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SELEÇÃO SEMANAL DE NOTÍCIAS CULTURAIS Edição 181 [13/03/2014 a 19/03/2014]

SELEÇÃO S NOTÍCIAS CULTURAIS - sistemas.mre.gov.br · Além de um festival de cinema, a proposta da Ecofalante é ser uma oportunidade para o debate de temas ligados ao meio ambiente

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SELEÇÃO SEMANAL DE

NOTÍCIAS CULTURAIS

Edição Nº 181 [13/03/2014 a 19/03/2014]

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Sumário

CINEMA E TV ............................................................................................................ 3 FOLHA DE S. PAULO – 'Alemão' da ficção chega ao cinema enquanto tensão cresce nas favelas .. 3 THE NEW YORK TIMES (EUA) – ‘Xingu’ Depicts How a National Park in Brazil Came to Be ............. 4 AGÊNCIA BRASIL – Mostra de cinema ambiental tem produções de 30 países ................................ 4 ESTADO DE MINAS - Trama envolvente .............................................................................................. 5 O ESTADO DE S. PAULO - Vida de Zequinha de Abreu vira filme ....................................................... 6 O ESTADO DE S. PAULO - O rito de passagem de 'Entre Nós' ........................................................... 7 VALOR ECONÔMICO - O espaço do novo cinema brasileiro ............................................................... 7 EL UNIVERSAL (VENEZUELA) - Brasileño Fernando Coimbra gana Festival de Miami ..................... 10 CORREIO BRAZILIENSE - Três filmes brasileiros concorrem no Festival de Cinema de Toulouse ... 10

TEATRO E DANÇA ................................................................................................. 11 O GLOBO – Prêmio shell em noite dividida ..................................................................................... 11 O ESTADO DE S. PAULO - Dezequilibrados, 18 anos de inovação e coerência .............................. 12 O ESTADO DE S. PAULO - MITsp é vítima do próprio sucesso ......................................................... 13 CARTA CAPITAL - Um estilo familiar ................................................................................................ 14

ARTES PLÁSTICAS ................................................................................................ 16 O GLOBO - Família judia tenta reaver pintura que faz parte do acervo do Masp ........................... 16 EL PAÍS (ESPANHA) - Un artista que lanza gritos desde las tripas ................................................... 18 O ESTADO DE S. PAULO - Instituto Figueiredo Ferraz inaugura mostras no sábado ....................... 19 CORREIO BRAZILIENSE - O artista das capas ................................................................................... 20 ISTOÉ - Elo entre três gerações ...................................................................................................... 21 ESTADO DE MINAS - Um mundo particular ....................................................................................... 22 O GLOBO - Plural e visionário .......................................................................................................... 24 O ESTADO DE S. PAULO – Torre de papel ........................................................................................ 25 PORTAL TERRA – Encontro internacional de grafiteiros leva arte e colorido a túnel no RS ........... 26 CORREIO BRAZILIENSE – As surpresas do barroco .......................................................................... 27

MÚSICA ................................................................................................................... 28 FOLHA DE S. PAULO – Desconhecida no Brasil, banda goiana faz turnê mundial ........................... 28 O ESTADO DE S. PAULO – Fundação propõe a músicos fusão de orquestras ................................ 29 FOLHA DE S. PAULO - Osesp abre temporada hoje com concerto transmitido pela web ................ 30 VEJA – Pop com pão de queijo ...................................................................................................... 31 O ESTADO DE S. PAULO - Guerra-Peixe é reavaliado no ano de seu centenario ............................ 32 O ESTADO DE S. PAULO - Em ‘Vista Pro Mar’, a insustentável leveza de Silva ............................... 33

LIVROS E LITERATURA ......................................................................................... 34 O ESTADO DE S. PAULO - O traço e as histórias brasileiras terão destaque na Feira do Livro de Bolonha .......................................................................................................................................... 34 O GLOBO – Uma crônica da favela ................................................................................................. 35 O ESTADO DE S. PAULO - Obra de Snege volta ao mercado após longo hiato ............................... 36 EL PAÍS (ESPANHA) - Nueva literatura brasileña: Joven, blanca, urbana y de clase media ............ 37 EL PAÍS (ESPANHA) - Machado de Assis nunca estuvo tan de moda .............................................. 39

GASTRONOMIA ...................................................................................................... 41 ESTADO DE MINAS - Café com terroir para os EUA ......................................................................... 41 CARTA CAPITAL Cachaça de pedigree........................................................................................... 41

POLÍTICA CULTURAL ............................................................................................ 43 ISTOÉ – Arte em alerta .................................................................................................................... 43 FOLHA.COM - Lobão e Frejat se enfrentam em debate sobre a lei dos direitos autorais ................ 44

OUTROS .................................................................................................................. 46 FOLHA DE S. PAULO - Com Alex Atala e Facundo Guerra, seminário discute políticas para a noite de SP .............................................................................................................................................. 46

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CINEMA E TV

FOLHA DE S. PAULO – 'Alemão' da ficção chega ao cinema enquanto tensão cresce nas favelas GUILHERME GENESTRETI Na última segunda, enquanto a polícia prendia suspeitos de atacarem uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) no Complexo do Alemão, um cinema da Barra da Tijuca fazia a pré-estreia de um thriller inspirado na ocupação daquelas favelas. O longa de ficção "Alemão", do diretor brasiliense José Eduardo Belmonte, lançado com uma campanha publicitária gigantesca, se passa nas 48 horas que antecederam a tomada do complexo por forças de segurança, em 2010. Intercalando imagens reais da operação, que teve até tanque de guerra, o longa adota a perspectiva de policiais, infiltrados para ajudar a implantar as UPPs no Alemão. Descobertos pelo chefe do tráfico (Cauã Reymond), eles se escondem em um porão. Com o lançamento ocorrendo na mesma semana em que a Segurança Pública do Estado cogita uma reocupação da região pelo Exército, Belmonte diz que seu filme não defende uma tese sobre os fatos. "Mais interessante, nesse tempo de incerteza, é articular as perguntas", afirma. "O filme não toma partido, mas levanta discussões sobre o tema. As pessoas encaram a UPP como o fim de uma novela, mas ela é só um começo." Segundo ele, o filme é "mais sobre a psicologia, os dramas pessoais, do que sobre a sociologia" do evento. Em uma cena, um dos confinados (Caio Blat) diz que a operação vai ajudar a comunidade. "Mas a gente não pediu nada", rebate uma moradora (Mariana Nunes). "Ele é o mais ingênuo, acredita na cartilha da polícia", diz Blat sobre o personagem que interpreta. "Acha que a ética vai nortear a invasão." MEL E PIMENTA O filme teve locações em duas comunidades (Rio das Pedras e Chapéu Mangueira) além do complexo, onde foram rodadas as cenas do QG de Playboy (Reymond). A relação com as UPPs no local foi "zero", segundo o produtor Rodrigo Teixeira. "A gente só ligava para saber se tinha tido tiroteio." Já no Rio das Pedras, área controlada pela milícia, a situação foi outra: "Ali tinha jeitinho brasileiro. Não havia uma entidade organizada, cada hora aparecia alguém se apresentando como líder". Para viver Playboy e "pegar o suingue", Cauã diz que ouviu muito "proibidão" no carro, bebeu cerveja com membros da comunidade e falou com ex-traficantes, "para saber como alguém se sente quando mata outra pessoa". Dessas conversas, tirou um de seus bordões no filme: "A gente precisa deixar de ser bandido para ser criminoso". O galã explica a diferença: "Tem traficante que não quer ser bandido, não quer matar. O criminoso é o traficante que tem a mente no 'business'".

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O grupo (além de Blat, Gabriel Braga Nunes, Marcello Melo Jr, Milhem Cortaz e Otávio Müller) passou por testes físicos, sob ordens do diretor. "Ele instaurava a sensação de violência mandando a gente comer pimenta malagueta e dizer o texto", diz Caio Blat. "Enchia as nossas roupas de mel para criar a ideia de ter de ajudar alguém sangrando." O filme dá algum retorno à comunidade? "Joga luz sobre as pessoas de lá que têm as suas versões sobre a história", diz Belmonte. "Se um blockbuster incentivar as pessoas a conhecer os documentários feitos pela própria comunidade ali, já é um retorno."

THE NEW YORK TIMES (EUA) – ‘Xingu’ Depicts How a National Park in Brazil Came to Be DANIEL M. GOLD (14/03/14) A gripping account of a collision of cultures, “Xingu” tells the inspiring true story of the three Villas Bôas brothers, who became the leading advocates for Brazil’s Amazonian Indians, an effort that culminated in the founding of a mammoth tribal preserve. Directed by Cao Hamburger, “Xingu” begins in 1943, when the brothers — Orlando (Felipe Camarago), Cláudio (João Miguel) and Leonardo (Caio Blat) — sign up for Brazil’s March to the West, an expedition to explore and open the interior for development. Smitten by the land’s raw beauty, they are also fascinated by the indigenous people there. Orlando, the eldest and a natural politician, defuses the tensions when they meet the Xavante, who have not seen white men before. When a flu epidemic kills half the tribe, the brothers vow to protect the natives from the forces of civilization that they represent. “We are the poison,” Cláudio says, “and the antidote.” The brothers eventually win the creation, in 1961, of the Xingu National Park, a preserve larger than Maryland. The film makes clear that not everyone agrees with the Xingu approach, that one answer does not fit all. But as natives maintain traditional lives there, they can integrate into the larger society, by their own choice and at their own speed. Unfortunately, the movie covers almost three decades choppily. But Mr. Camarago and Mr. Miguel convey the stubborn commitment that made the brothers so revered by the tribes. The native actors add authenticity to the production, which uses the Tupí language and films in the park. In all, “Xingu” is a fitting tribute to the Villas Bôas vision.

AGÊNCIA BRASIL – Mostra de cinema ambiental tem produções de 30 países Daniel Mello (16/03/14) Começa na quinta-feira (20) a terceira edição da Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental. Durante os sete dias de festival serão exibidos mais de 60 filmes - longa, média e curta-metragens de 30 países. As películas estão agrupadas em cinco eixos temáticos: cidades, campo, economia, energia e povos e lugares. A mostra está dividida em sete pontos de exibição na capital paulista. O evento é uma iniciativa da organização não governamental (ONG) Ecofalante, um coletivo formado em 2003 por educadores, comunicadores e cineastas. Neste ano, serão premiados dois filmes latino-americanos, um escolhido pelo público e outro pelo juri. Estão programados debates com diretores e com o homenageado da edição, o jornalista Washington Novaes. Além de um festival de cinema, a proposta da Ecofalante é ser uma oportunidade para o debate de temas ligados ao meio ambiente. “Ela nasceu com a ideia de ser uma plataforma de informação e conhecimento que, por meio do audiovisual, pudesse discutir temas absolutamente relevantes para a nossa vida. Temas ligados a sustentabilidade, meio ambiente, cidadania, conservação e políticas públicas”, ressalta o diretor da mostra, Chico Guariba.

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O festival apresenta obras que dificilmente seriam exibidas nas salas comerciais. “A gente achava importante que aqui, em São Paulo, um dos centros de decisão econômica do país, tivesse uma mostra que trouxesse esses filmes que não chegavam no Brasil”, destacou Guariba. Os filmes são selecionados a partir de festivais de cinema em todo o mundo. Ele disse que, a princípio, a Ecofalante era voltada para a produção documental. No entanto, a ficção tem se aproximado cada vez mais dos temas ambientais. “A pauta do cinema, de maneira geral, caminha também na ficção muito fortemente para discutir questões prementes da relação entre homem e a natureza”, explica o diretor. O longa-metragem japonês Terra da Esperança, por exemplo, fala sobre uma família que vive em uma região atingida por um acidente nuclear. Como apenas a metade das terras desses camponeses está dentro do raio de evacuação obrigatória, eles têm que decidir entre acompanhar os vizinhos, ir para um abrigo ou permanecer em casa. A energia nuclear também é tema de alguns documentários que fazem parte da mostra. Três deles tratam direta ou indiretamente do acidente ocorrido na Usina Nuclear de Fukushima, no Japão. “São filmes importantes que atualizam as informações sobre um desastre que não tem proporções, que a gente conhece muito pouco do que está acontecendo”, pontua Guariba.

ESTADO DE MINAS - Trama envolvente Hoje eu quero voltar sozinho conquista o público em Cartagena. Filme chega ao Brasil em abril

Daniel Ribeiro celebra o carinho do público na Colômbia com o seu longa Hoje eu quero voltar sozinho

Carolina Braga

(17/03/2014) Cartagena de Índias (Colômbia) – Ainda faltavam alguns minutos para o fim da primeira sessão de Hoje eu quero voltar sozinho no Festival Internacional de Cinema de Cartagena quando a plateia veio abaixo. Aplausos, assobios, gritos, torcida até que os créditos, enfim, subiram. Assim como ocorreu em Berlim em fevereiro, o filme do brasileiro Daniel Ribeiro surpreendeu o público caribenho, que

não chegou a lotar os 700 lugares do Teatro Adolfo Mejia.

O longa concorrente ao prêmio principal na categoria de ficção estará em cartaz até terça-feira. Em 10 de abril, será a vez de os brasileiros conhecerem a história. A estreia latino-americana não deixa dúvidas: a descoberta do amor por Leo (Ghuilherme Lobo), adolescente cego, envolve o espectador de tal maneira que a reação parece desproporcionada.

“Teve hora que todo mundo foi à loucura mesmo. O filme fala com as pessoas. Elas embarcam”, resume Daniel. Com a estreia no Brasil marcada para pelo menos 19 cidades, entre elas BH, a expectativa não é diferente. O cineasta paulistano trabalha temas como adolescência, deficiência e despertar de sexualidade com a devida delicadeza, sem lugares-comuns e contando com elenco de jovens talentos como Ghuilherme Lobo, Fabio Audi e Tess Coelho.

REPERCUSSÃO “É uma trama muito próxima da gente e humana. Nos identiticamos com os personagens porque todos vivemos a adolescência”, comenta o colombiano Germán Franco à saída da sala. “É uma história de amor simples entre garotos que descobrem a sexualidade, muito bem construída”, acrescenta o conterrâneo César Alzate. Em férias na cidade, o professor da Universidade da Bahia Emmanuel Novaes ficou contente com a forma como a trama é contada. “Discuto essa questão com meus alunos. Vejo que adolescentes são cada vez menos preconceituosos. Os mais velhos não. O filme mostra a possibilidade de amar independentemente de qualquer coisa”, diz.

Rodado com R$ 2,5 milhões, Hoje eu quero voltar sozinho é o desenvolvimento para longa do curta Eu não quero voltar sozinho, da mesma equipe. Lançado em 2010, o curta circulou por vários festivais, entre eles o de Cartagena, e hoje contabiliza mais de 3 milhões de visualizações no

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YouTube. Assim como no curta, a trama do longa gira em torno da descoberta do amor entre Leo e o colega de classe, Gabriel. Para Daniel, o longa é uma forma de quebrar tabus sociais. Foi assim em Berlim, em Cartagena e daí por diante nas 16 nações em que a distribuição está garantida. “Tudo foi construído com objetivo de gerar debate, fazer as pessoas discutirem e pensarem no assunto”, explica.

O ESTADO DE S. PAULO - Vida de Zequinha de Abreu vira filme Dirigido pelo ator Carlo Mossy, documentário mistura cenas de ficção com depoimentos de familiares e especialistas Rene Moreira (17/03/14) A vida do autor da música Tico-Tico no Fubá é tema de um documentário que está sendo rodado em Santa Rita do Passa Quatro, cidade paulista onde nasceu o compositor Zequinha de Abreu (1880-1935). Sua canção, apresentada pela primeira vez em 1917, com outro título (Tico Tico no Farelo), num baile da cidade, foi rebatizada em 1931 com o nome atual e e ganhou destaque na voz de Carmem Miranda. Mas a vida de Zequinha não se resume a esta música, apesar da história interessante que marca sua origem, tema igualmente explorado pelo filme.

Cena da produção

Dirigido por Carlos Mossy, o filme deve ser lançado em setembro, mês em que Zequinha estaria completando 134 anos. Tico-Tico no Fubá é considerada uma das canções brasileiras mais conhecidas e reproduzidas em todo o mundo, tendo sido, inclusiove, gravada pela orquestra de Ray Conniff. O filme alterna reconstituição da época – em que atores fazem os personagens principais–, com depoimentos de parentes e outras especialistas na vida e obra do artista. Além do distrito de Santa Cruz da Estrela, no município de Santa Rita do Passa Quatro, o filme também será rodado no Rio. Quem faz o papel do músico é o ator Leonardo Arena.

Ele vai reviver cenas como a criação de Tico-Tico no Fubá, que surgiu no momento em que Zequinha vigiava os passarinhos para que não comessem o fubá feito por sua mulher. "Vamos exibi-lo em primeira mão no Festival Zequinha de Abreu, que será realizado em Santa Rita do Passa Quatro", conta o diretor Carlos Mossy, nascido em Tel-Aviv, em 1946. Segundo ele, o custo total do longa ainda está sendo levantado, mas os recursos são todos particulares. Ele diz ser muito complicado conseguir verba de leis de incentivo governamentais. "Isso é só para meia dúzia de produtoras, são sempre os mesmos", critica o também ator, roteirista e produtor. Chanchada. A mulher de Zequinha, Durvalina, é interpretada pela atriz ítalo-brasileira Rossana Ghessa. Com 60 filmes na carreira, alguns com bons diretores – Palácio dos Anjos (1970), de Walter Hugo Khouri, entre eles – ela comemora o papel importante na história, uma vez que está sempre ao lado do protagonista em quase todas as cenas. A veterana atriz, que completou 71 anos, lamenta ter feito apenas dois filmes nos últimos 10 anos, contando com este. E ainda assim o anterior nem foi distribuído, ao contrário da história de Zequinha, que deve ir para a telona. Ela culpa a atual situação do cinema por essa falta de oportunidade. Muito atuante nos anos 1970, principalmente nas pornochanchadas, ela acredita que essa política de captação de recursos prejudicou a indústria cinematográfica brasileira. "Agora, não fazem nem 80 filmes por ano e comemoram. Na nossa época eram 180 e tudo na base da bilheteria". Para ela, o cenário atual hoje é de muita politicagem e pouca produção. Mesmo longe da telona, Rossana Ghessa não sumiu de cena e recentemente participou da montagem Mulheres, no Rio de Janeiro, baseada no obra de Nelson Rodrigues. Nascida na Itália e morando no Brasil desde os sete anos, ela também criticou a concorrência dos atores que, em razão

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da fama nas novelas da TV, acabam muitas vezes preferidos para atuar no cinema e no teatro. "Eles vivem de uma mídia passageira, pois depois as pessoas vão se lembrar apenas dos personagens que interpretaram".

O ESTADO DE S. PAULO - O rito de passagem de 'Entre Nós' Diretores e elenco se falam do longa que estreia no dia 27 Flavia Guerra

Cena com Caio Blat e Carolina Dieckmann

(17/03/14) "Muito pela minha profissão, que me leva a tantos lugares, acabo perdendo contato com muitas pessoas. Não vejo muitos dos meus amigos de adolescência, de quando era mais jovem. Mas eles são parte de quem eu sou. Foram decisivos para minha formação. No filme, os amigos passam juntos um final de semana marcou muito o caráter deles. A gente pode tomar caminhos diferentes, mas as pessoas estão dentro uma das outras. Amizade é um pouco isso", disse hoje o ator Caio Blat quando questionado se os sete amigos de Entre Nós eram amigos de verdade, uma vez que dez anos depois do trágico último dia em que se viram em uma casa de campo.

O novo filme de Paulo Morelli ( de Cidade dos Homens) e de Pedro Morelli (filho de Paulo, que pela primeira vez divide uma direção com o pai) reúne elenco bem afiado para contar esta história dos amigos que preparam cada um o seu livro, têm sonho de se tornarem autores famosos e decidem escreve cada um uma carta para si mesmos. Estas cartas devem ser desenterradas e lidas dez anos mais tarde. Um trágico acidente acontece neste dia e a turma só volta a se rever dez anos depois, quando devem abrir as cartas. Estrelado por Caio Blat, Carolina Dieckmann, Maria Ribeiro, Martha Nowil, Júlio Andrade, Lee Taylor e Paulo Vilhena, o longa traça em roteiro bem amarrado os dramas, sonhos e desilusões destes jovens que amadureceram em meio a traumas e frustrações. Felipe (vivido por Caio Blat) carrega uma história soturna por ter testemunhado a tragédia que matou um dos amigos e também por esconder um segredo que, se revelado, mudará a história da turma. Lúcia (Carolina Dieckmann) é casada com Felipe e acaba vivendo o drama de compactuar com este segredo. "Eu talvez agiria diferente. mas sou mais impulsiva. A Lucia faz o que tem força para fazer" diz Carolina sobre a personagem. Com 120 cópias, Entre Nós estreia em 27 de março em várias regiões do País.

VALOR ECONÔMICO - O espaço do novo cinema brasileiro Por Ana Paula Sousa | Para o Valor, de São Paulo

Vitrine Filmes, fundada em 2010 por Silvia Cruz, alcançou novo patamar após a repercussão de "O Som ao Redor" (17/03/14) No Facebook, Kleber Mendonça Filho, diretor de "O Som ao Redor", fez troça: "Majors de Hollywood protestam contra domínio da Vitrine Filmes no Cinema da Fundação". A piada, indecifrável para quem não habita o mundo cinematográfico, é boa. A Vitrine, pequena distribuidora de São Paulo, emplacou os dois principais lançamentos de fevereiro e março na prestigiada sala da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife: "Quando Eu Era

Vivo", terror com Antonio Fagundes e Sandy Leah, e "Eles Voltam", elogiada estreia de Marcelo Lordello na ficção.

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Claro que a Vitrine não incomoda "majors" como Warner e Fox. No entanto, tem chamado a atenção. Criada em 2010, a empresa já colocou nos cinemas 36 longas. Muitos, como "O Som ao Redor", tinham sido recusados por outras empresas antes de seus produtores procurarem a Vitrine. "Não me conformava com o fato de que alguns filmes, mesmo superpremiados em festivais, não conseguiam chegar às telas", diz a jovem empreendedora Silvia Cruz. A distribuição é o elo que liga a produção à exibição. Trocando em miúdos: depois de o filme estar pronto, é preciso que uma empresa adquira os direitos de distribuí-lo e trabalhe para que chegue às telas. A Vitrine nasceu para distribuir, especialmente, os filmes nacionais que empresas dedicadas ao cinema comercial não queriam. Silvia, fundadora da Vitrine, é uma paulistana de 31 anos, nascida no bairro de Interlagos, que se viciou em cinema na infância. A paixão por filmes é um legado do pai. Já o tino para o empreendedorismo ela não tem ideia de onde vem. "Sei que, quando era criança, o que eu mais gostava de fazer era ver filmes e brincar de ter empresinha", diz. São esses dois mundos, o do cinema e o dos negócios, que estão abrigados na sede da Vitrine, num sobrado no bairro de Pinheiros. Na parede do quintal está o "banner" de "O Som ao Redor". O destaque é justificável: foi com esse filme que ela começou a conquistar seu lugar ao sol nesse setor tão complexo quanto imprevisível. "Trabalhando nesse mercado, fui percebendo que as distribuidoras ainda não tinham entendido como lançar determinados filmes", diz. "Lançar filme brasileiro e filme estrangeiro são coisas completamente diferentes. Um diretor estrangeiro não vai te ligar pra dizer que passou no Espaço Itaú e não viu o 'flyer'. Distribuir um filme brasileiro é, em grande medida, lidar com a expectativa de um diretor que passou muito tempo fazendo aquilo. E a primeira coisa que você precisa entender é o tamanho de cada título." Um filme estrangeiro, antes de chegar ao Brasil, passa pelo público e pela crítica de outros países. Um filme nacional, por mais testes de audiência e pesquisas que se faça, será sempre um mistério maior. Foi, portanto, fazendo zigue-zagues e correndo riscos que Silvia lançou filmes como "O Som ao Redor", escolhido para representar o Brasil na corrida pelo Oscar; "Girimunho", que correu mais de 20 festivais internacionais, e "Abismo Prateado", exibido em Cannes. Questionada sobre o que a fez apostar num segmento que muitos viam como sendo fadado ao fracasso, Silvia encolhe os ombros, faz um gesto vago e diz: "Acho que não pensei muito, sabe?". Apesar da formação em administração de empresas, ela conta que a Vitrine, ao nascer, não tinha sequer um "business plan". "Se tivesse feito isso, que é o que se deve fazer, talvez não estivesse aqui", diz, admitindo que, no fundo, deixou-se levar pela intuição e pela paixão. Quem lhe transmitiu essa paixão foi o pai, cinéfilo daqueles de fazer lista e dar estrelinhas para os filmes. Dono de uma coleção de fitas VHS que ocupava um quarto inteiro da casa, ele costumava levá-la a cineclubes e mostras de cineastas como François Truffaut, Eric Rohmer e Pier Paolo Pasolini. "Peguei o gosto e até pensava que adoraria trabalhar com cinema. Mas, se eu não queria ser diretora ou roteirista, ia ser o quê? Bilheteira?", diz. "Quando você não entende da indústria, você não tem ideia de que existe distribuidor, exibidor." Chegada a hora do curso superior, Silvia, sem crise alguma, escolheu administração de empresas com ênfase em marketing na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Depois de um estágio na Telefônica, virou "trainee" da área de cartão de crédito no BankBoston e atravessou o curso convencida de que tinha escolhido a faculdade certa. O alerta de que seu caminho talvez não fosse tão reto como prenunciavam os estágios veio com o trabalho de conclusão de curso. Enquanto seus colegas preparavam o "business plan" para negócios como spa, "pet shop" ou pizzaria, Silvia decidiu fazer o projeto de abertura de um complexo cinematográfico para a classe C na Barra Funda. Os professores torceram o nariz e disseram que ela teria de se virar para encontrar alguém no próprio setor disposto a ajudá-la. Silvia mandou e-mails para meio mundo. Ninguém respondia, até que seu professor encontrou um ex-colega da Fundação Getulio Vargas que se preparava para abrir um cinema. Era André Sturm, diretor do Museu da Imagem e do Som (MIS), que, à época, tocava uma distribuidora de filmes de arte, a Pandora, e se preparava para assumir o Cine Belas Artes. Dessa vez, Silvia não só recebeu

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uma resposta ao e-mail como foi convidada para uma conversa. "Entrei na Pandora e fiquei enlouquecida ao ver os pôsteres de cinema na entrada. Aí, na sala do André, vi um pôster de 'Bonequinha de Luxo' [filme de 1961 com Audrey Hepburn]. É essa a imagem do logo da minha empresa", diz. Após o trabalho de conclusão de curso, Silvia decidiu que era hora de largar o BankBoston e arriscar. "Como não precisava mais pagar a faculdade, pensei: 'Tudo bem. Posso virar bilheteira'", ri. E lá foi ela de novo procurar Sturm. Não virou bilheteira, mas sim a faz-tudo da Pandora e do então reinaugurado Belas Artes. Após três anos de Pandora, ela foi trabalhar com Sturm na Secretaria de Estado da Cultura, no programa Vá ao Cinema, que levava filmes para o interior do Estado. Sua próxima parada seria outra distribuidora, a Europa Filmes, onde ajudou a lançar "O Signo da Cidade" (2007), de Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli; "Feliz Natal" (2008), de Selton Mello; e "A Festa da Menina Morta" (2008), de Matheus Nachtergaele. Apesar de, nesse momento, já estar dentro dela a semente do empreendedorismo, Silvia ainda teve outro emprego, na produtora Coração da Selva, onde ajudou a lançar "Quanto Dura o Amor?", de Roberto Moreira. Ali, entendeu como se produz cinema e ganhou uma inspiração: Geórgia da Costa Araújo, sócia da empresa. "Toda vez que tenho dúvidas sobre como lidar com os funcionários, penso nela", diz. No momento em que decidiu abrir seu negócio, Silvia possuía um computador, uma impressora, um telefone, um CNPJ e uma sala partilhada com amigos. "Eu tinha o quê? Os contatos", diz. O primeiro filme que distribuiu foi "Terras", de Maya Da-rin. "Sabia que não ia ganhar dinheiro, mas meu objetivo era, apenas, não perder", diz. Vieram, em seguida, "Morro do Céu", de Gustavo Spolidoro, e "A Fuga da Mulher Gorila", de Felipe Bragança e Marina Meliande. Silvia aproximava-se da novíssima geração de diretores dedicados a um cinema autoral, que, apesar de presente em festivais, tinha dificuldades para estabelecer uma interlocução com as distribuidoras. "Eles precisavam de alguém que tentasse colocar os filmes deles nos cinemas e eu precisava de filmes para começar um negócio", afirma. Os filmes foram pingando em sua mesa, uns trazendo os outros. Em seis meses, Silvia tinha uma cartela respeitável. Com dez títulos em mãos, negociou um pacote com o Canal Brasil e usou o dinheiro da venda para a TV para lançá-los no cinema, sob o nome Sessão Vitrine. "Tentei mudar o jeito de distribuir, diminuindo os orçamentos e fazendo uma parceria com um canal de TV", diz. "Se você contar só com a bilheteria, a conta não fecha. Então o distribuidor pensava: 'Não vou gastar dinheiro para distribuir esse filme'. Tá. Mas e se o dinheiro não vier do distribuidor, mas sim de um canal de TV? É importante pensar também que esses filmes têm outras fontes de renda, como o 'fee' pago por alguns festivais e a venda para iTunes. O essencial é fazer com que o filme tenha uma vida longa." Nenhum título exemplifica melhor essa tese que "O Som ao Redor", tornado um "case" de distribuição independente. Quando ligou para Silvia, o diretor Kleber Mendonça Filho já tinha recebido "não" de duas distribuidoras. "Eu ainda nem tinha visto o filme, mas topei na hora. A partir daí, foi um trabalho de guerrilha. Eu e o Kleber nos falávamos o tempo todo, pensávamos em cada detalhe e fazíamos de tudo para bombar o filme nas redes sociais", conta. "O Som ao Redor" fez quase 100 mil espectadores nos cinemas, ficou no top 5 do iTunes e seu DVD vendeu mais de 2,5 mil cópias. Silvia acaba de ter dois projetos ("Bacurau", o próximo filme de Mendonça Filho, e "Vermelho Russo", de Charly Braun) aprovados na linha de aquisição de direitos do Fundo Setorial do Audiovisual - mantido pelo governo - e de fechar uma parceria com a Esfera Filmes, do Rio, para distribuir 20 títulos estrangeiros. É também da Vitrine "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho", premiado no mês passado no Festival de Berlim e com lançamento agendado para abril. Além disso, produtores de filmes com maior potencial de público passaram a procurá-la. "Mudou tudo", diz. Mas será que o sucesso não desviará a empresa do propósito inicial, fazendo com que os filmes menores - aqueles que ninguém queria e a Vitrine aceitou - passem a ser recusados? "Isso já está acontecendo, e me sinto mal", admite Silvia. "O paradoxo é que se eu continuasse distribuindo só

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filmes pequenos, a Vitrine não viraria um negócio rentável. Não vou deixar de trabalhar com os filmes menores, mas quero que uma coisa compense a outra", diz. E, afinal de contas, distribuir filmes brasileiros é um bom negócio? Ao ouvir a pergunta, Silvia solta uma gargalhada, respira fundo e arremata: "Estou aqui, não estou? É um negócio complicado, cheio de sutilezas e surpresas, mas que me parece promissor. Se não fosse, acho que não estaríamos aqui conversando, né?".

EL UNIVERSAL (VENEZUELA) - Brasileño Fernando Coimbra gana Festival de Miami La película "O lobo atrás da porta" ganó Premio del Jurado y Mejor director (17/03/14) Miami.- La película brasileña O lobo atrás da porta (2013), del director Fernando Coimbra, se llevó el Gran Premio del Jurado en el Festival de Cine de Miami, evento que tras nueve días de proyecciones ayer celebró su última jornada. En una ceremonia que concluyó la madrugada de ayer, el jurado dio a conocer la lista de ganadores de la 31 edición de esta cita cinematográfica, en la que también se premió a la actriz catalana Nora Navas, por su trabajo en la película española Tots volem el millor per a ella (2013), mientras que el brasileño Fernando Coimbra se alzó con el premio a Mejor director. Un niño es secuestrado. En la comisaría, Sylvia y Bernardo, los padres, y Rosa, principal sospechosa y amante de Bernardo, dan testimonios contradictorios que conducen a los más sombríos rincones del deseo, la mentira y la perversidad en las relaciones de esos tres personajes. Tal es la sinopsis de O lobo. El jurado, que en el apartado ficción evaluó un total de diez largometrajes de Latinoamérica, España y Portugal, también reconoció a la coproducción colombiana-francesa Mateo, dirigida por Maria Gamboa, con el galardón a Mejor Guión, cinta que además se llevó el premio a Mejor Ópera Prima. En la categoría documentales, fueron dos películas estadounidenses las que compartieron el primer premio: Finding Vivian Maier, dirigida por Charlie Siskel y John Maloof, y The Overnighters, de Jesse Moss. En la ceremonia de premiación, y con esta cita al borde de su término, el director del festival, Jaie Laplante, indicó que la edición de este año "ha inspirado y embelesado", por el glamour con el sello de Holywood que llevaron las estrellas Christopher Plummer y Shirley MacLaine a la noche de apertura, así como por las "soberbias películas" exhibidas. Este año, durante nueve días se mostraron un total de 97 filmes y 44 cortos de ficción procedentes de 39 países, entre ellos 23 estrenos mundiales y 9 en Estados Unidos. La programación, proyectada en seis salas de Miami Beach, incluyó más de veinte películas iberoamericanas.

CORREIO BRAZILIENSE - Três filmes brasileiros concorrem no Festival de Cinema de Toulouse (18/03/14) As produções nacionais são: "Casa Grande", de Felipe Barbosa, "O Homem das Multidões", de Marcelo Gomes e Cao Guimarães, assim como por "O lobo atrás da porta", de Fernando Coimbra Paris - Três filmes do Brasil serão exibidos no Festival de Cinema Latino-Americano de Toulouse, sudoeste da França, que começa na quinta-feira e este ano homenageia as mulheres. Mais de 100 filmes serão exibidos no evento, que completa 26 anos, incluindo 14 longas-metragens na mostra competitiva, sendo três produções brasileiras.

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O cinema do Brasil será representado em Toulouse por "Casa Grande", de Felipe Barbosa, "O Homem das Multidões", de Marcelo Gomes e Cao Guimarães, assim como por "O lobo atrás da porta", de Fernando Coimbra. A edição de 2014 foi pensada como uma homenagem às mulheres, com diretoras e produtoras de destaque na indústria cinematográfica da região. "Na nova geração de cineastas latino-americanos, vemos há 15 anos uma chegada importante de diretoras, produtoras e roteiristas", destacou Francis Saint-Didier, presidente da associação que organiza o festival. Entre as cineastas presentes nas diversas mostras em Toulouse estão as argentinas Lita Stantic e Celina Murga, assim como a venezuelana Mariana Rondón e a chilena Marcela Said.

TEATRO E DANÇA

O GLOBO – Prêmio shell em noite dividida Cada uma das nove categorias consagrou um concorrente diferente em cerimônia ocorrida anteontem Fabiano Ristow Em uma noite de resultados divididos, cada uma das nove categorias do Prêmio Shell 2013 consagrou um nome diferente. Líderes em indicações (eram três para cada), "Elis, a musical" e "Conselho de classe" levaram para casa um troféu cada. A baiana Laila Garin foi considerada a melhor atriz por interpretar a cantora que dá título à peça, enquanto o retrato cênico escrito por Jô Bilac sobre os dilemas da educação pública deu a Aurora dos Campos o prêmio de melhor cenário. - Preciso respirar - disse Garin ao subir ao palco do Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico, onde aconteceu a cerimônia, na noite de anteontem. - Estou muito feliz por estar aqui entre artistas que sempre admirei. Quero agradecer especialmente ao Dennis ( Carvalho, diretor ) por inventar essa maluquice de me escolher para ser Elis. Esse prêmio me faz me sentir acolhida nesse Rio de Janeiro. E queria dividi-lo, o dinheiro não sei, digo simbolicamente, queria dividi-lo com meus colegas de trabalho - afirmou, arrancando risos da plateia. Duplamente indicada, Julia Spadaccini ofereceu o discurso mais emocionado ao receber a concha dourada de melhor autora por "A porta da frente" - ela também concorria pelo texto de "Aos domingos". Às lágrimas, dedicou a vitória aos parceiros de profissão. - Quero dividir o prêmio com as equipes das duas peças. É muito bom escrever, mas é melhor ainda trabalhar com pessoas tão queridas. Enrique Diaz teve no palco a companhia das duas filhas, Elena e Antonia, ao vencer o prêmio de melhor ator, por "Cine monstro". Elas manuseavam o troféu com curiosidade enquanto o pai discursava ("Estava louco para ganhar esse prêmio", admitiu). Ele bem que tentou segurá-lo ("Me deem isso aqui!"), mas não teve sucesso. Já o prêmio de direção foi entregue a Aderbal Freire-Filho, por "Incêndios". - Queria dividir o prêmio, primeiro, comigo. E também com Marieta ( Severo, sua namorada e protagonista do espetáculo ) - brincou, referindo-se em seguida à sua luta para recuperar a Sociedade Brasileira de Autores (Sbat), mobilização que lhe rendeu ainda uma indicação na categoria de inovação. - A Sbat precisa de todos nós. Os vencedores da 26ª edição do Shell receberão R$ 8 mil cada. A premiação, apresentada pela atriz Renata Sorrah, teve como jurados Ana Achcar, Bia Junqueira, João Madeira, Macksen Luiz (crítico teatral do GLOBO) e Sérgio Fonta.

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Enquanto grande parte dos convidados foi à cerimônia usando roupas de gala, ao menos dez membros do Reage, Artista decidiram marcar presença ostentando brilhantes vestidos prateados (para "carnavalizar a política", segundo uma das integrantes). O movimento estava indicado na categoria inovação, por "ampliar a participação dos artistas cariocas no planejamento cultural da cidade do Rio". "Reflexão sobre uma lei" O prêmio acabou indo para Marcus Faustini, colunista do GLOBO, "pelo conceito e proposta do Festival Home Theatre", mas isso não impediu que o grupo desse a sua palavra. Eles distribuíram, na entrada do Espaço Tom Jobim, textos com história, ações e propostas do movimento, que surgiu após o fechamento de teatros públicos da cidade, no ano passado, por irregularidades em seus alvarás de funcionamento. O manifesto também fazia um questionamento sobre a premiação: "O que leva a empresa ( Shell ) a optar por premiar artistas do eixo Rio/SP, e não lançar editais de fomento nem incentivar projetos de cultura?". Pouco antes do início da cerimônia, o grupo foi aplaudido ao subir ao palco e estender uma faixa amarela em que se lia: "Lei da cultura Rio já". - O que propomos é que haja uma reflexão sobre uma lei para a cultura. A cidade tem projetos de fomento, mas, se houver mudanças na secretaria ou na prefeitura, elas podem acabar - afirmou a atriz e produtora Isabel Gomide.

O ESTADO DE S. PAULO - Dezequilibrados, 18 anos de inovação e coerência Daniel Schenker

Cena da peça 'Jardins Portáteis', performance de Cristina Flores

(14/03/14) O título da peça de Domingos Oliveira, Amores, resume com precisão a jornada do grupo Os Dezequilibrados, dirigido por Ivan Sugahara, que agora completa 18 anos. “O fato de estarmos juntos há tanto tempo é a prova de que existe muito afeto entre nós. E essa conexão diz bastante sobre Domingos, que costuma trabalhar com os amigos”, afirma Sugahara. Para comemorar a data, o grupo estreia amanhã, uma nova montagem de Amores, com atores da companhia (Ângela Câmara, José Karini e Saulo Rodrigues) e de fora (Ana Abott, Lívia Paiva e Lucas Gouvêa) e, nos meses seguintes, mais dois projetos: Fala

Comigo Como a Chuva e me Deixa Ouvir, encenação da peça curta de Tennessee Williams, com Ângela e Saulo, a partir de junho; e Jardins Portáteis, performance de Cristina Flores, marcada para julho e agosto. Amores e Jardins serão mostrados na Sede das Cias., casa localizada na famosa escadaria Selarón, na Lapa carioca, antes residência da Cia. dos Atores e agora também de outros dois coletivos – Os Dezequilibrados e Pangeia, este último conduzido por Diego de Angeli. Fala Comigo estará na Casa da Glória e terá estrutura itinerante. A companhia já anuncia um projeto para 2015, com o título provisório de História de Amor. O tema é o amor, abordado pelos Dezequilibrados em diversos espetáculos, como Memória Afetiva de Um Amor Esquecido, criação coletiva com texto de Rosyane Trotta, Quero ser Romeu e Julieta, de Cristina Flores e Ivan Sugahara, Últimos Remorsos Antes do Esquecimento, de Jean-Luc Lagarce, e A Serpente, de Nelson Rodrigues. Os Dezequilibrados têm patrocínio da Petrobrás – destinado à sede, aos dois espetáculos (Últimos Remorsos e A Serpente) reunidos, em repertório, ano passado, e às novas encenações (Jardins Portáteis e História de Amor). Amores e Fala Comigo receberam verba do Fundo de Apoio ao Teatro (Fate). O nome Os Dezequilibrados surgiu há 18 anos no cenário carioca. Mas a formação original do grupo se deu em 1998. O primeiro espetáculo nasceu no ano seguinte, Um Quarto de Crime e Castigo, recorte da obra monumental de Dostoievski apresentado num quarto de apartamento na Urca.

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Despontava naquele momento uma importante característica da trupe: o aproveitamento de espaços não convencionais, como boate (em Bonitinha, mas Ordinária, de Nelson Rodrigues), foyer de cinema (em Vida, o Filme, de Daniela Pereira de Carvalho e Ivan Sugahara) e dependências de prédio cultural (em Memória Afetiva...). Olhando em retrospectiva, os trabalhos evidenciam ainda uma alternância entre dramaturgia fechada e produzida pela companhia, que contava com uma autora, Daniela Pereira de Carvalho. No decorrer do tempo, Ivan Sugahara se aproximou de outros grupos. Assinou, com Enrique Diaz, então diretor da Cia. dos Atores, a montagem de Notícias Cariocas. E influenciou no surgimento da Pangeia. Não por acaso, os coletivos se uniram no projeto da Sede das Cias. “Bel Garcia, da Cia. dos Atores, propôs que nos juntássemos a eles e sugeri que incluíssemos a Pangeia”, explica Sugahara, informando que a gestão do espaço está a cargo de Os Dezequilibrados e da produtora Nevaxca, de Tarik Puggina. Afinados com a atualidade, os novos projetos do grupo de Sugahara apontam, porém, para diferentes caminhos – há uma montagem de texto fechado (Amores), um happening (Jardins Portáteis) e uma criação coletiva (História de Amor). Amores foi encenado por Domingos Oliveira, que transportou o material para o cinema. O autor coloca o público diante de uma ciranda afetiva. Vieira é um escritor de TV prestes a perder o emprego, enquanto tenta controlar a liberdade da filha, Cíntia. Telma é casada com Pedro. Eles decidem ter filhos e, como não estão conseguindo, o relacionamento entra em crise. Luiza é uma atriz fracassada que ganha a vida contando piadas em bares. Ela se apaixona pelo pintor Rafael, mas descobre que ele é soropositivo. “Na peça aparece o fantasma da aids. É um elemento mais da época em que a ação se passa, 1995, do que de hoje. Contudo, permanece como uma questão do nosso tempo”, destaca Ivan. Os atores chamam atenção para o elo que possuem com o universo do texto. “Nós atravessamos coisas sérias, em âmbito pessoal e profissional. Percebemos que o amor se transforma. Tanto que continuamos unidos”, frisa Ângela Câmara. Jardins Portáteis, empreitada de Cristina Flores, surgiu inesperadamente. “Comecei a estudar jardinagem, mas acabou virando projeto de teatro”, comenta Flores, que organizou os primeiros encontros no terraço da Sede das Cias. “Nas duas ‘apresentações’, pedi que as pessoas levassem legumes e frutas. Preparamos uma salada de frutas. Convido profissionais ligados à música porque busco evocar a atmosfera de sarau”, relata Cristina, referindo-se a João Marcelo Iglesias, da Pangeia, e Eduardo Pires. História de Amor focará na evolução do sentimento ao longo do tempo. “Criaremos uma dramaturgia própria. Tudo será entendido por meio das sonoridades, intenções e trabalhos corporais”, revela Sugahara. Karini, Câmara, ambos da cia., e Claudia Mele estão confirmados no elenco. Apesar da fase efervescente, sobreviver de teatro não é fácil no Rio. “Por mais que as chances de captação tenham aumentado, o incentivo existe para projeto, mas não para continuidade. Acho que o Rio se tornou um cemitério de espetáculos que não conseguem seguir adiante”, constata Saulo Rodrigues. O sonho de se manter com a companhia não se concretizou. “Nosso sustento depende de outras atividades”, diz Karini. Entretanto, esta impossibilidade tem seu lado positivo. “Começamos quando tínhamos pouco mais de 20 anos. Nós nos consolidamos dentro do grupo. Hoje, vivemos um casamento aberto. As pessoas têm liberdade para atuarem fora da companhia e isto traz renovação para as relações”, observa Letícia Isnard, atriz de Os Dezequilibrados.

O ESTADO DE S. PAULO - MITsp é vítima do próprio sucesso Principal problema da mostra, que pode ser aprimorada para a próxima edição, foi ter atraído imenso público Maria Eugênia de Menezes

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(19/03/14) O maior problema da MITsp foi o seu sucesso. Em sua primeira edição, a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo surpreendeu a cidade e os organizadores com o imenso afluxo de público. Nos nove dias de programação, cerca de 14 mil pessoas acompanharam os espetáculos e as atividades paralelas. Mas um número muito maior do que esse acorreu às filas e ficou de fora. A espera por um espetáculo chegou a dez horas. E muitos não desistiam mesmo quando a chance de conseguir um lugar parecia ser mínima. As plateias lotadas tinham um motivo: a consistência da programação, que teve coordenação artística de Antonio Araujo, diretor do Teatro da Vertigem, e direção de produção de Guilherme Marques. Concretizou-se a pretendida filiação com os antigos festivais de Ruth Escobar: assim como aconteceu nos anos 1970, novos espectadores (além de jovens, muitos não eram frequentadores habituais de teatro) puderam ter experiências inspiradas e formadoras. Tão marcantes quanto a primeira vinda de Bob Wilson, em 1974, para apresentar The Life and Times of David Clark. Mesmo sem um eixo definido, alguma coincidência temática pôde ser sentida na escolha das peças. Salta aos olhos, por exemplo, o ataque à figura divina empreendido por Gólgota Picnic, do argentino Rodrigo Garcia, e por Sobre o Conceito da Face de Deus, do italiano Romeo Castellucci. Os regimes autoritários também tiveram sua recorrência em títulos como Escola, do chileno Guillermo Calderón, e Ubu e a Comissão da Verdade, dirigido pelo artista sul-africano William Kentridge. A presença dessas semelhanças, porém, está longe de esgotar o sentido da curadoria, que mergulhou em linguagens diversas e trouxe um acurado panorama do teatro contemporâneo. Se há uma grande convergência entre as 11 criações apresentadas ela está na insistência em problematizar as artes cênicas e sua fruição. Constantemente, o espectador viu seu lugar ser desestabilizado. Quem deveria apenas contemplar foi convocado a completar o sentido daquilo que lhe era exposto em cena. Inventar para si um olhar era a prerrogativa para assistir a espetáculos como Hamlet, do lituano Oskaras Korsunovas, Bem-Vindo, do diretor uruguaio Roberto Suárez, ou Anti-Prometeu, da encenadora turca Sahika Tekand. A grade de atividades que cercava a programação também veio ajudar o público nessa tarefa de desdobrar maneiras de ver e apoderar-se do que foi encenado. Houve discussões com criadores e especialistas, bem como a preocupação em estabelecer uma rede de recepção crítica para esses espetáculos. A próxima edição da MITsp já tem data marcada: 6 a 15 de março de 2015. E deverá dar conta da imensurável demanda detectada. Será preciso ampliar o número de apresentações de cada título. Também vale rever a forma de distribuição de ingressos. Ainda que justa, a gratuidade talvez não seja necessariamente o meio mais viável. Todas as ressalvas podem e devem ser feitas. O que não se pode fazer é tentar imputar ao festival responsabilidades que não lhe cabem. A deturpada relação que temos com o espaço urbano, a ausência de opções de lazer na periferia, a deficiência dos mecanismos de distribuição de recursos por meio de incentivos fiscais. Nada disso é culpa da MITsp. E muito provavelmente não cabe a ela solucioná-los. Ao menos, não sozinha.

CARTA CAPITAL - Um estilo familiar POR FLAVIA FONTES OLIVEIRA (16/03/14) Rodrigo Pederneiras, 59 anos, coreógrafo do Grupo Corpo, uma das maiores referências da dança brasileira, usa o sobrenome materno. No início da década de 1970, quando os seis irmãos, Paulo, Miriam, Pedro, Rodrigo, José Luiz e Marisa, convenceram os pais a deixara casa onde moravam em Belo Horizonte e alugar um apartamento para montar a companhia mineira, a mãe só fez um pedido, o uso de seu sobrenome. Ficou assim. Pederneiras no lugar de Barbosa. "Como era o início da década de 1970 e as pessoas ainda tinham preconceito, ela pediu isso", diz o coreógrafo. Foram os Pederneiras que, sem meias-palavras, conquistaram literalmente o mundo com sua dança. Não é fácil, hoje, conseguir agenda para que se apresentem sem antecedência de um ou dois anos. Em janeiro e fevereiro a trupe fez sua tradicional turnê pelos Estados Unidos e Canadá, de 20 a22 de março se apresenta em Bogotá e em maio na Alemanha, Áustria e Itália.

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O Corpo se fez nesse tom familiar e assimilou o modo de ser da matriarca. "Minha mãe é muito doida." Uma mãe do mundo. Não era raro, até bem pouco tempo, ao chegar em casa deparar com dez convivas à mesa de almoço. Apesar de serem muitos e continuarem em atividade (além de Rodrigo, Paulo é diretor artístico; Pedro, diretor técnico; Zé Luiz, fotógrafo; Miriam, assistente de coreografia), desde o início abrigaram amigos e parceiros. "Muita gente se juntou e está até hoje com o grupo." Longe do eixo antes cristalizado da cultura Rio-São Paulo, a seu modo o Corpo deu certo, o que parece um milagre, não pela distância, mas por tantos parentes próximos. Nesse conjunto, Rodrigo, nome à frente para o público por ser o criador, teve tranquilidade para moldar o estilo que buscava ao longo dos anos, tão característico hoje do perfil da companhia. "Uma coisa me instigava, nós, brasileiros, temos um modo de dançar, uma sensualidade. Pensava, isso vem de onde? Percebia que nas movimentações populares a parte da bacia mexia e fazia com que o corpo acompanhasse. Ela dava um impulso para o corpo todo. Fui atrás disso." 21(1992), Bach (I997) e Parabelo (1998), criações representativas da virada ao longo da década de 1990, descrevem esse modo de se mover: quadris livres, a ecoar para o tronco e as pernas, braços soltos e pés velozes. Coreografias alternadas com um dançar de registros clássicos, como Missa de Orfanato (1989). Hoje, marcadamente em Triz (2013) e Breu (2007), ambas com trilha de Lenine, outros acentos foram incorporados, como força e formas mais tensas nas sequências. É preciso somar a tal investigação o gosto do coreógrafo por música. Ouvinte dedicado, Rodrigo tem Johann Sebastian Bach (1685-1750) como influência decisiva. Ele imaginava como seria usar o contraponto no palco, como sobrepor frases, sequências, à moda da música do compositor. Por isso, não entra na sala de ensaio sem conhecer exaustivamente a música. Todas as suas coreografias, mesmo as criadas para outras companhias, carregam isso, preencher o espaço com a música. O coreógrafo discorre sobre a forma de criar, carreira e sucesso sem exagero. Fala de forma reservada. Não renega, mas também não valoriza demais seus feitos. Tem dúvidas, por exemplo, se seu trabalho tem profundidade para que possa ser ministrado em aula, como disciplina didática. Na função de coreógrafo, gosta de se impor desafios, sinucas, como costuma dizer. "Meu medo é facilitar minha vida." Os trios no último trabalho, Triz, são mostras de seu entender. "Não costumo fazer trios, acho que são fáceis de cair em um lugar-comum. Criei os de Triz de forma que começam e não terminam, e também há sempre duos com meninas que cortam o bale inteiro." À vontade no ofício, corrige e aceita sugestões sem perder o foco ou alterar a voz. Costuma mostrar o movimento com o próprio corpo (Triz foi exceção por conta de duas cirurgias muito próximas à montagem ) e a organização do espaço é moldada com o tempo. Tem olhos rápidos para ver o conjunto e pedir correções. Diante de tanta precisão, soa estranho que tenha assumido o posto de coreógrafo por necessidade. Não que ignorasse o desejo, mas no princípio o grupo costumava chamar criadores de fora. "Não tínhamos independência artística. Como coreografava para companhias amadoras, resolvemos apostar no que tínhamos." No fim da década de 1970, o Corpo montou um time e desde então a premissa de que em time que está ganhando não se mexe tem status de lei. Paulo Pederneiras, além de diretor artístico, assina a iluminação e o cenário, que por anos ficou aos cuidados de Fernando Velloso. Freusa Zechmeister, o figurino. Com raríssimas modificações segue assim até hoje. Depois de tantos anos, Rodrigo não sabe dizer se coreografar é um prazer. "Eu me cobro, fico muito inquieto, chateado. Quando acabo, percebo que nos momentos de criação tudo pulsava com mais força. Na feitura, tudo é mais forte, mais vibrante. Depois dá um vazio." Apesar de continuar à frente, planeja dar espaço a outros na criação. As circunstâncias para passar o bastão dão sinais de seguir a regra. Cassilene Abranches, que acaba de encerrar carreira como bailarina do Corpo, casada com seu filho Gabriel, diretor técnico, não tem receio de beber na fonte do sogro. Se confirmado, seu nome deve manter a ligação da família.

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ARTES PLÁSTICAS

O GLOBO - Família judia tenta reaver pintura que faz parte do acervo do Masp Herdeiros de banqueiro alemão pedem que o museu de São Paulo devolva a obra ‘O casamento desigual’, leiloada em 1936 devido à perseguição nazista e doada ao museu brasileiro em 1965 Suzana Velasco Thiago Herdy

A tela “O casamento desigual”, de discípulo de Quentin Metsys

(13/04/14) RIO e SÃO PAULO — Uma família judia de origem alemã tenta negociar com o Museu de Arte de São Paulo a restituição da pintura flamenga “O casamento desigual”, que integra o acervo do Masp desde 1965, por doação. A obra atribuída a um discípulo de Quentin Metsys (1466-1530) foi levada a leilão pelas duas filhas do banqueiro Oscar Wassermann em 1936, dois anos após a sua morte, para pagar a taxa de saída da Alemanha nazista exigida aos judeus. Representante dos quatro netos de Wassermann, um escritório de advocacia alemão

busca contato com o Masp há seis anos, sem obter resposta. — Em 2008, enviamos uma carta ao museu pedindo apenas para confirmar a identidade da obra e comprovando que ela pertencia aos herdeiros de Wassermann, forçados a se desfazer dela por conta da perseguição aos judeus — conta, por telefone, o advogado Henning Kahmann, do escritório Trott Zu Solz Lammek, em Berlim. — Idealmente, queremos a devolução da tela. Mas estamos abertos a negociar uma indenização. Especialistas no mercado da arte estimam que ela valha US$ 30 mil (cerca de R$ 71 mil). Não é um valor incrivelmente alto. Segundo o advogado, a carta foi reenviada ao Masp em 2011, também sem resposta. Em maio do ano passado, ele fez nova tentativa, mas acrescentou entre os remetentes o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) — que, vinculado à Secretaria estadual de Cultura, tombou o acervo do Masp em 1973, quatro anos após o tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Por meio de sua assessoria, a direção do Masp informou que não vai comentar o caso. Argumento ético A família Grunebaum, dos herdeiros de Wassermann, alega que a tela só foi leiloada para que pudessem sair do país, pagando taxas que alcançavam 50% do patrimônio de judeus que desejassem emigrar. Por isso, pede sua devolução com base na Conferência de Washington, de 1998, segundo a qual obras confiscadas em decorrência de perseguição nazista devem ser devolvidas a seus donos ou sucessores. Como declaração de princípios internacionais, o documento da conferência não cria obrigação legal de devolução da tela, doada ao Masp em 1965 pelo barão Thyssen-Bornemisza, um dos maiores colecionadores de arte do século XX. Ainda assim, parecer produzido em junho do ano passado pela historiadora Deborah Regina Leal Neves e pela arquiteta Sarita Carneiro Gonovez, do Condephaat, sugere o pagamento de uma indenização para a manutenção da obra no território brasileiro: “Uma negociação do museu com a família, buscando-se a permanência da obra no Brasil, seria o ideal. Contudo, não nos cabe intervir diretamente neste acordo. (…) Trata-se de uma questão mais ética e moral do que jurídica”, escreveram as técnicas. Embora a Conferência de Washington trate apenas de obras confiscadas, e não das vendidas sob pressão, a Declaração de Terezín, assinada pelo Brasil em 2009, recomenda a devolução para casos de “vendas forçadas ou sob coação” entre 1933 e 1945, ampliando o conceito de arte confiscada.

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— Na Alemanha, com uma série de decisões baseadas na Conferência de Washington, já há jurisprudência que cria uma obrigação legal. Não é o caso em outros países, já que o documento é mais uma declaração política. — reconhece Kahmann, procurado após O GLOBO ter acesso às recomendações do Condephaat, que também ainda não respondeu ao advogado. — Sabemos que essas instâncias de governo podem demorar, e ainda temos esperança de ter uma resposta. É uma questão ética, pois a família só perdeu essas obras porque era judia e foi perseguida. O parecer do Condephaat foi discutido na reunião mais recente do conselho do órgão, realizada na última segunda-feira. Os integrantes entenderam que o grupo “não tem poder de definição da propriedade da obra” e que caberia ao colegiado apenas avaliar a “manutenção do tombamento enquanto proteção do bem, por sua qualidade artística”, tema que não foi colocado em discussão. A eventual devolução do quadro dependeria de um processo de suspensão do tombamento tanto no âmbito do conselho quanto do Iphan, além de uma autorização da Presidência da República. Obras sem paradeiro Os netos de Wassermann representados pelo advogado são herdeiros diretos de Karin, filha do banqueiro exilada nos Estados Unidos — a outra filha, que fugiu para a Inglaterra, não deixou filhos. No catálogo do leilão, realizado em 1936 em Berlim por Paul Graupe, há outros itens vendidos por elas, mas não se conhece seu paradeiro. No caso da tela “O casamento desigual”, o único registro entre o leilão e a doação é a venda da obra por uma galeria de Leipzig, na Alemanha. De acordo com os registros do leilão, a tela da escola de Quentin Metsys (também conhecido como Matsys ou Massys) foi leiloada por 1.550 marcos da época (Reichsmark). Em leilões da Christie’s realizados já nos anos 2000, obras de discípulos de Metsys foram vendidas por valores entre US$ 1 mil e US$ 23 mil (entre R$ 2.360 e R$ 54.280). Oescritório que hoje representa os herdeiros de Wassermann já atuou em outras requisições de devolução de obras por conta de confiscos aos judeus, sobretudo na Alemanha. Ele também representou a família num pedido de indenização ao governo alemão, devido à perda da propriedade do banco Wassermann, nos anos 1930. Antes da ascensão de Hitler, Oscar Wassermann ocupou cargos influentes como representante da burguesia financeira judaico-alemã, entre eles a presidência do Deustche Bank e a vice-presidência do Banco Central Alemão. Sua atuação no Tratado de Versalhes teria gerado forte manifestação antissemita contra o banqueiro, acusado de negociar termos desvantajosos para a Alemanha. Com a chegada de Hitler ao poder, em 1933, ele foi destituído do cargo. No ano seguinte, Wassermann morreu, o que levou a família a vender bens para angariar fundos e fugir da Alemanha nazista, entre eles a tela “O casamento desigual” — que já se cogitou ser de Leonardo Da Vinci, foi atribuída a Quentin Metsys, e hoje é considerada de autoria de um discípulo do pintor flamengo. Anos depois, a obra, que trata do casamento arranjado por interesses financeiros, integraria o acervo de arte de Thyssen-Bornemisza. Suspeita-se que ele tenha herdado a tela do pai, Heinrich, morto em 1947 e que começara a colecionar arte nos anos 1920. O barão continuou a coleção, que hoje integra o Museu Thyssen- Bornemisza, em Madri. Casamento com brasileira Quando morreu, em 2002, estima-se que o barão dispunha de mais de 1,5 mil obras em sua coleção. Mas, bem antes disso, o caminho de Thyssen-Bornemisza passaria pelo Brasil. E tudo por culpa de uma mulher: Liliane Denise Shorto, jovem de 25 anos de Marília, em São Paulo, frequentadora assídua de colunas sociais, com quem se casou em 1967 e teve um filho. Era o quarto casamento de Thyssen-Bornemisza.

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No parecer, as técnicas do Conselho de Defesa do Patrimônio sugerem que a doação da obra ao museu montado por Assis Chateaubriand teria ocorrido em função do novo vínculo estabelecido pelo barão com a sociedade brasileira — ainda que o casamento tenha ocorrido dois anos após a doação. O vínculo se encerrou de maneira nada amigável, na primeira metade dos anos 1980. Em meio ao processo de separação, o barão conseguiu que Denise fosse presa em Liechtenstein, sob acusação de apropriação de obras de arte, joias e até do iate do marido. Por sua vez, ela o denunciou por sonegação de impostos. Em 1988, quando ele tentou leiloar uma obra de Renoir avaliada em US$ 1 milhão, a ex-mulher entrou com ação na Justiça solicitando bonificação extra para liberar a negociação da obra. O barão se casou mais uma vez depois da separação.

EL PAÍS (ESPANHA) - Un artista que lanza gritos desde las tripas El brasileño Paulo Nazareth, criado en una favela, utiliza su propio cuerpo para obras y denuncias callejeras Flor Gragera de León Madrid (13/03/14) “Cuando la gente muere tiene el mismo destino”, dice Paulo Nazareth, performer brasileño natural de la ciudad de Governador Valadares (estado de Minas Gerais). “Da igual que seas pobre, o de la élite, que seas un perro o un cerdo…”, cuenta a través del teléfono, y transmite una de las esencias de su arte: su fascinación por lo que supone estar vivo, algo “frágil”. Nazareth, de 37 años y ascendencia africana e indígena, pone su propio cuerpo y experiencias al servicio de obras con las que quiere lanzar un grito de denuncia. Con esta actitud ha sido de los pocos con su mezcla étnica y su origen en llegar hasta los circuitos oficiales de la creación en su país y a nivel internacional, tal es el caso de la última edición de la feria de Madrid ARCO, con la galería paulistana Mendes Wood como casa. Raza, ecología, hipocresía gubernamental, migraciones... Él lo aborda todo con actuaciones que funcionan como un taladro en el estómago.

El artista Paulo Nazareth, junto al cadáver de un perro.

La raza es una de las obsesiones de Nazareth, como lo es el abuso de la naturaleza. En una de sus videocreaciones más llamativas porta una máscara hecha con parches cosidos de piel de cerdo. En otra, se ha quitado sus propios dientes incisivos para provocar una reflexión sobre el tráfico de marfil procedente de los colmillos de los elefantes mientras reparte panfletos. Y estos gestos radicales así los argumenta: “Creo que existe una conexión entre los

frijolitos y la política. Los Gobiernos de Brasil han ganado votos con la promesa de comida para el pueblo”. Recuerda los ochenta cuando comer carne significaba ingerir las entrañas de la vaca o su cerebro, y cuando él cuidaba en una pocilga de unos 400 cerdos y aun así no se podía permitir comprar su carne. Él es ahora vegetariano “como protesta”, también por los bosques que los finqueros arrasan y de los que despojan a las comunidades indígenas para que se transformen en pastos “con la excusa de alimentar a la gente”. Este hombre con aspecto entre profeta y chamán recorrió una decena de países desde su Brasil natal hasta Estados Unidos en ocho meses para plasmar en videos y fotografía el camino hacia el prometedor Norte, hecho suyo por tantos en busca de una vida mejor. Iba descalzo y se negó a lavarse los pies en todo el trayecto, hasta que simbólicamente lo hizo en el río Hudson, en Nueva York. “Crecí en una favela en los ochenta, escuchando las historias de gente que emigraba, sobre todo a EE. UU. Aquel era un lugar con su propia cultura, donde la filosofía y la conciencia política se basan en saber el precio de la vida”, relata.

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Y el viaje de 2011 tuvo mucho que ver con todo esto, porque quería demostrar que el polvo que arrastraba era el mismo en todos los lugares, separados por antinaturales fronteras. Cómo logró cruzar la de Estados Unidos con México se lo debe, dice, a que portaba “un sanjuditas”, patrón de los imposibles, que creó un extraño lazo con los guardias de la frontera, de rasgos mestizos, de nombres y apellidos mexicanos. Al otro lado, le esperaba un país en que poco sucede en la calle, escenario del artista. No importa que participe en ferias internacionales o que su trabajo se incorpore a las galerías. No es una contradicción porque él sigue siendo anónimo, asegura. El color de la piel le supone una garantía. En una Bienal de São Paulo en la que se exponían grandes fotografías con su rostro, decidió quedarse al final a recoger los papeles sobrantes que él podía utilizar, al igual que cuando era niño reconstruía viejos juguetes con materiales reciclados en su Governador Valadares natal. “Los guardas enseguida vinieron… solo cuando averiguaron quién era cambiaron el argumento y dijeron que habían acudido por mi seguridad…”. Nazareth insiste en que el discurso racial en Brasil, un país “que solo ha mirado a Europa”, está cargado de hipocresía. “Cuanto más sucio es el trabajo, más negra es la piel. Por ejemplo, los guardas de seguridad o los porteros son de raza negra… Cuando te impiden el paso no les puedes acusar de racismo porque su piel es más oscura que la mía. Es un sistema que perpetúa una mentalidad colonizada…”.

O ESTADO DE S. PAULO - Instituto Figueiredo Ferraz inaugura mostras no sábado Centro cultural abriga mais de mil obras do empresário, que iniciou coleção nos anos 1980 Antonio Gonçalves Filho

Eclética. A coleção tem desde Paulo Monteiro, artista dos anos 1980, que assina a escultura da foto acima.

(14/03/2014) Nos anos 1980, em plena ebulição da onda neoexpressionista, o empresário João Carlos Figueiredo Ferraz começou a frequentar as galerias de São Paulo, tornando-se amigo de artistas, críticos e galeristas. Entre os últimos, a marchande Luísa Strina foi decisiva na formação de sua coleção de arte, hoje com mais de 1.000 obras, abrigadas no Instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto. Uma das duas mostras que o instituto inaugura amanhã é dedicada a ela, como forma de reconhecimento por essa parceria de 30 anos e pelos 40 anos de existência de sua galeria, aberta em 1974 no antigo estúdio do pintor Baravelli. A exposição, com curadoria de Fernando Oliva, abriga duas dezenas de obras

compradas pelo empresário da marchande. A outra mostra, Momento Contemporâneo, no mesmo local, é maior: tem 100 obras da coleção selecionadas pelo curador Paulo Venâncio Filho.

Na abertura das duas exposições será lançado um livro que conta a história da coleção Dulce e João Figueiredo Ferraz com textos do secretário de Cultura do Estado, Marcelo Mattos Araujo, e da crítica Aracy Amaral, entre outros, além do próprio colecionador. Figueiredo Ferraz conta como sua coleção foi formada sem vínculo mercadológico, moldada apenas pelo desejo de buscar contemporâneos capazes de traduzir visualmente o espírito da época. Quando começou a coleção, que hoje abriga de Amilcar de Castro a Tatiana Blass, passando por Cabrita Reis, Max Bill e Nuno Ramos, o empresário acabara de mudar para Ribeirão Preto, onde iniciou um empreendimento agroindustrial. Deixou em São Paulo um pequeno apartamento e alugou uma ampla casa, em Ribeirão, com paredes vazias à espera de obras de arte. Luísa Strina, na época, já trabalhava com Leonilson, Tunga e outros artistas emergentes, que foram incorporados gradativamente à coleção. “Naquela época éramos jovens, começando a vida, sem dinheiro, e Luísa facilitou os pagamentos de diversas obras”, lembra Figueiredo Ferraz. Uma das primeiras adquiridas pelo empresário, uma tela do pintor carioca Jorge Guinle (1947-1987), ainda hoje figura na coleção. O colecionador não é do tipo voltado à especulação. Tanto que uma das

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obras de referência de sua coleção, um dos exemplares da série Sarrafos, a última produzida por Mira Schendel (1919-1988), continua sendo um dos destaques de seu acervo – isso numa época em que o mercado internacional disputa avidamente os trabalhos da artista suíça (naturalizada brasileira), recentemente homenageada com uma retrospectiva na Tate Modern, que chega à Pinacoteca em novembro. “Raquel Arnaud, que fez a última exposição de Mira, havia reservado um dos ‘sarrafos’ para ela, mas consegui convencê-la a vender”, conta o colecionador. Além de tudo, foi um ótimo negócio: na época, os “sarrafos” custavam algo em torno de US$ 8 mil. Hoje, quem tem, não vende nem por US$ 1 milhão. Graças ao empenho de Figueiredo Ferraz, a obra está em exposição permanente no instituto que leva seu nome, um centro cultural de boa arquitetura já visitado por 11 mil pessoas desde que foi inaugurado, em outubro de 2011, em Ribeirão Preto. Além das quatro exposições realizadas em sua sede, o empresário se esforçou para difundir a cultura na cidade, aceitando, desde 1988, o desafio de realizar salões de arte, que promoveram a arte contemporânea em Ribeirão Preto. A amizade com o crítico Alberto Tassinari, primo de sua mulher, Dulce, facilitou o contato com grandes artistas de São Paulo, especialmente os do grupo Casa 7, que reunia nomes como Nuno Ramos e Paulo Monteiro. “Além de Tassinari, os críticos Rodrigo Naves e Ronaldo Brito, entre outros, sempre colaboravam com os salões e foi por intermédio deles que descobri grandes artistas hoje presentes na coleção.” Foram ao todo sete salões, que levaram a Ribeirão Preto trabalhos de Antonio Dias, Iberê Camargo, José Resende e Tunga, entre tantos nomes fundamentais da arte contemporânea brasileira. Mesmo com a presença de artistas estrangeiros na coleção Figueiredo Ferraz, o empresário não costuma comprar obras de arte em feiras internacionais, apesar de, no passado, ter adquirido lá fora peças de brasileiros, logo no início da investida brasileira no mercado externo.

CORREIO BRAZILIENSE - O artista das capas NAHIMA MACIEL (15/03/14) Elifas Andreato é o nome por trás dos grandes trabalhos gráficos de discos no país. Mas demonstra desinteresse pelo som produzido hoje. "Não ouço e não gosto"

Elifas Andreato ainda não sabia ler nem escrever quando começou a desenhar. Garoto, aos 15 anos trabalhava na Fiat Lux e fazia charges para o jornal da fábrica de fósforos. Graças a uma assistente social atenciosa, evoluiu. A qualidade do desenho o elevou a decorador do salão de baile da fábrica. Também era responsável pelas músicas ouvidas durante as festas. Foi nessa época que colocou Dois na bossa, de Elis Regina e Jair Rodrigues, no toca-discos. Desde então, a música brasileira mudou bastante, mas o gosto de Andreato continua o mesmo.

Autor de mais de 700 capas de LPs, CDs e DVDs para os nomes mais importantes da música brasileira, ele permanece atuante na indústria fonográfica, mas com menos gosto do que nas décadas em que Chico, Gil, Caetano, Caymmi e Vinicius eram as estrelas. “Continuo fazendo coisas com parceiros que têm o que dizer, mas nos últimos anos a indústria fonográfica praticamente deixou de existir. Tem muita coisa nova acontecendo, mas boa parte não me agrada. Não ouço e não gosto”, avisa. “Tem gente produzindo coisas muito boas e gente nova surgindo, gente com talento. Mas o que se está produzindo hoje e que faz muito sucesso em redes sociais e programas de TV é muito ruim. A música brasileira hoje é muito ruim.” Nascido em 1946 em uma família pobre do interior do Paraná, Andreato só aprendeu a ler e escrever aos 15 anos. Filho de lavradores, foi criado pela mãe, que deu conta dos seis filhos praticamente sozinha, já que o pai era alcoólatra e pouco aparecia em casa. Um dia, Andreato ganhou da assistente social da fábrica de fósforos uma reprodução do estudo de Cândido Portinari para Os meninos de Brodósqui. “Aqueles meninos todos pareciam comigo, eram pobres. Naquele momento,

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eu pensei: ‘Isso eu posso fazer também’”, lembra. Ele acha que graças à percepção, conseguiu se libertar da pobreza à qual parecia estar condenado Acreditando que ajudariam, os donos da fábrica demitiram o garoto para que pudesse estudar com o dinheiro da rescisão. O dinheiro rareou e Andreato não estudou. Conseguiu emprego na editora Abril, como estagiário. Prancheta Era 1967, e nos cargos estratégicos da empresa estavam grandes nomes do jornalismo brasileiro. Dali em diante, foi só trabalhar. Passou pela Realidade e chegou a ser diretor de arte da Abril Cultural. Na gráfica da editora, que ele visitava para ter noção de como era feito o produto final

no qual trabalhava, aprendeu a manejar recursos que poucos artistas gráficos tinham na prancheta. O caminho sem volta no mundo das artes gráficas e a habilidade levaram Andreato para o universo da música. “Nunca fui chamado por uma gravadora, sempre foram os artistas que me chamaram. Tenho uma relação de amizade com todos eles e por todos um grande respeito”, declara. Os olhos de Chico Buarque soltos sobre um fundo branco em Almanaque? Obra de Andreato. O chapéu do príncipe do samba meio solto sobre o nariz riscado com apenas um traço em Paulinho da Viola? Andreato também. A caricatura de Noel Rosa com o cigarro pendurado na boca? Criação do paranaense para uma caixa comemorativa. Clara Nunes de cabelos vermelhos, as pegadas douradas de Clementina de Jesus, João Nogueira esculpido em madeira e o clássico malandro de terno branco deitado em um banco à espera de sua ópera? Andreato fez as mais célebres capas de discos da música popular brasileira. Capas de livros, cartazes e cenários para peças de teatro, shows e programas de TV também entram na conta. Poema Apesar de a indústria fonográfica ter mudado muito e de o artista não se animar com o que ouve por aí, ele não larga as capas. Agora, trabalha em uma caixa de discos de Martinho da Vila e acaba de entregar um trabalho para Zeca Baleiro. Para celebrar os 100 anos do nascimento do amigo e poeta Vinicius de Morais em 2013, Andreato pintou as 14 estrofes do poema O haver e convidou músicos para ajudar na confecção da obra. A exposição que leva o nome da poesia vai correr o país. No Almanaque Brasil, uma revista mensal dedicada à cultura brasileira, o artista exercita o traço e a reflexão. Mas é às crianças que ele dirige o olhar nesta primeira década do século 21. Andreato quer realizar todos os projetos idealizados ao longo da vida para o público infantil. Já fez a animação das canções criadas em parceria com Toquinho para celebrar os Direitos das Crianças. O próximo passo será um livro. Dezinho, escrito e ilustrado pelo próprio artista, narra a trajetória de um menino que queria jogar futebol com a camisa 10 da Seleção Brasileira. Mas esse, ele brinca, só vai “queimar” depois da Copa. É um jeito de chamar a atenção para as crianças, aquelas retratadas por Portinari em Brodósqui e até hoje espalhadas pelas esquinas do Brasil, as mesmas que o próprio Andreato foi um dia.

ISTOÉ - Elo entre três gerações A quebra de fronteiras entre a política e a pintura marca a produção de Antônio Dias, que tem obras recentes em cartaz em Porto Alegre por Paula Alzugaray

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No ano do golpe militar, o paraibano Antônio Dias era um jovem artista de 20 anos, que havia estudado gravura sob orientação do grande artista modernista Oswaldo Goeldi e realizava sua segunda exposição individual em uma galeria do Rio de Janeiro. Dias buscava então produzir uma arte não só observadora, mas participante da realidade brasileira e, nos anos que se seguiram, foi reconhecido por seus pares, como o carioca Hélio Oiticica, como agente estratégico no confronto da arte com a ditadura. É pelo contexto do início de sua atuação artística que Dias já foi considerado pelo crítico Paulo Herkenhoff como um elo entre três gerações fundamentais da arte brasileira: o modernismo, o neoconcretismo e os artistas dos anos 1970. Essa qualidade condutora entre a experiência estética e a vida sociopolítica está presente deste então, em mais de cinco décadas de trabalho de Dias. E se reflete diretamente nas 28 obras recentes do artista, realizadas entre 1999 e 2011, reunidas na exposição “Antônio Dias – Potência da Pintura”, no Instituto Iberê Camargo, em Porto Alegre.

Em "Língua Franca", de 2010, a pintura é realizada a partir da reação dos materiais sobre a tela

Para o crítico Paulo Sérgio Duarte, que assina a curadoria da exposição, a obra de Dias manifesta um permanente estado de tensão – talvez como resultado dos sucessivos engajamentos de toda uma vida: “Tem atritos, conflita entre si, essa briga interna entre planos específicos – os vermelhos, por exemplo, que eclodem da sua verdade,

evidente, e as superfícies ambíguas, que flutuam, nos cobres, dourados e verdes de malaquite”, afirma Duarte. Os atritos entre cores e matérias, a que se refere Duarte, podem ser contemplados nas grandes e inebriantes pinturas modulares dos anos 2000, compostas com matérias “de peso”, como folha de ouro e cobre, e óxido de ferro, trabalhadas com tinta acrílica. Dessa diversidade de materiais, o trabalho de Dias também guarda forte conexão com uma linhagem alquimista da arte brasileira. Já seu inegável e inseparável engajamento político está manifesto, por exemplo, em “Duas Torres” (2002), que faz um comentário sobre o 11 de setembro de 2001, com latas de alimentos fundidas em bronze. Com alguns objetos e instalações entre 24 pinturas, a exposição afirma como o projeto pictórico de Antônio Dias é determinante em sua atitude política.

ESTADO DE MINAS - Um mundo particular O cotidiano e o sonho da ilustradora, pintora e desenhista Wilma Martins estão retratados em mostra retrospectiva de sua obra, que chega a BH depois de sucesso no Rio de Janeiro

O encontro, xilogravura de 1968, obra pouco conhecida de Wilma Martins

Mariana Peixoto (17/03/2014) Corria o ano de 1957. Munido de algum dinheiro graças à venda de livros, Frederico Morais, então com não mais de 21 anos, partiu para Fernando de Noronha. Ia encontrar um parente

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militar, que lhe falou sobre o lugar e as tartarugas. Só tinha a verba para a ida, não conseguiu entrar no arquipélago, então fez o caminho de volta como pôde. Pernambuco, Bahia... Vendeu mais livros, a maioria sobre cinema, passou uma temporada com Glauber Rocha. Chegou a Belo Horizonte três meses após a partida. Era véspera de réveillon. Encontrou, sem querer, Wilma Martins. Já a conhecia de vista, como ela a ele. Resolveu dar uma incerta: “Quer ir numa festa de ano-novo?”. Surpreendentemente (para ele), ela aceitou. Um ano e meio mais tarde estavam casados. Na casa de adobe (só o quarto tinha tijolos), na região do Coração de Jesus (hoje Luxemburgo), ela começou a desenhar árvores, folhas, o ambiente que a cercava. “Lembra bastante os pintores desenhistas das missões culturais que vieram ao Brasil, como Rugendas. Muito documental e preciso, mas sem excluir um pouco da poesia”, define Morais – definição, diga-se, que traduz toda a carreira da artista. Cinquenta e quatro anos de casamento, 80 de vida (dela) e 78 (dele) estão reunidos na exposição Wilma Martins: Retrospectiva. Cotidiano e sonho, em cartaz na galeria do Minas Tênis Clube. Vinda do Paço Imperial, no Rio de Janeiro (cidade que elegeu a mostra como uma das melhores de 2013), a exposição reúne 140 obras da pintora, desenhista e ilustradora nascida em BH e radicada, desde 1966, no Rio de Janeiro. Para reunir o material, que ainda inclui livros, cadernos, jornais e documentos (com obras do próprio acervo da artista, colecionadores particulares e museus, como o MAM-RJ), Morais trabalhou durante quatro anos, sem a colaboração de Wilma. “Ele impôs, né? Porque para mim, exposição é muito chato. Meu negócio é fazer, não tenho essa coisa toda que envolve... Na verdade, gosto de ficar no meu canto, sempre fui bem recolhida. Extrapolo a coisa do caramujo”, afirmou ela, que veio para a abertura da retrospectiva depois de décadas sem aparecer na cidade onde nasceu.Homenagem. A fala é econômica, o sorriso é farto. O trabalho fala por ele mesmo. Algumas das obras mais conhecidas de Wilma revelam bem o cotidiano dela, tanto que é esse o título de várias acrílicas sobre tela. Podem ser focas dentro de um quarto de empregada; animais que saem de uma caixa de ovos jogadas no chão da cozinha; um rio que sai de dentro de um balde. A cor vem sempre do objeto estranho àquele ambiente, que por seu lado exibe diferentes tons de cinza. “Você fica bem com uma pia cheia de louça para lavar? Se não inventar coisas, enlouquece. A cor para mim é fuga. O irreal é que é colorido, porque a realidade é muito chata”, explica. A exemplo do que fez no início da vida, continuou pintando e desenhando o que via de sua janela. Tanto por isso, é farta a coleção de imagens do Rio de Janeiro, principalmente de Santa Teresa, bairro onde vive com Morais há mais de 20 anos. O crítico de arte, curador, jornalista e professor tinha duas questões bem delineadas quando começou a trabalhar na ideia da exposição. “A primeira é uma homenagem a Wilma, e insisto muito em dizer isso. A ideia foi totalmente minha e foi muito difícil convencê-la. Não sei até agora se ela está convencida. Wilma nunca teve preocupação em vender, como também nunca foi de lutar por espaço. Por isso, achei que era hora de fazer uma releitura do trabalho dela.” Tanto que além da obra mais conhecida – e reconhecida, por meio de prêmios e participações em salões e bienais – ele buscou lançar luzes sobre trabalhos que pouco tinham sido mostrados. “Caso de algumas gravuras, por exemplo. Como parei de fazer gravura em 1970, não me lembrava de muita coisa”, ela admite. E Morais conseguiu reunir todas as xilogravuras – à exceção de duas – que Wilma realizou. Sobre esse viés do trabalho da mulher, o crítico comenta: “O que tinha certeza que iria impactar na exposição era a parte da gravura. Quando saímos de Minas e fomos para o Rio, ela se dedicou à xilogravura. A xilo é muito econômica, despojada, exige muita síntese e não há possibilidade de erro. Não é necessário um ateliê grande para fazê-la. E isso traz algo do caráter dela, meio estoico. Dessa economia, da aparente pobreza de recursos, ela criou um mundo muito particular”, explicou Morais sobre a série que está exposta na primeira parte da galeria do Minas. Multiplicidade Foi a partir da década de 1970 que Wilma passou para o desenho e a pintura. Paralelamente a esse trabalho, sobre o qual ela diz hoje em dia só se debruçar raramente, a artista sempre teve múltiplas atividades, a maior parte delas na própria casa. Construiu quase todos os móveis da residência em que vive com Morais. Cama, mesa, bancos, estantes. “Se você tem que ter uma coisa e não tem como pagar na hora, faz. O Frederico não ajuda. Na última estante, até que ajudou, queimou com maçarico e ficou muito orgulhoso do feito.” O marido acrescenta. “Wilma só compra o que é absolutamente impossível para ela fazer. Como foi filha única, sozinha, e os pais não eram pessoas

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cultas, tinha que tomar a iniciativa. Tudo o que fez foi iniciativa dela, ninguém sugeriu. Tanto que não aceita ordem de ninguém.” Seja como for, o marido conseguiu convencê-la, com algum custo (até chantagem da parte dela, Morais assume), a fazer a retrospectiva. É uma questão, aliás, que permeou toda a carreira. Morais se lembra de uma exposição de Wilma em que ela teve que assinar no contrato cláusula que previa a própria presença na vernissage. E mais ainda será feito. Depois de BH, onde a exposição fica em cartaz até meados de junho, a retrospectiva segue, em julho, para o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Morais prevê também a produção de três livros. “Nunca interferi para usar meu prestígio, tanto que levei 15 anos para escrever o primeiro texto crítico sobre a Wilma. Pouca gente sabia que eu sou casado com ela”, concluiu.

O GLOBO - Plural e visionário Exposição no ims reúne 50 obras em papel de araújo porto-alegre (1806-1879), artista fundamental na construção de uma iconografia brasileira do século XIX Luisa Duarte

Traço virtuoso. Litografia “Floresta virgem” (1856), parte do álbum “O Brasil pitoresco e monumental”: delicadeza de gestos ao representar a natureza

(17/03/14) Dentro do universo das artes na História do Brasil é notório o ditado que comunica a lacuna existente nas chamadas "artes visuais". Se no campo da literatura havia uma riqueza de conteúdo para aquele que estudava na primeira metade do século XX, conteúdo este que serviria de bússola para a construção de novas obras, no território da visualidade o Brasil foi tardio.

A colonização portuguesa pouco cooperou para isso. Se nas letras ela nos ofereceu um legado relevante, o mesmo não se pode dizer das artes visuais. É importante recordar tal vazio para não acharmos que o generoso espaço que a produção brasileira em artes visuais ocupa hoje possui um lastro longínquo. Muito pelo contrário. Sendo assim, recuperar os pioneiros nesse universo torna-se uma tarefa fundamental para edificarmos uma história da arte no Brasil. Em cartaz no Instituto Moreira Salles (IMS) até 13 de abril, a mostra "Araújo Porto-Alegre: singular & plural", com trabalhos de Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879) - curada por Julia Kovensky, coordenadora de Iconografia do IMS, e Leticia Squeff, professora de História da Arte da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) -, é uma chance rara de adentrarmos a obra de um artista de quem escutamos falar, mas pouco pelo contrário. Sendo assim, recuperar os pioneiros nesse universo torna-se uma tarefa fundamental para edificarmos uma história da arte no Brasil. Em cartaz no Instituto Moreira Salles (IMS) até 13 de abril, a mostra "Araújo Porto-Alegre: singular & plural", com trabalhos de Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879) - curada por Julia Kovensky, coordenadora de Iconografia do IMS, e Leticia Squeff, professora de História da Arte da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) -, é uma chance rara de adentrarmos a obra de um artista de quem escutamos falar, mas pouco conhecemos. Composta por 50 trabalhos em papel, a exposição revela um personagem ímpar na construção de uma iconografia brasileira do século XIX. Porto-Alegre foi plural pois atuou como caricaturista, retratista, arquiteto, cenógrafo, historiador, diplomata, crítico, jornalista e escritor (Antonio Candido dedica a ele um capítulo no seu clássico livro "Formação da literatura brasileira"). Era também um artista viajante que teve em Debret (1768-1848) um mestre. Viajou ao lado do professor para a Europa entre 1831 e 1837, retornando depois ao Brasil. É dele a idealização do primeiro monumento público da cidade do Rio, a estátua equestre em bronze de D. Pedro I, de 1862, que todos vemos, cotidianamente, no centro da Praça Tiradentes.

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Essa pluralidade rendeu muitas críticas a Araújo Porto-Alegre. Como ele poderia ser, ao mesmo tempo, um pintor histórico, editor de revista, caricaturista e também paisagista? Em tempos de classificações rígidas, tal mobilidade (visionária, podemos dizer) rendia ataques de seus contemporâneos. Irônico, Porto-Alegre revidava. Um trabalho no qual vemos uma série de vassouras fazerem as vezes de árvores, compondo uma pequena floresta, deflagra uma fina ironia aos seus "detratores". Chama atenção na obra do intelectual/artista uma atuação pública que servia aos donos do poder e, ao mesmo tempo, apontava para as contradições desse mesmo poder. Desde dentro Porto-Alegre promovia desvios no instituído, encontrando espaços para uma voz ácida. Seus manuscritos e caricaturas nos revelam esse caráter crítico desviante. Aliado a esse espírito político encontrava-se um virtuoso, capaz de retratar com extrema riqueza formal e delicadeza nos gestos a floresta tropical. Essa pluralidade de um homem "renascentista" no século XIX do Brasil merece ser mais bem estudada. Artistas de hoje como Adriana Varejão e Laercio Redondo, para citar somente dois exemplos, ao revisitarem a produção dessa época, findam por elaborar uma visão crítica do passado que ilumina o presente. Ou seja, nos apossando do passado podemos transformar o presente e assim chegar mais perto do futuro que desejamos. A exposição "Araújo Porto-Alegre: singular & plural" , concisa e potente, é uma consistente amostra desse caminho tão necessário, qual seja, revisitar a história da arte no Brasil.

O ESTADO DE S. PAULO – Torre de papel Claudia Marchetti abre galeria especializada em gravuras Espaço é inaugurado na terça, 18, com a mostra 'Tiragem Limitada' Antonio Gonçalves Filho - O Estado de S. Paulo

Claudia Marchetti

Há dez anos, a produtora Claudia Marchetti ajudou a realizar uma exposição memorável no Centro Brasileiro Britânico, Paper Democracy, que, como o próprio nome indica, pretendia democratizar o acesso do público a obras em papel de artistas importantes do cenário internacional, entre eles Peter Blake, Richard Hamilton, Anthony Caro, Tony Cragg e Gary Hume. Essa experiência como coprodutora da mostra, patrocinada pela Cultura Inglesa com apoio do British Council, foi essencial para que ela decidisse abrir a própria galeria, ArtEEdições, que será inaugurada nesta terça com a mostra Tiragem Limitada.

Como na exposição institucional de dez anos atrás, esta reúne nomes de peso, entre eles os artistas norte-americanos Cy Twombly (1928-2011) e Richard Serra, além dos britânicos Eddie Peake e Sarah Morris. A mostra tem gravuras e objetos desses e de Adriano Costa, Catherine Yass, os irmãos Jake e Dinos Chapman, Mona Hatoum e Rachel Whiteread. Representante no Brasil de duas grandes editoras de gravura do Reino Unido, a Paragon Press e Allan Cristea Gallery, Claudia Marchetti conseguiu delas obras exclusivas como a série de litogravuras Natural History Parte I: Mushrooms, que Cy Twombly realizou em 1974, e duas caixas com esculturas de Rachel Whiteread que modelam em bronze objetos do cotidiano. A série assinada por Twombly, com dez litogravuras, a exemplo de suas pinturas caligráficas de cores sóbrias, vem carregada de referências do simbolismo romântico que caracterizou sua produção em tela, repleta de citações poéticas a personagens míticos. Originalmente publicado pela Propyläen Verlag de Berlim em tiragem limitada (98 exemplares), o livro com as gravuras foi transformado por Twomby numa edição especial de 17 exemplares (um deles pertencente à coleção da Tate). Nela, o artista americano interfere nas gravuras, realizando uma collage com desenhos em crayon e fotos (a exemplo de Rauschenberg, Twombly usou a técnica, mas com parcimônia). A série dialoga com a iconografia das obras acadêmicas dedicadas à botânica,

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embora prevaleça o lado irônico do artista, que associa os cogumelos a outras formas menos convencionais. A marchande chama a atenção para esse trânsito entre mídias que a gravura permite, democratizando o acesso da arte a novos colecionadores. Além de gravuras em metal e pedra, a exposição traz múltiplos de esculturas (os objetos de Rachel Whiteread), fotografias (de Catherine Yass, que interfere num fotograma da comédia de Harold Lloyd, O Homem Mosca/Safety Last, de 1923) e até lenços, como os do jovem Eddie Peake, que assina 75 exemplares únicos pintados com spray. A peça mais insólita, como era de se esperar, pertence à exilada libanesa Mona Hatoum, conhecida por suas performances radicais (e políticas) em que confronta o público com o corpo. Na mostra há um print em silicone que simula um tapete estampado em forma de tubo intestinal. Os preços dos trabalhos varia do acessível ao estratosférico. No primeiro caso estão as fotos (edição de 20 exemplares) de Catherine Yass, artista inglesa de 51 anos cuja presença vem crescendo nos museus. No caso extremo estão as gravuras de Richard Serra, produzidas no próprio ateliê do escultor, que podem custar até R$ 120 mil. O set completo das dez litogravuras de Cy Towmbly sai por um pouco menos: R$ 100 mil. As taxas de importação (49% do valor das obras) explicam esses preços. Claudia adianta que pretende trabalhar com artistas brasileiros, levando obras para o exterior em parceria com outras galerias, como a Mendes Wood, que cedeu seu artista Adriano Costa para a mostra inaugural da ArtEEdições.

PORTAL TERRA – Encontro internacional de grafiteiros leva arte e colorido a túnel no RS Evento Meeting of Styles reúne 60 artistas de todo mundo e usa paredes do Túnel da Conceição para expor arte de rua

Porto Alegre sedia Meeting of Styles, encontro internacional de grafiteiros

Marcelo Miranda Becker, Direto de Porto Alegre Principal via de acesso ao centro de Porto Alegre, o Túnel da Conceição está de cara nova. As paredes cinzas, alvos constantes da ação de vândalos e pichadores, ganharam um novo colorido na noite deste domingo, no encerramento do Meeting of Styles, encontro internacional de grafite que reuniu 60 artistas de todo o mundo na capital gaúcha, a terceira cidade brasileira a receber o evento. Organizado pela ONG Trocando Ideia, o evento foi patrocinado pela Secretaria

Municipal da Juventude e faz parte das comemorações dos 242 anos de Porto Alegre. Inicialmente, a organização pretendia realizar a grafitagem em um longo muro da região portuária, mas em seguida surgiu a ideia de aproveitar as paredes do túnel no sentido bairro-centro, em um trecho de aproximadamente 250 metros, abrigado da chuva. Para permitir o acesso dos artistas, duas das quatro faixas da via foram bloqueadas por dois dias, e a velocidade máxima permitida aos veículos foi reduzida para 30 km/h. Uma das estrelas do evento, o grafiteiro paulista Binho Ribeiro comemorava a possibilidade de voltar a Porto Alegre. "Já estive aqui em outras oportunidades, e a cena do grafite está crescendo muito aqui. Esse evento é uma grande chance para que os artistas locais interajam com gente de fora, e também serve para mostrar pra molecada que existem vários caminhos e possibilidades para a arte de rua. Certamente isso eleva a região toda a um novo status internacional”, afirmou Binho, responsável por um longo painel exposto logo na entrada do túnel.

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“Eu venho usando há bastante tempo o peixe como um elemento em minhas obras. Ele simboliza a celebração. É uma série bastante extensa já, mas o movimento e a combinação de cores dessa obra são exclusivas daqui”, disse o artista, que falou sobre a desafio de se trabalhar em meio ao trânsito. “É complicado, está bem congestionado aqui. O povo fica bravo ao ver que está tudo trancado lá atrás, sem saber o motivo. Mas quando chegam aqui e veem as obras, eles curtem, tiram fotos. O pessoal está levando na boa, não cheguei a ver ninguém reclamando não”, garante. Morador de Porto Alegre, o grafiteiro Santiago demonstrava empolgação por participar do encontro. “Eu pinto há quatro anos, e é uma experiência única de trocar uma ideia com essas feras. Tem gente que está aí que eu nunca imaginei que ia ver ao vivo”, disse o jovem, cujo trabalho tem como temática os palhaços. “O palhaço já virou uma persona no meu trabalho. Eu tinha bastante medo de palhaço quando era pequeno, então eu comecei a brincar com isso.”

CORREIO BRAZILIENSE – As surpresas do barroco

Mostra desembarca em Brasília e exibe quatro obras inéditas do movimento artístico que marcou o Brasil colonial Lucas Lavoyer

Cristo Bailarino: madeira com vestígios de policromia

(19/03/2014) Mesmo depois de quase seis séculos, a arte barroca ainda é capaz de surpreender. Obras inéditas do estilo artístico, nascido na Europa do século 16, surgem esporadicamente em exposições direcionadas ao tema.Quatro peças brasileiras desconhecidas do público, entre elas duas do mestre Aleijadinho, figuram no espaço Caixa Cultural (SBS, Qd. 4, lotes 3/4), até 11 de maio, na mostra Berço do barroco brasileiro e seu apogeu com o Aleijadinho. Entalhadas por três diferentes artistas do Brasil Colonial, as figuras sacras inéditas foram esculpidas entre os séculos 17 e 19, em barro cozido e madeira policromada. As imagens, que medem poucos centímetros de altura, compõem o lote de 140 obras, resgatado exclusivamente para a exposição. Os achados fazem parte de uma pesquisa feita pelo historiador paulistano Marcelo Coimbra, que há mais de 20 anos dedica seus estudos ao estilo barroco.

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Segundo o curador, a mostra, apresentada nesse formato pela primeira vez no Brasil, traz conceitos próprios, que podem ser apreciados pelo público de Brasília. “Nosso acervo foi construído sob oratórias particulares, que são diferentes das peças de igrejas, que eram encomendadas e seguiam determinados padrões. As obras particulares não se prendiam tanto a regras, tornando-as únicas”, destacou Coimbra. Dos 140 itens reunidos para a exposição, 48 deles são do mestre Aleijadinho e três do Frei Agostinho de Jesus, um dos precursores do segmento artístico no Brasil. Apesar da descendência europeia, o barroco tornou-se destaque com obras produzidas também no Brasil, ainda no começo do século 17. Na vertente escultural, peças entalhadas pelos membros fragmentados de Aleijadinho, um dos artistas ícones do segmento sacro, vivido no município mineiro de Ouro Preto, entre os séculos 18 e 19, compõem o ápice da obra nacional do périodo colonial. Genialidade “O Aleijadinho é um gênio da brasilidade. Em determinada ocasião, um curador conservador do Louvre que visitou Ouro Preto o comparou a Michelangelo, um dos maiores artistas que o mundo já teve”, lembra Coimbra. Banhadas a ouro e construídas sobre inúmeros detalhes, as peças do escultor retratavam figuras e cenários sacros, com influências do barroco e do rococó. No entanto, a biografia de Aleijadinho rende discussões e questionamentos até hoje. Incluindo a legitimidade do acervo vinculado a ele. Sem provas documentadas de forma concreta, parte das obras recebe seu nome simplesmente por semelhanças com o estilo próprio do autor. “Na exposição, também temos alguns documentos e recibos assinados por ele. O público vai poder ver de perto e tirar as próprias conclusões”, comentou o curador da mostra. Novidades A mostra Berço do Barroco brasileiro e seu apogeu com Aleijadinho foi possível após apoio de colecionadores de várias cidades do Brasil. A exposição traz quatro obras inéditas para o público de Brasília. São elas: Cristo Bailarino, com 30cm. Foi entalhado por Aleijadinho em madeira com vestígios de policromia entre 1781 e 1790. Escultura de Nossa Senhora do Rosário, com 52cm, entalhada por Aleijadinho em madeira policromada. A peça, provavelmente, esculpida entre 1781 e 1790, foi atribuída ao artista ontem. Escultura de Nossa Senhora da Expectação, com 38cm de altura, entalhada sobre barro cozido, pelo Frei Agostinho de Jesus, ainda no século 17. Escultura de Nossa Senhora da Penha, com 42cm. A autoria é atribuída ao artista que carrega apenas o título de Mestre Ativo da Região de Sorocaba (SP). Há indícios de que ele seja discípulo de Frei Agostinho.

MÚSICA

FOLHA DE S. PAULO – Desconhecida no Brasil, banda goiana faz turnê mundial Boogarins toca som psicodélico hoje no festival South by Southwest e tem 60 shows marcados em dez países LÚCIO RIBEIRO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA (15/03/14) A história é muito boa e reflete o jeito que a nova música caminha hoje em dia. No meio dos milhares de bandas que estão tocando por estes dias no festival South by Southwest, em Austin, no Texas (EUA), está um quarteto goiano chamado Boogarins.

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O Boogarins, de um som que foge do tradicional sertanejo ou rock pesado goianos, e sim donos de uma neopsicodelia que os botam em rica sintonia mundial com grupos como Temples (Inglaterra) e Tame Impala (Austrália), anda se apresentando no SXSW desde anteontem. Foram duas apresentações dentro da programação oficial e outras em shows paralelos. Hoje, a banda toca num festival dentro do festival, o Seaport Music. Pode ser que você não conheça o grupo de Goiânia, mas tudo bem. Eles lançaram o primeiro álbum, "As Plantas que Curam", todo em português, há pouco mais de cinco meses. Só que nos EUA e Europa. Não no Brasil. Aqui ninguém se interessou. Mas um selo americano, sim. E mandou um contrato para eles antes mesmo de os meninos (o líder deles, Benke Ferraz, guitarrista, tem 20 anos) fazerem o primeiro show da vida como Boogarins, que até março nem existia como banda. Ao vivo eles tocaram poucas vezes fora de Goiânia. Mas nesta semana estão iniciando uma turnê mundial de 60 shows que vai envolver dez países e cidades como Liverpool, Milão, Amsterdã e festivais como o Primavera Festival, em Barcelona. Como pode? "Tudo é surreal", disse Benke, um dia antes de viajar para o Texas. "É muito bom fazer as coisas que a gente sempre sonhou em fazer. Só que seis meses atrás a gente não imaginava nada disso que está rolando hoje." "Quando a gente tocou, em outubro, em SP e São José dos Campos, já pensamos: Uau! Somos uma banda na estrada'. Imagina estar numa turnê dessas agora? Brasileiros que estão no exterior escrevem para dizer que estão escutando nossas músicas nas rádios de lá", afirma. O Boogarins atravessou etapas e caiu na malha da globalização musical porque, quando começaram a gravar um EP que derivou o álbum, Benke sentou diante do computador e mandou algumas músicas para blogs e selos de fora, pela internet. "Depois disso, chegou um email enorme para mim da Other Music Recording com uma proposta de contrato anexada. Ficamos naquela paranoia. Isso aqui é de verdade mesmo? Eu entrava no site da Fat Possum, que iria distribuir o disco, e via lá Iggy Pop, Black Keys. E ficava pensando: Bicho, como assim?'"

O ESTADO DE S. PAULO – Fundação propõe a músicos fusão de orquestras Conselho quer unir quadros da Ópera & Repertório e da Sinfônica Brasileira; proposta foi bem recebida pelos artistas João Luiz Sampaio (15/03/14) A Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) apresentou ontem à OSB Ópera & Repertório uma proposta de acordo para colocar fim às negociações sobre o futuro do grupo, que foi criado em 2011 para abrigar os 40 músicos que, na ocasião, se recusaram a fazer provas de reavaliação determinadas pela direção da orquestra. Segundo comunicado oficial, a fundação propôs a junção das duas orquestras – dando liberdade aos músicos da Ópera & Repertório para que não se apresentem sob regência do maestro Roberto Minczuk, titular da OSB. O Estado apurou que a proposta foi bem recebida pelos músicos – mas a decisão final ficou, de qualquer forma, para a semana que vem. Procurados, os representantes dos músicos da O&R não se pronunciaram ontem sobre a proposta, afirmando que qualquer anúncio nesse sentido será feito apenas após o fim das negociações com a fundação. Segundo o comunicado, a Fundação OSB sugere a “fusão integral entre os dois corpos artísticos, OSB e O&R”. “Os músicos provenientes da O&R ficarão sob o mesmo regime trabalhista dos músicos que hoje compõem a OSB: terão isonomia salarial, gratificações e mesma carga horária.” A fusão havia sido o objetivo da Fundação OSB desde o início, em especial pela tentativa de diminuir custos, maiores com a manutenção de duas orquestras independentes. O entrave, até agora, vinha sendo a resistência dos músicos da Ópera & Repertório em voltar a se apresentar sob a regência do

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maestro Roberto Minczuk, titular da OSB. Sobre isso, diz o comunicado: “Os músicos que mantiverem a decisão de não tocar sob a batuta do maestro titular comporão a orquestra quando ela for regida por maestro convidado ou em concertos de formação camerística. Todos os músicos terão a mesma carga horária ao longo do ano. A Fundação OSB deixa claro o seu desejo de unificar os dois corpos artísticos como medida importante para o crescimento, a qualidade musical da Orquestra e o equilíbrio financeiro da instituição”. Relembre o caso. No início de 2011, a Fundação OSB convocou os músicos do grupo para uma prova de reavaliação de desempenho. Cerca de 40artistas se negaram a fazer o teste – e a fundação, então, resolveu demiti- los por justa causa. O caso teve repercussão internacional e só foi resolvido com a formação de uma nova sinfônica, a OSB Ópera & Repertório, que abrigou os músicos que seriam demitidos durante duas temporadas. O acordo, porém, se encerrou em agosto de 2013.

FOLHA DE S. PAULO - Osesp abre temporada hoje com concerto transmitido pela web Apresentação na Sala São Paulo inicia a série 2014, comemorativa aos 60 anos da orquestra Sinfônica recebe pianista americano e contratenor na récita, que ficará disponível na internet por 30 dias JOÃO BATISTA NATALI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA A Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) abrirá de duas maneiras, hoje, às 21h, sua temporada de 2014, em que comemora 60 anos de sua fundação. Será o concerto para as 1.500 pessoas que estiverem na Sala São Paulo e, ao mesmo tempo, para aqueles que acessarem a internet. O concerto digital é uma bem-sucedida experiência de ampliação numérica do público. Foi utilizada pela primeira vez em agosto de 2011. Seguiram-se cinco outras transmissões, a última em outubro do ano passado. Segundo a Fundação Osesp, os concertos digitais já atraíram pouco mais de 40 mil pessoas. Além da transmissão simultânea, o programa fica disponível para ser ouvido e assistido em alta definição por 30 dias. Para hoje, a orquestra trará sua regente titular Marin Alsop, o Coro da Osesp, e, como solistas, o pianista americano Garrick Ohlsson e o contratenor paranaense Paulo Mestre. Farão a "Missa Brevis", do americano Leonard Bernstein (1918-1990), o "Concerto para Piano nº 2", do russo Sergei Rachmaninoff (1873-1943), e, do francês Camille Saint-Saëns (1835-1921), a "Sinfonia nº 3" (Órgão). São partituras que mexem com os sentimentos do público, sobretudo as de Rachmaninoff. Seu concerto não é o mais inovador ou o mais complexo dos quatro que ele nos deixou. Mas é o de maior beleza melódica, com temas tão espalhados por trilhas de filmes que poucos sabem que foi ele o compositor. A Osesp já se aqueceu em dois outros compromissos neste ano. Realizou duas récitas e gravou Villa-Lobos, com a regência de Isaac Karabtchevsky, e fez uma turnê por cinco cidades do interior paulista, dirigida por Roberto Tibiriçá. A turnê deveria trazer Marin Alsop, que no entanto ficou retida nos EUA por problemas familiares. Na semana que vem, ainda sob a direção de sua titular, a Osesp fará, de Prokofiev, a "Sinfonia nº 1" (Clássica) e a suíte "Ala e Lolli". E ainda o "Concerto para Violino nº 4", de Mozart, com o solista alemão Augustin Hadelich, e, "A Retirada de Laguna", do brasileiro Guerra-Peixe.

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Neste ano, a Osesp terá como artista em residência o pianista francês Jean-Efflam Bavouzet e, como compositor visitante, o escocês James MacMillan. Estreará também obras encomendadas aos compositores brasileiros Alexandre Lunsqui, Celso Loureiro Chaves, Egberto Gismonti, Ronaldo Miranda e Sérgio Assad.

VEJA – Pop com pão de queijo Vocalista do grupo mineiro Pato Fu, Fernanda Takai lança Na Medida do Impossível, disco no qual mostra que sabe fazer música popular e inteligente Sérgio Martins Vai aqui uma sugestão de empreendimento para Fernanda Takai: se ela lançar uma coleção de bonecas à sua imagem e semelhança, terá grandes chances de fazer sucesso no mercado de brinquedos. Meiga, de voz suave, com traços mezzo brasileiros mezzo orientais, a cantora mineira (por adoção: nasceu no Amapá) de 42 anos conjuga qualidades, que conquistam a admiração tanto da criançada (ela é mãe de Nina, 10 anos) quanto dos pais preocupados em dar passatempos de qualidade aos filhos — como Música de Brinquedo, disco do Pato Fu, a banda de Fernanda. A cantora, é verdade, não precisa de novos investimentos: sua carreira musical já está suficientemente consolidada para garantir a ela a liberdade criativa de lançar trabalhos que fogem do lugar-comum. Como vocalista do Pato Fu, grupo no qual atua ao lado do marido, o guitarrista John Ulhoa, do baixista Ricardo Koctus e do baterista Xande Tamietti, esteve sempre empenhada numa vertente experimental do pop. Há sete anos vem se aventurando em projetos-solo. Gravou um tributo à cantora Nara Leão, um disco ao vivo e um dueto com Andy Summers, ex-guitarrista do trio inglês The Police. Nesta semana, sai Na Medida do Impossível, mais um lançamento da carreira paralela de Fernanda. O repertório e os arranjos são diferentes dos que ela costuma apresentar no Pato Fu. Mas há um fio de ligação entre essas duas manifestações artísticas da cantora: são provas de que é possível fazer um pop criativo e acessível. Pop, óbvia abreviação de "popular" é um termo usado, em inglês, desde o início do século passado. Vulgarizou-se no fim dos anos 1950, como rótulo para a música de fácil assimilação. Já foi uma forma de depreciar canções e intérpretes tidos como representativos do mau gosto e da superficialidade — artistas tão diversos quanto Benny Goodman e Elvis Presley foram atacados com a palavrinha. Assim empregada, "pop" tinha as mesmas tintas do preconceito que rotulou de bregas as canções de artistas populares brasilei ros dos anos 1970. Hoje, no entanto, pop é um modo de definir genericamente toda música que se ouve nas rádios e que se baixa da internet e é um modo de definir grande parte da cultura contemporânea. "Você não pensa o pop, você o sente", diz o escritor Hanif Kureishi, que utilizou elementos da música pop em livros como O Álbum Negro. Greil Marcus, referência da cri tica musical, exalta o teor democrático do pop: "É uma discussão da qual todos podem participar". Tietê, na adolescência, da banda carioca Blitz ("eu tinha até carteirinha do fã-clube"), Fernanda Takai criou o Pato Fu ao lado de John Ulhoa e Ricardo Koctus em 1992 (Xande Tamietti entraria para o grupo quatro anos depois). Ao lado do Skank e do Jota Quest, o grupo encabeçou uma espécie de invasão mineira no pop brasileiro. "A nossa geração aprimorou a maneira de fazer música pop no Brasil. Ela ganhou contornos mais abrasileirados", diz Samuel Rosa, vocalista do Skank. No inicio do Pato Fu, o grupo fazia uma mistura às vezes esquisita de pop com experimentalismo. Fernanda então tinha raras oportunidades de mostrar seu talento como compositora. A situação se reverteu em Televisão de Cachorro (1998), quando o produtor Dudu Marote insistiu para que ela mostrasse suas músicas. Antes que Seja Tarde, que virou a canção de trabalho do álbum, fez sucesso. E, com ele, veio a segurança. "O Pato Fu saiu de uma coisa que estava na cabeça do John para virar algo mais coletivo", lembra Fernanda. Em 2007, ela lançou Onde Brilhem os Olhos Teus, projeto idealizado pelo jornalista Nelson Morta, com canções do repertório de Nara Leão. "Quando conheci Fernanda, achei que ela fosse uma espécie de Nara 2.0. Não só pelo grande uso que fazia de sua pequena voz no Pato Fu, mas pela sua inteligência musical, por sua grande inventividade", diz Motta. Na Medida do Impossível atira para várias direções e acerta em todos os alvos: tem o brega de Reginaldo Rossi, o sambão jóia de Benito di Paula e a jovem guarda de Leno. Pitty e Marina Lima fazem duetos com Fernanda. E há até uma canção do padre Zezinho, um compositor de pop católico da década de 70. Todo esse ecletismo é costurado por uma produção inspirada no pop inglês dos

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anos 1980 (em especial, Duran Duran e New Order), bem defendida por uma banda na qual se destacam a guitarra de John e o baixo do ótimo PJ, do Jota Quest. O repertório heterodoxo revela personalidade. "Não deixo de fazer algo porque alguém pode dizer que não gostou. Prefiro gravar e arcar com as críticas e os elogios", diz Fernanda, A participação do padre-celebridade Fábio de Melo em Amar como Jesus Amou, o tal hit religioso do padre Zezinho, causará estranheza nos fãs menos devotos. "Eu tocava nas aulas de religião da escola. Não sou de frequentar a igreja, mas gosto da ideia de a música servir como instrumento de uma mensagem positiva", diz a cantora. No mundo pop de Fernanda Takai, a única coisa que não tem lugar é o deslumbramento com a própria imagem tão comum aos artistas do género. 'Nesse meio, tem gente que vive no mundo da lua. Mas, pela minha formação familiar, eu sei quanto custam as coisas", diz ela. É uma bonequinha, essa Fernanda Takai.

O ESTADO DE S. PAULO - Guerra-Peixe é reavaliado no ano de seu centenario Para especialistas, compositor foi o maior orquestrador que o Brasil já teve João Marcos Coelho (17/03/14) Guerra-Peixe está sempre nos extras de concertos sinfônicos de orquestras brasileiras, sobretudo no exterior. Seu Mourão para cordas é matador. Mas ele é muito mais do que mero fornecedor preferencial de bis. “É o maior orquestrador que o Brasil já teve”, afirma com convicção o maestro Lutero Rodrigues, na passagem de seu centenário de nascimento (o compositor nasceu em Petrópolis em 18 de março de 1914 e morreu em 1993). Rodrigues tem se dedicado sistematicamente à pesquisa e execução de música brasileira, com destaque para o período em que dirigiu a Sinfonia Cultura. E vai mais longe ao responder a uma pergunta sobre o lugar de Guerra-Peixe na nossa música: “É um compositor da altura de Claudio Santoro, Camargo Guarnieri e Francisco Mignone”. A afirmação pode soar descabida, mas ele a mantém e acrescenta: “Ele compôs menos que os outros citados. Sua obra é pequena, justamente porque teve de sobreviver fazendo arranjos e música para rádio e cinema. Mas seu metiê era incrivelmente bom. Tinha uma metodologia de composição que invariavelmente dava resultado. Sua orquestração propicia um efeito sonoro surpreendente e ao mesmo tempo não apresenta dificuldades técnicas para quem toca”. Então, por que a imagem que temos dele, hoje, a um século de distância de seu nascimento, não é compatível com tamanho talento? Um pouco devido ao seu próprio temperamento, outro tanto pela renitente miopia das instituições musicais brasileiras, que teimam em adejar em volta dos mesmos nomes – Villa-Lobos maciçamente, claro, e pitadas de Guarnieri e Mignone. Agora mesmo, a Osesp, por exemplo, homenageia os 100 anos de Guerra-Peixe tocando esta semana em seus concertos de amanhã a sábado apenas dois movimentos que duram 10 minutos, de A Retirada da Laguna, obra de dez movimentos e 40 minutos de duração total. A vida criativa de Guerra-Peixe pode ser contada assim: ele começou obedecendo aos cânones europeus clássicos nos anos 30 enquanto ganhava a vida tocando em orquestras sinfônicas de vez em quando e diariamente em grupos populares; estudou com Hans Joachim Koellreutter, o introdutor no Brasil da música serial da Segunda Escola de Viena, a partir de 1944. Foi um serialista estrito, como se pôde ver ao vivo quando Lutero, há pouco tempo, regeu o Noneto com a Camerata Aberta em concerto. Perdeu a cabeça dodecafônica quando conheceu em 1949 os maracatus do Recife. Adotou como sua nova Bíblia o “Ensaio sobre música brasileira” de Mário de Andrade. Não chegou a conhecê-lo, mas se transformou no maior de seus seguidores. “Ele tinha a alma de pesquisador de campo. Chegava a morar nos lugares pra pesquisar, enquanto os pesquisadores de folclore eram de gabinete”, diz Lutero Rodrigues. Guerra-Peixe aceitou um trabalho como arranjador numa rádio do Recife só pra pesquisar aquele folclore incrivelmente rico. Voltou para o sul em 1959, quando morou em São Paulo. E assim construiu uma obra sui generis, em que se misturam sua longa e diversificada experiência na música popular urbana com a pesquisa de primeira mão do folclore (pesquisou até em Ubatuba, no litoral norte paulista). Primeiro produto nacionalista: Os Maracatus do Recife, de 1955. Cinco anos depois, compôs a Sinfonia Brasília e depois Museu da Inconfidência. Seguiram-se A Retirada da Laguna (1970) e Assimilações (1971). Em 1992 compôs, com bolsa da Fundação Vitae de São Paulo, Tributo

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a Portinari. Todas obras sinfônicas de porte, que mereceriam uma execução de alto nível neste ano de seu centenário de nascimento. O maestro Lutero Rorigues, que regeu muitas obras de Guerra-Peixe com a Sinfonia Cultura, confessa, porém, que não conseguiu ainda realizar o sonho de reger a Suíte Paulista, que considera usa melhor peça sinfônica. “Exige uma orquestração bastante ampliada. Que eu saiba, apenas o maestro Edoardo de Guarnieri a gravou junto com Ponteado na URSS com a Orquestra Estatal de Moscou, nos anos 50. Na época foi lançado um LP pela RGE”. O áudio está disponível no youtube. Aliás, santo youtube. Lá você pode ter uma ideia completa da arte única deste grande e pouco conhecido compositor brasileiro. De um originalíssimo arranjo sinfônico de Águas de Março a A Retirada da Laguna na íntegra em registro de 1971 regido pelo próprio Guerra-Peixe.

O ESTADO DE S. PAULO - Em ‘Vista Pro Mar’, a insustentável leveza de Silva Músico capixaba lança seu segundo trabalho, já à venda no iTunes Adriana Del Ré (19/03/14) A visão do mar como uma extensão da piscina do hotel foi inspiradora. Uma catalisadora de ideias já maturadas ao longo da turnê de Claridão, seu disco de estreia lançado em 2012. O músico capixaba Lúcio Silva, de 25 anos, passava férias em Miami, nos EUA, onde mora a irmã, quando se deparou com esse cenário à beira da piscina. Estava na companhia do irmão Lucas, seu parceiro de composição.

O cantor Silva

Na época, Silva – nome artístico de Lúcio – já planejava um novo disco, mais "ensolarado" que o denso Claridão, e Lucas, na mesma sintonia, sacou de imediato uma sugestão de título: Vista Pro Mar. E assim Silva batizou seu segundo trabalho, já à venda no iTunes e em formato físico a partir do dia 31 de março (Slap/Som Livre; R$ 24,90). Vista Pro Mar traz menos manipulação eletrônica que Claridão. Isso porque, desta vez, o cantor e compositor experimentou convidar outros músicos para participar de seu disco, ocupando guitarra, violão, trompete, trombone, saxofone, percussão e

bateria. O próprio Silva, multi-instrumentista, assume piano, violino, baixo, também guitarra e violão, além de sintetizadores, programação e vocais. Ficou audivelmente mais orgânico – mesmo que ainda tenha a presença de elementos eletrônicos. "Sou um pouco controlador, mas não é no mau sentido. É que sempre fiz tudo sozinho. Penso: ‘Será que o cara vai entender o que estou querendo?’. Rola essa insegurança", explica. "(Ter outros músicos) é algo que estou experimentando aos poucos." E quando ele diz "tudo sozinho", não é força de expressão. Claridão foi um disco de um homem só, completamente autoral. Silva produziu o CD em sua casa. "Sou um músico de quarto", brinca. Ele já havia atravessado uma jornada assim, solitária, durante a gravação de seu EP, com cinco canções, lançado em 2011. que o alçou à condição de ‘revelação’ depois do sucesso que o projeto fez na internet. No disco de estreia, foi o mesmo processo. Um pouco porque ele, que havia retornado ao Brasil após uma temporada na Irlanda, não conhecia muitos músicos por aqui. Um pouco porque ele estava – com a licença do bordão – em busca da batida perfeita. "Eu tinha referência de umas bandas gringas e queria, por exemplo, um som de bateria específico. Quando chegava a um estúdio normal, eu não conseguia ter aquele som", diz. "Comecei a ficar incomodado com aquilo. Imaginei: ‘Se eu fizer em casa, manipulando o som, consigo, ao menos, me aproximar mais da sonoridade que gosto. Foi uma saída boa". O show de Claridão seguiu a mesma formação de uma homem só – mais Hugo Coutinho na bateria. Foi um ano e meio fazendo shows, com passagem por Portugal. Aliás, foi no país que ele gravou

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Vista Pro Mar, em um estúdio indicado por Marcelo Camelo, e, em fevereiro, fez apresentação como convidado na final do programa Factor X. No tour, Silva foi testando, no palco e na raça, a matriz eletrônica de Claridão e percebeu que a introspecção de algumas músicas não funcionava tão bem ao vivo. "Fui mudando o repertório, porque é mais legal compartilhar alegria do que o tédio." Em paralelo, passou a ouvir músicas brasileiras que não conhecia tanto. Mergulhou no universo do pianista João Donato e sua sonoridade "alto astral". Todo esse histórico, mais a tal visão paradisíaca lá em Miami, era o que Silva precisava para chegar à leveza de Vista Pro Mar. O álbum reúne 11 canções, partindo da faixa-título, com uma batida dançante, em que Silva expõe seu espírito self-made man: ‘Eu sou de remar, sou de insistir, mesmo que sozinho/só vai se afogar, quem não reagir, mesmo que sozinho’. Entardecer inicia com um clima praieiro e finaliza numa levada reggae. Ainda soa como uma manhã ensolarada, com direito a som de passarinhos ao fundo. Já Okinawa tem participação especial de Fernanda Takai. "Sempre gostei do jeito dela: pé no chão e cuidadosa com a carreira." Silva engata nova turnê, com parada no dia 5 de abril, no festival Lollapalooza, em São Paulo.

LIVROS E LITERATURA

O ESTADO DE S. PAULO - O traço e as histórias brasileiras terão destaque na Feira do Livro de Bolonha Mais importante evento do mercado editorial infantil e juvenil presta homenagem ao Brasil entre os dias 24 e 27 de março Maria Fernanda Rodrigues

A ilustração que Roger Mello fez para o livro 'Meninos do Mangue' foi escolhida para a exposição de ilustradores brasileiros na Feira do Livro de Bolonha. Roger participa da abertura do evento, quando vai desenhar em uma parede ao lado de Ziraldo

(14/03/14) Cinco meses depois de ter sido homenageado na Feira do Livro de Frankfurt, que resultou no aumento de traduções de obras brasileiras para outras línguas, o Brasil desembarca em Bolonha na próxima semana para participar, também como convidado de honra, da Feira do Livro Infantil e Juvenil, o mais importante evento do gênero do mundo.

O investimento será mais modesto do que o feito para ir à feira alemã – R$ 1,1 milhão ante R$ 18 milhões –, mas o objetivo é o mesmo: apresentar a literatura brasileira para que o trabalho de nossos escritores e ilustradores esteja também disponível para leitores de outros países. Isso porque por muito tempo o Brasil foi visto como um bom comprador de direitos autorais, e os números nacionais (os reais e os potenciais) sempre impressionaram os editores estrangeiros. Um exemplo: só em 2013 o governo federal destinou R$ 86 milhões para comprar mais de 7 milhões de exemplares de livros infantis e juvenis para bibliotecas escolares. Mas agora as editoras brasileiras querem vender. Há 40 anos, o Brasil participa da feira com a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. De 2009 para cá, o Projeto Brazilian Publishers, parceria entre a Apex e a Câmara Brasileira do Livro para a internacionalização do setor, montam estande lá. Naquele primeiro ano, nove editoras foram à feira italiana. Agora, 39 editoras ocuparão um espaço de 160 m². Os negócios fechados lá ainda não são expressivos, e isso não desanima as editoras. Em 2013, segundo Karine Pansa, presidente da CBL, o País negociou US$ 273 mil – US$ 183 mil em direitos autorais e US$ 90 mil em venda de livro. Uma boa vitrine será o espaço de exposição aberto pela feira para o país homenageado. Lá, editores do mundo todo poderão conhecer o trabalho de 55 ilustradores brasileiros na mostra Incontáveis Linhas, Incontáveis Histórias. Se em Frankfurt a surpresa da abertura ficou por conta do discurso

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improvisado do vice-presidente Michel Temer e da fala histórica do escritor Luiz Ruffato, agora ela está nas mãos de Ziraldo, que será homenageado, e de Roger Mello. A eles será dada uma parede em branco e uma plateia. “Ainda não combinamos o que faremos, mas como seguidor e admirador vou me adaptar ao que o mestre fizer, diz Roger Mello, que ilustrou 100 livros para diversos autores, escreveu e ilustrou outros 22, que está prestes a completar uma dezena de obras lançadas no exterior e foi indicado pela terceira vez para concorrer ao Prêmio Hans Christian Andersen na categoria ilustrador. Joel Rufino dos Santos concorre como escritor e os vencedores serão conhecidos lá. Na feira, também serão anunciadas as seis melhores editoras do mundo – a carioca Pallas é a única brasileira no páreo. A comitiva nacional é composta por Angela Lago, Ciça Fittipaldi, Eliardo França, Marilda Castanha, Marina Colasanti Sant’Anna, Nelson Alves da Cruz, Roger Mello, Rui de Oliveira e Ruth Rocha. Outros três convidados oficiais não vão poder ir, mas os corredores da feira estarão repletos de escritores e autores levados por suas editoras. A ministra da Cultura Marta Suplicy, que vai à feira, conta que está impressionada. “Vi o catálogo que vamos distribuir e é de capotar. Fiquei surpresa com a diversidade, qualidade e criatividade. Quando apresentamos um trabalho desse nível, não vendemos apenas o livro, mas também o ilustrador que pode ilustrar em qualquer lugar do mundo”, diz ao Estado. Roger Mello que o diga. Na feira, ele autografa o livro que ilustrou para o chinês Cao Wenxuan, ainda inédito no Brasil, e se prepara para lançar outras cinco obras na China. Além da mostra, haverá conversas com escritores e ilustradores e, claro, compra de direitos autorais de livros a serem editados aqui.

O GLOBO – Uma crônica da favela Com documentário inédito no Brasil, Instituto Moreira Salles comemora 100 anos de Carolina Maria de Jesus, catadora de papel que virou best-seller nos anos 1960 com ‘Quarto de despejo’, diário sobre sua vida no Canindé, em SP Maurício Meireles Uma catadora de papel que virou best-seller, vendendo 80 mil livros no Brasil e sendo traduzida para 15 idiomas. É essa a história da escritora Carolina Maria de Jesus, que publicou, em 1960, “Quarto de despejo — Diário de uma favelada”, relato de seu dia a dia na favela do Canindé, em São Paulo. Colocada por décadas no meio de um debate sobre se teria valor literário ou de mero documento sociológico, Carolina completaria 100 anos hoje — a data de seu nascimento é incerta, mas ela foi registrada como tendo vindo ao mundo no dia 14 de março de 1914. Para comemorar, o Instituto Moreira Salles (IMS) promove, a partir das 20h, o evento “Carolina é 100”, com exibição do documentário alemão “Favela — A vida na pobreza” (1971), seguida de um debate com o jornalista Audálio Dantas e a pesquisadora do departamento de Letras da Unicamp Marisa Lajolo.

Periferia. Da esquerda para a direita: Carolina Maria de Jesus, Audálio Dantas e Ruth de Souza na Favela do Canindé

O filme de 16 minutos é inédito no Brasil. Dirigido por Christa Gottman-Elter, ele foi localizado pelo IMS em uma cinemateca do interior da Alemanha e precisou ser restaurado e legendado. A especulação dos pesquisadores que o localizaram é que tenha havido uma articulação diplomática nos anos 1970 para impedir sua exibição, porque mostrava a pobreza do Canindé — justo em um período em que a ditadura militar procurava esconder os problemas sociais do

país. Nele, é possível ver Carolina catando papel e contando de seu hábito, já automático, de olhar

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qualquer lata de lixo. Entre outros relatos, ela fala da dificuldade para alimentar os filhos e confessa sentir inveja ao ver uma vizinha catando feijão. — Carolina tinha uma personalidade muito forte. A obra dela tem tanto interesse como documento quanto do ponto de vista da criação. Ela descrevia seu dia a dia com muita força, com interpretações inteligentes — afirma Audálio Dantas. Foi ele quem descobriu Carolina, em 1958, quando trabalhava na “Folha da Noite”. O jornalista fazia uma reportagem sobre a vida na favela quando se surpreendeu com uma mulher ameaçando os vizinhos de incluí-los em um livro. Ele se aproximou e pediu para ver o tal livro. Ao chegar no barraco de Carolina, pôde ver as anotações feitas pela mulher em cadernos — vários deles catados no lixo. Mais tarde, Audálio descreveu o cotidiano dela: “Se tem pão, come e dá aos filhos. Se não tem, elas choram, e ela chora também. O pranto é breve, porque ela sabe que ninguém ouve, não adianta nada”. Carolina Maria de Jesus nasceu no interior de Minas Gerais. Como tantos moradores do campo, ela foi para São Paulo tentar a vida. Chegou a trabalhar como doméstica, mas acabou tirando uma parte de seu sustento do livro. Além da necessidade de expressar os fatos de sua vida, Carolina pensava em escrever um livro para vender. E deu certo. “Quarto de despejo” conquistou escritores como Clarice Lispector e Jorge Amado, entre outros. A obra chegou a ser adaptada para o teatro, com Ruth de Souza no papel da escritora. — Carolina virou uma celebridade, meio uma Cinderela. Ela era consumida como uma fruta estranha pelas classes média e alta. Muita gente das altas rodas a convidava para jantar, a fim de exibi-la. E acho que ela não tinha consciência disso. Depois, ela foi abandonada — recorda Audálio Dantas. FRACASSO EDITORIAL NO FIM DA VIDA Dois anos depois de “Quarto de despejo”, Carolina publicaria “Casa de alvenaria — Diário de uma ex-favelada”, com relatos sobre sua vida depois da fama. Dela, ainda sairiam livros de poesia e um livro de provérbios — mas todos foram um fracasso editorial. E ela morreu, em 1977, pobre como no começo de sua carreira literária, num sítio que havia comprado com o dinheiro da primeira obra. Ela havia deixado de ser novidade. O fato de circular nas altas rodas causava um quê de admiração, mas também de preconceito. Em março de 1961, por exemplo, a “Tribuna da Imprensa” ironizava os sapatos de bico fino e as roupas elegantes da escritora. “Fazendo o papel de ‘vedete’, a ex-humilde cronista da miséria urbana tratou com superioridade o próprio governador”, reclamava o jornal. — Acho que nos anos 1960 a literatura deixou de ser uma coisa de gabinete e passou a ser de mídia. Mas a mídia vai por ondas. Acredito que Carolina jamais tenha aceitado cumprir o papel que queriam dar a ela — afirma Marisa Lajolo. — Hoje há uma aceitação maior na universidade de obras como a dela. É uma corrente que vai contra uma perspectiva mais monolítica do que é literatura. Não à toa, hoje a antologia poética de Carolina Maria de Jesus é publicada pela editora da UFRJ. Seus dois primeiros livros, por sua vez, são publicados pela editora Ática. Dois dos 37 cadernos manuscritos da autora estão no IMS, e o resto, na Biblioteca Nacional.

O ESTADO DE S. PAULO - Obra de Snege volta ao mercado após longo hiato Por iniciativa da família, livros do paranaense, cultuado por seus pares, estão à venda em livraria de Curitiba Guilherme Sobota Alguns livros de Jamil Snege (1939-2003), escritor curitibano ‘cult’, estão novamente à venda. Fora de catálogo há mais de uma década, a inventiva ficção do autor conquistou leitores, mas enfrentou dificuldades de circulação. Seus livros podem agora ser encontrados na Livraria Arte e Letra. Os títulos à venda pelo site são a novela Viver é Prejudicial à Saúde (1998), a coletânea de contos O Jardim, A Tempestade (1989) e as poesias de Senhor (1989). A livraria também tem exemplares de Como eu se Fiz por Si Mesmo (1994) e Como Tornar-se Invisível em Curitiba (2000).

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Personagem singular da literatura produzida em Curitiba, Jamil foi uma espécie de guru para escritores como Cristovão Tezza e Miguel Sanches Neto, e fez parte de uma geração importante de escritores da cidade, como Valêncio Xavier, Wilson Bueno e Manoel Carlos Karam, além do próprio Dalton Trevisan . Snege nunca chegou a ser publicado por uma grande editora fora de Curitiba, em parte por vontade própria. Mesmo assim, seus livros atingiram leitores de outra regiões do Brasil, como os escritores Marçal Aquino, Nelson de Oliveira e Joca Reiners Terron, admiradores confessos da obra de Snege. O escritor pernambucano, radicado em São Paulo, Marcelino Freire, gosta tanto de Snege que dedicou seu livro Rasif (2008) ao curitibano. "Um dos livros que mais impressionaram de imediato foi a novelinha Viver É Prejudicial à Saúde", diz Freire. "A linguagem, o humor, as frases certeiras do Jamil me fascinaram – e sempre são motivo de admiração e inspiração." Foi Snege quem apresentou Marcelino à Boca Maldita, espaço tradicional de discussões políticas (e filosóficas) no centro de Curitiba. "Estar com Jamil era, de alguma forma, estar ao lado da lenda que é o Dalton Trevisan, seu amigo e parceiro. Sempre divulgo os livros do Jamil em minhas oficinas de criação literária. Essa notícia de que os livros dele voltarão a circular me anima." "Quando li o Jamil pela primeira vez, de cara percebi que se tratava de um grande amante da palavra e da ironia", comenta outro grande fã da obra de Snege, o escritor Luís Henrique Pellanda. "Jamil era o dono preguiçoso de uma linguagem doce e perfeita, e que ele às vezes maltratava, como um pai afetuoso que, irresponsável, abandona o lar dia sim, dia não", conclui o autor do recém- lançado Asa de Sereia (Arquipélago), reunião de crônicas líricas e densas que tem o centro de Curitiba como palco principal. Publicados sempre por conta própria ou por editoras locais, antes da nova iniciativa, os livros de Jamil Snege eram encontrados apenas em sebos, e livreiros pediam até R$ 500 por um único exemplar. Publicitário para ganhar a vida, Jamil publicou onze livros, de vários gêneros: da autoficção ao ensaio sociológico, passando pela poesia e pelo conto. Como eu se Fiz por Si Mesmo (Travessa dos Editores, 1994) é o seu livro mais conhecido. Autoficção produzida num tempo em que o gênero ainda não era amplamente explorado no Brasil, o livro conta a vida agitada do curitibano, que passou pelo exército, foi jornalista, boêmio, intelectual frequentador das rodas de conversa na Boca Maldita e pai de família. Snege faleceu em 2003 em decorrência de um câncer de pulmão. Um imbróglio judicial envolvendo familiares e herdeiros do autor ainda impedem novas edições de sua obra.

EL PAÍS (ESPANHA) - Nueva literatura brasileña: Joven, blanca, urbana y de clase media La última generación de escritores brasileños se distancia del exotismo y cultiva una narrativa cosmopolita y global Cecilia Ballesteros

Última edición de la Feira do Livro de Frankfurt.

(18/03/14) Si hubiera un hastag del escritor brasileño menor de 40 años sería varón, blanco, urbano, cosmopolita e indiferente a una realidad social de contrastes brutales. “Este es un país muy desigual”, dice Antonio Prata (São Paulo, 1977), cuyas historias, que compagina con colaboraciones en el diario Folha de São Paulo y con guiones para televisión, están ambientadas en su ciudad natal y reflejan en cierta manera el ascensor social de una de las megalópolis del planeta. “Si vas a un concierto en la Sala São Paulo, no verás ningún negro entre el público. En toda mi vida escolar,

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nunca tuve un compañero negro, aunque gran parte de la población lo sea. Solo se dedica a la literatura aquel que está alfabetizado y la mayoría son de clase media para arriba y viven en las grandes ciudades. Hay, claro, excepciones como en todo. Tal vez el libro más importante de los últimos 20 años sea Ciudad de Dios, de Paulo Lins: es negro y viene de la periferia". Si como dijo el crítico literario Antonio Candido en el prólogo del famosísimo Raíces de Brasil (Fondo de Cultura Económica, 1955) de Sérgio Buarque de Holanda, una generación se caracteriza porque “sus miembros se ven al principio diferentes unos de otros y, al poco tiempo, van pareciéndose tanto que acaban desapareciendo como individuos”, está claro que se puede hablarse de una nueva literatura entre los nacidos después de los años 70, muy alejada del regionalismo y del costumbrismo de sus mayores, de moda tras la independencia del país. A despecho del cliché del exotismo, la diversidad y la multietnicidad asociadas con el gigante suramericano, la nueva narrativa brasileña podría estar ambientada en París, Londres y Madrid y, de hecho, lo está. “Aunque si escribir historias ambientadas en otros países fuese un problema, Shakespeare no existiría”, asegura Carola Saavedra (Santiago de Chile, 1973) una de las escritoras jóvenes más premiadas. Prata y Saavedra son dos de los nombres más interesantes del panorama actual en el que estarían entre otros João Paulo Cuenca (Rio de Janeiro, 1978), Christiano Aguiar (Campina Grande, 1981), Luisa Geisler (Canoas, 1991), Emilio Fraia (São Paulo, 1982) o Laura Erber (Rio de Janeiro, 1979), varios de ellos señalados como estrellas emergentes por la edición que la prestigiosa revista británica Granta dedicó a Brasil y algunos participantes en la última Feria de Francfort en la que el país fue el invitado principal. “Hay un gran deseo de distinguirse y de alejarse de la generación anterior”, dice Cuenca, elegido como uno de los 39 mejores escritores latinoamericanos menores de 40 años por el Hay Festival de Colombia y autor, entre otras, de Cuerpo presente (Ed. Planeta, 2002) o La última madrugada (Ed. LeYa, 2012), y que compagina la fascinación por la cultura japonesa con el compromiso social e incluso llegó a promover en Internet el derecho de manifestación tras las protestas de junio de 2013. “No soy el único que piensa así, lo que pasa es que el resto de mis contemporáneos no son tan sinceros como yo, son mucho más políticos en el peor sentido de la palabra”, apunta con su perfecto español (su padre es argentino) salpicado de palabras cariocas. Con cinco obras publicadas y varias traducidas, el universo literario de Cuenca se mueve entre la ciencia ficción y la novela negra, entre Philip K. Dick, Allan Poe, Murakami y Orwell, entre la obsesión por las redes sociales y las nuevas tecnologías y los escritores cariocas del siglo pasado, aunque ahora la frontera entre la realidad y la ficción se ha borrado. Su próxima novela, que saldrá este año, se titula La muerte de J. P Cuenca y tiene un aire autobiográfico con reminiscencias de El tercer hombre, el clásico de Carol Reed. “Ocurrió en 2008, cuando la policía descubrió un cadáver en un edificio ocupado en el centro de Río. Llevaba mis documentos de identidad y mi partida de nacimiento. A partir de ahí, contraté a un detective y reconstruí la historia como una trama policial”, dice el autor de El único final feliz para una historia de amor es un accidente (Lengua de Trapo, 2012) “ Pluralidad es la palabra clave cuando se habla de estéticas contemporáneas”, asegura Christiano Aguiar que, con un solo libro de cuentos (Al lado del muro, Ed. Dinâmica, 2006) sacudió la escena literaria brasileña, ganando el premio Osman Lins de cuentos al año siguiente, y ahora prepara varios ensayos sobre sus contemporáneos. “Las grandes ciudades son el escenario privilegiado de nuestra ficción, aunque algunos escritores también abordan los temas rurales o el interior. Cada vez con más frecuencia, se mezcla la erudición con géneros considerados menores como la fantasía, el horror o la ciencia ficción. En cambio, resulta menos importante el compromiso con la indagación y la creación de una identidad nacional, al menos si nos comparamos con generaciones anteriores”, concluye. Esa literatura ciudadana dominada, como en otros países, por la llamada autoficción, la mezcla de géneros, el auge del cuento, que tiene una larga tradición, y la narrativa fragmentada y episódica propia de las redes sociales, no solo elude el compromiso, característico de la llamada generación 90, surgida en esa década, con nombres como Luiz Ruffato o el propio Lins tras la dictadura militar entre 1964 y 1985. También rechaza una rica tradición literaria centenaria y vive en la lucha entre identidad y cosmopolitismo, signo de los tiempos, sobre todo en los países emergentes y Brasil lo es, con el 75% de su población viviendo en ciudades de más de un millón de habitantes. “Ya hubo una gran ruptura en los años 70, que cerró un ciclo más o menos clásico de la ficción y la poesía del siglo XX”, dice Cristovão Tezza, que por edad (61) y obra (su libro El hijo eterno, por ejemplo, publicado en

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2007) es ya casi un clásico. “En los años 80 y 90, entró en una especie de hibernación con una generación intermedia que aportó nuevos caminos, pero fue una transición. La característica de la nueva literatura es su ruptura con la tradición clásica. Refleja rotundamente la nueva realidad económica, política y social de Brasil. Hoy, el país es profundamente urbano e intenta dialogar con la realidad internacional”, asegura. A ese proceso habría que sumar la aparición de una clase media de 40 millones de personas, la llamada clase C, inexistente hasta apenas una década, que demanda un mayor bienestar y cuya vitalidad contrasta con impotencia con la que los políticos se enfrentan a las crecientes protestas sociales. “Esta tendencia universalista y cosmopolita no tiene por qué ser vista como algo negativo, pérdida de identidad o algo semejante. Simplemente, las exigencias de hoy son otras”, apunta Tezza. Muchos críticos sostienen que la mejor literatura que ahora se escribe en Brasil es la femenina, más trimidimensional y compleja, más destroyer a la hora de romper tabúes. Hay pioneras como Claudia Tajes (Porto Alegre, 1963) cuyas novelas (Vida dura, Loco por los hombres o La vida sexual de la mujer fea) son una disección de la sexualidad brasileña, teñida de humor, o Beatriz Bracher (São Paulo, 1961) con No hablé, sobre un profesor torturado durante la dictadura militar, que han abierto camino a las más jóvenes: Carol Bensimon (Porto Alegre, 1982), Tatiana Salem Levy (Lisboa, 1979), admirada por el británico Ian Mc Ewan, premio São Paulo de Literatura en 2008, o la propia Saavedra cuyo libro Flores azules (Ed. Companhia das Letras), una especie de resurrección del género epistolar en pleno siglo XXI, fue elegido también en 2008 como el mejor por la crítica paulista y que publicará a finales de marzo El inventario de las cosas ausentes. “No veo diferencias en cuanto a la calidad de la escritura ni en cuanto a la visibilidad, aunque sí en los premios literarios donde la proporción acostumbra a ser de ocho hombres por dos mujeres”, dice Saavedra. “Estamos en un momento óptimo. No porque la literatura sea mejor ahora que hace 20 años, sino porque es una época bastante favorable a los autores, se publica más e incluso hay incentivos a la traducción. Pero debemos lidiar con un problema muy serio que es la falta de lectores. Y para eso sería urgente un cambio de todo el sistema educativo del país”.

EL PAÍS (ESPANHA) - Machado de Assis nunca estuvo tan de moda Aunque sea difícil de rotular, es posible percibir algunas tendencias que están en voga en la literatura brasileña Marina Rossi (18/03/14) Para diferenciarse de la literatura europea, la novela brasileña, que comenzó a surgir en la primera mitad del siglo XIX, tenía una gran dosis de regionalismo, nacionalismo, exaltación de la tierra y de la naturaleza de un país que acababa de declarar su independencia. Aunque ese regionalismo siga permeando la literatura brasileña a través de los siglos, es difícil apostar ahora por un rasgo específico de la literatura que se produce en el país. Sin embargo, sí pueden vislumbrarse ciertas tendencias que ocupan mayor espacio en las estanterías de las librerías. Algunos de los escritores de la generación nacida alrededor de la década de 1960 (la llamada generación 90 porque comenzaron a publicar en esos años) tienen, por ejemplo, algunas señas de identidad definidas por las experiencias vividas durante la dictadura (entre 1964 y 1985) que están presentes en muchas de sus obras. "Vivimos toda nuestra juventud bajo el régimen militar. Y parte de esa experiencia influyó en nuestra literatura", afirmael escritor Milton Hatoum, natural del Estado de Amazonas y de 61 años, autor de Dos hermanos, elegido por el periódico Correio Braziliense como la mejor novela de los últimos quince años, y Cenizas del Norte, vencedor del premio Portugal Telecom de Literatura. Un ejemplo que ilustra bien la teoría de Hatoum, es la celebrada El hijo eterno (2007), deCristovão Tezza. En la novela, que recibió los premios São Paulo de Literatura, Portugal Telecom y Jabuti, Tezza narra su propia historia, ambientada cuando era treinteañero y vivía en plena dictadura. Al protagonista le pilla por sorpresa el embarazo de su esposa. Y la sorpresa se hace mayor cuando descubre que su hija tiene síndrome de Down. Entre la militancia política y sus inicios como escritor, el autor narra - y sin ninguna autocensura - las dificultades reales de aceptar y convivir con una niña que padece esa enfermedad.

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Mezclar la propia historia con la ficción es, de hecho, otra tendencia, la autoficción, que combina datos biográficos del autor y otros elementos para construir la narrativa. Es un estilo que aparece en diversos libros, no solo de autores brasileños, sino también de otros países. Pero los novelistas brasileños no solo hablan de sí mismos. “Aunque ese estilo esté ahora de moda en muchos países, incluido Brasil, creo que lo que caracteriza a nuestra literatura contemporánea es la diversidad. No hay un camino único en este momento”, dice Luiz Ruffato, de 53 años, columnista de la edición brasileña de El Pais y autor de Estuve en Lisboa y Me acordé de ti (2009). Para el escritor pernambucano Marcelino Freire, de 47 años, autor de Cuentos Negros (2005), vencedor del premio Jabuti, la autoficción, incluso siendo tendencia, no es una novedad. "Se habla mucho de eso, pero creo que es una tontería, porque cuando un escritor escribe, muchas de sus vivencias están en su obra”, dice. "No hay más que pensar en Clarice Lispector, con La hora de la estrella, por ejemplo o, en Franz Kafka, con La metamorfosis". Coincide con Freire, el periodista, crítico de literatura y columnista del periódico Folha de S. Paulo, Manuel de la Costa Pinto. En su opinión, la autoficción es un rasgo marginal dentro del panorama general. Pero es complicado apuntar tendencias en literatura que abarcarían muchos otros aspectos. "Es muy difícil trazar una tendencia de lo que sucedió en los años 50 y 60, cuando la prosa brasileña se urbanizó, por un lado con Clarice Lispector y Lúcio Cardoso. Y por el otro, la novela urbana que incide más en la cuestión de las ciudades y la marginalidad. Eso sí fue algo homogéneo". Para él, la urbanización de la literatura brasileña es, esa sí, una característica notable de las novelas publicadas en las últimas dos décadas. "La urbanización del imaginario de la literatura brasileña es un fenómeno reciente - sin embargo irreversible”, escribe Pinto en su celebrado Paisajes interiores y otros ensayos (2012). La generación 90, además de los resquicios de haber vivido bajo un régimen dictatorial, tiene también la periferia decadente de São Paulo como epicentro, “con una evidente fascinación por lo periférico”, dice. Además de la diversidad, la autoficción y la urbanización de la novela, otra característica que puede apuntarse como tendencia, y de las más modernas, es la concisión. La moda de los 140 caracteres, obra de Jack Dorsey con Twitter, retoma algo que ya se hacía antes de Cristo. “La concisión existe desde hace siglos”, dice Freire. “La Biblia está dividida en versículos y ninguno de ellos tenía más de 140 caracteres. Eso viene de su raíz oral, anterior a la escritura, y para facilitar su memorización, tenía que ser corta”, explica. Otro ejemplo de que la brevedad puede estar de moda, pero no es algo de hoy, es Machado de Assis (1839-1908) que, en el siglo pasado ya escribía, entre otras cosas, sus microcuentos. “ te das cuenta de lo moderno que era Machado de Assis?”, dice Freire, arrojando luz sobre otra tendencia. “Lo que yo creo que siempre será nuevo y, a la vez, viejo en la literatura es el dolor. Cada uno sabe lo que le duele.. El dolor de Dostoiévski es el mismo que aparece en mi literatura, lo que difiere es la mirada de cada uno”. La literatura como amante Además de teorías sobre lo que está o no de moda, hay un factor palpable que marque la diferencia con la generación 90: la profesionalización de la literatura/ "Mi generación fue la primera que vio como era posible ganarse la la vida escribiendo", dice Ruffato. El escritor atribuye algunas coincidencias a ese hecho. La primera, una explosión de ferias de libros y festivales literarios desde principios de este siglo. La Feria Literaria Internacional de Paraty (FLIP), por ejemplo, surgió en 2003 como el mayor evento literario del país y es desde entonces el marco de esos nuevos tiempos. Otro factor importante para la profesionalización de las letras es el surgimiento de los premios literarios, que pasaron tener dotación económica y no solo trofeos. “No sirve de nada tener prestigio, porque eso no llena la panza de nadie. Lo importante es que tenga un valor económico. Y ese cambio de estatus es muy importante para nosotros”, dice Ruffato, que fue periodista antes de dedicarse íntegramente a su carrera de escritor.

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Ruffato explica que ese conjunto de factores fue fundamental para que la literatura se coinvirtiera en una prioridad y no en una segunda opción de vida. “Empezamos a creer que la literatura no tenía por qué ser la segunda cosa importante en la vida. Es como tener una amante, tienes una mujer en casa y la soportas, pero te dedicas y amas de verdad a tu amante. Descubrimos que la literatura puede ser nuestra mujer y nuestra amante a la vez".

GASTRONOMIA

ESTADO DE MINAS - Café com terroir para os EUA Paulo Henrique Lobato Cafeicultores de 55 municípios do Alto Paranaíba e do Triângulo Mineiro vão aproveitar a maior feira de cafés especiais do planeta, que ocorre de 24 a 27 de abril, em Seattle, nos Estados Unidos, para promover, oficialmente, o lançamento internacional da Denominação de Origem Região do Cerrado Mineiro (DOC), reconhecida no fim de dezembro. A região é a única do país a ter esse certificado para o grão. Na prática, o documento atesta que a área, conhecida por produzir o café do cerrado, é especializada numa mercadoria de qualidade inquestionável, a exemplo do que ocorre na França com o terroir dos vinhos produzidos em Bordeaux e os espumantes de Champagne. Os americanos são grandes consumidores de café especial e a feira, acreditam os produtores do cerrado, é uma excelente oportunidade para a ampliação das exportações. “Vamos apresentar para o público seleto, que estará na Associação Americana de Cafés (SCAA, na sigla em inglês), o propósito da região do cerrado mineiro, entendendo que o mercado mundial de café está em crescimento e em transformação, influenciado diretamente por novos consumidores, mais exigentes e conscientes”, comemora Juliano Tarabal, superintendente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado. Ele acrescenta que a estratégia da entidade será atuar em várias frentes do evento, buscando atingir torrefadores e outros segmentos do setor. “Um novo mundo do café está surgindo, um mercado que demanda novas maneiras de pensar e agir, de produzir e de fazer negócio para conquistar valorização e reconhecimento”, disse Tarabal. A DOC beneficia cerca de 4,5 mil produtores dos 55 municípios do cerrado mineiro, onde são colhidas, anualmente, cerca de 5 milhões de sacas de 60 quilos cada. Neste ano, porém, a safra deve ser menor, devido à estiagem prolongada que atinge todo o país. Há produtores que perderam mais de 30% da lavoura. Na última semana, a Organização Internacional do Café (OIC) estimou que o Brasil deixará de produzir cerca de 2 milhões de sacas no biênio 2014/2015, em razão da seca. Uma das formas de amenizar a perda é justamente investir em café especial, cujo preço, em média, é 30% superior ao tradicional. As lavouras campeãs em concurso de grãos de qualidade, contudo, conseguem preços com percentuais ainda maiores, acima de 5.000%. CONSUMO O mercado de café especial vem ganhando corpo em todo o planeta. A Brazil Specialty Coffee Association (BSCA) estima que o consumo dos grãos especiais cresce de 10% a 15% ao ano. Já o do café tradicional aumenta entre 2% e 2,5% a no mesmo período. É bom deixar claro que toda lavoura, se bem tratada, tem condições de oferecer grãos de boa qualidade. No cerrado mineiro, o trato com a plantação garante boa renda aos produtores. A feira nos Estados Unidos é um grande passo para a consolidação dos grãos da região no mercado internacional. Essa é a avaliação do analista técnico do Sebrae Minas Marcos Geraldo Alves da Silva, que participou do projeto para que a região do cerrado conseguisse o certificado de denominação de origem.

CARTA CAPITAL Cachaça de pedigree As múltis descobrem a aguardente do Brasil. Aqui produtoras ainda lutam contra o preconceito Por Nirlando Beirão

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Escolha aí um jeito de impregnar a cachaça com o resistente rótulo do preconceito: pinga, mardita, canjebrina, golo, mé, goro. O máximo de simpatia é chamá-la de caninha, ou então de paraty, citando uma duvidosa procedência geográfica. Quando andou por aqui o viajante francês Auguste de Saint-Hilaire, no século XIX, "a aguardente do Brasil" já carregava a má fama de bebida do povão, de desocupados e desordeiros. Quem não se lembra do simplório Larry Rohter, desastrado ex-correspondente do New York Times? Quando quis atacar Lula, na voz emprestada de alguns adversários dele, sugeriu que o então presidente abusava da caninha. Se fosse champagne Cristal, tudo bem - é o que parece. Como sempre jornalistas podem ser os últimos a entender. A cachaça, agora abordo do certificado oficial da Organização Mundial do Comércio que a distingue do rum, outro destilado de cana-de-açúcar, começa a ficar chique fora do Brasil. Acultura dos coquetéis, antes uma vocação americana, espalha-se até mesmo pela Europa dos vinhos finos e dos vetustos conhaques, e as caipirinhas e similares invadem as cartas de drinques pelo mundo afora. Um dia, quem sabe, a caninha ainda há de ser chique até no Brasil. Esse dia pode estar mais perto do que parece, sugere Guto Quintella, ex-diretor da Vale e do BTG Pactual, hoje às voltas com um nobre capricho. De uma fazenda de café do século XIX em Mococa, norte de São Paulo, ele administra um tesouro artesanal chamado Da Tulha. A produção é pequena: 600 mil garrafas por ano. "Não tenho pressa", diz Quintella. Tampouco em compensar de imediato o investi mento: o preço da garrafa, na gôndola, é de 25 reais. Mas Quintella está investindo numa tendência: na contramão da massificação, a aposta nas edições especiais, cada ano com blend original, envelhecimento em diferentes tipos de madeira, cana cortada à mão, alambiques de cobre procedentes de velhas destilarias de Minas. Ah, e o requinte final do rótulo à afeição de um Château Mouton: rótulos assinados (a sexta edição especial, de 2013, mix proposto exclusivamente por mulheres, ganhou rótuIo da artista Le da Catunda). "Uma grappa de garagem, para o paladar de conhecedores", define Quintella. "É um risco, mas estou preparado para o jogo." O jogo, na verdade, tem seus momentos de cacife muito alto. Quintella sabe disso. O mesmo fenômeno que busca upgrade e prestígio para a cachaça por meio de destilarias artesanais muda de figura quando se verifica que conglomerados multinacionais gigantes de bebidas de qualidade já desembarcaram aqui para incluir nossa eau de vie em seus copiosos portfólios. A Diageo, do Johnnie Walkere da Smirnoff, por exemplo, presente em 180 mercados pelo mundo afora, já administrava a marca Nega Fulô, de Nova Friburgo, RJ. Cachaça de prestígio, com versão for export, a Fulô Ipê é assinada pelo mestre cachaceiro Vicente Ribeiro. Em agosto de 2012,a Diageo adquiriu a Ypióca, musculosa indústria instalada em Maranguape, no Ceará, com 167 anos de história. Aí já é outra história: a Ypióca produz 7 milhões de caixas por ano. A exportação, por ora, não chega a 1%, embora tenha crescido 64% em um único ano. Mas ao aprimorar seu elenco premium fica claro que a Diageo tem planos de agregar glamour - e, claro, valor - a um nicho além da linha industrial de produção. "O grosso do consumo não é coquetel, é a cachaça pura", conta Eduardo Bendzuis, diretor de marketing e vendas da Ypióca. A marca busca cativar, primeiro, o próprio consumidor nativo, convencendo-o de que a bebida nossa de todos os dias está no patamar de um belo scotch, acima da tequila e do rum. "O preconceito está acabando", diz Bendzuis. Para reforçar esse reconhecimento, ainda que tardio, a Diageo partiu para os rótulos Ouro Reserva Especial e Prata Reserva Especial, sempre sob o lema Brasilizar - com John Travolta provando, no comercial, nossa caninha. O americano Steve Luttmann, procedente, da grife de luxo LVMH, e mais dois sócios miraram preferencialmente no mercado americano para enfeitiçá-lo com o que pretendiam que fosse o estado da arte da cachaçaria. Em 2005, a partir de uma destilaria de Patos de Minas e a expertise de Gilles Merlet, mestre francês na alquimia do conhaque, nascia a Leblon, que só em 2007 ingressou- em doses homeopáticas - no mercado local. Até então, a Leblon só circulava nas pérgolas dos Hamptons.

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Se existe lógica nessa loucura é: a cachaça já é, em consumo, o terceiro destilado do mundo, perdendo apenas para a vodca e o coreano shoju. O mercado de exportação é também a aposta da Janeiro, da Pernod-Ricard, proprietária de grifes como o Ballantine's, o Chivas Regal e o champanhe Perrier-Jouet. Mais fácil achar a Janeiro no verão de Saint-Tropez do que em templos corno o Mocotó de São Paulo. O case Sagatiba, ao nascer, parecia trafegar na pista contrária: um empresário brasileiro levando sua aposta para todo o mundo. Com bolsos recheados pelos 365 milhões de dólares da venda de sua Zipnet para a Portugal Telecom, antes do primeiro estouro da bolha pontocom, o empresário Marcos Moraes criou a sua Sagatiba em 2004 e investiu 70 milhões de dólares numa campanha pilotada pela badalada Saatchi&Saatchi, de Londres. A Sagatiba foi melhor de marketing do que de paladar. Entre suas cartadas está o antológico momento em que cinco garrafas da Sagatiba - a versão envelhecida, não por acaso apelidada Preciosa, embalada em caixa de madeiras nobres brasileiras com design de Claudia Moreira Salles - foram disputar o martelo fino e chique da Christie's. As garrafas foram arrematadas por 400 euros, cada. Ao vender a Sagatiba para a Campari, em 2011, Moraes confessou ter perdido 40 milhões na brincadeira. Mas há aqueles abnegados da cachaça para quem ela é só hobby, um afetuoso prazer a ser dividido com os amigos. É o caso do pecuarista mineiro Jonas Barcellos, com a sua Mata Velha, de Uberaba. Ele usa os exclusivos pontos de venda da Dufry Brasil para pagar os custos. "O segredo do capricho são as dornas de amendoim, onde a cachaça repousa, sem interferir no aroma e no sabor", diz Barcellos. Outro caso de paixão é a Maria da Cruz, da qual o ex-vice-presidente José Alencar tanto se orgulhava, produto de sua fazenda perto do apreciado terroir de Januária, Minas - e que os herdeiros estão preservando, em simbólico brinde à alegria de viver. Com a devida moderação, claro.

POLÍTICA CULTURAL

ISTOÉ – Arte em alerta Nova legislação coloca coleções privadas na mira do Estado e cria polêmica no mercado artístico Michel Alecrim Um novo selo sobre as obras de arte e bens culturais brasileiros tem causado desconforto no mercado de arte nacional. A chancela de interesse público, que passa a valer em abril, será concedida (ou não) por um conselho consultivo criado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Com a justificativa de preservar a memória e a cultura nacionais, toda obra de artistas brasileiros, mesmo as que pertencem a coleções privadas, passa a estar na mira do poder público por meio do instituto. E esse controle causa divergências sobre a necessidade da chancela no mercado de arte. Alguns especialistas acreditam, porém, que a medida chega tarde: se tivesse sido criada há mais tempo, poderia ter evitado a saída do País de telas como “Abaporu”, hoje no acervo de um museu argentino. Colecionadores e galeristas protestam contra os poderes dados ao grupo que compõe o Ibram, como o de inspecionar os acervos a serem “tombados”. Os critérios foram estabelecidos pelo Decreto 8.124, assinado pela presidenta Dilma Rousseff em outubro do ano passado, cujas ações vão da inspeção ao veto de empréstimos, podendo chegar à desapropriação. As ações começarão a partir de 14 de abril, quando a comissão tomará posse. “Custo a aceitar esse tipo de ingerência do poder público sobre obras privadas, justo quando a arte brasileira está em alta no Exterior”, afirmou a galerista Anita Schwartz. Para o advogado paulista Roberto Dias da Silva, que participou da comissão da OAB de São Paulo que analisou o decreto, o texto deixa muitas dúvidas e contém artigos inconstitucionais. “O decreto cria insegurança jurídica.

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Até parece ignorar a inviolabilidade do domicílio, quando trata das inspeções aos bens que serão avaliados”, ressalta o advogado. Em debate promovido em fevereiro pela revista “seLecT”, a presidenta da Associação Brasileira de Arte Contemporânea, Eliana Finkelstein, confirmou uma retração do mercado com o temor de terem suas obras desvalorizadas ou impedidas de circular. “Começo a ouvir por parte das instituições que colecionadores não estão confortáveis para emprestar (suas obras) para exposições. Isso era raríssimo”, afirmou Eliana. A íntegra do debate está disponível no site da revista “seLecT”: http://vimeo.com/revistaselect. O curador-chefe da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Ivo Mesquita, vê exagero nas desconfianças, mas enxerga o impacto da burocracia na realização de eventos: “Como a coleção da Pinacoteca é tombada, teremos que duplicar procedimentos”, diz o curador. “A medida também nos afeta, pois os colecionadores podem ficar mais temerosos de fazer empréstimos, por estarem revelando ao Ibram que possuem determinada obra.” Mesquita acredita que reunir peças para exposições com nomes consagrados pode ficar mais difícil, mas defende o selo, que segue o exemplo de países europeus.

O decreto obriga o dono a informar ao Ibram toda a movimentação das peças, seja um mero transporte ou o processo de venda. Em caso de leilão, o poder público teria preferência de compra. A divulgação dos nomes que comporão a comissão deu um pouco de alívio ao mercado, já que os integrantes têm notório trabalho prestado às artes. A colecionadora mineira Angela Gutierrez é uma das integrantes. “As pessoas confundem propriedade com patrimônio. Os colecionadores não perderão seus direitos nem as residências serão invadidas”, diz ela. O filho do pintor Candido Portinari, João Candido, também integrante do conselho, apoia a intervenção do Estado: “Se alguém tiver uma obra de Aleijadinho em casa e uma goteira se abrir sobre ela, ninguém tem nada a ver com isso?” Presidente do Ibram, Angelo Oswaldo de Araújo Santos acha que há motivações políticas nas críticas ao decreto. Ele diz que o Ibram não fará nada diferente do que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) faz há mais de 70 anos, quando o assunto é patrimônio arquitetônico. “É importante para o País saber o destino de certas obras.”

FOLHA.COM - Lobão e Frejat se enfrentam em debate sobre a lei dos direitos autorais FLÁVIA FOREQUE (17/03/14) Sete meses após sanção de lei que mudou as regras de cobrança, arrecadação e distribuição de recursos pagos por direitos autorais no país, artistas, associações e congressistas ainda discutem a nova legislação. As opiniões divergentes foram apresentadas nesta segunda-feira (17) em audiência pública no STF (Supremo Tribunal Federal), onde associações pertencentes ao Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) entraram com ações questionando a constitucionalidade da lei. O ministro Luiz Fux, relator das ações na Corte, é o coordenador do debate.

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"Temos que pensar que essa lei, com toda a boa intenção que traz no seu bojo, tem pontos muito sombrios e de traços muito autoritários", disse Lobão durante a audiência. As vozes contrárias à nova legislação apontam uma intervenção do Estado numa atividade de direito privado. "O que é público e funciona melhor do que o privado?", questionou o cantor. Audiência pública sobre direitos autorais O músico Frejat assumiu posição oposta ao colega. O argumento é de que falta transparência na gestão dos recursos arrecadados - o que seria possível com a nova lei. O cantor apontou uma "sanha arrecadora" do Ecad, entidade privada que tem o monopólio sobre arrecadação e distribuição de direitos autorais relativos a obras sonoras no Brasil. Em 2013, o Ecad distribuiu R$ 804,1 milhões a quase 123 mil titulares de música. "O dinheiro existe, mas quem tem que pagar e quem tem que receber não está satisfeito. O meio do caminho [o Ecad] está ótimo, mas o meio do caminho não interessa", disse o artista. Frejat ainda afirmou que o Ecad tornou-se um "monstro feroz". Entre as mudanças feitas pela lei, está o aumento dos atuais 75% para 85% da arrecadação aos titulares dos direitos -o percentual restante é dividido entre Ecad e associados. SINO SEM BADALO Congressistas que acompanharam a tramitação das novas regras no Legislativo defenderam o texto, já em vigor, mas ainda sem regulamentação. "A suprema Corte é o ultimo degrau dos autores. Está nas mãos de vocês manter um esquema suspeito de fraude, de cartel, de desvio de dinheiro, (...) ou optar pela cultura brasileira, pelos autores brasileiros e pela democracia", disse a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), relatora do tema na Câmara. O representante do Ministério da Cultura na audiência ponderou que a supervisão estatal é uma "opção legislativa" e por isso não há motivo para questionamento da constitucionalidade. Para Marcos Alves de Souza, diretor de direitos intelectuais em secretaria do ministério, da forma como as regras se encontram, "o poder Executivo é um sino sem badalo". Os autores das ações no STF assumiram discurso contrário. Fernando Brant, presidente da UBC, argumentou: "Irresponsavelmente, o Congresso, o Executivo e alguns artistas aprovaram uma lei que é um tapa em nossa cara e em nossos direitos. Tenho certeza de que [os artistas que apoiaram a lei] não sabem o que apoiaram. Venderam a eles gato por lebre". Gloria Braga, superintendente executiva do Ecad, seguiu posicionamento semelhante. "O que hoje aqui se coloca é a discussão sobre a inconstitucionalidade da interferência ou ingerência do poder Executivo por meio do Ministério da Cultura em uma atividade privada, hoje gerida e subsidiada (...) apenas pelos autores intelectuais." Presidente da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, Aderbal Freire-Filho foi o primeiro a arrancar aplausos da plateia, ao encarnar antigos ex-presidentes da entidade e defender a nova legislação. "Quem levantou essa questão de direitos autorais no Brasil fui eu. Tinha 70 anos em 1917 e me chamava Chiquinha Gonzaga", afirmou ao iniciar sua fala. "Construímos uma casa que se tornou patrimônio da cultura brasileira para mostrar que a arte brasileira tem história, mas o Brasil não tem memória. (...) O mercado teatral sofreu com a chegada do cinema falado, depois a televisão. E a falta de leis adequadas não nos deixou recolher os direitos dos nossos autores dramáticos", afirmou. JULGAMENTO

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Relator das ações diretas de inconstitucionalidade, o ministro Luiz Fux acredita que o julgamento do STF ocorrerá até o fim deste ano. Ao todo, 24 pessoas se posicionaram contra ou a favor da nova lei, entre artistas, representantes de associações e do Ecad, congressistas e integrantes do Executivo. "Não existe nada de inédito no exercício de supervisão estatal nesse tipo de entidade", defendeu o embaixador Paulo Estivallet, diretor do departamento econômico do Itamaraty. Ele citou como exemplo países como Bélgica, Dinamarca e França, onde autoridades responsáveis pela supervisão assumem função de delegados em assembleias de órgãos correlatos ao Ecad. Ao assumir a fala, Roberto Menescal fez um mea culpa, ao apontar que os artistas, muitas vezes, não buscam informações sobre seus direitos, mas indicou cautela em relação à atuação do Estado junto ao tema. Nós somos os principais culpados das administrações das quais a gente reclama. (...) A gente tem que se precaver sobre isso e ter direito sobre a nossa criação. Eu acho que o Estado tem que ditar regras: sobre o IPTU da minha casa, o IPVA do meu carro, mas minha canção...Deixa ela em paz. Acho uma coisa tão intima, eu que tenho que cuidar dela". Ele lamentou ainda presenciar artistas em posições contrárias no debate, como Frejat e Lobão. "Eu já vi colegas que já fizeram musica juntos quase brigando. Me pareceu uma Ucrânia, uma Venezuela. Vamos nos reunir, nos falar mais. Eu acho que presenciei aqui quase uma briga entre colegas. Eu não gostaria que a nossa música terminasse assim", afirmou.

OUTROS

FOLHA DE S. PAULO - Com Alex Atala e Facundo Guerra, seminário discute políticas para a noite de SP As informações estão atualizadas até a data acima. Sugerimos contatar o local para confirmar as informações MARINA CONSIGLIO (17/03/14) Os eventos que fazem a vida noturna de uma cidade causam mais impacto do que a ressaca do dia seguinte: eles têm implicações econômicas, sociais e culturais. Organizado pelo CoLaboratório, grupo formado por arquitetos, urbanistas, artistas e produtores culturais, e com apoio da Secretaria Municipal de Cultura, o Seminário da Noite Paulistana tem como objetivo refletir sobre isso, além de criar propostas de políticas urbanas para a vida noturna de São Paulo. Gratuitos e abertos ao público, os debates e palestras acontecem de terça (18) a sexta (21) na Biblioteca Mário de Andrade, região central da capital. No final do evento de sexta-feira, o grupo irá para a feira gastronômica O Mercado, que tem edição noturna: TERÇA, DIA 18 19h - Abertura 20h - Palestra "A noite como um ponto de encontro para o talento criativo" - com Mirik Milan, prefeito da noite de Amsterdã (Holanda) QUARTA, DIA 19 14h às 17h - GRUPOS DE TRABALHO: Mobilidade e infraestrutura urbana; discriminação e direitos humanos; ocupação do espaço público: atividades culturais e esportivas

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19h - Debate: Poder Público e Planejamento Urbano - com Nabil Bonduki (vereador PT-SP), Fernando Mello Franco (Secretário Municipal de Desenvolvimento Urbano), Alex Atala (chef) e Facundo Guerra (empresário) Moderação: Baixo Ribeiro (curador e integrante do CoLaboratório) 21h - Palestra: "A cidade e a conquista de suas noites: entre tensões e inovações" - com Luc Gwiazdzinski, PhD em Geografia, professor e pesquisador da Universidade Joseph Fourier de Grenoble QUINTA, DIA 20 14h às 17h - GRUPOS DE TRABALHO: Mobilidade e infraestrutura urbana; discriminação e direitos humanos; ocupação do espaço público: atividades culturais e esportivas 19h - Debate: Mediação e legislação - com Gilberto Dimenstein (jornalista), Ferréz (romancista, constista e poeta), Camilo Rocha (DJ e jornalista) e Elaine Bortolanza (doutora em Psicologia) Moderação: Anna Dietzch (arquiteta e integrante do CoLaboratório) 21h - Palestra: "Clusters, Zonas, Monumentos e Noite Urbana" - com Will Straw, PhD em Comunicação e diretor da Universidade McGill de Estudos do Canadá SEXTA, DIA 21 14h às 17h - GRUPOS DE TRABALHO: Mobilidade e infraestrutura urbana; discriminação e direitos humanos; ocupação do espaço público: atividades culturais e esportivas 19h - Debate: Cultura e Turismo - com Caio Luiz De Carvalho (empresário e ex-presidente da SPTuris), José Mauro Gnaspini (diretor artístico da Virada Cultural de São Paulo), Ana Carla Fonseca (empresária e especialista em economia criativa) e Haydee Svab (membro da comunidade Transparência Hacker e do do grupo de Extensão APÉ - estudos em mobilidade) Moderação: Marcos Boffa (produtor e integrante do CoLaboratório) e Eduardo Fernandes (artista e integrante do CoLaboratório)