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“Seis Personagens à Procura de um Autor” de Luigi Pirandello Alexandra Coquim 4100149 Dezembro 2011 Orientadora da Cadeira: Cláudia Marisa Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo Análise Dramatúrgica

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“Seis Personagens à Procura de um Autor” de Luigi Pirandello

Alexandra Coquim 4100149 Dezembro 2011Orientadora da Cadeira: Cláudia Marisa

Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo

Análise Dramatúrgica

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“Seis Personagens à Procura de um Autor”Análise Dramatúrgica

Sinopse da obra “Seis Personagens à procura de um autor”

Escrita em 1921, “Seis Personagens à procura de um autor”, de Luigi Pirandello

(1867-1936), relata um ensaio de teatro.

Um grupo de actores que estavam a preparar-se para o ensaio de uma peça de

Pirandello vêm o seu ensaio ser invadido por seis personagens (o Pai, a Mãe, o Filho, a

Enteada, o Rapazinho e a Menina) que, rejeitadas pelo seu criador, tentam convencer

o director da companhia a encenar as suas vidas, isto é, o líder dos personagens, o pai,

informa o director que estão à procura de um autor visto que, o autor que os criou não

terminou a sua história deixando-os, assim, personagens incompletos, que não

chegaram a ganhar vida própria. Inicialmente, o director fica perturbado pelo facto do

seu ensaio ter sido interrompido, porém, aos poucos começa a interessar-se pela

situação inusitada que se apresenta diante dos seus olhos. As personagens convidam-

no a encenar as suas vidas, mostrando que mereciam ter uma oportunidade. Com isso,

acabam por convencer o director a tornar-se autor. No entanto, a forma de

representação proposta pelo director não é aceite pelas personagens dado que estas

não querem ser representadas pelos actores da companhia. Afinal, quem poderia

representar melhor a vida de uma personagem do que ela própria? Desta forma posso

referir que a acção desta obra engloba a discussão das personagens com o director,

que passa a exercer um papel autoral, e a dificuldade de estabelecer-se os factos e os

seus significados, uma vez que cada personagem sente a história ao seu modo e de

acordo com o seu ponto de vista narrativo (são estes conflitos que levam à construção

de uma metaficção, que constituem o tema central da obra de Pirandello).

Há, contudo, paralelamente, uma outra narrativa. Trata-se da tragédia familiar

que atormenta as seis personagens. Esta tragédia é constituída por um homem (o pai)

que cede a sua própria mulher para um ex-secretário, por perceber a afinidade

existente entre os dois. Ela (a mãe) vai embora da cidade com este homem, deixando o

filho do primeiro casamento para trás e, posteriormente vem a ter três filhos (a

enteada, o rapazinho e a menina) com o novo companheiro. Anos mais tarde, fica

viúva e passa por dificuldades financeiras que a levam a trabalhar como costureira.

Neste mesmo período a filha mais velha (a enteada) prostitui-se, sem o seu

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conhecimento, na casa de uma madame chamada Pace. O pai, um dos frequentadores

da casa da madame Pace, quando se depara com um possível incesto, uma vez que, se

a mãe não tivesse chegado a tempo de o impedir, ele teria dormir com a própria

enteada sem o saber, convida a mãe e os seus três filhos a irem viver para sua casa.

Todavia, a união das seis personagens (o pai, a mãe, a enteada, o filho, o rapazinho e a

menina) pelo destino, termina em grande sofrimento e tristeza, culminando no

afogamento da menina e no suicídio do menino, filhos mais novos da mãe.

As discussões entre as personagens e o director compõem uma análise

filosófica do Teatro. Assim, o peso da peça divide-se entre a narrativa em si, e os

aspectos paratextuais, que ganham a cena. O Director e personagens ao discutir

constroem, também, uma querela de formas de fazer teatro. As personagens, ao

tentarem mostrar ao director que as suas vidas são reais, em relação ao palco, e, o

director ao defender a relatividade do que está sobre o palco tomam como parâmetro

a vida “real”. Desta forma pode-se referir que a peça torna-se um estudo

metalinguístico do teatro, isto é, uma discussão da arte sobre si mesma.

Assim concluo que, o objetivo de Pirandello nesta obra é mostrar, questionar e

brincar com a arte de escrever. Ele defende a ideia que a fantasia trabalha para ele e

não o contrário e usa figuras criadas para aprofundar a observação do acto de criar

conscientemente.

Explicação do Modelo Actancial de Anne Ubersfeld

A noção de modelo, esquema ou código actancial, modelo desenvolvido por Anne Ubersfeld tendo por base a semiótica greimasiana e a estética de E. Souriau, tem sido utilizada na pesquisa semiótica e dramatúrgica para mostrar as principais forças do drama e o seu papel na acção. O sucesso deste modelo é devido à prestação de esclarecimentos para os problemas da situação dramática, da dinâmica das situações e dos personagens e, do surgimento e resolução dos conflitos. Assim, o esquema actancial constitui um trabalho de dramaturgia que tem por finalidade clarificar as relações físicas e a configuração dos personagens.

• Sujeito: o que move a acção/ o que proporciona a existência de conflitos / quem procura conquistar o quê?

O Sujeito representa a função que gera toda a situação dramática. Esta função, encarnada num ou mais personagens, expressa o desejo de algo, orienta-se para alguma coisa, para obtê-la

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- no caso da ambição -, ou para evitá-la no caso do temor. Além de gerar toda a tensão dramática, ou por isso mesmo, supomos que, pela sua orientação para um determinado valor, essa função (o sujeito) estabelece o tema da peça. Dificilmente esta função está ausente da peça. No entanto, pode haver um retardamento na entrada em cena de quem a encarna, o que pode gerar mistério, expectativa.

• Objecto: o que se pretende conquistar/ o bem desejado.

Em cena, o objecto pode ser pessoal ou impessoal pode, por exemplo, ser simbolizado por algum adereço, isto é, o objecto não precisa de estar, necessariamente, encarnado num personagem.

• Adjuvante: ajuda o sujeito a alcançar o objecto/ constitui os elementos que ajudam à conquista do objecto.

O adjuvante assume um “papel de co-interessado, cúmplice ou auxiliar e salvador” do sujeito. O sujeito na sua caminhada rumo à posse do objecto, geralmente precisa do auxílio de outro actante, uma vez que, este, no começo de uma narrativa, normalmente, possui apenas o “querer”, faltando-lhe o “saber” e o “poder”. Essas qualificações são-lhe fornecidas pelo actante adjuvante.

• Oponente: elementos que se opõem à conquista do objecto.

Não haveria drama - acção - se ao sujeito não se opusesse algum obstáculo, assim, a função de colocar entraves na conquista do objecto por parte do sujeito cabe ao oponente.

• Destinador: a força que move o sujeito/ por causa de quem ou do quê o sujeito age? (motivação psicológica).

• Destinatário: a acção realiza-se em benefício de.../ o que faz com que a personagem avance (motivação social).

Análise da obra “Seis Personagens em busca de um autor” segundo o Modelo Actancial de Anne Ubersfeld

• Sujeito: Trata-se de um sujeito colectivo - as seis personagens (pai, mãe, filho, enteada, menina e rapazinho).

As seis personagens constituem o sujeito da peça de Pirandello dado que, é a sua chegada ao Teatro em busca de um autor e o seu desejo que o Director, uma vez que não existe autor, encene o seu drama que, constituem o conflito que, consequentemente, gera toda a acção/ toda a situação dramática. As falas abaixo além

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de comprovarem o que supra-citei, demonstram que a chegada das Seis Personagens vem gerar uma repentina mudança de trabalho.

- Porteiro: “Estão aqui umas pessoas... perguntando pelo senhor.”

- Director: ”Mas eu estou ensaiando. E você sabe que, quando ensaio, não quero que entre ninguém. (Olhando para o fundo da plateia) Quem são vocês? O que querem?”

- Pai: “Estamos aqui à procura de um autor”

- Director: “Mas aqui não há nenhum autor. Não estamos ensaiando nenhuma peça nova.”

- Enteada: “Melhor assim, então! Nós poderemos ser a sua nova peça!”

- Pai: “Sim... mas se não há nenhum autor... (Ao director) A menos que o senhor queira ser...”

(...)

- Director: “Vamos acabar com isso! Silêncio! (Volta-se para os Personagens) E os senhores, retirem-se! Saiam daqui! (Ao assistente) Por Deus, faça-os sair!”

(...)

- Director: “De uma vez por todas: nós precisamos trabalhar!”

-Enteada: “Acredite, senhor, que somos verdadeiramente seis personagens interessantíssimos! Embora desperdiçados”.

- Pai: “Isso mesmo, desperdiçados! (Ao director) No sentido de que o autor que nos criou vivos não quis, em seguida, ou não pôde, materialmente, colocar-nos no mundo da arte. (...)”

(...)

- Director: “Vamos ouvir! Vamos ouvir! (Desce até á plateia e fica em pé, em frente do palco para, como espectador, ver melhor a cena).

(...)

- Actriz Principal: “ Com licença: o ensaio vai continuar?”

- Director: “ Vai, sim. Mas agora deixe ouvir.”

(...)

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- Director: “Ótimo! Esteja certo de que tudo isso me interessa muito. Vejo que é um assunto de que se pode tirar um belo drama.”

(...)

- Director: “O senhor me está tentando... está me tentando... Vamos ver um pouco o que é que dá... Venha comigo ao meu camarim. (Dirigindo-se aos actores) Vocês estão livres, por enquanto, mas não se afastem muito. Dentro de quinze, vinte minutos, voltem aqui. (Ao pai) Vamos ver, vamos tentar. Talvez consigamos tirar disso qualquer coisa de extraordinário....”

(...)

- Actriz Principal: “Ele está falando sério! O que pretende fazer?”

- Terceiro Actor:” Quer que nós improvisemos uma drama, assim, de uma hora para a outra?”

• Após definir o sujeito da peça realizei três divisões deste:

• Sujeito Principal: Penso que o sujeito principal é constituído pela Enteada, visto que, é esta personagem que toma a iniciativa de convencer o director a encená-los e, introduz o drama que as seis personagens carregam. Esta detém, diversas vezes, ânsia em apresentar o seu drama assim, quando algo está a implicar a continuidade das cenas ela tenta solucionar o obstáculo. Porém, muitas vezes, também ela constitui uma oponente da continuidade das cenas uma vez que, tece imensas considerações sobre o cenário da peça pois pretende que este seja, exactamente, igual ao que compõe o drama.

As falas da enteada que a seguir apresentarei comprovam o que referi acima.

P. 281

- Director: “Mas aqui não há nenhum autor. Não estamos ensaiando nenhuma peça nova.”

- Enteada: “Melhor assim, então! Nós poderemos ser a sua nova peça!”

(...)

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P. 285

- Enteada: “Acredite, senhor, que somos verdadeiramente seis personagens interessantíssimos! Embora desperdiçados”.

(...)

P. 288

- Enteada (aproximando-se do director): “Pior! Muito Pior! Por favor, deixe-nos representar imediatamente esse drama e verá que, a certa altura, quando Deus tirar este amorzinho daqui... (Toma pela mão a Menina, que está com a mãe, e a leva ao director). Está vendo como é linda? (...) Pois bem: quando, de repente, Deus tirar este amorzinho daquela pobre mãe, e este pequeno idiota aqui (traz para a frente o Rapazinho, puxando-o pela manga) fizer a maior das asneiras, digna do imbecil que ele é, então verá que eu levanto voo! Sim senhor! Levanto voo! E não vejo a hora de fazer isso, acredite, não vejo a hora! Porque, depois do que aconteceu, de muito íntimo, entre mim e ele (aponta o Pai fazendo uma careta), não posso mais me ver no meio desta gente, assistindo ao tormento daquela mãe, por causa, daquele sujeito ali (indica o filho) (...). “

P. 329

- Enteada (Ao Pai): “O senhor faça a sua entrada. Não precisa dar a volta. Finja que já entrou. Eu fico aqui, de cabeça baixa. Vamos! Fale alto! Diga-me: «Bom dia, senhorita».”

(...)

P. 357

- Filho: “Não represento coisa nenhuma! Eu já disse desde o começo. (Ao director) Deixe-me ir!”

- Enteada (correndo ao director): “Dá licença, senhor? (Ela o faz abaixar os braços que detinham o filho.) Deixe-o! (Depois, voltando-se para ele) Tudo bem, pode ir embora!”

(O Filho dirige-se à escadinha, mas, como retido por um poder oculto, não pode descer os degraus. Em seguida, em meio ao espanto dos actores, move-se lentamente ao longo

da ribalta, em direcção à outra escadinha; ao chegar ali, porém, fica também inclinado sem poder descer.)

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- Enteada: “Está vendo? Ele não pode! É obrigado a ficar aqui. (...)”

• Sujeito Filosófico: O Pai constitui o sujeito filosófico. Este, a par com a Enteada, procura convencer o director a encenar a sua peça, no entanto, toda esta “persuasão” e, os confrontos que detém com o director são num campo filosófico, num universo nos qual tece reflexões acerca do real e da ficção, isto é, realiza uma análise filosófica do Teatro. De seguida transcrevo algumas falas que justificam o que referi acima.

P. 281

- Pai: “Estamos aqui à procura de um autor”

- Director: “Mas aqui não há nenhum autor. Não estamos ensaiando nenhuma peça nova.”

P. 282

- Pai (para o director): “Oh, o senhor sabe muito bem que a vida é cheia de absurdos, os quais, descaradamente, nem sequer precisam parecer verosímeis. E sabe por quê? Porque esses absurdos são reais.

- Director: “ Mas que diabo está dizendo?”

- Pai: “Digo que, ao pensarmos nesses absurdos reais, que nem mesmo verosímeis nos parecem, vemos que a loucura consiste justamente no oposto: em criar verosimilhanças que pareçam verdadeiras. E essa loucura, permita-me que lhe observe, é a única razão de ser da profissão dos senhores.”

P. 304

- Pai: “Para mim, o drama está todo nisso: na convicção que tenho de que cada um de nós julga ser “um” (...)”.

P. 307

- Pai: “(...) (Volta a referir-se ao Filho.) Quer que o deixem de fora, diz que não entra nisso e, no entanto, quase é ele o eixo da acção. (...)”

Pp. 324/325

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- Pai: “(...) Por que querem estragar, em nome de uma verdade vulgar, esse prodígio de uma realidade que nasceu, evocada, atraída, formada pela própria cena e que tem mais direito de viver aqui do que os senhores, porque é muito mais verdadeira que os senhores? Que actriz, entre as presentes, vais fazer Madame Pace? Muito bem: Madame Pace é aquela! Concordarão comigo em que a actriz que a representar será menos verdadeira do que aquela, que é ela em pessoa! (...)”.

Pp. 347-349

- Pai: “Pelo amor de Deus, não digam «ilusão!» Não usem esta palavra que para nós é especialmente cruel!”

- Director: “Por quê?”

- Pai: “Sim, cruel! O senhor deveria compreender!”

- Director: “Então, como dizer? A ilusão por criar, aqui nos espectadores...

- Actor Principal: “...com a nossa representação...”

- Director: “...a ilusão de uma realidade!”

- Pai: “Eu entendo. Contudo, talvez o senhor não nos possa entender. Desculpe-me! Porque aqui, para o senhor e os seus actores, se trata apenas, e é natural, do seu jogo.”

- Actriz Principal: “ (interrompendo-o revoltada) Que jogo? Não somos jogadores nem estamos aqui para nos divertir. Nós representamos a sério.

- Pai: “Não nego isso. Refiro-me ao jogo da arte dos senhores, que deve dar uma perfeita ilusão da realidade, como diz o senhor.”

- Director: “É exactamente isso!”

- Pai: “Agora, se o senhor considerar que nós, como somos (apontando para si própria e para os outros cinco personagens), não temos outra realidade fora dessa ilusão!”

- Director: “Mas como pode ser isso?”

- Pai: “Assim, como é! Qual outra realidade poderia ser? Aquela que para os senhores é uma ilusão por criar, para nós é a nossa única realidade. E não apenas para nós, acredite! Pense bem! Sabe nos dizer quem é o senhor?”.

- Director: “Como... quem sou? Sou eu!”

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- Pai: “E se lhe dissesse que não é verdade, porque o senhor sou eu?”

- Director: “Responderia que o senhor é louco!”

- Pai: “Eles estão certos em rir, porque aqui tudo é jogo e o senhor pode alegar, então, que somente por jogo aquele cavalheiro ali que é “ele”, deve ser “eu”, que, vice-versa, sou eu, “este”. Vê como o apanhei na armadilha?”

- Director: “Mas isso já foi dito ainda há pouco. Vamos recomeçar?”

- Pai: “Não. Eu não queria dizer isso. Ao contrário: eu o convido a sair deste jogo de arte, que o senhor costuma fazer aqui com os seus actores, e lhe pergunto de novo, seriamente: quem é o senhor?”

- Director: “Oh! Mas olhem que é preciso ser muito cara-de-pau! Inculca-se como personagem e vem me perguntar quem sou!”

- Pai: “Um personagem, senhor, pode sempre me perguntar a um homem quem é ele. Porque um personagem tem, verdadeiramente, uma vida sua, assinalada por caracteres próprios, em virtude dos quais é sempre “alguém”. Enquanto um homem, não me refiro ao senhor agora, um homem, assim, em geral, pode não ser ninguém.”

• Sujeito que representa o autor: O Filho é a personagem que representa a vontade do autor, uma vez que, é aquele que nunca tece considerações, não mostra que tenha orgulho do que estão a apresentar e recusa-se a mostrar as cenas ao director (não tem vontade de levar o drama à cena tal como o autor que os criou) pois julga não deter cenas visto que, evita ao máximo falar e tenta fugir das situações que geram acontecimentos/conflitos. As falas que apresentarei abaixo justificam o que supra-citei.

P. 306

- Filho: “(...) Acredite, senhor, acredite que sou um personagem não “realizado” dramaticamente, e que estou mal, muitíssimo mal, na companhia deles! Deixem-me sossegado!”

P. 357

- Filho: “Não represento coisa nenhuma! Eu já disse desde o começo. (Ao director) Deixe-me ir!”

Pp. 360-361

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- Mãe: “Sim, senhor, no quarto dele, não podendo resistir mais. Para esvaziar-me o coração de toda a angústia que me oprimia. Mas assim que ele me viu entrar...”

- O Filho: “...nenhuma cena. Saí, saí para não fazer uma cena. Porque nunca fiz cenas, compreendeu?...”

- O Director: “Mas é preciso fazê-la agora, essa cena entre ela e ele.”

- A Mãe: “Por mim, senhor, aqui estou! Oxalá me desse o senhor o modo de poder falar-lhe um momento, de poder dizer-lhe tudo o que tenho no coração.”

- O Pai: “(aproximando-se do Filho) Você vai fazê-la, por sua mãe, por sua mãe!”

- O Filho: “Não faço nada!...”.

(...)

- Filho: “(lutando com ele e, por fim, jogando-o ao chão, perto da escadinha, com horror de todos) Mas que frenesi é esse que lhe deu? Não tem pudor de trazer, diante de todos, a sua vergonha e a nossa? Eu não me presto! Não me presto! E interpreto, assim, a vontade daquele que não quis trazer-nos para a cena!”

• Objecto: Os actores da companhia constituem o objecto uma vez que, a acção recai sobre eles, isto é, pelo facto das seis personagens pretenderem ver o seu drama representado e os actores serem aqueles que ficam incumbidos, pelo director, de interpretar o drama levando-o, assim, à cena posso referir que eles representam o bem desejado do sujeito. As falas que apresento em baixo comprovam o que fora supra-citado.

P. 316

- Director: “Nada! Por enquanto, só ouçam e olhem. Depois, cada um vai receber o seu papel escrito. Agora faremos de qualquer jeito, um ensaio. (Indicando os personagens) Eles é que vão fazer.

- Pai: “Nós? Um ensaio? Desculpe, mas o que quer dizer?”

- Director: “Um ensaio... para eles. (Aponta para os actores.)

- Pai: “Mas se nós somos os personagens...”

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- Director: “Certo, “os personagens”. Mas aqui, meu caro senhor, quem representa não são os personagens. Quem representa aqui são os actores. Os personagens ficam ali, no texto, (indica a caixa do ponto)... quando existe um texto!”

(...)

P. 332

- Director: “(...) (Voltando-se de novo para os actores) Precisamos fazê-la com naturalidade, com um pouco de leveza...”

P. 335

- Director: “Oh! Mas...” (Dirigindo-se ao actor principal, para lhe mostrar como deve olhar para a actriz principal, sob o chapéu.) Surpresa... receio e satisfação... (Depois prossegue, dirigindo-se à actriz principal) «Não é a primeira vez que vem aqui não é verdade?» (Voltando-se novamente para o actor principal, com um olhar de inteligência) Está clara a explicação? (À actriz principal) E a senhora, então: «Não, senhor». (De novo ao actor principal) Enfim... como dizer... Souplesse!”

Adjuvante: o director constitui o elemento que ajuda as seis personagens (sujeito) a levar à cena o seu drama (objecto), uma vez que, o Director é aquele que vai pegar nas cenas que as personagens lhe expuseram e, unindo-as/combinando-as e, ajustando as outras linguagens teatrais (cenário, adereços, espaço cénico), de forma a conseguir uma acção simultânea, densa, dinâmica, constrói um espectáculo. Estas combinações e ajustamentos consistem nas qualificações do “saber” e do “poder” – qualificações concernentes ao adjuvante. De seguida apresento diversas falas que comprovam o que acabei de referir.

P. 292

- Director: “Vamos ouvir! Vamos ouvir! (Desce até á plateia e fica em pé, em frente do palco para, como espectador, ver melhor a cena).

(...)

P. 296

- Actriz Principal: “ Com licença: o ensaio vai continuar?”

- Director: “ Vai, sim. Mas agora deixe ouvir.”

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(...)

P. 308

- Director: “Ótimo! Esteja certo de que tudo isso me interessa muito. Vejo que é um assunto de que se pode tirar um belo drama.”

(...)

P. 310

- Director: “O senhor me está tentando... está me tentando... Vamos ver um pouco o que é que dá... Venha comigo ao meu camarim. (Dirigindo-se aos actores) Vocês estão livres, por enquanto, mas não se afastem muito. Dentro de quinze, vinte minutos, voltem aqui. (Ao pai) Vamos ver, vamos tentar. Talvez consigamos tirar disso qualquer coisa de extraordinário....”

(...)

- Actriz Principal: “Ele está falando sério! O que pretende fazer?”

- Terceiro Actor:” Quer que nós improvisemos uma drama, assim, de uma hora para a outra?”

P. 308

- Director (para o Pai): “(...) Esteja certo de que tudo isso me interessa muito. Vejo que é um assunto de que se pode tirar um belo drama.”

P. 342

- Enteada: “Agora estamos aqui, ainda ignorados pelo público. Amanhã, o senhor dará de nós o espectáculo que melhor lhe aprouver, arranjado como bem lhe parecer. Mas não quer ver o verdadeiro drama? Quer vê-lo explodir como ele é?”

- Director: “Oh, sim, não peço outra coisa, para tirar dele, desde agora, tudo quanto for possível.

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“Seis Personagens à Procura de um Autor”Análise Dramatúrgica

P. 353

- Director: “(...) Vamos aos factos, meus senhores!”- Enteada: “Com licença, acho que, em matéria de factos, o senhor já tem suficientes, com a nossa entrada na casa dele. (Aponta o Pai.) Disse que não podia pendurar cartõezinhos nem mudar de cena a cada cinco minutos!”- Director: “Sim, é claro! É preciso combiná-los, agrupá-los numa acção simultânea e densa; e não como exige a senhorita, que quer ver primeiro seu irmãozinho que volta da escola e anda como uma sombra pela casa, esconde-se atrás das portas para meditar um plano que... (...)”

• Oponente: o Autor das seis personagens é um dos antagonistas à conquista do objecto uma vez que não levou à cena o drama destas personagens (bem pretendido do sujeito) fazendo, assim, com que tenham tido necessidade de recorrer ao director, situação que gera um acontecimento e que, posteriormente, gera um conflito – elemento essencial para o desenvolvimento da acção – ocorrido devido às opiniões divergentes entre director/ actores e personagens acerca do Teatro no seu sentido filosófico, na forma de o abordar... Porém, identifiquei outros oponentes tais como o cenário, pois o facto dos adereços a serem usados nesta representação não serem exactamente iguais aos que compõem o drama destas personagens dá-se uma insatisfação nestes que os leva a referir que não podem representar as cenas uma vez que os objectos a serem usados nada têm a ver com os que compõe os acontecimentos da sua vida conduzindo, assim, a uma impossibilidade de representar o real, o que realmente aconteceu. O espaço cénico constitui outro oponente da conquista do objecto, visto que, por diversas vezes a demonstração do drama é interrompida pois os personagens não concordam com a decisão do director de realizar toda a cena no jardim da casa do Pai; estes defendem que, as cenas que se passam na casa devem ser realizadas na casa e que, as cenas que ocorrem no jardim da casa devem ser apresentadas neste pois é assim que o drama acontece e, só respeitando estes espaços é que podem representar o que realmente acontece. Porém, tal não era possível por uma questão de dinâmica da acção, para evitar a perda de ritmo e, de gestão do espaço; é necessário agrupar os espaços “numa acção simultânea e densa”.

De seguida apresento diversas falas que comprovam todos os oponentes apresentados.

*Oponente Autor

P. 285

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- Pai (para o director): "Isso mesmo, desperdiçados! No sentido de que o autor que nos criou vivos não quis, em seguida, ou não pôde, materialmente, colocar-nos no Mundo da Arte."

P. 319

- Pai: "(...) o nosso autor, que nos viu vivos, assim, não quis depois nos compor para a cena (...)".

*Oponente Cenográfico

Pp. 313-314

- Director: "Veja se há um sofá."

- Contra-Regra: "Tem aquele verde."

- Enteada: "Não, não. Nada de verde! Era amarelo, de pelúcia, com, flores e bem grande. Muito cómodo!"

- Contra-regra: "Assim não tem."

- Director: "Não tem importância. Coloque esse verde mesmo."

- Enteada: " Não tem importância? O famoso «ganha-pão» de Madame Pace?"

- Director: "É só para ensaiar. Por favor, não se intrometa. (Ao assistente) Veja se há um armário envidraçado, de preferência comprido e baixo."

- Enteada: "E a mesinha de mogno para o envelope azul-claro..."

- Assistente (ao director): "Tem aquela pequena. Dourada."

- Pai: "O espelho grande, de moldura dourada."

- Enteada: "E um biombo, por favor: senão como eu faço?"

*Oponente espaço cénico

P. 346

- Director: “Afinal, vamos começar ou não este segundo acto?”

- Enteada: “Eu não digo mais nada! Mas não vai ser possível desenvolvê-lo todo no jardim, como o senhor quer.

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“Seis Personagens à Procura de um Autor”Análise Dramatúrgica

- Director: “Por que não vai ser possível?”

- Enteada: “Porque ele (aponta de novo o Filho) está sempre fechado no seu quarto afastado! E, além disso, é preciso desenvolver dentro de casa a parte daquele pobre rapazinho perdido, como já lhe disse.”

- Director: “Sim, mas é preciso compreender também que não podemos pendurar cartõezinhos ou fazer mudanças de cena à vista, três ou quatro vezes por acto!”

Destinador: O desejo de ver o drama em cena constitui o destinador desta obra de Pirandello. É este desejo que conduz as Seis Personagens a interromper o ensaio da Companhia e a travar diversas discussões acerca das formas de fazer Teatro e da realidade das suas vidas em relação ao palco, ou seja, é esta pretensão que leva este sujeito colectivo a mover-se, a agir.

A fala que apresento de seguida comprova o que supra-citei.

P. 281

- Porteiro: “Estão aqui umas pessoas... perguntando pelo senhor.”

- Director: ”Mas eu estou ensaiando. E você sabe que, quando ensaio, não quero que entre ninguém. (Olhando para o fundo da plateia) Quem são vocês? O que querem?”

- Pai: “Estamos aqui à procura de um autor”

- Director: “Mas aqui não há nenhum autor. Não estamos ensaiando nenhuma peça nova.”

- Enteada: “Melhor assim, então! Nós poderemos ser a sua nova peça!”

- Pai: “Sim... mas se não há nenhum autor... (Ao director) A menos que o senhor queira ser...”

P. 352

- Pai: “(...) Imagine, para um personagem, a desgraça que lhe contei, de ter nascido vivo na fantasia de um autor que depois quis lhe negar a vida, e diga-me se esse personagem, assim abandonado, vivo e sem vida, não tem razão de fazer o que estamos fazendo nós, agora aqui, diante dos senhores, depois de o ter feito, durante muito tempo, acredite, diante dele, para convencê-lo, para exortá-lo,

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aparecendo-lhe ora eu, ora ela (apontando para a Enteada), ora aquela pobre mãe...”

Destinatário: o que faz com este sujeito colectivo se mova dando origem a uma acção é o facto do autor que as criou não ter terminado a sua história deixando-as, assim, personagens incompletas, personagens vivas no entanto, sem vida. Desta forma, afiro que a acção destas personagens realiza-se em benefício da conquista/realização de uma vida que ficou a meio na imaginação de um autor.

As falas que apresento abaixo comprovam o que agora referi.

P. 352

- Pai: “(...) Imagine, para um personagem, a desgraça que lhe contei, de ter nascido vivo na fantasia de um autor que depois quis lhe negar a vida, e diga-me se esse personagem, assim abandonado, vivo e sem vida, não tem razão de fazer o que estamos fazendo nós, agora aqui, diante dos senhores, depois de o ter feito, durante muito tempo, acredite, diante dele, para convencê-lo, para exortá-lo, aparecendo-lhe ora eu, ora ela (apontando para a Enteada), ora aquela pobre mãe...”

Pp.360-361

- O Filho: “...nenhuma cena. Saí, saí para não fazer uma cena. Porque nunca fiz cenas, compreendeu?...”

- O Director: “Mas é preciso fazê-la agora, essa cena entre ela e ele.”

- A Mãe: “Por mim, senhor, aqui estou! Oxalá me desse o senhor o modo de poder falar-lhe um momento, de poder dizer-lhe tudo o que tenho no coração.”

- O Pai: “(aproximando-se do Filho) Você vai fazê-la, por sua mãe, por sua mãe!”

- O Filho: “Não faço nada!...”.

(...)

- Filho: “(lutando com ele e, por fim, jogando-o ao chão, perto da escadinha, com horror de todos) Mas que frenesi é esse que lhe deu? Não tem pudor de trazer, diante de todos, a sua vergonha e a nossa? Eu não me presto! Não me presto! E interpreto, assim, a vontade daquele que não quis trazer-nos para a cena!”.

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Bibliografia

Webgrafia

http://translate.google.com/translate?hl=pt-PT & sl=es & u=http://www.scielo.org.bo/pdf/rpc/ v13n16/v13n16a11.pdf & ei=95D- Tuy3JcHL8QOl0rWdAQ & sa=X & oi=translate & ct=result & resnum=4 & ved=0CDgQ7gEwAw & prev=/search%3Fq %3DUBERSFELD%2BMODELO%2BACTANCIAL%2BESTUDO%26hl%3Dpt-PT%26biw%3D1280%26bih%3D709%26prmd%3Dimvnsb

http://www.letras.ufmg.br/poslit/08_publicacoes_txt/ale_07/ale07_dm.pdf

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