Segregação Residêncial e Políticas Públicas - Haroldo da Gama Torres.pdf

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    Introduo

    Grande parte das literaturas sociolgica e ur-banstica brasileiras toma a segregao residencialcomo um fato incontestvel. De um lado, a forteheterogeneidade de renda e de condies sociaisentre os bairros e os distritos das metrpoles bra-sileiras do base lgica a tal proposio (Villaa,2001; Taschner e Bgus, 2000; Ribeiro e Telles,2000). De outro, o grande tamanho da populao

    favelada e seu crescimento no perodo recenteservem tambm de inspirao ao argumento deque a segregao seria um fenmeno real e cadavez maior (Kowarick, 2001). Numa outra perspec-tiva, o crescimento dos chamados condomniosfechados, bem como o aumento dos aparatos desegurana e excluso existentes nos bairros e pr-

    dios de alta renda, tambm tm sido utilizadoscomo evidncia de uma sociedade cada vez maissegregada residencialmente (Caldeira, 2000).

    Paradoxalmente, a segregao residencialexistente nas cidades brasileiras quase nunca foimedida em termos empricos, no que pese a longatradio internacional de medir o fenmeno, sobre-tudo nos Estados Unidos (Massey e Denton, 1993;Mingione, 1999; Wilson, 1990).1 O desinteresse portal comparao pode ser talvez ser explicado pelo

    fato de a tradio norte-americana de estudos desegregao ser nitidamente voltada para a questoracial, enquanto no Brasil o debate sempre se focounos aspectos habitacionais e socioeconmicos maisgerais. No entanto, esse tipo de estudo empricotem tambm se tornado freqente em outros paseslatino-americanos, como, por exemplo, o Chile (Sa-batini, 2001) e o Mxico (Schteingart, 1987), suge-rindo que medidas de segregao que permitamanlises comparativas podem dar uma noo mais

    SEGREGAO RESIDENCIALE POLTICAS PBLICASSo Paulo na dcada de 1990

    Haroldo da Gama Torres

    Artigo recebido em fevereiro/2003Aprovado em novembro/2003

    RBCS Vol. 19 n. 54 fevereiro/2004

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    precisa dos nveis de segregao existentes emcada pas e a sua evoluo recente.

    Nesse sentido, este artigo organizado em tor-no de dois objetivos principais. Em primeiro lugar,pretendemos discutir por que a segregao residen-cial importante do ponto de vista das polticas so-ciais. Em segundo, buscamos medir a evoluo dasegregao residencial na regio metropolitana deSo Paulo na ltima dcada. Trabalharemos aquicom o ndice de dissimilaridade, indicador ampla-mente utilizado em estudos de segregao residen-cial (Massey e Denton, 1993; Briggs, 2001; Sabatini,

    2001). Utilizaremos tambm diferentes escalas geo-grficas (setores censitrios e distritos), de forma atentar distinguir como as chamadas micro e macrosegregao variaram no perodo.2

    Apresentamos na primeira seo uma discus-so sobre o significado da segregao para as pol-ticas pblicas, bem como o problema de como me-dir o fenmeno. A seguir, apresentamos diferentesalternativas de estimativa para o ndice de dissimila-ridade em So Paulo, tanto na escala de distritos doIBGE, como na escala de setores censitrios. Mostra-remos que a segregao residencial aumentou subs-

    tancialmente, tomando como referncia a distnciaentre as famlias cujos responsveis tinham entrezero e trs salrios mnimos e entre vinte salrios m-nimos e mais.3Adiante, tratamos de observar comoo fenmeno se distribuiu no interior da regio me-tropolitana de So Paulo. Ao final, extramos algu-mas conseqncias analticas desses resultados.

    Segregao e polticas pblicas

    O que segregao residencial? Tratado deforma genrica, o grau de aglomerao de umdeterminado grupo social/tnico em uma dadarea.4 Nesse sentido, a formao de condomniosfechados de alta renda como os da Barra (Rio deJaneiro) ou os de Alphaville (So Paulo) poderiaser considerada uma forma de auto-segregao.

    Peter Marcuse (2001), porm, defende umadefinio mais rigorosa do fenmeno, consideran-do-o o processo por meio do qual uma determi-nada populao forada de modo involuntrioa se agrupar em uma dada rea.5 Entre os compo-

    nentes que induziriam essa aglomerao foradaestariam tanto mecanismos de mercado que in-duzem valorizao ou desvalorizao imobi-liria de determinadas reas como instrumentosinstitucionais (taxao, investimentos pblicos, re-moo de favelas etc.) e prticas efetivas de dis-criminao (por exemplo, por parte de agentesimobilirios).6

    Essa definio tambm ressalta o aspecto, al-gumas vezes menosprezado, de que a segregao sobretudo um fenmeno relacional: s exis-te segregao de um grupo quando outro grupo

    se segrega ou segregado. nesse componenterelacional que as medidas de segregao vo sebasear, buscando medir o grau de isolamento deum determinado grupo social em relao a outro.

    Cabe tambm discutir com alguma profundi-dade por que a segregao residencial impor-tante do ponto de vista das polticas sociais. Demodo geral, seis elementos principais podem serapresentados como evidncia de que a segrega-o residencial contribui para o aumento e/ou aperpetuao da pobreza7:

    M qualidade residencial, riscos ambientais epara a sade: A principal maneira por meio da qualas famlias de menor renda lidam com a disputapelo espao urbano no mercado de terras tem aver com a busca por residncias e/ou reas desva-lorizadas, isto , domiclios pequenos, pior dotadosde infra-estrutura urbanstica e, muitas vezes, sujei-tos a riscos de diversos tipos relacionados ausn-cia de saneamento e a problemas ambientais comoinundaes e deslizamentos.8 Evidncias para ou-tros pases indicam que os custos diretos associa-dos perda de horas de trabalho devido a doen-as, bem como os gastos com medicamentos eprocedimentos mdicos, contribuam substancial-mente para a reduo da renda disponvel para oconsumo, acentuando a pobreza, a mortalidade ea instabilidade econmica da famlia (Yinger,2001). No caso do Brasil, os gastos com sade soregressivos, incidindo mais acentuadamente sobreos mais pobres (Grfico 1). Isso significa que riscospara a sade decorrentes das condies de mora-dia contribuem adicionalmente para agravar essasituao de regressividade.

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    Custos de moradia desproporcionais: De modogeral, famlias mais pobres tendem a apresentarum gasto com moradia (como proporo da ren-da) superior ao de famlias de classe mdia e alta.Segundo a pesquisa de oramento familiar (POF-96) do IBGE, por exemplo, enquanto os gastoscom habitao correspondem a 24,9% dos gastosdas famlias com rendimento familiar inferior adois salrios mnimos, essa proporo declinan-te segundo a renda, atingindo 17,7% para as fam-lias com renda familiar superior a trinta salriosmnimos (Grfico 1). Como conseqncia, a ren-

    da disponvel para o consumo de alimentos e ou-tros bens e servios proporcionalmente menor,contribuindo para o empobrecimento relativodessas famlias. Em outras palavras, ao contrriodo que se poderia imaginar, a segregao da po-pulao em favelas e periferias em mdia nocontribui para contrabalanar a regressividadedos custos de moradia, provavelmente devido escassez de espao disponvel (ao preo que es-sas famlias podem pagar) e o conseqente au-mento de seu custo relativo.9

    Efeitos de vizinhana: Diversos estudos eviden-ciam que crescer em bairros com alta concentra-o de pobreza tem efeitos negativos relevantesem termos de avano educacional, emprego, gra-videz na adolescncia e atividade criminal (Dura-lauf, 2001; Briggs, 2001; Cardia 2000). Embora osmecanismos que explicam a relao entre piordesempenho educacional e residncia em locaisde elevada concentrao de pobres, por exemplo,no sejam bem conhecidos, evidente que o piordesempenho educacional nessas reas contribuipara perpetuar e reproduzir a pobreza a longo

    prazo. Por outro lado, na medida em que a redede relaes sociais de um indivduo ou famliacontribui para seu acesso a empregos e a serviospblicos, o isolamento social presente nas reassegregadas tende a contribuir significativamentepara a reduo das oportunidades das famlias re-sidentes nesses locais.

    Distncia entre moradia e emprego: Este fen-meno, identificado na literatura internacionalcomo spatial mismatch, diz respeito baixa fre-

    Grfico 1Gastos em Sade e Educao Segundo Faixa de Renda Familiar,

    Regies Metropolitanas Brasileiras, 1996.

    Fonte: IBGE, Pesquisa de Oramento Familiar (POF), 1996.

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    qncia de empregos nos locais de moradia dapopulao de baixa renda (Kasarda, 1993). Nocaso da regio metropolitana de So Paulo, porexemplo, a maior parte do emprego nos setoresdinmicos de comrcio e servios concentra-senum nmero restrito de distritos do Centro e aolongo do corredor Sul-Sudoeste do municpio deSo Paulo (Jardim Paulista, Itaim, Pinheiros, Moe-ma e Vila Mariana). A maior parte desses distritos ocupado por moradores de mdia e alta renda(Emplasa, 1994). Alm disso, o deslocamento es-pacial entre empregos e moradia foi acentuado

    pela significativa perda de empregos industriais naZona Leste de So Paulo e nos municpios doABC. Como conseqncia, a moradia em perife-rias distantes e em cidades-dormitrios alm deaumentar os custos de transporte com impactospara a renda disponvel e conforto dos moradores trs tambm efeitos sobre o acesso informaosobre postos de trabalho, bem como eleva subs-tancialmente os custos de procurar emprego.

    A moradia em situao irregular: A posse irre-gular da terra, em favelas ou loteamentos clandes-

    tinos, induz pior acesso a servios pblicos. Tal fe-nmeno ocorre porque a proviso de serviospblicos nesses locais tende a ser problemtica,uma vez que em muitos casos a oferta de ser-vios depende da existncia de terras pertencentesao Estado (ou passveis de aquisio), disponveispara a construo de escolas, infra-estrutura urba-na e outros equipamentos sociais (Maricato, 1996).

    A moradia como fator de gerao de renda: Pordiversas razes, a moradia pode ser tambm en-tendida como um fator de gerao de renda. Es-pao residencial pode ser utilizado para fins pro-dutivos: cmodos podem ser alugados; produtospodem ser estocados; a casa pode ser o locus deproduo de roupas, alimentos e servios; a casapode ser utilizada como ponto de venda. Almdisso, em algumas circunstncias, a casa pode serusada como garantia para emprstimos passveisde serem utilizados para fins produtivos.10 Todasessas possibilidades so menos provveis em lo-cais muito segregados, em virtude da fragilidadedo mercado local, da ausncia de espao dispon-

    vel, da precariedade tanto de residncias como dostatus jurdico dos domiclios.

    Em suma, existe grande evidncia na litera-tura de que, por diferenciados mecanismos, a se-gregao espacial contribui para a reproduo dapobreza e de problemas sociais nas reas de em-prego, educao, habitao, sade, transportes,gerao de renda e segurana pblica. Da a suacentralidade para o debate metropolitano no Bra-sil e a importncia de mensurar o fenmeno paracompreender sua evoluo ao longo do tempo.

    Medidas de segregao

    De modo geral, o conceito de segregao re-mete-se a duas dimenses principais: os padresde concentrao espacial de determinados grupossociais e o grau de homogeneidade social de de-terminadas reas.11 Essas dimenses so medidaspor meio de indicadores baseados na composioda populao de cada rea estudada. Provavel-mente, o indicador mais utilizado neste campo o ndice de dissimilaridade, embora outras medi-

    das, como os chamados ndices de isolamento,sejam tambm utilizadas (Sabatini, 2001; Massey eDenton, 1993).

    O ndice de dissimilaridade mede a propor-o da populao (de um dado grupo social) queteria de mudar para que a distribuio de cada gru-po social em cada rea fosse similar a essa distri-buio para o conjunto da cidade.12 No geral, umndice de 0 a 30% implica uma segregao suave,de 30 a 60% uma moderada e de mais de 60% umasevera (Massey e Denton, 1993; Briggs, 2001). Tra-ta-se, porm, de um indicador relativamente limita-do e que pode ser criticado de duas maneiras:

    O indicador no capta a segregao no interiordas zonas utilizadas como unidade de anlise(distritos, bairros etc.). A populao de um dadogrupo social pode viver no interior de um nicocondomnio ou dispersa por todo distrito, e o in-dicador o mesmo para aquele distrito.

    O indicador varia segundo o tamanho da uni-dade de anlise. Geralmente, o nvel de dissimila-

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    ridade tende a ser mais baixo para reas grandes(como distritos) do que para reas menores(como setores censitrios), no chamado problemadogrid(Sabatini, 2001).13

    De qualquer modo, para tentar controlar es-ses problemas, adotaremos aqui dois procedi-mentos principais. Trabalhar com a menor unida-de de anlise possvel (no caso o setor censitrio),de modo a tentar minimizar o problema da distri-buio da populao no interior de cada rea.Calcular os ndices de dissimilaridade tanto parasetores censitrios, como para distritos, de modo

    a considerarmos o problema do grid.Apesar dessas dificuldades, este indicadortem sido bastante utilizado, sendo capaz de evi-denciar, por exemplo, os altssimos nveis de se-gregao residencial de negros e brancos em to-das as grandes cidades norte-americanas, comnveis mais elevados para Chicago, Detroit e Kan-sas City (Massey e Denton, 1993). A utilizao desetores censitrios como unidade de anlise tam-bm permitiu mostrar que essa forma segregaose manteve elevada entre os anos de 1940 e 1990,com uma nica exceo para a queda relativa ob-

    servada na cidade de So Francisco. Apresenta-mos a seguir os resultados observados para SoPaulo em 1991 e 2000, tendo por referncia a cha-mada segregao socioeconmica e no a racial.14

    Avaliao da segregao residencialem So Paulo

    O que tentaremos medir aqui a evoluoda segregao residencial nos anos de 1990 tendopor referncia a separao entre famlias cujos

    chefes tm alta e baixa renda e entre famlias cu-jos chefes tm alta e baixa escolaridade. Calcula-remos a medida tanto para distritos como para se-tores censitrios nos anos de 1991 e 2000.

    Todavia, antes de apresentarmos os resulta-dos propriamente ditos, vale a pena discutir comoos indicadores de rendimento e escolaridade disponveis na escala de setores censitrios va-riaram no perodo nos 21 municpios da manchaurbana de So Paulo considerados na anlise.15

    Apresentamos na Tabela 1 a evoluo da renda

    Tabela 1Distribuio dos Chefes de Domiclio da Mancha Urbana de So Paulo,

    Segundo Escolaridade e Renda, 1991 e 2000

    Renda do chefe de domiclio Total Distribuio* Distribuio**19910 a 3 salrios mnimos 1.457.507 39,09 41,823 a 10 salrios mnimos 1.438.649 38,58 41,2810 a 15 salrios mnimos 262.094 7,03 7,5215 a 20 salrios mnimos 115.282 3,09 3,3120 salrios mnimos e mais 211.556 5,67 6,07Sem rendimento/no informa 243.561 6,53 Total 3.728.649 100,00 100,00

    20000 a 3 salrios mnimos 1.457.854 31,44 35,433 a 10 salrios mnimos 1.839.584 39,67 44,7110 a 15 salrios mnimos 269.950 5,82 6,5615 a 20 salrios mnimos 205.548 4,43 5,0020 salrios mnimos e mais 341.990 7,37 8,31Sem rendimento/no informa 522.384 11,26 Total 4.637.310 100,00 100,00

    *Considera os chefes de domiclio sem rendimento.

    **No considera os chefes de domiclio sem rendimento.

    Fonte: IBGE, Censos Demogrficos de 1991 e 2000.

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    dos chefes de domiclio nos anos de 1990. Pode-mos observar que a proporo de chefes comzero a trs salrios mnimos de rendimento men-sal caiu substancialmente de 41,8 para 35,4%, en-quanto crescia ligeiramente a proporo de che-fes com mais de dez, mais de quinze e mais devinte salrios mnimos. Provavelmente essa evolu-o est subestimada em valores reais, uma vezque o salrio mnimo apresentou alguma aprecia-o depois do Plano Real.16 De todo modo, pre-ciso tomar algum cuidado com essa comparaoem funo diferena entre os critrios de captao

    da informao sobre os sem rendimento entreos censos de 1991 e 2000.17

    Os dados censitrios tambm indicam que,para a dcada de 1990, a proporo de chefes commenos de trs anos de estudo caiu de 24,5 para19,3%. Analogamente, a proporo de chefes comonze anos de escolaridade ou mais (segundo graucompleto) passou de 24,7 para 31%, embora a pro-poro de chefes com superior completo (quinzeanos de estudo e mais) tenha ficado praticamenteestagnada, de 10,61 em 1991 para 11,32% em 2000.

    Em outras palavras, ao longo da dcada, a

    populao de baixssima escolaridade e de baixs-sima renda parece ter cado significativamente naregio metropolitana de So Paulo. Esses dadosso consistentes com os indicadores educacionaismais gerais e com os dados de rendimento dispo-nveis a partir de outras fontes de dados, como aPED e as PNADs e a PME.

    No entanto, nem sempre a reduo dos nveisde pobreza implica a reduo da segregao. Mas-sey e Denton (1993), por exemplo, defendem o ar-gumento de que entre 1910 e 1940 a segregaoresidencial aumentou substancialmente nos Esta-dos Unidos, no que pese a significativa elevaodos nveis de renda. No caso de So Paulo, quan-do consideramos para a escala de setores censi-trios os ndices de dissimilaridade por renda en-tre chefes com zero a trs salrios mnimos eaqueles com mais de vinte, podemos observar quea segregao aumentou significativamente, passan-

    do de 71,9 para 77,0 entre 1991 e 2000 (Tabela 2).18

    Alm da importncia do crescimento da se-gregao, como indicador de deteriorao das re-laes sociais na cidade na dcada de 1990, valedestacar que os nveis observados so muito im-pressionantes, superiores dissimilaridade entrenegros e brancos existente em Nova York em1980 (Massey e Denton, 1993), embora essa com-parao deva ser tomada com ressalvas.19Alm domais, quando consideramos a dissimilaridadepara outros estratos de renda, como para as faixasde zero a trs e dez salrios mnimos e mais, ob-

    servamos que tambm neste caso os nveisso elevados (indicando severa segregao) ecada vez maiores ao longo da dcada. Em outraspalavras, o fenmeno do isolamento social pare-ce no ter se restringido apenas aos extremos dadistribuio de renda, mas tambm a estratos in-termedirios de classe mdia.

    Tabela 2ndices de Segregao Residencial (Dissimilaridade) Segundo Diferentes Grupos de Escolarida-

    de e Renda, na Escala de Setores Censitrios, Mancha Urbana de So Paulo, 1991 e 2000*

    Dissimilaridade Residencial 1991 2000Dissimilaridade entre chefes de 0 a 3 e 10 e mais salrios mnimos 58,43 63,92Dissimilaridade entre chefes de 0 a 3 e 15 e mais salrios mnimos 66,90 71,08Dissimilaridade entre chefes de 0 a 3 e 20 e mais salrios mnimos 71,86 76,97Dissimilaridade entre chefes de 0 a 3 e 11 e mais anos de estudo 57,48 51,64Dissimilaridade entre chefes de 0 a 3 e 15 e mais anos de estudo 70,76 71,32Total de setores censitrios 14.114 20.127

    *As estimativas de dissimilaridade foram realizadas a partir dos setores censitrios de 1991 e 2000.

    Fonte: IBGE, Censos Demogrficos de 1991 e 2000.

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    Os dados de segregao por estrados educa-cionais, no entanto, narram uma outra histria. Asegregao cresceu ligeiramente entre as famliascom chefes com curso superior (quinze anos deestudo e mais) e aquelas cujos chefes tinham bai-xa escolaridade (at trs anos). Porm, ela caiusubstancialmente, de 57,5 para 51,6, na compara-o entre chefes com at trs anos de estudo eaqueles com segundo grau completo (onze anosde estudo e mais).20

    De um lado, observamos o aumento da se-gregao residencial quando tomamos renda como

    parmetro; de outro, observamos sua reduo ten-do por referncia a escolaridade. Esse fenmenoparece ser reflexo do aumento substancial da esco-laridade ocorrido na regio metropolitana de SoPaulo na dcada de 1990 (Alesp, 2000), fazendocom que, cada vez mais, pessoas com segundograu passassem a residir em bairros populares. Noentanto, esse movimento no se traduziu em mu-dana efetiva dos padres de segregao socioeco-nmica medidos por rendimento.

    Quando tratamos de medir a segregaonuma outra escala a de distritos , observamos

    movimentos semelhantes. A segregao cresce se-gundo os parmetros de rendimento, e cai segun-do os parmetros de escolaridade (Tabela 3).Como era esperado, os nveis de segregao somais baixos neste caso, em funo da variao daescala de observao. Cabe destacar que distritosso unidades espaciais de grande porte, podendo

    conter em seu interior uma heterogeneidade espa-cial relevante (como a ocorrncia de favelas) nocaptadas pela medida nesta escala.21 Mesmo assim,os nveis observados ainda so relativamente ele-vados, sobretudo quando consideramos a dissimi-laridade entre os chefes de zero a trs salrios m-nimos e os de vinte salrios mnimos e mais.

    Ao contrrio do observado em Santiago (Sa-batini, 2001), onde foram constatados queda namacrosegregao e aumento na microsegregao,em So Paulo a segregao medida por rendimen-tos aumentou nas duas escalas. Essas medidas su-

    gerem um crescente isolamento social, tanto nacomparao entre grandes reas, como localmen-te, no interior de cada distrito. Indicam tambm aextenso e a profundidade do fenmeno.

    Em sntese, os resultados aqui apresentadosapontam uma evoluo complexa da situaosocial paulistana na dcada de 1990. De um lado,observamos reduo da pobreza e da proporode chefes de famlia com baixssima escolaridade.De outro, constatamos um aumento substancialda segregao residencial, quando observada porparmetro de renda. Esse fenmeno no de

    todo inesperado para a regio metropolitana deSo Paulo. De fato, a dcada de 1990 foi semprecontraditria em relao a outros indicadores so-ciais, com melhora significativa em alguns deles(como educao e saneamento) e deteriorao re-levante de outros (como desemprego e violncia)(Alesp, 2000).

    Tabela 3ndices de Segregao Residencial (Dissimilaridade) Segundo Diferentes Grupos de

    Escolaridade e Renda, na Escala de Distritos, Mancha Urbana de So Paulo, 1991 e 2000

    Dissimilaridade Residencial 1991 2000Dissimilaridade entre chefes de 0 a 3 e 10 e mais salrios mnimos 41,88 45,64Dissimilaridade entre chefes de 0 a 3 e 15 e mais salrios mnimos 50,46 52,49Dissimilaridade entre chefes de 0 a 3 e 20 e mais salrios mnimos 55,77 58,80Dissimilaridade entre chefes de 0 a 3 e 11 e mais anos de estudo 41,21 34,67Dissimilaridade entre chefes de 0 a 3 e 15 e mais anos de estudo 54,42 52,99Total de distritos 132 132

    Fonte: IBGE, Censos Demogrficos de 1991 e 2000.

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    Hipteses sobre a evoluo observadanos anos de 1990

    Para justificar o aumento da segregao ob-servado para a dcada de 1990, poderamos com base na literatura formular trs hiptesesdiferentes, no excludentes: Incremento no padro de auto-isolamento dosgrupos de renda mais elevada: Tal hiptese podeser derivada, por exemplo, do trabalho de Caldei-ra (2000), que aponta para o impacto do cresci-mento de condomnios e reas fechadas, sobretu-do na poro Oeste da regio metropolitana.22

    Maior grau de isolamento da populao favelada:Este argumento foi utilizado por Kowarick (2001),por exemplo. Porm, deve-se chamar a atenopara o fato de que o crescimento demogrfico dasfavelas no pode ser utilizado per sicomo indica-dor de segregao. Se esse crescimento acompa-nhado de uma maior heterogeneidade social das fa-velas, por exemplo, ele pode implicar em reduoda segregao, ao menos nos termos de um indica-dor como o ndice de dissimilaridade.23

    Continuidade do processo de periferizao:Tem-se observado esse processo com o consisten-te aumento da populao de municpios e distritosmais afastados do centro de So Paulo (Villaa,1999). Trata-se de um fenmeno em curso desteos anos de 1950, mas a partir da dcada de 1970os distritos centrais passaram a apresentar taxasnegativas de crescimento, enquanto os distritos daperiferia urbana continuaram a apresentar taxaselevadas.24 No entanto, nem sempre o crescimen-to demogrfico implica maior segregao.

    Para discutir com mais profundidade esseselementos, apresentamos no Mapa 1 e na Tabela4 a distribuio dos setores censitrios da manchaurbana de So Paulo, classificados segundo o es-trato de renda predominante dos chefes de domi-clio desse setor.25

    Do ponto de vista espacial, podemos obser-var que as famlias cujos chefes tm renda superiora dez salrios mnimos so localizadas de formapredominante no centro da metrpole, o que consistente com o modelo centro-periferia (Villaa,2001). Observa-se, no entanto, uma importante he-

    Mapa 1Setores Censitrios Classificados Segundo o Grupo de Renda Predominante do

    Chefe de Domiclio, Mancha Urbana de So Paulo, 2000

    Fonte: IBGE, Censo Demogrfico 2000.

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    terogeneidade, dada pela significativa presena dencleos de maior renda nos bairros de Santana e

    Tatuap, bem como nos ncleos dos municpiosdo ABC e de Guarulhos e nos condomnios dosmunicpios do Oeste da regio metropolitana (Mar-ques e Bitar, 2002).

    De modo anlogo, os grupos de renda inter-mediria localizam-se num anel intermedirio, eos grupos de menor renda ao longo de todo anelperifrico. Cabe porm destacar a significativapresena de reas de baixa renda incrustadas aolongo de todo anel intermedirio, elemento quepode ser explicado em funo da presena de se-tores subnormais (favelas) tanto no anel interme-dirio como no perifrico.

    A rigor, a diviso da regio metropolitananestes trs grupos de setores censitrios permite-nos refletir com mais profundidade a respeito dosprocessos subjacentes ao aumento da segregaoobservado na seo anterior. Esses resultados po-dem ser observados na Tabela 4.

    Podemos observar que, na comparao en-tre 1991 e 2000, a proporo de chefes com maisde dez salrios mnimos que residem em setorespredominantemente ocupados por famlias per-

    tencentes a este grupo de renda cresceu de 48,6para 50,9%. Em outras palavras, as reas mais ri-

    cas da regio tornaram-se um pouco mais exclu-sivas no perodo, em funo da reduo da pro-poro de famlias cujos chefes tinham entre trse dez salrios mnimos. Esses resultados parecemconsistentes com a hiptese proposta por Caldei-ra (2000), relacionada ao aumento da auto-segre-gao dos mais ricos.26

    Por outro lado, nas reas predominantementeocupadas por famlias cujos chefes recebiam entrezero e trs salrios mnimos, observou-se um au-mento substancial da participao das famlias maispobres, sendo que a proporo de pobres residin-do neste tipo de setor passou de 32,7 para 46,9%.27

    Isso quer dizer que as reas com predominncia depessoas muito pobres se tornaram menos diversifi-cadas socialmente. Ou seja, esses dados mostramque o crescimento demogrfico observado na peri-feria de fato contribuiu para o aumento da propor-o de pobres neste tipo de rea, conforme a hip-tese sugerida por Villaa (1999).

    Para melhor interpretar os resultados, apre-sentamos a seguir o mesmo problema em termosdo indicador de dissimilaridade (Tabela 5). Para

    Tabela 4Distribuio dos Chefes do Domiclio da Regio Metropolitana de So Paulo, Segundo Faixasde Rendimentos do Chefe e Segundo o Tipo de Setor Censitrio Predominante, 1991 e 2000

    Proporo de chefes com: TotalTipo de setor censitrio 0 a 3 s.m. 3 a 10 s.m. 10 s.m. e mais1991*Predomnio de chefes de 0 a 3 32,73 18,63 4,32 22,11Predomnio de chefes de 3 a 10 60,93 68,81 47,08 61,84Predomnio de chefes de 10 e mais 6,34 12,56 48,60 16,05Total 100,00 100,00 100,00 100,00

    2000Predomnio de chefes de 0 a 3 46,95 24,28 4,26 28,33Predomnio de chefes de 3 a 10 49,73 66,04 44,76 56,03Predomnio de chefes de 10 e mais 3,32 9,69 50,98 15,63Total 100,00 100,00 100,00 100,00

    *Identificamos por geoprocessamento os setores de 1991 que correspondem (por sobreposio cartogrfica) a cada

    um dos tipos de setor censitrio, conforme a diviso proposta para 2000 no Mapa 1.

    Fonte: IBGE, 1991 e 2000.

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    isso, lanamos mo da chamada contribuio decada rea para a dissimilaridade.28

    De fato, quando tomamos nos setores nor-mais o ndice de dissimilaridade para os dois extre-

    mos da distribuio de renda, podemos observarque a contribuio para a segregao dos setorespredominantemente pobres aumentou entre 1991 e2000, ao mesmo tempo em que tambm crescia acontribuio da segregao nos setores predominan-temente ricos. Quando tomamos isoladamente os se-tores subnormais (favelas), podemos tambm obser-var que esse grupamento contribuiu tambm para oaumento da segregao residencial no perodo.

    Em termos absolutos, a maior contribuiopara a dissimilaridade dada pelos setores censit-rios com elevadas propores de famlias mais ri-cas. No entanto, observou-se um maior crescimen-to do grau de isolamento social das populaes defavela e periferia, reforando sua relevncia na ex-plicao da elevao dos nveis de segregao re-sidencial na regio metropolitana de So Paulo aolongo da dcada de 1990. As reas de renda inter-mediria aqui caracterizada pelas reas com pre-domnio de famlias de trs a dez salrios mnimos(Mapa 1) continuam sendo importantes para ex-plicao dos elevados nveis de segregao, masseu impacto foi reduzido na ltima dcada.

    Concluso

    De certa forma, os resultados aqui apresen-tados permitem a insero do tema da segregao

    no mbito do debate sobre a chamada dcadaperdida. Vrios autores discutiram o paradoxo damelhora dos indicadores sociais nos anos de 1980vis--visa dinmica negativa da economia brasi-leira.29 O fenmeno foi explicado em funo daao dos movimentos sociais e, sobretudo, comofruto do carter inercial das polticas pblicas ur-banas (Marques e Najar, 1995; Torres, 1997). Apa-rentemente, os dados de segregao caminhamno sentido de reafirmar, para a dcada de 1990,paradoxo anlogo.

    Em outras palavras, embora a ao estatal te-nha contribudo nas ltimas dcadas para reduzira desigualdade em termos de acesso a serviospblicos particularmente educao e saneamen-to , essas intervenes no contriburam para re-duzir de modo significativo o grau de isolamentoentre os grupos sociais existentes em So Paulo.Os nveis de segregao j eram elevados em1991 e cresceram na ltima dcada.

    Aparentemente, uma das poucas polticas so-ciais que poderia ser utilizada de modo consistentepara combater a segregao residencial embora

    Tabela 5Distribuio da Dissimilaridade Segundo o Tipo de Setor Censitrio, 1991 e 2000

    Ano Dissimilaridade Total Contribuio Contribuio dos setores normais* comdos setores predomnio de chefes com:subnormais 0 a 3 s.m. 3 a 10 s.m. 10 s.m. e +

    Dissimilaridade entre 0 a 3 e 10 salrios mnimos e mais

    1991 58,43 4,77 9,89 22,36 21,422000 63,92 7,20 14,17 18,72 23,83

    Dissimilaridade entre 0 a 3 e 20 salrios mnimos e mais

    1991 71,86 4,91 10,75 25,27 30,942000 76,97 7,37 15,28 20,44 33,88

    *Identificamos por geoprocessamento os setores de 1991 que correspondem (por sobreposio cartogrfica) a cada

    um dos tipos de setor censitrio, conforme a diviso proposta para 2000 no Mapa 1.

    Fonte: IBGE, 1991 e 2000.

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    possa agrav-la a poltica habitacional (Briggs,2001).30 Infelizmente, essa poltica parece ter sidopouco prioritria, tanto na agenda nacional comolocal na dcada de 1990.31 Enquanto volumes signi-ficativos de recursos eram alocados inclusive me-diante reformas constitucionais para as reas desade e educao, os recursos para a rea de habi-tao ficaram relativamente contingenciados, atmesmo devido aos problemas observados com oFGTS nos anos de 1990.

    De modo geral, polticas habitacionais so-bretudo aquelas voltadas para os grupos de me-

    nor renda precisam ser subsidiadas. Esse ele-mento, somado ao elevado dficit habitacional,32

    pode ter desencorajado programas habitacionaisem larga escala, sobretudo num contexto de seve-ra restrio oramentria. De qualquer maneira,ainda precisamos entender em profundidade porque as polticas habitacionais avanaram lenta-mente na dcada, quando outras polticas sociaisapresentaram resultados mais significativos.

    Num artigo publicado na imprensa,33 porexemplo, o presidente da Caixa Econmica Fede-ral ao longo do Governo Fernando Henrique Car-

    doso (Emlio Carazzai) argumentava que os meca-nismos de crdito no subsidiado no eramadequados para as famlias que recebiam menosde trs salrios mnimos. Alm disso, o programapblico mais importante na rea (Programa de Ar-rendamento Residencial PAR) naquele momen-to no podia ser adequadamente implantado emregies metropolitanas em funo da inadequa-o do valor dos financiamentos aos altos custosdos terrenos existentes nas metrpoles.

    Em tese, as restries oramentrias pode-riam ser parcialmente contornadas por meio depolticas habitacionais no convencionais, taiscomo a urbanizao de favelas, a regularizaofundiria e a readequao de cortios. Essas pol-ticas podem ter impactos importantes porque somuito mais baratas e podem envolver aspectos dedesenvolvimento comunitrio. No entanto, elascontribuem pouco para a reduo da segregaoresidencial porque, em geral, no produzem umamaior mistura populacional.

    Em sntese, a necessidade de uma poltica ha-bitacional capaz de combater a segregao residen-

    cial e suas conseqncias parece ser uma priorida-de evidente para uma regio metropolitana como ade So Paulo, onde o crescente sentimento de mal-estar coletivo, violncia e degradao urbana amanifestao mais aparente do fenmeno. Porm,a prioridade poltica, bem como as condies insti-tucionais e financeiras de tal poltica no parecemter sido viabilizadas na ltima dcada.

    Notas

    1 Excees so os trabalhos de Edward Telles (1994,1995 e 2003).

    2 Por macrosegregao consideramos o fenmenonuma escala espacial mais abrangente, como distri-tos censitrios. Por microsegregao, tomamos ossetores censitrios como unidade de anlise. Emtermos empricos, pode-se observar distines im-portantes entre esses fenmenos, com a reduo damacrosegregao em uma determinada rea urbanae o aumento da microsegregao, como ocorridoem Santiago recentemente (Sabatini, 2001).

    3 A renda familiar per capita seria a varivel mais ade-quada para medirmos as dimenses socioeconmi-cas da segregao residencial. Infelizmente, o IBGE

    no publica essa varivel na escala de setores cen-sitrios, inviabilizando sua utilizao como medidade microsegregao.

    4 Na Amrica Latina muitas vezes esse conceito temsido utilizado de modo frouxo, assumindo que a se-gregao espacial um mero reflexo das diferenassociais. O termo segregao tambm tomadocomo sinnimo de desigualdade, excluso e mes-mo de pobreza (Sabatini, 2001).

    5 Segregao o processo pelo qual a populao forada isto , de modo involuntrio a se con-centrar em uma rea especfica, num ghetto. Trata-se do processo de formao e manuteno desseghetto (Marcuse, 2001).

    6 Por mais interessante e rigorosa que seja essa defi-nio, a identificao do quanto a segregao deuma determinada rea forada ou voluntria praticamente impossvel do ponto de vista das me-didas convencionais do fenmeno. inevitvel uti-lizar dados etnogrficos para se identificar, porexemplo, se as famlias que residem numa dadarea o fazem, ou no, por falta de opo. Em outraspalavras, as medidas de segregao, que normal-mente se baseiam em dados agregados por reas,permitem observar os nveis de segregao e sua va-riao ao longo do tempo, mas no permitem qua-lificar sua natureza (forada, auto-segregao etc.).

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    7 Essa discusso baseada em parte em Yinger (2001).

    8 Por exemplo, uma parcela significativa das favelasde So Paulo est localizada em locais de risco am-biental (Taschner, 1992).

    9 Esse efeito seria ainda maior se a moradia em terre-no ocupado (como em favelas) no existisse.

    10 Tal possibilidade menos freqente no Brasil emfuno da legislao que veda o despejo de famliaspossuidoras de um nico imvel prprio.

    11 Massey e Denton (1993) mencionam outras dimen-ses, tais como concentrao (que mede a densida-de da pobreza) e centralizao (que mede sua loca-

    lizao em relao ao centro da cidade).Consideramos esses elementos menos relevantespara a discusso brasileira.

    12 Em termos formais, o ndice de dissimilaridadepode ser descrito por: ID = 0,5 Xi Yi, onde

    Xi a proporo de membros do grupo X residen-tes no distrito i(em relao ao total de pessoas dogrupo X no municpio) e Yi a proporo de mem-bros do grupo Y residentes no distrito i(em relaoao total de pessoas do grupo Y no municpio).

    13 Esta ltima caracterstica tende a tornar mais com-plexas as comparaes interreas pois, para que acomparao seja realizada adequadamente, o tipode unidade de anlise tem de ser relativamente ho-mogneo nas duas localidades observadas.

    14 Infelizmente o IBGE no publica, na escala de seto-res censitrios, os dados de raa ou cor.

    15 Devido disponibilidade de dados por setor censit-rio, consideramos nesta anlise os 21 municpios queformam a mancha urbana de So Paulo e contribuemcom mais de 92% da populao total da regio metro-politana. Grosso modo, exclumos municpios de pe-queno porte e predominantemente rurais como SantaIsabel, Juquitiba e Salespolis. Todos os municpiosde grande porte, como So Paulo, Osasco, Guarulhose os da regio do ABCD foram considerados.

    16 Os ganhos salariais do Plano Real passaram a sercomprometidos a partir de 1998. Todavia, em 2000

    os nveis observados eram significativamente supe-riores aos de 1991, sobretudo em funo da redu-o da inflao.

    17 Considerando os dados da Pesquisa de Emprego eDesemprego (PED-Seade/Dieese) para a qual noh variao na forma de captao da informaosobre os sem rendimento , a proporo de che-fes de domiclio com renda entre zero e trs sal-rios mnimos passou de 44,4% em setembro de1991 (data do censo) para 31,0% em julho de 2000.

    18 O fato de o nmero de setores censitrios no seridntico entre os dois censos pode distorcer em al-

    guma medida a comparao aqui realizada. Apre-sentamos no Anexo 1 os mesmos dados para agru-pamentos de setores censitrios comparveis nosdois censos. Os resultados a observados so bas-tante similares, e as concluses apontam para amesma direo.

    19 Nesse estudo, os autores consideram tambm a es-cala de setores censitrios para produzir os indica-dores de segregao. No entanto, os setores censi-trios norte-americanos tm tamanho superior aosbrasileiros, com aproximadamente quatro mil habi-tantes por rea. Em contrapartida, segregao raciale socioeconmica no so necessariamente compa-rveis diretamente.

    20 Esses dados so consistentes com estudos recentes.H evidncia de que a principal barreira ascensoeducacional existente na escola brasileira hoje, par-ticularmente em So Paulo, encontra-se agora napassagem do segundo grau para a universidade(Menezes-Filho, 2002).

    21 Ver na seo Segregao e polticas pblicas a dis-cusso sobre o problema dogrid.

    22 Essa hiptese parece sugerir o aumento da microse-gregao (na escala de setores censitrios), mas nonecessariamente o da macrosegregao.

    23 Embora os nmeros envolvidos nesta rea sejampolmicos, sobretudo em funo de estimativas so-bre-registradas de populao favelada realizadaspela Fipe (Dirio Oficial do Municpio de So Pau-lo, 1995), tudo indica que tem havido um aumentoconsistente da proporo populao que reside emfavelas desde os anos de 1970 (Torres e Marques,2002). Entre 1991 e 2000, a populao residente noschamados setores censitrios subnormais o con-ceito de favelas do IBGE cresceu a uma taxa de3,7% ao ano, contra um crescimento de 0,9% parao conjunto do municpio.

    24 Distritos como Graja, Jaragu e Cidade Tiradentescresceram a mais de 4% ano entre 1991 e 2000.

    25 Por predominantemente de zero a trs salrios m-nimos, por exemplo, entendemos que este setortem um maior nmero de chefes de zero a trs sa-

    lrios mnimos do que de chefes de trs a dez sal-rios mnimos ou de dez salrios mnimos e mais.

    26 Este resultado afetado pelo recorte especial adota-do. Num exerccio anlogo, onde adotamos um ou-tro recorte especial que considerava simultaneamen-te renda familiar e taxa de crescimento demogrfico,a proporo dos mais ricos residindo em reas compredomnio de famlias de renda mais elevada ficouestvel.

    27 A proporo de famlias nas reas com predomniode pobres passou de 22,1 para 22,8% do total damancha urbana.

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    28 Em termos matemticos, trata-se da forma 0,5 Xi Yi, para uma dada sub-regio da cidade. Ver se-o Segregao e polticas pblicas.

    29 Ver, por exemplo, Faria (1992) e Silva (1992).

    30 As polticas de zoneamento urbano e de taxao darenda da terra tambm podem, em tese, ser mobili-zadas com este objetivo.

    31 Uma possvel exceo o governo de Luiza Erun-dina na prefeitura de So Paulo.

    32 O dficit habitacional brasileiro foi estimado emseis milhes de moradias em 2000 (FJP, 2000).

    33 Ver, Valor Econmico, 3 abr. 2002, p. A12.

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    Anexo 1

    Este anexo apresenta os ndices de dissimi-

    laridade para 1991 e 2000 para grupos de setores

    censitrios compatveis espacialmente nos dois

    censos. Para compatibilizar os setores, trabalha-

    mos no mbito de um sistema de informaes

    geogrficas com o critrio de reas mnimas

    comparveis, agregando, por exemplo, os setores

    subdivididos entre os dos censos.

    Tabela 6ndices de Segregao Residencial (Dissimilaridade) Segundo Diferentes Grupos de

    Escolaridade e Renda, na Escala de Setores Censitrios Compatibilizados para 1991 e 2000,Mancha Urbana de So Paulo*

    Dissimilaridade Residencial 1991 2000Dissimilaridade entre chefes de 0 a 3 e 10 e mais salrios mnimos 56,81 60,08Dissimilaridade entre chefes de 0 a 3 e 15 e mais salrios mnimos 65,37 68,16Dissimilaridade entre chefes de 0 a 3 e 20 e mais salrios mnimos 70,43 74,43Dissimilaridade entre chefes de 0 a 3 e 11 e mais anos de estudo 55,69 49,52

    Dissimilaridade entre chefes de 0 a 3 e 15 e mais anos de estudo 68,94 69,03Total de reas consideradas (setores compatibilizados) 11.347 11.353

    *As estimativas de dissimilaridade foram realizadas a partir dos setores censitrios de 1991 e 2000.

    Fonte: IBGE, Censos Demogrficos de 1991 e 2000.

  • 7/26/2019 Segregao Residncial e Polticas Pblicas - Haroldo da Gama Torres.pdf

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    RESUMOS / ABSTRACTS / RSUMS

    SEGREGAO RESIDENCIALE POLTICAS PBLICAS:So Paulo na Dcada de 1990

    Haroldo da Gama Torres

    Palavras-chaveSociologia urbana; Segregao;Planejamento urbano; Pobreza;Desigualdade social.

    Este artigo pretende medir aevoluo da segregao residencialna regio metropolitana de So

    Paulo na dcada de 1990. Os resul-tados obtidos indicam que a segre-gao socioeconmica aumentousubstancialmente em So Paulo aolongo dessa dcada. Alm de inter-pretar esse fenmeno, propomosuma discusso a respeito do porqu a segregao residencial deveser considerada um elemento funda-mental para a formulao de polti-cas sociais urbanas.

    RESIDENTIAL SEGREGATIONAND PUBLIC POLICIES:So Paulo in the 1990s

    Haroldo da Gama Torres

    KeywordsUrban sociology; Segregation;Urban planning; Poverty; Socialunevenness.

    The article aims at assessing theevolution of residential segregationin the metropolitan area of So

    Paulo, Brazil, in the 1990s, whichsaw a significant increase of socioe-conomic segregation. In addition tointerpreting the phenomenon, thearticle proposes a discussion on thereasons the residential segregationshould be considered a fundamentalissue for the formulation of socialurban policies.

    SGRGATION RSIDENTIELLEET POLITIQUES PUBLIQUES:So Paulo dans les annes 1990

    Haroldo da Gama Torres

    Mots-clsSociologie urbaine; Sgrgation;Planification urbaine; Pauvret;Ingalit sociale.

    Cet article analyse lvolution de lasgrgation rsidentielle dans largion mtropolitaine de So Paulo

    dans les annes 1990. Les rsultatsobtenus indiquent que la sgrga-tion socio-conomique a subs-tantiellement augment So Paulotout au long de cette dcennie. Danscet article, nous interprtons cephnomne et proposons gale-ment une discussion propos de laraison pour laquelle la sgrgationrsidentielle doit tre considrecomme un lment fondamentalpour la formulation de politiquessociales urbaines.