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Seminário URBFAVELAS 2016 Rio de Janeiro - RJ - Brasil REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA EM APP - DIREITO DE QUEM? O CASO DA VILA ESPERANÇA EM JUNDIAÍ - SP. Tatiana Reis Pimenta (FEC - UNICAMP) - [email protected] Arquiteta e Urbanista; Gestor Público; Estudante da Pós-graduação em Direito Ambiental e Urbanístico (especialização) – PUC Minas; Aluna especial da Pós-graduação (mestrado) em Arquitetura, Tecnologia e Cidade - FEC/UNICAMP; Fernanda Souza Carvalho (FEC - UNICAMP) - [email protected] Mestranda FT/UNICAMP Aluna especial Pós FEC/UNICAMP, Engenheira Civil Faculdade Anhanguera, tecnóloga em Construção Civil FT/UNICAMP. Membro do GEPUCS - Grupo de Estudos de Planejamento Urbano e Cidades Saudáveis - FEC UNICAMP.

Seminário URBFAVELAS 2016 Rio de Janeiro - RJ - Brasil ... · A expansão da urbanização a partir do centro para os vet ores Sudeste e Noroeste, ... e os motivos eram os mesmos

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Seminário URBFAVELAS 2016Rio de Janeiro - RJ - Brasil

REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA EM APP - DIREITO DE QUEM? O CASO DA VILA ESPERANÇAEM JUNDIAÍ - SP.

Tatiana Reis Pimenta (FEC - UNICAMP) - [email protected] e Urbanista; Gestor Público; Estudante da Pós-graduação em Direito Ambiental e Urbanístico (especialização)– PUC Minas; Aluna especial da Pós-graduação (mestrado) em Arquitetura, Tecnologia e Cidade - FEC/UNICAMP;

Fernanda Souza Carvalho (FEC - UNICAMP) - [email protected] FT/UNICAMP Aluna especial Pós FEC/UNICAMP, Engenheira Civil Faculdade Anhanguera, tecnóloga emConstrução Civil FT/UNICAMP. Membro do GEPUCS - Grupo de Estudos de Planejamento Urbano e CidadesSaudáveis - FEC UNICAMP.

REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA EM APP - DIREITO DE QUEM?

O CASO DA VILA ESPERANÇA EM JUNDIAÍ -SP 1

REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA EM APP - DIREITO DE QUEM? O CASO DA VILA ESPERANÇA EM JUNDIAÍ - SP.

“Daqui não saio, daqui ninguém me tira Daqui não saio, daqui ninguém me tira Onde é que eu vou morar? Eu não tenho paciência de esperar Ainda mais com sete filhos, onde é que eu vou morar?”(documentário Dandara: “enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito”, 2013)

RESUMO

O trabalho apresenta o estudo de caso do assentamento precário de baixa renda localizado no Bairro Vila Esperança, no município de Jundiaí, S.P., que teve início na década de 70, por meio da ocupação de moradias construídas na área pública “jardim” do loteamento regular Vila Esperança, espraiando-se para áreas particulares contíguas.

Após passar por intervenção urbanística promovida pelo Poder Público municipal, com recursos do Governo Federal, na década de 90, teve início a exaustiva trajetória da Regularização Fundiária de Interesse Social em área de preservação permanente – app.

Num cenário de um município que apresenta um histórico de planejamento urbano excludente e que contribui com o crescimento do déficit e da precariedade habitacional. O trabalho pretende mostrar as dificuldades e desafios enfrentados para garantir a segurança jurídica do imóvel aos beneficiários de um processo de Urbanização de Assentamento Precário, que perpassa a legislação urbanística e ambiental existente (ou ausente) e vai de encontro com a barreira social presente na marginalização da população que vive nessas áreas.

O homem precisa de moradia para sobrevivência e do meio ambiente para subsistência, e, nesse sentido, o trabalho busca promover uma reflexão sobre o conflito (ou pseudo conflito) entre o direito à moradia e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e sua preservação.

Afinal de quem é o direito?

Palabras chave: regularização fundiária, direito urbanístico, urbanização,

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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO ......................................................................................................... 3

1.1 OBJETO ................................................................................................................. 3

1.2 OBJETIVO .............................................................................................................. 3

1.3 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................... 3

1.4 METODOLOGIA APLICADA .................................................................................. 3

2. O MUNICÍPIO................................................................................................................ 4

2.1 DADOS GERAIS .................................................................................................... 4

2.1.1 População ........................................................................................................ 4

2.1.2 Imagem Aérea .................................................................................................. 4

2.1.3 Área Territorial ................................................................................................. 4

3. LOCALIZAÇÃO E MUNICÍPIOS VIZINHOS .................................................................. 5

4. EVOLUÇÃO ECONÔMICA E URBANA ........................................................................ 6

4.1 PROCESSO DE FORMAÇÃO URBANA E ECONÔMICA DA DEMANDA SOCIAL POR HABITAÇÃO. ........................................................................................................... 6

4.2 A SITUAÇÃO HABITACIONAL NO MUNICÍPIO E A AÇÃO DO PODER PÚBLICO 8

5. VILA ESPERANÇA ..................................................................................................... 11

5.1 HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO E URBANIZAÇÃO. ............................................... 11

5.2 O DESAFIO DA REGULARIZAÇÃO FUNDIARIA E O CONFLITO ...................... 14

5.2.1 Desafetação e Retificação: ............................................................................ 14

5.2.2 Licenciamento Urbanístico ............................................................................. 14

5.2.3 Licenciamento Ambiental ............................................................................... 16

5.2.4 Do Registro da Regularização Fundiária de Interesse Social ........................ 19

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 21

6.1 MAS, HAVERIA MESMO UM CONFLITO ENTRE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E MORADIA? ..................................................................................................................... 21

7. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................... 22

7.1 NORMAS TÉCNICAS E LEGISLAÇÃO ................................................................ 22

7.2 OBRAS DE REFERÊNCIA ................................................................................... 22

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1. APRESENTAÇÃO

1.1 OBJETO

Estudo de caso sobre a Regularização Fundiária do assentamento precário de baixa renda localizado no bairro Vila Esperança em Jundiaí, S.P.

1.2 OBJETIVO

Apresentar as dificuldades e desafios enfrentados para promover a Regularização Fundiária de Interesse Social em Área de Preservação Permanente (APP) de córrego e garantir a segurança jurídica do imóvel aos beneficiários.

1.3 JUSTIFICATIVA

A escolha do local se deu pelo histórico de ocupação e de regularização fundiária, que ratifica o conteúdo apresentado pela disciplina.

Trata-se de um caso concreto que envolve os aspectos políticos, jurídicos e que evidencia, sobretudo, o universo marginalizado presente na sociedade brasileira, quando se trata de garantir o direito constitucional à moradia para a população de baixa renda, no cenário de um município com histórico de planejamento urbano excludente.

1.4 METODOLOGIA APLICADA

Diagnóstico elaborado a partir da leitura e compreensão do conteúdo aplicado na disciplina AQ100 – Cidade e Direito Urbanístico (1º sem/2016) – FEC/UNICAMP, principalmente Edésio Fernandes e Betânia Alfonsin, aplicando-o à análise do caso em cada etapa da Regularização Fundiária promovida, bem como à legislação utilizada para promover a referida regularização ao longo do tempo e sua eficiência no enfrentamento dos principais desafios da urbanização e regularização.

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2. O MUNICÍPIO

2.1 DADOS GERAIS1

2.1.1 População

370.126 mil habitantes

2.1.2 Imagem Aérea

Figura 1 – Imagem Aérea do município

2.1.3 Área Territorial

Área total: 432 km²

Área urbana: 112 km²

Área rural: 320 km², sendo 228,6 km² área de cultivo e 91,4 km² área de tombamento da Serra do Japi.

1 Fonte: WWW.jundiai.sp.gov.br

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3. LOCALIZAÇÃO E MUNICÍPIOS VIZINHOS

Jundiaí está localizada a 49 km de distância de São Paulo e 37 km de Campinas ligadas pela Rodovia Anhanguera, ao Norte na divisa com as cidades de Vinhedo, Itatiba, Louveira, a Leste com Campo Limpo Pta., Jarinu, Várzea Paulista, a Oeste com as cidades de Cabreúva e Itupeva e ao Sul com as cidades Cajamar, Franco da Rocha e Pirapora do Bom Jesus.

Figura 2 – Localização do município no Estado de São Paulo

Figura 3 – Localização da região da área de intervenção no município

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4. EVOLUÇÃO ECONÔMICA E URBANA

4.1 PROCESSO DE FORMAÇÃO URBANA E ECONÔMICA DA DEMANDA SOCIAL POR HABITAÇÃO.

A definição da morfologia urbana da cidade de Jundiaí está relacionada à sua localização geográfica e ao seu processo de crescimento.

A expansão da urbanização a partir do centro para os vetores Sudeste e Noroeste, se deve ao fato da evolução urbana ao longo dos séculos ter acompanhado os sistemas de circulação ferroviário a princípio e posteriormente o rodoviário, estando atreladas ao fato de que a cidade está inserida entre dois grandes pólos industriais, São Paulo e Campinas.

Jundiaí teve sua fundação em 1651 segundo versão oficial, e foi elevada à Vila em 1655, passando a ser denominada cidade em 1865. A produção agrícola era a base da economia da cidade, dentre os principais produtos cultivados havia o café, o açúcar, tendo feito parte, inclusive do Quadrilátero do Açúcar e ainda diversas frutas, entre elas a uva como destaque.

A linha férrea São Paulo Railway foi inaugurada em 1867 bem como a Estação Ferroviária, ligando o Porto de Santos a Jundiaí integrando o sistema “pé de galinha”, e teve significativa importância para o crescimento econômico da cidade trazendo consigo a expansão urbana e demográfica.

A primeira indústria se instalou sete anos após a inauguração da Linha Férrea, no bairro Vila Arens, ao lado do Centro, devido ainda a proximidade do córrego Guapeva e rio Jundiaí, gerando facilidade de acesso à matéria-prima e escoamento de produção.

Com a quebra da bolsa de Nova York em 1929, os então poderosos Barões do Café viram suas fazendas se tornarem improdutivas, sendo divididas em pequenas propriedades, boa parte comprada por imigrantes italianos, que passaram a cultivar frutas, em sua maioria.

A partir da inauguração da Rodovia Anhanguera, em 1940, pode-se observar uma significativa mudança da estrutura econômica da cidade. Enquanto nos períodos anteriores as indústrias cresciam nas redondezas da ferrovia, durante 2ª Industrialização (1945-1980), a Rodovia Anhanguera e a Rodovia Bandeirantes passavam a ser as vias de circulação que atraia as indústrias ao seu redor, e os motivos eram os mesmos da ferrovia, o fácil acesso, impulsionadas também pelo PLANIDIL – Plano de Incentivo e Desenvolvimento Industrial (1972).

O bom momento econômico incentivou a chegada das indústrias e o aumento da população, aumento da migração na cidade. Em um período de 30 anos o número de habitantes, que pulou de 69.165 para 258.328 mil, tendo em 1980, 189.163 mil habitantes a mais que o ano de 1950. Resultando num cenário de expansão para as áreas além das rodovias, os vetores Leste e Noroeste, foram os que mais cresceram nesse período.

A primeira transposição da linha férrea para veículos, Viaduto São João Batista em 1950, alavancou a ocupação alavancada da região Leste, permitindo o acesso daquela região ao Centro da cidade.

Diante desse crescimento foram criados os primeiros atos legislativos acerca da ocupação urbana da cidade, em 1965 o primeiro Código de Obras e em 1969 foi criado instrumento de regulamentação do solo, o Plano Diretor.

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Em conjunto com o crescimento urbano surgiram no final da década de 70, três assentamentos precários de baixa renda na cidade e um loteamento de alto padrão.

Diferente do crescimento no 2º Período da Industrialização, o período de 1980 até 2010, teve o crescimento demográfico um pouco inferior de 189.163 mil durante o 2º Período, para 104.672 3º Período, também devido a facilidade de deslocamento por conta das Rodovias. No entanto, nota-se nesse período um crescimento considerável dos assentamentos precários de baixa renda, passando de 3, na década de 70, para 15 em 1994, e ainda em 2008, baseado em um levantamento executado pela Prefeitura foi computada a existência de cerca de 340 loteamentos irregulares na cidade, isso apresenta uma conjuntura onde o morador, seja ele jundiaiense ou migrante, menos favorecido, não apresentava condições de financeiras de adquirir legalmente a terras.

“...A extensão das periferias urbanas (a partir dos anos de 1980 as periferias crescem mais do que os núcleos ou municípios centrais nas metrópoles) tem sua expressão mais concreta na segregação espacial ou ambiental configurando imensas regiões nas quais a pobreza é homogeneamente disseminada. Pela primeira vez na história do país registram-se extensas áreas de concentração de pobreza, a qual se apresentava relativamente esparsa nas zonas rurais antes do processo de urbanização. A alta densidade de ocupação do solo e a exclusão social representam uma situação inédita.” (MARICATO, 2003)

Essa situação pode ainda ser um reflexo das políticas de aprovação implantadas que vieram a dificultar o processo de aprovação dos projetos na cidade, a princípio com a Lei Federal 6.766 de 20 de dezembro de 1979 que discorre sobre o parcelamento do solo urbano, e em um segundo momento com o GRAPROHAB (Grupo de Análise e Aprovação de Projetos Habitacionais) no Decreto Estadual nº 33.499 – de 10 de Julho de 1991.

Entre 1980 e 1989, em 9 anos foram criados 16 loteamentos na cidade e após a implantação do GRAPROHAB em 1991 até 2010, num período de 19 anos foram aprovados apenas 13 loteamentos (fig. 4).

Figura 4 – Loteamentos regulares implantados na cidade no período de 1980 a 2010 (Fonte: PMJ)

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Anos

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A valorização econômica da cidade aliada a expansão do polo industrial e da pouca oferta de terra resultou no aumento do valor imobiliário da terra urbana. Essa valorização se ratifica com cerca de cerca de 12 novos condomínios de alto padrão no período.

O poder público municipal vem atuando desde a década de 80 na contenção dos assentamentos precários de baixa renda, com a implantação de conjuntos habitacionais e processos de reurbanização e regularização fundiária das áreas com assentamento irregular, com a implantação de 10 Conjuntos habitacionais e 9 reurbanizações, de 1980 a 2009, (fig. 5) (Fonte: FUMAS, 2012).

Figura 4 - Mapa Conjuntos Habitacionais e Reurbanizações (Fonte FUMAS, 2012)

4.2 A SITUAÇÃO HABITACIONAL NO MUNICÍPIO E A AÇÃO DO PODER PÚBLICO

A “favelização” no município teve sua origem no final de 1972 e início de 1973, condicionadas pelo grande crescimento econômico e populacional da 2ª Industrialização, estava crescendo a cada dia, sendo necessária a tomada de providências para sua resolução e contenção.

“A urbanização excludente força a população carente a ocupar áreas irregulares, entre elas as Áreas de Preservação Permanente – APPs” (GONÇALVES, 2012)

Preocupada com esse crescimento, em meados de 1977, a Coordenadoria de Planejamento solicitou ao Gabinete do Prefeito a constituição de um grupo de trabalho para pesquisa e estudo com o fim de propor um plano básico de atuação no campo de habitação de interesse social.

Em 08 de agosto de 1977 foi expedido o Decreto 4446, pelo Prefeito do Município de Jundiaí, Pedro Fávaro, criando um grupo de trabalho, coordenado pelo então Vice-Prefeito Municipal, Ary Fossen, composto pela sociedade civil e representantes do Poder Público. O primeiro encontro do grupo de trabalho foi realizado no dia 17 de outubro de 1977, contando com cerca de 70 (setenta) pessoas, das mais variadas instituições do Município,

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tais como Associação dos engenheiros, CIESP, SENAI, SESI, IAB, Câmara Municipal, Igreja Católica, Igreja Evangélica, Sociedades Amigos de Bairro, etc.

Na ocasião, constatou-se que muitas ações eram desenvolvidas nos assentamentos, como Pastorais do Menor e da Criança ligadas à Igreja Católica, distribuição de cesta básica, reuniões de Sociedades Amigos do Bairro para revindicar condições melhores de moradia, aulas de formação cultural para crianças como dança, música, teatro, entre outras ações de inclusão social, porém não existia um Programa, um Órgão que pudesse estudar, programar e equacionar o problema de submoradias do município, que estavam aumentando espantosamente.

O grupo de estudo propôs então a instituição de uma fundação pública para cuidar da questão e em 21 de setembro de 1979, por intermédio da Lei 2.366 foi criada a Fundação Municipal de AUXÍLIO Social - FUMAS, entidade municipal formalmente instituída como pessoa jurídica de direito privado e mantida por subsídios orçamentários do Poder Público Municipal.

Através da Lei 2.654, de 14 de setembro de 1983, teve sua denominação alterada para Fundação Municipal de AÇÃO Social – FUMAS. Isso derivou ao fato de que a Fundação carecia de reconhecimento por parte de outros órgãos habitacionais no âmbito Estadual e Federal, para participar de convênios que pudessem contribuir na obtenção de recursos para a execução de seus objetivos.

Com a publicação da Lei 4.624, de 14 de setembro de 1.995, alterada pela Lei 4.736/96, houve uma reestruturação da FUMAS, no tocante a sua natureza jurídica e sua estrutura administrativa. Mais especificamente, com a publicação da Lei 4.624/95, a FUMAS foi formalmente transformada em fundação pública e sua estrutura foi alterada, inclusive com a criação de cargos de provimento em comissão para a composição de seu órgão diretivo.

Atualmente, a estrutura administrativa da FUMAS é composta por Conselho Curador, Conselho Fiscal e Secretaria Executiva. O Conselho Curador é o órgão deliberativo de direção da Fundação e é composto por 12 representantes das organizações públicas municipais, dos sindicatos, de entidades representativas de moradores e de entidades da sociedade civil ligadas à área habitacional. No órgão de fiscalização (Conselho Fiscal) há um representante da Prefeitura Municipal, um representante da Secretaria Municipal de Finanças e um contador designado pelo Conselho Curador. O órgão de execução – a Secretaria Executiva - é composto pelo Superintendente da Fundação, Diretor Técnico, Diretor de Ação Social, Diretor Administrativo e Financeiro, Diretor de Habitação, Diretor Jurídico, Diretor do Serviço Funerário Municipal e Coordenador da Política Habitacional.

Previamente à constituição do grupo de estudos para a criação da FUMAS, foi realizado em 1977 um levantamento dos assentamentos existentes no município, obtendo-se o total de 732 moradias:

Uma década depois (1988), esse número subiu substancialmente para 3.144 unidades. Quase três décadas depois (PLHIS, 2015), tem-se um total de 12.647domicílios (fig. 6).

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Figura 5 - Déficit Habitacional de Jundiaí

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Moradias

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5. VILA ESPERANÇA

5.1 HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO E URBANIZAÇÃO.

O assentamento precário de baixa renda situado na Vila Esperança nasceu na década de 70 com a ocupação da área pública “jardim” do loteamento Vila Esperança, destinada ao uso comum do povo, espraiando-se posteriormente para áreas particulares contíguas. Era composto inicialmente por barracos de madeira sem infraestrutura básica e sem as mínimas condições de higiene e habitabilidade (fig. 7).

Figura 6 - Fonte FUMAS - sem data

Os trabalhos sociais da FUMAS no local tiveram o seu início apenas em meados de 1994, cadastrando 160 (cento e sessenta) famílias na época e originando uma comissão informal de moradores. À época, as maiores reivindicações do assentamento eram a canalização do córrego e do esgoto e a urbanização.

Figura 7 - Fonte FUMAS - sem data

A FUMAS, por intermédio de alunos do Colégio Técnico Estadual Vasco Antonio Venchiarutti, iniciou um primeiro levantamento na área, para após, traçar as diretrizes de atuação.

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No final de 1994, foi intentada medida judicial objetivando a desocupação de área particular pertencente à empresa Cartescos Empreendimentos Imobiliários Ltda, nesse momento a FUMAS realizou levantamento cadastral e constatou a existência de 42 (quarenta e duas) moradias na referida área particular.

A interferência do Poder Público possibilitou a doação, pela autora da ação, de gleba destinada a acomodar as referidas famílias em local próximo ao ocupado. Tratou-se de doação da Quadra T do loteamento Parque Cidade Jardim Etapa II, em que foi implantado posteriormente (2008) o Conjunto Habitacional Benedito Amaro da Silva “Bil” através de convênio com a CDHU – Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano de São Paulo, com 70 unidades habitacionais.

Em 29 de março de 1996, foi firmado entre o Município de Jundiaí e a Caixa Econômica Federal contrato de repasse para execução das obras de urbanização do assentamento, consoante projeto elaborado pela FUMAS, com o fornecimento de cestas básicas de materiais de construção para as reformas ou para construção de embriões (fig. 9), na modalidade “auto construção”.

Figura 8 - Fonte FUMAS - sem data

Apenas em 1997, iniciou-se o processo de autoconstrução através de multidões de moradores, e concessão de cesta básica de materiais, para 102 unidades habitacionais. Este processo teve apoio financeiro de instituições federais (Programa Pró-Moradia) e municipais. As ações foram finalizadas em 2000.

Figura 9 - Fonte FUMAS (2014)

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O projeto de urbanização respeitou, no máximo, as construções e divisões existentes no assentamento, objetivando alterar o menos possível as moradias já implantadas no local, ocupando a área total de 12.780,40 m², inclusive, a Área de Preservação Permanente do Córrego do Tanque Velho.

Figura 10 - Área de Preservação Permanente (2014)

Figura 11 - Área de Preservação Permanente (2014)

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5.2 O DESAFIO DA REGULARIZAÇÃO FUNDIARIA E O CONFLITO

5.2.1 Desafetação e Retificação:

Inicialmente, por se tratar de área pública “Jardim” – bem comum de uso do povo - em 1996 a área foi desafetada e doada à FUMAS para fim habitacional através da Lei nº. 4812 de 12 de junho de 1996, possibilitando a urbanização do assentamento precário de baixa renda ali assentado, no entanto, naquele momento, os recursos recebidos para o Projeto de Urbanização, não dependiam da regularização fundiária (titularidade) às famílias beneficiadas.

No entanto, antes da desafetação da área foi necessário averbar em cartório todas as descrições perimétricas das áreas públicas do loteamento Vila Esperança, registrado em 1954, que ainda não se encontravam abertas pelo Oficial de Registro de Imóveis.

No que se refere à área pública, ocupada por submoradias, por ocasião da realização do levantamento planialtimétrico cadastral – LEPAC verificou-se que a área ocupada pelo assentamento era maior do que a área pública objeto da matrícula, oriunda do loteamento Vila Esperança, havendo a necessidade de Retificação Administrativa perante o 2º Oficial de Registro de Imóveis, procedimento este que necessita da anuência dos confrontantes.

Tal fato se deu em decorrência de que o limite apresentado na planta seria o Córrego do Tanque Velho, que no decorrer dos anos e da ocupação teve seu traçado alterado, ocupando a área destinada à preservação permanente – app.

Figura 12 - Ocupação de APP (sem data)

O projeto de reurbanização elaborado pelos técnicos levou em consideração a divisa do córrego, já com seu traçado alterado. Assim, enquanto a área reservada para “jardim” no loteamento Vila Esperança devidamente registrada em cartório era de 9.192,52m², a área efetivamente utilizada era de 12.780,42m², daí a necessidade de retificação administrativa de imóvel perante o Oficial de Registro de Imóveis.

5.2.2 Licenciamento Urbanístico

No ano de 1997, para a aprovação aprovação/regularização do projeto de urbanização a FUMAS requereu junto ao Sr. Prefeito todas as providências necessárias para emissão do

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decreto de regularização do empreendimento, para possibilitar seu registro junto ao respectivo cartório de imóveis.

Tal medida iniciou o que o trabalho identifica como o primeiro desafio frente à muitos que seriam enfrentados para o registro da referida urbanização, tendo havido a manifestação da Procuradoria Jurídica da Prefeitura de Jundiaí, com base no art. 40 da Lei Federal nº 6.766/79 preceitua “...regularizar o parcelamento há de ser entendido como toda a atuação necessária para pô-lo em conformidade com a legislação pertinente e com o ato de aprovação ... A regularização tanto pode abranger a aprovação do plano e a execução, como o registro” (Diógenes Gasparini, “O Município e o Parcelamento do Solo”).

Cabe aqui esclarecer que, naquele momento, a legislação vigente para regularização fundiária de interesse social era a Lei Federal nº 6.766/79 e Jundiaí não dispunha (até o ano de 2016, com exceção da recente aprovação do Plano Diretor Participativo) legislação municipal específica “normativa”para Regularização Fundiária de Interesse Social, exceto a Zona Especial de Interesse Social – ZEIS de áreas ocupadas, aprovando as regularizações fundiárias por meio de Decreto de Normas Técnicas municipais.

“É preciso que se tenha em mente a regularização jurídica dos lotes beneficiados com a urbanização. Muitas vezes, por se tratar de urbanização de favelas localizadas em áreas públicas, o município relaxa um pouco na titulação dos lotes em nome dos moradores. Isso pode gerar futuros problemas, principalmente nos casos de sucessão eleitoral em que partidos de oposição ganham o pleito com a firme disposição de "mudar" a política habitacional que vinha sendo desenvolvida. Se a urbanização não é acompanhada da regularização jurídica, os moradores ficam à mercê da vontade política dos governantes. ... .” (ALFONSIN, 1999)

Para o enfrentamento do conflito (até então apenas de adequação do assentamento à legislação 6.766/79), a FUMAS solicitou encaminhamento ao Juiz Corregedor Permanente para a regularização registrária, nos termos do Provimento nº 02/83 da CGJ e alterações introduzidas pelo Provimento nº 16/84, não tendo havido êxito.

Diante da dificuldade para garantir a segurança jurídica da posse aos beneficiários, a Procuradoria Jurídica da FUMAS, por encontrar-se plenamente justificado o interesse público no desenvolvimento do programa de urbanização, bem como a necessidade de instrumentalizar o processo de urbanização, sugeriu a celebração de Termo de Permissão de Uso – TPU’s (instrumento não registrável) com os moradores do local, enquanto não se finda a Regularização Fundiária de Interesse Social, a fim de regulamentar a posse do imóvel, no qual os moradores efetuariam o pagamento de taxa, conforme a metragem do terreno, ora utilizado.

O conflito para emissão do Licenciamento Urbanístico se arrastou até a publicação da Lei Federal nº. 11.977/09 que estabeleceu como política urbana o capítulo III para Regularização Fundiária de Assentamento Urbanos, permitindo o Município, por decisão motivada, admitir a regularização fundiária de interesse social em Áreas de Preservação Permanente, ocupadas até 31 de dezembro de 2007 e inseridas em área urbana

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consolidada, desde que estudo técnico comprove que esta intervenção implica a melhoria das condições ambientais em relação à situação de ocupação irregular anterior.

Após a publicação da Lei nº. 11.977/09, apenas no ano de 2011 houve o entendimento entre os técnicos das Secretarias envolvidas com protocolo de novo expediente, baseando-se na Lei em questão, e ainda assim, mesmo após o protocolo, ainda foram necessários 03 (três) anos para a emissão do Licenciamento Urbanístico pela Secretaria Municipal de Obras, tendo sido emitido no ano de 2014.

5.2.3 Licenciamento Ambiental

Com base no art. 53. a regularização fundiária de interesse social depende da análise e da aprovação pelo Município;

(...)

§ 1º A aprovação municipal prevista no caput corresponde ao licenciamento urbanístico do projeto de regularização fundiária de interesse social, bem como ao licenciamento ambiental, se o Município tiver conselho de meio ambiente e órgão ambiental capacitado. (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011)

Considerando que o município de Jundiaí, S.P. possui o Conselho Municipal de Meio Ambiente – COMDEMA, deu-se início ao Licenciamento Ambiental, a partir da contratação, pela FUMAS, de empresa especializada para elaboração do Estudo Técnico Ambiental previsto no § 2º do art. 54 da referida Lei nº. 11.977/09 (alterada pela Lei nº. 12.424/11).

O Estudo Técnico Ambiental foi apresentado à Secretaria Municipal de Planejamento e Meio Ambiente e ao Conselho Municipal de Meio Ambiente – COMDEMA que emitiu o Parecer a seguir:

“Todas as obras de infraestrutura (redes de água, esgoto, drenagem das águas pluviais, iluminação pública, etc.) sejam garantidas e executadas respeitando-se as normas legais vigentes. Desta forma deverão ser consultados a SMSP, SMO e a DAE /AS, para que emitam parecer a respeito das atuais irregularidades apontadas no Laudo e sejam tomadas as providências necessárias para repará-las;

Sejam garantidas a preservação e recuperação das faixas de APP’s e outras áreas de proteção ambiental que por ventura façam parte do empreendimento removendo as ocupações irregulares, os resíduos em geral ali deixados e recompondo a mata ciliar dos corpos d´água;

Atenda o parágrafo 3º do artigo 53 da Lei Federal nº 11.977/2009, que determina que nos casos de regularização fundiária de interesse social atingida por Unidades de Conservação de Uso Sustentável (discriminadas pela Lei Federal 9.985/2000 como uma categoria de unidade de conservação) o órgão gestor da unidade deverá dar anuência. No caso em questão entende-se como necessária a manifestação do Conselho Gestor da APA (Área de Proteção Ambiental)-Jundiaí;”

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A falta de entendimento retornou à mesma situação à época em que a discussão era o não atendimento da Lei Federal, havendo a necessidade de adequação à legislação vigente.

O Estudo Técnico Ambiental apontou que, na situação apresentada, não havia o que se questionar a respeito das melhorias das condições ambientais em relação à situação de ocupação irregular anterior à Urbanização, em que as construções eram caracterizadas por barracos de madeira com estrutura em palafitas sobre o córrego, sem infraestrutura básica, sem as mínimas condições de higiene e habitabilidade, com despejo de esgoto e lixo domiciliar no córrego.

Difícil explicar, principalmente à população envolvida, que o Poder Público implantou um empreendimento de interesse social, buscou recurso federal para a urbanização, implantou as redes de água e esgoto, drenagem de águas pluviais e iluminação pública, bem como toda a infraestrutura básica para as moradias, é também o agente promotor da Regularização Fundiária, por meio da FUMAS, e o esse mesmo Poder Público, presente nas demais Secretarias, não compreendeu a situação fática “social” do assentamento, mesmo após exaustivos esclarecimentos.

Está embutido no Parecer do COMDEMA, o constante termo “FISCALIZAÇÃO” que se refere às ampliações irregulares das moradias e que são resultado também do moroso processo da Regularização Fundiária, em que, por se tratar de área pública, a Fundação utiliza como instrumento legal a aplicação da Lei 5.163 de 24 de agosto de 1998 (Contenção de Favelas), que somente tem efetividade quando recorrido ao Poder Judiciário, o que resulta num prazo muito maior para a solução.

No entanto, após a Regularização Fundiária concluída, o loteamento de interesse social registrado e abertura de número de contribuinte, o morador poderia ser notificado pela Divisão de Fiscalização de Obras da Secretaria Municipal de Obras a adequar/demolir as irregularidades apontadas no Laudo, com aplicação de multa e envio à Dívida Ativa, como qualquer cidadão do município, o que deve ser entendido como de fato a sua inclusão à cidade formal (cidade legal).

"A insegurança no exercício do direito de morar reforça o déficit de habitabilidade (brasileiro), já que ninguém investe em uma casa que teme perder. Através da regularização jurídica, o morador se tranqüiliza, desaparecendo o fantasma do despejo. Trata-se de um fator desencadeante de uma série de iniciativas familiares de melhoria da casa e iniciativas comunitárias de melhoria do ambiente do Assentamento” (ALFONSIN, 1999)

A fiscalização tão requisitada para a contenção das referidas ocupações irregulares terão melhor efetividade se aplicados os mesmos instrumentos legais que a Secretaria Municipal de Obras aplica para o restante do município, para tanto, antes se faz necessário Registro da Regularização Fundiária de Interesse Social perante o 2º Oficial de Registro de Imóveis e abertura dos contribuintes imobiliários individuais.

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O Parecer ainda solicita a aprovação do Licenciamento no Conselho Gestor da APA, o que foi contestado pela FUMAS, primeiramente porque o referido Conselho não se reúne periodicamente, o que retardaria o processo e também por se tratar de área que:

a. Está localizada na Zona de Restrição Moderada, b. Não está localizada nas Bacias e Micro-bacias Hidrográficas dos Mananciais do

município; c. Não está localizada nos limites da Serra do Japi e na Zona de Conservação da Vida

Silvestre;

E ainda, por se tratar uma ocupação consolidada assim como outros bairros regulares aprovados no município que ocupam faixa da APP’s, como exemplo: Jardim Aurélia, Agapeama, Vila Maringá, Ponte São João, entre outros, e também porque a Secretaria Municipal de Planejamento e Meio Ambiente – SMPMA reúne corpo técnico e condições para emitir o Licenciamento Ambiental.

A ata de reunião do COMDEMA solicitou ainda:

Incluindo-se, porém, a exigência da apresentação de um laudo de análise de riscos elaborado por técnicos competentes, com apresentação de ART para todos os casos nos quais haja ocupação de faixas de APP’s.

Ora, o Projeto de Regularização Fundiária teve responsável técnico pelo Licenciamento Urbanístico, responsável técnico pelo Estudo Técnico Ambiental (Laudo Ambiental), ambos com recolhimento ART - Anotação de Responsabilidade Técnica, além da análise de riscos emitida pelo IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas, ainda assim não foram suficientes.

Figura 13 - Análise de riscos – IPT

“um conflito enganoso tem ocorrido entre políticas ambientais e políticas sociais de regularização fundiária – isto é, argumentos ambientais estão sendo usados (inclusive pelo Ministério Público) para colocar obstáculos à implantação de políticas fundiárias – o que, em muitos casos, se deve mais a uma resistência de setores conservadores à noção de que os

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moradores de assentamentos ilegais devam ter sua situação regularizada, sobretudo através da atribuição de títulos de propriedade.” (FERNANDES, 2001)

Ora, analisa-se a Vila Esperança como uma ocupação consolidada assim como outros bairros regulares aprovados no município que ocupam faixa da APP’s, no qual a Urbanização trouxe benefícios ambientais e sociais para o local, e toma-se como exemplo o Jardim Aurélia, limítrofe à Vila Esperança, loteamento regular, cujas questão urbanísticas e ambientais não são motivo de conflito.

Seria o motivo da resistência até aqui percebida, por se tratar de baixa renda e regularização de urbanização de assentamento precário (favela)?

Figura 14 - Dois pesos duas medidas - Jardim Aurélia

5.2.4 Do Registro da Regularização Fundiária de Interesse Social

“Diferença de tratamento dos conflitos envolvendo o tema da preservação ambiental quando se trata de instituições, empresas ou moradias de alta renda e os moradores mais pobres. Enquanto para os primeiros vale a vista grossa – ou, no limite, as multas e compensações ambientais – os moradores pobres são sistematicamente removidos. Com pouco poder de disputa na esfera política, estas comunidades são

Jardim Aurélia

Loteamento Regular em

APP

Vila Esperança

Regularização Fundiária

de Interesse Social em

APP

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definidas como “invasores” e, assim, constrói-se na opinião pública a justificativa para sua eliminação daquele lugar.” (ROLNIK, 2013)

Não havendo entendimento entre os técnicos das Secretarias envolvidas para emissão do Licenciamento Ambiental pelo município, cujas exigências foram: (i) remoção das construções em área de preservação permanente, (ii) demolição das ampliações antes do registro e (iii) necessidade de aprovação pelo Conselho Gestor da APA.

E, nessa situação de conflito, sendo a população a maior prejudicada, marginalizada pela situação de irregularidade jurídica, não exercendo o direito à moradia, como dar o imóvel como garantia em financiamento para promover as melhorias habitacionais (direitos), por exemplo, e muito menos responder pelos atos praticados no imóvel, como qualquer cidadão o faria, no caso de ampliações irregulares (deveres), ou seja, exercer a cidadania plena que somente a cidade formal é capaz de promover.

Dessa forma, a solução encontrada pela FUMAS, foi iniciar o diálogo do Licenciamento Ambiental no âmbito estadual, com o órgão licenciador e fiscalizador CETESB.

De posse do Licenciamento Ambiental emitido à época da implantação da Urbanização, a FUMAS se reuniu com os técnicos da CETESB e apresentou o Licenciamento Urbanístico e o Estudo Técnico Ambiental (Laudo Ambiental) e solicitou a análise e revalidação do documento por ela emitido no ano de 1995;

Após análise, a CETESB revalidou o Licenciamento Ambiental existente, possibilitando o registro da Regularização Fundiária de Interesse Social perante o 2º Oficial de Registro de Imóveis de Jundiaí, no ano de 2015, 21 anos após o início do processo de Urbanização.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

6.1 MAS, HAVERIA MESMO UM CONFLITO ENTRE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E MORADIA?

O estudo de caso carrega a complexidade dos problemas sociais, culturais e urbanísticos do território e busca uma reflexão de que direito estamos falando quando se trata do conflito habitação x ambiental, para quem é esse direito?

“Trata-se de uma falsa questão: os dois são valores e direitos sociais constitucionalmente protegidos, tendo a mesma raiz conceitual, qual seja, o principio da função sócio-ambiental da propriedade. O desafio, então, é compatibilizar esses dois valores e direitos, o que somente pode ser feito por meio da construção não de cenários ideais, certamente não de cenários inadmissíveis, mas de cenários possíveis.” (FERNANDES, 2004)

Nesse passo, algumas questões precisam ser respondidas pelos atores do processo. Em que a regularização fundiária como a da Vila Esperança prejudicaria o meio ambiente? Como um título de propriedade ou posse interfere na dinâmica ambiental do território, exceto pelo fato de que o título permite a penalidade no caso de irregularidades posteriores levantadas? A não titulação vai resultar em ação demolitória? Se não, qual o motivo da resistência à regularização? Se sim, qual o impacto gerado para o meio ambiente com as demolições e qual o impacto causado para a população residente no seu vínculo com o território? Qual o impacto dessas ações para a sociedade em que vivemos?

“Não há porque demonizar a população ocupante de áreas de preservação ambiental: é crucial que governos e a população reconheçam que a promoção da regularização dos assentamentos informais é um direito coletivo, condição de enfrentamento do enorme passivo sócio-ambiental criado ao longo de décadas no pais. Para tanto, é preciso que se adote um conceito antropocêntrico de natureza, bem como que se tomem todas as medidas necessárias para a total reversão do atual modelo de crescimento urbano segregador e poluidor, de tal forma que as cidades brasileiras possam se tornar cidades ecológicas e sustentáveis do ponto de vista sócio-ambiental.” (FERNANDES, 2004)

Finalmente, para que a regularização fundiária não se torne marginalizada, esta deve ser analisada sob o olhar do direito constitucional à moradia e nunca como ação mitigatória como uma “lei de anistia” por exemplo, uma vez que, se a regularização fundiária for entendida como “perdão” por alguma irregularidade cometida, ela será tratada como uma situação isolada e não como resultado de um processo de urbanização excludente no qual a moradia é um privilégio para poucos.

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7. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

7.1 NORMAS TÉCNICAS E LEGISLAÇÃO

LEGISLAÇÃO FEDERAL

Lei Federal nº. 6.766, de 20 de dezembro de 1979

Lei Federal nº. 11.977, de 07 de julho de 2009

LEGISLAÇÃO ESTADUAL

Decreto Estadual nº 33.499, de 10 de Julho de 1991

LEGISLAÇÃO MUNICIPAL

Lei nº. 2.366, de 21 de setembro de 1979

Lei nº. 2.654, de 14 de setembro de 1983

Lei nº. 2.654, de 14 de setembro de 1983

Lei nº. 4.624, de 14 de setembro de 1.995

Lei nº. 4812, de 12 de junho de 1996

Lei nº. 5.163, de 24 de agosto de 1998

Lei de Uso e Ocupação do Solo nº. 416/04 – Normas Técnicas Especiais

Lei de Uso e Ocupação do Solo nº. 7.503/2010 – Normas Técnicas Especiais

Plano Diretor e LUOS nº. 7857/2012 e 7858/2012 - Normas Técnicas Especiais

7.2 OBRAS DE REFERÊNCIA

ALFONSIN, Betânia, 1999, Políticas de Regularização Fundiária: Justificação, Impactos e Sustentabilidade, Porto Alegre – RS, Lincoln Institute Research Report

FERNANDES, Edésio, 2004, artigo preservação ambiental ou moradia? um falso conflito, , disponível em http://irib.org.br/obras/152

FERNANDES, Edésio, 2001, Direito Urbanístico e Política Urbana no Brasil, BH, Editora Del Rey

GONÇALVES, Eloísa Dias; FERRAREZI, Vinicíus de Souza, 2012, Direito à moradia: A Possibilidade de Regularização Fundiária nas Áreas De Preservação permanente – Direito, Ed. Práxis, vol.04, n.01,

MARICATO, Ermínia, 2003, artigo Metrópole, legislação e desigualdade, SP,

MARICATO, Ermínia, 2011, Brasil, cidades alternativas para a crise urbana, 5ªEd, Editora Vozes

ROLNIK, Raquel, 2013, Verdes versus gentes: entenda o conflito da comunidade do Horto, no Jardim Botânico do RJ, disponível em http://raquelrolnik.wordpress.com