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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ ANA PAOLA VICTOR CHAYB SEGURANÇA ALIMENTAR, GLOBALIZAÇÃO E MODISMOS ALIMENTARES: O CONSUMO DE SUSHI E FAST FOODS E SUA INTERFACE COM O DESENCADEAMENTO DE DOENÇAS CRÔNICAS FORTALEZA-CEARÁ 2010

SEGURANÇA ALIMENTAR, GLOBALIZAÇÃO E … · universidade estadual do cearÁ ana paola victor chayb seguranÇa alimentar, globalizaÇÃo e modismos alimentares: o consumo de sushi

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEAR

    ANA PAOLA VICTOR CHAYB

    SEGURANA ALIMENTAR, GLOBALIZAO E MODISMOS ALIMENTARES: O CONSUMO DE SUSHI E

    FAST FOODS E SUA INTERFACE COM O DESENCADEAMENTO DE DOENAS CRNICAS

    FORTALEZA-CEAR

    2010

  • 1

    ANA PAOLA VICTOR CHAYB

    SEGURANA ALIMENTAR, GLOBALIZAO E MODISMOS ALIMENTARES: O CONSUMO DE SUSHI E

    FAST FOODS E SUA INTERFACE COM O DESENCADEAMENTO DE DOENAS CRNICAS

    Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado Acadmico em Sade Pblica do Centro de Cincias da Sade da Universidade Estadual do Cear, como requisito parcial para a obteno do ttulo de mestre em Sade Pblica.

    Orientadora: Profa. Dra. Helena Alves de Carvalho Sampaio

    FORTALEZA-CEAR

    2010

  • 2

    ANA PAOLA VICTOR CHAYB

    SEGURANA ALIMENTAR, GLOBALIZAO E

    MODISMOS ALIMENTARES: O CONSUMO DE SUSHI E FAST FOODS E SUA INTERFACE COM O

    DESENCADEAMENTO DE DOENAS CRNICAS

    Dissertao apresentada Coordenao do Curso de Mestrado Acadmico em Sade Pblica do Centro de Cincias da Sade da Universidade Estadual do Cear, como requisito parcial para a obteno do ttulo de mestre em Sade Pblica.

    Aprovado em: ___/___/___

    BANCA EXAMINADORA

    ________________________________________________ Prof. Dra. Helena Alves de Carvalho Sampaio

    ________________________________________________ Profa. Dra. Fernanda Maria Machado Maia

    ________________________________________________ Prof. Dr. Jos Wellington de Oliveira Lima

  • 3

    DEDICATRIA

    Dedico este trabalho a todos os

    profissionais e estudantes de Nutrio.

  • 4

    AGADECIMENTOS

    A Deus, em primeiro lugar, por ter me conduzido para a profisso de nutricionista e por me dar discernimento nos momentos mais difceis deste

    projeto.

    Ao meu namorado Kerginaldo Lima de Mattos Neto, meu eterno e

    emocionado agradecimento por sua dedicao com seus conhecimentos

    tcnicos, que foram fundamentais, e pelo seu amor que me fortaleceu para

    este trabalho.

    minha famlia e amigos que me apoiaram e me aconselharam durante

    toda esta caminhada.

    Aos alunos do curso de nutrio Antnio Augusto Ferreira Carioca,

    Dbora Maria de Almeida Silva, Fernando tila Nascimento de Souza, Patrcia

    Mariano Santos e Thais Helena de Pontes Ellery, que foram meus anjos da

    guarda e sem os quais eu no teria conseguido cumprir as metas deste estudo.

    Aos estabelecimentos comerciais: Shopping Aldeota e North Shopping,

    que atravs das gentis representantes do setor de marketing Magna Medeiros

    do Shopping Aldeota e Virgnia Costa do North Shopping permitiram a

    realizao desta pesquisa.

    Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    (CNPq) pela concesso da bolsa de Mestrado.

    Aos jovens pblico-alvo deste estudo, que pacientemente colaboraram

    com esta investigao.

    A todos os amigos batalhadores do Mestrado Acadmico de Sade

    Pblica, especialmente amiga Clarissa Melo com quem compartilhei minhas

    angstias e aflies, mas tambm excelentes momentos de descontrao e

    aconselhamento, que foram importantes para que eu me mantivesse firme nos

    meus objetivos.

    Aos professores Jos Wellington Oliveira Lima e Fernanda Maria

    Machado Maia, que contriburam imensamente para o desenvolvimento desta

    pesquisa.

    Meu agradecimento carinhoso professora Helena, a quem eu admiro

    h muito pela sua orientao incontestvel, pela sua disponibilidade e apoio

  • 5

    sempre e pela sua trajetria na profisso de nutricionista, que a tornou um

    exemplo a ser seguido.

  • 6

    RESUMO Esta dissertao avalia o consumo de sushi/sashimi e fast food na perspectiva

    da Segurana Alimentar. Sabe-se que a urbanizao e a globalizao

    transformaram os hbitos alimentares. Exemplo disso foi a disseminao do

    consumo dos fast foods e sushi/sashimi. No Brasil, antes que se discutisse

    exaustivamente com a populao os malefcios do consumo elevado de fast

    foods, a mesma incorporou uma novidade, o sushi/sashimi. O estudo justifica-

    se principalmente pelo risco Segurana Alimentar representado pela ingesto

    no consciente desses produtos. Assim, para avaliar as caractersticas do

    consumo de fast food e de sushi/sashimi, foram entrevistados 454 indivduos

    com 22 a 35 anos, em dois shoppings de Fortaleza, sobre o consumo quali-

    quantitativo, fatores influenciadores, riscos e benefcios e sobre o conceito de

    segurana alimentar. Encontrou-se baixa prevalncia de consumo de

    sushi/sashimi (36,8%), e alta de fast foods (99,5%). Considerando freqncia e

    quantidade consumida, no h influncia do sushi/sashimi na qualidade da

    dieta diria, mas os fast foods representam risco aumentado para doenas

    crnicas. Os jovens consomem sushi/sashimi principalmente pelo sabor

    (71,9%) e fast foods pela praticidade (65,5%). O sushi/sashimi foi considerado

    benfico pelo peixe, j para os fast foods praticamente no foram destacados

    benefcios. O principal risco associado ao consumo de sushi/sashimi foi a

    contaminao por ser cru (39,5%) e no caso dos fast foods o surgimento de

    doenas crnicas (81,3%), mas isso no parece influenciar a escolha dos

    alimentos pelos jovens. Os mesmos conhecem os principais aspectos do

    conceito de segurana alimentar: qualidade, quantidade, prticas alimentares

    saudveis e sade. Tal conhecimento tambm no influencia a escolha dos

    tipos de alimentos avaliados. Mudanas nas estratgias de educao

    nutricional, envolvendo a aplicao dos pressupostos da alfabetizao

    nutricional podem ser importantes para melhorar a conexo conhecimento-

    comportamento alimentar.

    Palavras-chave: sushi, sashimi, fast foods, doenas crnicas, segurana

    alimentar, alfabetizao nutricional.

  • 7

    ABSTRACT

    This study evaluates the consumption of sushi/sashimi and fast food in the

    perspective of food safety. It is known that the urbanization and globalization

    have transformed eating habits. Example was the spread of the consumption of

    fast foods and sushi/sashimi. Before the hard discussion with the people about

    the harmful effects of high intake of fast foods, it was incorporated the

    sushi/sashimi. The study is mainly due to the risk to food safety represented by

    the ingestion not aware of these products. Thus, to evaluate the characteristics

    of the consumption of fast food and sushi/sashimi, we interviewed 454 persons

    with 22 to 35 years in two malls in Fortaleza, about the consumption qualitative

    and quantitative, factors that influence these habits, the risks and benefits, and

    the concept of food security. We found a low prevalence of sushi/sashimi

    (36.8%), and high in fast foods (99.5%). Considering the frequency and quantity

    consumed, there is no influence of sushi/sashimi in the quality of the daily diet,

    but the fast foods represent increased risk for chronic diseases. Young people

    eat sushi/sashimi primarily by taste (71.9%) and fast foods because of the

    convenience (65.5%). The sushi/sashimi was considered beneficial for the fish,

    but for those fast foods just were not highlighted benefits. The main risk

    associated with consumption of sushi/sashimi was contamination by the raw

    food (39.5%) and in the case of fast foods to chronic diseases (81.3%), but it

    does not seem to influence food choice by people. They know the main aspects

    of the concept of food security: quality, quantity, healthy eating habits and

    health. Such knowledge does not influence the choice of food types evaluated.

    Changes in nutritional education strategies involving the application of the

    assumptions of literacy nutrition may be important to better connect knowledge-

    eating behavior.

    Key-words: sushi, sashimi, fast foods, chronic diseases, food safety, literacy

    nutrition.

  • 8

    SUMRIO

    LISTA DE ABREVIATURAS E/OU SMBOLOS................................... 10 LISTA DE QUADROS E TABELAS...................................................... 11

    1. INTRODUO....................................................................................... 13 1.1. Ensaio sobre globalizao, alimentao, segurana alimentar e

    sade: focalizando o fast food, o sushi e o sashimi......................... 19 1.1.1 Evoluo dos hbitos alimentares no Brasil.......................................... 19

    1.1.2 Globalizao, alimentao e segurana alimentar................................ 24

    1.1.3 Consumo de fast-food no mundo e no Brasil e repercusses sobre a

    sade...................................................................................................... 28

    1.1.4 Consumo de sushi e sashimi no mundo e no Brasil e repercusses

    sobre a sade......................................................................................... 31

    2. OBJETIVOS........................................................................................... 39

    2.1 Objetivo geral......................................................................................... 39

    2.2 Objetivos especficos.............................................................................. 39

    3. METODOLOGIA..................................................................................... 40 3.1 Tipo de estudo........................................................................................ 40

    3.2 Local da pesquisa.................................................................................. 40

    3.3 Populao e amostra............................................................................. 40

    3.4 Critrio de excluso............................................................................... 41

    3.5 Coleta de dados.................................................................................... 41

    3.6 Tabulao e anlise de dados............................................................... 42

    3.7 Aspectos ticos..................................................................................... 43

    4. RESULTADOS....................................................................................... 45 4.1 Perfil social............................................................................................ 45

    4.2 Prevalncia de consumo de sushi, sashimi e fast foods 48

    4.3 Padro de consumo de sushi e/ou sashimi........................................... 49

    4.4 Padro de consumo de fast food........................................................... 58

    4.5 Conceitos de segurana alimentar........................................................ 66

    5. DISCUSSO........................................................................................... 69 6. CONCLUSES....................................................................................... 83 REFERNCIAS...................................................................................... 85

  • 9

    APNDICES......................................................................................... 98

    APNDICE 1: receitas de sushi........................................................... 99

    APNDICE 2: instrumento de coleta de dados.................................... 101

    APNDICE 3: termo de consentimento livre e esclarecido.................. 106

    ANEXOS............................................................................................... 107

    ANEXO 1: parecer do Comit de tica em Pesquisa........................... 108

  • 10

    LISTA DE ABREVIATURAS E/OU SMBOLOS

    ABRASCE Associao Brasileira de Shoppings Centers

    a. C Antes de Cristo

    ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

    CDC Center for Disease Control and Prevention

    CE Cear

    CONSEA Conselho Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional

    d. C Depois de Cristo

    DF Distrito Federal

    EUA Estados Unidos da Amrica

    Kcal Quilocalorias

    Kg Quilogramas

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    Mg Miligramas

    mL Mililitros

    PR Paran

    RS Rio Grande do Sul

    SUS Sistema nico de Sade

  • 11

    LISTA DE QUADROS E TABELAS

    Tabela 1. Distribuio dos indivduos entrevistados segundo sexo e tipo de

    shopping. Fortaleza CE, 2010..................................................................... 45

    Tabela 2. Distribuio dos indivduos entrevistados, segundo faixa etria,

    sexo e tipo de shopping. Fortaleza CE, 2010.............................................. 46

    Tabela 3. Distribuio dos indivduos entrevistados segundo anos de

    estudo, sexo e tipo de shopping. Fortaleza CE, 2010................................. 46

    Tabela 4. Distribuio dos indivduos entrevistados, segundo ocupao,

    sexo e tipo de shopping. Fortaleza CE, 2010.............................................. 47

    Tabela 5. Comparao entre os grupos entrevistados segundo o shopping

    center freqentado. Fortaleza CE, 2010..................................................... 48

    Tabela 6. Prevalncia de consumo de sushi, sashimi e fast foods pelos

    entrevistados. Fortaleza-CE, 2010................................................................. 49

    Tabela 7. Prevalncia de consumo de sushi entre os entrevistados

    consumidores da iguaria, segundo categorias da preparao e sexo.

    Fortaleza CE, 2010...................................................................................... 50

    Tabela 8. Freqncia de consumo mensal de sushi entre os entrevistados

    consumidores da iguaria, segundo o sexo. Fortaleza CE, 2010................. 51

    Tabela 9. Freqncia de consumo mensal de sashimi entre os

    entrevistados consumidores da iguaria, segundo o sexo. Fortaleza CE,

    2010................................................................................................................ 52

    Tabela 10. Composio nutricional mdia diria do sushi e/ou sashimi

    ingeridos pelos entrevistados consumidores de tais iguarias, segundo o

    sexo. Fortaleza CE, 2009............................................................................ 53

    Tabela 11. Fatores motivadores para o consumo de sushi/sashimi entre os

    entrevistados consumidores de tais iguarias, segundo sexo. Fortaleza

    CE, 2010......................................................................................................... 54

    Tabela 12. Riscos associados ao consumo de sushi/sashimi identificados

    pelos entrevistados que no consomem a iguaria, segundo sexo. Fortaleza

    CE, 2010...................................................................................................... 55

    Tabela 13. Riscos associados ao consumo de sushi/sashimi identificados

    pelos consumidores das iguarias, segundo sexo. Fortaleza CE, 2010....... 55

  • 12

    Tabela 14. Benefcios associados ao consumo de sushi/sashimi

    identificados pelos entrevistados que no consomem a iguaria, segundo

    sexo. Fortaleza CE, 2010............................................................................

    56

    Tabela 15. Benefcios associados ao consumo de sushi/sashimi

    identificados pelos consumidores das iguarias, segundo sexo. Fortaleza

    CE, 2010......................................................................................................... 57

    Tabela 16. Prevalncia de consumo de fast foods entre os entrevistados

    consumidores destes, segundo categorias das preparaes e sexo.

    Fortaleza CE, 2010...................................................................................... 59

    Tabela 17. Freqncia de consumo semanal de fast food entre os

    entrevistados consumidores destes, segundo sexo. Fortaleza CE, 2010... 61

    Tabela 18. Composio nutricional mdia diria dos fast foods ingeridos

    pelos entrevistados consumidores destes, segundo sexo. Fortaleza CE,

    2010................................................................................................................ 62

    Tabela 19. Fatores motivadores para o consumo de fast foods entre os

    entrevistados consumidores destes, segundo sexo. Fortaleza CE, 2010... 63

    Tabela 20. Riscos associados ao consumo de fast foods identificados

    pelos entrevistados, segundo sexo. Fortaleza CE, 2010............................ 64

    Tabela 21. Benefcios associados ao consumo de fast foods identificados

    pelos entrevistados, segundo sexo. Fortaleza CE, 2010............................ 65

    Tabela 22. Aspectos conceituais de segurana alimentar citados pelos

    entrevistados, segundo sexo. Fortaleza CE, 2010...................................... 66

    Tabela 23. Categorias conceituais de segurana alimentar de acordo com

    as citaes dos entrevistados no consumidores e consumidores de

    sushi/sashimi. Fortaleza CE, 2010.............................................................. 67

    Tabela 24. Categorias conceituais de segurana alimentar de acordo com

    as citaes dos entrevistados consumidores de fast foods. Fortaleza CE,

    2010................................................................................................................ 68

  • 13

    1. INTRODUO

    A alimentao um componente essencial da humanidade. No apenas

    por ser uma necessidade fisiolgica, mas por estar relacionada cultura das

    sociedades e ainda por ter influncia no desenvolvimento de inmeras doenas

    crnicas (GIMENEZ, 2002).

    Historicamente, a mobilidade humana gera contatos interculturais.

    Elementos de procedncias diversas ultrapassam suas fronteiras originais

    (GIMENEZ, 2002). Nos ltimos anos o termo globalizao vem sendo citado

    com grande freqncia. Esse fenmeno, que vem caracterizando a economia

    internacional desde meados da dcada de 70, tem sido interpretado de

    diferentes maneiras (DINIZ, 2001). Segundo Therborn (2001), o termo deveria

    ser utilizado como um conceito multidimensional e histrico que aponta para

    tendncias, dimenses, impacto e conexes mundiais e para fenmenos

    sociais, podendo acarretar processos globais de estruturao social, tais como:

    a diviso do trabalho; a alocao de direitos; a distribuio de riqueza e renda;

    a padronizao de riscos e oportunidades de acordo com a passagem do

    tempo; a assimilao cultural; formao de identidades; definies e

    distribuio de conhecimento; constituio de valores; instituio de normas.

    Poder envolver ao social, seja em alcance de sentido nico ou de interao,

    de ao individual dispersa ou coletiva, de harmonia ou de conflito.

    O processo de globalizao influencia a cultura dos diferentes povos,

    incluindo seus hbitos alimentares e sua relao com os alimentos, desde a

    produo at a ingesto (PINEYRUA, 2006). Com seu foco na mais livre

    circulao de capital, de tecnologia, bens e servios, esse processo teve

    efeitos profundos nos estilos de vida ligados dieta (POPKIN, 2006). Nesta

    perspectiva surge o termo globalizao alimentar que, segundo Maluf et al.

    (1996) representa uma ruptura radical dos sistemas alimentares (definidos

    como sendo as escolhas alimentares e as prticas de cozinha associadas

    regio e s condies locais de existncia), fazendo com que produtos do

    mundo inteiro se misturassem, transformando progressivamente os hbitos

    alimentares.

  • 14

    De acordo com Pilcher (2006), na troca intercultural dos alimentos,

    determinadas tendncias gerais acabam emergindo. Diez Garcia (2003) conclui

    que, se por um lado o processo de globalizao alimentar aumenta a

    diversidade alimentar, por outro tambm a reduz, uma vez que circulam, entre

    as diferentes populaes, as mesmas opes alimentares prprias da

    globalizao.

    No Brasil, o fenmeno influenciou o estilo de vida da populao,

    conduzindo a uma tendncia de imitao de padres e caractersticas de

    consumo de diferentes pases, dentre estes se destacando os Estados Unidos

    (ABREU et al., 2001). Assim, tal globalizao exerceu influncia na busca pelos

    fast foods. Segundo Reichembarch (2007) as cadeias de fast food tornaram-se

    sinais do desenvolvimento econmico do Ocidente. So, em geral, as primeiras

    multinacionais que chegam quando um pas abre seus mercados, servindo

    como vanguarda do sistema de franquias.

    Diez Garcia (2003) comenta que o acesso aos alimentos, na sociedade

    moderna, predominantemente urbana, determinado pela sua estrutura

    socioeconmica. A comensalidade contempornea se caracteriza pelo tempo

    reduzido para o preparo e consumo de alimentos; pelo surgimento de itens

    gerados com novas tcnicas de conservao e de preparo; pela variedade de

    produtos alimentares; pelo deslocamento das refeies em domiclio para

    estabelecimentos que comercializam alimentos, como restaurantes,

    lanchonetes, vendedores ambulantes, padarias, entre outros; pela crescente

    oferta de preparaes e utenslios transportveis; pela oferta de ingredientes

    provenientes de vrias partes do mundo; pelo apelo publicitrio associado aos

    alimentos; pela flexibilizao de horrios para comer; pela crescente

    individualizao dos rituais alimentares. Desse modo os fast foods que,

    segundo Jacobs Jr., (2006), representam lanches rpidos, convenientes,

    apetitosos e com preo accessvel, se encaixam no modo de vida

    contemporneo. Constituem alimentos e/ou preparaes categorizados como

    fast foods: hambrguer, pizza, batata-frita, hot-dog, entre outros (SHRDER et

    al., 2007).

  • 15

    O consumo abusivo desses produtos, que em geral apresentam altas

    quantidades de gorduras e calorias, est associado com o ganho de peso na

    populao (JACOBS JR., 2006). Bes-Rastrollo et al. (2006) relatam que o

    consumo de comida rpida em detrimento do consumo de frutas, prediz um

    ganho de peso de 0,4 quilos por ano, independente de ingesto energtica e

    atividade fsica. Mariath et al. (2007) destacam que a transio nutricional

    decorrente da urbanizao e industrializao direcionam para uma dieta mais

    ocidentalizada, caracterizada pelo consumo de fast food, com destaque para o

    aumento da densidade energtica, maior consumo de carnes, leite e derivados

    ricos em gorduras, e reduo do consumo de frutas, cereais, verduras e

    legumes, a qual, aliada diminuio progressiva da atividade fsica, contribui

    para o aumento no nmero de casos de obesidade em todo o mundo. Stender

    et al. (2007) tambm comentam que o consumo da comida rpida contribui

    para o ganho de peso, a obesidade, o diabetes melito tipo 2 e a doena arterial

    coronariana.

    Realmente, durante os ltimos 20 anos, a obesidade entre os adultos

    tem crescido significativamente. Nos Estados Unidos, o National Center for

    Health Statistics (NCHS) mostrou que 30% dos americanos adultos com 20

    anos ou mais de idade, so obesos. Isto corresponde a sessenta milhes de

    pessoas. O percentual de indivduos jovens com sobrepeso mais do que

    triplicou desde 1980 nos EUA. Entre crianas e adolescentes com idade de

    seis a dezenove anos, 16%, mais de nove milhes de jovens, esto com

    excesso ponderal. Esta condio, aliada inatividade fsica (mais de 50% dos

    americanos adultos no praticam nenhum tipo de atividade fsica) representa

    um grave fator de risco para outras doenas crnicas associadas (CDC, 2005).

    Marinho et al. (2007) resumem que o Brasil, nas ltimas dcadas,

    passou por uma transio nutricional na qual os padres alimentares mais

    tradicionais, que incluam cereais, razes e tubrculos, foram sendo

    progressivamente substitudos por uma alimentao mais ocidental, contendo

    alimentos mais ricos em gorduras e acares, a qual, tambm associada

    diminuio progressiva de exerccio fsico, tem concorrido para o aumento no

    nmero de casos de sobrepeso e obesidade no pas. Conseqentemente

  • 16

    associa-se tambm ao risco aumentado de outras doenas crnicas,

    principalmente considerando que o surgimento de muitas delas est direta ou

    indiretamente associado ao excesso ponderal.

    De acordo com a World Health Organization WHO (2003), por conta

    dessas mudanas na dieta e no estilo de vida, doenas crnicas

    (incluindo obesidade, diabetes melito, doenas cardiovasculares, hipertenso

    arterial, doena cerebrovascular e alguns tipos de cncer) esto se tornando

    causas de mortes prematuras em naes desenvolvidas e em

    desenvolvimento, aumentando os gastos com a sade em pases que j

    possuem graves deficincias neste setor.

    Ribeiro Junior (2007) aponta para uma pandemia de obesidade entre os

    jovens no Brasil. A tendncia de envolvimento de populaes cada vez mais

    jovens sinaliza para um pssimo prognstico, pois se sabe que a precocidade

    da instalao do problema associa-se, fortemente, persistncia desta

    condio clnica na vida adulta, projetando-se assim uma gerao futura com

    percentuais ainda maiores de obesos.

    Entre adolescentes, a prevalncia de sobrepeso e obesidade atinge

    ndices de 12,1% e 10,8% nas Regies Sudeste e Nordeste do Brasil,

    respectivamente (BOA-SORTE et al., 2007). Em termos globais, a Pesquisa de

    Oramentos Familiares POF, realizada nos anos 2002-2003 apontou que

    num universo de 95,5 milhes de pessoas de 20 anos ou mais de idade havia

    38,8 milhes (40,6%) com excesso de peso, das quais 10,5 milhes eram

    consideradas obesas (BRASIL, 2004a).

    Devido ao reconhecimento da associao dos novos hbitos

    alimentares com o surgimento do excesso ponderal e de outras doenas

    crnicas, e ainda sob a influncia da globalizao, a populao acaba

    buscando opes mais saudveis, dentre as disponveis no mundo moderno.

    Nesse contexto iniciou-se o uso mais disseminado da culinria japonesa, cujos

    pratos apresentam-se muito coloridos e com uma enorme variedade de

    vegetais pouco cozidos, o que preserva seu valor nutritivo (TORRES et al.,

  • 17

    2005). O visual de tais pratos, bem como sua composio, parece estar

    atraindo os adeptos de uma dieta saudvel.

    Atualmente a culinria japonesa original sofre adaptaes aos gostos de

    diferentes locais (HOLZMANN, 2006), se destacando como itens mais

    comumente consumidos o sushi e sashimi. O sushi constitudo base de

    arroz temperado com molho de vinagre, acar e sal, e combinado com peixe

    ou frutos do mar ou ainda vegetais, frutas ou ovo. J o sashimi corresponde ao

    peixe cru filetado em pequenas pores (FOUCHIER, 2004). Os ideogramas

    da palavra sushi so de origem chinesa e tm o significado de tripas de peixe

    salgadas. Entretanto, numa atitude de bom senso de marketing, ao fazer a

    transcrio fontica para seus prprios ideogramas, os japoneses mudaram o

    significado da palavra. O primeiro ideograma su significa felicidade. O

    segundo, shi, significa presidir, assim a palavra designa algo como presidir a

    felicidade ou, numa interpretao livre, comer peixe, feliz. J a palavra sashimi

    significa simplesmente carne cortada (HOLZMANN, 2006).

    Assim, tem-se percebido a incorporao de mais um novo hbito

    alimentar na mesa do brasileiro. Antes mesmo que se discutisse com a

    populao, de forma exaustiva, os malefcios do uso freqente e

    quantitativamente elevado de fast foods, a mesma incorporou um novo prato, o

    sushi e/ou sashimi. De um modo geral percebe-se, empiricamente, a co-

    existncia dos dois tipos de preparaes na alimentao do brasileiro. Em

    Fortaleza, especificamente, tem sido verificado um aumento de restaurantes

    que oferecem sushi/sashimi. Atualmente j so no mnimo 24 restaurantes

    japoneses na cidade. Sem contar com as padarias, supermercados e lojas de

    convenincia que tambm comercializam o produto (ABRASEL, 2008).

    Surgiu, ento, o interesse em desenvolver o presente estudo, que

    investigou como esto co-existindo, no contexto da globalizao, os

    comportamentos alimentares relativos fast foods e sushi e sashimi e os

    respectivos riscos e benefcios potenciais associados.

  • 18

    O estudo justifica-se tanto pela falta de conhecimento dos

    comportamentos e informaes da populao quanto aos dois tipos de

    alimentos, como pelo potencial risco segurana alimentar representado pela

    ingesto no consciente de quaisquer deles. Urge que se discutam as

    vantagens e desvantagens de tal consumo no contexto da segurana

    alimentar, pois como j referido no incio deste captulo, os hbitos alimentares,

    atravs da globalizao, vm sendo incorporados e no questionados. A

    associao de tal consumo com o desencadeamento de doenas crnicas

    constitui um debate que ainda no chegou populao. A massificao do uso

    do sushi/sashimi uma discusso que sequer chegou aos meios acadmicos.

    No se conhece o comportamento da populao inclusive para se avaliar a

    necessidade ou no de se planejar estratgias de interveno. A inteno

    deste estudo reduzir esta lacuna.

    A investigao foi dirigida populao jovem, pois de acordo com

    Neutzling et al. (2007), a mesma tem maior probabilidade de experimentar o

    processo de globalizao, sendo mais vulnervel s novidades alimentares

    trazidas por este processo.

    Pretendeu-se caracterizar um perfil que respondesse s indagaes: os

    hbitos de consumo de fast food e sushi/sashimi co-existem? Os fast foods

    esto sendo relegados? O comportamento alimentar global de consumidores

    freqentes de fast food tradicional diferente do comportamento daqueles que

    selecionam mais frequentemente o sushi/sashimi? Existe uma preocupao

    com a sade ao se escolher sushi/sashimi? A escolha de sushi/sashimi est

    ligada globalizao da culinria japonesa? Como a populao est avaliando

    suas escolhas, no que tange a fast foods tradicionais e sushi/sashimi? Em que

    quantidade e com que freqncia tais pratos so consumidos?

    O estudo foi conduzido por pesquisadora do grupo de pesquisa Nutrio

    e Doenas Crnico-Degenerativas da Universidade Estadual do Cear. O

    grupo desenvolve atualmente investigaes que exploram a interface entre

    doenas crnicas e segurana alimentar, cultura e comportamento alimentar e

    alfabetizao nutricional.

  • 19

    Considerando a alfabetizao nutricional, o presente estudo parte do

    projeto de pesquisa Plano AlfaNutri: um novo paradigma, a alfabetizao

    nutricional, para promoo da alimentao saudvel e prtica regular de

    atividade fsica na preveno e controle de doenas crnicas. O referido

    projeto foi aprovado no edital 02/2009 Programa Pesquisa para o SUS:

    gesto compartilhada em sade PPSUS. Especificamente a partir deste estudo

    ser possvel fundamentar a relao entre a noo do conceito de segurana

    alimentar que os jovens que se pretende entrevistar tm e seus

    comportamentos alimentares.

    Para melhor consubstanciar o tema, segue uma reviso abordando as

    inter-relaes entre globalizao, hbito alimentar e segurana alimentar e o

    consumo de fast foods e/ou sushi e sashimi.

    1.1. Ensaio sobre globalizao, alimentao, segurana alimentar e sade: focalizando o fast food, o sushi e o sashimi

    Para que se compreenda melhor o papel da globalizao sobre o padro alimentar de um povo, importante que se conhea a cultura alimentar deste,

    particularmente no que tange formao e evoluo histrica de seus hbitos

    alimentares.

    1.1.1 Evoluo dos hbitos alimentares no Brasil

    Reviso de Abreu et al. (2001) aponta que desde o princpio, por

    milnios, estiveram os predecessores do homem, o prprio homem e seus

    descendentes, descobrindo alimentos na face da terra. Foi deixado, assim, um

    legado de experincias, em que se fundamentaram os diferentes cultivos.

    Durante os sculos da Idade Mdia, houve um aperfeioamento, embora lento,

    dos modos de produo de alimentos. Quando os rabes invadiram a Espanha

    em 711, os europeus foram introduzidos a uma diversidade de plantas

    comestveis. Nesse tempo os invasores levaram arroz para o sul da Europa,

    alm de outros vegetais, frutas, condimentos e a cana de acar. O domnio

  • 20

    rabe do Mediterrneo abalou a estrutura da regio, o que trouxe quinhentos

    anos de dificuldades no comrcio. Somente no sculo XII o Mediterrneo

    recuperou destaque no sistema comercial europeu e as especiarias voltaram a

    ter importncia em toda a Europa. Com as cruzadas, que tiveram incio em

    1096, milhares de peregrinos estabeleceram comrcio com o Oriente Mdio.

    Durante os sculos XV e XVI, Portugal, Espanha e Veneza financiavam

    viagens martimas visando descobrir centros produtores de especiarias e

    apoderar-se deles. A partir dessas viagens, descobriram-se novos alimentos e

    especiarias e ficava evidente o domnio econmico dos pases que as

    organizavam. Durante a histria, o poder econmico e o monoplio do

    comrcio passou por vrios povos e nessas descobertas houve um intercmbio de cultura, saberes, hbitos e culinria.

    Com relao ao Brasil, Jos Reginaldo Santos Gonalves, em seus

    estudos histricos sobre as produes de Luis da Cmara Cascudo, destaca

    que uma cozinha nacional brasileira teria se configurado por volta do final do

    sculo XVIII, como produto da dominao social e cultural portuguesa sobre as

    organizaes indgenas e africanas de alimentao. O autor resume que, de

    certo modo, o sistema culinrio brasileiro veio a se constituir como a sntese

    dessas trs tradies culinrias, sob a gide da herana cultural portuguesa

    (ESTUDOS HISTRICOS, 2004).

    A base alimentar da escravaria no Brasil, de acordo com Costa e

    Marcondes (2001), que levantaram evidncias sobre o assunto, concentrava-se

    no feijo, farinha de mandioca (ou de milho) e no toucinho e/ou na carne

    salgada (carne-seca ou pescado). O arroz tambm se fazia presente, algumas

    frutas eram consumidas mais ou menos regularmente, comparecendo, muito

    raramente, a carne vermelha ou a de galinha. Tal dieta tambm era comum no

    trfico africano para o Brasil, tanto no trajeto, ainda naquele continente, como

    na chegada ao novo mundo.

    No estudo realizado por Rosemeire Bertolini Lorimer, que desvendou

    alguns dos fatores que contriburam para a formao das diversas culturas

    regionais alimentares encontradas no Pas, ficou evidente o impacto dos

  • 21

    primeiros sculos de histria da Amrica portuguesa na formao da

    brasilidade alimentar. O estudo revelou que antes mesmo da chegada dos

    portugueses, a culinria sofreu sua primeira grande adaptao ainda em alto

    mar. A incerteza da durao das viagens criou uma necessidade de levar

    alimentos no perecveis como biscoitos de farinha e peixes conservados em

    sal. Apesar de em algumas expedies haver um navio destinado a transportar

    mantimentos, a variedade era pouca e ainda havia ratos, vermes e baratas que

    devoravam boa parte das provises, alm de vrias doenas, como o

    escorbuto. A passagem por diversos portos da costa africana durante as

    primeiras grandes viagens propiciou um contato com diversas culturas, o que

    permitiu que muitos alimentos diferentes fossem incorporados pela tripulao

    dessas embarcaes. Todo esse contexto teve influncia na cultura alimentar

    que chegou ao Brasil (BIAVA, 2002).

    Em terra, ocorreu um primeiro grande passo rumo evoluo dos

    hbitos alimentares. Sem sada, os portugueses incorporaram hbitos

    indgenas, principalmente com relao aos procedimentos de obteno dos

    alimentos. Apesar de serem caadores e coletores, os ndios tambm

    mantinham uma cultura para o plantio de mandioca, milho, abbora e

    amendoim. Os exploradores se aproveitaram dessa tcnica para incrementar

    sua dieta. Mais tarde, ocorreu ainda a substituio dos condimentos europeus

    por similares da colnia. As mas, pras e pssegos utilizados para fazer

    conservas foram substitudos pelo mamo verde e pelo coco. As cerejas e

    ameixas podiam ter como similar a jabuticaba, enquanto as nozes e amndoas,

    tinham como substituto o amendoim. A estrutura culinria portuguesa

    permaneceu, mas os ingredientes foram substitudos. Nas grandes fazendas

    ou nas minas coloniais, a culinria variava de regio para regio de acordo com

    os produtos disponveis e as caractersticas dos povos presentes como

    escravos, portugueses e ndios (BIAVA, 2002).

    O sistema de refeies no Brasil se constituiu tradicionalmente at fins

    do sculo XIX e incio do sculo XX numa seqncia organizada do seguinte

    modo: a primeira refeio era o almoo, por volta de sete horas da manh; a

    segunda era o jantar, por volta de meio-dia; em seguida, a merenda, uma

  • 22

    curta refeio em torno de trs horas da tarde; e, finalmente, a ceia, por volta

    de seis horas. A partir do sculo XX houve a adoo da seguinte nomenclatura,

    a qual perdura at os dias de hoje: caf da manh, almoo, lanche e,

    finalmente, o jantar. Esta nova seqncia e demais mudanas em outros

    componentes do sistema culinrio, marcaram a oposio histrica entre um

    Brasil tradicional e um Brasil moderno (ESTUDOS HISTRICOS, 2004).

    Grandes processos migratrios, resultantes de transformaes

    econmicas e demogrficas, que marcaram a Europa a partir de meados do

    sculo XIX contriburam para a incorporao de novos elementos na cultura

    alimentar brasileira. As mudanas na distribuio da posse da terra, o processo

    de modernizao da agricultura e as modificaes mais profundas nas relaes

    de trabalho foram geradores de condies bastante adversas permanncia

    em seus locais de origem de parcelas significativas da populao europia.

    Nesse processo, os grandes receptculos desse fluxo populacional foram as

    Amricas (BOTELHO et al., 2007).

    No caso dos imigrantes japoneses, aps a Segunda Guerra a fase em

    que, aceitando a derrota do Japo, os japoneses resolveram adotar o Brasil

    como sua ptria, aqui fixando residncia com toda a sua famlia (MOTTA et al.,

    2006). Esses imigrantes se instalaram inicialmente no interior do Estado de

    So Paulo. Os primeiros restaurantes japoneses formais surgiram no bairro da

    Liberdade, reduto dos imigrantes orientais na capital paulista (HOLZMANN,

    2006).

    Considerando as reflexes de Reichembarch (2007) que afirma que o

    desenvolvimento da cultura alimentar inerente ao meio, sujeita a ajustes e

    modelaes que variam conforme o desenrolar de acontecimentos

    sciopolticos e econmicos, o estabelecimento de diferentes povos em regies

    brasileiras contribuiu ao longo dos anos para a diversidade alimentar marcante

    no pas. Esse processo de intercmbio cultural com a introduo de novas

    culturas alimentares no Brasil se mantm dinmico at a atualidade e revela

    aspectos positivos e negativos sobre a sade da populao.

  • 23

    Estudando as mudanas das tendncias de consumo de alimentos ao

    longo da histria, pesquisadores esclarecem que, para populaes muito

    pobres, as razes e tubrculos constituem muitas vezes a nica fonte de

    alimentos e renda, mas na medida em que a renda cresce, os produtos de

    origem animal ganham maior importncia na alimentao. Essa seqncia

    pode ser observada na histria da maioria dos pases mais ricos do mundo e

    se trata de uma caracterstica que vem se repetindo nas naes em

    desenvolvimento cuja renda per capita vem crescendo nas ltimas dcadas

    (CARVALHO et. al., 2004). O aumento do poder aquisitivo da populao est

    geralmente associado com a adeso a maus hbitos alimentares. O consumo

    de alimentos considerados no nutritivos tem um espao muito maior nas

    classes abastadas do que nas famlias de baixa renda (CANESQUI; DIEZ-

    GARCIA, 2005).

    As mudanas mais recentes promovidas pela globalizao acabaram

    afetando ainda mais os referenciais culturais brasileiros, seus hbitos

    alimentares e sua relao com os alimentos, da produo ingesto. Como j

    comentado, foi aberto o espao para modelos de refeio rpidos. Desse

    modo, o paradigma do fast food passou a determinar o ritmo do tempo e a

    qualidade do espao destinados alimentao, estabelecendo-se como

    representao da modernidade. A demanda crescente da sociedade brasileira

    por rapidez foi acompanhada pela expanso dos servios de fast food

    (PINEYRUA, 2006). O nmero de unidades de fast food cresce todo ano no

    pas. Segundo dados da Associao Brasileira de Franchising (2008), o

    nmero de franquias de fast food cresce 12% todo ano e movimenta cerca de

    R$ 4 bilhes. Por outro lado, as transformaes que a alimentao e o comer

    brasileiros sofreram nas ltimas dcadas apontam para uma maior

    preocupao com os efeitos negativos dessa modernidade alimentar,

    desencadeando uma reao de alguns grupos que se organizaram em torno de

    temas relacionados alimentao, como o caso do slow food (BARBOSA,

    2007). Esse movimento procura substituir fast foods e produtos artificiais por

    uma alimentao que se ope padronizao do gosto, defendendo a

    necessidade de informao do consumidor, protegendo identidades culturais

    ligadas a tradies alimentares e gastronmicas (MENELEY, 2004). Visto isso,

  • 24

    hoje o comportamento alimentar do brasileiro aponta para o despertar de uma

    conscincia alimentar e a tentativa de resgatar alguns hbitos alimentares

    saudveis, em meio s atraes do mercado de fast food que no pra de

    crescer.

    1.1.2 Globalizao, alimentao e segurana alimentar

    A alimentao representa a possibilidade de dividir, de distribuir, de

    oferecer, numa expresso de altrusmo de pais para com os filhos ou a

    qualquer estranho que precise. A comida a realidade do amor e da segurana

    (SOCIAL ISSUES RESEARCH, 2000).

    H muito se admite que aquilo que se come passa a ser um smbolo do

    que se . O tipo de comida de uma regio determina um padro alimentar e

    identifica os povos (SOCIAL ISSUES RESEARCH, 2000).

    O padro de consumo alimentar sofre influncias de muitos aspectos

    importantes. Abreu (2001) contextualiza o surgimento de novos ingredientes de

    cozinha na Europa a partir de 1492, nas viagens de Cristvo Colombo. Alm

    de repercusses polticas e econmicas, a descoberta oficial da Amrica

    permitiu importantes achados gastronmicos. No curso da histria, o contato

    entre os povos, a partir das colonizaes, abriu espao para um importante

    intercmbio de cultura alimentar. Segundo o autor, muitas descobertas tcnico-

    cientficas importantes levaram ao progresso e modificao dos costumes

    alimentares: o aparecimento de novos produtos; a renovao de tcnicas

    agrcolas e industriais; as descobertas sobre fermentao; a produo do

    vinho, da cerveja e do queijo em escala industrial; o beneficiamento do leite; os

    avanos na gentica, que permitiram sua aplicao no cultivo de plantas e

    criao de animais; a mecanizao agrcola; o desenvolvimento dos processos

    tcnicos para conservao de alimentos.

    O processo histrico a que se denomina Globalizao data do final da

    dcada de 1980 e, como j citado, corresponde a um aprofundamento da

    integrao econmica, social, cultural e poltica entre os pases. Essa

  • 25

    tendncia, interpretada por alguns autores como sinnimo de progresso,

    revelou ao longo dos tempos excluso, concentrao de renda,

    subdesenvolvimento e graves danos ambientais, agredindo e restringindo

    direitos humanos essenciais. Alm disso, a globalizao inseriu a populao

    dos pases ditos perifricos numa realidade de novidades perigosas no

    seguimento alimentao (DUPAS, 2007).

    Do ponto de vista nutricional, a globalizao da economia e a

    industrializao exercem um papel expressivo, devido gama de produtos e

    servios distribudos em escala mundial e ao suporte publicitrio envolvido.

    Uma tendncia crescente para o consumo de alimentos de maior concentrao

    energtica promovida pela indstria de alimentos atravs da produo

    abundante de alimentos saborosos, de alta densidade energtica e de custo

    relativamente baixo. A globalizao atinge a indstria de alimentos, o setor

    agropecurio, a distribuio de alimentos em redes de mercados de grande

    superfcie e em cadeias de lanchonetes e restaurantes. A difuso dos

    conhecimentos cientficos em Nutrio nos meios de comunicao e o uso do

    discurso cientfico na publicidade de alimentos tambm exercem seu papel no

    cenrio das mudanas alimentares. Embora nos pases mais pobres este

    modelo de consumo esteja distribudo diferentemente de acordo com as

    classes sociais e com as possibilidades de acesso aos bens de consumo, de

    todo modo, os desejos de consumo por si s marcam uma tendncia a este

    perfil alimentar (DIEZ GARCIA, 2003).

    Com a urbanizao, a distncia e o tempo necessrios para ir de casa

    ao trabalho aumentaram consideravelmente. As pessoas passaram a se

    adaptar ao seu novo ambiente e, neste cenrio, o tempo dedicado

    alimentao ficou cada vez mais reduzido (PINEYRUA, 2006). A refeio,

    entendida como uma situao social e cultural particular e fortemente

    ritualizada, foi perdendo espao para a comida, que as pessoas podem

    consumir de modo casual na vida cotidiana (ESTUDOS HISTRICOS, 2004).

    Por conseqncia de novas demandas geradas pelo modo de vida

    urbano, o indivduo passou a adaptar sua vida segundo as condies

  • 26

    disponveis, como tempo, recursos financeiros, locais para se alimentar, local e

    periodicidade das compras, entre outras. As solues passaram a ser

    oferecidas pela indstria e comrcio, que apresentam alternativas adaptadas

    s condies urbanas e determinaram novas modalidades no modo de comer,

    o que certamente contribui para mudanas no consumo alimentar (DIEZ

    GARCIA, 2003).

    O reconhecimento dessas mudanas nos hbitos alimentares dos

    brasileiros til na esfera do poder pblico como recurso para a elaborao de

    polticas de segurana alimentar condizentes com a cultura do pblico-alvo

    (PINEYRUA, 2006).

    Vale ressaltar que o conceito de Segurana Alimentar surgiu a partir da

    Segunda Grande Guerra com mais de metade da Europa devastada e sem

    condies de produzir o seu prprio alimento. Esse conceito leva em conta trs

    aspectos principais: quantidade, qualidade e regularidade no acesso aos

    alimentos (BELIK, 2003). Os padres globalizados de alimentao merecem

    ateno do ponto de vista da Segurana Alimentar, de modo que se

    estabeleam limites na internacionalizao de modos de produo e modelos

    de consumo agroalimentar (MALUF et al. 1996). A ameaa que a globalizao

    pode representar Segurana Alimentar reside na presso que se exerce

    sobre regies e culturas especficas para que substituam a alimentao

    tradicional por produtos globais, ferindo o aspecto da qualidade contido na

    prpria definio de Segurana Alimentar (SILIPRANDI, 2004). Desse modo,

    os estudos que relacionam globalizao e Segurana Alimentar consideram

    que o respeito integralidade do conceito, considerando o fator qualidade,

    fundamental para o sucesso das polticas pblicas de preveno e combate s

    situaes de sobrepeso e obesidade, entre outras doenas crnicas, que so

    fortemente influenciadas pelo consumo de alguns produtos alimentares trazidos

    pela globalizao.

    No Brasil, de 1940 a 1960, a educao alimentar e nutricional esteve

    vinculada s campanhas de introduo de novos alimentos e s prticas

    educativas centradas na idia de ensinar o pobre a comer. As aes eram

  • 27

    fundamentadas no mito da ignorncia como fator determinante da fome e da

    desnutrio nas populaes de baixa renda, tornando-se um dos principais

    componentes das polticas de alimentao e nutrio do perodo (SANTOS,

    2005).

    A partir de 1970, o binmio alimentao-educao predominante

    comeou a ceder importncia para o binmio alimentao-renda, resultado dos

    novos planejamentos das polticas de alimentao e nutrio constitudas no

    pas, as quais, a partir de ento, se baseavam no reconhecimento da renda

    como principal obstculo para se obter uma alimentao saudvel. Em

    conseqncia, intensas crticas foram feitas educao alimentar e nutricional

    que vinha sendo desenvolvida, avaliada como meio de ensinar ao pobre a

    comer alimentos de baixo valor nutricional. Assim, as estratgias de

    suplementao alimentar passaram a ser o eixo das polticas. Em meados de

    1980, com a educao nutricional crtica, uma importante contribuio para a

    discusso sobre novas perspectivas de educao alimentar e nutricional se

    consolidou. Essa perspectiva resultou em parte das discusses sobre

    segurana alimentar que integraram o cenrio internacional e nacional nos

    anos 1990, concebendo a alimentao como um direito humano. nesse

    contexto que tambm emerge a concepo da promoo das prticas

    alimentares saudveis, na qual a alimentao tem sido colocada como uma

    das estratgias para a promoo da sade (WHO, 1986; SANTOS, 2005).

    Pode-se dizer que o Brasil ainda no possui uma poltica agressiva o

    suficiente no setor, mas d seus primeiros passos desde 2004, com a criao

    do Guia Alimentar para a Populao Brasileira (BRASIL, 2006), um dos

    instrumentos construdos no mbito das diretrizes da Poltica Nacional de

    Alimentao e Nutrio do Ministrio da Sade. Constitui-se num documento

    que pretende ensinar a populao a se alimentar melhor em mbito individual,

    familiar e coletivo. No entanto, ainda necessrio aprofundar a discusso

    sobre o papel da educao alimentar e nutricional dentro do contexto atual de

    elevados ndices de doenas decorrentes de uma alimentao excessiva e sem

    qualidade nutricional, e qual seria a sua real contribuio para essas novas

    demandas apontadas (SANTOS, 2005).

  • 28

    Nessa perspectiva que se comea a pensar no uso da alfabetizao

    nutricional como uma estratgia que atenda aos trs campos previstos na

    Carta de Otawa (WHO, 1986): criao de ambientes favorveis, reforo da

    ao comunitria e desenvolvimento de habilidades pessoais.

    Ainda so escassos os estudos que abordam a alfabetizao (tambm

    chamada letramento) em Nutrio. Em levantamento bibliogrfico foram

    encontradas duas referencias ao termo letramento/alfabetizao nutricional,

    uma americana (DIAMOND, 2007) e uma brasileira (BIZZO; LEDER, 2005). A

    ltima apenas refere-se ao termo em mbito da educao nutricional escolar

    dentro dos parmetros curriculares nacionais, destacando a importncia de se

    levar em considerao a alfabetizao em Nutrio, instrumentalizando para

    obter sade. J Diamond (2007) prope um teste para medir alfabetizao

    nutricional, o Nutritional Literacy Scale NLS que por sua vez baseado em

    Baker et al. (2006) e no Test of Functional Health Literacy in Adults - TOFHLA

    (PARKER et al., 1995). O teste permite categorizar o individuo quanto ao seu

    letramento para, a partir da, planejar a ao educativa.

    A alfabetizao nutricional pode conferir um novo rumo s intervenes

    educativas: identificar como as mensagens de nutrio so percebidas, como

    por exemplo, as contidas no guia alimentar j citado (BRASIL, 2006) e educar a

    partir da percepo deste contedo. Da mesma forma, identificar como a

    populao percebe as presses geradas pela globalizao para direcionar seu

    comportamento alimentar e planejar aes de interveno com base nesta

    compreenso.

    1.1.3 Consumo de fast-food no mundo e no Brasil e repercusses sobre a sade

    Segundo alguns historiadores, os alimentos modernos so aqueles que

    se difundiram pelo mundo atravs do comrcio e do intercmbio intensificados

    pelas navegaes transocenicas do sculo XVI. Dentre os produtos

    difundidos, o acar se constituiu talvez o mais importante. Os rabes

  • 29

    introduziram a cana de acar na Europa mediterrnea e durante a idade

    mdia quase todas as preparaes do Reino j levavam acar. Com a

    disseminao do produto na Europa surgiram centenas de receitas de doces

    alm das diversas formas de uso do acar nas preparaes de carnes e aves.

    Todo esse intercmbio alimentar culminou com a instalao, no final dos anos

    1970, das redes de fast foods na cidade de Paris. As lanchonetes ascenderam

    vertiginosamente no cenrio da restauration francesa, caracterizando a

    tendncia planetria da norte-americanizao da cultura alimentar (RIAL,

    2003).

    O fast food transformou-se numa caracterstica proeminente da dieta dos

    jovens no mundo inteiro (BOWMAN; VINYARD, 2004). French et al. (2001)

    comentam que, nos Estados Unidos, em 1970, o dinheiro gasto com alimentos

    consumidos fora de casa representava 25% da despesa total com alimentos.

    Este percentual passou para 47,5% em 1999 e provavelmente alcanar 53%

    em 2010. Entre 1977 e 1995, o percentual das refeies realizadas em

    restaurantes de fast food aumentou 200%. Um adolescente americano de

    classe mdia freqenta um restaurante tipo fast food duas vezes por semana.

    Nos Estados Unidos sozinho, as vendas do fast food alcanaram um valor de

    $161 bilhes em 2004 (RUDOLPH et al., 2007).

    No Brasil, os servios de fast food, representando uma alternativa rpida

    de refeio, transformaram a cultura alimentar tradicional. Segundo Sucupira et

    al. (200_?), o modelo alimentar estaduniense se implantou no Brasil numa

    velocidade vertiginosa, representando a rendio de um pas que era marcado

    por hbitos culturais dos povos negros, indgenas e europeus, cultura da

    rapidez, da higiene, da diviso e da racionalizao do trabalho, bem como da

    produo em srie.

    Levy-Costa et al. (2005), que analisaram a evoluo da disponibilidade

    domiciliar de alimentos no Brasil, considerando o perodo de 1974 a 2004,

    ressaltaram a tendncia clara e preocupante para o aumento do consumo de

    refrigerantes e biscoitos (400%), ao lado de margarinas e produtos fritos,

    especialmente aqueles comercializados em cadeias de fast foods. A ltima

  • 30

    Pesquisa de Oramentos Familiares divulgada em 2004 revelou que, em geral,

    as famlias brasileiras consomem muitos alimentos com alto teor de acar e

    poucas quantidades de frutas e hortalias, alm de uma tendncia ao aumento

    do aporte relativo de gorduras em geral e saturadas (BRASIL, 2004 a), sendo a

    despesa mdia mensal familiar com acares/derivados e refrigerantes de R$

    13,66 e R$ 7,08, respectivamente. Vale ressaltar que a despesa mdia mensal

    familiar com alimentao fora do domiclio de R$ 73,14.

    A preocupao com o consumo crescente desse tipo de alimento, ficou

    evidente na primeira verso do Guia Alimentar para a Populao Brasileira

    (BRASIL, 2004b), onde referido que os fast food, caracterizados por

    alimentos pr-cozidos oferecidos em lanchonetes, bares e restaurantes, com

    alto teor de gorduras, sal e acar e de baixo valor nutricional, no devem

    substituir refeies tradicionais. J na verso mais recente (BRASIL, 2006)

    priorizada a abordagem sobre os tipos de gorduras que representam risco para

    a sade da populao e suas principais fontes, sem fazer referncia direta ao

    fast food.

    Segundo vrios analistas, o fenmeno do fast food tem representado

    uma corroso dos hbitos alimentares familiares, como as refeies

    partilhadas. A expanso das lanchonetes construdas sob certas marcas traz

    consigo um sistema alimentar baseado na substituio dos carboidratos

    complexos (cereais, amido) por carboidratos simples (acares) e gorduras,

    com pssimas conseqncias para a sade pblica e para a ecologia global

    (CONGRESSO BRASILEIRO DE GASTRONOMIA E SEGURANA

    ALIMENTAR, 2004).

    Hoje comum a discusso, na mdia popular (revistas, magazines,

    jornais, rdio, televiso) e em grupos de indivduos, sobre os malefcios

    causados pelo excesso de gordura e pela m qualidade das mesmas. Muito

    vem se falando sobre gordura saturada e trans, por exemplo. A abordagem

    ainda incipiente, mas pode gerar frutos rumo modificao de hbitos

    alimentares nocivos sade. Segundo Bowman e Koelen (2007), a

    disponibilidade e acessibilidade a conselhos sobre sade e alimentao,

  • 31

    sustentados em opinies mdicas e de educadores em sade, informaes

    cientficas e artigos populares, dinamizam a aquisio de informaes.

    J se sabe popularmente que o consumo excessivo de gorduras

    perigoso, portanto h uma preocupao maior com a ingesto de alimentos

    com menores contedos de gorduras ruins. Esta preocupao faz com que as

    sociedades busquem a comida perfeita para a vida perfeita. Alguns estudos

    tm demonstrado efeitos benficos da chamada dieta mediterrnea,

    caracterizada por ser rica em cereais no-refinados, frutas, hortalias e com

    elevada proporo de gorduras monoinsaturadas em relao s saturadas

    (SANTOS; PORTELLA, 2006). Estudos epidemiolgicos tm mostrado que

    dietas contendo produtos marinhos (com elevada proporo de gorduras

    polinsaturadas em relao s saturadas) exercem um efeito protetor contra o

    desenvolvimento de aterosclerose (SOUSA et al., 2002).

    A relao significativamente inversa entre o consumo de peixe e o risco

    de doenas coronarianas leva os indivduos a considerarem mais esse produto

    no cardpio. Uma opo para incorporar o peixe na dieta e que vem crescendo

    em popularidade o sushi e o sashimi, os quais sero enfocados a seguir

    (GEBAUER et al., 2006).

    1.1.4 Consumo de sushi e sashimi no mundo e no Brasil e repercusses

    sobre a sade

    O consumo de peixe na Idade Mdia constitua a base da dieta crist. O

    salmo j era valorizado desde esta poca, especialmente na quaresma, no

    advento, nas sextas-feiras e em outros dias de jejum e abstinncia, resultando

    que comer carne era proibido durante quase a metade do ano e o peixe ento

    passava a ser muito prezado (FRANCO, 1995).

    O sushi um prato da culinria japonesa, cujas origens remontam ao

    sculo IV a.C no Sudeste Asitico. Utilizava-se ento uma poro de arroz

    cozido para conservar o peixe salgado atravs da fermentao do arroz. Meses

  • 32

    depois, o arroz era descartado e o peixe consumido. A origem desconhecida,

    mas tornou-se famosa a partir da culinria japonesa (KAWASUMI, 2001).

    No h registros precisos de quando teve incio o hbito japons de

    comer peixe fresco cru (sashimi). Segundo Holzmann (2006), no final do sculo

    XIV os primeiros portugueses a aportarem no Japo j se depararam com esse

    costume local. Historicamente o consumo de peixe cru, misturado a molhos e

    outros temperos, fez parte da cultura alimentar de vrios pases. Os arenques

    da Escandinvia, as ostras da Frana, os ourios-do-mar do Chile e o caviar do

    Cspio so exemplos de que o gosto por produtos do mar frescos no

    somente caracterstica japonesa. No litoral sul do Brasil, as colinas surgidas do

    acmulo de conchas, cascas de ostras e outros restos de cozinha dos

    habitantes do Brasil pr-histrico, comprovam a existncia do hbito de comer

    peixe cru entre os ndios primitivos.

    Com relao ao sushi, Holzmann (2006) alerta que no se sabe bem

    onde termina a verdade histrica e onde comea a lenda, mas se acredita que

    os pescadores conservavam o pescado utilizando uma papa de arroz

    misturada com vinagre do prprio arroz. A preparao envolvia a limpeza do

    peixe, o processo de fati-lo e, em seguida, cobria-se o peixe com a papa de

    arroz. Segundo o autor, esse seria o sushi original do Japo e o primeiro

    documento formal que o descreve data de 700 d.C. O processo primitivo levava

    de um a trs anos para se completar e na hora de comer, a papa de arroz era

    desprezada. Em torno de 1500, a tcnica avanou e o prazo de maturao

    reduziu bastante, sendo por vezes consumido o arroz. Por volta de 1700, o

    peixe passou a ser colocado sobre o arroz avinagrado e modelado dentro de

    caixas retangulares de madeira. Nesse processo, aguardava-se um ms para

    que a preparao estivesse adequada ao consumo. O surgimento do sushi

    conforme apreciado hoje mais recente. H relatos de que teria acontecido em

    Tquio, por volta de 1824, a idia de reunir peixe cru fresco com arroz

    avinagrado e modelar com os dedos a combinao. importante ressaltar que

    a ocupao norte-americana do Japo ao fim da Segunda Guerra Mundial

    contribuiu para a popularizao do sushi, que foi lentamente conquistando o

    mundo com sua aparncia extica, porm atraente.

  • 33

    A diversidade crescente das preparaes no Japo e no mundo torna

    difcil a categorizao do sushi em tipos, entretanto, de acordo com Holzmann

    (2006), os tipos de sushi podem ser classificados em niguiri-zushi e maki-zushi.

    O niguiri-zushi o sushi mais tradicional, preparado com um punhado de arroz

    avinagrado coberto por uma fatia de peixe com uma leve camada de wasabi

    (raiz forte em pasta) no meio. So exemplos: niguiri de salmo, niguiri de polvo,

    niguiri de lula, gunkan-maki, este ltimo uma variante do niguiri em que o

    bolinho de arroz enrolado num cilindro de folha de alga e sobre ele so

    colocados geralmente pedaos de pequenos mariscos ou ovas de peixe. J o

    maki-zushi denomina qualquer sushi enrolado em alga; so exemplos deste:

    futo-maki, hosso-maki, o-niguiri, te-maki, ura-maki, oshi-zushi, chirashi-zushi,

    inari-zushi, fukunasa-zushi, saiku-zusi, temaki-zushi, nare-zushi. O APNIDE 1

    exibe algumas receitas das preparaes aqui referidas.

    Conforme citado, o processo de difuso internacional da culinria

    japonesa teve incio com o surto de imigraes depois do fim da Segunda

    Guerra Mundial (RIBEIRO e PAOLUCCI, 2006). Milhes de japoneses

    deixaram sua ptria para se fixarem em outros pases, entre eles o Brasil.

    Segundo Holzmann (2006), com o surgimento dos primeiros restaurantes

    japoneses no bairro da Liberdade em So Paulo, os brasileiros apresentaram

    uma resistncia inicial ao sushi e seus derivados e se limitavam, naquela

    poca, aos pratos cozidos da culinria japonesa.

    Na Europa, j por volta da dcada de 1960, especialmente na Gr-

    Bretanha e na Frana, os restaurantes orientais estavam se tornando cada vez

    mais populares. Atualmente, um nmero crescente de pessoas na Europa

    consome freqentemente estes pratos, no horrio do almoo e em reunies de

    negcio, em restaurantes e bares. Aumenta a cada ano o nmero de livros de

    receitas japonesas publicadas em idioma europeu. Esses materiais so lidos

    como entretenimento ou usados para fins culinrios realmente, aumentando

    certamente o conhecimento sobre a culinria e cultura japonesas em muitos

    pases europeus. evidente tambm o crescimento dos restaurantes

    japoneses na Europa, especialmente nas duas ltimas dcadas e a imensa

    diversidade apresentada nesses estabelecimentos (CWIERTKA, 2007).

  • 34

    Nos Estados Unidos, a partir de 1980 difundiu-se a idia de que a

    cozinha japonesa, especialmente o sushi, era saudvel, o que causou o

    chamado sushi boom, com a abertura de sushi-bares, rodzios de sushi e

    utilizao de robs na sua produo. Considera-se que a cozinha japonesa

    conquistou o ocidente, seja pelo seu apelo visual seja por seu valor nutricional.

    Prova disso o grande nmero de restaurantes do gnero espalhados pelo

    mundo e a sua influncia nas demais cozinhas (MOTTA et al., 2006). O nmero

    de restaurantes japoneses nos Estados Unidos aumentou consideravelmente

    nos ltimos cinco anos, de acordo com a associao americana de

    restaurantes. E esse nmero no inclui os supermercados e as lojas de

    convenincia, aonde o sushi tambm pode agora ser comprado (MOSKIN,

    2004). Nos Estados Unidos existem mais de cinqenta mil lugares que vendem

    alguma forma de sushi. Os consumidores americanos esperam encontrar

    sushi-bars em todos os lugares, inclusive nas reas prximas aos parques, nos

    shoppings e nos supermercados e seus clientes tpicos, costumam consumir

    sushi no mnimo uma vez por semana (ANDERSON, 2004).

    Historicamente, portanto, o sculo vinte representou o perodo em que a

    cozinha japonesa acumulou influncias do ocidente e se adaptou s

    necessidades da sociedade moderna. Pratos e temperos anteriormente

    estranhos, como teppanyaki (pratos cozidos em uma placa quente de ferro),

    tempura (pedaos fritos de vegetais ou mariscos envoltos numa massa fina),

    yakitori (espetinhos de frango), shoyu (molho de soja), wasabi (raiz forte),

    misso (pasta de soja), karashi (mostarda), mirin e sake (bebidas alcolicas

    base de arroz) e dashi (caldo de peixe ou carne) so agora familiares a milhes

    de pessoas em todo o mundo (CWIERTKA, 2007).

    O fato que se pode encontrar facilmente sushi em lugares como Nova

    York, Londres, Los Angeles, Hong Kong e Chicago, mas tambm em cidades

    inslitas de lugares como Mxico, Arizona, Turquia, Honduras, Kuait, China,

    Espanha, Alemanha, Esccia, Frana e outros (HOLZMANN, 2006).

    Foi tambm nas ltimas duas dcadas que o sushi surgiu de forma mais

    freqente na mesa do brasileiro. Aumentou no somente o nmero de

  • 35

    restaurantes exclusivamente japoneses, como tambm o nmero de

    estabelecimentos que diversificaram seu menu, oferecendo comida japonesa

    como uma opo a mais. A comida japonesa passou a ter uma conotao

    desde extica, representando um estilo de alimentao, at a conotao de

    opo por um fast food saudvel (CWIERTKA, 2007), uma vez que sushi e

    sashimi tambm podem ser caracterizados como refeies rpidas e, portanto,

    atendendo demanda do mundo moderno.

    So Paulo foi o estado que mais recebeu contribuies com a imigrao

    japonesa. O bairro da Liberdade a regio que mais concentra o comrcio de

    produtos japoneses. Os produtos ligados mesa so alguns dos mais

    vendidos, desde lascas de peixe seco at apetrechos para moldar os bolinhos

    de arroz dos sushis (RIBEIRO; PAOLUCCI, 2006).

    Na dcada de 60, a produo de alimentos por japoneses estava

    centrada em ncleos em So Paulo, no Paran e no Rio de Janeiro. A partir da

    dcada de 80, o consumo de sushis e sashimis ganhou maior expressividade

    em todo o pas. Hoje no Brasil, alm dos sushi bars, em um restaurante a quilo

    e em um grande nmero de churrascarias pode-se encontrar do arroz e feijo

    ao macarro bolonhesa, bife milanesa, lasanha, canelone, carne assada,

    farofa, rosbife e sushi/sashimi, havendo a representao do mundo em uma

    nica mesa (BARBOSA, 2007). Desta forma, atualmente os restaurantes so

    extremamente importantes do ponto de vista sociolgico por permitir a

    expresso do gosto individual atravs das combinaes as mais radicais

    possveis, como sushi/sashimi e feijo com arroz.

    De acordo com Barbosa (2007) a comida significa o como, o quando, o

    com quem, o onde e de que maneira os alimentos selecionados por um

    determinado grupo humano so consumidos. Os grupos mais jovens da

    populao so altamente atrados pelo fast food. Nas grandes cidades

    brasileiras a classe mdia substituiu o arroz e o feijo pela comida rpida.

    Passar numa lanchonete com sistema drive-thrue e comer um sanduche

    dentro do carro ou passar no supermercado e fazer um prato de sushis frescos

    rpido e conveniente, e no caso da comida japonesa alia ainda a tentativa de

  • 36

    se alimentar de forma mais saudvel, passando a ser a opo de inmeros

    jovens trabalhadores de classe mdia a alta que no costumam retornar s

    suas casas para almoar.

    Segundo Lopes (2007), a cultura japonesa de interesse crescente

    entre os jovens brasileiros pelos costumes, tradies e principalmente pela

    culinria. Nesse sentido, um aspecto interessante que os jovens e a

    populao de um modo geral passaram a ver na comida japonesa uma boa

    opo para se manterem em forma (REICHEMBARCH, 2007). De fato, os

    sushis/sashimis so constitudos de muitos ingredientes frescos e saudveis,

    compondo pratos leves, quase sem gordura e moderadamente temperados

    (RIBEIRO e PAOLUCCI, 2006).

    Os benefcios do consumo de peixe na preveno e tratamento das

    doenas crnicas no transmissveis como obesidade, diabetes melito,

    doenas cardiovasculares, est bastante documentado na literatura. As

    diretrizes nacionais e internacionais para a abordagem dietoterpica dessas

    afeces j evidenciam a importncia da incluso de duas ou mais pores de

    peixe por semana devido ao seu contedo de gorduras poliinsaturadas

    (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2008; SOCIEDADE BRASILEIRA DE

    DIABETES, 2006; SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSO, 2004).

    A American Heart Association concluiu atravs das pesquisas do seu

    comit cientfico que prudente recomendar a incluso de protena de soja na

    dieta como forma de tratamento efetivo nos casos de hipercolesterolemia

    (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2006).

    Um estudo multitnico recente apontou a associao entre uma dieta

    contendo baixo teor de gordura, incluindo o peixe, e baixos nveis de excreo

    urinria de albumina. Uma microalbuminria elevada resultado de mudanas

    na permeabilidade da membrana glomerular com alteraes na presso

    hidrosttica glomerular, condio particularmente comum em pessoas com

    diabetes e/ou hipertenso. O estudo concluiu que uma dieta rica em frutas,

    gros integrais e laticnios, carnes e pescados com baixo teor de gordura

  • 37

    estava associada com baixos nveis de microalbuminria (NETTLETON et al.,

    2008).

    Diante dessas evidncias, o consumo de sushi pode ser uma via de

    incorporao do peixe dieta da populao, especialmente entre os jovens,

    que consomem menos pescado como parte da dieta usual. Um estudo

    realizado com jovens do Estado do Paran sobre consumo alimentar mostrou

    que no grupo das carnes a menor freqncia de consumo semanal ocorreu

    para os peixes. Tal dado corrobora outro estudo, realizado no Estado da Bahia,

    em que mais de 50% dos jovens avaliados referiu consumir peixe apenas

    raramente (SANTOS, 2005; COSTA et al., 2007).

    Considerando as observaes de alguns autores acerca da alimentao

    dos jovens, cujas caractersticas podem ser justificadas pela falta de tempo

    disponvel para se dedicar a uma refeio, pelas preferncias individuais, pelo

    modismo e por se tratar de uma refeio que pode ser feita com os amigos, a

    disseminao do consumo de sushi pode ser uma estratgia mais vivel para

    que determinados grupos melhorem o consumo de pescados frescos e sejam

    contemplados com os seus benefcios (GAMBARDELA et al., 1999).

    Entretanto, vale destacar que, apesar dos pontos positivos, o consumo

    de pescados crus pode representar um risco de infeco alimentar, ligado

    prpria natureza do produto (pescados crus) e manipulao inadequada. Os

    procedimentos em higiene e Segurana Alimentar so pontos cruciais na

    confeco de sushi/sashimi de qualidade. Na Amrica do Sul, foram

    registrados casos de parasitose humana por Diphyllobothrium (parasita

    encontrado na musculatura de peixes) no Chile, no Peru, na Argentina e no

    Brasil. O homem adquire a infeco ao ingerir pescado de gua doce cru ou

    pouco cozido, que contenha a larva do parasita (MENGHI et al., 2006). De

    acordo com Santos e Faro (2005), com o consumo crescente de pescado cru

    (sushi, sashimi) pela populao brasileira, a taxa de infeco de

    Diphyllobothrium poder aumentar, de forma que uma melhor fiscalizao

    sanitria dos peixes importados e a nfase em prticas sanitrias nos

  • 38

    restaurantes parece ser a melhor estratgia para controlar a instalao desta

    helmintose no Brasil.

    Com relao s variaes nacionais do sushi/sashimi, embora haja

    crticas distncia que se acaba criando do tradicional oriundo do Japo, fritar

    o sushi, incluir frutas tropicais, inventar novas receitas afeitas ao gosto

    brasileiro que est de acordo com a verdadeira tradio. H variaes locais

    com base na disponibilidade de ingredientes, nos gostos, nos temperos. Cada

    lugar adapta o sushi aos ingredientes de que gosta e que tem disponveis.

    Desse modo, atravs dos sculos o sushi tem sido apreciado em um grande

    nmero de variaes, desde o mais simples e cotidiano, como o atum enrolado

    em arroz avinagrado e alga, ao elegante sushi criado para ocasies festivas,

    passando pelos regionais adaptados s culturas alimentares (ISSEMBERG,

    2007).

    Pensando especificamente em Fortaleza, o APNDICE 1 exibe algumas

    preparaes e respectivas receitas mais utilizadas na cidade.

    A presente reviso, portanto, contextualizou de forma mais abrangente a

    temtica que ser explorada na pesquisa e as respectivas lacunas apontadas

    no inicio do captulo, ou seja, no se sabe qual o consumo qualitativo e

    quantitativo de fast foods e sushi/sashimi na regio, nem os determinantes

    percebidos pela populao para tal consumo.

  • 39

    2. OBJETIVOS

    2.1 GERAL

    Avaliar o consumo de fast food e de sushi/sashimi por jovens da cidade

    de Fortaleza-Cear, no mbito da segurana alimentar.

    2.2 ESPECFICOS

    - Identificar o consumo quali-quantitativo de fast food e de sushi/sashimi

    pelo grupo avaliado;

    - Determinar a influncia do consumo de fast food e de sushi/sashimi

    sobre o risco de doenas crnicas considerando a freqncia e quantidade

    consumida e a parcela de contribuio ingesto de componentes dietticos

    nocivos sob o ponto de vista nutricional;

    - Identificar fatores que influenciam o consumo de fast food e de

    sushi/sashimi;

    - Verificar os conhecimentos do grupo avaliado sobre riscos e benefcios

    do consumo de fast food e de sushi/sashimi;

    - Identificar a compreenso do conceito de Segurana Alimentar pelo

    grupo avaliado.

  • 40

    3. METODOLOGIA

    3.1 Tipo de estudo

    Trata-se de um estudo transversal, realizado em um nico momento no

    tempo, produzindo instantneos da situao da populao quanto ao tema

    investigado, com base na abordagem individual de cada membro da amostra,

    com caractersticas descritivas e analticas (ALMEIDA FILHO; ROUQUAYROL,

    2002).

    3.2 Local da pesquisa

    A pesquisa foi realizada em dois shoppings centers, localizados em

    Fortaleza, respectivamente identificados como detentores de circulao de

    pessoas de maior e menor poder aquisitivo.

    O primeiro estabelecimento, inaugurado em 1998, o Shopping Aldeota,

    localizado no bairro Aldeota, rea nobre de Fortaleza, onde aproximadamente

    66% dos domiclios na rea de influncia primria so das classes A e B, como

    informado pelo setor de marketing do referido estabelecimento. Segundo a

    mesma fonte, no local h um fluxo de cerca de 4 milhes de pessoas ao ano

    (500 mil pessoas por ms).

    O segundo estabelecimento o North Shopping, inaugurado em 1991.

    De acordo com informaes da homepage (www.northshopping.com.br) do

    estabelecimento, o mesmo atrai 24 milhes de visitantes anualmente.

    3.3 Populao e amostra

    A populao do estudo foi constituda por adultos jovens (LOBATO,

    2004), na faixa etria de 22 a 35 anos que freqentam os shoppings centers

    citados. A opo por este grupo etrio foi devido ao fato de se constiturem em

    pessoas relatadas na literatura como consumidores freqentes dos chamados

    http://www.northshopping.com.br)
  • 41

    alimentos da modernidade (RIBEIRO JUNIOR, 2007), foco principal do

    estudo.

    Para a determinao da amostra, considerando que no h uma

    prevalncia conhecida de utilizao de fast foods e sushi/sashimi por este

    grupo etrio, optou-se por estimar uma prevalncia de 50%, com intervalo de

    confiana de 95%, correspondente a um erro relativo de 5%, totalizando cerca

    de 500 indivduos, com uma margem de segurana j prevista, considerando

    que a amostra no poderia ser plenamente aleatria, devido s caractersticas

    dos locais. No entanto conseguiu-se entrevistar 454 indivduos, devido a

    dificuldades principalmente no Shopping Aldeota, onde alm de haver menor

    circulao de pessoas houve maior nmero de recusas.

    3.4 Critrios de incluso e excluso

    Considerando as caractersticas da amostra, j citadas, constituram

    critrios de incluso no estudo: indivduos do sexo masculino ou feminino na

    faixa etria de 22 a 35 anos, que estivessem nas dependncias dos shoppings

    centers citados e que referissem no terem doena que impedisse o consumo

    freqente ou eventual de fast foods e/ou sushi/sashimi. O no atendimento a

    quaisquer destes critrios configurou critrio de excluso.

    3.5 Coleta de dados

    Os dados foram coletados de fevereiro a outubro de 2009. Os

    freqentadores foram abordados pelo pesquisador responsvel pelo estudo ou

    por aplicadores de campo previamente treinados. Tendo preenchido todos os

    critrios de incluso, os indivduos foram entrevistados nas dependncias do

    shopping em que estavam, valendo referir que ambos os estabelecimentos

    possuam bancos em sua rea de circulao interna, onde pesquisadores e

    indivduos estudados permaneciam sentados durante a realizao da

    entrevista.

  • 42

    No estudo, fast foods representados por lanches rpidos convencionais

    foram tratados exclusivamente com o termo fast foods; sushi/sashimi, apesar

    de configurarem refeies rpidas, no foram aqui tratados como fast foods e

    sim por sushi/sashimi.

    As informaes foram registradas em um formulrio (APNDICE 2) que

    contemplou os seguintes itens:

    1) Dados de identificao (sexo, idade, escolaridade, formao

    profissional e ocupao);

    2) Dados sobre os fast foods e os sushis/sashimis mais consumidos,

    com respectivas freqncias de consumo e quantidade ingerida por vez;

    3) Dados sobre motivos da escolha de fast food e sushi/sashimi como

    opo alimentar de refeio e/ou lanche (gosto/preferncia; aspectos

    nutricionais referentes aos mesmos; influncia do grupo social ao qual

    pertence; custo; outros);

    4) Dados sobre conhecimentos sobre as vantagens de utilizao ou no

    de fast foods e sushi/sashimi no contexto de segurana alimentar (conceito de

    segurana alimentar; vantagens do consumo de fast food; desvantagens do

    consumo de fast food; vantagens do consumo de sushi/sashimi; desvantagens

    do consumo de sushi/sashimi).

    3.6 Tabulao e anlise dos dados

    Os dados foram analisados em frequncia simples e percentual, mdias

    e desvio-padro.

    As contribuies nutricionais mdias dirias do consumo de fast food e

    sushi/sashimi foram avaliadas atravs do software Avanutri Profissional (verso

    2.0). Os valores encontrados foram comparados com as referncias de

    ingesto desses nutrientes, de acordo com o Guia Alimentar da Populao

  • 43

    Brasileira (BRASIL, 2006), principalmente no que tange aos nutrientes mais

    associados ao risco de desencadeamento de doenas crnicas e, portanto,

    ameaa segurana alimentar: calorias, contribuio energtica percentual de

    macronutrientes, quantidade de colesterol e quantidade de sdio.

    Para avaliar os significados emitidos sobre o termo Segurana Alimentar

    foram criadas quatro categorias que reuniram as opinies, baseando-se nas

    principais idias do conceito de Segurana Alimentar que consiste na

    realizao do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de

    qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras

    necessidades essenciais, tendo como base prticas alimentares promotoras de sade que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural,

    econmica e socialmente sustentveis (CONSELHO NACIONAL DE

    SEGURANA ALIMENTAR E NUTRICIONAL, 2004). Desse modo foram

    definidas as quatro categorias: qualidade, quantidade, prticas alimentares

    saudveis, sade em geral. O conceito emitido pelos entrevistados foi

    enquadrado nas mesmas.

    O conhecimento sobre riscos e benefcios das preparaes

    sushi/sashimi e fast foods foi confrontado com o comportamento de consumo.

    O tratamento estatstico tentou avaliar diferenas entre os shoppings

    para as variveis sexo, idade, escolaridade e ocupao, a fim de direcionar as

    anlises. Para tanto foi utilizado o teste do Qui-quadrado com p < 0,05 como

    nvel de significncia.

    3.7 Aspectos ticos

    O projeto foi delineado conforme a Resoluo 196/96 (BRASIL, 1996)

    que rege a realizao de pesquisas envolvendo seres humanos. O mesmo foi

    submetido ao Comit de tica em Pesquisa da Universidade Estadual do

    Cear e a coleta de dados foi iniciada apenas aps aprovao do mesmo

    (ANEXO 1).

  • 44

    Os entrevistados assinaram um Termo de Consentimento Livre e

    Esclarecido para realizao da pesquisa, tambm de acordo com a referida

    Resoluo (APNDICE 3).

  • 45

    4. RESULTADOS

    Para efeitos didticos, este captulo est subdividido em cinco partes

    que apresentam a descrio e a anlise, conforme os objetivos estabelecidos,

    dos seguintes resultados: perfil social dos indivduos entrevistados; prevalncia

    de consumo de sushi, sashimi e fast foods; padro de consumo de sushi e/ou

    sashimi; padro de consumo de fast foods; conceito de segurana alimentar.

    4.1 Perfil social

    Os dados a seguir esto expressos de acordo com o shopping, aqui

    definidos como SA (shopping situado em rea nobre da cidade) e SB (shopping

    situado em regio em que habitam e circulam predominantemente pessoas de

    menor poder aquisitivo).

    A amostra estudada foi constituda por homens e mulheres jovens, que

    circulavam nas dependncias dos referidos shoppings durante o perodo de

    realizao da pesquisa, cuja distribuio segundo sexo e shopping encontra-se

    exposta na Tabela 1.

    Tabela 1. Distribuio dos indivduos entrevistados segundo sexo e tipo de shopping. Fortaleza CE, 2010.

    Sexo SA SB Total

    N % N % N %

    Masculino 57 41,3 101 32,0 159 35,0

    Feminino 81 58,7 215 68,0 295 65,0

    Total 138 100,0 316 100,0 454 100,0 SA = Shopping A; SB = Shopping B

  • 46

    Os entrevistados apresentaram uma idade mdia de 26,5 anos, sendo o

    mesmo observado para homens e mulheres separadamente. No caso do SA, a

    mdia de idade geral foi de 26,7 anos, sendo para os homens 26,5 anos e para

    as mulheres 27,0 anos. No caso do SB, a mdia geral foi de 26,4 anos, sendo

    para os homens 26,1 e para as mulheres 26,5 anos. A Tabela 2 apresenta a

    distribuio da amostra considerando faixa etria, sexo e local da pesquisa:

    Tabela 2. Distribuio dos indivduos entrevistados, segundo faixa etria, sexo e tipo de shopping. Fortaleza CE, 2010.

    Faixa

    etria

    (anos)

    Masculino Feminino Total

    SA SB SA SB

    N % N % N % N % N %

    22-25 23 40,3 53 52,5 35 43,2 105 48,8 216 47,6

    26-30 23 40,3 30 29,7 34 42,0 73 33,9 160 35,2

    31-35 11 19,3 18 17,8 12 14,8 37 17,2 78 17,2

    Total 57 100,0 101 100,0 81 100,0 215 100,0 454 100,0 SA = Shopping A; SB = Shopping B

    Com relao aos anos de estudos observa-se, na Tabela 3, que a

    maioria possua 11 ou mais anos de escolaridade, ou seja, tinham pelo menos

    o ensino mdio completo, sendo que 46% estavam cursando ou haviam

    concludo o Ensino Superior.

    Tabela 3. Distribuio dos indivduos entrevistados segundo anos de

    estudo, sexo e tipo de shopping. Fortaleza CE, 2010.

    Anos de

    estudo

    Masculino Feminino Total

    SA SB SA SB

    N % N % N % N % N %

    < 8 1 1,7 1 1,0 1 1,2 1 0,5 4 0,9

    8-10 3 5,3 10 10,0 5 6,2 11 4,6 29 6,2

    11 53 93,0 90 89,1 75 92,6 203 94,9 422 92,9

    Total 57 100,0 101 100,0 81 100,0 215 100,0 454 100,0 SA = Shopping A; SB = Shopping B

  • 47

    De acordo com a Classificao Brasileira de Ocupaes, na sua verso

    domiciliar (IBGE, 2007), os entrevistados se encontravam mais inseridos em

    atividades de vendas no comrcio, em lojas, em mercados e em servios

    (32,6%), como exposto na Tabela 4. Em outros foram citados: trabalhadores da

    produo de bens e servios industriais (TPI), trabalhadores de reparao e

    manuteno (TRM), membros das foras armadas, policiais e bombeiros

    militares (MFA), alm de profissionais autnomos que no especificaram sua

    rea de trabalho, todos com menos de quatro citaes em cada categoria.

    Tabela 4. Distribuio dos indivduos entrevistados, segundo ocupao,

    sexo e tipo de shopping. Fortaleza CE, 2010.

    Ocupao Masculino Feminino Total

    SA SB SA SB

    N % N % N % N % N %

    MSP 2 3,5 1 1,0 0 - 1 0,5 4 0.9

    PCA 11 19,3 19 18,8 9 11,1 31 14,4 70 15,4

    TNM 7 12,3 15 14,8 5 6,2 27 12,6 54 11,9

    TSA 3 5,3 6 5,9 8 9,9 15 7,0 32 7,0

    TSV 19 33,3 34 33,7 33 40,7 62 28,8 148 32,6

    Outros 1 1,7 7 6,9 1 1,2 3 1,4 12 2,6

    No tem 14 24,6 19 18,8 25 30,9 76 35,3 134 29,5

    Total 57 100,0 101 100,0 81 100,0 215 100,0 454 100,0 SA = Shopping A; SB = Shopping B MSP = Membros superiores do poder pblico, dirigentes de organizaes de interesse pblico e de empresas, gerentes; PCA = Profissionais das cincias e das artes; TNM = Tcnicos de nvel mdio; TSA = Trabalhadores de servios administrativos; TSV = Trabalhadores dos servios, vendedores do comrcio em lojas e mercados.

    As caractersticas dos grupos frequentadores dos dois shoppings foram

    confrontadas, como exposto na Tabela 5. Observa-se que no h diferena

    entre os dois grupos, evidenciando que os freqentadores dos shoppings

    centers, independentemente da rea em que o comrcio est alocado,

    possuem um perfil semelhante. Considerando esses achados, os resultados

    apresentados nos prximos sub-captulos no sero estratificados quanto ao

    tipo de shopping center.

  • 48

    Tabela 5. Comparao entre os grupos entrevist