14
Márcia Cristina Rodrigues Fausto Dezembro/2016 A atenção básica e os desafios da integração regional de políticas, serviços e práticas Seminário: Desafios da regionalização e conformação de redes de atenção em contextos de desigualdades territoriais

Seminário: Desafios da regionalização e conformação de ... · Políticas voltadas para o fortalecimento do espaço regional –início de 2000 com ... desigualdade de poder de

Embed Size (px)

Citation preview

Márcia Cristina Rodrigues Fausto

Dezembro/2016

A atenção básica e os desafios da integração regional de políticas, serviços e práticas

Seminário: Desafios da regionalização e conformação de

redes de atenção em contextos de desigualdades territoriais

Organização dos serviços de saúde em redes eAtenção Primária à Saúde (APS)

• Dawson, 1920

• Proposta serviu de base para a organização de muitos sistemas de saúde universais

• Diversidade de modelos de organização da APS (abrangente e seletiva

• Reforma Sanitária Brasileira

APS como primeiro nível de atenção necessariamente articulada aos demais serviços atenção à saúde, compondo a rede de serviços de saúde do sistema público, tendo em vista os princípios da universalidade, equidade e integralidade.

• Contraposição às propostas de APS seletiva

Década de 1990

• Descentralização com foco na expansão das bases municipais para a organização das ações e serviços de saúde, sem uma clara discussão sobre o modelo de atenção à saúde no SUS.

• Estratégia Saúde da Família para organização dos serviços de APS nos inúmeros e diversos municípios do país, descolado de uma discussão mais ampla a respeito da sua integração ao conjunto de serviços.

Efeitos:

• Municipalização x regionalização

• Fragmentação x integração das ações e serviços de saúde

Políticas voltadas para o fortalecimento do espaço regional – início de 2000 com ênfase a partir de 2011 - Constituição de Rede de Atenção à Saúde de base regional para integração das ações e serviços de saúde

Política de saúde e APS no Brasilperíodo pós-reforma

Redes de Atenção à Saúde e o papel da APS

População definida

Serviço de procura regular

porta de entrada para acessar os recursos do sistema de saúde

define o caminhar do usuário ao longo da rede a partir da avaliação clínica

deve exercer um cuidado contínuo ao longo do tempo.

No entanto, a APS ainda padece de fragilidades para ocupar o lugar de centro ordenador da rede de atenção à saúde, apesar dos avanços:

Alguns resultados PMAQ AB (Saúde em Debate, n38 – Edição especial 2015)

Cobertura populacional incompleta – porta de entrada

Limitadas condições estruturais dos serviços AB

Baixa capacidade de resolução clínica

Baixo reconhecimento da APS como lugar de cuidado regular

Baixa incorporação de instrumentos e mecanismos de coordenação na APS e no sistema de saúde como um todo.

Limitações para o exercício da coordenação do cuidado

Alguns resultados PMAQ AB (Saúde em Debate, n38 – Edição especial 2015)

APS - fortemente determinada pelo contexto local e que aindanão promoveu mudança radical nas práticas e no modelo deorganização da atenção (Medina, 2015)

Ainda há muito a avançar na melhoria da infraestrutura e naredução de desigualdades regionais. A reversão desse cenárioé central para que se possa oferecer uma APS de qualidade àpopulação brasileira (Giovanella et al., 2015)

Redes de Atenção à Saúde e o papel da APS

APS em perspectiva regional

Integração assistencial em região de saúde: paradoxo entre necessidades regionais e interesses locais (Almeida, Santos, Silveira Filho, 2016)

Região da Bahia Fatores que dificultam que a APS se configure como um prática robusta e resolutiva nas regiões de saúde:

tema pouco frequente nas discussões da CIR disputa predatória por médicos fraca coordenação do cuidado forte dependência do setor privado insuficiência e subfinanciamento públicos e utilização, por vezes,

inadequada dos recursos existentes desarticulação entre prestadores

APS em perspectiva regional

APS e coordenação do cuidado nas regiões de saúde: percepção de gestores eusuários (Bousquat et al, 2016)

Região de Barretos - SP

Embora haja um certo consenso entre os gestores, de que a APS deveria ser aporta de entrada do sistema, há também o reconhecimento da existência deentraves para esta efetivação:

a preferência da população por atendimentos mais pontuais e rápidos;

a falta de médicos com adequada formação generalista;

as dificuldades para acesso às UBS (especialmente horário defuncionamento);

e a baixa capacidade resolutiva das UBS.

Itinerários terapêuticos: equipe AB pouco atuante, atençãodescoordenada e cuidado fragmentado.

APS e coordenação do cuidado A centralidade da coordenação da APS na organização dos sistemas e redes de saúde vem

sendo crescentemente destacada na literatura.

Apresenta forte associação com a ampliação do acesso, continuidade do cuidado,

qualidade da atenção, satisfação do paciente, melhor utilização dos recursos financeiros

disponíveis, além de impactos positivos na saúde da população(Starfield, 2002; Boerma,

2007; Kringos et al, 2010; Wagner et al, 2014).

Central para o manejo de pacientes com doenças crônicas

necessidade de acessar com frequência vários pontos da rede de atenção;

ter contato com diferentes profissionais;

ações de promoção e prevenção contínuas.

Três pilares necessários para a efetivação da coordenação:

Informacional

Clínica

Administrativa/organizacional

A coordenação do cuidado naRede de Atenção à Saúde (RAS)

Portanto, exige:

• serviços bem organizados, fortes e bem integrados no sistema de cuidados, com capacidade para resolver a maioria das necessidades de saúde da população.

• APS/RAS - relação de mão dupla.

Nosso dilema: articular os vários níveis assistenciais, estabelecer fluxos efetivos que necessariamente envolvam vários municípios.

Neste sentido,

o SUS em seu arranjo descentralizado tem agregado barreiras importantes para a oferta de cuidados integrados.

O desenho da política de RAS – a descentralização radical

• As iniciativas lançadas estão focadas em redes temáticas de saúde centradas em problemas específicos de saúde, que envolvem o risco de contribuir para uma maior fragmentação do sistema de saúde.

• Tem reforçado a competição municipal para dispor de fundos federais: mecanismos de alocação de recursos que se baseia na produção de serviços.

• Planejamento x negociações: os critérios são pouco claros e definidos por pactuações entre os estados e os governos municipais e entre municípios de uma mesma região.

• Negociação pode aumentar a desigualdade de acesso, dada a desigualdade de poder de barganha dos municípios devido às diferenças de tamanho e de oferta instalada (Dourado e Elias 2011).

RAS - Integração do cuidado

• Percursos dos usuários muitas vezes não respeitam, necessariamente, as pactuações e normatizações previamente estabelecidas no planejamento das ações e serviços de saúde (Conill, 2008).

• Referências praticadas pela gestão municipal, não consideram as pactuações formalizadas no âmbito regional (Kuschinir et al, 2010; Almeida, Santos e Souza, 2015; Vargas et al,2016)

• Desafios à constituição de redes integradas de base regional: Falta de especificidade (na política) quanto aos critérios e ferramentas para configurar e financiar redes integradas e regionalizadas que precisam ser acordados entre os governos envolvidos. Formuladores de políticas enfatizam a dificuldade de estabelecer acordos em um sistema de saúde com desincentivos para a colaboração entre municípios. (Vargas et al, 2014)

• O modelo de descentralização da saúde no país, marcado por desigualdades, contradições e conflitos, tem produzido sistemas municipais de saúde atomizados e desarticulados, com distintas condições dos governos locais para organização da APS e da rede de serviços de saúde mais ampla.

• No mundo real, a reprodução de variadas redes em territórios municipais tem fortalecido a perspectiva de redes autônomas e intencionalmente desarticuladas no espaço regional, onde é possível reconhecer distintas formas de organização e escopo de oferta de serviços de APS conformando diferenças no acesso e reproduzindo desigualdades na utilização dos recursos em saúde.

• Ao passo que, os desafios para o alcance de uma APS forte e abrangente parece estar na construção de um sistema integrado, em um contexto de autonomia de gestão de cada município, e a articulação de suas práticas em âmbito regional em conformidade com os princípios do SUS.

• Seria isso possível?

Não temos a APS que queremos....

Obrigada!

[email protected]

Referências bibliográficas

• Kuschnir R, Chorny A. Redes de atenção à saúde: contextualizando o debate. Ciênc. saúde coletiva. 2010;15(5):2307-2316.• Brasil., Saúde. Md. Portaria 4.279 de 30 de dezembro de 2010. Estabelece diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do

Sistema Único de Saúde (SUS).2010.• Hansen J, Groenewegen PP, Boerma WG, Kringos DS. Living In A Country With A Strong Primary Care System Is Beneficial To People With Chronic

Conditions. Health affairs. Sep 2015;34(9):1531-1537.• Tricco AC, Antony J, Ivers NM, et al. Effectiveness of quality improvement strategies for coordination of care to reduce use of health care services: a

systematic review and meta-analysis. CMAJ. Oct 21 2014;186(15):E568-578.• Wagner EH, Sandhu N, Coleman K, Phillips KE, Sugarman JR. Improving care coordination in primary care. Medical care. Nov 2014;52(11 Suppl 4):S33-

38.• Kringos DS, Boerma WG, Hutchinson A, van der Zee J, Groenewegen PP. The breadth of primary care: a systematic l iterature review of its core

dimensions. BMC health services research. 2010;10:65.• Boerma W. Coordination and integration in European primary care. In: Saltman DC, Rico A, Boerma W, eds. Primary care in the driver’s seat?

Berkshire: University Press; 2007:3-21.• Hudon C, Chouinard MC, Diadiou F, Lambert M, Bouliane D. Case Management in Primary Care for Frequent Users of Health Care Services With

Chronic Diseases: A Qualitative Study of Patient and Family Experience. Annals of family medicine. Nov 2015;13(6):523-528.• Lamothe L, Sylvain C, Sit V. [Multimorbidity and primary care: Emergence of new forms of network organization]. Sante Publique. 2015 Jan-Feb

2015;27(1 Suppl):S129-135.• Haggerty JL. Ordering the chaos for patients with multimorbidity. Bmj. 2012;345:e5915.• Tarrant C, Windridge K, Baker R, Freeman G, Boulton M. 'Fall ing through gaps': primary care patients' accounts of breakdowns in experienced

continuity of care. Family practice. Feb 2015;32(1):82-87.• Terraza Nunez R, Vargas Lorenzo I, Vazquez Navarrete ML. [Coordination among healthcare levels: systematization of tools and measures ]. Gaceta

sanitaria / S.E.S.P.A.S. Nov-Dec 2006;20(6):485-495.• Vargas I, Mogollon-Perez AS, De Paepe P, Ferreira da Silva MR, Unger JP, Vazquez ML. Barriers to healthcare coordination in market-based and

decentralized public health systems: a qualitative study in healthcare networks of Colombia and Brazil. Health Policy Plan. Feb 13 2016.• Conill EM, Pires D, Sisson M, Oliveira M, Boing A, Fertonani H. O mix público-privado na util ização de serviços de saúde: um estudo dos itinerários

terapêuticos de beneficiários do segmento de saúde suplementar brasileiro. Ciênc. saúde coletiva. 2008;13(5):1501-1510.• Doubova S, Guanais F, Pérez-Cuevas R, Canning D, Macincko J, Reich M. Attributes of patient-centered primary care associated with the public

perception of good healthcare quality in Brazil, Colombia, Mexico and El Salvador. Health Policy Plan. 2016;13:czv 139.• GERHARDT T, ROTOLI A, RIQUINHO D. Itinerários terapêuticos de pacientes com câncer: encontros e desencontros da Atenção Básica à alta

complexidade nas redes de cuidado. In: Pinheiro R, Silva Junior A, Mattos R, eds. Atenção básica e integralidade: contribuições para estudos de práticas avaliativas em saúde. Rio de Janeiro: CEPESC:IMS/UERJ.