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TEHA11-P1 © Porto Editora Saberes a mobilizar Saber Saber-fazer – Sublinhar o papel desempenhado pela corte nos regimes absolutos – Reconhecer mecanismos de «encenação do poder» – Caracterizar o absolutismo joanino – Analisar fontes de natureza diversa, distinguindo infor- mação implícita e explícita – Comparar informação Situação-problema Selecionar documentos adequados à apresentação do tema: “A encenação do poder na corte de D. João V” Documentação D. João V tomando chocolate doc A O duque de Lafões serve uma taça de chocolate ao rei D. João V, miniatura de 1720 assinada por A. Castriotto. O Terreiro do Paço em 1693 doc B Vista do Terreiro do Paço, aquando da entrada do núncio apostólico em Lisboa (1693). Resolução de situações-problema

Selecionar documentos adequados à apresentação do … · tema: «A encenação do poder na corte de D. João V». Resolução de situações-problema. Created Date: 20140225112927Z

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Saberes a mobilizar

Saber Saber-fazer

– Sublinhar o papel desempenhado pela corte nos regimes

absolutos

– Reconhecer mecanismos de «encenação do poder»

– Caracterizar o absolutismo joanino

– Analisar fontes de natureza diversa, distinguindo infor-

mação implícita e explícita

– Comparar informação

Situação-problemaSelecionar documentos adequados à apresentação do tema: “A encenação do poder na corte deD. João V”

Documentação

D. João V tomando chocolate

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A

O duque de Lafões serve uma taça dechocolate ao rei D. João V, miniaturade 1720 assinada por A. Castriotto.

O Terreiro do Paço em 1693

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Vista do Terreiro do Paço,aquando da entrada do núncioapostólico em Lisboa (1693).

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O exemplo de Versalhes

Empertigado, vaidoso e galante por temperamento, (D. João V) cedo quis aproximar-se dos modelosdos pares que julgava dignos de serem apontados e imitados.

Assim, ao receber a coroa, o filho de Pedro II tem diante de si, principalmente, o modelo esplendorosodo senhor de Versalhes, ainda vivo e sonante aos olhos e aos ouvidos de toda a Europa. […]

Tal atração de D. João pela luz vinda de Paris é-nos confirmada, aliás, por um testemunho vindo daépoca: o pintor francês Ranc, homem da corte espanhola que havia passado a Lisboa com o objetivo defazer o retrato das infantas.

Parecendo, pois, inegável a influência do paradigma francês na elaboração da forte personalidade e nogosto ostentoso do rei, é, no entanto, igualmente clara a sua inserção na conceção absolutista e barroca dopoder, conceção “europeia”, do tempo, e traduzida, como se viu, em procedimentos práticos definidos, aonível da manifestação pública desse poder. O nosso Rei-Sol não aparece, portanto, isolado […] mas simintegrado num vasto contexto político, económico, social e mental, nunca uniforme mas necessariamentevariado e optativo. […]

Seja como for, o gosto do rei João pelo luxo e a atração do modelo francês (ainda que a níveis váriosoutros venham a ser introduzidos) não deixou nunca, se se excetuarem talvez os últimos e infelizes anosdo rei, de se manifestar e desenvolver.

Rui Bebiano(1), 1987 – D. João V, Poder e Espetáculo, Aveiro, Livraria Estante

(1) Historiador português especialista em História Moderna e Contemporânea, professor da Universidade de Coimbra

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A construção da imagem realdoc

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“Um Estudo Histórico”, desenho para o frontispício de Caderno de Notas de Paris, do escritor inglês William Thackeray(1),1840.

(1) Célebre escritor inglês (1811-1863), autor de uma vasta obra que inclui géneros muito variados, do romance à crítica de corte, passandopelos escritos satíricos e pelas notas de viagem, como é o caso do livro a que se destina o desenho reproduzido.

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Uma entrada real em Lisboa(1)

Por ordem do Senado destas cidades se tinham mandado consertar as ruas por onde havia de passar acomitiva, principiando do sítio da Esperança até ao Palácio Real, cujo mandato se executou tão pronta-mente que […] em breve espaço se viram adornadas de custosas armações as tapeçarias da Pérsia e emoutras se divisavam as sedas de Ormuz, a umas paredes cobriram os brocados de Damasco e a outrastapavam os panos da China.

[…]Em observância do mesmo édito mediavam as ruas vinte arcos triunfais que tinham mandado levan-

tar todos os ofícios das cidades, obra de escultura e pintura com várias figuras nas cornijas;[…]Já o Sol caminhando em golfos de luzes tinha senhorado os sete montes que servem de assento a esta

leal cidade, quando davam princípio ao fio da Real Comitiva os dois Procuradores das cidades, vestidosprimorosamente de um estofo coalhado de oiro brilhante, e junto a eles os Ministros.

Logo se continuavam em mais de cinquenta coches todos os Títulos e Nobreza da Corte, tão custosa-mente vestidos que estes ou eram fabricados de oiro fino ou cortados de luzente prata, que sem precedên-cia formavam um vistoso e Régio acompanhamento. As carruagens em que iam eram na máquina majes-tosas, tiradas por robustíssimos urcos(2) vistosamente ornados de cocares de plumas de diversas cores, ebem se poderá ajuizar que para puxarem por estes triunfais carros se furtaram os leões a Cibeles e ostigres a Baco. Dos criados que precediam a pé estas carruagens eram as librés engenhosamente guarneci-das e recamadas de galão de oiro e prata, que cobriam o pano de que eram cortadas, no que havia muitagraça. Seguiam-se os Tenentes da guarda, e logo trinta coches do Estado Real, cujos lados acompanha-vam criados com librés da Casa. Via-se a Guarda Real capitaneada pelos seus Capitães, montados emsoberbos cavalos ricamente ajaezados, e em si tão briosos que pelo movimento da rédea que os regiafaziam pública ostentação de quanto tinham aprendido; iam acompanhados de muitos criados com libréprópria de cada um, a que se seguia um coche de vistosos relevos e excelentes pinturas em que iam osSereníssimos Infantes. Seguia-se imediatamente o coche de Estado, que pela sua preciosidade e grandezaera um monte de oiro; logo vinha a excelente carroça, na qual em majestoso e luzido trono, perfeito naarquitetura e rico no adorno, se viam Suas Majestades com os Sereníssimos Príncipes do Brasil(3), a quede um e outro lado serviam os moços da Câmara custosamente vestidos.

[…]Em coches bem adornados seguiam-se as Damas, a cuja retaguarda vinha um destacamento de cava-

laria, que ao som de sonoras trombetas e atabales faziam uma lenta marcha.[…]Foi prosseguindo este luzidíssimo acompanhamento pelas ruas que se haviam assinalado. Estavam

estas, não obstante serem muito largas e espaçosas, cheias de infinito povo, além de muita gente de todasas qualidades e estados que ocupavam as janelas.

Manuel Coelho da Graça, Breve Notícia das Entradas que por mar e terra fizeram nesta Corte Suas Majestades com osSereníssimos Príncipes do Brasil e Altezas, Lisboa, 1729

(1) Esta entrada solene integrou as festividades que, em 1729, marcaram o duplo casamento dos filhos de D. João V:o príncipe D. José (futuro D. José I) contraiu matrimónio com D. Mariana Vitória, filha de Filipe V de Espanha;a princesa D. Maria Bárbara casou com D. Fernando, herdeiro do trono espanhol (futuro Fernando VI).

(2) Urco – cavalo de grande corpulência.

(3) Título atribuído aos herdeiros do trono.

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Um espetáculo de fogo de artifíciodoc

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Gravura de 1728 representando um espetáculo de fogo de artifício na corte de D. João V.

O rei reconhece os seus filhos ilegítimos

Por entender que sou obrigado, declaro que tenho três filhos ilegítimos de mulheres limpas de todo osangue infecto, um que se chama D. António, outro D. Gaspar, que se chamou no batismo Manuel, e outro,D. José, que no batismo se chamou Manuel, e sua educação encarreguei a Gaspar da Encarnação, reforma-dor dos Cónegos Regulares, o que executou com tanto cuidado e zelo que tenho muito de que me agradar eque lhe agradecer, pelo que me consta a respeito dos ditos meus filhos; e encomendo ao príncipe que lhes dêaquele estado que lhes for mais conveniente às suas pessoas como seus irmãos: Eu sempre quis que fossemencaminhados para o de eclesiásticos. Espero que o príncipe os ajude e favoreça de sorte que, na abundân-cia competente, não necessitem de outra proteção mais do que a sua: Mandei fazer esta declaração pelobeneficiado António Baptista, que a entregará ao dito fr. Gaspar da Encarnação, que a apresentará notempo que lhe tenho determinado. Vila das Caldas da Rainha, aos 6 de agosto de 1742. – Rei.

Em Mário Domingues, 2005 – D. João V, o Homem e a Sua Época, Lisboa, Prefácio

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Memórias do Convento: D. João V coloca a primeira pedra

Entretanto, começou a constar-se em Mafra, e foi confirmado pelo vigário no sermão, que vinha el-rei ainaugurar a obra da raiz dos caboucos para cima, colocando com as suas reais mãos a primeira pedra. […]

[…] Subiu Baltasar ao alto da vela, ia Blimunda com ele, e tiveram sorte, que puderam entrar naigreja(1), nem todos vieram a gabar-se disso, e era um pasmo lá dentro, o teto todo toldado de tafetás encar-nados e amarelos, repartidos em matizes vistosos, e as ilhargas cobertas de ricos panos de rás, formandotodas as portas e janelas necessárias, à imitação da verdadeira igreja, tudo em igual correspondência,armadas umas e outras de cortinas de damasco carmesim, guarnecidas de galões e franjas de ouro. […]

Lá dentro, como já começou a ser dito, isto sim, é um luxo, nem parece barraca para deitar abaixodepois de amanhã. […]

Chegou el-rei pelas oito horas e meia, já tomado o chocolate matinal, serviu-o por suas próprias mãos ovisconde, e então se formou a procissão, à frente sessenta e quatro religiosos arrábidos, depois o clero daterra, a cruz patriarcal, seis homens de opas roxas, os músicos, capelães de sobrepelizes, grande cópia declérigos vários, um espaço livre a preparar o que aí vinha, e eram os cónegos de pluviais de tela branca eoutras bordadas, adiante de cada um deles os seus criados nobres, empós, sustentando-lhes as caudas, oscaudatórios, e atrás o patriarca com preciosos paramentos e mitra do maior custo, adornada de pedras doBrasil, depois el-rei com a sua corte, juiz e vereadores da terra, corregedor da comarca, e grande númerode gente, passante três mil, se não se enganou quem a contou, e tudo isto por causa de uma simplespedra, juntou-se aqui um poder de mundo, clarins e timbales atroando os ares superiores e inferiores, e atropa de cavalaria e infantaria, mas a guarda alemã, e outra vez o povo, muito novo, tanto povo, nunca avila de Mafra vira tal ajuntamento.

José Saramago, 1982 – Memorial do Convento (romance histórico), Lisboa, Ed. Caminho

(1) Para a cerimónia armou-se uma estrutura de madeira com as mesmas dimensões e no mesmo local da basílica definitiva.

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Atividades

1. Examine a documentação apresentada e classifique, quanto à sua natureza, os docs. A a H.

2. Determine o espaço e o tempo a que se reportam.

3. Identifique a temática central que versa cada um deles.

4. Elimine os documentos que não se enquadram no tempo, espaço e tema da apresentação pedida. Escla-

reça, de forma clara e concisa, as suas opções.

5. Dos documentos restantes, há algum que lhe mereça reserva quanto ao rigor histórico da informação

veiculada? Fundamente.

6. Apresente a lista dos documentos que considera pertinentes para o tratamento do tema proposto.

6.1. Dessa lista, realce os dois que, na sua opinião, transmitem informações mais ricas e fiáveis. Justifi-

que a escolha que fez.

6.2. Partindo dos documentos selecionados, prepare uma pequena dissertação oral subordinada ao

tema: «A encenação do poder na corte de D. João V».

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