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Seminário 1
Do Código Civil de 1916
ao Estatuto da Cidade de 2001;
a evolução da ordem
jurídico-urbanística no Brasil
Embate de paradigmas
Urbanização tem se dado sob a égide de embate de paradigmas jurídicos acerca da:
• natureza dos direitos individuais de propriedade, e dos conseqüentes limites da intervenção estatal no domínio da propriedade privada;
• competências jurídicas para proceder à regulação urbanística
Do Código Civil de 1916 ao Estatuto da Cidade de 2001
• Do legalismo liberal à função socioambiental da propriedade e da cidade;
• Dos direitos individuais a uma geração de direitos coletivos;
• Do planejamento funcionalista e regulatório ao planejamento indutivo dos mercados de terra;
• Do binômio usucapião-desapropriação a toda uma gama de instrumentos para ação urbanística;
• Do Direito Civil ao Direito Urbanístico
Do Código Civil de 1916 ao Estatuto da Cidade de 2001
• Da ordem estatal à ordem pública;• Da gestão tecnocrática à gestão
democrática;• Da representação democrática à
participação direta;• Do Direito Administrativo ao Direito
Urbanístico
A questão central: propriedade da terra
• Terra, direitos de propriedade e relações sociais em torno desse direito: questões centrais
• Problema – e dívida – histórica, na raiz de muitos das principais questões contemporâneas
• Tradição de acomodação de interesses das elites de proprietários
• Planejamento urbano não enfrenta de frente a questão fundiária e dos mercados de terras de frente e acaba se tornando mais uma forma de acumulação de capital
Privatização da terra pública
• De 1500 a 2006: privatização da terra pública e formação de mercado de terras
• Imposição inconteste de ordem jurídica da Metrópole; desrespeito à ordem indígena
• Falta de fiscalização das sesmarias, processos de invasão, grilagem, demarcação imprecisa, registros fraudulentos: estrutura fundiária concentrada e legalizada por Lei de Terras de 1850
• Tensões se formam ao longo dos séculos: ordem jurídica cada vez mais contestada
Antecedentes
• Princípio da função social da propriedade na legislação colonial; sesmarias e terras devolutas
• Valorização da posse• Herança portuguesa: praias, espaços públicos,
“baldios”• Constituição de 1824: absolutização da
propriedade plena• Outras formas se tornam obsoletas (algumas
resgatadas pelo Estatuto da Cidade)
Código Civil de 1916
• População rural• Expressão do legalismo liberal clássico• Direitos individuais sem maior qualificação: uso,
gozo e disposição; reintegração de posse• Intervenção do Poder Público mínima: relações de
vizinhança• Ênfase na segurança jurídica: contratos,
obrigações
A propriedade civilista
• Conteúdo pré-determinado• Valor de troca• Cultura patrimonialista e mercantilista• Usar e não-usar, gozar e não-gozar: especular• Construção como acessório• Valorização imobiliária como direito não oneroso• Expectativa de direito como direito adquirido
A pergunta sendo…
• Por que esse paradigma não mudou durante o Séc. XX?
• Quem ganhou, quem perdeu?
• Papel da propriedade individual plena na economia e no imaginário sociocultural
O outro paradigma
• Urbanização desde década de 1930• Estado Novo e modernização jurídico-institucional• CF de 1934; recupera princípio da função social
da propriedade• Sem maiores definições de natureza e conteúdo• Lugar incerto do Município no pacto federativo• Avanços promovidos pelo Executivo Federal
Função social da propriedade
• DL 25/1937: patrimônio cultural • DL 58/1937: parcelamento do solo para
venda de lotes em prestações• Ênfase em segurança jurídica: contratos,
registros• Alguns princípios urbanísticos não-
quantificados: áreas públicas; obrigações do empreendedor
A pergunta sendo…
• A nova prática era incipiente e suas implicações pouco conhecidas
• Mas, por que o marco jurídico inadequado só foi alterado 42 anos depois?
Avanços e recuos da ordem jurídico-urbanística
• 1930/46: lei de desapropriação por utilidade pública; leis ambientais
• 1946/1963: lei de desapropriação por interesse social; decisões judiciais sobre inquilinos e posseiros
• 1964/1978: primeiro momento ambíguo: Reforma Tributária de 1965 e DL 271/67
• Recuo ao civilismo inconteste; lei da indústria da construção civil e incorporação; denúncia vazia
A retomada da função social
• Abertura política
• Mobilização social
• Disputas dentro do capital imobiliário
• Lei do Inquilinato: fim da denúncia vazia
• Lei Federal no. 6.766/1979
Enquanto isso, nos Municípios…
• Ação restrita• Leis de perímetros, códigos de obras e posturas• Poucos têm leis urbanísticas próprias: regras
mínimas federais são regras únicas • Intervenções urbanísticas com base em
desapropriação e sem recuperação dos ganhos• Distribuição desigual de equipamentos e serviços
A questão dos perímetros
• Manipulação dos perímetros municipais• Maior arrecadação tributária e/ou pressão
de empreendedores• Ocupação urbana em áreas rurais –
chácaras, etc. – abrindo portas para desenvolvimento irregular
• Intervenções de Estados e União sem consulta
Zoneamentos municipais
• Leva de leis urbanísticas a partir de meados da década de 1960/1970
• Belo Horizonte 1976• Questionamentos jurídicos• A indústria dos Planos Diretores• Papel crescente da legislação municipal na
determinação dos preços de terras• Distribuição gratuita de valores fundiários• Caráter elitista das regras• Procedimentos tecnocráticos e burocráticos
O caso Curitiba
• Processo contínuo desde meados da década de 1960
• Separação de direito de construção, outorgas, transferências, áreas verdes, patrimônio cultural
• Territorizalizacao de políticas públicas; transporte, lazer, saneamento
• Prova relatividade da questão jurídica: avanços significativos em contexto jurídico adverso, contexto político hostil
Lei Federal no. 6.766/1979
• Novo marco jurídico• Exigências, diretrizes, critérios, busca de
equilíbrio, procedimentos, contratos, registro e regularização
• “Pode, desde que”• Competências jurídicas concorrentes• Responsável pela “explosão da
informalidade”?
Anos 1980
• Nova leva de leis ambientais
• Ação Civil Pública
• Processo Constituinte: 1986/1988
Emenda popular
Movimento pela Reforma Urbana:
• Direito de moradia
• Função social da propriedade
• Combate à especulação imobiliária
• Regularização de assentamentos informais
• Descentralização
• Gestão democrática das cidades
CF 1988
• Capítulo de Política Urbana:• Gestão democrática• Lugar do Município: RMs jogadas fora com
água do banho…• Usucapião especial urbano e concessão de
direito real• Obrigação de parcelar/edificar• Moradia: Emenda Constitucional de 2000
A disputa acerca da função social
Exigência de Planos Diretores: burocratizar e inviabilizar?
Subverter o processo?
Direitos coletivos na CF 1988
• Planejamento urbano
• Regularização fundiária
• Preservação ambiental
• Participação em processos descentralizados
Autonomia do Direito Urbanístico
Reconhecida explicitamente pela CF 1988:• Objeto• Princípios: função social, urbanismo como
função pública, equilíbrio entre público e privado, justa distribuição dos ônus e benefícios, recuperação de mais-valias, etc.
• Instrumentos• Leis próprias
A consolidação da nova ordem-jurídico-urbanística
• Estatuto da Cidade
• Lei das OSCIP
• Lei dos Consórcios Públicos
• Lei das Parcerias Público-Privado
• Lei do Fundo Nacional da Moradia Popular
• Revisão da Lei no. 6.766/1979
A disputa continua!
• A disputa de paradigmas continua, talvez mais forte do que antes
• Questão das competências menos problemática, embora União e Estados queiram retomar espaço de ação
• Natureza do direito de propriedade – limites da intervenção – sob pressão: movimento global neoliberal pela homogeneização dos regimes de propriedade