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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL Versão para registro histórico Não passível de alteração COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES E DE DEFESA NACIONAL EVENTO: Seminário e Reunião Ordinária REUNIÃO Nº: 1328/2014 DATA: 10/12/2014 LOCAL: Plenário 1 das Comissões INÍCIO: 9h35min TÉRMINO: 13h38min PÁGINAS: 80 DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO CARLOS ANTONIO DA ROCHA PARANHOS - Embaixador, Subsecretário-Geral de Política I, representando o Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado. DEMETRIO MARTINELLI MAGNOLI - Sociólogo e comentarista de política internacional da Globo News. MARCO AURÉLIO DE ALMEIDA GARCIA - Assessor Especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais. LUIZ FELIPE PALMEIRA LAMPREIA - Vice-Presidente Emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais. ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA - Membro do Conselho de Administração da SulAmérica S.A. SAMUEL PINHEIRO GUIMARÃES NETO - Embaixador, professor do Instituto Rio Branco. JOSÉ BOTAFOGO GONÇALVES - Vice-Presidente Emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais - CEBRI. SUMÁRIO Seminário Rumos da Política Externa Brasileira Debate sobre o Brasil e a ordem internacional e os desafios da política externa brasileira. Reunião ordinária. Deliberação de matérias da pauta. OBSERVAÇÕES Há palavras ininteligíveis. Houve intervenção fora do microfone. Inaudível.

Seminario Rumos Da Peb

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MRE Seminário no Senado sobre os rumos da política externa brasileira

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  • CMARA DOS DEPUTADOS

    DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISO E REDAO

    NCLEO DE REDAO FINAL EM COMISSES

    TEXTO COM REDAO FINAL

    Verso para registro histrico

    No passvel de alterao

    COMISSO DE RELAES EXTERIORES E DE DEFESA NACIONAL EVENTO: Seminrio e Reunio Ordinria

    REUNIO N: 1328/2014 DATA: 10/12/2014

    LOCAL: Plenrio 1 das Comisses

    INCIO: 9h35min TRMINO: 13h38min PGINAS: 80

    DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAO

    CARLOS ANTONIO DA ROCHA PARANHOS - Embaixador, Subsecretrio-Geral de Poltica I, representando o Ministro das Relaes Exteriores, Embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado. DEMETRIO MARTINELLI MAGNOLI - Socilogo e comentarista de poltica internacional da Globo News. MARCO AURLIO DE ALMEIDA GARCIA - Assessor Especial da Presidncia da Repblica para Assuntos Internacionais. LUIZ FELIPE PALMEIRA LAMPREIA - Vice-Presidente Emrito do Centro Brasileiro de Relaes Internacionais. ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA - Membro do Conselho de Administrao da SulAmrica S.A. SAMUEL PINHEIRO GUIMARES NETO - Embaixador, professor do Instituto Rio Branco. JOS BOTAFOGO GONALVES - Vice-Presidente Emrito do Centro Brasileiro de Relaes Internacionais - CEBRI.

    SUMRIO

    Seminrio Rumos da Poltica Externa Brasileira Debate sobre o Brasil e a ordem internacional e os desafios da poltica externa brasileira. Reunio ordinria. Deliberao de matrias da pauta.

    OBSERVAES

    H palavras ininteligveis. Houve interveno fora do microfone. Inaudvel.

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    O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Declaro aberta a reunio e passo primeira parte da pauta, que o Seminrio Rumos da Poltica Externa Brasileira. Na sequncia ns deliberaremos os demais itens da pauta. Neste momento passo a palavra ao mestre de cerimnias, para darmos incio abertura do Seminrio. O SR. APRESENTADOR - Bom dia, senhoras e senhores, autoridades presentes. Tem incio neste momento a cerimnia de abertura do Seminrio Rumos da Poltica Externa Brasileira, promovido pela Comisso de Relaes Exteriores e de Defesa Nacional. A realizao do Seminrio Rumos da Poltica Externa Brasileira tem como objetivo promover a discusso da situao do Brasil na ordem internacional, com nfase nos desafios da poltica externa brasileira. Sero abordados aspectos da poltica comercial, no que diz respeito s parcerias estratgicas e aos desafios da integrao regional, tendo como alvo os mais diversos atores da poltica brasileira e mundial. Neste momento convidamos para compor a Mesa de abertura o Sr. Deputado Eduardo Barbosa, Presidente da Comisso de Relaes Exteriores e de Defesa Nacional da Cmara dos Deputados; o Embaixador Luiz Felipe Palmeira Lampreia, Vice-Presidente Emrito do Centro Brasileiro de Relaes Internacionais; o Prof. Marco Aurlio de Almeida Garcia, Chefe da Assessoria Especial da Presidncia da Repblica; e o Sr. Demtrio Martinelli Magnoli, socilogo e comentarista de poltica internacional da Globo News. Informamos tambm que far parte da Mesa o Sr. Presidente da Comisso de Relaes Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal, Senador Ricardo Ferrao. Senhoras e senhores, neste momento convidamos todos para, em posio de respeito, ouvirmos o Hino Nacional brasileiro.

    ( executado o Hino Nacional.) (Palmas.) O SR. APRESENTADOR - Antes de darmos continuidade a este Seminrio,

    tambm gostaria de convidar para compor a Mesa o Sr. Embaixador Carlos Antnio da Rocha Paranhos, Subsecretrio-Geral de Poltica I, aqui representando o Sr.

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    Ministro de Estado das Relaes Exteriores, Embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado. (Pausa.) Senhoras e senhores, com a palavra o Sr. Presidente da Comisso de Relaes Exteriores e de Defesa Nacional, Deputado Eduardo Barbosa, que ir moderar a Mesa. O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Bom dia a todos os presentes.

    uma grande alegria para a Comisso de Relaes Exteriores e de Defesa Nacional no dia de hoje, que tem a felicidade de receber, num seminrio por ela proposto, nomes de tanta expresso e entendedores da poltica externa brasileira. Teremos a oportunidade mpar de um grande aprendizado na Cmara dos Deputados. Houve grande interesse para participao deste encontro, haja vista a nossa plateia: esto aqui conosco vrios embaixadores e diplomatas de diversos pases, que vamos anunciar medida que formos encaminhando o nosso evento. uma alegria ter ao meu lado o Senador Ricardo Ferrao, Presidente da Comisso de Relaes Exteriores do Senado, a quem quero cumprimentar. Esta Comisso da Cmara e a Comisso de Relaes Exteriores do Senado, em vrios momentos e de forma muito afinada, tm trabalhado com proposies que venham se somar ao debate e ao compromisso que temos diante da poltica externa. Cumprimento tambm o Sr. Embaixador Carlos Antnio da Rocha Paranhos, Subsecretrio-Geral de Poltica I, que representa aqui o Sr. Ministro de Estado das Relaes Exteriores, Embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, com quem, durante todo o nosso perodo frente desta Comisso, estabelecemos uma relao extremamente construtiva e acredito que bastante produtiva. Aproveito, Embaixador, para pedir-lhe que leve ao Ministro nosso abrao. Sras. e Srs. Embaixadores e representantes do Corpo Diplomtico brasileiro e estrangeiros aqui presentes; senhores convidados e palestrantes; profissionais da mdia que cobrem este evento; acadmicos e professores que vieram prestigiar esse importante debate, em nome da Comisso de Relaes Exteriores e de Defesa Nacional da Cmara dos Deputados, agradeo a presena a todos os que aceitaram gentilmente o convite para participar deste Seminrio.

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    As mesas de trabalhos sero compostas por renomados estudiosos na temtica do evento, profissionais que se dedicam a pesquisar e a difundir o conhecimento que adquiriram em anos de estudos e prtica em suas reas de atuao. Estou convicto de que as exposies a serem apresentadas nos permitiro refletir sobre o quadro atual da poltica externa brasileira e seus possveis rumos para os prximos anos, tema que, no nosso entendimento, toma cada vez mais o interesse da populao de uma forma geral. No exerccio da Presidncia da Comisso de Relaes Exteriores e de Defesa Nacional, busquei, desde o incio, adensar os processos de rotina desta instncia, com a incluso da temtica social. Fiz isso por entender que a finalidade precpua das polticas externas e de defesa, qual seja, a consecuo do interesse nacional, deve estar alicerada no desenvolvimento humano. Com essa motivao, foram promovidos, no mbito desta Comisso, os seminrios Migrao e Cidadania Desafios para Assistncia ao Migrante Brasileiro e Trabalho Escravo Globalizado Desafios Brasileiros, que se incluem entre os novos temas da agenda internacional. Alm desses seminrios, no ltimo dia 18 de novembro, esta Comisso realizou audincia pblica destinada a avaliar as conquistas alcanadas pelo Brasil quanto ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milnio, estabelecidos pelas Naes Unidas para o perodo de 2000 a 2015, e os pontos que esto sendo discutidos para uma agenda ps-2015. O presente Seminrio tem por objetivo debater alguns dos temas da denominada agenda clssica da poltica externa. Como de conhecimento geral, a prioridade dada aos Estados vizinhos no nova. Na verdade, historicamente tem-se constitudo como um dos princpios norteadores da ao externa brasileira, sendo o MERCOSUL a instituio que melhor demonstra o grau de importncia das relaes regionais para o Brasil. Ocorre que nos ltimos tempos tem-se revelado, de forma notria e gravosa, a incapacidade de os Estados membros do MERCOSUL conclurem acordos comerciais com terceiros Estados ou blocos, como o caso, por exemplo, do acordo

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    de livre comrcio entre o MERCOSUL e a Unio Europeia, cujas negociaes foram iniciadas h mais de 1 dcada. Ora, tal dificuldade aponta para falhas no desenho institucional e para decises questionveis em matria de poltica comercial, de resto eivadas de conotaes poltico-ideolgicas. Diante da globalizao do sistema produtivo, justo e necessrio aprofundar a estratgia brasileira de conferir tratamento prioritrio aos pases da Amrica do Sul em matria comercial, considerando-se, inclusive, entre outros aspectos, as mudanas promovidas pelas naes asiticas nos fluxos internacionais de comrcio. Nessa direo, impe-se avaliar o processo de aproximao proposto pela Aliana do Pacfico para somar esforos com o MERCOSUL e, posteriormente, com os demais blocos regionais. O MERCOSUL precisa de flexibilidade para as suas normas internas, algo que a Aliana do Pacfico, por exemplo, j contempla desde sua criao, em 2012. Alm disso, trata-se de um bloco capaz de abrir definitivamente o mercado da sia-Pacfico para os pases do Cone Sul. Outra questo que julgo relevante a relao bilateral com os Estados Unidos. Superado o incidente das revelaes de espionagem promovida por rgo do Governo norte-americano valendo destacar a atuao coordenada do Brasil e da Alemanha no mbito das Naes Unidas para solucionar a questo , preciso focar o futuro das relaes com os Estados Unidos, parceiro tradicional, cuja cooperao bilateral se estende a uma gama de temas incontornveis, como comrcio, investimentos, energia, tecnologia e inovao, meio ambiente e educao. Numa demonstrao de que essas relaes devem ser relanadas e no mais alto nvel, o Vice-Presidente americano Joe Biden confirmou presena nas cerimnias de posse da Presidente Dilma Rousseff, e Washington j trabalha na retomada da chamada visita de Estado, conferida apenas aos seus parceiros estratgicos. Senhoras e senhores, como todos sabem, a fora da informao e da comunicao, sobretudo por meio das redes, tem possibilitado um envolvimento crescente das pessoas nos assuntos globais. Trata-se da internacionalizao do mundo na vida cotidiana. Com isso, as pessoas comuns se veem cada vez mais

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    estimuladas a participar da discusso do interesse nacional e de sua defesa no exterior. Por essa razo, penso que o Congresso brasileiro tem papel cada vez mais importante no debate e na influncia da elaborao de nossa estratgia internacional, embora caiba constitucionalmente ao Poder Executivo formular e executar a poltica externa. No se trata aqui de submet-la a influncias doutrinrias ou a injunes partidrias; de forma alguma. Mas, se a poltica externa a outra face da poltica nacional, o Parlamento tem a obrigao de ajudar a interpretar o que vem a ser de fato interesse nacional. Em outras palavras, cuidar que a poltica externa no se desvincule da realidade nacional, das questes relativas ao desenvolvimento humano da populao. Desejo, portanto, a todos um debate intenso e esclarecedor; que as reflexes dos momentos que partilhamos sejam motivadoras e inspiradoras para todos ns aqui presentes, assim como para todos os brasileiros e brasileiras que nos acompanham pela Internet. Antes de iniciarmos a nossa Mesa, passo a palavra ao Sr. Embaixador Carlos Antonio da Rocha Paranhos, representando o Embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado. O SR. CARLOS ANTONIO DA ROCHA PARANHOS - Muito obrigado. Bom dia a todos. Exmo. Sr. Deputado Eduardo Barbosa; Exmo. Sr. Senador Ricardo Ferrao; meus queridos amigos e colegas Embaixador Luiz Felipe Lampreia, ex-Ministro das Relaes Exteriores; Sr. Jos Botafogo Gonalves, ex-Ministro do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior; Sr. Samuel Pinheiro Guimares, ex-Secretrio-Geral das Relaes Exteriores; Sr. Prof. Marco Aurlio Garcia; Prof. Demtrio Magnoli; Srs. Deputados e Srs. Senadores; senhoras e senhores, eu queria, inicialmente, em nome do Ministro Luiz Alberto Figueiredo e em meu prprio nome, felicitar o Deputado Eduardo Barbosa e toda a Comisso de Relaes Exteriores e de Defesa Nacional da Cmara dos Deputados pela iniciativa de realizao deste Seminrio. Venho ainda transmitir as escusas do nosso Chanceler por no poder comparecer a este evento em razo de compromisso no exterior.

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    O intercmbio de ideias dos dois painis desta manh certamente contribuir para aprofundar o dilogo no Parlamento a respeito da poltica externa do nosso Pas. Desde que assumiu o Itamaraty, o Ministro Figueiredo tem reforado a interlocuo do Ministrio com os mais diversos segmentos da sociedade brasileira, sobretudo com os seus representantes no Congresso Nacional. Exemplo disso foi sua recente participao, no ltimo dia 19 de novembro, em audincia pblica promovida pela Comisso de Relaes Exteriores e de Defesa Nacional desta ilustre Casa legislativa. Naquela oportunidade, foi sublinhada a diretriz da Presidenta Dilma Rousseff de imprimir um sentido estratgico poltica externa brasileira e de manter permanente dilogo com diferentes segmentos da sociedade. Eu no vou me alongar, mas gostaria de assinalar a importncia que o Itamaraty atribui a esse tipo de dilogo, importncia que, como eu disse h pouco, foi sublinhada pelo Ministro na ltima audincia de que participou aqui na Comisso, bem como anteriormente, na realizao de um importante Seminrio chamado Dilogos sobre Poltica Externa, que dever levar realizao de um Livro Branco da Poltica Externa Brasileira, como do conhecimento de todos. Eu queria, portanto, desejar que tenha grande xito este Seminrio, que conta com a presena de pessoas importantssimas na nossa poltica externa vrios colegas aqui foram meus mestres, em termos de carreira , e desejar todo o sucesso.

    Quero, por fim, manifestar o nosso interesse em participar e estar sempre presente a este tipo de dilogo com a sociedade. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Passo a palavra para o Senador Ricardo Ferrao, que tambm far a sua saudao. O SR. SENADOR RICARDO FERRAO - Muito bom dia a todos. Cumprimento o Deputado Eduardo Barbosa, Presidente da Comisso de Relaes Exteriores e de Defesa Nacional da Cmara dos Deputados, e, por economia processual, na sua pessoa cumprimento todos os honrados e ilustres

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    convidados que compartilharo este importante debate que a Comisso de Relaes Exteriores da Cmara promove. Eu tenho a grata satisfao de participar, Srs. Parlamentares, Deputados e Deputadas, Srs. Embaixadores do Corpo Diplomtico brasileiro, Srs. Embaixadores e Diplomatas do Corpo Diplomtico de um conjunto relevante de outros pases que nos honram com suas presenas aqui no Congresso brasileiro, deste evento. Eu desejo cumprimentar o Deputado Eduardo Barbosa por esta iniciativa. Ns estamos saindo de um processo eleitoral, o processo eleitoral mais disputado dos ltimos anos, e esse processo trouxe algumas caractersticas. Uma delas foi, de novo, a ausncia do debate relacionado aos rumos da poltica externa brasileira, s escolhas que o nosso Pas faz e aos seus impactos e sua capacidade de impactar o dia a dia da sociedade brasileira. Cada vez mais, a poltica externa se transforma num tema do interesse da sociedade. A poltica externa no mais monoplio de diplomatas, embaixadores, especialistas; , hoje, um tema do absoluto interesse do conjunto da sociedade brasileira, num mundo cada vez mais integrado, cada vez mais globalizado, em que as pessoas se cercam do sentimento, da necessidade e da importncia deste tema, pela capacidade que ele tem de nos mover na direo de, em funo das escolhas que se faz, produzir resultados para o nosso Pas, sobretudo, no momento em que se discute a melhor poltica externa para o Brasil: se uma poltica externa de partido, se uma poltica externa de governo, se uma poltica externa de Estado. Essas so questes absolutamente importantes. O Congresso brasileiro no apenas a Cmara, mas tambm o Senado tem feito um esforo grande para de alguma forma contribuir com este debate, e esta iniciativa da Cmara, enriquecedora, em funo da qualidade das pessoas que compem a Mesa, como o Deputado Eduardo Barbosa, pelas suas vises especficas, pontuais, e distintas, trar, seguramente, ao exame no apenas dos Parlamentares, mas de todos os que acompanham este debate, uma viso bastante contraditria dos fatos que esto relacionados com a nossa poltica externa.

    De modo que eu quero cumprimentar o Deputado Eduardo Barbosa, assim como os Parlamentares da Cmara que fazem parte desta Comisso e todos os que participam deste debate, evidentemente desejando xito.

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    Um bom-dia a todos. Muito obrigado.

    O SR. APRESENTADOR - Senhoras e senhores, damos por encerrada a Mesa de Abertura. Neste momento, dando continuidade programao do seminrio, com a Mesa 1 O Brasil e a Ordem Internacional, passo a palavra ao coordenador da Mesa, o Sr. Deputado Eduardo Barbosa, Presidente da Comisso de Relaes Exteriores e de Defesa Nacional. O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Iniciaremos, ento, a Mesa 1 O Brasil e a Ordem Internacional. Para esta Mesa, temos os trs convidados que j a compem. Inicio concedendo a palavra ao Sr. Demetrio Martinelli Magnoli, professor da USP, socilogo e comentarista de poltica internacional da Globo News. Ns vamos disponibilizar 20 minutos para cada convidado. O SR. DEMETRIO MARTINELLI MAGNOLI - Bom dia, damas. Bom dia, cavalheiros.

    um prazer imenso estar aqui. Agradeo o convite Comisso. uma honra esta oportunidade. O Seminrio se chama Rumos da Poltica Externa Brasileira, e h uma lenda segundo a qual a poltica externa brasileira no tem rumo. Isso no verdade. Ao contrrio do boato, a poltica externa brasileira atual tem um rumo, tem uma direo estratgica, tem um norte, e o problema justamente esse. Entre tantas formas de buscar o rumo, a viso doutrinria, a viso estratgica que organiza a poltica externa brasileira, eu escolhi, quase que numa homenagem, recolher trechos de uma entrevista do Prof. Marco Aurlio Garcia concedida logo depois da Cpula do BRICS, em Fortaleza, no meio deste ano. Naquela ocasio, o Prof. Marco Aurlio enfatizou, e eu cito, entre aspas, a presena poltica dos BRICS na esfera internacional e classificou o grupo do BRICS como, entre aspas, uma aliana de polos voltada para a construo de um mundo multipolar. Essa entrevista, assim como uma srie de outras entrevistas e documentos de poltica externa brasileira, permite-nos ver onde est a viso estratgica, o rumo

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    que orienta a poltica externa brasileira. A ideia de um objetivo de construo de um mundo multipolar deveria nos trazer uma reflexo, porque nunca na histria, alis, minto, uma nica vez na histria das relaes internacionais um Estado colocou como objetivo de poltica externa a produo de certa configurao do sistema internacional. Isso s aconteceu uma vez, na Inglaterra do Plano Pitt, na Inglaterra do Congresso de Viena, quando a Inglaterra colocou como objetivo nacional a restaurao de um equilbrio de poder no sistema internacional. A configurao do sistema internacional, se ele um sistema bipolar, se ele um sistema unipolar, se ele um sistema multipolar! Que tipo de configurao essa? Isso nunca foi, exceto nesse caso, um objetivo de poltica externa de um Estado. Isso o resultado da ao do conjunto de atores no sistema internacional e tambm uma descrio analtica do sistema internacional, mas no um objetivo de poltica externa de um Estado.

    Ento, quando um Estado coloca como seu objetivo de poltica externa produzir certa configurao do sistema internacional, ns estamos diante da substituio do interesse nacional pela ideologia. Ns estamos no campo de uma poltica externa que coloca para o Estado um objetivo que um objetivo tipo doutrinrio, um objetivo tipo ideolgico. E esse objetivo doutrinrio e esse objetivo ideolgico orientam, pelo menos nos ltimos 12 anos, a poltica externa brasileira. Essa orientao da poltica externa brasileira, que a ideia de que alianas estratgicas sul-sul aqui eu falo do sul geopoltico e no do sul geogrfico devem reconfigurar a ordem mundial em detrimento dos centros de poder tradicionais do norte geopoltico, ou seja, os Estados Unidos e seus aliados europeus, expressa-se tanto no campo da diplomacia comercial quanto no campo estratgico. Tanto num campo quanto no outro os interesses nacionais brasileiros so substitudos por uma viso ideolgica de como deve se configurar o sistema internacional. Comeamos pelo problema da diplomacia comercial, que extremamente importante. Um objetivo nacional permanente de poltica externa o desenvolvimento nacional. O objetivo mais permanente de poltica externa que o Brasil define desde o sculo XIX o desenvolvimento nacional.

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    Do ponto de vista do desenvolvimento nacional, mais ou menos inegvel que o Brasil precisa se inserir competitivamente nos fluxos de mercadorias, de capitais, de investimentos da globalizao. Entretanto, nos ltimos 12 anos, o Brasil recusou doutrinariamente qualquer alternativa de insero comercial nesses fluxos que no fosse a concluso da rodada multilateral de Doha. O Brasil fez a sua aposta, uma aposta absoluta, uma aposta integral na Rodada Doha. Em diversos documentos oficiais e tambm entrevistas de responsveis da poltica externa brasileira ficou claro que o Brasil rechaava de maneira absoluta a ideia da concretizao de acordos bilaterais ou regionais de comrcio.

    Esses acordos bilaterais ou regionais de comrcio foram vistos pelos responsveis da poltica externa brasileira como acordos de tipo neocolonial, como acordos que produziriam consequncias negativas para a indstria brasileira, como acordos que reduziriam o Brasil a um fornecedor de commodities. Enquanto os responsveis pela poltica externa brasileira diziam e escreviam isso, a indstria perdia participao nas exportaes brasileiras. De 2006 a 2013, as nossas exportaes de commodities cresceram 38%. Nesse mesmo perodo as nossas exportaes de manufaturados recuaram 12%. Ento, justamente aquilo que os responsveis de poltica externa brasileira alertam, o risco de relaes externas de tipo neocolonial no campo do comrcio, justamente esse risco que seria evitado pelo rechao a acordos bilaterais e regionais de comrcio e pela aposta integral na rodada multilateral de Doha, justamente isso o que est acontecendo nitidamente no campo da composio das exportaes brasileiras. Enquanto isso, outros pases latino-americanos, notadamente o Mxico, aproveitaram-se de oportunidades de comrcio bilateral e regional para aumentar significativamente a participao dos manufaturados nas suas exportaes.

    Um parntese aqui: existe uma lenda de que, desde que se integrou ao NAFTA, o Mxico se tornou uma base de maquiladoras. uma lenda, j no vlida h pelo menos 10 anos. Depois do impulso inicial das maquiladoras, uma indstria

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    sofisticada e tecnologicamente avanada se desenvolveu no Mxico com base nas suas relaes comerciais regionais no NAFTA.

    O Brasil recusou o tempo todo qualquer alternativa que no o acordo, que nunca aconteceu, o acordo multilateral da Rodada de Doha.

    importante lembrar que a China, declarada pelo ex-Ministro Celso Amorim parceira estratgica do nosso comrcio, uma compradora essencialmente de commodities brasileiras e uma exportadora de produtos manufaturados. O Oriente Mdio, os pases rabes, igualmente declarados, e com razo, uma importante parceria brasileira, tambm so essencialmente importadores de commodities do Brasil.

    Os grandes importadores de manufaturados brasileiros so os Estados Unidos, a Amrica Latina e, num segundo escalo, a Unio Europeia, bem antes da China e do Oriente Mdio. Essas parcerias, especialmente com os Estados Unidos e com a Unio Europeia, so rejeitadas por esse motivo ideolgico que orienta a poltica externa brasileira.

    As coisas se tornam mais graves hoje quando os Estados Unidos impulsionam negociaes de dois mega-acordos comerciais de mbito global: a Parceria Transpacfica, com os pases da sia, e a Parceria Transatlntica, com a Unio Europeia. A Aliana do Pacfico, formada aqui pelos nossos vizinhos latino-americanos, est integrada a esses esforos de negociao de mega-acordos globais de comrcio. O MERCOSUL no est integrado a esses mega-acordos de comrcio. Ns temos, portanto, riscos novos, desafios muito srios colocados por esse novo cenrio.

    Quando eu falo da ideologia da poltica externa brasileira eu no me limito ao problema da diplomacia comercial. Eu quero discutir tambm como que o Brasil encara a sua posio do ponto de vista estratgico.

    Aqui, eu voltaria um pouco para o BRICS porque eu acho que ns temos a a ponta de um iceberg, alguma coisa que permite entender melhor a direo da poltica externa brasileira.

    De fato, o BRICS representa coisas diferentes para cada um dos seus integrantes. Para cada um dos seus integrantes, o BRICS servem para coisas diferentes. Do ponto de vista da economia, do comrcio e das finanas, a China no

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    sul, a China norte; do ponto de vista estratgico, geopoltico e militar, a ndia no sul, a ndia norte. China, ndia e Rssia encaram o BRICS como uma ferramenta entre tantas outras para avanar objetivos nacionais pontuais. Mas h um integrante que v o BRICS de outra forma, e esse integrante o Brasil.

    O Brasil construiu na sua mente a imagem ilusria do BRICS como uma aliana de polos do sul, voltada para a reduo do poder dos grandes centros de influncia mundial. Isso revela como ns, ao contrrio dos prprios parceiros do BRICS, vivemos num mundo dominado pela ideologia e no pelo interesse nacional.

    H uma srie de exemplos so muitos, e eu no teria tempo para listar, mas eu destaquei alguns dessa orientao, que uma orientao firme e coerente da poltica externa nacional no sentido de produzir um mundo multipolar. Eu citaria como primeiro exemplo quando o Brasil se juntou Turquia para, supostamente, produzir um acordo nuclear com o Ir passando ao largo dos esforos coordenados das potncias do Conselho de Segurana da ONU mais a Alemanha, dos esforos coordenados dessas potncias com a Agncia Internacional de Energia Atmica. Esse um dos poucos casos de que temos notcia que produziram consenso sobre sanes da ONU. O Brasil passou por fora dessa mesa de negociaes internacionais para produzir no um acordo, porque ele nunca saiu do papel, mas para produzir, no fundo, uma pea de propaganda do governo do Ir daquela poca. Naquele ato, o Brasil perdeu fora e credibilidade num dos seus principais objetivos alis, um objetivo justo e correto de poltica externa , que era o de se tornar membro permanente no Conselho de Segurana da ONU. O Brasil, corretamente, de um modo que, alis, deve ser aplaudido, protestou contra a espionagem conduzida por rgos de inteligncia dos Estados Unidos contra cidados do mundo inteiro em nome da guerra ao terror. Contudo, quando do incio dos bombardeios de uma coalizo liderada pelos Estados Unidos contra o Estado Islmico no Iraque e na Sria, o Brasil, embora no tenha usado essa palavra, condenou essa ao militar, sugerindo que, no lugar dela, se deveria dialogar com os terroristas. Ao fazer isso, afastando-se daquilo que quase um consenso da comunidade internacional, o Brasil enfraqueceu os seus protestos justos e corretos contra a espionagem em massa que viola direitos humanos em nome da guerra ao terror.

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    H pouco tempo, o Brasil condenou corretamente o bombardeio de Israel Faixa de Gaza, classificando-o como uso exagerado de fora. O Brasil poderia ter ido mais longe, poderia ter denunciado os crimes de guerra cometidos por Israel na Faixa de Gaza. Mas o Brasil no condenou o lanamento de foguetes do Hamas contra alvos civis em Israel, que tambm crime de guerra. Ao no fazer a segunda parte dessa avaliao, ao no condenar as aes do Hamas, o Brasil enfraqueceu a sua condenao ao ataque israelense, porque transformou aquela condenao no mais numa posio de princpios, mas numa declarao ideolgica. O Brasil vem, nos ltimos 12 anos, sistematicamente, rompendo com princpios constitucionais que deveriam orientar a nossa poltica externa. A Constituio brasileira define uma srie de princpios que devem orientar a poltica externa do Brasil. Entre eles o da autodeterminao dos povos e de no interveno nos assuntos internos de outros pases. O silncio absoluto, constrangedor e dramtico do Brasil diante da anexao russa da Crimeia e da agresso russa ao leste da Ucrnia uma violao direta, bvia e cabal desse princpio, justificada pela poltica externa brasileira em nome das alianas de polos sul-sul que visam enfraquecer os centros tradicionais de poder. H 12 anos o Brasil viola outro princpio constitucional que diz que a nossa poltica externa deve se basear na defesa dos direitos humanos. H 12 anos os direitos humanos desapareceram completamente da nossa agenda. Um Presidente brasileiro comparou presos polticos em Cuba a criminosos comuns. Presidentes brasileiros se recusaram sistematicamente, assim como diplomatas brasileiros, a receber parentes de familiares de presos polticos em pases amigos. A poltica externa brasileira mantm silncio completo e constrangedor diante da priso de opositores polticos na Venezuela, cuja libertao foi solicitada pela ONU. A poltica externa brasileira mantm silncio completo sobre torturas cometidas, relatadas e comprovadas em relatrio da ONU contra manifestantes na Venezuela nos protestos pblicos que aconteceram no final do ano passado e no incio deste ano. A poltica externa brasileira vai, assim, perdendo a condio moral de condenar violaes de direitos humanos em todos os tipos de regimes, porque no possvel condenar

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    violaes de direitos humanos em ditaduras de direita sem conden-las em ditaduras de esquerda, pois quando se trata de direitos humanos existe uma coerncia moral, ou nada existe. Eu concluo dizendo que o nosso problema que a poltica externa, aquele campo tipicamente de uma poltica de Estado, transformou-se, no Brasil, no campo de uma poltica partidria. A partidarizao da poltica externa no Brasil, a terceirizao da poltica externa no Brasil para um partido que explica a substituio do interesse nacional pela ideologia. E a substituio do interesse nacional pela ideologia provoca uma eroso moral das aes brasileiras no campo da poltica externa, a cargo do Ministrio das Relaes Exteriores. Existem hoje dois diplomatas brasileiros que esto sendo tacitamente punidos punidos sem julgamento, punidos sem um texto legal que ampare essa punio pelo exlio interno, pelo ostracismo interno, por terem protegido a integridade de um asilado poltico, o ex-Senador Roger Molina, na representao diplomtica brasileira em La Paz. Esses dois diplomatas esto sem funo numa Sibria tropical interna, sem papeis diante das suas mesas. Eles so o ex-embaixador Marcel Biato e o diplomata que o substituiu, Eduardo Saboia, e o crime deles foi ter mantido coerentemente a deciso do Governo brasileiro de conceder asilo poltico a um perseguido na Bolvia. O escndalo to grande que em abril deste ano j se vo 8 meses foi entregue um relatrio final da comisso de sindicncia aberta no Itamaraty sobre as aes do diplomata Eduardo Saboia Contrariando a lei, o relatrio final dessa comisso de sindicncia no foi publicado, no foi tornado pblico nos 30 dias regulamentares, e at hoje no foi tornado pblico. H um relatrio secreto, um segredo de Estado. Enquanto o relatrio no tornado pblico, o diplomata um condenado inocente. Ns estamos em um campo onrico, em que as palavras perdem o sentido. Esse tipo de eroso moral que atinge o funcionalismo de Estado no Brasil parte, aspecto, consequncia de uma poltica externa que abandonou o interesse nacional em nome da ideologia e deixou de ser uma poltica de Estado para se tornar uma poltica de partido. O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Muito obrigado, Sr. Demetrio Magnoli. Eu acho que as suas colocaes nos trazem a possibilidade de

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    que o Prof. Marco Aurlio de Almeida Garcia nos apresente os contrapontos fundamentais para aquilo que o senhor traz como uma discusso que se tem travado durante todo este ano pelo Congresso Nacional, pela sociedade e pela imprensa brasileira. Eu acho que ns comeamos muito bem. Concedo a palavra ao Prof. Marco Aurlio de Almeida Garcia, Assessor Especial da Presidncia da Repblica para Assuntos Internacionais. O SR. MARCO AURLIO DE ALMEIDA GARCIA - Prezado Deputado Presidente da Comisso de Relaes Exteriores e Defesa da Cmara dos Deputados, eu tinha preparado uma interveno por escrito e, na medida das possibilidades, vou faz-la. No entanto, evidentemente, tendo em vista algumas observaes feitas pelo jornalista Demetrio Magnoli, eu no poderia me furtar a tecer alguns comentrios. O Prof. Demetrio Magnoli disse que a poltica externa brasileira tem um rumo e que esse o problema. Eu imagino que ele no veria problema se a poltica externa no tivesse rumo. Mas tem rumo. Essa a questo fundamental. E tornou-se hbito, em certos setores da Oposio importante dizer que ele uma expresso desses setores da Oposio , caracterizar tudo aquilo que no est de acordo com as suas ideias, com a sua ideologia, como ideologia, e estabelecer ento o parmetro da poltica de Estado, da poltica no ideolgica, como se pudesse existir uma poltica de Estado em estado puro, e como se todas as atividades humanas, sobretudo as que se do no campo da poltica, no tivessem, evidentemente, um componente ideolgico, que apresentado como oposto ao interesse nacional. Mas eu fico mais preocupado no tanto em relao a essas observaes de carter mais terico, de carter mais poltico... Numa sociedade democrtica, normal que as pessoas pensem de forma diferente. lamentvel que, nos meios de comunicao, o pensamento seja monocrdio, inclusive no meio de comunicao no qual o jornalista Demetrio Magnoli se expressa cotidianamente. L no h espao para o contraditrio. O espao l para um pensamento monocrdio. E eu queria, no entanto, no me referir a isso, porque aqui ns estamos fazendo um debate democrtico, alis, como prprio numa casa como a Cmara dos Deputados. Eu queria me referir a algumas questes que o jornalista apresentou

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    aqui. No que eu tenha divergncias conceituais com elas, eu tenho divergncias factuais. O que ns tivemos aqui foram informaes erradas, informaes falsas sobre uma srie de aspectos da poltica externa brasileira, e eu quero me manifestar sobre algumas delas, porque, de tanto repeti-las, essas coisas comeam a ficar como verdades. Ns sabemos dessa tcnica a repetio de uma falsidade pode produzir, como efeito final, que essa falsidade se transforme em verdade. A viso brasileira do BRICS no tem, nem na minha entrevista, menos ainda nos pronunciamentos do Ministro das Relaes Exteriores, ou da Presidenta da Repblica, nada que autorize concretamente essa ideia de que ns fazemos a aposta no BRICS que o jornalista Magnoli nos apresenta. Ns no estamos, de jeito nenhum, propondo uma configurao de blocos no mundo. Ns estamos constatando concretamente que h uma nova configurao, que aquela que se seguiu ao fim: da bipolaridade e da unipolaridade. E h um processo acelerado de transformao internacional a que ns estamos assistindo nos ltimos anos, o que mostra concretamente que emergem novos polos, novos centros de poder, novos atores econmicos no mundo. Mas a coisa mais grave quando so tergiversados acontecimentos muito precisos. No verdade que o acordo sobre o tema nuclear no Ir foi omitido aqui que no foi s o Brasil, mas tambm a Turquia, um pas que pertence Organizao do Tratado do Atlntico Norte , tenha se dado no marco do desenvolvimento j de grandes negociaes no Conselho de Segurana. Foi omitido tambm que a proposta que ns levamos ao Ir junto com a Turquia tinha a anuncia do prprio Presidente Obama. Tanto verdade que o Presidente Obama enviou uma carta ao Presidente Lula, que ns divulgamos depois, na qual dizia que estava de acordo com a proposta que ns estvamos fazendo. E ns a estvamos fazendo no porque estivssemos de acordo com o Obama; mas o Obama, sim, estava de acordo com essa proposta. Esse acordo, na poca, foi frustrado por uma poltica equivocada: a poltica de sanes que os Estados Unidos e outros pases da Europa vm desenvolvendo. E o que ns encontramos hoje? Um impasse. E o acordo que est sendo proposto ao Ir

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    um acordo inferior quele que ns havamos proposto alguns anos antes. Mais precisamente, em junho de 2010. Em segundo lugar, um pouco irritante que se venha confundir a condenao que ns estvamos fazendo aos ataques unilaterais no Oriente Mdio a uma proposta de dilogo com terroristas. Ficou absolutamente claro tanto no discurso da Presidenta Dilma na Assembleia Geral da ONU quanto nas entrevistas que foram dadas imprensa foram duas, concretamente, em Nova York , que no havia nenhuma proposta, que havia um repdio claro s aes do Estado Islmico, que havia, sim, necessidade de as potncias realizarem um dilogo entre si para haver o melhor encaminhamento da questo do Estado Islmico, que uma questo de grande gravidade. Por que ns adotamos essa posio? Por uma razo muito simples: ns tnhamos dois precedentes, ou trs precedentes, pelo menos, que mostravam o quo incuo havia sido o uso da fora, sobretudo porque feito margem do Direito Internacional. Quem fica falando muito em lei, em direitos humanos e em Direito Internacional deveria se lembrar de que os ataques ao Iraque foram feitos margem do Direito Internacional. E que, longe de resolver um problema que, de resto, no existia o suposto armamento nuclear do Iraque , transformou aquele pas num caos. E foi, sem dvida nenhuma, um dos elementos decisivos para o surgimento dessas manifestaes mais graves de terrorismo. E o Afeganisto? Quais so os resultados concretos que a interveno militar no Afeganisto, margem da lei tambm, produziu: a reduo do terrorismo ou o seu incremento? Terceiro e mais grave, ns temos o caso da Lbia. Quando se tergiversou uma deciso do Conselho de Segurana que propunha exclusivamente a criao de uma zona de segurana, transformou-se isso num processo concretamente de derrubada do regime e transformando a Lbia, que era um Estado autoritrio, sem dvida nenhuma, num caos onde h pelo menos dois ou trs Governos que se entrechocam. E, mais do que isso, fez com que uma parte de uma dispora terrorista invadisse o Norte da frica, a frica Subsaariana, semeando novas manifestaes de terror.

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    Essa a realidade das coisas. O resto so factoides que esto sendo utilizados para atacar a poltica externa brasileira. Se se quer atac-la, muito bem, que se o faa no que ela tem de concreto, no que ela tem de propostas claras, no que ela tem de projeto que no se quer que ela tenha , mas no inventando coisas desse tipo. Da mesma forma, uma leitura das notas que o Itamaraty emitiu sobre a crise da Faixa de Gaza mostrar, concretamente, que houve, sim, uma crtica muito clara ao lanamento de foguetes por parte de grupos palestinos sobre o territrio israelense, mas mostraria que na Venezuela, em vez de ns ficarmos distribuindo certificados de boa ou de m conduta para governo ou para oposio, o que ns fizemos foi enviar o mximo funcionrio da nossa Diplomacia, o Ministro das Relaes Exteriores, para, junto com Ministros das Relaes Exteriores de outros pases da UNASUL, tentar uma soluo negociada para os graves conflitos que estavam afetando aquele pas. E isso provocou alguns avanos. Ainda uma situao inconclusa, mas, sem dvida nenhuma, ns fizemos aquilo que ns tnhamos que fazer do ponto de vista da boa diplomacia. Eu no quero me referir a uma ltima observao, marcada por expresses a meu ver descorteses, em relao ao Ministrio das Relaes Exteriores do Brasil. Falar em eroso moral do Itamaraty me parece, sem dvida nenhuma, ultrapassar uma fronteira. Mas, enfim, cada um sabe qual a fronteira a ser ultrapassada. No vou me manifestar sobre o caso do diplomata Eduardo Saboia porque est sub judice e seria uma invaso da minha parte a um processo disciplinar que est sendo conduzido por aquela casa. Quero, no entanto, me referir ao Embaixador Marcel Biato, que no est sub judice, que ocupava a funo de Representante do Brasil na Bolvia, por quem tenho enorme apreo e respeito profissional, sobretudo pelo trabalho magnfico que desenvolveu no perodo em que foi meu segundo colaborador na Assessoria Especial da Presidncia da Repblica. No sei qual ser o seu destino, mas quero testemunhar de pblico o meu mais absoluto respeito pela qualidade moral e profissional do embaixador Marcel Biato. Eu tinha pensado em organizar a minha exposio em torno de trs eixos: algumas consideraes gerais sobre princpios que regem a poltica externa do Brasil; o estado atual e as perspectivas do desenvolvimento do que neste seminrio

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    chamado de ordem internacional; e as implicaes dessas consideraes preliminares para a poltica externa brasileira. desnecessrio dizer que, a despeito das minhas responsabilidades governamentais, eu falo a ttulo pessoal, evidentemente em absoluta sintonia com a poltica externa que conduzida pelo Ministrio das Relaes Exteriores, sob a orientao mais geral da Presidncia da Repblica. E vou tratar, por economia de tempo, entre outras coisas, de ler rapidamente algumas observaes. As relaes internacionais da Repblica Federativa do Brasil so regidas por dez princpios, explicitados no art. 4 da Constituio Federal. No pargrafo nico desse mesmo art. 4 dito que o Brasil buscar a integrao econmica, poltica, social e cultural dos povos da Amrica Latina, visando formao de uma comunidade latino-americana de naes.

    Esses princpios, adotados em 1988, refletem a melhor tradio de nossa Diplomacia, ao mesmo tempo em que fixam os parmetros gerais do que deve ser a poltica externa como poltica de Estado. A expresso poltica de Estado tem, por vezes, sido utilizada desde uma perspectiva conservadora em oposio ao que seria uma poltica de governo. Trata-se, nesse caso, de um ardil que busca aprisionar a poltica externa em um imobilismo insensvel s mutaes pelas quais passa internamente uma sociedade democrtica e, obviamente, o prprio mundo. Na poltica externa refletem-se, necessariamente, as transformaes que afetam a sociedade, sobretudo em se tratando de transformaes que reflitam a vontade popular expressa nas urnas. isso que aproxima a poltica de Estado da poltica de governo. O interesse nacional, que tanto se repete, no um conceito abstrato que paira acima da realidade social, poltica e cultural de um pas, definido por um grupo de iluminados. Ao contrrio, o interesse nacional reflete a vontade geral expressa democraticamente e periodicamente na sociedade. isso que articula a soberania nacional com a soberania popular. A articulao entre a poltica de Estado e a poltica de governo depende diretamente tambm da capacidade dos governantes de analisar a cena internacional, com os seus obstculos e oportunidades, para definir a melhor maneira de inserir o Pas no mundo.

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    A caracterstica maior das ltimas dcadas e agora me refiro nossa avaliao do quadro internacional foi a acelerao e a imprevisibilidade das mudanas econmicas e polticas da cena mundial. Em pouco mais de duas dcadas, passamos de um mundo bipolar que marcou o perodo da Guerra Fria a um mundo unipolar e, sucessivamente, a um reordenamento global que aponta para o surgimento de uma multiplicidade de polos nacionais e/ou regionais. Esgotadas as expectativas de um longo ciclo de expanso das economias desenvolvidas, que um ex-Presidente brasileiro chegou a chamar de emergncia de um novo renascimento, acompanhado do fim de muitos regimes autoritrios, o mundo viu-se confrontado, em 2008, com grave crise econmica e financeira, cujos efeitos se fazem sentir at hoje e turvam a viso daqueles que queiram fazer qualquer planejamento diplomtico. Com exceo da lenta e errtica recuperao norte-americana atual, todos os demais pases desenvolvidos sofrem ainda os efeitos da crise. A Unio Europeia no d sinais de poder sair da crise no curto ou mdio prazo. O Japo entrou em recesso. Os prprios pases emergentes, que no incio da crise haviam tido uma performance impressionante em termos econmicos, comeam a sentir os efeitos mais gerais da recesso global. Nos pases avanados, especialmente nos Estados Unidos, observa-se, ainda que com alguns sinais de recuperao importantes, uma forte concentrao de renda e processos de empobrecimento das classes trabalhadoras e das classes mdias. Na Europa, esse fenmeno particularmente visvel, tendo em vista, sobretudo, a regresso do Estado de bem-estar social. Os pases emergentes e os em desenvolvimento tambm sofrem os efeitos desse desarranjo global, desde aqueles que tm suas economias centradas nas exportaes de commodities, cujos preos esto em acentuada queda, at aqueles que conseguiram alcanar patamares mais elevados de industrializao, como o caso da China, que teve seu crescimento reduzido consideravelmente. As consequncias sociais desse quadro econmico no so boas. A Organizao Internacional do Trabalho indica um forte crescimento do desemprego global, que atinge hoje 1 bilho de homens e mulheres. Esse quadro acirra uma guerra comercial entre as naes e estimula todas as formas de protecionismo.

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    A persistncia do declnio dos preos do petrleo acarretar mudanas de envergadura no s do ponto de vista econmico, mas tambm do ponto de vista geopoltico. Os pases exportadores de petrleo latino-americanos sero atingidos. Mais ainda, sero afetadas as grandes potncias petrolferas, como a Rssia e as economias do Oriente Mdio. Em todos os casos, no se deve inferir dessa realidade conjuntural que sejam corretos os vaticnios catastrofistas que apontam para o fim da era do petrleo, pelo menos um fim no prximo perodo. O quadro poltico internacional no mais animador. Multiplicam-se focos de conflitos regionais que acarretam tenses com projees globais. Os organismos multilaterais, as Naes Unidas em especial, e as ideias dominantes nas grandes potncias no apontam para solues negociadas dos grandes problemas. O Conselho de Segurana carece de autoridade e legitimidade, pois sua composio no mais reflete a correlao de foras internacional. Assistimos ao predomnio das solues de fora no Oriente Mdio, na Sria, no Iraque, na Lbia, na Palestina, sobretudo, e em outras partes, como Afeganisto, Ucrnia, para no mencionar as crescentes reas de desestabilizao na frica Subsaariana, consequncias de aventuras coloniais no norte daquele Continente. O prprio incremento do terrorismo, sobretudo suas aspiraes de criar um Estado islmico, est diretamente ligado incapacidade de se encontrar solues polticas para os problemas globais. Sobra espao para o uso ilegal da fora, para a aplicao unilateral de sanes econmicas ou para estratgias mais globais de conteno, como aquelas que se desenham de forma mais explcita em relao China ou Rssia. Esse quadro, que eu procurei apresentar aqui de forma muito compacta e que eu acho que pode ser um indicador para ns pensarmos a realidade do mundo sobre o qual ter que intervir a poltica externa de qualquer pas, mas aqui estamos tratando especificamente da poltica externa brasileira, aconselha uma poltica externa que combina trs dimenses: processos de integrao, relacionamentos bilaterais mais consistentes e intervenes polticas na esfera multilateral. A Amrica Latina e a Amrica do Sul, em especial, se desenham como principal espao de uma poltica de integrao. Ns aqui temos crculos concntricos nos quais podemos desenhar essa interveno: MERCOSUL, UNASUL e CELAC.

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    Vamos dizer claramente que o MERCOSUL est num momento de transio que decorre no s da sua ampliao, com a incluso da Venezuela, proximamente a da Bolvia e outras candidaturas que se apresentam, mas pelo fato de que as atividades comerciais, que cresceram nove vezes nesse ltimo perodo, evidentemente, colocam novos desafios pela frente. Quero dizer, para tranquilizar os mais inquietos, que h um processo de aproximao entre o MERCOSUL e a Aliana do Pacfico, que, inclusive, se refletiu em seminrios recentes e em reunies que tambm aproximaram esses dois blocos. So blocos com caractersticas diferentes, mas importante observar que as vantagens internas da Aliana do Pacfico esto j praticamente configuradas na Amrica do Sul. Ns esperamos que num perodo muito breve, at 2016, praticamente todas as restries, todas as tarifas tenham sido removidas do comrcio exterior na Amrica do Sul e se possa, portanto, criar uma ampla zona de livre comrcio. A UNASUL, que agora, como se sabe, est passando por uma nova etapa, procurou justamente contornar o fato de que a aliana no poderia se dar exclusivamente em termos comerciais, na medida em que havia, evidentemente, tarifas externas comuns diferenciadas. Ento, o que ns procuramos enfatizar foi, a partir do reconhecimento de que essa regio tem vantagens extraordinrias em matria energtica, em matria de alimentos, em matria de minrios, compensar os defeitos que a regio apresentava para potencializar justamente essas vantagens. E isso significava concretamente levar adiante um processo de integrao fsica, logstica, de integrao energtica e, evidentemente, de integrao produtiva. Para insero nas cadeias produtivas globais fundamental e esse o exemplo exitoso da sia que haja uma insero de cadeias produtivas regionais preliminarmente. E, finalmente, a CELAC foi, de certa forma, quase que um efeito de demonstrao da UNASUL, abrangendo toda a Amrica Latina e o Caribe. Em outro mbito, e como consequncia da emergncia de novos polos globais, ocorreu a constituio do BRICS, que durante a Presidncia Pr-Tempore Brasileira formalizou em Fortaleza o arranjo contingente de reservas e o novo Banco do Sul. Digamos que isso transcende, em muito, qualquer vis ideolgico. Essas

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    duas iniciativas foram saudadas inclusive pela imprensa internacional, a imprensa dos grandes centros econmicos, como iniciativas quase de tanta importncia como aquelas que nos anos 40 levaram formalizao dos acordos de Bretton Woods. Distintamente do que afirmam alguns analistas, nem os mecanismos de integrao sul-americana, nem o BRICS ou nossa poltica de aproximao com a frica e com os Pases rabes implicam uma postura de confronto com as grandes potncias, menos ainda esto imbudas de um sentimento antiamericano. A pretendida analogia com processos terceiro-mundistas do passado historicamente impertinente. O mundo no est mais dividido em dois mundos frente aos quais se buscaria constituir um terceiro mundo, como no passado. A polarizao poltico-ideolgica da Guerra Fria no mais existe, e a complexidade do mundo de hoje muito maior: exige sofisticao de anlise e de propostas. Mas, ao mesmo tempo, est tambm superada a era dos alinhamentos automticos, prprios do perodo em que o mundo estava dividido entre Ocidente e Oriente. A contrapartida externa da soberania nacional o multilateralismo do plano internacional. E uma das suas principais expresses concretas a interao que resulta, seja da afinidade regional, como o caso da integrao da Amrica Latina, seja de um posicionamento prximo no ordenamento econmico internacional, que permita e recomende uma aliana no mbito global. Este o caso do BRICS, integrado por grandes pases, que na sua diversidade social, poltica e cultural tm problemas comuns de insero no mundo. Em todos os processos de integrao, a diversidade dos pases que se articulam entre si, longe de ser um problema, garantia de que a diversidade e o pluralismo sero preservados. Nesses 12 ltimos anos, soubemos rejeitar todas as propostas de integrao que apresentavam riscos e assimetria para os seus integrantes. Essa uma questo fundamental. Buscamos nos integrar no MERCOSUIL, na UNASUL, no CELAC ou no BRICS no para dominar nem para ser dominados, mas para alcanar maior competitividade na ordem global e vencer os obstculos que secularmente nos fizeram periferia do mundo.

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    A prevalncia que concedemos aos valores democrticos e ao respeito aos direitos humanos em nosso cenrio internacional no se confunde com uma tentativa de estabelecer regras urbi et orbi. Sabemos o quanto necessrio avanar em nosso prprio processo democrtico e os grandes dficits que ns ainda possumos no Brasil na preservao dos direitos humanos, a despeito de todos os esforos que foram feitos. O Brasil no uma agncia de certificao internacional em matria de democracia e de direitos humanos. No pregaremos para pases pequenos, ao mesmo tempo em que silenciamos sobre violaes por parte das grandes potncias. Como disse o Chico, no vamos falar grosso com uns e fino com outros. Como atestam nossas posies nos organismos multilaterais, especialmente as Naes Unidas recomendo a leitura dos votos do Brasil no Conselho de Direitos Humanos de Genebra , nosso posicionamento tem tido sempre um duplo propsito: defender os humilhados e os ofendidos, mas, ao mesmo tempo, contribuir para a evoluo das sociedades, em que h situaes crticas, e no confin-las em um defensivo extremo, em nome do respeito soberania nacional. Estamos seguros de que com nossas aes regionais, para citar um exemplo, contribumos para, junto com outros pases, impedir a guerra civil na Bolvia, o golpe de estado no Equador, conflitos armados entre Equador, Venezuela e Colmbia, e o agravamento da crise social e poltica na Venezuela. Mais importante do que isso ser, no entanto, permitir a integrao energtica, logstica e produtiva de nosso Continente, que dar base material para o aprofundamento da democracia na regio. Pensar em implementar as relaes Sul-Sul para a poltica externa brasileira nada tem a ver com posturas anti-imperialistas do passado, que tiveram seu tempo e suas razes. O Brasil e a Amrica Latina tm de construir relaes slidas e equilibradas com os Estados Unidos e com a Unio Europeia. No fazem parte de nossas anlises as teses sobre um suposto declnio do imprio norte-americano. Ao contrrio, temos absoluta clareza da importncia dos Estados Unidos para o equilbrio econmico mundial sob seu enorme potencial econmico, cientfico e

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    tecnolgico, mas esse reconhecimento no pode condenar-nos a um seguidismo ideolgico prprio de tempos ultrapassados. Com a Unio Europeia, cujo processo de integrao tanto nos inspirou, queremos levar adiante um processo equilibrado de relao comercial. O MERCOSUL tem proposta pronta para o acordo com a Unio Europeia, aguarda simplesmente a proposta europeia. Uma questo que importantssimo esclarecer que ns temos proposta pronta; a Unio Europeia no tem ainda, estamos aguardando.

    Mas, da mesma forma que desejamos relaes equnimes nas instituies polticas internacionais, tambm esperamos esse equilbrio nos organismos econmicos internacionais, sobretudo naqueles originrios de Bretton Woods. urgente, por exemplo, implementar a decidida reforma das cotas no FMI. No passado, algum disse, referindo-se nossa poltica externa, que o Brasil no deveria subir acima das suas chinelas. Pode e deve. No fosse pela poltica ativa e altiva que praticamos, no teramos participado do G-7 e do G-8, que foram, a seu tempo, praticamente um diretrio do mundo. No fora por essas transgresses muitos assim qualificam , to claramente expressas nos discursos presidenciais nas sucessivas Assembleias-Gerais da ONU, no haveria o G-20, com a nossa participao, menos ainda estaramos ns participando de l. Estes so os elementos que eu gostaria de trazer a este debate. Felicito uma vez mais a iniciativa do Presidente da Comisso de Relaes Exteriores e de Defesa Nacional da Cmara dos Deputados. Muito obrigado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Muito obrigado, Prof. Marco Aurlio Garcia. Antes de conceder a palavra ao nosso terceiro convidado, eu vou nomear e saudar alguns Embaixadores presentes. No vou conseguir pronunciar corretamente o nome de todos, ento me desculpem pelos erros.

    Esto presentes o Embaixador Otar Berdzenishvili, da Gergia; o Embaixador Veljko Lazic, da Srvia; o Embaixador Andrzej Maria Braiter, da Polnia; o Embaixador Sabri Bachtobji, da Tunsia; o Embaixador Jir Havlk, da Repblica Tcheca; o Embaixador Jerjes Justiniano, da Bolvia; o Embaixador Manuel Mara

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    Cceres, do Paraguai; o Embaixador Marlon Mohamed Hoesein, do Suriname; o Embaixador Jozef Smets, da Blgica; a Embaixadora Patricia Crdenas Santamara, da Colmbia; o Embaixador Jaime Gazmuri, do Chile; o Embaixador em misso Mohamed Bahia, do Governo de Saharau; a Embaixadora Yvette Goddard, de Barbados; o Embaixador Rostyslav Tronenco, da Ucrnia; e o Embaixador Mohamed Bumani, de Marrocos. Desde j agradecemos aos Srs. Embaixadores a presena. E agora, para uma misso importante, que a concluso da nossa Mesa, concedo a palavra ao Embaixador Luiz Felipe Palmeira Lampreia, que tem a palavra para fazer um balano das falas que o antecederam. O SR. LUIZ FELIPE PALMEIRA LAMPREIA - Muito obrigado, Sr. Presidente Eduardo Barbosa.

    Eu queria primeiramente manifestar minha congratulao ao Prof. Marco Aurlio, por, com seu esprito aberto e equilibrado, coincidir com Henry Kissinger, que no propriamente da sua famlia ideolgica, no livro World Order. Quando Marco Aurlio fala sobre a ordem mundial, ele praticamente diz as mesmas coisas que disse Henry Kissinger, e extraordinrio que haja essa coincidncia, ento eu queria parabeniz-lo.

    O SR. MARCO AURLIO DE ALMEIDA GARCIA - Eu no li ainda. O SR. LUIZ FELIPE PALMEIRA LAMPREIA - Eu j anuncio que . Pode ficar

    tranquilo. Vou falar muito brevemente sobre alguns pontos. No se trata aqui de fazer

    uma confrontao com o Marco Aurlio, que, alis, eu respeito profundamente, um professor srio.

    O primeiro ponto o MERCOSUL. Eu tenho uma grande mgoa por ter sido um dos fundadores do MERCOSUL e ter trabalhado no MERCOSUL com extrema convico, inclusive com a convico de que o MERCOSUL deveria ser um pilar da nossa poltica externa e um pilar da nossa presena internacional. Meu grande desapontamento provm do fato de que o MERCOSUL hoje est completamente enxovalhado. O MERCOSUL no existe mais como ele foi fundado. Ele foi fundado num espao de integrao comercial e econmica, e hoje uma frente poltica, de preferncia antiamericana. Basicamente, isso o que ele . A entrada da

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    Venezuela, que se deu de maneira inteiramente irregular, porque a Venezuela no preencheu os requisitos, transformou fundamentalmente o MERCOSUL, e a crise argentina acabou de dar o ltimo tranco no projeto original do MERCOSUL. De maneira que o MERCOSUL, na minha opinio, ao contrrio do que disse o Prof. Marco Aurlio, nao um processo de integrao em transio, um processo de integrao em franca decadncia. E eu lamento muito dizer isto, porque o MERCOSUL para mim quase como o Botafogo: ser rebaixado duro, mas essa a verdade. Outra coisa que eu queria dizer que o Brasil, ao contrrio da sua longa tradio, nos ltimos 12 anos basicamente se absteve de participar efetivamente de conflitos. Pode ser eu nao conheo os bastidores que tenha sido mais forte, como alega o professor, do que apareceu, mas eu nao creio que tenha havido nos ltimos 12 anos nada de parecido com a estabilizao do conflito secular entre o Peru e o Equador, que terminou com um tratado presenciado aqui por muitos presidentes, como o de Portugal, pelo Rei da Espanha, etc., um tratado que fez selar uma paz definitiva entre o Peru e o Equador, que j tinham tido trs guerras, com muitas mortes de parte a parte. Os Governos dos ltimos 12 anos certamente no fizeram isso, e uma pena que seja assim.

    Outra questo que importante ressaltar que a poltica externa tem como seu orgo funtamental o Itamaraty. Infelizmente, isso nao verdade. O Itamaraty est sendo depenado, circunstancialmente e continuamente. Perde funes... J perdeu a funo de ser o principal negociador da poltica comercial, h a tentativa de faz-lo perder a funo de cooperao internacional... Enfim, h uma srie de outras tentativas de esvaziamento do Itamaraty, e isto no sou eu que estou dizendo, haja vista que h um mal-estar notvel e notrio entre os diplomatas, que os levou inclusive a escrever cartas ao Ministro 340 cartas. Eu fui Ministro por 6 anos e nunca ningum me mandou carta nenhuma, nem sequer um nico diplomata, com queixa do Itamaraty. E 340 um nmero expressivo, que revela um sentimento de desvalorizao, de desapreo, de falta de perspectiva, o que , a meu ver, muito grave, porque o Itamaraty um rgo de Estado de 200 anos, que sempre prestou bons servios ao Pas e nao merece ser objeto desse tipo de enxovalhamento.

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    Quantos ao BRICS, eu concordo, basicamente, que o BRICS uma boa coisa, uma categoria operacional interessante, at porque se trata de um clube de grandes pases, e ns nunca tnhamos sido convidados para nenhum clube de grandes pases at ento, de pases muto importantes, decisivos. Agora, eu acho que preciso ver com tranquilidade que o BRICS uma varivel geomtrica que se insere no quadro internacional como mais uma das muitas configuraes que existem de coincidncias, alinhamentos, mas ele no um rgo relevante no sentido de deixar uma marca definitiva na polcia nacional, de ser uma instncia obrigatria para a discusso ou soluo de qualquer coisa.

    O BRICS composto de uma srie de pases com interesses fundamentais e estratgicos completamente diferentes. O que h de comum entre o Brasil e a ndia, por exemplo, em matria de interesse estratgico fundamental? Nada. O que h de interesse comum entre o Brasil e a China em matria de interesse fundamental? Nada. Eu poderia aqui recitar o interesse da China, mas acho que isso todo mundo sabe, no novidade nenhuma dizer que o problema da China asitico, um problema econmico e um problema de afirmao diante dos Estados Unidos. O BRICS no tem nada a ver com isso. Eu acho timo que seja o BRICS, agora, o professor que me perdoe, mas dizer que o Banco do BRICS to importante quanto o Breton Woods, que criou o Fundo Monetrio e o Banco Mundial, a tambm j um exagero tremendo. O SR. MARCO AURLIO DE ALMEIDA GARCIA - No fui eu quem disse isso. O SR. LUIZ FELIPE PALMEIRA LAMPREIA - Mas acabou de repetir, pelo menos. Enfim, eu acho isso um exagero muito grande. Mas tudo isso faz parte de um quadro geral em que h uma notria diferena de postura, inclusive ideolgica. Eu no creio que ningum tenha o monoplio da verdade, agora, importante discutir fatos, e para discutir fatos preciso ser verdadeiro. Vamos discutir um fato especfico, que foi aqui citado, o acordo Brasil, Turquia e Ir, em 2010, firmado para ter resultados significativos sobre o quadro iraniano, que um dos problemas mais graves e mais delicados de segurana internacional, inclusive atmica, no momento.

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    Eu passei alguns meses pesquisando esse assunto. Escrevi um livro, que acabou de ser publicado, sobre esse tema. Conversei com muitas pessoas, inclusive pessoas de dentro da Casa Branca, entre elas o General James Jones, que era o Assessor de Segurana Nacional dos Estados Unidos, posto da maior relevncia, da maior significao. Conversei tambm com outros assessores e com muitos diplomatas brasileiros sobre esse tema. Os fatos que so citados pelo professor comeam com uma carta de Obama, sobre a qual se diz que Obama teria aprovado o projeto. Eu devo ter lido essa carta de Obama umas 10 vezes. Traduzi-a pessoalmente e sou capaz de recit-la quase que de cor. Ela no diz que a favor de um acordo Brasil, Ir e Turquia naqueles termos. Nem poderia dizer, porque, uma semana depois desse acordo, os Estados Unidos lideraram um bloco de 12 pases para votar contra o Brasil e a Turquia e nos infligiram no Conselho de Segurana uma derrota comparvel aos 7 a 1 para a Alemanha, uma derrota de 12 a 2. Se o Obama estivesse a favor daquele acordo, certamente no permitira que a Hillary Clinton, que era sua subordinada, fizesse uma operao daquele tipo. Isso me parece patente, bvio. No vejo discusso a esse respeito. Outra afirmao que o acordo que est sendo buscado no momento j foi feito um acordo preliminar inferior ao acordo que foi feito em Teer entre o Brasil, a Turquia e o Ir. Isso, factualmente, no corresponde realidade. Eu no quero entrar em coisas muito tcnica, seno a gente comea a se perder, mas, na prtica, o que aconteceu foi que o acordo de maio de 2010 foi destinado a transferir para o controle da Turquia uma parcela do estoque iraniano de urnio enriquecido no era sequer uma parcela esmagadora; era uma parcela, uma porcentagem. Na verdade, isso no significava nada, porque o Ir continuou a ter as centrifugadoras que produzem o urnio enriquecido, e, se quem tem centrifugadora continua a ter a centrifugadora, pode mandar para fora alis, com o direito de reaver de volta quando quiser o urnio enriquecido, e no precisa se preocupar, porque pode continuar enriquecendo urnio vontade, sem nenhuma limitao. E no h limitao para centrifugadora, no h limitao para uma usina de plutnio em Arak, no h limitao para novas centrais nucleares, no h limitao para o programa de msseis, nada disso h no acordo de Teer, firmado pelo Presidente Lula, o

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    Ministro Celso Amorim, os turcos e os iranianos. O acordo era inteiramente preliminar. Por isso mesmo que os seis pases fundamentais, e no s apenas ocidentais, porque Rssia e China tambm participaram, votaram esmagadoramente contra, e o acordo atual continua de p. um acordo difcil, delicado, porque pode representar uma humilhao para o Ir se houver o desmantelamento completo das suas instalaes nucleares, agora, no h ningum, a no ser, talvez, crianas de colgio na poca de primeira comunho, que acredite que o Ir no est perseguindo bombas atmicas. Realmente, isso seria de uma ingenuidade extraordinria. Tem que ser iraniano para contar essa mentira, porque os iranianos sabem que mentira.

    Enfim, eu acho que esse foi um erro capital. Alis, devo dizer que a Presidente Dilma reconheceu isso, sem diz-lo, botando o acordo inteiramente na gaveta. Ele hoje em dia est trancado num cofre, congelado a 50 metros de profundidade nos arquivos diplomticos brasileiros. Esse foi um grave erro e nos levou maior humilhao que o Brasil j sofreu no cenrio internacional, com uma derrota de 12 a 2 no Conselho de Segurana da ONU. Eu acho que isso um pouco emblemtico.

    A citao de que o Brasil fala fino com os grandes e fala grosso com os pequenos, evidentemente, correta. Quem seria eu para preconizar que o Brasil falasse grosso com os pequenos. Mas com os grandes no precisamos falar fino, podemos falar perfeitamente dentro da nossa... Agora, eu acho que ns s podemos falar quando tivermos coisas a dizer. Este que o problema. O Ministro Saraiva Guerreiro, que foi um grande Ministro, dizia que o Brasil no tem excesso de poder, para falar em qualquer coisa, que no tem legitimidade para falar... Isso verdade para qualquer um de ns aqui. H instncias em que se pode falar e instncias em que no se tem munio para falar, no se tem credencial, no se tem o direito de falar. Eu acho que esse um ponto central. Por isso que, frequentemente, vises ideolgicas levam a afirmaes descoladas da realidade e levam a fracassos como foi o acordo com o Ir. Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Ns que agradecemos, Embaixador Lampreia.

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    Agora vamos abrir a oportunidade para duas interpelaes de Deputados apenas, para podermos iniciar de imediato a segunda Mesa. Falaro o Deputado Emanuel Fernandes e, depois, o Deputado Duarte Nogueira. O SR. DEPUTADO EMANUEL FERNANDES - Temos uma pergunta bastante rpida e bastante simples, uma pergunta que tentei fazer vrias vezes aqui nesta Comisso. Eu sei que a resposta difcil, porque o Itamaraty no um posto comercial nem empreendedor, mas o fato que o Frum Econmico Mundial divulga todos anos a competividade do Brasil, e ns somos o ltimo e o penltimo em importao e exportao como percentagem do PIB. Por que o Brasil tem essa participao to pequena no comrcio mundial? O SR. DEPUTADO DUARTE NOGUEIRA - Sr. Presidente, como membro da Comisso, eu queria, muito rapidamente, cumprimentar a iniciativa de V.Exa. Acho que este seminrio vai ao encontro de uma das tarefas mais relevantes desta Comisso, que trazer a sociedade a discutir no s um tema da poltica externa brasileira, mas tambm o impacto que a poltica externa tem naquilo que para ns superimportante, como o comrcio exterior.

    Eu queria fazer a observao de que ns caminhamos para uma balana comercial deficitria, depois de anos a fio com natureza superavitria. Sem dvida alguma, o debate deste seminrio vai ao encontro de chamar luz as autoridades que neste momento tomam as decises, em nome do Pas, para o fato de ns no estarmos no rumo, acredito eu, modestamente, correto. Obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Ns vamos agora nos comportar da seguinte forma. Vamos conceder a palavra aos nossos convidados da Mesa, para que possam no s responder ou comentar aquilo que foi colocado pelos Deputados desta Casa, mas tambm para, de imediato, j fazer as suas consideraes finais. Passo a palavra ao Sr. Demetrio Magnoli. O SR. DEMETRIO MARTINELLI MAGNOLI - Com relao a essas duas perguntas, que na verdade so muito prximas, eu acho que existe uma questo, vamos dizer assim, histrica, estrutural, que est ligada ao tamanho e s caractersticas da economia brasileira, uma economia continental, onde o comrcio

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    exterior nunca foi algo fundamental nas relaes econmicas em geral. Outros pases continentais tambm tm um comrcio exterior pequeno em relao ao PIB. Os Estados Unidos so exemplo disso. Em relao ao PIB americano, o comrcio exterior deles pequeno. Mas verdade que o do Brasil pequeno demais, e verdade que ele est estagnado, como parte do comrcio mundial. O comrcio brasileiro no est crescendo como parte do comrcio mundial; ele est estagnado h bastante tempo.

    Pior ainda, como eu tentei destacar, o comrcio exterior brasileiro sofre uma regresso na sua composio de valor, ele se torna um comrcio cada vez mais apoiado em commodities e cada vez menos apoiado em produtos de maior valor agregado. Isso est diretamente relacionado a um aspecto que eu levantei na exposio inicial, recusa ideolgica do Brasil de realizar acordos comerciais bilaterais e acordos regionais de comrcio. Quando o Prof. Marco Aurlio diz que o MERCOSUL tem uma proposta pronta para a Unio Europeia, ele diz a verdade. A proposta pronta do MERCOSUL para a Unio Europeia tem um patamar estabelecido pelo protecionismo argentino. A Argentina deu o quadro do patamar da proposta. A proposta pronta do MERCOSUL para a Unio Europeia impede qualquer negociao sria para um acordo comercial, como dir qualquer responsvel comercial, alis, como vm dizendo os responsveis comerciais da Unio Europeia. Ento, no adianta a gente se autoiludir com esse tipo de coisa. Nitidamente, e isto foi explicado pelo Prof. Marco Aurlio, ns no queremos acordos assimtricos. E, evidentemente, o acordo do MERCOSUL com a Unio Europeia tem uma assimetria do ponto de vista econmico. Se ns no queremos acordos assimtricos, no vamos fazer acordos com os grandes centros econmicos internacionais. O problema muito grave na hora em que surge a Aliana do Pacfico, no porque a Aliana do Pacfico seja importante em funo do seu comrcio interno essa no a importncia da Aliana do Pacfico , nem porque seja impossvel se chegar a acordos comerciais, que so bons e produtivos, entre o MERCOSUL e a Aliana do Pacfico este tambm no o problema. O problema que a Aliana do Pacfico, em razo dos seus acordos externos com os grandes centros de poder no mundo, ela est engatada na negociao de mega-acordos comerciais com o

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    Pacfico e com a Europa, e o risco que o MERCOSUL se torne uma fortaleza esplndida isolada na Amrica Sul, a fortaleza que a Venezuela e o atual Governo argentino querem que seja o MERCOSUL. ltima observao, guisa de observao final. O que eu tentei destacar, essencialmente, foram os perigos de o Brasil fazer uma poltica externa organizada em torno da autoiluso. Eu queria retomar a observao que o Prof. Marco Aurlio fez, que no dele de fato, que ele apenas repetiu, uma observao que tinha sido feita por Paulo Nogueira Batista, o representante do Brasil no Fundo Monetrio Internacional, sobre o Banco dos BRICS... Foi Paulo Nogueira Batista quem disse o que agora o Prof. Marco Aurlio repetiu, que a criao do Banco dos BRICS, que eu acho boa, acho um negcio positivo, porque os BRICS so teis, que a criao do Banco dos BRICS entrar para os livros de histria como os acordos de Bretton Woods, em 1944. Nessa frase est sintetizado o problema de uma poltica externa baseada na autoiluso, porque nela est sintetizada a ideia de que ns estamos, de que o Brasil est, junto com os seus aliados estratgicos, reformando o sistema internacional com base em alianas e polos de alianas sul-sul, em detrimento dos centros tradicionais de poder. O problema no nem se isso desejvel ou no. Ns podemos discutir longamente se isso seria desejvel ou no. O problema que isso no est acontecendo! O problema que a China no sul do ponto de vista dos seus interesses econmicos, a ndia no sul do ponto de vista dos seus interesses estratgicos, o Banco dos BRICS no o FMI e o Banco Mundial, e o que aconteceu em Fortaleza no o reincio da histria, no um novo Bretton Woods, o comeo de uma nova arquitetura financeira internacional. O grave que o Brasil, mas no a China, nem a Rssia, nem a ndia, o grave que o Brasil pensa que . (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Ns vamos passar a palavra ao Prof. Marco Aurlio Garcia, mas queremos lembrar ao Demtrio que, para pegar seu voo, ele deve sair daqui em 5 minutos no mximo. Se no estiver terminada a Mesa, sinta-se vontade para se ausentar antes. Com a palavra o Prof. Marco Aurlio Garcia. O SR. MARCO AURLIO DE ALMEIDA GARCIA - Bem, vocs vo ficar surpresos, mas eu estou de acordo com a primeira parte da resposta do Demtrio.

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    Acho que, efetivamente, nunca se pode esquecer de que a economia brasileira, de que a participao do setor externo na economia brasileira sempre foi pequena. E sempre ser pequena. Ns podemos tentar ampli-la para algo em torno de 15%, de 16%, em contraste com outros pases, como o Chile, com 65%. Quer dizer, o Pas tem a fora da sua economia no mercado interno, e isso no quer dizer, de maneira nenhuma, que ns no devamos fazer com que o comrcio exterior cresa, como, diga-se de passagem, cresceu, e muito, nos primeiros anos do Governo Lula. H problemas posteriores, problemas de poltica industrial... Enfim, no haver tempo aqui para discutirmos isso. Chamo a ateno, no entanto, para o papel importantssimo nas exportaes brasileiras do setor do agronegcio. E, contrariamente ao que alguns acreditam, talvez por vcios tericos, o setor do agronegcio no mais um setor primrio exportador, um setor no qual est investida muita cincia e muita tecnologia. Portanto, ns no estamos confrontados com o velho modelo de agricultura primria exportadora. O agronegcio um setor que utilizou a inovao, a cincia e tecnologia, a sofisticao inclusive da sua insero no comrcio internacional, que, a meu juzo, deveria servir de modelo para a indstria brasileira. Mas, enfim, eu no quero entrar numa discusso sobre poltica industrial. H um novo Ministro, novas ideias, e espero que haja uma reflexo bastante profunda sobre uma poltica industrial, que essencial ao Brasil, que tem que ser um pas industrial, obviamente, espero que isso nos d, de qualquer maneira, uma participao muito grande. Chamo a ateno para o fato de que, em algumas negociaes, como, por exemplo, aquelas que ns desenvolvemos com a China no ltimo ano e meio, ns insistimos muito na ampliao das exportaes de produtos de valor agregado. Refiro-me a isso no s porque ns temos um considervel supervit com a China somos dos poucos pases que tm supervit comercial com a China , mas pelo fato de que ns comeamos a introduzir nas nossas exportaes uma participao muito grande de produtos de valor agregado, como o caso dos avies da EMBRAER. Estamos exportando cerca de 70 avies da EMBRAER para a China.

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    O Demtrio falou de iluses. Bom, cada um tem as suas iluses. Eu tenho as minhas, ele tem as dele. Ento, ns vamos confrontar iluses aqui? No! No tem sentido o confronto de iluses. Quanto aos acordos regionais, eu quero deixar claro o seguinte: a menos que ele tenha entrado em alguma sala e descoberto a natureza da proposta do MERCOSUL, eu quero dizer que essa foi uma proposta que no nivela por baixo. Pelo contrrio, foi um acordo muito difcil de ser logrado. Ns entendemos as dificuldades dos nossos parceiros. Podemos at ter divergncias com os nossos parceiros; normal que as tenhamos. Mas ns procuramos apresentar uma proposta que seja aceitvel pela Unio Europeia. E, apesar de isso ter sido dito e repetido, insiste-se em desconhecer esse fato. O Sr. Duro Barroso, quando veio ao Brasil se despedir da Presidenta Dilma e das suas funes de Presidente da Comisso Europeia, nos disse claramente que a Unio Europeia no tinha proposta e que ele achava muito difcil que ela existisse. E a mesma coisa nos foi dita durante a Copa do Mundo, aquela Copa do Mundo dos 7 x 1 to evocada aqui pela Chanceler Merkel, em um jantar que houve no Alvorada, quando ela disse tambm que a Unio Europeia no tinha proposta e que ela achava difcil um acordo entre os 27 ou 28 pases em torno de uma proposta. Vamos fazer um pouquinho de reflexo sobre a situao internacional e vamos ter claro o seguinte: numa situao de crise, sobretudo a situao que a Europa est enfrentando hoje, as tentaes protecionistas so gigantescas, sobretudo tendo em vista adversidades que existem e so to gigantescas que alguns pases europeus vieram pedir para o Brasil, para o Chile e para outros pases para no exportarmos para a Rssia e deixarmos que simplesmente o boicote produtos agrcolas que eles esto fazendo funcione. No vamos nos iludir. O mundo no um clube de amigos, no uma legio da boa vontade, na qual todo mundo se pe de acordo. Eu quero deixar tambm bem registrado e o tempo dir quem tem razo que essa ideia da Trans-Pacific Partnership, a TPP, no uma ideia aceita sequer pelos pases da Aliana do Pacfico. Perguntem a vrios Governos no quero cometer indiscries , perguntem a vrias chancelarias de pases da Aliana do

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    Pacfico o que elas esto pensando da TPP. Porque a TPP, entre outras coisas, tem um sentido muito claro: a excluso da China. a marginalizao da China. Por outro lado, perguntem para os governos europeus o que eles esto achando da possibilidade de um acordo entre os Estados Unidos e Canad, de um lado, e a Unio Europeia, de outro. Esse acordo vai ser muito difcil. E, como ns dissemos para o Duro Barroso, vai ser difcil no s por causa do camembert; vai ser difcil por muitas outras razes. Vai ser difcil por qu? Porque o contexto internacional um contexto, hoje, de extrema complexidade. Ento, menos ideologia. Menos ideologia! Menos legio da boa vontade, em termos internacionais, e vamos entender que ns estamos vivendo um mundo muito difcil. Quem no entender isso vai acusar os outros de ideologia e vai praticar a ideologia. O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Muito obrigado, Prof. Marco Aurlio. Embaixador Lampreia, com a palavra. O SR. LUIZ FELIPE PALMEIRA LAMPREIA - Bom, em primeiro lugar, o Deputado formulou uma questo sobre o comrcio exterior brasileiro. A nica credencial que eu tenho para falar deste assunto o fato de eu, durante 80% da minha carreira, ter trabalhado em negociaes comerciais. O Brasil j foi um completo ano. Quando eu entrei, o Brasil exportava caf, cacau, algodo e muito pouco mais. Mas houve claramente uma desacelerao de uma marcha para se tornar um exportador mais consistente por parte do Brasil. Em primeiro lugar, creio, ela se deve ao fato de que o Brasil cada vez mais se fecha atravs de um protecionismo. Protecionismo um pouco moralidade: moralidade errada a moralidade dos outros; a nossa moralidade tima. Geralmente, isso o que governa um pouco esse tipo de raciocnio. O Brasil tem sido um dos pases mais protecionistas do mundo. Tem acrescentado itens e mais itens a uma pauta de tarifas altas, etc. Isso, evidentemente, perturba o comrcio, porque o comrcio uma rua de duas mos. Ele tem que ser um resultado de importao e exportao. Se s se quiser exportar, fica-se diminudo por definio.

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    A segunda questo o problema do cmbio, que tem variado muito fortemente, inclusive, a maior parte do tempo, nos anos recentes, de maneira excessivamente valorizada, o que faz com que a competitividade dos produtos industriais brasileiros diminua, obviamente, em termos de mercados internacionais. A terceira questo, eu creio, o fato de que o Brasil se isolou muito. Eu concordo inteiramente com o Prof. Marco Aurlio em que a Aliana do Pacfico e o prprio acordo entre Estados Unidos, Europa e Canad no so coisas que vo cair do cu amanh, no; so coisas complexas. Mas no h acordo comercial importante que tenha cado do cu. Por exemplo, o acordo que criou a OMC foi negociado durante 9 anos, e mais de uma vez pareceu que tinha capotado; que era um morto que teria que ser ressuscitado. Ento, eu acho que no questo de querer fazer parte da Aliana do Pacfico ou do acordo menor dos nossos 4 pases latino-americanos. O que no d certo o Brasil ter acordo apenas com Israel, Egito e Autoridade Palestina. Isso a realmente brincadeira, porque no vai nos levar a lugar nenhum. E o fato que esses acordos no so transcendentais, mas so importantes, porque envolvem preferncia. Ento, mesmo na Amrica-Latina, ns estamos regredindo. Por qu? Porque os Estados Unidos tm a preferncia dos pases que esto mais ativos, mas dinmicos, como o Chile, a Colmbia, o Peru. Todos esses pases tm acordos bilaterais com os Estados Unidos. E os Estados Unidos, portanto, largam na frente do Brasil, j que o MERCOSUL apenas, digamos, um desejo, que no tem poder de atuao concreto. Eu acho que o principal diagnstico passa por essas trs coisas: passa por cmbio, passa por protecionismo nosso e passa pela dificuldade de se aderir a outros tipos de esquema. Eu fui o negociador principal do Brasil na fase final da OMC e sei bem que difcil fazer uma nova OMC, aprofundar a OMC. Mas ns colocamos todos os nossos ovos dentro dessa cesta, e ela no progrediu e no tem como progredir no momento, a no ser parcialmente, como vem sendo feito, alis, pelo excelente Diretor-Geral, nosso Roberto Azevdo. Eu acho que o Brasil est ficando para trs, sim. claro que o setor exportador do agronegcio muito importante; tem, sem dvida, um valor cientfico

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    grande, importante, muito relevante; mas ele ser tambm sujeito s flutuaes do mercado internacional, enquanto as manufaturas ficam muito menos sujeitas. Estamos assistindo agora soja, cujo preo caiu com a reduo dos objetivos de crescimento da China, e caiu bastante. O prprio preo do petrleo est caindo, por outras razes que j foram abordadas aqui. Mas, enfim, commodities, por definio, oscilam muito. Ento, querer que elas sejam o esteio do seu comrcio internacional e, portanto, do seu crescimento econmico, perigoso. Acho que ns tnhamos que fazer um esforo grande de criao de condies para que a indstria nacional pudesse reviver. Ela tem cado. V.Exa. certamente tem acompanhado os dados do IPEA e do IBGE, que revelam um encolhimento da indstria nacional no Produto Nacional Bruto. Isso evidentemente preocupante, porque o Brasil no pode se tornar um Pas sem indstria. No seria concebvel. Muito obrigado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Ns queremos agradecer, mais uma vez, a presena dos nossos convidados. Entendemos que o cenrio da poltica externa foi bem descrito tanto pelo Governo como pelas posies crticas que foram aqui apontadas. Estamos num processo de evoluo sempre, num processo de mudanas e transformaes, e acho que a segunda Mesa traz para ns inclusive a possibilidade de debatermos os desafios para o novo Governo, no que diz respeito poltica externa brasileira. Muito obrigado, Embaixador Felipe Lampreia, pela brilhante exposio. Muito obrigado, mais uma vez, Prof. Marco Aurlio Garcia, que sempre quando chamado est presente em nossa Comisso, trazendo tambm uma posio muito clara e didtica sobre o seu pensamento e o do Governo brasileiro. Desfazemos esta Mesa e, de imediato, convidamos os palestrantes da prxima Mesa. (Pausa prolongada.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Ns vamos chamar para compor a Mesa os nossos convidados: Sr. Roberto Teixeira da Costa, membro do

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    Conselho de Administrao da SulAmrica S.A. e da BNDESPAR; Embaixador