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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

MARIZA HELENA LOCATELI

XADREZ NA ESCOLA: ferramenta pedagógica na melhoria do rendimento

escolar através de uma abordagem interdisciplinar

http://alemdocaderno.blogspot.com/2009/03/lenda-do-jogo-de-xadrez-malba-tahan.html

SANTO ANTONIO DO SUDOESTE

2012

XADREZ NA ESCOLA: ferramenta pedagógica na melhoria do rendimento escolar

através de uma abordagem interdisciplinar

Autora: Mariza Helena Locateli1

Orientador: Prof. Dr. Luis Sérgio Peres2

Resumo

Na tentativa de resgatar a importância do xadrez no contexto escolar, pretende-se com este estudo analisar a contribuição do xadrez para a melhoria do rendimento escolar através de uma abordagem interdisciplinar. A mesma caracteriza-se como uma pesquisa de campo descritiva exploratória participativa, foi desenvolvida no Colégio Estadual Humberto de Campos EFMP do município de Santo Antônio. A população deste estudo foi composta por todos os alunos da 5ª a 8ª série do ensino fundamental do período matutino. A amostra direta desta pesquisa foi composta por 20 alunos com dificuldade de aprendizagem conforme indicação dos professores de Matemática e Língua Portuguesa. Foram desenvolvidas 64horas de atividades para desenvolver a capacidade de atenção, memória, raciocínio lógico, inteligência e imaginação nos alunos. Constatou-se como resultados que a realização do mesmo, foi de grande valia para o aluno, pois aprenderam com o desenvolvimento do mesmo, a respeitarem seu adversário como colega e não como inimigo, entenderem o valor da concentração como meio de refletir sobre atos e ações que poderão serem tomadas de forma consciente, pensada e com calma. Concluiu-se também que tendo em vista o reflexo obtido junto ao desempenho escolar dos alunos, podemos concluir que o Xadrez auxilia de forma direta na formação do aluno como um todo, melhorando o nível de aceitação, de raciocínio e de perseverança, desenvolvendo o caráter, personalidade e na determinação de suas ações, formando um cidadão responsável, apto para desempenhar suas atividades com êxito e humildade, fatores estes essenciais para a formação humana do aluno.

Palavras-chave: Interdisciplinaridade, Raciocínio, Concentração, Xadrez

1 Professora de Educação Física da Rede Estadual do Ensino do Paraná, pertencente ao Programa

de Desenvolvimento Educacional - PDE/2010. 2 Professor do Curso de Educação Física da Unioeste – M.C. Rondon – PR, Orientador.

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1 Introdução

Atualmente, percebe-se junto às escolas da rede municipal e estadual da

região de Francisco Beltrão, o desenvolvimento de atividades vinculadas ao xadrez,

junto a diversas disciplinas do currículo escolar. Podemos concluir que, de certa

forma o xadrez está se tornando um jogo importante e fundamental no auxilio de

disciplinas que envolvem a matemática, história, geografia, Língua Portuguesa,

Educação Física, Artes, Língua Estrangeira e outras, dentro de uma abordagem

interdisciplinar, por ser um grande aliado de todas as disciplinas, principalmente na

Educação Física.

Infelizmente, poucos profissionais da escola se servem desta proposta.

Muitos, por desconhecimento, acham que o xadrez é apenas um jogo passivo e de

quase nenhum movimento físico e que, na visão dos mesmos, poucos benefícios

teriam em praticá-lo. O xadrez só é usado em dias de chuva, ou em situações em

que a quadra não está disponível para práticas esportivas principalmente pelos

professores de Educação Física. Poucos sabem de sua importância para o

desenvolvimento integral e social da criança.

Os benefícios da prática do xadrez no desenvolvimento escolar do aluno são

percebidos pela comunidade escolar, não só nos conselhos de classe, como

também, nas conversas triviais entre professores e demais profissionais da

educação. Assim, também, fora da escola, os praticantes de xadrez se destacam

pela mudança de comportamento e atitudes favoráveis, exercendo os valores éticos

e morais cobrados pela sociedade. Por apresentar resultados positivos e amenizar

problemas de dificuldades de aprendizagem em todas as disciplinas, principalmente

Matemática e Língua Portuguesa, a interpretação, o raciocínio lógico, organização

do pensamento, tomada de decisão rápida e acertada, julgamento ético, respeito às

regras, são elementos fundamentais para o entendimento e progressivamente para

que a aprendizagem se realize.

Alguns autores, como Sá (1993), Rezende (2002) e Tirado e Silva (1995),

colocam em suas obras que o xadrez gera, nos jovens, um sentimento de confiança

em si mesmos e autonomia para o trabalho; ensina o valor do trabalho manual, a

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concentração e o compromisso; sensibiliza acerca do trabalho em equipe,

enfatizando a habilidade de desempenho individual; desenvolve autoconfiança e o

controle das ações e, através da competição, dá às crianças um sinal palpável de

realização.

Piaget (1987) coloca que a utilização do xadrez como jogo ou brincadeira é

fundamental para o desenvolvimento cognitivo da criança, pois desenvolve

habilidades intelectivas, através de atividades lúdicas, para um amadurecimento

saudável.

A prática do jogo auxilia, desde a percepção de representações exteriores,

até a integração social e a organização do pensamento, sendo portanto,

fundamental na formação do caráter. O jogo de Xadrez, especificamente, exercita

diversas características como raciocínio lógico, concentração, pensamento analítico,

autonomia e autoconfiança. Podemos identificar os diversos benefícios de sua

prática, desde quando a criança passa a conhecer e a exercitar o domínio do

tabuleiro, o que resulta em ganhos para sua noção espaço-dimensional. Depois do

tabuleiro são apresentadas as peças, cada qual com suas características físicas,

seus movimentos e papel no jogo, auxiliando o desenvolvimento da memória e da

concentração. O desenvolvimento da partida, com a integração das peças e os

cálculos das jogadas, exercitam o raciocínio lógico e imaginação, assim como a

escolha do próximo lance valoriza sua iniciativa e autonomia.

Através da prática do jogo de xadrez durante a partida, ocorre a possibilidade

de diálogo entre os jogadores e assim, se conhecerem melhor, pois este esporte,

muitas vezes, proporciona amizades inesperadas, onde ambos se tornam grandes

amigos por muito tempo, pois a interação permanente, produzida pelo jogo de

partidas de xadrez, favorece a comunicação entre os praticantes, durante o jogo de

xadrez. Esta é uma das razões pelas quais se considera importante a inclusão do

jogo de xadrez nas aulas de Educação Física.

Através desta proposta de estudo, pretende-se conscientizar os professores

de Educação Física, e demais disciplinas curriculares das escolas, que o xadrez

como uma prática pedagógica auxiliar, auxiliará no desenvolvimento da

aprendizagem do aluno, aprimorando sua criatividade, espontaneidade e

expressividade de forma interdisciplinar e, não só nas atividades esportivas, mas,

em todas as atividades que proporcionem a melhor interação deste aluno com o

mundo, com a família, com os colegas, com os professores e com a escola.

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Neste sentido, a falta de concentração, ou mesmo de estímulo ao raciocínio

lógico e ao uso do pensamento entre os escolares, tem sido um motivo preocupante

e crescente entre os profissionais da educação, por considerarem que tais fatores

podem dificultar o processo de aprendizagem. Diante disso, fica evidente a

necessidade de se buscar estratégias pedagógicas que contribuam para o

aprimoramento de competências e habilidades com vistas à melhoria do

desempenho escolar dos alunos. Ou seja, o aluno tem que ter a capacidade de

“aprender” a desenvolver determinadas atividades, bem como a habilidade de “saber

fazer”, de dominar os conhecimentos apreendidos.

Estudiosos do Xadrez, como Sá (2007) e Rezende (2002; 2007), consideram

que a inclusão de atividades enxadrísticas no contexto escolar, é uma das

possibilidades do aluno desenvolver competências e habilidades que alargam sua

capacidade de percepção em relação ao binômio espaço-tempo, bem como, o

exercício da paciência, da tolerância, da perseverança e do autocontrole.

A vista disso, pode-se trabalhar nos alunos, valores éticos e morais, quando

praticam padrões sociais desejáveis de conduta do “saber ganhar e perder”, do

respeito às regras e da sujeição às restrições que elas impõem e aceitem pontos de

vista diferentes, fatores estes, essenciais para a formação humana do aluno.

O esporte, aliado à Educação, caracteriza-se como instrumento de inclusão

social e a prática do xadrez viabiliza a participação de alunos em eventos

motivadores, como festival e circuitos de xadrez, independente de sua habilidade

motora, estética e aptidão física, por ser um jogo democrático. Até as camadas mais

humildes da sociedade pode ter acesso, pois dispensa equipamentos ou

vestimentas especiais, comparando a outros esportes. Basta gostar de praticar,

criando uma consciência através do estudo de suas variantes.

O jogo de Xadrez é uma prática esportiva, associada às valências mentais,

onde exercita o raciocínio, concentração e resolução de problemas.

Após as colocações acima, onde se justifica a importância do xadrez no

contexto escolar, pretende-se, então, com este estudo, verificar se o mesmo, através

de uma abordagem interdisciplinar, irá auxiliar os alunos na obtenção de melhores

notas, através de atividades que façam refletir sobre seus atos, na tomada de

decisões concretas.

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2 Fundamentação Teórica

2.1 A origem do xadrez

De acordo com Blanco (2008, p.25), sendo o xadrez um jogo de “tabuleiro,

pela evidência escrita, pictórica, escultural e de figuras avaliadas por arqueólogos e

historiadores, é provável que seus ancestrais se recordem até 40 séculos antes de

Cristo”. Uma primeira hipótese refere-se à origem no Egito, uns 1500 anos antes de

nossa época.

A característica principal dessa época, era que o xadrez se chamava de “jogo

dos reis e reis dos jogos”.

Linder (apud BLANCO, 2008, p.27) indica que, nos “séculos XVI – XVII

pessoas das mais diversas classes sociais jogavam o xadrez: nobres, fazendeiros,

artesãos, comerciantes e militares. Por tradição os Czares moscovitas eram

aficcionados do enxadrismo”.

Lasker (1997, p.43) ressalta que, “o xadrez tem contribuído, há mais de 50

anos, com o desenvolvimento da informática, a computação, a psicologia cognitiva,

a inteligência artificial e a teoria dos jogos, entre outras disciplinas do conhecimento

humano”. No âmbito educacional, contamos com evidência, experimental e de

campo, que prova os benefícios derivados do estudo e prática sistemática do xadrez

nos ambientes escolares.

Neste sentido, o autor acima citado coloca que, um importante conjunto de

experiências, realizadas durante os últimos 50 anos, sugere que o xadrez tenha sido

particularmente eficaz na estimulação de habilidades e capacidades cognitivas e

emocionais, tais como: inteligência, atenção, raciocínio lógico-matemático,

habilidade verbal, habilidade numérica, autoestima, etc.

Até o final do século 19, acreditava-se que o jogo de xadrez havia surgido na

região da antiga Pérsia. Entretanto, no início do século 20, duas publicações

contribuíram para mudar esta concepção.

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De acordo com Sloam (1985), em 1902, o oficial inglês H. Raverty escreveu

um artigo no Jornal da Sociedade Real Asiática de Bengala, intitulado a "História do

Xadrez e do Gamão". Pela primeira vez constatou-se a seguinte história: um sábio

chamado Sissa, de uma região do noroeste da Índia, inventou um jogo que

representava uma guerra e pediu como recompensa ao rei um grão de trigo para a

primeira casa do tabuleiro, dois para a segunda, quatro para a terceira, sempre

dobrando a quantidade da casa anterior. Essa famosa história foi inúmeras vezes

recontada e acabou tornando-se a lenda mais conhecida sobre a origem do xadrez

Na seqüência, Sloam (1985), coloca que, em 1913, Harold James Ruthven

Murray publicou o livro “Uma História do Xadrez”. Nessa obra, o autor declara, de

forma convincente, em mais de 900 páginas, que o xadrez foi inventado na Índia, em

570 d.C. Este xadrez indiano chamava-se chaturanga e seria anterior ao xadrez

persa (chatrang), ao xadrez árabe (shatranj), ao xadrez chinês (xiangqi), ao xadrez

japonês (shogi) e a todos os xadrezes. A pesquisa do autor tornou-se uma

referência na literatura enxadrística e foi reproduzida exaustivamente.

Todos acreditam na versão de Murray, afinal, o chaturanga era a origem mais

provável. Porém, esta teoria foi ficando cada vez mais difícil de sustentar, com novas

descobertas arqueológicas e com uma análise mais minuciosa das fontes do autor.

Assim, na busca de referências para trabalhos científicos, o xadrez indiano a quatro

mãos, passou a ser citado como uma variante mal-sucedida de um outro jogo, ainda

mais antigo do que o chaturanga (SLOAM, 1985, p. 2).

2.2 O xadrez no Brasil

O Brasil sempre possuiu jogadores notáveis e talentosos no cenário mundial.

Acredita-se, que o jogo tenha chegado ao país, já em 1500, quando da descoberta,

por parte dos portugueses, das terras tupiniquins. O primeiro jogador brasileiro de

sucesso foi Caldas Viana, que já em 1883, ganhou vários torneios pelo Brasil.

Pimenta (2009) coloca que, desde então, diversos foram os nomes de

destaque no país, mas nenhum deles comparado ao gaúcho Henrique Mecking, o

Mequinho, uma verdadeira lenda do xadrez mundial. Mequinho ganhou seu primeiro

campeonato brasileiro de xadrez aos doze anos de idade. Venceu dezenas de

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torneios por todo o mundo, chegando a ser o terceiro melhor jogador do mundo,

atrás, apenas, de Karpov e Kortchnoi, no final da década de setenta.

Suas conquistas fizeram com que se tornasse muito conhecido por todo país

e por todo mundo. Chegou até a ser homenageado por Raul Seixas, numa de suas

canções. Entretanto, no auge da carreira, Mequinho foi vítima de uma doença rara,

considerada incurável e degenerativa, doença esta, que atrofia os músculos,

levando o enfermo à morte progressiva.

O grande mestre brasileiro decidiu, então, se converter severamente à religião

católica. Retirou-se e rezou arduamente pela cura, a qual conseguiu

surpreendentemente. Convencido de que fora salvo por um milagre, recolheu-se a

um mosteiro e abandonou o xadrez por mais de quinze anos.

Voltou a jogar, somente em 2000, já conseguindo alguns resultados

significantes. Atualmente, treina para recuperar sua velha forma. Entretanto, mesmo

com a ausência de Mequinho, o Brasil continuou a formar grandes talentos no

xadrez. Atualmente, a equipe brasileira é a mais forte das Américas, tendo nomes de

destaque, como Rafael Leitão, Giovani Vescovi, Jaime Sunye Neto, Gilberto Milos e

Darcy Lima (PIMENTA, 2009).

2.3 O xadrez auxiliando no desenvolvimento cognitivo

Segundo Friedmann (1996, p.23), “o desenvolvimento social das crianças é

vital em qualquer programa escolar, pois as interações sociais são indispensáveis

para o desenvolvimento moral como para o desenvolvimento cognitivo”. O autor

ainda coloca que, por meio dos jogos de regras, as crianças, não somente

desenvolvem os aspectos sociais, morais e cognitivos, como também, políticos e

emocionais. Os jogos constituem um conteúdo natural, no qual as crianças são

motivadas a cooperar para elaborar as regras.

Segundo Piaget (1974, p.44), “o brincar representa um fator de grande

importância na socialização da criança, pois é brincando que o ser humano se torna

apto a viver numa ordem social e num mundo culturalmente simbólico”. Brincar exige

concentração durante um grande intervalo de tempo. Desenvolve iniciativa,

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imaginação e interesse. Basicamente, é o mais completo dos processos educativos,

pois influencia o intelecto, a parte emocional e o corpo da criança.

Piaget (1974, p.33), na teoria do desenvolvimento humano, considera que, “a

construção do conhecimento requer participação mental ativa e autônoma da criança

e que este processo de construção ocorre a partir de dentro dela mesma”. Sendo

assim, entende-se que é preciso resgatar o direito da criança à uma educação que

respeite seu processo de construção do pensamento e que lhe permita desenvolver-

se plenamente. Para que isso ocorra, é de extrema importância que se conheça e se

respeite o nível intelectual da criança a quem se pretende ensinar. Diante disso,

torna-se necessário que se conheçam os níveis do desenvolvimento infantil.

Os estudos de Piaget, principalmente os com relação ao desenvolvimento da

criança, evidenciam, já nos primeiros anos de vida, os primórdios destas

habilidades. A teoria do desenvolvimento humano de Piaget (1974, p.34) procura

explicar o “complexo processo através do qual se dá o desenvolvimento das funções

cognitivas da inteligência”. Através de suas cuidadosas observações e entrevistas

clínicas, “disseca” os diversos estágios deste processo, mostrando a contínua

evolução das estruturas mentais e, cujo estado mais avançado se caracteriza pelo

pensamento formal abstrato.

Para melhor entendimento do processo evolutivo das estruturas cognitivas,

Piaget (1974, p.42) destaca três estágios básicos. O primeiro estágio, na construção

dos primeiros esquemas de natureza “lógico-matemática”, onde as crianças apoiam-

se em ações sensório-motoras sobre objetos materiais e através de exercícios de

repetição espontânea, chegam ao domínio e generalização da ação (estágio pré-

operatório).

O segundo estágio caracteriza-se pelo “aparecimento das operações, as

ações em pensamento”, mas nesta fase as crianças ainda dependem dos objetos

concretos para que as ações se constituam em conceitos (estágio operatório

concreto). E finalmente atingem o estágio das “operações sobre objetos abstratos”,

já não dependendo mais de ações concretas, ou, de objetos concretos. É a

constituição do pensamento puramente abstrato.

Por isso, destaca-se o quanto o processo de aprendizagem se baseia na ação

do sujeito. Inicialmente, as ações concretas sobre objetos concretos respondem pela

constituição dos esquemas e, no último estágio, as ações abstratas (operações)

sobre objetos abstratos, respondem pela constituição dos conceitos.

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Assim, Piaget (1974, p. 43) nos coloca que:

Só falaríamos de aprendizagem na medida em que um resultado (conhecimento ou atuação) é adquirido em função da experiência, essa experiência podendo ser do tipo físico ou do tipo lógico-matemático ou os dois.

Já no primeiro estágio de desenvolvimento, na construção e coordenação de

esquemas, evidencia-se o uso de regras muito próximas, sendo a da lógica-

associação (união), generalização (inclusão), restrição (interseção).

Percebe-se uma construção espontânea de estruturas lógico-matemáticas,

que se aproximam das utilizadas no desenvolvimento do conhecimento matemático.

É a gênese do pensamento lógico-matemático, que se apresenta na forma de

generalização de ações e coordenação de esquemas.

Outro pesquisador, Froebel (2002, p.32) propunha uma

educação que respeitasse a atividade espontânea da criança, que valorizasse os jogos e brincadeiras como elementos essenciais da aprendizagem, que levasse em conta os sentidos-base do ensino intuitivo, colocando as crianças em contato com os objetos.

O autor complementa, colocando que os jogos com regras são importantes

para o desenvolvimento do pensamento lógico, pois a aplicação sistemática das

mesmas, encaminha às deduções. Deduções estas, que são mais adequados para o

desenvolvimento de habilidades de pensamento do que para o trabalho com algum

conteúdo específico. As regras e os procedimentos devem ser apresentados aos

jogadores antes da partida e preestabelecer os limites e possibilidades de ação de

cada jogador. A responsabilidade de cumprir normas e zelar pelo seu cumprimento,

encoraja o desenvolvimento da iniciativa, da mente alerta e da confiança em dizer

honestamente o que pensa. Os jogos estão em correspondência direta com o

pensamento matemático. Em ambos se tem regras, instruções, operações,

definições, deduções, desenvolvimento, utilização de normas e novos

conhecimentos, tudo isto, obtido pelos resultados conquistados.

Conforme as considerações de Froebel (2002), é fundamental oferecer

situações desafiadoras, que motivem diferentes soluções, estimulando a

criatividade, a descoberta e a redescoberta, pois as atividades lúdicas permitem uma

aliança entre a teoria e a prática. É através dos jogos, que a criança desenvolve

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habilidades e diferentes atitudes comportamentais, vai construindo conhecimento e

fortalecendo sua autoconfiança.

2.4 O xadrez como ferramenta pedagógica

Os seres humanos se destacam dos outros seres vivos, pela aquisição da

capacidade de agir sobre a natureza, ou seja, mudar, pensar logicamente. Dentro

deste contexto, tem-se a implantação do xadrez como atividade de suma

importância para o treinamento deste raciocínio lógico. É do conhecimento de todos,

que o xadrez vem a enriquecer, não só o nível cultural do indivíduo, mas também,

várias outras capacidades, como a memória, a agilidade no pensamento, a

segurança na tomada de decisões, o aprendizado na vitória e na derrota, a

capacidade de concentração, entre outros. O ensino e a prática do xadrez tem

relevante importância pedagógica, na medida em que tal procedimento implica, entre

outros, no exercício da sociabilidade, do raciocínio analítico e sintético, da memória,

da autoconfiança e da organização metódica e estratégica do estudo. O jogador de

xadrez, constantemente exposto a situações em que precisa efetivamente olhar,

avaliar e entender a realidade, pode, mais facilmente, aprender a planejar adequada

e equilibradamente, a aceitar pontos de vista diversos, a discutir questionários e

compreender limites e valores estabelecidos e a vivenciar a riqueza das

experiências de flexibilidade e reversibilidade de pensamentos e posturas. Em

países como a França e a Holanda, o xadrez, já há muito tempo, faz parte do

currículo escolar como atividade extracurricular. Após sua implantação, percebeu-se

um elevado nível de alunos com melhora no coeficiente escolar e uma queda no

nível de atendimentos a alunos com dificuldades de concentração. Na Rússia, o

xadrez está para eles como o futebol está para nós, brasileiros. O governo russo

apoiou intensivamente a difusão do xadrez, criando até, universidades específicas

para o melhor estudo do jogo; sendo que nas escolas, todos, sem exceções,

praticam xadrez (PIMENTA, 2009).

Pimenta (2009, p.52) coloca, que o psicólogo, matemático e enxadrista Groot,

que entre os anos de 1940 a 1950 representou seu país em três olimpíadas de

xadrez, publicou seus estudos sobre o processo do pensamento dos mestres

enxadristas. Esse autor pensa ser capaz de confirmar a teoria da “concepção linear

de Selz”, considerando que “cada momento do pensamento é determinado em sua

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totalidade pelo conjunto dos momentos que o procederam”. Para ele, o pensamento,

no xadrez, é essencialmente “não verbal”, mas deriva de uma série de retro-análises

que vêm em forma codificada à cabeça do jogador.

2.5 O xadrez na escola: instrumento interdisciplinar auxiliando na

aprendizagem

O xadrez é contemplado pelas Diretrizes Curriculares da Disciplina de

Educação Física – SEED como cultura corporal e de ludicidade, desportiva, técnico

e tático, lazer e mídia (PARANÁ, 2009).

Levando em conta os fatores externos da convivência do educando, tais

como, religião, família, trabalho, características sociais e culturais, onde buscam

uma orientação para a vida, como prática social através da escola.

Conforme consta no Soares et al. (1992, p.234):

A cultura ao mesmo tempo que nos liberta dos condicionantes biológicos, também nos aprisiona às determinações sociais, como agente educador, cabe a escola o papel de mediar o acesso aos bens culturais, historicamente produzidos, sistematizado e transmitindo diferentes saberes, isto é o que justifica o empreendimento educativo.

A vista disso, percebe-se a necessidade de explorar outros, ou mais valores,

que estão escondidos por trás da baixa autoestima daquelas crianças com menos

habilidades práticas esportivas, onde, no mundo capitalista, tem grande importância.

Mostrando que existem diversas possibilidades de expressar suas qualidades e

descobrir talentos onde nem se imaginava existir, o xadrez desperta o interesse,

através de sua prática, na descoberta de valores existentes, que serão conhecidos

através da vivência e que irão, gradativamente, se somando com a compreensão e

resolução dos problemas propostos.

É uma luta mental, que gera situações desafiadoras para si e seus oponentes,

somando assim, um alto grau de desenvolvimento intelectual, aumentando sua

autoconfiança e valorizando sua habilidade, independente de suas condições físicas

estética, onde estas qualidades são necessárias para outros esportes.

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Este desenvolvimento mental é, fundamental para a aquisição de

concentração e desenvolvimento da inteligência, como muitas vezes é relatado

pelos diversos autores que escrevem nesta área pela “Lenda de Sissa”, onde um

sultão que vivia extremamente aborrecido ordenou que se organizasse um concurso

em que seus súditos apresentariam inventos para tentar distraí-lo. O vencedor do

concurso poderia fazer qualquer pedido ao sultão, certo que seria atendido.

Como conta a lenda, estava de passagem pelo reino um sábio de nome

Sissa. Este apresentou ao sultão um jogo maravilhoso, que acabara de inventar, o

Xadrez. Entusiasmado com o jogo, o sultão ofereceu ao sábio a escolha de sua

própria recompensa.

O sábio solicitou que fosse colocado um grão de trigo na primeira casa, dois

na segunda, quatro na terceira, oito na quarta, e assim sucessivamente, dobrando

sempre o número de grãos de trigo até a sexagésima quarta casa do tabuleiro.

O sultão concordou com o pedido, pensando que alguns sacos de trigo

bastavam para o pagamento. Sua alegria, porém, durou somente até que seus

matemáticos trouxeram os resultados de seus cálculos. O número de grãos de trigo

era praticamente impronunciável. Para recompensar Sissa, seriam necessários

exatamente 18.446.744.073.709.551.615 grãos de trigo.

Observando a produção de trigo da época, seriam precisos 61.000 anos para

o pagamento de Sissa. Incapaz de recompensar o sábio, o sultão nomeou Sissa

Primeiro Ministro, retirando-se em seguida para meditar, pois o Xadrez ensinava a

substituir o aborrecimento pela meditação (TIRADO; SILVA, 1995).

Conforme a colocação do autor acima, podemos perceber através da lenda, o

quanto o xadrez nos leva a pensar, a sermos mais inteligente, mais espertos. Assim,

acredita-se ser importante o desenvolvimento deste esporte junto às escolas, pois

requer pouco investimento e seus benefícios são fundamentais para o

desenvolvimento integral do ser humano, como uma ferramenta interdisciplinar na

formação do educando.

Os propósitos, ou finalidades do ensino do xadrez para estudantes da escola

básica ou fundamental (3º a 6º série), devem estar ajustados às metas gerais do

nível em questão. Para isso, deve-se tomar em conta e de maneira equilibrada, tanto

as orientações gerais dadas pelas diferentes correntes psicológicas, quanto as

realidades concretas da aula, em que uma variedade de indivíduos não pode ser

catalogada de maneira uniforme.

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Blanco (2008, p.57), considera que o estudo sistemático do xadrez contribui

para “a formação integral do individuo em dez áreas básicas: 1) recreativa; 2)

esportiva; 3) intelectual; 4) cultural; 5) ética; 6) estética; 7) instrumental; 8)

emocional; 9) preventiva; 10) saúde social”.

Existe, no xadrez, um conjunto de leis e regras que regulam, que controlam o

desenvolvimento das atividades, normatizando a relação entre os participantes. Por

exemplo, neste ambiente o árbitro se encarrega de cumprir e fazer cumprir o

estabelecimento em “nas leis do Xadrez, FIDE” de tal maneira que o enxadrista,

desde muita nova idade, tem a oportunidade de aprender a respeitar, tanto as regras

do xadrez quanto as normas gerais da sociedade; conduta na mesa, na sala de aula,

na rua, etc.

Krogius (apud BLANCO, 2008) coloca que depois de anos investigando o

desenvolvimento da concentração em crianças e adolescentes, o progresso mais

acentuado coincide com o início, o estudo e prática de jogo de xadrez, a qual influi,

sem dúvida, na mentalidade deles.

Langen (apud BLANCO, 2008) coloca que as crianças que aprendem xadrez

em idades novas, rendem mais nas matérias tradicionais de ciências e matemática.

Investigadores têm encontrado evidência, experimental e de campo, a favor

de que as instruções sistemáticas do xadrez, especialmente em crianças,

contribuem firmemente no desenvolvimento de habilidades cognitivas, o que

constitui um valioso instrumento para o crescimento intelectual dos indivíduos.

Em resumo, Blanco (2008, p. 68) ressalta que o xadrez deve ser incorporado

ao currículo da escola básica ou elementar porque:

- Tem uma base matemática: a matemática é a linguagem do método e do pensamento ordenado; a matemática é um instrumento e linguagem da ciência.

- Estimula o desenvolvimento de habilidades cognitivas tais como: inteligência, memória, atenção, pensamento lógico matemático, capacidades fundamentais para a evolução posterior do individuo.

- Desenvolve o sentido ético. - Estimula o desenvolvimento da criatividade através da resolução de

problemas, demonstrações de estudo, análises de posições e elaboração de planos de jogo.

- Permite o estabelecimento de transferências para situações da vida diária.

- É incluído pelo prazer que nos pode proporcionar. O sentido estética, a beleza das formas das figuras, sua disposição para o tabuleiro, a confluência ou relação entre elas, a sucessão dos movimentos, as transformações de valor e a observação e a ameaça, produto das

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múltiplas relações estabelecidas, proporcionam prazer ao executante e ao estudioso.

- Desenvolve o pensamento e o espírito critico. - Pode ser aplicado como esporte complementar ou alternativo.

Inúmeras são as opções de jogos existentes. Devido exatamente a essa

amplitude, o estudo se direcionará especificamente ao “Rei dos Jogos”: O Xadrez.

Silva (2004) coloca que o jogo de Xadrez traz, desde o seu aprendizado,

todos os benefícios, citados acima, inerentes às atividades lúdicas, porém, nota-se,

no estudo de sua complexidade, diversos outros exercícios de ordem cognitiva,

principalmente no que diz respeito à estratégia, concentração e raciocínio lógico.

Numa partida, o jogador deve preparar o movimento de suas peças, imaginando,

imediatamente, as possíveis respostas de seu adversário e reagir prontamente às

escolhas alheias, exercitando a reversibilidade e a autonomia, ao tomar as decisões

por si mesmo. É lugar comum, que uma das grandes dificuldades na resolução de

problemas matemáticos, se estabelece na incapacidade de entender e analisar sua

proposta. Ao buscar a melhor combinação de lances, a criança aprende a pensar no

problema de forma geral, aprendendo a analisar os diferentes pontos e a encontrar o

melhor caminho para sua solução.

Cada uma das peças apresentadas à criança terá sentido e movimentos

únicos, porém, a combinação de suas ações é imprescindível para a vitória.

Segundo Smole (2001, p. 31), “devemos considerar que a resolução de problemas,

trata de situações que não possuem solução evidente e que exigem que o praticante

combine seus conhecimentos e decida, pela maneira de usá-los em busca da

solução”. Nota-se, portanto, que o Xadrez pode também cooperar com a

organização do pensamento para superar os desafios impostos, seja no jogo ou na

matemática.

Um dos principais atributos exercitados pela prática do Xadrez é a

concentração, fundamental ao enxadrista. O jogador deve estar sempre pronto para

as modificações estratégicas decorrentes dos lances do adversário e focalizar sua

atenção nas implicações que cada um dos movimentos traz ao jogo. É sabido que o

xadrez tem grande importância na concentração para a assimilação de conteúdos,

tanto na matemática, quanto em qualquer outra disciplina.

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3 Procedimentos Metodológicos

Com o objetivo de verificar se o xadrez, através de uma abordagem

interdisciplinar iria auxiliar os alunos na obtenção de melhores notas, através de

atividades que façam refletir sobre seus atos, na tomada de decisões concretas,

elaborou-se este estudo, que teve como caracterização metodológica a pesquisa

descritiva exploratório onde Bisquerra (1989) define estudo descritivo aquele que

tem por objetivo a descrição dos fenômenos e Lakatos e Marconi (1991) comentam

que o estudo descritivo exploratório tem por objetivo descrever completamente

determinado fenômeno e que, uma variedade de procedimentos de coleta de dados

pode ser utilizada, como entrevistas, questionários e análise de conteúdo.

Para Thomas e Nelson (2002), a pesquisa descritiva é um estudo de status,

que tem o seu valor baseado na premissa de que os problemas podem ser

resolvidos e as práticas melhoradas por intermédio da observação, análise e

descrição objetiva e completa do fenômeno.

A população para o referido estudo, foi constituída por todos os alunos que

cursavam o ensino fundamental junto ao Colégio Estadual Humberto de Campos

EFMP do município de Santo Antônio do Sudoeste – Paraná, no ano de 2011. A

amostra para o referido estudo foi composta por 20 alunos com dificuldade de

aprendizagem, a serem selecionados junto às séries acima, conforme indicação dos

professores de Matemática e Língua Portuguesa do período matutino,

O instrumento utilizado como meio avaliativo foi composto por pareceres dos

professores de Matemática e Língua Portuguesa, sendo estes, pareceres

individuais, constando uma análise conforme as condições em que o aluno se

encontra no momento de inicio das atividades e no final da mesma, inclusive com

notas e pareceres de conselho de classe.

Para a realização do estudo, foram respeitados os seguintes procedimentos:

Primeiramente, entramos em contato com o núcleo e a direção da escola, solicitando

autorização para a realização do trabalho. Após a devida autorização, tanto pelo

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núcleo quanto pela escola, o próximo passo foi apresentar a proposta para a

coordenação pedagógica e demais professores.

Na sequência entrou-se em contato com os alunos, quando foi entregue uma

solicitação para os pais, com as explicações das atividades, importância e objetivos,

solicitando a autorização para que seu filho pudesse participar do projeto. Foi

explicado que, os dados obtidos seriam somente para fins de estudo e os nomes

dos participantes seriam mantidos em sigilo, respeitando-se as normas éticas de

pesquisa com seres humanos. Antes do inicio das atividades, os Pais dos alunos

assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.

De forma geral, em reunião, foi apresentado a todos as atividades que seriam

desenvolvidas, onde foi utilizado o Xadrez, através de uma metáfora, por ser um

jogo de fácil comparação com a vida, de atitudes que geram consequências

positivas ou negativas, de acordo com a decisão tomada. Foram mostrados os

benefícios que este pode trazer, se aplicado para o desenvolvimento da cognição,

junto ao aluno. Enfim, foi apresentado um planejamento de ação, onde foi informado

que, primeiramente seria aplicada uma avaliação em forma de sondagem do

conhecimento da prática do xadrez através de pré-teste. Em seguida seriam

realizadas as atividades em forma de reforço, abordando os princípios básicos do

jogo de xadrez.

Nesta abordagem seriam resgatados fatos históricos e a origem do jogo e

suas contribuições para a humanidade, com dinâmicas em grupos, para debates,

discutindo a problemática do jogo e a relação sociocultural, político e econômico,

possibilitando um entendimento do jogo em relação ao seu cotidiano. Foram

apresentados todos os procedimentos a serem seguidos, como o desenvolvimento

abaixo descrito.

4 Análise e Discussão dos Resultados

Assim, após as devidas explicações e motivando os alunos para o

desenvolvimento das atividades, deu-se início a implementação do projeto

pedagógico. A primeira atividade foi elaborada, visando divulgar, junto à comunidade

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escolar, a importância do Projeto de Xadrez de forma interdisciplinar, auxiliando no

desenvolvimento da aprendizagem.

Como atividade, foi realizada a aplicação do questionário que serviria como

meio de avaliação inicial dos alunos, exatamente para verificar o nível de

conhecimento inicial, com relação a modalidade Xadrez, por parte da amostra.

Na seqüência, foi apresentada aos alunos a história do Xadrez e suas lendas,

dando prioridade à Lenda de Sissa e à história da Princesa Dilaram, onde os alunos,

sentados em suas carteiras, ouviam atentamente a professora relatar as histórias,

explicando e exemplificando as abordagens, seguindo o texto abordado por Tirado e

Silva (1995).

Segundo o posicionamento dos alunos, manifestados de forma livre em sala

de aula, o texto foi muito bom e serviu de mola propulsora para a continuidade das

atividades. Assim, na sequência foi abordada a estruturação básica do jogo de

xadrez, a elaboração do tabuleiro e suas peças. Desta forma, juntamente com os

alunos, foi desenhado o tabuleiro, com suas devidas medidas e cores, bem como

confeccionadas as peças para o jogo, através de montagens.

Assim, os alunos, de posse de seus materiais, com orientação da professora,

confeccionaram seu próprio tabuleiro. Atividade esta, que envolveu as medidas

certas, seguindo os padrões matemáticos. Após as devidas demarcações, realizou-

se a pintura do mesmo e, por fim, foram confeccionadas peças com tampas,

garrafas plásticas, etc. Esta atividade envolveu, de forma interdisciplinar, a escola,

envolvendo as disciplinas de artes e matemática.

Como meio motivacional do estudo, utilizou-se filmes relacionados com o

xadrez, como forma de reflexão e descontração dos alunos, para uma prática

saudável e prazerosa. Estes filmes tratam o xadrez como elemento central de seus

enredos, como podemos perceber em: Lances Inocentes, O último lance, Face a

face com o inimigo, Mentes que brilham, Mentes brilhantes e Viva a rainha.

Após esta sessão de filme, foram abordados, junto aos alunos os passos

principais do jogo de Xadrez: aberturas, movimentação e finalização. Para isso,

utilizou-se a apostila fornecida pela SEED, de autoria do Prof. Eduardo Dotorivo de

Souza, apresentada no 2ª Seminário Estadual de Xadrez Escolar em 2002.

Com a aplicação da apostila, onde os alunos obtiveram maior facilidade de

entendimento para a realização do jogo, desenvolveu-se uma atividade, a criação

de um espaço de convivência, onde os alunos pudessem praticar o jogo de xadrez,

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oportunizando-os na organização de eventos enxadrísticos envolvendo alunos,

professores e pais. Assim, cada aluno teve que escolher um colega, um professor e

um membro da comunidade em geral (pais ou familiares), para atividades vinculadas

ao xadrez, desenvolvidas por este aluno e terminando com um torneio lúdico

recreativo entre estes e os demais participantes das atividades.

Com o desenvolvimento de todas estas atividades, foi realizada nova

avaliação, para observarmos o desempenho alcançado pelos alunos. Assim, após a

aplicação do questionário, constatou-se que ocorreu um grande desenvolvimento,

por parte dos alunos participantes da amostra, com melhorias em todos os sentidos,

tanto de concentração, raciocínio, organização, quanto como individuo. O reflexo

disto foi visto junto às disciplinas de Português e Matemática, pois, a grande maioria

dos alunos apresentaram mudanças nos seus pareceres escolares, com médias

altamente significativas, conforme verificado junto ao desempenho escolar (média

em conselho de classe).

Outro ponto extremamente relevante e que deve ser observado, foi o dos

pareceres técnicos dos professores das disciplinas e Coordenação Pedagógica,

conforme descritos abaixo:

Parecer da Direção O projeto ‘Xadrez na Escola’ aconteceu no segundo semestre do ano 2011, em um momento em que necessitávamos de um trabalho específico na motivação da aprendizagem nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, onde a maioria dos alunos com dificuldades nesta área desistem de estudar no último trimestre. Percebemos que os ganhos em conhecimento neste esporte, contribuiu significativamente para o aumento de notas nas disciplinas em que estavam com dificuldades e o mais interessante, que permaneceram até o último dia letivo, por conta do cumprimento das tarefas propostas pelo projeto, que se desenvolveu de forma divertida, descontraída e com muito comprometimento.

Parecer da Coordenação Pedagógica O Projeto da prof. Mariza trouxe um novo olhar na prática pedagógica. A importância do mesmo foi entendida pela equipe pedagógica como um poderoso aliado no ensino das demais disciplinas, onde o raciocínio lógico e a concentração é aspecto fundamental para sua evolução como ser pensante. O projeto criou um espaço favorável e com metodologia simplificada e criativa, aguçando a curiosidade do aluno, fazendo com que ele resolva as situações propostas. Com estes exercícios mentais, situações do jogo e jogadas, elaboração do material, a montagem dos mesmos pelos alunos, acreditamos que tudo isso colaborou para o sucesso escolar de cada aluno trabalhado, independente se o mesmo teve ou não sua aprovação escolar efetivada.

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Parecer do Professor de Matemática Cara colega, seu projeto veio, e muito, no auxilio de alguns alunos com dificuldades. Percebi que estavam se concentrando mais em minhas aulas. Creio que você deva ter enfatizado bem a importância da concentração para a resolução dos exercícios matemáticos. Depois que alguns aprenderam a jogar xadrez, desenvolveram suas atividades com rapidez e resultados acertados com mais frequência. A maioria teve ganhos. Pena que seu projeto aconteceu somente no terceiro trimestre pois, acredito que se sua implementação fosse no começo do ano letivo, o sucesso na aprendizagem e nas aprovações teriam se efetivado com uma porcentagem maior, mas vejo que seu trabalho contribuiu de forma significativa e de grande importância para a Matemática. Parabéns, continue no próximo ano. O Prof. de Matemática agradece.

Parecer do Professor de Língua Portuguesa Cara colega Mariza, estamos aqui para lhe desejar os parabéns, seu projeto revelou talentos na arte de criar versos, poesias e declamações. Sabemos que o Xadrez desenvolve muitas habilidades, inclusive a linguística, mas o que mais nos surpreendeu foi o destaque daqueles que menos se sobressaem em se falando de notas, talvez seja pelo fato de ter usado uma metodologia diferenciada, sem cobranças e sem a obrigação de se obter resultados, ‘fazer pelo prazer de fazer’ e isto gerou um comprometimento por parte dos alunos. Com isto nossas avaliações foram levadas á sério por eles, pelo fato de você estar, em seu projeto, enfatizando a importância de se ter responsabilidade, ‘pois tudo que se aprende se leva para a vida’. Frase sua que os alunos comentavam. Sucesso em seus trabalhos. Agradecemos pela contribuição em nossas aulas.

Com todas estas colocações, acredito que a realização da implementação

junto à escola, foi a contento. Situação recíproca sentida pela realização desta

atividade junto ao Programa de Desenvolvimento Educacional, onde oportuniza ao

professor, momentos de aprendizagem continuada, com a volta aos bancos da

universidade e com a realização de uma pesquisa desta magnitude.

5 Considerações Finais

Considerando que o Xadrez, em muitas escolas de nossa região, é visto,

simplesmente, como mero passatempo em dias de chuva, por muitos colegas da

Educação Física, sinto-me gratificada por ter comprovado, através de atividades

práticas e teóricas, a real importância do Xadrez no contexto escolar, onde este

serve como uma grande ferramenta de cunho interdisciplinar, auxiliando muitas

disciplinas do currículo pedagógico da escola, conforme podemos vivenciar neste

estudo. Claro que, se tivéssemos maior tempo para darmos continuidade no mesmo,

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estaríamos auxiliando outras disciplinas, como Artes, História, Geografia, Filosofia,

Sociologia, Política e outras.

Assim, acredito que a realização do mesmo, foi de grande valia para os

alunos, pois aprenderam, com o desenvolvimento do mesmo, a respeitar seus

adversários como colegas e não, como inimigos. Entenderem o valor da

concentração como meio de refletir sobre atos e ações que poderão ser tomadas de

forma consciente, pensada e com calma, postura esta, que auxiliará para a

continuação de sua vida como cidadão.

Tendo em vista o reflexo obtido junto ao desempenho escolar dos alunos,

podemos concluir que o Xadrez auxilia, de forma direta, na formação do aluno como

um todo, melhorando o nível de aceitação, de raciocínio e de perseverança,

desenvolvendo o caráter e a personalidade, bem como na determinação de suas

ações, formando um cidadão responsável, apto para desempenhar suas atividades

com êxito e humildade, fatores estes, essenciais para a formação humana do aluno.

Referências

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