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7/30/2019 Seminario 1 o Uso de Anedotas http://slidepdf.com/reader/full/seminario-1-o-uso-de-anedotas 1/28 Seminário Didático com Milton H. Erickson

Seminario 1 o Uso de Anedotas

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Seminário Didático com

Milton H. Erickson

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Umas das marcas distintivas da abordagem de Er ickson erao uso de anedotas como expediente didático e como instr umento

terapêutico. Erickson era conhecido por sua comunicação pre-cisa e focal, que se orientava para o paciente individual. O usodas anedotas r epresentava um uso ef etivo e altamente desenvol-vido da comunicação verbal. Para dar  ao leitor uma estruturageral que possa ser utilizada na compreensão da transcrição queSI;: segue, descreveremos alguns usos das anedotas. Além disso,apresento meu contato inicial com Erickson em 1973, como umexemplo do uso de anedotas por parte de Erickson, com a finali-

dade de uma intensa comunicação terapêutica a nível múltiplo.

Uma das definições de dicionário para o termo "anedota" éél de uma nar rativa curta que diz respeito a um incidente ou

Partes deste capítulo f or am apresentadas a 14 de outubro de 1978,num congresso científico da American Society of Clinical Hy pnosis.

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fato interessante ou divertido. As anedotas podem ser contos defadas, fábulas, parábolas ou alegorias. No entanto, também

 podem ser narrativas que cronificam experiências e aventuras

verdadeiras. A esmagadora maioria das anedotas que Ericksoncontava eram descrições não fictícias de sua própria vida e dasvidas de seus familiares e pacientes.

Podemos usar anedotas em qualquer tipo de psicoterapia eem qualquer fase do processo de tratamento. Não há contra·indicações conhecidas para seu uso.

':~ Certas operações são comuns a todas as terapias, notadamen-te quando se faz diagnóstico, ao estabelecer um relacionamento

. •. .: . - - ~ .

e"mpático, ou efetuar um plano de tratamento. Podemos usar anedotas durante qualquer uma destas operações terapêuticas.

Um observador arguto pode usar anedotas para diagnosticar .

A anedota pode ser utilizada projetivamente, de forma seme·lhante ao Rorschach. Neste sentido apresentam-se estímulos quelevam a uma resposta que tem um significado diagnóstico.

Por exemplo, um paciente pode ouvir uma história que temmúltiplos componentes, e o terapeuta pode observar a que parte.da anedota o paciente responde. O terapeuta pode contar umahistória sobre uma pessoa que está tendo problemas que a pessoa.teve com os pais quando criança. Além disso, estes problemas

:têm ramificações para O funciona'mento sexual atual da pessoa.e leva também a um abuso de 'álcooL

Esta jlÍstória condensada' tem, i~u~~ros componentes. O tera- peuta perceberá a que parte da 'an~d9ta, o paciente reage não::\-ierbalmente. Sobretudo, b observad~r  "t~t.apeuta notará a que

,l parte espef ffica 'da a~~dota o paciente' .r ~~onde verbalmente.:Poderá então levar avantea informação dil:igiJ,óstica.

Um exemplo clínico d~ própria ex periêncla'~q  p autor pode ser ,citad'o para ilustrar o uso diagnóstico adicion'+<il'das anedotas.Uma paciente apr esentou ~umafobia de treze aõõ"s~deduração e

 pediu um'triüamenio pór,;hipnose. ~a -entrevista i~i~ial; contei-lhe uma série de anedotas sobre outros pacientes ,que, ultrapas-

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saram seus problemas em períodos de tempo de extensão variá-vel. Alguns pacientes venceram os problemas, imediata e ines-

 peradamente. Estes resolveram os problemas com rapidez e não precisaram de muito insight. Outros pacientes resolveram os pro-

 blemas devagar, com esforço, e apreciando o insight  que foramobtendo em relação a seus problemas. Esta paciente particular teve um jeito de acenar com a cabeça nas partes da anedota quetinham a ver com o fato de vencer os problemas devagar. Demodo igualmente consistente, conteve o movimento nas partesque tinham a ver como resolver os problemas imediatamente.Este padrão confirmou-se com o uso de anedotas semelhantescontadas em ordens diversas.

Como seu movimento de cabeça confirmava que ela iria resol-ver o problema devagar, não tentei nenhuma terapia na sessãoinicial. Em vez disso, fiz perguntas detalhadas que oncerniam11 etiolo ia e ao _  padrão~ sintomatolo ia dela. Durante o mêsseguinte, vi a paciente em duas sessões adicionais e ela conseguiuum alívio para a fobia. Não havia nenhuma necessidade de ter sessões a inter valos menores porque a paciente já indicara queiria modificar-se devagar.

Quando contava suas histórias, Erickson acompanhava as res- postas comportamentais de seus pacientes de modo consistente.Freqüentemente não olhava diretamente para os pacientes aocontar as histórias. No entanto, acompanhava as respostas com- portamentais, observando-os com sua visão periférica bastantedesenvolvida.

A percepção de Erickson era legendária. Treinara-se laborio-

samente para perceber e compreender as nuanças sutis docomportamento humano. Sua capacidade de responder terapeu-ticamente baseava-se na sua perspicácia diagnóstica. No entanto,nunca é demais enfatizar a importância da capacidade aguçadade Erickson perceber rapidamente pontos cruciais para os pacien-tes individuais.

Considera-se geralmente a formação de um sentido de relacio-namento e de relação empática como uma das pedras funda-

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mentais da psicoterapia. Alguns teóricos (p. ex. Carkhuff e Be-renson, 1967) consideram as respostas empáticas como um dos

instrumentos principais da psicoterapia. No entanto, há incon-venientes na abordagem empática. O paciente pode aprender umtipo de autodiagnóstico por empatia que implica em um escru-tínio corrente de seus estados de ânimo. Este escrutínio podeocasionar uma ruptura no processo de apreciação e de utiliza-ção do fluxo de sentimento. Em alguns casos, uma abordagemdireta empática pode ser contra-indicada ou desnecessária. Por exemplo, não é do feitio de algumas pessoas estarem em sintonia

com seus sentimentos. Alguns pacientes também têm objeçõese sentem-se embaraçados se lhes mostramos diretamente seussentimentos.

A abordagem de Erickson fala à idéia de que as coisas fun-cionam melhor quando funcionam automaticamente ou incons-cientemente, isto é, sem interferências ou obstáculos da menteconsciente. Erickson serviu-se muito dos meios indir etos paraocasionar mudanças inconscientes tão rápido quanto possível.

De acordo com o uso dos meios indir etos, como Ericksonfazia, também é possível usar anedotas para em patizar  com o

 paciente e com processos que não estão nem dentro nem f ora da percepção consciente imediata do paciente. O paciente não ne-cessita perceber conscientemente que o terapeuta deu uma res-

 posta empática. Podemos usar as anedotas para estabelecer umarelação empática com o inconsciente. Embora o fato de ter havi-

do uma resposta empática permaneça fora da percepção cons-ciente do paciente, o cliente muitas vezes reconhece, a nívelverbal ou não verbal, que o terapeuta deu uma resposta empá-tica "inconsciente".

Para ilustrar o uso de anedotas empáticas, podemos apr esen-tar um caso de um antigo seminário didático com Er ickson. Em1975, três estudantes estavam presentes no seu consultório paraaprender suas abordagens. Erickson contou uma anedota sobre

um paciente competitivo que o procurara e queria ser posto emtranse. Erickson afirmou que estabelecera o transe com este pa-ciente dizendo-lhe para observar as próprias mãos para ver qualdelas se levantaria primeiro, e qual tocaria seu rosto em primeirolugar. Desta maneira, Erickson utilizou a competitividade dCl

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 paciente para ajudá-lo a atingir as próprias metas. Esta anedotaatraiu os estudantes, porque Erickson estava ensinando um

aspecto interessante de sua técnica. No entanto, logo ficou visível que havia um propósito adicio-

nal à história. Alguns dos alunos na sessão também estavamcompetindo pela atenção e tempo de Erickson. Quando Erick-son indicou a finalidade múltipla da anedota, discutiu este aspec-to adicional da técnica. Mirmou que reconhecia a competiçãodos alunos, e que indicara por meio da história que reconhecerasua existência.

Os estudantes então podiam responder reconhecendo a com- petição conscientemente (foi o que fizeram). Ou poderiam ter respondido por meios não verbais que reconheciam a compe-tição e que não estavam prontos para levar  à percepção cons-ciente. Finalmente, os estudantes podiam ter falhado em reco-nhecer o significado implícito da história no que se aplicava àsituação imediata.

Qualquer destas três histórias acima mencionadas ser iam r es- postas satisfatórias para Erickson porque estariam de acordo comas próprias necessidades e personalidades dos alunos. Er icksonestava preparado para prosseguir em qualquer direção que semanifestasse. A própria observação de Er ickson naquela situaçãofoi a de que estava desejando discutir a anedota consciente-mente porque ela era uma situação didática.

E, além disso, a anedota tinha uma terceira mensagem. Estavaelaborada de modo a sugerir ou "encurralar" os alunos numaresposta comportamental específica. Depois de discutir  a ane·dota, Erickson acrescentou que não sabia o quanto havia decompetição entre os alunos, mas que seguramente não desejavaque competissem com ele.

Podemos usar as anedotas em qualquer fase do processo detratamento para atingir as metas da terapia. Por exemplo, con-sideremos as seguintes oito categorias que não são mutuamenteexclusivas.

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Mediante o uso de anedotas podemos esclar ecer um assuntode· modo memorável e intenso. Considerando-se a estr utura da

. . I '

memória humana, é mais fácil lembr ar  o tema de uma anedotado q ue lembr ar o mesmo mater ial sob a f orma de uma simples

.'f rase. Podemos usar a anedota para "r  echear " a memória da./ pessoa, elas dão vida a simples idéias. Consideremos o seguinte

, exemplo:

 No início de 1980, eu estava envolvido no meu primeiro casocom res peito ao úso forense da hipnose. Procurei Erickson parame aconselhar. Ele começou a história com a seguinte fr ase:

"Conheça o advogado oponente." Er ick son ex plicou que estavatestemunhando o caso da custódia de uma criança por parte domar ido. Af irmou que a esposa estava nitidamente com graves pr oblemas psicológicos e que o mar ido er a a melhor  pessoa par ater a custódia da criança. Er ick son pr osseguiu dizendo que co-nhecia a advogada oponente e sabia que era uma pessoa muitometiculosa.

Ex plicou q ue quando o dia de prestar o depoimento chegou,a advogada oponente tinha quatorze páginas datilogr af a das com per guntas para interrogá-Io. Erick son disse que quando subiu à

 bancada a advogada perguntou: "Doutor Erick son, o senhor disse que é um especialista em Psiquiatria.' Quem é o seu men-tor ?" Erick son respondeu dizendo: "Eu sou o meu pr ópriomentor." Sabia que, se citasse alguém, a advogada, bem ' pr e pa-rada, começar ia a minar  a perícia dele, citando autoridades

conflitan tes.. A advogada perguntou então: "Doutor Er ickson, o senhor diz que é um es pecialista em Psiquiatr ia. O que é Psiq uiatr ia?"Erickson der a-lhe a seguinte r es posta: "Vou dar-lhe este exem- plo: se eu fosse es pecialista de História da América, cer tamentesaberia algo so bre Simon Gir ty, tam bém conhecido como "Dir-ty Girty" /"

Er ick son disse que quando olhara par a o juiz, este estava

sentado com a ca beçà enter rada nas mãos. O '-f uncionário da

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corte estava debaixo da mesa tentando achar  um láI,'is. O advó-gado a seu lado tentava suprimir  um riso incontr olável.

Er ickson afirmou-me que, depois de fazer a analogia, a advo-gada botou os papéis de lado e disse: " Nenhuma pergunta a

mais, doutor Erickson." Erickson então me olhou e disse: "Eo nome da advogada era ... Gertie." Prosseguiu explicando que,sempre que seu advogado encarava a advogada oponente, encon-trava sempr e um jeito de incluir nos seus argumentos uma refe-rência a "Dirty Girty".

A anedota de Erickson era muito divertida e envolvente. Foiuma maneira agradável de esclarecer uma questão. Se Ericksontivesse dito: "Não se intimide com a situação", o impacto teriasido mínimo. No entanto, dito desta maneira, ilustrativa eatraente, aumentou o impacto da mensagem. ~

2) Para sugerir soluções.

Erickson freqüentemente usava anedotas para sugerir, diretaou indiretamente, uma solução ao paciente. Comumente conse-

guia isto contando uma anedota paralela- e/ou, contando anedo-tas ' múltiplas éom o mesmo tema. As conclusões destas anedotas podeüam fornecer ou uma nova perspectiva ou uma soluçãoanteriormente negligenciada.

Erickson freqüentemente contava ao paciente uma anedotaque jazia uni paralelo com um problema, mas que lhe dava umanova perspectiva. Por exemplo, se um paciente déscrevia múl-tiplos fracassos na sua vida, ouvia histórias sobre alguém que

também vivera mtrltiplos fracassos. No entanto, as histórias tera- pêuticas podem ser cuidadosamente construídas de forma a queo resultado final seja o sucesso. Desta forma, constrói-se cadaum dos fracassos dentro da. história terapêutica de f orma aconstituírem, finalmente, um "bloco super ior " para o .sucesso.

Há um bom exemplo de uma anedota paralela com uma nova perspectiva na transcrição da sessão semanal. Na terça-feira,

Erickson fez uma indução com Sally. Ela passara por váriascircunstâncias de vida difíceis e complicadas. Então, Ericksonsecundou este fato contando-lhe uma história sobre um pacienteque vivera circunstâncias complicadas, e, neste processo, tor-nara-se mais flexível e tivera maior êxito.

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Erickson também suger ia, às vezes, ao paciente uma soluçãonegligenciada, contando-lhe uma histór ia. Este uso específ icodas anedotas pode ter maior efeito terapêutico do que um con-selho direto ao qual o paciente tende a resistir . Apr esenta-se ao

 paciente uma história sobre alguém com um pr oblema seme-

lhante, que utilizou certa solução com êxito. Cabe então ao paciente estabelecer , de f ato, a conexão e aplicar  uma soluçãosemelhante à sua própria vida.

Podemos usar  anedotas para suger ir indir etamente soluções.Quando fazemos uma sugestão indireta, é o paciente que "tema idéia" da solução. Por  isso, o paciente pode f azer a mudança aseu crédito, em vez de f azê-Ia a crédito do ter apeuta.

Er ickson muitas vezes usava um estilo indir eto de ensino,constando da narrativa de múltiplas aned ot as , com o mesmotema. Por  exemplo, Erickson às vezes intr oduzia uma idéia,como a da importância de "entr ar em contato com o pacientedentro do própr io esquema de refer ência do mesmo." Entãocontava anedotas múlti plas versando sobre o mesmo tema. (Alémdisso, ao mesmo tempo, invariavelmente, demonstrava o princí- pio, entrando em contato com os alunos dentr o do esquema de

r ef erência dos mesmos.) Er ickson às vezes precedia as anedotasmencionando o tema em geral ou, às vezes, mencionava o temano final da série de anedotas. Se percebia q ue o paciente ou oaluno captava inconscientemente (ou conscientemente) o ponto,às vezes nem mesmo mencionava o tema.

Um dos instrumentos habituais dos ter a peutas é confr ontar  o paciente para que ele se ve ja como é na realidade. Então o paciente pode fazer uma mudança conseqüente. Podemos usar as anedotas para suprir este entendimento de f orma mais oumenos indireta.

Por  exem plo, na transcr ição da semana com Er ickson, nofinal da quarta-feira ele contou histór ias sobr e psicoter apiasimbólica. Descreveu um caso de ter a pia de casal quando man-

dou um psiquiatra e sua mulher  fazerem tar ef as em se parado.As tarefas incluír am subir  ao Pico Squaw e ir  ao JardimBotânico.

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 Neste caso, Erickson serviu-se de uma atividade para levar os pacientes a reconhecerem-se simbolicamente e tomarem aação apropriada. No entanto, com isto Erickson também su-

 priu um exemplo aos terapeutas que estavam na sala ouvin.

do-o. Os terapeutas na audiência puderam usar esta oportuni-dade para se conhecerem.

Erickson prosseguiu a anedota sobre o psiquiatra com outraanedota sobre um psicanalista e sua esposa. Quando lemos es-tas duas anedotas, percebemos que elas orientam as associaçõesda audiência (e do leitor). E muito difícil ouvir Erickson con-tar esta história ou ler as duas sem pensar nos nossos próprios

relacionamentos. Erickson servia-se das anedotas para orien-tar as associações e levar as pessoas a tomarem conhecimentodelas mesmas para que pudessem decidir a· ação adequada.

Este uso de anedotas para orientar e selecionar associaçõesera muito importante na abordagem de Erickson. Orgulhava-se de dar este exemplo: "Se você quer que uma pessoa falesobre seu irmão, tudo o que você precisa f azer  é contar-lheuma hist6ria sobre seu pr6prio irmão."

Erickson nos lembra que o poder de mudar  é algo que jazadormecido dentro do paciente e necessita ser despertado. Po-demos usar as anedotas para guiar as associações das pessoas,mas é realmente o paciente quem faz a mudança. "O tera-r"uta apenas cria o clima, a ambiência."

4) Para semear idéias e aumentar a motivação.

 No caso anteriormente citado sobre a paciente f6bica, deve-ríamos observar que as anedotas que ela ouviu foram sobre psi-coterapias bem-sucedidas. Por isso, as anedotas também servi-ram para aumentar sua expectativa positiva. Mais ainda, asanedotas serviram para diagnosticar sua motivação para mu-dança. Ficou claro, a partir do padrão da paciente de balançar a cabeça, que ela estava motivada para fazer a mudança neces-sária no seu padrão anteriormente fóbico. A única questão con-

.cernia no tempo que levaria para a mudança ocorrer.Erickson era bem capaz de contar uma anedota que estimu-

laria uma idéia básica num paciente ou num aluno. Então,

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como conhecia a sequencia de suas anedotas, podia estruturar esta idéia com uma hist6ria que contava mais adiante, nestemesmo dia, ou mesmo dias ou semanas mais tarde.

Esta idéia de "semear " é muito importante na técnica hip-

n6tica. Se o hipnotizado r vai sugerir uma levitação do braço,ele o faz "encadeando" pequenos passos ou sementes. Por exem- plo, o operador atrai a atenção da pessoa para a pr6pria mão,depois conduz a atenção para a possibilidade de sensação namão, em seguida atrai a atenção para o potencial de movimen-to, de pois conduz a atenção para o f  ato do movimento, e por fim sugere o movimento de fato. Quando o terapeuta conheceo resultado desejado, pode plantar a idéia do resultado desde

o início da terapia. Semear a técnica era muito comum naabordagem de Er ick son. Era uma das técnicas que adiciona-vam muita força à sua comunicação.

Os pacientes fr eqüentemente aprendem padrões de relaciona-

mento mal-adaptados, manipulat6rios e autofrustrantes. Asanedotas são um instrumento eficaz que pode ser utilizado par acontrolar o relacionamento para que o paciente se mantenha

numa posição complementar "uni-inferior " (cf. Haley, 1963).Esta tática do terapeuta pode ser terapêutica para alguns pa-

cientes que são rígidos e têm problemas de sentir-se à vontade

ou eficientes quando estão numa posição "uni-inferior " num re-

lacionamento. As anedotas podem manter um paciente "fora deequilíbrio" de forma a que não possa usar os métodos habituais

 para controlar o r elacionamento. Através do uso das anedotas,os pacientes podem tornar -se mais seguros devido ao conheci-

mento de que há alguém que eles não podem manipular comsua sintomatologia.

Podemos usar as anedotas para dar diretivas inseridas (cf.Bandler e Grinder, 1975). Esta técnica implica tomar uma fra-se importante fora do contexto de uma hist6ria e proferi-I?

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direta ou indiretamente para o paciente. O terapeuta apresentauma diretiva implantada ao paciente ou aluno de forma indireta,como, por exemplo, subenfatizando ou redirecionando o loeus

,de sua voz.

Por exemplo, na sexta-feira da transcrição semanal, Ericksondiscutiu o desenvolvimento sexual humano. No meio desta dis-,cussão contou uma história sobre o doutor A., que era seu su- pervisor no Hos pital Estatal de Wooster . A anedota parecefor a do contexto. No entanto, imaginem o efeito da última fra·se da anedota quando dirigida a um estudante residente. Naúltima fr ase sugere-se que a pessoa mantenha "o rosto impas-sível, a boca fechada, os olhos e os ouvidos abertos, e espere

 para formar seu julgamento até ter alguma evidência de fato,que apóie- sua infer ência e seus raciocínios".

As anedotas são indiretas e por esta razão mesmo ajudam adiminuir a resistência às idéias. Uma anedota estimula uma

associação dentro do paciente. O paciente então pode guiar-se pela associação que foi estimulada. B difícil r esistir a uma as-~ociação que nós mesmos temos.

Igualmente, uma anedota pode apresentar uma idéia indire-tamente. Várias idéias são apresentadas numa só anedota e.() paciente tem de envolver-se ativamente no processo de per -ceber o sentido da anedota e decidir qual a parte da mesma

que se r  elaciona com ele. Por isso, a energia para a mudan-ça recebe um estímulo para surgir de dentro do paciente.

As mensagens anedóticas, devido à sua estrutura, podem virar inconscientes rapidamente. O paciente não pode absorver cons-cientemente e compreender todas as mensagens contidas numaanedota complexa. O paciente pode vivenciar uma mudança.comportamental que ocorre fora de sua per ce pção consciente porque ele pode responder a uma parte de uma anedota, ain-da que esta parte não seja registrada conscientemente. Conta-se muitas vezes que os pacientes viam Erickson e descobr iam-se fazendo mudanças por conta própria, sem perceber o efei-to da comunicação ter a pêutica do próprio Erickson.

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Em geral, Erickson usava anedotas quando era necessanauma quantidade maior de indireção. Quanto maior a resistên-cia às idéias, mais Erickson se fazia indireto e anedótico. Isto parte do princípio de que a quantidade de meios indiretos uti-

lizados é diretamente proporcional à quantidade de resistência percebida (Zeig, no prelo, b.).

Além disso, podemos usar as anedotas de uma f orma técni-ca para desmanchar a resistência. Por exemplo, o terapeuta

 pode semear uma idéia numa anedota e depois passar rapida-mente para uma segunda anedota com um tema diferente. Estetipo de manobra terapêutica toma mais difícil ao paciente re-

sistir à idéia apresentada na anedota inicial. Adicionalmente,usando esta manobra, há uma chance maior de que a idéia apre-sentada na primeira anedota se tome "inconsciente" com maior rapidez. O paciente às vezes tem uma amnésia da primeira his-tória.

Também é possível usar uma anedota para desviar  a atençãodo paciente. Erickson lembrou que às vezes usava anedotas para

 penetrar terapeuticamente no paciente. Esta técnica pode ser uma maneira de propor a idéia tera~utica numa ocasião emque o paciente está menos resistente e mais receptivo.

8) Para recolocar e redefinir um problema.

Podemos usar também as anedotas para "recolocar" um pro-

 blema. A arte da "recolocação" foi descrita por inúmeros auto-res (p. ex. Watzlawick, Weakland, e Fisch, 1974.). Recolocar é uma técnica para fornecer uma atitude positiva e alternativa

 para a situação sintomática. A r ecolocação opera a nível de ati-tudes. Os pacientes têm atitudes f rente a seus sintomas. A re-colocação pode modificar a atitude das pessoas sobre seus sin- _ tomas.

Mudar  de atitude sobre o sintoma é ter apêutico. Erickson foium dos proponentes da idéia de que a terapia é algo que mudao padrão habitual de comportamento. A mudança pode suceder numa direção positiva ou ocorrer inicialmente numa direção ne-gativa. A mudança de atitude da pessoa quanto a seu sintomafreqüentemente transforma o próprio complexo (Cf. Zeig, no

 prelo, b.).

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Redef inir é uma técnica de definir o problema de forma le-vemente diferente da que o paciente define o problema. Depoisde definir de forma diferente, pode-se completar com uma te-ra pia que corrigirá a nova definição do problema, corrigindo, por  conseguinte, o mesmo. Erickson usava as anedotas tanto para recolocar quanto para redef inir. Temos um bom exemplodeste uso das anedotas, no início do seminário de quinta-feira,no qual Erickson conversa com Christine e conta-lhe anedotassobre dores de cabeça. Quando lemos estas anedotas, observa-mos como Erick son recoloca e redefine as dores de cabeça deChristine.

As categor ias que a pr esentamos acima não exaurem o as-sunto. Podemos enumer ar  certo númer o de usos adicionais dasanedotas:

1) Podemos usar as anedotas como técnicas d e constr uçãode ego, isto é, para estruturar a emoção, o comportamento e/ou

 pensamento, e, portanto, a judar  o paciente a equilibrar -se me-lhor na vida.

2) As próprias anedotas são uma maneira criativa e f ora docomum de comunicar-se. Neste sentido, servem para "moldar"uma boa vida. O terapeuta encoraja o paciente a viver de modomais criativo e flexível, sendo criativo e f lexível na sua pró- pria comunicação.

3) Podemos usar as anedotas para estimular e redesper tar  padrões de sentimento, pensamento e comportamento. Podemosusá-Ias para auxiliar uma pessoa a entrar  em contato com um

recurso de sua vida pessoal que não perceber a anterior mente.Erickson lembra-nos que os pacientes têm r ecursos em suas próprias histórias para resolverem os pr oblemas q ue tr azem aoterapeuta. Podemos usar as anedotas para lem brar  a um pa-ciente os seus próprios recursos.

4) Podemos usar as anedotas par a dessensibilizar  um pacien-te de seus medos. Ao trabalhar  com f ó bicos podemos contar-Ihesuma série de anedotas e altemadamente aumentar  e diminuir a

tensão, e por conseguinte dessensibilizar  o medo.Podemos usar as anedotas por várias razões técnicas em qual-

quer terapia. Também podemos usá-Ias durante uma indução eutilização formal e naturalista da hipnose.

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As anedotas e a hipnose formal têm três semelhanças estru-turais básicas:

1) Em ambas, o terapeuta basicamente busca f alar  a um in-divíduo passivo. O terapeuta tenta extrair o poder de dentro do

 paciente e demonstrar-lhe que ele/ela tem o poder de mudar.2) No uso da hipnose e no uso da anedota, define-se o indiví-duo como alguém que está num papel complementar unilate-ralmente inferior. 3) Nas duas técnicas, o operador trabalha a

 partir de pistas comportamentais mínimas por parte do paciente.

Devido a semelhanças estrutur ais, podemos aplicar as anedo-

tas de modo bastante eficaz tanto na hipnose formal quanto na-turalista; Aplicamos as anedotas na hipnose, de modo seme-lhante à maneira com que são usadas em psicoterapia. Pode-mos usar as anedotas nas fases de indução e de utilização dotratamento hipnótico.

Podemos usar as anedotas diagnosticamente a fim de avaliar li facilidade para ser hipnotizado, e o estilo de utilização detranse que c' indivíduo manifestará. O ' processo de diagnóstico ésemelhànte ào uso diagnóstico de anedotas na psicoterapia quefoi descrito acima. No entanto, entram fatores adicionais aodiagnosticar  à facilidade para ser hipnotizado.

Quatro fatores são especialmente importantes: a absorção, areceptividade, a aterição e o contr ole.1) Quando o terapeuta conta uma anedota, pode per ceber 

o graU" de absorção que o ouvinte manifesta. Os indivíduos quemanifestam uma atenção mais embevecida e que parecem maisabsortos na história, habitualmente tendem a ser os classica-mente melhores sujeitos hipnóticos.

2) Podemos avaliar alguma coisa sobre o estilo de resposta

ao sujeito específico, usando anedotas. Algumas pessoas respon-dem melhor à sugestão direta e outras à sugestão indireta. Pc-

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demos usar as anedotas para saber a que tipo de sugestão o paciente responde melhor. Por exemplo, se, ao contar uma ane-

dota, o operador menciona que o protagonista da anedota su- bitamente olhou para ver que horas eram, pode determinar al-guma coisa sobre a capacidade de resposta do paciente, ob-ser-vando sua reação a este tipo de sugestão específica.

3) Podemos usar as anedotas para diagnosticar o estilo deatenção do paciente, se é concentrado ou difuso, se é interno ouexterno. Enquanto o paciente ouve uma anedota, o terapeu-ta pode obser var  se o paciente está focalizado ou difuso no seu

estilo de atenção. Uma pessoa mais enfocada terá um movi-mento mais limitado e focalizará apenas uma coisa em perío-dos mais extensos de tempo. Uma pessoa mais difusa passaráe deslocar á sua atenção com maior freqüência de uma coisa par a outr a.

Podemos diagnosticar a atenção também quanto ao foco ser interno ou externo. P.essoas inter iorizadas pr eocupam-se com sua

 própria vida interior: seus sentimentos, pensamentos e movi-mentos. As pessoas exteriorizadas estão mais atentas ao que se passa a seu redor. (Erickson parecia um gato. Gostava de es- piar, e tinha uma orientação bastante exteriorizada.)

4) Contando uma anedota, o terapeuta também pode aprender algo sobre a flexibilidade do paciente com respeito ao controlenos r elacionamentos. Alguns pacientes precisam ser o que está

 por cima, outros o que está por baixo, e outros necessitam ser iguais. Estas necessidades aparecem na resposta verbal e nãoverbal às anedotas pr é-hipnóticas.

Embora possamos usar outros fatores para diagnosticar oestilo hipnótico, os quatr o fatores acima - a saber: a absor-ção , a r  eceptividade, a atenção e o controle - são especial-mente acessíveis a um diagnóstico, enquanto o terapeuta vai

contando casualmente a histór ia para o paciente. Levando-seem consideração esta a bordagem diagnóstica (e sem nos afas-tar mos muito do alcance deste livro) ficam claras as implica-ções par a compor-se uma estratégia terapêutica. As anedotas(; diretivas que um terapeuta usa têm mais força quando tocamde perto à ex per iência do paciente. Por exemplo, as técnicas

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hipnóticas e psicoterapêuticas que aplicamos a uma pessoa dotipo unilateralmente inferiorizado e de orientação exterioriza-da. e que se ja altamente receptiva à sugestão direta, será di-ferente das técnicas terapêuticas que aplicar emos a uma pes-soa do tipo unilateralmente superiorizada, absorvida interna·

mente e que responda melhor à sugestão indireta.De início, até sabermos realmente como fazê-Io, o uso de ane-

dotas de maneira diagnóstica pode onerar bastante o terapeu-ta. O terapeuta precisa compor sua história e prestar atençãoàs respostas do paciente ao mesmo tempo.

Podemos usar anedotas na hipnose formal. Charles Tart(1975) descreveu de modo adequado a indução da hipnose comoalgo que consiste numa ruptura do estado básico de consciên-cia e num padrão de um novo estado de consciência hipnótica.Podemos usar as anedotas em qualquer destas duas fases.

Podemos usar da confusão técnica para facilitar a rupturado esquema consciente do indivíduo na fase inicial da induçãohipnótica formal. As próprias anedotas confundem porque man-

têm o ouvinte fora de equilíbrio. O ouvinte é desafiado a ex-trair algum sentido do conteúdo da anedota e a perceber e apli-car o que seja importante na mensagem à sua situação. Sobre-tudo, as anedotas confundem porque têm significados múlti-

 plos e são ambíguas. Ouvindo Erickson, até mesmo um ou-vinte arguto não poderia perceber todas as mensagens compo-nentes e suas possíveis alusões. As anedotas podem "instalar"uma indução, desviando a atenção e despotencializando o esque-

ma consciente (cf. Erickson, Rossi & Rossi, 1976). Portanto,o sujeito fica mais aberto e receptivo a sugestões concorrentese subseqüentes.

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Erickson usava com freqüência as anedotas, de forma natural,como um ingresso na indução hipnótica. Vi inúmeros ex-pacien-

tes de Erickson explicarem que, quando estavam ouvindo ashistórias dele, de repente se viam em transe. Uma das pacien-tes explicou que estava ouvindo as histórias e de repente per-cebera que adormecera. Disse que ficara muito envergonhadade adormecer enquanto ouvia seu médico. Depois afirmou que

 percebera o que Erickon queria e então fechara os olhos e en-trara em transe.

Podemos usar as anedotas para pautar o espaço hipnótico(isto é, para estabelecer parâmetros experimentais do que o es-tado hipnótico pode constituir para o indivíduo específico). Umoperador pode usar anedotas para descrever e sugerir ao pacien-te o que a hipnose pode ser para ele ou para ela. Um exem-

 plo possível desta técnica seria falar a um sujeito inexperien-te sobre a experiência hipnótica de outro sujeito mais experi-mentado. Podemos fazê-lo de tal forma que o, comportamentodo sujeito experimentado, quando discutido na anedota, com- bine e sobreponha-se parcialmente ao comportamento atualdo sujeito sem experiência. O efeito seria o de dar sugestões aosujeito sem experiência de forma indireta.

Outra forma de pautar o estado hipnótico é fazer com queos indivíduos demonstrem a eles mesmos (dentro ou fora da percepção consciente) que são capazes de efetuar algum fenô-meno hipnótico clássico. Qualquer fenômeno hipnótico clássico pode ser sugerido pelo uso de anedotas diretas. Por exemplo,uma das induções favoritas de Erickson envolve uma discussãoanedótica dos primeiros aprendizados escolares, incluindo a ma-neira como as pessoas aprendem as letras do alfabeto sem per-ceber conscientemente o processo. Esta anedota sugere e podeinduzir vários fenômenos hipnóticos clássicos, inclusive uma re-gressão de idade, hiperamnésia, dissociação e alucinação. Alémdisso, incentiva simultaneamente uma absorção interna e umafixação interna da atenção.

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 Na fase de utilização da hipnoterapia (isto é, depois da in·dução), podemos usar as anedotas da mesma maneira que po-

demos usá-Ia na fase de tratamento de psicoterapia, isto é, para demonstrar um fato, aumentar a motivação, etc. Podemoscontar as anedotas para lembrar a pessoa de potenciais quenão foram utilizados previamente no seu aprendizado. Por exemplo, podemos lembrar ao sujeito hipnótico, por meio douso da anedota, uma época em que ele/ela sofreu um machu-cado e só peroebeu a dor depois de um bocado de tempo. Umahistória dessas implica que o sujeito já teve uma experiêncià de

controlar a dor , que pode ser  evocada.As anedotas são envolventes e podem promover a dissociação

na medida em que o/a paciente se envolve na história. Por isso podemos usá-Ias também para colocar o paciente numa trilhade pensamento que exclui o seu problema sintomático. Este usoda anedota é muito eficaz no trabalho de controle da dor.

o uso combinado d e aned otas Ní vel múltiplo decomunicaçã o

Os psicotera peutas a pr endem a tomar  uma pequena amostrado nível de comunicação social e interpr etar  o significado adi-

cional com res peito ao que "realmente" está acontecendo no nível psicológico do paciente. É inter essante notar q ue, embora oster a peutas este jam cientes da comunicação de nível múlti ploe utilizem-na de for ma diagnóstica, a maioria dos terapeutasnão está treinada para usar a comunicação de nível múltiplocomo instrumento tera pêutico. Uma das pr inci pais contr i bui-ções de Erickson à Psicologia talvez tenha sido a de demons-tr ar  o uso tera pêutico da comunicação a nível múltiplo. Er ick -son demonstrou a quantidade de esfor ço muscular que podeestar acumulada na comunicação terapêutica e a quantidade deenergia que pode ser  derivada.

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Para demonstrar a força da comunicação terapêutica de ní-vel múltiplo, a presento o debate de meu encontro inicial comEr i kson em dezem br o de 1973. As anedotas que Erickson me

contou dem nstram uma combinação complexa de alguns dosusos simples das anedotas mencionados anteriormente. Antesde descr ever  estas anedotas em detalhe e situar o cenár io, des-cr everei meu encontr o inicial com Erickson desde o início.

Comecei a estudar  hi pnose em 1972 e fiquei bastante im- pressionado com o tr abalho de Er ickson. Escrevi à minha pri-ma q ue estava estudando Enfer magem em Tucson. Contei-lhe

que estava estudando hi pnose e suger i que, se em alguma oca-sião f osse a Fênix, visitasse Erick son, porque ele era um gê-nio em psicoterapia.

Ela escr eveu-me r es pondendo que eu já me encontrara comuma das f ilhas mais novas de Erick son. Minha pr ima e Ro-xanne Er ickson tinham sido colegas de quarto alguns anos an-tes, em São Francisco.

Subseqüentemente, escrevi para R oxanne e para Er ickson e per guntei-lhe se poderia estudar com ele. Disse-me que me acei-tar ia como aluno. Em dezembro de 1973 par ti para Fênix pela

 primeir a vez, para estudar  com Erickson.Minha a pr esentação inicial foi bastante fora do comum. Eu

ir ia f icar como hóspede em sua casa. Roxanne recebeu-me à por ta. A pr esentou-me ao pai, gesticulando para o doutor Erick-son, que estava sentado imediatamente à esquerda da porta, ven-do televisão. Ela disse: "Este é meu pai, o doutor Erickson."Erickson levantou a cabeça devagar, mecanicamente, com pe-q uenos movimentos cadenciados. Quando sua cabeça chegou à

hor izontal, ele girou o pescoço em minha dir eção, devagar emecanicamente, usando os mesmos movimentos cadenciados.Quando captou minha atenção visual e olhou nos meus olhos,iniciou novamente os mesmos movimentos mecânicos e vaga-

r osos e baixou o olhar para a linha mediana do meu corpo.Ser ia inútil dizer que fiquei completamente chocado e sur-

 pr eso com o seu "Alô". Além disso, Erickson modelara um fe-nômeno hi pnótico. Moldara o movimento cataléptico cadencia-do que os pacientes exibem quando fazem uma levitação de braço. Sobretudo, seu comportamento focalizou minha atenção.

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Depois, q uando baixou o olhar par a o meio do meu corpo, es-tava me sugerindo que "f osse par a dentr o". Basicamente, Erick -son estava usando uma técnica não ver  bal para romper meuesquema consciente e pautar um novo esquema de padrões in-

conscientes.Erickson dera-me um exemplo da for ça q ue podia impor à

comunicação. Na manhã seguinte, a senhora Er ickson conduziu-o em sua

cadeira de r odas para a casa de hóspedes. Sem dizer uma pa-lavra e sem f azer nenhum contato visual, Er ick son transferiu-se penosamente da cadeir a de r odas para sua poltr ona do con-

sultório. Perguntei-lhe se podia colocar meu gr avador  e ele,sem fazer nenhum contato visual, fez que "sim" com a ca- beça. Depois começou a falar para o chão, de f oona pausadae vagar osa.

E: Para auxiliá-lo no choque com toda esta cor roxa ...z: Hã-hã.E: Sou par cialmente cego às cor es.

Z: Perce bi isto.E: E o telefone roxo ... foi um presente de quatro alunos gra-

duados.Z: Hã-hã.E: Dois deles sabiam que fr acassar iam nos exames pr  inci-

 pais. .. e dois deles sabiam que fr acassar iam... nos demenor im portância. Os dois que sa biam que fr acassar iam

nos princi pais, mas passariam nos... menores, passaramem todos. Os dois que sa biam que passariam nos pr inci- pais e ser iam re pr ovados nos menor es... f oram re prova-dos nos principais e passaram nos menores. Em outras pa-lavras, escolheram a ajuda que eu lhes ofereci. (Erick -son olha para Z. pela primeira vez, e fixa o olhar). Comr espeito à psicoterapia. .. (Aq ui Erickson pr osseguiu a pr e-sentando e debatendo sua abordagem ter apêutica. Par a sa-

 ber como ele continuou, ver Zeig, no prelo, a).

Esta anedota cur ta é um trecho elegante de comunicação.Contém muitos níveis de mensagem. E " um exem plo excelente

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da maneira como várias mensagens podem ser condensadas numa

comunicação relativamente cur ta. O que se segue é uma lista

das mensagens que Erick son dirigiu-me nesta curta anedota:

1) A anedota era uma indução confusa de hi pnose. Nãofez nenhuma menção à hipnose, mas a anedota com suasreferências a principais e menores, confundida de fato.

Igualmente fixou minha atenção hipnoticamente. Eu já

estudara a indução à confusão de Er ickson (Erickson,

1964) e incorpor ara o uso da indução à conf usão na mi-

nha técnica. No entanto, a abordagem de Erickson er a

tão casual e tão fora do comum, que não percebi queele estava usando a técnica da confusão comigo.

2) A primeira frase de Erickson continha a palavr a

"choque", que foi enfatizada de forma peculiar . De f ato,

como Erickson bem o sabia, a visão de todo aquele r oxo

 já não constituía nenhum choq ue par a mim. Eu já estio

vera no escritór io de Erickson e na casa de hós pedes (q ue

era decor ada de r oxo) e já me encontr ara com Erick son

(cuja roupa era toda roxa). Já ultrapassara o choque a

toda aquela cor r oxa. A ênf ase de Erick son na palavr a

"choque" teve a finalidade de f ocalizar  minha atenção e

. alertar meu inconsciente para o choq ue que já estava

acontecendo e para o choque que vir ia.

3) O comportamento não ver  bal de Erickson tambémconf undia. Ele não me olhava. Falava comigo olhando

 para o chão. Eu tinha todo um aprendizado de vida que

me dizia: "Quando falar com uma pessoa, olhe para ela."

O comportamento não verbal de Erickson r ompeu meu padrão habitual. Então, quando ele meu olhou, causou

mais um choque e conf usão adicionais. Isto teve o efeito

de fixar ainda mais meu com portamento e atenção.4) Um dos efeitos desta comunicação f  oi o de eu ter uma

amnésia da anedota inteir a. Só depois de voltar para

casa, quando liguei o gravador  num seminário de hip-nose que eu estava fazendo, é que ouvi o que f or a dito.

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Foi então que percebi que Erickson fizera uma induçãoà conf usão de hipnose. Foi um apr endizado experimentalmar avilhoso para mim, e uma excelente demonstração deminha· pr ó pr ia capacidade de ex per imentar a amnésia.

5) Havia vár ias coisas dentro da história q ue tinham umsignif icado. O conteúdo da história era sobre os alunosformados. Erick son estabeleceu um encontro comigo den-tro de meu próprio esquema de ref er ência imediatamen-te entendido. Estabeleceu algum relacionamento falandode alunos f ormados, um assunto que eu podia entender e correlacionar bem.6) A anedota tinha uma mensagem no seu conteúdo ime-

diato. Tinham acontecido algumas coisas inesper adas comos alunos for mados, q ue for am lá para apr ender com Erick -sono Eu podia r elacionar a anedota com minha própriasituação. Er a possível que sucedessem algumas coisas ines-

 per adas comigo. De fato, já estavam acontecendo algu-mas coisas inesperadas comigo, sendo a menor delas ade que nunca ninguém se apresentara de forma tão fora

do comum, nem me falara de modo tão inusitado.7) Sobr etudo, a anedota era sobre alunos que escolherama a juda que Er ickson lhes oferecera. De forma paralela,ele estava q uerendo dizer q ue eu, como aluno (emboratalvez inesper adamente) também escolheria a ajuda e oensino q ue ele me of erecia.

8) Havia uma mensagem adicional contida na anedota.

Os estudantes tinham vindo par a estudar  com ele. Em tr o-ca, der am-lhe um presente. Erickson nunca me cobrounada pelos seus ensinamentos, porque, de fato, eu não podia pagar  seus honorár ios. Mas a política de Erick soner a a de que, se você podia pagar  sua visita, deveria fa-zê-Io. Se você não tinha os recursos financeiros, ele serecusava a cobr ar a hora.

 No entanto, eu poderia pagar -lhe dando-Ihe um presen-te. Dei-lhe uma escultura de madeira, que ficou sobrea mesa (como o telefone). Não estou certo de que uma

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das "sementes" para eu presenteá-Io já não estivessecontida na anedota. Pode ser que meu presente se de-vesse par cialmente a um comportamento receptivo.9) A anedota de Erickson teve o efeito de estrutura do

ti po de r elacionamento que teríamos. Er ickson impediu-me de falar e de me a pr esentar. Deixou claro que o re~lacionamento ser ia de ordem comp1ementar, onde Erick-son falaria e eu ser ia o unilater almente inferior, f azendoa parte do ouvinte.10) Estou certo de q ue Erickson também estava avalian-do minha r  ece ptividade. Por meio de sua visão perifé-

rica ele observava minha resposta aos conceitos que men-cionara. Por exemplo, quando mencionou o telefoneroxo, talvez eu tenha, e talvez não, olhado para o tele-fone roxo sobre a mesa. Por conseguinte, ele captou algosobre meu estilo de responder às sugestões.

11) Há um aspecto adicional nesta anedota. Em 1980,um psicólogo de Fênix, chamado Don, procurou-me e pe-

diu supervisão individual da abordagem de Erickson so- bre tera pia. Concordei em atendê-Io e dar-lhe supervisão. Na nossa conversa ele ex plicou que, em 1972, ele e al-guns outros alunos formados tinham procurado Erickson.Em troca de seu tempo, quiseram dar -lhe um telefoneroxo. Don explicou que fora muito difícil conseguir umtelef one roxo na companhia telefônica, mas que final-

mente conseguiram.Subseqüentemente, no decorrer de uma de nossas ses~

sões didáticas individuais, coloquei para pon a grava-ção de meu encontro inicial com Er ickon. Don me ex-

 plicou que ele e outros tr ês alunos tinham ido lá paraaprender  a abordagem de Er ick son, e que Erickon dera-

lhes supervisão durante os exames preliminares. De fato,dois dos estudantes passaram nos exames e dois fracas-sar am.

A anedota que Erickson me contara era totalmente ve-rídica!

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Depois de se apresentar, o caso que Erickson discutiu co-migo em seguida foi em exemplo do trabalho inicial de Erick-son com um paciente psicótico (relatado por Zeig, no prelo,a). Isto foi bastante eficaz para estabelecer a relação, porque

ele estava falando com alguém que era um psicoterapeuta no-viço, sobre um exemplo de terapia que ele fizera nos anos trin-ta, quando ele mesmo estava começando. Além disso, estavadiscutindo um caso de trabalho com um paciente psicótico eeu trabalhara vários anos com pacientes psicóticos. Ericksonusou bastante bem os poucos fatos que sabia a meu respeito.

Os dois casos seguintes que Erickson discutiu comigo foramexemplos de pacientes com os quais Erickson não obtivera re-sultados na terapia. De fato, Erickson não trabalhara muitocom nenhum destes dois pacientes. Um deles foi usado comoum exemplo de que é bastante errado assumirmos qualquer coisa sobre um paciente. O outro paciente foi usado comoexemplo da importância de fazermos um diagnóstico rápido eacurado. No entanto, havia também uma outra mensagem en-volvida, Erickson estava falando da importância de entender o

fato de que alguns pacientes não são acessíveis à psicoterapiae que não vale a pena investir energia terapêutica nestes pa-Cientes. Esta mensagem adquiriu uma dimensão adicional, con-siderando-se o fato de que provinha de alguém que era conhe-cido pelo êxito esmagador na prática da psicoterapia.

Estas anedotas de meu encontro inicial com Erickson dãoum exemplo de um pouco das comunicações poderosas e com-

 plexas que caracterizam o estilo de Erickson. O método de en-

sino de Erickson era acentuado por sua capacidade de usar umacomunicação a múltiplo nível.

Fazendo uma revisão e resumindo, há várias razões para usar-mos as anedotas. Podemos ilustrá-Ias da seguinte maneira:

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Certa vez, o Vento Norte e o Sol entraram numa briga para

saber qual dos dois seria o mais forte. Relataram seus feitosmais notáveis, e cada um terminou conforme começara: conside-rando-se o maioral.

 Nisto, surgiu um via jante e c oncordou em testar a questãotentando ver qual dos dois conseguiria primeiro fazer com queele tirasse o ca pote.

O vento Norte, muito fanf arr ão, foi o primeiro a tentar, en-quanto o Sol es pr eitava por  detrás de uma nuvem cinzenta. So-

 prou uma rajada violenta e quase arr ebatou os fechos do ca· pote, mas o homem apenas apertou mais o casaco contra si, e ovelho Bor eal gastou em vão o seu esforço. Mortificado pelofracasso em conseguir algo tão simples, o Vento finalmenteretirou-se desesperado, dizendo: "Não acredito que você consi·ga fazê-lo."

Então o amável Sol surgiu em todo o seu esplendor espalhan-do as nuvens que juntara, enviando seus raios mais quentes so-

 bre a cabeça do viajante.O homem olhou para cima com gratidão, mas ficando tonto

com o calor súbito, rapidamente atirou seu casaco para o ladoe apressou-se em acomodar-se na sombra mais próxima (Sti-ckney, 1915).

Em resumo, as anedotas têm os seguintes usos e caracte-rísticas:

1) As anedotas não são ameaçadoras.2) As anedotas são envolventes.3) As anedotas promovem a independência. O indivíduonecessita extrair um sentido da mensagem, e depois pas-sar para uma ação auto-iniciada. Desta forma, a anedotaincentiva um sentido de domínio autodeterminado. O pa-ciente assume o crédito e a responsabilidade pela mudan·ça. A mudança vem de dentro do paciente em vez de ser atribuída à orientação do terapeuta.4) As anedotas podem ser usadas para vencer a r esis-tência natural à mudança. Podem ser usadas para apre-

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sentar diretivas e sugestões de forma a maXlmlzar a pos-si bilidade de serem aceitas. Quando um paciente tem umsintoma, erige suas defesas neuróticas. Atr avés dos usos

das anedotas, podemos atingir  indir etamente suas defe-sas. Se o paciente vai seguir sugestões, então não se faznecessário um meio indireto. Em geral, a quantidade deindir eção necessário é diretamente proporcional à resis-tência anteci pada. No seu estilo de f azer induções hip-nóticas, Erickson par ecia mais direto com os sujeitos clas-sicamente mais repectivos. Com os sujeitos mais resisten-

tes, Erickson tendia mais a apresentar as idéias por meiodo método anedótico.5) As anedotas podem ser usadas para controlar o rela~cionamento. O ouvinte necessita trabalhar para deduzir o sentido da anedota. Quando ouve uma anedota, ficafora de equilí brio. O ouvinte não pode usar os meios ha- bituais de controlar os relacionamentos quando é for-çado a ouvir uma anedota.

6) As anedotas moldam a flexibilidade. Erickson devo-tava-se à criatividade. Usava as anedotas como meio deexpr imir seu interesse na sutileza e na criatividade. Mar-garet Mead (1977) escreveu que uma das característicasdistintivas de Er ick son como pessoa era seu desejo de ser cr iador.7) Er ickson usava anedotas para cr iar confusão e pro-

mover uma receptividade hipnótica.8) As anedotas mar cam a memór ia; tornam a idéia apre-sentada mais memorizáve1.

Usamos melhor  as anedotas quando estão mais elabor adase individualizadas para os respectivos pacientes. Devemos cons-truir  as anedotas de forma a nos encontrarmos com o pacientedentr o de seu esquema de referência. O melhor uso das ane-

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dotas é estabelecer mudanças que sejam consistentes com, e de·corram do próprio comportamento e compreensão do pacien-te. Desta forma, suscitamos uma cura que estava previamentelatente. O melhor uso das anedotas é não burlar os sintomas

da pessoa e sim conseguir que ela mude sob seu próprio poder e a seu próprio favor (cL Zeig, no prelo, a).

As anedotas têm ainda o efeito de modelar para o pacienteuma maneira mais criativa e flexível de estar no mundo. Por isso,os pacientes aprendem experimentalmente que podem confron·tar sua própria rigidez e hábitos limita dores e tornarem-se maisflexíveis e eficientes na sua maneira de viver.

Com estas idéias em mente, preste atenção nas suas associa-ções e perceba o efeito que as anedotas didáticas que Erick-son apresenta têm sobre você.

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