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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO DE TOLEDO
NEIVA MARIA FRITZEN
A FUNÇÃO DA FAMÍLIA E DA ESCOLA DIANTE DA
(IN) DISCIPLINA ESCOLAR
MARECHAL CÂNDIDO RONDON
2012
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO DE TOLEDO
NEIVA MARIA FRITZEN
A FUNÇÃO DA FAMÍLIA E DA ESCOLA DIANTE DA
(IN) DISCIPLINA ESCOLAR
Artigo apresentado como trabalho conclusivo final do PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional) da Secretaria Estadual de Educação.
Orientadora: Profª Drª Tânia Maria Rechia Schroeder
MARECHAL CÂNDIDO RONDO
2012
A FUNÇÃO DA FAMÍLIA E DA ESCOLA DIANTE DA (IN) DISCIPLINA ESCOLAR
Autora: Neiva Maria Fritzen1
Orientadora: Profa. Dra. Tânia Maria Rechia Schroeder 2
Resumo
O presente artigo apresenta o trabalho desenvolvido sobre os respectivos papéis da escola e da família diante da indisciplina no âmbito escolar. O objetivo foi o de contribuir para melhorar com relacionamento entre professores e alunos em sala de aula. Para tanto optamos, num primeiro momento, em trabalhar de forma mais incisiva com as famílias, porque defendemos a ideia de que o relacionamento, a cooperação entre família e escola pode contribuir substancialmente para a melhoria da comunicação e do diálogo entre professores e alunos e, possivelmente, melhorar os resultados de aprendizagem. O trabalho foi implementado no período de julho a dezembro de 2011, no Colégio estadual Eron Domingues- Ensino fundamental, Médio e Normal, no município de Marechal Cândido Rondon, núcleo de Toledo. A efetivação do projeto deu-se com pesquisa bibliográfica, associada à pesquisa empírica por meio de questionários, observações, dinâmicas de grupo, palestras, estudos de pequenos textos sobre valores, limites e disciplina. As atividades pedagógicas foram realizadas com as famílias, com os professores e com os alunos. Com os professores foram levantados os principais problemas que ocorrem em sala de aula e que interferem nos resultados do processo ensino aprendizagem e como eles resolvem as situações conflitantes. Com os alunos efetuou- se um trabalho voltado à discussão da importância de regras, valores e limites para a melhoria do convívio escolar e sua interferência na aprendizagem. Com as famílias foram trabalhadas questões relacionadas aos seus papéis na criação de um ambiente em que os valores como respeito, boa convivência, responsabilidade sejam vivenciados dia a dia em seus lares.
Palavras-chave: Educação; Escola; Família; Indisciplina; Relação professor-aluno.
1 Pedagoga da Rede Estadual do Ensino do Paraná, pertencente ao Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE/2010.2 Professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE; doutora em Educação pela UNICAMP e pesquisadora integrante dos grupos VIOLAR (Laboratório de Estudos sobre Violência, Imaginário, Práticas Socioculturais e Formação de Professores) - UNICAMP e PECLA (Pesquisas em Educação, Cultura, Linguagem e Arte) - UNIOESTE.
1 Introdução
O presente artigo apresenta os estudos e as ações sobre os papéis da família
e da escola diante da indisciplina no Colégio Estadual Eron Domingues (Ensino fun-
damental, Médio e Normal), no município de Marechal Cândido Rondon, Núcleo de
Toledo em relação a indisciplina a fim de contribuir com o professor para obter me-
lhores resultados na educação formal, no nível da educação básica.
A escolha do tema baseou-se na necessidade premente de enfrentamento de
situações problemáticas vivenciadas nas escolas públicas do Paraná, permitindo
que a pesquisa realizada pelo professor PDE possa contribuir para amenizar ou até
solucionar tais situações.
Outro aspecto que ensejou a proposição deste assunto, refere-se a busca
constante do professor em apresentar os conteúdos previstos para sua disciplina de
maneira realística e de acordo com o grau de assimilação que os alunos demons-
tram aos ensinamentos que lhes estão sendo transmitidos.
Pretende-se enfatizar a função primordial que a escola e a família desempe-
nham na formação do cidadão, cônscio de suas obrigações, pessoais e coletivas,
perante o seu seio familiar e os demais integrantes da sociedade. Mas vale ressaltar
que não estamos afirmando que os problemas de indisciplina advêm somente de
problemas familiares, apenas que neste trabalho optamos pelo trabalho com a insti-
tuição mais importante em relação à socialização dos indivíduos e que pode contri-
buir significativamente com a escola no sentido de conseguir melhores resultados de
aprendizagem. Temos clareza de que os protagonistas do processo ensino aprendi-
zagem são os alunos e professores.
2 Situação Atual da Educação no Brasil: Breves Considerações
A Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988, em seu artigo 205, institui a
educação como dever do Estado e da família.
No artigo 227 estabelece que, é dever da família e da sociedade e do Estado
“[...] assegurar a criança, ao jovem e do adolescente com absoluta prioridade, o di-
reito a vida, a alimentação, a educação [...]”.
Em face destes dois artigos constitucionais questiona-se quem não está cum-
prindo com seu papel? A família? O Estado? Ou ambos?
Por intermédio de dados oficiais e constatações no dia-a-dia escolar, verifica-
se que a estrutura da educação no Brasil precisa e deve melhorar com a máxima ur-
gência possível, principalmente, em seu nível Básico.
Nas avaliações formais de desempenho, os resultados do Sistema de Avalia-
ção da Educação Básica (SAEB) de 2009 consta que nas Escolas Públicas que
atendem os Anos Iniciais Ensino Fundamental a média total foi de 4,4. Na rede Esta-
dual 4,9, na rede municipal 4,4 e na rede privada 6,4.
Já nos Anos Finais do Ensino Fundamental os resultados foram: média total
4,0; na rede pública 3,7. Na rede estadual 3,8; na rede municipal 3,6 e na rede parti -
cular 5,9. No Ensino Médio o IDEB de 2009 apresentou os seguintes dados: Total
3,6; na rede pública 3,4; na rede estadual 3,4 e na rede privada 5,63.
Na Prova Brasil, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental a média foi de 4,6
e nos Anos Finais do Ensino Fundamental a média foi de 3,7. No Ensino Médio a
média foi de 3,5.
No estado do Paraná, percebe- se uma pequena alteração de melhora nos
dados: Séries Iniciais (4º série -5 ano) 5,2; nos Anos Finais (8ª série -9 ano ) 4,1 e
Ensino Médio 3 série 4,24.
Através da análise dos dados acima percebe- se que a educação brasileira
tem muitos desafios a superar, e faz-se necessário encontrar meios para superar
tais índices. Os atores envolvidos no processo educacional (governo, professores,
diretores, alunos, funcionários e pais) não estão cumprindo adequadamente com
suas atribuições e urge a necessidade de se discutir e proporem-se ações para mu-
dar os destinos da educação no país.
3 Dados coletados no dia 13 de junho de 2012 no site <http://sistemasideb.inep.gov.br/resultado/>.4 Dados coletados no dia 13 de junho de 2012 no site <http://sistemasenem2.inep.gov.br/ enemMe-diasEscola/>.
2.1 O Estado e o papel da escola
O Estado do Paraná vem estabelecendo suas práticas pedagógicas pautadas
em discussões teórico-metodológicas que organizam o trabalho educativo, na qual a
escola se constitui como alternativa concreta de acesso formal ao saber.
Deve-se considerar, portanto, que o sujeito que se quer formar é alguém
constituído num tempo histórico, num determinado grupo social, que marcam a sua
individualidade, sua compreensão e participação.
Quando se tem clareza do sujeito que se quer formar é possível traçar ações
pedagógicas que visem uma formação integral. Para tanto, o currículo precisa ser
claro e bem desenvolvido na escola, por meio das disciplinas que sejam trabalhadas
de forma interdisciplinar, com variações metodológicas em que o processo de ensi-
no- aprendizagem esteja em consonância com a sociedade atual.
A proposta educativa no âmbito escolar deve atender todos sujeitos em suas
especificidades e em todos os níveis. O currículo expressar o resultado de discus-
sões entre os professores, a equipe pedagógica, a direção, os funcionários e a co-
munidade escolar.
O professor deve ser autor de seu Plano de Trabalho, refletindo em sua ação
para quem, para que e por que ensinar reconhecendo interesses, diversidades, dife-
renças sociais e ainda, a história cultural e pedagógica de nossas escolas.
É necessário ressaltar que o professor necessita, para o desenvolvimento de
seu trabalho em sala de aula, não somente conhecimentos dos conteúdos explícitos
no currículo, mas também precisa saber administrar os conflitos em sala de aula
uma vez que nunca haverá uma sala de aula em que não haja nenhum tipo de prob-
lema.
A avaliação é outro aspecto que deve ser muito considerado, pois as formas
avaliativas dos professores podem suscitar insatisfações que podem se manifestar
em forma de indisciplinas por parte dos alunos. A avaliação deve ser uma ferramen-
ta diagnóstica do processo ensino aprendizagem e um instrumento da pesquisa da
prática pedagógica.
O que está ocorrendo nas salas de aula que os objetivos de ensino não são
plenamente atingidos? Constata-se na escola em que desenvolvemos o projeto do
PDE que determinadas disciplinas possuem índices elevados de reprovação.
Várias têm sido as causas apontadas por professores e alunos como obstácu-
los ao processo ensino-aprendizagem e, de acordo com um saber da experiência
acumulada como pedagoga, percebe-se que a metodologia do professor, bem como
suas formas de avaliação, podem gerar comportamentos considerados indisciplina-
dos. Tais episódios, se analisados mais detalhadamente, se configuram como a ex-
pressão de revoltas em relação a encaminhamentos pedagógicos que os alunos
consideram arbitrários e injustos.
2.2 O papel da família no aprendizado da disciplina
Outro problema apontado é em relação ao papel da Família na supervisão e
no controle das atividades escolares de seus filhos. A falta de atenção e acompa-
nhamento das atividades escolares que seus filhos devem realizar em suas casas
podem gerar dificuldades para o cumprimento dos objetivos de aprendizagem esta-
belecidos pelos professores e podem comprometer o desenvolvimento cognitivo,
afetivo, psicomotor, social, ético e moral das crianças e dos adolescentes que fre-
quentam a Educação Básica.
Faz-se necessário o desenvolvimento de trabalhos com foco nas famílias
oportunizando encontros de pais para discutir a função da escola e da família, onde
compreendam que existem funções distintas e quando um segmento deixa de cum-
prir a sua função, há repercussões no outro.
Foram realizados trabalhos com as famílias do Colégio Estadual Eron Domin-
gues no sentido de contribuir para a reflexão sobre as dificuldades no estabeleci-
mento de regras e limites e na transmissão de valores morais e éticos da sociedade
atual. Nos encontros com pais percebeu- se que houve um fortalecimento do grupo,
pois a maioria apresentava as mesmas dificuldades, e na coletividade buscaram ca-
minhos para um melhor entrosamento familiar no sentido de delimitar os papéis que
cabem a cada componente da família e também o papel de cada segmento institu-
cional, no caso a família e a escola.
Na família, de acordo com a manifestação dos pais em nossa pesquisa, mui-
tos possuem grandes dificuldades para estabelecer a disciplina familiar, dizem que
até falam ao filho o que pode e o que não pode ser feito, mas o descumprimento ge-
ralmente se faz presente. Questionados sobre como estas regras são produzidas, a
maioria dos pais afirma que os filhos devem obediência aos pais; e desta forma im-
põe, mas não explicam o porquê, quais os objetivos que pretendem alcançar, e as-
sim se frustram porque não são atendidos.
O educando precisa sentir-se seguro e para tanto, o diálogo, as regras e os li -
mites são fundamentais no seio familiar. Muitos pais confundem seus papéis, pois
foram educados numa perspectiva autoritária e no anseio de fazer diferente com
seus filhos, caem em outro extremo, o da liberdade excessiva e, em consequência,
podem estar criando seus filhos sem limites e responsabilidade.
Alguns pais parecem ter dificuldade de discernir quando necessitam fazer uso
de sua autoridade. Na tentativa de serem pais democráticos, podem criar situações
difíceis para lidar e resolver. Segundo Souza e José Filho (2008, p.3):
A criança precisa ter claro que ela pertence a uma família, que é uma insti-tuição social e que nesta, seja ofertada noções de poder, autoridade, hierar-quia, além de lhe permitir habilidades diversas, tais como: falar, organizar seus pensamentos, distinguir o que pode e o que não pode fazer, seguindo as normas da sua família, adaptar-se às diferentes circunstâncias, flexibili-zar, negociar.
Quando estas habilidades não são bem trabalhadas na família, pode ocorrer
uma transferência de responsabilidade para a escola. Espera-se então que a escola
possa resolver o problema criado, e esquecem que são eles os maiores responsá-
veis pela educação de seus filhos, que a responsabilidade da socialização primária é
deles, e que a eles confere a responsabilidade de desenvolver valores éticos e mo-
rais.
Outro fator importante que deve ser levado em consideração é que nas socie-
dades modernas a educação formal escolar tornou-se predominante para a educa-
ção das novas gerações, porém, a educação informal influencia de forma significati-
va a vida do educando.
Portanto, deve-se considerar a influência da mídia televisiva na vida da famí-
lia, principalmente dos filhos, pois além de ocupar o tempo em muitas situações, de-
seduca, porque as crianças assistem a programas televisivos nada aconselháveis ou
quando possuem acesso a rede mundial de computadores acessam programas fú-
teis que pouco contribuem para a sua formação e ainda, interferem na linguagem e
na escrita, pois fazem uso diferenciado das mesmas, abstraindo-se da norma culta.
Devido a diversos fatores pessoais, sociais e econômicos, existem muitas fa-
mílias brasileiras onde seus integrantes, possuem atividades laborais remuneradas,
diminuindo, ou até extinguindo a atenção entre irmãos, pais e mães, pais/ responsá-
veis e filhos, mães/responsáveis e filhos, e o mais grave, prejudicam a educação
que devia ser exercida pelos pais/e ou /responsáveis sobre os filhos, principalmente
na idade infantil e na adolescência, lesando, sobremaneira, a formação do caráter e
o aperfeiçoamento ético e moral do cidadão. Acosta assinala que
[...] hoje, o tempo destinado a convivência familiar é mais escasso, pela maior jornada de trabalho em razão das necessidades econômicas, seja por solicitação de atividades externas exercidas individualmente ou com grupos extra familiares. (ACOSTA, 2007, p.65).
A família pode estar deixando de passar aos filhos sua tradição, seus costu-
mes, sua ética e a sua moral fazendo com que as crianças e os adolescentes te-
nham como única referência os sonhos vendidos pelos meios de comunicação. Al-
gumas delas, quando ingressam na escola, podem apresentar dificuldades de rela-
cionamento.
Outro aspecto a ser ressaltado é o afetivo que deve ser trabalhado primeira-
mente na família. A preocupação da família em relação aos seus filhos não deve se
restringir apenas em atender as necessidades biológicas dos filhos, é necessário
uma séria atenção aos aspectos que envolvem a qualidade das interações em ou-
tros espaços sociais, dentre eles a escola.
a família tem também um papel essencial para com a criança, que é o da afetividade, o alimento afetivo é tão imprescindível como os nutrientes orgâ-nicos, sem afeto de um adulto, o ser humano enquanto criança não desen-
volve suas capacidades de confiar e de se relacionar com o outro (STA-NHOPE, 1999 apud CUNHA; SANTOS, 2006, p. 31-32).
Quando não há preocupação com a afetividade, podem ser gerados conflitos
familiares sérios em que a agressão física e o uso de drogas pelos filhos pode acon-
tecer como um caminho para suprir a carência da afetividade que não foi desenvolvi -
da no seio familiar. Outro aspecto que deve ser cuidado é a transição da fase infantil
para a adolescência:
O adolescente provoca uma verdadeira revolução no meio familiar social, e isto cria problemas de gerações nem sempre bem resolvido. Enquanto ele passa por uma adaptação para a fase adulta, seus pais vivem a ruptura do equilíbrio do desempenho do papel de pais de criança, para adquirirem, também, com mais ou menos esforço e sofrimento, um novo papel, o de pais de adolescente, situação que lhes exigirá novas respostas. (ACOSTA, 2007, p. 69).
Esta fase de adaptação evidencia-se também na escola. O aluno busca auto-
nomia e independência, e quando não orientado adequadamente pode acreditar que
esta conquista relaciona-se com as transgressões que podem desestabilizar não so-
mente os relacionamentos familiares, mas também os escolares.
A adolescência caracterizada por maior demanda de autonomia e indepen-dência, frequentemente precipita mudanças nos relacionamentos da famí-lia... Além dos conflitos relacionados às experiências infantis e à vivência com seus pais, essas demandas, quando muito fortes, não raro, reativam problemas emocionais e conflitos não resolvidos da infância ou adolescên-cia dos seus pais em relação as avós na vida passada (COATES, 1997, p. 40).
Conforme Coates (1997), a metamorfose familiar inicia com o período da pu-
berdade, em que acontecem transformações corporais, amadurecimento físico e o
aparecimento dos caracteres sexuais secundários.
Também neste período ocorrem modificações corporais e psicológicas nos
pais que, usualmente, enfrentam nesta fase de seus filhos a “meia idade”, e podem
evidenciar alguns conflitos internos, pois nem sempre aceitam com tranquilidade e
naturalidade outra fase de suas vidas, ou seja, o envelhecimento. Alguns com condi-
ção econômica fazem de tudo para se manter jovens, muitas vezes competindo com
os filhos e deixando de colocar regras e limites.
Sabe-se que o ser humano quando passa da fase da infância para a adoles-
cência e posteriormente para a fase adulta sucedem-se mudanças físicas e emocio-
nais que interferem na sua vida, positivamente ou negativamente.
Quando esta mudança de fase acontece de forma flexível e com apoio da fa-
mília, normalmente permitirá um amadurecimento seguro e emocionalmente ajusta-
do, porém, quando os conflitos não são equacionados e não há diálogo, aumentam
as probabilidades que o adulto tenha dificuldades de trabalhar coletivamente.
Esses percalços familiares se mostram perceptíveis em sala de aula.
Alguns alunos mostram certa dificuldade em aceitar as regras e as normas
necessárias ao desenvolvimento das aulas, por vezes se expressam de maneira
agressiva com colegas e com os professores e ainda podem apresentar baixo apro-
veitamento escolar, podendo resultar até em reprovação.
A escola não pode ficar alheia a tudo isso. Precisa constituir-se como espaço
de aprendizagem, reafirmando-se como o lugar do conhecimento, do convívio e da
sensibilidade, condições imprescindíveis para a construção da cidadania (MOREI-
RA, 2007).
Faz- se necessário conhecer o aluno que se tem para planejar o aluno que
pretende- se formar com vistas a oportunizar um desenvolvimento voltado a humani-
zação. O professor que conhece melhor o aluno interage melhor e em consequência
há uma melhor aprendizagem.
Atualmente a família deve ser pensada em toda a sua diversidade, uma vez
que não existe um padrão único de constituição familiar. Há uma variedade ampla
de possibilidades para viver “as relações afetivo-sexuais, podendo estas coexistir,
colidir ou interpenetrar-se” (STENGEL, 2006, p. 4).
A família é um “sistema de membros interdependentes que possuem dois atri-
butos: comunidade dentro da família e interação com outros membros”. (STANHO-
PE, 1999 apud CUNHA; SANTOS, 2006, p. 16). Essa interação vai se fortalecendo
na medida em que houver diálogo e cumplicidade entre os envolvidos.
A família é o primeiro espaço de socialização tendo, portanto, uma grande in-
fluência sobre a criança e o adolescente, uma vez que “a atitude dos pais e suas
práticas de criação e educação são aspectos que interferem no desenvolvimento in-
dividual e consequentemente, influenciam o comportamento da criança na escola”.
(REGO, 1996, p. 97).
Para a referida autora, pais democráticos são os que buscam a resolução de
seus problemas por meio do diálogo. Constroem um ambiente altamente comunicati-
vo e afetivo por meio dos estímulos de expressão de opiniões, mas com estabeleci-
mento de limites e regras claras. As crianças que recebem uma educação democrá-
tica, normalmente, demonstram que os valores difundidos na família foram interiori-
zados, possuem mais clareza para assumir posturas cooperativas, bem como signifi-
cativo autocontrole, autoestima e facilidade em relacionar-se com seus colegas
(REGO, 1996).
Porém, verifica-se em nossa trajetória profissional e na literatura analisada
que esse perfil de família não está muito presente no colégio em que realizamos
esta pesquisa. Os conflitos na família foram evidenciados em determinadas condu-
tas dos alunos, tais como: recorrentes atrasos e faltas, frequente não realização de
tarefas escolares e, por vezes, também atitudes de agressividade.
Necessário ressaltar que nem sempre tais comportamentos estão associados
às dinâmicas familiares, mas pode-se inferir que grande parte dos problemas rela-
cionados ao desempenho escolar das crianças e dos adolescentes deste colégio, re-
lacionam-se à problemas familiares de toda a ordem.
Em nossa prática profissional presenciamos problemas familiares, tais como:
separações, baixas rendas, drogas, alcoolismo muitas crianças são criadas pelas
avós que respondem pelo bem estar físico, emocional e cultural, em muitos casos
responsáveis pela educação desta criança; porém, com um grande grau de piedade
tendem a deixar a criança sem limites e regras e também não conseguem supervi-
sionar as tarefas escolares.
Portanto, a escola precisa levar em consideração esse grupo de indivíduos,
pois estão fortemente ligados com o processo ensino aprendizagem do aluno e po-
dem contribuir com o êxito dos alunos ou ser mais um óbice para os professores en-
frentarem.
Conhecer as particularidades dos alunos sob sua tutela propiciará ao profes-
sor maiores probabilidades de atingir seus objetivos curriculares, para tanto, cada
educador deverá buscar desde o início do ano letivo realizar entrevistas individuais
com cada aluno e manter sob sua guarda as principais observações obtidas durante
a entrevista inicial. Se possível, deverá repetir a entrevista pelo menos duas vezes
no semestre, ou em cada vez que constate uma mudança de comportamento do alu-
no.
Desta maneira o professor poderá avaliar melhor as atitudes do aluno em sala
de aula e intervir no momento oportuno, quando necessário, a fim de poder controlar
o aproveitamento individual do educando e permitir-lhe o êxito daquela determinada
disciplina, ao final de cada período letivo.
A influência que as famílias exercem sobre disciplina e indisciplina são fatores
a serem considerados pelos educadores, pois em muitos casos, podem ser a causa
do bom ou do mau desempenho aluno em suas atividades escolares.
2.3 A escola e o aprendizado da disciplina
O dicionário Aurélio, entre outras definições, assevera que disciplina é a ob-
servância de preceitos ou normas; relações de subordinação do aluno ao mestre ou
ao instrutor; ordem que convém ao funcionamento regular duma organização (mili-
tar, escolar, ou partidária).
De acordo com Suzuki (1987), aluno disciplinado é aquele que tem capacida-
de de estudar várias horas e tem uma grande capacidade de concentração que
mantêm um determinado ritmo de estudos, planeja, executa aquilo que foi estabele-
cido como meta. É uma atitude construída para um foco.
Disciplina, para outros autores, é compreendida como um conjunto de regras,
regulamentos e proibições rotineiras pelas quais se controla o comportamento. Con-
trole muitas vezes necessário para assegurar um ambiente de estudo eficaz. No en-
tanto, ao mesmo tempo permite a atuação dos alunos numa escolha pessoal desen-
volvendo trabalhos ajustados as suas necessidades fundamentais (AMOS; OREM,
1968 apud BINI; PABIS, 2008).
Concebemos nesse trabalho disciplina escolar como um conjunto de regras
democraticamente estabelecidas pelos envolvidos, que oportuniza a participação, a
expressão, a escuta do coletivo, criando um ambiente propício para o crescimento
do grupo.
O diálogo sobre os comportamentos e as regras são fundamentais para o de-
sempenho do trabalho do professor que para ter resultados positivos, deve mostrar
ao aluno a importância de determinados comportamentos, ou seja, o aluno precisa
saber o porquê de se estabelecer certas regras e também o porquê de se estudar
certos conteúdos. Os alunos precisam compreender qual o sentido de suas ativida-
des escolares.
Percebeu-se, nessa pesquisa, que numa mesma turma alguns professores
conseguem uma boa disciplina e desenvolvem aulas participativas e com resultados
satisfatórios em termos de aprendizagem com alunos que se envolvem nas ativida-
des e alcançam bons resultados enquanto que outros professores exercem seu tra-
balho com muita dificuldade para a obtenção da participação e obtêm resultados
considerados baixos. Normalmente estes professores não permitem o aluno partici-
par das aulas, impõe as regras. Para estes, a disciplina se explica como:
[...] disciplina, condição necessária para arrancar o homem de sua condição natural selvagem. Não se trata, portanto, apenas de ‘bons modos’: trata-se de educar o homem para ser homem, redimi-lo de sua condição animal. Permanecer parado e quieto num banco escolar é para Kant, necessário, não para possibilitar o bom funcionamento da escola, mas para ensinar a criança a controlar seus impulsos e afetos. (AQUINO, 1996, p.10).
No outro extremo, Piaget defende a “autodisciplina [...] busca pessoal do equi-
líbrio, do autogoverno das crianças, nasceria uma disciplina mais estável” (AQUINO,
1996, p.11). Esta prática pautada em Piaget também acontece por parte de alguns
professores e novamente a indisciplina se instaura, pois a criança aos 10, 11 anos
nem sempre consegue ter a clareza necessária para se autogovernar em sala de
aula. Portanto, o professor é responsável em oportunizar discussões em sala de
aula sobre comportamentos indispensáveis para um ambiente agradável e próprio
para uma boa aprendizagem, e conseguirá isto, através de um contrato pedagógico,
onde o aluno poderá opinar a participar da construção do mesmo.
Os pais também precisam ter clareza de que extremos na questão disciplinar
não são favoráveis, mas que o diálogo e a clareza das regras oportunizam que as
mesmas sejam cumpridas. Outra ressalva importante: só se pode cobrar aquilo que
se faz. Um exemplo claro é quando o professor cobra pontualidade do aluno, mas
ele mesmo não é pontual. Sua prática precisa estar vinculada a sua fala, porque o
professor ainda é um exemplo a ser seguido, é uma referência para o aluno.
Aquino (1996) assinala também, as contribuições da psicologia histórico-cultu-
ral como uma significativa reflexão pedagógica, quando apresenta os valores do pa-
pel da escola e da educação na formação do aluno. Enfatiza que a escola não pode
se eximir de sua função educativa no que se refere à disciplina. Ela deve dar condi-
ções para que sua prática escolar cotidiana esteja vinculada a posturas correlatas de
nossa cultura e construam e interroguem estes valores. Para isso é necessário ade-
quar as exigências dos educadores e das escolas às possibilidades e necessidades
dos alunos, oportunizando conhecimentos claros das intenções e dos objetivos das
regras.
Também na ótica da psicologia histórico-cultural Rego (1996, p.100) argu-
menta que:
Quando há indisciplina, deve-se fazer uma análise aprofundada dos fatores responsáveis pela ocorrência da indisciplina na sala de aula. A escola não pode manter-se alheia, pois muitos conflitos em sala surgem em função de práticas pedagógicas ineficientes como propostas pedagógicas curriculares problemáticas, metodologias que subestimam a capacidade do aluno, co-brança excessiva de postura sentada, inadequação da organização do es-paço da sala de aula e do tempo de realização das atividades, excessiva centralização na figura do professor e pouco incentivo a autonomia e as in-terações entre alunos.
O professor tem um papel importante no processo de ensinar “[…] uma fun-
ção socializadora, de caráter interativo e dinâmico” (BRAGAGNOLLO, 2010, p.17).
Compreende- se que, apesar de todas as adversidades na escola, o professor ainda
possui uma função importantíssima, onde os conhecimentos e valores devem ser
bem desenvolvidos para uma formação integral dos alunos. Para tornar este proces-
so mais viável faz- se necessário trabalhar de forma conjunta com a família.
3 Implementação da Proposta na Escola: Ações Detalhadas
Durante o terceiro período do Curso de Formação Continuada, apresentamos
por meio do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) uma proposta de im-
plementação à direção escolar, à equipe pedagógica, aos professores e posterior-
mente às famílias e alunos das quintas séries C e E (atualmente sétimos anos).
A proposta foi considerada de grande relevância pelos envolvidos, e a partir
de então iniciaram- se as atividades que envolveram as famílias, os alunos e os pro-
fessores das referidas séries. Houve momentos individuais de cada segmento, e ou-
tros coletivos em que se foram desenvolvidos aspectos fundamentais na construção
de um espaço mais adequado envolvendo a reflexão sobre o papel de cada um em
sala de aula.
A partir do conhecimento da proposta pelos envolvidos, foram iniciadas as ati-
vidades.
3.2 Atividades com as famílias
Inicialmente foram aplicados questionários aos pais, aos professores e aos
alunos com o objetivo de buscar informações e concepções sobre a disciplina e a in-
disciplina.
Nesse momento inicial da pesquisa levantamos que os papéis da família e da
escola não estavam claros e propomos uma discussão com pais e professores sobre
a função da família e da escola, partindo de exposição de slides sobre o enfoque.
Ficou evidenciado que ambos, família e escola precisavam rever sua práticas
relacionadas a disciplina. A partir de então, trabalhamos individualmente com os
pais, no período noturno.
Num primeiro momento, foram realizadas reflexões iniciais a partir da dinâmi-
ca “Omelete de Amoras” de Walter Benjamin (2009, p. 219), discutindo-se a escola
de épocas mais antigas, estabelecendo-se um paralelo com a escola atual. No se-
gundo momento, em grupo analisou-se a família de outros períodos históricos e a
atual, enfocando que os valores morais e as regras relacionam-se a determinados
contextos históricos.
A terceira atividade com os pais oportunizou a leitura, análise e discussão de
cinco textos. Os temas abordados foram: “Pais e seus papéis na família”, “Pais,
exemplos a serem seguidos”, “Pais e filhos- o que não pode ser negociado”, “Esta-
belecer limites e punições” e “A importância do diálogo”. Estas atividades permitiram
aos pais análises de sua prática educativa com os filhos. As reflexões apontaram ca-
minhos para uma ação mais coletiva em casa. Neste dia os pais também receberam
as tarefas escritas que os filhos fizeram, para acompanhar sua prática em casa.
Na quarta atividade com os pais foi desenvolvida uma palestra com o Con-
selho Tutelar. Neste dia também houve entrega de boletins. Os pais foram esclareci-
dos novamente de suas funções, as da escola e observou-se que aos pais compete
a educação e a escola a instrução e acesso ao conhecimento. Os pais foram escla-
recidos pelos conselheiros sobre a questão da legalidade dentro do processo de
educar, mostrando que o Estatuto da Criança e do Adolescente veio para auxiliar a
família, a escola e a sociedade; reafirmando que o adolescente tem direitos, mas
também tem deveres.
Na quinta atividade com os pais as discussões partiram da reflexão “Torra-
das Queimadas”, onde discutiu- se a distribuição das atividades domésticas. Ficou
evidenciada a urgência de se envolver todos os membros da família nestas ativida-
des, pois ao delegar gradativamente responsabilidades aos filhos, ocorre uma deso-
pressão do trabalho das mães, pois estas, em sua maioria possuem jornada dupla.
Além de trabalharem fora de casa ainda são responsáveis por todas ou quase todas
atividades domésticas. Neste dia, os pais também foram levados a discutir e escre-
ver o que querem dos filhos para apresentar no último encontro em que os três seg-
mentos novamente se reunirão.
3.2 Atividades com os alunos
Concomitantemente, foi trabalhado com os alunos, no contra turno de cada
turma. A primeira atividade também foi a dinâmica “Omelete de Amoras” de Walter
Benjamin (2009, p. 219) enfatizando com os alunos a importância dos valores e limi-
tes na escola para o bom desempenho escolar.
A segunda atividade envolvendo os alunos foi o desenvolvimento da dinâmi-
ca “Torrada Queimadas” na qual os alunos analisaram a importância de todos coo-
perarem nas tarefas domésticas, permitindo assim que as mães possam dar mais
atenção aos filhos. Neste momento, os alunos foram levados a pensar e escrever o
que fariam em sua casa para ajudar. Estes escritos foram entregues aos pais para
acompanhamento.
A terceira atividade foi voltada aos relacionamentos com o pai e a mãe. Ini-
cialmente comentou-se o tema, e, em seguida cada aluno produziu um texto escre-
vendo como é seu relacionamento com o pai e com a mãe. Três alunos não quise-
ram escrever, então solicitei que desenhassem. Ficamos chocados com o que apre-
sentaram: cena de grande violência. Alguns alunos quiseram ler seu texto, os outros,
recolhemos para conhecer um pouco mais as relações que permeiam a relação pais
e filhos. Detectamos que a presença da figura paterna em muitas famílias destes
alunos não existe, quando o pai mora junto, sua participação na educação é fraca,
poucos foram os casos que apresentou- se uma convivência saudável entre a figura
paterna e os filhos. Quanto a mãe, quase sempre se faz fortemente presente. É res-
ponsável pelo sustento, como o pai, mas além disso, a ela também é reservado todo
o trabalho doméstico e ainda a educação dos filhos. Devido ao acúmulo de ativida-
des e responsabilidades, frequentemente estão cansadas, estressadas e com pouca
disposição e tempo para dar atenção aos filhos.
Na quarta atividade foi retomado o tema do encontro anterior e os alunos for-
mam estimulados a refletir sobre seus papéis em suas famílias. Foram reunidos em
grupos, e produziram cartazes elencando atividades que poderiam desenvolver em
casa.
Na quinta atividade encontro o tema em debate foi “A importância da organi-
zação para melhorar a aprendizagem” . Este tema foi provocado a partir do um texto
didático construído para esta oficina com a fundamentação teórica desenvolvida
nesta pesquisa. Em seguida os alunos novamente se reuniram em grupos para esta-
belecer e escrever atitudes e atividades importantes que deveriam seguir para me-
lhorar seus rendimentos.
3.3 Atividades com os professores
Tendo em vista que, nesse trabalho, o nosso foco foram as famílias, as ativi-
dades com os professores tiveram um momento diferenciado. Foram incentivados a
participar com os pais na discussão sobre os papéis da família e da escola; na entre-
ga de boletins; na palestra dos representantes do Conselho Tutelar, dentre outros. A
partir das reflexões efetuadas com as famílias e os alunos os professores foram mo-
tivados a elaborar, de forma conjunta com os alunos, contratos didáticos fundamen-
tais para o desenvolvimento de seus Planos de Trabalho Docente, pois defendemos
que os conflitos são inerentes à sala de aula e o professor deve prever em seu pla-
nejamento as formas de gerir com as situações que cotidianamente aparecem. Tam-
bém se organizaram para apresentar aos pais e alunos atitudes e contribuições fa-
voráveis ao processo ensino-aprendizagem.
4 “Pensar Juntos” – Encontro com as Famílias, os Professores e os Alunos
No último encontro desse projeto reuniram-se todos os segmentos e cada
uma apresentou suas considerações. Inicialmente tecemos as nossas considera-
ções, acentuando que: cada um tem a sua responsabilidade: a escola, os pais e os
alunos; que é importante a construção gradativa de disciplina para o bom desempe-
nho em várias esferas da vida em sociedade; que quando há o comprometimento de
todas as partes é mais provável que o aluno tenha um bom desempenho escolar.
Os alunos apresentaram os cartazes que elaboraram durante os encontros
realizados com eles. Os itens apresentados foram: ajudar a mãe na cozinha, cuidar
da organização do quarto, guarda os materiais escolares e os brinquedos no local
apropriado, guardar os calçados, fazer as tarefas da escola, ler mais, ouvir mais os
pais. Em relação à escola propuseram: vir com uniforme, entrar na sala logo após o
sinal, copiar o horário para trazer o material adequado nas aulas, falar menos nas
aulas, principalmente quando o professor estiver explicando o conteúdo, andar
quando sair das salas e não correr, desenvolver as atividades solicitadas pelos pro-
fessores.
Os professores também se propuseram a explicar o conteúdo, quando não
compreendido, atender os alunos mais individualmente, propor metodologias mais
dinâmicas. Percebeu-se um anseio por parte de todos os segmentos de aperfeiçoa-
rem suas ações dentro da escola, e para tanto é importante que todos estejam enga-
jados.
Alguns professores expuseram a importância dos pais na educação dos fi-
lhos, outros comentaram sobre a importância do Projeto dizendo que apontou pe-
quenas situações que eles não viam, como distribuição das tarefas na família, a im-
portância de acompanhar mais os estudos dos filhos em casa e na escola; enfim
houve uma interação muito boa entre os pais e professores. Uma professora comen-
tou que alguns alunos estão mais atenciosos na sala de aula, mais comprometidos
com os estudos. Outra fez referência quanto organização, em que os alunos estão
mais responsáveis quanto aos materiais. Outra professora acentuou a importância
de se continuar com intervenções, pois a família e a escola precisam estar próximas
para resolver os problemas logo que aparecem.
E por fim os pais propuseram participar mais ativamente das atividades esco-
lares, distribuir melhor as tarefas na família, participar de atividades de lazer com os
filhos e acompanhar melhor as tarefas escolares domiciliares.
5 Considerações Finais
Este trabalho procurou destacar a função da família e da escola diante da (in)
disciplina escolar. Em nossa trajetória percebeu- se fortemente a importância da fa-
mília e da escola cumprirem com suas funções específicas para que os resultados
de aprendizagem sejam satisfatórios.
A visão da família em relação a sua participação na vida escolar de seus fi -
lhos frequentemente está subsumida a apresentar-se para a entrega dos boletins.
Muitos pais têm a visão voltada ao suprimento das necessidades fisiológicas e em
vários casos nem estas são garantidas. Não questionam as ações da escola, desde
que não sejam incomodados, ou seja, não sejam convocados a participar e se res-
ponsabilizar pela educação e aprendizagem dos filhos.
Os professores percebem a ausência das famílias em relação a cumprir sua
função de supervisionar seus filhos em relação às atividades a serem realizadas em
casa, aos materiais a serem utilizados em sala de aula, bem como em relação ao
cumprimento dos horários da escola. Também se queixam com frequência sobre a
inadequação de comportamentos em sala de aula: gritos, dificuldades para ouvir,
desrespeito aos seus professores, seus colegas e funcionários da escola.
Em relação aos professores, notou-se que os mesmos anseiam por pais en-
volvidos nas atividades escolares de seus filhos. No entanto, é necessário que os
professores considerem que a prática docente envolve várias questões que extrapo-
lam o “saber a matéria” que vai ensinar. É necessário aperfeiçoar constantemente
seus modos de interagir com crianças e adolescentes uma vez que estes se desen-
volvem rapidamente. O desejo de que os pais saibam os conteúdos para ajudá-los
nas tarefas não é pertinente, pois muitos não possuem escolaridade para tal e quan-
do possuem muitas vezes nem lembram mais determinados conteúdos uma vez que
muitos de nós somos frutos de uma educação formal que primou pela repetição e
memorização.
Dentro da proposta trabalhada, muitas discussões surgiram e alguns cami-
nhos foram apontados. Quando se aborda a temática da educação e em especial a
da disciplina escolar, há que se entender que estes são temas processuais, que ne-
cessitam de um certo tempo para mudar, não se altera um comportamento em pou-
co tempo; mas na realimentação constante e principalmente nas ações coletivas.
Os professores devem propiciar aos seus alunos um ensino de qualidade,
eles são responsáveis pela aprendizagem de seus alunos. Neste caso, as ações pe-
dagógicas devem focalizar também as relações afetivas e emocionais, pois estas in-
terferem diretamente no entrosamento e na boa interação entre professor e aluno, e
entre alunos e alunos e, consequentemente, na aprendizagem.
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