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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO IPPUR - INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL
DOUTORADO EM PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL
JUPIRA GOMES DE MENDONÇA
SEGREGAÇÃO E MOBILIDADE RESIDENCIAL NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE
RIO DE JANEIRO 2002
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO IPPUR - INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL
DOUTORADO EM PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL
JUPIRA GOMES DE MENDONÇA
SEGREGAÇÃO E MOBILIDADE RESIDENCIAL NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE
Tese apresentada ao Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional-IPPUR, da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Planejamento Urbano e Regional.
Orientador: Prof. Dr. Luiz César de Queiróz Ribeiro
RIO DE JANEIRO
2002
iii
FICHA CATALOGRÁFICA
Mendonça, Jupira Gomes de M539s Segregação e mobilidade residencial na Região Metropolitana de
Belo Horizonte. - Rio de Janeiro: UFRJ. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, 2002.
xvii.252 fls.: il. Orientador: Luiz César de Queiróz Ribeiro Tese (Doutorado ) - Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional 1. Segregação sócio-espacial 2. Mobilidade resedencial
3. Dinâmica imobiliária I. Ribeiro, Luiz César de Queiróz II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional III. Título
CDD : 300
iv
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO IPPUR - INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL
DOUTORADO EM PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL
JUPIRA GOMES DE MENDONÇA
SEGREGAÇÃO E MOBILIDADE RESIDENCIAL NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE
Esta Tese foi julgada adequada para obtenção do título de Doutor em Planejamento Urbano e Regional e aprovada em sua forma final pelo Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Federal da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
___________________________________ Prof. Jorge Natal, Dr. Coordenador de Ensino
Banca Examinadora:
___________________________________ Prof. Luiz César de Queiróz Ribeiro, Dr. Orientador
___________________________________ Profa. Lúcia Maria Machado Bógus, Dra.
___________________________________ Profa. Luciana Corrêa do Lago, Dra.
___________________________________ Prof. Ralfo Edmundo da Silva Matos, Dr.
___________________________________ Prof. Ségio de Azevedo, Dr.
v
Para meus pais.
Para Leopoldo.
vi
AGRADECIMENTOS
A tarefa de elaborar uma tese é muitas vezes chamada de rito de passagem. Posso dizer
que, no meu caso, esta é uma metáfora muito apropriada.
Depois de vinte anos no mercado de trabalho como técnica do planejamento urbano,
trabalhando em órgãos públicos estaduais e municipais, decidi dedicar-me ao ensino e à
pesquisa nesta área. A entrada na Universidade, como docente, foi então acompanhada do
programa de doutorado em planejamento urbano e regional do IPPUR/UFRJ. Início de uma
caminhada em uma nova direção.
No trabalho técnico, os problemas do cotidiano na maioria das vezes dominam o esforço
intelectual, na busca de soluções, e nesta lide o conhecimento da realidade fica situado,
também muitas vezes, no plano do senso comum.
No trabalho realizado na Universidade, ao contrário, o esforço de compreensão e explicação
da realidade exige a permanente vigilância epistemológica e pressupõe a ruptura com o
senso comum. Usando a expressão de Bourdieu: a vigilância epistemológica se impõe
particularmente no caso das ciências do homem, nas quais a separação entre a opinião
comum e o discurso científico é mais imprecisa do que em outros casos. O esforço
intelectual implica, desta maneira, um novo diálogo com o real. Implica delimitar o filtro
através do qual o objeto real será novamente olhado. Novamente, e sob novos ângulos.
Desse olhar surgem novas perguntas. O real se impõe e ao mesmo tempo impõe buscar
novas categorias, avançar no objeto teórico, buscar novas explicações.
O trabalho de tese significou, para mim, caminhar na aprendizagem desse movimento – rito
de passagem para uma nova maneira de trabalhar a realidade. Nesse caminho, felizmente
não estive sozinha. Ao contrário, contei com inúmeras formas de apoio, parceria e
solidariedade.
A entrada na UFMG foi acompanhada do apoio e grande ajuda do professor, economista e
amigo Maurício Borges Lemos, inicialmente na preparação para o concurso público e
posteriormente na elaboração do primeiro projeto de pesquisa, com a qual iniciei minha vida
acadêmica, e que deu origem à proposta de trabalho no Doutorado. Nessa pesquisa, contei
com o inestimável apoio financeiro da FAPEMIG e da Pró-Reitoria de Pesquisa (PRPQ) da
UFMG, que permitiram criar uma infra-estrutura de trabalho e desenvolver meus primeiros
esforços de compreensão dos processos recentes de estruturação do espaço metropolitano
de Belo Horizonte. No desenvolvimento desse trabalho, e até mais recentemente, muitas
pessoas, várias das quais até então eu não conhecia, abriram portas para a coleta de
informações sobre a RMBH – Região Metropolitana de Belo Horizonte: Márcio Rennó,
Mauro Milagres e Luis Carlos Sette, da Cemig; Teodomiro Camargo, Daniel Furletti e Ieda,
do Sinduscon; Antônio Gomes, da Secretaria de Estado da Fazenda; Raimundo do Vale, da
vii
Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral; Roberval Bacha, da Telemig;
Flávia Mourão, Júlio de Marco e Maria Silvia, da Secretaria Municipal de Atividades Urbanas
(hoje Secretaria Municipal de Regulação Urbana); Mônica Bedê, da Secretaria Executiva do
Conselho Municipal de Política Urbana; Eugênia Bossi, Jânio Bragança, Telma Palhares,
Ângelo Rizzo Neto, Márcio Gonçalves e Jairo, da Prodabel; Luiz Antônio, Adriano Miglio e
Raquel Ferreira, do IPEAD/UFMG; Vanessa e Regina Vasconcelos, do Departamento de
Informações Técnicas da Secretaria Municipal de Planejamento; Dinamar, Neusa e Elieth,
da Fundação João Pinheiro; Júlio Pires, Sandra Balbino e Sérgio Moraleida, da Secretaria
Municipal da Fazenda (hoje Secretaria Municipal de Finanças); Sr. Waldir e Eng. Takahashi,
da Sudecap; Maria Caldas, assessora da Secretaria de Coordenação Municipal de Políticas
Urbanas. A todos, os meus agradecimentos pelo apoio e valiosa colaboração. Naquele
momento trabalhávamos juntos, o economista Marcelo Cantini Santos, Bolsista de
Aperfeiçoamento, e os estudantes de arquitetura Maurício Guimarães Goulart e Marcela
Guimarães Godoy, Bolsistas de Iniciação Científica, os quais, além do levantamento de
informações importantes para o trabalho, compartilhavam comigo o esforço de análise e o
entusiasmo no desenvolvimento da pesquisa. Com Ercílio compartilhei a aprendizagem na
elaboração de mapas digitais, tendo contado também com a colaboração de Alexandre, da
Fundação João Pinheiro.
O desenvolvimento do doutorado no IPPUR/UFRJ, lugar de uma diversidade rica em
processos e produtos, foi particularmente frutífero na minha caminhada. Quero prestar meu
reconhecimento na pessoa de três professores: Hermes Magalhães Tavares, que transmite
o estímulo ao estudo e à vontade de saber, tirando lições dos erros – tive sorte de estudar
com ele logo no primeiro semestre; Henri Acselrad, quem me ajudou a abrir o caminho da
ruptura e sedimentou a consciência da prática científica; por fim, tive a sorte de ser
orientada por Luiz César de Queiróz Ribeiro, que, desde a primeira hora, com paciência e
compreensão, ajudou-me a tirar leite das pedras. A ele devo ainda a felicidade de elaborar
um trabalho de tese dentro de um esforço coletivo de reflexão: participar da Pesquisa
“Metrópole, desigualdades sócio-espaciais e governança urbana”, apoiada pelo
PRONEX/CNPq, sob a coordenação geral do Professor Luiz César, foi fundamental para o
meu esforço individual de desenvolvimento da tese – um trabalho que geralmente é tão
solitário foi oportunidade de discussão e reflexão coletiva. Neste grupo, sob a orientação e a
coordenação do Luiz César nunca me senti sozinha. Ainda no IPPUR não posso deixar de
mencionar os funcionários Jussara e Josemar, sempre prestativos quando deles precisei.
No Observatório de Políticas Urbanas e Gestão Municipal, onde está sediada a
coordenação geral da Pesquisa “Metrópole, desigualdades sócio-espaciais e governança
urbana”, sempre contei também com a inestimável ajuda da Rosa, da Cynthia, do Peterson
e do Paulo.
viii
Durante o Programa de Doutorado, contei ainda com o apoio da CAPES e da UFMG,
através do PICDT - Programa Institucional de Capacitação Docente e Técnica. Tive também
a oportunidade de passar um ano na Columbia University, em New York, através de bolsa
sanduíche, estudando com o Professor Peter Marcuse, cujo espírito crítico e provocador em
muito ajudaram no meu crescimento intelectual – me apoiaram naquele momento,
novamente a CAPES e a Fulbright.
Nas constantes viagens ao Rio, o cansaço foi vencido pela generosa hospitalidade e pelo
carinho do tio Vicente e da tia Alair.
Ainda a ajuda de outros amigos foi fundamental. Na primeira vez em que mencionei nomes
da Fundação João Pinheiro, omiti propositalmente o Professor José Moreira de Souza, a
quem quero fazer agradecimentos especiais: não fosse a sua colaboração em discussões
importantes e na disponibilização de valiosos dados da Pesquisa de Origem e Destino de
1992, parte substancial desta tese não teria sido possível. Da mesma forma, o Professor
João Gabriel Teixeira, o meu amigo Japão, do Centro de Estudos Urbanos –
CEURB/UFMG, deu contribuições fundamentais, através de discussões, não só acerca das
informações da Pesquisa de Origem e Destino, como também durante todo o
desenvolvimento do trabalho de análise das categorias sócio-ocupacionais e da tipologia
sócio-espacial construída para a RMBH e sobretudo na delimitação das unidades espaciais
utilizadas para agregação de dados, juntamente com José Moreira.
Lúcia Bógus e Luciana Corrêa do Lago deram contribuições muito importantes, por ocasião
da defesa do projeto de tese. Da Luciana tomei ainda muito tempo, na discussão sobre a
evolução sócio-espacial da RMBH. Espero de algum modo poder retribuir tão preciosa
ajuda. A elas e aos professores Ralfo Matos e Sérgio Azevedo agradeço antecipadamente a
participação na banca examinadora desta tese.
Ainda durante o desenvolvimento da pesquisa, o trabalho compartilhado com a equipe do
Observatório de Políticas Públicas da PUC-Minas gerou frutos acadêmicos e pessoais. Ali,
encontrei, além da colaboração, a amizade de Lena Godinho, Cristina Cezarino, Luciana
Andrade, Naiane e Victor.
Na Escola de Arquitetura da UFMG, meu local de trabalho, o apoio e a solidariedade de
muitas pessoas ajudaram a pavimentar o caminho; ali contei com a constante ajuda de
Vilma e Aline, funcionárias do Departamento de Urbanismo, e com a solidariedade de
inúmeros colegas e amigos. Fernanda de Moraes foi um estímulo permanente, não só como
chefe de departamento, mas como amiga e leitora de vários dos textos preliminares da tese.
Maria Lúcia Malard, além do grande estímulo, assumiu parte substancial na orientação da
dissertação de Alfio Conti, quando me ausentei do país. Renato César, Maria del Mar e José
Cabral carregaram o piano nos momentos finais, quando precisei de tempo para a
conclusão dos trabalhos. Inúmeros outros colegas de trabalho prestaram solidariedade, de
diversas formas. Cometerei injustiças se continuar mencionando nomes. No nível
ix
institucional, o apoio do Departamento de Urbanismo às minhas demandas foi fundamental
para a elaboração desta tese.
Amigos não faltaram nessa caminhada, dos quais a ajuda em muitos momentos, a amizade,
o estímulo e a compreensão pelas minhas ausências foram combustível imprescindível:
Gina Rende, Heloisa Soares, Lenice, Lígia Largura, Maria Caldas, Solange Ribeiro, Tia
Halza, meus pais, irmãos (Moema e o restante da tribo), cunhados e cunhadas, sobrinhos,
afilhadas, enteados (quase-filhos). Finalmente, Leopoldo, meu companheiro querido, tem
sido fundamental nessa e em outras caminhadas. Com permanente estímulo e entusiasmo,
desde a minha decisão de optar pela vida acadêmica até a conclusão deste trabalho,
carregou muitos pianos e segurou muitas tensões e ansiedades, apoiando-me nos
momentos de desânimo e compartilhando as alegrias dos avanços. A ele e a meus pais e
dedico esta tese.
x
SUMÁRIO INTRODUÇÃO 001 1. SEGREGAÇÃO E MOBILIDADE: A PROBLEMÁTICA TEÓRICA E O MODELO
METODOLÓGICO 008 1.1 – A noção de segregação 009 1.2 – Segregação, mobilidade residencial e dinâmica imobiliária 015 1.3 – Segregação e reestruturação econômica 021 1.4 – Segregação na Região Metropolitana de Belo Horizonte – opções metodológicas 026
2. FORMAÇÃO DO ESPAÇO METROPOLITANO DE BELO HORIZONTE 030 2.1 – Gênese 031 2.2 – Expansão urbana e conurbação 034 2.3 – Estrutura produtiva e mercado de trabalho 039 2.4 – Crescimento demográfico e expansão territorial 049
3. ESTRUTURA SOCIAL DA METRÓPOLE 058 3.1 – A estrutura social da Região Metropolitana de Belo Horizonte em 1991 063 3.2 – Evolução da estrutura social nos anos oitenta 077 3.3 – Anos noventa: tendências do espaço social na metrópole belo-horizontina 081
4. A ORGANIZAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL DA METRÓPOLE BELO-HIZONTINA 088 4.1 – A topografia social da metrópole 086 4.2 – A geografia da segregação sócio-espacial na RMBH 104 4.3 – A evolução da segregação sócio-espacial nos anos oitenta 111
5. MOBILIDADE RESIDENCIAL E DINÂMICA DAS TRANSFORMAÇÕES SÓCIO-ESPACIAIS 125 5.1 – Dinâmica demográfica e mobilidade residencial 131 5.2 – Espaço metropolitano e mobilidade residencial 140
5.2.1 – Classificação demográfica do espaço geográfico 141 5.2.2 – Posição social e mobilidade residencial 146
5.3 – Estado, mercado e mobilidade residencial 163
6. MOBILIDADE E PROVISÃO DA MORADIA 168 6.1 – O quadro da provisão de moradia na RMBH 170 6.2 – A geografia das diversas formas de provisão de moradias 176 6.3 – Expansão do mercado imobiliário em Belo Horizonte e transformações sócio-espaciais 183 6.4 – Mercado de terras e segregação sócio-espacial 192
7. CONCLUSÕES 200 ABSTRACT 209 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 210 ANEXO A – Construção das categorias sócio-ocupacionais 217
ANEXO B – Unidades Espaciais Homogêneas (UEH) – Metodologia de regionalização da RMBH 228
ANEXO C – Metodologia de construção da tipologia sócio-espacial 236 ANEXO D – Densidade de representação das categorias sócio-ocupacionais por UEH 239 ANEXO E – Construção dos grupos sociais a partir dos dados da pesquisa de origem
e destino de 1992 245 ANEXO F – Belo Horizonte – Relação de bairros e tipo sócio-espacial 1991 247
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 - Região Metropolitana De Belo Horizonte – 1991 007 Figura 2.1 - Planta da Cidade coordenada pelo Eng. Aarão Reis 031 Figura 2.2 - RMBH – Mancha urbana em 1920 032 Figura 2.3 - RMBH – Mancha urbana em 1936 033 Figura 2.4 - RMBH – Complexos Ambientais 035 Figura 2.5 - RMBH – Grandes Intervenções dos anos 40 036 Figura 2.6 - RMBH – Mancha urbana nos anos 50 038 Figura 2.7 - RMBH - Crescimento Populacional 1970 –1980 050 Figura 2.8 - RMBH – Mancha urbana 1977 051 Figura 2.9 - RMBH - Crescimento Populacional 1980 –1991 053 Figura 2.10 - RMBH – Macro-unidades 054 Figura 2.11 - RMBH - Crescimento Populacional 1991 – 2000 055 Figura 3.1 - RMBH - Aglomeração Metropolitana 061 Figura 4.1 - RMBH – Unidades espaciais com ausência de categorias dirigentes 098 Figura 4.2 - Belo Horizonte – localização industrial 101 Figura 4.3 - RMBH – Divisão Municipal e Tipologia Sócio-espacial 1991 105 Figura 4.4 - Belo Horizonte – Zona Sul – Tipologia Sócio-espacial 1991 108 Figura 4.5 - RMBH – Divisão Municipal e Tipologia Sócio-espacial 1980 111 Figura 4.6 - RMBH – Tipologia sócio-espacial 113 Figura 4.7 - RMBH – Evolução Sócio-espacial 1980-1991 (por município) 119 Figura 5.1 - RMBH – Divisa Municipal e Crescimento Populacional 1980-1991
por UEH 127 Figura 5.2 - RMBH – Crescimento Populacional das UEH-favelas – 1980-1991 129 Figura 5.3 - RMBH – Saldo de Mobilidade 1980-1991 133 Figura 5.4 - RMBH – Macro-unidades eTipologia Demográfica por UEH 142 Figura 5.5 - RMBH – Áreas Demograficamente Fechadas – 1982/1992 161 Figura 5.6 - RMBH – Áreas Demograficamente Abertas – 1982/1992 162 Figura 6.1 - RMBH – Unidades espaciais caracterizadas por conjuntos residenciais 173 Figura 6.2 - RMBH – Moradias em conjuntos residenciais e em favelas 178 Figura 6.3 - Belo Horizonte e Contagem – concentração de apartamentos – 1991 180 Figura 6.4 - Belo Horizonte – Divisão de bairros e tipologia sócio-espacial em 1991 185 Figura 6.5 - Belo Horizonte – bairros situados em áreas de aburguesamento e que
concentram apartamentos de padrão alto construídos nos anos oitenta 189 Figura 6.6 - RMBH – Concentração de lotes por UEH e modelo de parcelamento 195 Figura 6.7 - RMBH – Tipologia Sócio-espacial 1991 e Expansão de condomínios
no Eixo Sul 198 Figura 1 (Anexo B) - Unidades Espaciais Homogêneas de Favelas 230 Figura 2 (Anexo B) - Unidades Espaciais Homogêneas 232
xii
LISTA DE TABELAS, QUADROS E GRÁFICOS
Tabela 2.1 - Região Metropolitana de Belo Horizonte - Participação na população e no emprego em Minas Gerais (%) 039
Tabela 2.2 - Região Metropolitana de Belo Horizonte e Brasil - Distribuição das pessoas ocupadas (na semana anterior) com 14 anos ou mais 046
Tabela 2.3 - Distribuição do PIB Metropolitano, por Setor Industrial - 1985/1995 047 Tabela 2.4 - Região Metropolitana de Belo Horizonte -Taxa de desemprego setorial
(média de 1996) 048 Tabela 2.5 - Região Metropolitana de Belo Horizonte - Crescimento Demográfico
Anual (%) 049 Tabela 2.6 - Região Metropolitana de Belo Horizonte - População e Saldo Migratório
– 1970-1980 052 Tabela 2.7 - Região Metropolitana de Belo Horizonte - Crescimento populacional
– 1970-2000 056 Quadro 3.1 - Sistema de Hierarquização Social das Ocupações 063 Tabela 3.1 - Região Metropolitana de Belo Horizonte - Distribuição das Categorias
Sócio-Ocupacionais e Crescimento efetivo das Categorias Sócio- Ocupacionais entre 1980 e 1990 064
Tabela 3.2 - Regiões Metropolitanas e Brasil - Distribuição da população ocupada por grupo sócio-ocupacional em 1991 065
Tabela 3.3 - Região Metropolitana de Belo Horizonte - Composição de gênero das categorias sócio-ocupacionais 068
Tabela 3.4 - Distribuição das Faixa de Rendimento Total Nominal do indivíduo por grupo sócio-ocupacional (salário mínimo) – 1980 e 1991 071
Tabela 3.5 - Distribuição dos grupos sócio-ocupacionais por Faixa de Rendimento Total Nominal do indivíduo (salário mínimo) – 1980 e 1991 072
Tabela 3.6 - Anos de estudo por grupo sócio-ocupacional – 1991 073 Tabela 3.7 - Composição de cor/raça por grupo sócio-ocupacional – 1991 073 Tabela 3.8 - Condições de saneamento por grupo sócio-ocupacional – 1991 075 Tabela 3.9 - Densidade domiciliar por grupo sócio-ocupacional – 1991 075 Tabela 3.10 - Posse de bens materiais por grupo sócio-ocupacional – 1991 075 Tabela 3.11 - Distribuição e crescimento anual dos grupos sócio-ocupacionais
– 1980, 1991 e 1999 083 Tabela 3.12 - Distribuição do pessoal ocupado nas atividades econômicas
Brasil e principais Regiões Metropolitanas – 1992 e 1999 085 Gráfico 3.1 - Espaço social das metrópoles 086 Tabela 4.1 - RMBH - Distribuição das Categorias Sócio-ocupacionais pelos tipos
(números absolutos) – 1991 093
xiii
Tabela 4.2 - RMBH - Distribuição das Categorias Sócio-ocupacionais pelos tipos (%) – 1991 093
Tabela 4.3 - RMBH – Composição dos tipos (%) – 1991 094
Tabela 4.4 - RMBH – Composição dos tipos (densidade) – 1991 094 Tabela 4.5 - RMBH - Distribuição das Categorias Sócio-ocupacionais pelos tipos
(números absolutos) – 1980 095 Tabela 4.6 - RMBH - Distribuição das Categorias Sócio-ocupacionais pelos tipos
(%) – 1980 095 Tabela 4.7 - RMBH – Composição dos tipos (%) – 1980 096 Tabela 4.8 - RMBH – Composição dos tipos (densidade) – 1980 096 Tabela 4.9 - RMBH – 1991 – Distribuição da População Total e da População
Ocupada e Renda Média Familiar por Tipo Sócio-Espacial 104 Tabela 4.10 - RMBH – Número de Unidades Espaciais Homogêneas por Tipo
Sócio-espacial em 1980 e 1991 117 Tabela 5.1 - RMBH –Número de Unidades Espaciais Homogêneas por
Tipo de Evolução Sócio-Espacial e por Tipo de Crescimento Populacional 130
Tabela 5.2 - RMBH – Distribuição dos fluxos entre macro-unidades, por Fluxos de Entrada 134
Tabela 5.3 - RMBH – Distribuição dos fluxos entre macro-unidades, por Fluxos de Saída 135
Tabela 5.4 - RMBH – Composição por faixa de renda dos fluxos de entrada segundo o tipo de saldo de mobilidade da Unidade Espacial Homogênea 136
Tabela 5.5 - RMBH – Composição por faixa de renda dos fluxos de saída segundo o tipo de saldo de mobilidade da Unidade Espacial Homogênea 136
Tabela 5.6 - RMBH – Distribuição do total de famílias e das famílias que se mudaram entre 1982 e 1992 por faixa de renda 137
Tabela 5.7 - RMBH - Distribuição dos grupos familiares por macro-área (%) 137 Tabela 5.8 - Distribuição dos fluxos de saída e de entrada mas macro-áreas
por faixa de renda 138 Tabela 5.9 - RMBH - Distribuição dos fluxos de saída e de entrada
no Peri-centro por faixa de renda familiar 140 Tabela 5.10 - Distribuição das Unidades Espaciais Homogêneas
por tipo de evolução sócio-espacial e tipologia demográfica 145 Tabela 5.11 - Distribuição da população ocupada por grupos sócio-ocupacionais
em 1991 e distribuição dos chefes de domicílio ocupados por grupos sociais em 1992 147
xiv
Tabela 5.12 - RMBH – Densidade dos Fluxos de Saída dos grupos sociais que se mudaram entre 1982 e 1992 para outra UEH por Tipo de Evolução Sócio-Espacial das áreas de origem 148
Tabela 5.13 - RMBH – Densidade dos Fluxos de Entrada dos grupos sociais que se mudaram entre 1982 e 1992 para outra UEH por Tipo de Evolução Sócio-Espacial das áreas de destino 148
Tabela 5.14 - RMBH – Distribuição dos Fluxos de Saída dos grupos sociais que se mudaram entre 1982 e 1992 para outra UEH por Tipo de Evolução Sócio-Espacial das áreas de origem 150
Tabela 5.15 - RMBH – Distribuição dos Fluxos de Entrada dos grupos sociais que se mudaram entre 1982 e 1992 para outra UEH por Tipo de Evolução Sócio-Espacial das áreas de origem 150
Tabela 5.16 - RMBH – Distribuição dos fluxos de entrada e de saída das UEH que permaneceram com o mesmo tipo sócio-espacial por grupo social 151
Tabela 5.17 - RMBH – Origem e Destino dos chefes de domicílio posicionados no Grupo Dirigente que se mudaram para outra UEH entre 1980 e 1992 152
Tabela 5.18- RMBH – Origem e Destino dos chefes de domicílio posicionados nos Grupos Médios que se mudaram para outra UEH entre 1980 e 1992 154
Tabela 5.19 - RMBH – Origem e Destino dos chefes de domicílio posicionados no Operariado Industrial que se mudaram para outra UEH entre 1980 e 1992 155
Tabela 5.20 - RMBH – Origem e Destino dos chefes de domicílio posicionados no Operariado em Geral que se mudaram para outra UEH entre 1980 e 1992 157
Tabela 5.21 - RMBH – Origem e Destino dos chefes de domicílio posicionados no Sub-proletariado que se mudaram para outra UEH entre 1980 e 1992 158
Tabela 6.1 - RMBH – Distribuição do tipo de moradia por tipo sócio-espacial 174 Tabela 6.2 - RMBH – Distribuição do tipo de moradia por tipo de evolução
sócio-espacial – 1980 e 1991 174 Tabela 6.3 - RMBH – Relação entre a distribuição dos novos apartamentos e a
distribuição do total de moradias – 1980-1991 175 Tabela 6.4 - RMBH – Relação entre a distribuição dos novos apartamentos e a
distribuição do total de moradias nas áreas onde não houve mudança de tipo entre 1980-1991 176
Tabela 6.5 - Belo Horizonte – Distribuição dos apartamentos por tipologia sócio-espacial segundo as fontes de informação 184
Tabela 6.6 - Belo Horizonte – Distribuição dos apartamentos por período de construção segundo o padrão de acabamento 186
xv
Tabela 6.7 - Belo Horizonte – 1980 – Distribuição dos apartamentos por Padrão e Áreas segundo a Tipologia Sócio-Espacial de 1991 187
Tabela 6.8 - Belo Horizonte – 1980 – Distribuição dos apartamentos por Áreas e Padrão 187
Tabela 6.9 - Belo Horizonte – 1991 – Distribuição dos apartamentos por Padrão e Áreas segundo a Tipologia Sócio-Espacial de 1991 187
Tabela 6.10 - Belo Horizonte – 1991 – Distribuição dos apartamentos por Áreas e Padrão 187
Tabela 6.11 - Belo Horizonte – Distribuição dos apartamentos existentes em 1980 e em 1991 por padrão e tipo de evolução sócio-espacial 188
Gráfico 6.1 - Belo Horizonte – Área de apartamentos construída por ano 191 Tabela 6.12 - RMBH - Distribuição dos lotes aprovados entre 1980 e 1990 por
Tamanho de lote e tipo de evolução sócio-espacial 193 Tabela 6.13 - RMBH - Distribuição dos loteamentos aprovados por área média dos
lotes – 1980/1990 194 Quadro 1 (AnexoA) - Composição das Categorias Sócio-ocupacionais 217 Quadro 2 (Anexo B) - Relação das Unidades Espaciais Homogêneas, Macro-região
e Município 233
xvi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais
BNH – Banco Nacional de Habitação
CDI – Companhia de Distritos Industriais de Minas Gerais
CINCO – Centro Industrial de Contagem
COHAB – Companhia de Habitação
CURA – Comunidade Urbana de Recuperação Acelerada
DI – Distrito Industrial
FJP – Fundação João Pinheiro
FRIMISA – Frigoríficos Minas Gerais S/A
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INDI – Instituto de Desenvolvimento Industrial
INOCOOP – Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais
MBR – Minerações Brasileiras Reunidas
METAMIG – Metais Minas Gerais S.A.
PBH – Prefeitura de Belo Horizonte
PLAMBEL – Planejamento da Região Metropolitana de Belo Horizonte
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar
PRONEX/CNPq – Programa de Apoio aos Núcleos de Excelência do Conselho Nacional de Pesquisa
PUC-Minas – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
RMBH – Região Metropolitana de Belo Horizonte
RMC – Região Metropolitana de Curitiba
RMPA – Região Metropolitana de Porto Alegre
RMR – Região Metropolitana do Recife
RMRJ – Região Metropolitana do Rio de Janeiro
RMSP – Região Metropolitana de São Paulo
SAGMACS – Sociedade para a Análise Gráfica e Mecanográfica Aplicada aos Processos Sociais
SEPLAN-MG – Secretaria de Estado do Planejamento de Minas Gerais
SINDUSCON – Sindicato das Indústrias de Construção.
TRANSMETRO – Transportes Metropolitanos
UEH – Unidades Espaciais Homogêneas
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
xvii
Resumo
A compreensão das alterações na configuração sócio-espacial e das atuais formas de segregação na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), no contexto da reestruturação produtiva e das conseqüentes mudanças no mercado de trabalho, constitui o objetivo principal dos estudos desenvolvidos. Foi realizado um esforço de análise compreensiva da região metropolitana, a partir um conjunto de dados que permitem a observação das estruturas sociais e demográficas, bem como o movimento e a distribuição da população no território, destacando-se os Censos Demográficos de 1980 e de 1991, a Pesquisa de Origem e Destino realizada pelo governo do Estado de Minas Gerais na RMBH, em 1992, o Cadastro Imobiliário Municipal de Belo Horizonte e informações sobre loteamentos aprovados durante os anos oitenta. O estudo partiu da construção de categorias representativas da hierarquia social, apoiada na noção de centralidade do trabalho na estruturação e no funcionamento da sociedade. A representação do espaço social no território metropolitano foi analisada através de uma tipologia sócio-espacial, construída com o auxílio da análise fatorial. O espaço metropolitano mostrou-se socialmente segregado, com uma hierarquia descendente do centro para a periferia. Internamente às diversas áreas há distinções, dadas pelas particularidades históricas, mas no conjunto a estrutura social metropolitana tornou-se mais complexa durante a década, com maior diferenciação do espaço social. As transformações apontam para o aprofundamento do processo de auto-segregação das categorias socialmente superiores e para a contínua expulsão dos trabalhadores para as periferias mais distantes. O estudo da mobilidade residencial, a qual expressa os movimentos e as lutas pelo posicionamento na hierarquia sócio-espacial, mostrou que o crescimento populacional negativo ou abaixo da média metropolitana nas áreas centrais e peri-centrais e o simultâneo adensamento das áreas periféricas foram resultado de um movimento populacional interno à região metropolitana. De um modo geral, a intensa mobilidade residencial ocorrida naquela década resultou em nova mescla de grupos sociais no território, com alterações na organização sócio-espacial metropolitana. Destacam-se o transbordamento territorial das categorias dirigentes, simultâneo ao esvaziamento relativo dos grupos operários e populares das áreas mais centrais; o espraiamento também das categorias médias, mesclando-se ao operariado industrial moderno e mudando o perfil sócio-espacial principalmente das áreas situadas eixo industrial; a expulsão de parte do operariado e do sub-proletariado do território do município sede da região metropolitana. O espaço central da metrópole tem sido locus da expansão do mercado imobiliário residencial orientado para os segmentos médios. A mesmo tempo, a expansão territorial dos loteamentos populares para periferias mais distantes, mantém o movimento de periferização. Surge ainda um novo padrão de auto-segregação das categorias dirigentes, na forma dos condomínios fechados, cuja expansão ocorreu a partir de áreas contíguas aos espaços superiores. Em síntese, não se apresentou, durante os anos oitenta, na RMBH, uma ruptura nos processos de estruturação sócio-espacial mas, ao contrário, o aprofundamento de tendências dadas desde a formação da metrópole, sobressaindo-se o contínuo processo de periferização e o seu oposto, qual seja, o aprofundamento da auto-segregação das categorias dirigentes nas áreas centrais.
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INTRODUÇÃO A crise das grandes cidades tem sido uma das marcas do final do século XX e começo
do século XXI. Poluição, déficit habitacional, congestionamentos nos sistema de
transportes, violência urbana e, fundamentalmente, enormes desigualdades sociais,
têm caracterizado as metrópoles de todo o mundo e, particularmente, dos países da
América Latina. No Brasil, ao fim do último século, mais de 80% da população vivia
nas cidades, com expressiva concentração nas regiões metropolitanas.
Simultaneamente, mudanças profundas no sistema produtivo capitalista têm estado
em curso, desde o último quartel do século passado, com grandes impactos sobre o
sistema urbano. Destacam-se os avanços da eletrônica e das telecomunicações, o
crescimento dos serviços financeiros e das corporações transnacionais, as mudanças
nos processos produtivos industriais, a precarização das relações de trabalho e uma
mobilidade dos fluxos de capital em uma velocidade nunca vista antes. Os impactos
dessas mudanças na organização sócio-espacial das metrópoles tem sido objeto de
debates, com diferentes posições acerca das transformações em curso e suas
tendências.
A realização de estudos de caso sobre as metrópoles brasileiras tem grande
relevância neste cenário, e pode contribuir para as análise sobre o futuro das nossas
metrópoles e para a definição de políticas públicas orientadas para a redução das
desigualdades sociais e os processos de segregação urbana.
O trabalho aqui apresentado visa aprofundar a compreensão desses processos e tem
como objeto as atuais formas de segregação sócio-espacial na Região Metropolitana
de Belo Horizonte (RMBH) – a segregação entendida como materialização da
hierarquia social –, sob a ótica da mobilidade residencial, entendida como forma de
luta pela apropriação dos recursos urbanos. A análise está associada às mudanças na
macro-estrutura produtiva e no mercado de trabalho e a mecanismos específicos da
dinâmica imobiliária.
2
A tese defendida é a de que não se apresenta, na RMBH, uma ruptura nos processos
de estruturação sócio-espacial mas, ao contrário, o aprofundamento de tendências
dadas desde a formação da metrópole. A partir da análise de dados relativos à década
de oitenta, e algumas inferências possibilitadas por dados mais gerais sobre os anos
noventa, observa-se que, ainda que tenha havido maior complexificação da estrutura
sócio-espacial, com maior mistura dos grupos sociais no território, no nível macro tem
prevalecido e se aprofundado a dinâmica centro-periferia. Aprofunda-se o movimento
de auto-segregação das categorias dirigentes e aumenta a distância social entre essas
categorias e os trabalhadores em geral, cristalizada na forma de contínuo movimento
de periferização dos segmentos operários e populares. Ao mesmo tempo, as classes
médias vão se espraiando pelo território, aproximando-se, em um dos extremos, dos
grupos operários e, no outro, das categorias dirigentes – desta forma, o espaço central
da metrópole tem sido locus da expansão do mercado imobiliário residencial orientado
para os segmentos médios.
Alguns dos processos estão em consonância com as mudanças apontadas nas
análises sobre a dinâmica mais geral, associada às novas formas de acumulação
capitalista em nível mundial. Não há, entretanto, como compreender os processos
específicos de uma região, sem considerar as suas particularidades históricas – no
caso da Região Metropolitana de Belo Horizonte, destacam-se a forte presença do
Estado e a consolidação de uma estrutura industrial vinculada ao recursos naturais
presentes na região.
A relevância metodológica do trabalho está em que, à diferença dos estudos que
fragmentam a cidade e a analisam por partes, propõe um estudo compreensivo da
região metropolitana. Essa possibilidade é dada por um conjunto de dados que
permite a observação das estruturas sociais e demográficas, bem como o movimento
e a distribuição da população no território.
A exposição da análise foi organizada em seis capítulos principais e um capítulo final
de conclusão.
O primeiro capítulo visa apresentar os caminhos escolhidos para o desenvolvimento
do trabalho, explicitando alguns conceitos que suportam a análise e apontando o
modelo metodológico utilizado. Buscou-se uma delimitação conceitual da segregação
e a compreensão de suas relações com a mobilidade residencial e com o mercado
3
imobiliário. Além disto, são explicitados aspectos metodológicos fundamentais para o
desenvolvimento da análise.
O capítulo 2 contextualiza a região objeto do estudo empírico, apresentando breve
histórico da formação e desenvolvimento do espaço metropolitano. São enfatizadas as
suas especificidades, particularmente o desenvolvimento de uma estrutura produtiva
industrial vinculada aos recursos naturais presentes na região - com base na produção
de bens intermediários e, em um segundo momento, em bens duráveis e de capital – e
a forte presença do Estado, responsável pela criação e construção da capital, no final
do século XIX, e pela estruturação dos principais eixos de expansão metropolitana, ao
longo do século XX. Uma rápida apresentação dos principais aspectos da dinâmica
demográfica na segunda metade do último século introduz a descrição de suas
características mais recentes, destacandose a desconcentração populacional das
áreas mais centrais e o adensamento das áreas mais periféricas.
No capítulo 3 é apresentada uma análise do espaço social da Região Metropolitana de
Belo Horizonte, a partir de variáveis que permitem mostrar a posição relativa dos
indivíduos. A construção da hierarquia social está suportada na noção de centralidade
do trabalho na estruturação e no funcionamento da sociedade. A partir de dados dos
Censos Demográficos de 1980 e de 1991, foi possível construir uma proxy da
estrutura social, combinando a variável ocupação com outras como posição na
ocupação, setor de atividade, escolaridade e renda. A partir daí, é apresentada uma
descrição do espaço social metropolitano no início dos anos noventa e uma análise de
suas principais transformações ao longo dos anos oitenta. Destacam-se, em primeiro
lugar, o maior crescimento do pessoal ocupado em relação à população como um
todo; em segundo, a maior participação de segmentos vinculados ao terciário na
composição da população ocupada; em terceiro, uma queda generalizada no
rendimento dos diversos grupos sociais, com maior concentração das categorias
dirigentes na faixa acima de vinte salários mínimos; e, em quarto lugar, a precarização
das relações de trabalho, embora o espaço social da RMBH ainda estivesse, no início
da década de 90, suportado por uma estrutura mais formal do mercado de trabalho,
relativamente ao país como um todo. Finalmente, é apresentada uma análise sucinta
de algumas mudanças ocorridas nos anos noventa, com base em dados da PNAD-
Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar, destacando-se a permanente
diminuição na participação do operariado industrial no conjunto da população ocupada
e uma tendência para o crescimento das extremidades da estrutura social, em relação
4
às camadas intermediárias – o espaço social da metrópole belo-horizontina apresenta-
se , no final dos anos noventa, mais polarizado do que o das duas maiores metrópoles
do país.
No capítulo 4 é analisada a materialização, no nível territorial, da desigualdade
presente no espaço social metropolitano. Foi construída uma tipologia sócio-espacial
a partir da verificação da distribuição das categorias sócio-ocupacionais no espaço
metropolitano e de sua representação em cada unidade espacial, em relação à média
metropolitana e em relação umas às outras. Esta tipologia constituiu instrumento de
análise das alterações ocorridas nos anos oitenta na organização sócio-espacial da
região metropolitana. O auxílio da análise fatorial permitiu observar, de um lado, a
oposição fundamental de classe no espaço metropolitano e, de outro, uma hierarquia
metropolitana, que opõe os espaços periféricos, mais heterogêneos, aos espaços mais
centrais e urbanos, diferenciados pelas camadas médias. A tipologia sócio-espacial
mostrou, tanto para 1980, quanto para 1991, um espaço geograficamente segregado,
em que a hierarquia social descende do centro para a periferia. Internamente a cada
tipo de espaço há distinções, dadas pela história de ocupação de cada lugar e
observadas através das diferentes composições entre os grupos sociais. No conjunto,
a estrutura social metropolitana se tornou mais complexa, com maior diferenciação do
espaço social - há maior mistura de segmentos médios com operários e de operários
com segmentos populares. De um modo geral, no entanto, as transformações
ocorridas na década apontam para o aprofundamento do processo de auto-
segregação das categorias dirigentes e dos profissionais de nível superior nas áreas
mais centrais e suas regiões vizinhas, a sul, e para a contínua expulsão dos
trabalhadores para as periferias mais distantes.
Se no capítulo descrito anteriormente a organização sócio-espacial metropolitana é
analisada a partir de duas fotografias, representadas pelas tipologias sócio-espaciais
presentes em 1980 e em 1991, no capítulo 5 é apresentada uma análise do
movimento ocorrido na década, a partir do estudo da mobilidade residencial1, a qual
expressa os movimentos e as lutas pelo posicionamento na hierarquia sócio-espacial e
se coloca, portanto, como uma forma de mobilidade social. O crescimento
populacional negativo ou abaixo da média metropolitana nas áreas centrais e peri-
1 Este estudo foi possível graças à disponibilização dos dados de uma Pesquisa de Origem e Destino realizada em 1992 e processada no final da década pela Fundação João Pinheiro. Mais uma vez,
5
centrais e o simultâneo adensamento das áreas periféricas, onde as taxas anuais de
crescimento demográfico permaneceram altas, foram resultado de um movimento
populacional interno à região metropolitana, cuja dinâmica imprimiu transformações
expressivas na organização sócio-espacial da região. De um modo geral, a intensa
mobilidade residencial ocorrida naquela década apresentou um movimento
socialmente descendente, em que os grupos familiares realizam fluxos no território
metropolitano tendo como destino áreas de menor renda média do que a renda média
da área de origem. O resultado é uma nova mistura de grupos sociais no espaço
geográfico e uma nova correlação entre esses grupos nas várias áreas específicas,
com alterações na organização sócio-espacial metropolitana. Destacam-se, em
primeiro lugar, o transbordamento territorial das categorias dirigentes, simultâneo ao
esvaziamento relativo dos grupos operários e populares das áreas mais centrais; em
segundo, o espraiamento também das categorias médias, mesclando-se ao
operariado industrial moderno e mudando o perfil sócio-espacial principalmente das
áreas situadas eixo industrial; em terceiro lugar, a expulsão de parte do operariado e
do sub-proletariado do território do município sede da região metropolitana. Em
síntese, as transformações sócio-espaciais do espaço metropolitano são resultantes
do saldo da mobilidade residencial, em um movimento geográfico de permanente
periferização dos segmentos operários e populares.
O capítulo 6 apresenta uma análise específica da dinâmica imobiliária, importante
mecanismo de estruturação da metrópole. Inicialmente é apresenta uma descrição do
quadro de provisão de moradias durante os anos oitenta, com base nos Censos
Demográficos, cujos dados sobre o tipo da residência são representativos das
diversas formas de produção imobiliária. As formas capitalistas de provisão da
moradia, representadas pela produção de apartamentos, estão concentradas nos
espaços socialmente superiores, localizados na área central e na zona sul do
município de Belo Horizonte. A análise desse mercado foi possível a partir dos dados
do Cadastro Imobiliário Municipal. O espraiamento de categorias médias e superiores,
nos anos oitenta, correspondeu à expansão das fronteiras do segmento concorrencial
do mercado. Em que pese aquela ter sido uma década de expansão também do
segmento monopolista, este permanece contido nas fronteiras dos espaços
superiores, onde as categorias dirigentes se concentram cada vez mais. A expansão
territorial do segmento concorrencial, na realidade, criou as condições para a
agradeço ao Professor José Moreira de Souza a possibilidade de trabalhar com informações tão importantes geradas por essa pesquisa.
6
mobilidade das classes médias na direção das áreas peri-centrais. O mercado de
terras, cuja lógica acompanha o mercado capitalista de provisão de moradias,
apresentou, durante a década, duas características principais: de um lado. A expansão
territorial dos loteamentos populares para periferias mais distantes, mantendo o
movimento de periferização. De outro lado, inaugurou um novo padrão de auto-
segregação das categorias dirigentes, na forma dos condomínios fechados, cuja
expansão ocorreu a partir de áreas contíguas aos espaços superiores. Em síntese, o
capítulo mostra que a expansão do mercado imobiliário capitalista é significativa
durante os anos oitenta e constituiu importante mecanismo de mudança na estrutura
sócio-espacial da região.
Finalmente, o capítulo 7 apresenta uma síntese geral do trabalho e aponta as
principais conclusões, destacando-se que as alterações manifestas na RMBH não
representam ruptura na organização sócio-espacial da região, mas, ao contrário,
consolidam tendências expressas desde os primórdios da formação metropolitana: se,
no nível micro, há maior mistura social e um continuum espacial, que vai se
proletarizando e tornando mais popular à medida em que se avança para as áreas
mais periféricas, no nível macro reproduz-se a dinâmica centro-periferia, com
crescente suto-segregação das categorias sociais superiores e crescente
distanciamento social manifestado no território.
Por fim, é importante destacar que esta tese é parte de um trabalho coletivo de
pesquisa, realizada sob a coordenação do Professor Luiz César de Queiróz Ribeiro,
com o apoio do PRONEX/CNPq, envolvendo as principais regiões metropolitanas do
país.
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1. SEGREGAÇÃO E MOBILIDADE: A PROBLEMÁTICA TEÓRICA E O MODELO METODOLÓGICO
La investigación empírica no necesita comprometer tal teoría [teoría general y universal del sistema social] para escapar al empirismo, siempre que ponga en práctica efectiva, en cada una de sus operaciones, los principios que lo constituyen como ciencia, proporcionándole un objeto caracterizado por un mínimo de coherencia teórica. (Bourdieu, 1972:15).
O desenvolvimento da análise sobre a estruturação sócio-espacial metropolitana
requer a delimitação dos principais conceitos que lhe deram suporte, alguns dos quais
são objeto de controvérsias. Desvendar a dinâmica de estruturação das cidades hoje,
conhecer seus processos, suas implicações e suas explicações, implica uma escolha
teórica2.
O próprio uso da noção de segregação, primeiro enunciado da tese aqui apresentada,
pode apresentar diferenças que é preciso explicitar. A análise do espaço social, como
espaço de posições relativas, em que os princípios da divisão e da segregação são
naturalizados no senso comum, é o ponto de partida para a compreensão da
organização sócio-espacial e suas relações com a mobilidade social e a dinâmica
imobiliária. A centralidade do trabalho na estruturação e no funcionamento da
sociedade é o princípio para a análise dessa estrutura social.
Explicitar cada um dos momentos da análise, delimitando conceitos e apresentando os
caminhos metodológicos, é o objetivo deste capítulo.
2 Se nossos conceitos são inadequados ou incoerentes, já disse Harvey (1979), não é de se esperar que possamos identificar os problemas.
9
1.1 – A noção de segregação
Uma das principais críticas à noção de segregação refere-se a ela como não sendo
precisa o bastante para ser utilizada como uma ferramenta conceitual rigorosa. Além
de limitada a uma acepção empírica e descritiva da distinção espacial entre áreas
residenciais de grupos populacionais, seu conteúdo semântico comporta diversos
elementos, diz Brun (1994), que podem apresentar significados diferentes em
momentos do mesmo discurso, de um mesmo autor: pode significar tanto a
segregação urbana, residencial, espacial, como “segregação escolar”, “segregação
por idade” etc. Nessa medida, a noção apresenta sempre um “halo” de imprecisão,
podendo gerar confusão sobre diferentes sistemas causais.
Por outro lado, comenta Brun, o emprego desse termo é geralmente acompanhado de
uma conotação moral negativa, postulando um consenso sobre a ligação estreita entre
dois tipos de fenômenos, quais sejam, a mistura imperfeita de populações, com a
formação de “zonas” de habitat fortemente diferenciados, e a “marginalização social”.
O emprego da noção pode evocar tanto a não-mistura em um habitat, como a uma
mistura “insuficiente”, entendida como “patologia social”. Desta maneira, a noção de
segregação implica a idéia de discriminação, isto é, a segregação vista como a prática
deliberada de relegar uma fração da população a áreas apartadas. Trata-se de uma
aplicação específica ao que foram as realidades dos guetos negros norte-americanos
ou dos guetos judeus na Europa Oriental, por exemplo.
Um noção próxima a esta refere-se à concentração de frações muito desfavorecidas
da população, relegadas, por sua condição social, a um habitat circunscrito. Trata-se
aqui da problemática da exclusão, da não-integração econômica, social e cultural –
conjuga-se neste caso uma especificidade social muito forte e uma fronteira espacial
(Brun, 1994:27).
Uma outra idéia associada à segregação, diz ainda Brun, é a da distância social, uma
separação a que é submetida uma fração da população e que não é necessariamente
espacial3. Brun afirma que a idéia de uma correspondência estreita entre a distância
3 A noção de distância social é discutida por Grafmeyer, que também a relaciona com uma apartação que não seria necessariamente de natureza espacial. O autor cita Besnard (Dictionnaire de la sociologie) para conceituar a distância social: intervalo mais ou menos grande que separa, no espaço social, as posições de duas ou muitas pessoas pertencentes a diferentes classes sociais, etnias, credo religioso ou sub-
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social4 e sua distância espacial não é fundamental na acepção original da noção de
segregação (Brun,1994:26). Também Grafmeyer afirma que proximidade física não é a
garantia de uma proximidade social, na medida em que o espaço não é o único
obstáculo à comunicação, e a distância social não é sempre mensurável de maneira
adequada em termos puramente físicos (Park , in Grafmeyer, 1994:93).5
Na realidade, podemos observar que ambas as situações, distância social e distância
física, ocorrem nas cidades contemporâneas: a proximidade física entre os grupos
sociais pode ocorrer simultaneamente a uma enorme distância social e uma apartação
de fato, como é o caso das favelas, e até mesmo a uma separação radical, como no
caso dos guetos norte-americanos. Há ainda os casos de auto-segregação nos
“enclaves fortificados” dos grupos de alta renda. Por outro lado, a distância social pode
estar simultaneamente acompanhada da distância física, como é o caso da
experiência de estruturação das metrópoles latino-americanas, na últimas décadas,
em que os grupos de menor renda e posição inferior na hierarquia social têm se
localizado nas periferias urbanas mais distantes.
A idéia da segregação oferecida pelas zonas residenciais de alta renda, auto-
segregadas, apresenta a característica de uma apartação voluntária.
Em síntese, a origem das dificuldades do conceito, diz Brun é a extensão, de natureza
metafórica, do campo de aplicação da noção. Segundo este autor, o dicionário define
a segregação como “ato de segregar”, isto é, mais que a situação resultante, a palavra
designa uma ação. Esta seria uma primeira fonte de ambigüidade, pois a noção de
segregação tem sido utilizada para expressar determinadas situações e resultados,
mais do que processos. É empregada tanto para evocar as situações de não-
cultura ... Certos autores têm falado de distância social vertical para introduzir a noção de diferenças na hierarquia da regulamentação, do poder ou dos recursos (In. Grafmeyer,1994:96). Às diferenças “verticais” entre classes sociais se oporiam, então, diferenças ligadas à origem étnica, à religião ou à sub-cultura, as quais teriam em comum o fato de estarem dispostas em um plano horizontal. A exclusão, de fato ou de direito, de certos lugares públicos, impedimentos profissionais, matrimoniais etc., seriam mais freqüentemente instrumentos de segregação mais importantes do que a separação das áreas residenciais. 4 Para ele um conjunto de critérios, reais ou imaginários, que diferenciam os grupos de população. 5 A Escola de Chicago, da qual Park é a figura mais proeminente, foi pioneira no estudo do meio urbano enquanto “forma original e fundamentalmente instável de ligação entre o espaço e a sociedade”. A cidade, diz Park, é o meio particular que, longe de constranger o indivíduo a se adaptar, suscita excentricidades: ela multiplica os vínculos não orgânicos de pequenos grupos ou de ‘regiões morais’. Ao lado das cartografias e dos esquemas abstratos de configuração urbana, aparece, no seio da Escola de Chicago, uma outra dimensão da ecologia, que dá como referência a análise morfológica durkheimiana e se quer atenta às diversas ‘formas materiais’ da sociedade (Grafmeyer & Joseph, 1990:35).
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miscigenação social no habitat, tanto como “patologia social” atribuída a esta
insuficiente miscigenação, bem como à dissociação de áreas residenciais de
diferentes categorias sociais.
Grafmeyer(1994) complementa:
Porque ela se situa na junção do social e do espacial, a questão da segregação se encontra ao mesmo tempo no ponto de contato entre muitos registros de análise e muitos níveis de discurso. No ponto de contato e, freqüentemente, também à margem. Noção multiforme, sensível aos contextos históricos como aos modos intelectuais, a segregação é ao mesmo tempo uma categoria de análise e uma categoria prática, pré-noção implícita, instrumento de medição, objeto de discussão entre especialistas e tema de debates públicos (Grafmeyer, 1994: 86).
É necessário, pois, precisar o conceito com o qual estaremos trabalhando, isto é, a
segregação social expressa no espaço residencial urbano. Ainda que possa ter uma
“acepção empírica e descritiva”, tendo sido utilizada “para expressar determinadas
situações e resultados”, como afirma Brun, a segregação é uma situação resultante
das práticas dos grupos sociais na apropriação dos recursos urbanos e, neste sentido,
é também processo.
O espaço urbano é o espaço social físicamente realizado ou objetivado
(Bourdieu,1997), um espaço diferenciado pela posição relativa dos agentes sociais e
pela sua capacidade diferenciada de apropriação dos recursos nele constituídos.
A posição de um agente no espaço social se exprime no lugar do espaço físico em que está situado e pela posição que suas localizações temporárias e sobretudo permanentes ocupam em relação às localizações de outros agentes. [...] É na relação entre a distribuição dos agentes e a distribuição dos bens no espaço que se define o valor das diferentes regiões do espaço social reificado (Bourdieu, 1997: 161).
As estruturas sociais convertidas em estruturas espaciais produzem uma
hierarquização prática das diversas regiões do espaço construido. Esta hierarquização
é, entretanto, naturalizada, como disse Bourdieu, isto é, as oposições sociais
objetivadas no espaço físico tendem a se reproduzir nos espíritos e na linguagem.
Desenvolve-se, assim, uma cidade segregada, em que a hierarquia social e a
apropriação desigual dos recursos urbanos é reproduzida em uma diferenciação social
naturalizada nas estruturas mentais.
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Os princípios da divisão e da segregação na cidade são incorporadas ao senso
comum. E mais:
a proximidade no espaço físico permite que a proximidade no espaço social produza todos os seus efeitos facilitando ou favorecendo a acumulação de capital social” [...]. Inversamente, os que não possuem capital são mantidos à distância, seja física, seja simbolicamente, dos bens socialmente mais raros ... (Bourdieu,op.cit:164).
Grafmeyer propõe três abordagens da noção de segregação, em geral restritas à
dimensão residencial mas, segundo ele, conceitualmente distintas, que vão se colocar
como aspectos complementares no estudo da estruturação urbana e metropolitana.
Em primeiro lugar, diz o autor, a noção de segregação faz referência a diferenças de
localização de grupos definidos em função de critérios como posição social, origem,
religião etc. Comparando-se dois grupos, complementa, pode-se medir a amplitude de
sua “dissimilaridade”, isto é, medir e comparar o grau de contraste ou similitude entre
eles. Ao mesmo tempo, comparando-se o esquema de distribuição de um grupo
particular em relação ao resto da população, pode-se medir o grau de concentração,
ou de segregação deste grupo. Trata-se aqui de uma abordagem que,
independentemente das possibilidades de medição quantitativa do grau de similitude
entre grupos sociais e do grau de segregação de cada um deles, coloca uma questão
de fundo: a posição relacional dos agentes no espaço social e sua tradução no espaço
físico, construído. A segregação é, pois, uma categoria que expressa a hierarquia
social no território.
Uma segunda forma de abordar a segregação coloca ênfase nas chances desiguais
de acesso aos bens materiais e simbólicos ofertados pela cidade, e menos sobre o
fato das distâncias sociais entre grupos. Segundo Grafmeyer, na interpretação
weberiana as categorias e os grupos sociais são situados sobre um continuum
orientado segundo o nível dos recursos, o lugar ocupado na escala de prestígio e de
honra social ou, ainda, segundo os graus de participação na vida pública. A análise
marxista ressalta o jogo das relações sociais como princípio das desigualdades de
condições e de posições6. Em um caso como em outro, a localização residencial é
6 Harvey (1989) identifica três tipos de forças determinantes da diferenciação social: a) uma força primária, decorrente das relações entre capital e trabalho; b) uma variedade de forças secundárias, decorrentes do caráter contraditório e evolucionário do capitalismo – divisão do trabalho e especialização de funções, padrões de consumo e estilos de vida, relações de autoridade e barreiras às chances de mobilidade social; e c) forças residuais refletindo as relações sociais estabelecidas em modos de produção anteriores (p.117).
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considerada como a tradução material de lógicas coletivas que, para além da questão
de proximidades e distâncias entre grupos, coloca aquela dos respectivos lugares na
estrutura social ou nas relações de força que atravessam e modelam o mundo social
(Grafmeyer, 1994: 89). Neste caso, é a igualdade, mais que a assimilação, que é a
base e o contraponto para a medição da segregação. Aqui, são levantadas novas
questões, também relevantes para a análise. Se a segregação expressa a hierarquia
social no território, ela é também continente e conteúdo das lutas pela apropriação dos
bens e recursos distribuídos no espaço físico, enfim, pela apropriação do espaço
construído7. É continente, na medida em que é resultado dessas lutas, sejam elas no
plano individual ou coletivo. E também conteúdo, uma vez que é parte integrante
dessas lutas: como disse Bourdieu, a capacidade de dominar o espaço depende do
capital que se possui; ao mesmo tempo, a proximidade no espaço físico permite que a
proximidade no espaço social produza todos os seus efeitos, facilitando ou
favorecendo a acumulação de capital social (Bourdieu,1997:164).
Não há, entretanto, homologia absoluta entre posição social e chances desiguais de
apropriação dos recursos urbanos. Há mecanismo importantes em jogo, destacando-
se o papel do Estado e o movimento do mercado imobiliário. A ação estatal, seja
executando obras e definindo a distribuição de parte significativa dos recursos
urbanos, seja regulando a relação entre os diversos agentes na ocupação e uso do
solo, ou ainda regulando as relações sociais no sistema produtivo, interfere
diretamente nas relações de força subjacentes às lutas pela apropriação do espaço
construído.
Também o mercado imobiliário é mecanismo relevante na relação entre hierarquia
social e segregação residencial, seja através da criação de novos espaços construídos
(antecipando renda), seja através da criação de espaços diferenciados, símbolos de
poder e prestígio, ou ainda da alteração do uso do solo.
Na terceira abordagem proposta por Grafmeyer, o tema da segregação aparece ligado
às figuras de enclave, dos bolsões e do gueto, não se reduzindo, entretanto, aos
“bolsões de pobreza”, podendo ser mobilizado para qualificar mais amplamente toda
forma de concentração espacial associada estreitamente às populações
desfavorecidas ao território circunscrito - em todo caso a conotação negativa é
7 A segregação “não é tão somente uma diferenciação de lugares, mas uma capacidade de deslocamento e de acesso em relação aos pontos estratégicos da trama urbana” (Castells,1978:216).
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manifesta, diz o autor. Ele lembra, no entanto que, para Park e para Wirth, o enclave
étnico não é tido intrinsecamente como ruim, pelo equilíbrio que ele permite entre a
tradição e a adaptação, entre a tolerância e o conflito - preservando os modelos
culturais, as instituições e as formas de sociabilidade típicas da comunidade original, o
enclave étnico limita os efeitos desorganizadores do “choque de culturas”, ao preço de
uma segregação espacial que regula o jogo das proximidades e das distâncias com o
grupo dominante. Trata-se, aí, da integração progressiva do imigrante na sociedade.
Nas cidades do capitalismo periférico, essa abordagem se aplica fundamentalmente
ao estudo dos processos migratórios, intensos nos anos setenta, em que as relações
de parentesco e amizade são importantes no processo de integração ao novo meio
urbano e ao mercado de trabalho. O sentimento de identidade e de pertença a uma
comunidade é, para o migrante, fator de segurança e constitui parte de sua estratégia
de sobrevivência.
A abordagem pode se aplicar também, e aqui é o sentido que interessa ao trabalho, a
processos mais contemporâneos de criação de enclaves de alta renda, como geração
de espaços diferenciados. Configura-se uma auto-segregação, como forma de manter
à distância ou de excluir toda espécie de intrusão indesejável, constituindo o que
Bourdieu denominou “ganho de ocupação”.
As três abordagens propostas por Grafmeyer correspondem, em síntese, a três
dimensões da estruturação das cidades contemporâneas: a segregação enquanto
expressão da hierarquia social, enquanto expressão das lutas pela ocupação de
posições na hierarquia sócio-espacial e enquanto expressão de reconhecimento
simbólico coletivo, de identidade e de posição relativa, que exclui o outro. Desta
maneira, compõem o modelo metodológico para o desenvolvimento do trabalho, que
visa compreender e explicitar a materialização do espaço social de uma região
metropolitana específica nos processos de segregação espacial, bem como os
movimentos desse processo, através do estudo da mobilidade residencial e de suas
conexões com o mercado imobiliário.
15
1.2 – Segregação, mobilidade residencial e dinâmica imobiliária
A mobilidade residencial diz respeito a fluxos intra-urbanos ou intra-metropolitanos
implicando mudança de moradia – difere, portanto, do movimento pendular, que
pressupõe o retorno ao ponto de partida, e também das migrações de longa distância,
em que a mudança de residência não é sua característica principal, mas sim aspectos
ligados principalmente a alterações econômicas e ao mercado de trabalho (Bassand et
Brulhardt, 1980). A mobilidade constitui um movimento no território que está
fortemente relacionado ao lugar que cada família ocupa na hierarquia social, lugar que
expressa a posição relativa e a distância que separa cada um dos agentes sociais. A
estrutura do espaço social se manifesta, como diz Bourdieu (1997), sob a forma de
oposições espaciais, o espaço habitado (ou apropriado) funcionando como uma
espécie de simbolização espontânea do espaço social. Não há espaço, em uma
sociedade hierarquizada, que não seja hierarquizado... (p.160).
Harvey (1979) lembra que, se por um lado, a localização dos equipamentos e serviços
urbanos implica que a população não se beneficia homogeneamente, nem em
quantidade nem em qualidade desses bens, por outro, a adaptação dos diferentes
grupos sociais às mudanças na estrutura urbana apresenta velocidades distintas.
Particularmente os grupos com recursos financeiros e educação são capazes de
adaptar-se de modo mais rápido a uma alteração no sistema urbano. A noção de
acessibilidade (que Harvey diferencia da noção de proximidade8) e das desiguais
oportunidades de acesso passa a ser importante para compreender os processos de
distribuição geográfica da população e de seus movimentos no território. A
acessibilidade [às oportunidades de trabalho, aos recursos e aos serviços sociais], diz
Harvey, só pode ser obtida pagando um preço, comparado, em geral, com a distância
e o tempo utilizado para alcançar essa acessibilidade.
As mudanças na localização da atividade econômica dentro de uma cidade significam mudanças na localização das oportunidades de trabalho. As mudanças na localização da atividade construtora significam mudanças na localização das oportunidades de moradia. Ambas as mudanças estão provavelmente relacionadas com as mudanças nos gastos de transporte. As mudanças na disponibilidade de transporte influem diretamente sobre o custo do acesso às oportunidades de trabalho (Harvey, op.cit.:58).
8 Proximidade, para Harvey, é “o efeito de estar junto a algo que não é diretamente utilizado” - o autor dá como exemplo morar próximo a uma fonte de poluição, o que vai implicar gastos da família, seja com lavanderia, isolamento acústico etc.)
16
Desta maneira, mudar de residência, para uma família, vai estar relacionado com a
sua busca e a sua capacidade de ter acesso aos recursos urbanos, incluindo não só a
moradia, mas fundamentalmente, os equipamentos e serviços urbanos e as
oportunidades de trabalho. Dado que a apropriação dos recursos urbanos é, no
capitalismo, intrinsecamente desigual, a conseqüente divisão social do espaço9 faz
com que a mobilidade residencial surja como fruto dessa divisão social e expresse, ao
mesmo tempo, uma mobilidade social. Na medida em que os agentes sociais são
dotados de oportunidades diferentes de apropriação dos bens e serviços gerados pela
urbanização, a sua localização no espaço físico será resultado de lutas, que podem
ocorrer de forma coletiva, quando há confronto pela definição das políticas públicas,
por exemplo, ou individual, na forma de mudança de residência, por exemplo.
Bourdieu aponta a mobilidade espacial como um forma individual de luta pela
apropriação do espaço e “um bom indicador dos sucessos ou dos revezes alcançados
nessas lutas e, mais amplamente, de toda a trajetória social” (Ibidem:164).
Os ganhos decorrentes das disputas pelo espaço (ou “lugares e locais do espaço
social reificado“) e pelos benefícios que ele proporciona são de natureza distinta, ora
relacionados à renda auferida pela propriedade do solo, ora relacionados a posição
(“ganhos simbólicos de distinção”) ou ainda àquilo que Bourdieu denominou “ganhos
de ocupação”, ou seja, a posse de um espaço físico podendo manter à distância ou
excluir a intrusão desejável (Idem:163). O espaço hierarquizado é, portanto, o espaço
da segregação.
A segregação vista como resultado das lutas pela apropriação dos recursos urbanos é
decorrente da noção de que a estruturação interna das cidades contemporâneas não
pode ser compreendida senão a partir da lógica de acumulação capitalista.
O desenvolvimento da aglomeração é determinado pela constante tendência do capitalismo a reduzir o tempo de produção e o tempo de circulação do capital [...] economizar os gastos acessórios de produção, os gastos de circulação e os gastos de consumo, com o objetivo de acelerar a velocidade de rotação do capital e, por conseguinte, aumentar o período em que o capital está produzindo (Lojkine, 1979: 146).
A própria urbanização produz e reproduz as condições gerais de acumulação. Em
primeiro lugar, através de um conjunto de infra-estruturas físicas necessárias à
9 “O poder sobre o espaço que a posse do capital proporciona se manifesta no espaço físico apropriado sob a forma de uma certa relação entre a estrutura espacial da distribuição dos agentes e a estrutura espacial da distribuição dos bens e serviços” (Bourdieu,1997: 160)
17
produção, à circulação e à distribuição de mercadorias. Em segundo lugar, através dos
equipamentos coletivos necessários à reprodução da força de trabalho. Por fim, a
articulação, no território, desse conjunto de equipamentos e infra-estrutura, bem como
do conjunto de empresas capitalistas, conforma o que Topalov (1978) e Lojkine (1979)
denominaram efeitos úteis da aglomeração, ou valor de uso complexo. A articulação
espacial desses elementos produz uma concentração e uma diferenciação econômica
do espaço. Cada agente econômico busca a localização que permita vantagens
comparativas na produção e distribuição de bens, e a tendência é que o solo seja
ocupado pelas atividades econômicas e pelas camadas sociais que mais podem pagar
pelo seu uso. Dessa forma, a terra, no capitalismo, é transformada em mercadoria10 e
adquire um preço, que é a forma da renda fundiária apropriada pelo proprietário
quando este permite a sua utilização. À diferenciação entre os espaços econômicos,
materializados na forma do preço do solo, vai corresponder também uma
diferenciação entre os espaços de moradia11.
O fato de que há demandas diferentes por solo urbano faz com que haja uma tendência a se construir uma hierarquia de mercados fundiários em função dos produtos finais, e, consequentemente, uma hierarquia de uso do solo urbano (Ribeiro,1997: 73).
A aglomeração de atividades, equipamentos e infra-estrutura, enfim, o conjunto de
recursos urbanos, apresenta-se, então, desigualmente distribuída no espaço. A
localização, neste contexto, torna-se uma relação social, um produto da disputa entre
agentes e grupos sociais12. Desta maneira, a acessibilidade não é dada exatamente
pela distância, mas pelas possibilidades de acesso ao valor de uso complexo.
A distribuição das pessoas no território da cidade será, portanto, resultante do acesso
desigual aos recursos urbanos, e o uso residencial é submetido à lógica capitalista de
organização do espaço.
10 uma mercadoria ‘fictícia’ como denominou Polanyi (1980), na medida em que não é produto do trabalho humano e, como tal, não tem valor 11 Em cada cidade, diz Topalov, articulam-se os espaços produtivos que correspondem aos distintos estágios da divisão capitalista do trabalho e os espaços residenciais que resultam da sucessão de conjunturas históricas da estrutura de classes e dos sistemas de produção da habitação(TOPALOV, 1984:168). 12 Se as atividades desenvolvidas no marco urbano estão organizadas em termos capitalistas, as diferenças na eficiência com a qual cada terreno possa servir-lhes de apoio se traduzirá em diferenças no valor que cada capitalista situado em cada um deles poderá atrair para si. Desta maneira, estabeler-se-á uma luta entre os diferentes capitalistas individuais por localizar-se nos melhores terrenos no que diz respeito à sua própria atividade e, desta maneira, captar o máximo de valor excedente cuja obtenção é o motor de sua atividade (Jaramillo, 1977:25).
18
A distribuição desigual dos recursos urbanos e a conseqüente hierarquização do solo
urbano em termos de preço terá dois resultados importantes para a análise aqui
realizada: de um lado, como vimos, a mobilidade residencial como forma de luta pela
apropriação dos recursos urbanos e também como forma de mobilidade social; de
outro, o surgimento do sobre-lucro de localização13, motor do mercado imobiliário e,
portanto, de mudanças de uso do solo e de criação de territórios de distinção
simbólica.
A localização é uma particularidade do setor imobiliário, dado o seu papel na
composição do sobrelucro do setor, na medida em que:
a) como vimos, o valor de uso complexo é desigualmente distribuído segundo uma
divisão social diferenciada do espaço, gerando uma diferenciação de preços do solo;
b) o capital imobiliário busca antecipar as oportunidades em termos de valorização do
espaço e absorver a maior parte das rendas fundiárias.
As rendas fundiárias são de três tipos: em primeiro lugar, a renda absoluta, imposta
pela propriedade jurídica do solo, que não gera uma renda para o proprietário, mas lhe
dá o poder de substrair sua terra à exploração até que as condições econômicas
permitam uma valorização da mesma que lhe confira um excedente14 (Marx,1980:
962); em segundo lugar, a renda diferencial, dada pelo rendimento desigual das
distintas parcelas submetidas a quotas de capital similares, relacionada, portanto às
características físicas do terreno, às condições de infra-estrutura e também às
possibilidades legais de uso e ocupação15. Por fim, a renda de monopólio nasce do
fato de existir um fator especial, irreprodutível, pelo qual existe alguém disposto a
13 O sobrelucro de localização surge quando um incorporador consegue comprar o terreno por um preço estabelecido por um determinado uso, para nele realizar um empreendimento que permite um uso mais rentável (Ribeiro, 1997:129). 14 A natureza da renda absoluta consiste no seguinte: capitais de igual magnitude em esferas distintas de produção produzem, segundo sua diversa composição média, com a mesma taxa de mais-valia ou a mesma exploração do trabalho, diferentes massas de mais-valia. Na indústria, essas diferentes massas de mais-valia se nivelam para constituir o lucro médio e se distribuem uniformemente entre os diferentes capitais como entre partes alíquotas do capital social. A propriedade do solo, na medida em que a produção necessita da terra, tanto para a agricultura como para a extração de matérias-primas, obstaculiza este nivelamento dos capitais investidos na terra e intercepta uma parte da mais-valia, que de outro modo entraria no nivelamento para formar a taxa geral de lucro. A renda constitui então uma parte do valor, mais especificamente da mais-valia das mercadorias, só que em lugar de corresponder à classe capitalista, que a extraiu dos trabalhadores cai em mãos dos proprietários da terra, que a extraem aos capitalistas (Marx, 1980: 980).
19
pagar; tratam-se de preços regulados, não pelas condições de produção, mas pelas
necessidades e disponibilidades financeiras dos compradores – é a materialidade do
simbólico, produzido pela sociedade, enquanto venda da excepcionalidade.
Na medida em que as condições de localização são diferenciadas, os mecanismos de
regulação da produção também são diferentes, gerando a formação de distintas
formas de produção de moradia. Ribeiro (1997) identifica dois grandes segmentos de
produção: o capitalista e o não-capitalista.
O segmento não capitalista corresponde ao segmento “popular” , ou mercado de
“periferia”, o qual não é exclusivamente regulado pelas condições capitalistas de
produção, o que não quer dizer que não haja mercado. A terra, neste caso, ainda não
foi submetida à lógica do capital, ainda haja uma regulação geral. Corresponde a
todas as formas de auto-produção de moradia, que têm como traço comum o fato de
não ser a acumulação de capital que orienta a produção, mas a produção de valores
de uso [...] constituem moradias-mercadorias, não-capital (Ribeiro, 1997:123).
O segmento capitalista de produção de moradias pode ser dividido em três
submercados: o submercado de cooperativas e companhias de habitação; o
submercado normal, ou concorrencial, e o submercado monopolista (Ribeiro,
1997:124). No primeiro, o produto não circula necessariamente como capital, na
medida em que o promotor é um organismo público ou os próprios compradores: não
é a apropriação de um lucro que orienta a produção. Isto é possível pela função direta
ou indiretamente exercida pelo Estado, que, financiando com subsídios a produção e a
comercialização, fornece um capital que circula de maneira desvalorizada (Ribeiro,
op.cit.:124).
O segmento concorrencial atua em áreas com condições de localização mais comuns,
isto é, áreas em que o que se está vendendo não é a excepcionalidade, mas o produto
industrial moradia. Os preços são regulados pelas condições gerais de produção e há
um papel menos destacado da localização na formação do sobre-lucro. Este é o
segmento de mercado que o setor imobiliário denomina normal, utilizando esta
denominação para caracterizar o tipo de produto resultante.
15 Todos os tipos de renda diferencial funcionam sob o mesmo princípio: sua origem é o fato de um capital utilizar condições excepcionais de produtividade, o que lhe permite produzir em condições superiores à média (Ribeiro, 1997).
20
O segmento monopolista de mercado atua em função das desigualdades espaciais,
onde os mecanismos de formação de preços não são regulados pelas condições
gerais de produção, mas pelo desejo e a capacidade de compra dos consumidores,
por uma escassez dadas por condições de localização irreprodutíveis e pelo grau de
diferenciação, real ou simbólica, seja pelo efeito da localização, seja pela ação do
marketing, ou ainda pela influência da diferenciação das qualidades produtivas
(Ribeiro,1997:126).
Assim, a incorporação imobiliária, que dirige o processo de produção, tomando todas
as decisões sobre o empreendimento16, estará sempre mudando as condições de
valorização do solo, através de diferentes mecanismos: urbanização e ocupação de
novas áreas, alteração de usos e formas de ocupação do solo, mudanças no status
simbólico de determinadas zonas urbanas.
Nessa medida, o mercado imobiliário é uma dimensão explicativa importante da
mobilidade residencial: ao criar novas áreas de ocupação e ao transformar o uso do
solo, constitui mecanismo de seleção e alocação de grupos sociais em sua luta pela
apropriação de recursos desiguais.
16 O agente incorporador faz a articulação entre o processo de produção e o processo de circulação de moradia; a ele cabe a gestão do capital-circulação, através da compra da mercadoria-moradia e do gerenciamento do seu retorno em forma de dinheiro. Será o capital de incorporação que operará o controle de transformação do capital-dinheiro em mercadoria-moradia, dirigirá o processo de produção e assegurará o retorno do capital-moradia novamente em capital-dinheiro (Ribeiro,1997:97).
21
1.3 – Segregação e reestruturação econômica
Outra dimensão explicativa relevante da mobilidade residencial, enquanto expressão
dos movimentos e das lutas pelo posicionamento na hierarquia sócio-espacial, é a
macro-estrutura produtiva e a organização do mercado de trabalho - a mobilidade
espacial dos homens é indissociável da mobilidade espacial dos bens de consumo e
produção, de capitais, de empresas, de tecnologias e de informações (Bassand e
Brulhart,1980). Nessa medida, transformações na estrutura produtiva terão impactos
na distribuição territorial da população e, portanto, na organização sócio-espacial das
cidades.
Desde o final dos anos setenta, o mundo tem passado por alterações profundas no
sistema produtivo e na divisão internacional do trabalho - destacam-se os avanços da
eletrônica e das telecomunicações, o crescimento dos serviços financeiros e das
corporações transnacionais, as mudanças nos processos produtivos industriais, a
precarização das relações de trabalho e uma mobilidade dos fluxos de capital em uma
velocidade nunca vista antes, ou seja, o manejo do capital em um mercado financeiro
integrado globalmente e trabalhando em tempo real (Castells, 1996). A literatura
chama atenção para o predomínio dos serviços financeiros e produtivos
(administração e controle, propaganda e marketing, informação) sobre a produção
industrial nos chamados países desenvolvidos e a exportação da indústria de
transformação para países de industrialização tardia. A este novo quadro econômico
mundial tem sido dada a denominação genérica de globalização17.
Uma parte substancial da análises sobre esses processos tem apontado o surgimento
de novas formas sociais e de organização sócio-espacial decorrentes das alterações
ocorridas. Destacam-se os debates sobre a polarização social e sobre uma suposta
dualidade urbana manifesta sobretudo nas metrópoles e áreas urbanas conurbadas,
denominadas cidades mundiais, ou cidades globais, que constituem, segundo alguns
autores, uma rede mundial que concentra as funções de comando na economia
globalizada (ver Sassen, 1991 e 1994; Friedman e Wolff, 1982 e Friedman, 1986). A
proposição central dessa literatura é que a dispersão geográfica das atividades
17 Não cabe aqui discutir a noção de globalização, mas vale registrar que se trata de um conceito polêmico; Harvey (1996) afirmou que o termo 'globalização' foi largamente promovido pela imprensa financeira no início dos anos setenta, como uma força necessária ao processo de desregulação financeira, como algo progressivo e inevitável, abrindo a oportunidade de novos campos para o capital. É um termo embebido na linguagem do dinheiro e da mercadoria e que entrou para o discurso público e
22
econômicas, combinada à integração global, tem contribuído para um papel
estratégico daquelas cidades que concentram as funções de comando.
Segundo estes estudos, emerge, então, na atualidade uma nova hierarquia urbana,
em escala mundial, em cujo topo está um pequeno número de áreas urbanas
conurbadas, as cidades mundiais (Friedman) ou cidades globais (Sassen). A
economia urbana estaria sendo reconfigurada em torno de um novo tipo de núcleo
econômico, que abrange atividades financeiras e de serviços, principalmente
produtivos, o qual está substituindo o velho núcleo tipicamente industrial e comercial.
Segundo King (1990), enquanto nos países ricos a ênfase mudou da produção para o
“desenvolvimento do produto” (distribuição, propaganda e marketing), nos países
pobres, situados na “periferia global”, as cidades ganharam importância como centros
industriais. Sassen, entretanto, afirma que as tendências das cidades globais
emergiram também em um certo número de cidades do “mundo em desenvolvimento”,
no final dos anos oitenta (São Paulo, Buenos Aires, México, Bangkok, Taipei).
Friedman, por sua vez, estabelece uma hierarquia de cidades mundiais, nas quais
metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro comparecem como cidades mundiais
secundárias.
Esta nova ordem mundial estaria acarretando grande desigualdade interna nas
cidades, em particular nos países desenvolvidos, na medida em que a reestruturação
econômica propicia o crescimento de uma elite transnacional e de um staff de serviços
auxiliares e de consumo pessoal, ao lado do declínio do emprego na indústria de
transformação e do crescimento da economia informal.
Ainda segundo esta visão, o resultado tem sido uma dualidade que Sassen afirma
existir em três níveis. Primeiro, uma dualidade no mundo como um todo: de um lado,
haveria uma rede de cidades globais, com intensa transação entre elas, que
constituem o lugar de comando na organização da economia mundial; do outro lado,
haveria o resto do mundo e as áreas marginalizadas. No segundo nível, a dualidade
estaria se reproduzindo dentro dos países, com uma aguda desigualdade na
concentração de recursos estratégicos e de atividades, entre cada uma destas cidades
[globais] e as outras cidades dentro do país (Sassen, 1994:5)18.
acadêmico sem muita atenção às suas origens de classe e à sua função ideológica. Para esse debate ver também Drainville, 1998 e Smith, 1998. 18 Tradução livre.
23
Finalmente, haveria a dualidade interna à cidade. O resultado dos recentes processos
é, segundo Sassen, uma crescente polarização e a emergência de novas formas
sociais. De um lado, ela aponta a gentrificação19, que embora não se constitua um
processo novo, estaria ocorrendo em uma nova escala. Também a pobreza, diz a
autora, não é nova, mas sim o seu grau de agudização.
As proposições de Sassen e Friedmann têm sido objeto de debates e críticas,
fundamentalmente no que diz respeito à idéia de uma diminuição das classes médias
e de crescente dualização sócio-espacial nas cidades globalizadas20. Como disseram
Castells e Mollenkopf (1991), embora a metáfora da cidade dual constitua um desafio
a explorar as dimensões do crescimento da desigualdade e explique as fontes das
tendências em direção à polarização social, os mecanismos geradores da
desigualdade são muito complexos e a fragmentação resultante é muito grande para
serem capturados em uma simples dicotomia (p.13). Hamnett (1994), trabalhando
dados ocupacionais da Holanda, afirma que nesse país, ao contrário, tem havido um
crescimento das classes médias, dado o aumento de um staff de trabalhadores
qualificados vinculados ao processo produtivo (professional and managerial workers),
decorrente da reestruturação produtiva. Esse autor sugere ainda que a análise de
Friedman e de Sassen fazem extensivas conclusões que são, na verdade, afetas às
cidades norte-americanas, onde o alto índice de migração oriunda dos países pobres
tem gerado uma grande massa de trabalhadores urbanos mal qualificados e mal
remunerados21.
No Brasil, parcela considerável da literatura tem assumido que nos últimos vinte anos
tem havido uma ruptura dos padrões de organização sócio-espacial das grandes
metrópoles em razão do esgotamento do modelo econômico de substituição de
importações e a crescente inserção da nossa economia na globalização22. O modelo
19 Entendida como reocupação das áreas centrais, com solo valorizado, pelas camadas de renda média e alta. Esse processo iniciou-se nos países de industrialização avançada e implica projetos de requalificação urbana. 20 Ver, para esse debate, entre outros: Castells e Mollenkopf (1991), Hamnett (1994), Marcuse (1989), Marcuse & Van Kempen (2000), Preteceille e Ribeiro (1998) e Ribeiro e Santos Júnior (1997) . 21 Alguns autores fizeram uma crítica mais agressiva ao conceito de cidade dual proposto por Sassen, acusando-a de ‘etnocentrismo’. Segundo essa crítica, a autora estaria estendendo para fora dos Estados Unidos, uma realidade que é tipicamente norte-americana, dada, de um lado, pelo grande crescimento da população migrante, em geral clandestina, ocupada sob relações informais de trabalho e, de outro, pelo crescimento de um grupo de alta renda vinculado a atividades financeiras e de controle nas suas principais cidades, destacando-se Nova Iorque e Los Angeles (ver, entre outros, Drainville,1998 e Smith and Garnizo,1998). 22 Ver, entre outros, Caldeira (1996 e 2000), Ribeiro e Lago (1995) e Melo (1995 e 1995b).
24
urbano caracterizado pela combinação de desigualdades, integração e mobilidade
sociais estaria sendo substituído por outro, marcado pela polarização e fragmentação
da estrutura sócio-espacial, auto-isolamento das classes superiores e exclusão
compulsória das antigas classes trabalhadoras, transformadas em segmentos pobres.
A metrópole fragmentada perpetua seu papel histórico de espaço da exclusão social
(Melo,1995:259). Como exemplo, são apresentados os novos padrões de moradia das
populações de alta renda, marcadas pelos sistemas eletrônicos de segurança, pelos
condomínios residenciais fechados e pelos chamados ‘enclaves fortificados’23, ao lado
da extrema precarização das condições de vida dos segmentos mais baixos na
hierarquia social. O padrão centro-periférico de crescimento estaria sendo alterado,
com uma nova aproximação dos grupos sociais no território da cidade, ainda que
separados por muros e tecnologias de segurança.
A oposição centro-periferia continua a marcar a cidade, mas os processos que produziram esse padrão mudaram consideravelmente, e novas forças já estão gerando outros tipos de espaços e uma distribuição diferentes das classes e atividades econômicas. São Paulo é hoje uma região metropolitana mais complexa, que não pode ser mapeada pela simples oposição centro rico versus periferia pobre (Caldeira, 2000:231).
Preteceille e Ribeiro (1998) propõem um zoom nas diversas áreas da cidade, de modo
identificar diferenciações na escala local. Estudando a configuração sócio-espacial de
Paris e do Rio de Janeiro, concluem que não há dualidade nestas cidades, embora as
duas extremidades da escala social estejam se distanciando. Numa visão macro,
dizem os autores, o espaço de ambas as cidades é organizado segundo uma
hierarquia de classes. No nível micro, a análise se torna diferente; primeiro, porque
neste nível a organização do espaço baseada na hierarquia social se torna mais
'fluida', na medida em que a concentração e a sobre-representação de uma categoria
social em um dado espaço não exclui a presença de outras categorias e, segundo,
porque há uma clara identificação da mistura de categorias sociais em diversas
unidades espaciais. As macro diferenças que caracterizavam o território da cidade
fordista, diz Ribeiro, são substituídas por micro e contrastantes diferenças que estão
em toda parte, tornando o território da cidade fractal, isto é, as desigualdades e
diferenças estão reproduzidas em todo o território da cidade (Ribeiro, 2000).
23 Ou ‘edge cities’ como são conhecidos na literatura norte-americana – ver Marcuse & Van Kempen (2000).
25
De um modo geral, a literatura está suportada por uma série de estudos que, se por
um lado trazem contribuições valiosas, por outro, apresentam algumas fragilidades
que é importante ressaltar. Em primeiro lugar, a maior parte das pesquisas trata de
estudos de casos, em que pedaços da cidade são analisados em separado e, nestes
casos, perde-se a visão do conjunto da estrutura. Em segundo lugar, os casos
tomados são, em geral, os extremos da estrutura sócio-espacial, os segmentos e
áreas mais pobres e os setores de alta renda, tais como os estudos sobre as favelas
ou sobre as ocupações periféricas (mais recentemente em áreas de preservação
ambiental) ou os estudos sobre os condomínios fechados e os enclaves dotados de
tecnologia de segurança. Os espaços intermediários relacionados aos setores médios
da sociedade têm sido pouco estudados. Por fim, as variáveis tomadas para descrever
e explicar a estrutura sócio-espacial têm sido relacionadas à renda e às condições de
moradia. Embora estas sejam variáveis a serem consideradas na análise, são,
entretanto, frágeis para o estudo da relação entre as mudanças econômicas e as
transformações sócio-espaciais. Elas podem ajudar na descrição da organização
sócio-espacial, mas não permitem a análise de alterações relacionadas com
mudanças na estrutura produtiva e na divisão social do trabalho.
26
1.4 – Segregação na Região Metropolitana de Belo Horizonte - opções metodológicas
A tese aqui desenvolvida, sobre um caso metropolitano específico, está suportada, em
primeiro lugar, em uma visão de conjunto, de modo a identificar as formas de
organização sócio-espacial da metrópole e suas possíveis alterações no período mais
recente e, em segundo, na variável trabalho como central para a análise das
transformações na estrutura metropolitana.
A análise contemplou uma visão ao mesmo tempo abrangente e desagregada da
região - abrangente, na medida em que os objetivos requerem a identificação de
processos que estão compreendidos em todo o espaço metropolitano, e desagregada,
tendo em vista a compreensão de processos específicos que podem contribuir para a
explicação dos fenômenos mais gerais.
O ponto de partida é a construção de uma hierarquia social que serviu de base para o
desenvovimento da análise, suportada na categoria trabalho. A compreensão acerca
desta categoria é ampliada para além da oposição entre propriedade do capital e
propriedade da força de trabalho, entendendo-se que há distintas posições sociais,
relacionadas ao grau de concentração do capital, posições de autonomia ou
subordinação, de comando ou execução etc. Em outras palavras, no interior da
oposição clássica de classes sociais há outras oposições relevantes, que contam no
posicionamento do indivíduo na estrutura social como um todo. Assim, por exemplo, a
oposição trabalho manual x trabalho não-manual define não apenas a posição na
estrutura produtiva, mas na própria hierarquia social, em que as tarefas braçais
situam-se em estratos reconhecidos socialmente como inferiores. Entre os
trabalhadores não-manuais há aqueles em posição de controle e outros em posições
de execução de tarefas. Em cada uma das posições há um reconhecimento social,
que posiciona o indivíduo em uma hierarquia - os agentes sociais, como diz Bourdieu
(1997), estão situados num lugar do espaço social, que se pode caracterizar por sua
posição relativa e pela distância que o separa deles.
Do ponto de vista empírico, a ocupação foi utilizada como variável principal para a
análise do espaço social24 - o IBGE define como ocupação o emprego, cargo, função,
24 (Merllié et Prévot, 1991) afirmam que a classificação de indivíduos em grupos sociais construídos a partir da profissão e das condições para o seu exercício é uma prática muito comum em pesquisas sociais.
27
profissão etc. exercido durante a maior parte dos 12 meses anteriores à data de
referência do Censo Demográfico25. A partir de dados do Censo Demográfico foi
possível, então, construir uma proxy da estrutura social, combinando a variável
ocupação com outras como posição na ocupação, setor de atividade, escolaridade e
renda26.
Trata-se, por um lado, de localizar os indivíduos nas posições ocupacionais que
formam a divisão social do trabalho vigente na economia metropolitana brasileira e,
por outro, de identificar os agrupamentos que representam posições sociais ou classes
de posições sociais com certa homogeneidade social, formando distintos “milieux
sociaux”, socialmente “re-conhecidos”27. Desta maneira, as ocupações foram
agrupadas em vinte e cinco categorias sócio-ocupacionais representativas do espaço
social metropolitano.
O segundo passo foi encontrar a representação territorial dessa estrutura social, para
o que foi construída uma tipologia sócio-espacial para a região, utilizada como
instrumento para descrever a estrutura metropolitana e sua evolução. A tipologia
sócio-espacial expressa as relações entre as estruturas do espaço social e as
estruturas do espaço físico, através da representação da densidade28 das diversas
categorias e sua combinação no espaço metropolitano.
O recurso utilizado foi o emprego das técnicas de análise fatorial por correspondência
binária e de classificação hierárquica ascendente, através das quais é possível
identificar os índices de “variância” das categorias sócio-profissionais, ou seja, a
regularidade da representação das categorias no espaço da RMBH29. Esse
procedimento permite a construção de um mapa no qual as proximidades e distâncias
25 IBGE, Censo Demográfico de 1991, Documentação dos Microdados, p.35 26 A classificação resultante é produto de um trabalho coletivo de pesquisa financiada pelo PRONEX/CNPq (“Metrópoles, Desigualdades e Governança Urbana”) que utilizou como referência inicial o sistema de classificação das profissões na França, criado no início dos anos cinquenta e aperfeiçoado desde então pelo Institut National d’Économie et Statisque (INSEE) – ver Ribeiro e Lago (2000). 27 O método consiste em encontrar categorias sociais resultantes da combinação de atributos socias desigualmente distribuídos (Desrosières et al., 1983). 28 A densidade é a relação entre a participação da população ocupada que constitui uma dada categoria sócio-espacial em determinada unidade espacial e a sua participação média no conjunto da população ocupada da região metropolitana. 29 A origem da construção desse método remonta a metodologia desenvolvida por Chenu e Tabard (1993)
no início dos anos noventa para o território francês e posteriormente trabalhada por Preteceille em Paris e Luiz César Ribeiro para o Rio de Janeiro e, recentemente, em pesquisa apoiada pelo PRONEX/CNPq em várias metrópoles brasileiras, sob a coordenação de Ribeiro.
28
entre as categorias sócio-ocupacionais no espaço metropolitano revelam estruturas de
propriedades similares ou diferentes. Em outras palavras, o método permite encontrar
unidades espaciais homogêneas entre si, em relação à composição das diversas
categorias sócio-ocupacionais residentes no seu território, e heterogêneas em relação
às demais, pelos mesmos critérios.
A análise da organização sócio-espacial partiu, então, de duas fotografias,
representadas pelas tipologias sócio-espaciais presentes em 1980 e em 1991. Se a
comparação entre as duas estruturas possibilitou analisar a sua evolução, a
associação da tipologia à mobilidade residencial e à dinâmica imobiliária permitiu
compreender os movimentos ocorridos na década e explicar as transformações na
estrutura da metrópole30.
O período de análise abrange fundamentalmente a década de oitenta, por duas razões
principais: a primeira delas, técnico-metodológica, diz respeito à disponibilidade dos
dados do IBGE, principal fonte de informação para a análise da estrutura social na
RMBH. Foram utilizados os Censos Demográficos de 1980 e de 1991, em especial os
dados referentes a escolaridade, renda e ocupação (os quais compõem as categorias
sócio-ocupacionais que estão na base da tipologia sócio-espacial).
A segunda razão para recortar a década de oitenta na análise da estruturação sócio-
espacial da RMBH é de natureza analítica: conhecida na literatura corrente como a
“década perdida”, em que os índices de crescimento econômico foram os mais baixos
da segunda metade do século XX e o país enfrentou crises político-institucionais e
econômicas, naqueles anos estavam sendo consolidadas as grandes alterações
manifestas de forma mais expressiva no último decênio do século. As mudanças
iniciadas ainda nos anos setenta, em particular a desconcentração industrial da
Região Metropolitana de São Paulo, os processos de precarização da força de
trabalho e a diminuição da taxa de crescimento das áreas metropolitanas, em
contraposição ao maior crescimento das pequenas e médias cidades, se tornaram
mais intensos nos anos oitenta.
30 Além dos Censos Demográficos do IBGE, foram ainda utilizados dados da pesquisa de Origem e Destino, realizada em 1992 pela Transmetro-Transportes Metropolitanos e pelo Plambel-Planejamento da Região Metropolitana de Belo Horizonte (órgãos metropolitanos de transportes e de planejamento, já extintos) e processada pela Fundação João Pinheiro, e também informações dos cadastros de loteamentos aprovados, levantados junto ao Governo do Estado/Secretaria de Planejamento-SEPLAN-MG e junto às Prefeituras Municipais, e do Cadastro Imobiliário Municipal de Belo Horizonte.
29
A análise foi desenvolvida em três momentos: no primeiro, o enfoque é para a
estrutura social, tendo como centralidade analítica o trabalho, e suas manifestações no
território, à luz do quadro mais geral relativo à estrutura produtiva e do mercado de
trabalho. O espaço social como um espaço de posições é pressuposto da análise – o
território, nesse sentido, é um espaço diferenciado pela posição relativa dos agentes
sociais e pela suas distintas capacidades de apropriação dos recursos nele
constituídos.
No segundo momento foram analisados os processos recentes da organização sócio-
espacial da RMBH, associando a hierarquia social aos processos de mobilidade
residencial. A mobilidade surge, então, como aspecto empírico fundamental, analisada
através da abordagem da segregação. A utilização de alguns conceitos da sociologia
desenvolvida pela Escola de Chicago, apesar de insuficientes para explicar a
realidade31, foram úteis na organização de categorias de observação empírica que
facilitam a descrição dos processos observados.
No terceiro momento, a abordagem específica de alguns mecanismos do mercado
imobiliário e suas relações com a mobilidade residencial, permitiu melhor explicar os
processos de estruturação sócio-espacial da RMBH.
31 Castells (1978) aponta, como principais críticas à ecologia humana, que; a) sua construção situa-se em um nível formal, uma descrição da realidade; b) trata-se de observações empíricas, sem transformação das observações em conceitos; c) não buscam teorizar as relações entre a espécie humana, seus utensílios e o meio natural.
30
2. FORMAÇÃO DO ESPAÇO METROPOLITANO DE BELO HORIZONTE
Belo Horizonte nasceu duplamente periférica, situada na periferia do sistema capitalista mundial e estruturada internamente a partir de anéis de ‘periferias’ urbanas historicamente definidas (Costa, H., 1994: 68).
Duas marcas que vêm sendo impressas na morfologia sócio-espacial da Região
Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), desde a sua gênese: a segregação urbana e
a forte presença do Estado.
As primeiras formas de ocupação da nova capital de Minas estiveram nas mãos do
poder público: projeto, urbanização e alienação de lotes. Desde então, a estruturação
do território tem sido fortemente orientada pela intervenção estatal, seja com ações
voltadas para o crescimento econômico (incentivos e obras de infra-estrutura urbana),
com impactos diretos nos processos de mobilidade residencial, seja na
regulamentação da produção do espaço. E, desde as ações de implantação da nova
capital, passando pela legislação urbanística que vem sendo elaborada a partir dos
anos trinta e os investimentos em infra-estrutura urbana, concentrados principalmente
nas décadas de sessenta e setenta, os processos de segregação sócio-espacial têm
sido uma constante.
Nos anos recentes, persiste o quadro de segregação. Belo Horizonte se ‘elitiza’: os
segmentos superiores na hierarquia social se concentram em área cada vez mais
restrita e as camadas médias se espraiam, ocupando as periferias imediatas à área
central. Os trabalhadores continuam sendo expulsos para as periferias cada vez mais
distantes na região metropolitana. A possibilidade de ocupação de áreas centrais para
esta população se restringe às favelas, as quais vêm se tornando cada vez mais
densas. No período entre 1980 e 1991, enquanto a população urbana do município
cresceu a uma taxa média de 1,1% ao ano a população moradora de áreas de favela
cresceu o dobro: 2,3% (Guimarães, 2000), embora esse crescimento tenha sido
diferenciado, com menores taxas nas áreas mais centrais e taxas muito elevadas
naquelas localizadas na periferia norte.
31
FIGURA 2.1 - Planta da Cidade coordenada pelo Eng. Aarão Reis
Fonte: Fundação João Pinheiro, Panorama de Belo Horizonte:Atlas Histórico. Belo Horizonte, 1997 (Coleção Centenário).
2.1 – Gênese
A segregação sócio-espacial na
região tem origem na própria
fundação de Belo Horizonte, hoje
núcleo central da região
metropolitana. O engenheiro
Aarão Reis, responsável pela
elaboração do plano da nova
capital, no final do século XIX,
assumiu uma concepção
urbanística estruturada em
critérios oriundos dos
“higienistas sociais". A cidade,
prevista para abrigar, a longo prazo, uma população total de 200 mil habitantes, foi
desenhada segundo um zoneamento que definiu a morfologia inicial: Zona Urbana,
Zona Suburbana e Zona Rural.
A Zona Urbana, ocupando uma área de 8,82 km2, era delimitada pela Avenida 17 de
Dezembro, atual Avenida do Contorno. Ali foram definidos quarteirões de 120 x 120
metros, com ruas de 20 metros, que se cruzavam ortogonalmente, cortadas a 45o por
avenidas de 35 metros de largura (a Av. Afonso Pena com 50 metros). No seu traçado
enfatizavam-se a ordem, a hamonia, a simetria e a monumentalidade
(Lemos,C.,1988:63).
A Zona Suburbana, ocupando uma área de 24,93 km2, tinha quarteirões de tamanho
variável. Ali, as ruas foram traçadas com apenas 14 metros, porque, tendo de ser
ladeadas de chácaras, quintas e sítios arborisados, não é mister deixar, nas ruas,
espaço para arvoredo (Comissão Construtora da Nova Capital, In Penna, 1997:106).
Por fim a Zona Rural, abrangendo 17,47 km2 era destinada à formação de sítios para a
pequena lavoura, com a função de abastecer a cidade.
Tiveram prioridade, para assentamento na nova cidade, os antigos proprietários do
arraial de Belo Horizonte32, os empregados públicos e os ex-proprietários em Ouro
32 O antigo arraial foi totalmente desapropriado, com avaliações muito baixas - as formas de desapropriação praticadas não estimulariam a fixação da antiga população na futura cidade. … o pequeno proprietário, não-capitalista, no antigo Arraial seria convertido em não -proprietário na nova cidade. ...
32
FIGURA 2.2 – RMBH – Mancha urbana em 1920
Fonte: Plambel,1985
Preto. A moradia dos trabalhadores não foi prevista no plano. Belo Horizonte nascia
“duplamente periférica”, no dizer de Costa,H., situada na periferia do sistema
capitalista mundial e estruturada internamente a partir de anéis de ‘periferias’ urbanas
historicamente definidas (Costa,H. 1994: 68).
O incentivo à transferência dos funcionários públicos e proprietários de Ouro Preto
incluía a concessão gratuita de lotes (um urbano e outro suburbano) na nova capital, o
que deu origem a um mercado de terrenos e favoreceu a retenção de lotes na Zona
Urbana (Plambel,1985:42)33.
Desta maneira, o plano original de crescer de dentro para fora, [...] do espaço central
ordenado, moderno e dominante, para os espaços periféricos, dominados, do urbano
para o sub-urbano é invertido pela população operária, à qual foi negada a cidadania
espacial (Monte-Mór, 1994:15). Em 1912, 68% dos 38.000 habitantes da cidade viviam
fora da Zona Urbana, predominantemente a norte da Zona Urbana e nas Colônias
Agrícolas (Plambel,1985).
Na segunda metade da década de
vinte, Belo Horizonte, de acordo
com o Plamblel, sofreu processo
de crescimento acentuado em sua
área loteada. Tomando-se como
dado o número de aprovações de
loteamentos com um total de
43.318 lotes legalizados e
colocados no mercado e
considerando-se que a população,
em 1920, era de 55.565
habitantes, pode-se ter uma idéia mais concreta deste volume de lotes. Tem-se ainda
Aquele que desejasse possuir uma 'casa e quintal' na nova cidade necessitaria possuir propriedade cujo valor de troca equivalesse a essa nova 'casa e quintal' ou possuir algo além de suas propriedades (Penna, 1997: 103). 33 Segundo Penna, as negociatas com lotes começaram desde o sorteio de lotes concedidos aos proprietários de Ouro Preto: não faltaram espíritos negocistas de vários pontos do Estado que foram ou mandaram a Ouro Preto adquirir, na 'bacia das almas', grande quantidade daqueles terrenos, o que lhes proporcionou gordos lucros. Para exemplo, citaremos o Sr. Francisco de Macedo que […] recebeu a congnominação que lhe deu a inventiva popular de José dos Lotes (Abílio Barreto, In Penna, 1997). Em 1902, no relatório de sua administração, o Prefeito Bernardo Pinto Monteiro afirma que assunto de igual relevância é o preço dos terrenos urbanos ainda alto de forma a afugentar os que demandam a cidade para a zona suburbana, cujos lotes têm sido vendidos com facilidade, dispersando assim as construções e ampliando o centro (Ibidem:109).
33
FIGURA 2.3 – RMBH – Mancha urbana em 1936
Fonte: Plambel,1985
a ressaltar que 24 destes loteamentos, com cerca de 14.000 lotes se localizavam no
vetor oeste de Belo Horizonte (Plambel, 1987:47). Segundo a mesma fonte, em 1931,
relatório da Diretoria Geral de Obras da Prefeitura informava que ‘a área ocupada
pelos 140.000 habitantes comporta, de acordo com os lotes existentes, 500.000’
(p.48).
Do ponto de vista do mercado da provisão de moradias, a Lei 226/1922, que
modificava disposição do regulamento de construções 1901, criou as condições para a
verticalização no centro e, efetivamente, estabeleceu o início de uma era de alterações
no uso e intensificação da ocupação. Através do Artigo 7o, proíbia a construção ou
reconstrução de prédios de um só pavimento em várias ruas e avenidas do centro
comercial. A área objeto desta proibição seria consideravelmente ampliada em 1930,
através da Lei 363, abrangendo praticamente todo o centro comercial e as grandes
avenidas situadas dentro da Avenida do Contorno34. A legislação urbanística nestas
primeiras décadas de fundação da capital cristalizava a área preferencial de atuação
mercado imobiliário empresarial.
Os primeiros edifícios de apartamentos residenciais surgiram em Belo Horizonte em
1939, quando da aprovação dos três primeiros projetos de “casas de apartamentos”.
Ao longo da década de 40, diversos edifícios não só de apartamentos, mas também
de escritórios foram construídos (Passos, 1998:17)35.
A Zona Urbana (Comercial e
Residencial) e os bairros da região
Sul, na Zona Suburbana, foram as
áreas de maior ocorrência de edifícios
de apartamento no período 1939-76,
sendo que se concentram na Zona
Urbana entre 1939-55 e na zona sul
entre 1956 e 1976 – edifícios altos (5
a 20 pavimentos) na zona central (ou
34 Em 1933, o Decreto 165 diminuiria novamente a abrangência da proibição, mas definiria uma altura mínima de três pavimentos para algumas áreas mais centrais (Avenida Afonso Pena entre Praça Rio Branco e Rua Guajajaras, assim como nas praças Rio Branco, 7 de Setembro e ruas que contornam os quarteirões 23-A e 31-A da 1a Seção urbana). 35 Ver também, para uma análise histórica do processo de verticalização da área central de Belo Horizonte, Noronha (1999).
34
comercial) e edifícios de menor porte, predominantemente 3 pavimentos, nas demais
áreas, embora na zona central se construíssem também edifícios menores (Passos,
1998:57).
Ao mesmo tempo, a habitação operária era estimulada em lugares bem distantes
dessa área central: a Lei 45, de 18 de Setembro de 1948, autorizava o Prefeito “a
aprovar construções proletárias econômicas, de um único pavimento e área máxima
de 60 m2 em pontos afastados da zona suburbana, e nas vilas, para o que se
concederão facilidades, expressas nesta lei36” (grifos meus).
Na década de cinquenta, o processo de segregação e diferenciação social do espaço
se aprofundaria. Estudo realizado pela SAGMACS (1959) apresenta o seguinte
quadro:
Quase metade da população de Belo Horizonte (47,3%) vive em condições
insatisfatórias. (...) Essas unidades localizam-se fora da Av. do Contorno, cobrem
praticamente todas as zonas norte e oeste da cidade, e a periferia das zonas leste e
sul. São ocupadas por camadas populares ou predominantemente populares, e sua
ocupação é recente... A melhor situação atingida correspondendo à unidade do tipo
‘superior residencial’ (8,5% da população) (p.II-86).
Na região sul da cidade, abrangendo também área interna à Av. do Contorno, toda
uma zona contida pela Serra do Curral tende a se caracterizar como própria das
camadas sociais superiores, separada pelo centro principal da região norte, onde se
instalam as camadas inferiores (p.II-35).
Em síntese, o Estado funda a cidade e dá origem à especulação imobiliária, ao
repassar, sob diversas formas, áreas públicas para o setor privado37, criar uma
legislação propícia à incorporação residencial e promover grandes intervenções
urbanas, que criaram novas acessibilidades e possibilitaram transformações no uso do
solo urbano. Na década de quarenta, dois eixos de intervenção foram estruturantes da
expansão urbana e metropolitana: o eixo norte, com a implantação do complexo
urbanístico e turístico da Pampulha e a abertura da Avenida Antônio Carlos, e o eixo
oeste, com a implantação da Cidade Industrial Juventino Dias, em Contagem e o
36 As facilidades dizem respeito a concessões relativas à construção, como por exemplo a dispensa ao compartimento mínimo de 12 m2 [...] exigindo-se pelo menos, um quarto com 9 m2. 37 Ver, para estudos relativos à fundação e primeiras décadas de desenvolvimento da cidade, entre outros, Guimarães (1991), Penna (1997) e Lemos (1988).
35
FIGURA 2.4 – RMBH – Complexos Ambientais
QUADRILÁTERO FERRÍFERO
DEPRESSÃO DE BELO HORIZONTE
BACIA SEDIMENTAR
0 10
Kilometers
20
Fonte: Belo Horizonte, 1995
prolongamento da Avenida Amazonas, ligando o centro de Belo Horizonte à região
industrial.
2.2 – Expansão urbana e conurbação
Em 1987, quando Belo Horizonte foi inaugurada, a área que coresponderia à Região
Metropolitana criada em 1973 era formada de apenas cinco municípios: Sabará,
Caeté, Santa Luzia, Nova Lima e Belo Horizonte, este criado em 1893.
O núcleo urbano mais desenvolvido
era Nova Lima, que polarizava vasta
área desde Sabará até os territórios
hoje ocupados por Ibirité, Betim,
Contagem, Raposos e Rio Acima.
Também se destacava Santa Luzia,
centro de zona agrícola.
As duas atividades econômicas mais
importantes eram exatamente a
agropecuária (na Depressão de Belo Horizonte) e a mineração (no Quadrilátero
Ferrífero).
A exploração de ouro no território correspondente aos atuais municípios de Nova Lima
e Rio Acima teve origem no século XIX, com a empresa Saint John D’El Rey Mining
Company. A exploração foi realizada pela Mineração Ouro Velho desde 1834 até
1959, quando foi vendida à MBR (Minerações Brasileiras Reunidas), empresa que
explora também minério de ferro e que possui a quase totalidade da área urbanizável
do município de Nova Lima, além de parcela considerável do território do município de
Rio Acima.
No início do século XX, a atividade industrial na região de Belo Horizonte era
incipiente, restringindo-se a quatro estabelecimentos de maior porte: fábrica de
fósforos, em Raposos (então Município de Nova Lima); Cerâmica Nacional, em Caeté;
Cia. Industrial de Belo Horizonte, em Pedro Leopoldo (então município de Santa Luzia)
e Fábrica de Tecidos Marzagânia (Diniz, 1981). Além disto, já estava presente a
atividade mineradora também em Sabará e Caeté, além de Nova Lima.
36
FIGURA 2.5 - RMBH – Grandes intervenções dos anos 40
Fonte: Plambel,1985
Os anos quarenta foram aqueles que marcaram o prenúncio do processo de
metropolização. Aqueles anos constituíram período de grandes investimentos
públicos, com impactos diretos sobre os processos de expansão urbana na região. A
criação da Cidade Industrial de Contagem38 em 1941 (inaugurada em 1946) definiu a
formação do eixo industrial e operário da futura Região Metropolitana de Belo
Horizonte.
As principais fábricas instalaram-se
apenas nos anos cinquenta (a maioria
de capital estrangeiro), e a expansão
urbana de Belo Horizonte foi, a partir de
então, predominantemente na direção
oeste39. Nos anos cinquenta foram
aprovados 113 loteamentos em Belo
Horizonte, Contagem e Betim,
totalizando 80.600 lotes. A grande
maioria (66 loteamentos e 50.400 lotes)
situava-se nos municípios de Contagem
e Betim, representando 24% dos lotes
aprovados entre 1950 e 1976 em todo o aglomerado metropolitano40 (Plambel,
1987:136) e (Rocha, s/d:11), configurando um estoque que ainda hoje apresenta
terrenos desocupados. Segundo o Plambel, esses lotes comportariam uma população
de 250 mil pessoas, número que, comparado à população dos dois municípios em
1960 (47.000 habitantes) evidencia o caráter especulativo da atividade imobiliária no
período.
A aglomeração metropolitana começou a se formar, então, a partir da conurbação de
Belo Horizonte com as cidades vizinhas, a oeste. Contribuiu ainda para a formação
desse eixo de expansão o prolongamento da Avenida Amazonas que, partindo do
Centro de Belo Horizonte segue em direção a Contagem e Betim, unindo-se
38 Então distrito de Betim. 39 Em 1958, haveria, na Cidade Industrial, 38 empresas em funcionamento e 63 em instalação (Plambel, 1987). 40 O Aglomerado Metropolitano era composto, de acordo com a caracterização do Plambel, na década de oitenta, dos municípios de Belo Horizonte e Contagem mais as áreas conurbadas de Santa Luzia (região de São Benedito), Sabará (General Carneiro), Ibirité (Durval de Barros) e Ribeirão das Neves (Justinópolis).
37
posteriormente à BR-381 (Rodovia Fernão Dias), que liga a capital de Minas Gerais a
São Paulo.
Naqueles anos outros empreendimentos públicos consolidaram também o vetor norte
de expansão urbana41, fundamentalmente o complexo turístico e de lazer da
Pampulha42, em Belo Horizonte, e a Avenida Antônio Carlos que liga o Centro da
cidade à Lagoa da Pampulha. Em 1963 seria concluída a primeira construção no
Campus da Universidade Federal – o prédio da Reitoria – e em 1965 o Estádio
Magalhães Pinto, ambos na região da Pampulha.
A Pampulha nasceu como empreendimento destinado a lugar de moradia e lazer das
categorias dirigentes. O Decreto municipal no 55, de 1o de abril de 1939, definia a
tipologia de ocupação das margens da lagoa, estabelecendo critérios elitistas de
edificação: os terrenos deveriam ser de 1.000 m2 e as construções com frente para a
avenida marginal à represa deveriam
obedecer às seguintes prescrições especiais: a) estilo colonial, néo-colonial, missões ou normando, não se admitindo, em caso algum, estilo que destoe do ambiente campestre; [...] b) recuo de cinco metros do alinhamento da avenida; [...] os tapumes divisórios, na frente do terreno e dos lados, até a distância de vinte metros da avenida serão constituídos de sebes vivas, devidamente tratadas, tolerando-se a alvenaria no fecho da frente, desde que sua altura não ultrapasse de um metro e meio e o seu estilo de acabamento condigam com os do prédio construído no terreno43; [...] o espaço compreendido entre a frente do prédio e o alinhamento da avenida será obrigatoriamente ajardinado.
No entanto, as porções periféricas, em particular aquelas áreas situadas a oeste,
próximas à divisa com o município de Contagem, e a norte, na direção de Venda
Nova, foram sendo ocupadas por populações de baixa renda. Na divisa com
Contagem seria implantado, na década de oitenta, um conjunto habitacional que,
apesar de ser iniciativa do poder público municipal, tem precaríssimas condições de
infra-estrutura urbana.
41 Na análise sobre os vetores de expansão metropolitana deve-se acrescentar o fato de que a Serra do Curral, a leste, tem representado forte barreira à expansão nesta direção, principalmente a partir do momento em que a propriedade de terras na região passou a ser monolopolizada pela MBR – Minerações Brasileiras Reunidas. 42 Composto de uma represa, às margens da qual foram construídos um cassino, uma casa de baile e uma igreja, todos com projeto de Niemeyer e jardins de Burle Marx - o complexo constitui hoje um conjunto tombado como área de preservação histórica e paisagística. 43 O Decreto 99, de 25 de agosto de 1941 susbstuiria a possibilidade do muro de alvenaria pelo gradil, mantendo a altura máxima de 1,5 metro.
38
Além disto, a Avenida Antônio Carlos abriria o acesso à região norte, constituindo o
outro eixo de conurbação de Belo Horizonte com os municípios vizinhos (Ribeirão das
Neves, Vespasiano e Santa Luzia)44.
Segundo o Plambel (1987), o número total de lotes aprovados nos anos cinqüenta, no
Aglomerado Metropolitano, corresponde a 48% do total de lotes aprovados entre 1950
e 1976. Aqueles foram também anos em que o crescimento populacional saltou de
3,5% para 6% ao ano, mantendo-se alto até os anos oitenta, quando a curva de
crescimento demográfico começou a cair.
Os anos cinquenta e sessenta se apresentam como aqueles de maior crescimento
demográfico (em torno de 6% ao ano). Em vinte anos, a população passou de cerca
de 500 mil habitantes para mais de 1 milhão e quinhentos mil. Segundo relatório da
Fundação João Pinheiro (Fundação
João Pinheiro/Plambel, 1974), a
imigração foi responsável por mais da
metade do crescimento populacional no
período (56% do aumento da população
da região metropolitana como um todo e
58% do crescimento no município de
Belo Horizonte). A predominância
absoluta era, de acordo com o relatório,
de migrantes provenientes do próprio
estado de Minas Gerais45.
A década de cinquenta configura-se, portanto, como um marco no processo de
metropolização de Belo Horizonte. Os intensos processos de industrialização e de
crescimento populacional dos anos setenta consolidariam, como veremos, a
configuração sócio-espacial definida nas décadas anteriores.
44 Na realidade, as direções de expansão de Belo Horizonte eram vislumbradas desde a criação da cidade. Sylvio de Vasconcelos escrevia, em 1947: Em 1900, a cidade se apresenta, com sua direção trocada, voltando-se para uma linha norte-sul. Numa ponta a Lagoinha, à chegada da estrada de ferro, na outra o limite de acesso fatal, Fransciscanos e Serra. Entre 1900 e 1910 o povoamento marginal é mais ou menos difuso com dois ramos: um menor a leste, devido ao quartel da polícia localizado em Santa Efigênia e outro enorme a oeste, indo até a Gameleira, onde se localizou a fazenda... (Vasconcelos, S. “Como cresce Belo Horizonte”, Revista de Arquitetura e Engenharia (6), Belo Horizonte, 1947, p. 51, In LeVen, 1977: 143). 45 Tabulações especiais do Censo Demográfico de 1970 para a Região Metropolitana, diz o relatório, mostram que 90% dos imigrantes da região são nativos do próprio Estado (Fundação João Pinheiro/Plambel, 1974:7).
FIGURA 2.6 – RMBH - Mancha urbana em 50
Fonte: Plambel,1985
39
2.3 - Estrutura produtiva e mercado de trabalho
Alguns autores defendem a idéia de que a localização escolhida para Belo Horizonte
foi uma vitória dos ‘grupos modernos’, que almejavam a criação de um pólo econômico
em Minas Gerais46. De fato, a nova capital e suas regiões vizinhas têm concentrado as
principais atividades econômicas do estado. Entre 1920 e 1946, a participação de
Belo Horizonte na produção industrial do estado cresceu de 14% para 31% (Iglésias
et. Al., 1987)47. Essa concentração permanece crescente nas décadas seguintes,
como mostram os dados de participação da região metropolitana48 no emprego do
estado, na TAB.1.
TABELA 2.1 Região Metropolitana de Belo Horizonte Participação na população e no emprego
em Minas Gerais (%)
1940 1950 1960 1970 1975 População 4,7 6,2 9,1 14,0 19,0 Emprego na Indústria 28.9 22.4 27.8 33.5 32.8 Emprego nos Serviços * * 17.9 33.4 34.1 Emprego no Comércio * * 21.9 29.0 29.8
*Sem informação Obs.: Para 1975 trata-se de estimativa Fonte: Plambel, 1984: 5
A exploração de recursos minerais, em especial minério de ferro, foi central no
crescimento econômico de Minas, desde o início do século XX. Desde 1920, a
indústria metalúrgica cresceu e “forjou a face” da economia mineira. O Governo
Estadual desempenhou papel fundamental, principalmente através de incentivos
46 Ver Monte-Mór (1984), Iglésias et Al. (1987) e Diniz (1981), entre outros. 47 Já em 1912 havia 91 fábricas na capital, produzindo principalmente alimentos (26 fábricas) e roupas (36 fábricas). 48 Os dados aqui apresentados referem-se aos quatorze municípios que constituíram a RMBH em 1973, bem como os municípios deles emancipados.A Região Metropolitana foi formalmente criada em junho de 1973, composta por 14 municípios: Belo Horizonte, Betim, Caeté, Contagem, Ibirité, Lagoa Santa, Nova Lima, Pedro Leopoldo, Raposos, Ribeirão das Neves, Rio Acima, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano. A Constituição Estadual de 1989 incorporou quatro novos municípios (Brumadinho, Esmeraldas, Igarapé e Mateus Leme). Em janeiro de 1993, a Lei Complementar (estadual) nº 26 acrescentou os municípios de Juatuba e São José da Lapa, emancipados dos municípios de Mateus Leme e Vespasiano, respectivamente. Em novembro de 1997, a Lei Complementar nº 48 alterou a anterior para incluir os seguintes municípios na área de abrangência da RMBH: Sarzedo e Mário Campos (emancipados do município de Ibirité em 1995), São Joaquim de Bicas (emancipado de Igarapé em 1995), Confins (emancipado de Lagoa Santa em 1995), Florestal e Rio Manso. Em janeiro de 2000, a Lei Complementar No 56 (estadual) incorporou os seguintes municípios: Baldim, Capim Branco, Itaguara, Jaboticatubas, Matozinhos, Nova União e Taquaraçu de Minas. Hoje, portanto, a RMBH é composta de 33 municípios.
40
fiscais e de implantação de infra-estrutura, em particular, energia e sistema rodo-
ferroviário. Na cidade de Belo Horizonte e seus municípios vizinhos, localizados no
chamado ‘quadrilátero ferrífero’, concentrou-se a produção industrial do estado, em
virtude da presença de recursos minerais. Algumas das mais importantes plantas
siderúrgicas criadas no início de século XX localizaram-se na região: em 1917, em
Sabará, a Companhia Siderúrgica Mineira (incorporada em 1921 pela Belgo Mineira);
em 1922, em Rio Acima, a Cia. de Mineração e Siderúrgica Gandarela a Alto Forno
Pedro Gianetti, (transformada em Metalúrgica Santo Antônio em 1931) e em 1925 a
J.S. Brandão & Cia., em Caeté (incorporada pela Cia. Ferro Brasileira S.A. em 1931) e
também, em Barão de Cocais, a Hime & Cia., instalada (que deu origem à Companhia
Brasileira de Fábricas Metalúrgicas) – (Diniz, 1981).
Embora a principal atividade econômica do estado, entre 1930 e 1960 tenha sido a
cultura cafeeira, a indústria metalúrgica continuou crescendo. A sua participação no
total da produção industrial do estado passou de 2,2% em 1919 para 23,7% em 1939.
(Diniz, 1981:31). Os recursos naturais confirmam-se como a base da industrialização,
particularmente na Região Metropolitana.
A ação do Estado foi fundamental para o crescimento da economia industrial. Na
Cidade Industrial Juventino Dias, implantada nos anos quarenta em Contagem, seriam
instaladas, ao longo dos anos cinquenta e início dos sessenta, empresas vinculadas ao
grande capital transnacional: RCA-Vitor (americana), Sociedade Brasileira de
Eletrificação (italiana), Eletro Solta Autogena Brasileira (sueca), Trefilaria Belgo-Mineira
(belgo-luxemburguês), entre outras. Nas proximidades da Cidade Industrial, mas no
município de Belo Horizonte instalou-se ainda a siderúrgica Mannesmann, de capital
alemão (Plambel,1985:82).
Entre 1951 e 1955, o governo estadual de Juscelino Kubitschek priorizou os
investimentos em energia49 e transporte e, nos anos sessenta, o Estado investiu
fortemente na criação de bases institucionais para o desenvolvimento industrial. Em
1961, foi criada a METAMIG-Metais Minas Gerais S.A., para extrair, industrializar e
transportar minérios; em 1962, foi criado o BDMG-Banco de Desenvolvimento de
Minas Gerais, banco de segunda linha, financiador de empreendimentos industriais,
que se transformou em importante centro de estudos do governo estadual. Ainda no
49 Em 1952 foi criada a empresa estatal de energia elétrica, Cemig, e até 1956 foram construídas 4 hidroelétricas, com financiamente internacional, principalmente do Banco Mundial.
41
final dos anos sessenta foram criados a Fundação João Pinheiro, órgão de pesquisa e
planejamento, o INDI- Instituto de Desenvolvimento Industrial e a CDI-Companhia de
Distritos Industriais de Minas Gerais.
Na década de 60, o processo de industrialização da RMBH se intensifica, torna-se mais complexo e a indústria continua concentrando-se na região, em relação ao estado. A sua participação no Produto Mineiro que era de 27% em 1960 alcançou 38% em 1970 (Plambel, 1987:55).
Belo Horizonte se consolidava na posição de pólo econômico regional.
Nos anos cinquenta e sessenta, importantes estabelecimentos industriais são
instalados na região: em Santa Luzia, a FRIMISA-Frigoríficos Minas Gerais S.A.50 e
duas empresas no ramo Minerais Não Metálicos, Celite e Klabin. Em Pedro Leopoldo
e em Vespasiano, respectivamente, a Cauê e a Itaú, com extração de matéria-prima
para a fábrica em Contagem, propiciam a intensificação da exploração do calcário na
Bacia Sedimentar e mudança na base econômica dos dois municípios, antes voltados
predominantemente para a agropecuária. Em Betim, era inaugurada, em 1967, a
Refinaria Gabriel Passos – REGAP.
Além disto, o minério de ferro passa a ser explorado oficialmente na região, mediante a
concessão de Decreto de Lavra a diversas pequenas áreas sobre as serras do Curral e
Rola Moça. Assim, os municípios de Nova Lima e Ibirité têm reforçada sua
característica de áreas mineradoras (Plambel,1985:92-3)51.
Na década de setenta todo o esforço dos anos anteriores, associado ao intenso
crescimento da economia nacional e ao “transbordamento da indústria paulista”
propiciou a consolidação do parque industrial de Minas Gerais, através do que ficou
conhecido como a nova industrialização mineira.
Até então, o setor industrial da região metropolitana apresentava-se pouco
diversificado: a metalurgia, os minerais não metálicos e os produtos alimentares
concentravam 60% do seu produto (Fundação João Pinheiro/Plambel, 1974), ainda
que as indústrias mais dinâmicas estivessem crescendo desde o início dos anos
sessenta - entre 1959 e 1965, o grupo de indústrias que havia apresentado o maior
50 Em consonância com as elites locais, tradicionalmente pecuaristas (Plambel,1985:92). 51 Por outro lado, em Rio Acima eram desativadas as duas siderúrgicas que compunham a base econômica do município - a abertura da BR-3 (hoje BR-040) altera o eixo de deslocamento, antes com passagem no município.
42
crescimento (18%) foi aquele das mais dinâmicas: mecânica, material elétrico e
material de transportes (Fundação João Pinheiro/Plambel, 1974:21).
Em 1969, a Lei Estadual 5261 concedeu isenção de até 32% do ICMS para indústrias
que se instalassem no estado e para aquelas que promovessam a expansão de sua
produção em pelo menos 40%. Este foi o mais forte instrumento de incentivo à
industrialização no estado, entre 1970 e 1975. Neste período, foram beneficiados 298
projetos industriais, e a produção industrial do estado cresceu intensamente. Do total
de investimentos, 31% foram no setor de bens de consumo não-durável, 47% no setor
intermediário e 22% no setor de bens duráveis. A concentração na região central52 do
estado foi indubitável: 63% do total de investimentos. Naqueles anos o parque
industrial mineiro se diversificou e o setor de bens de capital de de consumo durável
cresceu significativamente (Monte-Mór, 1984:32). A indústria de transformação
cresceu a 11,6% ao ano, entre 1970 e 1975, tendo atingido, neste último ano 18,5%
(Fundação João Pinheiro, 1976:22).
A mineração sustentou taxas ainda maiores (24% ao ano, entre 1970 e 1975), entre
outras razões, pela entrada em funcionamento do projeto MBR (Minerações Brasileiras
Reunidas), em 1973 (Fundação João Pinheiro, 1976:22).
Os anos setenta foram também de mudanças no cenário econômico nacional. Diniz
ressalta o processo de desconcentração da indústria paulista, com resultados
importante para outros estados, Minas Gerais em especial53. Segundo esse autor, a
participação do estado de São Paulo na produção industrial do país diminuiu de 58%
em 1970 para 53% em 1980; essa perda concentrou-se na região metropolitana, cuja
participação na produção industrial do estado e do país foram reduzidas,
respectivamente, de 75% para 63% e de 44% para 33%, entre 1970 e 1980; os
maiores ganhadores foram outras áreas do estado de São Paulo, fora da região
metropolitana (Diniz, 1994:303).
52 Inclui a Região Metropolitana de Belo Horizonte e algumas áreas e aglomerações urbanas com importante base industrial, destacando-se: Aglomerado Urbano do Vale do Aço, João Monlevade, Sete Lagoas e Divinópolis. 53 O estado de Minas Gerais, em virtude das reservas de recursos naturais e da proximidade de São Paulo, foi um dos poucos estados do país que haviam mantido sua participação relativa no período de forte concentração em São Paulo.
43
A desconcentração e o crescimento industrial observados nos anos setenta foram
baseados no mesmo padrão industrial que caracterizou a expansão das décadas
anteriores, isto é, na produção de bens duráveis e intermediários, com forte base em
recursos naturais.
A crise econômica que atingiu o país no final dos anos setenta só teve efeito em Minas
Gerais a partir do início da década seguinte, uma vez que os investimentos realizados
propiciaram um período de crescimento. No caso da Região Metropolitana de Belo
Horizonte, a partir de 1981, os setores econômicos são afetados de modo
diferenciado, constituindo-se, todavia, o desemprego na tônica geral: no período
1980/83, em termos globais, o desemprego aberto aumenta de 26 para 93 mil
indivíduos [dados estimados pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]
(Plambel,1985:129).
No setor secundário, os dados do Plambel mostram comportamentos também
bastante diferenciados:
a indústria de transformação é o ramo inicialmente mais afetado pela crise [embora a construção civil tenha apresentado os maiores índices de dispensa, tendo demitido, somente em 1983, 30% do pessoal que empregava] [...] , sendo os ramos mais dinâmicos na década anterior os que apresentaram índices de dispensa mais elevados (mecânica 14,8% e metalúrgica 12,1%). Já na produção de bens não duráveis de consumo, observa-se uma certa resistência à crise, ocorrendo inclusive acréscimo no pessoal ocupado em alguns ramos [dados fornecidos pela Federaçào das Indústrias de Minas Gerais]. A grande empresa industrial continua sendo a mais significativa nas grandes concentrações (Imbiruçu, Barreiro, Cidade Industrial, CINCO)54 ... (Plambel,1985:129).
A mineração continuava a expandir-se; em 1981, a quase totalidade dos municípios
situados no Quadrilátero Ferrífero está comprometida com esta atividade (Ibidem:
130). Também as atividades de mineração e industrialização de calcário na Bacia
Sedimentar, a norte da região metropolitana, mantém o seu nível de atividade.
Os anos oitenta, conhecidos como “a década perdida”, representam, segundo Melo
(1995), um divisor de ágruas na história brasileira, com o esgotamento do padrão de
intervenção do Estado desenvolvimentista e encerramento do ciclo militar. Ainda
segundo esse autor, esgota-se ali o padrão de financiamento, anteriormente
54 Tratam-se de concentrações industriais, todas elas no chamado Eixo Indutrial da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
44
assentado: a) no investimento direto de oligopólios dos países centrais que haviam se
expandido sobre os espaços da periferia; b) em um conjunto de fundos públicos
montados durante o pós-guerra e c) no acesso ao mercado internacional de crédito
que emergiu nos fins dos anos 60 e se expandiu aceleradamente nos 70. Nos anos 80
as bases materiais e institucionais desse arranjo ruíram: com a crise do regime de
acumulação intensiva ou fordismo, contraiu-se o investimento externo dos países
centrais; o mercado internacional de crédito também desmoronou (as únicas fontes de
financiamento externo passaram a ser as agências multilaterais - FMI, Banco Mundial
e BID) e os fundos públicos passaram a ser canalizados crescentemente para a
rolagem da dívida pública interna, num quadro de intensa crise fiscal (Melo, 1995:251).
Entre os resultados, no período entre 1980 e 1988 a percentagem de pobres nas
regiões metropolitanas se eleva de 24.3% para 39.3%. “A década perdida, na esfera
política, é uma década de fragmentação social e institucional” (Melo, 1995:259).
Em meio à forte instabilidade da economia brasileira, com tendência à estagnação e
aceleração inflacionária, a economia de Minas Gerais como um todo, e da Região
Metropolitana de Belo Horizonte, em particular, vai apresentar um desaquecimento,
principalmente da atividade industrial. Conforme veremos no próximo capítulo, o
crescimento anual do proletariado industrial foi menor do que a média de crescimento
da população ocupada na região metropolitana – menos de 1% no caso dos operários
da indústria moderna. Há um queda geral no nível de rendimentos e uma tendência à
maior participação do setor terciário no pessoal ocupado, sugerindo um acentuado
crescimento do subemprego (Plambel,1985:130).
A literatura corrente aponta alterações substanciais na estrutura produtiva do mundo
ocidental, a partir no final dos anos setenta, em especial entre as nações de
industrialização avançada. Entre essas transformações destacam-se a
desindustrialização dos centros tradicionais, a produção com base em novas
tecnologias e o crescimento do setor terciário, principalmente aquele vinculado ao
setor financeiro. Entre os resultados, estão o deslocamento da produção industrial
para o chamados países de industrialização tardia e a formação de uma rede mundial
de cidades que controlam o processo produtivo em nível internacional. Friedman
(1986) afirma a existência de uma hierarquia de cidades mundiais, nas quais
metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro comparecem como cidades mundiais
secundárias.
45
No caso da Região Metropolitana de Belo Horizonte, a diversificação do parque
industrial do final dos anos setenta não ocorreu de modo a definir tendências
caracterizadoras das chamadas cidades globais. Também o crescimento do setor
terciário não tem implicado no fortalecimento dos serviços financeiros, embora Belo
Horizonte tenha experimentado, a partir dos anos oitenta, um processo de
diversificação do seu terciário, sendo que as taxas de crescimento dos serviços
modernos foram as maiores entre as capitais brasileiras (Cerqueira e Simões, 1997).
Minas Gerais permanece situada na divisão nacional e internacional do trabalho com
um papel relacionado às indústrias que caracterizaram o período fordista55. Belo
Horizonte, afirmam (Cerqueira e Simões, 1997), é referência importante para alguns
nichos de mercado dos serviços modernos (consultorias, projetos e serviços
especializados de apoio industrial), mas sem presença marcante na área financeira,
serviço hierarquicamente superior do ponto de vista da centralidade espacial.
Esse quadro pode ser observado através das informações sobre a estrutura do
emprego, que mudou muito pouco nos anos recentes, segundo dados do PNAD. A
agricultura foi o setor com mudanças mais expressivas, com perda na participação no
número de pessoas ocupadas. Destacam-se, ainda, além da diminuição da
participação da indústria de transformação, o aumento da participação dos serviços de
distribuição, serviços públicos e serviços pessoais.
55 Com relação ao novo padrão tecnológico, afirma Diniz, estima-se que quinze cidades têm alguma experiência em desenvolvimento de pólos tecnológicos, embora poucas possam ter real potencial de crescimento, a maioria delas em São Paulo, uma no sul de Minas e algumas em estados do sul. O autor faz uma avaliação prospectiva da divisão regional do trabalho no país e conclui que se é possível para o Brasil manter a expansão de atividades tecnológicamente modernas, estas atividades tenderão a se concentrar na área mais industrializada do país, especialmente no estado de São Paulo e áreas contíguas, com uma possível extensão para o polígono que se estende de Belo Horizonte a Porto Alegre (Diniz, 1994:310)
46
TABELA 2.2 Região Metropolitana de Belo Horizonte e Brasil
Distribuição das pessoas ocupadas (na semana anterior) com 14 anos ou mais (%)
1981 1992 1999 Setor de Atividade RMBH Brasil RMBH Brasil RMBH Brasil
Agricultura 1,0 27,9 1,7 21,5 1,0 20,0 Industria da Transformação 16,7 15,3 15,6 13,4 15,1 10,8 Outras industria 15,2 10,0 13,1 8,3 11,7 8,5 Serviços de distribuição 18,3 14,9 20,2 17,1 20,2 17,9 Serviços de produção 9,4 5,4 9,6 6,2 9,9 6,5 Serviços públicos 5,9 4,6 6,4 6,9 5,6 7,1 Serviços sociais privados 5,0 2,9 5,2 3,6 5,9 4,0 Serviços pessoais 22,3 14,6 22,1 16,8 25,2 18,9 Atividades não classificadas 0,4 0,4 0,6 0,5 0,6 0,5 Serviços segurança/justiça/ Administração 5,8 4,2 5,6 5,8 4,7 5,7 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: IBGE, Pesquisas Nacionais de Amostras Domiciliares (PNAD), 1981, 1992, 1999 Em síntese, é importante ressaltar algumas observações sobre a dinâmica produtiva
na Região Metropolitana de Belo Horizonte, nos anos oitenta:
a) a RMBH segue algumas tendências mais gerais do Brasil como um todo,
destacando-se a diminuição do setor industrial na geração de emprego, com o
consequente aumento do setor terciário;
b) há uma crescente urbanização da população ocupada, com a contínua queda da
participação da agricultura;
c) a crescente participação dos serviços pessoais na distribuição do pessoal ocupado
denota o crescimento do mercado informal de trabalho (ver Machado e Cerqueira,
1998);
d) vale ressaltar ainda a forte participação dos serviços produtivos, em virtude,
certamente, da instalação em Belo Horizonte dos escritórios centrais das empresas
industriais estatais e privadas, com atividades não só na RMBH, como também e
principalmente na Zona Metalúrgica e em outras regiões (Cerqueira e Simões,
1997:300).
A economia da região tem se mantido concentrado em poucos municípios. Segundo
dados da Fundação Pinheiro, apud Costa,D., em Belo Horizonte, Betim e Contagem
estavam, em 1995, quase 90% do PIB da região metropolitana. A divisão territorial do
trabalho é clara: cerca de 80% do PIB devido aos serviços estão concentrados em
Belo Horizonte. Por outro lado, também a produção industrial encontra-se em alguns
poucos municípios, com a seguinte composição: a indústria tradicional está localizada
47
principalmente em Belo Horizonte, onde são gerados 46% do valor agregado do setor
e Betim concentra 90% do valor agregado do Setor de Capital e Bens Duráveis56. O
Setor de Bens Intermediários é mais descentralizado, em virtude da localização de
recursos naturais: Betim participa com 30% do valor agregado regional, Contagem
com 23%, Belo Horizonte com 12%, Nova Lima com 10%, Vespasiano com 7% e
Pedro Leopoldo com 5% (Costa,D., 1998).
Nos anos mais recentes, observa-se relativa desconcentração, conforme se observa
na tabela a seguir, com destaque para o aumento da participação de Betim na
produção industrial e a perda em participação do município de Contagem.
TABELA 2.3
Distribuição do PIB Metropolitano, por Setor Industrial 1985/1995
Agricultura Indústria Terciário Município 1985 1995 1985 1995 1985 1995
Belo Horizonte 0,89 0,06 50,63 49,17 81,27 78,20 Contagem 1,10 0,81 16,68 14,10 8,66 10,0 Betim 9,93 3,43 19,30 20,69 3,35 3,50 Outros 88,08 95,70 13,39 16,04 6,72 8,30 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 Fonte:- FJP/CEI, in Costa, D., (1998)
Com relação ao mercado de trabalho, os anos recentes têm sido caracterizados pelo
fenômeno que ganhou a denominação de ‘precarização’, isto é, menores níveis de
remuneração, maior fragilidade nas relações de trabalho e, por consequência, maiores
instabilidade e rotatividade57. Passa a ter relevância o desemprego estrutural,
entendido como desemprego de longa duração58 - o desemprego conjuntural, típico de
situações de ajuste econômico, vem cedendo lugar ao desemprego de longa duração;
segundo dados do IBGE (PME), entre 1991 e 1996, a parcela dos desempregados há
mais de seis meses passou de 28,8% para 37,1% do total de desempregados
(Machado e Cerqueira, 1998: 290).
Entre 1991 e 1996, o emprego formal nas regiões metropolitanas pesquisadas pela
PME-Pesquisa Mensal de Emprego/IBGE caiu 5,8%, enquanto o emprego sem
56 A FIAT é a grande responsável por esta participação de Betim. 57 Anselmo Santos, professor na Unicamp, chama atenção para o fato de que à expansão do emprego no setor informal soma-se a precarização também no setor formal, com redução da remuneração, e substituição por trabalhadores de menor faixa etária (In, Gazeta Mercantil, 28/05/01). 58 Embora do desemprego de longa duração seja geralmente entendido como aquele que ultrapassa o período de 12 meses, alguns autores consideram que, dada a fragilidade do seguro-desemprego no
48
carteira assinada cresceu 29,0%, de modo similar aos 22,8% de aumento do emprego
por conta própria ((Machado e Cerqueira, 1998:297).
No caso da Região Metropolitana de Belo Horizonte, em 1996 todos os setores
industriais apresentaram taxas de desemprego acima da média (que foi de 10,5%),
principalmente as indústrias têxtil e alimentícia (14,7%) e da construção civil (13,0%).
Além do setor industrial, apresentaram também uma taxa de desemprego acima da
média o setor agrícola (15,2%), o comércio (12,6%) e os serviços pessoais (12,0%).
TABELA 2.4 Região Metropolitana de Belo Horizonte
Taxa de desemprego setorial (média de 1996)
Setor Tx.desemprego(1)
Agricultura e Extrativismo 15.2 Indústria Moderna (2) 11.6
Ind. Têxtil e Alimentícia 14.7 Ind. de Bens Intermediários(3) 11.2
Outras Indústrias 11.3 Construção Civil 13.0
Comércio 12.6 Serviços Infra-estrutura(4) 8.2
Serviços Tec. Fin. 8.5 Serviços Auxiliares 9.3 Serviços Pessoais 12.0
Serviços Administração pública 3.5 Serviços Reparação 8.8
Serviços Saúde/Educação 6.0 Serviços Diversão 8.0 Outros Serviços 11.3
Total 10.5 Fonte: Machado e Cerqueira, 1998:302 (1) A taxa de desemprego por setor de atividade considera
apenas os desempregados com experiência anterior de trabalho.
(2) Compreende os ramos da indústria metalúrgica, mecânica, material de transporte, química e plástico.
(3) Comprende a indústria de madeira, papel, borracha, material de construção e vidros.
(4) Compreende os ramos Transporte, Utilidade Pública e Comunicação
Brasil, pode-se considerar como desemprego de longa duraçào aquele que ultrapassa seis meses (Machado e Cerqueira, 1998).
49
2.4 - Crescimento demográfico e expansão territorial
Se os anos cinquenta haviam constituído um marco no processo de expansão
demográfica e territorial, 1960 constituiu um ponto de inflexão, a partir de quando Belo
Horizonte passou a crescer menos do que o restante da região metropolitana, em um
processo que se aprofundaria nos anos setenta e, principalmente, oitenta, quando a
capital apresentou um crescimento total de apenas 1,1 % ao ano.
TABELA 2.5 Região Metropolitana de Belo Horizonte
Crescimento Demográfico Anual (%) 1950/60 1960/70 1970/80 1980/91 Município de Belo Horizonte 7,0 6,1 3,7 1,1 Restante da RMBH ... 6,2 7,5 4,8 TOTAL DA RMBH 6,2 6,1 5,0 2,5 Fontes: FIBGE, Censos Demográficos - para 1950 a 1960, In Fundação João Pinheiro/Plambel (1974b); para os demais In Rigotti e Rodrigues (1994 ).
Nos anos setenta houve mudanças importantes: alto crescimento populacional, forte
movimento migratório59 e altas taxas de crescimento da produção industrial
caracterizaram aqueles anos. A capital apresenta, entretanto, uma queda acentuada
no ritmo de crescimento demográfico. Os municípios vizinhos, ao contrário,
permanecem com altas taxas anuais (ver FIG 2.7). A metropolização se adensa, a
oeste e a norte e nordeste, com a incorporação, no processo de conurbação, de
Justinópolis (município de Ribeirão das Neves, São Benedito (município de Santa
Luzia), General Carneiro (Município de Sabará e Durval de Barros (município de
Ibirité).
O processo de verticalização da Área Central60 se intensifica, mas ocorre
simultaneamente seu esvaziamento populacional, com perda de aproximadamente
13.500 moradores no período 1970/80 (14% de sua população em 1970)
(Plambel,1985:114).
59 Segundo Matos (1995), os municípios da RMBH excetuando Belo Horizonte possuíam, em 1980, quase um terço da sua população total constituída por imigrantes da década de setenta. Esse resultado, contudo, se explica principalmente devido ao grande contingentes de imigrantes procedentes de Belo Horizonte, não obstante as contribuições de outras regiões do estado (p.97). 60 Área situada dentro da Avenida do Contorno, em Belo Horizonte.
50
51
FIGURA 2.8 – RMBH – Mancha urbana 1977
Fonte: Plambel,1985
Ainda que o oeste tenha também crescido a taxas muito altas, O norte se tornou a
principal direção de expansão urbana da região de Belo Horizonte, com destaque para
o município de Ribeirão das Neves, que cresceu 21,4% ao ano, durante aquela
década. Do total de lotes aprovados na década, 36% se situavam na área oeste da
região metropolitana e 52% a norte.
Rigotti e Rodrigues (1994) apresentam o movimento migratório líquido na região, entre
os anos de 1970 e 198061. Belo Horizonte recebeu a metade da migração líquida total,
embora tenha sido, segundo os autores, o município que expulsou o maior número de
migrantes. Em termos relativos, Ribeirão das Neves comparece como o município com
maior taxa de migração líquida na década: 81% da população residente no município
em 1980 era constituída de migrantes da década.
Na década de 70, 190.406 pessoas migraram dentro da RMBH62. Destas, 154.300
saíram da capital (número dez vezes maior do que os 14.934 que para lá migraram,
procedentes de outros municípios da RMBH). Esse número representa 81% das
migrações intra-metropolitanas.
Como a capital tem exercido importante papel dentro do processo de migração por
etapas, provavelmente parte significativa dos emigrantes de Belo Horizonte do período
1970/80 não residiam no município no início da década, isto é, foram anteriormente
imigrantes da capital dentro da década
(Rigotti e Rodrigues, 1994:443) . De fato,
os autores lembram que o ritmo de
crescimento da periferia foi, já nos anos
setenta, maior do que o da capital; nesta,
entretanto, a proporção de imigrantes de
fora de Minas Gerais foi mais alta.
Os maiores receptores de migrantes intra-
metropolitanos naquela década foram
Contagem, no Eixo Industrial, e Ribeirão
das Neves, na periferia norte: 38% e 18%
respectivamente do total de pessoas que se deslocaram entre dois munícipios durante
61 Os dados são referentes aos 14 municípios que compunham a Região Metropolitana em 1973.
52
a década. Contagem recebeu 43,4% dos emigrantes de Belo Horizonte, e Ribeirão das
Neves recebeu 21,2%. Além destes dois municípios, também Santa Luzia, Sabará e
Betim juntos reberam 24,7% dos emigrantes da capital (Rigotti e Rodrigues, 1994).
TABELA 2.6
Região Metropolitana de Belo Horizonte População e Saldo Migratório
1970-1980
Municípios População em 1980
Saldo Migratório
(1970-1980)
TLM (1) (%)
Ribeirão das Neves 67.249 54.313 80.79 Betim Contagem Ibirité Santa Luzia Vespasiano
84.193 280.470 39.967 59.893 25.046
34.061 136.765 13.519 27.231 9.500
40.45 48.76 33.82 45.46 37.92
Belo Horizonte Lagoa Santa Pedro Leopoldo
1.780.839 19.499 30.007
279.905 2.917 4.137
15.68 15.18 13.79
Sabará “Expulsores” (2)
64.210 88.721
4.525 -4.734
7.02 -5.34
Fonte: IBGE – Amostra de 25% do Censo Demográfico de 1980, in (Rigotti e Rodrigues, 1994:439) (1) Taxa Líquida Migratória (2) Caeté, Nova Lima, Raposos e Rio Acima
Em síntese, os anos setenta constituíram período de extraordinário crescimento
populacional nos municípios vizinhos a Belo Horizonte, com o início do esvaziamento
populacional da capital. Os municípios que mais cresceram foram: ao norte, Ribeirão
das Neves (27,2% a.a.), Vespasiano (14,9% a.a.), Santa Luzia (10,3% a.a.) e, a oeste,
Ibirité(21,8% a.a.), Betim (15.9% a.a.) e Igarapé (11,4% a.a.). O grande crescimento
industrial localizado a oeste, fundamentalmente Betim e Contagem, e no distrito
industrial de Santa Luzia tiveram peso considerável nesse processo, exercendo forte
atração da população trabalhadora.
Nos anos oitenta esse padrão de crescimento populacional se consolida; à
desconcentração populacional das áreas mais centrais corresponderia o adensamento
das áreas periféricas. Nos municípios vizinhos à capital a norte e oeste estão também
as maiores taxas de crescimento demográfico anual na década, bem menores,
contudo, do que aquelas manifestadas na década anterior: Ibirité (7,9%); Santa Luzia
62 Tratam-se dos fluxos cuja última etapa migratória se deu entre dois municípios da RMBH (Rigortti e Rodrigues, 1994).
53
54
FIGURA 2.10 - RMBH – Macro-unidades
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PERICENTROÁREA CENTRAL
PAMPULHA
PERIFERIAS
EXPANSÃO METROPOLITANAE FRANJAS
0 10
Kilometers
20
EIXO INDUSTRIAL
COMPROMETIMENTOMÍNIMO
Fonte: Fundação João Pinheiro
(7,9%); Vespasiano (7,3%); Ribeirão das Neves (7,1%) e Contagem (6,7%) - ver FIG.
2.9.
Trabalhando com níveis territoriais mais agregados63 Souza e Teixeira (1999) mostram
uma alteração substancial na distribuição
da população metropolitana: em 1970,
55% desta população viviam nas áreas
mais centrais (Áreas Central e Peri-
Central), enquanto 31% estavam nas
periferia destas áreas (Eixo Industrial
e Periferias). Em 1991, a distribuição se
apresentaria invertida: 32% vivendo nas
áreas mais centrais e 55% na sua
periferia imediata.
Na década de 80, quando esse processo estava em curso, o mercado de terra se
expandiria, intensificando o parcelamento das áreas mais periféricas, como veremos
no capítulo 6.
O crescimento industrial, os investimentos estatais e o mercado de terras têm sido
fator importante de estruturação do território desde os anos cinquenta, quando os
investimentos na indústria haviam estimulado o mercado imobiliário e provocado um
processo especulativo de parcelamento da terra nas áreas a oeste da região. Nos
anos setenta, o mercado estaria orientado fortemente para os segmentos de baixa
renda, agora na direção norte. Nos anos oitenta, como veremos, esse mercado atinge
as regiões mais periféricas da RMBH, resultando em grande crescimento populacional
nessas regiões durante os anos noventa (ver TAB. 2.7 e FIG. 2.11).
Em Belo Horizonte, as áreas imediatamente periféricas à sua área central ainda não
ocupadas foram locus, nos anos oitenta, de loteamentos para os segmentos de renda
média e alta, dando início à expansão da fronteira do mercado residencial imobiliário64.
Houve, naqueles anos, um considerável movimento populacional intra-metropolitano,
63 Trata-se de divisão territorial definida pelo Plambel, órgão metropolitano de planejamento, nos anos oitenta, e composta de: Área Central, Área Peri-Central, Pampulha, Eixo Industrial, Periferias, Franja, Área de Expansão Metropolitana e Área de Comprometimento Mínimo (ver FIG. 2.10). 64 Rocha e Penna (s/d) mostram uma segmentação do mercado de loteadores a partir dos anos setenta: proprietários rurais tradicionais e pequenas empresas atuando no mercado para o segmento de menor renda e os grandes investidores atuando no mercado para os segmentos de média e alta renda.
55
56
com alterações sócio-espaciais significativas, como veremos no capítulo 4. O espaço
de Belo Horizonte se elitizou, com o espraiamento das categorias dirigentes e das
classes médias, e com a expansão territorial do mercado capitalista de produção de
moradias. Simultaneamente, tem início a implantação de novos tipos de loteamento,
destacando-se os sítios de recreio e os condomínios fechados. Os primeiros
localizam-se principalmente a norte (Lagoa Santa e Esmeraldas), enquanto que os
últimos situam-se no eixo sul (Nova Lima e Brumadinho).
TABELA 2.7 Região Metropolitana de Belo Horizonte
Crescimento populacional 1970-2000
Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000 (*) Municípios que não faziam parte da RMBH em 1980. (**) Municípios novos, emancipados nas seguintes datas:Sarzedo - 21/12/95; Mário Campos - 21/12/95;São Joaquim de Bicas- 21/12/95;
Confins - 21/12/95; Juatuba - 27/4/92; São José da Lapa - 27/4/92.
Em resumo, a estruturação sócio-espacial da Região Metropolitana de Belo Horizonte
tem sido marcada pela forte intervenção do Estado, cuja ação tem resultado no
aprofundamento dos processos de segregação.
População Urbana Crescimento populacional anual (%) Município
1970 1980 1991 2000 1970-1980 1980-1991 1991-2000 Belo Horizonte 1228342 1775082 2013257 2232747 3.75 1.15 1.16 Betim 17536 76810 162143 298116 15.92 7.03 7.00 Brumadinho (*) 9981 8611 11583 19367 -1.47 2.73 5.88 Caeté 19663 25127 29115 31651 2.48 1.35 0.93 Contagem 108028 278081 419975 533119 9.92 3.82 2.69 Esmeraldas (*) 4098 5311 7044 38179 2.63 2.60 20.66 Ibirité 132262 Sarzedo (**) 14758 Mário Campos (**)
3817 27429 91193
7945
21.80 11.54 6.07
Igarapé(*) 22891 S .Joaquim de Bicas (*) (**)
3755 11028 19909 13720
11.38 5.52 7.00
Lagoa Santa 35376 Confins (**)
9939 15395 27979 3130
4.47 5.58 3.61
Mateus Leme (*) 20382 Juatuba (*) (**)
6012 12108 19580 15942
7.25 4.47 7.11
Nova Lima 27377 35050 44038 63035 2.50 2.10 4.07 Pedro Leopoldo 13498 20872 32891 43426 4.46 4.22 3.14 Raposos 9183 11058 13317 13434 1.88 1.70 0.10 Rib. Das Neves 5547 61670 119925 245143 27.23 6.23 8.27 Rio Acima 3394 3463 5641 6567 0.20 4.54 1.70 Sabará 24977 58145 74757 112630 8.82 2.31 4.66 Santa Luzia 19410 51813 130186 184026 10.32 8.74 3.92 Vespasiano 75220 S. José da Lapa (**)
5281 21095 35390 8899
14.85 4.82 10.10
TOTAL 1519838 2498148 3257923 4171965 5.10 2.44 2.79
57
Vimos que, de um lado, a legislação urbanística criou as bases para a incorporação
imobiliária, através da criação de áreas marcadas pelo status da distinção e
transformação do uso do solo em zonas restritas, desde o início do século XX, com a
restrição – e, em alguns momentos, imposição – da verticalização nas áreas centrais
de Belo Horizonte, passando por uma regulação de uso do solo criadora de áreas de
distinção na Pampulha, até os anos setenta, quando a legislação de uso e ocupação
do solo criou maior permissividade de uso e ocupação, antes restrita às áreas mais
centrais. Vimos também que, de outro lado, a implantação de infra-estrutura viária
privilegiou predominantemente as áreas de moradia dos grupos sociais dirigentes e
as zonas industriais – a exemplo da ligação entre o centro e a Pampulha, nos anos
quarenta e cinquenta, ou com a Cidade Nova65 no final dos anos sessenta, ou ainda
as novas acessibilidades nas áreas de expansão da zona sul, nos anos setenta e
oitenta.
O binômio Estado/incorporadores imobiliários produziu uma estrutura metropolitana
segregada, onde, ao lado da produção periférica de loteamentos populares, ocorre a
intensificação do mercado de moradia para as categorias dirigentes, nas áreas mais
centrais, em processo de crescente auto-segregação destas categorias. Estado e
mercado imobiliário vem reproduzindo a dinâmica centro-periferia na Região
Metropolitana de Belo Horizonte66. O esvaziamento populacional das áreas centrais
correspondeu, como veremos mais adiante, à expulsão simultânea de grupos sociais
operários e populares67 e à expansão do mercado de moradias orientado para o
segmento constituído das classes médias e categorias dirigentes.
Esses processos resultaram em particularidades na estruturação da região e na
pluralidade do crescimento periférico: em primeiro lugar, pelo movimento clássico de
expulsão para a periferia; de outro, por uma estruturação econômica, ditada pela ação
estatal, que definiu um eixo industrial-residencial periférico; em terceiro lugar, pela
periferização das classes médias, através da expansão da zona sul nos condomínios
fechados.
65 Bairro fora da zona sul, habitado pelas categorias dirigentes, como veremos. 66 Este é tema de análise no capítulo 6. 67 Análise desenvolvida no capítulo 5.
58
3. ESTRUTURA SOCIAL DA METRÓPOLE
Como o espaço físico é definido pela exterioridade mútua das partes, o espaço social é definido pela exclusão mútua (ou a distinção) das posições que o constituem, isto é, como estrutura de justaposição de posições sociais (Bourdieu, 1997:160).
A análise dos processos recentes acerca da estruturação da Região Metropolitana de
Belo Horizonte (RMBH) pressupõe, inclusive e fundamentalmente, conhecer o espaço
social resultante da sua história.
A bibliografia sobre a estrutura social da metrópole belo-horizontina é bastante
escassa. A maior parte dos estudos é específica sobre uma determinada classe social,
sendo mais comuns os trabalhos sobre a classe trabalhadora, em geral relativos à sua
organização e mobilização, seja sindical, seja através dos movimentos sociais
urbanos68. Outros trabalhos concentram-se em análise do mercado de trabalho69. O
Plambel-Planejamento da Região Metropolitana de Belo Horizonte, órgão técnico
criado em 1974 e extinto em 1996, teve produção considerável sobre a RMBH,
destacando-se análises históricas e conjunturais, muitas das quais com ênfase na
estrutura produtiva e no mercado de trabalho70. Uma produção bibliográfica
significativa sobre Belo Horizonte surgiu por ocasião da comemoração do centenário
da cidade. Vários dos artigos publicados tratavam, ainda que de forma indireta, da sua
estrutura social e dos processos de segregação71.
A tentativa de pensar a estrutura social e sua representação geográfica tem como
precedente o trabalho desenvolvido pela SAGMACS-Sociedade para a Análise Gráfica
e Mecanográfica Aplicada aos Processos Sociais, entre 1958 e 1959, por solicitação
da Prefeitura de Belo Horizonte. O objeto do trabalho era o diagnóstico da estrutura
urbana do município, que foi feito a partir da divisão da área urbana ocupada em
“unidades de análise” e da construção de uma tipologia que objetivava uma “visão
global e síntese das condições de vida da população”. A tipologia construída levou em
consideração a organização social belo-horizontina - sintetizada em camadas
68 Ver, por exemplo, Somarriba et Al. (1984) e Dulci (1996). 69 Ver Machado (1993). 70 Ver, por exemplo, Plambel (1974, 1979 e 1985). 71 Ver, entre outros, Buére (1997), Montenegro (1997) e Penna (1997).
59
populares, populares-médias, médias-superiores e superiores -, a situação da
população, medida em termos de acesso a bens urbanos, e a situação dos
equipamentos. A análise realizada pela SAGMACS mostrava uma cidade cujo espaço
geográfico já era claramente diferenciado, do ponto de vista social:
As camadas populares constituem a maior percentagem da população das unidades da região norte [incluindo as unidades situadas a norte da Amazonas, no lado oeste], e algumas da região sul, como ‘Jardim América’, ‘Alto da Barroca’, ‘Coração de Jesus’ e ‘Anchieta’ [...]. Por outro lado, as camadas superiores se fazem presente em quase todas as unidades da região sul, especialmente em “Lourdes’, ‘Cidade Jardim’ e ‘Barroca’ (SAGMACS, 1959:II-14).
O trabalho teve poucos impactos concretos, uma vez que o Plano Diretor proposto e
executado pela mesma empresa, alguns anos depois, permaneceu letra morta. A sua
relevância está no registro da organização sócio-espacial belo-horizontina no final dos
anos cinqüenta. É importante destacar que o trabalho confirma a visão, presente
também na análise apresentada no capítulo anterior, de que a área circunscrita pela
atual Avenida do Contorno, qual seja, o núcleo histórico projetado por Aarão Reis,
colocou-se, desde cedo, como referência simbólica de lugar dos grupos superiores na
hierarquia social. Como tal, representava o divisor de águas entre os espaços
superiores e os espaços operários e populares apresentados na análise da
SAGMACS72.
Do ponto de vista de uma análise mais abrangente sobre a estrutura social da cidade
e da região metropolitana, dois trabalhos são de particular interesse. O primeiro deles
(Le Ven, 1977) faz uma descrição dos processos subjacentes à transferência da
capital, analisando a estrutura social e as formas de distribuição de terras na cidade
recém criada. O segundo (Teixeira,1986) discute os conceitos de classes sociais,
estabelece uma classificação para a hierarquia social na Região Metropolitana de Belo
Horizonte e verifica a distribuição das diversas classes e frações de classe no espaço
urbano conurbado da Região Metropolitana.
Le Ven contrapõe-se à idéia de que a capital nasceu como a cidade de funcionários e
mostra como já nos seus primórdios apresentava uma estrutura social complexa e
segregada territorialmente, isto é, a permanência de frações tradicionais da oligarquia
agro-exportadora era simultânea à emergência de uma pequena fração de burguesia
72 Mais recentemente, Villaça (1998) desenvolve uma análise sobre a estrutura urbana de Belo Horizonte, também enfatizando este aspecto no núcleo histórico.
60
industrial (em boa proporção constituída de estrangeiros), um núcleo de burguesia
comercial oriunda de Ouro Preto e dos grupos sociais pioneiros na implantação da
nova capital, ligados ao comércio, construção civil e mercado de terra, e a camada
intermediária dos funcionários públicos e privados e das profissões liberais. Estes
grupos sociais ocupavam os espaços centrais da cidade, situados dentro da Avenida
do Contorno73. De outro lado, um proletariado, tanto nacional como estrangeiro,
constituído de uma camada de profissionais manuais, artesãos altamente
especializados, e de operários das fábricas de transformação dos produtos agrícolas,
ocupava os espaços externos à Avenida do Contorno, na Zona Suburbana. Esta
sociedade bastante complexa, diz o autor, que com poucos anos de existência não
tinha muito que ver com a população da antiga capital, Ouro Preto, podia fornecer as
bases sociais da divisão do trabalho própria da expansão do capitalismo dependente
com base econômica agro-exportadora, em processo lento de modificação (Le Ven,
1977:107). Por fim, o autor apresenta vasta argumentação, baseada na legislação e
em bibliografia da época, para demonstrar os processos de segregação sócio-espacial
nascentes com a própria cidade. De um lado, a criação de um mercado de terras
especulativo, a partir da doação e venda de lotes, com baixos preços, a uma
população restrita, constituída da pequena elite do arraial onde se instalou a cidade,
dos funcionários públicos e de proprietários em Ouro Preto, muitos dos quais não se
transferiram para a nova capital mas utilizaram suas prerrogativas para iniciar
negócios com a terra urbana. De outro, a segregação compulsória dos trabalhadores,
seja em áreas situadas na zona suburbana, onde a terra era mais barata, seja em
“áreas operárias” definidas por legislação municipal74.
Teixeira faz uma revisão teórica sobre a teoria das classes sociais e, a partir do estudo
da estrutura produtiva e da força de trabalho e, ainda, com base nos dados da
Pesquisa de Origem e Destino realizada na Região Metropolitana em 1981, constrói
73 Então Avenida 17 de Dezembro. 74 Nestas áreas, a Prefeitura fazia concessões de lotes a título provisório, os quais não podiam ser vendidos, devendo a transferência de benfeitorias ser precedida de licença. Para tais áreas foram, ainda, removidas famílias moradoras em barracões e cafuas instalados na área central. Tinham direito à concessão de lotes aqueles que provassem: a) ser operários (...); b) ter residência na capital durante, pelo menos, dois anos antes da data do seu requerimento (...); c) Ter bons costumes e ser dedicado ao trabalho (Decreto 2486, de 30/03/1909, in Le Ven, 1977: 96).
61
Figura 3.1 - RMBH - Aglomeração Metropolitana
0 10 20
Kilometers
Fonte: Plambel (1986)
uma classificação da estrutura social da Aglomeração Metropolitana de Belo
Horizonte75, para, em seguida, analisar a sua espacialidade.
A classificação construída por Teixeira considera fundamental-mente a ocupação e a
posição na ocupação. A distinção
entre burguesia e pequena
burguesia depende ainda do
porte dos meios de produção,
dado pelo número de
empregados. Ele apresenta uma
diferenciação entre “classe média
tradicional”, constituída pelas
tradicionais ocupações públicas e
não-manuais de rotina, e uma
“nova classe média”, definida por ocupações especializadas e posições de alta
gerência. Também entre o operariado, Teixeira propõe uma distinção entre aqueles
classicamente componentes do secundário e um semi-operariado do serviço, que ele
considera em situação contraditória de classe, um quase pertencimento às classes
médias e quase pertencimento ao sub-proletariado (p.135).
A importância do trabalho de Teixeira está na sua busca pela construção de uma nova
classificação social hierárquica e sua representação geográfica76. A análise mostra,
para o início dos anos oitenta, um espaço metropolitano altamente segregado, não se
tratando, via de regra, de espaços uni-classistas, mas cuja distribuição de classes está
longe de ser aleatória [...]. De fato, há um padrão social de moradia que se define a
partir das classes e suas relações” (p.159). Desta maneira, os espaços mais centrais
constituíam o lugar de concentração da burguesia e da nova classe média; por outro
lado, o operariado industrial encontrava-se no espaço que era também o da produção,
de onde estava excluída a burguesia e a nova classe média. A periferia era o lugar do
sub-proletariado, do proletariado (sobretudo da construção civil) e dos “semi-
75 O autor utilizou a definição Aglomeração Metropolitana proposta pelo Plambel, qual seja, a grande área urbana conurbada na Região Metropolitana, abrangendo as cidades de Belo Horizonte, Contagem e Betim e partes dos municípios de Ibirité, Ribeirão das Neves, Vespasiano, Santa Luzia e Sabará – ver FIG. 3.1. 76 Depois do trabalho da SAGMACS, que utilizava uma hierarquização social na sua análise do espaço geográfico, ainda que este não fosse o seu ponto de partida, nenhum outro tinha apresentado esta preocupação.
62
proletários dos serviços”, além de parcelas da pequena burguesia; ali também
estavam ausentes a burguesia e as classes médias.
Aspecto relevante do trabalho é também a observação do permanente processo de
periferização, com mudanças sócio-espaciais das áreas mais centrais. A situação mais
complexa quanto à composição das classes sociais no espaço, segundo o autor,
estava no Pericentro77:
região suburbana, colônias agrícolas e vilas operárias no início da nova Capital, foram sendo incorporadas ao espaço urbano, como periferias. As alterações verificadas nas últimas duas, três décadas, significariam a construção de um novo espaço. Agora as periferias são outras. A região pericentral é intermediária entre o Centro ampliado e as novas periferias. [...] é um espaço com novo status [...] sua composição social é a mais universal das grandes áreas urbanas da Aglomeração: dela não se acha excluída, de todo, nenhuma classe social (Teixeira, 1986:160).
Os trabalhos anteriormente apresentados constituem esforços relevantes de análise
que associa o espaço social à estruturação urbanística da metrópole, com importantes
registros de determinados momentos da história metropolitana. No entanto, a análise
apresentada no trabalho aqui desenvolvido busca, avançar analítica e
metodológicamente em duas direções: em primeiro lugar, respeitado o pressuposto da
oposição clássica de classes sociais visa ir além, considerando que o posicionamento
do indivíduo na hierarquia social está relacionado também a outros fatores, tais como
prestígio, renda e poder78. Em segundo lugar, buscou-se um método que permitisse a
análise combinada do espaço social e sua territorialidade, de maneira a identificar
espaços com forte homogeneidade interna e heterogeneidade entre si, do ponto de
vista da representação dos diferentes grupos sociais. Buscou-se, portanto, construir
uma “topografia” dos grupos sociais, a partir das muitas variáveis que compõem a
posição relativa dos indivíduos no espaço social.
Como vimos, a construção da hierarquia social que serviu de base para o
desenvovimento da análise está suportada na noção de centralidade do trabalho na
estruturação e no funcionamento da sociedade, utilizando-se a ocupação, tal como
definida pelo IBGE, como variável principal para a análise do espaço social.
77 A menção ao Pericentro diz respeito à macro-regionalização da RMBH proposta pelo Plambel - ver FIG. 2.10. 78 As posições não seguem uma escala uni-dimensional – uma pessoa, por exemplo, com baixa escolaridade, pode ter um rendimento que a posicione em lugares superiores na hierarquia, em relação a outros indivíduos de mesma escolaridade.
63
Em síntese, construiu-se um sistema de hierarquização social das ocupações que
servisse de proxy da estrutura social, sintetizada em 25 categorias sócio-ocupacionais,
por sua vez agrupadas em oito grandes grupos79 – o QUADRO a seguir apresenta os
grupos e suas categorias.
QUADRO 3.1
Sistema de Hierarquização Social das Ocupações Grupos Sócio-Ocupacionais Categorias Sócio-Ocupacionais Ocupações Agrícolas ocupações agrícolas
empresários dirigentes do setor público dirigentes do setor privado
Grupo Dirigente
profissionais liberais profissionais de nível superior autônomos Grupo Intelectual profissionais de nível superior empregados pequeno empregador Pequena Burguesia comerciantes por conta própria empregados de supervisão empregados do comércio técnicos e artistas empregados da educação e saúde
Setores Médios
empregados de segurança e correios trabalhadores da indústria moderna trabalhadores da indústria tradicional trabalhadores de serviços auxiliares trabalhadores da construção civil
Operários do Secundário
artesãos trabalhadores do comércio trabalhadores de serviço especializado Operários do Terciário trabalhadores de serviço não-especializado empregadas domésticas ambulantes Sub-proletariado biscateiros
3.1 – A estrutura social da Região Metropolitana de Belo Horizonte
Em 1991, o conjunto da população ocupada da Região Metropolitana de Belo
Horizonte refletia o resultado da sua história econômica, que produziu um setor
público significativo, um setor terciário que tem polarizado vastas áreas do território
mineiro e o secundário mais importante do estado. A esta estrutura econômica
corresponderia uma estrutura social com destaque para os empregados do setor
terciário, que constituíam quase 24% da população ocupada e o proletariado industrial
79 O Anexo 1 mostra a composição de cada categoria sócio-ocupacional.
64
Tabela 3.1 Região Metropolitana de Belo Horizonte
Distribuição e Crescimento das Categorias Sócio-Ocupacionais entre 1980 e 1991
1980 1991(*) Categorias Sócio – ocupacionais Num. Abs. Part. (%) Num. Abs. Part. (%)
Crescimento 80/91 (% a.a)
Grupo das ocupações agrícolas 11308 1.24 15684 1.18 3.02 Ocupações agrícolas 11308 1.24 15684 1.18 3.02
Grupo dirigente 10777 1.18 14304 1.08 2.60 Empresários 5264 0.58 7671 0.59 3.44 Dirigentes públicos 1584 0.17 2752 0.21 5.15 Dirigentes Privados 2092 0.23 1826 0.14 -1.23 Profissionais Liberais 1837 0.20 2055 0.16 1.03
Grupo Intelectual 45740 5.02 76274 5.76 4.76 Profissionais Super. Autônomos 4593 0.50 9903 0.76 7.23 Profissionais Super Empregados 41147 4.51 66371 5.07 4.44 Pequena Burguesia 39876 4.37 88594 6.69 7.53 Pequenos Empregadores 20005 2.19 51858 3.96 9.04 Comerciantes por conta própria 19871 2.18 36736 2.81 5.70 Setores Médios 238818 26.19 342048 25.85 3.32 Empregados de supervisão 48118 5.28 77196 5.90 4.39 Técnicos e artistas 29662 3.25 45232 3.46 3.91 Empregados em Saúde e em Educação 34752 3.81 48631 3.72 3.10 Empregados de escritório 111341 12.21 149944 11.46 2.74 Empregados em Segurança e em Correios 14945 1.64 21045 1.61 3.16
Proletariado do Setor Secundário 267644 29.35 326239 24.65 1.82
Operário da industria moderna 51109 5.60 55461 4.24 0.75 Operário da industria tradicional 49932 5.48 69383 5.30 3.04 Operário de serviço auxiliar 37735 4.14 56667 4.33 3.77 Operário da construção civil 114040 12.51 119535 9.14 0.43 Artesão 14828 1.63 25193 1.93 4.94 Proletariado do Setor terciário 193358 21.20 305385 23.07 4.24 Empregado no comercio 64905 7.12 102108 7.81 4.20 Empregado em Serviço Especializado 86674 9.50 137474 10.51 4.28 Empregado em Serviço Não-Especializado 41779 4.58 65803 5.03 4.22 Sub-proletariado 115733 12.69 155179 11.72 2.70 Empregados domésticos 103515 11.35 123827 9.47 1.64 Ambulantes 9227 1.01 24003 1.84 9.08 Biscateiros 2991 0.33 7349 0.56 8.51 Total 911946 100.00 1323707 100.00 3.33 Fonte: IBGE, Censos Demográficos, 1980 e 1991 – dados trabalhados.
65
- quase 14% (considerando o operariado da construção civil e os artesãos este
percentual atinge 25%) – ver TAB. 3.1. O conjunto dos trabalhadores, incluindo os
setores médios e o sub-proletariado, compunham cerca de 85% da população
ocupada.
Se compararmos este quadro com a distribuição média da população brasileira
ocupada80, ficam mais claras as peculiaridades da Região Metropolitana de Belo
Horizonte - para estabelecer a comparação, foram excluídos, dos dados referentes ao
Brasil, o pessoal ocupado nas atividades agrícolas, dado o alto grau de urbanização
das regiões metropolitanas81. Contribui para destacar as particularidades da metrópole
em estudo a comparação com outras regiões metropolitanas, cujos dados podem ser
observados na TAB. 3.2.
TABELA 3.2 Regiões Metropolitanas e Brasil
Distribuição da população ocupada por grupo sócio-ocupacional em 1991
Distribuição da População Ocupada (%) Grupos Sócio-Ocupacionais RMBH RMRJ* RMSP RMPA RMC RMR BRASIL
Grupo Dirigente 1,1 0,9 1,4 0,9 1,5 1,1 0.7 Grupo Intelectual 5,8 7,1 5,3 4,9 5,7 5,9 4.0 Pequena Burguesia 6,7 5,2 6,1 6,8 6,8 8,0 8.9 Setores Médios 25,9 27,3 27,6 26,5 25,3 25,1 22.0 Proletariado do Secundário 24,7 21,1 26,3 28,9 25,6 19,5 25.4 Proletariado do Terciário 23,1 25,2 23,6 20,7 21,4 23,1 23.6 Sub-proletariado 11,7 12,1 8,6 9,0 9,0 14,2 15.2 TOTAL 98,9 98,9 98,9 97,8 95,3 96,9 100.00
Fontes: IBGE, Censo Demográfico, 1991 – dados trabalhados pelas equipes que compõem o Projeto “Metrópole, Desigualdades sócio-espaciais e governança urbana, financiado pelo PRONEX; para o Brasil, IBGE, PNAD, 1992. (*) Para as siglas das Regiões Metropolitanas, ver Lista de Siglas e Abreviaturas.
À primeira vista, destaca-se a presença significativa do grupo dirigente na metrópole
belo-horizontina, em relação ao país, bem como a outras regiões metropolitanas,
como Rio de Janeiro e Porto Alegre. No caso de Belo Horizonte, o seu peso no total
da população ocupada se deve principalmente à participação dos empresários
(0,59%) e Dirigentes Públicos, que é de 0,21%. No caso da Elite Intelectual,
sobressaem os profissionais empregados (5,0% do total da população ocupada). Se
observamos a média nacional, no entanto, verificamos que, na realidade, o grupo
dirigente brasileiro está concentrado nas metrópoles, o que parece ser uma
constatação óbvia, dada a concentração as atividades de comando e controle, seja da
80 Para o Brasil a fonte de dados foi a PNAD 1992.
66
atividade produtiva, seja das ações de governo. Neste caso, Belo Horizonte perde
importância, pelo menos em relação a São Paulo e a Curitiba, onde a participação
desse grupo no conjunto da população ocupada é 30% a 40% maior do que na
metrópole belo-horizontina.
Comparada com as demais metrópoles brasileiras, Belo Horizonte e sua região
situam-se em posição intermediária : a presença do sub-proletariado não é tão forte
como em Recife, mas é maior do que em São Paulo, Porto Alegre e Curitiba, e o
operariado do setor secundário não tem a mesma participação apresentada pelas
regiões mais industrializadas, como São Paulo e Porto Alegre, mas tem maior peso do
que no Rio de Janeiro e em Recife – neste caso, a RMBH aproxima-se da média
nacional, juntamente com Curitiba. O setor terciário é expressivo, perdendo apenas
para o Rio de Janeiro (município onde é forte o peso do setor público) e São Paulo,
onde a posição de comando econômico no nível nacional pressupõe um terciário forte.
Também os setores médios têm maior participação na Região Metropolitana de Belo
Horizonte, em relação ao país como um todo, e aqui o destaque é para os
empregados de escritório (em BH representam quase 1/3 do setor).
Se os operários na região de Belo Horizonte têm uma participação igual à média
nacional, os segmentos relacionados ao trabalho por conta própria - a pequena
burguesia, por um lado, e o sub-proletariado, por outro - têm menor participação nesta
metrópole. Ainda que a precarização do trabalho tenha se manifestado na RMBH
durante os anos oitenta, como veremos mais adiante, a hierarquia social nesta
metrópole ainda estava, no início da década de 90, suportada por uma estrutura mais
formal do mercado de trabalho, relativamente ao país como um todo.
A Região Metropolitana de Belo Horizonte apresentava, pois, em 1991, uma estrutura
social complexa, que mostrava, ao mesmo tempo, a importância da indústria na sua
estrutura produtiva, ainda que em posição intermediária em relação ao conjunto das
metrópoles brasileiras, um terciário relevante e um conjunto de segmentos que
81 No caso da RMBH, em 1991, 60% de sua população vivia na capital, cuja área já era quase toda urbanizada.
67
compõem as classes médias com participação na estrutura social maior do que a
média nacional82.
A análise interna do espaço social na metrópole belo-horizontina, faz ressaltar, em
primeiro lugar, a presença masculina predominante na estrutura produtiva da região:
61,4 % do pessoal ocupado em 1991 eram homens. Esta participação, que em 1980
era maior (65,4%), é diferenciada nas diversas categorias sócio-ocupacionais (ver
TAB. 3.3).
As mulheres são predominantes nos estratos mais baixos da hierarquia, ou seja, no
sub-proletariado – as empregadas domésticas são as responsáveis por esta
participação, na medida em que 92% do pessoal ocupado nesta categoria são
mulheres. Também entre os profissionais de nível superior e nos Setores Médios, a
participação feminina é quase a metade do pessoal ocupado. Neste último grupo, esta
participação é predominante entre os empregados da saúde e educação (86% são
mulheres) e entre os empregados de escritório, onde elas são 53%.
A participação feminina é menor é entre os trabalhadores agrícolas, entre os operários
do secundário e no grupo dirigente. Entre os operários, a exceção é para as artesãs,
que constituem 62% da categoria. No grupo dirigente, destacam-se os dirigentes do
setor privado, onde apenas 3% são mulheres, e o empresariado, onde a participação
feminina é de 10% - ver TAB. 3.3. Entre os dirigentes públicos, há maior participação
das mulheres (31%).
Permanece na estrutura social belo-horizontina uma divisão sexual do trabalho, que
desempenha importante papel de consolidação da subordinação das mulheres em
relação aos homens na sociedade em geral (Gardiner, 1982), e que vem determinando
a sua posição na hierarquia social. Certos tipos de trabalho parecem ser tipicamente
femininos, na medida em que reproduzem, de certa forma, papéis culturalmente
desempenhados na família. É o caso das trabalhadoras em escritórios, ou nas tarefas
ligadas à saúde e educação.
Entre 1980 e 1991 a principal mudança diz respeito ao aumento da participação das
mulheres no mercado de trabalho, de 34,6% para 38,6%. Com exceção do sub-
proletariado, em todos os outros o crescimento de mulheres ocupadas foi maior do
82 Ver na TAB. 3.1 a distribuição da população ocupada nas categorias sócio-ocupacionais em 1980 e 1991.
68
Tabela 3.3
Região Metropolitana de Belo Horizonte Composição de gênero das categorias sócio-ocupacionais
1980 1991 Categorias Sócio-ocupacionais Mulheres Homens Mulheres Homens
Grupo das ocupações agrícolas 7.7% 92.3% 14.1% 85.9% Ocupações agrícolas 7.7% 92.3% 14.1% 85.9%
Grupo Dirigente 7.5% 92.5% 13.4% 86.6% Empresários 6.4% 93.6% 9.9% 90.1% Dirigentes Públicos 20.8% 79.2% 31.4% 68.6% Dirigentes Privados 2.6% 97.4% 3.0% 97.0% Profissionais Liberais 4.6% 95.4% 11.9% 88.1%
Grupo Intelectual 36.8% 63.2% 44.9% 55.1% Prof. Superior Autônomo 28.9% 71.1% 41.5% 58.5% Prof. Superior Empregado 37.7% 62.3% 45.4% 54.6%
Pequena Burguesia 17.9% 82.1% 27.9% 72.1% Peq. Empregador 16.2% 83.8% 25.4% 74.6% Comerciante conta próp. 19.6% 80.4% 31.5% 68.5%
Setores Médios 41.5% 58.5% 47.2% 52.8% Empreg. Supervisão 23.2% 76.8% 30.5% 69.5% Técnicos e Artistas 19.5% 80.5% 32.6% 67.4% Empreg. Saúde e Educ. 87.4% 12.6% 86.1% 13.9% Empreg. Escritório 45.8% 54.2% 52.6% 47.4% Empreg. Seguros e Correios 5.3% 94.7% 9.9% 90.1%
Proletariado do Setor Secundário 10.4% 89.6% 15.5% 84.5% Operário da industria moderna 5.0% 95.0% 6.4% 93.6% Operário da industria tradicional 27.2% 72.8% 34.9% 65.1% Operário de serviço auxiliar 5.7% 94.3% 7.7% 92.3% Operário da construção civil 0.2% 99.8% 2.4% 97.6% Artesão 63.3% 36.7% 61.6% 38.4%
Proletariado do Setor terciário 33.5% 66.5% 36.8% 63.2% Empregado no comercio 36.9% 63.1% 40.5% 59.5% Empregado em Serviço Especializado 27.4% 72.6% 32.3% 67.7% Empregado em Serviço Não-especializado 40.6% 59.4% 40.6% 59.4% Sub-proletariado 88.2% 11.8% 80.2% 19.8%
Emp. Domésticas 96.1% 3.9% 91.9% 8.1% Ambulantes 27.0% 73.0% 41.4% 58.6% Biscateiros 1.8% 98.2% 7.8% 92.2%
TOTAL 34.6% 65.4% 38.6% 61.4% Fonte: IBGE, Censos Demográficos, 1980 e 1991 – dados trabalhados
69
que o de homens ocupados. Examinando cada uma das categorias sócio-
ocupacionais, percebe-se que as duas categorias em que o crescimento de mulheres
foi menor do que o de homens são justamente aquelas em que elas são
predominantes, quais sejam, a de trabalhadores da saúde e educação e a de
empregadas domésticas83. Em algumas categorias o número de mulheres ocupadas
em 1991 chega a ser três ou quatro vezes maior do que em 1980, como é o caso das
profissionais liberais, profissionais de nível superior autônomas, comerciantes por
conta própria, pequenas empregadoras e ambulantes84.
Essas mudanças, no entanto, não parecem estar indicando alteração qualitativa na
participação das mulheres. Ressalte-se que em todas as categorias em que seu
aumento foi significativo, as relações de trabalho não passam pelo assalariamento,
embora a posição social de cada uma seja distinta, com as profissionais de nível
superior em uma extremidade e as ambulantes na outra. Para discutir o significado
das mudanças, é importante discutir o comportamento do mercado de trabalho como
um todo.
Vários trabalhos têm mostrado que o desemprego conjuntural, típico de situações de
ajuste econômico vem cedendo lugar ao desemprego de longa duração85. Estudo de
Machado e Cerqueira (1998) para a Região Metropolitana de Belo Horizonte mostra
que o crescimento do emprego formal urbano se alterou quando a alta de juros
internacionais e a interrupção do fluxo de capitais externos após a moratória mexicana
de 1982 levaram à adoção de políticas de ajustes voltadas para a obtenção de
superávits na Balança Comercial, tendo havido queda dos salários reais e expansão
do desemprego aberto86, além do crescimento das ocupações em setores com baixa
produtividade (Machado e Cerqueira, 1998:296).
83 Em 1991 também na categoria dos trabalhadores de escritórios as mulheres ultrapassam os homens, passando a constituir 52,6% da categoria, em contraposição à participação com 45,8% em 1980. 84 Há ainda os casos das operárias da construção civil e de biscateiras, em que o número em 1991 é, respectivamente, 17 e 11 vezes maior do que aquele de 1980. Entretanto, em ambas as categorias, o número absoluto de trabalhadoras ainda é muito pequeno, e sua participação em 1991 representa, respectivamente 2,4% e 7,8% do total de pessoal ocupado em cada uma das categorias. 85 O desemprego de longa duração é definido internacionalmente como aquele que ultrapassa 12 meses. No Brasil, alguns estudos consideram entretanto o período de 6 meses para definir o desemprego de longa duração, tendo em vista a fragilidade dos mecanismos de seguro-desemprego no país (ver Machado e Cerqueira, 1998). 86 O conceito de desemprego aberto é, segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego do DIEESE, a procura por emprego nos trinta dias que antecederam a pesquisa, sem realização de nenhum trabalho nos últimos sete dias (Machado e Cerqueira, 1998).
70
O crescimento do pessoal ocupado na RMBH durante os anos oitenta parece ser
resultado da maior entrada de mulheres no mercado de trabalho. Ainda que tenha
havido importantes mudanças culturais e de comportamento na sociedade brasileira a
partir dos anos sessenta, é provável que, ainda hoje, uma parcela considerável de
mulheres estejam no mercado de trabalho para complementar a renda familiar
deteriorada, ou mesmo para compensar o desemprego masculino.
Se esta hipótese é verdadeira, o crescimento da participação das mulheres no
mercado de trabalho pode não estar significando somente opções de vida ou mesmo
mobilidade social, mas, também, um movimento compulsório visando a manutenção
de padrões de consumo. Os dados sobre distribuição dos rendimentos totais dos
trabalhadores situados em cada grupo sócio-ocupacional corroboram a hipótese: caiu
o nível de rendimento em todos os grupos sociais. São impressionantes os dados para
os segmentos intermediários na hierarquia social; no caso da Pequena Burguesia, em
1991 15,8% do pessoal ocupado recebia até salários mínimos (contra 7,7% em 1980)
e no caso dos Setores Médios, esta situação abrangeria em 1991 quase 3/4 dos
trabalhadores, em contraposição a 59,5% em 1980 (ver TAB. 3.4).
.
71
TABELA 3.4 Distribuição das Faixa de Rendimento Total Nominal do indivíduo por grupo sócio-
ocupacional (salário mínimo) 1980 e 1991
Faixa de rendimento Grupos sócio-ocupacionais
até 1/2 Mais de 1/2 a 2
Mais de 2 a 5
Mais de 5 a 10
Mais de 10 a 20
Mais de 20
Total
1980 Ocupações Agrícolas 12,4% 66,5% 11,5% 4,5% 3,9% 1,3% 100,0% Grupo Dirigente 0,0% 0,1% 0,0% 0,3% 7,2% 92,4% 100,0% Grupo Intelectual 0,2% 5,9% 21,7% 25,9% 30,9% 15,3% 100,0% Pequena Burguesia 1,5% 14,4% 36,9% 27,9% 18,2% 1,1% 100,0% Setores Médios 1,3% 37,0% 39,2% 15,4% 5,6% 1,4% 100,0% Proletariado do Secundário 2,1% 54,4% 37,4% 5,3% 0,7% 0,1% 100,0% Proletariado do Terciário 4,5% 61,1% 25,9% 6,1% 2,0% 0,4% 100,0% Sub-proletariado 36,2% 59,6% 4,0% 0,2% 0,0% 0,0% 100,0% Total 6,7% 47,4% 29,7% 9,4% 4,5% 2,4% 100,0%
1991 Ocupações Agrícolas 38,3% 45,5% 9,8% 3,3% 2,5% 0,6% 100.0% Grupo Dirigente 0,0% 0,2% 0,1% 0,4% 10,4% 88,8% 100.0% Grupo Intelectual 1,1% 9,9% 27,4% 30,8% 23,8% 7,1% 100.0% Pequena Burguesia 4,8% 22,0% 37,0% 22,2% 13,3% 0,7% 100.0% Setores Médios 8,7% 43,4% 32,3% 11,4% 3,4% 0,8% 100.0% Proletariado do Secundário 15,0% 59,3% 22,2% 2,9% 0,5% 0,1% 100.0% Proletariado do Terciário 21,0% 54,7% 18,2% 4,5% 1,3% 0,2% 100.0% Sub-proletariado 45,9% 49,3% 4,5% 0,2% 0,1% 0,0% 100.0% Total 17,2% 46,9%% 22,6% 8,0% 3,7% 1,7% 100.0% Fonte: IBGE, Censos Demográficos, 1980 e 1991 – dados trabalhados OBS.: os rendimentos auferidos em 1991 foram deflacionados para 1980
Na realidade, entre 1980 e 1991, além da diminuição geral da renda, cresceu a
desigualdade na sua apropriação: de um lado, as faixas de renda mais alta se
concentram mais nas elites e, de outro, as faixas de renda mais baixa se
desconcentram. Em 1980, 68% dos trabalhadores que ganhavam até meio salário
mínimo situavam-se no sub-proletariado e, na faixa acima de vinte salários mínimos,
menos da metade estava na elite dirigente. Em 1991, ao contrário, a elite dirigente
passa a concentrar quase 60% daqueles situados na faixa acima dos vinte salários
mínimos, enquanto o sub-proletariado vai dividir com os operários do secundário e do
terciário a participação na menor faixa de rendimentos. Nas outras faixas de renda
percebe-se o mesmo processo – ver as TAB. 3.587. Em outras palavras, ainda que as
87 É importante lembrar que um dos critérios para definir os grupos dirigentes é possuir um rendimento
igual ou maior do que 20 salários mínimos. Os 10% desta categoria sócio-ocupacional situados na faixa
de renda anterior devem estar, na realidade, recebendo exatos 20 salários mínimos.
72
categorias superiores na hierarquia social também tenham apresentado queda na
renda, elas passaram a concentrar maior parcela dos altos salários.
TABELA 3.5
Distribuição dos grupos sócio-ocupacionais por Faixa de Rendimento Total Nominal do indivíduo (salário mínimo) – 1980 e 1991
Faixa de rendimento Grupos sócio-ocupacionais
até 1/2 Mais de 1/2 a 2
Mais de 2 a 5
Mais de 5 a 10
Mais de 10 a 20
Mais de 20
TOTAL
1980 Ocupações Agrícolas 2.3% 1.7% 0.5% 0.6% 1.1% 0.7% 1.2% Grupo Dirigente 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 1.9% 45.6% 1.1% Grupo Intelectual 0.2% 0.6% 3.6% 13.7% 33.8% 32.0% 5.0% Pequena Burguesia 1.0% 1.3% 5.4% 12.9% 17.4% 2.1% 4.3% Setores Médios 5.2% 20.2% 34.1% 42.5% 32.3% 14.9% 26.2% Proletariado do Secundário 9.3% 33.3% 36.5% 16.5% 4.2% 1.1% 29.3% Proletariado do Terciário 14.2% 27.0% 18.2% 13.6% 9.4% 3.7% 21.2% Sub-proletariado 67.9% 15.8% 1.7% 0.2% 0.1% 0.0% 12.7% Total 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 1991 Ocupações Agrícolas 3.7% 1.6% 0.7% 0.7% 1.1% 0.6% 1.7% Grupo Dirigente 0.0% 0.0% 0.0% 0.1% 3.0% 56.2% 1.1% Grupo Intelectual 0.3% 1.2% 6.9% 21.9% 36.4% 23.7% 5.7% Pequena Burguesia 1.8% 3.1% 10.9% 18.6% 24.0% 2.6% 6.6% Setores Médios 12.9% 23.6% 36.4% 36.6% 23.7% 11.8% 25.5% Proletariado do Secundário 21.6% 31.3% 24.3% 9.0% 3.5% 1.8% 24.7% Proletariado do Terciário 27.9% 26.7% 18.5% 12.9% 8.1% 3.2% 22.8% Sub-proletariado 31.7% 12.5% 2.4% 0.3% 0.2% 0.1% 11.9% Total 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0%
Fonte: IBGE, Censos Demográficos, 1980 e 1991 – dados trabalhados OBS.: os rendimentos auferidos em 1991 foram deflacionados para 1980
Também a apropriação do chamado capital escolar é diretamente proporcional à
posição na hierarquia social. Enquanto quase 40% dos trabalhadores da
sobrevivência não têm instrução, ou têm no máximo 3 anos de estudo, entre 70 e 80%
das elites têm mais de 15 anos de estudo, o que corresponde, em geral, ao curso
superior. O operariado situa-se predominantemente na faixa dos 4 aos 7 anos de
estudo , o que corresponde ao Ensino Fundamental incompleto. Entre a pequena
burguesia e os setores médios, mais da metade têm mais de 8 anos de estudo (58% e
77% respectivamente), o que corresponde, no mínimo, ao Ensino Fundamental
completo. Há que ressaltar que a população ocupada nas categorias que compõem os
Setores Médios é mais escolarizada do que a Pequena Burguesia.
73
TABELA 3.6 Anos de estudo por grupo sócio-ocupacional
1991
Anos de estudo Grupo Sócio-ocupacional
Sem instrução
1 a 3 anos e Alfabetização de
adultos
4 a 7 anos
8 a 10 anos
11 a 14 anos
mais de 15 anos Total
Ocupações Agrícolas 17.4% 27.2% 40.6% 6.9% 6.0% 1.9% 100.0% Grupo Dirigente 0.1% 0.3% 5.6% 5.7% 18.0% 70.4% 100.0% Grupo Intelectual 0.1% 0.2% 1.8% 1.9% 17.4% 78.6% 100.0% Pequena Burguesia 2.4% 7.4% 32.1% 17.7% 28.2% 12.2% 100.0% Setores Médios 0.5% 2.3% 20.2% 22.1% 44.7% 10.2% 100.0% Proletariado do Secundário 7.8% 19.5% 53.1% 13.0% 5.9% 0.6% 100.0% Proletariado do Terciário 5.2% 13.2% 50.3% 18.7% 11.3% 1.3% 100.0% Sub-proletariado 13.6% 24.9% 51.1% 7.3% 2.7% 0.4% 100.0% Total 5.4% 12.4% 38.9% 15.4% 18.9% 9.1% 100.0% Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 1991 – dados trabalhados
Se verificarmos a composição de cor dos grupo sócio-ocupacionais, novamente há
forte correlação entre ser branco e pertencer às categorias dirigentes e ser negro ou
pardo e pertencer às categorias operárias e sub-proletárias.
TABELA 3.7 Composição de cor/raça por grupo sócio-ocupacional
1991
Categorias Sócio-ocupacionais brancos negros/pardos Ocupações Agrícolas 38.0% 61.6% Grupo Dirigente 88.8% 10.8% Grupo Intelectual 78.4% 21.2% Pequena Burguesia 62.3% 37.4% Setores Médios 55.5% 44.2% Proletariado do Secundário 32.0% 67.7% Proletariado do Terciário 38.7% 61.0% Sub-proletariado 28.7% 70.9% Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 1991 – dados trabalhados
Se a hierarquia social se mantém em outras dimensões, além daquelas relacionadas
ao trabalho e à renda – reproduzindo-se, como vimos, nas dimensões relativas a
gênero e cor – ela reproduz-se também no acesso à riqueza. Os grupos dirigentes têm
as melhores condições de vida urbana e material: mais de 90% têm saneamento
adequado, apresentam baixa densidade domiciliar e possuem bens88. Os profissionais
88 Foram consideradas com saneamento adequado as moradias que têm coleta direta de lixo, instalação sanitária com rede geral ou fossa ligada e abastecimento de água por rede geral, poço ou outro com canalização. A densidade domiciliar foi medida pela média de pessoas por cômodo: baixa, com duas pessoas, média, com duas ou três, e alta, acima de três pessoas por cômodo. O acesso a bens materiais
74
de nível superior situam-se bem abaixo, com 67% vivendo em domicílios que contam
com os bens indicados (ver TAB. 3.8 a 3.10). Na realidade, o que distingue estes dois
grupos (além do fato de que no segundo ninguém é proprietário de bens de produção)
é o poder aquisitivo. Enquanto quase 100% do grupo dirigente dirigente têm
rendimentos acima de 20 salários mínimos (à exceção dos dirigentes públicos), as
categorias intelectuais situam-se nas faixas inferiores: cerca de 25 a 30% situam-se na
faixa entre 10 e 20 salários mínimos e igual percentual situa-se respectivamente nas
faixas de 5 a 10 salários mínimos e de 2 a 5 salários mínimos – apenas 15% situam-se
na faixa acima de 20%. Desta maneira, se as características individuais de cor e
escolaridade são semelhantes para os dois grupos (com vantagens para as categorias
dos profissionais de nível superior, no caso da escolaridade), o acesso a bens
materiais é bastante diferenciado, embora as características habitacionais sejam
também semelhantes, denotando vizinhança urbana, assunto que investigaremos com
maior detalhe no próximo capítulo. É interessante, ainda, ressaltar que a participação
das mulheres é bem maior na elite intelectual, sendo também expressiva entre os
dirigentes públicos, única categoria da elite dirigente que se situa predominantemente
na faixa entre 10 e 20 salários mínimos, apresentando renda menor, portanto, do que
o conjunto desse grupo social.
No outro extremo estão os trabalhadores manuais, com percentual abaixo da média
nos três indicadores, sendo que os operários do terciário apresentam condições mais
elevadas que os outros dois grupos - os índices do operariado industrial se aproximam
daqueles do sub-proletariado. Há variações internas: os operários da indústria
moderna e os artesãos se aproximam dos operários do terciário. Entre estes, porém,
os trabalhadores em serviços não especializados se aproximam do sub-proletariado.
Com relação aos bens materiais, nestes grupos a melhor situação é a dos artesãos e
dos empregados do comércio (entre 11 e 14% estão em domicílios que possuem
todos os bens indicados). Também as empregadas domésticas apresentam percentual
significativo, mas o fato de que muitas delas residem nas casas de seus
empregadores pode distorcer a informação.
Entre os dois extremos, estão a pequena burguesia e os setores médios, categorias
que cresceram igual ou superior ao crescimento médio da população ocupada. Ambas
são semelhantes quanto às condições de saneamento (entre 70 e 80% adequado) e
foi medido através da verificação dos domicílios onde os moradores contam com telefone, carro, geladeira e televisão.
75
Tabela 3.8 Condições de saneamento por grupo sócio-ocupacional
1991 Categorias Sócio-
ocupacionais Saneamento Adequado (*)
Agricultores 22.2% Elite Dirigente 95.4% Elite Intelectual 92.2% Pequena Burguesia 78.9% Setores Médios 79.1% Operários Secundário 46.7% Operários Terciário 57.6% Subproletariado 47.0% Total 62.3% Fonte: Censo Demográfico, 1991 – dados trabalhados (*) pessoas em domicílios com lixo coletado diretamente, instalação sanitária com rede geral ou fossa ligada e abastecimento de água por rede geral, poço ou outro com canalização.
Tabela 3.9 Densidade domiciliar por grupo sócio-ocupacional
1991
Categorias Sócio-ocupacionais baixa média alta Agricultores 52.85% 27.49% 18.82% Elite Dirigente 96.65% 3.16% 0.15% Elite Intelectual 91.48% 6.81% 0.99% Pequena Burguesia 76.65% 17.27% 5.62% Setores Médios 72.89% 20.01% 6.64% Operários Secundário 47.02% 31.83% 20.16% Operários Terciário 53.94% 29.06% 16.35% Sub-proletariado 49.60% 27.38% 22.14% Total 60.59% 24.90% 13.80% Fonte: Censo Demográfico, 1991 – dados trabalhados Observação: Densidade Baixa = pessoas em domicílios com até 2 moradores por cômodo; Densidade Média = pessoas em domicílios com mais de 2 até 3 moradores por cômodo; Densidade Alta = pessoas em domicílios com mais de 3 moradores por cômodo.
Tabela 3.10 Posse de bens materiais por grupo sócio-ocupacional
1991
Categorias Sócio-ocupacionais com bens sem bens Agricultores 7.9% 55.1% Elite Dirigente 90.9% 0.2% Elite Intelectual 67.2% 2.7% Pequena Burguesia 40.2% 13.5% Setores Médios 27.8% 17.8% Operários Secundário 4.9% 54.7% Operários Terciário 9.4% 44.4% Sub-proletariado 15.0% 56.8% Total 19.8% 37.0% Fonte: Censo Demográfico, 1991 – Tabulações especiais Observação: Com bens = pessoas em domicílios onde os moradores contam com telefone, carro, geladeira e televisão; Sem bens = pessoas em domicílios oque não contam com bens materiais como telefone, carro e televisão-cores
76
de densidade domiciliar. Os menores índices estão entre os comerciantes por conta-
própria (pertencentes à pequena burguesia) e os trabalhadores de segurança e
correios (setores médios). A mesma relação é apresentada no indicador densidade
domiciliar.
Com relação a bens materiais, a pequena burguesia no seu conjunto tem maior
acesso (na medida, inclusive, que tem maiores rendimentos) relativamente aos
setores médios. Entretanto, entre os comerciantes por conta-própria apenas 23%
possuem todos os bens indicados, índice semelhante aos menores dos setores
médios (os empregados de escritório e os trabalhadores de segurança e correios).
Em síntese, os anos oitenta assistiram a um aumento na desigualdade de renda e à
maior participação das mulheres no mercado de trabalho, principalmente em
atividades autônomas e de relações de trabalho precarizadas. As posições sociais
estão altamente informadas pela condição do indivíduo - ser mulher e ser negro ou
pardo estão associados a posições inferiores – e muito relacionadas às menores
chances de acesso a bens materiais e simbólicos.
Os operários do setor secundário se aproximam muito do sub-proletariado, estrato
inferior da hierarquia social, em vários aspectos, o que se deve à grande participação
dos trabalhadores da construção civil neste grupo. Os operários da indústria moderna
e os artesãos, que representam, juntos, 24% do grupo, estão em melhor posição.
Ao contrário do que tem afirmado uma parte da literatura internacional, as classes
médias – elite intelectual, pequena burguesia, setores médios – cresceram mais que a
média geral, e vêm aumentada a sua participação, pelo menos nos anos oitenta.
O espaço social da metrópole belo-horizontina, muito embora não se mostre
polarizado nos anos oitenta, apresenta, no entanto, grandes distâncias entre as
diversas posições, e as desigualdades se aprofundaram na década.
77
3.2 – Evolução da estrutura social nos anos oitenta
Na década de 1980, a economia brasileira caracterizou-se, como vimos, por forte
instabilidade e clara tendência à estagnação com aceleração inflacionária. O
crescimento do setor secundário situou-se próximo de zero, ao que se somou um
desempenho pouco dinâmico da agricultura, que embora maior do que o da indústria,
ficou também aquém da média da década de setenta89. O recrudecimento da crise
energética mundial e o prenúncio de recessão interna produziram, nas políticas
econômicas federais, a ênfase na busca de novas fontes energéticas e no estímulo ao
setor primário provedor de insumos básicos e capaz de incrementar as exportações.
Na metrópole belo-horizontina, cuja estrutura produtiva é tipicamente urbana, a crise
vai se abater principalmente sobre a indústria. A participação dos operários do
secundário diminuiu nos anos oitenta e seu crescimento foi de 2% ao ano em média -
menos de 1% ao ano no caso dos operários da indústria moderna.
Com relação ao terciário brasileiro, nos anos oitenta a sua trajetória foi, de acordo com
Cano e Semeghini (1991), bastante contraditória:
as taxas de incremento de seus principais setores declinaram (excetuando-se o financeiro) e existem claros indícios de um crescimento extensivo em muitas áreas, acompanhado por maior grau de ‘inchamento’90. Mas também prosseguiriam as mudanças estruturais, com maior diversificação e aprofundamento dos nexos com a base produtiva e o mundo urbano, acompanhada por moderada introjeção tecnológica e crescentes requisitos de mão-de-obra mais especializada (Cano e Semeghini, 1991:370).
Os anos oitenta foram, ainda, segundo os autores, caracterizados pela ampliação e
diversificação dos serviços pessoais modernos, sintonizados com o padrão de vida
urbano.
Também na Região Metropolitana de Belo Horizonte parte do setor terciário se
modernizou, e houve concentração de capital, com o surgimento dos shopping
centers, hipermercados e grandes atacadistas, ao lado do crescimento do mercado
informal, na outra extremidade.
O operariado do terciário cresceu em média 4,2% ao ano e o pessoal ocupado nos
setores médios (ligados fundamentalmente ao terciário) cresceu cerca de 3% ao ano,
89 (Ver Cano e Semeghini, 1991).
78
sendo que os primeiros tiveram sua participação aumentada no conjunto da população
ocupada da região metropolitana. Considerando o grupo que denominamos setores
médios como constituintes do Setor Terciário91, juntamente com os operários do setor
e os trabalhadores informais (sub-proletariado), observa-se a importância deste setor
no mercado de trabalho da RMBH, empregando 60% do pessoal ocupado em 1980 e
61% em 1991.
Na década, cresceu o mercado informal de trabalho e precarizaram-se as relações de
trabalho. De um lado, destaca-se o crescimento dos trabalhadores informais:
biscateiros e ambulantes tiveram crescimento próximo dos 9% ao ano92. De outro,
segmentos superiores parecem passar por mudanças nas relações de trabalho: da
posição de dirigentes e empregados de alto nível para a posição de pequenos
empregadores e autônomos. As categorias que mais cresceram (em torno de 9% ao
ano) além dos ambulantes e biscateiros, foram os pequenos empregadores urbanos e
os profissionais de nível superior autônomos. Ao mesmo tempo, os dirigente privados
tiveram redução em números absolutos e os profissionais liberais cresceram apenas
1% ao ano. Entre as categorias dirigentes, apenas os dirigentes públicos tiveram
crescimento significativo (5% ao ano), demonstrando a permanente importância do
setor público na economia da região.
A reestruturação produtiva já parece apresentar seus efeitos sobre a estruturação do
mercado de trabalho; a reconfiguração, em nível mundial, da inserção das camadas
médias no mundo do trabalho, deixando de ser assalariada, apresenta-se também
como tendência no início dos anos noventa, na metrópole belo-horizontina.
A terciarização nos anos oitenta representou, segundo Cano e Semeghini (op.cit), uma
continuidade e mesmo aprofundamento de tendências esboçadas nos anos setenta –
nas regiões do país em que houve relativo dinamismo, ligado à produção industrial
para o mercado externo, à agricultura e à agroindústria, a estrutura de comércio e
90 Tratam-se de atividades de baixa remuneração e precárias relações de trabalho, fundamentalmente no setor serviços. 91 A categoria sócio-ocupacional “empregados de supervisão” agrega o pessoal ocupado em cargos de administração e supervisão, com renda menor do que vinte salários mínimos e sem curso superior. As ocupações vinculadas ao setor secundário abrangidas nesta categoria (administradores em indústria extrativa, vegetal e de pesca, administradores em indústria extrativa mineral, administradores em indústria de transformação e administradores na construção civil) representam apenas 6% do conjunto. Os demais estão vinculados ao setor terciário – ver o Anexo A. 92 As empregadas domésticas, entretanto, tiveram sua participação diminuída no conjunto do pessoal ocupado.
79
serviços desenvolveu-se concomitantemente. No interior de São Paulo, por exemplo,
houve acentuada diversificação e modernização dessas estruturas. Na grande São
Paulo, o aprofundamento da urbanização e a expansão das funções da metrópole,
além das novas tecnologias e a extensão da rede viária contribuiriam para alterar
incisivamente os padrões da oferta, a organização empresarial e os mercados em
muitos setores dos serviços (Cano e Semeghini, 1991:369).
No caso de Belo Horizonte, o terciário forte é uma particularidade da região, e está
relacionado com a sua própria história. A cidade foi criada para ser o pólo do
desenvolvimento econômico do estado e, desde os seus primórdios, não só
concentrou parcela significativa dos serviços públicos, como também o terciário que se
formou em virtude do processo de industrialização. Agregue-se a isto as altas taxas de
crescimento populacional e a forte concentração da população urbana do estado na
região, fatores de crescimento e consolidação de atividades importantes do terciário,
principalmente serviços públicos e serviços pessoais. Segundo dados da PNAD-1981,
nos serviços públicos, serviços pessoais e serviços sociais privados estavam cerca de
30% do total de pessoas ocupadas na RMBH.
Comparativamente a outras regiões metropolitanas brasileiras, dizem Cerqueira e
Simões (1997),
o terciário de BH pode ser caracterizado numa posição intermediária, vale dizer, detém um hiato de produtividade em relação ao principal centro urbano brasileiro – São Paulo – mas encontra-se em melhor posição relativa que outros centros de igual escala, como Recife e Salvador (p.449).
Paiva (1987) lembra que a economia mineira tem algumas peculiaridades que
respondem pela extensão da sua crise nos anos oitenta. Em primeiro lugar, a
industrialização é altamente concentrada nos bens intermediários - fundamentalmente
metalurgia, minerais não-metálicos e química -, e em bens de capital, ambos setores
altamente intensivos em capital e constituídos por empresas de capital
predominantemente estatal ou multinacional.
Em segundo lugar, se o desempenho da economia mineira foi maior do que a média
nacional desde o pós-guerra até 198093, os impactos sociais ficaram aquém daqueles
93 Entre 1950 e 1980, enquanto o PIB brasileiro cresceu cerca de 7% ao ano e a população apresentou crescimento anual de 2,8%, Minas Gerais apresentou, respectivamente, crescimento anual de 7,9% e 1,8%. Entretanto, a capacidade de geração de empregos foi, segundo Paiva, bastante inferior à do Brasil (Paiva, 1987:3).
80
apresentados para o país como um todo, com menor capacidade de geração de
empregos e maior concentração de renda – “o Coeficiente de Gini, que mede a
concentração da renda, passou de 0,49 em 1960 para 0,56 em 1980” (Paiva, 1987:3).
Em síntese, a evolução do espaço social da metrópole belo-horizontina nos anos
oitenta mostra dois movimentos importantes: de um lado, o maior crescimento do
pessoal ocupado (45% na década) em relação à população como um todo (35%); de
outro, a maior participação de segmentos vinculados ao terciário na composição da
população ocupada. Aumentam a sua participação a pequena burguesia, com
destaque para os pequenos empregadores, e cresce também a participação dos
profissionais de nível superior e dos trabalhadores do setor terciário (em todos os seus
segmentos)94. É expressivo também o crescimento de segmentos vinculados ao
trabalho informal. Além disso, como já vimos, cresce, de um modo geral, a
participação das mulheres no mercado de trabalho.
A década de oitenta constituiu-se uma década especial no Brasil, com a manifestação
da crise do modelo desenvolvimentista. No entanto, a reestruturação produtiva ainda
não se manifestava claramente. As mudanças são relativas e os números absolutos
têm pouca expressão no conjunto da população ocupada, na medida em que as
alterações incidem principalmente sobre segmentos com menor representação. Há
que se buscar, entretanto, o sentido dessas mudanças, e compreender até que ponto
elas demonstram tendências de transformações na estrutura produtiva e, por
conseqüência, no mapa social da região, ou, representam, ao contrário, alterações
conjunturais, próprias de uma década de crise. Nesse sentido, ainda que o trabalho
aqui desenvolvido esteja centrado nos anos oitenta, é importante, em uma perspectiva
de desdobramentos futuros, incidir um olhar sobre os anos noventa.
94 Para a análise das categorias sociais no espaço metropolitano em 1991 foram excluídos quatro municípios que não faziam parte da Região Metropolitana em 1980, de modo que se pudesse estabelecer comparações e verificar as alterações na década - os dados disponibilizados pelo IBGE para 1980 cobrem os 14 municípios que constituíram a Região Metropolitana de Belo Horizonte criada Lei Complementar (federal) nº 14, de junho de 1973.
81
3.3 – Anos noventa: tendências do espaço social na metrópole belo-horizontina
É importante destacar, em primeiro lugar, que a retomada do crescimento nos anos
noventa veio desassociada da geração de empregos. Entre 1991 e 1996 o emprego
formal nas regiões metropolitanas pesquisadas pela PME-IBGE caiu 5,8%, enquanto o
emprego sem carteira assinada cresceu 29,0% de modo similar aos 22,8% de
aumento do emprego por conta própria (Machado e Cerqueira,1998:29795). Por outro
lado, a taxa de desemprego total atingiu, no final de 1997, 12,8% em Belo Horizonte
(sendo ainda mais alta em São Paulo e Porto Alegre, por exemplo), apontando
crescimento significativo em relação ao final de 1996 (Ibidem).
Estas observações são importantes, na medida em que nos anos oitenta já se
manifestavam alterações na estrutura social vinculadas à precarização das relações
de trabalho, à diminuição dos rendimentos e à maior entrada de mulheres no mercado
de trabalho. Estas alterações, como vimos, vieram acompanhadas da maior
desigualdade no espaço social. Ainda que o conjunto dos segmentos intermediários na
hierarquia social (profissionais de nível superior, pequena burguesia e setores médios)
tenha aumentado sua participação no total da população ocupada, os dois extremos
da hierarquia se distanciaram, com maior concentração dos rendimentos das
categorias dirigentes e empobrecimento dos estratos inferiores da hierarquia.
Para os anos noventa, na impossibilidade de trabalhar com o Censo Demográfico de
2000, cujos microdados ainda não estão disponíveis, as informações da PNAD/99
permitem observar movimentos mais globais.
Destacam-se, em primeiro lugar, a contínua diminuição do operariado do setor
secundário e a manutenção do crescimento do setor terciário. No seu conjunto, este
último abrigava, em 1980, 60% do pessoal ocupado96, percentual que cresce para
61% em 1991 e 63% em 1999. Os setores médios tomados isoladamente, no entanto,
têm sua participação diminuída durante os anos noventa – de 25% na década anterior
para 22%.
95 Fonte: IPEA, Mercado de Trabalho – conjuntura e análise, Rio de Janeiro, n.6, out.1997, p. A5. 96 Considerando-se como constituintes do Setor Terciário, os setores médios, os operários do setor e o sub-proletariado.
82
As observações mostram que o crescimento do terciário, do ponto de vista do
mercado de trabalho, é resultado da maior participação dos trabalhadores situados
nos segmentos inferiores da hierarquia social, quais sejam os operários do terciário e
os ambulantes e biscateiros.
Em segundo lugar, é significativo o crescimento das categorias dirigentes, cuja
participação aumenta em 70%. Os profissionais de nível superior, ao contrário, têm
queda expressiva, com forte diminuição do número absoluto, principalmente dos
assalariados.
Se na década de crise as classes médias, fundamentalmente os segmentos
vinculados a relações autônomas de trabalho, apresentaram maior crescimento, nos
anos recentes parece haver tendência à polarização apontada na literatura
internacional sobre os impactos da reestruturação produtiva, isto é, tendencialmente,
as duas extremidades da estrutura social apresentaram maior crescimento, em relação
às camadas intermediárias. Nos anos noventa cresceram muito, de um lado os
dirigentes e, de outro, os trabalhadores menos qualificados: a categoria dirigente
passou de 1,08% do pessoal ocupado em 1991 para 1,80% em 1999; o sub-
proletariado passou de 11,72% para 15,8% no mesmo período97. Por outro lado, o
conjunto representado pelos profissionais de nível superior, pela pequena burguesia e
pelos setores médios tiveram sua participação diminuída de 38% para 32% naqueles
anos – ver TAB. 3.9. O crescimento da pequena burguesia situou-se próximo da média
de crescimento do conjunto do pessoal ocupado, no período, mas os profissionais de
nível superior apresentaram crescimento negativo, e os setores médios apresentaram
crescimento quase nulo. Mais uma vez os dados mostram uma reconfiguração das
classes médias, com um desassalariamento e conversão dos profissionais de nível
superior em pequenos empregadores urbanos e trabalhadores por conta própria,
provavelmente em outros ramos de atividade, que não aquele de origem profissional.
97 Cresceu também o operariado do terciário (de 23% para 25%).
83
TABELA 3.11 Distribuição e crescimento anual dos grupos sócio-ocupacionais
1980, 1991 e 1999 Distribuição Crescimento anual (%) Grupos
Sócio-ocupacionais 1980 1991(*) 1999(**) 1980-1991 1991-1999
Ocupações Agrícolas 1.22% 1.18% 1.08% 3.02 0.98 Grupo Dirigente 1.17% 1.08% 1.83% 2.60 9.16 Grupo Intelectual 4.95% 5.76% 3.50% 4.76 -4.00 Pequena Burguesia 4.32% 6.69% 6.68% 7.50 2.18 Setores Médios 25.87% 25.84% 22.10% 3.32 0.23 Proletariado do Secundário 28.99% 24.65% 22.10% 1.82 1.86 Proletariado do Terciário 20.94% 23.07% 25.08% 4.24 3.29 Sub-proletariado 12.54% 11.72% 15.76% 2.70 6.06 Total 100.00% 100.00% 100.00% 3.33 2.21
Fontes: FIBGE, Censos Demográficos, 1980 e 1991; PNAD, 1999 (*) Excluídos os quatro municípios que não faziam parte da Região Metropolitana em 1980 (**) Incluídos todos os municípios que faziam parte da RM naquele ano – o impacto da soma de novos
municípios no conjunto dos dados é pequeno, uma vez que a sua população total representa apenas 3,7% da população metropolitana.
Esse quadro é resultante de um movimento mais geral de reestruturação produtiva no
país, mas é também resultado das particularidades da Região Metropolitana de Belo
Horizonte98. Do ponto de vista nacional, Diniz (2000) lembra que a desconcentração
industrial havida a partir do final dos anos sessenta se fez em uma economia fechada,
com forte participação dos investimentos estatais diretos e dentro do mesmo padrão
tecnológico anterior, com grande peso dos bens intermediários e dos insumos básicos
(p.34). Naquele contexto, foi possível a ocorrência da chamada “nova industrialização
mineira”, quando se verificaram altas taxas de crescimento industrial.
1Entretanto, o autor afirma ainda que as mudanças tecnológicas, estruturais e políticas
recentes - fundamentalmente a crise fiscal, reduzindo a capacidade pública de
investimento, e a mudanças na concepção de Estado, com as políticas de privatização
– apontam no sentido de uma reconcentração na área mais desenvolvida do país
(Diniz, 2000:34). Neste contexto, diz ainda,
a importância de Belo Horizonte como centro de serviços, a base
acadêmico-universitária e de pesquisa, o parque industrial já instalado
no seu entorno, a possibilidade de integração produtiva nos
98 É importante ressalvar que os dados para 1999 são provenientes da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar), cuja amostra difere daquela definida para os micro-dados dos Censos Demográficos, o que pode gerar alguma distorção nos dados comparados na tabela, em especial para os grupos populacionais de menor tamanho.
84
segmentos da metal-mecânica, a proximidade de São Paulo e do Rio
de Janeiro, a duplicação da rodovia Fernão Dias, indicam o grande
potencial de expansão econômica de Belo Horizonte (Ibidem: 50).
De fato, a RMBH destacou-se como uma das poucas regiões metropolitanas que teve
seu emprego formal ampliado entre 1986 e 1996, em um total de 100 mil empregos, “o
maior alcançado entre as áreas metropolitanas brasileiras, no período”, embora o
emprego industrial tenha sido reduzido em 7 mil postos (Diniz, Ibidem:50).
Entretanto, estudo elaborado na Fundação João Pinheiro mostra que a economia
metropolitana apresentou, nesse período, um crescimento do Produto Interno Bruto na
ordem de 22,8%, menor do que o desempenho estadual, que foi de 27,3%, indicando
um processo de desconcentração da economia mineira – houve, no período, redução
da participação da RMBH no conjunto do estado, de 37,7% para 36,3% (Costa,D.,
1998:1). Do ponto de vista setorial, o estudo mostra ainda que a queda mais
acentuada foi no setor secundário da RMBH, cuja participação no PIB setorial do
estado foi reduzida de 44% em 1985 para 38% em 1995 (Costa,D., op.cit: 2).
A permanência do processo de crescimento do terciário metropolitano é demonstrada
ainda pelos dados participação do setor no PIB metropolitano: de 60,5% para 62,3%,
entre 1985 e 1995 (Ibidem:2).
A realidade é que, nos anos noventa, os trabalhadores da indústria perderam
participação no conjunto do país, enquanto aumentou a participação daqueles
vinculados ao setor terciário, com destaque para os serviços de distribuição.
A perda de importância da indústria de transformação no conjunto da estrutura
produtiva ocorreu em todas as grande regiões metropolitanas do país, sobretudo
aquelas mais industrializadas: São Paulo e Porto Alegre. Neste contexto, a perda da
região de Belo Horizonte não foi tão expressiva, principalmente se comparada com Rio
de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre – ver a TAB. 3.12.
Em contraposição, em todas as regiões metropolitanas, o setor terciário teve sua
participação aumentada, em termos de pessoal ocupado. Na RMBH isto ocorreu com
todas as atividades do terciário, mas em pequena proporção. A atividade cuja
participação aumentou mais foi a de serviços pessoais, justamente aquela que
emprega pessoal menos qualificado e em relações de trabalho, em geral,
precarizadas.
85
TABELA 3.12 Distribuição do pessoal ocupado nas atividades econômicas
Brasil e principais Regiões Metropolitanas – 1992 e 1999
Regiões Metropolitanas Setores de atividade Belo
Horizonte Rio de Janeiro
São Paulo
Porto Alegre Curitiba Recife Salvador Belém
Brasil
1992 Agricultura 1.5% 0.8% 0.7% 2.7% 5.4% 3.8% 2.2% 0.8% 24.3% Industria da Transformação 16.6% 13.4% 26.5% 25.3% 18.0% 11.3% 10.4% 8.9% 13.6% Outras indústrias 12.4% 9.3% 7.8% 7.2% 10.3% 9.1% 11.8% 8.4% 7.8% Serviços de distribuição 20.6% 21.7% 20.3% 19.3% 22.5% 24.0% 23.2% 27.9% 16.8% Serviços de produção 9.4% 10.8% 12.2% 10.2% 9.7% 9.0% 9.6% 7.9% 5.6% Serviços públicos 5.1% 5.5% 4.7% 5.6% 4.6% 5.6% 5.7% 7.1% 5.4% Serviços sociais privados 5.2% 6.2% 4.7% 5.4% 4.8% 5.1% 5.7% 5.0% 3.4% Serviços pessoais 23.8% 24.7% 18.5% 17.9% 19.6% 24.2% 24.0% 24.7% 17.7% Atividades não classificadas 0.5% 0.9% 0.9% 1.1% 0.1% 1.1% 0.8% 1.2% 0.5% Serviços/segurança/justiça/ Administração 4.8% 6.7% 3.7% 5.3% 5.1% 6.8% 6.6% 8.0% 4.9% Total 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0%
1999 Agricultura 1.0% 0.6% 0.8% 2.3% 2.9% 2.4% 1.8% 0.5% 20.3 Industria da Transformação 15.1% 9.7% 18.9% 19.3% 16.4% 10.3% 8.6% 7.5% 12.2 Outras indústrias 11.7% 8.6% 6.8% 8.1% 10.3% 7.9% 9.1% 6.4% 8.0 Serviços de distribuição 20.2% 23.3% 23.2% 20.0% 22.6% 26.3% 25.0% 28.7% 18.7 Serviços de produção 9.9% 12.2% 13.6% 11.4% 10.7% 8.9% 10.8% 9.1% 6.5 Serviços públicos 5.6% 5.9% 5.5% 6.4% 4.3% 5.3% 6.0% 5.7% 5.8 Serviços sociais privados 5.9% 7.3% 5.6% 6.4% 6.2% 5.8% 7.2% 6.6% 4.2 Serviços pessoais 25.2% 24.6% 22.0% 20.0% 21.3% 24.5% 25.4% 25.8% 19.0 Atividades não classificadas 0.6% 1.0% 0.2% 1.3% 0.4% 3.0% 0.5% 1.1% 0.5 Serviços/segurança/justiça/ Administração 4.7% 6.9% 3.4% 4.9% 5.0% 5.5% 5.8% 8.7% 4.9 Total 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0
Fonte: PNAD, 1992 e1999 – dados trabalhados
Em resumo, a participação da RMBH na economia mineira tem diminuído, denotando
descentralização relativa, mas a composição interna da estrutura produtiva
metropolitana não sofreu alterações expressivas nos anos mais recentes. As
mudanças mais relevantes referem-se às relações de trabalho, com impactos na
estrutura social.
No final da década de noventa, o espaço social da metrópole belo-horizontina
apresenta-se mais polarizado do que o das duas maiores metrópoles do país, isto é,
os segmentos intermediários (profissionais de nível superior, pequena burguesia e
setores médios) são proporcionalmente menores, ainda que as categorias dirigentes
apresentem maior participação na metrópole paulista (ver o GRÁFICO 3.1).
86
GRÁFICO 3.1Espaço social das metrópoles
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
RMRJ RMSP RMBH
Região Metropolitana
Parti
cipa
ção
dos
grup
os s
ócio
-oc
upac
iona
is
OperariadoClasses MédiasElite Dirigente
Fonte: IBGE, PNAD, 1999 Observação: foram agregadas, nas classes médias, a pequena burguesia, os profissionais de nível superior e os setores médios.
As demais diferenças entre as três metrópoles, está no grau de industrialização ou no
tamanho do sub-proletariado: no Rio de Janeiro, a participação dos operários da
indústria é significativamente menor e, em São Paulo, a parcela do sub-proletariado é
menor.
Em síntese, os anos noventa apresentaram tendências de alteração na estrutura
social da metrópole belo-horizontina, com maior distanciamento das duas
extremidades. Os anos oitenta, com vimos, haviam se caracterizado pelo crescimento
do setor terciário, com reposicionamento de várias categorias sócio-profissionais,
principalmente no que diz respeito a mudanças nas relações nas relações de trabalho,
e crescimento das camadas médias. A RMBH tem apresentado particularidades,
decorrentes da sua evolução histórica, destacando-se o menor decréscimo das
atividades industriais face às regiões mais industrializadas do país e um
posicionamento intermediário, relativamente às mudanças ocorridas nos anos oitenta.
Em convergência com a realidade nacional, entretanto, houve uma queda geral dos
rendimentos, com mudanças no mercado de trabalho, sobretudo pela maior entrada
de mulheres.
Vimos também que os agentes sociais são desigualmente dotados de oportunidades
de apropriação de bens materiais e de recursos urbanos, reproduzindo-se, no nível
87
material, a \hierarquia social. Tomando como pressuposto que a posição de um agente
no espaço social se exprime no lugar do espaço físico em que está situado [...] e pela
posição relativa que suas localizações temporárias [...] e sobretudo permanentes (...)
ocupam em relação às localizações de outros agentes (Bourdieu, 1997:161), no
próximo capítulo é desenvolvida a análise sobre a representação da estrutura social
no território da metrópole.
88
4. A ORGANIZAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL DA METRÓPOLE BELO-HORIZONTINA
A estrutura do espaço social se manifesta [...] sob a forma de oposições espaciais, o espaço habitado (ou apropriado) funcionando como uma espécie de simbolização espontânea do espaço social. Não há espaço, em uma sociedade hierarquizada, que não seja hierarquizado e que não exprima as hierarquias e as distâncias sociais, sob uma forma [...] dissimulada pelo efeito de naturalização [...] (Bourdieu, 1997:160).
Na medida em que os agentes sociais são dotados de oportunidades diferentes de
apropriação dos bens e serviços gerados pela urbanização, a sua localização no
espaço físico será, como vimos, resultado de lutas, que podem ocorrer de forma
individual ou coletiva. Os ganhos decorrentes das disputas pelo espaço - lugares do
espaço social reificado - e pelos benefícios que ele proporciona são de natureza
distinta, ora relacionados à renda auferida pela propriedade do solo, ora relacionados
a posição (ganhos simbólicos de distinção) ou ainda àquilo que Bourdieu denominou
ganhos de ocupação, ou seja, a posse de um espaço físico podendo manter à
distância ou excluir a intrusão indesejável (Bourdieu,1997:163). O espaço
hierarquizado é, portanto, o espaço da segregação, entendida como materialização da
hierarquia social - espaço social reificado - e produto das lutas dos grupos sociais pela
apropriação dos recursos urbanos.
As categorias sócio-ocupacionais construídas, permitiram, como já vimos, estabelecer
uma proxy da hierarquia social, identificando os agrupamentos que representam
posições sociais ou classes de posições sociais com certa homogeneidade social,
formando distintos grupos socialmente “re-conhecidos”.
Esses distintos agrupamentos vivem e convivem no espaço metropolitano, com
oportunidades desiguais de apropriação desse espaço e de seus benefícios. Encontrar
a sua representação territorial permite, pois, identificar o grau de segregação social
presente nesse espaço.
Desta maneira, o estudo da localização espacial das diversas categorias sócio-
ocupacionais, abrangendo a densidade de sua representação em cada lugar e a
composição das representações das diversas categorias, permitiu observar a
89
intensidade do processo de segregação na Região Metropolitana de Belo Horizonte,
bem como as alterações manifestas durante a década de oitenta.
O recurso utilizado para empreender essa tarefa foi o emprego das técnicas de análise
fatorial por correspondência binária e de classificação hierárquica ascendente, descrito
no Anexo C. Para a construção desse sistema, foi necessário ainda regionalizar o
espaço metropolitano, segundo critérios que permitissem trabalhar os dados dos
Censos Demográficos, executar o método da análise fatorial e identificar as
representações territoriais do espaço social, na forma descrita. O espaço
metropolitano foi dividido em 121 Unidades Espaciais Homogêneas (UEH) em 1991 e
117 Unidades em 1980, quando a delimitação institucional da Região Metropolitana
apresentava quatro municípios a menos do que em 1991 – o Anexo B apresenta a
metodologia de regionalização.
O método permite verificar a distribuição das categorias sócio-ocupacionais no espaço
metropolitano e a sua representação em cada unidade espacial, identificando espaços
com forte homogeneidade interna e heterogêneos entre si. Desta maneira, foi criada
uma tipologia, como instrumento para classificar o território metropolitano, segundo as
posições sociais relativas, em uma hierarquia sócio-espacial.
A primeira análise fatorial, realizada para 1991, resultou em dois eixos principais: o
primeiro, que explica 57% da variância, mostra a oposição fundamental de classe no
espaço metropolitano de Belo Horizonte; de um lado estão categorias que compõem a
burguesia, a pequena burguesia e o chamado "grupo intelectual" – aí estão os
empresários, os pequenos empregadores e os profissionais de nível superior,
autônomos e empregados, aparecendo ainda os empregados de supervisão, categoria
mais elevada dos setores médios. Do outro lado estão os operários da indústria
tradicional e os operários da construção civil. As semelhanças e diferenças no espaço
estão, pois, explicadas, em primeiro lugar, pela hierarquia social - camadas superiores
versus camadas populares.
O segundo fator, que explica 16% da variância, opõe a polarização entre uma
composição de agrícolas, empresários e categorias populares (operários da
construção civil e empregadas domésticas) aos setores médios. Trata-se aqui de uma
hierarquia metropolitana, que opõe os espaços periféricos mais heterogêneos aos
espaços mais urbanos, diferenciados pelas camadas médias.
90
A primeira análise permitiu identificar três grupos de unidades espaciais relativamente
homogêneas internamente e heterogêneas entre si. Novas análises fatoriais,
realizadas para cada um desses grupos de unidades espaciais, permitiram refinar o
processo e identificar grupos de unidades espaciais marcadamente definidas por um
perfil sócio-ocupacional99.
Esses procedimentos permitiram identificar cinco grandes grupos de espaços definidos
por diferentes composições entre as densidades das categorias sócio-ocupacionais:
superior, médio, operário, popular e um grupo bastante específico, que foi denominado
“superior polarizado”. A descrição desses grupos permite a melhor compreensão dos
resultados da tipologia sócio-espacial da região metropolitana100:
a) Grupo "superior" - distingue-se pela concentração de categorias sócio-
ocupacionais dirigentes e de profissionais de nível superior, constituindo claramente
um espaço das categorias dirigentes. Mais de 60% das categorias que compõem o
grupo dirigente estavam aí concentradas em 1991 (no caso dos profissionais liberais e
dos dirigentes privados este percentual ultrapassava 70%). Por outro lado, os setores
operários e populares estão praticamente ausentes desses espaços, com exceção da
empregada doméstica (12% das quais encontravam-se nesse tipo, em 1991). Nesse
grupo, constituído pelo “tipo superior”, estavam aproximadamente 9% da população
ocupada da RMBH em 1991.
b) Grupo "médio" - caracteriza-se principalmente por uma representação da pequena
burguesia e dos setores médios acima da média metropolitana ou próximos dela e, em
geral, pela representação das categorias operárias e populares abaixo da média
metropolitana. Dois tipos encontram-se nesse grupo. O primeiro, que foi denominado
“médio superior”, caracteriza-se por abrigar percentual expressivo do grupo dirigente,
alta representação do grupo intelectual, da pequena burguesia e dos segmentos
superiores dos setores médios. Na sua composição interna, 12% da população
ocupada eram, em 1991, profissionais de nível superior empregados, 10%
empregados de supervisão, 17% empregados de escritório e 8% empregados do
comércio - estas categorias totalizavam quase a metade do total da população
ocupada no tipo. Os dirigentes do setor público aí estavam representados duas vezes
99 Para maior detalhamento, ver o Anexo 3 - Metodologia de construção da tipologia sócio-espacial. 100 Buscou-se uma nomenclatura que pudesse expressar os resultados da análise fatorial em uma hierarquia sócio-espacial.
91
acima da sua representação média na região metropolitana como um todo, e os
demais ligeiramente superior à média. A presença de operários industriais era
inexpressiva, assim como a sub-proletariado, excetuando as empregadas domésticas
que, em 1991, constituíam 7,6% da população ocupada situada nas unidades
espaciais desse tipo.
O segundo tipo dentro desse grupo tem uma representação da pequena burguesia e
dos setores médios acima da média metropolitana. O grupo dirigente é inexpressivo,
mas os profissionais de nível superior estão representados, ainda que ligeiramente
abaixo da média. Aí também está o operariado, com representação na média ou
ligeiramente abaixo dela. O segmento popular apresenta-se também abaixo da média
metropolitana. Este é caracteristicamente o “tipo médio”.
c) Grupo "operário" – este grupo tem como característica principal uma forte
representação operária, em contraposição a uma fraca representação dos setores
médios e superiores101, com exceção do “tipo operário-superior”, não existente em
1980, caracterizado por uma representação acima da média dos setores médios e alta
representação dos operários da indústria moderna (mais do que o dobro da média).
Neste tipo ambém a pequena burguesia está bem representada, em especial os
comerciantes por conta própria. A representação dos segmentos populares é menos
significativa.
O tipo característicamente “operário” apresenta uma representação acima da média
metropolitana de todas as categorias sócio-ocupacionais operárias, tanto do
secundário, como do terciário, sem nenhuma que se destaque, embora a maior
representação seja dos operários da indústria tradicional. Também os segmentos
populares estão representados próximo da média metropolitana. Os setores médios
são bem menos significativos, com exceção da categoria dos empregados de
segurança e correios.
Há ainda neste grupo, o tipo “operário e popular” e o tipo “operário e agrícola”. O
primeiro é caracterizado por significativa representação de operários juntamente com
alta representação de segmentos populares, e o segundo, além de significativa
representação de operários, apresenta uma forte densidade de ocupações agrícolas.
Este é um tipo particular da Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde, nas
92
regiões mais periféricas, convivem indústrias extrativas e beneficiadoras de recursos
naturais (fundamentalmente ouro, ferro e calcário), siderúrgicas e atividades agrícolas.
d) Grupo "popular" - composto pelos tipos “popular” e “popular e agrícola”, este grupo
se caracteriza pela forte representação dos operários da construção civil,
trabalhadores de serviço não-especializado e das categorias que compõem o sub-
proletariado (empregadas domésticas, ambulantes e biscateiros). O que distingue os
dois tipo é que no “popular e agrícola”, que ainda não aparecia em 1980, há altíssima
densidade de trabalhadores agrícolas, além de menor representação das empregadas
domésticas. Em ambos os tipos, a representação da pequena burguesia e dos setores
médios é bem pequena102. Este tipo surge em 1991, como resultado da diminuição da
representação do operariado industrial nas áreas mais periféricas da região
metropolitana.
e) Grupo "superior-polarizado" - constitui um tipo muito específico na RMBH;
apresenta alta representação das categorias dirigentes e intelectuais e também de
operários da indústria tradicional, operários da construção civil e empregadas
domésticas. Os demais operários têm uma representação muito próxima da média
metropolitana. Também os trabalhadores agrícolas apresentavam uma densidade
acima da média metropolitana, embora essa sobre-representação fosse maior em
1980. Os profissionais liberais eram a categoria mais representada do grupo dirigente,
em 1991, com uma densidade quatro vezes maior do que a média metropolitana desta
categoria, sendo também significativa a sobre-representação dos dirigentes
privados103. Quase a metade da população ocupada deste tipo estava distribuída, em
1991, entre os operários da indústria tradicional (8%), operários da construção civil
(16%) e empregadas domésticas (25%)104.
101 E importante ressaltar que as categorias dirigentes estão praticamente ausente de todos os tipos que não o "superior" e o “médio-superior”. 102 Desnecessário lembrar a ausência das categorias dirigentes e intelectuais. 103 Em 1980 a sobre-representação do grupo dirigente era principalmente dada pelo empresariado. 104 Em 1980 este percentual chegava quase a 60%, dada a maior participação dos operários da indústria tradicional (18%).
93
Tabela 4.1 RMBH - Distribuição das Categorias Sócio-ocupacionais pelos tipos (números absolutos) - 1991
Tipos Cat.Sócio-cupacionais
Superior Médio-superior
Médio Superior-polarizado
Operário-superior
Operário Operário e Agrícola
Operário e popular
Popular Popular e Agrícola
Total Global
Ocupações agrícolas 684 461 910 85 867 2038 3582 3636 124 3297 15684 Grupo Dirigente 9406 2731 1011 105 258 397 94 144 62 96 14304
Empresários 4829 1398 711 42 216 254 20 106 40 55 7671 Dirigentes privados 1451 285 44 14 9 0 9 0 0 14 1826 Dirigentes Públicos 1617 746 179 11 21 112 10 29 0 27 2752 Profissionais liberais 1509 302 77 38 12 31 55 9 22 0 2055
Grupo Intelectual 28433 23894 10439 205 3661 5755 1138 1779 362 608 76274 Profis. Sup.Autônomo 3804 2745 1264 26 522 890 169 243 118 122 9903 Profis.Sup.Empregado 24629 21149 9175 179 3139 4865 969 1536 244 486 66371
Pequena Burguesia 14298 17256 15150 318 11637 16623 2262 8457 1397 1196 88594 Pequeno Empregador 12294 12489 8817 194 5357 7779 901 3061 473 493 51858 Comerc.Conta Própria 2004 4767 6333 124 6280 8844 1361 5396 924 703 36736
Setores Médios 35732 67545 68277 639 47564 70498 10016 33650 4990 3137 342048 Empregado Supervisão 11422 16831 14387 247 10944 13117 2282 6535 735 696 77196 Técnicos e Artistas 5820 9969 10167 32 5654 7849 1219 3573 608 341 45232 Empreg.Saúde/Educ. 5305 8638 9628 78 6681 9685 2075 5203 625 713 48631 Empregados Escritório 12150 29440 30362 261 21425 33776 3916 15075 2515 1024 149944 Empreg.Segur.Correios 1035 2667 3733 21 2860 6071 524 3264 507 363 21045
Proletariado-Secundário 4200 17218 42150 1731 48480 91399 16329 80058 15735 8939 326239 Oper.Indústria Moderna 558 2703 7122 184 16162 13503 3753 9980 646 850 55461 Oper.Ind.Tradicional 542 3592 10123 428 9976 21616 3636 15683 2095 1692 69383 Oper.Serv.Auxiliares 711 3799 7476 232 8365 16465 2599 13566 1963 1491 56667 Oper. Const.Civil 1589 4327 12935 818 10285 32715 5678 36584 10214 4390 119535 Artesão 800 2797 4494 70 3692 7100 663 4244 817 516 25193
Proletariado-Terciário 9473 31058 50314 831 39671 85433 10266 60809 12655 4875 305385 Empreg.Comércio 5542 14492 17957 252 13823 27517 2624 15864 2992 1045 102108 Oper.Serv.Especializ. 2936 12165 23322 323 19282 39905 4658 27547 4692 2644 137474 Oper.Serv.Ñ-Especializ. 995 4401 9035 256 6566 18011 2984 17398 4971 1186 65803
Sub-proletariado 15980 15888 18361 1342 12032 34799 6012 34186 11803 4776 155179 Empreg.Doméstica 15277 13347 13984 1334 8502 25925 5115 26136 9959 4243 123827 Ambulante 603 2181 3603 8 2786 6891 606 6020 1057 248 24003 Biscateiro 100 360 774 5 744 1983 291 2030 787 285 7349
Total 118206 176051 206612 5256 164170 306942 49699 222719 47128 26924 1323707 Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 1991 – dados trabalhados
Tabela 4.2 RMBH - Distribuição das Categorias Sócio-ocupacionais pelos tipos (%) - 1991
Tipos Cat.Sócio-cupacionais
Superior Médio-superior
Médio Superior-polarizado
Operário-superior
Operário Operário e Agrícola
Operário e popular
Popular Popular e Agrícola
Total Global
Ocupações.agrícolas 4.4% 2.9% 5.8% 0.5% 5.5% 13.0% 22.8% 23.2% 0.8% 21.0% 100.0% Grupo Dirigente 65.8% 19.1% 7.1% 0.7% 1.8% 2.8% 0.7% 1.0% 0.4% 0.7% 100.0%
Empresários 63.0% 18.2% 9.3% 0.5% 2.8% 3.3% 0.3% 1.4% 0.5% 0.7% 100.0% Dirigentes privados 79.5% 15.6% 2.4% 0.8% 0.5% 0.0% 0.5% 0.0% 0.0% 0.8% 100.0% Dirigentes Públicos 58.8% 27.1% 6.5% 0.4% 0.8% 4.1% 0.4% 1.1% 0.0% 1.0% 100.0% Profissionais liberais 73.4% 14.7% 3.7% 1.8% 0.6% 1.5% 2.7% 0.4% 1.1% 0.0% 100.0%
Grupo Intelectual 37.3% 31.3% 13.7% 0.3% 4.8% 7.5% 1.5% 2.3% 0.5% 0.8% 100.0% Profis. Sup.Autônomo 38.4% 27.7% 12.8% 0.3% 5.3% 9.0% 1.7% 2.5% 1.2% 1.2% 100.0% Profis.Sup.Empregado 37.1% 31.9% 13.8% 0.3% 4.7% 7.3% 1.5% 2.3% 0.4% 0.7% 100.0%
Pequena Burguesia 16.1% 19.5% 17.1% 0.4% 13.1% 18.8% 2.6% 9.5% 1.6% 1.3% 100.0% Pequeno Empregador 23.7% 24.1% 17.0% 0.4% 10.3% 15.0% 1.7% 5.9% 0.9% 1.0% 100.0% Comerc.Conta Própria 5.5% 13.0% 17.2% 0.3% 17.1% 24.1% 3.7% 14.7% 2.5% 1.9% 100.0%
Setores Médios 10.4% 19.7% 20.0% 0.2% 13.9% 20.6% 2.9% 9.8% 1.5% 0.9% 100.0% Empregado Supervisão 14.8% 21.8% 18.6% 0.3% 14.2% 17.0% 3.0% 8.5% 1.0% 0.9% 100.0% Técnicos e Artistas 12.9% 22.0% 22.5% 0.1% 12.5% 17.4% 2.7% 7.9% 1.3% 0.8% 100.0% Empreg.Saúde/Educ. 10.9% 17.8% 19.8% 0.2% 13.7% 19.9% 4.3% 10.7% 1.3% 1.5% 100.0% Empregados Escritório 8.1% 19.6% 20.2% 0.2% 14.3% 22.5% 2.6% 10.1% 1.7% 0.7% 100.0% Empreg.Segur.Correios 4.9% 12.7% 17.7% 0.1% 13.6% 28.8% 2.5% 15.5% 2.4% 1.7% 100.0%
Proletariado-Secundário 1.3% 5.3% 12.9% 0.5% 14.9% 28.0% 5.0% 24.5% 4.8% 2.7% 100.0% Oper.Indústria Moderna 1.0% 4.9% 12.8% 0.3% 29.1% 24.3% 6.8% 18.0% 1.2% 1.5% 100.0% Oper.Ind.Tradicional 0.8% 5.2% 14.6% 0.6% 14.4% 31.2% 5.2% 22.6% 3.0% 2.4% 100.0% Oper.Serv.Auxiliares 1.3% 6.7% 13.2% 0.4% 14.8% 29.1% 4.6% 23.9% 3.5% 2.6% 100.0% Oper. Const.Civil 1.3% 3.6% 10.8% 0.7% 8.6% 27.4% 4.8% 30.6% 8.5% 3.7% 100.0% Artesão 3.2% 11.1% 17.8% 0.3% 14.7% 28.2% 2.6% 16.8% 3.2% 2.0% 100.0%
Proletariado-Terciário 3.1% 10.2% 16.5% 0.3% 13.0% 28.0% 3.4% 19.9% 4.1% 1.6% 100.0% Empreg.Comércio 5.4% 14.2% 17.6% 0.2% 13.5% 26.9% 2.6% 15.5% 2.9% 1.0% 100.0% Oper.Serv.Especializ. 2.1% 8.8% 17.0% 0.2% 14.0% 29.0% 3.4% 20.0% 3.4% 1.9% 100.0% Oper.Serv.Ñ-Especializ. 1.5% 6.7% 13.7% 0.4% 10.0% 27.4% 4.5% 26.4% 7.6% 1.8% 100.0%
Sub-proletariado 10.3% 10.2% 11.8% 0.9% 7.8% 22.4% 3.9% 22.0% 7.6% 3.1% 100.0% Empreg.Doméstica 12.3% 10.8% 11.3% 1.1% 6.9% 20.9% 4.1% 21.1% 8.0% 3.4% 100.0% Ambulante 2.5% 9.1% 15.0% 0.0% 11.6% 28.7% 2.5% 25.1% 4.4% 1.0% 100.0% Biscateiro 1.4% 4.9% 10.5% 0.1% 10.1% 27.0% 4.0% 27.6% 10.7% 3.9% 100.0%
Total 8.9% 13.3% 15.6% 0.4% 12.4% 23.2% 3.8% 16.8% 3.6% 2.0% 100.0% Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 1991 – dados trabalhados
94
Tabela 4.3 RMBH – Composição dos tipos (%) - 1991
Tipos Cat.Sócio-cupacionais
Superior Médio-superior
Médio Superior-polarizado
Operário-superior
Operário Operário e Agrícola
Operário e popular
Popular Popular e Agrícola
Total Global
Ocupações.agrícolas 0.6% 0.3% 0.4% 1.6% 0.5% 0.7% 7.2% 1.6% 0.3% 12.2% 1.2% Grupo Dirigente 8.0% 1.6% 0.5% 2.0% 0.2% 0.1% 0.2% 0.1% 0.1% 0.4% 1.1%
Empresários 4.1% 0.8% 0.3% 0.8% 0.1% 0.1% 0.0% 0.0% 0.1% 0.2% 0.6% Dirigentes privados 1.2% 0.2% 0.0% 0.3% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.1% 0.1% Dirigentes Públicos 1.4% 0.4% 0.1% 0.2% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.1% 0.2% Profissionais liberais 1.3% 0.2% 0.0% 0.7% 0.0% 0.0% 0.1% 0.0% 0.0% 0.0% 0.2%
Grupo Intelectual 24.1% 13.6% 5.1% 3.9% 2.2% 1.9% 2.3% 0.8% 0.8% 2.3% 5.8% Profis. Sup.Autônomo 3.2% 1.6% 0.6% 0.5% 0.3% 0.3% 0.3% 0.1% 0.3% 0.5% 0.8% Profis.Sup.Empregado 20.8% 12.0% 4.4% 3.4% 1.9% 1.6% 1.9% 0.7% 0.5% 1.8% 5.0%
Pequena Burguesia 12.1% 9.8% 7.3% 6.1% 7.1% 5.4% 4.6% 3.8% 3.0% 4.4% 6.8% Pequeno Empregador 10.4% 7.1% 4.3% 3.7% 3.3% 2.5% 1.8% 1.4% 1.0% 1.8% 3.9% Comerc.Conta Própria 1.7% 2.7% 3.1% 2.4% 3.8% 2.9% 2.7% 2.4% 2.0% 2.6% 2.8%
Setores Médios 30.2% 38.4% 33.0% 12.2% 29.0% 23.0% 20.2% 15.1% 10.6% 11.7% 26.1% Empregado Supervisão 9.7% 9.6% 7.0% 4.7% 6.7% 4.3% 4.6% 2.9% 1.6% 2.6% 5.9% Técnicos e Artistas 4.9% 5.7% 4.9% 0.6% 3.4% 2.6% 2.5% 1.6% 1.3% 1.3% 3.5% Empreg.Saúde/Educ. 4.5% 4.9% 4.7% 1.5% 4.1% 3.2% 4.2% 2.3% 1.3% 2.6% 3.7% Empregados Escritório 10.3% 16.7% 14.7% 5.0% 13.1% 11.0% 7.9% 6.8% 5.3% 3.8% 11.4% Empreg.Segur.Correios 0.9% 1.5% 1.8% 0.4% 1.7% 2.0% 1.1% 1.5% 1.1% 1.3% 1.6%
Proletariado-Secundário 3.6% 9.8% 20.4% 32.9% 29.5% 29.8% 32.9% 35.9% 33.4% 33.2% 24.9% Oper.Indústria Moderna 0.5% 1.5% 3.4% 3.5% 9.8% 4.4% 7.6% 4.5% 1.4% 3.2% 4.2% Oper.Ind.Tradicional 0.5% 2.0% 4.9% 8.1% 6.1% 7.0% 7.3% 7.0% 4.4% 6.3% 5.3% Oper.Serv.Auxiliares 0.6% 2.2% 3.6% 4.4% 5.1% 5.4% 5.2% 6.1% 4.2% 5.5% 4.3% Oper. Const.Civil 1.3% 2.5% 6.3% 15.6% 6.3% 10.7% 11.4% 16.4% 21.7% 16.3% 9.1% Artesão 0.7% 1.6% 2.2% 1.3% 2.2% 2.3% 1.3% 1.9% 1.7% 1.9% 1.9%
Proletariado-Terciário 8.0% 17.6% 24.4% 15.8% 24.2% 27.8% 20.7% 27.3% 26.9% 18.1% 23.3% Empreg.Comércio 4.7% 8.2% 8.7% 4.8% 8.4% 9.0% 5.3% 7.1% 6.3% 3.9% 7.8% Oper.Serv.Especializ. 2.5% 6.9% 11.3% 6.1% 11.7% 13.0% 9.4% 12.4% 10.0% 9.8% 10.5% Oper.Serv.Ñ-Especializ. 0.8% 2.5% 4.4% 4.9% 4.0% 5.9% 6.0% 7.8% 10.5% 4.4% 5.0%
Sub-proletariado 13.5% 9.0% 8.9% 25.5% 7.3% 11.3% 12.1% 15.3% 25.0% 17.7% 11.9% Empreg.Doméstica 12.9% 7.6% 6.8% 25.4% 5.2% 8.4% 10.3% 11.7% 21.1% 15.8% 9.5% Ambulante 0.5% 1.2% 1.7% 0.2% 1.7% 2.2% 1.2% 2.7% 2.2% 0.9% 1.8% Biscateiro 0.1% 0.2% 0.4% 0.1% 0.5% 0.6% 0.6% 0.9% 1.7% 1.1% 0.6%
Total 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 1991 – dados trabalhados
Tabela 4.4 RMBH – Composição dos tipos (densidade) - 1991
Tipos Cat.Sócio-cupacionais
Superior Médio-superior
Médio Superior-polarizado
Operário-superior
Operário Operário e Agrícola
Operário e popular
Popular Popular e Agrícola
Total Global
Ocupações.agrícolas 0.49 0.22 0.37 1.36 0.45 0.56 6.08 1.38 0.22 10.34 1.00 Grupo Dirigente 7.36 1.44 0.45 1.85 0.15 0.12 0.18 0.06 0.12 0.33 1.00
Empresários 7.05 1.37 0.59 1.38 0.23 0.14 0.07 0.08 0.15 0.35 1.00 Dirigentes privados 8.90 1.17 0.15 1.93 0.04 0.00 0.13 0.00 0.00 0.38 1.00 Dirigentes Públicos 6.58 2.04 0.42 1.01 0.06 0.18 0.10 0.06 0.00 0.48 1.00 Profissionais liberais 8.22 1.10 0.24 4.66 0.05 0.07 0.71 0.03 0.30 0.00 1.00
Grupo Intelectual 4.17 2.36 0.88 0.68 0.39 0.33 0.40 0.14 0.13 0.39 1.00 Profis. Sup.Autônomo 4.30 2.08 0.82 0.66 0.43 0.39 0.45 0.15 0.33 0.61 1.00 Profis.Sup.Empregado 4.16 2.40 0.89 0.68 0.38 0.32 0.39 0.14 0.10 0.36 1.00
Pequena Burguesia 1.81 1.46 1.10 0.91 1.06 0.81 0.68 0.57 0.44 0.66 1.00 Pequeno Empregador 2.65 1.81 1.09 0.94 0.83 0.65 0.46 0.35 0.26 0.47 1.00 Comerc.Conta Própria 0.61 0.98 1.10 0.85 1.38 1.04 0.99 0.87 0.71 0.94 1.00
Setores Médios 1.17 1.48 1.28 0.47 1.12 0.89 0.78 0.58 0.41 0.45 1.00 Empregado Supervisão 1.66 1.64 1.19 0.81 1.14 0.73 0.79 0.50 0.27 0.44 1.00 Técnicos e Artistas 1.44 1.66 1.44 0.18 1.01 0.75 0.72 0.47 0.38 0.37 1.00 Empreg.Saúde/Educ. 1.22 1.34 1.27 0.40 1.11 0.86 1.14 0.64 0.36 0.72 1.00 Empregados Escritório 0.91 1.48 1.30 0.44 1.15 0.97 0.70 0.60 0.47 0.34 1.00 Empreg.Segur.Correios 0.55 0.95 1.14 0.25 1.10 1.24 0.66 0.92 0.68 0.85 1.00
Proletariado-Secundário 0.14 0.40 0.83 1.34 1.20 1.21 1.33 1.46 1.35 1.35 1.00 Oper.Indústria Moderna 0.11 0.37 0.82 0.84 2.35 1.05 1.80 1.07 0.33 0.75 1.00 Oper.Ind.Tradicional 0.09 0.39 0.93 1.55 1.16 1.34 1.40 1.34 0.85 1.20 1.00 Oper.Serv.Auxiliares 0.14 0.50 0.85 1.03 1.19 1.25 1.22 1.42 0.97 1.29 1.00 Oper. Const.Civil 0.15 0.27 0.69 1.72 0.69 1.18 1.27 1.82 2.40 1.81 1.00 Artesão 0.36 0.83 1.14 0.70 1.18 1.22 0.70 1.00 0.91 1.01 1.00
Proletariado-Terciário 0.35 0.76 1.06 0.69 1.05 1.21 0.90 1.18 1.16 0.78 1.00 Empreg.Comércio 0.61 1.07 1.13 0.62 1.09 1.16 0.68 0.92 0.82 0.50 1.00 Oper.Serv.Especializ. 0.24 0.67 1.09 0.59 1.13 1.25 0.90 1.19 0.96 0.95 1.00 Oper.Serv.Ñ-Especializ. 0.17 0.50 0.88 0.98 0.80 1.18 1.21 1.57 2.12 0.89 1.00
Sub-proletariado 1.15 0.77 0.76 2.18 0.63 0.97 1.03 1.31 2.14 1.51 1.00 Empreg.Doméstica 1.38 0.81 0.72 2.72 0.55 0.90 1.10 1.25 2.26 1.68 1.00 Ambulante 0.28 0.68 0.96 0.09 0.94 1.24 0.67 1.49 1.24 0.51 1.00 Biscateiro 0.15 0.37 0.67 0.16 0.82 1.16 1.05 1.64 3.01 1.91 1.00
Total 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 1991 – dados trabalhados
95
Tabela 4.5 RMBH - Distribuição das Categorias Sócio-ocupacionais pelos tipos (números absolutos)-1980
Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 1991 – dados trabalhados
Tabela 4.6
RMBH - Distribuição das Categorias Sócio-ocupacionais pelos tipos (%) - 1980 Tipos
Cat.Sócio-cupacionais Superior Médio-
superior Médio Superior-
Polarizado Operário Operário e
Agrícola Operário e
popular Popular Total
Global Ocupações .agrícolas 4,0% 3,3% 3,3% 0,4% 9,8% 46,2% 30,7% 2,3% 100,0% Grupo Dirigente 64,2% 20,8% 7,4% 0,6% 2,5% 0,9% 3,2% 0,5% 100,0%
Empresários 60,0% 21,4% 8,2% 1,0% 3,6% 0,8% 4,6% 0,4% 100,0% Dirigentes privados 71,5% 17,3% 5,8% 0,2% 1,9% 0,8% 1,2% 1,3% 100,0% Dirigentes Públicos 63,3% 22,5% 9,0% 0,3% 1,3% 1,0% 2,7% 0,0% 100,0% Profissionais liberais 68,6% 21,3% 5,3% 0,0% 1,1% 1,1% 2,0% 0,4% 100,0%
Grupo Intelectual 40,0% 28,3% 16,5% 0,2% 5,4% 1,8% 6,8% 0,9% 100,0% Profis. Sup.Autônomo 42,3% 27,6% 15,0% 0,2% 5,7% 1,6% 6,3% 1,2% 100,0% Profis.Sup.Empregado 39,7% 28,4% 16,7% 0,2% 5,4% 1,8% 6,8% 0,9% 100,0%
Pequena Burguesia 15,1% 18,3% 22,2% 0,1% 15,7% 3,2% 22,0% 3,3% 100,0% Pequeno Empregador 24,3% 22,8% 23,4% 0,1% 10,8% 2,7% 14,6% 1,4% 100,0% Comerc.Conta Própria 5,8% 13,8% 20,9% 0,1% 20,7% 3,8% 29,6% 5,3% 100,0%
Setores Médios 13,4% 21,4% 24,9% 0,1% 15,9% 2,8% 19,3% 2,1% 100,0% Empregado Supervisão 18,5% 22,4% 22,8% 0,1% 16,1% 3,0% 15,2% 1,7% 100,0% Técnicos e Artistas 14,5% 21,4% 24,8% 0,1% 17,9% 3,2% 16,1% 2,0% 100,0% Empreg.Saúde/Educ. 12,8% 20,2% 23,1% 0,1% 17,3% 4,4% 20,1% 1,9% 100,0% Empregados Escritório 12,1% 21,9% 27,2% 0,1% 14,9% 2,4% 19,4% 2,2% 100,0% Empreg.Segur.Correios 6,5% 17,5% 19,8% 0,1% 15,3% 1,6% 35,7% 3,6% 100,0%
Proletariado-Secundário 1,4% 6,0% 13,5% 0,4% 27,8% 5,6% 36,4% 8,8% 100,0% Oper.Indústria Moderna 1,0% 5,0% 12,7% 0,2% 48,2% 6,0% 24,3% 2,6% 100,0% Oper.Ind.Tradicional 0,9% 5,1% 16,0% 0,9% 28,8% 9,6% 33,8% 5,0% 100,0% Oper.Serv.Auxiliares 1,0% 8,3% 20,1% 0,1% 24,0% 3,5% 35,5% 7,4% 100,0% Oper. Const.Civil 1,5% 5,1% 9,5% 0,3% 20,7% 4,7% 43,9% 14,3% 100,0% Artesão 5,6% 14,5% 22,2% 0,1% 19,2% 2,5% 31,5% 4,4% 100,0%
Proletariado-Terciário 3,6% 11,2% 21,4% 0,2% 19,5% 3,3% 34,3% 6,6% 100,0% Empreg.Comércio 5,7% 14,2% 24,8% 0,1% 16,9% 2,3% 31,1% 4,7% 100,0% Oper.Serv.Especializ. 2,4% 10,3% 22,5% 0,2% 20,2% 3,4% 35,0% 6,0% 100,0% Oper.Serv.Ñ-Especializ. 2,5% 8,4% 13,9% 0,4% 21,9% 4,8% 37,5% 10,5% 100,0%
Sub-proletariado 18,6% 14,0% 13,8% 0,5% 13,7% 3,5% 27,3% 8,6% 100,0% Empreg.Doméstica 20,6% 14,6% 13,0% 0,6% 13,2% 3,6% 26,0% 8,5% 100,0% Ambulante 2,4% 9,1% 21,8% 0,0% 19,3% 2,4% 38,0% 7,1% 100,0% Biscateiro 1,0% 8,5% 14,5% 0,0% 15,7% 4,5% 38,8% 17,0% 100,0%
Total 10,4% 13,9% 18,5% 0,3% 19,1% 4,3% 27,8% 5,8% 100,0% Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 1991 – dados trabalhados
Tipos Cat.Sócio-cupacionais
Superior Médio-superior
Médio Superior- Polarizado
Operário Operário e Agrícola
Operário e popular
Popular Total Global
Ocupações .agrícolas 456 373 369 48 1109 5220 3469 263 11307 Grupo Dirigente 6918 2237 794 60 272 93 345 58 10777
Empresários 3159 1127 432 52 191 41 240 22 5264 Dirigentes privados 1496 362 121 4 39 16 26 28 2092 Dirigentes Públicos 1002 356 143 4 21 16 42 0 1584 Profissionais liberais 1261 392 98 0 21 20 37 8 1837
Grupo Intelectual 18282 12953 7565 100 2490 820 3103 427 45740 Profis. Sup.Autônomo 1945 1269 690 8 263 73 290 55 4593 Profis.Sup.Empregado 16337 11684 6875 92 2227 747 2813 372 41147
Pequena Burguesia 6018 7304 8843 44 6263 1279 8790 1335 39876 Pequeno Empregador 4862 4554 4688 20 2153 532 2917 279 20005 Comerc.Conta Própria 1156 2750 4155 24 4110 747 5873 1056 19871
Setores Médios 32085 51114 59564 196 37951 6801 46013 5094 238818 Empregado Supervisão 8914 10795 10961 68 7771 1455 7325 829 48118 Técnicos e Artistas 4312 6348 7355 24 5303 936 4785 599 29662 Empreg.Saúde/Educ. 4456 7021 8040 32 6019 1543 6970 671 34752 Empregados Escritório 13433 24340 30245 64 16578 2623 21600 2458 111341 Empreg.Segur.Correios 970 2610 2963 8 2280 244 5333 537 14945
Proletariado-Secundário 3867 16103 36210 956 74538 15000 97365 23605 267644 Oper.Indústria Moderna 524 2530 6487 92 24659 3074 12408 1335 51109 Oper.Ind.Tradicional 449 2526 7989 444 14378 4813 16856 2477 49932 Oper.Serv.Auxiliares 395 3118 7599 48 9066 1327 13387 2795 37735 Oper. Const.Civil 1669 5785 10836 360 23595 5411 50039 16345 114040 Artesão 830 2144 3299 12 2840 375 4675 653 14828
Proletariado-Terciário 6870 21665 41425 392 37667 6415 66230 12694 193358 Empreg.Comércio 3726 9229 16124 48 10987 1502 20208 3081 64905 Oper.Serv.Especializ. 2082 8930 19479 168 17546 2912 30336 5221 86674 Oper.Serv.Ñ-Especializ. 1062 3506 5822 176 9134 2001 15686 4392 41779
Sub-proletariado 21566 16168 15919 616 15886 4049 31550 9979 115733 Empreg.Doméstica 21318 15072 13479 612 13638 3690 26886 8820 103515 Ambulante 219 843 2007 4 1777 223 3503 651 9227 Biscateiro 29 253 433 0 471 136 1161 508 2991
Total 96062 127917 170689 2412 176176 39677 256865 53455 923253
96
Tabela 4.7 RMBH – Composição dos tipos (%) - 1980
Tipos Cat.Sócio-cupacionais
Superior Médio-superior
Médio Superior- Polarizado
Operário Operário e Agrícola
Operário e popular
Popular Total Global
Ocupações agrícolas 0,5% 0,3% 0,2% 2,0% 0,6% 13,2% 1,4% 0,5% 1,2% Grupo Dirigente 7,2% 1,7% 0,5% 2,5% 0,2% 0,2% 0,1% 0,1% 1,2%
Empresários 3,3% 0,9% 0,3% 2,2% 0,1% 0,1% 0,1% 0,0% 0,6% Dirigentes privados 1,6% 0,3% 0,1% 0,2% 0,0% 0,0% 0,0% 0,1% 0,2% Dirigentes Públicos 1,0% 0,3% 0,1% 0,2% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,2% Profissionais liberais 1,3% 0,3% 0,1% 0,0% 0,0% 0,1% 0,0% 0,0% 0,2%
Grupo Intelectual 19,0% 10,1% 4,4% 4,1% 1,4% 2,1% 1,2% 0,8% 5,0% Profis. Sup.Autônomo 2,0% 1,0% 0,4% 0,3% 0,1% 0,2% 0,1% 0,1% 0,5% Profis.Sup.Empregado 17,0% 9,1% 4,0% 3,8% 1,3% 1,9% 1,1% 0,7% 4,5%
Pequena Burguesia 6,3% 5,7% 5,2% 1,8% 3,6% 3,2% 3,4% 2,5% 4,4% Pequeno Empregador 5,1% 3,6% 2,7% 0,8% 1,2% 1,3% 1,1% 0,5% 2,2% Comerc.Conta Própria 1,2% 2,1% 2,4% 1,0% 2,3% 1,9% 2,3% 2,0% 2,2%
Setores Médios 33,4% 40,0% 34,9% 8,1% 21,5% 17,1% 17,9% 9,5% 26,2% Empregado Supervisão 9,3% 8,4% 6,4% 2,8% 4,4% 3,7% 2,9% 1,6% 5,3% Técnicos e Artistas 4,5% 5,0% 4,3% 1,0% 3,0% 2,4% 1,9% 1,1% 3,2% Empreg.Saúde/Educ. 4,6% 5,5% 4,7% 1,3% 3,4% 3,9% 2,7% 1,3% 3,8% Empregados Escritório 14,0% 19,0% 17,7% 2,7% 9,4% 6,6% 8,4% 4,6% 12,2% Empreg.Segur.Correios 1,0% 2,0% 1,7% 0,3% 1,3% 0,6% 2,1% 1,0% 1,6%
Proletariado-Secundário 4,0% 12,6% 21,2% 39,6% 42,3% 37,8% 37,9% 44,2% 29,3% Oper.Indústria Moderna 0,5% 2,0% 3,8% 3,8% 14,0% 7,7% 4,8% 2,5% 5,6% Oper.Ind.Tradicional 0,5% 2,0% 4,7% 18,4% 8,2% 12,1% 6,6% 4,6% 5,5% Oper.Serv.Auxiliares 0,4% 2,4% 4,5% 2,0% 5,1% 3,3% 5,2% 5,2% 4,1% Oper. Const.Civil 1,7% 4,5% 6,3% 14,9% 13,4% 13,6% 19,5% 30,6% 12,5% Artesão 0,9% 1,7% 1,9% 0,5% 1,6% 0,9% 1,8% 1,2% 1,6%
Proletariado-Terciário 7,2% 16,9% 24,3% 16,3% 21,4% 16,2% 25,8% 23,7% 21,2% Empreg.Comércio 3,9% 7,2% 9,4% 2,0% 6,2% 3,8% 7,9% 5,8% 7,1% Oper.Serv.Especializ. 2,2% 7,0% 11,4% 7,0% 10,0% 7,3% 11,8% 9,8% 9,5% Oper.Serv.Ñ-Especializ. 1,1% 2,7% 3,4% 7,3% 5,2% 5,0% 6,1% 8,2% 4,6%
Sub-proletariado 22,5% 12,6% 9,3% 25,5% 9,0% 10,2% 12,3% 18,7% 12,7% Empreg.Doméstica 22,2% 11,8% 7,9% 25,4% 7,7% 9,3% 10,5% 16,5% 11,3% Ambulante 0,2% 0,7% 1,2% 0,2% 1,0% 0,6% 1,4% 1,2% 1,0% Biscateiro 0,0% 0,2% 0,3% 0,0% 0,3% 0,3% 0,5% 1,0% 0,3%
Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 1991 – dados trabalhados
Tabela 4.8 RMBH – Composição dos tipos (densidade) - 1980
Tipos Cat.Sócio-cupacionais
Superior Médio-superior
Médio Superior- Polarizado
Operário Operário e Agrícola
Operário e popular
Popular Total Global
Ocupações .agrícolas 0,39 0,24 0,18 1,62 0,51 10,74 1,10 0,40 1,00 Grupo Dirigente 6,17 1,50 0,40 2,13 0,13 0,20 0,12 0,09 1,00
Empresários 5,77 1,55 0,44 3,78 0,19 0,18 0,16 0,07 1,00 Dirigentes privados 6,87 1,25 0,31 0,73 0,10 0,18 0,04 0,23 1,00 Dirigentes Públicos 6,08 1,62 0,49 0,97 0,07 0,24 0,10 0,00 1,00 Profissionais liberais 6,60 1,54 0,29 0,00 0,06 0,25 0,07 0,08 1,00
Grupo Intelectual 3,84 2,04 0,89 0,84 0,29 0,42 0,24 0,16 1,00 Profis. Sup.Autônomo 4,07 1,99 0,81 0,67 0,30 0,37 0,23 0,21 1,00 Profis.Sup.Empregado 3,82 2,05 0,90 0,86 0,28 0,42 0,25 0,16 1,00
Pequena Burguesia 1,45 1,32 1,20 0,42 0,82 0,75 0,79 0,58 1,00 Pequeno Empregador 2,34 1,64 1,27 0,38 0,56 0,62 0,52 0,24 1,00 Comerc.Conta Própria 0,56 1,00 1,13 0,46 1,08 0,87 1,06 0,92 1,00
Setores Médios 1,29 1,54 1,35 0,31 0,83 0,66 0,69 0,37 1,00 Empregado Supervisão 1,78 1,62 1,23 0,54 0,85 0,70 0,55 0,30 1,00 Técnicos e Artistas 1,40 1,54 1,34 0,31 0,94 0,73 0,58 0,35 1,00 Empreg.Saúde/Educ. 1,23 1,46 1,25 0,35 0,91 1,03 0,72 0,33 1,00 Empregados Escritório 1,16 1,58 1,47 0,22 0,78 0,55 0,70 0,38 1,00 Empreg.Segur.Correios 0,62 1,26 1,07 0,20 0,80 0,38 1,28 0,62 1,00
Proletariado-Secundário 0,14 0,43 0,73 1,37 1,46 1,30 1,31 1,52 1,00 Oper.Indústria Moderna 0,10 0,36 0,69 0,69 2,53 1,40 0,87 0,45 1,00 Oper.Ind.Tradicional 0,09 0,37 0,87 3,40 1,51 2,24 1,21 0,86 1,00 Oper.Serv.Auxiliares 0,10 0,60 1,09 0,49 1,26 0,82 1,28 1,28 1,00 Oper. Const.Civil 0,14 0,37 0,51 1,21 1,08 1,10 1,58 2,48 1,00 Artesão 0,54 1,04 1,20 0,31 1,00 0,59 1,13 0,76 1,00
Proletariado-Terciário 0,34 0,81 1,16 0,78 1,02 0,77 1,23 1,13 1,00 Empreg.Comércio 0,55 1,03 1,34 0,28 0,89 0,54 1,12 0,82 1,00 Oper.Serv.Especializ. 0,23 0,74 1,22 0,74 1,06 0,78 1,26 1,04 1,00 Oper.Serv.Ñ-Especializ. 0,24 0,61 0,75 1,61 1,15 1,11 1,35 1,82 1,00
Sub-proletariado 1,79 1,01 0,74 2,04 0,72 0,81 0,98 1,49 1,00 Empreg.Doméstica 1,98 1,05 0,70 2,26 0,69 0,83 0,93 1,47 1,00 Ambulante 0,23 0,66 1,18 0,17 1,01 0,56 1,36 1,22 1,00 Biscateiro 0,09 0,61 0,78 0,00 0,83 1,06 1,40 2,93 1,00
Total 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 1991 – dados trabalhados
97
Esse tipo reunia, em 1991, apenas 0,4% da população ocupada da RMBH, mas
apesar desta representação quantitativamente inexpressiva, correspondente a apenas
uma unidade espacial homogênea, foi importante destacá-lo, uma vez que se trata de
uma situação muito particular na região metropolitana, e que tende a ser consolidar e
expandir. Trata-se de uma região heterogênea, onde há população rural,
trabalhadores vinculados à mineração (ouro e minerais ferrosos) e, ainda, população
de alta renda, composta de dirigentes e profissionais de nível superior, moradora de
condomínios fechados, que se estendem pelo vetor sul de expansão metropolitana,
abrangendo toda a área do município de Nova Lima, à exceção da Sede Municipal,
que constitui uma UEH separada.
As TAB. 4.1 a 4.8 apresentam a composição do tipos, com a distribuição das
categorias sócio-ocupacionais e suas respectivas densidades em cada tipo, para 1991
e para 1980.
4.1 – A segregação sócio-espacial da metrópole
A análise fatorial identificou as camadas superiores como aquelas que estão mais
concentradas no espaço. De fato, mais de 60% dos indivíduos pertencentes ao grupo
dirigente concentravam-se, em 1991, nos espaços superiores. No caso dos dirigentes
privados este percentual chega a quase 80%. Por outro lado, há vastas áreas
periféricas com total ausência das categorias desse grupo. Se excluirmos os
empresários, categoria espacialmente mais “democrática” que as demais do grupo105,
observamos que os dirigentes estão ausentes de 53 unidades espaciais homogêneas,
quase a metade, portanto, do total de unidades (ver FIG. 4.1).
105 Entre os empregadores com mais de 20 salários mínimos (critério definidor do empresário), encontram-se os mais diversos indivíduos, incluindo proprietários de serralherias, marcenarias e oficinas mecânicas, entre outros tipos de estabelecimentos que tendem a se dispersar pelo espaço urbano, cuja moradia é, em geral, próxima ao estabelecimento.
98
99
É certo que as demais categorias sócio-espaciais convivem com as categorias
dirigentes nos espaços superiores – estas representam 8% do total de pessoal
ocupado desses espaços106. No entanto, a presença dos operários é absolutamente
inexpressiva, se comparada com a sua representação no espaço metropolitano como
um todo. O operariado tipicamente industrial representava, em 1991, apenas 1,6% do
pessoal ocupado residente nesses espaços, percentual insignificante se comparado à
sua representação na região metropolitana como um todo, cerca de 15%. Nesses
espaços, também as empregadas domésticas têm alta representação - 40% maior do
que a média metropolitana. Esta convivência não representa, porém, proximidade
social, mas relações de trabalho que reproduzem esquemas tradicionais, em que
prestadores de serviços domésticos moram na casa dos patrões.
É evidente o processo de auto-segregação das categorias dirigentes da metrópole
belo-horizontina, que ocupam os espaços mais centrais da metrópole e apresentam
um eixo de expansão na direção sul, em espaços ainda periféricos, mas já
polarizados, como veremos mais adiante, com uma sobre-representação das duas
extremidades da hierarquia social107. A auto-segregação, que Gist e Fava (1964)
denominaram segregação voluntária, ocorre quando um indivíduo, por sua própria
iniciativa, procura conviver com outros semelhantes a ele e afastado daqueles que são
diferentes em alguns aspectos que para ele são fundamentais. É o caso das
categorias dirigentes, cujo poder aquisitivo permite a escolha da localização
residencial, determinando a representação territorial das demais posições relativas. As
camadas superiores marcam o espaço, na sua busca pela distinção espacial - os
ganhos simbólicos de distinção, ligados à posse monopolística de uma propriedade
distintiva (Bourdieu, 1997).
A distribuição desigual do valor de uso complexo decorrente da articulação espacial
dos bens, equipamentos e serviços, a conseqüente diferenciação econômica do
espaço e a hierarquia de preços do solo são, como vimos, determinantes na
distribuição das pessoas no território. A capacidade de compra, as condições
diferenciadas de informação e as possibilidades de maior pressão política e
econômica das classes dominantes transforma a escolha pela localização residencial
106 O que mostra a alta concentração das categorias desse grupo, que representavam 1,1% do total de pessoal ocupado no espaço metropolitano em 1991. 107 Tratam-se dos espaços de tipo superior-polarizado, onde há sobre-representação, por um lado, de categorias sócio-ocupacionais próprias dos grupos dirigentes e, por outro, de segmentos operários e populares.
100
em fruto dessa dominação. Elas são quem realmente escolhe e quem condiciona as
preferências dos demais grupos sociais. Veremos que os profissionais de nível
superior, a pequena burguesia e alguns segmentos dos setores médios acompanham,
na medida do possível, as escolhas das categorias dirigentes. Ainda que aquelas
categorias sejam mais dispersas no espaço metropolitano, elas vão apresentar grau
expressivo de concentração nos espaço superiores, médio-superiores e médios.
As escolhas das classes trabalhadoras, cujo local de trabalho é fator importante na
localização residencial108, dados os altos custos que o transporte representa nos seus
rendimentos, estão submetidas ao constrangimento dado pela posição social (e
consequentemente também pelo nível de renda). Na RMBH, os operários industriais
concentraram-se preferencialmente na região industrial, onde tendem a se mesclar
com categorias médias. Os operários menos qualificados, os trabalhadores do setor
terciário e o sub-proletariado se dispersam pelos espaços periféricos, concentrando-se
predominantemente nos espaços operários e populares, embora compareçam também
nos espaços médios. O tipo médio é, na realidade, o que mais se aproxima da média
metropolitana na sua composição interna: ainda que as categorias dirigentes estejam
sub-representadas nesse tipo, nele a densidade das diversas categorias se aproxima
da média.
A composição interna dos espaços médio-superiores tem alguma semelhança com os
do tipo “superior”, ainda que a participação das categorias dirigentes seja menor e a
do operariado seja maior109. Estes são, na realidade, espaços intermediários, onde a
representação das categorias dirigentes e intelectuais é acima da média metropolitana
- mais que o dobro, no caso destas últimas -, mas onde também a pequena-burguesia
e os setores médios estão sobre-representados. A participação dos trabalhadores
manuais é maior do que nos espaços superiores, mas ainda com uma densidade bem
abaixo da média metropolitana.
108 Trabalhando com dados da Pesquisa de Origem de Destino realizada em 1992 (Cf. Capítulo 5), verifica-se que, enquanto apenas 13% das categorias dirigentes moram e trabalham na mesma unidade espacial, 26% do operariado industrial e 31% do sub-proletariado encontram-se na situação de morar e trabalhar na mesma unidade. 109 Também o sub-proletariado tem menor representação, uma vez que as empregadas domésticas têm uma participação muito menor em relação ao tipo superior (neste, as empregadas representavam em 1991 13,5% da população ocupada, enquanto no tipo médio-superior a sua participação era de 9%) – é importante ressaltar que o comparecimento das domésticas nos tipos superior e médio-superior foi diminuída em relação a 1980.
101
Uma particularidade da RMBH, dada pela expressão da indústria na região, é a
representação do operariado do setor secundário nos espaços médios e médio-
superiores, chegando a um percentual maior do proletariado estritamente industrial110
em relação ao pessoal ocupado desses espaços do que nos espaços populares (ver
TAB. 4.2 e 4.6). Vimos que o município de Belo Horizonte retém parcela significativa
da indústria tradicional da RMBH - 46% do PIB metropolitano relativo a este setor
industrial. A localização destas indústrias em Belo Horizonte é altamente concentrada
nas áreas centrais do município,
como pode ser observado na FIG.
4.2, o que pode explicar a presença
de uma parcela do operariado
industrial nestas áreas – cerca de
6% do pessoal ocupado nos
espaços médios superiores, em
1991, eram operários das indústrias
modernas e tradicionais e dos
serviços auxiliares. Este percentual
chegava a quase 14% no caso dos
espaços médios.
O tipo “operário superior”,
inexistente em 1980, surge durante
a década, como resultado do
espraiamento de parte das classes
médias (fundamentalmente o grupo denominado setores médios e a pequena
burguesia) pela periferia imediata às áreas mais centrais de Belo Horizonte,
alcançando áreas operárias.
Os espaços operários apresentam diferenciações referentes à maior ou menor
representação dos segmentos populares e das ocupações agrícolas. No espaço
tipicamente operário apenas o operariado tinha, em 1991, representação acima da
média metropolitana, ainda que a Pequena Burguesia, os Setores Médios e o Sub-
proletariado tivesse representação próximo da média, um pouco abaixo – ver TAB.
110 Tratam-se aqui dos operários da indústria moderna, da indústria tradicional e dos serviços auxiliares.
FIGURA 4.2 – Belo Horizonte – Localização Industrial – 1993
Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte / Prodabel
102
4.4. Nesses espaços está o maior percentual do operariado estritamente industrial
(28,4%)111.
Nos espaços do tipo “operário e agrícola”, a sobre-representação das ocupações
agrícolas é altíssima (seis vezes a média metropolitana, em 1991). A representação do
sub-proletariado é dada, ali, pelas empregadas domésticas (um pouco acima da média
metropolitana), sendo baixa no caso dos ambulantes, atividade tipicamente urbana.
Nesses espaços, os operários da indústria moderna têm maior representação do que
os demais (cerca de duas vezes a média metropolitana), provavelmente em virtude da
presença de indústrias de transformação, cuja matéria-prima é composta basicamente
de recursos minerais. Tratam-se de municípios periféricos, com grande área rural.
Os espaços “operários e populares” apresentam alta representação do sub-
proletariado (quase uma vez e meia em relação à média metropolitana, em 1991) e do
proletariado do secundário, destacando-se os trabalhadores da construção, com uma
representação quase duas vezes maior do que a sua média metropolitana – ver TAB.
4.4. Uma parcela desses espaços transformou-se, durante a década de oitenta, como
veremos, tornando-se mais operária e menos popular.
Os espaços tipicamente populares eram, em 1991, exclusivos das favelas existentes
nas áreas mais centrais da metrópole. A sobre-representação do sub-proletariado e
segmentos mais populares do operariado era bem alta: o dobro da média
metropolitana no caso dos trabalhadores da construção civil, dos prestadores de
serviço não-especializado e das empregadas domésticas e o triplo no caso dos
biscateiros. Trata-se aqui da mesma relação discutida para a presença das
empregadas domésticas nos espaços superiores: a proximidade física entre as favelas
e as áreas geograficamente mais centrais não elimina a enorme distância social entre
os espaços populares e os espaços socialmente superiores. Ao contrário, essa
proximidade física é produto de relações de trabalho em que a prestação de serviços é
realizada no espaço residencial do empregador, gerando, portanto, a busca do
trabalhador pela moradia fisicamente próxima ao local de trabalho, ou seja, à
111 O segundo lugar em concentração do operariado estritamente industrial são os espaços “operários e populares”, onde estão 21,6% desse segmento do proletariado do setor secundário, seguido pelos espaços de tipo “operário-superior”, com 19%.
103
residência daquele que demanda o trabalho, em áreas desprezadas pelo mercado
imobiliário, por situarem-se em condições precárias112.
Por fim, há os espaços mais periféricos, onde a sobre-representação das ocupações
agrícola é muito alta (dez vezes maior do que a média metropolitana), convivendo com
alta representação de alguns segmentos operários e setores populares – são os
espaços que receberam a denominação de popular e agrícola e que surgiram durante
os anos oitenta. Nesses espaços, as categorias tipicamente urbanas, como o
operariado do terciário e os ambulantes, estão sub-representadas: a representação
dos operários da indústria moderna é baixa e o operariado da indústria tradicional e
dos serviços auxiliares é um pouco acima da média metropolitana (densidade em
torno de 1,2). Predominam os operários da construção civil, com representação quase
duas vezes a média metropolitana. Em 1980, estes espaços eram mais operários que
populares, conforme veremos mais adiante.
Chama a atenção o fato de que além de uma hierarquia de renda, que descende dos
espaços superiores para os mais periféricos e populares, a mesma relação ocorre com
o grau de inserção no mercado de trabalho. A participação dos espaços superiores e
médios no conjunto do pessoal ocupado da região metropolitana é maior do que a sua
participação na população total. O contrário ocorre nos espaços de tipo Operário
Periférico, Operário e Popular e Popular Periférico – ver TAB. 4.9. À precariedade das
condições de acesso a renda, escolaridade e condições de vida urbana das
populações que habitam estes espaços, soma-se o menor acesso ao mercado de
trabalho e a menor acessibilidade física aos espaços mais centrais. Note-se que os
espaços do Tipo Popular, de localização mais central, não são os de menor renda, e
neles a participação do pessoal ocupado é igual à participação da sua população no
conjunto da região metropolitana. À maior acessibilidade urbana, do ponto de vista
físico, corresponde, portanto, maiores oportunidades de trabalho e renda.
112 Em geral, áreas com declividade muito alta.
104
Tabela 4.9 RMBH – 1991
Distribuição da População Total e da População Ocupada e Renda Média Familiar por Tipo Sócio-Espacial
População Total 1991 UEH
NA %
População Ocupada 1991 (%)
Média de renda
familliar (sm)
Superior 256.964 7.7% 8.9% 22,3 Médio Superior 388.536 11.6% 13.3% 11,5 Médio 488.855 14.6% 15.6% 8,4 Periférico Polarizado 17.960 0.5% 0.4% 10,9 Operário Superior 418.969 12.6% 12.4% 6,2 Operário 789.386 23.6% 23.2% 5,6 Operário Periférico 146.498 4.4% 3.8% 4,7 Operário Popular 630.194 18.9% 16.8% 4,0 Popular 119.504 3.6% 3.6% 4,1 Popular Periférico 81.156 2.4% 2.0% 3,8 Total 3.338.021 100.0% 100.0% 7,9 Fontes: IBGE, Censo Demográfico,1991 e FJP, Pesquisa Origem/Destino, 1992.
4.2 – A geografia da segregação sócio-espacial na RMBH
A tipologia sócio-espacial para 1991 mostra um espaço geograficamente segregado,
em que a hierarquia social descende do centro para a periferia113 - ver FIG. 4.3. Os
espaços superiores e médio-superiores são exclusivos do município núcleo da região
metropolitana. Os espaços médios são aqueles das áreas peri-centrais de Belo
Horizonte, além das sedes dos municípios de Nova Lima e de Betim. As primeiras são
resultado do espraiamento de setores das classes médias pelo espaço belo-
horizontino, em direção às periferias. As demais constituem espaços isolados de dois
municípios com características industriais distintas: Betim se tornou, a partir dos anos
oitenta, lugar privilegiado para a localização industrial de bens duráveis e de capital,
com impactos sobre sua sede administrativa - maior presença de empresários e de
setores da pequena burguesia e profissionais de nível superior. A sede de Nova Lima,
por outro lado, perdeu população operária, com a diminuição da atividade mineradora,
ao mesmo tempo em que nas suas proximidades expandiram-se parcelamentos
urbanos na forma de condomínios fechados, com evidentes impactos sobre o seu
espaço social.
113 As quatro unidades espaciais correspondentes aos municípios que não pertenciam à Região Metropolitana em 1980, e para os quais os dados não foram disponibilizados, foram excluídas da análise também em 1991, para permitir a comparação entre as tipologias sócio-espaciais existentes nos dois anos.
Diferença entre % de P.O. e % de População Total
-2.5%-2.0%-1.5%-1.0%-0.5%0.0%0.5%1.0%1.5%2.0%
Supe
rior
Méd
ioSu
perio
r
Méd
io
Méd
ioIn
ferio
rPe
rifér
ico
Pola
rizad
o
Ope
rário
Ope
rário
Perif
éric
oO
perá
rioPo
pula
r
Popu
lar
Popu
lar
Perif
éric
o
105
106
Os espaços de tipo operário-superior, inexistentes em 1980, são específicos da
principal área industrial da região metropolitana, abrangendo parte dos municípios de
Betim, Contagem e Belo Horizonte – o chamado eixo industrial – como veremos, trata-
se de uma área ocupada predominantemente por população operária que, nos anos
noventa, receberá parcelas das classes médias.
Os espaços onde há maior mescla de operários com segmentos populares (tipo
operário e popular) estão na periferia imediata das áreas operárias, formando um
semi-anel a norte, oeste e sudoeste de Belo Horizonte, além de Rio Acima, município
com população pequena (cerca de 7000 habitantes em 1991), que vem sofrendo
esvaziamento populacional desde a década de cinquenta, quando foram desativadas
duas siderúrgicas que tinham grande importância na sustentação econômica do
município (Plambel, 1986b).
Os espaços populares são, como já vimos, exclusivos das favelas de Belo
Horizonte114, totalizando uma população de 120 mil pessoas (47 mil pessoas
ocupadas)115.
Internamente a cada tipo de espaço há distinções, dadas pela história de ocupação
de cada lugar e observadas através das diferentes composições entre os grupos
sociais. Os espaços superiores, por exemplo, apresentam diferenças em relação à
maior ou menor participação dos setores médios, bem como das empregadas
domésticas. Estas têm presença tanto mais forte quanto maior a sobre-representação
das categorias dirigentes. Oito unidades espaciais concentram 58% do grupo
dirigente: são espaços onde os setores médios têm representação próximo da média
(um pouco acima ou um pouco abaixo), o operariado é praticamente inexistente e as
empregadas domésticas têm representação entre 20% e 64% acima da média
metropolitana. Esta é a zona sul, espaço distinto pela simbologia de poder e de
prestígio, ocupado desde o início do crescimento da capital pelas categorias
114 As favelas em Contagem e Betim são do Tipo Operário ou Operário e Popular. Em Belo Horizonte, os aglomerados de favelas de Santa Efigênia, a leste, Padre Eustáquio/Cachoeirinha, a noroeste, e Cabana , a oeste, são do Tipo Operário e Popular. 115 É importante lembrar que a população das áreas de favelas está sub-estimada, pois o IBGE considera aglomerados sub-normais somente aqueles que têm, no mínimo, cinquenta moradias sub-normais. O critério para delimitar UEH específicas de favelas foi separar as unidades espaciais onde 75% ou mais das moradias são consideradas sub-normais pelo IBGE (ver Anexo 2). Desta maneira, há populações faveladas em unidades espaciais não declaradas como favelas. Existe, portanto, um conjunto de população moradora de favelas, provavelmente constituintes das categorias populares na sua grande maioria, que estão mescladas a outros grupos sociais em outros espaços.
107
dirigentes116 - ver FIG. 4.4. Os profissionais de nível superior acompanham os grupos
dirigentes na sua decisão pela localização residencial e estão ali representados quatro
a cinco vezes mais do que a média metropolitana (33% dos profissionais de nível
superior estão concentrados nestas oito unidades espaciais).
Três unidades localizadas ainda na zona sul distinguem-se por maior representação
dos setores médios e menor participação das empregadas domésticas: Barro
Preto/Lourdes, Barroca/Gutierrez/Grajaú e Cruzeiro/Anchieta. A primeira é, na
realidade, uma composição de dois tipos de área: Lourdes constitui bairro de forte
expansão do mercado imobiliário a partir do final dos anos oitenta e tem perfil mais
típico da zona sul, entendida como área distinta pelo status de prestígio; Barro Preto,
mais próxima ao centro comercial, distingue-se pela concentração de indústrias e um
terciário complementar no ramo de confecções e aí devem concentrar-se os setores
médios. A segunda unidade (Barroca/Gutierrez/Grajaú) constitui área de expansão
mais recente do mercado imobiliário destinado aos segmentos de alta renda,
concentrado principalmente no Gutierrez. Finalmente, a terceira unidade
(Cruzeiro/Anchieta), de ocupação tradicional e uma das primeiras áreas residenciais
verticalizadas, vem passando por gradativo processo de substituição dos pequenos
prédios, por edificações verticais de luxo117.
Há duas outras unidades espaciais caracterizadas como espaços superiores e que se
situam fora da zona sul. A primeira, Cidade Nova, localizada na região nordeste de
Belo Horizonte, é constituída por um bairro resultante de loteamento do final dos anos
sessenta, cuja implantação já visava a expansão de segmentos de média e alta renda
em áreas de nova acessibillidade dada por importantes obras viárias do período118. Ali,
a densidade de representação das categorias dirigentes é menor, embora ainda seja
quatro vezes maior do que a média metropolitana; a sobre-representação da pequena
burguesia é a maior de toda a área caracterizada pelo tipo superior (duas vezes e
meia a média metropolitana) e também os setores médios têm presença marcante.
116 Estudo da SAGMACS, no final dos anos cinquenta, já descrevia esse espaço da seguinte maneira: nota-se nitidamente um semi-círculo com centro em ‘São Pedro’ e com limites em ‘Cidade Jardim’ de um lado, e ‘Serra/São Lucas’, de outro, o que demarca a zona ocupada por camadas médias-superiores e superiores (Sagmacs, 1958:II-14). 117 O Capítulo 6 discute melhor a dinâmica imobiliária em Belo Horizonte. 118 Destaca-se a Avenida Cristiano Machado e, na década de setenta, a Av. José Cândido da Silveira. O loteador, grande empresário do ramo imobiliário, continuou investindo na área, com implantação de shopping center, hotel de grande porte e novos investimentos residenciais.
108
109
A segunda unidade espacial, Ouro Prêto/São Luiz, situa-se na região da Pampulha.
Trata-se de loteamento implantado no final dos anos trinta, destinado a segmentos de
renda alta119. Embora esteja próximo ao Campus da UFMG, a sobre-representação
dos profissionais de nível superior é a menor das áreas superiores, ainda que seja
duas vezes e meia a média metropolitana. Além das categorias dirigentes, a pequena
burguesia também está sobre-representada. Os setores médios têm uma
representação abaixo da média metropolitana.
As áreas de tipo médio-superior apresentaram considerável expansão entre 1980 e
1991, ocupando os espaços intersticiais entre a Zona Sul, a Pampulha e o Bairro
Cidade Nova. Entre elas, três unidades espaciais apresentavam, em 1991, maior
sobre-representação das categorias dirigentes (duas a duas vezes e meia a média
metropolitana): o Centro e suas áreas próximas, a oeste (Prado/Calafate) e nororeste
(Padre Eustáquio/Coração Eucarístico/Dom Cabral). Em outras quatro, ao contrário, a
representação das categorias dirigente era abaixo da média metropolitana, ainda que
bem próximo a ela: tratam-se de áreas situadas no limite de espaços médios e
operários (Carlos Prates/Santo André, Sagrada Família, Monsenhor Messias/Celeste
Império e Horto) – ver FIG. 4.4.
Os profissionais de nível superior são, em geral, bem representativos nas áreas de
tipo médio-superior (duas a três vezes a média metropolitana), com exceção de uma
área já próxima do eixo industrial (Monsenhor Messias/Celeste Império), onde os
profissionais de nível superior comparecem com uma densidade menor, embora ainda
45% acima da média metropolitana.
A pequena burguesia e os setores médios também estão bem representados nesses
espaços. A novidade é a representação dos operários do setor terciário, abaixo da
média metropolitana, mas bem próximo dela em muitas unidades espaciais. Essa
representação é menor justamente nas unidades espaciais onde as categorias
119 O Decreto municipal no 55, de 1o de abril de 1939, já definia o tipo de morador que iria se assentar às margens da lagoa, ao estabelecer para o loteamento com lote padrão de 1.000 m2 que as construções com frente para a avenida marginal à represa deverão obedecer às seguintes prescrições especiais: a) estilo colonial, néo-colonial, missões ou normando, não se admitindo, em caso algum, estilo que destoe do ambiente campestre; [...] b) recuo de cinco metros do alinhamento da avenida”; [...] os tapumes divisórios, na frente do terreno e dos lados, até a distância de vinte metros da avenida serão constituídos de sebes vivas, devidamente tratadas, tolerando-se a alvenaria no fecho da frente, desde que sua altura não ultrapasse de um metro e meio e o seu estilo de acabamento condigam com os do prédio construído no terreno; [...] o espaço compreendido entre a frente do prédio e o alinhamento da avenida será obrigatoriamente ajardinado.
110
dirigentes e intelectuais estão mais bem representadas, fato que reforça a
característica de auto-segregação desses grupos.
O tipo médio configura o espaço das classes médias e, em 1991, desenvolvia-se no
semi-anel que envolve os espaços superiores e médio-superiores – ver FIG. 4.3. Nele,
os profissionais de nível superior, a pequena burguesia, os setores médios e o
proletariado do terciário tinham representação próximo da média metropolitana – um
pouco acima ou abaixo – também com variações. Destaca-se uma área situada a
norte da lagoa da Pampulha (Jardim Atlântico/Leblon), situado onde as categorias
dirigentes tinham uma densidade 23% maior do que a média metropolitana. Não por
coincidência, esta era também a única unidade de tipo médio com representação das
empregadas domésticas acima da média. Esta é, entretanto, uma área que vem
apresentando alterações socialmente descendentes, tendo passado, como veremos,
do tipo médio-superior , em 1980, para o tipo médio, em 1991.
Os espaços tipicamente operários apresentaram, como veremos, mudanças
importantes durante os anos oitenta. Restritos ao eixo industrial da região
metropolitana e a alguns municípios mineradores a leste, em 1980, no início da
década seguinte passam a circunscrever os espaços médios, em um grande semi-
círculo abrangendo áreas a oeste, norte e leste de Belo Horizonte, principalmente –
ver FIG. 4.3.
As áreas em torno da Cidade Industrial, no entanto, apresentaram, em 1991, nova
composição, com densidade próximo ou acima da média metropolitana dos setores
médios, do operariado industrial (fundamentalmente os operários da indústria
moderna120), dos empregados do setor terciário e, em alguns casos, dos profissionais
de nível superior. Tratam-se das áreas de tipo operário-superior, onde as categorias
dirigentes tem representação inexpressiva e a pequena burguesia também é pouco
significativa. Também o sub-proletariado tinha representação abaixo da média nesses
espaços. O espraiamento das classes médias em direção às periferias da metrópole,
resultou, no eixo industrial, na mescla de segmentos médios e operários,
sobressaindo-se os operários da indústria moderna (com densidade duas a três vezes
a média metropolitana). É importante lembrar que esta região foi, nos anos oitenta,
objeto do Projeto CURA-Eldorado (Projeto Comunidade Urbana de Recuperação
120 A representação dos oper ários da construção civil é muito baixa nesses espaços.
111
112
Acelerada), programa do BNH de implantação de infra-estrutura viária e de
saneamento, que resultou na requalificação da área.
4.3 – A evolução da segregação nos anos oitenta
O espaço metropolitano era, no início dos anos oitenta, menos complexo e com
oposições mais bem definidas. Os espaços periféricos eram mais rurais: onze
unidades espaciais, localizadas na periferia da região metropolitana e que eram de
tipo operário e agrícola em 1980 – ver FIG. 4.5, concentravam, naquele ano, 59% do
total de pessoal ocupado em atividades agrícolas; em 1991, esses mesmos espaços
concentravam 52% desse pessoal121. As áreas caracterizadas pelos segmentos
populares configuravam as favelas de Belo Horizonte e o eixo norte; o operariado
estava mais concentrado a oeste, no eixo Industrial, e a leste, nos municípios de Rio
Acima e Sabará e na sede de Nova Lima, região com perfil econômico extrativo
mineral.
Os segmentos médios e superiores estavam absolutamente concentrados no
município de Belo Horizonte, na Zona Sul, na Pampulha e nas áreas pericentrais,
entre a Pampulha e a zona central do município.
Ao longo dos anos oitenta houve um claro movimento de transformações, resultando
em um espaço social mais complexo, com maior mistura entre segmentos sociais. A
configuração geográfica tende para um continuum, em que os espaços superiores se
expandem na direção da Pampulha e os espaços mais populares se expandem para
as periferias norte e oeste, principalmente – ver Fig. 4.6.
Em síntese, as principais mudanças na organização sócio-espacial na metrópole
foram:
1) os espaços centrais e peri-centrais se elitizaram - os espaços médios e superiores
passam a ocupar um território maior, ainda que com menor participação no conjunto
da população ocupada, coerentemente com a diminuição relativa de população nas
áreas mais centrais durante a década. Algumas categorias se tornaram mais restritivas
121 Na realidade, já no início dos anos oitenta, a participação das ocupações agrícolas no conjunto da estrutura produtiva era muito pequena (1,2%).
113
114
em relação ao espaço de moradia. É o caso dos dirigentes do setor privado e dos
profissionais liberais. Entre os primeiros, 71% moravam nos espaços superiores em
1980, passando para 79% em 1991. Entre os profissionais liberais 69% moravam
nesses espaços em 1980, passando para 73% em 1991.
2) Surge, em 1991, o espaço "operário superior", circunscrito às áreas ao sul do
município de Contagem e a sudoeste de Belo Horizonte, no chamado eixo industrial,
que se caracteriza por maior mescla de operários e segmentos médios, configurando
uma certa elitização também do eixo industrial – é importante ressaltar que o espaço
tipicamente operário em 1980 tinha uma forte sobre-representação dos operários da
indústria moderna (mais do dobro da média metropolitana); em 1991 esta sobre-
representação ocorre no Tipo Operário Superior, mostrando que a sua configuração
decorre da entrada de setores médios em parte da região industrial – espaços
operários desta região se transformaram, com a entrada de segmentos médios.
3) Os operários têm sua participação diminuída no conjunto da população ocupada.
Ao mesmo tempo, cresce a população vinculada ao setor terciário, seja nos
segmentos médios, seja naqueles vinculados ao mercado de trabalho informal, ligado
à sobrevivência imediata. Como resultado, os espaços mais periféricos se tornaram
mais populares; surge o Tipo Popular e Agrícola, fora do município de Belo Horizonte,
nas periferias mais distantes, a norte e oeste. O tipo “popular” passa a ser exclusivo
das unidades espaciais de favelas. Por outro lado, os espaços imediatamente
periféricos a Belo Horizonte se transformaram, tornando-se menos populares e mais
urbanos e operários. É o caso, principalmente, dos municípios de Vespasiano e
Ribeirão das Neves, da região norte de Contagem, das áreas meridionais de Santa
Luzia e da região oeste de Sabará.
No conjunto, a estrutura social metropolitana se tornou mais complexa, com maior
diferenciação do espaço social. Há maior mistura de segmentos médios com
operários e de operários com segmentos populares - em 1991 aumenta a sobre-
representação do sub-proletariado, tanto nos tipo “operário”, “operário e agrícola” e
“operário e popular”. Parece haver um movimento centrífugo, em que a elitização das
115
áreas vai ocorrendo através da mistura dos grupos sociais com a entrada de novos
segmentos, superiores na hierarquia social122.
O grupo dirigente permaneceu praticamente nas mesmas áreas, aumentando sua
densidade, tendo apresentado relativa expansão na região sul da Pampulha. Dentro
da Avenida do Contorno, ou seja, Área Central de Belo Horizonte e núcleo de toda a
região metropolitana, a concentração é nítida: elevou-se a representação neste
espaço de quase todas as categorias sócio-ocupacionais dirigentes.
Nos lugares onde houve elitização, as classes médias em geral aumentaram sua
participação, entendendo-se como classes médias parte da pequena burguesia
(pequeno empregador) os profissionais de nível superior e parte das categorias
médias (empregados de escritório e empregados de supervisão). Há, na realidade um
espraiamento das classes médias pelos espaços centrais e peri-centrais de Belo
Horizonte.
Na Pampulha, ocorreu um movimento duplo: nas áreas a sul da Lagoa e no eixo da
Av. Pedro I (que segue em direção ao Aeroporto Internacional de Confins) ocorreu
clara elitização: a tipologia passa de médio-superior a superior na área a sul da lagoa,
onde se fortalecem praticamente todas as categorias dirigentes, e de Médio para
Médio Superior a leste da lagoa, próximo ao aeroporto e ao Campus da UFMG.
As áreas a norte da lagoa sofreram mobilidade descendente, com diminuição da
representação dos empresários, profissionais liberais, profissionais de nível superior
autônomos e dos operários da indústria moderna, simultaneamente ao significativo
crescimento da representação de comerciantes por conta própria, técnicos e artistas,
empregados da saúde e educação e os pequenos empregadores. Na unidade espacial
imediatamente a norte da lagoa, a tipologia apresentou uma alteração descendente de
médio superior para médio.
A região da Pampulha, na realidade, constitui uma situação especial em Belo
Horizonte. A sua urbanização foi iniciada no final dos anos 40, quando foi instalado o
complexo turístico da lagoa e aberta a Avenida Antônio Carlos. O Decreto municipal no
55, de 1o de abril de 1939, já definia o tipo de morador que iria assentar-se às margens
122 Este movimento tanto pode ser decorrente da mobilidade intra-geracional ascendente, quanto da mobilidade residencial de grupos sociais hierarquicamente superiores, que vêm se deslocando do centro para a periferia – este é o tema de análise do próximo capítulo.
116
da lagoa, na medida em que estabelecia critérios elitistas de ocupação e uso – ver
nota 21 deste capítulo.
A ocupação da Pampulha vem sendo gradativa, por vários motivos. O parcelamento
para faixas de alta renda, com lotes grandes, atraiu moradores de forma muito lenta (a
zona sul ainda é a região preferida das camadas de alto poder aquisitivo). Por outro
lado, as leis de uso do solo têm mantido a baixa densidade na área, principalmente
por motivos ambientais. Do ponto de vista do mercado imobiliário, portanto, esta área
ainda permanece como “reserva” para futuros investimentos, dado o status recebido
desde a sua formação, sem ocupação imediata. As porções periféricas, em particular
aquelas áreas situadas a oeste, próximas à divisa com o município de Contagem, e a
norte, na direção de Venda Nova, têm sido ocupadas por populações de baixíssima
renda.
Os segmentos populares, de um modo geral, vão sendo empurrados para as periferias
mais distantes. Se tomarmos como exemplo a mão-de-obra ocupada em atividades
não qualificadas (serviços não especializados e construção civil), o movimento de
periferização é claro: se, em 1980, a presença desta população se mostrava
insignificante apenas na região centro-sul de Belo Horizonte (densidade menor ou
igual a 0,5), em 1991 esta sub-representação se estende para as áreas peri-centrais
do município, a norte e noroeste. A representação destas categorias é sensivelmente
diminuída em todo o espaço do município sede da Região Metropolitana.
Entre as 117 unidades espaciais analisadas123, 69 (ou seja, 59%) apresentaram
mudanças de tipologia sócio-espacial, quase todas mudanças socialmente
ascendentes – apenas onze UEH apresentaram mudanças descendentes – ver TAB.
4.10.
123 É importante lembrar que as quatro unidades espaciais correspondentes aos municípios que não pertenciam à Região Metropolitana em 1980 foram excluídas da análise, para permitir a comparação com os dados de 1991.
117
Tabela 4.10 Região Metropolitana de Belo Horizonte
Número de Unidades Espaciais Homogêneas por Tipo Sócio-espacial em 1980 e 1991 TIPO 91
TIPO80
Superior Médio Superior
Médio Superior Polarizado
Operário Superior
Operário Operário e
Agrícola
Operário e
Popular
Popular Popular e
Agrícola
Total
Superior 9 - - - - - - - - - 9 Médio Superior 1 9 1 - - - - - - - 11 Médio - 6 9 - - - - - - - 15 Superior Polarizado - - - 1 - - - - - - 1 Operário - - 2 - 17 5 1 1 - - 26 Operário e Agrícola - - - - - 2 4 5 - 3 14 Operário e Popular - - 5 - - 20 - 7 - - 32 Popular - - - - - 1 - 4 4 - 9 Total 10 15 17 1 17 28 5 17 4 3 117 A tabela mostra o número de unidades espaciais que mudaram de perfil sócio-espacial
entre 1980 e 1991. A linha diagonal mostra as unidades espaciais que não mudaram
de tipo entre um ano e outro. Os números acima desta diagonal mostram as unidades
que apresentaram mudança descendente, isto é, mudaram para um tipo inferior na
hierarquia sócio-espacial; os números abaixo da diagonal mostram as unidades que
apresentaram mudança ascendente.
No entanto, é importante analisar as mudanças na composição sócio-ocupacional de
cada unidade espacial, de modo a precisar melhor as transformações sócio-espaciais,
dado que houve alterações na estrutura social que podem ter resultado em diferenças
no perfil de cada área, sem que tenham havido mudança na sua tipologia.
Vimos que as áreas superiores ocupam maior espaço, ao mesmo tempo em que
concentram mais as categorias dirigentes. Vimos também que segmentos médios se
espraiam pelo território metropolitano, mesclando-se mais aos setores operários e
populares. Ao mesmo tempo, a participação do operariado do setor secundário diminui
de 29% para 25% da população ocupada, entre 1980 e 1991. É importante, no
entanto, qualificar esta diminuição, que foi mais expressiva entre os operários da
construção civil – a participação do operariado estritamente industrial caiu apenas 1%
na década (de 15% para 14%). Este operariado industrial manteve-se em parte
concentrado no eixo industrial (com destaque para o operário da indústria moderna) e
aparece concentrado também nos espaços imediatamente periféricos ao município de
Belo Horizonte. Desta maneira, alguns espaços do tipo operário e popular em 1980
passaram a ter, em 1991, um perfil mais operário, nem sempre significando
118
exatamente um aumento do operariado, mas sim na sua maior densidade,
relativamente a segmentos mais populares, que se descolam para espaços ainda mais
periféricos.
Para caracterizar as alterações no conjunto da região metropolitana e nas diversas
áreas em particular, foi construída uma tipologia da evolução sócio-espacial, a partir
da comparação entre a composição das diversas categorias sócio-ocupacionais em
cada UEH, em 1980 e em 1991, observando as tendências de mudanças, mesmo nas
unidades onde a tipologia sócio-espacial permaneceu a mesma124. Neste caso, as
mudanças manifestaram-se em 75 unidades espaciais, ou seja, em quase dois terços.
Consolida-se a constatação de que as alterações foram no sentido ascendente, isto é,
em geral, as áreas tendem, durante a década, para uma composição social superior,
em relação àquela presente em 1980.
Os tipos de evolução identificados são os seguintes (ver FIG.4.7):
1) Aburguesamento – ocorreu onde houve alteração de tipologia sócio-espacial, em
geral para tipo superior, ou médio superior, e onde houve mudanças na composição
das categorias sócio-espaciais indicando maior densidade das categorias dirigentes e
dos profissionais de nível superior.
2) Mais classes médias – com exceção da unidade espacial imediatamente a norte da
lagoa da Pampulha, que sofreu alteração descendente125, este tipo de evolução é
característico do espraiamento de setores médios para áreas anteriormente com perfil
mais operário e popular.
3) Diversificação ascendente – tratam-se de áreas que apresentavam maior presença
de segmentos populares em 1980, os quais perdem densidade durante a década, ao
mesmo tempo em que passa a haver, em 1991, maior representação de outros
segmentos, em geral dos setores médios, mas também da pequena burguesia e, em
124 Para observação mais detalhada, ver Anexo 4. 125 Nesta unidade espacial, houve expressiva diminuição na densidade de representação de setores operários e populares (principalmente operários da construção e biscateiros) e decréscimo também na representação das categorias dirigentes e de profissionais de nível superior, bem como dos comerciantes por conta própria. Os setores médios, ao contrário, apresentam significativo crescimento na década, com representação acima da média em 1991, o mesmo ocorrendo com os pequenos empregadores. A unidade espacial tornou-se socialmente menos polarizada e mais homogênea, com um perfil social do tipo médio.
119
120
alguns casos, de profissionais de nível superior. Os operários industriais, com algumas
exceções, permaneceram com a mesma densidade.
4) Diversificação – ocorreu em áreas, em geral, mais periféricas, de perfil operário-
popular, e não apresenta um padrão claro de mudança. Houve aumento na
representação de algumas categorias dirigentes e da pequena burguesia, em algumas
unidades espaciais, bem como dos setores médios. Também entre os operários do
terciário, predomina aumento na representação. Entre os operários industriais e entre
os segmentos mais populares, no entanto, houve aumento em alguns casos e
diminuição em outros. Este é, portanto, um tipo de evolução em que a diversificação
na composição social não apresenta uma tendência clara à ascendência ou à
descendência. Na maior parte dos casos, eram áreas do tipo operário e agrícola que
se urbanizaram, transformando-se em operário ou em operário e popular.
5) Proletarização – característico das áreas onde houve diminuição de densidade dos
segmentos populares e aumento da representação relativa dos operários estritamente
industriais.
6) Mais popular – ocorreu nas unidades espaciais onde, ao contrário das anteriores,
houve aumento de densidade dos segmentos populares.
As demais unidades espaciais permanecem, em 1991, sem alteração substancial,
relativamente a 1980.
O aburguesamento ocorreu em áreas pericentrais de Belo Horizonte e na área sul da
Pampulha, totalizando 14 unidades espaciais, onde vivem 11,5% da população
metropolitana126. A evolução com mais classes médias ocorreu em algumas unidades
a norte da Pampulha e nordeste da área pericentral de Belo Horizonte, nas sedes
sedes municipais de Betim e Nova Lima127, que tiveram o tipo alterado de operário
para médio, e, principalmente, no eixo industrial (Belo Horizonte/Contagem/Betim),
onde a maior densidade de setores médios e do operariado, particularmente da
126 Excluída, do total, a população dos municípios que não faziam parte da RMBH em 1980 e que foram excluídos da tipologia sócio-espacial. 127 Na sede de Betim cai a densidade dos operários da indústria tradicional e da construção civil, e também dos pequenos empregadores, ao mesmo tempo em que sobe a representação dos empresários, profissionais de nível superior autônomos e trabalhadores da educação e saúde, diversificando a composição nesta cidade de forma ascendente. No caso de Nova Lima, à queda na representação dos operários da indústria tradicional corresponde, na outra extremidade, a maior representação de categorias dos setores médios e dos profissionais de nível superior empregados.
121
indústria moderna, resultou no tipo operário-superior. Essa transformação ocorreu em
25 unidades espaciais, abrangendo 19,3% da população metropolitana.
Em quase a metade das unidades espaciais, houve, portanto, durante a década em
questão, um claro movimento ascendente, com tendências evidentes de composição
social superior em relação a 1980. Este foi um movimento altamente concentrado no
espaço metropolitano: 74% das unidades espaciais que apresentaram essas
alterações encontram-se no município de Belo Horizonte e 22% em Contagem, mais
especificamente na região industrial.
O tipo operário passa a ter na sua composição, em 1991, uma participação menor do
operariado estritamente industrial, uma vez que parte considerável deste vai compor
agora o tipo operário-superior, juntamente com os setores médios. Assim,
aparentemente, a proletarização de algumas áreas que passam de operário popular
(ou popular) para operário devem ser vistas com cuidado. Na maior parte delas,
entretanto, há realmente mudança na composição das categorias sócio-ocupacionais,
com maior representação de algumas categorias de operários industriais e queda na
densidade de segmentos populares. Além disto, em grande parte, há crescimento na
representação de categorias dos setores médios, mais uma vez confirmando a maior
diversificação e complexificação social no final dos anos oitenta. Este tipo de evolução
abrange um grande semi-anel a norte e oeste de Belo Horizonte.
Desta maneira, nas áreas onde houve proletarização, o movimento é também
ascendente, na medida em que significou, em linhas gerais, a queda na densidade dos
segmentos mais populares e, em muitos casos, aumento da representação de setores
médios128.
O movimento de ascensão social das áreas vem acompanhado, na realidade, de
maior diversificação social. Este é também o sentido das unidades espaciais que
apresentaram evolução denominada diversificação: tratam-se de áreas em geral
operárias, em grande parte periféricas, isto é, com alta concentração de trabalhadores
agrícolas, onde houve considerável diversificação das categorias sócio-ocupacionais,
sem uma tendência ainda clara. Seis unidades espaciais apresentam esta situação:
três delas são sedes de municípios a norte de Belo Horizonte - Pedro Leopoldo,
128 A exceção é a UEH-84 (Maria Helena), situada em área periférica do município de Ribeirão das Neves, a norte de Belo Horizonte, onde aumenta a densidade dos segmentos populares (à exceção dos operários
122
Ribeirão das Neves e Vespasiano - as quais, ainda que caracterizadas por perfil mais
operário e popular, vêm adquirindo perfil mais diversificado, próprio das sedes
administrativas; outra é a UEH-90 (Aeroporto Internacional), que vem sofrendo
impactos da implantação, nos anos oitenta, do equipamento que lhe deu o nome. A
quinta área está situada nas proximidades da FIAT, cuja implantação, em 1976,
também provocou grandes impactos na ocupação das áreas vizinhas e,
consequentemente, no seu perfil social. Finalmente, a sexta área com evolução do tipo
diversificação é uma área de favela situada no extremo leste de Belo Horizonte.
As áreas que se tornaram com perfil mais popular são, além do Vale do Jatobá, nas
proximidades da região industrial, áreas periféricas da região metropolitana, ainda com
significativa concentração de ocupações agrícolas, ausência das categorias dirigentes
e insignificante presença dos setores médios (à exceção dos trabalhadores da saúde e
educação nas unidades espaciais que constituem sedes municipais), e onde o
operariado industrial vem perdendo representação (área rural de Pedro Leopoldo, a
norte, Sabará e Rio Acima, a leste, e Mário Campos e Sarzedo, a oeste).
Há que se ressaltar que a região metropolitana como um todo se tornou mais urbana.
Já vimos anteriormente que o crescimento demográfico permaneceu alto nas regiões
periféricas a Belo Horizonte, tratando-se de um crescimento tipicamente urbano e
composto de grupos sociais mais operários e populares.
Ressalta-se, ainda, a diminuição das distâncias sociais no nível mais localizado, em
um movimento ascendente das diversas áreas do espaço metropolitano. No entanto,
do ponto de vista das populações, esta parece ser uma dinâmica descendente, em
que as classes médias se espraiam em direção às áreas operárias e os segmentos
operários se locomovem para áreas populares129.
Pode-se adiantar, ainda, a ocorrência de um processo que será melhor discutido no
Capítulo 6 e que tem relação direta com as alterações na tipologia sócio-espacial da
região. Trata-se da expansão da fronteira de produção imobiliária, por um lado, com
imóveis residenciais para as classes médias, nas áreas pericentrais e periféricas do
município de Belo Horizonte, e, por outro, através de loteamentos populares nas
periferias mais distantes da região metropolitana.
da construção civil, cuja representação tem queda expressiva), mas aumenta também a densidade dos operários industriais.
123
Em uma visão mais abrangente da região metropolitana, pode-se dizer ainda que as
alterações manifestas não representam ruptura na organização sócio-espacial da
região, mas, ao contrário, consolidam tendências expressas desde os primórdios da
formação metropolitana, sobressaindo-se o contínuo processo de periferização, nas
direções norte e oeste, dos segmentos populares e operários e a concentração das
categorias dirigentes e parte dos profissionais de nível superior na zona sul de Belo
Horizonte, agora expandindo-se mais para sul, no eixo da BR-040, em direção ao Rio
de Janeiro.
Algumas particularidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte explicam, em
parte, esses movimentos. Em primeiro lugar, as decisões estatais acerca da
localização industrial – a oeste, na primeira fase de industrialização do estado, na
década de 40, e a norte, na segunda fase, nos anos setenta –, definiu e consolidou
espaços operários e populares. Em segundo lugar, a legislação urbanística em Belo
Horizonte, de caráter elitizante, gerou as condições para a intervenção do mercado
imobiliário orientado para os segmentos de média e alta renda concentrada nas áreas
centrais e pericentrais do município sede. Por outro lado, a legislação permissiva nos
municípios periféricos contribuiu para criar as condições de expansão do mercado de
loteamentos populares130. Somem-se, ainda, a topografia bastante acidentada em toda
a área leste da região metropolitana e a alta concentração de propriedade fundiária
por parte de empresas mineradoras131, nesta área, ambos fatores inibidores da
expansão urbana e, portanto, do adensamento populacional.
Essas particularidades contribuem para diferenciar os processos recentes de
organização sócio-espacial da metrópole belo-horizontina, em relação a outras
metrópoles brasileiras.
Caldeira (1996), ao analisar as mudanças na estruturação urbana de São Paulo,
afirma a ocorrência de um novo padrão, em que diferentes grupos sociais estão
novamente co-habitando o espaço urbano, em oposição ao modelo ‘centro-periferia’,
ainda que separados por muros e tecnologias de segurança. Villaça (1998) destaca
129 Esta tese será melhor discutida no próximo capítulo, onde será analisada a mobilidade residencial na região, durante os anos oitenta. 130 Costa, H. (1983) mostra a expansão do mercado de lotes populares nas periferias mais distantes, a partir de 1979, quando a Lei Federal de Parcelamento No 6766 exigiu a anuência do órgão metropolitano de planejamento para aprovação de loteamentos situados dentro da região metropolitana.
131 Em Nova Lima, por exemplo, mais de 90% de toda a área ainda não urbanizada pertence a mineradoras.
124
que uma dimensão espacial importante da visão de Caldeira é a maior proximidade
entre diferentes grupos sociais.
Também Ribeiro e Lago (1995), analisando dados relativos a São Paulo e ao Rio de
Janeiro, afirmam que uma nova dinâmica de estruturação urbana toma forma: ao lado
da estagnação das áreas residenciais centrais, temos testemunhado o surgimento de
novas formas imobiliárias, as quais renovam as cidades, mas causam a segregação
(p.376).
O que se observa na metrópole belo-horizontina, ao contrário, é um continuum
territorial, em que, de um lado, espaços superiores vão se expandindo no sentido da
Lagoa da Pampulha e na direção sul (na unidade espacial de tipo superior-polarizado)
e, de outro, espaços também contíguos, populares e cada vez mais periféricos,
expandem-se nas direções norte e oeste. Uma grande região de espaços
intermediários vai se tornando mais heterogênea, com a mescla de segmentos médios
e operários, por um lado, e de segmentos operários e populares, de outro.
A organização sócio-espacial em 1991 é resultado de uma estrutura social complexa,
mais mesclada no território. Entretanto, em uma visão macro, o distanciamento social
entre centro e periferia se aprofunda.
125
5. MOBILIDADE RESIDENCIAL E DINÂMICA DAS TRANSFORMAÇÕES SÓCIO-ESPACIAIS
Si la mobilité peut être géographique, le déplacement dans un espace physique n’est qu’une métaphore pour désigner celui que peut se déployer dans un ‘espace social’ 132 (Merllié et Prévot, 1991:18).
O distanciamento social entre centro e periferia e as diferenças de crescimento
demográfico na região metropolitana, associados às mudanças na composição do
mercado de trabalho durante os anos oitenta e às transformações sócio-espaciais,
permitem levantar algumas questões. Em primeiro lugar, a queda geral no nível de
renda da população e as mudanças no mercado de trabalho, com maior precarização
nas relações de trabalho podem ser indicativos de mobilidade social descendente de
uma parcela considerável da população ocupada, com alterações na posição dos
indivíduos na estrutura ocupacional. Ao mesmo tempo, as mudanças na organização
sócio-espacial da metrópole, com alterações ascendentes no perfil das diversas áreas
permitem levantar um paradoxo: enquanto a população realiza um movimento social
descendente, o território apresenta mudanças no sentido contrário. É importante, no
entanto, associar a esta análise a dinâmica demográfica da região, caracterizada pelo
esvaziamento populacional das áreas mais centrais e grande crescimento das áreas
mais periféricas. Essa dinâmica provavelmente está relacionada a mudanças
residenciais efetuadas pelas famílias, no espaço metropolitano, configurando fluxos
que saem de áreas mais centrais em direção às periferias. Esse movimento,
conhecido como mobilidade residencial133, passa, então a ser relevante para a
compreensão das alterações sócio-espaciais manifestas na região.
A hipótese é que houve uma intensa mobilidade residencial nos anos oitenta, da qual
resultaram as transformações na organização sócio-espacial da metrópole. A
mudança de residência é, então, entendida como prática dos grupos sociais para se
132 Se a mobilidade pode ser geográfica, o deslocamento em um espaço físico não é mais do que uma metáfora para designar o que pode se desenvolver no ‘espaço social’. 133 A mobilidade residencial difere do movimento pendular, que pressupõe o retorno ao ponto de partida, e também das migrações de longa distância, em que a mudança de residência não é sua característica principal (Bassand et Brulhardt, 1980).
126
localizar na hierarquia social reificada e como materialização das posições sociais
relativas134, podendo se configurar também como mobilidade social.
Em outras palavras, a hipótese é que a mudança efetiva ou tendencial da organização
sócio-espacial em cerca de 65% das unidades espaciais deveu-se principalmente ao
saldo resultante do movimento de entrada e de saída de grupos sociais em cada área,
em um processo conhecido como sucessão135, e não à mobilidade ocupacional136,
ainda que esta possa ter dado também sua parcela de contribuição.
Duas são, pelo menos, as dimensões explicativas da mobilidade residencial: em
primeiro lugar está a macro-estrutura produtiva da região e a organização do mercado
de trabalho - nesse sentido, importa lembrar os impactos da localização industrial no
eixo oeste, o esvaziamento econômico de áreas a leste e norte e as mudanças no
mercado de trabalho, nos anos oitenta, com diminuição relativa dos empregos
industriais e aumento do pessoal ocupado no setor terciário, incluindo o mercado
informal de trabalho.
Em segundo lugar, há uma dinâmica específica de produção do espaço urbano, qual
seja, a dinâmica imobiliária, que constitui mecanismo relevante de seleção e alocação
de grupos sociais em sua luta pela apropriação de recursos desiguais – esta é a
questão discutida no próximo capítulo.
A manifestação mais visível da mobilidade residencial é o quadro demográfico no
período em estudo. Como vimos, a dinâmica demográfica da RMBH nos anos oitenta
caracterizou-se principalmente por:
a) crescimento negativo ou abaixo da média metropolitana nas áreas central e peri-
central, à exceção das áreas de favela e de duas unidades espaciais que
134 Bourdieu aponta a mobilidade espacial como um forma individual de luta pela apropriação do espaço e “um bom indicador dos sucessos ou dos revezes alcançados nessas lutas e, mais amplamente, de toda a trajetória social” (Bourdieu, 1997:164). 135 Trata-se de um conceito da Ecologia Humana, no estudo sobre a distribuição espacial das pessoas e está associado ao conceito de invasão: quando indivíduos abandonam uma área residencial e se mudam para outro distrito, o fenômeno é conhecido como invasão. [...] Se os os ocupantes da área invadida são completamente deslocados para outros lugares, o resultado é a sucessão (Gist & Fava 1964:107). 136 A mobilidade ocupacional é entendida aqui como mudança dos indivíduos de uma categoria sócio-ocupacional a outra. Por vezes, utiliza-se uma oposição entre mobilidade social e mobilidade profissional para designar a diferença entre mobilidade inter e intra-geracional (Merllié et Prévot, 1991:24). No nosso caso, a hierarquia social é representada por uma hierarquia sócio-ocupacional e, portanto, uma mobilidade é associada à outra.
127
128
constituíram área de fronteira do mercado imobiliário em Belo Horizonte – ver FIG.
5.1;
b) maior crescimento nos eixos oeste e norte, sendo que o norte atinge as periferias
mais distantes da região metropolitana;
c) manifestação de um novo eixo de expansão, que abrange as áreas externas à
sede do município de Nova Lima, classificadas como espaço superior polarizado,
onde o crescimento foi superior a 7% ao ano;
d) permanência do baixo crescimento populacional das áreas a leste;
e) crescimento populacional diferenciado das favelas, que podem ser agrupadas, sob
esse aspecto, em três conjuntos: as favelas da região mais central de Belo
Horizonte, que cresceram a taxas entre 2,7% e 3,6% ao ano, pouco mais do que o
crescimento médio metropolitano; as favelas da região norte de Belo Horizonte e
de Betim, cujo crescimento anual foi superior a 9%137, e as favelas do eixo
industrial situadas em Belo Horizonte e em Contagem, cujo crescimento situou-se
entre 1,3% e 2,5%, abaixo, portanto, da média metropolitana – ver FIG. 5.2.
Do ponto de vista sócio-espacial, as áreas de proletarização e as que se tornaram
mais populares estão, em geral, entre as que mais crescem demográficamente e as
áreas de Aburguesamento, ao contrário, estão entre as de crescimento anual baixo ou
negativo, o que parece estar relacionado ao padrão familiar de cada grupo social138,
ainda que o crescimento negativo possa significar também emigração de filhos - ver
TAB. 5.1.
137 Neste último caso é importante lembrar que a FIAT foi inaugurada em Betim em 1976. 138 Os estudos básicos do Plano Diretor de Belo Horizonte, aprovado em 1996, mostram para este município, em 1991, diferenças substanciais no tamanho da família, segundo a geografia do município – em média 3,6 pessoas nas regiões mais centrais e 4,4 nas áreas periféricas a norte, indicando padrões diferentes (Belo Horizonte, 1995:70).
129
130
TABELA 5.1 Região Metropolitana de Belo Horizonte
Número de Unidades Espaciais Homogêneas por Tipo de Evolução Sócio-Espacial e por Tipo de Crescimento Populacional
Tipo de Crescimento Evolução da Tipologia Negativo Baixo Médio Alto Muito alto Total
Aburguesamento 9 4 1 0 0 14 Mais classes médias 0 12 7 6 0 25 Diversificação ascendente 0 3 2 4 2 11 Diversificação 0 1 0 2 3 6 Proletarização 2 2 2 4 4 14 Mais popular 0 0 2 1 2 5 Permanência 11 9 7 5 10 42 Total 22 31 21 22 21 117 Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1980 e de 1991 – Dados trabalhados Nota: O crescimento baixo é aquele que apresenta taxa de crescimento anual abaixo de 2,0%; o crescimento médio é aquele que se situa em torno da média metropolitana, isto é, entre 2,0% e 3,5% ao ano; o crescimento alto apresenta taxa de crescimento anual entre 3,5% e 5,5% (que é o dobro da taxa média); finalmente, o crescimento muito alto apresenta crescimento acima do dobro da média metropolitana.
As transformações na organização sócio-espacial da Região Metropolitana de Belo
Horizonte têm mantido o movimento mais geral iniciado na formação da metrópole,
qual seja, a permanente segregação voluntária das categorias dirigentes nas áreas
mais centrais e a contínua expulsão das classes trabalhadoras para periferias mais
distantes. A expansão territorial dos espaços superiores correspondeu a um
esvaziamento demográfico dessas áreas, muito embora o número de domicílios tenha
crescido substancialmente, como veremos no próximo capítulo.
Alguns estudos têm apontado a diferenciação no padrão familiar segundo os diversos
grupos sociais139, resultando também em diferentes padrões de localização dos
distintos grupos familiares. As famílias uni-pessoais, isto é, de pessoas vivendo
sozinhas, por exemplo, estão em geral concentradas nas áreas mais centrais, nos
espaços superiores. Por outro lado, o padrão de localização das famílias mono-
parentais são de dois tipos: moradoras em áreas de favela, onde há grande
quantidade de mulheres arcando sozinhas com as respectivas famílias, e moradores
dos espaços superiores, onde estão mais concentrados os casos de casais
separados. Em síntese, um novo padrão familiar, com um número menor de pessoas,
é mais típico das categorias dirigentes e das classes médias, concentradas no núcleo
da região metropolitana, onde o esvaziamento demográfico correspondeu à expansão
territorial dos espaços médio-superiores.
139 Pode ser citado especialmente o trabalho de pesquisa desenvolvido por Cristina Cezarino, apresentado no Workshop da Pesquisa Metrópole, Desigualdades Sócio-espaciais e Governança Urbana, PRONEX/CNPq, Porto Alegre, Setembro de 2001
131
A diversificação e a maior mistura social no espaço metropolitano ocorreram
principalmente através do espraiamento das classes médias pelas áreas peri-centrais
e, até certo ponto, periféricas dentro do município de Belo Horizonte.
O estudo deste movimento, através da análise da mobilidade residencial, foi possível
através dos dados de uma Pesquisa de Origem e Destino (O/D) realizada em 1992140.
A vantagem de utilizar os dados da Pesquisa O/D, em relação aos dados dos Censos
Demográficos do IBGE, é que os primeiros permitem a verificação da mobilidade intra-
urbana, enquanto que os segundo só fornecem informação sobre a migração entre
municípios.
5.1 – Dinâmica demográfica e mobilidade residencial
Já vimos anteriormente que, se os anos oitenta foram de pequeno crescimento
demográfico metropolitano, no nível mais localizado as taxas foram muito variadas,
indicando, nas áreas mais centrais, crescimento negativo e, ao contrário, em áreas
periféricas, taxas muito altas de crescimento populacional. O resultado foi o
aprofundamento da inversão na distribuição populacional metropolitana: em 1970, as
áreas mais centrais (Zona Sul e Peri-Centro) concentravam 55% da população
metropolitana e as áreas imediatamente periféricas a norte e oeste (Eixo Industrial e
Periferias141) concentravam 31%; em 1991 esta relação seria exatamente a inversa:
140 Trata-se da Pesquisa de Origem e Destino (Pesquisa O/D), promovida pela Transmetro, órgão metropolitano de transportes, já extinto, e pelo Plambel, e processada no final dos anos noventa pela Fundação João Pinheiro. Embora tenha sido realizada com objetivos de informar o planejamento de transportes da região metropolitana, a pesquisa traz importantes dados sócio-econômicos, tais como local de moradia atual, local de moradia anterior, tempo de residência, renda familiar e ocupação do chefe da família. A unidade espacial utilizada para aplicação da pesquisa foi a Área Homogênea, compatível, portanto, com as Unidades Espaciais Homogêneas utilizadas para a construção da tipologia sócio-espacial. A pesquisa O/D trabalhou com uma amostra de 3,5% dos domicílios da região metropolitana. Após os testes de consistência e revisão dos trabalhos de coleta de dados, foi computado um total de 25.950 registros válidos, ou seja, questionários aplicados e processados corretamente. Os dados sobre tempo de residência e último local de moradia referem-se ao grupo familiar, podendo significar núcleo familiar ou família estendida. Quando a resposta à Área Homogênea de moradia anterior é zero, o grupo familiar foi constituído na Área Homogênea de moradia atual e nunca mudou de residência. Eliminando-se estes casos, têm-se 19.579 grupos familiares, ou seja, 75% dos grupos pesquisados, que efetuaram alguma mudança de domicílio. Para efeitos da análise acerca da mobilidade durante os anos oitenta, foram isolados os casos em que houve mudança de residência e em que o tempo de moradia é de dez anos ou menos, isto é, foram isolados os grupos familiares que se locomoveram entre 1982 e 1992. Estes totalizaram 11364 grupos familiares (representando cerca de 44% do total de domicílios pesquisados). Para o cruzamento dos dados de mobilidade com as informações sobre tipologia sócio-espacial, foram excluídos os quatro municípios que não eram parte da RMBH em 1980 e, neste caso, os dados eram compostos de 10559 registros.
132
nas primeiras áreas passaram a viver 32% da população da metrópole, enquanto nas
segundas estariam 55% (Souza e Teixeira, 1999:113).
Na realidade, se por um lado, os fluxos migratórios de longa distância arrefeceram na
década em questão, por outro, a mobilidade intra-urbana e intra-metropolitana foi
bastante expressiva (quase a metade das famílias pesquisadas mudou de domicílio na
década de 80) e ocorreu através de um movimento do centro em direção às periferias.
O saldo da mobilidade residencial, isto é, a comparação entre a quantidade de grupos
familiares que entraram e que saíram de cada UEH mostra esse movimento. O saldo
negativo significa que saiu um número maior de pessoas do que aqueles que entraram
na unidade espacial. O saldo positivo, ao contrário, significa maior entrada do que
saída de população – ver FIG. 5.3.
Com exceção de algumas poucas unidades espaciais, cujo crescimento populacional
parece estar ligado a movimentos migratórios de longa distância142, a correlação entre
o saldo da mobilidade residencial e o tipo de crescimento de cada área é muito forte.
Esta é uma afirmação que pode parecer óbvia, na medida em que estudos
demográficos têm mostrado que os fluxos migratórios de longa distância diminuíram
nos anos oitenta143 e, portanto, o comportamento demográfico tem sido resultado
predominantemente de dinâmicas locais. No entanto, é importante ressaltar este
fenômeno, na medida em que ao associarmos informações sobre renda dos grupos
familiares que mudaram de residência na década, fica clara a permanência do
movimento de periferização dos grupos de mais baixa renda, como veremos mais
adiante.
141 Essa macro-regionalização tem como base as “unidades de primeiro nível de aproximação” definidas pelo Plambel (ver nota 31 do Capítulo 2), com algumas adequações para compatibilizá-las com as UEH e atualizá-las segundo o critério de relações com os processos metropolitanos, mantendo ainda isolados os aglomerados de favelas. São as seguintes as macro-áreas definidas a partir desses critérios: Centro/Zona Sul, Peri-Centro, Pampulha, Eixo Industrial, Periferias, Áreas de Expansão Metropolitana (incorporando o que o Plambel denominou Franjas), Áreas de Comprometimento Mínimo e Favelas – ver FIG.2.10. 142 Nas UEH 26, 66 e 70, embora o saldo da mobilidade residencial tenha sido negativo, ou nulo, a taxa de crescimento demográfico foi positiva e acima da média metropolitana. Nas UEH 19 e 36, ao contrário, o saldo de mobilidade positivo, mas com crescimento demográfico negativo. 143 Ver, entre outros, Rigotti e Rodrigues (1994) e Matos (1995).
133
134
De um modo geral, a mobilidade ocorre nas proximidades do local de moradia: 37%
dos grupos familiares que mudaram de residência entre 1982 e 1992, o fizeram dentro
da mesma UEH; se agregamos as unidades espaciais em macro-áreas144 esse
percentual atinge 64%. Em outras palavras, os fluxos de curta distância dentro da
região metropolitana são predominantes. A distribuição dos fluxos realizados entre
duas macro-unidades (36% do total dos fluxos) também ocorre no sentido da
periferização. As TAB. 5.2 e 5.3 mostram que as macro-unidades onde entra o maior
número de famílias são as Periferias e as Áreas de Expansão Metropolitana. De outro
lado, a macro-unidade de onde sai a maior quantidade de famílias é o Peri-Centro;
nesta região também entra um percentual significativo de famílias, mas o saldo é
negativo, como vimos – entre o que ali entram, predominam os fluxos provenientes do
Centro/Zona Sul. As Periferias recebem famílias oriundas principalmente do Peri-
Centro e da Pampulha e as Áreas de Expansão Metropolitana recebem fluxos
predominantemente oriundos do Eixo Industrial e das Periferias.
TABELA 5.2 RMBH
Distribuição dos fluxos entre macro-unidades, por Fluxos de Saída
Macrounidade Destino Macrounidade Origem
Centro/ Zona Sul
Peri-Centro
Pampulha Eixo Industrial
Periferias Expansão Metropolitana
Comprome-timento Mínimo
Favelas Total
Centro/Zona Sul 0.0% 38.2% 11.0% 12.9% 16.0% 15.4% 1.9% 4.7% 100.0% Peri-Centro 12.4% 0.0% 14.1% 15.9% 37.9% 11.9% 2.0% 5.8% 100.0% Pampulha 8.9% 12.5% 0.0% 9.7% 48.0% 15.3% 0.8% 4.8% 100.0% Eixo Industrial 4.1% 14.4% 3.9% 0.0% 22.3% 32.7% 3.7% 19.1% 100.0% Periferias 2.1% 18.3% 17.3% 20.3% 0.0% 28.6% 3.5% 10.0% 100.0% Expansão Metropolitana 0.8% 13.8% 3.3% 29.3% 31.7% 0.0% 16.3% 4.9% 100.0% Comprometimento Mínimo 4.3% 4.3% 4.3% 30.4% 4.3% 52.2% 0.0% 0.0% 100.0% Favelas 6.5% 8.7% 4.3% 40.4% 27.4% 12.2% 0.4% 0.0% 100.0% Total 6.4% 12.3% 10.4% 15.9% 24.8% 19.2% 2.9% 8.1% 100.0%
Fonte: Transmetro/ Plambel/ Fundação João Pinheiro. Pesquisa de Origem e Destino, 1992 – dados trabalhados Observação: foram excluídos os fluxos internos à macro-unidade
144 Ver a Nota 9 deste capítulo e a FIG. 2.10.
135
TABELA 5.3
RMBH Distribuição dos fluxos entre macro-unidades, por Fluxos de Entrada
Macrounidade Destino Macrounidade Origem
Centro/ Zona Sul
Peri-Centro
Pampulha Eixo Industrial
Periferias Expansão Metropolitana
Comprometi-mento Mínimo
Favelas Total
Centro/Zona Sul 0.0% 32.4% 11.0% 8.4% 6.7% 8.4% 6.7% 6.0% 10.4% Peri-Centro 63.1% 0.0% 44.0% 32.4% 49.6% 20.1% 22.5% 23.4% 32.5% Pampulha 11.3% 8.2% 0.0% 4.9% 15.7% 6.5% 2.2% 4.8% 8.1% Eixo Industrial 10.3% 18.8% 6.0% 0.0% 14.5% 27.5% 20.2% 37.9% 16.1% Periferias 6.7% 30.5% 34.3% 26.3% 0.0% 30.7% 24.7% 25.4% 20.6% Expansão Metropolitana 0.5% 4.5% 1.3% 7.4% 5.1% 0.0% 22.5% 2.4% 4.0% Comprometimento Mínimo 0.5% 0.3% 0.3% 1.4% 0.1% 2.0% 0.0% 0.0% 0.8% Favelas 7.7% 5.3% 3.1% 19.1% 8.3% 4.8% 1.1% 0.0% 7.5% Total 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0%
Fonte: Transmetro/ Plambel/ Fundação João Pinheiro. Pesquisa de Origem e Destino, 1992 – dados trabalhados Observação: foram excluídos os fluxos internos à macro-unidade
No nível mais abrangente, portanto, os fluxos de mobilidade residencial na RMBH,
além de constituírem um movimento do centro para a periferia, configuram um
processo de crescente segregação. Se observarmos os fluxos de entrada nas
unidades espaciais onde o saldo de mobilidade é negativo145, isto é, nas áreas mais
centrais, veremos que há predominância dos grupos de renda familiar mais alta – no
caso daqueles com renda familiar acima de 20 salários mínimos146, a participação nos
fluxos de entrada é de 16,6%, isto é, o dobro da participação média desta faixa de
renda. Quase 40% dos grupos familiares que se mudam para essas áreas possuem
renda familiar maior do que 10 salários mínimos. Nessas faixas de renda mais alta
entra um número maior de pessoas nas áreas onde o saldo de mobilidade é negativo
do que os que saem. Nessas áreas, a participação dos grupos familiares de renda
mais baixa, ao contrário, é menor nos fluxos de entrada do que a sua participação nos
fluxos de saída.
Nas áreas onde o saldo da mobilidade é positivo (áreas periféricas e de expansão
metropolitana), ao contrário, predomina a entrada de grupos de menor renda: 42% dos
que entram nestas áreas têm renda familiar igual ou menor do que 3 salários mínimos.
As trocas aí são similares, isto é, a composição de renda familiar entre os que saem e
os que entram é muito semelhante – ver TAB. 5.4 e 5.5.
145 Neste caso, excluímos os grupos familiares que se mudaram dentro da mesma UEH. 146 Representam cerca de 8% do total de grupos familiares que se mudam para outra Unidade Espacial entre 1982 e 1992.
136
TABELA 5.4 RMBH – Composição por faixa de renda dos fluxos de entrada
segundo o tipo de saldo de mobilidade da Unidade Espacial Homogênea
Faixa Renda Familiar (salário mínimo)
Fluxo de entrada em UEH com saldo positivo de mobilidade
Fluxo de entrada nas UEH com saldo negativo de mobilidade
Até 1 10.4% 4.6% Mais que 1 até 2 16.9% 7.4% Mais que 2 até 3 14.3% 8.8% Mais que 3 até 5 24.1% 15.9% Mais que 5 até 10 20.7% 25.2% Mais que 10 até 20 9.1% 21.5% Mais que 20 4.5% 16.6% Total 100.0% 100.0% Fonte: Plambel / Trasmetro / Fundação João Pinheiro. Pesquisa de Origem e Destino,1992 - dados
trabalhados Nota: estão excluídos os grupos familiares que se mudaram dentro da mesma UEH
TABELA 5.5 RMBH – Composição por faixa de renda dos fluxos de saída
segundo o tipo de saldo de mobilidade da Unidade Espacial Homogênea Faixa Renda Familiar
(salário mínimo) Fluxo de saída em UEH com saldo
positivo de mobilidade Fluxo de saída nas UEH com saldo negativo de mobilidade
Até 1 10.8% 6.8% Mais que 1 até 2 17.6% 10.9% Mais que 2 até 3 14.5% 11.0% Mais que 3 até 5 24.2% 19.3% Mais que 5 até 10 20.4% 23.5% Mais que 10 até 20 8.7% 16.5% Mais que 20 3.8% 11.9% Total 100.0% 100.0% Fonte: Plambel / Trasmetro / Fundação João Pinheiro. Pesquisa de Origem e Destino,1992 - dados
trabalhados Nota: estão excluídos os grupos familiares que se mudaram dentro da mesma UEH
Os grupos de menor renda são relativamente mais propensos à mudança, como
mostra a TAB. 5.6 - há diferenças entre a distribuição média por faixa de renda e a
distribuição das famílias que se mudaram no período entre 1982 e 1992: nas faixas de
renda familiar abaixo de três salários mínimos, as famílias que se mudaram na
década têm maior participação do que a média; o contrário ocorre nas famílias com
renda igual ou acima de cinco salários mínimos, onde a participação dos grupos que
se mudaram é menor do que a média metropolitana.
137
TABELA 5.6 RMBH – Distribuição do total de famílias e das famílias que se
mudaram entre 1982 e 1992 por faixa de renda
Faixa de renda familiar
(em sal.min.)
Distribuição dos grupos familiares
Distribuição dos grupos que se mudaram na década
Até 1 2.5% 3.1% Mais que 1 até 2 14.7% 16.2% Mais que 2 até 3 15.4% 16.4% Mais que 3 até 5 22.4% 22.9% Mais que 5 até 10 23.3% 21.8% Mais que 10 até 20 13.6% 12.0% Mais que 20 8.3% 7.7% Total 100.0% 100.0% Fonte: Pesquisa de Origem e Destino 1992. Plambel/Transmetro/ Fundação
João Pinheiro – dados trabalhados
Agregando as unidades espaciais em macro-áreas, observa-se que, embora haja uma
proporcionalidade geral, há três regiões onde o percentual de famílias que se
mudaram da década é maior do que a sua participação no total de grupos familiares:
o Eixo Industrial, as Periferias e as Áreas de Expansão Metropolitana, justamente
aquelas que concentram as faixas de menor renda.
TABELA 5.7 RMBH - Distribuição dos grupos familiares por macro-área
(%) Centro/
Zona Sul Peri-
Centro Eixo
Industrial Pampulha Periferias Expansão
Metropolitana Comprom.
Mínimo Favelas Total
Total de grupos familiares 8,8 17,6 19,0 5,1 20,8 19,0 5,1 4,9 100,0 Total de grupos que se mudaram na década 7,8 14,1 21,0 5,6 21,9 20,0 5,2 4,5 100,0
Fonte: Pesquisa de Origem e Destino 1992. Plambel/Transmetro/ Fundação João Pinheiro – dados trabalhados
A comparação entre os fluxos de origem e de destino mostra que, excluídos os fluxos
internos à cada macro-área, os grupos familiares com renda até três salários mínimos
vão principalmente para as Áreas de Expansão Metropolitana147.
147 No caso dos grupos com renda familiar até dois salários mínimos, a comparação entre a sua distribuição global pelas macro-unidades e a distribuição do fluxo de saída de cada macro-unidade mostra que, à exceção daquelas mais periféricas (Expansão Metropolitana e Áreas de Comprometimento Mínimo), a participação de cada região no percentual das famílias que saem é maior do que a sua participação no total das famílias dessa faixa de renda. Entre os grupos famíliares com renda até dois salários mínimos, 31% vivem na Área de Expansão Urbana, mas os fluxos de famílias nesta faixa de renda com origem nesta região representam apenas 18% do total dos fluxos de saída; nas Áreas de Comprometimento Mínimo estão 8% dos grupos familiares situados nesta faixa de renda, mas a contribuição desta região como origem dos fluxos de saída na mesma faixa é de 7%. Nas favelas, os percentuais são equivalentes. Em todas as demais regiões a relação é a inversa.
138
Observando específicamente o Peri-Centro, região onde sai uma quantidade muito
maior de famílias, em relação às que entram, percebe-se que a diferença entre os
fluxos de saída e de entrada é maior no caso das famílias de mais baixa renda – na
faixa de renda familiar até dois salários mínimos 11,5% saem desta região, enquanto
que, na mesma faixa, apenas 4,6% entram nesta região, o que mostra um claro
processo de expulsão.
TABELA 5.8
Distribuição dos fluxos de saída e de entrada mas macro-áreas por faixa de renda
Faixa de Renda Familiar
(sal.min.)
Tipo de fluxo
Centro/ Zona Sul
Peri-Centro
Eixo Industrial Pampulha Periferias
Expansão Metropolitana
Comprome-timento Mínimo
Favelas Total
Origem 2.2% 11.5% 23.5% 3.9% 26.5% 17.7% 6.9% 7.7% 100.0% Até 2 Destino 1.6% 4.6% 23.6% 2.3% 23.9% 27.6% 7.9% 8.4% 100.0% Origem 2.4% 15.5% 24.4% 4.0% 24.6% 19.1% 4.6% 5.4% 100.0% Mais que 2 até
3 Destino 1.1% 7.7% 24.0% 3.0% 25.7% 25.4% 5.4% 7.7% 100.0% Origem 2.7% 16.6% 25.8% 4.3% 26.5% 13.9% 5.1% 5.2% 100.0% Mais que 3 até
5 Destino 1.3% 10.2% 24.8% 3.6% 29.3% 19.8% 6.2% 4.8% 100.0% Origem 6.2% 24.7% 23.8% 5.9% 20.4% 13.1% 3.2% 2.8% 100.0% Mais que 5 até
10 Destino 4.0% 17.0% 24.9% 7.7% 22.8% 17.2% 3.9% 2.4% 100.0% Origem 17.5% 34.9% 17.2% 5.4% 12.9% 7.3% 3.1% 1.6% 100.0% Mais que 10 até
20 Destino 15.1% 26.7% 17.1% 11.1% 16.4% 9.0% 3.3% 1.3% 100.0% Origem 45.1% 29.3% 6.7% 6.8% 4.8% 4.4% 1.9% 1.0% 100.0% Mais que 20 Destino 45.3% 22.6% 6.3% 9.7% 5.3% 7.9% 2.3% 0.4% 100.0% Origem 8.9% 20.9% 22.0% 4.9% 21.2% 13.5% 4.3% 4.2% 100.0% Total Destino 7.4% 13.7% 22.0% 5.7% 22.7% 18.9% 5.1% 4.5% 100.0%
Fonte: Pesquisa de Origem e Destino, 1992. Plambel / Transmetro / Fundação João Pinheiro – dados trabalhados Observação: estão incluídos, para o cálculo da distribuição, o total de fluxos, inclusive aquele realizados dentro da
macro-unidade
Nas faixas de renda mais alta (acima de 20 salários mínimos), os fluxos são mais
intensos nas macro-unidades Centro/Zona Sul e Peri-centro, Regiões onde vivem as
famílias desta faixa de renda. Chama a atenção também a maior participação dos
grupos de renda mais alta com destino na Pampulha, região que tem passado por dois
processos distintos, com alterações sócio-espaciais descendentes, a norte da lagoa, e
ascendentes a sul.
Nas faixas de renda familiar média (entre cinco e vinte salários mínimos), a maior
parte dos fluxos estão no Peri-centro, Eixo Industrial e Periferias, com destaque para o
esvaziamento do Peri-centro. Na faixa entre 5 e 10 salários mínimos, é ainda
significativo o percentual de famílias com destino à Área de Expansão Metropolitana
(17,2%), bem maior do que os fluxos desta faixa de renda com origem na região
(13,1%).
139
Dos fluxos com origem nas favelas, 48% das famílias têm renda até 3 salários
mínimos. Predominam três destinos, por ordem de importância: as próprias favelas
(36.5%), o Eixo Industrial (25.7%) e as Periferias (17,4%). Dos fluxos com destino no
Eixo Industrial, 85% têm origem em favelas vizinhas (Favelas do Eldorado, do
Barreiro, da Cabana e de Betim). O mesmo acontece com os fluxos com destino nas
Periferias, onde quase a metade tem origem nas favelas próximas (Venda Nova/Norte
e São Gabriel/Gorduras). No plano mais geral, entra maior número de famílias nas
favelas, do que saem – é importante lembrar que, dadas as taxas de crescimento
demográfico anual, a maior parte dos fluxos dirigiram-se para as favela situadas nas
áreas a norte de Belo Horizonte e para as proximidades da FIAT, em Betim.
Em síntese, a dinâmica demográfica da Região Metropolitana de Belo Horizonte
apresenta dois movimentos: de um lado, o esvaziamento populacional das áreas
centrais e peri-centrais, simultâneo ao crescimento das áreas mais periféricas; de
outro, a predominância dos fluxos de saída das famílias de baixa renda das áreas
mais centrais em relação ao percentual dos seus fluxos de entrada nessas áreas, bem
como a relação inversa desses fluxos nas áreas mais periféricas. Predominam, na
região metropolitana, os fluxos de saída descendentes, isto é, aqueles cuja unidade
espacial de origem apresenta renda familiar média maior do que a da unidade espacial
de destino. Excluindo os fluxos internos às unidades espaciais148, 62,8% dos grupos
familiares que mudaram de residência entre 1982 e 1992 realizaram fluxo
descendente e apenas 37,2% realizaram fluxo ascendente.
No caso da área peri-central, onde a comparação entre os fluxos de saída e de
entrada mostram um esvaziamento mais evidente, a observação da distribuição
desses fluxos por faixa de renda familiar mostra que, relativamente à renda, o
esvaziamento é das populações mais pobres. A participação das faixas acima de cinco
salários mínimos, ao contrário, é maior entre os que entram do que entre os que saem.
148 Estes representam 37% do total de grupos familiares que mudaram de residência na década.
140
TABELA 5.9 RMBH - Distribuição dos fluxos de saída e de entrada
no Peri-centro por faixa de renda familiar
Faixa de renda Fluxos com origem no Peri-centro
Fluxos com destino no Peri-centro
até 2 sm 8.2% 5.1% 2 a 3 sm 12.1% 9.3% 3 a 5 sm 19.3% 18.2% 5 a 10 sm 27.2% 28.6% 10a 20sm 21.2% 24.8% acima_20 sm 12.0% 14.1% Total 100.0% 100.0% Fonte: Pesquisa de Origem e Destino, 1992. Plambel / Transmetro /
Fundação João Pinheiro - dados trabalhados ]
5.2 – Espaço metropolitano e mobilidade residencial
Observados os movimentos mais gerais, é importante detalhar a sua espacialidade no
nível mais localizado, de forma a buscar explicações para as mudanças sócio-
espaciais ocorridas na década de oitenta. Para isto, em primeiro lugar, as Unidades
Espaciais Homogêneas foram classificadas segundo a sua capacidade de retenção de
população, em unidades expulsoras e unidades receptoras, verificando-se, para esta
classificação, a intensidade do crescimento populacional e o saldo de mobilidade. Em
seguida, os chefes de domicílio dos grupos familiares que se mudaram entre 1982 e
1992 foram classificados segundo a sua posição social. A associação entre a dinâmica
demográfica e o movimento dos diversos grupos sociais possibilitou aprofundar a
análise do ponto de vista espacial, buscando identificar padrões demográfico-
espaciais. Finalmente, a análise desses padrões, vis-à-vis as transformações sócio-
espaciais ocorridas na década permitiram a compreensão da dinâmica de produção da
segregação, sob a ótica do movimento das populações no espaço metropolitano,
social e geográfico.
141
5.2.1 – Classificação demográfica do espaço
A associação entre o crescimento populacional e o saldo de mobilidade residencial
resultou em uma classificação das áreas, segundo a sua capacidade de retenção de
população, com a seguinte configuração:
a) áreas altamente expulsoras, cujo saldo de mobilidade é negativo e cuja taxa de
crescimento demográfico também é negativa
b) áreas expulsoras, onde o saldo de mobilidade é negativo, mas a taxa de
crescimento demográfico é positiva, ainda que na média metropolitana ou abaixo dela;
c) áreas altamente receptoras: área com saldo de mobilidade positivo e altas taxas de
crescimento demográfico;
d) áreas receptoras, com saldo de mobilidade positivo e taxas de crescimento
próximas da média metropolitana;
e) áreas expulsora para fora, área onde o saldo de mobilidade é positivo, mas a taxa
de crescimento demográfico é negativa, denotando uma expulsão de população para
fora da RMBH - é o caso de apenas duas unidades espaciais e não foi considerado na
análise.
f) áreas receptoras de fora, onde, embora o saldo de mobilidade tenha sido negativo,
houve crescimento demográfico a uma taxa acima da média metropolitana, denotando
que a área recebe população de fora da RMBH - é o caso de três unidades espaciais e
também não foi considerado na análise.
As áreas altamente expulsoras situam-se no centro de Belo Horizonte e suas
proximidades, e na área que compreende a Cidade Industrial de Contagem. No
primeiro caso, envolve dois tipos de região: por um lado, áreas que vêm sofrendo
mudanças de uso, como resultado da expansão do centro comercial da capital - são
as áreas imediatamente a norte da Área Central, ao longo das avenidas Cristiano
Machado e Antônio Carlos, as quais, além de apresentar crescimento populacional
negativo, sofreram também diminuição do número de domicílios (Belo Horizonte,
1995:84), em virtude da mudança de uso residencial para comercial e de serviços na
área e, ainda, em razão de desapropriações realizadas para execução de obras
142
143
viárias149. O segundo tipo de áreas expulsoras nas proximidades da área central de
Belo Horizonte são aquelas a sul e sudeste, onde houve a maior concentração no
número de novos domicílios nos anos oitenta (Belo Horizonte, op.cit.), grande parte
dela constituindo região de intensa atuação do mercado imobiliário empresarial
naqueles anos e nos seguintes – ver FIG. 5.4.
O segundo caso de áreas altamente expulsoras abrange as proximidades da Cidade
Industrial de Contagem, região que vem, desde a década de oitenta, perdendo posição
para Betim.
As áreas expulsoras configuram três tipos de região: um anel abrangendo grande
parte da área peri-central de Belo Horizonte e algumas periferias imediatas - parte do
qual constituiu área de expansão do mercado imobiliário nos anos oitenta -, o anel
adjacente a oeste da Cidade Industrial de Contagem e as sedes dos municípios de
Pedro Leopoldo e de Nova Lima150, além do município de Raposos151.
As áreas altamente receptoras configuram um grande anel fora do município de Belo
Horizonte, estendendo-se nos sentidos norte e sul. A norte o crescimento populacional
foi muito alto na década. Ao sul, o destaque é para as áreas do município de Nova
Lima fora da sede municipal, que apresentaram um crescimento populacional muito
alto. Trata-se da unidade espacial caracterizada como Espaço Superior Polarizado,
onde houve intenso crescimento de condomínios fechados, bem como de ocupações
precárias e de grupos de baixa renda no seu entorno.
As áreas receptoras, quase todas com crescimento populacional próximo da média
metropolitana, situam-se em geral nas regiões mais periféricas, a leste e oeste, do
território metropolitano, e nas periferias norte e sul do município de Belo Horizonte.
Uma parte das áreas situadas em Belo Horizonte eram caracterizadas, nos anos
oitenta, por limitações legais à ocupação urbana, incluindo áreas rurais e de
preservação ambiental.
149 Nas demais áreas de crescimento populacional negativo houve crescimento no número de domicílios – nos anos oitenta, a taxa de crescimento do número de domicílios em Belo Horizonte foi mais que o dobro da taxa de crescimento demográfico. A explicação está, em primeiro lugar, na expressiva diminuição do tamanho da família e, secundariamente, no aumento da população idosa e na mudança de comportamento familiar, com descasamento e maior número de pessoas morando sozinhas (Belo Horizonte, 1995:69). 150 Em ambos os municípios, as áreas periféricas são altamente receptoras de população.
144
Chama a atenção o fato de que as três áreas receptoras de fora são de tipos
diferentes, mas todas passaram por alterações ascendentes de tipologia. A primeira
(Cidade Nova), é classificada como espaço superior desde 1980 e permaneceu com o
mesmo tipo em 1991, com grande aumento, no entanto, na sobre-representação das
categorias dirigentes152. A segunda (Céu Azul), situada a norte, nas Periferias, passou
do tipo operário popular para operário, durante a década de 80. Finalmente, a terceira
(Barreiro de Cima), na região sudoeste de Belo Horizonte, passou de operário para
operário-superior, com a maior representação de setores médios e a diminuição na
representação de segmentos populares, como operários de serviços não
especializados e da construção civil.
As áreas que são receptoras de fluxos internos à região metropolitana não
apresentaram um padrão de evolução sócio-espacial. Parte delas apresentaram
predominantemente evolução ascendente. É o caso das unidades espaciais cujo tipo
de evolução foi Diversificação Ascendente, 64% das quais são Receptoras, e também
o caso daquelas que mudaram no sentido de Proletarização, em que 36% são
Altamente Receptoras e 29% Receptoras. Por outro lado, entre as unidades que
apresentaram transformação para Mais Popular, isto é, mudança descendente, 60%
são Altamente Receptoras e 40% são Receptoras.
As áreas de de Aburguesamente e de Mais Classes Médias são predominantemente
expulsoras – entre as primeiras 64% são Altamente Expulsoras, e entre as últimas
52% são Expulsoras.
151 Raposos é um município dependente de uma única atividade, a extração de ouro, e de uma única empresa, proprietária de praticamente todas as suas terras, fatos que, aliados à topografia acidentada determinaram a sua estagnação demográfica (Plambel, 1985b:179). 152 A densidade dos Dirigentes Públicos, por exemplo, passou de 1,54 em 1980 para 5,65 em 1991; no caso dos Dirigente Privados passou de 4,13 para 4,84 e, no caso dos Profissionais Liberais, passou de 1,01 para 3,40.
145
TABELA 5.10 Distribuição das Unidades Espaciais Homogêneas
por tipo de evolução sócio-espacial e tipologia demográfica
Tipologia Demográfica
Tipologia de Evolução sócio-espacial
Altamente expulsora
Expulsora Expulsora para fora
Altamente receptora
Receptora Receptora de fora
Total
Aburguesamento 64.3% 21.4% 0.0% 0.0% 14.3% 0.0% 100.0% Mais classes médias 8.0% 52.0% 0.0% 4.0% 32.0% 4.0% 100.0% Diversificação ascendente 0.0% 18.2% 0.0% 18.2% 63.6% 0.0% 100.0% Diversificação 0.0% 16.7% 0.0% 66.7% 16.7% 0.0% 100.0% Proletarização 0.0% 14.3% 14.3% 35.7% 28.6% 7.1% 100.0% Mais popular 0.0% 0.0% 0.0% 60.0% 40.0% 0.0% 100.0% Permanece 26.2% 21.4% 0.0% 26.2% 23.8% 2.4% 100.0% Total 18.8% 25.6% 1.7% 22.2% 29.1% 2.6% 100.0% Fontes: IBGE, Censo Demográfico de 1991 e Plambel/Transmetro/FJP, Pesquisa de Origem e Destino de 1992 –
dados trabalhados
A correlação da tipologia demográfica não parece, pois, ser com as mudanças sócio-
espaciais, mas sim com o perfil social da área, isto é, por um lado, há correlação entre
os espaços médios e superiores e o seu esvaziamento populacional, e, por outro,
entre áreas operárias e populares e o seu adensamento populacional.
No entanto, esse movimento é congruente com o fato de que a maior parte da
mobilidade residencial realizada pelas famílias é descendente, isto é, cuja unidade
espacial de origem apresenta renda familiar média maior do que a da unidade espacial
de destino, e também com o fato de que os grupos familiares de menor renda são
mais propensos à mobilidade residencial. De todos modos, parece que a correlação
entre as mudanças sócio-espaciais no território metropolitano e a mobilidade
residencial dos diversos grupos sociais é muito alta, hipótese discutida na próxima
seção.
146
5.2.2 – Posição social e mobilidade residencial
As análise anteriores tiveram como referência a renda familiar, que é fortemente
associada com o posicionamento social do indivíduo. É possível, no entanto, avançar
no estudo, discutindo a mobilidade residencial segundo a posição social do chefe do
domicílio153. A distribuição dos chefes de domicílio ocupados segundo a sua posição
social é bastante semelhante à distribuição da população ocupada pelos grupos sócio-
ocupacionais, como pode ser observado na TAB. 5.11154. Desta maneira, a utilização
dessa classificação permite maior associação entre os fluxos residenciais e a
transformação sócio-espacial de cada UEH da região metropolitana. Embora o
tamanho da amostra não permita trabalhar os dados por UEH155, é possível agregá-los
por grupos de UEH segundo a tipologia sócio-espacial ou a tipologia de evolução.
153 As informações sobre ocupação, renda e ramo de atividade na Pesquisa de Origem e Destino (OD) permitiram agrupar os chefes de domicílios segundo a posição social. Trata-se de uma proxy das categorias sócio-espaciais, cuja construção foi desenvolvida no Capítulo 2. A ocupação, na Pesquisa OD, é apresentada da seguinte maneira: proprietários, altos cargos, técnicos de nível superior (empregados), técnicos de nível superior (empregados), cargos de supervisão, inspeção e administração, sitiantes com até 5 empregados, técnicos de nível intermediário, ocupação não manual de rotina, supervisão de trabalho manual na produção, ocupação manual especializada, proprietários de firmas e estabelecimentos com até 5 empregados, ocupação manual não especializada, ajudantes, auxiliares, serventes, aprendizes de ocupação manual especializada, emprego doméstico. Assim, o Grupo Dirigente é resultante do agrupamento de chefes de domicílio ocupados em altos cargos, técnicos de nível superior e proprietários e sitiantes com renda acima de 20 salários mínimos; constituíram os Grupos Médios os trabalhadores de supervisão, técnicos de nível intermediário, trabalhadores não manuais de rotina e proprietários e sitiantes com renda menor do que vinte salários mínimos; o Operariado Industrial é constituído de trabalhadores manuais dos ramos de atividade compostos pelas indústrias e serviços auxiliares à indústria; o Operariado em Geral é o grupo que agrega trabalhadores manuais do comércio e de serviços, inclusive os serviços públicos; finalmente, o Sub-proletariado é composto de ajudantes, serventes, empregados domésticos e trabalhadores da construção civil – para maior detalhamento da construção desses grupos sociais ver o Anexo 5. 154 O grupo do Sub-proletariado construído a partir da Pesquisa OD é menor do que o agrupamento localizado nas Categorias Sócio-Ocupacionais porque, aqui, estão incluídos os trabalhadores da construção civil. Por outro lado, o Proletariado em Geral tem menor participação do que o Proletariado do Terciário que agrega as categorias sócio-ocupacionais explicitadas no Capítulo 2, uma vez que, aqui, os ramos de atividade são mais restritos – para comparação mais detalhada veja-se os Anexos 1 e 5 . 155 A pesquisa OD trabalhou com uma amostra de 3,5% dos domicílios da Região Metropolitana de Belo Horizonte; entre estes, 64% dos chefes têm uma ocupação, mas apenas a metade dos chefes ocupados mudou de residência no período estudado, isto é, entre 1982 e1992.
147
TABELA 5.11 Distribuição da população ocupada por grupos sócio-ocupacionais em 1991 e distribuição dos chefes de domicílio ocupados por grupos sociais em 1992
Categorias Sócio-ocupacionais (Censo Demográfico de 1991)
População Ocupada %
Grupos sociais (Pesquisa O/D 1992)
Chefes de domicílio
ocupados (%) Ocupações agrícolas 1,2 - - -
Grupo dirigente 1,1
Grupo Intelectual 5,8
6,9 Grupo Dirigente 9,5
Pequena Burguesia 6,7
Setores Médios 25,8
32,5 Grupos Médios 36,9
Proletariado do setor secundário 24,6 24,6 Operariado Industrial 23,1 Proletariado do setor terciário 23,1 23,1 Operariado em Geral 14,7 Sub-proletariado 11,7 11,7 Sub-proletariado 15,8
Total 100,0 98,8 Total 100,0
Fontes: IBGE, Censo Demográfico de 1991 e Plambel/Transmetro/Fundação João Pinheiro, Pesquisa de Origem e Destino de 1992 – dados trabalhados
A observação dos fluxos de entrada e de saída dos diversos grupos sociais, de e para
cada conjunto de unidades espaciais, mostrou que, assim como os fluxos são
predominantemente entre áreas fisicamente próximas, também do ponto de vista
social predomina a mobilidade de curta distância: por um lado, das áreas de
aburguesamento saíram principalmente os grupos familiares posicionados no grupo
dirigente e nos grupos médios – essas são áreas que mudaram de espaço médio para
médio-superior ou áreas do tipo médio-superior onde houve maior adensamento das
categorias dirigentes. Por outro, nas áreas de proletarização e nas que se tornaram
mais populares o peso maior nos fluxos de saída foi dos grupos operários e populares.
Em outras palavras, os fluxos de saída de cada área são compostos
predominantemente por grupos sociais que caracterizam a área. Esta relação é óbvia,
mas, se observarmos a representação dos grupos que entram, veremos que ela
permanece e se aprofunda. A participação dos grupos familiares do grupo dirigente
com destino nas áreas de aburguesamento, por exemplo, é duas vezes maior do que
a participação destas áreas na recepção do conjunto dos fluxos metropolitanos. A
densidade de entrada dos grupos médios nessas áreas também é 25% maior do que a
média.
Por outro lado, a entrada do operariado industrial apresentou maior densidade nas
áreas de proletarização e nas se tornaram mais populares e a densidade dos fluxos de
148
entrada do sub-proletariado foi maior nas áreas de diversificação, proletarização e nas
que se tornaram mais populares. No caso do operariado em geral, este se dirigiu com
maior densidade para as áreas de diversificação ascendente e de diversificação – ver
TAB. 5.12 e 5.13.
TABELA 5.12 Densidade(*) dos Fluxos de Saída dos grupos sociais que se mudaram entre 1982 e 1992
para outra UEH por Tipo de Evolução Sócio-Espacial das áreas de origem
Grupos Sociais Tipologia da Evolução
Grupo Dirigente
Grupos Médios
Operariado Industrial
Operariado em Geral
Sub-proletariado
Total
Aburguesamento 1.51 1.26 0.59 0.87 0.68 1.00 Mais classes médias 0.35 0.93 1.36 1.07 1.06 1.00 Diversificação ascendente 0.22 0.92 1.18 1.12 1.38 1.00 Diversificação 0.15 0.78 1.39 1.31 1.33 1.00 Proletarização 0.17 0.79 1.16 1.34 1.62 1.00 Mais popular 0.32 0.85 1.58 0.72 1.30 1.00 Permanece 1.83 1.04 0.77 0.85 0.77 1.00 Total 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 Fonte: Plambel/Transmetro/Fundação João Pinheiro, Pesquisa de Origem e Destino, 1992 – Dados trabalhados (*) A densidade é a relação entre a freqüência do grupo social nos fluxos de saída de cada área e o peso da área no conjunto dos fluxos de saída.
TABELA 5.13 Densidade(*) dos Fluxos de Entrada dos grupos sociais que se mudaram entre 1982 e 1992
para outra UEH por Tipo de Evolução Sócio-Espacial das áreas de destino
Grupos Sociais Tipologia da Evolução
Grupo Dirigente
Grupos Médios
Operariado Industrial
Operariado em Geral
Sub-proletariado
Total
Aburguesamento 2.09 1.25 0.52 0.67 0.54 1.00 Mais classes médias 0.62 1.18 1.15 0.94 0.59 1.00 Diversificação ascendente 0.37 1.11 0.98 1.20 1.00 1.00 Diversificação 0.18 0.70 1.17 1.38 1.82 1.00 Proletarização 0.21 0.90 1.28 1.16 1.26 1.00 Mais popular 0.10 0.75 1.55 1.07 1.46 1.00 Permanece 1.62 0.91 0.88 0.92 1.04 1.00 Total 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00
Fonte: Plambel/Transmetro/Fundação João Pinheiro, Pesquisa de Origem e Destino, 1992 – Dados trabalhados (*) A densidade é a relação entre a freqüência do grupo social nos fluxos de entrada de cada área e o peso da área no conjunto dos fluxos de entrada.
Em síntese, das áreas de aburguesamento saiu uma quantidade menor de grupos
familiares cujo chefe é dirigente, em relação aos que entraram. Parece haver uma
troca dos grupos dirigentes, com saída de algumas famílias e entrada de outras,
embora não seja possível precisar o tipo de troca. Destas mesmas áreas saíram mais
operários e sub-proletários do que entraram, o mesmo ocorrendo com as áreas que se
transformaram na direção de um perfil “mais classes médias” e naquelas que
149
passaram por diversificação ascendente – a exceção, neste último caso, foi a maior
entrada do Operariado em geral, relativamente à sua saída destas áreas.
Das áreas de proletarização, saíram menos famílias dos grupos sociais dirigentes156,
grupos médios e de operários industriais, em relação aos que entraram, ocorrendo o
contrário com o operariado em geral e o sub-proletariado.
Nas áreas que se tornaram mais populares, a entrada de dirigentes e dos grupos
médios foi menor, em relação à sua saída – ressalte-se que o percentual dos grupos
dirigentes que entraram nessas áreas é inexpressivo. O operariado industrial manteve
percentual semelhante tanto nos fluxos de entrada como de saída dessas áreas. O
contrário ocorreu com o operariado em geral e o sub-proletariado, que entraram mais
do que saíram – ver TAB. 5.14 e 5.15.
O padrão dos fluxos nas áreas de diversificação foram semelhantes àqueles ocorridos
nas áreas que se tornaram mais populares, a não ser pela maior entrada de famílias
com chefe dirigente. Nessas áreas, embora o saldo seja favorável aos grupos
operários e populares, a entrada dos grupos sociais é relativamente bem distribuída: à
exceção das famílias com chefe dirigente, a participação dos demais grupos sociais
nos fluxos de entrada varia de 19% a 28%.
Em linhas gerais, os movimentos mostram que a natureza dos fluxos teve impacto
sobre as transformações sócio-espaciais ocorridas nas diversas regiões do território
metropolitano. A evolução sócio-espacial foi ascendente nas áreas de
Aburguesamento157, nas áreas que se tornaram Mais Classes Médias158, nas áreas de
Diversificação Ascendente e nas áreas de Proletarização159. Na primeira, o peso do
grupo dirigente e dos grupos médios nos fluxos de entrada foi significativamente maior
do que o peso dos demais grupos. Nas demais, destacam-se maiores pesos dos
grupos médios e do operariado, com as diferenças pertinentes às características da
156 Ainda que o grupo dirigente tenha representado, nestas áreas, apenas 1,8% dos que saíram e 2,2% dos que entraram. 157 Quase todas eram áreas que passaram do tipo médio para médio-superior, ou áreas de tipo médio superior onde houve maior adensamento das categorias dirigentes. 158 70% das áreas que mudaram para um perfil “mais classes médias” resultaram da mudança de áreas do tipo operário para operário-superior. 159 Nas áreas de proletarização, em geral, houve entrada significativa de Grupos Médios.
150
área: maior peso do operariado industrial nas áreas de proletarização e maior peso do
operariado em geral nas áreas de diversificação ascendente160.
Por outro lado, nas áreas que se tornaram mais populares, ou seja, em que a
evolução foi descendente, os fluxos de entrada foram fortemente marcados pelos
operários industriais e pelo sub-proletariado.
TABELA 5.14
RMBH Distribuição dos Fluxos de Saída dos grupos sociais que se mudaram entre 1982 e 1992
para outra UEH por Tipo de Evolução Sócio-Espacial das áreas de origem
Grupos Sociais Tipologia da Evolução das áreas de origem
Grupo Dirigente
Grupos Médios
Operariado Industrial
Operariado em Geral
Sub-proletariado Total
Aburguesamento 15.9% 49.4% 13.2% 12.0% 9.5% 100.0% Mais classes médias 3.6% 36.5% 30.2% 14.8% 14.8% 100.0% Diversificação ascendente 2.3% 36.4% 26.2% 15.6% 19.5% 100.0% Diversificação 1.6% 30.7% 30.7% 18.2% 18.8% 100.0% Proletarização 1.8% 31.0% 25.7% 18.7% 22.8% 100.0% Mais popular 3.3% 33.3% 35.0% 10.0% 18.3% 100.0% Permanece 19.2% 41.1% 17.1% 11.8% 10.8% 100.0% Total 10.5% 39.4% 22.1% 13.9% 14.1% 100.0% Fontes: IBGE, Censo Demográfico, 1991. Plambel/Transmetro/Fundação João Pinheiro, Pesquisa de Origem e
Destino, 1992 – dados trabalhados
TABELA 5.15 RMBH
Distribuição dos Fluxos de Entrada dos grupos sociais que se mudaram entre 1982 e 1992 para outra UEH por Tipo de Evolução Sócio-Espacial das áreas de origem
Grupos Sociais Tipologia da Evolução das áreas de origem
Grupo Dirigente
Grupos Médios
Operariado Industrial
Operariado em Geral
Sub-proletariado Total
Aburguesamento 22.1% 49.6% 11.6% 9.3% 7.4% 100.0% Mais classes médias 6.5% 46.8% 25.6% 13.0% 8.1% 100.0% Diversificação ascendente 3.9% 44.1% 21.6% 16.6% 13.7% 100.0% Diversificação 1.9% 27.9% 26.0% 19.1% 25.1% 100.0% Proletarização 2.2% 35.9% 28.4% 16.1% 17.4% 100.0% Mais popular 1.0% 29.7% 34.4% 14.9% 20.0% 100.0% permanece 17.2% 36.2% 19.6% 12.7% 14.3% 100.0% Total 10.6% 39.7% 22.2% 13.8% 13.7% 100.0% Fontes: IBGE, Censo Demográfico, 1991. Plambel/Transmetro/Fundação João Pinheiro, Pesquisa de Origem e
Destino, 1992 – dados trabalhados
160 Quase todas as áreas de diversificação ascendente mudaram do tipo operário popular para o tipo operário.
151
Se os dados estão mostrando que as áreas superiores sofreram mudança social
ascendente e a mudança descendente ocorreu em áreas operárias e populares, foi
importante separar, para análise das regiões que permaneceram com o mesmo tipo
em 1980 e em 1991, aquelas constituídas de áreas médias e superiores daquelas que
congregam áreas operárias e populares. Veremos que o movimento se reproduz, ou
seja, nos espaços médios e superiores, há relativamente maior entrada de famílias do
grupo dirigente e, ao contrário, há maior entrada relativa do operariado e do sub-
proletariado nas áreas operárias e populares, reproduzindo o processo de
distanciamento social no espaço metropolitano, visto anteriormente.
TABELA 5.16
RMBH Distribuição dos fluxos de entrada e de saída das UEH que permaneceram
com o mesmo tipo sócio-espacial por grupo social
Grupos Sociais
Tipo de UEH e tipo de fluxo Grupo
Dirigente Grupos Médios
Operariado Industrial
Operariado em Geral
Sub-proletariado
Total
SAÍDA 3.3% 30.1% 27.5% 17.6% 21.5% 100.0% UEH OPERÁRIAS E POPULARES ENTRADA 1.4% 27.9% 29.0% 19.1% 22.7% 100.0%
SAÍDA 25.7% 45.5% 12.8% 9.4% 6.6% 100.0% UEH MÉDIAS E SUPERIORES ENTRADA 33.4% 45.7% 8.3% 6.8% 5.8% 100.0%
Fontes: IBGE, Censo Demográfico, 1991. Plambel/Transmetro/Fundação João Pinheiro, Pesquisa de Origem e Destino, 1992 – Dados trabalhados
A observação dos fluxos realizados por cada um dos grupos sociais reforça essas
conclusões.
Já vimos que os chefes de domicílio posicionados no grupo dirigente, que se
mudaram, tiveram origem predominantemente nas suas áreas de residência, isto é,
nos espaços superiores e médio-superiores. A maioria expressiva dos que saíram de
espaços superiores mudou-se para áreas que permaneceram no mesmo tipo desde
1980 (provavelmente espaços médios e superiores) sendo que 16% se mudaram para
áreas de aburguesamento, isto é, onde houve maior concentração de segmentos
superiores na hierarquia social.
Entre os que saíram de áreas do tipo médio-superior, a maioria teve destino em áreas
que não mudaram de tipo (mais uma vez, provavelmente espaços médios e
superiores) e 27% se movimentaram para áreas de aburguesamento.
152
Houve ainda uma parcela do grupo dirigente (15%) que saiu de áreas médias. Quase
a metade destes se mudou para áreas que sofreram processo de aburguesamento
nos anos oitenta.
As famílias posicionadas no grupo dirigente apresentaram, portanto, um movimento de
relativo transbordamento, isto é, mudaram-se de espaços superiores para áreas que
eram, em 1980, de tipo médio e médio-superior, em geral próximas às suas áreas de
origem, resultando no aburguesamento de novas parcelas do território – ver TAB.
5.17. Do ponto de vista geográfico, tratou-se de uma relativa expansão das fronteiras
da zona sul, configurando um semi-anel em torno desta região e seguindo em direção
à Pampulha, abarcando os bairros a sul da lagoa. Esta foi também, como veremos no
próximo capítulo, a área de expansão das atividades do mercado imobiliário orientado
para as classes médias.
TABELA 5.17 RMBH
Origem e Destino dos chefes de domicílio posicionados no Grupo Dirigente que se mudaram para outra UEH(*) entre 1980 e 1992
Destino (Tipo de Evolução)
Origem (Tipo Sócio-Espacial em 1980)
Aburgue-samento
Mais classes médias
Diversificação ascendente Diversificação Proletarização
Mais popular Permanência Total
Superior 16.4% 5.9% 0.0% 0.8% 0.8% 0.0% 76.1% 100.0% Médio Superior 26.7% 8.2% 2.1% 1.4% 2.1% 0.0% 59.6% 100.0% Médio 47.1% 12.9% 11.8% 1.2% 3.5% 0.0% 23.5% 100.0% Superior Polarizado 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Operário 18.8% 50.0% 3.1% 3.1% 12.5% 0.0% 12.5% 100.0% Operário e Agrícola 0.0% 14.3% 14.3% 14.3% 0.0% 28.6% 28.6% 100.0% Operário Popular 19.4% 27.8% 22.2% 0.0% 2.8% 0.0% 27.8% 100.0% Popular 42.9% 0.0% 0.0% 14.3% 14.3% 0.0% 28.6% 100.0% Total 24.3% 11.6% 4.2% 1.5% 2.5% 0.4% 55.5% 100.0% Fontes: IBGE, Censo Demográfico, 1991. Plambel/Transmetro/Fundação João Pinheiro, Pesquisa de Origem e Destino, 1992 – Dados trabalhados (*) Estão excluídos, desta e das próximas tabelas, os chefes de domicílio que mudaram de residência dentro da mesma UEH. O movimento dos grupos médios apresentou um padrão bastante semelhante à média
dos fluxos metropolitanos161, e sua origem é predominantemente de áreas que eram,
em 1980, do tipo médio, operário e operário e popular – este é o grupo espacialmente
mais democrático, com uma representação próxima da média metropolitana, estando
presente de forma expressiva desde os espaços superiores até os espaços operários.
161 Mais uma vez, o comportamento dos Grupos Médios se aproxima da média metropolitana.
153
Entre os que saíram de áreas do tipo médio, quase 26% se movimentaram para
áreas que permaneceram com o mesmo tipo sócio-espacial existente em 1980 -
provavelmente áreas de tipo médio e médio superior - e 42% se deslocaram para
áreas de aburguesamento162 ou que se tornaram com um perfil mais próximo ao das
classes médias163.
Entre as famílias dos grupos médios que saíram de áreas operárias em 1980, 42%
foram para áreas que se tornaram mais classes médias ao longo da década de 80164.
Apenas 14% foram para áreas de proletarização165 ou que se tornaram mais populares
– ver TAB. 5.18.
Por fim, entre as famílias dos grupos médios que saíram de áreas que eram operárias
e populares em 1980, cerca de 20% foram para áreas que se tornaram mais classes
médias ao longo da década, cerca de 17% foram para áreas que se tornaram mais
operárias e quase 30% foram para áreas que permaneceram com o mesmo tipo
existente em 1980.
É interessante observar que, ao contrário da elites, que tendem à maior segregação,
os grupos médios tendem à maior mistura social, seja para cima, mudando-se para
áreas em processo de aburguesamento, ou seja, com maior densidade de grupos
médios e dirigentes, seja para baixo, mesclando-se aos grupos operários, isto é,
mudando-se para áreas inferiores na hierarquia sócio-espacial e em processo
ascendente.
162 Quase todas as área que passaram por processo de aburguesamento eram do tipo médio e que se tornaram do tipo “médio-superior”. 163 Em 70% dos casos, são áreas que se tornaram do tipo “Operário Superior” em 1991. 164 Com exceção de uma UEH, tornar-se “mais classes médias” significou ascendência social da área, com maior adensamento de segmentos médios. A sua evolução foi um claro resultado, portanto, da entrada de novos grupos sociais, mais do que a possível mobilidade ocupacional dos grupos residentes. 165 É importante lembrar que a proletarização, na maior parte dos casos, é resultado da menor densidade de grupos populares.
154
TABELA 5.18 Origem e Destino dos chefes de domicílio posicionados nos Grupos Médios
que se mudaram para outra UEH(*) entre 1980 e 1992
Destino (Tipo de Evolução)
Origem (Tipo Sócio-Espacial em 1980)
Aburgue-samento
Mais classes médias
Diversificação ascendente Diversificação Proletarização
Mais popular Permanência Total
Superior 21.9% 9.0% 5.6% 4.7% 4.3% 1.3% 53.2% 100.0% Médio Superior 21.7% 17.5% 11.9% 3.3% 9.2% 0.8% 35.6% 100.0% Médio 23.5% 18.7% 17.5% 4.3% 8.9% 1.4% 25.7% 100.0% Superior Polarizado 0.0% 100.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 100.0% Operário 4.1% 41.6% 8.0% 5.6% 11.1% 2.7% 26.9% 100.0% Operário e Agrícola 7.1% 18.8% 3.5% 18.8% 4.7% 27.1% 20.0% 100.0% Operário Popular 8.6% 19.5% 17.2% 6.7% 18.2% 1.5% 28.3% 100.0% Popular 8.3% 18.3% 11.7% 8.3% 16.7% 8.3% 28.3% 100.0% Total 14.6% 22.3% 12.4% 5.7% 11.0% 2.8% 31.2% 100.0% Fontes: IBGE, Censo Demográfico, 1991. Plambel/Transmetro/Fundação João Pinheiro, Pesquisa de Origem e
Destino, 1992 – Dados trabalhados
O operariado industrial que realizou mudança domiciliar durante os anos oitenta, teve
origem em suas áreas preferenciais de residência, quais sejam aquelas que, em 1980,
eram do tipo operário ou do tipo operário e popular (somando quase 60% das famílias
deste grupo social que realizaram mudança para outra UEH). Uma parcela menor
(14%) saiu de áreas do tipo médio – ver TAB. 5.19.
Entre os que saíram das áreas do tipo operário, cerca de 36% mudaram-se para áreas
que em 1991 permaneceram com mesmo perfil de 1980 (provavelmente áreas
operárias e populares, com vimos). Cerca de 1/3 foi para áreas que se tornaram mais
classes médias, mesclando-se com segmentos médios166, e 13% foram para áreas
que evoluíram para um perfil mais operário, ou seja, que eram mais populares e
realizaram movimento socialmente ascendente.
O movimento dos operários industriais que saíram das áreas do tipo operário e
popular caracterizou-se expressivamente por destino em áreas que mantiveram o
mesmo tipo (31%) e em áreas que se tornaram mais operárias (19%) - indicando
novamente um movimento descendente para áreas vizinhas, contribuindo, em parte,
para a transformação da área do forma socialmente ascendente. Há também uma
parcela significativa (16%) que se mudou para áreas que se tornaram mais classes
médias.
166 É importante lembrar que a maior parte das áreas com evolução para mais classes médias eram, em 1980, do tipo operário, o que pode significar, mais uma vez, mudança para áreas vizinhas.
155
Do ponto de vista geográfico, os dados indicam dois movimentos dos operários
industriais: um na direção do eixo industrial – no sudoeste de Belo Horizonte e na
região da Cidade Industrial de Contagem –, onde a evolução para um perfil mais
classes médias resultou da mescla de segmentos médios com operários da indústria
moderna, e outro na direção norte e noroeste, nas periferias de Belo Horizonte e
municípios vizinhos, transformando as áreas em um perfil mais operário e menos
popular.
TABELA 5.19
RMBH Origem e Destino dos chefes de domicílio posicionados no Operariado Industrial
que se mudaram para outra UEH(*) entre 1980 e 1992
Destino (Tipo de Evolução)
Origem (Tipo Sócio-Espacial em 1980)
Aburgue-samento
Mais classes médias
Diversificação ascendente Diversificação Proletarização
Mais popular Permanência Total
Superior 11.4% 9.1% 13.6% 11.4% 11.4% 2.3% 40.9% 100.0% Médio Superior 14.6% 18.3% 14.6% 6.1% 17.1% 0.0% 29.3% 100.0% Médio 10.7% 14.5% 16.4% 9.4% 17.6% 2.5% 28.9% 100.0% Superior Polarizado 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 50.0% 50.0% 100.0% Operário 2.2% 33.2% 3.6% 7.3% 13.1% 4.7% 35.8% 100.0% Operário e Agrícola 3.7% 22.2% 2.8% 18.5% 12.0% 26.9% 13.9% 100.0% Operário Popular 6.4% 16.0% 13.5% 11.0% 18.7% 3.7% 30.7% 100.0% Popular 4.5% 14.9% 29.9% 4.5% 17.9% 4.5% 23.9% 100.0% Total 6.1% 21.6% 10.8% 9.6% 15.7% 5.8% 30.4% 100.0% Fontes: IBGE, Censo Demográfico, 1991. Plambel/Transmetro/Fundação João Pinheiro, Pesquisa de Origem e
Destino, 1992 – Dados trabalhados
Também o operariado em geral, isto é, os trabalhadores manuais do terciário,
incluindo o setor público, que mudou de residência nos anos oitenta, saiu
principalmente de áreas do tipo operário e popular (31%) e do tipo operário (23%).
Parcela significativa, no entanto (17%) teve origem em áreas do tipo médio e mesmo
médio-superiores (12%) – ver TAB. 5.20.
A não ser pela sua quase ausência dos espaços superiores e pela sua pequena
entrada em áreas de aburguesamento, este grupo apresenta um padrão de mobilidade
semelhante ao dos grupos médios, embora mais de um terço tenha origem em áreas
mais populares.
No caso das famílias deste grupo oriundas das áreas do tipo operário e popular, 44%
foram para áreas que permaneceram do mesmo tipo ou para áreas que se tornaram
156
mais operárias durante os anos oitenta e 32% mudaram para áreas que se tornaram
mais classes médias e áreas que sofreram diversificação ascendente
No caso daqueles que saíram de áreas operáras, o movimento é expressivamente
ascendente, na medida em que 31% foram para áreas que se tornaram mais classes
médias - o que mais provavelmente significa também mudança para áreas vizinhas,
situadas no eixo industrial, já que na maior parte das vezes estas eram áreas
operárias. Outros 37% tiveram como destino áreas que não mudaram de tipo.
Finalmente, cerca de 19% foram para áreas de diversificação e de proletarização.
Já entre os grupos familiareas posicionados nesse grupo e que saíram de áreas do
tipo médio, quase a metade efetuou mobilidade ascendente – para áreas de
aburguesamento, de mudança para um perfil mais classes médias e de diversificação
ascendente. Cerca de 30% tiveram como destino áreas que não apresentaram
mudança de tipo sócio-espacial .
O operariado em geral mostra um comportamento semelhante aos dos grupos médios,
na medida em que se move tanto no sentido ascendente, mesclando-se a grupos
superiores na hierarquia social, quanto no sentido descendente, mesclando-se a
segmentos de trabalhadores manuais da indústria e segmentos populares. Na
realidade, a própria configuração deste grupo é relativamente polarizada, comportando
trabalhadores manuais que, em alguns casos, posicionam-se socialmente mais
proximamente dos grupos médios, como é o caso das ocupações manuais
especializadas nos ramos de atividades de serviços técnicos profissionais, serviços de educação e serviços médicos, por exemplo.
157
TABELA 5.20 RMBH
Origem e Destino dos chefes de domicílio posicionados no Operariado em Geral que se mudaram para outra UEH(*) entre 1980 e 1992
Destino (Tipo de Evolução)
Origem (Tipo Sócio-Espacial em 1980)
Aburgue-samento
Mais classes médias
Diversificação ascendente Diversificação Proletarização
Mais popular Permanência Total
Superior 17.4% 17.4% 13.0% 0.0% 8.7% 4.3% 39.1% 100.0% Médio Superior 8.1% 17.4% 11.6% 8.1% 12.8% 0.0% 41.9% 100.0% Médio 16.7% 10.3% 20.6% 9.5% 13.5% 1.6% 27.8% 100.0% Superior Polarizado 0.0% 0.0% 0.0% 100.0% 0.0% 0.0% 0.0% 100.0% Operário 3.7% 30.9% 6.8% 9.9% 9.3% 2.5% 37.0% 100.0% Operário e Agrícola 3.6% 14.5% 5.5% 14.5% 16.4% 25.5% 20.0% 100.0% Operário Popular 6.4% 15.1% 17.4% 14.2% 17.8% 3.2% 26.0% 100.0% Popular 5.1% 7.7% 15.4% 10.3% 20.5% 2.6% 38.5% 100.0% Total 7.9% 17.7% 13.6% 11.1% 14.2% 4.1% 31.4% 100.0% Fontes: IBGE, Censo Demográfico, 1991. Plambel/Transmetro/Fundação João Pinheiro, Pesquisa de Origem e
Destino, 1992 – Dados trabalhados
Com relação ao sub-proletariado, 37% das famílias deste grupo saíram de áreas do
tipo operário e popular167; 24% tiveram origem em áreas operárias e um percentual
não desprezível (11,5%) saiu de áreas médias – ver TAB. 5.21.
A mobilidade deste grupo não apresenta um padrão geográfico, tendo como destino
áreas muito diferentes, incluindo áreas de aburguesamento, ainda que parcela
expressiva se movimente para áreas vizinhas, isto é, áreas operárias e populares,
considerando também aquelas que não mudaram de tipo sócio-econômico na década.
A explicação para a mobilidade em direção a áreas de aburguesamento pode ser dada
pelo fato de que parcela significativa deste grupo é constituída por empregados
domésticos, com alto grau de incidência daqueles que têm como lugar de moradia a
casa dos patrões.
167 Embora apenas 6,8% tenha saído de áreas de tipo popular este percentual é significativamente maiores do que o conjunto de famílias que saíram dessas áreas (4,3%).
158
TABELA 5.21 RMBH
Origem e Destino dos chefes de domicílio posicionados no grupo dos Sub-proletariado que se mudaram para outra UEH(*) entre 1980 e 1992
Destino (Tipo de Evolução)
Origem (Tipo Sócio-Espacial em 1980)
Aburgue-samento
Mais classes médias
Diversificação ascendente Diversificação Proletarização
Mais popular Permanência Total
Superior 5.9% 5.9% 23.5% 5.9% 17.6% 0.0% 41.2% 100.0% Médio Superior 12.9% 7.1% 8.6% 17.1% 12.9% 1.4% 40.0% 100.0% Médio 17.1% 9.8% 12.2% 14.6% 13.4% 2.4% 30.5% 100.0% Superior Polarizado 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Operário 2.4% 18.2% 2.4% 12.4% 15.9% 6.5% 42.4% 100.0% Operário e Agrícola 0.0% 12.1% 8.6% 17.2% 15.5% 19.0% 27.6% 100.0% Operário Popular 5.3% 9.0% 15.8% 16.9% 15.8% 4.5% 32.7% 100.0% Popular 6.1% 6.1% 18.4% 10.2% 14.3% 4.1% 40.8% 100.0% Total 6.3% 11.1% 11.2% 14.9% 15.2% 5.5% 35.8% 100.0% Fontes: IBGE, Censo Demográfico, 1991. Plambel/Transmetro/Fundação João Pinheiro, Pesquisa de Origem e
Destino, 1992 – Dados trabalhados
Vimos, no Capítulo 2 que a evolução da estrutura social da metrópole belo-horizontina
na década de oitenta sofreu transformações importantes: a) maior crescimento do
pessoal ocupado (45% na década) em relação à população como um todo (35%);
b)maior participação de segmentos vinculados ao terciário na composição da
população ocupada; c) crescimento do setor informal e da precarização das relações
de trabalho; d) aprofundamento do desemprego estrutural e e) diminuição da renda
individual em todos os grupos sociais, incluindo as categorias dirigentes, ainda que
estas passaram a deter maior parcela dos altos salários.
A esse conjunto de transformações soma-se um movimento populacional interno à
região metropolitana, em que os grupos familiares realizam fluxos socialmente
descendentes no espaço metropolitano, tendo como destino áreas de menor renda
média do que a renda média da área de origem e, em muitos casos, áreas de tipo
sócio-espacial mais operário ou popular. Esse movimento resultou na mudança das
áreas: a entrada de determinados grupos sociais e a saída de outros têm promovido
um processo conhecido na sociologia norte-americana como de sucessão168, isto é, a
substituição dos moradores de uma área por outros, de grupo social diferente. É claro
que este processo não se completa totalmente, mas ocorre como tendência. O
resultado da mobilidade residencial é uma nova mistura de grupos sociais no espaço
geográfico e uma nova correlação entre esses grupos nas várias áreas específicas,
podendo ocorrer mudança na sua representação e, por conseqüência, mudança de
tipologia sócio-espacial.
168 Ver Nota 4 deste capítulo.
159
Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, as transformações sócio-espaciais
ocorridas nos anos oitenta foram fortemente determinadas pela mobilidade residencial,
e podem ser sintetizadas da seguinte maneira:
a) transbordamento territorial das categorias dirigentes e intelectuais, criando novos
espaços dessas categorias e unificando socialmente parte do espaço belo-
horizontino;
b) simultaneamente, há um esvaziamento dos grupos sociais operários e populares
das áreas mais centrais, aprofundando o processo de auto-segregação dos grupos
dirigentes, os quais estão cada vez mais concentradas em determinados
espaços169;
c) esvaziamento populacional do Peri-Centro, com maior percentual de famílias
saindo do que entrando – esta macro-unidade é também cenário de troca desigual,
com mais saída relativa de famílias com chefe operário ou sub-proletário e mais
entrada relativa de famílias de grupos dirigentes e médios170, passando também
por processo de mudança ascendente;
d) espraiamento das classes médias, em direção ao eixo industrial, mesclando-se ao
operariado industrial moderno e mudando o perfil das áreas situadas naquela
região;
e) expulsão de parte do operariado e do sub-proletariado das áreas de tipo médio.
Em síntese, a análise dos fluxos de saída por tipo de evolução da área, vis-à-vis os
fluxos de entrada reforça a tese de que a transformação das áreas foi resultado do
saldo da mobilidade residencial, em um movimento geográfico de permanente
periferização dos segmentos operários e populares.
169 Nos espaços superiores e naqueles que passaram por transformações no sentido de aburguesamento, em geral, cresceu a representação das categorias dirigente e dos profissionais de nível superior, bem como dos pequenos empregadores; cresceu também a representação de algumas categorias dos setores médios. Por outro lado, a representação do operariado, que era inexpressiva, em 1980, diminuiu ainda mais; decresceu, ainda, a representação das empregadas domésticas em várias unidades espaciais – para comparação mais detalhada, ver Anexo 4. 170 O Peri-Centro é composto de áreas de aburguesamento (57% das UEH desta macro-unidade), de evolução para mais classes médias (4%) , de diversificação ascendente (8%), de proletarização (3%) e áreas que permaneceram com o mesmo tipo sócio-espacial (29%); a região como um todo recebe relativamente mais grupos médios e superiores, mas há duas exceções no saldo entre entrada e saída de grupos sociais: maior entrada relativa de operários industriais nas áreas de proletarização e maior saída relativa de famílias do grupo dirigente das áreas de diversificação ascendente.
160
Algumas áreas são claramente fechadas, isto é, são expulsoras de população –
crescimento populacional negativo ou baixo, com saldo de mobilidade negativo – e
nelas há maior entrada relativa de dirigentes e grupos médios e maior saída de
trabalhadores. Em geral, são áreas de aburguesamento ou de evolução para mais
classes médias, situadas na macro-unidade peri-central de Belo Horizonte, no eixo
industrial e na sede do município de Nova Lima – ver FIG. 5.5.
Outras áreas são caracteristicamente abertas, isto é, apresentaram alto crescimento
demográfico, recebendo fluxos de diversos estratos sociais. A maior entrada relativa
dos trabalhadores está nas áreas mais periféricas. A maior entrada relativa das
categorias dirigentes está, ao contrário, em Belo Horizonte, nas proximidades da
Lagoa da Pampulha. Há quatro unidades espaciais nas periferias imediatas de Belo
Horizonte em que a maior entrada relativa é de grupos médios. Por fim, a área
caracterizada como espaço superior polarizado recebeu relativamente mais grupos
dirigentes e sub-proletariado e perdeu relativamente mais operários – ver FIG.5.6.
161
162
163
5.3 – Mercado, Estado e mobilidade residencial
Ao concluir que a mobilidade residencial tem forte impacto sobre a organização sócio-
espacial metropolitana, é preciso discutir ainda que fatores são determinantes desse
movimento. Na realidade, não há como analisar os fluxos populacionais no espaço
urbano sem uma compreensão mais geral sobre a própria lógica da urbanização
capitalista.
Há mobilidade espacial, dizem Bassand et Bruillard (1980), porque o espaço está
organizado em função da divisão social e técnica do trabalho. A especialização
econômica, afirmam os autores, vai implicar uma mobilidade espacial intensa dos
indivíduos e grupos sociais, que por sua vez, está ligada à mobilidade espacial de
bens de consumo e de produção, de capital, de empresas, instituições, tecnologia e
informação. Bassand et Bruillard falam ainda de uma rede de localidades e de regiões,
unidas por relações sociais, políticas e econômicas assimétricas, que fazem com que
o funcionamento e o desenvolvimento desses lugares seja desigual e dependente. O
fenômeno urbano é a armadura desse sistema (p.57) e é indispensável conhecer as
mudanças nesta armadura para compreender a mobilidade espacial.
A importância na proposição metodológica dos autores está na idéia de que a
mobilidade espacial é um dos eixos fundamentais do funcionamento e das mudanças
das sociedades contemporâneas (p.13), mas ela não é, por si, determinante das
transformações socio-espaciais. Ao contrário, ela é resultado e expressão dessas
transformações.
Já vimos anteriormente que articulação, no território, do conjunto de equipamentos, de
infra-estrutura, e de empresas capitalistas produz uma diferenciação econômica do
espaço171 - a distribuição das pessoas nesse espaço será, portanto, resultante do
acesso desigual aos recursos urbanos. A movimentação das famílias na metrópole
tem distintos fatores e condicionantes, vários deles relacionados ao lugar que cada
uma ocupa na hierarquia social.
Para as categorias dirigentes, por exemplo, um recurso importante a ser buscado na
cidade é a distinção, a diferenciação simbólica do espaço residencial, que vai resultar
na auto-segregação: ...
171 Cf. Capítulo 1.
164
o espaço é um dos lugares onde o poder se afirma e se exerce e, sem dúvida, sob a forma mais sutil, a da violência simbólica como violência desapercebida: os espaços arquitetônicos [...], obtendo-se dele [...] o respeito que nasce do distanciamento [...]. [Os ganhos do espaço] podem tomar a forma de ganhos de ocupação, a posse de um espaço físico podendo ser uma forma de manter à distância ou de excluir toda espécie de intrusão indesejável (Bourdieu, 1997:163).
Para o operariado, ao contrário, um recurso fundamental é o acesso às oportunidades
de trabalho e a proximidade que dispensa o gasto com transporte. Desta forma, a
parcela mais qualificada do operariado industrial e dos trabalhadores do setor terciário
acabou por se concentrar no eixo industrial, em áreas que abrangem os municípios de
Contagem, Betim e o vetor oeste de Belo Horizonte.
As classes médias, segmento intermediário na hierarquia social, têm comportamento
diferenciado: de um lado os setores da pequena burguesia e da intelectualidade
buscam os espaços diferenciados das categorias dirigentes. Por outro, a parcela
vinculada ao trabalho não manual da indústria e do setor terciário, fundamentalmente
o terciário produtivo, tem comportamento semelhante ao do operariado.
As transformações no território da região metropolitana estão relacionadas a fatores
de mudança na distribuição de recursos – a ação do Estado e a atuação do mercado
imobiliário172 constituem mecanismos fundamentais nesses processos.
Três são as principais ações estatais com impacto direto na distribuição dos recursos
urbanos: a legislação urbanística, a política habitacional e a execução de obras viárias,
promotoras de maior acessibilidade.
A legislação urbanística é fator importante, na medida em que promove a distribuição
de potencial construtivo na cidade e gera a abertura de novas frentes imobiliárias, ao
redefinir as possibilidades de uso do solo urbano. No caso de Belo Horizonte, a
primeira Lei de Uso e Ocupação do Solo, aprovada em 1976, teve grande impacto
sobre a mobilidade residencial ocorrida nos anos oitenta: em um primeiro momento,
provocou a expansão das fronteiras do mercado imobiliário, com o aumento de
potencial construtivo, antes muito restrito à área central e agora ampliado para o anel
peri-central. Em um segundo momento, no entanto, a limitação da verticalização à
172 Na medida em que a acessibilidade e a proximidade são fatores importantes no sistema urbano, ao mudar a forma espacial de uma cidade (mudando a localização de moradias, rotas de transporte,
165
área central e à região peri-central, somada ao extraordinário crescimento
populacional e ao boom imobiliário do período conhecido na literatura econômica
como o do milagre brasileiro, acabou gerando uma escassez de solo e o conseqüente
encarecimento da localização urbana. Como resultado, houve uma gradativa expulsão
de segmentos de menor renda, através da mobilidade residencial para fora do
município de Belo Horizonte.
Outro impacto importante da legislação urbanística sobre a organização sócio-espacial
da região metropolitana está relacionado à aplicação da Lei Federal 6766, aprovada
em 1979, que regula o parcelamento de solo urbano. Esta lei estabelecia que projetos
de parcelamento em municípios situados em regiões metropolitanas deveriam receber
a anuência do órgão técnico metropolitano, antes de sua aprovação pelas prefeituras
municipais, o que gerou maior controle sobre o mercado de terra na RMBH. Como
resultado, a implantação dos chamados loteamentos populares, com lotes pequenos e
infra-estrutura precária, foi transferida para o municípios vizinhos fora dos limites da
região metropolitana, ampliando os espaços periféricos da região173.
Também a política habitacional teve impacto direto sobre o sistema urbano na RMBH.
Em primeiro lugar, porque a política de urbanização do BNH, levada a cabo na
segunda metade dos anos setenta, gerou novas áreas para investimentos imobiliários
voltados para os segmentos médios do mercado. É o caso do Projeto CURA–
Comunidade Urbana de Recuperação Acelerada, do BNH, que resultou na
urbanização de áreas residenciais nas proximidades da Cidade Industrial de
Contagem, na região cuja tipologia sócio-espacial mudou de operário, em 1980, para
operário-superior, em 1990. Em segundo lugar, à falência do sistema financeiro de
habitação174 seguiu-se a implementação de programas de moradias subsidiadas,
destinados às famílias de baixa renda, com recursos oriundos da área de assistência
social do Gabinete do Palácio do Planalto. Na região de Belo Horizonte, o primeiro
conjunto construído foi o Nova Contagem, em 1984, na periferia do município de
Contagem próximo à divisa com Esmeraldas – “de um lugarejo de 2000 habitantes em
1980, chegou a quase 30000 em 1991” (Belo Horizonte, 1995:51). No município de
oportunidades de trabalho etc), mudamos também o preço da acessibilidade e o custo da proximidade para qualquer família (Harvey, 1979:54). 173 Para o detalhamento desse processo, ver (Costa, H., 1983). 174 O BNH, na realidade, financiou, nos anos setenta, principalmente o setor imobiliário orientado para os segmentos médios, resultando em fraca produção para baixa renda através da COHAB e do INOCOOP – ver (Belo Horizonte,1995).
166
Belo Horizonte surgiram outros, nas áreas a norte, leste e Pampulha, principalmente -
são assentamentos precários, sem infra-estrutura, que se constituíram em atrativo
para novas ocupações irregulares, gerando um processo de periferização de áreas
faveladas.
Por fim, a ação pública orientada para obras viárias foi intensa no final dos anos
setenta e início dos anos oitenta, criando novos acessos e propiciando as condições
para a expansão das fronteiras do mercado imobiliário – naqueles anos foram
implantadas em Belo Horizonte, entre outras vias, a Avenida Atlântica, na região
noroeste, próximo ao bairro Alípio de Melo, a Avenida Barão Homem de Melo, na
região oeste, onde o mercado imobiliário se expandiria a partir do final da década, a
Avenida Américo Vespúcio, na região Noroeste, as avenidas Belém, Petrolina e
prolongamento da Silviano Brandão, a leste, a Via Expressa Leste-Oeste, promovendo
nova ligação do Centro de Belo Horizonte com o Eixo Industrial e a Avenida Pedro I,
no prolongamento da Av. Antônio Carlos.
Com relação ao mercado imobiliário (objeto de análise no próximo capítulo), a sua
expansão ocorreu através de duas frentes principais: de um lado, o mercado de terra
investiu em áreas voltadas para os segmentos médios, principalmente nas áreas peri-
centrais do município de Belo Horizonte, e ampliou enormemente a oferta de lotes
pequenos para os segmentos de baixa renda, nas áreas mais periféricas da região
metropolitana. Por outro lado, a oferta de imóveis residenciais construídos,
principalmente apartamentos, foi significativa, como veremos.
Ao mesmo tempo, surge uma nova forma de assentamento residencial, os
condomínios fechados, áreas muradas e parceladas em lotes grandes, em geral acima
de 1000 m2. Trata-se da venda de um novo modelo cultural, que vai orientar a escolha
de alguns grupos sociais superiores, valorizando o contato com a natureza, a
tranqüilidade e a segurança do acesso controlado através de portaria. A
particularidade desse novo modelo na Região Metropolitana de Belo Horizonte é a sua
centralidade física: ao contrário de regiões como São Paulo, onde os condomínios
surgem em áreas periféricas e caracterizadas pela moradia de trabalhadores, aqui a
sua proximidade com a área central é muito grande175 e sua implantação ocorreu
basicamente em território contíguo aos espaços superiores. Tratam-se de áreas
175 A viagem entre a região de condomínios e o Centro de Belo Horizonte é realizado em um tempo médio de trinta minutos, em veículo auto-motor.
167
localizados a sul da região metropolitana176, no eixo da rodovia BR-040, que segue
para o Rio de Janeiro, as quais se configuraram como espaços superiores-
polarizados, onde, como vimos, à implantação dos condomínios, segue-se a ocupação
de loteamentos populares, por grupos sociais constituídos principalmente de
trabalhadores prestadores de serviços domésticos.
176 Os condomínios implantados nas áreas periféricas a norte tinham, e ainda têm, a conotação de sítios de recreio, lugar de lazer nos fins de semana – ver Souza e Teixeira (1999).
168
6. MOBILIDADE E PROVISÃO DA MORADIA
[le sol] ce n’est pas ce support spatial en tan que tel qui serait non reproductible, radicalement externe au capital privé : ce sont ses qualités, qui forme la societé. La rente foncière a donc pour fondement des rapports sociaux et non une chose : le sol et sa rareté177 (Topalov, 1984 :29).
Vimos que a articulação espacial dos elementos que compõem o valor de uso
complexo da cidade produz uma concentração e uma diferenciação econômica do
espaço, e uma disputa entre os vários agentes econômicos pela localização que
permita vantagens comparativas na produção e distribuição de bens178. Nessa medida,
a diferenciação entre os espaços econômicos materializa-se na forma do preço do
solo, e vai corresponder também a uma diferenciação entre os espaços de moradia. A
tendência é que o solo seja ocupado pelas atividades econômicas e pelas camadas
sociais que mais podem pagar pelo seu uso. A escolha pela localização residencial é,
portanto, determinada pelas classes dominantes; elas são quem realmente escolhe e
quem condiciona as preferências dos demais grupos sociais.
Vimos também que, à medida que as condições de localização são diferenciadas –
diferenciação esta materializada em uma hierarquia de preços do solo –, os
mecanismos de regulação da produção da moradia também são diferentes, gerando a
formação de distintos sub-mercados. A dinâmica imobiliária é resultado dos processos
de formação e apropriação das rendas do solo urbano, para a qual concorrem, em
relação de disputa, incorporadores e proprietários de terra. Nessa medida, vai se
constituir em importante mecanismo de distribuição de recursos urbanos, através das
diversas formas de produção de moradia, e portanto, mecanismo também de seleção
e alocação de grupos sociais em sua luta pela apropriação de recursos desiguais.
177 [o solo urbano] não é este suporte espacial enquanto tal que será não reprodutível, radicalmente externo ao capital: são suas qualidades formadas pela sociedade. A renda fundiária tem então por suporte relações sociais e não uma coisa, o solo e sua raridade. 178 A dinâmica imobiliária está relacionada à crescente urbanização e centralização urbano-espacial e à diferenciação entre os espaços econômicos, resultantes do crescimento e complexificação dos serviços necessários à reprodução do modo capitalista de produção. Essa diferenciação, diz Lemos M. (1988), implica que determinados espaços passam a deter vantagens comparativas na produção de certos bens, expressas no diferencial do custo de serviços ou de taxa de lucro. À medida em que esta vantagem se expressa numa opção locacional, materializa-se a formação de uma renda espacial (Lemos, M.,1988:295).
169
O vigor do capital incorporador depende exatamente de sua capacidade em exacerbar as diferenças na ocupação urbana, já que na sua ausência toda valorização dos capitais aplicados no ramo imobiliário seriam atribuídos à atividade de construção civil propriamente dita e sujeita, portanto, a essencialmente os recursos condicionantes dos outros ramos da indústria179 (Smolka,1983:213).
O circuito imobiliário é constituído de sub-mercados, articulados ou não, que são
identificados segundo diferenças de renda dos participantes, preço dos imóveis, tipos
de relações sociais de propriedade ou de arrendamento, padrões sociais etc. (Smolka,
op.cit:247). Ribeiro (1997) identifica dois grandes segmentos de produção: o capitalista
e o não-capitalista. A este último correspondem, como vimos180 todas as formas de
auto-produção de moradia 0- trata-se, em geral, do mercado popular, de “periferia”. No
interior do mercado capitalista, o autor distingue três sub-mercados: cooperativas e
companhias estaduais de habitação, o sub-mercado normal e o monopolista (p.124).
Os sub-mercados normal e monopolista têm como base a divisão social e simbólica do
espaço, que diferencia qualitativamente as moradias segundo a localização e as
condições diferenciadas que regulam a produção e circulação” (Ibidem:124).
O sub-mercado normal, ou concorrencial, é delimitado por zonas da cidade onde a
diferenciação de moradia pelo efeito de localização é menor. A sua característica
fundamental, diz ainda Ribeiro, é o fato de que são as condições de produção que
regulam a formação do preço de mercado. Há micromercados no interior das diversas
áreas que correspondem a esse sub-mercado. No entanto, a diferenciação dos preços
encontra limites na capacidade de pagamento das camadas médias, que constituem
um segmento mais homogêneo e caracterizado pela menor disponibilidade de pagar
pela diferença (Ibidem:126).
O sub-mercado monopolista, ao contrário, é definido pelo fato de que o preço de
mercado não é regulado pelas condições de produção, mas de circulação,
dependendo apenas das quantidades produzidas, da capacidade de pagamento dos
compradores e do grau de diferenciação real ou simbólica das moradias. O que funda
o preço de monopólio é a não-reprodutibilidade de uma das condições de produção,
ou seja, a terra enquanto localização na divisão social e simbólica do espaço urbano,
além de descontinuidade da produção no tempo e no espaço (Ibidem:126).
179 O autor define o capital incorporador como aquele que se valoriza pela articulação de diversos serviços (projetistas, consultores de planejamento, construtores, agentes financeiros e agentes responsáveis pela comercialização final dos imóveis). 180 Cf. Capítulo 1.
170
Desta maneira, é interesse do capital de incorporação a permanente diferenciação do
espaço urbano, tanto do ponto de vista físico, como social e simbólico. A recriação do
sub-mercado monopolista depende da recriação de condições não reprodutivas de
produção.
6.1 – O quadro da provisão de moradias na RMBH
Para uma descrição geral das diversas formas de provisão de moradias na Região
Metropolitana de Belo Horizonte foram utilizados os dados dos Censos Demográficos
de 1980 e de 1991.
O Censo de 1991 classificou a localização dos domicílios particulares em
“apartamento isolado ou de condomínio”, “casa isolada ou de condomínio”, “casa em
conjunto residencial”, “apartamento em conjunto residencial”, “casa em aglomerado
sub-normal”, “apartamento em aglomerado sub-normal” e “cômodo”181. Ainda que
estas variáveis sejam limitadas como representação mais precisa dos vários
segmentos do mercado imobiliário, elas podem fornecer uma visão aproximada da
estrutura desse mercado.
Sabemos que apartamento não é uma categoria que necessariamente diz respeito às
formas capitalistas de provisão de moradias. A sua produção pode ser resultado de
diferentes formas, variando desde a organização de usuários que compram o terreno e
contratam os serviços de projeto e construção, cujo produto é um valor de uso, até a
ação do capital incorporador, que vai articular os diversos serviços necessários à
produção de um valor de troca, a mercadoria-moradia. No entanto, a produção desse
tipo de moradia exige a mobilização de um montante relativamente grande de recursos
financeiros, o que dificulta os processos de produção não-mercantil. Desta maneira, a
moradia-apartamento pode ser tomada como indício de uma forma capitalista de
produção, embora nem todos os apartamentos se enquadrem nesta situação.
De igual maneira, as casas isoladas ou de condomínio podem ser resultado de
diferentes formas de produção, inclusive de produção capitalista. No entanto, para a
maior parte da população, a compra de um terreno e a auto-produção, seja através da
contratação de empresa capitalista de construção, seja através de processos de auto-
181 “Domicílio localizado em um ou mais cômodos de uma casa de cômodos, cortiço, cabeça-de-porco, etc.” IBGE, Censo Demográfico de 1991, Documentação dos microdados da amostra, 1996.
171
construção e de ajuda mútua182, é a forma mais viável e utilizada para a provisão da
moradia. Desta maneira, pode-se também tomar como indício da produção não-
mercantil, a variável “casa isolada ou de condomínio”.
A moradia em conjunto residencial, seja ela casa ou apartamento, também apresenta
indícios da produção para um segmento de mercado em que a intervenção do Estado,
subsidiando ou financiando a produção e/ou a comercialização, resulta em um produto
que não circula necessariamente como capital mas, em geral, como valor de uso
(Ribeiro, 1997). Aqui também há diferenças, neste caso mais fáceis de serem
identificadas através das variáveis do Censo: os conjuntos residenciais de casas são
geralmente aqueles implantados pelas COHABs, para populações situadas em faixas
de renda mais baixa; já os conjuntos de apartamentos pertencem a outra faixa de
renda, mais alta, geralmente implantados através dos INOCOOPs. Na Região
Metropolitana de Belo Horizonte, por exemplo, o Censo Demográfico de 1991 mostrou
que 65% das casas em conjunto estavam localizadas em espaços do tipo operário e
“operário e popular”, enquanto 61% dos apartamentos em conjunto estavam em áreas
do tipo “médio” e “operário superior”.
As casas e apartamentos em aglomerado sub-normal estão nas favelas, critério, aliás,
utilizado para delimitar as unidades espaciais de favelas183; os cômodos, pela
definição dada pelo IBGE, podem ser agregados aos aglomerados sub-normais, muito
embora não necessariamente sejam exclusivos destes espaços184.
As variáveis do Censo Demográfico de 1991 são, portanto, elementos que permitem a
observação da dinâmica imobiliária, sob suas diversas formas de produção. Não são
efetivamente representativas dessas formas, mas podem ser tomadas como
instrumento de observação empírica.
Em 1991, as casas, “isoladas ou de condomínio”, predominavam no quadro de
provisão de moradias na RMBH, totalizando 67% do domicílios residenciais. Os
apartamentos isolados ou de condomínio representavam 13% do total e os conjuntos
182 O que diferencia a auto-construção da ajuda mútua é que, no primeiro caso, os proprietários do terreno constróem a moradia com suas próprias mãos, utilizando horas de folga e finais de semana e, no segundo caso, os proprietários contam com a ajuda de vizinhos e parentes, em processos de solidariedade mútua, podendo contar com eventuais contratações de mão-de-obra especializada. 183 Os apartamentos, neste caso, são inexpressivos, totalizando 0,2% em toda a região metropolitana e não ultrapassando 3,9% em nenhuma UEH. 184 Também os “cômodos” representavam, em 1991, apenas 0,5% do total de moradias da RMBH, não ultrapassando 3,4% em nenhuma UEH.
172
residenciais, somando casas e apartamentos, agregavam 8%. As favelas somavam
12% do total de residências da região metropolitana185.
Para analisar a evolução entre 1980 e 1991, é necessário agregar todas as casas e
todos os apartamentos, uma vez que o Censo de 1980 não faz a diferenciação. Neste
caso, o total de apartamentos, em 1991 representava 16,7% do total de moradias da
RMBH; em 1980 esta relação era de 13%. Parte significativa do crescimento da
participação do número de apartamentos no total de moradias, durante a década,
decorre da implantação de conjuntos habitacionais – cerca de 20% dos novos
apartamentos construídos na década estão situados em conjuntos residenciais186.
Ainda assim, pode-se afirmar que, entre 1980 e 1991, houve crescimento também na
participação dos apartamentos isolados187 - de 10% para 13% -, o que corresponde,
muito provavelmente, à expansão do mercado capitalista de provisão de moradia.
A TAB. 6.1 permite fazer as seguintes observações preliminares acerca do quadro de
provisão de moradias em 1991:
a) a moradia em aglomerado sub-normal (favela) é típica das áreas urbanas– as
áreas operárias e populares que são também agrícolas têm um percentual pequeno
desse tipo de moradia;
b) é significativo o percentual de moradias em conjuntos nos espaços de tipo
operário-superior, grande parte das quais são apartamentos, como vimos;
c) os espaços superiores são caracterizados pelos apartamentos, que representam,
nesses espaços, 71% no caso do total de moradias – pode-se dizer, portanto, que
esses são os espaços preferenciais do mercado capitalista de provisão de moradias;
d) os espaços médio-superiores também apresentam significativo percentual de
moradias provenientes do mercado capitalista, embora esta não seja a forma
185 É importante, aqui, lembrar que os números relativos à habitação sub-normal nos Censos são sub-estimados, como já vimos antes. 186 O cálculo foi feito a partir da identificação (pelo conhecimento empírico) das unidades espaciais caracterizadas pela presença expressiva (ou predominante) de conjuntos residenciais, totalizando 17 UEH (ver FIG. 6.1).; diminuiu-se, então o número de apartamentos existentes nestas áreas em 1980 daqueles existentes em 1991, para encontrar a estimativa do número de novos apartamentos construídos em conjuntos durante a década de oitenta. 187 Utilizando-se o cálculo anterior, estima-se que os apartamentos isolados ou de condomínio representavam cerca de 10% do total de moradias em 1980.
173
174
predominante – os apartamentos representam, nestes espaços, 35% do total de
moradias. TABELA 6.1
Região Metropolitana de Belo Horizonte Distribuição do tipo de moradia por tipo sócio-espacial
1991
Tipo sócio-espacial 1991
Casas isoladas ou de condominio
Apartamentos isolados ou de
condominio
Moradias em conjunto
Moradias em aglomerado sub-
normal e cômodos Total
Superior 27.4% 70.7% 0.4% 1.5% 100.0% Médio-Superior 58.1% 34.8% 3.3% 3.8% 100.0% Médio 77.5% 7.3% 8.2% 7.0% 100.0% Superior-Polarizado 97.4% 2.3% 0.0% 0.3% 100.0% Operário-Superior 74.6% 7.1% 14.3% 4.0% 100.0% Operário 81.6% 1.6% 8.2% 8.6% 100.0% Operário e Popular 60.8% 0.3% 13.2% 25.6% 100.0% Operário e Agrícola 86.4% 0.3% 6.0% 7.3% 100.0% Popular 0.5% 0.3% 0.0% 99.2% 100.0% Popular e Agrícola 91.9% 0.5% 6.8% 0.7% 100.0% Total 66.2% 13.5% 8.0% 12.3% 100.0% Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 1991 – dados trabalhados
Entre 1980 e 1991, houve crescimento na participação dos apartamentos em todas as áreas; chama a atenção, no entanto, as áreas que se transformaram para um perfil “mais classes médias”, cuja participação de apartamentos no total de moradias triplicou – ver TAB. 6.2. Também nas áreas de aburguesamento, o crescimento da participação desta forma de moradia cresceu 50%. Nas áreas de “diversificação ascendente”, apesar de o crescimento ter sido extraordinário (cinco vezes), a participação dos apartamentos ainda era pequena, em 1991 (5,4%).
TABELA 6.2 Região Metropolitana de Belo Horizonte
Distribuição do tipo de moradia por tipo de evolução sócio-espacial 1980 e 1991
1980 1991 Tipo de evolução sócio-espacial Casa Apartamento Casa Apartamento
Aburguesamento 81.1% 18.9% 70.6% 29.4% Mais classes médias 95.8% 4.2% 85.5% 14.5% Diversificação ascendente 98.8% 1.2% 94.6% 5.4% Diversificação 98.8% 1.2% 96.4% 3.6% Proletarização 99.4% 0.6% 96.2% 3.8% Mais popular 99.6% 0.4% 97.6% 2.4% Permanece 188 77.0% 23.0% 76.2% 23.8%
188 Nas 43 UEH que permaneceram, em 1991, com o mesmo perfil sócio-espacial apresentado em 1980, 9 são do tipo superior (todos os existentes em 1980), 3 do tipo médio-superior (entre os onze existentes em 1980 - sete evoluíram para aburguesamento e uma para mais classes médias), 8 médios (as outras 7 evoluíram para aburguesamento), 5 operários (entre as 26 existentes em 1980 – 19 delas evoluíram para
175
Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 1991 – dados trabalhados
A TAB. 6.2 mostra que as únicas áreas que não tiveram aumento da participação de
apartamentos no total das moradias foram aquelas que permaneceram, em 1991, com
o mesmo tipo sócio-espacial apresentado em 1980. À primeira vista, parece ser que a
expansão dos apartamentos está relacionada à sucessão de grupos sociais nas
diversas áreas onde houve transformações sócio-espaciais. Fundamentalmente,
parece ser que a expansão deste mercado está associada ao espraiamento das
classes médias e superiores pelo espaço peri-central metropolitano, isto é, as áreas de
aburguesamento e de transformação paras mais classes médias. Para aprofundar a
análise, é necessário, primeiro, observar o grau de expansão dos apartamentos, frente
à expansão total das moradias, isto é, verificar a distribuição dos novos apartamentos,
face à distribuição do total de novas moradias. Isto porque, a participação maior ou
menor dos apartamentos pode estar em decorrência do baixo ou alto crescimento do
número de casas.
De fato, a TAB. 6.3 mostra que a densidade da expansão dessa forma de moradia,
frente à expansão residencial total, é maior nas áreas de aburguesamento, nas áreas
que se transformaram para mais classes médias, mas também nas áreas que
permaneceram, em 1991, com o mesmo tipo existente em 1980. É preciso, então, em
segundo lugar, observar especificamente estas últimas áreas, buscando verificar se
houve diferenciação na expansão de apartamentos, por tipo de área. Neste caso, a
TAB. 6.4 mostra que a expansão dos apartamentos nas áreas superiores é 3,4 vezes
maior do que a expansão do conjunto de moradias destas áreas; nas áreas do tipo
médio-superior esta relação é de 2,4 vezes. Em todas as demais áreas, a expansão
dos apartamentos foi menor expansão do conjunto de moradias.
TABELA 6.3 Região Metropolitana de Belo Horizonte
Relação entre a distribuição dos novos apartamentos e a distribuição do total de moradias 1980-1991
Tipologia de evolução sócio-espacial
Aburguesa-mento
Mais classes médias
Diversificação ascendente
Diversificação Proletarização Mais popular
Permanência Total
(a) Distribuição do total de novos apartamentos 20.4% 21.3% 4.6% 1.5% 3.6% 0.5% 47.9% 100.0%
(b) Distribuição do total de novas moradias 9.6% 18.9% 11.6% 6.5% 12.9% 3.0% 37.6% 100.0%
Densidade do percentual de novos apartamentos (a) / (b) 2.13 1.13 0.40 0.24 0.28 0.18 1.27 1.00
Fonte: IBGE, Censos Demográficos, 1980 e 1991 – dados trabalhados
mais classes médias, quase todas se transformando em operário-superior), 9 operário e popular (entre as 32 existentes), 4 do tipo popular (entre as 9 existentes) e a unidade de tipo superior-polarizado.
176
TABELA 6.4 Região Metropolitana de Belo Horizonte
Relação entre a distribuição dos novos apartamentos e a distribuição do total de moradias nas áreas onde não houve mudança de tipo entre 1980-1991
Tipo sócio-espacial (a) distribuição dos novos apartamentos
(b) distribuição do total de novas moradias
(casas + apartamentos)
densidade dos novos apartamentos (a) / (b)
Superior 71.0% 21.1% 3.37 Médio Superior 13.0% 5.4% 2.38 Médio 13.6% 18.3% 0.75 Superior Polarizado 0.2% 1.6% 0.13 Operário 0.0% 7.6% 0.00 Operário e Popular 1.5% 27.0% 0.06 Operário e Agrícola 0.1% 8.4% 0.01 Popular 0.6% 10.5% 0.06 Total 100.0% 100.0% 1.00 Fonte: IBGE, Censos Demográficos, 1980 e 1991 – dados trabalhados
Havíamos visto que o mercado capitalista de provisão de moradias – para cuja
observação foram tomados como indício a representação dos apartamentos “isolados
ou de condomínio” – apresentou relativa expansão nos anos oitenta, aumentando a
sua participação no conjunto de moradias de aproximadamente 10% para 13%.
Uma outra conclusão que podemos tirar agora é que esta expansão está relacionada,
mais do que às transformações sócio-espaciais, ao movimento dos grupos superiores
na hierarquia social metropolitana. O mercado capitalista de provisão de moradias
expandiu-se nas áreas que sofreram transformações sócio-espaciais decorrentes da
entrada de grupos socialmente superiores – áreas de aburguesamento e de mudanças
para mais classes médias –, e também nos espaços superiores e médio-superiores
que não sofreram mudanças sócio-espaciais na década.
6.2 – A geografia das diversas formas de provisão de moradia
Para aprofundar a discussão posta anteriormente, é importante verificar a distribuição
geográfica das diversas formas de provisão de moradia, dadas pela sua representação
através das variáveis dos censos demográficos.
Vejamos, inicialmente as formas em que prevalece a produção de valor de uso.
No caso da auto-provisão de moradia, há segmentos diferenciados representados, de
um lado, pelas casas “isoladas ou de condomínio” e, de outro, pelas casas em
177
aglomerados sub-normais189. Em 1991, as casas isoladas eram predominantes em
quase todos os tipos de área, à exceção das áreas superiores, onde os apartamentos
representavam 71% do conjunto de moradias e as áreas populares, ou seja, as
favelas, onde praticamente 100% das moradias eram sub-normais; também nas áreas
de tipo operário e popular as moradias sub-normais têm uma participação significativa
(26%) – ver TAB. 6.1. Destacam-se, portanto, pela predominância de moradias
isoladas, de um lado, as áreas de tipo médio, operário-superior e operário,
configurando um semi-anel em torno das áreas centrais e peri-centrais de Belo
Horizonte, e, de outro, as periferias mais distantes , de tipo “operário e agrícola” e
“popular e agrícola”. Trata-se, fundamentalmente, do usuário que adquire o terreno e
se encarrega da construção da moradia, seja através de contratação, seja através da
auto-construção e da ajuda mútua – este último característico das áreas mais
periféricas190.
A produção de moradias em conjuntos habitacionais também ocorre nas áreas
imediatamente periféricas a Belo Horizonte, a norte e oeste, orientada para os
trabalhadores da indústria e camadas mais populares. Esse tipo de moradia
correspondia, em 1991, a 8% do total de moradias da região metropolitana; no
entanto, a sua localização é altamente concentrada: 74% das moradias em conjuntos
estavam nos espaços de tipo operário-superior, operário e operário e popular,
eqüitativamente distribuídas entre os três tipos. No nível metropolitano, isto
corresponde a uma concentração em cinco municípios. Belo Horizonte possuía, em
1991, quase a metade, ou seja, 47,4% das casas e apartamentos em conjuntos da
RMBH, a maior parte na região industrial e nas áreas médias próximas à Pampulha.
No eixo industrial estavam 26% (22% em Contagem e 4% em Betim). Os demais
situavam-se na região norte: 14,6% no município de Santa Luzia e 5,6% na unidade
espacial que corresponde aos municípios de Vespasiano e São José da Lapa – ver
FIG.6.2.
Em síntese, a produção de moradias em conjuntos residenciais corresponde aos dois
eixos de expansão demográfica da região metropolitana: a oeste, área industrial e
local de moradia dos operários do setor secundário, e a norte, área de expansão
periférica tradicional, lugar de moradia dos segmentos populares. Vimos também que,
nas áreas médias, em Belo Horizonte e no eixo industrial, predominam os
189 Como vimos, as casas representam a quase totalidade das moradias nos aglomerados sub-normais.
178
190 Ver Costa, H. (1983).
179
apartamentos – cerca de 60% das moradias em conjunto. Nas áreas operárias e
populares mais periféricas, ao contrário, predominam as casas (65% do total de
moradias em conjunto dessas áreas) – são os conjuntos promovidos pela COHAB,
orientados para os segmentos de mais baixa renda. Na direção destes eixos e nas
proximidades das unidades espaciais que concentram os conjuntos habitacionais
expandiram-se também as principais favelas fora da região centro-sul de Belo
Horizonte. Em algumas unidades espaciais, a soma de moradias em conjuntos com
moradias em aglomerados sub-normais alcançava 30% ou mais. É o caso de áreas
em Belo Horizonte e Contagem em torno do eixo industrial, áreas a norte de Belo
Horizonte e seus espaços conurbados em Santa Luzia e Vespasiano, além de Sabará,
município a leste, do Tipo “Operário e Agrícola”, que tem crescido pouco, e cujas
moradias estavam localizadas, em 1991, na proporção de 30% em aglomerados sub-
normais e em conjuntos residenciais – ver FIG. 6.2.
Moradias em aglomerados sub-normais eram, como vimos, a característica das áreas
do Tipo Popular191. Nas favelas, predominavam as moradias próprias (apenas a
construção é própria). Constituíam exceção as favelas do Eldorado/Contagem,
Barreiro/Cidade Industrial e Cabana, onde cerca de 12 a 13% das moradias eram
alugadas - todas elas situadas na região industrial, o que revela maior rotatividade de
parte dos trabalhadores ali residentes, em relação aos moradores das demais áreas
faveladas.
Os apartamentos “isolados ou em condomínio”, tomados como representativos do
mercado capitalista de provisão de moradias, estavam, em 1991, quase totalmente
concentrados no município sede da região metropolitana: 92,5%192. Destes, 73%
estavam por sua vez concentrados em 17 unidades espaciais que compõem a área
central e sua vizinhança imediata – ver FIG. 6.3.
191 É importante lembrar que as favelas da áreas mais centrais e das periferias norte de Belo Horizonte são do tipo “Popular”. As demais são do tipo “Operário e Popular”, com a exceção das Favelas do Barreiro/Cidade Industrial, que são do tipo “Operário”. 192 O município continha, em 1991, 62,5% de todos os imóveis residenciais da região metropolitana.
180
181
No centro da cidade, 97% das residências eram apartamentos, segundo o Censo
Demográfico de 1991. Nas demais unidades espaciais da Área Central de Belo
Horizonte193, nas três unidades imediatamente a sul desta área e, ainda, na Cidade
Nova194, os apartamentos constituíam 75% a 90% das residências. No semi-anel a sul
dessa área central, entre 50% e 75% das residências eram apartamentos. Finalmente,
no semi-anel de norte a oeste, imediatamente acima da Área Central, os apartamentos
constituíam de 30% a 50% das residências.
Todo esse conjunto de unidades espaciais era – e ainda é, apesar da expansão das
fronteiras – a área preferencial de atuação do mercado empresarial de imóveis
residenciais.
Contagem é o segundo município em percentual de apartamentos195: aí estavam
localizados, em 1991, 6,1% dos apartamentos da RMBH, quase todos concentrados
na região industrial.
Finalmente, distante no terceiro lugar, Betim detinha, em 1991, 0,6% dos
apartamentos da RMBH, quase todos concentrados na sede do município196.
O lugar de concentração dos apartamentos em Belo Horizonte constitui-se dos
espaços superiores e médio-superiores, justamente nos locais onde a expansão desse
mercado foi mais intensa nos anos oitenta. Em Betim e Contagem, a concentração
corresponde, respectivamente, ao tipo Médio e ao Tipo Operário Superior, o qual
surgiu a partir da entrada de segmentos médios na região industrial, durante os anos
oitenta.
Não há dúvidas sobre a expansão do mercado capitalista de provisão de moradias,
nos anos oitenta, fundamentalmente nas áreas onde vivem os segmentos sociais
médios e superiores, e naquelas, onde a chegada de famílias destes segmentos
provocou alterações sócio-espaciais. Na realidade, além da conjuntura mais geral,
conjunturas urbanas locais, vinculadas à modificação do mapa social da cidade podem
contribuir para refazer os limites espaciais do mercado. Em meados da década de
193 Esta área, delimitada pela Avenida do Contorno, constitui o núcleo histórico de Belo Horizonte, isto é, a área projetada e inaugurada em 1897. 194 A Cidade Nova é a única unidade espacial do tipo superior, localizada fora do Centro/Zona Sul ou da Pampulha. 195 Contagem possuía, em 1991, 12% do total de residências da região metropolitana. 196 O município possui 4,2% de todos os imóveis residenciais da RMBH.
182
oitenta surgiu uma conjuntura mais favorável – o “Plano Cruzado” no nível nacional197,
e, no nível local, a aprovação da primeira lei de ocupação e uso do solo de Belo
Horizonte, em 1976 e sua revisão, realizada em 1985, com alterações que resultaram
na maior permissividade de uso e maior potencial construtivo nas áreas centrais e
peri-centrais de Belo Horizonte. O resultado foi um significativo crescimento do
mercado de incorporação e construção de apartamentos. Os Censos Demográficos
mostram, para 1991, um número de apartamentos três vezes maior do que em 1980.
Outros fatores podem ser levantados para explicar essa expansão destacando-se, em
primeiro lugar, a enorme concentração nas áreas mais centrais, encarecendo o solo e
provocando mudanças no seu uso198. Em segundo lugar, obras viárias geraram novas
acessibilidades, não apenas na Zona Sul como, principalmente, na sua periferia
imediata, a oeste e noroeste199 - tratam-se de ações estatais que funcionam como
mecanismos de alterações na distribuição dos recursos urbanos e,
consequentemente, na hierarquia de preços do solo.
A atividade imobiliária tem estratégias diferenciadas de captação do sobre-lucro,
dependendo do segmento de atuação. A produção capitalista concorrencial busca
captar o máximo de renda diferencial, através da alteração do uso e da ocupação do
solo, por exemplo. Os preços neste segmento são, como vimos, regulados pelas
condições gerais de produção, e há um papel menos destacado da localização na
formação do sobre-lucro. Neste sentido, o setor vai pressionar pela ampliação dos
limites da legislação urbanística, com elevação dos parâmetros de ocupação e de uso.
No caso da RMBH, a expansão deste segmento ocorre, como veremos, nas áreas que
receberam segmentos sociais médios, com alterações na estrutura sócio-espacial
destas áreas.
197 “O ‘Plano Cruzado’ faz aumentar extraordinariamente a demanda por moradias. Por um lado, porque aumentam os salários, solvabilizando a demanda; por outro, porque aumenta a procura de moradias como reserva de valor, na falta de outro ativo confiável” (Ribeiro, 1997:318). 198 A legislação urbanística contribuiu para esta concentração – para maiores detalhes sobre este processo ver Mendonça (2001). 199 Pode-se citar, como exemplo, abertura, alargamento e prolongamento de avenidas nos anos setenta e oitenta como Uruguai, Bandeirantes, Guaicuí, Francisco Sá, Pedro II, Renascença, Silva Lobo, Barão Homem de Melo, Atlântica, Américo Vespúcio, Petrolina, Via do Minério, Via Expressa Leste-Oeste, Dom Pedro I, além de obras de melhorias de acessibilidade, como o complexo de viadutos da Lagoinha e as trincheiras da Av. Raja Gabaglia e da Rua Rio Grande do Norte.
183
6.3 – Expansão do mercado imobiliário em Belo Horizonte e transformações sócio-espaciais
Vimos que 92,5% dos apartamentos existentes na RMBH estão em Belo Horizonte.
Vimos também que os Censos Demográficos apontaram, em 1991, o triplo de
apartamentos em relação ao número existente em 1980; o crescimento do número de
apartamentos foi relativamente maior do que aquele apresentado pelas casas, cuja
participação no total de moradias diminuiu durante a década. Entre os apartamentos,
houve também um crescimento daqueles localizados em conjuntos residenciais. No
entanto, dado que a sua participação no total desse tipo de moradia era, em Belo
Horizonte, de apenas 11%, e dado que o percentual de apartamentos em aglomerados
sub-normais no município é insignificante (1%), pode-se concluir que a expansão da
participação dos apartamentos, em geral, no conjunto de moradias é representativo da
expansão do mercado capitalista de produção, vis-à-vis o crescimento residencial na
capital. Por fim, vimos que a expansão dos apartamentos nas áreas superiores e
médio-superiores é significativamente maior do que a expansão do conjunto de
moradias destas áreas.
O aprofundamento da análise desse mercado foi possível a partir dos dados do
Cadastro Imobiliário Municipal, o qual fornece informações sobre o tipo do imóvel200 , o
padrão de acabamento201, o bairro onde está situado e o ano de construção202, entre
outras. Estas informações permitiram observar a evolução do mercado de
apartamentos em Belo Horizonte, durante os anos oitenta.
Embora os números apresentados pelo Cadastro Imobiliário Municipal não sejam
coincidentes com aqueles dos Censos Demográficos, a sua distribuição dentro de Belo
Horizonte apresenta grande semelhança, razão pela qual julgamos viável uma análise
específica de Belo Horizonte com base nesse Cadastro.
200 Apartamento, casa, lote vago etc. 201 Luxo, Alto, Normal, Baixo e Popular – mais adiante serão explicitados os critérios para esta classificação. 202 O ano de construção cadastrado é o último ano de registro de obra - significa o ano de construção do imóvel ou o ano em que houve reforma com acréscimo de área igual ou maior à área previamente existente. No caso de apartamento, é pouquíssimo provável que tenha havido reforma resultando no dobro da área previamente existente, mesmo no caso de coberturas. Portanto, o ano de construção constante no cadastro pode ser considerado o ano efetivo em que o imóvel foi construído.
184
TABELA 6.5 Belo Horizonte
Distribuição dos apartamentos por tipologia sócio-espacial segundo as fontes de informação
Tipologia Sócio-Espacial em 1991 Censo Demográfico 1991 Cadastro Imobiliário Municipal (1991)
Superior 45.0% 45.1% Médio-Superior 34.1% 34.8% Médio 12.8% 12.3% Operário-Superior 3.1% 1.5% Operário 4.5% 6.3% Operário e Popular 0.2% 0.0% Popular 0.4% 0.0% Total 100.0% 100.0% Observação: os bairros do cadastro do IPTU não são absolutamente compatíveis com as Unidades Espaciais Homogêneas (UEH) da pesquisa; no entanto, foi possível compatibilizá-los com a tipologia sócio-espacial, a partir da observação da proporção do bairro dentro de cada UEH (quando é o caso de um bairro estar localizado em duas ou mais UEH) e da tipologia predominante no entorno – ver FIG. 6.4 e Anexo F.
A classificação do padrão de acabamento do Cadastro Imobiliário Municipal é uma
informação importante para inferir os segmentos de mercado concorrencial (ou
normal) e monopolista. Isto porque, o padrão está relacionado ao tipo de acabamento
e a equipamentos ou áreas complementares, tais como vagas de garagem, sauna,
piscina, quadras, salão de festas etc., os quais são indicativos da diferenciação do
produto-moradia, em grande parte típicos do mercado monopolista203.
Da maneira que as variáveis do Censo Demográfico, apesar de limitadas para a
análise das diversas formas de produção de moradia, podem ser tomadas como
indícios que permitem a observação empírica e algumas inferência analíticas, também
as variáveis do Cadastro Imobiliário apresentam-se como instrumentos úteis de
análise. Na medida em que a produção monopolista depende da diferenciação dos
imóveis, o padrão de acabamento pode ser indício desse tipo de produção. Neste
caso, os apartamentos de padrão luxo ou alto podem ser tomados como
representativos desse mercado – é importante ressaltar que, nestes casos, não
apenas o padrão é importante para distinguir esse segmento de mercado, mas
também as condições de localização, diferenciadas real ou simbolicamente.
203 Cada unidade residencial é pontuada segundo o tipo de revestimento, de esquadria, de piso, forro, áreas e equipamentos complementares (“equipamentos residenciais” e “equipamentos gerais”). São fator de elevação da pontuação revestimentos de granito, de pedras especiais, metálicos e de vidro, esquadrias de madeira trabalhada, pisos de granito, metálicos e especiais, forro metálico e de fibrocimento e três ou mais vagas de garagem. A soma da pontuação corresponde ao padrão – luxo, alto, normal, baixo e popular –, o qual, por sua vez, corresponde a um preço de construção por metro quadrado, referenciado em tabela do Sinduscon-Sindicato das Indústrias de Construção.
185
186
Os demais padrões – normal, baixo e popular – podem ser considerados
representativos do segmento concorrencial, onde não há um papel destacado da
localização, enquanto regulador de preço, ainda que esta vai estar condicionada,
principalmente, pela legislação urbanística e pelos equipamentos urbanos. Estes
também são os padrões utilizados no segmento de produção de apartamentos em
conjuntos residenciais. No entanto, como a informação diferenciada não está
disponível, e considerando o baixo percentual de apartamentos em conjuntos em
relação ao total de apartamentos em Belo Horizonte (10,5%), todos os apartamentos
classificados nesses padrões foram considerados como produzidos pelo mercado
capitalista concorrencial.
Se compararmos a produção até 1979 com aquela da década de oitenta, veremos que
o mercado monopolista apresentou extraordinária expansão durante a década de
oitenta. Mais de 80% dos apartamentos de padrão luxo e alto, existentes em 1991,
foram construídos durante os anos oitenta – ver TAB. 6.6. Nos demais padrões, a
maior produção é anterior a 1980.
TABELA 6.6 Distribuição dos apartamentos por período de construção
segundo o padrão de acabamento
Padrão do Imóvel Apartamentos construídos
até 1979
Apartamentos construídos
de 1980 a 1991 Total
Luxo 18.4% 81.6% 100.0% Alto 19.1% 80.9% 100.0% Normal 52.6% 47.4% 100.0% Baixo 58.3% 41.7% 100.0% Popular 63.2% 36.8% 100.0% Total 53.7% 46.3% 100.0%
Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte, Cadastro do IPTU – dados trabalhados
Vejamos onde está localizado e para onde se expande cada um destes mercados. As
TAB. 6.7 e 6.9 mostram uma certa expansão territorial do mercado monopolista,
chegando a alcançar algumas áreas médias – tanto os imóveis de padrão luxo, como
padrão alto apresentam maior participação, em 1991, nas áreas superiores, médio-
superiores e, em menor grau, nas áreas médias. Isto pode estar significando uma
requalificação destas áreas, no sentido de criação de uma distinção simbólica,
necessária aos ganhos deste segmento de mercado. Em parte, esta expansão
corresponde às áreas de aburguesamento – tratam-se de áreas médias, que
evoluíram para o tipo médio-superior, ou áreas médio-superiores que passaram a
apresentar, em sua composição social, maior densidade das categorias dirigentes. A
187
Tabela 6.7
Belo Horizonte - 1980 Distribuição dos apartamentos por Padrão e Áreas segundo a Tipologia Sócio-Espacial de 1991
Tipologia 91 Padrao
Superior Médio Superior
Médio Operário Superior
Operário Operário Popular
Popular Total
Luxo 99.1% 0.9% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 100.0% Alto 90.8% 8.6% 0.2% 0.0% 0.4% 0.0% 0.0% 100.0% Normal 63.9% 28.9% 6.7% 0.1% 0.4% 0.0% 0.0% 100.0% Baixo 32.5% 50.7% 12.9% 1.8% 2.1% 0.0% 0.1% 100.0% Popular 18.6% 65.7% 13.9% 0.0% 1.6% 0.0% 0.2% 100.0% Total 52.6% 36.7% 8.8% 0.7% 1.1% 0.0% 0.0% 100.0% Fontes: IBGE, Censos Demográficos, 1980 e 1991; Cadastro Imobiliário de Belo Horizonte – dados trabalhados
Tabela 6.8 Belo Horizonte - 1980
Distribuição dos apartamentos Áreas e Padrão
Tipologia 91 Padrao
Superior Médio Superior
Médio Operário Superior
Operário Operário Popular
Popular Total
Luxo 0.6% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.3% Alto 5.8% 0.8% 0.1% 0.0% 1.2% 0.0% 0.0% 3.4% Normal 69.9% 45.4% 43.5% 7.1% 23.4% 0.0% 36.0% 57.6% Baixo 23.5% 52.6% 55.4% 92.9% 74.4% 100.0% 60.0% 38.1% Popular 0.2% 1.2% 1.1% 0.0% 1.0% 0.0% 4.0% 0.7% Total 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% Fontes: IBGE, Censos Demográficos, 1980 e 1991; Cadastro Imobiliário de Belo Horizonte – dados trabalhados
Tabela 6.9 Belo Horizonte - 1991
Distribuição dos apartamentos por Padrão e Áreas segundo a Tipologia Sócio-Espacial de 1991
Tipologia 91 Padrao
Superior Médio Superior
Médio Operário Superior
Operário Operário Popular
Popular Total
Luxo 98.2% 0.9% 0.9% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 100.0% Alto 87.9% 10.5% 1.3% 0.2% 0.1% 0.0% 0.0% 100.0% Normal 51.1% 35.9% 11.0% 0.6% 1.3% 0.0% 0.0% 100.0% Baixo 22.1% 39.2% 18.8% 4.1% 15.8% 0.0% 0.0% 100.0% Popular 11.9% 42.9% 13.3% 0.0% 31.8% 0.0% 0.1% 100.0% Total 45.1% 34.8% 12.3% 1.5% 6.3% 0.0% 0.0% 100.0% Fontes: IBGE, Censos Demográficos, 1980 e 1991; Cadastro Imobiliário de Belo Horizonte – dados trabalhados
Tabela 6.10 Belo Horizonte - 1991
Distribuição dos apartamentos Áreas e Padrão
Tipologia 91 Padrao
Superior Médio Superior
Médio Operário Superior
Operário Operário Popular
Popular Total
Luxo 1.9% 0.0% 0.1% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.9% Alto 18.4% 2.8% 1.0% 1.6% 0.2% 0.0% 0.0% 9.4% Normal 66.8% 60.7% 52.6% 24.8% 12.6% 20.0% 54.1% 58.9% Baixo 17.2% 39.5% 53.7% 96.7% 88.1% 80.0% 43.2% 35.1% Popular 0.2% 0.7% 0.6% 0.0% 3.0% 0.0% 2.7% 0.6% Total 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% Fontes: IBGE, Censos Demográficos, 1980 e 1991; Cadastro Imobiliário de Belo Horizonte – dados trabalhados
188
TAB. 6.11 mostra, em primeiro lugar, que as áreas de aburguesamento e,
principalmente, aquelas que evoluíram para “mais classes médias” apresentaram
aumento expressivo de participação no conjunto dos apartamentos. Em segundo
lugar, pode-se perceber que, nestas áreas, em que pese prevalecer a expansão do
padrão normal204, o segmento monopolista também apresenta expansão significativa,
havendo considerável diminuição de participação no conjunto de apartamentos de
padrão baixo e popular.
TABELA 6.11 Belo Horizonte
Distribuição dos apartamentos existentes em 1980 e em 1991 por padrão e tipo de evolução sócio-espacial
Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte, Cadastro do Imobiliário Municipal – dados trabalhados
É fundamental, no entanto, verificar os números absolutos, para perceber a real
dimensão destas alterações. No caso das áreas de aburguesamento, só foram
construídos, na década de oitenta, três imóveis de padrão luxo. Prevaleceu, nestas
áreas o padrão alto, com a construção de 652 apartamentos, correspondentes a 7%
do total de apartamentos deste padrão construídos em Belo Horizonte na década.
Mesmo assim, quase a metade da produção (48,32%) está concentrada em quatro
bairros: Coração Eucarístico, Nova Suissa, Sagrada Família e Santa Efigênia, todos
eles na periferia imediata da área central de Belo Horizonte – o Coração Eucarístico
tem ainda a particularidade de ser bairro onde está situado o campus da PUC-Minas –
ver a FIG. 6.5.
A conclusão mais importante que podemos tirar, neste momento, é que a expansão do
mercado monopolista de provisão de moradias apresentou-se, nos anos oitenta, muito
mais como tendência – trata-se de uma expansão ainda tímida, decorrente,
provavelmente, da relativa saturação da zona sul e da busca de novos ganhos de
204 Típico do mercado concorrencial.
Luxo Alto Normal Baixo Popular Total Padrão do Imóvel Tipo de evolução sócio-espacial 1980 1991 1980 1991 1980 1991 1980 1991 1980 1991 1980 1991
Aburguesamento 0,0% 0,3% 4,2% 6,9% 17,9% 39,4% 25,3% 19,7% 36,7% 1,5% 20,5% 28,4% mais classes médias
0,0% 1,2% 0,0% 1,3% 0,5% 5,4% 3,0% 32,2% 0,4% 10,7% 1,5% 12,1%
diversificação ascendente
0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,1% 1,8% 0,8% 9,4% 0,0% 29,0% 0,3% 3,7%
proletarização 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,1% 0,0% 0,3% 0,4% 0,4% 0,0% 0,1% permanece 100,0% 98,5% 95,8% 91,7% 81,5% 53,2% 70,8% 38,3% 62,4% 58,4% 77,7% 55,7% Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
189
FIGURA 6.5 – Belo Horizonte: bairros situados em áreas de aburguesamento e que concentram apartamentos de padrão alto construídos nos anos 80
0 1
Kilometers
2
Área Central de Belo Horizonte
NovaSuissa
CoraçãoEucarístico
SantaEfigênia
SagradaFamília
Avenida Amazonas
Av. N
.S.C
arm
o
Av.Contorno
Av.Antônio Carlos
Anel Rodoviário
Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte, Cadastro Imobiliário Municipal,2000
inovação, criando novas áreas de mercado. Pode-se dizer também que o
transbordamento das categorias dirigentes para os espaços intersticiais entre a zona
sul e a Pampulha ainda não abrange esse segmento de mercado. A provável troca
entre grupos familiares das categorias dirigentes, nos espaços de aburguesamento,
levantado no capítulo anterior205 pode estar seguindo a tendência mais geral dos
movimentos populacionais no
espaço intra-metropolitano, de
mobilidade descendente, ou seja,
as categorias dirigentes e os
profissionais de nível superior com
menor capacidade aquisitiva
estariam saindo da zona sul,
provocando alterações na
organização sócio-espacial
metropolitana. Os dados disponíveis
não permitem uma afirmação categórica nesse sentido mas, dadas as evidências de
crescente auto-segregação dos grupos dirigentes e intelectuais nos espaços
superiores, as trocas populacionais entre as categorias socialmente superiores
provavelmente vão nesse sentido.
O sub-mercado concorrencial é representado pelos apartamentos de padrão normal e
baixo206. Ambos são predominantes no conjunto de apartamentos de Belo Horizonte,
sendo que a participação dos primeiros subiu de 57,6% para 58,9%, durante a década
de oitenta, e os últimos tiveram sua participação diminuída de 38,1% para 35,1% no
total de apartamentos - ver TAB. 6.8 e 6.10. Os apartamentos de padrão normal
estavam absolutamente concentrados nos espaços superiores e médio-superiores em
1980: 92,8%. Em 1991, este percentual cai para 87%, com uma redistribuição
principalmente para os espaços médios (de 6.7% para 11%) e também para as áreas
de perfil operário-superior, onde a participação dos apartamentos de padrão normal
aumenta de 0,1 para 0,6%207. Também os apartamentos de padrão baixo estavam
205 Cf. Item 5.2.2 – Posição social e mobilidade residencial. 206 Apartamentos de padrão popular representam menos de 1% do total de apartamentos e foi deixado de lado na análise. 207 Dado que os apartamentos de padrão normal representavam entre 58 e 59% do total da produção desse tipo de moradia, o percentual localizado nas áreas de perfil operário-superior tem relativa expressão.
190
muito concentrados nos espaços superiores e médio-superiores, em 1980 (83,2%)208 –
em 1991, esta participação cai consideravelmente, para 61,3%209. A descentralização
dos apartamentos deste padrão é considerável, destacando-se como lugar de
expansão as áreas médias e, principalmente, para as áreas operárias - a participação,
neste caso, sobe de 2,1% para 15,8% - ver TAB. 6.7 e 6.9. A descrição feita
anteriormente, sobre a distribuição geográfica dos apartamentos em conjuntos
habitacionais permite estimar que o aumento desse tipo de moradia nas áreas
operárias foi devido à implantação de conjuntos no início da década.
Considerando os espaços de expansão do mercado concorrencial, por tipo de
evolução sócio-espacial – ver TAB. 6.11 – percebe-se que a expansão dos
apartamentos de padrão normal está nas áreas de aburguesamento: a distribuição
desse tipo de apartamento nessas áreas aumentou de 17,9% para 39,4%. A expansão
dos apartamentos de padrão baixo foi principalmente para áreas que evoluíram para
mais classes médias, com uma distribuição elevada de 3% para 32%. Mais uma vez, é
importante ressalvar que se trata, neste último caso, em grande parte, de expansão
através de conjuntos habitacionais – a comparação das FIG. 4.6, 6.1 e 6.2 permite
perceber que grande parte das áreas de Belo Horizonte situadas na região industrial,
nas proximidades com Contagem, são caracterizadas por conjuntos habitacionais e,
também, pela evolução para mais classes médias.
Pode-se, a partir da análise anterior, afirmar que o mercado concorrencial é
principalmente caracterizado pela produção de apartamentos de padrão normal, e que
este segmento tem sido o estruturador dos espaços de aburguesamento, resultantes
da mobilidade residencial de grupos familiares das categorias dirigentes e intelectuais.
A produção dos anos oitenta esteve muito concentrada na primeira metade da década:
segundo o Cadastro Imobiliário de Belo Horizonte, de 1980 a 1985 foram construídos
24.654 apartamentos de padrão normal, que representam 71,1% do total deste padrão
construído entre 1980 e 1991. Alguns fatores contribuíram para isto, destacando-se a
legislação urbanística. Em 1976, havia sido aprovada a primeira Lei de Uso e
Ocupação do Solo de Belo Horizonte, ampliando extraordinariamente o potencial
construtivo em toda a região central e peri-central, além de todos os corredores viários
208 Na realidade estes dois tipos de área concentravam cerca de 90% do total dos apartamentos existentes em Belo Horizonte, o que significa que a densidade dos apartamentos de padrão baixo, nestas áreas, era menor do que hum. 209 Se considerarmos a densidade, esta cai de 0,92 para 0,77.
191
importantes da cidade e, consequentemente, ampliando os ganhos imobiliários de
inovação, pela conversão do uso e da intensificação do solo. Acresce-se a isto, o fato
de que o grande crescimento econômico-industrial que caracterizou o “milagre
brasileiro” dos anos setenta, em Minas Gerais foi defasado no tempo, indo até 1978.
Desta forma, também os efeitos da crise econômica que atingiu o país no final dos
anos setenta só teve efeito em Minas Gerais a partir do início da década seguinte. A
produção imobiliária residencial esteve muito concentrada no início do década, como
se pode observar no GRÁFICO 6.1.
GRÁFICO 6.1Belo Horizonte - Area de apartamentos construída por ano
0
200000
400000
600000
800000
1000000
1200000
1400000
1600000
1800000
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990
Ano de construção
Áre
a co
nstr
uída
(m2)
Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte, Cadastro Imobiliário Municipal
Em síntese, a expansão do mercado capitalista de produção de moradias apresentou
diferenciações nos anos oitenta, com diferentes relações com os processos de
mobilidade residencial e de estruturação sócio-espacial na capital mineira. O mercado
monopolista permaneceu concentrado nos espaços superiores e médio-superiores,
lugares de distinção simbólica, onde as categorias socialmente superiores têm se
concentrado cada vez mais, em crescente processo de auto-segregação.
A expansão territorial da atividade imobiliária residencial foi decorrente,
principalmente, da atuação do segmento concorrencial. A concentração da atividade
nos primeiros anos da década, leva à conclusão de que o mercado antecedeu os
movimentos populacionais. Fundamentalmente, a expansão imobiliária para as áreas
peri-centrais promoveu alterações na ocupação e no uso do solo, criando as
192
condições para a mobilidade de grupos sociais oriundos da zona sul em direção a
estas áreas.
6.4 – Mercado de terras e segregação sócio-espacial
O mercado de terras, cuja lógica acompanha o mercado capitalista de provisão de
moradias, está relacionado, em parte, à auto-provisão de moradias, seja para a grande
parcela da população que ocupa os espaços mais periféricos da região metropolitana,
seja para os segmentos médios e superiores, que moram em casas construídas por
contratação do proprietário do terreno e usuário.
Nos anos oitenta, o mercado de terras na RMBH apresentou duas características
principais: de um lado, a expansão de loteamentos populares, caracterizados por lotes
com área menor ou igual a 360 m2, nas áreas mais periféricas, a norte e oeste. De
outro, pela expansão de um novo tipo de loteamento, os condomínios fechados e os
sítios de recreio – os primeiros estão, concentrados no eixo sul, ao longo da BR-040,
na seqüência da Av. Nossa Senhora do Carmo, via estruturante na zona sul; os
últimos, situados a norte da região metropolitana, constituem segunda residência, para
os fins de semana210.
Os lotes com áreas entre 361 e 999 m2, que configuram um mercado orientado para
os segmentos médios e superiores, estão concentrados em quatro tipos de área
segundo o tipo de evolução sócio-espacial: diversificação ascendente, diversificação,
áreas que não mudaram de tipo sócio-espacial durante a década, e Esmeraldas,
município que não foi classificado segundo a tipologia sócio-espacial pela ausência
dos dados para o ano de 1980 – nestas áreas estão concentrados 88% dos lotes com
área entre 361 e 999 m2, aprovados durante os anos oitenta – ver TAB. 6.12. As
primeiras, situadas a norte da RMBH, são áreas que receberam grupos sociais
superiores aos que caracterizavam as áreas, em 1980. Esmeraldas é um município a
noroeste da região metropolitana e um dos lugares de concentração dos sítios de
recreio, o que leva a pensar que os lotes de área entre 361 e 999 m2 podem ser
210 Para melhor descrição dessas diferenças, ver Souza e Teixeira (1999).
193
integrantes desse tipo de loteamento. Finalmente, os lotes deste padrão situados nas
áreas que não mudaram de tipo estão concentrados em espaços superiores211 (76%).
TABELA 6.12 Região Metropolitana de Belo Horizonte
Distribuição dos lotes aprovados entre 1980 e 1990 Por tamanho de lote e tipo de evolução sócio-espacial
Tamanho dos lotes (m2) Tipo de Evolução até 360 361 a 999 1000 e mais
total
Aburguesamento 1.1% 5.3% 0.0% 1.8% Mais classes médias 4.8% 3.2% 0.5% 3.6% Diversificação ascendente 2.9% 18.5% 0.2% 5.7% Diversificação 19.4% 22.5% 6.1% 17.3% Proletarização 9.2% 0.5% 3.0% 6.1% Mais popular 4.0% 0.0% 0.5% 2.4% Permanece 17.5% 11.5% 32.4% 19.3% Brumadinho 4.9% 2.6% 43.3% 12.3% Esmeraldas 20.6% 35.9% 13.1% 22.3% Igarapé 0.3% 0.0% 0.2% 0.2% Mateus Leme 15.3% 0.0% 0.8% 9.1% Total 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% Fontes: IBGE, Censos Demográficos, 1980 e 1991. Governo de MG/SEPLAN. Prefeituras Municipais da RMBH.
Se os anos oitenta foram de expansão das fronteiras do mercado residencial nas áreas
peri-centrais do município de Belo Horizonte, fundamentalmente as áreas de
aburguesamento, a expansão do mercado de terras para os segmentos de renda
média e alta também ocorreu nestas áreas, ou nas suas proximidades, indicando
novas fronteiras de expansão, fundamentalmente a sul da Lagoa da Pampulha e a
sudoeste da zona sul. Por outro lado, o mercado popular de loteamentos tornou-se,
como veremos, cada vez mais periférico.
Entre 1980 e 1990, foram aprovados, na RMBH, cerca de 270 loteamentos212, entre os
quais, 47% com lotes de 360 m2 ou menos, 16% com lotes entre 360 e 1000 m2 e
36% com lotes de 1000 m2 ou mais. Também aqui o mercado é diferenciado: os lotes
com 360 m2 ou menos podem ser tomados como representativos dos loteamentos
populares, enquanto, na outra extremidade, os loteamentos com lotes de 1000 m2 são
211 Belvedere e Estoril.
212 Informações colhidas na Secretaria Estadual de Planejamento (Cadastro do Plambel) e nas Prefeituras Municipais. Para seis loteamentos aprovados no período não é possível obter informações sobre área
194
característicos dos condomínios fechados e sítios de recreio, cuja expansão durante os
anos oitenta foi bastante expressiva, como veremos. Os lotes com área na faixa entre
360 e 1000 m2 são representativos dos segmentos de média e alta renda e estão
situados, em geral, nas proximidades do mercado capitalista de provisão de moradias.
A TAB. 6.12 mostra a distribuição dos loteamentos aprovados nos anos oitenta.
TABELA 6.13 Região Metropolitana de Belo Horizonte
Distribuição dos loteamentos aprovados por área média dos lotes 1980/1990
Loteamentos Área total (ha)
Área de lotes (ha)
Quantidade aproximada de lotes Área média
dos lotes (m2) % % % NA %
<250 9,3 6,8 3,4 14000 11.0% 250a360 42,5 28,5 20,0 57000 44.9% 361a999 18,2 18,6 13,2 24000 18.9% 1000e+ 30,0 46,1 63,4 32000 25.2% TOTAL 100,0 100,0 100,0 127000 100.0% Fontes: Secretaria de Estado do Planejamento; Prefeituras Municipais
Do ponto de vista geográfico, a FIG. 6.6 permite visualizar as concentrações de cada
um dos tipos de área213.
Ressalta-se, em primeiro lugar, a concentração de loteamentos cujos lotes têm área
igual ou menor do que 250 m2 nas proximidades de áreas com concentração de
conjuntos habitacionais (ver FIG. 6.2) - provavelmente tratam-se de loteamentos
aprovados com esta finalidade, uma vez que esta área de lote é típica de conjuntos.
Em segundo lugar, observa-se o espraiamento dos lotes com área entre 251 e 360 m2
por toda a periferia norte, noroeste e oeste da região metropolitana, reforçando os
eixos históricos de crescimento e adensamento das áreas operárias e populares – os
lotes deste modelo de parcelamento correspondem a quase a metade (46,3%) do total
de lotes aprovados na década. Em terceiro lugar, ressalta-se a concentração de lotes
de tamanho médio nas áreas imediatamente periféricas à Área Central de Belo
Horizonte, fundamentalmente na expansão da zona sul e, ao norte, nas proximidades
média dos lotes, os quais foram, portanto, eliminados da análise. Um loteamento, no Jatobá, próximo à Cidade Industrial de Contagem, também não foi considerado, por se tratar de loteamento industrial. 213 É importante ressaltar que estamos trabalhando com lotes aprovados, embora haja áreas ocupada informalmente, sejam elas favelas ou loteamentos clandestinos. As favelas estão concentradas em Belo Horizonte, onde vivem cerca de 20% da população do município. Os loteamentos clandestinos estão espalhados pela região metropolitana, nas proximidades dos chamados ‘loteamentos populares’. Em Ibirité, por exemplo, havia em 1994 doze loteamentos clandestinos, quatro dos quais executados entre 1989 e1992 somando dois mil lotes, dois terços do número total de lotes aprovados no mesmo período (Mares Guia, 1994).
195
196
da lagoa da Pampulha. Estas são, como vimos, áreas de expansão do mercado
capitalista de provisão de moradias, orientado para os segmentos superiores na
hierarquia social. Finalmente, destacam-se as concentrações de lotes com área igual
ou maior do que 1000 m2, a noroeste e a sul da região metropolitana214.
Em síntese, o quadro de loteamentos aprovados na década de oitenta mostra, de um
lado, a consolidação da dinâmica história de ocupação da região metropolitana, qual
seja, a expansão nas direções norte e oeste. Por outro lado, mantém o movimento de
periferização e anuncia para os anos noventa, a expansão na direção de áreas ainda
mais periféricas.
Destaca-se, ainda, como particularidade da década, a expansão de um novo tipo de
loteamento – os sítios de recreio e condomínios fechados, com destaque para a região
sul: Brumadinho e Nova Lima concentram 62% do total de lotes deste modelo de
parcelamento.
Este modelo de parcelamento apresentou forte expressão nos anos oitenta,
representando cerca de 20% dos lotes aprovados nesta década. O processo de auto-
segregação das categorias dirigentes e profissionais de nível superior, discutido
anteriormente, se reproduz nesse padrão de loteamento, e a metrópole belo-
horizontina apresenta como particularidade a manutenção da centralidade física das
áreas residenciais dos grupos superiores na hierarquia social. A auto-segregação
enquanto preservação do poder social, através da materialização espacial da distância
social, tem feito surgir, em outros locais do país, novos padrões de moradia,
caracterizados por tecnologias de segurança e enclaves fortificados, muitas vezes em
áreas tradicionalmente populares215. Em Belo Horizonte, os condomínios começaram a
surgir no final anos setenta como um novo modelo cultural a orientar a escolha de
alguns grupos sociais. Inicialmente, os profissionais de nível superior, dotados de
poder aquisitivo suficiente para arcar com uma segunda moradia e do desejo ecológico
da vida campestre, sustentou esse padrão. Mais recentemente, com a expectativa de
esgotamento das áreas urbanas dotadas de status e da simbologia do poder, somada
214 É importante ressalvar na figura, que o instrumento para confecção dos mapas – o software MapInfo – distribui eqüitativamente os pontos referentes a cada lote; nas unidades espaciais de grande extensão, isto faz com que os lotes pareçam dispersos por todo o território. A FIG. 1.1 permite visualizar as manchas representativas das áreas parceladas e, portanto, as concentrações destes lotes no território. 215 Ver, para esta discussão, entre outros, Caldeira (1996 e 2000).
197
ao crescimento da violência, esse novo padrão de assentamento urbano coloca-se
como perspectiva e opção para as camadas dirigentes216.
O fenômeno ainda se manifesta como tendência. Parte considerável dos condomínios
permanecia, no início dos anos noventa, como sítio de recreio e segunda residência.
Mas o alto crescimento populacional de Nova Lima e de Brumadinho na década de
noventa - 4,1% e 5,9% respectivamente – mostram a consolidação desse processo.
Também o lançamento do condomínio “Alhaville Lagoa dos Ingleses”, no município de
Nova Lima, já nos anos noventa, confirma a tendência217.
A particularidade da RMBH é a proximidade dessas áreas com o núcleo central. Morar
nos condomínios não significa prescindir dos serviços educacionais e culturais próprios
do grande centro: a região dos condomínios é expansão da zona sul – ver FIG. 6.7.
Vimos, nos capítulos anteriores, que a organização sócio-espacial da Região
Metropolitana de Belo Horizonte vem sofrendo alterações importantes, que não
constituem, no entanto, uma ruptura com seu processo histórico e suas
particularidades. Essas transformações têm se caracterizado principalmente por:
a) contínuo processo de periferização, com expansão territorial de assentamentos
característicos dos segmentos populares – os grupos sociais operários e populares se
movimentam continuamente para as periferias cada vez mais distantes;
b) auto-segregação das categorias dirigentes, acompanhada dos profissionais de
nível superior, nas áreas mais centrais de Belo Horizonte, as quais vêm passando por
um esvaziamento de populações operárias – a legislação urbanística historicamente
tem contribuído para esses processos;
c) espraiamento das classes médias pelo espaço belo-horizontino e parte de
Contagem, na região industrial, de onde são gradativamente expulsos os segmentos
mais populares;
216 Na composição das categorias sócio-ocupacionais do espaço caracterizado como “superior-polarizado”, onde se concentra parte significativa dos condomínios do eixo sul, permanece a densidade de profissionais liberais e aumenta a dirigentes públicos e dos empresários (neste último caso, a densidade triplica). 217 O empreendimento ainda foi implantado apenas parcialmente, e a área permanece vazia mas, segundo os empreendedores, o assentamento completamente implantado deverá comportar cerca de 50 mil residentes, número considerável, tendo em vista que a população total de Nova Lima era cerca de 60 mil, no ano de 2000.
198
199
d) continuum territorial dos processos apresentados – os espaços superiores
expandem-se na direção da Pampulha e para o sul, ao longo do eixo da BR-040, em
direção ao Rio de Janeiro; os espaços populares, por outro lado, vão se expandindo a
norte e noroeste, rumo às periferias mais distantes.
As transformações sócio-espaciais são resultado de movimentos populacionais que
vêm provocando a substituição de grupos sociais nas diversas áreas. Trata-se de uma
mobilidade descendente na estrutura social, produzida através da mobilidade
residencial, que vem resultando em mudanças na hierarquia do espaço geográfico. Em
outras palavras, a transformação no perfil das diversas áreas da região metropolitana
foi resultado das trocas entre os diversos grupos sociais em seu processo de
mobilidade residencial. Do ponto de vista macro-espacial, esse processo apresentou
um movimento contínuo de expulsão de grupos inferiores na hierarquia social na
direção das periferias mais distantes e a elitização do espaço belo-horizontino.
Do ponto de vista da dinâmica imobiliária, vimos a relevância do seu papel na
estruturação do espaço metropolitano e na criação de condições para o movimento
populacional apresentado. A concentração do segmento monopolista de provisão de
moradias na zona sul, a expansão do segmento concorrencial pelas áreas peri-centrais
de Belo Horizonte, a expansão pelas periferias mais distantes dos loteamentos
populares, prevalecentes como principal modelo de parcelamento nos anos oitenta, e,
por fim, a expansão e adensamento dos condomínios fechados, na expansão territorial
da zona sul, são mecanismos importantes de alteração na distribuição dos recursos
urbanos, e, portanto, de mobilidade residencial e de consolidação dos processos de
segregação sócio-espacial.
200
7. CONCLUSÕES
O desenvolvimento do trabalho aqui apresentado foi motivado pela necessidade de
responder algumas questões postas pelo debate gerado pela reestruturação produtiva
em nível mundial e seus impactos sobre as cidades218, particularmente sobre as
metrópoles brasileiras. Compreender a evolução dos recentes processos urbanos e
metropolitanos é fundamental para qualquer nível de intervenção ou de gestão das
políticas desenvolvidas nesses espaços.
O esforço de reflexão empreendido buscou desenvolver respostas para algumas das
questões formuladas no início do trabalho: tomando o caso concreto da metrópole
belo-horizontina, que impactos a reestruturação produtiva tem produzido? Que
alterações sócio-econômicas fundamentais têm se manifestado? Fundamentalmente,
tem havido mudanças nos processos de organização sócio-espacial da região? Que
tendências estão expressas nesses processos? As transformações manifestas
apontam para o aprofundamento da segregação sócio-espacial? Que fatores
contribuem? Até que ponto as mudanças e as tendências apontam para a
continuidade e o aprofundamento de processos anteriores ou, ao contrário, estariam
apontando para uma ruptura e o surgimento de uma nova estrutura urbana e
metropolitana?
As hipóteses iniciais apontavam para o fato de que a força das particularidades
históricas da RMBH imprimiram-lhe uma situação na divisão nacional e internacional
do trabalho ainda hoje baseada em uma estrutura de produção mais próxima daquela
que caracteriza o período fordista: em que pesem mudanças nas relações de
produção e o surgimento de novas formas de organização produtiva, a produção
industrial de bens intermediários e de bens duráveis e de capital ainda é predominante
na região. Deste modo, além da permanência de uma estrutura social própria dessa
realidade, a localização industrial veio consolidando tendências de estruturação do
território metropolitano. Como resultado, a hipótese principal era de permanência de
antigas tendências de organização sócio-espacial, em especial a prevalência do
218 Como vimos, segundo uma interpretação corrente na literatura internacional, a economia urbana estaria sendo reconfigurada em torno de um novo tipo de núcleo econômico, que abrange atividades financeiras e de serviços, principalmente produtivos, e que estaria substituindo o velho núcleo tipicamente industrial e comercial, com alterações relevantes na estruturação das cidades. Segundo King (1990), enquanto nos países ricos a ênfase mudou da produção para o desenvolvimento do produto (distribuição, propaganda e marketing), nos países pobres na periferia global as cidades ganharam importância como centros industriais.
201
padrão centro-periferia, entendido na literatura como uma dualidade, em que em um
pólo, a segregação da população pobre nas precárias periferias (produção extensiva
de loteamentos populares) e, no outro, a expansão nas áreas centrais da forma
empresarial de produção residencial (Lago,2000:36).
De fato, o crescimento industrial tem sido fator importante de estruturação do território
metropolitano de Belo Horizonte, desde os anos cinqüenta, quando os investimentos
na indústria haviam estimulado o mercado imobiliário e provocado um processo
especulativo de parcelamento da terra nas áreas a oeste da região. Nos anos setenta,
o mercado orientado para os segmentos de baixa renda atuou fortemente também na
direção norte, local de novos investimentos industriais do período. Nos anos oitenta,
esse mercado atinge as áreas mais periféricas da RMBH, resultando em grande
crescimento populacional nessas regiões durante os anos noventa.
De outro lado, a consolidação de Belo Horizonte como centro regional e o
conseqüente crescimento e concentração do setor terciário neste município219 têm
provocado impactos importantes sobre a sua estruturação urbana, basicamente
relacionado às mudanças de uso e encarecimento do solo nas áreas mais centrais220.
Também a consolidação, a partir dos anos setenta, da base industrial nas áreas a
oeste – região conhecida como eixo industrial – tem implicado importantes
investimentos públicos em infra-estrutura e na diferenciação da área, do ponto de vista
urbanístico, com impactos na sua estrutura sócio-espacial.
As alterações na estrutura produtiva têm impactos não apenas sobre a configuração
urbanística da região mas, fundamentalmente, sobre a sua estrutura social – na
realidade, espaço social e espaço geográfico são duas faces da mesma moeda, o
espaço habitado (ou apropriado) funcionando como uma espécie de simbolização
espontânea do espaço social (Bourdieu,1997:160).
A evolução da estrutura social da metrópole belo-horizontina na década de oitenta
apresentou, como vimos, dois movimentos importantes: de um lado, o maior
crescimento do pessoal ocupado em relação à população como um todo; de outro, a
219 Como vimos, 80% do PIB metropolitano devido aos serviços estão concentrados em Belo Horizonte. 220 ... quanto mais diversificado for [o complexo de serviços existentes na rede urbana], em cada área de mercado, mais valorizada esta se torna enquanto espaço localizado, tornando-se a verdadeira base para a formação da renda urbana (Lemos,M.,1988:296).
202
diminuição da participação do operariado industrial221 e maior participação de
segmentos vinculados ao terciário na composição da população ocupada. O
crescimento do setor terciário ocorreu em todos os seus ramos de atividade, com
impactos sobre as categorias médias, que, em parte, passaram do emprego formal
para o trabalho autônomo, e também sobre as categorias operárias e sub-proletárias,
cujas relações de trabalho vêm se precarizando, simultaneamente ao crescimento do
chamado mercado informal de trabalho.
As desigualdades se aprofundaram na década de oitenta, com queda geral dos
rendimentos, maior concentração das categorias dirigentes nas faixas de rendimento
mais alto, e maiores índices de ocupação nos segmentos superiores da estrutura
social.
A esse quadro corresponderam alterações na organização sócio-espacial. O espaço
metropolitano era, no início dos anos oitenta, menos complexo e com oposições mais
bem definidas. Os espaços periféricos eram mais rurais, embora a participação das
ocupações agrícolas no conjunto da estrutura produtiva já fosse muito pequena e,
havia, nesses espaços, uma mistura mais nítida com o operariado. Os segmentos
médios e superiores estavam absolutamente concentrados no município de Belo
Horizonte, na Zona Sul, na Pampulha e nas áreas pericentrais, e o operariado estava
predominantemente situado no eixo industrial. As mudanças durante a década foram
no sentido de um território socialmente mais mesclado, se observado em escala mais
localizada, mas com aprofundamento das distâncias sociais, se observado em escala
regional. As categorias dirigentes e os profissionais de nível superior permaneceram
concentrados nas áreas centrais da capital, com relativa desconcentração territorial.
Também os segmentos médios apresentaram um espraiamento em direção às
periferias imediatas dessas áreas centrais e, principalmente, em direção ao eixo
industrial. Os segmentos populares foram deslocados para periferias mais distantes.
A mescla social constituiu uma configuração geográfica que se expande em um
continuum, com os espaços superiores aumentando na direção da Pampulha e os
espaços mais populares se expandindo para as periferias norte e oeste,
principalmente. Os espaços centrais e peri-centrais se elitizaram.
221 A diminuição de participação do operariado industrial foi pequena, mas houve uma diferenciação interna: os operários da indústria tradicional cresceram um pouco abaixo da média, os de serviços auxiliares cresceram um pouco acima de média e a queda expressiva foi na participação dos operários da indústria moderna, cujo crescimento anual situou-se abaixo de 1% .
203
Em quase a metade das unidades espaciais em que a região metropolitana foi dividida
houve, durante a década de oitenta, alterações do espaço geográfico no sentido
ascendente, com tendências evidentes de uma nova composição social, superior em
relação a 1980. Este foi, no entanto, um movimento altamente concentrado: 74% das
unidades espaciais que apresentaram essas alterações encontram-se no município de
Belo Horizonte e 22% em Contagem, mais especificamente na região industrial.
As áreas que se tornaram com perfil mais popular são, em geral, áreas periféricas da
região metropolitana, ainda com significativa concentração de ocupações agrícolas,
ausência das categorias dirigentes e insignificante presença dos setores médios (à
exceção dos trabalhadores da saúde e educação nas unidades que constituem sedes
municipais), e onde o operariado industrial vem perdendo representação.
No entanto, do ponto de vista das populações, esta parece ter sido uma dinâmica
descendente, em que as classes médias se espraiam em direção às áreas operárias e
os segmentos operários se locomovem para áreas populares.
A dinâmica demográfica apresentou, nos anos oitenta, crescimento negativo ou abaixo
da média metropolitana nas áreas central e peri-central e maior crescimento nos eixos
oeste e norte, sendo que o norte atingiu as periferias mais distantes da região
metropolitana. Além disto surgiu um novo eixo de expansão, que abrange as áreas
externas à sede do município de Nova Lima, classificadas como espaço “Superior
Polarizado”, onde se concentram os condomínios fechados, e onde o crescimento
populacional foi superior a 7% ao ano, durante a década em estudo.
Nas favelas, o crescimento populacional foi diferenciado, apresentando relativo
esvaziamento daquelas localizadas nas áreas mais centrais e grande expansão e
adensamento daquelas localizadas nas periferias norte de Belo Horizonte: as favelas
da região mais central de Belo Horizonte e do eixo industrial cresceram a taxas
próximas da média metropolitana - um pouco abaixo ou acima - e as favelas da região
norte de Belo Horizonte e de Betim, tiveram crescimento anual superior a 9%.
Do ponto de vista sócio-espacial, as áreas de proletarização e as que se tornaram
mais populares estão, em geral, entre as que mais cresceram demográficamente e as
áreas de aburguesamento, ou seja, com adensamento de grupos médios e dirigentes,
ao contrário, estão entre as de crescimento anual baixo ou negativo, o que parece
estar relacionado ao padrão familiar de cada grupo social.
204
A dinâmica demográfica dos anos oitenta esteve marcada pelos movimentos
populacionais internos à região metropolitana. Constituíram suas principais
características: a mobilidade residencial predominantemente para áreas próximas ao
local de moradia e um fluxo que, no nível regional, configurou um movimento do centro
para a periferia, em processo de crescente segregação e distanciamento social.
Nos fluxos de entrada nas áreas nas áreas mais centrais, onde o saldo de mobilidade
foi negativo, houve predominância dos grupos de renda familiar mais alta; ao contrário,
a participação dos grupos familiares de baixa renda nos fluxos de entrada foi menor do
que a sua participação nos fluxos de saída. Nas áreas peri-centrais e periféricas, onde
o saldo da mobilidade foi positivo, predominou a entrada de grupos de menor renda.
Em síntese, a dinâmica demográfica da Região Metropolitana de Belo Horizonte
apresentou, na década de oitenta, dois movimentos; de um lado, o esvaziamento
populacional das áreas centrais e peri-centrais, simultâneo ao crescimento das áreas
mais periféricas; de outro, a predominância dos fluxos de saída das famílias de baixa
renda das áreas mais centrais em relação ao percentual dos seus fluxos de entrada
nessas áreas, bem como a relação inversa desses fluxos nas áreas mais periféricas.
Esse movimento é congruente com o fato de que a maior parte da mobilidade
residencial realizada pelas famílias foi descendente, isto é, a unidade espacial de
origem tem renda familiar média maior do que a da unidade espacial de destino.
A observação dos fluxos de entrada e de saída dos diversos grupos sociais, de e para
cada conjunto de unidades espaciais, mostrou que, assim como os fluxos são
predominantemente entre áreas fisicamente próximas, também do ponto de vista
social predomina a mobilidade de curta distância: por um lado, das áreas de
aburguesamento saíram e entraram principalmente os grupos familiares posicionados
nas categorias dirigentes e nos grupos médios. Por outro, nas áreas de proletarização
e nas que se tornaram mais populares o peso maior dos fluxos foi dos grupos
operários e populares.
Em linhas gerais, os movimentos mostram que a natureza dos fluxos teve forte
impacto sobre a organização sócio-espacial das diversas regiões do território
metropolitano. Houve uma relativa expansão das fronteiras das categorias dirigentes e
de profissionais de nível superior, em um movimento que foi, ao mesmo tempo de
aprofundamento dos processos de auto-segregação, na medida em que outros grupos
sociais saíram dessas áreas.
205
Os grupos médios tenderam à maior mistura social, seja para cima, mudando-se para
áreas em processo de aburguesamento, seja para baixo, mescando-se aos grupos
operários, isto é, mudando-se para áreas inferiores e em processo ascendente.
Os operários realizaram dois movimentos: um na direção do eixo industrial, onde a
evolução para um perfil mais classes médias resultou da mescla de segmentos médios
com operários da indústria moderna, e outro na direção norte e noroeste, nas
periferias de Belo Horizonte e municípios vizinhos, transformando essas áreas em um
perfil mais operário e menos popular.
A dinâmica imobiliária esteve fortemente relacionada a esses processos: o mercado
capitalista de produção de moradias na RMBH apresentou, na década de oitenta, uma
significativa expansão e forte diferenciação. Em 1991, os apartamentos “isolados ou
em condomínio”, típicos da produção capitalista, estavam quase totalmente
concentrados no município sede da região metropolitana, principalmente na área
central e sua vizinhança imediata. A produção dos anos oitenta no município de Belo
Horizonte apresentou as seguintes características principais:
a) aumento na participação dos apartamentos “isolados ou de condomínio”,
representativos do mercado capitalista de provisão de moradias, no conjunto das
unidades residenciais da região metropolitana;
b) a expansão do mercado monopolista de provisão de moradias apresentou-se, nos
anos oitenta, muito mais como tendência, permanecendo concentrado nos espaços
superiores e médio-superiores, lugares de distinção simbólica e de auto-segregação
das categorias dirigentes e intelectuais;
c) a expansão do mercado ocorreu predominantemente através do segmento
concorrencial, nas áreas peri-centrais, entre a zona sul e a Pampulha;
d) aumento do número de apartamentos nas áreas caracterizadas como de tipo médio
e operário-superior, em parte decorrente da produção de conjuntos habitacionais222.
O mercado de terras, acompanhando a lógica da produção capitalista de moradias,
caracterizou-se, nos anos oitenta, pela expansão dos loteamentos populares pelas
222 A produção de conjuntos habitacionais correspondeu, como vimos, aos dois eixos de expansão demográfica da região metropolitana: a oeste, área industrial e local de moradia dos operários do setor
206
áreas mais periféricas da região metropolitana e pela expansão do processo de auto-
segregação das categorias dirigentes, através dos condomínios fechados nas áreas
vizinhas à zona sul. O quadro de loteamentos aprovados na década mostra, de um
lado, a consolidação da dinâmica história de ocupação da região metropolitana nas
direções norte e oeste. Por outro lado, mantém o movimento de periferização e
anuncia para os anos noventa, a expansão na direção de áreas ainda mais
periféricas223.
Destaca-se, ainda, como particularidade daquela década, a expansão metropolitana
através de um novo tipo de loteamento, os sítios de recreio e condomínios fechados,
com destaque para a região sul: Brumadinho e Nova Lima concentram 62% do total de
lotes deste padrão aprovados entre 1980 e 1990. O processo de auto-segregação das
categorias dirigentes e profissionais de nível superior, discutido anteriormente, se
reproduz nesse padrão de loteamento, e a metrópole belo-horizontina apresenta como
particularidade a manutenção da centralidade física das áreas residenciais dos grupos
superiores na hierarquia social – até mesmo a expansão territorial desses grupos se
faz em áreas próximas ao centro, em um continuum territorial que, no caso dos
condomínios fechados, segue o eixo da BR-040, em direção ao Rio de Janeiro, na
seqüência da Avenida Nossa Senhora do Carmo, que se inicia na Savassi, centro
comercial da zona sul.
O papel da produção imobiliária nas alterações na estrutura sócio-espacial
metropolitana é uma questão para ser aprofundada em novas investigações, mas a
hipótese é de determinação do mercado imobiliário frente aos movimentos
populacionais. As mudanças no uso do solo constituem uma das formas privilegiadas
de antecipar renda fundiária. No uso residencial, a geração de espaços diferenciados,
símbolos de poder e prestígio e manifestação de status, vai constituir uma forma de
buscar o sobrelucro de inovação, permitido pelo preço de monopólio224. Por outro lado,
mudanças no uso do solo, com novos tipos de ocupação e de padrão de moradia
constitui uma forma de sobrelucro de antecipação. O mercado imobiliário constitui-se,
secundário, com predominância de moradia em apartamentos, e a norte, área de expansão periférica tradicional, lugar de moradia dos segmentos populares, onde predominam as casas. 223 Na década de 90, as maiores taxas de crescimento populacional estão nos municípios mais periféricos, a sudoeste, oeste e noroeste, com destaque para Esmeraldas, que cresceu a uma taxa de 20,7% ao ano. 224 Trata-se de “preços determinados apenas pelo desejo e pela capacidade de pagamento dos compradores, sem depender do preço geral de produção ou do valor dos produtos” (Marx, K., O capital, edição Abril Cultural, In Ribeiro,1997: 67)
207
então, na tradução, em preço do solo, dos processos de segregação nas cidades, ao
mesmo tempo em que é agente ativo na formação desses processos225.
A concentração do segmento concorrencial nos primeiros anos da década leva à
conclusão de que o mercado antecedeu os movimentos populacionais.
Fundamentalmente, a expansão imobiliária para as áreas peri-centrais promoveu
alterações na ocupação e no uso do solo, criando as condições para a mobilidade de
grupos sociais oriundos da zona sul em direção a estas áreas.
Em uma visão macro da região metropolitana os processos estudados mostram a
reprodução da dinâmica centro-periferia, com expansão da fronteira imobiliária
orientada para os segmentos de mercado compostos pelas categorias dirigentes e
classes médias, dentro de Belo Horizonte e na sua continuidade territorial a sul, e do
mercado de terras para os segmentos populares, na mais longínqua periferia da região
metropolitana.
Pode-se afirmar que as alterações sócio-espaciais manifestas não representam
ruptura na organização sócio-espacial da região, mas, ao contrário, consolidam
tendências expressas desde os primórdios da formação metropolitana, sobressaindo-
se o contínuo processo de periferização e o seu oposto, qual seja, o aprofundamento
da auto-segregação das categorias dirigentes nas áreas centrais.
A disponibilização dos dados do Censo Demográfico de 2000 (espera-se que em um
futuro próximo) permitirá a análise desses processos para os anos noventa. Algumas
observações preliminares, no entanto, permitem levantar a hipótese de
aprofundamento dos processos ocorridos nessa última década. Os dados da PNAD-
1999 mostraram maior polarização do espaço social da metrópole belo-horizontina,
com diminuição dos segmentos médios. Um conjunto de fatores concorrem para
consolidar esse quadro, destacando-se a diminuição da participação da RMBH no
conjunto da economia de Minas Gerais e o aumento, na estrutura de ocupação, da
participação dos setores de atividades que concentram pessoal menos qualificado e
com relações de trabalho, em geral, precarizadas. Esses grupos sociais, constituídos
pelo sub-proletariado e por trabalhadores pouco qualificados, têm cada vez menos
condições de permanecerem em áreas mais próximas do centro metropolitano. O seu
225 A lei de localização das operações da promoção privada é a maximização da taxa de lucro, sustentada essencialmente na procura pela máxima diferença entre o sobrelucro de localização e o preço do solo (Topalov,1984:171).
208
lugar de moradia é cada mais longe desse centro: são as periferias mais distantes,
com infra-estrutura precária, predominância do uso residencial e densidade
populacional em processo de intensificação.
Ao mesmo tempo, do outro lado da metrópole, o adensamento, observável a olho nu,
dos condomínios horizontais fechados, expansão dos espaços superiores na direção
sul, parece consolidar uma tendência de enclausuramento dos grupos sociais
superiores, particularmente a parcela das classes médias constituídas pelos
profissionais de nível superior. Trata-se, na realidade, do aprofundamento do processo
mais geral de segregação, que, de modo localizado, toma uma forma fragmentada e
polarizada: acompanhando a expansão dos condomínios, e nos seus interstícios, está
o crescimento de loteamentos populares, lugar de residência do sub-proletariado de
serviços domésticos e pessoais. Simultaneamente, novas centralidades são
esboçadas nesse território, espaços de serviços de grande porte, especializados e
sofisticados, orientados para um do pólos sociais – temas relevantes e instigantes
para novos estudos.
209
Abstract
This thesis chiefly aims at an understanding of the social-spatial configuration of the Belo Horizonte Metropolitan Area and its current forms of segregation, in the context of productive restructures and of resulting changes in the work market . There has been an attempt at a comprehensive analysis of the metropolitan area, starting from the Demographic Census Data of 1980 and 1991 and other research data, such as the Origin and Destiny Survey, promoted by the state government in 1992 and in the 80’s., all of which enable the observation of social and demographic structures as well as of population movement and distribution in the area. The starting point for the study was the construction of a representative category of the social hierarchy supported by the notion of the centrality of work for the structuring and functioning of society. As an instrument for the analysis of the geographic representation of the social space, a social-spatial typology was drawn. Factorial analysis was used in this construction. The metropolitan space was seen as a socially segregated one, with a descending hierarchical order, from the center to the periphery. The different areas present internal diversity, due to historical particularities. Nevertheless, the social structure of the metropolitan area as a whole has become more complex during the decade, and the metropolitan space has been more differentiated. Upper-class self-segregations has deepened, while the working classes have been continually expelled to more distant peripheries.
The study of residential mobility, which expresses the struggle for an improved location in the social-spatial hierarchy, shows that the negative population growth - or growth below the metropolitan average in central and peri-central areas- and the simultaneous high demographic expansion of peripheral areas. result from a populational movement inside the metropolitan region in the 80's . As a rule, the intense residential mobility which took place in that decade has resulted in a new mixture of social groups in the area, with alterations in the metropolitan socio-spatial organization.
One should also stress the territorial spread of the ruling classes, simultaneously with the comparative evacuation of popular and working-class groups from the more central areas. Middle-class groups have also spread, mixing with modern industrial workers and altering the social-spatial pattern, especially in the areas located along the industrial axis. Workers and sub-proletarian groups have been largely pushed away from the central metropolitan area. This central metropolitan area has been the object of an expansion of real state speculation oriented towards middle -class residential units. At the same time the territorial expansion of popular building lots towards the more distant peripheries keeps the working class movement in that direction. A new pattern of self-segregation likewise emerges with walled condominiums, which began to expand contiguously to upper class residential sections. In brief, no rupture has taken place in social-spatial structure processes in the Belo Horizonte Metropolitan Areas, in the 80s. On the contrary, the segregation tendencies which had existed from the very construction of the metropolis have been accentuated, especially as regards the continual pushing of lower- class segments to the periphery, corresponding to a movement in the opposite direction, namely, the deepening of the ruling classes' self-segregation in the central areas.
210
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78. PLAMBEL. A estrutura urbana da RMBH. Belo Horizonte: Plambel, 1985. 2 volumes. (vol.1 - o processo de formação do espaço urbano.172 p)
79. PLAMBEL. A estrutura urbana da RMBH Belo Horizonte: Plambel, 1985b. 2 volumes. (vol.2 - A estrutura atual. 232 p.)
80. PLAMBEL. O mercado da terra na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Belo Horizonte: Plambel, 1987. 212 p.
81. PLAMBEL. A Região Metropolitana de Belo Horizonte. Belo Horizonte: Plambel, 1994. 69 p.
82. POLANYI, Karl, A grande transformação: as origens da nossa época. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1980.
215
83. Prefeitura de Belo Horizonte. Plano Diretor de Belo Horizonte; Lei de Uso e Ocupação do Solo; Estudos Básicos. Belo Horizonte: PBH, 1995. 247p.
84. PRETECEILLE, Edmond; RIBEIRO, Luiz César de Queiróz. Tendências da Segregação Social em Metrópoles Globais e Desiguais: Paris e Rio de Janeiro nos anos 80. ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS, 12., Caxambu, 1998.
85. RIBEIRO, Luiz César de Queiróz. Dos cortiços aos condomínios fechados: as formas de produção da moradia na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.
86. RIBEIRO, Luiz César de Queiróz; SANTOS JÚNIOR; Orlando Alves (org.). Globalização, fragmentação e reforma urbana: o futuro das cidades brasileiras na crise. 2a ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.
87. RIBEIRO, Luiz césar de Queiróz. Cidade desigual ou cidade partida? Tendências da metrópole do Rio de Janeiro. In: RIBEIRO, L.C.Q. O futuro das metrópoles: desigualdades e governabilidade, Rio de Janeiro: Revan/ Observatório IPPUR/UFRJ-FASE, 2000. p. 63-98.
88. RIBEIRO, Luiz César de Queiróz; LAGO, Luciana Corrêa do. Restructuring in large Brazilian cities: the centre/periphery model. International Journal of Urban and Regional Research, n.19, 1995. p. 369-382.
89. RIBEIRO, Luiz César de Queiróz; LAGO, Luciana Corrêa do. O espaço social das grandes metrópoles brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, n. 3, 2000. p. 111-129.
90. RIGOTTI, José Irineu Rangel; RODRIGUES, Roberto do Nascimento. Distribuição Espacial da População na Região Metropolitana de Belo Horizonte. ENCONTRO DE ESTUDOS POPULACIONAIS, 9., 1994, Caxambu. Anais... v.1. p. 435-456.
91. ROCHA, Vicente Eustáquio; PENNA, Ana Adélia A. L. Alguns fatores determinantes do custo da terra urbana: o caso de Belo Horizonte, São Paulo: Fundação Prefeito Faria Lima - CEPAM, s/d. 23 p.
92. SAGMACS. Estrutura Urbana de Belo Horizonte. Belo Horizonte: Prefeitura de Belo Horizonte, 1959
93. SASSEN, Sassia. The global city: New York, London, Tokyo. Princeton University Press, 1991.
94. SASSEN, Saskia. Cities in a World Economy. Thousand Oaks/London/New Delhi: Pine Ford Press, 1994.
95. SMITH, Michael peter. The Global City: Whose Social Construct is it Anyway?. Urban Affairs Review, n. 33, 1998.
96. SMITH, Luiz Eduardo; GUARNIZO, Michael Peter. The Locations of Transnationalism. In: SMITH Michael Peter; GUARNIZO, Luiz Eduardo (ed.). Transnationalism from Below. New Brunswick and London: Transaction Publisher, 1998. p. 3-34.
97. SMOLKA, Martim Oscar. Estruturas intra-urbanas e segregação social no espaço: elementos para uma discussão da cidade na teoria econômica. Rio de Janeiro: Programa Nacional de Pesquisa Econômica-PNPE, 1983. (Série Fac-Simile, n.13, 2 vol.).
216
98. SOMARRIBA, Maria das Mercês G.; VALADARES, Maria Gezica; AFONSO, Mariza Rezende. Lutas urbanas em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Vozes / Fundação João Pinheiro, 1984.
99. SOUZA, José Moreira de; TEIXEIRA, João Gabriel. Desigualdade socioespacial e migração intra-urbana na Região Metropolitana de Belo Horizonte 1980-1991. Cadernos Metrópole Desigualdade e Governança, n.1. PRONEX-CNPq/ EDUC/ FAPESP, 1999. p. 100-133.
100. SOUZA, José Moreira de; TEIXEIRA, João Gabriel. Desvelando o espaço metropolitano: o sistema de unidades espaciais da RMBH e as unidades de análise das categorias sócio- ocupacionais. Belo Horizonte: mimeo, 2000.
101. TEIXEIRA, João Gabriel. As classes sociais no espaço urbano de Belo Horizonte. 1986. 179 p. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
102. TEIXEIRA, João Gabriel; SOUZA, José Moreira de; MENDONÇA, Jupira Gomes de. As Unidades Espaciais Homogêneas (UEH) da Região Metropolitana de Belo Horizonte 1980-1991. Belo Horizonte: CEURB/UFMG. 2001. (Relatório Parcial de Pesquisa)
103. TOPALOV, Christian. La urbanización capitalista: algunos elementos para su análisis. México D.F.: Ed. Edicol, 1978.
104. TOPALOV, Christian. Le profit, la rente et la ville: eléments de théorie. Paris: Economica, 1984.
105. VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Lincoln Institute/ Fapesp/ Studio Nobel, 1998.
217
ANEXO A CONSTRUÇÃO DAS CATEGORIAS OCUPACIONAIS
O primeiro recorte para a construção das Categorias sócio-ocupacionais foi a divisão
clássica de classes: detentores de capital versus despossuídos de capital. A partir daí,
foram feitos sucessivos cortes entre grande capital e pequeno capital, trabalho manual e
trabalho não-manual, trabalho formal e trabalho informal, e entre setores econômicos
(secundário x terciário, moderno x tradicional) – para maior detalhamento, ver Ribeiro e
(2000).
A ocorrência (simultânea) de certas condições de ocupação, escolaridade, renda, posição
na ocupação e ramo de produção - relacionados no quadro a seguir - delimita cada
categoria sócio-ocupacional.
Quadro 1 Composição das Categorias Sócio-ocupacionais
OCUPAÇÕES AGRÍCOLAS OCUPAÇÕES AGRÍCOLAS
Renda: abaixo de 20 salários mínimos Ocupação = • Empregador agrícola (agricultor conta própria/
operador agrícola/ trabalhador rural,/ trab. Rural peq. Animais, animais, pesca, madeira, lenha, carvão, borracha, erva mate, coleta
• Criador de pequenos animais • Criador de animais • Fazendeiro pecuarista • Proprietário da indústria vegetal • Ajudante diversos em agricultura/ extrativo e pesca
GRUPO DIRIGENTE
EMPRESÁRIOS Posição: empregador Renda: igual ou maior que 20 salários mínimos Ocupação: • empregador agrícola • Criador de pequenos animais • Criador de animais • Fazendeiro pecuarista • Proprietário da indústria vegetal • Proprietário da indústria extrativa • Empregador na indústria • Empregador construtor • Empregador comércio • Empregador hotelaria • Empregador transporte • Vendedor ambulante • Provedor de serviços • Logopedista etc.
• Analista computador • Analista econômico • Analista contábil • Analista organizacional • Psicólogo • Tabelião • Jornalista etc. • Artista plástico • Decorador • Provedor serviços lazer • Agrônomo • Veterinário • Desenhista • Geólogo
DIRIGENTES DO SETOR PÚBLICO Posição : empregado de carteira assinada ou funcionário
público estatutário Renda: igual ou maior que 20 salários mínimos
Ocupação: diplomata político Dirigente administração pública Juiz Promotor curador
218
DIRIGENTES DO SETOR PRIVADO Escolaridade: Superior Posição: empregado de carteira assinada Renda: igual ou maior que 20 salários mínimos Ocupação: Dirigente agricultura Dirigente extração vegetal Dirigente extração mineral Dirigente indústria transformação Dirigente construção civil
Dirigente comércio Dirigente serviços hotelaria Dirigente transporte Dirigente instituições financeiras Dirigente instituições de ensino
PROFISSIONAIS LIBERAIS Posição: Conta própria ou empregador Renda: igual ou maior que 20 salários mínimos
Ocupação: Engenheiro Arquiteto Médico Dentista Advogado
GRUPO INTELECTUAL PROFISSIONAIS AUTÔNOMOS DE NÍVEL SUPERIOR
Posição: conta própria Renda: menor que 20 salários mínimos
OU Posição: conta própria (independentemente de renda) Ocupação: Engenheiro agrimensor Carógrafo Químico Farmacêutico Físico Geólogo Meteorologista ocean. Agrônomo Biólogo Bacteriologista Veterinário Enfermeiro diplomado Logopedista etc. Residente hospital Atuário Estatístico Analista computador Analista econômico Analista contábil Analista organizacional Sociólogo
Ocupação: Engenheiro Arquiteto Médico Dentista Advogado
Antropólogo Psicólogo Demógrafo Agente social Cientista político Historiador Professor Pesq. Ensino Superior Docente Ensino Superior Professor Segundo Grau Professor Primeiro Grau Religiosos conta própria Jornalista etc. Diretor espetáculos Bibliotecário Arquivologista Analista de cargos etc. Piloto navegador Comissário de vôo Oficial técnico de marinha Técnico esportivo
PROFISSIONAIS EMPREGADOS DE NÍVEL SUPERIOR Escolaridade: Superior Posição: empregado de carteira assinada Renda: menor do que 20 salários mínimos
Ocupação: Dirigente extração mineral Dirigente indústria transformação Dirigente construção civil Dirigente comércio Dirigente serviços hotelaria Dirigente transporte Dirigente instituições financeiras
219
OU Posição: empregado de carteira assinada ou funcionário
público estatutário Ocupação: = Agentes fiscais Engenheiro agrimensor Carógrafo Químico Farmacêutico Físico Geólogo Meteorologista ocean. Agrônomo Biólogo Bacteriologista Veterinário Médico Dentista Enfermeiro diplomado Logopedista etc. Residente hospital Atuário Estatístico Analista computador Analista econômico Analista contábil Analista organizacional
OU
Escolaridade: Superior Ocupação: Orientador Educacional
OU
Posição: Empregado com carteira assinada
OU Posição: Funcionário público estatutário Escolaridade: Superior
OU Posição: Militar Ocupação: Oficial Militar Superior
Dirigente instituições de ensino Dirigente agricultura
Sociólogo Antropólogo Psicólogo Demógrafo Agente social Cientista político Historiador Professor Pesq. Ensino Superior Docente Ensino Superior Professor Segundo Grau Professor Primeiro Grau Religiosos Jornalista etc. Diretor espetáculos Bibliotecário Arquivologista Analista de cargos etc. Piloto navegador Comissário de vôo Oficial técnico de marinha Técnico esportivo Oficial militar superior Delegado etc.
Ocupação: Engenheiro Arquiteto Médico Dentista Advogado
Ocupação: Professor Pesq. Ensino Superior Docente Ensino Superior Professor Segundo Grau Professor Primeiro Grau
PEQUENA BURGUESIA PEQUENOS EMPREGADORES URBANOS
Posição: empregador Renda: menor que 20 salários mínimos Ocupação: Proprietário de indústria extrativa Empregador na indústria Empregador construtor Empregador comércio Empregador hotelaria Empregador transporte Vendedor ambulante Provedor de serviços
OU Posição: conta própria Ocupação: Provedor serviços lazer
Desenhista Analista contábil Analista organizacional Jornalista etc. Artista plástico Decorador Provedor serviços lazer
220
COMERCIANTES POR CONTA PRÓPRIA Ocupação: Serviços por conta própria
OU Renda: igual ou maior que 5 salários mínimos Ocupação: Feirante (não empregador) Aguadeiro Ambulante balas etc. / frutas e legumes / carnes etc.
Bilheteiro cambista Outros ambulantes Boleeiro
SETORES MÉDIOS TRABALHADORES NÃO-MANUAIS EM ATIVIDADES DE SUPERVISÃO
Renda: menor que 20 salários mínimos Posição: Empregados com carteira assinada ou
Funcionários Públicos estatutários
OU Escolaridade: Não Superior Renda: menor que 20 salários mínimos Posição: Empregado com carteira assinada
OU Ocupação: Chefias e assistentes Inspetores Assistentes administrativos Analista de qualidade Técnico de segurança no trabalho Corretor de seguros Dirigente comércio Dirigente serviços hotelaria
Ocupação: Diplomata político Dirigente Adm. Pública Juiz Promotor Curador
Ocupação: Dirigente agricultura Dirigente extração vegetal Dirigente extração mineral Dirigente indústria transformação Dirigente construção civil
Dirigente transporte Dirigente instituições financeiras Dirigente instituições de ensino Corretor de imóveis Operador no mercado financeiro Leiloeiro avaliador Controlador de tráfego Agentes e fiscais div.
TRABALHADORES NÃO-MANUAIS EM ATIVIDADES TÉCNICAS E ARTÍSTICAS Posição: Empregados com carteira assinada Ocupação: Ajudantes auxiliares Operador de telecomunicações Topógrafo Laboratorista Técnico meteorologista Auxiliar de radiologia Técnico contabilidade Auxiliar estatística Agente censitário Programador de computador Artista plástico Artesão Decorador Fotógrafo Músico Artista teatro rádio TV Artista de circo
OU Posição: Conta própria
Desenhista Agrimensor Comunicador Cinegrafista Cenotécnico Operador de estúdio Operador de imagem Técnico agrícola Técnico ext. mineral Técnico indústria Técnico de serviços públicos Técnico não especificado Telegrafista Atleta futebol Outros atletas Árbitro esportivo
Ocupação:
221
Desenhista Músico
TRABALHADORES NÃO-MANUAIS NAS ÁREAS DE SAÚDE E EDUCAÇÃO Ocupação: Farmacêutico prático Auxiliar fisioterapia Ótico Parteira Protético Técnico lab. Clínico
OU Escolaridade: Não Superior Posição: Funcionário público estatutário
OU Escolaridade: Não Superior
Professor Primeiro Grau inicial Professor Primeiro Grau Professor pré-escolar Instrutor Outros professores Bedel Auxiliar de serviço médico (não doméstico)
Ocupação: Professor Pesq. Ensino Superior Docente Ensino Superior Professor Segundo Grau Professor Primeiro Grau
Ocupação: Orientador educacional
PROFISSIONAIS NÃO MANUAIS EM ATIVIDADES DE ROTINA /ESCRITÓRIO Ocupação: Almoxarifes Conferentes despachador Datilógrafo ajudante Operador proc. Dados Secretário taquígrafo Ajudante contabilidade Operador de copiadora
Arquivista Atendente de serviços Ajudante administrativo Comprador Manipulante (correio) Telefonista Contínuo
TRABALHADORES NÃO-MANUAIS NAS ÁREAS DE SEGURANÇA PÚBLICA, JUSTIÇA E CORREIOS Posição: Empregados com carteira assinada
OU Ocupação: Escrivão Oficial de Justiça Auxiliar de cartório Agente de correio Praça militar
Ocupação: Tabelião
Membro do corpo de bombeiros Detetive e agente policial Guarda civil Agente penitenciário Datiloscopista
PROLETARIADO DO TERCIÁRIO TRABALHADORES DO COMÉRCIO
Ocupação: Balconistas atendentes Caixa recebedor Arrumador de prateleiras Demonstrador modelo Jornaleiro
OU Posição: empregado com carteira assinada
Ramo:
Comércio prod. Naturais / alimentos / vestuário / art.
Domésticos / art. Gráficos / art. Construção / aparelhos
/ art. Transportes / art. Químicos / combustíveis Ambulante Pequeno comércio Supermercados Loja de departamento Comércio de varejo
Caixeiro viajante Representante comercial Propagandista Agente de viagem etc.
Ocupação: Ajudante diversos
222
PRESTADORES DE SERVIÇO ESPECIALIZADO Posição: empregado com carteira assinada, conta
própria ou outros
Ramo: Comércio prod. Naturais / alimentos / vestuário / art.
Domésticos / art. Gráficos / art. Construção / aparelhos / art. Transportes / art. Químicos / combustíveis
Ambulante Pequeno comércio Supermercados Loja de departamento Comércio de varejo Hospedagem Restaurantes Assistência técnica – aparelhos Assistência técnica – veículos Reparação de móveis bombeiros Consertos especializados Serviços pessoais Alfaiataria Aluguel de roupas Lavanderia Serviços residenciais Serviços de segurança
E
Ocupação: Perfurador de poços Afiador Ferramenteiro Torneador mecânico Ajustador mecânico Ajudante mec veículos Ajudante mec máquinas Soldador Montador est metálicas Ferreiro Funileiro Lanterneiro Arreeiro coureiro Costureiro alfaiate Auxiliar costureiro Calceiro Camiseiro Bordadeira Sapateiro Ajudante ind. Calçados Marceneiro Carpinteiro Capoteiro Envernizador Bobineiro eletricista Montador eletricista Eletricista Eletrotécnico montador Eletrotécnico reparador
Emprego doméstico Jardineiro Serviços de diversões Serviços de comunicação Serviços jurídicos Serviços de contabilidade e ecn Processamento de dados Serviços de engenharia Publicidade Copiadoras Arte e decoração Investigação particular Agenciamento de mão de obra Serviços comerciais Serviços financeiros Caixa econômica Seguros Administração de imóveis Mercado financeiro Loteria Consórcios
Arrais timoneiro Maquinista de embarcação Caldeireiro em navio Marinheiro (civil) Camareiro Balseiro etc. Condutor Estivador Maquinista de trem met Guarda-linha Motorista Arrumadeira (hotel) Garçom Copeiro balconista Governanta não doméstica Maître de hotel maître - restaurantes cabelereiro barbeiro depilador manicure passadeira (não doméstica) aprendiz bilheteiro bombeiro (não corpo de) feitor capataz imunizador dedetizador jardineiro lubrificador operador de ab. água
223 Eletricista de instalações Inst. Equip. comunicação Eletricista manutenção Operador cent. Elétrica Bombeiro Vidraceiro assentador Empedrador Abatedor etc. Doceiro etc. Padeiro (empregado) Gráfico Impressor
operador at diversas atendente infantil (não doméstica) guarda sanitário Joalheiro Borracheiro Pintor industrial Empilheirista Caldeirista Acondicionador Técnicos industriais div Encadernador
PRESTADORES DE SERVIÇO NÃO-ESPECIALIZADO Posição: empregados com carteira assinada Ramo: Comércio prod. Naturais / alimentos / vestuário / art.
Domésticos / art. Gráficos / art. Construção / aparelhos / art. Transportes / art. Químicos / combustíveis Ambulante Pequeno comércio Supermercados Loja de departamento Comércio de varejo Hospedagem Restaurantes Assistência técnica – aparelhos Assistência técnica – veículos Reparação de móveis bombeiros Consertos especializados Serviços pessoais Alfaiataria Aluguel de roupas Lavanderia Serviços residenciais Serviços de segurança
Ocupação: Ajudante diversos
OU Ocupação: Porteiro etc. Ascensorista Guarda – vigia Servente faxineiro Vigilância privada
Serviços de comunicação Serviços jurídicos Serviços de contabilidade e ecn Processamento de dados Serviços de engenharia Publicidade Copiadoras Arte e decoração Investigação particular Agenc de mão de obra Serviços comerciais Serviços financeiros Caixa econômica Seguros Administração de imóveis Mercado financeiro Loteria Consórcios Emprego doméstico Jardineiro Serviços de diversões
PROLETARIADO DO SECUNDÁRIO
OPERÁRIOS DA INDÚSTRIA MODERNA Posição: empregados com carteira assinada, conta
própria ou outros Ramo1: indústria metais Equipamentos mecânicos Equipamentos elétricos Acessório veículos Papel e papelão Acessórios borracha Insumos químicos
E
Derivados petróleo Plásticos e fibras Indústria farmacêutica Perfumaria Indústria do fumo Indústria gráfica Petróleo
1 Classificação da PNAD como “Indústria de Transformação Dinâmica”
224 Ocupação: Operador petróleo Ajudante ind. Têxtil Técnico ind. Siderúrgica Operador ind. Siderúrgica Trefilador – ind.arames Ajudante – ind.siderúrgica Galvanizador Afiador Polidor de metral Ferramenteiro Cunhador de moedas Prensador de metal Fresador Torneador mecânico Ajustador mecânco Ajudante mec veículos Ajudante mec máquinas Soldador Montador est metáclicas Caldereiro Ferreiro Funileiro Lanterneiro Cardador Fiador (têxtil) Aux li;çadeira urdidor Tecelão Tintureiro (ind.têxtil) Arreeiro coureiro Costureiro alfaiate Auxiliar costureiro Marceneiro Carpinteiro Lixador torneiro Serrador de madeira Capoteiro Envernizador Bobineiro eletricista Montador eletricista Eletricista Eletrotécnico montador Eletrotécnico reparador Eletricista de instalações Inst. Equip. comunicação Pintor industrial
Forneiro em olaria Empilheirista Borracheiro Recauchutador Processador de fumo Charuteiro Caldeirista Acondicionador Ajudante ind. Papel Ajudante ind borracha e plástico Técnicos industriais div Arrais timoneiro Maquinista de embarcação Caldeireiro em navio Marinheiro (civil) Camareiro Balseiro etc. Maquinista trem met Guarda-linha Motorista Conservador ferrovias Aprendiz Bombeiro (não corpo de) Feitor capataz Lubrificador Operador de ab.água Eletricista manutenção Operador cent. Elétrica Bombeiro Vidraceiro assentador Padeiro (empregado) Alambiqueiro etc. Ajudante ind. Cacau chá Linotipista Gráfico Clicherista Impressor Revisor gráfico Encadernador Acabador ind. Gráfica Vidraceiro (fabricação) Ceramista Decorador ceramista Operador atividades diversas Ajudante diversos
OPERÁRIOS DA INDÚSTRIA TRADICIONAL Posição: empregado com carteira assinada ou outros Ramo2: Indústria de transformação Indústria de madeiras Fabricação de móveis Couro Produtos plásticos Produtos de fibra Indústria vestuário Indústria calçados
Alimentos Pedras Águas e sal Pedras preciosas Minerais radioativos Minérios Metais – extração e beneficiamento
2 Classificação da PNAD como “Indústria de Transformação Tradicional”
225 Indústria Indústria de bebidas Indústria de construção Carvão mineral
E Ocupação: Trabalhador rural-madeira Minerador Trabalhador rural – erva mate Operador mineração Ajudante indústria têxtil Técnico indústria siderúrgica Operador indústria siderúrgica Trefilador – ind.arames Ajudante – ind.siderúrgica Galvanizador Polidor de metral Ferramenteiro Cunhador de moedas Prensador de metal Fresador Torneador mecânico Ajustador mecânco Ajudante mec veículos Ajudante mec máquinas Soldador Montador est metáclicas Caldereiro Ferreiro Funileiro Lanterneiro Cardador Binador (têxtil) Fiador (têxtil) Rendeira Aux liçadeira urdidor Tecelão Tapeceiro Tarrafeiro Tintureiro (ind têxtil) Estampador Acabador de tecidos Arreeiro coureiro Curtidor Costureiro alfaiate Auxiliar costureiro Calceiro Camiseiro Figurinista Cortador Bordadeira Chapeleiro Ajudante ind. Calçados Bolseiro Marceneiro Carpinteiro Lixador torneiro Serrador de madeira Moedor de café etc. Ajudante ind. Pescados Ajudante indústria cacau e chá
Mineração não especificada Vime Rendas e rede
Prensista de madeira Capoteiro Colcheiro Envernizador Cesteiro Bobineiro eletricista Montador eletricista Eletricista Eletrotécnico reparador Eletricista de instalações Instal de eq. Comunicação Eletricista manutenção Operador cent. Elétrica Bombeiro Vidraceiro assentador Fiambreiro etc. Carniceiro charqueador Abatedor etc. Mantegueiro etc. Doceiro etc. Patisseiro etc. Padeiro (empregado) Moendeiro Caldeador de açucar Alambiqueiro etc. Linotipista Gráfico Clicherista Impressor Revisor gráfico Encadernador Acabador ind. Gráfica Vidraceiro (fabricação) Ceramista Decorador ceramista Forneiro em olaria Joalheiro Lapidador Borracheiro Vassoureiro (fab) Pintor industrial Empilheirista Caldeirista Acondicionador Ajudante ind borracha e plástico Operador inst.cimento Técnicos industriais div Arrais timoneiro Maquinista de trem met Guarda-linha Motorista Conservador ferrovias Aprendiz Bombeiro (não corpo de)
226 Ajudante indústria óleos vegetais Cozinhador
Lubrificador Operador de ab. água Operador atividades diversas
TRABALHADORES MANUAIS DE SERVIÇOS AUXILIARES Posição: empregado com carteira assinada, conta
própria ou outros Ramo: Eletricidade Gás Água e esgoto Lixo Pequeno transporte Transporte público Transporte de carga Transporte terrestre Transporte marítimo Transporte aéreo
E Ocupação: Perfurador de poços Afiador Ferramenteiro Torneador mecânico Ajustador mecânco Ajudante mec veículos Ajudante mec máquinas Soldador Montador est metáclicas Ferreiro Funileiro Lanterneiro Costureiro alfaiate Marceneiro Carpinteiro Capoteiro Bobineiro eletricista Montador eletricista Eletricista Eletrotécnico reparador Eletricista de instalações Instal de eq. Comunicação Eletricista manutenção Operador cent. Elétrica Bombeiro (não corpo de) Gráfico Impressor Encadernador Borracheiro Pintor industrial Empilheirista Caldeirista Acondicionador Estivador
OU Funcionário público estatutário lixeiro
Transporte urbano Correios Telefones Armazéns Serviços diversos Administração financeira Serviços de transporte Org de serv de transporte Serviços navegação Serviços auxiliares
Agente estação de trem Agente ou chefe de trem Maquinista de trem met Foguista de trem Guarda freios Guarda-linha Motorista Trocador de ônibus Carteiro Garçom Copeiro balconista Maitre – restaurantes Cabelereiro Barbeiro Manicure Passadeira (Não doméstica) Aprendiz Bilheteiro Bombeiro (não corpo de) Feitor capataz Jardineiro Lixeiro Lubrificador Técnicos industriais div Arrais timoneiro Maquinista de embarcação Caldeireiro em navio Marinheiro (civil) Camareiro Balseiro etc. Condutor Operador de ab. água Operador at diversas
TRABALHADORES MANUAIS DA CONSTRUÇÃO CIVIL Posição: empregado com carteira assinada, conta
própria ou outros Ramo: Construção
Ocupação:
227 Trabalhador ext pedras Operador mineração Perfurador de poços Mestre de obras Técnico indústria siderúrgica Afiador Torneador mecânico Ajustador mecânco Ajudante mec veículos Ajudante mec máquinas Soldador Montador est metáclicas Ferreiro Funileiro Marceneiro Carpinteiro Bobineiro eletricista Montador eletricista Eletricista Eletrotécnico reparador Eletricista de instalações Eletricista manutenção Operador cent. Elétrica
Ladrilheiro Bombeiro Vidraceiro assentador Empedrador Calafate Concretista draguista Marmorista (fab) Pintos industrial Empilheirista Caldeirista Técnicos industriais div Maquinista de trem met Motorista Aprendiz Lubrificador Operador de ab. água Operador at diversas Trabalhador conserv. Rodovias Armador de ferros Pedreiro Ajudante pedreiro Ajudante pintor Estucador Ajudante diversos
ARTESÃOS Posição: conta própria Ocupação: Artista plástico Artesão Costureiro alfaiate Chapeleiro Sapateiro
Marceneiro Carpinteiro Capoteiro Joalheiro
SUB-PROLETARIADO
EMPREGADOS DOMÉSTICOS Ocupação: Arrumadeira doméstica Babá Cozinheira doméstica Diarista doméstica Lavadeira doméstica Governante / mordomo
Serviços domésticos Atendente doméstico Auxiliar serviço médico (doméstico) Motorista (doméstico) Jardineiro (doméstico Passadeira (doméstica)
AMBULANTES Renda: menor do que 5 salários mínimos Ocupação: Feirante (não empregador) Aguadeiro Ambulante balas etc./ frutas e legumes/carnes/ etc.
Bilheteiro cambista Outros ambulantes
BISCATEIROS
Posição: empregado com carteira assinada
OU Posição: conta própria
Ocupação: Engraxate Fogueteiro Guardador de carros
Ocupação: Ajudante diversos
228
ANEXO B UNIDADES ESPACIAIS HOMOGÊNEAS (UEH): METODOLOGIA DE REGIONALIZAÇÃO
DA RMBH
A regionalização da RMBH foi desenvolvida a partir da estrutura de unidades espaciais
elaborada pelo Plambel3 em 1981 e revista após o Censo Demográfico de 1991. Esta
estrutura compõe-se de um conjunto de unidades espaciais, que definem diferentes níveis
de aproximação da realidade metropolitana, "à luz de relações e processos que sustentam
o dinamismo e a diferenciação do espaço, conferindo identidade e significação às partes
(unidades espaciais)" (Plambel, 1984:2). A identificação dessas unidades espaciais foi feita
através de pesquisa de campo e do estudo do processo histórico de formação da RMBH. O
ponto de partida é a centralidade representada pelo Centro Metropolitano e pela Cidade
Industrial, regiões que, juntas, concentram os bens, serviços e "rede de fluxos da região"
(Op.cit.:4). A intensidade com a qual os diversos lugares são "comprometidos" com o
processo metropolitano, isto é, se articulam com essa região dotada de centralidade,
permitiu a identificação de macro-unidades espaciais4, a partir das quais foram feitos
sucessivos recortes, definindo as "Unidades Espaciais de 2o Nível de Aproximação",
"Unidades Espaciais de 3o Nível de Aproximação" e os "campos", "quarto nível de
aproximação", entendido como "território dotado de significação e identidade próprias, sob a
ação de força(s) que o estrutura(m) internamente e determina(m) sua inserção no todo"
(Plambel, op.cit.:1). Os Campos, "unidades de vida urbana", não têm atributo de
homogeneidade ou heterogeneidade, mas de referência interna e identidade. Referenciar-
se neles para estabelecer o recorte espacial da RMBH permitiu incorporar, nesse recorte,
relações intra-metropolitanas e processos de formação do espaço metropolitano. Os
campos foram ainda desagregados em Áreas Homogêneas, compatíveis com os Setores
Censitários do IGBE.
Nesse percurso, explicitam Souza e Teixeira (2000),
“duas categorias assumem especial atenção: centralidade e homogeneidade fundando as noções de campo e área homogênea. Uma e outra se complementam para a compreensão do espaço vivido, aquele pelos quais os cidadãos da cidade lutam no dia a dia e se tornam sujeitos
3 O Plambel - Superintendência de Desenvolvimento da Região Metropolitana, criado em 1974, foi o órgão responsável pelo planejamento da Região Metropolitana de Belo Horizonte até 1998, quando foi extinto, tendo produzido diversos estudos e pesquisas sobre a região. 4 São elas: Núcleo Central, Área pericentral, Pampulha, Eixo Industrial, Periferias, Franja, Área de Expansão Metropolitana e Área de Comprometimento Mínimo.
229 políticos em seu pleno sentido, independente das orientações da ordem distante prescreverem formas desejadas de participação ou aceitação” (Souza e Teixeira, 2000:6).
As Áreas Homogêneas então definidas, eram compatíveis com os Setores Censitários de
1980 e foram posteriormente revisadas, para nova compatibilização com o Censo
Demográfico de 1991. Deste modo, os 3.308 setores censitários de 1991 foram agregados
em 886 Áreas Homogêneas (AH).
A partir dessa base de unidades espaciais do Plambel, foram definidas unidades espaciais
que pudessem representar uma certa homogeneidade interna e ao mesmo tempo
apresentar tamanho que contivesse consistência estatística no tratamento dos micro-dados
dos Censos Demográficos. Para isto, estabeleceu-se que, para 1991, quando a amostra do
Questionário 2 do Censo foi de 10%, a unidade espacial para agregação de dados deveria
ter um número mínimo de seis mil pessoas ocupadas. Além disto, foram definidos ainda os
critérios de contiguidade espacial5 e compatibilidade com os limites municipais6.
Desta forma, as unidades espaciais definidas (denominadas Unidades Espaciais
Homogêneas - UEH) agrupam Áreas Homogêneas contíguas, com perfil social e urbanístico
semelhante7.
As favelas foram agrupadas em Unidades Espaciais por região no município, e aqui o
critério de contiguidade não prevaleceu. A importância de tratar separadamente as favelas
está relacionada à sua existência no meio de bairros de classes médias ou das elites, em
regiões que são, portanto, muito heterogêneas, cujo perfil constituiria uma média entre
áreas muito diferentes.
Foi possível mapear as favelas de Belo Horizonte, Contagem e Betim, municípios para os
quais estavam disponíveis mapas digitais de setores censitários e que continham em 1991
5 Com exceção dos aglomerados de favelas e da UEH-89 (Imbiruçu), em Betim. 6 Em que pese a perda de determinados processos metropolitanos que não se limitam às divisas municipais, este critério permite a agregação de dados em unidades administrativas autônomas e, como tal, podem ser utilizados pelos governos locais, muito embora a opção pelo corte municipal tenha resultado, em alguns casos, no agrupamento de realidades distintas, algumas delas mais articuladas a processos metropolitanos do que propriamente ao município a que pertencem - na dinâmica metropolitana ocorre, muitas vezes, o "transbordamento" de processos de determinados municípios sobre outros e, desta maneira, algumas unidades resultantes mostraram, no limite do município, uma certa heterogeneidade. 7 A delimitação das UEH foi resultante de uma análise qualitativa, em trabalho conjunto com dois pesquisadores que são profundos conhecedores do espaço metropolitano: Prof. João Gabriel Teixeira, do Centro de Estudos Urbanos da UFMG e Prof. José Moreira de Souza, da Fundação João Pinheiro. O trabalho de delimitação das unidades espaciais constituídas de favelas contou ainda com a participação da Profa. Berenice Martins Guimarães, pesquisadora do Ceurb/UFMG.
230
Figura 1 - Unidades Espaciais Homogêneas de Favelas
UEH FAVELAS
0 10
Kilometers
20
a quase totalidade das favelas da região metropolitana8. As unidades espaciais de favela
foram então agregadas por proximidade espacial, constituídas de setores censitários com
mais de 90% de domicílios favelados, no caso das regiões Centro-Sul e Leste de Belo
Horizonte, e com mais de 70% de domicílios favelados no caso das demais regiões de Belo
Horizonte, além de Contagem e Betim9.
Estabelecidas as UEH com os dados populacionais de 1991, foram necessários ajustes
posteriores para compatibilização com os números do Censo Demográfico de 198010.
Várias unidades existentes em 1991 eram despovoadas em 1980, tratando-se, em geral, de
conjuntos habitacionais criados nos anos oitenta, e foi preciso reagrupar as Áreas
Homogêneas em novas UEH11. Alguns municípios ficaram contidos em uma só Unidade
Espacial, dado o seu pequeno número de habitantes, resultando, inclusive em exceções à
regra de uma população ocupada mínima de 6 mil pessoas - estes foram os casos dos
municípios de Rio Acima e Raposos12.
8 Recursos da FAPEMIG me permitiram contratar a digitalização do mapa de Áreas Homogêneas do Plambel, o qual tem servido de base cartográfica não só da tese e da pesquisa na qual estou envolvida, como também de outras pesquisas, inclusive da Fundação João Pinheiro, órgão que herdou o acervo e os técnicos do Plambel após a sua extinção. 9 Para o tratamento de informações em favelas da RMBH veja-se [Guimarães, 2000 #24] e [Guimarães, 1999 #25]. 10 A compatibilização dos setores censitários para os dois anos já havia sido realizada pelo Plambel. 11 Ver Teixeira et al. (2001). 12 Também Mário Campos e Sarzedo constituem uma UEH com população ocupada menor do que 6.000 pessoas, mas trata-se dois distritos emancipados em 1995, constituindo dois novos municípios. Há ainda a exceção da UEH-107, “Expansão de Betim”, que constitui toda a área rural e de expansão do município de
231 Foram delimitados 121 Unidades Espaciais Homogêneas (UEH) em toda a Região
Metropolitana de Belo Horizonte, entre as quais dez constituem aglomerados de favelas,
oito em Belo Horizonte, uma em Betim e uma em Contagem. A relação das Unidades
Espaciais Homogêneas, bem como sua localização municipal e nas macro-regiões
encontra-se apresentada no quadro a seguir.
A população ocupada máxima em uma UEH para 1991 é de 24.000 pessoas, com a
exceção da UEH-77 (“São Benedito/Conjuntos”, em Santa Luzia), que tinha 33.817 pessoas
ocupadas em 1991 e que foi resultado da redefinição das unidades espaciais para agregar
áreas despovoadas em 1980.
Para 1980, o número mínimo de pessoal ocupado por Unidade Espacial é 2.500 pessoas, à
exceção do município de Rio Acima, tendo-se encontrado, ainda, um máximo de 16.200
pessoas ocupadas na UEH-18 (Pompéia/São Geraldo, em Belo Horizonte).
Betim, com uma realidade diferente da sede municipal, tanto quanto das áreas vinculadas ao parque industrial do município.
232
233 Quadro 2
Relação das Unidades Espaciais Homogêneas, Macro-região e Município
UEH NOME MACRO-REGIÃO MUNICÍPIO 1 Centro Centro/Zona Sul Belo Horizonte 2 São Lucas/Savassi Centro/Zona Sul Belo Horizonte 3 Barro Preto/Lourdes Centro/Zona Sul Belo Horizonte 4 Carlos Prates/Santo André Peri-Centro Belo Horizonte 5 Senhor Bom Jesus/Santo André Peri-Centro Belo Horizonte 6 Floresta Peri-Centro Belo Horizonte 7 Santa Teresa Peri-Centro Belo Horizonte 8 Novo São Lucas/Santa Efigênia Peri-Centro Belo Horizonte 9 Mangabeiras/Serra Centro/Zona Sul Belo Horizonte
10 Cruzeiro/Anchieta Centro/Zona Sul Belo Horizonte 11 Sion/Belvedere Centro/Zona Sul Belo Horizonte 12 Cidade Jardim/São Pedro Centro/Zona Sul Belo Horizonte 13 Prado/Calafate Peri-Centro Belo Horizonte 14 Cachoeirinha Peri-Centro Belo Horizonte 15 Renascença Peri-Centro Belo Horizonte 16 Sagrada Família Peri-Centro Belo Horizonte 17 Horto Peri-Centro Belo Horizonte 18 Pompéia/São Geraldo Peri-Centro Belo Horizonte 19 Flamengo/Vera Cruz Peri-Centro Belo Horizonte 20 Mansões/Santa Lúcia/São Bento Centro/Zona Sul Belo Horizonte 21 Barroca/Gutierrez/Grajaú Centro/Zona Sul Belo Horizonte 22 Monsenhor Messias/Celeste Império Peri-Centro Belo Horizonte 23 Padre Eustáquio/Coração Eucarístico Peri-Centro Belo Horizonte 24 Caiçara Peri-Centro Belo Horizonte 25 Aparecida/São Francisco Peri-Centro Belo Horizonte 26 Cidade Nova Peri-Centro Belo Horizonte 27 Ipiranga/Santa Cruz Peri-Centro Belo Horizonte 28 Casa Branca/Boa Vista Peri-Centro Belo Horizonte 29 Santa Inês/Nova Vista Peri-Centro Belo Horizonte 30 Ana Lúcia Periferias Sabará 31 Jardim América Peri-Centro Belo Horizonte 32 Alto dos Pinheiros/Santa Maria Eixo Industrial Belo Horizonte 33 Califórnia Periferias Belo Horizonte 34 Ipanema Periferias Belo Horizonte 35 Jaraguá/Aeroporto Pampulha Belo Horizonte 36 Aarão Reis/Primeiro de Maio Periferias Belo Horizonte 37 São Marcos Periferias Belo Horizonte 38 Nova Barroca/Salgado Filho Peri-Centro Belo Horizonte 39 Nova Cintra/Vista Alegre Eixo Industrial Belo Horizonte 40 Jardinópolis/Nova Gameleira Eixo Industrial Belo Horizonte 41 Maria Emília Periferias Belo Horizonte 42 Alípio de Melo/Serrano Periferias Belo Horizonte 43 Ouro Preto/São Luís Pampulha Belo Horizonte 44 São Bernardo/Santo Inácio Pampulha Belo Horizonte 45 Planalto/Clóris/Itapoã Pampulha Belo Horizonte 46 Maria Goretti/São Paulo Periferias Belo Horizonte 47 Gorduras Periferias Belo Horizonte 48 Betânia Peri-Centro Belo Horizonte 49 Bairro das Indústrias/Adalberto Pinheiro Eixo Industrial Belo Horizonte
234 UEH NOME MACRO-REGIÃO MUNICÍPIO 50 Barreiro de Cima/Pilar Eixo Industrial Belo Horizonte 51 Cidade Industrial Eixo Industrial Contagem 52 Água Branca Eixo Industrial Contagem 53 Pindorama Periferias Belo Horizonte 54 Leblon/Jardim Atlântico Pampulha Belo Horizonte 55 Floramar Periferias Belo Horizonte 56 Tupi/R. Abreu Periferias Belo Horizonte 57 São Gabriel Periferias Belo Horizonte 58 Barreiro de Baixo/Milionários Eixo Industrial Belo Horizonte 59 Conjunto Teixeira Dias/Miramar Eixo Industrial Belo Horizonte 60 Bairro Industrial 3a Seção Eixo Industrial Contagem 61 Amazonas/Inconfidentes Eixo Industrial Contagem 62 Santa Cruz/ Glória Eixo Industrial Contagem 63 Eldorado/JK Eixo Industrial Contagem 64 CEASA Periferias Contagem 65 Ressaca/Nacional Periferias Contagem 66 Céu Azul Periferias Belo Horizonte 67 Lagoa/Rio Branco Periferias Belo Horizonte 68 Santa Mônica Periferias Belo Horizonte 69 Venda Nova Periferias Belo Horizonte 70 Barreiro de Cima Eixo Industrial Belo Horizonte 71 Tirol Eixo Industrial Belo Horizonte 72 Lindéia Eixo Industrial Belo Horizonte 73 Riacho Velho Eixo Industrial Contagem 74 Riacho Novo Eixo Industrial Contagem 75 Novo Eldorado Eixo Industrial Contagem 76 Serra Verde Periferias Belo Horizonte 77 S. Benedito/Conjunto Periferias Santa Luzia 78 Vale do Jatobá Eixo Industrial Belo Horizonte 79 Independência Mineirão Expansão Metropolitana Belo Horizonte 80 Durval de Barros/Jatobá Eixo Industrial Ibirité 81 Contagem/Núcleo Eixo Industrial Contagem 82 Contagem/Expansão Eixo Industrial Contagem 83 Justinópolis Periferias Ribeirão das Neves 84 Maria Helena Periferias Ribeirão das Neves 85 Lagoinha/Nova América Periferias Belo Horizonte 86 Nova América/SESC Periferias Belo Horizonte 87 Jardim Europa Periferias Belo Horizonte 88 FIAT/Petrobrás Eixo Industrial Betim 89 Imbiruçu Eixo Industrial Betim 90 Aeroporto Internacional Expansão Metropolitana Contagem 91 Vargem das Flores Eixo Industrial Betim 92 Centro - Betim Eixo Industrial Betim 93 Ribeirão das Neves - sede Expansão Metropolitana Ribeirão das Neves 94 Pedro Leopoldo - Centro Comprometimento Mínimo Pedro Leopoldo 95 Expansão Pedro Leopoldo Comprometimento Mínimo Pedro Leopoldo 96 Vespasiano Expansão Metropolitana Vespasiano/ São José da Lapa 97 Santa Luzia – Sede Expansão Metropolitana Santa Luzia 98 Caeté Comprometimento Mínimo Caeté 99 Sabará Expansão Metropolitana Sabará
100 General Carneiro Periferias Sabará
235 UEH NOME MACRO- REGIÃO MUNICÍPIO 101 Raposos Expansão Metropolitana Raposos 102 Rio Acima Expansão Metropolitana Rio Acima 103 Centro-Nova Lima Expansão Metropolitana Nova Lima 104 Expansão-Nova Lima Expansão Metropolitana Nova Lima 105 Ibirité Eixo Industrial Ibirité 106 Mário Campos/Sarzedo Expansão Metropolitana Mário Campos/Sarzedo 107 Expansão de Betim Expansão Metropolitana Betim 108 Juatuba/Expansão Mateus Leme Expansão Metropolitana Mateus Leme/ Juatuba 109 Igarapé/São Joaquim de Bicas Expansão Metropolitana Igarapé/São Joaquim de Bicas 110 Brumadinho Expansão Metropolitana Brumadinho 111 Esmeraldas Comprometimento Mínimo Esmeraldas 112 Favelas da Zona Sul Favelas Belo Horizonte 113 Favelas do Barroca/ Nova Suiça Favelas Belo Horizonte 114 Favela do Padre Eustáquio Favelas Belo Horizonte 115 Favelas de Santa Efigênia Favelas Belo Horizonte 116 Favelas do Eldorado/ Favelas Contagem 117 Favelas do Barreiro/ Cidade Industrial Favelas Belo Horizonte 118 Favelas da Cabana Favelas Belo Horizonte 119 Favelas Venda Nova/Norte Favelas Belo Horizonte 120 Favelas São Gabriel/ Gorduras Favelas Belo Horizonte 121 Favelas de Betim Favelas Betim
236
ANEXO C METODOLOGIA DE CONSTRUÇÃO DA TIPOLOGIA SÓCIO-ESPACIAL
A tipologia construída como instrumento para classificar o espaço metropolitano segundo as
posições sociais relativas tomou como base as categorias sócio-ocupacionais e sua
representação espacial. A tipologia sócio-espacial expressa a densidade de representação
das diversas categorias e sua combinação no espaço metropolitano13.
Para a sua construção foi utilizada a Análise Fatorial de Correspondências de forma a
verificar os índices de “variância” das categorias sócio-profissionais. Em outras palavras, a
identificação de uma regularidade da representação das categorias no espaço da RMBH
permitiu identificar áreas homogêneas entre si, do ponto de vista da composição sócio-
ocupacional14.
O método foi primeiramente aplicado ao conjunto de dados de 1991, para o qual foram
encontrados dois eixos de menor variância, agregando 73% dos componentes que as
explicam15: o fator 1 explica 57% da variância e o fator 2 explica 16 %.
O primeiro fator mostra a oposição fundamental de classe no espaço metropolitano de Belo
Horizonte: os profissionais de nível superior empregados contribuem com 32% da formação
do eixo, no lado positivo, seguidos pelos pequenos empregadores (8%) e os empresários
(7%); do outro lado, os operários da construção civil têm o maior peso, contribuindo com
11%.
O segundo fator opõe a polarização entre uma composição de agrícolas, empresários e
categorias populares (operários da construção civil e empregadas domésticas, que juntos
contribuem 57% para a formação do lado positivo do eixo), aos setores médias,
13 É importante lembrar que foram excluídos quatro municípios que não faziam parte da Região Metropolitana em 1980, de modo que as tipologias resultantes para aquele ano pudessem ser comparadas com aquelas de 1991. Os dados disponibilizados pelo IBGE para 1980 abrangem os 14 municípios que constituíram a Região Metropolitana de Belo Horizonte criada Lei Complementar (federal) nº 14, de junho de 1973. A Constituição Estadual de 1989 incorporaria quatro novos municípios: Brumadinho, Esmeraldas, Igarapé e Mateus Leme, estes dois últimos, por sua vez desmembrados na década de noventa, gerando dois novos municípios, respectivamente São Joaquim de Bicas e Juatuba. 14 A origem da construção desse método remonta a metodologia desenvolvida por Chenu e Tabard (data) no início dos anos noventa para o território francês e posteriormente trabalhada por Edmond Preteceille em Paris, Luiz César de Queiróz Ribeiro para o Rio de Janeiro e, recentemente, através de pesquisa apoiada pelo PRONEX em várias metrópoles brasileiras, sob a coordenação de Ribeiro.
237 representados aqui pelos empregados de escritório (14% de contribuição no lado negativo
do eixo).
O gráfico de correspondência binária, levando em conta os dois fatores, mostra que, de um
lado, as categorias agrícolas estão fortemente destacadas no espaço fatorial, isto é,
bastante afastadas do centro de gravidade16. Do outro lado destacam-se categorias do
grupo dirigente (dirigentes do setor privado, profissionais liberais e empresários). Em um
segundo nível, destacam-se, de um lado, o grupo intelectual (profissionais de nível superior,
autônomos e empregados) e, de outro, os operários da construção civil e os operários da
indústria tradicional. Essas são as categorias que vão se destacar na criação de uma
identidade das diversas porções do espaço metropolitano.
Os clusters encontrados a partir desta primeira análise fatorial apontaram três grandes
grupos de unidades espaciais heterogêneas entre si17. Um destes grupos, com 10 unidades
espaciais mostrou forte homogeneidade interna e foi destacado dos demais. Novas análises
fatoriais foram então realizadas para cada um dos dois outros grupos, com os seguintes
resultados: o primeiro grupo apresentou dois fatores principais de variância (58% e 13%) e
o último grupo apresentou maior dispersão entre os fatores de variância (37%, 20% e 10%).
Vejamos com mais detalhes cada uma das análises.
A segunda análise fatorial mostrou uma estruturação ainda fortemente marcada pela
oposição de classe (ou frações de classe): o fator 1, responsável por 58% da variância, é
composto, de um lado, pelo operariado (trabalhadores de serviços especializados, operários
da indústria moderna e da indústria tradicional e operários da construção civil) e de outro,
pelos segmentos mais altos dos setores médios (pequenos empregadores, profissionais
superiores empregados e empregados de supervisão). Novamente, o fator que mais explica
a estruturação espacial da região metropolitana é representativo, como era de se esperar,
de uma hierarquia social dada pelas classes sociais. O segundo fator (responsável por 13%
da variância) apresentou uma oposição no mundo do trabalho: operários da indústria
moderna, de um lado, e operários de serviços não especializados e da construção civil,
além de empregadas domésticas, de outro lado.
15 Os eixos representam “fatores” que explicam as variâncias, ou seja as semelhanças e diferenças sócio-espaciais. 16 É importante destacar que, se as ocupações agrícolas são relevantes do ponto de vista qualitativo, por definir o espaço periférico, por outro lado a sua participação no total da população ocupada da RMBH era, em 1991, de apenas 1,2% (excluídos os municípios que não faziam parte da região metropolitana em 1980), mesmo percentual, aliás, que o verificado em 1980. 17 O método mostra as áreas mais próximas ou mais longínquas entre si em relação às demais, classificando o espaço fatorial.
238 A terceira análise foi realizada para o grupo de unidades espaciais, o qual agrega as favelas
e os espaço periféricos da região metropolitana. A análise fatorial mostrou oposições
específicas no interior desses espaços. O primeiro fator, que contribui 37% para explicar a
estruturação sócio-espacial mostra uma polarização entre espaços populares e espaços
periféricos mais heterogêneos18. O segundo fator, responsável por 20% da variância,
mostra uma oposição entre o operariado e os setores populares. O terceiro agrega setores
operários da indústria (moderna e tradicional) e populares de um lado e, de outro, um
conjunto de ocupações agrícolas, segmentos médios e operários de serviços
especializados. O primeiro e o terceiro fator são representativos de uma hierarquia
metropolitana, que opõe espaços periféricos, em parte heterogêneos, a espaços mais
urbanos.
Os clusters de ambas as análises permitiram um número expressivo de cortes, isto é,
mostraram grande número de unidades espaciais com homogeneidade interna e grande
heterogeneidade entre cada conjunto de unidades homogêneas. A segunda análise, por
exemplo, feita com um grupo de 73 unidades espaciais apresentou seis grupos com grau de
variância interna de 10% e uma variância externa de 90%.
Optou-se por trabalhar inicialmente com um número maior de tipos resultantes, nomeando-
os, segundo um conhecimento qualitativo do espaço metropolitano, por "famílias" de
categorias populares e de categorias operárias, para posterior agregação mais sintética dos
grupos. Desta maneira, a análise da morfologia sócio-espacial da Região Metropolitana de
Belo Horizonte em 1991 foi iniciada com 15 tipos, posteriormente sintetizados em 10 tipos, a
partir da análise da composição interna de cada um deles, com agregação daqueles que
revelaram muita semelhança relativa à composição das categorias sócio-ocupacionais.
18 Alguns espaços periféricos são integralmente constituídos por limites de municípios (aqueles que não têm população grande o suficiente para serem sub-divididos) e, portanto, apresentam maior heterogeneidade.
239 ANEXO D
Densidade(*) de representação das categorias sócio-ocupacionais
por UEH – 1980 e 1991 UEH Ano TIPO sócio-espacial Tipologia de
Evolução Agrícolas Empresários Dirigentes
Públicos Dirigentes Privados
Profissionais Liberais
Pequenos Empregadores
Comerciantes Conta Própria
Profissionais Superiores Autônomos
Profissionais superiores Empregados
Empregados de Supervisão
Técnicos e Artistas
Empregados Saúde e Educação
Empregados Escritório
Empregados Segurança/ Correios
Empregados Comércio
Trabalhadores Serviços Especializados
Trabalhadores Serviços Não Especializados
Operários Indústria Moderna
Operários Indústria Tradicional
Operários Serviços Auxiliares
Artesãos Operários Construção Civil
Empregadas Domésticas
Ambulantes Biscateiros Total
1 1980 Médio Superior 0.37 2.14 3.09 1.14 3.42 1.66 0.77 3.48 2.97 1.93 2.06 1.30 2.29 0.90 0.82 0.30 0.22 0.15 0.06 0.23 0.94 0.05 1.03 0.45 0.07 1.00 1 1991 Médio Superior
Permanência 0.48 2.46 2.87 1.29 3.80 1.53 1.10 3.68 3.33 2.40 1.66 1.19 1.53 1.15 0.91 0.40 0.26 0.08 0.09 0.21 0.61 0.07 0.96 0.41 0.00 1.00
2 1980 Superior 0.42 6.58 6.43 6.19 7.07 2.22 0.58 4.14 3.58 1.72 1.40 1.27 1.26 0.79 0.42 0.23 0.19 0.07 0.02 0.05 0.71 0.04 2.15 0.41 0.10 1.00 2 1991 Superior
Permanência 0.52 8.34 6.25 9.82 16.55 2.21 0.48 5.13 5.12 1.42 1.40 1.10 0.79 0.51 0.58 0.18 0.11 0.09 0.03 0.15 0.19 0.06 1.52 0.35 0.50 1.00
3 1980 Superior 0.30 5.28 5.31 3.92 4.86 2.41 0.77 3.30 2.86 2.03 1.71 1.28 1.65 1.05 0.73 0.34 0.25 0.18 0.14 0.13 0.69 0.05 1.43 0.26 0.23 1.00 3 1991 Superior
Permanência 0.59 8.18 5.04 7.92 4.00 2.42 0.73 4.10 4.03 1.83 1.70 1.22 1.05 1.15 0.69 0.28 0.16 0.12 0.04 0.07 0.32 0.06 1.19 0.50 0.00 1.00
4 1980 Médio 0.09 0.45 0.66 0.20 0.35 1.91 1.28 1.42 1.06 1.63 1.83 1.38 1.87 0.85 1.41 1.07 0.53 0.46 0.46 0.54 1.64 0.20 0.65 1.38 0.73 1.00 4 1991 Médio Superior
Aburguesamento 0.13 0.81 1.53 1.20 0.51 1.92 0.94 2.90 2.39 1.56 1.90 1.20 1.48 1.12 1.06 0.87 0.54 0.41 0.39 0.54 1.22 0.15 0.59 0.72 0.14 1.00
5 1980 Médio 0.09 0.67 0.67 0.00 0.44 1.38 0.96 0.69 0.71 1.06 1.15 1.11 1.62 0.74 1.48 1.43 0.73 0.68 0.99 0.97 1.19 0.45 0.67 1.35 0.55 1.00 5 1991 Médio
Aburguesamento 0.21 0.30 0.86 0.00 1.13 1.78 1.02 1.08 0.94 1.35 1.27 0.94 1.17 0.98 1.40 1.27 0.74 0.70 1.06 0.71 1.23 0.30 0.72 1.28 0.64 1.00
6 1980 Médio Superior 0.28 1.45 1.86 0.88 1.76 1.87 0.96 1.93 2.17 1.76 1.56 1.44 1.65 0.52 1.34 0.81 0.48 0.34 0.26 0.49 1.12 0.20 1.01 0.58 0.39 1.00 6 1991 Médio Superior
Permanência 0.11 1.38 2.93 0.51 1.73 2.10 1.13 2.74 2.67 1.74 1.67 1.73 1.42 0.95 1.05 0.56 0.39 0.28 0.37 0.38 0.93 0.23 0.67 0.72 0.00 1.00
7 1980 Médio Superior 0.08 1.05 1.33 1.17 0.83 1.43 0.96 1.38 1.80 1.61 1.71 1.50 1.79 1.58 1.01 0.81 0.63 0.24 0.33 0.68 1.24 0.28 0.99 0.63 0.62 1.00 7 1991 Médio Superior
Aburguesamento 0.24 1.71 1.94 0.00 0.64 1.46 0.74 1.77 2.68 1.61 2.08 1.36 1.35 1.60 0.91 0.50 0.49 0.35 0.13 0.46 0.88 0.35 1.17 1.02 0.91 1.00
8 1980 Médio Superior 0.13 0.38 1.11 0.53 0.73 0.80 1.28 2.10 1.74 1.37 1.30 1.76 1.49 1.60 0.88 1.00 1.08 0.42 0.39 0.86 0.92 0.43 0.99 0.66 1.14 1.00 8 1991 Médio Superior
Aburguesamento 0.21 0.91 2.91 0.51 1.71 1.26 0.68 1.99 2.13 1.37 1.56 1.26 1.60 1.35 0.94 0.80 0.77 0.36 0.48 0.59 0.86 0.49 0.87 0.64 0.60 1.00
9 1980 Superior 0.30 6.58 8.29 7.90 10.13 1.94 0.41 4.42 4.05 1.87 1.29 1.36 0.90 0.31 0.48 0.21 0.24 0.07 0.05 0.04 0.46 0.16 2.19 0.22 0.20 1.00 9 1991 Superior
Permanência 0.72 9.75 10.19 10.28 10.11 2.64 0.55 4.58 4.36 2.00 1.29 1.14 0.81 0.42 0.44 0.21 0.18 0.05 0.04 0.14 0.39 0.09 1.34 0.28 0.27 1.00
10 1980 Superior 0.33 4.74 6.31 4.85 7.46 2.17 0.47 5.03 3.87 1.80 1.34 1.45 1.16 0.66 0.65 0.24 0.15 0.04 0.04 0.08 0.51 0.08 2.06 0.04 0.00 1.00 10 1991 Superior
Permanência 0.32 5.81 11.64 8.37 6.42 2.17 0.67 3.26 4.52 1.95 1.35 1.54 1.10 0.68 0.69 0.20 0.06 0.14 0.06 0.09 0.26 0.05 1.23 0.37 0.00 1.00
11 1980 Superior 0.30 7.65 9.62 10.14 9.08 2.62 0.40 3.94 4.75 1.59 1.12 0.93 0.88 0.38 0.46 0.13 0.17 0.03 0.07 0.08 0.27 0.09 2.25 0.00 0.00 1.00 11 1991 Superior
Permanência 0.72 10.14 2.71 15.33 7.90 2.74 0.63 6.54 4.85 1.25 1.38 1.55 0.69 0.21 0.50 0.09 0.07 0.08 0.06 0.08 0.35 0.07 1.64 0.06 0.00 1.00
12 1980 Superior 0.34 5.45 5.67 6.25 5.25 1.98 0.67 3.76 3.81 1.63 1.32 1.10 1.07 0.46 0.52 0.23 0.45 0.09 0.12 0.11 0.48 0.29 2.11 0.22 0.08 1.00 12 1991 Superior
Permanência 0.16 6.87 8.62 9.02 8.03 2.89 0.46 6.44 4.66 1.81 1.62 0.95 0.85 0.41 0.43 0.18 0.15 0.05 0.06 0.08 0.44 0.09 1.42 0.18 0.00 1.00
13 1980 Médio Superior 0.31 1.69 2.93 1.46 1.21 2.20 0.86 2.44 2.25 1.82 1.84 1.85 1.56 3.23 0.86 0.51 0.41 0.34 0.25 0.36 1.24 0.11 1.04 0.51 0.28 1.00 13 1991 Médio Superior
Aburguesamento 0.25 2.86 3.04 1.59 0.67 2.25 1.06 3.98 2.74 1.63 2.11 1.36 1.53 0.97 0.97 0.36 0.23 0.29 0.23 0.29 0.81 0.14 0.94 0.50 0.38 1.00
14 1980 Médio 0.26 0.57 0.23 0.36 0.00 1.13 0.88 1.12 0.93 1.23 1.33 1.36 1.65 0.65 1.43 1.31 0.60 0.83 1.33 0.79 0.85 0.43 0.53 0.73 0.13 1.00 14 1991 Médio
Permanência 0.24 0.52 0.49 0.00 0.00 1.31 1.62 0.82 1.15 1.26 1.50 1.21 1.69 0.93 0.98 1.03 0.43 0.50 1.32 0.65 0.83 0.48 0.66 0.75 0.55 1.00
15 1980 Médio 0.17 0.38 0.75 0.38 0.22 1.72 1.29 1.38 1.40 1.47 1.69 1.44 1.75 1.51 1.30 1.12 0.59 0.46 0.71 0.60 1.15 0.22 0.67 0.70 0.14 1.00 15 1991 Médio Superior
Aburguesamento 0.17 0.74 2.09 0.82 2.07 1.62 1.51 1.75 1.96 1.60 1.60 1.49 1.51 1.59 1.21 0.76 0.57 0.35 0.51 0.44 0.94 0.19 0.70 0.40 0.97 1.00
16 1980 Médio Superior 0.22 0.72 1.05 0.40 0.69 1.65 0.99 1.27 1.85 1.84 1.40 1.46 1.73 0.42 1.23 0.86 0.53 0.38 0.48 0.76 1.46 0.24 0.87 1.01 0.57 1.00 16 1991 Médio Superior
Aburguesamento 0.10 0.85 1.20 1.89 0.00 1.84 0.52 1.85 2.48 2.19 1.74 1.29 1.63 0.31 0.95 0.67 0.51 0.46 0.41 0.62 0.70 0.13 0.79 0.60 0.45 1.00
17 1980 Médio 0.21 0.23 1.00 0.19 0.44 1.10 1.09 0.87 1.30 1.31 1.68 1.43 1.71 0.79 1.37 0.96 0.56 0.55 0.48 2.20 1.11 0.29 0.59 0.66 0.96 1.00 17 1991 Médio Superior
Aburguesamento 0.15 0.32 0.45 0.00 0.60 1.00 1.08 1.39 2.07 1.56 1.66 1.51 1.79 0.75 0.99 0.83 0.62 0.55 0.45 0.96 1.20 0.26 0.61 0.75 0.00 1.00
18 1980 Médio 0.18 0.13 0.29 0.44 0.38 0.74 1.20 0.69 0.68 0.90 1.25 1.52 1.51 1.48 1.35 1.20 1.01 0.59 0.69 1.31 1.11 0.59 0.77 1.21 0.94 1.00 18 1991 Médio
Permanência 0.40 0.21 0.30 0.47 0.00 0.97 0.91 1.01 0.80 1.11 1.36 1.38 1.51 1.68 1.17 1.09 1.27 0.41 0.65 0.91 1.31 0.64 0.70 0.93 0.34 1.00
19 1980 Operário Popular 0.39 0.07 0.00 0.00 0.00 0.51 1.12 0.24 0.36 0.56 0.62 1.23 1.10 1.85 1.09 1.34 1.87 0.59 0.77 1.25 0.94 1.17 0.89 1.12 0.77 1.00 19 1991 Operário
Proletarização 0.47 0.66 0.00 0.00 0.00 0.74 0.81 0.53 0.35 0.56 0.62 1.26 1.13 1.73 0.90 1.22 1.82 0.63 0.91 1.13 0.95 1.17 0.93 1.40 2.63 1.00
20 1980 Superior 0.44 5.13 7.32 16.90 7.05 2.43 0.17 3.01 4.10 1.50 0.83 1.07 0.67 0.34 0.42 0.15 0.27 0.13 0.05 0.15 0.19 0.41 2.55 0.06 0.00 1.00
20 1991 Superior Permanência
0.33 8.07 6.42 12.60 11.69 2.69 0.41 5.06 4.50 1.50 0.78 0.95 0.69 0.41 0.61 0.27 0.36 0.12 0.11 0.19 0.30 0.27 1.59 0.22 0.45 1.00
240 UEH Ano TIPO sócio-espacial Tipologia de
Evolução Agrícolas Empresários Dirigentes
Públicos Dirigentes Privados
Profissionais Liberais
Pequenos Empregadores
Comerciantes Conta Própria
Profissionais Superiores Autônomos
Profissionais superiores Empregados
Empregados de Supervisão
Técnicos e Artistas
Empregados Saúde e Educação
Empregados Escritório
Empregados Segurança/ Correios
Empregados Comércio
Trabalhadores Serviços Especializados
Trabalhadores Serviços Não Especializados
Operários Indústria Moderna
Operários Indústria Tradicional
Operários Serviços Auxiliares
Artesãos Operários Construção Civil
Empregadas Domésticas
Ambulantes Biscateiros Total
21 1980 Superior 0.57 5.08 4.25 5.73 5.74 2.75 0.55 4.51 3.80 1.77 1.58 1.33 1.31 0.67 0.57 0.21 0.18 0.11 0.09 0.08 0.64 0.07 1.77 0.37 0.00 1.00 21 1991 Superior
Permanência 0.48 4.28 7.03 6.02 8.03 2.44 0.92 3.76 3.95 1.91 1.60 1.51 1.15 0.69 0.70 0.23 0.13 0.14 0.04 0.14 0.61 0.09 1.21 0.21 0.00 1.00
22 1980 Médio 0.22 0.56 0.00 0.00 0.46 1.87 1.36 0.91 1.10 1.50 1.59 1.30 1.45 1.33 1.43 1.11 0.52 0.80 0.69 0.95 1.50 0.30 0.64 1.29 0.29 1.00 22 1991 Médio Superior
Aburguesamento 0.47 0.40 1.69 1.77 1.49 1.90 0.78 1.42 1.44 1.50 2.25 1.21 1.69 0.72 1.35 0.66 0.34 0.46 0.64 0.85 0.72 0.26 0.71 0.69 0.42 1.00
23 1980 Médio Superior 0.17 0.95 1.04 1.19 0.46 1.70 1.03 1.37 2.00 1.76 1.95 1.65 1.85 1.28 1.27 0.70 0.42 0.41 0.39 0.57 0.72 0.24 0.70 0.85 0.28 1.00 23 1991 Médio Superior
Aburguesamento 0.22 1.77 1.67 4.20 1.77 1.89 1.43 1.97 3.10 1.62 2.00 1.30 1.54 0.76 1.02 0.53 0.32 0.29 0.27 0.24 0.60 0.17 0.73 1.00 0.13 1.00
24 1980 Médio 0.18 0.60 0.87 0.50 0.57 1.60 1.42 1.05 1.30 1.52 1.42 1.28 1.61 0.80 1.32 1.06 0.50 0.59 0.82 0.74 1.23 0.40 0.68 1.37 0.59 1.00 24 1991 Médio Superior
Aburguesamento 0.07 1.57 0.81 1.27 0.00 2.17 0.94 1.81 1.90 1.51 1.61 1.44 1.50 0.82 1.24 0.78 0.41 0.45 0.52 0.55 0.86 0.23 0.77 0.85 0.45 1.00
25 1980 Médio 0.06 0.45 0.42 0.80 0.00 0.83 1.21 0.72 0.66 1.08 1.00 0.97 1.22 1.19 1.21 1.27 0.98 0.81 1.24 1.25 1.07 0.64 0.82 2.08 1.71 1.00 25 1991 Médio
Permanência 0.15 0.79 0.00 0.00 0.59 1.41 0.71 0.63 0.81 0.95 1.67 1.15 1.66 1.08 1.26 1.22 1.01 0.67 0.86 0.76 1.04 0.49 0.47 1.38 0.50 1.00
26 1980 Superior 0.37 5.18 1.54 4.13 1.01 2.58 0.90 3.45 3.67 2.00 1.72 0.98 1.34 0.87 0.90 0.36 0.27 0.22 0.25 0.30 0.70 0.17 1.23 0.34 0.21 1.00 26 1991 Superior
Permanência 0.17 3.26 5.65 4.84 3.40 3.76 0.67 2.59 3.49 2.03 2.14 1.01 1.25 0.46 0.82 0.27 0.10 0.22 0.12 0.24 0.33 0.17 0.83 0.23 0.19 1.00
27 1980 Médio 0.17 0.11 0.00 0.00 0.00 1.04 0.91 0.56 0.54 0.75 0.96 0.99 1.25 1.04 1.41 1.62 0.87 0.79 1.53 1.26 1.29 0.71 0.58 1.16 0.69 1.00 27 1991 Médio
Permanência 0.21 0.91 0.32 0.00 0.00 0.92 1.33 1.36 0.73 1.16 1.36 1.24 1.37 0.78 1.11 1.20 0.97 0.67 1.12 0.95 1.20 0.59 0.57 1.25 1.21 1.00
28 1980 Operário Popular 0.12 0.09 0.00 0.00 0.00 0.82 0.71 0.10 0.24 0.74 1.16 1.20 1.16 1.65 1.43 1.36 1.34 0.69 0.83 2.02 0.92 0.80 0.78 0.88 0.81 1.00 28 1991 Operário
Diversificação Ascendente 0.16 0.17 0.00 0.00 0.00 0.77 1.28 0.55 0.50 0.62 0.74 0.89 1.18 1.06 1.51 1.28 1.15 0.66 0.93 1.11 1.51 0.81 1.15 0.76 0.55 1.00
29 1980 Médio 0.18 0.74 0.53 0.20 0.00 1.43 1.18 0.83 0.96 1.08 1.33 1.34 1.27 1.38 1.26 1.24 0.89 0.50 0.72 1.32 1.17 0.62 0.84 0.94 0.15 1.00 29 1991 Médio
Permanência 0.09 0.38 0.00 0.00 0.00 0.90 1.39 1.65 1.15 1.36 1.97 1.53 1.59 1.50 1.42 1.12 0.56 0.36 0.55 0.73 1.31 0.31 0.55 0.83 0.00 1.00
30 1980 Operário Popular 0.17 0.00 0.00 0.00 0.00 0.37 0.94 0.72 0.18 0.39 0.45 0.82 0.66 1.57 1.19 1.56 1.43 0.58 0.84 1.71 0.54 1.74 0.95 1.17 2.05 1.00 30 1991 Operário
Proletarização 0.51 0.18 0.00 0.00 0.00 0.43 0.96 0.14 0.23 0.90 0.83 0.73 1.17 1.82 1.18 1.31 1.36 0.99 0.85 1.11 0.87 1.20 0.99 0.96 0.38 1.00
31 1980 Médio Superior 0.15 0.84 1.28 0.99 0.65 1.60 0.99 1.84 1.73 1.56 1.53 1.42 1.22 0.77 1.07 0.81 0.81 0.53 0.54 0.72 1.40 0.59 1.07 0.74 0.70 1.00 31 1991 Médio Superior
Aburguesamento 0.18 0.88 2.86 1.12 0.00 1.99 0.96 1.30 2.69 1.72 1.53 1.59 1.19 0.95 0.99 0.61 0.62 0.40 0.46 0.35 0.68 0.47 0.89 0.67 0.40 1.00
32 1980 Médio 0.23 0.06 0.42 0.00 0.18 0.89 1.11 0.43 0.62 1.11 1.31 1.16 1.38 0.92 1.21 1.19 0.95 1.16 0.94 1.11 1.35 0.67 0.70 1.25 0.69 1.00 32 1991 Médio
Permanência 0.13 0.28 0.00 0.00 0.00 1.08 0.97 1.21 1.15 1.29 1.35 1.30 1.32 1.30 1.15 1.24 0.86 1.14 0.72 0.74 1.05 0.62 0.47 1.22 0.59 1.00
33 1980 Médio 0.15 0.22 0.00 0.42 0.16 0.89 1.01 0.19 0.60 0.98 1.14 1.06 1.24 1.02 1.53 1.35 0.91 0.77 1.03 1.29 1.31 0.74 0.72 1.15 0.90 1.00 33 1991 Médio
Permanência 0.31 0.56 0.00 0.49 0.00 1.10 1.14 0.62 0.65 0.94 1.26 1.04 1.31 1.04 1.15 1.07 0.78 0.90 1.09 1.01 1.74 0.78 0.79 1.18 0.94 1.00
34 1980 Operário Popular 0.22 0.37 0.00 0.00 0.18 0.77 0.99 0.14 0.20 0.68 0.73 0.81 0.88 1.28 1.55 1.47 1.06 0.92 1.33 1.21 1.56 1.03 0.83 1.59 0.99 1.00 34 1991 Operário
Diversificação Ascendente 0.29 0.12 0.35 0.00 0.00 1.04 1.25 0.79 0.55 1.06 0.85 0.81 1.19 1.44 1.14 1.27 0.86 0.82 1.26 0.85 1.13 0.90 0.82 0.94 1.72 1.00
35 1980 Médio 0.22 1.87 1.33 1.02 1.17 1.70 0.75 0.55 0.97 1.36 1.08 1.07 1.09 1.35 1.20 1.07 0.78 0.61 0.87 1.40 0.88 0.66 0.96 1.12 2.48 1.00 35 1991 Médio Superior
Aburguesamento 0.07 1.98 0.87 0.68 0.57 2.33 0.66 1.09 1.86 1.16 1.02 1.14 1.23 1.15 1.18 0.89 0.84 0.44 0.46 0.84 0.87 0.44 1.03 0.76 0.81 1.00
36 1980 Operário Popular 0.13 0.07 0.00 0.00 0.00 0.44 1.24 0.25 0.18 0.48 0.50 0.93 0.76 0.97 1.25 1.41 1.54 0.76 1.24 1.50 1.42 1.31 0.93 1.95 0.39 1.00 36 1991 Operário
Proletarização 0.15 0.00 0.00 0.00 0.00 0.93 0.95 0.26 0.31 0.68 0.70 0.84 1.36 1.24 1.07 1.38 1.30 0.88 1.31 1.34 1.34 0.82 0.77 1.08 0.70 1.00
37 1980 Operário Popular 0.22 0.16 0.27 0.00 0.24 0.49 0.52 0.18 0.34 0.71 0.71 0.84 1.03 2.05 1.51 1.51 1.07 0.67 1.17 1.23 1.35 0.99 0.92 1.31 1.17 1.00 37 1991 Médio
Mais classes médias 0.14 0.30 0.43 0.00 0.57 1.23 0.72 0.48 0.75 0.81 1.44 0.76 1.37 1.98 1.16 1.33 1.17 0.69 0.87 0.76 0.87 0.69 0.89 0.72 1.29 1.00
38 1980 Operário Popular 0.12 0.44 0.87 0.00 0.25 0.79 1.28 0.50 0.66 0.94 0.64 1.26 1.17 1.62 1.18 1.36 1.17 0.68 0.92 1.02 1.15 1.06 0.69 1.02 1.11 1.00 38 1991 Médio
Mais classes médias 0.37 0.31 1.77 0.00 0.59 0.86 1.18 1.24 1.24 1.37 1.55 1.14 1.37 1.01 1.06 1.12 0.91 0.83 0.55 0.65 1.03 0.88 0.62 0.63 0.66 1.00
39 1980 Operário 0.28 0.08 0.00 0.00 0.00 0.52 1.01 0.17 0.14 0.53 0.54 0.57 0.71 0.91 1.26 1.25 1.45 1.56 1.28 1.36 1.63 1.34 0.91 1.09 1.09 1.00 39 1991 Operário
Permanência 0.22 0.00 0.00 0.00 0.59 0.56 0.84 0.37 0.22 0.77 0.64 0.88 1.00 1.30 1.10 1.37 1.46 1.10 1.47 1.07 1.61 1.14 0.85 1.03 0.17 1.00
40 1980 Operário Popular 0.23 0.20 0.33 0.51 0.00 0.87 0.69 0.23 0.54 0.80 0.93 0.79 0.93 2.89 1.01 1.11 1.40 1.17 1.09 0.82 1.25 1.18 0.90 1.22 0.18 1.00 40 1991 Médio
Mais classes médias 0.35 0.37 0.53 0.00 1.41 0.78 1.34 0.30 0.90 1.20 1.35 1.11 1.22 3.03 1.05 1.16 1.03 1.05 0.75 0.58 0.85 0.83 0.73 0.53 0.60 1.00
41 1980 Operário Popular 0.32 0.18 0.00 0.00 0.00 0.79 1.39 0.40 0.34 0.64 0.74 0.93 0.95 1.32 1.49 1.41 1.24 0.68 1.33 1.34 1.57 1.04 0.70 1.43 0.16 1.00 41 1991 Operário
Diversificação Ascendente 0.47 0.40 0.00 0.00 0.00 1.22 1.06 0.00 0.70 1.03 0.99 1.17 1.05 0.86 1.01 1.38 0.80 0.79 1.47 1.17 1.43 0.77 0.70 1.12 1.05 1.00
241 UEH Ano TIPO sócio-espacial Tipologia de
Evolução Agrícolas Empresários Dirigentes
Públicos Dirigentes Privados
Profissionais Liberais
Pequenos Empregadores
Comerciantes Conta Própria
Profissionais Superiores Autônomos
Profissionais superiores Empregados
Empregados de Supervisão
Técnicos e Artistas
Empregados Saúde e Educação
Empregados Escritório
Empregados Segurança/ Correios
Empregados Comércio
Trabalhadores Serviços Especializados
Trabalhadores Serviços Não Especializados
Operários Indústria Moderna
Operários Indústria Tradicional
Operários Serviços Auxiliares
Artesãos Operários Construção Civil
Empregadas Domésticas
Ambulantes Biscateiros Total
42 1980 Médio 0.27 0.13 0.44 0.34 0.00 1.03 1.20 0.76 1.05 1.65 1.39 1.23 1.21 1.23 1.23 1.04 0.87 0.68 0.56 0.93 1.06 0.76 0.89 0.88 0.84 1.00 42 1991 Médio
Permanência 0.44 0.70 0.99 0.00 0.00 1.40 1.06 0.46 0.89 1.37 1.30 1.24 1.25 0.88 1.25 1.01 0.82 0.53 0.76 0.89 1.76 0.74 0.73 0.84 1.24 1.00
43 1980 Médio Superior 0.16 6.91 1.94 4.48 5.46 2.20 0.66 1.88 2.36 1.05 0.50 0.78 0.61 0.54 0.76 0.83 0.83 0.43 0.43 0.65 0.75 0.71 2.01 0.27 1.28 1.00 43 1991 Superior
Aburguesamento 0.84 8.16 2.26 7.97 5.23 2.68 0.74 1.58 2.65 1.02 1.06 0.96 0.84 0.79 0.68 0.59 0.36 0.35 0.56 0.35 0.36 0.71 1.57 0.37 0.00 1.00
44 1980 Operário Popular 0.26 0.28 0.46 0.18 0.00 0.61 0.82 0.24 0.37 0.66 0.75 0.86 0.93 1.37 1.37 1.43 0.93 0.67 1.12 1.46 1.19 1.20 0.95 1.54 0.64 1.00 44 1991 Operário
Proletarização 0.32 0.00 0.39 0.00 0.00 0.93 1.23 0.76 0.48 0.93 0.88 0.99 1.21 1.57 1.19 1.30 0.98 0.82 0.94 0.98 1.39 0.79 0.95 1.11 0.86 1.00
45 1980 Médio Superior 0.17 2.30 0.00 1.93 1.10 2.40 1.14 1.59 2.04 1.40 1.11 1.20 1.03 1.17 1.12 0.98 0.49 0.46 0.62 0.73 0.90 0.65 1.05 0.81 0.23 1.00 45 1991 Médio Superior
Permanência 0.39 2.26 1.16 0.91 0.77 2.06 1.01 1.63 2.09 1.65 1.23 1.18 1.25 0.67 1.23 0.76 0.49 0.56 0.51 0.69 0.80 0.51 0.72 0.77 0.44 1.00
46 1980 Operário Popular 0.15 0.09 0.00 0.00 0.00 0.38 0.95 0.00 0.16 0.67 0.75 0.84 0.77 1.50 1.33 1.47 1.48 0.76 1.03 1.22 1.11 1.19 1.05 2.50 0.61 1.00 46 1991 Operário
Proletarização 0.40 0.00 0.49 0.00 0.00 0.51 1.09 0.41 0.24 0.72 0.59 0.86 1.32 2.29 1.46 1.33 1.24 0.66 1.43 0.94 1.09 0.75 0.75 1.72 0.18 1.00
47 1980 Operário Popular 0.26 0.00 0.00 0.00 0.00 0.23 1.54 0.49 0.15 0.65 0.62 0.48 0.57 2.11 0.71 1.35 1.66 0.87 0.96 1.49 1.33 1.71 0.93 2.26 1.05 1.00 47 1991 Operário
Proletarização 0.20 0.00 0.00 0.00 0.79 0.88 0.78 0.17 0.20 0.74 0.83 0.92 1.02 1.67 1.13 1.32 1.54 0.72 1.34 1.13 0.57 1.19 1.01 0.72 0.89 1.00
48 1980 Operário Popular 0.25 0.32 0.26 0.00 0.23 0.95 1.04 0.54 0.40 0.92 0.84 0.78 0.99 2.31 1.23 1.30 1.05 1.07 0.85 1.25 1.39 1.00 0.82 1.63 1.13 1.00 48 1991 Operário
Diversificação Ascendente 0.35 0.25 0.36 0.00 0.00 0.64 0.98 0.60 0.45 0.99 1.14 0.98 1.27 2.26 1.14 1.31 0.85 0.96 0.99 1.04 1.44 0.91 0.64 1.10 1.33 1.00
49 1980 Operário 0.38 0.25 0.00 0.00 0.00 0.51 1.04 0.28 0.12 0.91 0.76 0.69 0.91 0.80 0.93 1.14 1.21 2.83 1.59 1.34 1.30 0.91 0.56 0.82 2.11 1.00 49 1991 Operário Superior
Mais classes médias 0.57 0.52 0.00 0.00 0.00 0.60 1.04 0.14 0.20 0.54 0.69 0.68 1.21 0.94 1.12 1.25 0.90 2.22 1.37 1.33 1.31 1.06 0.73 0.76 1.29 1.00
50 1980 Operário 0.60 0.00 0.00 0.00 0.00 0.19 1.09 0.00 0.07 0.64 0.39 0.73 0.62 0.62 0.88 1.03 2.17 2.38 1.22 1.18 0.83 1.46 0.85 1.01 1.06 1.00 50 1991 Operário Superior
Mais classes médias 0.13 0.00 0.00 0.00 0.00 0.60 0.88 0.42 0.28 0.59 0.73 1.20 0.98 0.77 1.00 1.27 1.68 2.01 1.32 1.22 1.21 1.07 0.64 1.34 0.57 1.00
51 1980 Operário 0.09 0.10 0.00 0.25 0.00 0.32 1.14 0.23 0.23 0.57 0.92 0.63 0.89 0.39 0.93 1.16 0.89 3.80 2.10 1.28 0.67 0.81 0.38 1.15 1.08 1.00 51 1991 Operário Superior
Mais classes médias 0.86 0.23 0.00 0.00 0.00 0.92 1.12 0.54 0.08 1.07 0.90 0.78 1.02 0.74 0.97 1.20 1.04 3.05 1.71 1.10 1.10 0.69 0.46 0.85 0.72 1.00
52 1980 Operário 0.29 0.00 0.00 0.00 0.00 0.51 1.05 0.49 0.19 0.74 0.93 0.92 0.99 1.67 1.13 1.41 1.30 1.97 1.08 1.15 1.10 1.01 0.55 1.30 0.39 1.00 52 1991 Operário Superior
Mais classes médias 0.44 0.19 0.00 0.00 0.00 0.50 1.34 0.15 0.37 0.93 1.18 0.78 1.11 1.48 1.31 1.24 0.81 2.04 1.10 1.12 1.91 0.86 0.38 1.57 0.59 1.00
53 1980 Operário 0.39 0.00 0.00 0.00 0.00 0.41 0.80 0.14 0.20 0.45 0.54 0.55 0.68 1.25 1.09 1.53 1.27 1.03 1.64 1.80 1.20 1.41 0.82 1.61 0.00 1.00 53 1991 Operário
Permanência 1.66 0.18 0.00 0.00 0.00 0.74 1.42 0.00 0.19 0.58 0.64 0.72 0.98 1.34 1.19 1.20 0.97 1.04 1.90 1.18 1.07 1.00 1.02 1.00 0.38 1.00
54 1980 Médio Superior 0.45 1.70 0.00 1.76 2.01 1.10 1.42 0.90 0.80 0.91 0.56 0.75 0.81 1.27 0.97 0.95 1.00 0.39 0.80 0.69 0.67 1.44 1.53 1.03 1.97 1.00 54 1991 Médio
Mais classes médias 0.44 1.47 0.38 1.78 1.00 1.70 1.01 0.64 0.98 1.18 1.51 1.02 1.06 0.82 1.03 1.03 0.78 0.35 0.58 0.88 0.80 0.97 1.14 1.13 1.13 1.00
55 1980 Operário Popular 0.41 0.13 0.00 0.00 0.00 0.71 0.81 0.15 0.29 0.71 0.66 0.92 0.70 1.59 1.12 1.23 1.35 0.73 1.09 1.41 1.26 1.61 0.83 1.55 1.61 1.00 55 1991 Operário
Diversificação Ascendente 0.13 0.55 0.39 0.00 0.00 0.59 0.87 0.33 0.32 0.74 0.51 0.70 1.01 1.28 1.23 1.17 1.41 0.86 1.03 1.44 0.78 1.49 0.96 1.45 0.29 1.00
56 1980 Operário Popular 0.82 0.00 0.00 0.00 0.00 0.65 0.87 0.09 0.16 0.46 0.36 0.56 0.68 1.12 1.19 1.30 1.45 0.86 1.43 1.43 0.98 1.77 0.78 1.34 1.49 1.00 56 1991 Operário
Diversificação Ascendente 0.85 0.00 0.00 0.00 0.00 0.58 0.92 0.41 0.17 0.55 0.74 1.15 0.86 1.21 1.21 1.36 1.10 0.73 1.43 1.34 1.11 1.35 0.92 1.10 1.55 1.00
57 1980 Operário Popular 0.48 0.00 0.00 0.00 0.00 0.38 0.87 0.18 0.07 0.41 0.41 0.31 0.63 1.05 1.08 1.25 1.38 0.85 1.41 1.52 0.88 1.78 1.13 2.09 1.30 1.00 57 1991 Operário
Diversificação Ascendente 0.30 0.26 0.37 0.00 0.00 0.58 1.14 0.41 0.27 0.92 0.90 0.98 1.02 1.30 0.92 1.01 1.25 0.62 1.11 1.57 1.16 1.39 1.07 1.13 1.37 1.00
58 1980 Operário 0.55 0.11 0.00 0.00 0.32 0.81 1.11 0.25 0.17 0.95 1.20 0.81 0.75 0.86 1.07 0.99 1.23 3.04 1.04 1.08 1.01 1.11 0.56 0.77 1.00 1.00 58 1991 Operário Superior
Mais classes médias 0.16 0.34 0.00 0.00 0.00 0.28 1.21 0.40 0.26 0.88 0.75 1.02 1.14 0.73 1.17 1.49 1.08 2.28 1.16 1.28 1.26 0.72 0.62 0.84 1.25 1.00
59 1980 Operário 0.24 0.32 0.00 0.27 0.00 1.42 0.98 0.36 0.55 1.52 1.69 1.40 1.12 0.75 1.12 1.03 0.67 2.94 0.66 1.07 1.01 0.48 0.38 1.22 1.53 1.00 59 1991 Operário Superior
Mais classes médias 0.40 0.63 0.60 0.00 0.00 1.33 2.21 0.84 0.62 1.38 1.27 1.38 1.26 0.76 1.20 1.07 0.63 1.77 0.57 0.93 1.40 0.44 0.55 0.60 0.67 1.00
60 1980 Operário 0.41 0.10 0.00 0.00 0.00 0.40 1.01 0.00 0.08 0.51 0.59 0.60 0.58 0.25 0.80 0.94 1.04 4.23 1.36 1.71 0.82 1.24 0.66 0.87 0.54 1.00 60 1991 Operário Superior
Mais classes médias 0.40 0.21 0.00 0.00 0.00 0.57 1.40 0.68 0.12 1.00 0.80 0.89 0.88 0.69 0.99 1.24 1.12 2.74 1.70 1.34 1.09 0.96 0.47 0.87 0.00 1.00
61 1980 Operário 0.15 0.44 0.00 0.83 0.00 0.89 1.36 0.50 0.30 1.03 1.20 1.10 1.07 0.39 0.92 1.04 0.65 2.99 1.28 1.62 1.35 0.69 0.46 1.01 0.00 1.00 61 1991 Operário Superior
Mais classes médias 1.02 0.00 0.00 0.00 0.00 1.00 1.62 0.78 0.60 1.21 1.22 1.20 1.53 0.36 1.11 1.10 0.32 2.43 1.02 0.95 1.49 0.49 0.33 0.87 0.63 1.00
62 1980 Operário 0.26 0.43 0.93 0.00 0.00 0.52 0.75 0.48 0.39 1.52 2.15 0.97 1.05 0.90 0.86 1.01 0.79 2.70 1.01 0.99 0.75 0.88 0.46 0.89 0.25 1.00 62 1991 Operário Superior
Mais classes médias 0.09 0.74 0.00 0.00 0.00 1.39 0.80 0.30 0.69 1.32 1.37 1.71 1.27 1.87 1.08 1.07 0.55 1.99 0.94 1.05 1.01 0.45 0.45 1.05 0.39 1.00
63 1980 Operário 0.17 0.19 0.00 0.00 0.00 0.52 1.25 0.73 0.46 1.08 1.00 0.97 1.09 0.77 0.97 1.23 1.05 2.52 1.36 1.25 1.06 0.70 0.51 0.89 0.35 1.00 63 1991 Operário Superior
Mais classes médias 0.17 0.36 0.34 0.53 0.44 0.96 1.46 0.56 0.90 1.72 1.30 1.22 1.49 1.20 1.05 0.99 0.57 1.90 1.00 0.98 0.82 0.36 0.38 1.04 0.38 1.00
242 UEH Ano TIPO sócio-espacial Tipologia de
Evolução Agrícolas Empresários Dirigentes
Públicos Dirigentes Privados
Profissionais Liberais
Pequenos Empregadores
Comerciantes Conta Própria
Profissionais Superiores Autônomos
Profissionais superiores Empregados
Empregados de Supervisão
Técnicos e Artistas
Empregados Saúde e Educação
Empregados Escritório
Empregados Segurança/ Correios
Empregados Comércio
Trabalhadores Serviços Especializados
Trabalhadores Serviços Não Especializados
Operários Indústria Moderna
Operários Indústria Tradicional
Operários Serviços Auxiliares
Artesãos Operários Construção Civil
Empregadas Domésticas
Ambulantes Biscateiros Total
64 1980 Operário Popular 0.67 0.08 0.27 0.00 0.00 0.49 1.80 0.09 0.11 0.40 0.49 0.39 0.49 1.07 1.57 1.35 1.22 0.66 1.31 1.38 0.90 1.70 0.93 1.23 3.98 1.00 64 1991 Operário
Proletarização 0.31 0.00 0.00 0.00 0.49 0.96 0.92 0.00 0.40 0.63 0.31 0.57 0.99 0.80 1.77 1.38 0.57 0.68 1.14 1.64 1.26 1.07 0.80 1.23 5.71 1.00
65 1980 Operário Popular 1.06 0.08 0.00 0.00 0.00 0.36 1.45 0.18 0.18 0.46 0.31 0.60 0.51 0.63 1.22 1.38 1.24 0.71 1.54 1.21 1.65 1.68 0.96 1.49 3.63 1.00 65 1991 Operário
Diversificação Ascendente 0.81 0.08 0.00 0.00 0.00 0.95 1.02 0.32 0.26 0.72 0.85 0.76 0.85 0.65 1.27 1.14 0.91 0.85 1.44 1.07 1.70 1.45 0.88 1.61 1.56 1.00
66 1980 Operário Popular 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.31 1.25 0.00 0.07 0.66 0.77 0.71 0.66 1.67 1.38 1.26 1.20 0.73 1.11 1.52 1.53 1.42 1.08 1.13 2.13 1.00 66 1991 Operário
Proletarização 0.43 0.00 0.00 0.00 0.00 0.58 1.26 0.54 0.29 0.84 0.51 0.71 0.83 1.15 1.26 1.24 1.35 1.06 0.86 1.25 1.78 1.27 1.01 1.78 0.00 1.00
67 1980 Operário Popular 0.36 0.00 0.00 0.00 0.33 0.15 1.80 0.13 0.24 0.48 0.38 0.56 0.63 0.84 1.04 1.41 1.51 0.70 1.05 1.56 1.24 1.77 0.98 0.98 1.22 1.00 67 1991 Operário
Diversificação Ascendente 0.41 0.18 0.00 0.00 0.00 0.39 1.40 0.56 0.35 0.77 0.66 0.68 0.92 0.76 1.36 1.18 1.24 0.65 1.04 1.64 1.48 1.20 1.05 1.43 0.93 1.00
68 1980 Operário Popular 0.16 0.36 0.00 0.00 0.51 0.88 1.12 1.00 0.80 0.82 0.88 0.69 1.06 1.00 1.46 1.45 0.99 0.58 1.04 1.19 1.43 1.02 0.80 1.02 0.64 1.00 68 1991 Médio
Mais classes médias 0.96 0.41 0.00 0.00 0.00 1.01 1.26 0.65 1.05 1.54 1.12 1.53 1.31 0.89 1.47 0.99 0.63 0.53 0.51 1.21 1.30 0.71 0.59 0.83 0.00 1.00
69 1980 Operário Popular 0.15 0.43 0.00 0.00 0.00 1.68 1.24 0.36 0.39 0.84 0.63 1.07 1.00 1.17 1.33 1.48 0.87 0.73 1.00 1.26 1.43 1.10 0.71 1.17 0.58 1.00 69 1991 Médio
Mais classes médias 0.18 0.19 0.55 0.00 0.00 1.08 1.64 0.77 0.62 1.23 1.33 1.06 1.29 0.98 1.56 1.00 0.60 0.72 0.65 1.44 1.17 0.62 0.70 1.59 0.41 1.00
70 1980 Operário 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.55 1.00 0.00 0.17 1.01 0.64 0.82 0.80 1.14 1.11 0.81 1.15 3.16 1.29 1.70 1.00 1.10 0.52 0.76 0.68 1.00 70 1991 Operário Superior
Mais classes médias 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 1.06 0.78 0.00 0.35 1.04 1.25 1.02 1.16 1.09 1.22 1.01 0.61 3.25 1.09 1.49 1.29 0.59 0.45 0.63 2.14 1.00
71 1980 Operário 0.59 0.35 0.00 0.00 0.00 0.96 1.15 0.00 0.32 1.02 1.07 1.02 0.77 0.83 0.97 1.06 1.05 2.39 0.91 1.25 1.17 1.03 0.79 1.45 0.47 1.00 71 1991 Operário Superior
Mais classes médias 0.32 0.27 0.00 0.00 0.00 0.73 1.36 0.32 0.33 1.07 0.95 1.32 1.17 1.51 1.24 0.94 0.69 2.09 1.03 1.17 0.69 0.85 0.82 0.93 1.14 1.00
72 1980 Operário 0.28 0.13 0.00 0.00 0.00 0.16 1.02 0.00 0.06 0.51 0.42 0.41 0.32 0.57 0.73 0.97 1.31 3.30 1.42 1.54 1.05 1.86 0.67 1.43 1.34 1.00 72 1991 Operário Superior
Mais classes médias 0.44 0.00 0.00 0.00 0.00 0.31 1.07 0.00 0.09 0.58 0.51 0.96 0.80 0.94 0.97 1.33 1.11 2.91 1.58 1.50 1.23 1.02 0.77 1.05 1.78 1.00
73 1980 Operário 0.27 0.75 0.00 0.37 0.00 0.70 1.25 0.17 0.32 0.89 0.87 0.78 0.69 0.63 0.91 1.10 0.80 2.52 1.37 1.50 0.94 1.20 0.75 1.24 0.53 1.00 73 1991 Operário Superior
Mais classes médias 0.36 0.00 0.00 0.00 0.00 0.90 1.45 0.61 0.26 1.25 1.06 0.96 1.16 1.02 1.04 1.14 0.74 2.05 1.00 1.53 1.40 0.68 0.56 1.17 1.78 1.00
74 1980 Operário 0.14 0.00 0.00 0.00 0.30 0.49 1.77 0.00 0.17 1.03 0.76 0.69 0.77 1.59 0.97 1.11 1.26 3.03 1.06 1.49 1.29 0.99 0.48 0.60 0.19 1.00 74 1991 Operário Superior
Mais classes médias 0.70 0.00 0.00 0.00 0.00 0.94 1.80 0.52 0.35 1.34 0.76 0.87 1.20 1.37 0.99 1.26 0.51 2.81 1.01 1.26 0.65 0.55 0.53 0.98 0.35 1.00
75 1980 Operário 0.70 0.24 0.00 0.00 0.00 0.19 1.40 0.80 0.25 0.88 0.84 0.58 0.90 1.04 0.76 1.21 0.96 2.05 1.61 1.23 0.96 1.08 0.87 0.81 1.70 1.00 75 1991 Operário Superior
Mais classes médias 0.43 0.18 0.00 0.00 0.69 1.41 1.40 0.44 0.67 1.42 1.71 1.29 1.37 1.06 0.98 0.91 0.59 1.97 0.56 0.87 1.28 0.56 0.67 0.87 0.20 1.00
76 1980 Operário Popular 0.16 0.48 0.00 0.30 0.00 0.59 1.29 0.41 0.21 0.54 0.76 0.96 0.64 3.04 1.34 1.21 1.21 0.76 0.83 1.51 1.26 1.59 0.78 1.03 0.64 1.00 76 1991 Operário
Diversificação Ascendente 0.39 0.00 0.47 0.00 0.00 0.52 1.01 0.26 0.36 0.94 1.18 1.10 1.12 2.31 1.34 1.38 1.13 0.61 0.76 1.32 1.19 0.85 0.73 1.54 1.04 1.00
77 1980 Popular 0.63 0.15 0.00 0.00 0.00 0.18 0.85 0.35 0.10 0.38 0.63 0.25 0.40 0.65 0.91 1.19 1.42 0.59 1.09 1.41 0.81 2.50 1.11 1.42 2.22 1.00 77 1991 Operário Popular
Proletarização 0.51 0.00 0.00 0.00 0.00 0.33 0.88 0.08 0.08 0.56 0.48 0.89 0.67 1.38 1.17 1.27 1.51 0.78 1.15 1.59 1.02 1.59 1.16 1.71 1.36 1.00
78 1980 Operário 0.38 0.21 0.00 0.00 0.00 0.49 1.04 0.00 0.18 1.06 0.44 0.75 0.89 2.94 0.99 1.19 1.22 2.36 1.26 1.08 1.32 0.82 0.71 1.44 1.50 1.00 78 1991 Operário
Mais popular 0.29 0.00 0.00 0.00 0.00 0.09 1.09 0.36 0.14 0.59 0.52 0.73 0.85 1.10 1.15 1.25 1.64 1.65 1.19 1.24 0.78 1.31 1.23 0.95 1.13 1.00
79 1980 Operário Popular 0.80 0.25 0.00 0.00 0.00 0.13 1.26 0.00 0.06 0.30 0.13 0.22 0.36 0.44 0.80 0.75 1.30 2.14 1.79 1.23 0.70 2.26 1.00 1.73 2.70 1.00 79 1991 Operário Popular
Permanência 0.62 0.00 0.00 0.00 0.00 0.20 0.81 0.00 0.12 0.50 0.36 0.57 0.58 0.75 1.00 1.11 1.77 1.90 1.38 1.26 1.10 1.59 1.29 1.48 2.50 1.00
80 1980 Operário Popular 2.29 0.14 0.00 0.00 0.00 0.07 0.81 0.00 0.02 0.23 0.32 0.21 0.25 0.30 0.81 0.80 1.25 2.05 0.96 0.79 0.84 2.64 1.24 1.61 2.02 1.00 80 1991 Operário Popular
Permanência 0.60 0.00 0.00 0.00 0.00 0.40 0.53 0.08 0.06 0.45 0.48 0.30 0.46 0.38 0.81 1.18 1.54 1.52 1.51 1.20 0.80 2.28 1.44 1.24 1.47 1.00
81 1980 Operário 0.54 0.36 0.00 0.00 0.00 0.41 0.69 0.67 0.42 1.16 1.50 0.98 0.83 0.80 0.66 1.05 1.27 2.08 1.40 1.19 0.67 1.17 0.68 0.96 1.29 1.00 81 1991 Operário Superior
Mais classes médias 0.84 0.32 0.46 0.00 0.00 0.99 1.72 0.00 0.47 1.52 0.83 1.26 0.89 1.46 0.84 1.00 1.05 2.44 1.18 1.13 1.31 0.73 0.52 0.76 0.34 1.00
82 1980 Operário e Agrícola 3.90 0.22 0.00 0.27 0.62 0.28 1.05 0.24 0.22 0.57 0.76 0.42 0.51 0.45 0.53 0.91 1.53 1.90 1.05 0.89 0.94 1.88 1.06 0.68 2.12 1.00 82 1991 Operário Popular
Permanência 2.24 0.45 0.00 0.00 0.00 0.62 0.93 0.29 0.43 0.69 0.48 0.61 0.56 0.75 0.76 0.96 1.31 1.87 1.19 1.27 1.12 1.61 1.33 1.07 1.81 1.00
83 1980 Operário e Agrícola 3.29 0.13 0.00 0.00 0.00 0.23 1.04 0.00 0.05 0.20 0.18 0.39 0.21 0.49 0.69 0.91 1.40 0.38 1.53 1.29 0.80 2.71 1.20 1.72 4.45 1.00 83 1991 Operário Popular
Permanência 1.45 0.15 0.00 0.00 0.00 0.30 0.88 0.36 0.14 0.47 0.49 0.52 0.54 0.84 1.06 1.17 1.40 0.54 1.51 1.29 1.20 2.16 1.16 1.70 1.04 1.00
84 1980 Popular 0.65 0.00 0.00 0.00 0.00 0.17 1.04 0.18 0.04 0.36 0.22 0.26 0.29 0.39 0.91 1.26 1.28 0.60 1.01 1.42 0.72 3.00 0.93 1.27 0.85 1.00 84 1991 Operário Popular
Proletarização 1.49 0.00 0.00 0.00 0.00 0.29 1.25 0.19 0.11 0.39 0.50 0.42 0.45 0.26 0.80 1.13 1.75 0.77 1.31 1.63 1.10 1.94 1.46 2.28 0.77 1.00
85 1980 Operário Popular 0.35 0.00 0.00 0.00 0.00 0.54 1.34 0.44 0.21 0.51 0.48 0.62 0.58 0.83 1.28 1.52 1.14 0.75 0.80 1.55 1.60 1.77 0.96 1.12 0.23 1.00 85 1991 Operário
Proletarização 0.09 0.00 0.00 0.00 0.00 0.75 1.74 0.31 0.29 0.87 0.86 0.66 0.97 0.76 1.34 1.23 1.12 0.71 1.12 1.47 1.27 1.17 0.74 2.17 0.00 1.00
243 UEH Ano TIPO sócio-espacial Tipologia de
Evolução Agrícolas Empresários Dirigentes
Públicos Dirigentes Privados
Profissionais Liberais
Pequenos Empregadores
Comerciantes Conta Própria
Profissionais Superiores Autônomos
Profissionais superiores Empregados
Empregados de Supervisão
Técnicos e Artistas
Empregados Saúde e Educação
Empregados Escritório
Empregados Segurança/ Correios
Empregados Comércio
Trabalhadores Serviços Especializados
Trabalhadores Serviços Não Especializados
Operários Indústria Moderna
Operários Indústria Tradicional
Operários Serviços Auxiliares
Artesãos Operários Construção Civil
Empregadas Domésticas
Ambulantes Biscateiros Total
86 1980 Popular 0.62 0.00 0.00 0.00 0.00 0.67 1.18 0.00 0.13 0.24 0.30 0.51 0.41 0.24 0.99 1.65 1.11 0.64 1.55 1.23 0.97 2.21 0.99 0.59 1.23 1.00 86 1991 Operário
Diversificação Ascendente 0.11 0.00 0.00 0.00 0.00 0.57 1.07 0.38 0.17 0.50 0.69 0.52 0.71 1.20 1.56 1.38 1.23 0.69 1.15 1.47 0.93 1.39 1.15 1.71 0.50 1.00
87 1980 Operário Popular 0.21 0.12 0.00 0.00 0.00 0.18 1.27 0.13 0.14 0.35 0.39 0.65 0.53 1.17 1.04 1.48 1.66 0.67 0.93 1.27 1.17 2.15 0.88 1.05 0.41 1.00 87 1991 Operário Popular
Permanência 0.71 0.00 0.00 0.00 0.00 0.52 0.93 0.72 0.12 0.48 0.51 0.73 0.70 1.19 1.14 1.68 1.39 0.74 1.08 1.51 1.18 1.64 0.86 1.08 0.80 1.00
88 1980 Operário 2.67 0.00 0.00 0.00 0.00 0.63 0.85 0.00 0.17 0.49 0.61 0.72 0.43 0.19 0.59 0.76 1.29 2.78 1.28 1.24 0.56 2.02 0.74 1.38 0.00 1.00 88 1991 Operário Popular
Diversificação 2.13 0.00 0.68 0.00 0.00 0.25 1.03 0.00 0.14 0.96 0.49 0.67 0.55 0.26 0.59 0.99 1.23 2.36 0.82 1.69 1.08 1.83 1.24 1.20 2.53 1.00
89 1980 Operário Popular 1.15 0.00 0.00 0.00 0.00 0.36 1.18 0.00 0.10 0.40 0.38 0.20 0.25 0.27 0.78 0.99 1.40 2.16 1.43 0.90 0.41 2.57 0.85 1.00 0.35 1.00 89 1991 Operário
Proletarização 0.43 0.15 0.44 0.00 0.00 0.11 1.10 0.24 0.16 0.71 0.42 0.62 0.50 0.77 0.87 1.20 1.44 2.94 1.35 1.73 1.02 1.55 0.82 1.25 1.14 1.00
90 1980 Operário e Agrícola 11.18 0.23 0.37 0.00 0.00 0.39 1.41 0.26 0.51 0.55 0.50 1.17 0.43 1.00 0.37 1.10 0.81 0.44 1.22 0.51 0.88 1.70 1.08 0.91 1.63 1.00 90 1991 Popular e Agrícola
Diversificação 7.82 0.66 0.94 0.74 0.00 0.30 1.13 0.92 0.58 0.47 0.57 1.03 0.50 1.92 0.58 1.00 0.78 0.62 0.82 1.18 1.05 1.55 1.77 0.31 1.41 1.00
91 1980 Popular e Agrícola 2.52 0.22 0.00 0.00 0.00 0.87 1.11 0.00 0.22 0.58 0.94 0.63 0.21 0.55 0.66 1.12 1.38 1.51 2.06 0.65 0.86 1.80 1.06 0.26 1.20 1.00 91 1991 Operário
Proletarização 1.78 0.00 1.02 0.00 0.00 0.40 0.67 0.29 0.25 0.58 0.49 1.07 0.40 0.52 0.74 0.96 1.16 2.85 1.59 1.35 1.03 2.05 0.90 0.68 0.57 1.00
92 1980 Operário 0.75 0.27 0.22 0.33 0.57 1.16 1.23 0.97 0.72 1.20 1.37 1.11 0.74 0.84 0.58 0.89 0.93 1.71 1.31 0.98 0.70 1.46 0.70 0.38 0.24 1.00 92 1991 Médio
Mais classes médias 1.40 1.43 0.62 0.00 0.41 0.76 1.17 1.40 0.82 1.18 1.15 1.64 0.95 0.55 0.85 0.94 1.03 1.78 0.89 0.99 0.86 0.88 0.92 0.69 0.35 1.00
93 1980 Operário e Agrícola 6.92 1.07 0.00 0.00 0.00 0.70 0.51 0.00 0.27 0.58 0.60 0.90 0.35 3.13 0.85 0.88 1.01 0.18 1.08 1.52 0.87 2.07 0.84 0.61 2.23 1.00 93 1991 Operário Popular
Diversificação 2.98 0.10 0.27 0.00 0.00 0.42 1.03 0.08 0.11 0.44 0.43 0.63 0.42 1.32 1.01 1.13 1.53 0.53 1.17 1.60 0.75 2.14 1.14 1.35 2.45 1.00
94 1980 Operário e Agrícola 3.25 0.45 0.00 0.46 0.52 1.09 1.12 0.72 0.63 0.89 0.90 1.18 0.69 0.29 0.85 0.87 0.98 0.58 3.43 0.62 0.89 1.08 0.79 0.21 0.49 1.00 94 1991 Operário
Diversificação 1.49 1.39 0.56 0.00 0.00 1.19 0.73 0.79 0.72 0.90 1.53 1.17 0.82 0.79 0.71 0.91 0.73 0.63 3.08 1.14 1.08 0.88 0.80 0.44 0.84 1.00
95 1980 Operário e Agrícola 17.91 0.23 0.00 0.00 0.00 0.66 0.97 0.00 0.12 0.22 0.53 0.34 0.20 0.08 0.36 0.81 0.97 0.17 2.95 0.68 0.65 1.53 1.12 0.13 0.00 1.00 95 1991 Popular e Agrícola
Mais popular 10.87 0.25 0.00 0.00 0.00 0.56 0.52 0.20 0.29 0.40 0.34 0.55 0.19 0.00 0.47 0.90 1.35 0.59 2.03 1.18 0.83 2.09 1.44 0.39 1.33 1.00
96 1980 perário Periférico 5.36 0.36 0.30 0.46 0.52 0.59 0.69 0.41 0.39 0.36 0.48 1.04 0.46 0.61 0.55 0.80 2.06 0.50 2.75 0.85 0.70 1.83 0.73 0.36 0.49 1.00 96 1991 Operário Popular
Diversificação 2.92 0.00 0.26 0.00 0.00 0.35 0.84 0.07 0.22 0.46 0.47 1.21 0.76 1.28 0.86 1.14 1.46 0.87 1.42 1.22 0.71 1.65 1.03 1.28 2.71 1.00
97 1980 Operário e Agrícola 4.58 0.07 0.72 0.19 0.42 0.40 1.05 0.58 0.43 0.91 0.78 1.25 0.73 0.65 0.48 0.67 1.32 1.55 2.73 0.80 0.80 1.08 0.80 0.46 2.11 1.00 97 1991 Operário e Agrícola
Permanência 4.92 0.23 0.00 0.52 0.87 0.35 1.05 0.74 0.49 0.81 0.46 1.10 0.86 0.79 0.59 0.83 1.32 1.96 1.83 1.26 0.77 1.02 0.99 0.76 0.99 1.00
98 1980 Operário e Agrícola 15.84 0.16 0.26 0.20 0.23 0.23 0.65 0.45 0.49 0.72 1.06 1.11 0.59 0.37 0.45 0.82 1.28 2.73 0.66 0.77 0.53 0.67 0.64 1.42 0.86 1.00 98 1991 Operário e Agrícola
Permanência 9.59 0.00 0.00 0.00 1.18 0.61 0.93 0.50 0.46 1.02 0.89 1.37 0.65 0.68 0.53 0.91 0.72 2.00 1.13 1.07 0.71 0.75 1.31 0.29 2.00 1.00
99 1980 Operário 2.50 0.08 0.00 0.00 0.00 0.32 1.17 0.09 0.24 0.62 0.93 1.52 0.79 0.46 0.55 0.87 1.24 3.02 0.99 1.07 0.75 0.98 1.01 0.99 1.33 1.00 99 1991 Operário e Agrícola
Mais popular 5.15 0.13 0.37 0.00 0.00 0.42 1.11 0.20 0.39 0.72 1.17 1.38 0.70 0.56 0.88 1.03 1.36 1.54 0.93 0.88 0.81 1.28 1.10 0.65 0.96 1.00
100 1980 Popular 0.45 0.00 0.00 0.00 0.00 0.22 1.10 0.28 0.25 0.54 0.78 0.60 0.61 0.61 1.07 0.83 1.63 0.68 0.85 1.07 0.90 2.26 1.19 0.77 1.98 1.00 100 1991 Operário Popular
Proletarização 1.21 0.16 0.00 0.00 0.00 0.41 0.63 0.38 0.08 0.34 0.63 0.80 0.62 1.10 0.74 1.16 1.64 0.90 1.61 1.33 0.97 1.90 1.35 1.41 0.34 1.00
101 1980 Operário 0.72 0.00 0.00 0.00 0.00 0.06 0.89 0.00 0.23 0.32 0.40 1.49 0.27 0.64 0.52 0.77 1.29 2.07 5.48 1.05 0.71 0.82 0.88 0.26 0.00 1.00 101 1991 Operário
Permanência 0.61 0.00 0.53 0.00 0.00 0.17 0.80 0.29 0.28 0.72 0.60 1.73 0.45 0.27 0.59 0.83 1.38 1.27 4.56 0.74 0.73 1.28 1.01 0.52 0.20 1.00
102 1980 Operário e Agrícola 4.43 0.58 0.00 0.00 0.00 0.75 0.61 0.00 0.14 0.62 0.61 1.11 0.44 0.61 0.38 0.45 0.95 1.60 4.89 1.53 0.00 1.20 0.68 0.00 0.00 1.00 102 1991 Operário Popular
Mais popular 2.18 0.00 0.00 0.00 0.00 0.21 0.76 0.00 0.11 0.51 0.63 1.30 0.41 0.33 0.69 0.64 1.17 1.08 3.44 0.81 0.42 1.29 2.20 0.43 1.47 1.00
103 1980 Operário 0.33 0.20 0.43 0.17 0.00 0.40 0.64 0.37 0.61 0.67 1.37 1.75 0.61 0.35 0.82 0.84 1.08 1.67 3.35 0.79 0.95 0.82 0.90 0.87 0.24 1.00 103 1991 Médio
Mais classes médias 0.34 0.29 0.00 0.00 0.00 0.56 0.79 0.23 0.95 0.87 1.84 1.63 0.89 0.52 0.73 0.82 1.10 1.57 2.02 0.90 0.69 1.07 0.98 0.40 0.30 1.00
104 1980 Periférico Polarizado 1.58 3.79 0.95 0.73 0.00 0.38 0.46 0.66 0.84 0.53 0.31 0.35 0.22 0.20 0.29 0.74 1.62 0.69 3.43 0.49 0.31 1.21 2.28 0.17 0.00 1.00 104 1991 Periférico Polarizado
Permanência 1.28 1.09 0.77 1.21 4.08 0.73 0.89 0.65 0.67 0.71 0.33 0.59 0.43 0.20 0.61 0.66 0.97 0.86 1.90 0.91 0.74 1.50 2.72 0.26 0.29 1.00
105 1980 Operário e Agrícola 6.01 0.00 0.00 0.00 0.00 1.07 0.41 0.00 0.56 0.63 0.41 1.19 0.55 0.34 0.58 0.93 1.14 1.86 1.70 1.23 0.21 1.48 0.79 0.22 1.40 1.00 105 1991 Operário e Agrícola
Permanência 5.73 0.00 0.00 0.00 0.00 0.49 0.77 0.65 0.15 0.68 0.39 0.76 0.52 0.88 0.68 0.86 1.23 1.63 1.50 1.46 0.83 1.90 1.06 0.86 1.03 1.00
106 1980 Operário e Agrícola 24.10 0.00 0.00 0.70 0.00 0.87 0.59 0.00 0.25 0.36 0.20 0.50 0.20 0.20 0.34 0.84 0.92 0.69 2.25 1.29 0.10 1.14 0.68 0.32 1.00 1.00 106 1991 Popular e Agrícola
Mais popular 15.29 0.35 0.00 0.00 0.00 0.37 0.80 0.00 0.21 0.28 0.42 0.38 0.27 0.51 0.45 1.01 0.61 0.87 1.33 1.85 1.06 1.48 1.51 0.66 2.62 1.00
107 1980 Operário e Agrícola 22.63 0.23 0.00 0.00 0.00 0.43 1.11 0.00 0.12 0.46 0.08 0.66 0.15 0.33 0.44 0.68 0.71 0.31 0.92 0.53 0.41 1.46 1.72 0.40 0.84 1.00 107 1991 Operário e Agrícola
Permanência 10.86 0.00 0.00 0.00 0.00 0.59 1.11 0.00 0.13 0.54 0.31 0.62 0.20 0.13 0.48 0.84 0.87 1.04 0.47 1.06 0.76 2.15 2.01 1.13 3.06 1.00
244 UEH Ano TIPO sócio-espacial Tipologia de
Evolução Agrícolas Empresários Dirigentes
Públicos Dirigentes Privados
Profissionais Liberais
Pequenos Empregadores
Comerciantes Conta Própria
Profissionais Superiores Autônomos
Profissionais superiores Empregados
Empregados de Supervisão
Técnicos e Artistas
Empregados Saúde e Educação
Empregados Escritório
Empregados Segurança/ Correios
Empregados Comércio
Trabalhadores Serviços Especializados
Trabalhadores Serviços Não Especializados
Operários Indústria Moderna
Operários Indústria Tradicional
Operários Serviços Auxiliares
Artesãos Operários Construção Civil
Empregadas Domésticas
Ambulantes Biscateiros Total
112 1980 Popular 0.11 0.12 0.00 0.92 0.35 0.19 0.60 0.28 0.32 0.23 0.16 0.28 0.31 0.65 0.71 0.79 2.44 0.15 0.55 0.95 0.62 2.44 2.13 0.77 6.26 1.00 112 1991 Popular
Permanência 0.13 0.28 0.00 0.00 0.70 0.33 0.71 0.30 0.21 0.17 0.35 0.55 0.46 0.71 0.79 0.93 2.67 0.18 0.54 0.61 0.65 2.17 2.69 0.76 2.77 1.00
113 1980 Popular 0.04 0.09 0.00 0.22 0.00 0.19 1.03 0.10 0.10 0.23 0.22 0.25 0.37 0.35 0.59 0.86 1.90 0.43 0.62 1.54 0.63 2.66 1.79 1.33 3.20 1.00 113 1991 Popular
Permanência 0.27 0.14 0.00 0.00 0.00 0.30 0.56 0.34 0.10 0.35 0.32 0.34 0.48 0.47 0.66 0.89 2.07 0.36 0.86 1.24 1.26 2.57 2.15 1.36 1.69 1.00
114 1980 Operário Popular 0.22 0.00 0.00 0.00 0.00 0.42 0.63 0.18 0.12 0.21 0.48 0.26 0.54 1.18 0.97 1.62 2.03 0.77 1.42 1.45 0.67 1.24 1.46 2.64 2.28 1.00 114 1991 Operário Popular
Permanência 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.62 0.48 0.00 0.12 0.44 0.45 0.28 0.77 0.66 0.60 1.49 2.09 0.61 1.91 1.26 0.71 1.34 1.45 2.20 1.66 1.00
115 1980 Popular 0.34 0.00 0.00 0.00 0.00 0.26 0.95 0.28 0.11 0.20 0.33 0.52 0.46 1.40 0.94 1.28 2.37 0.36 0.83 1.38 0.74 2.05 1.32 1.36 1.79 1.00 115 1991 Operário Popular
Diversificação 0.34 0.00 0.00 0.00 0.00 0.11 0.70 0.00 0.08 0.32 0.15 0.39 0.65 1.29 1.29 1.17 2.43 0.66 0.72 1.42 1.03 1.79 1.66 1.29 0.76 1.00
116 1980 Operário Popular 0.66 0.00 0.00 0.00 0.00 0.04 0.76 0.00 0.02 0.28 0.20 0.19 0.29 0.41 0.62 0.67 1.43 2.22 1.91 1.10 1.07 2.79 0.82 0.91 0.26 1.00 116 1991 Operário Popular
Permanência 0.42 0.00 0.00 0.00 0.00 0.17 0.91 0.00 0.05 0.42 0.46 0.14 0.71 0.48 0.65 1.08 1.73 2.38 1.63 1.73 0.80 1.69 1.06 1.81 2.83 1.00
117 1980 Operário 0.29 0.00 0.00 0.00 0.00 0.30 0.95 0.00 0.02 0.38 0.32 0.23 0.39 0.36 0.55 0.96 1.80 3.39 2.21 1.21 0.50 1.52 0.82 1.41 2.55 1.00 117 1991 Operário
Permanência 0.86 0.00 0.00 0.00 0.00 0.31 1.04 0.18 0.16 0.41 0.43 0.18 0.47 0.25 0.84 1.22 1.40 3.09 1.83 1.42 0.97 1.38 1.06 1.94 1.22 1.00
118 1980 Operário Popular 0.11 0.00 0.00 0.00 0.00 0.24 0.95 0.19 0.07 0.35 0.44 0.42 0.52 0.62 1.06 0.96 1.86 1.41 1.04 1.29 1.23 1.86 1.23 1.92 2.40 1.00 118 1991 Operário Popular
Permanência 1.51 0.29 0.41 0.00 0.55 0.37 0.75 0.00 0.07 0.47 0.55 0.66 0.81 0.79 0.88 1.16 2.02 0.88 1.26 1.21 1.49 1.47 1.16 2.24 1.24 1.00
119 1980 Popular 0.86 0.00 0.00 0.00 0.00 0.21 1.14 0.00 0.03 0.21 0.14 0.12 0.25 0.67 0.65 1.15 1.72 0.42 0.92 1.71 1.24 2.83 1.19 1.55 2.43 1.00 119 1991 Popular
Permanência 0.31 0.22 0.00 0.00 0.00 0.30 0.82 0.18 0.03 0.29 0.53 0.21 0.39 0.40 1.02 1.13 1.24 0.33 1.21 1.13 1.33 2.62 1.79 2.01 2.11 1.00
120 1980 Popular 0.52 0.00 0.00 0.00 0.00 0.23 0.91 0.00 0.04 0.25 0.10 0.26 0.25 0.51 0.69 0.65 1.57 0.71 0.86 1.25 0.61 2.82 1.74 3.14 1.03 1.00 120 1991 Popular
Permanência 0.37 0.00 0.00 0.00 0.00 0.06 0.61 0.63 0.00 0.44 0.44 0.31 0.58 1.00 0.86 1.09 1.56 0.62 0.98 1.19 0.89 2.38 1.81 1.30 4.41 1.00
121 1980 Operário Popular 0.57 0.00 0.00 0.00 0.00 0.24 1.32 0.35 0.00 0.10 0.11 0.19 0.13 0.77 0.51 0.87 1.54 1.70 1.00 1.31 0.44 3.32 0.86 0.72 1.12 1.00 121 1991 Operário Popular
Permanência 0.56 0.00 0.00 0.00 0.00 0.18 1.42 0.00 0.05 0.30 0.57 0.18 0.35 0.14 0.84 1.10 1.61 1.87 1.21 1.24 0.83 2.27 1.49 1.42 2.73 1.00
TOTAL 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00
Fonte: IBGE, Censos Demográficos, 1980 e 1991 (*) A densidade é a relação entre a representação de uma dada categoria sócio-espacial na população ocupada de uma dada Unidade Espacial Homogênea e a representação total da categoria no total da população ocupada da região metropolitana.
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1. ANEXO E CONSTRUÇÃO DOS GRUPOS SOCIAIS A PARTIR DOS DADOS DA
PESQUISA DE ORIGEM E DESTINO DE 1992
ELITE • Altos cargos • Técnicos de nível superior (profissionais liberais) • Técnicos de nível superior (empregados) • Proprietários com renda maior ou igual a 20 salários mínimos • Sitiantes com até 5 empregados com renda maior ou igual a 20 salários
mínimos • Proprietários de firmas e estabelecimentos com até 5 empregados
com renda maior ou igual a 20 salários mínimos GRUPOS MÉDIOS • Cargos de supervisão, Inspeção e administração • Técnicos de nível intermediário • Ocupação não manual de rotina • Supervisão de trabalho manual na produção • Proprietários com renda menor do que 20 salários mínimos • Sitiantes com até 5 empregados com renda menor do que 20
salários mínimos • Proprietários de firmas e estabelecimentos com até 5 empregados
com renda menor do que 20 salários mínimos OPERARIADO INDUSTRIAL • Ocupação manual especializada e Ocupação manual não
especializada nos seguintes ramos de atividade: - Atividades extrativas de minerais (metálicos, não-metálicos,
radioativos e combustíveis) - Indústria de produtos de minerais não metálicos - Indústria metalúrgica - Indústria mecânica - Indústria de materiais elétricos e de comunicações - Indústria de materiais de transporte - Indústria de madeira - Indústria de mobiliário - Indústria de papel e papelão - Indústria de borracha - Indústria de couro, pele e similares - Indústria química - Indústria de produtos farmacêutico e veterinários - Indústria de produtos de matéria plástica - Indústria têxtil - Indústria do vestuário, calçados e artefatos de tecido - Indústria de produtos alimentares - Indústria de bebidas e álcool etílico - Indústria do fumo - Indústria editorial e gráfica
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- Indústrias diversas - Transporte - Comunicações - Serviços auxiliares de atividades econômicas (aluguel de
máquinas, assistência técnica, despachantes, agência de turismo, representação comercial, agência de informações, corretagem, loterias
- Serviços industriais de utilidade pública - Serviços de reparação e conservação
OPERARIADO EM GERAL • Ocupação manual especializada ou Ocupação manual não
especializada nos seguintes ramos de atividade - Comércio varejista de ferragens, produtos metalúrgicos e
sanitários e depósitos de materiais de construção - Comércio varejista de máquinas, aparelhos elétricos,
eletrodomésticos, artigos de eletricidade - Comércio varejista de produtos alimentícios, bebidas, fumo - Comércio de veículos, acessórios, combustíveis - Supermercados, lojas de departamento - Comércio varejista diverso: tecido, vestuário, calçados,
móveis, utilidades domésticas, papelaria, livraria, perfumaria, bijoutorias
- Comércio atacadista (produto agrícola não beneficiado de origem animal vegetal e mineral)
- Serviços de alojamento - Serviços de alimentação (restaurante, bar, lanchonete) - Serviços de diversões, radiodifusão e TV - Serviços de conservação, limpeza e domiciliares, vigilantes - Serviços pessoais - Serviços técnicos profissionais - Serviços públicos diversos - Serviços públicos de segurança - Organizações e representações internacionais - Serviços médicos, odontológicos e veterinários - Serviços de educação pública - Serviços de educação privada - Serviços comunitários e sociais - Instituições de crédito, seguro e capitalização - Comércio e administração de imóveis e valores mobiliários
SUB-PROLETARIADO • Ajudantes, auxiliares, serventes, aprendizes de ocupação manual
especializada • Emprego doméstico • Ocupação manual especializada ou não especializada nos seguintes
ramos de atividade: - Serviços domésticos - Construção Civil
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ANEXO F
Belo Horizonte Relação de bairros do Cadastro Municipal Imobiliário e
Tipologia Socio-espacial 1991 Bairro Tipologia sócio-espacial 1991
Aarao Reis Operário Aeroporto Médio Superior Alipio de Melo Médio Alto Barroca Superior Alto dos Caiçaras Médio Superior Alto dos Pinheiros Médio Alvaro Camargos Médio Alvorada Operário Anchieta Superior Aparecida Médio Aparecida Sétima Seção Médio Araguaia Operário Atila de Paiva Operário Bairro da Graça Médio Superior Bairro das Industrias Operário Superior Bairro das Mansões Superior Baleia Operário Bandeirantes Superior Barreiro de Baixo Operário Superior Barreiro de Cima Operário Superior Barro Preto Superior Barroca Superior Belmonte Operário Belvedere Superior Betânia Operário Boa Vista Operário Bom Jesus Médio Bonfim Médio Brasil Industrial Operário Braúnas Médio Buritis Médio Superior Conjunto Habitacional Confisco Médio Cabana Pai Tomaz Operário Popular Cachoeirinha Médio Caetano Furquim Operário Caicaras Médio Caicara Adelaide Médio Superior Calafate Médio Superior California Médio Camargos Médio Campo Alegre Operário
248
Canaã Operário Popular Bairro Tipologia sócio-espacial 1991
Capitão Eduardo Operário Cardoso Operário Superior Carlos Prates Médio Superior Carmo Superior Casa Branca Médio Castelo Médio Superior Centro Médio Superior Céu Azul Operário Cidade Jardim Superior Cidade Nova Superior Colégio Batista Médio Superior Concórdia Médio Superior Conjunto Califórnia Médio Conjunto Califórnia Dois Médio Conjunto Celso Machado Médio Conjunto Itacolomi Operário Conjunto Santa Maria Médio Superior Copacabana Médio Coqueiros Operário Coração de Jesus Superior Coração Eucarístico Médio Superior Cruzeiro Superior Dom Bosco Médio Dom Cabral Médio Superior Dom Joaquim Médio Dom Silverio Operário Dona Clara Médio Superior Durval De Barros Operário Superior Engenho Nogueira Médio Ermelinda Médio Ernesto do Nascimento Operário Esplanada Médio Estoril Superior Estrela Dalva Operário Etelvina Carneiro Operário Popular Europa Operário Popular Eymard Operário Filadelfia Operário Flavio De Oliveira Operário Flavio Marques Lisboa Operário Superior Floramar Operário Floresta Médio Superior Frei Eustaquio Operário Frei Leopoldo Operário Popular Funcionarios Superior
249
Gameleira Médio Bairro Tipologia sócio-espacial 1991
Garças Médio Glalijá Médio Gloria Médio Gorduras Operário Governador Benedito Valadares Médio Grajaú Médio Superior Guarani Operário Gutierrez Superior Havaí Médio Heliópolis Operário Horto Médio Superior Inconfidência Operário Independência Operário Popular Industrial Rodrigues da Cunha Operário Instituto Agronômico Médio Superior Ipanema Operário Ipiranga Médio Itaipu Operário Itapoã Médio Superior Jaqueline Operário Popular Jaragua Médio Superior Jardim América Médio Superior Jardim Atlântico Médio Jardim dos Comerciários Operário Popular Jardim Felicidade Operário Jardim Guanabara Operário Jardim Montanhez Operário Jardim Vitoria Operário Jardinópolis Médio Jatobá Operário Joao Paulo II Operário Joao Pinheiro Médio Juliana Operário Popular Lagoa Operário Lagoinha Médio Superior Lagoinha-Venda Nova Operário Leblon Médio Leticia Operário Liberdade Médio Superior Lindéia Operário Superior Lourdes Superior Luxemburgo Superior Madre Gertrudes Operário Magnesita Médio Maldonado Operário Mangabeiras Superior
250
Mantiqueira Operário Bairro Tipologia sócio-espacial 1991
Marajó Operário Maria Goretti Operário Maria Helena Operário Maria Virgínia Médio Marize Operário Milionários Operário Superior Minas Brasil Médio Superior Minas Caixa Operário Minaslândia Operário Monsenhor Messias Médio Superior Morro Das Pedras Popular Morro Do Papagaio Popular Nova Barroca Médio Nova Cachoeirinha Médio Nova Cintra Operário Nova Esperança Médio Nova Floresta Médio Superior Nova Gameleira Médio Nova Granada Médio Superior Nova Pampulha Médio Nova Suissa Médio Superior Nova Vista Médio Novo São Lucas Médio Superior Olaria Operário Superior Olhos d’ Água Operário Superior Ouro Preto Superior Padre Eustáquio Médio Superior Palmares Médio Palmeiras Operário Paquetá Superior Paraiso Médio Superior Parque Das Mangabeiras Superior Patrocinio Operário Popular Paulo VI Operário Pedreira Prado Lopes Operário Popular Pedro II Médio Pindorama Operário Pirajá Operário Planalto Médio Superior Pompéia Médio Pongelupe Operário Superior Prado Médio Superior Primavera Operário Primeiro De Maio Operário Providencia Operário Região da Nossa Senhora da Boa Viagem Superior
251
Regiao da Savassi Superior Bairro Tipologia sócio-espacial 1991
Regina Operário Superior Renascença Médio Ribeiro De Abreu Operário Rio Branco Operário Sagrada Família Médio Superior Salgado Filho Médio Santa Amélia Médio Santa Branca Médio Santa Cruz Médio Santa Cruz- Barreiro de Cima Operário Superior Santa Efigênia Médio Superior Santa Helena Operário Superior Santa Inês Médio Santa Lúcia Superior Santa Margarida Operário Santa Maria Médio Santa Mônica Médio Santa Rosa Médio Superior Santa Tereza Médio Superior Santa Terezinha Médio Santo Agostinho Superior Santo André Médio Santo Antônio Superior São Bento Superior São Bernardo Operário São Cristovão Médio São Francisco Médio São Gabriel Operário São Geraldo Médio São João Batista Médio São João Batista- Venda Nova Médio São José (Noroeste) Operário São José Superior São Lucas Médio Superior São Luiz Superior São Marcos Médio São Paulo Médio São Paulo- Venda Nova Operário São Pedro Superior São Salvador Operário São Tomáz Operário Sarandi Médio Saudade Operário Serra Superior Serra Verde Operário Serrano Médio
252
Sion Superior Bairro Tipologia sócio-espacial 1991
Solimões Operário Sumaré Operário Popular Taquaril Operário Teixeira Dias Operário Superior Tirol Operário Superior Trevo Médio Tupi Operário UFMG Médio União Médio Universitário Médio Superior Vale do Jatobá Operário Venda Nova Médio Vera Cruz Operário Vila Brasília Operário Vila Cafezal Popular Vila Cemig Operário Vila Clóris Operário Vila Oeste Médio Vila Paris Superior Vila Maria Virginia Médio Vista Alegre Operário Washington Pires Operário Superior Xangrilá Médio Zona Rural Operário Popular Zona Rural - Serra Do Curral Operário Superior