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SEMEANDO - Congregação Mekor Haim · Através do cum- primento dessa ... e yom tov), não comer coisas proibidas, etc. Entre 3 e 4 anos: – Ensinar o alef-bêt para que saiba de

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SEMEANDOO FUTURO

Uma abordagem sobreos procedimentos adequados

referentes à educação dos filhos

De autoria de

Isaac DichiRabino da Congregação Mekor Haim

Baseado no livro“Zeriyá Uvinyan Bachinuch”

de autoria do Rabino Shelomô Wolbe

Editado pela Congregação Mekor HaimRua São Vicente de Paulo, 276

São Paulo SP - BrasilFone: 826-7699

Shevat 5760

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Autor: Rabino Isaac Dichi

Redação, revisãoe diagramação: C.P.D. Mekor Haim (Saul Menaged,

Ivo Koschland e Geni Koschland)

Impressão e acabamento: Book RJ

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Primeira Edição

Lembrançado casamento de

Shalome

TamarBenamor

15 de adar I de 576020 de fevereiro de 2000

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ÍNDICE

Prefácio .......................................................................... 7

Introdução - A Educação Vista Pela Torá ........................ 9

Semear e Construir .......................................................15

Brincadeira É Coisa Séria! ............................................25

Educação Rígida ...........................................................31

Pensando na Adolescência ............................................42

Tendência Natural .........................................................47

Dois Princípios Básicos ...............................................54

Punições .......................................................................64

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Semeando o Futuro

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PREFÁCIO

Temos a grata satisfação de apresentar ao público olivro “Semeando o Futuro”, que trata de vários aspectos im-portantes sobre a educação dos nossos filhos. Esse compi-lado é o resultado de parte de um ciclo de aulas realizado naCongregação Mekor Haim. Nessas aulas, foi lido e comen-tado o livro “Zeriá Uvinyan Bachinuch”, de autoria do Rabi-no Shelomô Wolbe Shelita. Agradecemos ao Sr. Saul Me-naged pela anotação dos shiurim gravados em fitas cassetee à Sra. Geni Koschland pela meticulosa revisão do texto.

O Rabino Shelomô Wolbe é discípulo da famosa Ye-shivá de Mir. Ainda na Europa, teve oportunidade de colherpessoalmente ensinamentos do Rabino Yerucham Levovitszt”l. Extremamente sensível aos problemas da nossa gera-ção, o Rav Wolbe é considerado hoje o mestre dos mash-guichim das yeshivot. Conhecedor profundo das nuanças daalma, é o educador por excelência.

O Rav Wolbe também é autor das seguintes obras:“Alê Shur”, um guia para o mundo da Torá, “Ben Shê-shet Leassor”, palestras realizadas para os membros daForça Para a Defesa de Israel, kibutsim e grupos seculares,

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Semeando o Futuro

“Adam Bicar”, uma biografia do Rav Yerucham Levovits (oguia espiritual da Yeshivá de Mir), com uma introdução aseu sistema de pensamento, e “Educação Para o Judaísmo”(em sueco).

Estamos certos de que esta obra será de grande valiapara os pais que desejam estudar profundamente a matéria.Com a ajuda de D’us, quando colocarem em prática estesensinamentos, serão bem-sucedidos na educação de seusfilhos, garantindo a continuidade de sua família e de seupovo.

Isaac DichiRabino da Congregação Mekor Haim

RABINO SHELOMÔ WOLBE - BREVE BIOGRAFIA

Rav Shelomô Wolbe, filho do Prof. Dr. Euger Wolbe,nasceu em Berlim em 1914. Após sua graduação no ensino se-cundário no Friedrichs-Werder-Gymnasium, freqüentou aseminentes yeshivot de Frankfurt, na Alemanha, e Montreux,na Suíça. Prosseguiu, então, para sua formação principal deTorá na Yeshivá de Mir, na Lituânia. Durante a SegundaGuerra Mundial, serviu como rabino e educador na cidade deEstocolmo, Suécia, e como o representante do ComitêEmergencial da União dos Rabinos Ortodoxos dos EstadosUnidos e do Canadá. Nos trinta e quatro anos seguintes foi odiretor da Yeshivá Beer Yaacov. Ao se aposentar, iniciouuma nova carreira, como conferencista em duas importantesyeshivot em Jerusalém e no Beth Hamussar (o Centro deÉtica da Torá) que ele fundou em 1982.

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INTRODUÇÃO

A EDUCAÇÃO VISTAPELA TORÁ

O patriarca Avraham é o paradigma da educação. É opersonagem que representa a educação no judaísmo, con-forme consta na Torá (Bereshit 18:19): “Ki yedativlemáan asher yetsavê et banav veêt betô acharavveshameru dêrech Hashem laassot tsedacá umishpat,lemáan havi Hashem al Avraham et asher diber alav – Euo amei, porque ele ordena a seus filhos e à sua casa depoisdele que guardem o caminho de Hashem praticando carida-de e justiça, para que Hashem traga para (a descendência de)Avraham o que disse sobre ele.”

De todas as virtudes de Avraham, a ressaltada por D’usfoi o fato de Avraham transmitir adiante Seus ensinamentos.

Examinemos agora, um dos muitos personagens im-portantes da nossa história: Iyov.

O livro de Iyov (que faz parte do Tanach) começa coma seguinte passagem (Iyov 1:1): “Ish hayá veêrets Uts, Iyov

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Semeando o Futuro

shemô, vehayá haish hahu tam veyashar virê Elokimvessar merá – Havia um homem na cidade de Uts que sechamava Iyov, e este homem era íntegro, correto, tementea D’us e afastava-se do mal.” O Rabino Shemuel PinchassiShelita levanta a seguinte questão (Imrê Shêfer vol. II, pág.10): Por que, apesar de todas as qualidades citadas a respei-to de Iyov, ele não é considerado exemplo de educação etransmissão das mitsvot da Torá? A explicação surge algunsversículos adiante (1:4): “Vehalechu vanav veassu mishtêbêt ish yomô, veshalechu vecareú lishlôshet achyotehemleechol velishtot imahem” – Seus filhos tinham o costu-me de organizar festas, cada vez na casa de um deles, e con-vidavam suas três irmãs para comer e beber com eles.“Vayhi ki hikífu yemê hamishtê vayishlach Iyovvaycadeshem vehishkim babôker veheelá olot misparculam, ki amar Iyov, ulay chateú vanay uverechu Elokimbilvavam; cacha yaassê Iyov col hayamim” (1:5) – Quan-do terminavam os dias de festa, Iyov mandava trazer seus fi-lhos para santificá-los. Levantava cedo e oferecia corbanot(oferendas) por eles, pois dizia: “Talvez meus filhos tenhamcometido algum pecado”. Assim agia Iyov todos os dias desua vida.

A grande diferença entre Iyov e Avraham está no fatode que Avraham ensinava o caminho correto a seus filhosantes que estes chegassem a pecar. Já Iyov, depois que seusfilhos realizavam as festas, levantava-se cedo e trazia sacri-fícios para perdoar eventuais pecados cometidos.

O Rei Shelomô escreve (Mishlê 22:6): “Chanoch la-

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náar al pi darcô, gam ki yazkin lô yassur mimena – Ensi-na ao jovem o bom caminho, pois mesmo em sua velhicenão o abandonará.” Uma orientação clara nos é transmiti-da pelo Rei Shelomô. É necessário educar desde a infân-cia. Não se deve deixar o tempo passar ou será tarde de-mais.

Este conceito também nos é ensinado pelo Rei Da-vid (Tehilim 127:4): “Kechitsim beyad guibor, ken benêhaneurim”. David Hamêlech compara os jovens a flechasnas mãos do valente: enquanto estiverem em suas mãos,podem ser direcionadas corretamente ao alvo. Assim tam-bém, os jovens, enquanto pequenos, podem ser orienta-dos corretamente.

O Rabino Shalom Noach Brazowsky Shelita, o Ad-mor Mislonim, em seu livro sobre educação, “BintivotChinuch”, cita, do livro “Noam Elimêlech”, que a cadageração há uma mitsvá específica com necessidade de umreforço especial. Ele explica, então, que há um sinal parapodermos saber qual é essa mitsvá: a que tiver uma ajudaespecial dos Céus para ser concretizada. Através do cum-primento dessa mitsvá, existe a possibilidade de irradiarsantidade para todos os aspectos ligados ao judaísmo eservir a D’us. Conforme suas palavras, a mitsvá específi-ca que necessita um reforço especial em nossa geração éa mitsvá de chinuch – educação nos caminhos da Torá.Pois todos os que trabalham nessa área, de forma séria ededicada, obtêm grande sucesso e têm em seu trabalhouma grande dose de ajuda dos Céus.

Introdução

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Semeando o Futuro

Ele salienta, que todos os que trabalham com chinuchdevem conscientizar seus alunos de que são filhos de D’use que pertencem à “legião do Rei”. Este conceito também émencionado pelo autor do livro “Yessod VeshôreshHaavodá” sobre o versículo (Mishlê 3:11): “MussarHashem, beni, al tim’ás – A lição de moral Divina, meufilho, não desprezes.” Ele explica este versículo da seguin-te forma: “A lição de moral de D’us é: não esqueças que ésMeu filho, filho do Rei. Não te comportes de forma que nãoseja adequada e digna do teu status de filho do Rei.” Esta éa lição de moral mais profunda que pode estremecer nos-sas almas; até mesmo a alma de uma criança que está se ini-ciando no chinuch. Isto a comprometerá a ter um compor-tamento exclusivo de um filho de rei, que deve guardar ezelar por Suas ordens da melhor forma possível.

O educador deve ainda enfatizar a seus filhos e discí-pulos a doçura que a Torá possui. Deve despertar, na crian-ça, o sentimento de que os prazeres materiais não têm va-lor frente ao prazer sublime da luz da Torá.

Trazemos a seguir, um quadro cronológico educativopara os primeiros anos da infância extraído do livro“Chanoch Lanáar”, de autoria do Rabino Shaul Wagschal.

A idade certa para a educação depende da capacidadede entendimento da criança e de seu amadurecimento.Deve-se consultar a tabela a seguir, levando isso em consi-deração.

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Quando a criança começa a andar ou um pouco antes:

– Fazer netilat yadáyim ao acordar.

– Usar kipá (contanto que não fique caindo).

Quando a criança começa a falar, ensinar os seguintespessukim:

– “Shemá Yisrael Hashem Elokênu Hashem echad.”

– “Torá tsivá lánu Moshê morashá kehilat Yaacov.”

– “Modê ani lefanecha Mêlech chay vecayam sheheche-zarta bi nishmati bechemlá; rabá emunatecha.”

Entre 2 e 3 anos e quando a criança já obedece seuspais:

– Ensinar os “lô taassê” (preceitos de “não faça”) , comonão acender a luz no Shabat e yom tov, não mexer emmuctsê (objetos proibidos de serem movidos no Shabate yom tov), não comer coisas proibidas, etc.

Entre 3 e 4 anos:

– Ensinar o alef-bêt para que saiba de cor.

– Ensinar algumas berachot, como Shehacol, Mezonot,etc.

– Vestir no menino o tsitsit.

– Ensinar sobre o conceito de verdade e mentira.

– Fazer a criança prestar atenção no Kidush e na Havdalá.

Entre 4 e 5 anos:

– Começar a ler hebraico.

– Ensinar o conceito da existência de D’us em palavras

Introdução

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Semeando o Futuro

simples. Por exemplo: D’us criou tudo, está no Céu, pro-tege-nos.

– Ensinar a fazer bondades, ter virtudes, ensinar a dar ascoisas.

– Despertar na criança a importância de que os objetospossuem proprietários e que é proibido pegar coisas quenão lhe pertencem sem permissão.

– Ensiná-la a usar uma linguagem bonita.

– Ensinar preces curtas para que tanto meninos comomeninas as recitem pela manhã e à noite antes de dor-mir.

Entre 5 e 6 anos:

– Os meninos começam a aprender Chumash e rezar emhorários fixos.

– Enfatizar a proibição do lashon hará (maledicência).

– Exigir que se expresse de maneira clara, precisa.

Isaac DichiRabino da Congregação Mekor Haim

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SEMEAR E CONSTRUIRSegundo os conceitos judaicos, a educaçãodos filhos é uma tarefa prioritária. Essetrabalho, quando bem sucedido, garante acontinuação do Povo de Israel e de suaTorá.

Nos lugares em que existe a verdadeira educação ju-daica – onde se investe nela, tanto financeiramente comoem pessoas que conhecem bem o assunto – há uma garantiapara a continuação do nosso povo.

O ensino é uma obrigação que recai tanto sobre o paiquanto sobre a mãe. Nenhum dos progenitores deve se exi-mir desta função, atribuindo-a exclusivamente ao outro;ela deve ser realizada em conjunto. Posteriormente, ana-lisaremos também a função da escola; mas, a educação é,em princípio, uma atividade que cabe aos pais.

Por outro lado, já que a educação dos filhos é umaobrigação dos pais, D’us incutiu neles um desejo naturalde educar. Ou seja, pela própria natureza, os pais queremeducar seus filhos da melhor forma. Mas, para que alcan-cem este objetivo, precisam estudar o assunto. Certamen-

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Semeando o Futuro

te não conseguirão os melhores resultados apenas seguin-do seus instintos. Devem aprender daqueles que estuda-ram, pesquisaram e se aprofundaram no tema. Somenteestas pessoas podem transmitir como usar esta natureza –o desejo de bem educar – da melhor forma.

Assim, apesar de ser algo inato aos pais, a maneira deeducar é uma “sabedoria profunda”. Não se podemenosprezá-la, mas sim encará-la com prioridade.

A sabedoria do ensino exige aprendizado e muita aten-ção. Quando D’us adverte os egípcios para recolherem seusanimais para suas casas, antes de enviar a praga do granizo,consta na Torá a seguinte passagem (Shemot 9:20-21): “Aquele que temeu a palavra de Hashem dentre os ser-vos do Faraó, fez fugir seus servos e seu gado a suas casas.E quem não prestou atenção à palavra de Hashem, deixouseus servos e seu gado no campo.” A Torá inicia esta passa-gem utilizando a expressão “aquele que temeu”. Posterior-mente, ao invés de “e quem não temeu”, está escrito “e quemnão prestou atenção”. Isso nos ensina que aquele que ficas-se atento (refletisse e procurasse a verdade), chegaria ao ní-vel de yerê Hashem (temente a D’us). Não se consegueatingir este nível sem a devida atenção. O mesmo aconteceem relação à educação. É impossível aprender esta tarefasem se ocupar dela mais demoradamente! Todos os senti-dos devem permanecer bem atentos para aprender comoeducar os filhos.

Depois deste empenho pedimos, então, para queHashem nos coroe com sucesso.

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Devemos procurar conhecer as atitudes que fazemparte da educação correta e quais as que são prejudiciais.Existem comportamentos que contrariam o bom senso eproduzem conseqüências indesejáveis. Eles precisam seranalisados e esclarecidos. Há vezes em que os pais tomamatitudes imaginando estarem colaborando com a boa edu-cação, mas, após uma análise minuciosa, verifica-se o con-trário. Tais atitudes não trarão bons resultados no futuroe, por vezes, são enquadradas como totalmente negativas.É necessário elucidar por que essas atitudes são erradas eo que seria recomendado como ideal.

Em nossos dias há escassez dessa consciência, tãoimportante, de que educação é uma sabedoria, uma maté-ria a ser estudada. Por vezes, até mesmo entre os educa-dores ocorre esse engano.

É necessário compenetração e reflexão profundapara praticar uma educação positiva. Ter consciência exa-ta de quais atitudes são positivas e quais são negativas.

Analisaremos, a seguir, dois conceitos básicos: “se-mear” e “construir”.

Quando o homem semeia, reza para que D’us envie achuva benfazeja. Depois, espera que as plantas cresçam porsi mesmas. Outra situação é a construção de uma edifica-ção. A primeira é a mais fácil. Requer menos esforços.Joga-se a semente e ela germina. Quando se constrói é di-ferente: é necessário assentar os alicerces, cimentar cadatijolo, fazer o acabamento.

Semear e Construir

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Semeando o Futuro

Diariamente, na oração da Amidá, rezamos três vezespela reconstrução de Jerusalém. Dizemos “bonê Yerusha-láyim” – Aquele que constrói Yerushaláyim – e em segui-da recitamos “matsmiach kêren yeshuá” – Aquele que se-meia (faz brotar) a glória da salvação. Na primeira referên-cia pedimos que D’us “construa” Jerusalém e na segunda,que Hashem “semeie” o Mashiach.

Semear e construir são duas atividades completamen-te diferentes. Semear é algo natural. Toda a natureza foi ins-tituída e é comandada por D’us, apesar de ser uma relaçãoencoberta, sutil. Em alusão a isso, as palavras “hateva” (anatureza) e “Elokim” possuem o mesmo valor numéricosomando-se suas letras (86). Assim, semeia-se e, com achuva, a planta germina. Uma árvore, ou uma flor, cresce“por si só”. Uma construção é algo que a pessoa faz; parti-cipa da elaboração em todos os momentos.

Uma edificação, que é de pouca duração, exige umbom planejamento, esforço e acompanhamento constan-te. Quanto mais dedicação requer a educação de uma cri-ança! Esta tarefa representa o desenvolvimento da suaalma, sua parte espiritual e material. Aqui também existea necessidade de um planejamento: fundar os alicerces,construir cada andar, fazer o acabamento.

Estes conceitos, de semear e construir, também seaplicam à própria atividade Divina. O Criador guia Seumundo segundo essas duas características, semeação econstrução. Dessa forma Ele conduz o mundo até sua fi-nalidade, como Ele deseja. Por um lado Ele constrói, com

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uma providência especial sobre cada um de nós. Por ou-tro lado, preocupa-Se com que o Mashiach, pertencente àfamília de Ishay e do Rei David, seja “semeado” e “cres-ça” de uma forma natural. Assim, todas as vezes que nosreferimos à redenção do Povo de Israel, usamos o concei-to de tsemichá – germinação, semeação. Na oração daAmidá, por exemplo, recitamos: “Mêlech memit umchayêumatsmiach yeshuá – O Rei que faz morrer e reviver e fazgerminar a salvação.” Tsêmach, derivado de tsemichá, étambém um dos nomes do Mashiach, conforme consta(Zecharyá 3:8): “Ki Hineni mevi et avdi Tsêmach – Eisque Eu trarei o meu servo Tsêmach”.

Estes dois conceitos, semeação e construção, tam-bém estão relacionados com as obrigações espirituais doshomens. Encontramos uma referência sobre isso logo nocomeço da famosa obra do pensamento judaico “Messi-lat Yesharim”, de autoria do Rav Moshê Chayim Luzzattozt”l. Esse livro começa com a seguinte passagem: “A baseda chassidut e a raiz do trabalho íntegro a D’us é que fi-que claro e evidente ao ser humano quais as suas obriga-ções no mundo.”

Chassidut é o mais alto nível que a pessoa pode atin-gir segundo os conceitos de Torá e mitsvot. Chassidut éum processo posterior à tsidcut. Alguém que faz tudo oque estipula a lei judaica é chamado de tsadic – justo. Jáalguém que vai além disto, é chamado de ‘chassid’. Estassão duas fases no processo de desenvolvimento espiritualdo homem.

Semear e Construir

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Semeando o Futuro

O que explica o “Messilat Yesharim” ao começar comas palavras “a base da chassidut...” é que, para se atingir achassidut, é necessário uma base. Esta base é que o homemsaiba quais são as suas obrigações, porque não é possívelservir ao Criador com integridade sem que se conheça quaisos seus deveres.

Quando lemos as primeiras quatro palavras dessa obrade uma forma superficial: “Yessod hachassidut veshôreshhaavodá – A base da chassidut e a raiz do trabalho íntegro”,podemos chegar a uma conclusão errada. Podemos pensar:“Isso foi apenas uma forma de expressão! Já que o RavMoshê Chayim Luzzatto quis iniciar sua obra com uma alu-são ao nome de D’us – o que é maravilhoso – conseguiufazer com que as primeiras letras das primeiras palavras for-massem o tetragrama que compõe o nome de D’us: yessod(yod), hachassidut (hê), veshôresh (vav), haavodá (hê).Ele encontrou quatro palavras bonitas que formam o nomede D’us!”

Mas será que essa foi a única intenção do Rav MoshêChayim Luzzatto – um gigante do pensamento judaico?!Será que sua principal intenção foi escrever algo que soas-se bonito ou parecesse elegante? Quem começa a estudar aobra dessa forma, sem procurar um significado próprio eprofundo para as palavras, não conseguirá entender, desdeo início, a intenção do autor.

O Rav Luzzatto quis, com estas quatro palavras, trans-mitir que também em relação ao serviço a D’us existem doisprocessos – semeação e construção. “A base da chassidut”

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refere-se a um trabalho de construção e “a raiz do trabalhoíntegro” refere-se a um trabalho de semeação.

A chassidut é o maior nível a que pode chegar a cons-trução de um ser humano; e toda construção precisa de umabase. Para conseguir uma construção plena da personalida-de é necessário um investimento na alma. Precisa-se fixaralicerces, uma base, sem a qual não se chega a nada. Quantomais alta a construção, mais profundas devem ser as funda-ções.

Tratando da chassidut, o “Messilat Yesharim” usou apalavra base, relacionada com o conceito de construção. Jáem relação ao serviço Divino, utilizou a palavra “raiz”, queestá relacionada com o conceito de semeação. Quis, comisso, esclarecer que o serviço Divino é um processo natu-ral dentro do ser humano, mas que necessita uma raiz, sema qual não há o crescimento.

O autor, portanto, com as quatro palavras iniciais daobra, transmite a idéia de que, na busca do nível dechassidut e no serviço a D’us, que são tarefas espirituais,existem estes dois componentes, a construção do perfilespiritual e a semeação do serviço.

O que a pessoa semeia dentro de si é o que vai cres-cer durante os anos da sua vida. O amor pela Torá, porexemplo, ou a ganância material...

O servir a D’us é algo natural, que cresce depois desemeado. Apesar disso, os níveis que a pessoa atinge du-rante sua vida e sua personalidade, precisam ser construí-dos diligentemente. A cada período é necessário realizar um

Semear e Construir

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Semeando o Futuro

balanço para verificar se houve o esperado crescimento es-piritual.

Em Rosh Hashaná não há Viduy, a prece de confis-sões para D’us sobre os pecados. É um dia designado parao reconhecimento da soberania de D’us, no qual aceita-mos o jugo Divino. Esta é a semente que plantamos parao ano seguinte.

Há povos que festejam o fim do ano. Nós festejamoso início do ano. Investimos em Rosh Hashaná visando oano seguinte. Quando, no início do ano, a pessoa se com-porta com humildade e submissão perante D’us e desejaconstruir de forma nobre seu perfil espiritual, obterá umano rico espiritualmente.

Os dois dias de Rosh Hashaná constituem um mar-co importante, do qual germina todo o trabalho espiritualdo ano. Se estes dias forem aproveitados para umaconscientização dos deveres espirituais, isso será benéfi-co para o resto do ano. Rosh Hashaná está, portanto, rela-cionado com a semeação do serviço Divino.

No dia de Yom Kipur, por outro lado, recitamos oViduy, a prece de confissões de nossos pecados para D’us,e procuramos encontrar meios para consertar nossas ati-tudes erradas. No final desse dia, mais propriamente du-rante a oração da Neilá, tomamos decisões no sentido decorrigir condutas falhas e aceitamos novas obrigaçõespara construir uma personalidade melhor durante o ano.Yom Kipur está, portanto, relacionado com a construçãodo perfil espiritual.

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Conforme esses conceitos, de construção e semea-ção, transmitidos nas quatro primeiras palavras do “Mes-silat Yesharim”, continua-se estudando a introdução daobra.

Depois desta análise, podemos começar a entendercomo funciona o semear e o construir na educação dosnossos filhos e na nossa própria educação. Se desejamosque uma criança cresça como alguém que estuda a Torá ecumpre as mitsvot – a prioridade de todo judeu – precisa-mos semear nela a Torá! É indispensável que ela observeo pai estudando e respeitando quem estuda. Que veja o paibeijando o livro depois de estudar, em sinal de respeito, eguardando-o com carinho. Que perceba que o horário de-signado para o estudo da Torá é sagrado. Dessa forma,começa-se a semear no filho o amor pela Torá.

Sobre isso, nossos sábios disseram que, logo que acriança começa a falar, o pai lhe ensina a Torá e o KeriatShemá. Aqui, “ensinar a Torá” se refere a ensinar a se-guinte frase: “Torá tsivá lánu Moshê morashá kehilatYaacov – A Torá que nos transmitiu Moshê é a herançado nosso povo.” Ensinar o Keriat Shemá se refere a ensi-nar a frase: “Shemá Yisrael Hashem Elokênu HashemEchad – Escuta e entende, Israel, Hashem é nosso D’us,Hashem é Um.” Esta é a semente do que amanhã será a lin-guagem da criança. Desde cedo ela ouve sobre a unicidadede D’us, que há algo importante chamado Torá e que tive-mos um grande profeta, Moshê Rabênu, que nos transmi-tiu a Torá e as mitsvot.

Semear e Construir

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Semeando o Futuro

É claro que, depois de semear, é necessário regar asemente constantemente para que cresça! Esta água é a at-mosfera de harmonia no lar e o relacionamento calorosodos pais com os filhos; tudo isso aliado ao bom exemplodos pais.

Até ser independente, o filho tende a copiar os pais.O exemplo prático dos pais ao cumprir as mitsvot com ale-gria é fundamental. É indispensável ouvir os pais recitar asbênçãos com emoção, por exemplo. Se os filhos nuncaouvirem os pais recitando uma bênção, como aprenderão afazê-lo? Essa é a chuva que rega o crescimento sadio dacriança.

Recentemente, uma jovem de vinte anos contou-me,que quando ela era pequena, via sua avó “mexendo os lábi-os” após as refeições. Para esta jovem, muitos anos se pas-saram até que ela descobrisse que a avó “mexia os lábios”recitando o Bircat Hamazon, a Bênção de Graças após asrefeições.

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BRINCADEIRAÉ COISA SÉRIA!

Os pais precisam dar a devida importân-cia para os jogos e brinquedos dos filhos.Os brinquedos constituem algo extrema-mente sério para a criança.

Conforme foi analisado no capítulo anterior, há doisconceitos básicos com relação à educação: “semear” e“construir”. O serviço a D’us é algo natural, que cresce de-pois de semeado. Apesar disso, os níveis que a pessoa al-cança durante sua vida, sua personalidade, precisam serconstruídos com dedicação.

Se desejamos que uma criança cresça como alguémque estuda a Torá e cumpre as mitsvot, precisamos seme-ar nela a Torá! É indispensável que, por exemplo, ela ob-serve o pai estudando e respeitando quem estuda. Muitocedo, também, já se deve ensinar à criança, conforme suamaturidade, sobre a existência de D’us e da Torá.

Depois de semear, é necessário regar a “semente” demaneira constante com “água” para que cresça! Esta água é

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Semeando o Futuro

a atmosfera de harmonia e o calor do lar, aliada ao bomexemplo dos pais.

Sobre a construção do perfil espiritual, encontramosno Pirkê Avot (5:21) a seguinte passagem: “Ben chameshshanim lamicrá, ben êsser shanim lamishná, ben sheloshesrê lamitsvot, ben chamesh esrê laguemará... – Com cin-co anos de idade introduz-se a criança na leitura da Torá,com dez, na mishná, com treze, nas mitsvot, com quinze,na guemará...” Estas etapas foram fixadas pelos sábios damishná para serem seguidas em sua época. Em nossos tem-pos também temos estágios de aprendizado determinadospor nossos sábios. Estas etapas não são necessariamenteidênticas às citadas pela mishná. De qualquer forma, é umalinha de ensino seguida basicamente de maneira unifor-me nos centros judaicos de estudo do mundo inteiro. Cadageração, conforme a orientação dos sábios da época, deveadotar o sistema que é funcional, que é próprio para aquelageração.

Com isso, nossos sábios ensinam que existe um pro-cesso para construir a pessoa. Não é possível, por exem-plo, ensinar chumash, mishná e guemará de uma só vez;tampouco transmitir determinados ensinamentos numaidade que ainda não é oportuna.

A educação precisa ser transmitida à criança confor-me o seu desenvolvimento natural. Esta é uma regra es-sencial. Não é correto forçar a criança acima do que per-mite sua capacidade. Assim, é proibido exigir comporta-mentos incompatíveis com a idade e com o desenvolvi-

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mento da criança; conceitos que ela não consegue captar.

No livro “Alê Shur”, o Rav Wolbe faz uma observa-ção muito importante com relação a esse assunto. Por ve-zes, queremos que uma criança compreenda coisas que nóslevamos 30 anos para entender! Os pais devem tomar cui-dado para não exigir comportamentos para os quais os fi-lhos não têm maturidade. Por exemplo, é difícil para umacriança pequena comer sem se lambuzar. Não se pode exi-gir regras de etiqueta de uma criança de dois anos! Parteimportante da educação é ensinar o que pode ser assimila-do e não o que está acima das possibilidades.

Quando não se transmite a educação de forma gradual,à medida que a idade da criança permite, ela passa a repudi-ar o que lhe foi ensinado. Já que ela não é capaz de assimi-lar esses ensinamentos, tentará se esquivar, escapar deles oquanto puder. Essas exigências causam, então, um sério pre-juízo no seu desenvolvimento espiritual.

O progresso da criança ocorre gradativamente. Àmedida que o tempo passa, ela se desenvolve fisicamente eespiritualmente. De forma análoga ao crescimento de umaárvore, o desenvolvimento da criança precisa ser cultivado.

Quando se trata de “semear” princípios na criança, sãonecessários cuidados extremos. Precisamos plantar exata-mente o que queremos que cresça. Quando se trata de “cons-trução”, esta deve ser feita por etapas. Não podemos nosapoiar apenas no que foi semeado e esperar que futuramen-te cresça algo desejado. Precisamos acompanhar o cresci-mento levando em consideração o potencial de desenvolvi-

Brincadeira É Coisa Séria!

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mento da criança e o tempo necessário para assimilar cadaconceito.

Outro tema a ser analisado diz respeito aos brinque-dos. Muitas vezes os pais não dão o devido valor aos jogose aos brinquedos dos filhos. Para a criança, os brinquedosconstituem um assunto sério . O Rabi Yisrael Salanter zt”lcita um exemplo que ilustra a importância desse conceito.Digamos que uma criança está tomando banho e brinca comum pedaço de madeira dizendo que é um navio. Tirar delaessa madeira é como afundar o navio de uma pessoa adulta.O sofrimento que uma criança de três anos passa por causade uma atitude como esta é equivalente ao de uma pessoaadulta que perdeu um navio. Se isso é encarado como umatolice pelos pais, é algo muito sério para a criança. Alguémque atrapalha a brincadeira de uma criança está lhe rouban-do algo, prejudicando-a de fato.

Na educação das crianças existem, também, normasque são equivocadamente aceitas e seguidas de forma ge-neralizada. Por exemplo, exige-se das crianças que fiquemtodo o tempo sentadas quietas à mesa durante a refeiçãode Shabat. Muitas vezes a refeição prolonga-se por umahora, uma hora e meia ou mais. Desnecessário dizer que parauma criança isso se torna muito penoso. Ela não conseguepermanecer sentada tanto tempo em silêncio sem se mexer.Ela sente necessidade de levantar, circular! Obrigar que elafique sentada todo esse tempo é forçá-la a algo muito aci-ma das suas possibilidades. Nem é necessário explicar oquanto isso é prejudicial. Por isso, se a criança presenciou

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o Kidush e, depois disso, quiser circular, não convém sertão inflexível.

Analisemos um pouco mais a intenção dos pais noexemplo citado. O propósito é fundamentalmente bom.Os pais querem inculcar valores importantes ao exigir queos filhos se sentem à mesa de Shabat. Afinal, a união da fa-mília em torno da mesa de Shabat não é digna de conside-ração? Os pais estão empenhados em transmitir princípiosjudaicos da educação. Em nome disso, forçam a criança apermanecer sentada. No entanto, tais princípios não podemser construídos com exigências que estão acima das suaspossibilidades. As conseqüências disso podem ser graves.Mais ainda quando se trata de uma criança pequena.

Podemos citar outra situação análoga. A partir dos 3ou 4 anos os pais começam a ensinar as crianças a usar kipá.Certamente que essa atitude é muito bonita e positiva. A in-tenção é a melhor possível. Os pais desejam uma educaçãode qualidade para seus filhos e, neste caso, o empenho podeser maior daqueles que não tiveram esta educação desdecriança e desejam isso para seus filhos. Digamos, então,que, em determinado momento, o menino jogue a kipá e serecuse a recolocá-la. Nesse caso não se pode forçá-lo ausar. Não adianta bater no menino e obrigá-lo a isso. Dessaforma ele poderá acabar detestando a kipá. Um menino detrês anos não tem a obrigação de estar sempre com kipá. Épreciso educá-lo que, amanhã, quando for adulto, deveráusar kipá continuamente. Mas deve-se fazer issogradativamente, de forma que ele goste, e que seja de fato

Brincadeira É Coisa Séria!

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conforme as suas possibilidades.

Se os pais agirem com paciência e dedicação, chega-rá a idade em que o menino gostará de usar a kipá. Então,até mesmo quando ele estiver dormindo no colo dos pais ea kipá começar a cair, ele a arrumará sozinho na cabeça.

Conscientes de que a “construção” da educação pre-cisa ser realizada conforme o desenvolvimento natural dacriança, os pais alcançarão mais facilmente o sucesso nanobre tarefa de educar segundo os valores sagrados daTorá.

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EDUCAÇÃO RÍGIDAOs pais devem estar atentos ao momentomais adequado para iniciar da melhor for-ma a educação de seus filhos. Atrasos ouprecipitações são prejudiciais. Uma edu-cação rígida também não é adequada.

Conforme explicam nossos sábios da mishná, naeducação das crianças devemos considerar as diversas eta-pas de seu desenvolvimento natural.

Durante os anos da infância, é necessário estar plena-mente consciente de qual fase da educação precisa ser con-siderada. Com quatro anos uma criança é totalmente dife-rente de quando tinha dois! Quando se fala de um homemcom 30 ou com 32 anos, praticamente não há diferença, masquanto menor a criança, maiores as mudanças com o passardo tempo. Mais acelerado é o seu desenvolvimento. É in-dispensável levar isso sempre em consideração.

Os pais têm a obrigação de conhecer estas épocas dodesenvolvimento da criança e relacionarem-se com elasda forma apropriada. Quando os pais admitem estas diferen-tes etapas e procuram educar a criança conforme suas ne-

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Semeando o Futuro

cessidades, é sinal de que assimilaram um dos principaisconceitos da boa educação.

Diariamente recitamos a seguinte passagem na leitu-ra do Shemá Yisrael (Devarim 11:19): “Velimadtem otamet benechem ledaber bam – E as ensinareis a vossos filhosfalando delas.” Conforme explica Rav Hamnuna, esta adver-tência se refere a ensinar à criança, logo que comece a fa-lar, a seguinte frase: “Torá tsivá lánu Moshê morashá ke-hilat Yaacov – A Torá nos foi transmitida através de Mo-shê; ela é a herança da comunidade dos descendentes deYaacov”. Este é o primeiro versículo, junto com o ShemáYisrael, que o pai deve ensinar a seus filhos e filhas.

Na continuação desta passagem consta na Torá(11:21): “Lemáan yirbu yemechem vimê venechem – paraque se multipliquem os vossos dias e os dias de vossosfilhos.” Por isso, nossos sábios comentam que se o pai nãoseguir este ensinamento é como se, chalila, estivesse en-terrando seu filho.

Vemos que nossos sábios se expressam rigidamenteem relação a alguém que não ensina o versículo Torá TsiváLánu Moshê no momento correto a seu filho. Segundoeles, deve-se aproveitar o momento que a criança começa afalar para logo ensinar-lhe estas palavras sagradas da Torá.

Com certeza, é muito diferente quando se aproveitaesse momento para ensinar palavras sagradas, em vez deensinar sobre algum herói infantil ou coisa do gênero.

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Quando a primeira palavra que uma criança aprende é algu-ma bobagem, depois ela terá trabalho para se conscientizarde que, de fato, não tem nada a ver com aquilo.

Por que esse instante – justo quando a criança princi-pia a falar – é tão importante?

Quando a criança começa a falar é o momento adequa-do de semear nela emuná, a fé em D’us. Isso acontece en-sinando-lhe as palavras do versículo Torá Tsivá LánuMoshê. Assim, ela passará a saber que existe uma Torá eque o Povo de Israel teve um grande e importante profetachamado Moshê. Isso é a semeação da crença que a cri-ança carregará durante 120 anos!

Quando semeamos um terreno na época de plantio,são grandes as possibilidades de uma boa colheita. Quan-do perdemos o momento propício da plantação, a terra nãoestá mais apta a aceitar a semente. Existem momentosadequados para o plantio! Esse momento é no início do in-verno. Quem esperar para plantar quando começa a chover,não terá sucesso; a semente apodrecerá dentro da terra enão crescerá nada.

Da mesma forma, quem não ensina Torá tsivá lánuMoshê morashá kehilat Yaacov no momento certo, écomo se tivesse – analogamente à semente – enterrado ofilho. Quando não se aproveita um momento importanteele morre, ou seja, nunca mais voltará.

Não importa que a criança, a princípio, não entenda oque está aprendendo. O importante é que esta foi a primeira

Educação Rígida

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coisa que aprendeu. Com o tempo ela perceberá seu paiestudando e perguntará: “O que é isso?”

– É a Torá! – responderá o pai.

– O que é isso? – indagará em outra oportunidade.

– Foi Hashem que ordenou!

– E quem trouxe a Torá?

Com o tempo entenderá o significado daquela primei-ra frase. Quando se assenta uma base sólida, pode-se conti-nuar construindo algo firme.

A preocupação em aproveitar o momento certo tam-bém se aplica a não se precipitar. Quando a terra ainda nãoestá preparada também não adianta semear!

Segundo a própria Torá, o momento certo para come-çar os ensinamentos da Torá é quando a criança começa afalar. Antes disso, quando a criança nem fala ainda, não adi-anta forçá-la. Isso poderia resultar em um efeito negativo.

Todo o citado é a base do que significa “início da edu-cação”.

Conforme explica o comentarista Rashi, a palavrachinuch – educação – significa início, inauguração. Porisso usamos as expressões “chanucat hamizbêach – inau-guração do altar”, “chanucat habáyit – inauguração dacasa”. Nessas expressões, a palavra “chanucat” tem o sen-tido de “início”. Educar é introduzir conceitos, iniciar umapessoa quanto a determinados valores. Devemos apresen-tar às crianças as leis, os princípios, os valores, os concei-

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tos, no instante apropriado, tomando o cuidado para nãoperder este momento singular.

É muito importante que a iniciação seja introduzida nomomento certo. Conforme diz o Rei Shelomô (Mishlê22:6): “Chanoch lanáar al pi darcô – ensina a criançaconforme suas possibilidades.” Quando a criança ainda nãotem condição de aprender, não adianta forçá-la. Devemosaproveitar para iniciar os ensinamentos quando ela atingeuma determinada etapa e está apta a aceitar aquilo que trans-mitimos.

Se não aproveitarmos o tempo ideal para a semeação,a planta não crescerá adequadamente e não colheremosbons frutos. Analogamente, uma criança não se desenvol-verá um adulto com emuná plena em D’us e na Torá. Porisso, nossos sábios usaram aquela expressão tão severa: opai que desperdiça o momento oportuno é como se tivesseenterrado o filho.

Em toda esta abordagem ainda não se considerou ateshuvá – a capacidade que cada indivíduo tem para retornarao caminho correto da Torá. Tratou-se apenas de como é ne-cessário educar a criança. Quem, entre nós, não conhece asdificuldades que o indivíduo enfrenta depois que já adqui-riu determinados vícios? Quanto esforço não é necessáriopara eliminá-los?...

Sem dúvida alguma, é preferível utilizar a linha corre-ta na educação desde o princípio a tentar recuperar um adul-to por todo o tempo perdido! – A despeito de sabermos que,

Educação Rígida

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conforme dizem nossos sábios, “o lugar atingido pelos ba-alê teshuvá, os que retornaram ao caminho correto, nemmesmo tsadikim guemurim podem alcançar”.

Vimos, portanto, que o início da educação da criançaé essencial; encontramos esse conceito não somente naeducação, mas em vários assuntos na Torá. Por exemplo: oyehudi não festeja o término do ano. Comemora o iníciodo novo ano. Rosh Hashaná é o início do ano; é um diasublime. Motsaê Shabat, o início da semana, é um momen-to especial. Nos livros sagrados consta que estudar Torá nomotsaê Shabat é muito importante e favorece o prossegui-mento do estudo durante a semana. O início do mês – o roshchôdesh – também é especial. Foi a própria Torá que insti-tuiu o Corban Mussaf no primeiro dia do mês.

Todo início, segundo os conceitos da Torá, tem umaexcelência. O início é uma época propícia para plantar.Quando se deixa escapar essa oportunidade, torna-se difí-cil recuperar o que se perdeu. Por exemplo: em RoshHashaná – o início do ano – D’us nos julga. Três livros sãoabertos. Se o indivíduo tiver méritos suficientes, Hasheminscreve-o no livro dos tsadikim e apõe Sua chancela. O YomKipur, dez dias depois, é o final do julgamento apenas paraquem ficou “pendente”! Todas as pessoas têm a chance denão ficar dependendo do Yom Kipur para um selo final! Omediano é que fica dependente do Yom Kipur.

A partir do exposto acima, aprendemos que devemosestar atentos às oportunidades. Há uma exigência de que ospais conheçam as diversas etapas de desenvolvimento de

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seus filhos. Os pais devem ir alimentando as crianças con-forme suas possibilidades. Devem adaptar suas exigênciasao desenvolvimento natural da criança.

O Rav Wolbe é enfático em criticar exigências ante-cipadas, quando a criança ainda não tem capacidade deacatá-las. Mesmo que se obtenham resultados aparente-mente favoráveis em exigências deste tipo, este procedi-mento pode prejudicar a criança.

Quando se exagera em imposições prematuras, emépocas que a criança não está madura o suficiente paraentender o que querem dela, pode-se causar grandes da-nos para o futuro de sua educação. É como querer plantaruma semente em época antecipada.

A criança precisa se desenvolver em etapas e atra-vessar todos os estágios de forma gradativa. Neste capítu-lo, não trazemos o que deve ser ensinado à criança a cadaetapa. Essas fases serão tratadas mais para a frente e serãopublicadas numa outra oportunidade. De qualquer forma, éimportante saber que isso é próprio de cada criança. Não so-mente peculiar a cada família; mas a cada criança de cadafamília! Três irmãos podem possuir temperamentos com-pletamente distintos. São indivíduos diferentes, que neces-sitam do procedimento adequado a cada um conforme seutemperamento.

Vejamos alguns exemplos comuns de que muitas ve-zes não há coerência entre o que os pais exigem e o que ofilho é capaz de realizar.

Educação Rígida

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É sabido que muitas mães se vangloriam por teremconseguido ensinar conceitos de limpeza e higiene aosfilhos em uma idade prematura. Quanto antes a mãe obtémêxito neste campo, mais orgulhosa ela fica.

Em termos da educação laica, já se aceita a idéia cor-reta de que obrigar uma criança de forma prematura a sermeticulosamente limpa atrapalha todo o seu desenvolvimen-to. Mesmo que alguns pais aleguem estar apenas “tentando”transmitir tais conceitos, nesta idade, “tentar” é praticamen-te “obrigar”.

Não pretendemos, com isso, que não se diga absolu-tamente nada, deixando que a criança jogue tudo no chão oucoisa do gênero. Mas é normal que uma criança que comesentada no cadeirão, deixe cair comida na mesa e no chão.Também é normal que ela coma com as mãos. O mais cor-reto é que os pais “fechem os olhos” para estas atitudes.Não se pode exigir que uma criança de tenra idade use ta-lheres!

Nessa idade o importante é que a criança aprenda acomer e não que aprenda etiqueta.

Existe uma regra muito importante na educação: de-vemos sempre levar em consideração quanto tempo nósmesmos levamos para aprender determinado ensinamento.Isso parece simples e, na prática, é muito útil. Pense bem:

– Você quer que ela se comporte como você? Quan-tos anos você demorou para atingir este comportamento?Como uma criança de 3 ou 5 anos pode se comportar da

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mesma forma que você? Isso é impossível! Tenha paciên-cia!

Chegará o tempo em que a própria criança desejará serlimpa. Esta é uma tendência natural de todo ser humano.Neste momento, então, a questão da higiene poderá ser de-senvolvida de uma forma muito mais natural e com harmo-nia, pois a criança já estará preparada para este tipo de situ-ação.

Outro exemplo da divergência entre pais e filhos écom relação aos brinquedos. Muitas vezes os pais despre-zam os brinquedos dos filhos. No entanto, o brincar é in-dispensável. Conforme já comentamos, um adulto que atra-palha a criança em sua brincadeira, simplesmente rouba-lhealgo.

Claro que devemos ensinar à criança a não prejudicaros demais com suas brincadeiras. Ensinar também a não ba-ter nos outros, a não morder, não quebrar... Mas em casosnormais, quando ela está brincando, deve-se tomar cuidadopara não causar transtornos sem motivo.

Mais um exemplo de uma exigência normalmenteimposta pelos pais é que a criança se sente à mesa durantetoda a refeição de Shabat. Enquanto os pais estão comen-do, cantando, conversando e se divertindo com seus amigos,fazem questão que os filhos de 4 ou 5 anos acompanhemtudo. Uma criança não pode sentar tanto tempo em silên-cio! Ela precisa circular!

Sabemos também que no Shabat é proibido comer

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Semeando o Futuro

qualquer coisa antes do Kidush – tanto na noite de sexta-feira quanto no sábado de manhã. Digamos que um pai trazseu filho de seis anos para a sinagoga no Shabat de manhã.Se a criança pedir água durante as orações, não se pode exi-gir que ela espere com sede até o Kidush! Quando ela tiveronze ou doze anos, aí sim começa-se a ensinar esta mitsvá.O “Maguen Avraham” explica que, conforme a própria leijudaica, não se deve privar uma criança de comer e beberantes do Kidush.

Mesmo num caso em que, eventualmente, uma crian-ça pequena não esteja disposta a participar do Kidush noShabat, não se deve ser rígido demais exigindo sua presen-ça. Digamos que uma criança de cinco ou seis anos estejadormindo. Não é correto acordá-la para participar do Ki-dush. O que acontece, normalmente, é que as crianças gos-tam de participar do Kidush quando recebem um incentivode forma positiva.

Mesmo que a criança tenha pedido para ser acordadapara participar do Kidush, devemos deixar que ela durma,se depois ela mudar de idéia e não quiser sair da cama. Mui-tas vezes nem mesmo adultos levantam com o desperta-dor!...

Os pais devem colocar-se no lugar das crianças aosolicitar determinadas condutas. Colocar-se no lugar dacriança talvez seja até fácil. O mais difícil, no entanto, é seimaginar com a idade da criança! Todos nós muitas vezesesquecemos de levar em consideração a idade dos nossosfilhos e cometemos excessos.

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Quando a mishná determina: “não julgue seu amigoenquanto não estiver na mesma situação”, certamente issotambém vale em relação aos filhos.

Portanto, exigir comportamentos acima das possibi-lidades da criança é muito negativo e pode surtir efeitosprejudiciais no seu desenvolvimento. O dano é maiorquanto menor é a criança, pois mesmo pequenos erros naépoca do “plantio” podem gerar conseqüências graves nofuturo.

Ainda que a intenção dos pais seja das melhores – equase sempre é – deve-se ponderar com cuidado cada novaexigência.

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Semeando o Futuro

PENSANDO NAADOLESCÊNCIA

Os problemas tão freqüentes de relaciona-mento entre pais e filhos adolescentes de-vem ser levados em consideração desdeidades precoces de dois ou três anos!

Tão importante quanto educar os filhos, é educar ospais para que saibam como educar os filhos.

A educação é um processo que deve ser encarado alongo prazo. Quando uma criança tem dois ou três anos,os pais já devem levar em consideração que quando elativer treze, quatorze anos, passará por uma fase difícil.

Todos nós sabemos que a adolescência apresentadificuldades especiais, afinal todos nós passamos por ela.Sobre a idade de um adolescente, em Israel costuma-sedizer brincando que o jovem está na fase de “tipesh-esrê”,que seria uma expressão equivalente à nossa“aborrecência”.

A adolescência é uma época na qual o jovem neces-sita muito do apoio dos pais. Para aceitar este apoio, ele

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precisa sentir muita confiança nos pais. Além disso, é ne-cessário que haja um ambiente de intimidade entre pais efilhos, para que eles se sintam à vontade para relatar o queestá acontecendo com seu corpo, com sua cabeça e, dessaforma, serem bem esclarecidos e aconselhados. A partir dequando, então, os pais precisam preparar este ambiente? Apartir dos 2 ou 3 anos de idade!

O conceito primordial para que um jovem passe pelaidade dos 14 anos em paz, em harmonia, é que ele mante-nha uma relação calorosa e afetiva com os pais desde suainfância. Não adianta exigir esse relacionamento quandoo jovem já atingiu os 14 anos se, nos anos anteriores, nãoexistia esse tipo de convívio.

Se os pais são agressivos com os filhos quando têm2, 3, 4 anos; se praticam uma educação extremamente se-vera, se batem neles e se exigem deles comportamentosacima de suas possibilidades, simplesmente não alimen-tam uma relação calorosa com eles. Quando a criança ain-da é muito pequena, ela não demonstra a falta de “quími-ca” entre ela e os pais. Nesta idade ela ainda precisa mui-to dos pais e é obrigada a manter uma certa ligação comeles. No entanto, quando já tiver 13 ou 14 anos e se julgarmais ou menos independente, terá em seu subconscientea idéia de que não existe uma relação afetiva entre ela eos pais. Somente então, os pais perceberão o erro que co-meteram em todos os anos precedentes.

Quando o filho é pequeno, não tem outra proteçãosenão os pais. Ele naturalmente gosta dos pais. Apesar de

Pensando na Adolescência

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sentir que não há um vínculo adequado, sabe que não temoutra opção. Quem, além dos pais, ele poderia procurar?Quando ainda pequena, não lhe basta pedir auxílio ou apoioa algum amigo. Já aos 13 ou 14 anos, quando necessitar deajuda, um amigo parecer-lhe-á suficiente. Quando necessi-tar de apoio, se o jovem preferir um amigo aos pais e estefor um amigo inescrupuloso, as conseqüências poderão sertrágicas.

Os pais que erram durante toda a infância ficam sur-presos quando a criança atinge os 14 anos: “Não consigoentender o que está acontecendo com meu filho!”, “Ele nemconversa comigo!”, “Ele não me conta nada!”, “Não sei denada que se passa em sua cabeça!”

“Quando os pais vêm e me perguntam o que fazer”, dizo Rav Wolbe, “eu respondo: ‘Hoje você está pagando pelosgolpes que você lhe deu quando ele era pequeno! Os gestosimplacáveis e o relacionamento duro estão borbulhando nosubconsciente da criança sem que nem mesmo ela perce-ba.’”

Um dos tristes reflexos da falta de esclarecimentodos pais quanto ao modo correto de educar e da prática defalhas graves na educação das crianças é a falta de comuni-cação entre pais e filhos adolescentes. As falhas dos paispermanecem ocultas na alma da criança. Quando ela atingea adolescência, de repente, tudo se manifesta. Aí, então, ospais ficam boquiabertos, sem entender a falta de comuni-cação, a falta de afeto. Para eles, certamente, é um grandesofrimento e – pior – para a criança é um grande dano.

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Mesmo a repreensão deve ser usada o mínimo possí-vel durante a infância. Sempre devemos procurar um cami-nho de relacionamento caloroso com os filhos.

Tudo isso não significa que os pais devem deixar deconduzir a educação no sentido de que as crianças prati-quem a mitsvá de respeito e temor aos pais! Devemensiná-las a não sentar no lugar dos pais, a não respondermal para os pais, a não levantar a mão para os pais, etc. Arigidez dos pais não deve cair abaixo deste limite.

Quando um filho pequeno bate na mãe, por exemplo,os pais não devem rir, porque dessa maneira estão incenti-vando esta atitude. Deve-se valorizar o respeito e o temoraos pais, porém levando em consideração a idade dos filhos,sem severidade.

Em outras palavras, é fundamental manter um relaci-onamento afetuoso com os filhos desde muito cedo. É im-portante sempre preservar esta relação amigável. Dessa for-ma, quando passarem pelos momentos difíceis da adoles-cência e precisarem ser orientados, eles se sentirão à von-tade para recorrer aos pais.

Em muitas ocasiões, durante a educação de nossosfilhos, parece que alcançamos melhores resultados sendomuito severos. No entanto, todo ser inteligente precisaponderar as conseqüências de suas atitudes a longo pra-zo. Isso também é correto, e é muito importante de ser ob-servado, em relação à educação dos filhos. Os pais consci-entes da importância da educação a longo prazo – e nãosomente dos resultados imediatos – devem ficar constan-

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temente atentos aos cuidados a serem tomados em relaçãoà severidade no tratamento dos filhos.

Não é raro ouvir pais comentarem frases do tipo:“Quando meu filho não me obedece, basta eu dar algunstapas e imediatamente ele muda de idéia!” e ainda se van-gloriam imaginando: “Eu sei como influenciar meu fi-lho!”.

Por esse tipo de atitude, os pais podem pagar carono futuro, quando o filho tiver 14 ou 15 anos e não sentirmais tanto medo e dependência dos pais. Aí será muitodifícil consertar o erro cometido.

O cuidado em evitar o excesso de severidade e, aomesmo tempo, procurar transmitir carinho, confiança esegurança aos filhos, constitui um dos pilares da educa-ção das crianças.

O que descrevemos não é fácil de ser aplicado nodia-a-dia. Contudo, é fundamental que os pais procuremse adaptar a essa forma de educação. É uma obrigação queeles se esforcem nesse sentido. Certamente, no decorrerdo tempo, todos cometem alguns tropeços; mas o simplesfato de os pais serem esclarecidos e reconhecerem seuserros, ajuda-os a corrigi-los sem grandes conseqüências.

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TENDÊNCIA NATURALUma criança educada contra suas voca-ções naturais obedecerá temporariamen-te mas, quando crescer, não ouvirá maisos conselhos dos pais.

Tratemos de um detalhe muito importante na educa-ção – as tendências naturais dos filhos – sua personalidade.

É indispensável que os pais conheçam bem cada umdos filhos e distingam suas tendências naturais específicase particulares. Em uma família com vários filhos, por exem-plo, não é correto imaginar que todos podem ser educadosda mesma forma, que todos são parecidos. Nem sempre oque é apropriado para um também o é para o outro. Não exis-te uma criança igual a outra! Os pais devem estar perfeita-mente cientes disso. Caso contrário, este entendimentoerrado da natureza da criança será prejudicial. Quando ospais não conhecem bem seus filhos, é comum presumiremque eles têm certas forças que de fato não possuem. Quan-do os pais não conhecem a criança, todo o esforço em suaeducação será falho, pois utilizam como tática um métododirigido a alguém que não consegue assimilá-lo. Estes pais

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exigem da criança atitudes que vão contra sua natureza.

Quem quer educar uma criança de fato, e obter suces-so, precisa saber – averiguando, investigando – quais são astendências particulares da personalidade da criança e, base-ando-se nisso, educá-la.

Quando se planta mudas de árvores, obviamente é di-ferente o trato que se despende a espécies distintas. Nãose pode cultivar uma bananeira da mesma forma que secuida de uma macieira! Se for dado o mesmo trato a duasárvores de espécies diversas, pelo menos uma delas nãoirá crescer bem. Talvez até mesmo ambas não dêem fru-tos. Algo análogo acontece com as crianças. É necessárioconhecer as tendências naturais, a personalidade de cadacriança, e levar isso em consideração nas medidas educa-cionais.

Este conceito já nos é conhecido do livro “MessilotChayim Bachinuch” do Rav Chayim Friedländer zt”l. Defato, todos os nossos grandes educadores citam em suasobras o comentário do Gaon de Vilna sobre o versículo doRei Shelomô (Mishlê 22:6): “Chanoch lanáar al pi dar-cô, gam ki yazkin lô yassur mimena”. A tradução simplesdeste versículo é: “Ensina ao jovem o bom caminho, poismesmo em sua velhice não o abandonará.” No entanto, aprimeira parte, traduzida literalmente é: “Ensina ao jovem‘conforme o seu caminho’”. Assim, o Gaon de Vilna expli-ca que se deve ensinar cada criança “conforme o seu cami-nho” – cada pessoa tem o seu temperamento e, de acordoele, deve ser educada.

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Cada criança tem o seu dêrech, sua índole. Não sepode quebrar as propensões naturais do indivíduo. Porexemplo: a guemará explica que quem nasce segundo omazal Madim – uma determinada influência natural – é umsujeito que tem propensão a “derramar sangue”. É impres-cindível que se admita esta inclinação. Já que não se podealterar esta vocação, a guemará aconselha esta pessoa a“derramar sangue” de uma forma permitida. Esta pessoadeve ser orientada, por exemplo, a ser mohel (perito em cir-cuncisão) ou shochet (magarefe, abatedor). Desta forma,este indivíduo não canalizará sua inclinação para coisas er-radas.

É isso que o Gaon de Vilna ensina: não se pode que-brar uma tendência natural, mas é necessário trabalharcada criança para que seja direcionada para um caminho cor-reto. Conforme este raciocínio, até mesmo o livre arbítrioé de certa forma limitado. Uma tendência natural internanão pode ser eliminada, mas pode ser trabalhada para o bem.

Há uma outra tendência, a do mazal Tsêdec, cuja ín-dole é ser uma pessoa justa. Também nesse caso não há umagarantia irrestrita de que a pessoa será justa e bondosa, ape-nas uma inclinação natural. É necessário que a educação dacriança leve em consideração esta propensão, tirando pro-veito de sua natureza.

D’us concedeu o livre arbítrio a cada indivíduo, paraque ele direcione sua inclinação natural – seja qual for – daforma correta. Assim, cada indivíduo, independente de suanatureza, pode tornar-se um tsadic (justo), um benoni (me-

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diano) ou um rashá (perverso).

O indivíduo sob influência de mazal Madim só seráum assassino – D’us não o permita – se utilizar seu livrearbítrio para ser um rashá.

É importante saber que podemos orientar e direcio-nar alguém com tendência para mazal Madim e não trans-formar a essência dele em um indivíduo com mazal Tsêdecou qualquer outro.

Seguindo este raciocínio, uma criança agitada, quesempre precisa estar se movimentando, não pode ser“transformada”. Não se pode forçar esta criança a perma-necer muitas horas na frente de um livro, por exemplo.Tentar alterar esta natureza é estragar a criança. Caso seinsista no erro, quando esta criança crescer, provavelmen-te seguirá o seu próprio caminho. Sem ter sido instruídade forma correta, a sua escolha será muito distante daqui-lo que os pais pretendiam.

Em relação ao Rei David, consta que ele era“admoni” – vermelho. Quando o Profeta Shemuel foienviado por D’us para ungir um dos filhos de Ishay comorei, hesitou ao avistar David. Naquele momento, Shemuelficou indeciso. Por um lado ele pressentiu que David era demazal Madim, inclinado para o derramamento de sangue.Por outro lado, David possuía “bons olhos” – conforme oTanach, era “yefê enáyim” (Shemuel I 16:12) – o que su-geria um bom caráter. De fato, o Rei David derramou muitosangue em guerras e perseguições, mas somente com oconsentimento Divino, segundo instruções do San’hedrin –

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o grande tribunal rabínico da época – e dos Urim Vetumim.

O Talmud Berachot (3b) nos relata o comportamen-to de David Hamêlech ao sair para a guerra. Primeiramenteaconselhava-se com Achitôfel no que dizia respeito à es-tratégia bélica; depois pedia ao San’hedrin (os 70 sábi-os do tribunal de Jerusalém) licença para sair à guerra epara que rezassem por seu êxito. Finalmente, consultavaos Urim Vetumim (“Urim shemeirim et divrehem, Tumimshemashlimim divrehem – Urim, pois suas palavras lu-zem, Tumim, pois suas palavras se completam”). Os UrimVetumim eram 12 pedras preciosas que levavam os nomesdas 12 tribos de Israel. Estas pedras estavam incrustadasem uma veste especial que o Cohen Gadol levava em seupeito, chamada Chôshen. O povo costumava consultar osUrim Vetumim para saber se deveriam ou não guerrear. Se-gundo Rav Yochanan, a resposta vinha por uma seqüência deletras que se destacavam em relevo formando uma palavra.De acordo com Resh Lakish, as letras deslocavam-se de seulugar e formavam uma palavra.

Chanoch lanáar “al pi darcô” – ensina o jovem“conforme o seu caminho” – ou seja, conforme as suas in-clinações naturais. Levando isso em consideração, ensi-ne-o a cumprir as mitsvot; dessa forma, gam ki yazkin lôyassur mimena – também quando ele crescer não se desvi-ará dela.

Quando se força uma criança a agir contra o seu ma-zal, contra suas tendências naturais, enquanto for pequenaela obedecerá os pais por medo, mas quando já não depen-

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der tanto deles, provavelmente jogará este fardo de suascostas e se sentirá à vontade para fazer tudo o que desejar.

Uma criança educada contra suas vocações naturaisobedecerá, temporariamente, sem que necessariamente ospais notem um problema sério, mas quando ela crescer,não ouvirá mais os conselhos dos pais. Estas regras sãobásicas na educação. Muitos pais erram segundo este con-ceito, sofrendo conseqüências graves depois de algunsanos.

O Rav Wolbe conta sobre um tsadic mefursam – umsábio famoso – que levou seu filho para estudar na yeshivána qual ele era mashguíach – diretor. Quando o homemapresentou seu filho ao mashguíach, explicou que o meni-no era tímido. De fato, o menino parecia muito tímido.Logo na primeira conversa com o garoto, ele não respon-deu às perguntas que lhe fizeram. Não disse seu nome, suaidade...

Algum tempo depois, foi comprovado o verdadeiromotivo de sua “timidez”. O pai do menino era realmente umgrande tsadic. No entanto, com a intenção de que seu filhoaproveitasse o tempo da melhor forma, não deixava que elesaísse de casa, que ele brincasse com amigos... O homemqueria que seus filhos agissem do mesmo modo que eleagia. Ele achava que jogos e divertimentos são um desper-dício de tempo e que o mais importante é estudar todo otempo possível. Na realidade, o menino não era tímido; elese corroía de ódio.

“Não consegui remover o ódio do coração daquele

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menino”, conta o Rav Wolbe. “Ele cresceu, ficou adulto,deixou de cumprir as mitsvot e casou-se, bar minan, comuma mulher que desprezava as mitsvot.”

A intenção do pai desse menino era a melhor possí-vel; queria que ele também se tornasse um tsadic. No en-tanto, ele cresceu e tornou-se um rapaz revoltado. O pai nãoconsiderou as tendências do filho e as conseqüências fo-ram desastrosas. Não se pode exigir que uma criança, ou umjovem, seja um tsadic como um homem de cinqüenta anos!

O Rav Eliêzer ben David, quando vê um pai levar seusfilhos pequenos para rezar no minyán do nets hachamá –que começa antes do nascer do Sol – não deixa de advertiro pai. Um menino de dez ou doze anos precisa dormir... enão ser forçado a despertar de madrugada para ir rezar!

É necessário muita atenção, dedicação e instruçãopara trabalhar o comportamento e as características das cri-anças. Se o pai não educa o filho considerando sua idade esuas tendências naturais, ele passa a se comportar como umrobô. Se o pai deixa que ele cresça “sozinho”, sem moldarsuas características no tempo correto, ele cresce comouma vegetação selvagem!

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DOIS PRINCÍPIOSBÁSICOS

Existem dois caminhos básicos que devemser trilhados durante a educação das cri-anças. Para o sucesso na boa educação,estes dois aspectos devem ser consideradoscom muito cuidado.

O primeiro cuidado básico na educação de um indiví-duo é o exemplo pessoal dos educadores. Os pais e os pro-fessores devem ser bons exemplos para as crianças. Esta éa primeira obrigação dos pais em relação a seus filhos. Todacriança, de uma forma natural, quer se identificar com seuspais e deseja imitá-los. Se o exemplo que os pais apresen-tam é correto, e o relacionamento entre pais e filhos é sa-dio – caloroso, amigável – então, de forma natural, o filhodeseja ser igual ao seu pai. E a filha deseja ser igual à mãe.

Quando os pais exigem comportamentos que elesmesmos não observam, prejudicam a educação dos filhos.Isso acaba desnorteando as crianças. Por exemplo, um paique pede para seu filho fazer as berachot em voz alta. Ele

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explica a seu filho que é importante dar valor a cada bera-chá, recitando-a em voz alta, pausadamente e com cavaná– concentração e intenção adequada. Mas se o próprio paifaz o Bircat Hamazon em voz baixa e não leva mais de meiominuto!... Um pai que exige que seu filho ande sempre comkipá, mas ele próprio não cobre a cabeça... Um pai que pedepara o filho rezar diariamente com um minyán, mas elemesmo reza em casa... Um pai que manda seu filho estudarTorá, mas o filho nunca o vê estudando... E tantos outrosexemplos.

A criança passa a se perguntar como seus pais podemexigir o que eles mesmos não fazem. O filho percebe cla-ramente que não há coerência nos ensinamentos e pedidosdos pais. Com esta contradição entre palavras e atos dospais, confunde-se a criança.

Mesmo que o filho não tenha uma convivência inten-sa com os pais, é importante que ele veja a boa conduta dospais nos momentos em que estão juntos. Também é relevan-te que a criança saiba que seu pai freqüenta shiurim, rezacom minyán, pratica boas ações, etc. Se a criança pequenaestá ciente desses bons comportamentos de seus pais, quan-do ela crescer irá encarar com naturalidade o pedido dospais para que se comporte da mesma forma.

Uma das grandes figuras da nossa geração é o RavChayim Kaniewsky, filho do grande Staipler. Este homemestuda anualmente todo o Talmud Bavli, o Yerushalmi, oTur Bêt Yossef e o Rambam! Ele é autor de vários livros etrata de assuntos da lei judaica que poucas pessoas conhe-

Dois Princípios Básicos

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cem. Certa vez eu perguntei ao Rav ben David como alguémpode crescer e se transformar numa pessoa assim; qual o“segredo”? Então ele respondeu que um indivíduo dessa es-tatura é concebido pelo pai. O pai do Rav ChayimKaniewsky, o Staipler, era “somente Torá”; então este é oresultado que se observa no filho. Quando as atitudes dospais em relação ao filho são as melhores possíveis, desde asua concepção, a elevação espiritual do filho fica muitomais fácil; tudo corre “às mil maravilhas”!

O segundo cuidado básico é a explicação que se devedar para os procedimentos solicitados. Conforme a criançacresce, existe a necessidade de explicar para ela os moti-vos de cada recomendação, de cada ensinamento. Não é sau-dável determinar ordens sem dar uma explicação do porquê.Os pais têm a obrigação de explicar as razões dos fatos paraos filhos, conforme sua capacidade, e não imaginar que elessão muito pequenos e que não conseguem entender nada. Ospais não podem achar que os filhos são obrigados a cum-prir ordens sem qualquer esclarecimento.

É claro que há certas coisas que nem mesmo nós adul-tos conhecemos a razão. Certamente não é sobre isso quese pede uma explicação dos pais.

Há condutas e mitsvot que são exigidas de nós e quenunca compreenderemos. Estas não podem seresclarecidas aos filhos. Mas, ainda assim, pode-se expli-car que as cumprimos por ser a vontade de Hashem, e queEle não nos revelou um motivo. De qualquer forma, se opai sempre explica para seu filho os fatos que o filho é

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capaz de entender, fica muito mais fácil de o filho aceitaros outros ensinamentos – aqueles para os quais o pai nãodá explicações. Quando o filho está acostumado a rece-ber esclarecimentos, ele confia em seu pai. Dessa maneira,o filho percebe que existem coisas que têm explicação e ou-tras que não têm. E ele vê o pai cumprir mitsvot porque estaé a vontade de D’us.

A explicação deve ser apresentada na linguagem dascrianças, conforme o nível e o poder de compreensão decada uma. Não adianta conversar com uma criança da mes-ma forma que se fala com um indivíduo de vinte anos! É im-portante expressar-se na linguagem da criança, utilizandotermos e conceitos que ela seja capaz de assimilar. Issovaria muito conforme a idade e, ainda, segundo a capacida-de de cada criança.

Portanto, não é correto fugir de explicações. Quandoo pai não souber responder a alguma pergunta, deve procu-rar as respostas, pesquisar, estudar, para depois transmitir oensinamento para os filhos.

Infelizmente, esta é uma tarefa que está um tanto aban-donada em nossos dias. De uma forma geral, os pais não seocupam o suficiente com esta obrigação. Portanto, à medi-da que as perguntas vão surgindo, existe a necessidade deesclarecê-las.

Não somente isso. Existem conceitos básicos deemuná – fé judaica – que devem ser transmitidos, confor-me a maturidade de cada criança, mesmo que elas não per-guntem. Deve-se esclarecer a emuná em relação à Torá, às

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mitsvot e a D’us. Quando chegar o momento, é necessáriocontar sobre Yetsiat Mitsráyim – a Saída do Egito – e sobreMaamad Har Sinay – a Revelação no Monte Sinai. Certa-mente não se trata de se aprofundar em todos os detalhes ecomentários dos nossos sábios, mas relatar que houve umasituação na qual todo o povo esteve presente para receber aTorá. A partir disso, explicar também um pouco sobre o queé neshamá, a alma que cada um possui, e que todas asneshamot estavam presentes no Maamad Har Sinay.

Não é possível expor para uma criança os comentári-os minuciosos dos nossos sábios sobre cada conceito, so-bre cada mitsvá. O importante é que os pais estudem, co-nheçam o assunto, analisem minuciosamente os comentári-os para alcançarem o sentido, entenderem o conceito e ela-borarem a melhor explicação acessível para cada criança.

Sobre D’us, por exemplo, devemos ensinar que é im-possível vê-Lo. Até mesmo Moshê Rabênu, que foi um ho-mem muito elevado e importante, conversou com D’us masnão pôde vê-Lo. A Torá ensina que é totalmente impossívelque um homem veja o Criador.

A Providência Divina nos eventos da natureza é rele-vante – e fácil de explicar para uma criança. Deve-se dizerque existe Alguém Que comanda todos os detalhes na natu-reza; Que faz anoitecer e amanhecer. D’us está em todos oslugares e dirige todos os acontecimentos no mundo.

D’us está em todos os lugares. Na verdade, esse é umconceito interessante. Às vezes, diz-se para as crianças queD’us está nos Céus e outras que Ele está em todo lugar!... É

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necessário ter cuidado para não confundi-las. ConformeYesha’yáhu (66,1): “ Cô amar Hashem: ‘HashamáyimKiss‘i vehaárets hadom raglay...’” Nossos sábios comen-tam que é como se Hashem estivesse “sentado” em um tro-no, nos Céus, com os “pés” sobre um escabelo (banquinhopara descanso dos pés) na Terra. De cima, Ele guia todo omundo. Com este exemplo, fica mais fácil de transmitirpara as crianças uma idéia sobre a Providência Divina noUniverso.

Com observações simples da natureza, é possíveltransmitir a existência do Criador – examinando com as cri-anças detalhes do campo, como as folhas, as flores, a chu-va... Isso é fundamental para que a criança cresça com fé naexistência de D’us.

As crianças pequenas não fazem idéia do conceito devida e morte, mas crianças maiores já conseguem entender.Qual a diferença entre um morto e alguém que está vivo, ede Quem depende tudo isso? A própria vida ensina a acredi-tar em Hashem de uma forma natural.

Desenvolver a fé em D’us não é difícil. Todo ser hu-mano possui dentro de si uma tendência natural nesse sen-tido. Sobre isso, é conhecida a piada que conta sobre o su-jeito que diz: “Sou ateu, graças a D’us!”. A natureza do serhumano é acreditar em D’us. O problema surge quando oindivíduo desvincula as mitsvot de Hashem, por influênciado meio, ou por falta de conhecimento; mas a fé simples ebásica é uma tendência inata no ser humano.

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Depois de tratar acerca dos dois princípios básicos daeducação – o exemplo pessoal dos pais e a explicação quedevem prestar aos filhos – analisaremos com profundidadeos métodos e as ferramentas disponíveis para atingir suces-so na educação dos nossos filhos.

Certa vez, publicou-se o resultado de estudos de umbiólogo famoso em relação ao comportamento de bebêsrecém-nascidos. Ele analisou o comportamento de algunsanimais no primeiro dia de suas vidas e comparou-os com aconduta de um ser humano em seu primeiro dia de vida. Ocientista percebeu, entre outras coisas, que pela constitui-ção e força motora da criança, esta necessitaria de mais umperíodo de gestação para que chegasse ao nível de um ani-mal recém-nascido.

A conclusão do biólogo foi que faltariam em torno demais nove meses de gestação para que a criança recém-nas-cida atingisse um desenvolvimento equivalente ao dos ani-mais estudados.

Um animal recém-nascido é muito mais independen-te que um bebê. No dia em que os animais nascem já sãomuito ativos e podem até sair andando. Um gato recém-nas-cido já consegue pular! Um cavalo também. Entretanto issonão acontece com os bebês! E a cada pequeno novo gesto,cada sorriso, os pais se surpreendem, admiram-se e delei-tam-se. Somente depois de um ano a criança atinge uma si-tuação de atividade equivalente à dos animais no primeirodia de vida.

O autor destes estudos concluiu uma realidade, que já

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fora analisada por nossos sábios de abençoada memória.Nesse contexto, nossos sábios comentam que há algo mui-to importante e singular na criação do homem. Para enten-der esse conceito, analisemos, primeiramente, uma parti-cularidade sobre a mitsvá de berit milá.

D’us ordenou que os pais realizem o berit milá emseus filhos. Logo surge a questão: Se a vontade de D’us éque nós sejamos circuncidados, por que Ele já não nos crioucircuncisos? A guemará relata que algumas personalidadesde nossa história nasceram circuncidadas – sem a orlá(prepúcio). É evidente que D’us poderia criar todos assim!Por que, então, não o faz?

Nossos comentaristas explicam um detalhe relevantesobre a criação do homem, transmitindo uma lição para todaa vida do yehudi. Criando o homem incircunciso, Hashemmanifestou sua intenção de que o ser humano seaperfeiçoasse cada vez mais durante os anos da sua vida.D’us quis transmitir o conceito de que o homem tem a obri-gação de fazer o que lhe cabe, um esforço, para progredir,desenvolver suas virtudes, seus conhecimentos. Esta é aprincipal diferença entre a criação de um animal e de um serhumano. Provavelmente essa é a conclusão à qual o biólo-go um dia chegará.

O mesmo cientista afirmou ainda, que o primeiro anoda vida de um bebê pode ser encarado como uma segundaetapa de gestação. Ele chamou este período de uma “gesta-ção no útero social”. Somente depois dessa fase é que acriança tem condições de “sair” de fato para o mundo. So-

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mente então, pouco a pouco, a vitalidade da criança come-ça a ser mais expressiva; a força motora e os reflexos pas-sam a funcionar de fato.

Nessa segunda etapa de “gestação”, a criança inicia oseu relacionamento com os pais, com os irmãos e com asociedade de uma forma geral. Já que a finalidade de todo oser humano é que ele se ambiente na sociedade, Hashemnão o criou desde o primeiro dia adaptado, com os reflexosjá prontos e com a força motora equivalente à dos animais.O animal anda no primeiro dia de vida, e se tivesse a facul-dade da fala, falaria também no primeiro dia. Como o serhumano precisa se esforçar para se adaptar à sociedade ecarece relacionar-se com outras pessoas, Hashem o crioude maneira que ele sai do ventre materno e, de formagradativa, completa seu desenvolvimento motor no ambien-te que ele precisará se aperfeiçoar o resto de sua vida.

Concluímos, a partir disso, que o “calor”, o afeto queos pais proporcionam aos filhos, é muito importante. Vistoque o bebê carece ainda de um ano para desenvolver seusreflexos e se ambientar no meio social, ele necessita so-bremaneira do “berço” da casa – um lar repleto de calorhumano.

Em épocas passadas, havia kibutsim em Israel nosquais os bebês eram criados em creches internas. Todosos bebês ficavam juntos e as mães amamentavam os fi-lhos nos períodos necessários. As crianças também dor-miam nessas creches. Com o tempo, os moradores doskibutsim perceberam que esse procedimento não era sau-

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dável para o bom desenvolvimento natural das crianças.Hoje, nenhum kibuts utiliza esse método, e cada bebê moraem sua casa com seus pais. Os kibutsim abandonaram essaconduta porque perceberam que o desenvolvimento da cri-ança, quando passa todo o tempo na creche, não é um de-senvolvimento normal como o das demais crianças.

Toda criança precisa do calor de seu lar. E esse calorsignifica o amor que os pais transmitem. Para a criançacrescer sadia, necessita de muito amor.

Cabe observar, entretanto, que amar não é mimar. Nãopodemos confundir amor com licenciosidade. Calor huma-no não significa consentir que a criança tenha liberdade parafazer o que quiser sem que seja repreendida. A permissivi-dade e os mimos farão com que o filho não mais obedeçaaos pais.

Dois Princípios Básicos

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PUNIÇÕESComo são encaradas as punições segundoos critérios judaicos?

Nos capítulos anteriores sobre a educação das crian-ças, ainda não tratamos desse tema – de castigar ou baternos filhos.

Muito foi falado sobre aproximar as crianças, sobredemonstrar amor e calor nas relações entre pais e filhos.Mas e sobre bater nos filhos? Seria benéfico este tipo deatitude? Em quais situações?

Esse assunto, sobre punições impostas às criançascom o intuito de bem educar, é polêmico, delicado e mui-to questionado de uma forma geral. Existe uma concep-ção sobre o assunto segundo a qual a educação das crian-ças deve ser baseada em punições. Essa idéia é comumentre pais e, infelizmente, também entre professores.

Em Israel, um diretor de um talmud Torá, uma es-cola para crianças, escreveu um livro intitulado “QuandoPunir a Criança”. O Rabino Wolbe leu o livro e verificouque nele também eram abordados muitos outros assuntosimportantes sobre educação. Ainda assim, ele criticou o

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autor por ter escolhido aquele título. Quem vê o título “Quan-do Punir a Criança” em um livro sobre educação, pensa queo objetivo do livro é ensinar a punir! E o primeiro enfoqueda educação não deve ser quando punir. A punição deve sero último meio a se recorrer na educação das crianças. Já queeste é o último recurso, não pode ser considerado em prin-cípio e não deveria ser, em absoluto, o título de um livro so-bre educação.

Por trás da vontade de punir dos pais ressalta seu an-seio de governar – o desejo de serem eles os que mandam.Normalmente, o homem imagina que, se ele pode punir, ésinal que domina a situação, que controla os demais. Issoacontece de uma forma geral. Também acontece, particu-larmente, com os pais em relação aos filhos e com os pro-fessores nas salas de aulas.

Certa ocasião, o Rav Wolbe estava procurando con-tratar alguém para assumir o cargo de mashguíach dayeshivá ketaná. A yeshivá ketaná é uma instituição de en-sino judaico para rapazes que já terminaram a oitava série –jovens de 14 a 17 anos.

Além dos rabinos que ministram as aulas, toda yeshi-vá possui um ou mais rabinos denominados de mashgui-chim. Os mashguichim supervisionam se os alunos estãocomparecendo às aulas. Além disso, eles são responsáveispor acompanhar uma série de aspectos da vida do jovem epelas palestras – “Sichot” – ministradas na yeshivá.

A função do mashguíach na yeshivá é primordial. Eledeve acompanhar o desenvolvimento de cada aluno, seja no

Punições

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âmbito do aprendizado, no emocional, no que diz respeitoao relacionamento com os colegas, com os professores ecom os pais. Esse trabalho é de máxima importância nasyeshivot. As pessoas que assumem tal posto devem possuirmuita capacidade e tato para perceber e tentar resolver osproblemas dos jovens. A responsabilidade ainda aumenta nayeshivá ketaná, quando se considera o fato de tratar-se deuma idade difícil – a adolescência – para os alunos. Quandoum jovem tem algum problema ou alguma dúvida quanto aoseu desenvolvimento emocional ou físico, o ideal é que elesinta confiança no mashguíach e procure-o por iniciativaprópria. O mashguíach precisa, nessas oportunidades,compreender as necessidades do jovem, tranqüilizá-lo, sa-ber explicar o que está acontecendo e como superar as di-ficuldades. O mashguíach também deve estar atento ao de-senvolvimento e alterações comportamentais dos alunospara tomar a iniciativa de procurá-los e tentar resolver even-tuais problemas. Quando o mashguíach percebe que umaluno estudioso não está estudando a contento, por exem-plo, ele precisa ter sensibilidade para a situação, procurar ojovem e tentar ajudá-lo.

Quando o Rav Wolbe procurava alguém para assumiro cargo de mashguíach da yeshivá ketaná, apresentou-seum pretendente. Durante a entrevista, aquele senhor pergun-tou quais seriam exatamente seus poderes na yeshivá; qualseria a sua autoridade. O candidato a mashguíach queriasaber se ele teria a autoridade de expulsar um jovem da ye-shivá se necessário. Esta foi a sua primeira pergunta. Na-

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quele momento, o rav percebeu que aquele senhor jamaissairia um mashguíach, um educador de fato.

A primeira preocupação de um educador não pode serseu poder de dar ordens ou seu direito de se fazer obede-cer. Será que a autoridade de poder expulsar um aluno ga-rante que o educador é o “chefe”? Se alguém pensa dessaforma, nunca poderia ser o mashguíach de uma yeshivá.Não poderia ser um educador. Esse tipo de visão é funda-mentalmente errado. Embora seja um indivíduo observantedas mitsvot, com muitas virtudes, não tem tato e conheci-mento para ser um educador.

Em relação aos pais, pode acontecer algo muito se-melhante à situação exposta acima. Se a preocupação bá-sica dos pais é quando punir seus filhos, isso acaba estra-gando uma educação sadia. Essa é uma forma distorcida deencarar a educação.

Freqüentemente nós sentimos que possuímos autori-dade sobre nossos filhos pelo fato de podermos puni-los.Internamente os pais pensam: “Se eu não posso punir, entãoeu não mando!”.

Muitas pessoas defendem as surras, baseando-se emum versículo do livro de “Mishlê” (13:24), escrito pelo ReiShelomô. Segundo esse versículo, quem poupa seu filho desurras, é como se o odiasse: “Chossech shivtô, sonê venô– Quem poupa da vara, odeia seu filho”.

Há um outro versículo do Profeta Zecharyá (11:7) quediz: “Vaer’ê et tson haharegá lachen aniyê hatson,

Punições

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vaecach li shenê maclot, leachad caráti nôam ul’achadcaráti chovelim vaer’ê et hatson.” Segundo esta passagem,D’us diz, em uma linguagem figurada, que tem dois “caja-dos” – como os cajados dos pastores. Um deles denomi-nou de “nôam” – agradável – e o outro de “chovelim” –açoite. Conforme os atos do povo, Ele utiliza um dessescajados.

Portanto, neste versículo, o termo “cajado” foi utili-zado em um sentido figurado, expressando o sentido deconduzir, governar.

Da mesma forma, a vara citada no versículo“Chossech shivtô, sonê venô” não é necessariamente umavara de açoite, mas também pode ser uma “vara agradável”.Os pais podem educar os filhos sem pancadas, mas commuito diálogo e esclarecimentos. Esse tipo de recurso naeducação também pode ser encarado como uma “vara deeducar”. Outra ferramenta, o incentivo às crianças, tambémé uma “vara”, mas é agradável e não causa dor. Um estímulocomo prêmio, uma guloseima, uma boa palavra como re-compensa por uma conduta acertada, também é uma formade educar.

Não se pode avaliar o quanto as surras são prejudici-ais para as crianças! O Rav Eliyáhu Lupian zt”l, autor dolivro “Lev Eliyáhu”, foi o mashguíach da yeshivá de KefarChassidim. Ele sempre ressaltava o fato de que devemostratar as crianças com “dêrech tová” – de maneira agradá-vel. Em sua velhice, ele afirmou arrepender-se de todas asvezes que eventualmente batera nos filhos. O Rav Lupian ti-

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nha onze filhos. Alguns deles tornaram-se grandes direto-res de yeshivot.

O pecado de uma pessoa bater nos pais é encaradopela Torá rigidamente, conforme o versículo (Shemot21:15): “Umakê aviv veimô mot yumat”. Sabemos tam-bém ser proibido motivar situações que propiciem um pe-cado, conforme o versículo (Vayicrá 19:14): “Velifnê iverlô titen michshol – Perante um cego não coloques obstá-culo” – ou seja, não se pode criar a chance para que alguémvenha a pecar. Assim, quando uma criança já está em idadede revidar uma agressão, mesmo antes do bar mitsvá, éproibido que os pais batam nela. Colocando este “obstácu-lo” perante a criança, dando-lhe a chance de bater nos pais,os pais cometem essa proibição. Portanto, a partir do mo-mento que se sente que a criança pode revidar a uma surra,segundo a lei judaica já não se pode mais bater nela.

Em nossos dias, quando batem em uma criança de ape-nas três anos, já é possível que os pais estejam infringindoeste mandamento. Isso porque, com esta idade, ela já esbo-ça uma reação de revide. É comum observar que uma crian-ça que recebe um tapa quer dar outro de volta. Por ser mui-to pequena, pode não alcançar o rosto do pai, mas ela esticaa mão. A conseqüência pode ser apenas um gesto, mas é umareação clara de alguém que quer bater. Ou seja, fica carac-terizada uma situação de rebeldia, que deve ser levada emconsideração.

Nas gerações anteriores a situação era muito diferen-te. Nem passava pela cabeça de uma criança de três anos

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levantar a mão para o pai. As crianças possuíam maior ca-pacidade de tolerar as advertências que as de hoje. Os adul-tos também tinham uma capacidade maior de assimilar osproblemas. A personalidade das crianças era mais forte. An-tigamente não era prejudicial para elas quando apanhavamum pouco. Mas hoje, todo ambiente, a atmosfera de umaforma geral é de rebeldia no mundo todo.

Portanto, se antigamente as surras, até determinadaproporção, eram benéficas, hoje a situação é outra.

Quando alguém educa ou reprime seus filhos compancadas, pode estar prejudicando-os sobremaneira. O re-lacionamento entre pais e filhos pode ficar abalado comisso. Quando estas crianças crescerem, poderão simples-mente se recolher, se fechar em relação aos pais. Aí já serámuito tarde para criar uma atmosfera de relacionamento po-sitivo entre pais e filhos.

Apesar de tudo, certamente há algumas situações quefogem à regra. Consideremos um momento de extrema ten-são no lar, por exemplo, quando há muitas crianças peque-nas na casa e já está na hora de elas irem dormir. Digamosque estas crianças estejam agitadas, correndo, fazendo ba-gunça, e que não querem atender à ordem da mãe para irdormir. Num caso desses, quando a mãe está cansada e nãovê outro recurso, ela dá algumas palmadas nas crianças paraestabelecer a ordem e se faz o silêncio. Essa situação é“emergencial” para uma mãe. Não é sobre esses casos es-porádicos que nos referimos. No entanto, fazer das surrasuma regra de conduta – a base da educação – isso é extre-

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mamente negativo e prejudicial para as crianças.

Mesmo neste contexto, quando algumas palmadas sãojustificáveis, é importante salientar o que determina o RavMoshê Feinstein zt”l. Ele explica que no momento em queos pais estão descontrolados, alterados pelo nervosismo, étotalmente proibido bater nos filhos, mesmo em uma situ-ação “emergencial” como a que citamos. Se alguém bate nofilho quando está nervoso, está simplesmente descarregan-do uma tensão pessoal sobre a criança.

Portanto, se algumas palmadas são justificáveis emum determinado momento, se os pais o fazem para educaros filhos, se a finalidade exclusiva é mostrar para as crian-ças que a atitude delas não foi correta, se o fazem de umaforma equilibrada, se não perdem a cabeça em nenhum mo-mento, aí sim, como último recurso, há essa possibilidade.

`Para deixar evidente o quanto o Rav Wolbe desacon-selha as surras, apresentamos, a seguir, o que ele escreveem seu livro “Alê Shur” (vol. II, pág 219). No capítulo refe-rente à virtude da paciência, ele resume como encara assurras e as repreensões:

“Quanta tolerância é necessária na educação das cri-anças! Não haveria papel suficiente para descrever todos osdetalhes de quanto é necessário ter paciência e calma naeducação dos filhos. Aqui não cabe discutirmos dúvidassobre educação. Apenas esclarecemos que com gritos etapas não se educa! Coitados dos pais cujas preocupaçõesem relação à educação se resumem na pergunta ‘Quando sedeve bater nos filhos...’. Digna de lástima é esta educação!

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Somente com tolerância ilimitada, podemos conseguir quea criança reaja conforme o esperado e que a orientação sejabaseada na sua natureza e nas suas faculdades de percepção,para que possamos cumprir ‘chanoch lanáar al pi darcô –ensina a criança conforme suas possibilidades’.”

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