregados na aplicação do trabalho com os alunos:

As atividades com os educandos foram um pouco mais aprofundadas, por

dispor de mais tempo. Elas obedeceram a seguinte ordem:

_1º aula- Conversa com o grupo sobre o projeto, qual a finalidade e como será

direcionado.

_2º aula- Ouviram a música “Who’ll Stop the Rain” da Banda Norte America

Creedence Clearwater Revival. Interpretação oral da música, tentando identificar o

contexto e a época em que foi feita. Tradução oral da musica e identificou-se quais

são as palavras que expressam sentimentos em relação a água.

_3º aula- Ouviram a música “Green River” também da Banda Norte Americana

Creedence Clearwater Revival. Interpretação oral da música, comparando-a com a

música da aula anterior. Identificaram as palavras que expressam sentimentos em

relação a água.

_4º aula- Passeio com a turma pelo entorno da escola para ver os rios e córregos da

região. Ao retornarem para a sala de aula foi realizado um relatório no quadro sobre

as observações realizadas pelos alunos durante o passeio.

_5º aula- Apresentação de fotos de ambientes aquáticos. Cada foto tem um número

identificador, o aluno deveria escrever para cada foto uma emoção ou sentimento.

_6º aula- foi elaborado com os alunos um mural com as fotos apresentadas e as

respectivas palavras atribuídas para cada foto todas traduzidas para o inglês.

Comparando com as palavras identificadas nas músicas trabalhadas na aula

anterior.

_7º aula- Cada aluno fez uma narrativa de experiência vivida em ambiente aquático.

_8º aula- Alguns alunos realizaram a leitura de suas narrativas para apreciação do

restante do grupo.

3.3 Análise dos dados

Os dados das duas pesquisas foram analisados em separado. Primeiro foi a

tabulação dos dados dos professores como já foi mencionado no texto acima. As

memórias serão separadas em dois grupos:

_ As com recordações felizes ou positivas.

_ As com recordações tristes ou negativas.

Os dados dos alunos tiveram os mesmos tratamentos que os dos professores.

Para finalizar foi comparado o número de narrativas positivas e negativas de cada

grupo.

Quando foi exibido aos professores imagem 1, que era de um rio urbano

semi-canalizado, as palavras que apareceram foram: tristeza, medo, melancolia,

desespero, morte, doença e pânico. Na apresentação da imagem 2, que era de um

rio de serra com pedras e água transparente as palavras que apareceram foram:

alegria, frescor, vida, energia, infância, vitalidade, pureza, harmonia e amor.

No grupo de professores houve uma resistência ao narrarem suas

experiências aquáticas. Ao final de todo o trabalho, apenas dois entregaram suas

narrativas. Um professor contou como aconteceu uma enchente que inundou seu

estabelecimento comercial que fica próximo ao colégio. Ele falava de como a água

subia rápido e do medo que ele tinha que alguma mercadoria ficasse danificadas.

Percebe-se assim que é uma narrativa de experiência negativa. A outra foi de uma

professora que se lembrava dos banhos no rio que tomava na chácara de sua avó,

quando era adolescente. Nesta narrativa podemos perceber a alegria nas palavras,

o entusiasmo como elaborou a narrativa, citando a frescura da água, as brincadeiras

e os amigos da época. Como foram somente duas narrativas a análise desta parte

do trabalho ficou empobrecida.

O trabalho com os alunos foi mais produtivo por dispor de mais tempo e

também por que não apresentaram tanta resistência ao exporem suas experiências

aquáticas. Quando ouviram e foi trabalhada a tradução da música “Who’ll Stop the

Rain” (Quem parará a chuva), logo perceberam que a música falava das enchentes

que o excesso de chuva pode provocar. Começou então uma discussão sobre os

motivos que podem causar enchentes, se teria ou não uma ação humana neste

fenômeno ou não. Apareceram inúmeras hipóteses como construções em lugares

inapropriados, aterros de banhados, canalização de rios, lixos nas ruas, esgotos e

rios. Alguns também falaram da falta de mata ao redor dos rios.

Na aula seguinte os alunos ouviram a música “Green River” ( Rio Verde).

Antes de saber da tradução foram motivados a tentar imaginar sobre o que a música

falava tomando como referência o título. Todos associaram a música a um rio

preservado bom para tomar banho. Após a tradução da letra acrescentaram mais

algumas percepções como lembranças de um rio onde tiveram momentos alegres

com amigos. Um aluno lembrou que deveria ser ”como um rio que tem na sua

chácara que é bom para pescar”. Começaram a falar de várias vezes que já haviam

tomado banho em algum rio, assim começaram a aflorar boas recordações em

ambientes aquáticos.

Em outra aula os alunos foram convidados para fazerem um passeio ao

entorno da escola. Esta experiência foi muito boa, eles sempre se divertem quando

saem do ambiente escolar, um menino nos mostrou onde era a sua casa, outro

contou que do lado morava a Avó. Quando chegamos perto do rio que passa atrás

da escola os alunos começaram a perceber que o rio estava no quintal de uma casa,

que a cerca estava dentro do leito do rio, e do outro lado da rua eles não acharam

mais o rio porque ele estava sendo canalizado, e aonde ele deveria passar tinha

uma casa construída. Logo adiante reencontraram o rio, que iria alimentar um

tanque. Depois do tanque ele seguia seu curso com alguns canos de esgoto

desaguando no seu leito.

A próxima etapa do trabalho foi a apresentação das fotos: a imagem 1 com

o rio urbano e a imagem 2 com o rio em um ambiente preservado. Foi solicitado aos

alunos que falassem palavras que fossem associadas às imagens. A imagem 1 foi

associada às palavras: lixo, sujeira, cheiro ruim, tristeza, morte e homem. Quando a

imagem 2 foi apresentada os alunos começaram a falar as palavras: vida, amor,

alegria, felicidade, verão, saudade, brincadeiras, animais, peixes, água limpa.Depois

de feito um mural com as fotos e palavras também foi solicitado aos alunos

associarem cada imagem com uma das duas músicas que eles ouviram da Banda

“Creedence Clearwater Revival”. Todos associaram a imagem do rio urbano à

música “Who’ll Stop the Rain” e a imagem 2 foi associada à música “Green River”.

Finalizando o trabalho foi solicitado aos alunos para fazerem uma narrativa

de momentos vividos em algum ambiente aquático e que foi marcante para a sua

vida. Dos 15 alunos participantes, apenas 11 concluíram suas narrativas e

entregaram. Destas 11 narrativas sete foram positivas e quatro negativas. As

positivas relatavam banhos em cachoeiras, uma viagem para a praia, Visita a um

pesque-pague, pescaria com amigos, banho em um riacho, partida de futebol ao

lado de um tanque e um dia em um parque aquático. As narrativas de aspecto

negativas relatavam um afogamento não fatal do narrador e três relatos de uma

enchente que aconteceu na região em 2009. Dos relatos de enchente dois contaram

como ficaram as casas da região e um relatou como a água entrou na sua própria

casa.

Quando foi solicitado para alguns alunos lerem suas narrativas somente

três alunos que narraram momentos agradáveis junto a água conseguiram ler suas

narrativas.

Os participantes do Grupo de Trabalho em Rede (GTR) cadastrados foram

15, mas concluintes foram 12. Não citarei os nomes dos participantes, mas para

identificá-los usarei um número cardinal. Primeiramente foram analisadas as

narrativas de trabalhos com educação ambiental no seu ambiente escolar. O

Professor 1 relatou que na sua escola foram realizadas várias tarefas com teor de

educação ambiental como soltar filhotes de peixes nos rios, visitar o IAP da cidade,

plantar mudas de eucalipto nas margens dos rios para recuperar a mata ciliar, todos

com palestras, construção de cartazes e outros instrumentos pedagógicos. O

professor 1 relatou ainda que sua escola alcançou os objetivos propostos. O

Professor 2 relatou que na sua escola o professor de ciências tem uma horta a qual

é cuidada pelos alunos do 5ª série( atual 6° ano). O Professor 3 contou que sua

escola tem um trabalho de reciclagem de materiais que são vendidos

posteriormente. O professor 4 relatou que em sua escola realizaram o plantio de

várias mudas de árvores frutíferas para darem sombra nos dias quentes e também

frutas para as crianças. O Professor 5 também falou da separação do lixo em sua

escola com o intuito de angariar fundos com o comércio dos mesmos. O Professor 6

disse que nunca participou de um projeto voltado para educação. O Professor 7

relatou um trabalho realizado por um colega da disciplina de geografia que visitou a

estação de tratamento de esgoto da cidade e também o aterro sanitário. O Professor

8 fez um reconhecimento dos rios da sua cidade. O Professor 9 lembrou que um

colega levou uma turma para conhecer uma fazenda de produção de leite. O

Professor 10 disse que passou para seus alunos o filme “Tainá”, que conta a luta de

uma indiazinha para livrar os animais que são capturados por caçadores. O

Professor 11 também passou o filme “2012”, que fala do fim do mundo. O Professor

12 tem medo de trabalhar com o tema.

As narrativas dos professores GTR sobre suas experiências pessoais em

ambientes aquáticos foram também num total de 11. O Professor 1 contou que tem

lembranças positivas de sua infância quando passava o verão na praia, mas também

lembrou que uma vez precisou salvar um amigo que estava se afogando e quase

afogou-se junto com o amigo, mas foram salvos por um salva-vidas. O relato do

Professor 2 também foi relativo a um afogamento na infância, o que causou um

pânico por água, o narrador relata ainda que hoje adulto ainda sente medo da água,

e quando encontra-se em ambientes com água restringe-se a molhar seus pés

somente em lugares rasos. Ele também contou que não morava perto de rios ou

lagos na sua infância. O narrador Professor 3 conta que tem boas lembranças de

ambientes aquáticos, pois na sua infância seus pais moravam na praia e sempre

passava o verão lá. O Professor 4 conta-nos que teve um infância feliz pois morava

em um sítio onde havia um rio e muitas árvores que alegravam seus dias. O

Professor 5 conta primeiro sua recordação triste com a água, quando criança caiu no

rio que passava atrás da casa de seu avô e foi socorrida pela prima mais velha. Mas

também relata que este episódio não a deixou com medo da água, pois sempre que

pode vai a lugares como cachoeiras e riachos com seu marido e filhos para se

divertirem. O Professor 6 não recorda de momentos importantes de sua vida em

ambientes aquáticos, vai para a praia, mas nada que marque suas recordações. O

professor 7 passou sua infância morando em um apartamento e o rio que ele

conhecia na época era o Rio Belém (Canal Belém que corta a cidade de Curitiba). O

sujeito Professor 8 narra que tem medo de ambientes com água, porque quando foi

a praia pela primeira vez se afogou. O professor 9 foi criado em uma chácara e viveu

grandes aventuras nos rios da região. O Professor 10 lembrou das pescarias com

seu pai. O Professor 11 nunca entrou em um rio para tomar banho porque seu pai

dizia que era perigoso. O Professor 12 não tem muitas lembranças de momentos

vividos em ambientes naturais e aquáticos.

Conclusão

Após a análise dos dados percebemos claramente como a participação dos

professores on-line é mais fácil do que a presencial, a exposição de suas

experiências parecem fluir talvez por não estarem vendo quem vai ler seus relatos.

Os alunos também tem mais facilidade para estas narrativas aquáticas, eles são

mais espontâneos, não tem problemas em contar suas brincadeiras, alegrias, medos

ou frustrações. Mesmo com a pouca participação dos professores da escola os

objetivos foram alcançados. Os alunos reconheceram a necessidade de um

planejamento urbano para a ocupação do espaço daquela região. Também foi

possível perceber que eles foram tocados através das dinâmicas realizadas com as

músicas, fotos e passeio ao redor do colégio.

Quando comparamos as narrativas das experiências pessoais com as

narrativas de trabalhos em educação ambiental, percebe-se que os professores GTR

que viviam em contato com a natureza são pessoas mais comprometidas com a

educação ambiental. Mas este é um tema que deve ser trabalhado com cautela, pois

percebemos também que a preocupação maior nas escolas é trabalhar a reciclagem

de resíduos sólidos, mas o maior problema hoje está no consumo, quando for

trabalhar com temas de reciclagem é necessário trabalhar também o capitalismo e o

consumo que são os produtores do excesso de resíduos e desperdício de matéria

prima.

Outro trabalho que chamou a atenção foi o desenvolvido pela escola do

Professor 1 que contou sobre o plantio de eucalipto nas margens de rios para

recuperar a mata ciliar. Plantar árvores é muito bom, mas devemos ter o cuidado em

escolher espécies nativas e não exóticas como o caso do eucalipto, principalmente

perto de rios e nascentes. Devido a sua origem, nativo da Oceania, ele tem um

grande poder de abso6rção de água durante o verão para poder adaptar-se ao clima

do Brasil. Então não protegerá a água do rio como mata ciliar e usará esta água para

sobreviver. Outra polemica pode ser a soltura de alevinos ( filhotes de peixes),

devemos ter o cuidado de escolher também espécies nativas, pois as invasoras

poderão acabar com a biodiversidade nos rios.

As hortas escolares desenvolvidas pela escola do Professor 2 são um tipo

de atividade muito boa para trabalhar educação ambiental, mas junto com ela deve

ser trabalhado também o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) com toda

a polemica dos transgênicos, dos agrotóxicos , a perda das sementes nativas e a

dependência das multinacionais. O mesmo acontece com as experiências do

Professor 4, ao escolher árvores frutíferas para o plantio, devemos optar por

espécies não enxertadas.

Quando retiramos os alunos do ambiente escolar para realizar

reconhecimento de rios podemos ajudar as crianças a perceber como a natureza

s6e comporta e como a ação humana pode mudar estes cenários e alterar

ambientes naturais. O mesmo se aplica ao Professor 9 que contou que um colega

levou os alunos para conhecerem um a fazenda de produção de leite, é um bom

momento para trabalhar também a cadeia produtiva da criação de gado, a produção

da soja para ração e todos os temas que estão correlacionados.

Outra boa opção é trabalhar com cinema, temos ótimos filmes para

trabalhar, produção, consumo, biodiversidade, preservação, DHAA e outros temas

ambientais, mas devemos ter cuidado em não transformar a educação ambiental em

algo assustador que deixe os alunos com medo, muitas vezes até depressivos,

como é o caso do filme 2012, que além de ser um filme surreal, sem lógica científica,

que distorce a filosofia do Calendário Maia e deixe qualquer um depressivo. E com

depressão não temos vontade de fazer nada, principalmente cuidar do nosso

planeta.

Este trabalho tentou mostrar como a vivência em ambientes naturais pode

interferir no modo como pensamos e agimos, também mostrar que atualmente não

existem mais “disciplinas ambientais”, todos nós podemos fazer trabalhos de

sensibilização não importando a nossa área de atuação. Outro objetivo alcançado foi

mostrar que a sensibilização através da estética é um caminho suave e que

apresenta bons resultados.

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