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Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 1 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. SEMIOLOGIA SEMIOLOGIA UROLÓGICA (Professor Luiz Luna Barbosa) A urologia uma especialidade cirrgica da medicina que cuida do trato urinrio de homens e mulheres e do sistema reprodutor dos homens. Os mdicos que possuem especializao nesta rea so os urologistas, sendo treinados para diagnosticar, tratar e acompanhar pacientes com distrbios urolgicos. Os rgos estudados pelos urologistas incluem os rins, ureteres, bexiga urinria, uretra e os rgos do sistema reprodutor masculino (testculos, epiddimos, ducto deferente, vesculas seminais, prstata e pnis). As adrenais acabaram entrando na especialidade devido ao aspecto cirrgico das doenas tumorais das supra-renais. Quando tem indicao cirrgica de tumor de supra-renal o endocrinologista encaminha para o urologista. PROPEDUTICA UROLGICA A histria clnica urolgica, no diferente das demais especialidades mdicas, pode ser dividida nos seguintes componentes: Anamnese o Identificao do paciente o Queixa principal: nesta etapa, faz-se o relato da queixa mais importante que o paciente tem a compartilhar, de modo que esta queixa tenha sido o motivo principal da procura ao urologista. O termo deve ser descrito assim como relatado pelo paciente. O tempo de durao da queixa tambm deve ser relatado. o Histria da doena atual: parte da anamnese que deve ser descrita em termos tcnicos, mas que deve ser guiada pelo urologista. Nesta etapa, devemos pesquisar por: Localizao; Qualidade; Intensidade; Cronologia; Fatores de melhora e piora; Manifestaes associadas. o Histria mdica pregressa: deve ser direcionada para o quadro genito-urinrio do paciente, e os seguintes parmetros devem ser questionados: Histrico de diabetes: est relacionada com disfuno ertil e incontinncia urinria por neuropatia, alm de afeces renais crnicas importantes (insuficincia renal). Hipertenso: tambm est relacionada com insuficincia renal. Alguns dos medicamentos utilizados para tratar a hipertenso (como diurticos e β-bloqueadores) provocam disfuno ertil. Alm disso, o tratamento clnico da hiperplasia prosttica benigna (HPB) faz uso de alfa- bloqueadores, que promove hipotenso e, portanto, se o paciente j faz uso de outros anti- hipertensivos, o paciente pode desenvolver uma importante hipotenso postural. Para estes pacientes, deve-se utilizar alfa-bloqueadores em dosagens mnimas ou parar com o tratamento. Histrico de caxumba: importante para pacientes que relatam infertilidade, uma vez que o vrus da caxumba, assim como tem afinidade pela glndula partida, tem tropismo pelos testculos. Uso de medicaes Cirurgias prvias: sobretudo se realizadas no trato genito-urinrio. Pacientes que foram submetidos a cirurgias de prstata, podem passar pela quarta etapa da inflamao (que a fibroplasia) e apresentar contrao tecidual e cursar com estenose de colo vesical. o Hbitos: pelo menos dois parmetros devem ser avaliados: Uso de drogas ilcitas Tabagismo: o fumo o principal fator de risco para neoplasia urotelial, que corresponde ao cncer de epitlio urinrio de transio (presente na bexiga, no ureter e na pelve renal). o Histria familiar: dois questionamentos nunca podem deixar de serem feitos: histrico familiar de cncer de prstata (ver OBS 1 ) e histrico familiar de litase. Estas duas situaes apresentam uma relao familiar importantes. Ectoscopia: este passo semiolgico consiste em uma anlise fsica generalizada do paciente. Durante esta etapa, importante avaliar a presena de fcies renal (caracterizada por edema de face, palpebral, palidez de pele, lividez dos lbios), edema no corpo, movimentos lentos e dor que no cede em nenhuma posio. Exame físico: o fato de o rim ser um rgo retroperitoneal dificulta na propedutica de sua palpao. Contudo, devemos lanar mo de manobras que facilitem a sua avaliao, no intuito de realizar os seguintes passos semiolgicos: inspeo, percusso e palpao. Geralmente, o rim mais facilmente palpvel no seu plo inferior ou na presena de tumores (como o tumor de Wilms, bastante frequente na criana).

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MED RESUMOS 2011NETTO, Arlindo Ugulino.SEMIOLOGIA

SEMIOLOGIA UROLÓGICA(Professor Luiz Luna Barbosa)

A urologia � uma especialidade cir�rgica da medicina que cuida do trato urin�rio de homens e mulheres e do sistema reprodutor dos homens. Os m�dicos que possuem especializa��o nesta �rea s�o os urologistas, sendo treinados para diagnosticar, tratar e acompanhar pacientes com dist�rbios urol�gicos.

Os �rg�os estudados pelos urologistas incluem os rins, ureteres, bexiga urin�ria, uretra e os �rg�os do sistema reprodutor masculino (test�culos, epid�dimos, ducto deferente, ves�culas seminais, pr�stata e p�nis). As adrenais acabaram entrando na especialidade devido ao aspecto cir�rgico das doen�as tumorais das supra-renais. Quando tem indica��o cir�rgica de tumor de supra-renal o endocrinologista encaminha para o urologista.

PROPED�UTICA UROL�GICAA hist�ria cl�nica urol�gica, n�o diferente das demais especialidades m�dicas, pode ser dividida nos seguintes

componentes: Anamnese

o Identifica��o do pacienteo Queixa principal: nesta etapa, faz-se o relato da queixa mais importante que o paciente tem a

compartilhar, de modo que esta queixa tenha sido o motivo principal da procura ao urologista. O termo deve ser descrito assim como relatado pelo paciente. O tempo de dura��o da queixa tamb�m deve ser relatado.

o Hist�ria da doen�a atual: parte da anamnese que deve ser descrita em termos t�cnicos, mas que deve ser guiada pelo urologista. Nesta etapa, devemos pesquisar por: Localiza��o; Qualidade; Intensidade; Cronologia; Fatores de melhora e piora; Manifesta��es associadas.

o Hist�ria m�dica pregressa: deve ser direcionada para o quadro genito-urin�rio do paciente, e os seguintes par�metros devem ser questionados:

Hist�rico de diabetes: est� relacionada com disfun��o er�til e incontin�ncia urin�ria por neuropatia, al�m de afec��es renais cr�nicas importantes (insufici�ncia renal).

Hipertens�o: tamb�m est� relacionada com insufici�ncia renal. Alguns dos medicamentos utilizados para tratar a hipertens�o (como diur�ticos e β-bloqueadores) provocam disfun��o er�til. Al�m disso, o tratamento cl�nico da hiperplasia prost�tica benigna (HPB) faz uso de alfa-bloqueadores, que promove hipotens�o e, portanto, se o paciente j� faz uso de outros anti-hipertensivos, o paciente pode desenvolver uma importante hipotens�o postural. Para estes pacientes, deve-se utilizar alfa-bloqueadores em dosagens m�nimas ou parar com o tratamento.

Hist�rico de caxumba: importante para pacientes que relatam infertilidade, uma vez que o v�rus da caxumba, assim como tem afinidade pela gl�ndula par�tida, tem tropismo pelos test�culos.

Uso de medica��es Cirurgias pr�vias: sobretudo se realizadas no trato genito-urin�rio. Pacientes que foram

submetidos a cirurgias de pr�stata, podem passar pela quarta etapa da inflama��o (que � a fibroplasia) e apresentar contra��o tecidual e cursar com estenose de colo vesical.

o H�bitos: pelo menos dois par�metros devem ser avaliados: Uso de drogas il�citas Tabagismo: o fumo � o principal fator de risco para neoplasia urotelial, que corresponde ao

c�ncer de epit�lio urin�rio de transi��o (presente na bexiga, no ureter e na pelve renal).o Hist�ria familiar: dois questionamentos nunca podem deixar de serem feitos: hist�rico familiar de c�ncer

de pr�stata (ver OBS1) e hist�rico familiar de lit�ase. Estas duas situa��es apresentam uma rela��o familiar importantes.

Ectoscopia: este passo semiol�gico consiste em uma an�lise f�sica generalizada do paciente. Durante esta etapa, � importante avaliar a presen�a de f�cies renal (caracterizada por edema de face, palpebral, palidez de pele, lividez dos l�bios), edema no corpo, movimentos lentos e dor que n�o cede em nenhuma posi��o.

Exame físico: o fato de o rim ser um �rg�o retroperitoneal dificulta na proped�utica de sua palpa��o. Contudo, devemos lan�ar m�o de manobras que facilitem a sua avalia��o, no intuito de realizar os seguintes passos semiol�gicos: inspe��o, percuss�o e palpa��o. Geralmente, o rim � mais facilmente palp�vel no seu p�lo inferior ou na presen�a de tumores (como o tumor de Wilms, bastante frequente na crian�a).

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Atrav�s desta proped�utica urol�gica, � poss�vel levantar hipóteses diagnósticas bem esclarecidas e, apenas se necess�rio, lan�ar m�o de exames complementares para, ent�o, tra�ar uma conduta.

OBS1: A avaliação prostática, teoricamente, deve ser iniciada aos 45 anos e realizada anualmente, e inclui a realiza��o de hist�ria cl�nica (com relato de hist�rico miccional), PSA (marcador tumoral prost�tico), toque retal e sum�rio de urina. Contudo, se o paciente for da ra�a negra ou apresentar um parente de 1� grau portador de c�ncer de pr�stata, essa avalia��o deve ser iniciada aos 40 anos de idade. � importante tomar nota que o toque retal � um exame ainda mais importante que o PSA na proped�utica no c�ncer de pr�stata.OBS2: Como veremos em cap�tulos subsequentes, o PSA � um importante marcador tumoral prost�tico que, embora n�o seja substituto do toque retal, � um bom exame para screening e seguimento do paciente. Quanto aos seus resultados e a necessidade de bi�psia prost�tica, podemos citar:

Pacientes com 65 anos ou menos e que apresentem PSA > 2,5ng/ml, tem-se indicativo de bi�psia. Diante dos seguintes valores de PSA: 4,0 < PSA < 10,0. Devemos observar as seguintes rela��es:

Rela��o PSAlivre/PSAtotal < 18% Sugestivo de c�ncer de pr�stata; Indica��o de bi�psia. Rela��o PSAlivre/PSAtotal > 18% Sugestivo de hiperplasia prost�tica; indica-se acompanhamento.

PSA > 10,0, independente da faixa et�ria, indica-se bi�psia. Toque retal alterado (diante de qualquer valor de PSA), indica-se bi�psia. A varia��o do PSA � tolerada at� apenas 0,75ng/ml/ano, isto �, o ΔPSA no intervalo de um ano � de, no

m�ximo, 0,75ng/ml. Diante deste achado, mesmo que o paciente tenha n�veis normais de PSA para a sua faixa et�ria, devemos indicar a bi�psia prost�tica.

EXAME FÍSICO DOS RINS Inspeção: quando os rins est�o aumentados, � poss�vel perceb�-los na inspe��o, se o aumento foi muito

grande, principalmente em crian�as ou no caso de rins polic�sticos em adultos. Nestes casos percebe-se um abaulamento do flanco. � necess�rio realizar a inspe��o do abdome, flancos e costas, estando o paciente sentado.

Percussão: deve ser realizada a “punho-percuss�o de Murphy”, realizada como pequenos golpes com a face interna da m�o fechada. Esta manobra pode produzir uma rea��o dolorosa, profundamente localizada, uni ou bilateral, nos casos de pielonefrite aguda, obstru��o urin�ria ou inflama��o perinefr�tica. A punho-percuss�o deve ser realizada no �ngulo costo-vertebral, formado pela borda inferior da 12� costela e processos transversais das v�rtebras lombares superiores. O aparecimento da dor ou de uma rea��o exuberante do paciente durante a punho-percuss�o (o paciente emite grito ou pula), denota sinal de Giordano positivo, caracterizando, geralmente, uma infec��o renal. Alguns autores defendem que o sinal de Giordano deve ser pesquisado com a percuss�o das regi�es lombares utilizando a borda ulnar da m�o que percute, estando ela espalmada.

Palpação: A palpa��o dos rins � feita com o paciente em dec�bito dorsal da seguinte maneira: com a m�o n�o-dominante por tr�s do flanco do paciente deitado, devemos anteriorizar a loja renal; durante a inspira��o do paciente, tentamos palpar o p�lo inferior do rim com a m�o dominante espalmada. Esta manbra � descrita como Método de Guyon. Durante a palpa��o dos rins, deve-se avaliar a sensibilidade renal. Muitas vezes a compress�o com as pontas do dedo pode ser suficiente para despertar dor. As caracter�sticas normais do rim s�o: �rg�os duros, superf�cies lisas, borda inferior n�tida e n�o doloroso.Algumas manobras podem ser feitas na tentativa de alca�ar o �rg�o: manobra de Israel (dec�bito lateral oposto ao rim que se deseja palpar); manobra de Trousseau (dec�bito dorsal); manobra de Glenard (dec�bito dorsal); manobra de Bellington (posi��o ortost�tica).

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EXAME DOS URETERESPela palpa��o profunda da parede abdominal anterior podem-se determinar dois pontos dolorosos quando existe

infec��o ou obstru��o dos ureteres. O ponto superior fica na parte m�dia dos quadrantes superiores direito e esquerdo, e o inferior, nas fossas il�acas direita e esquerda.

A rea��o dolorosa � palpa��o profunda destes chamados “pontos ureterais” tem significado diagn�stico, especialmente quando est�o presentes outros dados sugestivos do comprometimento do tracto urin�rio alto.

EXAME DA BEXIGAA bexiga vazia n�o � palp�vel, por�m, pode haver

hipersensibilidade na �rea suprap�bica ao se fazer a palpa��o. Reten��o urin�ria aguda ou cr�nica levando � distens�o vesical pode ser percebida pela inspe��o, palpa��o e percuss�o da regi�o suprap�bica.

Se houver reten��o urin�ria, observam-se rea��o dolorosa intensa e presen�a de um abaulamento no hipog�strio. � palpa��o, observa-se uma massa lisa e firme na linha m�dia (globo vesical). Em mulheres, o esvaziamento vesical por cateterismo poder� ser necess�rio para o diagn�stico diferencial com cisto do ov�rio.

A palpa��o era utilizada para avalia��o de extens�o tumoral com invas�o de parede vesical. Atualmente, � um exame desnecess�rio diante da efic�cia da US e da TC.

EXAME DA PRÓSTATAO exame da pr�stata � feito pelo

toque retal. O toque retal � um exame de extrema import�ncia para o diagn�stico do c�ncer de pr�stata, e depende muito da experi�ncia do m�dico. � um exame de grande utilidade, com 80% de sensibilidade e 90% de especificidade. Embora a pr�stata n�o seja um componente do sistema urin�rio, ela se relaciona com a por��o prost�tica da uretra masculina e, portanto, a pesquisa de altera��es do volume ou da consist�ncia desta gl�ndula torna-se importante para o diagn�stico de reten��o urin�ria por hiperplasia da pr�stata, por exemplo.

O paciente � deitado na maca em uma posi��o em que o �nus seja acess�vel e relaxado (a melhor posi��o � a de litotomia, ou ginecol�gica). O m�dico, vestindo luvas, lubrifica seu dedo indicador em uma solu��o (com ou sem anest�sico) e, solicitando que o paciente efetue um leve esfor�o defecat�rio (para facilitar a protrus�o da mucosa), deve inserir o indicador na ampola retal passando atrav�s do �nus. A face anterior do dedo deve partir em dire��o � face anterior do reto. A consist�ncia normal da pr�stata � glandular ou fibroel�stica (semelhante � cartilagem do nariz). Qualquer altera��o quanto a consist�ncia ou regularidade da gl�ndula (presen�a de n�dulos) deve ser relatada pelo examinador, e tem-se indica��o de bi�psia prost�tica.

Como 70% dos tumores s�o de localiza��o perif�rica, � bastante eficaz o diagn�stico por meio deste m�todo. E, assim como mostrado na OBS1 e OBS2, o exame do toque torna-se mais importante que o pr�prio PSA – uma vez alterado o toque prost�tico, indica-se bi�psia, independente dos valores de PSA.

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CLASSIFICA��O DA DORO aspecto da dor, frequentemente relatada pelos pacientes, � um ponto importante a ser abordado. Uma das

causas mais comuns de procura ao urologista � a dor lombar, uma vez que a maioria dos pacientes com dores na regi�o baixa do dorso associa a mesma a afec��es renais. Contudo, a dor de origem renal, geralmente, � unilateral e n�o melhora com o repouso (refletindo, na maior parte das vezes, um processo obstrutivo das vias urin�rias), enquanto que a dor de origem osteomuscular, geralmente, � bilateral e melhora com o repouso.

A associa��o da dor de origem urol�gica com outras afec��es tamb�m � um relato comum: o fato de a musculatura do ureter ser estimulada por mecanismos vagais no intuito de expulsar um eventual c�lculo impactado na jun��o uretero-vesical, por exemplo, ocorre tamb�m est�mulo vagal na contra��o da musculatura intestinal e g�strica (reflexos reno-intestinais), fazendo com que o paciente possa apresentar náuseas e vômitos associados, o que tamb�m � muito frequente na lit�ase urin�ria.

De um modo geral, como qualquer tipo de nocicep��o, a dor de origem urol�gica pode ser classificada como local ou referida.

Dor local: � definida como a dor sentida na topografia do �rg�o realmente acometido. A presen�a de um c�lculo pielo (localizado na pelve renal) que cause obstru��o ao fluxo de urina pode promover uma distens�o da c�psula renal, o que gera uma dor na regi�o costo-vertebral, bem no derm�tomo correspondente � inerva��o renal.

Dor referida: indica sensa��es nocivas (usualmente cut�neas) percebidas em um s�tio distante daquele de um est�mulo prim�rio forte. Pode ser caracterizada, por exemplo, com a presen�a de um c�lculo agora localizado em ureter distal que, normalmente, causar� uma dor referida no derm�tomo correspondente ao test�culo (ou ao grande l�bio) homolateral.

DOR DE ORIGEM URETERALPortanto, a dor referida � bastante comum na urologia e, por esta raz�o, deve ser bem avaliada e lembrada

durante o exame urol�gico. No que diz respeito � dor ureteral, a literatura diverge quanto �s �reas de irradia��o da sensa��o referida. De um modo geral, os seguintes pontos devem ser enfatizados:

Afec��es no ureter proximal: dor lombar irradiada e/ou no flanco, com manifesta��es gerais (n�useas, v�mitos). A literatura aponta tamb�m dor referida na topografia do test�culo homolateral (no homem) e na regi�o vulvar (na mulher).

Afec��es no ureter m�dio do lado direito: dor na topografia da fossa il�aca direita (ponto de McBurney), fazendo diagn�stico diferencial com apendicite aguda.

Afec��es no ureter m�dio do lado esquerdo: dor na topografia da fossa il�aca esquerda, fazendo diagn�stico diferencial com diverticulite aguda/abscesso peridiverticular, principalmente se o paciente for de idade avan�ada.

Afec��es na jun��o uretero-vesical (ver OBS4): dor referida na topografia do test�culo homolateral (no homem) e na regi�o vulvar (na mulher). Eventualmente, manifesta��es irritativas vesicais (polaci�ria, nict�ria, urg�ncia miccional, sensa��o de esvaziamento miccional incompleto).

OBS4: O ureter, ao longo do seu trajeto anat�mico, apresenta, pelo menos, tr�s pontos de estreitamento fisiol�gico: (1) jun��o uretero-pi�lica (JUP), localizada na jun��o entre a pelve renal e o ureter; (2) regi�o de cruzamento dos vasos il�acos, bem na transi��o do ureter superior para ureter m�dio; (3) jun��o uretero-vesical (JUV). Desses tr�s pontos, a JUV � o mais estreito e, portanto, a regi�o mais comum de impacta��o de c�lculos � o ureter distal, bem neste ponto.

Desta forma, uma hist�ria cl�ssica de lit�ase renal com migra��o do c�lculo seria aquele paciente que, hora apresentava uma dor lombar de car�ter intenso, em c�lica e sem melhora com mudan�a de posi��o, mas que agora apresenta dor em topografia do test�culo.

DOR DE ORIGEM RENALNo que diz respeito � dor renal, esta s� estar� presente quando o rim se apresentar obstru�do (hidronefrose) ou

inflamado (pielonefrite), como mostrado abaixo. A evidencia��o desta dor pode ser poss�vel atrav�s da manobra de Giordano positiva (que s� se mostra positivo nestas duas situa��es).

A suspeita de pielonefrite pode ser estabelecida diante do relato de uma cistite pr�via, uma vez que a principal via de infec��o para o trato urin�rio superior � a via ascendente. Por esta raz�o, no advento de uma pielonefrite, o paciente pode chegar ao urologista com o relato passado de mic��es peri�dicas constantes (polaci�ria), ard�ncia ao urinar principalmente ao final do jato (dis�ria) e sensa��o de esvaziamento incompleto, e que agora apresenta dor nas costas, com febre alta e calafrios – diante deste quadro, devemos sugerir um diagn�stico inicial de cistite seguido de pielonefrite, sendo explicada pela migra��o ascendente da infec��o ao longo do trato urin�rio. Contudo, como o par�nquima renal � pobremente inervado, a dor s� � percept�vel quando a infec��o alcan�ar ou distende a c�psula renal.

A presen�a de c�lculo no ureter, pode predispor � forma��o de uma uretero-hidronefrose, caracterizada pelo ac�mulo de urina no ureter, na pelve e nos c�lices renais, promovendo uma dilata��o renal e, com isso, distens�o retr�grada da c�psula.

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Ultrassonografia de loja renal mostrando, pelo menos, três cálculos renais evidenciados pela presença da sombra acústica posterior. O parênquima renal apresenta-se hipoecogênico, enquanto que o complexo ecogênico central (marcado pela entrada da artéria, da veia e da pelve renal) mostra-se esbranquiçado (hiperecogênico). A formação da sombra acústica é caracterizada pelo impedimento de passagem das ondas ultrassonográficas através dos cálculos. Tal fato firma o diagnóstico de litíase renal. A ausência de líquido retido no rim (que se mostraria hipoecogênico) justifica que não há hidronefrose neste caso. Em caso de suspeita de migração de cálculo para ureter distal, poderíamos sugerir uma tomografia sem contraste (uma vez que a US é um péssimo exame para análise de ureter médio e inferior devido à interposição gasosa de alças intestinais e a presença da crista ilíaca, que reflete o feixe de US).

Urografia mostrando falha de enchimento de exame contrastado (termo que pode ser substituído por imagem de subtração) caracterizando um tumor de pelve renal. A imagem mostra ainda dilatação de cálices renais, caracterizando um certo grau de hidronefrose.

Corte axial de tomografia mostrando a topografia do rim direito com a presença de cálculo da pelve renal direita. O cálculo mostra-se com a mesma densidade do corpo vertebral.

Na TC, o ureter por ser uma estrutura relativamente fácil de ser encontrada. Ele se mostra como um pequeno ponto isodenso anteriormente ao M. psoas, quase imperceptível quando não está dilatado.A TC ao lado mostra a presença de um cálculo ocupando todo o ureter direito (em B), o que configura um quadro de ureterolitíase. Contudo, avaliando o trato urinário superior, além de observar a presença de outro cálculo (em A), observa-se ainda a presença de líquidos e abertura de cálices maiores, caracterizando uma uretero-hidronefrose associada.

DOR DE ORIGEM VESICALA dor originada no corpo da bexiga geralmente é percebida na região suprapúbica. Quando ela decorre de

irritação envolvendo a região do trígono e do colo vesical, a dor irradia-se para a uretra e meato externo, podendo ser relatada como uma sensação de queimor.

De um modo geral, a bexiga só dói quando está obstruída ou quando está inflamada. A inflamação da bexiga é caracterizada pela cistite, causada por processos inflamatórios que se instalam na mucosa vesical e que, com a distensão da bexiga, a dor passa a ser referida no hipogástrio. No final da micção, momento em que bexiga realiza a contração máxima para expulsar o remanescente de urina, a dor torna-se mais intensa (disúria terminal). A polaciúria, a sensação de esvaziamento vesical incompleto e o histórico de relação sexual desprotegida fala a favor de infecção urinária baixa, como a cistite, podendo-se instituir a antibioticoterapia e dispensar qualquer tipo de exame de urina.

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A retenção urinária, normalmente, reflete uma obstrução infra-vesical, o que aumenta a resistência uretral a passagem de fluxo urinário. A hiperplasia prostática benigna (principal causa), que ocorre concomitantemente ao aumento da idade, é uma das principais causas de obstrução da via de saída da bexiga. A estenose da uretra (decorrente, principalmente, de trauma na bacia, com fratura cominuvita de ramo isquiopubis) e a migração de cálculos para a uretra também são condições comuns. As manifestações clínicas da obstrução vesical são: jato urinário fraco, intermitente (jatos partidos), sensação de esvaziamento vesical incompleto, polaciúria, nictúria, urgência miccional, etc. A palpação, estas condições promovem a presença de massa abdominal dolorosa, em hipogástrio, denotando a distensão vesical. Muitas vezes, o paciente pode se mostrar com sinais de ativação vagal (hipotensão, bradicardia, etc.). O tratamento seria a instalação de uma sonda vesical de demora (para alívio momentâneo, uma vez que a retenção urinária aguda tem indicação cirúrgica).

A retenção urinária crônica pode ser causada pela hiperplasia prostática e é caracterizada pelo aumento da urina residual que faz com que o paciente ainda curse com gotejamento urinário. A dor, nesta situação, é menor do que no quadro agudo.

Tomografia mostrando retenção vesical aguda, de modo que a bexiga urinária passa a ocupar toda a pelve do paciente. O tratamento seria a passagem de uma sonda vesical de demora, e não uma de alívio. Contudo, a descompressão por sonda deve ser feita de maneira paulatina, evitando o descolamento de mucosa de bexiga com exposição do plexo vascular submucoso vesical, podendo fazer com que o paciente apresenta uma hemorragia franca (hematúria ex vaccum) e evoluir com choque hipovolêmico.Se a instalação da sonda não for possível, devemos realizar uma cistostomia, aplicando a sonda diretamente na bexiga depois da confecção de uma pequena incisão na pele seguida do acesso a bexiga por um trocater.

OBS4: Nota-se que, embora a hiperplasia prostática benigna seja uma causa importante de obstrução vesical, os mesmos sinais e sintomas podem se manifestar em outras condições (como vimos, a estenose de uretra e a impactação de cálculos na mesma). Por esta razão, não se utiliza mais o termo prostatismo para a síndrome caracterizada pelos sinais de obstrução vesical. Isso é importante pois pacientes do sexo feminino podem apresentar a mesma sintomatologia, mesmo sem apresentar próstata.

DOR TESTICULARA dor testicular, também conhecida como orquialgia, deve ser classificada como aguda ou crônica. Quando a

dor testicular é aguda, geralmente está relacionada a um trauma (geralmente relacionado com acidentes de moto), a infecção, à torção (uma emergência urológica, pois depois de 6 horas, o índice de necrose e a taxa de orquiectomia são altas) e tumores (geralmente são assintomáticos). As principais causas de orquialgia crônica são varicocele e hidrocele.

A palpação testicular é importante para verificar a integridade da túnica albugínea. Em caso de dúvida, é prudente solicitar uma US de testículo. Se ela estiver íntegra, o tratamento pode ser representado pelo uso de antiinflamatório e suspensório escrotal; caso contrário, deve-se realizar a exploração testicular para promover a rafia e, caso o testículo esteja muito comprometido, deve-se realizar a orquiectomia.

Importante é realizar o diagnóstico diferencial entre a infecção (orquiepididimite) e a torção testicular (que consiste na rotação do testículo em torno do seu próprio eixo).

A torção testicular é caracterizada pela rotação do testículo com consequente oclusão das estruturas contidas no funículo espermático (figura ao lado). O mecanismo de perda testicular na torção está relacionado à isquemia secundária a uma trombose venosa, e não devido a uma insuficiência arterial. Isso ocorre porque, com a trombose da veia testicular, o sangue arterial fica impedido de entrar no testículo (pois a via de saída está obstruída). Depois da instalação da trombose, instala-se a insuficiência arterial. Normalmente, na história clínica da torção testicular, é comumtambém o relato de um esforço físico vigoroso antes do quadro. É comum a presença de dor referida na fossa ilíaca homolateral à torção, náusea e vômito. O tratamento cirúrgico consiste na detorção e, se o testículo for viável, realizar uma orquidopexia dos dois testículos na bolsa escrotal (sutura com Vycril ou Prolene); se for inviável, faz-se a orquiectomia do testículo acometido e fixa-se o contra-lateral.

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Já no caso da orquiepididimite, é comum o relato de relação sexual prévia desprotegida. Possivelmente, estes pacientes apresentaram uma uretrite não-gonocócica assintomática (50% dos casos) ou com disúria, e não tratada. O germe (clamídia) pode migrar ao longo das estruturas genitais masculinas e alcançar os testículos por via retrógrada. Ao exame físico, observa-se aumento do diâmetro testicular e a presença de sinais flogísticos (dor e calor). A inflamação pode se alastrar para a bolsa escrotal e causar uma hiperemia importante na mesma.A conduta consiste no uso de antibióticos, antiinflamatórios e suspensão escrotal.

OBS5: A manobra de Prehn é importante para diferenciar estes dois casos de orquialgia aguda. A manobra consiste na elevação do testículo com relação ao nível do funículo espermático. A manobra é dita positiva quando, após o levantamento, ocorre alívio da dor, sendo sugestivo de orquiepididimite. Contudo, o melhor exame para diagnóstico diferencial e avaliação da viabilidade do testículo se faz através do US-Doppler, que é patognomônico da orquiepididimite quando mostra um padrão de hiperfluxo (típico de reação inflamatória). Contudo, apenas pelo fato de o testículo ainda apresentar fluxo arterial, não se pode excluir a possibilidade de torção testicular (pois pode ter ocorrido apenas uma torção incompleta). Desta forma, se o paciente apresenta dor escrotal, náusea e vômito, com histórico de esforço vigoroso prévio, mas a US-Doppler não mostra ausência de fluxo, devemos explorar, de qualquer forma, a bolsa escrotal.OBS6: Da mesma forma que a mulher realiza o exame mensal das mamas, o homem deve realizar a palpação testicular, pelos menos, semestralmente, uma vez que a neoplasia testicular é a principal neoplasia deste sexo, entre os 15 aos 35 anos, sendo sua apresentação totalmente assintomática. Às vezes o paciente só apresenta dor quando existe um sangramento intra-nódulo, o que é um fenômeno raro. A correção da criptoquirdia é necessária pois pacientes que nascem com esta condição têm de 14 a 40 vezes mais chances de desenvolver câncer de testículo. Por esta razão, baixam-se os testículos para a bolsa escrotal para facilitar o auto-exame e a detecção mais precoce de um eventual câncer.

No que diz respeito à dor testicular crônica, as principais causas são a varicocele e a hidrocele. A varicocele, principal causa de orquialgia crônica, consiste em uma condição adquirida caracterizada pela

dilatação do plexo pampiniforme, decorrente da falência intrínseca das válvulas venosas do testículo, melhor evidenciada durante a manobra de Valsalva. Ocorre, comumente, uma assimetria do volume: o testículo com varicocele é, geralmente, hipotrófico com relação ao contra-lateral. Tal quadro pode desencadear uma oligoespermia e, portanto, adultos com varicocele têm a tendência de ser estéreis (cerca de 45% das causas reversíveis de infertilidade masculinas são decorrentes da varicocele).

A hidrocele é uma situação caracterizada pelo acúmulo de líquido na bolsa escrotal sendo sugerida clinicamente pela mobilidade preservada e com transiluminação positiva (permite a passagem de um feixe luminoso quando em contato direto a uma fonte de luz). Geralmente, é causada por um canal inguinal que se apresenta estreitado ou fechado. O quadro é benigno e a hidrocelectomia é realizada por razões estéticas. A cirurgia consiste no fechamento cirúrgico do conduto peritônio-vaginal, com incisão na região inguinal, associada à drenagem do conteúdo escrotal. A hidrocele doadulto, ao contrário, é tratada através de incisão na bolsa escrotal.A hidrocele comunicante, caracterizada pela patência do canal inguinal, pode ser exemplificada por aquele quadro clínico caracterizado pela alteração do volume da bolsa escrotal ao longo do dia: o paciente que acorda com a bolsa escrotal vazia e que, ao passar do dia, apresenta um aumento da mesma, o que significa dizer que o líquido tem livre acesso, para entrar ou sair na bolsa escrotal. Neste caso, o tratamento pode ser conservador até os 2 anos de idade ou cirúrgico após os 2 anos, caso não se resolva espontaneamente.

SINTOMAS GASTRO-INTESTINAIS NAS UROPATIASAlguns sintomas gastro-intestinais podem se mostrar associados às uropatias. A pielonefrite, por exemplo,

devido à inflamação da cápsula renal, o processo inflamatório pode propagar-se pela lâmina parietal do peritônio e alcançar uma alça intestinal, podendo promover paresia da mesma, distensão e dor abdominal difusa (pode simular, inclusive, um quadro de abdome agudo obstrutivo).

No caso da cólica renal e ureteral, a ativação do sistema nervoso parassimpático também promove o aumento do transito intestinal (devido aos reflexos renointestinais, caracterizados pela inervação sensitiva e autonômica comum) e liberação de outros produtos que podem promover náuseas e vômitos. Por esta razão, a história clínica que relata um quadro de dor lombar tipo cólica, unilateral, associada à náusea e vômito, e não estando relacionada ao esforço, devemos sugerir a litíase como a principal hipótese diagnóstica.

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OBS7: A capacidade vesical (CV) diz respeito � quantidade de urina que pode ser acumulada, em m�dia, pela bexiga. As mulheres tem uma CV de 450 a 500ml; os homens, de 500 a 550ml. Para as crian�as com at� 12 anos, a CV deve ser calculada mediante a seguinte f�rmula: CV = (idade x 30) + 3.

SINTOMAS RELACIONADOS COM A MIC��O Anúria: diurese inferior a 100 mL/dia. Ocorre na obstru��o bilateral das art�rias renais ou dos ureteres e na

necrose cortical bilateral.

Polaciúria: consiste no aumento da necessidade de urinar e, com isso, da frequ�ncia urin�ria diurna, com o intervalo entre as mic��es inferior a 2 horas, sem que haja concomitante aumento do volume urin�rio. As principais causas de polaci�ria s�o:

Urina residual (obstru��o infravesical por HPB) Processos infecciosos/corpo estranho Tens�o nervosa

Fibrose vesical Queda da complac�ncia vesical. Poli�ria

Poliúria: consiste no aumento do volume urin�rio (volume urin�rio superior a 2500 mL por dia). Como o volume de cada mic��o est� limitado pela capacidade vesical, verifica-se um maior n�mero de mic��es, inclusive � noite. Os dois mecanismos b�sicos de poli�ria s�o por diurese osmótica (decorrente da excre��o de um volume aumentado de solutos, determinando maior excre��o de �gua, como na diabetes mellitus) ou por incapacidade de concentração urinária (diabetes insipidus, hipopotassemia).

Noctúria (ou nictúria): necessidade de esvaziar a bexiga � noite. Pode ocorrer na fase inicial da insufici�ncia renal, insufici�ncia card�aca ou em hepatopatias. A presen�a de noct�ria sem polaci�ria � bastante sugestivo de fal�ncia do ventr�culo esquerdo (devido ao retorno do l�quido do terceiro espa�o para o intravascular, que ocorre quando o paciente se deita para dormir, o que aumenta a taxa de filtra��o glomerular e a produ��o de urina). As principais causas s�o:

Les�o renal grave Ingest�o de irritantes vesicais pr�ximo ao

per�odo de dormir

ICC Obstru��o infravesical Diabetes Mellitus

Urgência miccional: a urg�ncia urin�ria significa a necessidade s�bita e imperiosa de urinar, podendo, mesmo, haver esvaziamento involunt�rio da bexiga. As principais causas s�o:

Hiperatividade neurog�nica Hiperatividade idiop�tica

Obstru��o infra-vesical (50% dos pacientes) Processos inflamat�rios vesicais

Incontinência urinária: elimina��o involunt�ria de urina, sendo normal em crian�as at� 1 ano e meio de idade. Acontece, principalmente, devido a bexiga neurog�nica, cistites, les�es tocoginecol�gicas, hipertrofia prost�tica.

Pneumoatúria: elimina��o de ar junto � mic��o. Normalmente, reflete uma f�stula entero-vesical (sendo as principais causas: doen�a de Chron, tumores col�nicos, etc.).

Disúria: mic��o associada � sensa��o de dor, queimor ou desconforto. Ocorre na cistite, prostatite, uretrite, traumatismo geniturin�rio, irritantes uretrais, rea��es al�rgicas. Consiste no primeiro sintoma de infec��o do trato urin�rio (ITU); a dis�ria terminal � caracter�stica da cistite.

Piúria: exist�ncia de n�meros anormais de leuc�citos na urina.

Enurese: significa na falta de controle dos esf�ncteres durante a noite (seria o famoso “xixi na cama”). � secund�ria � imaturidade do reflexo miccional e por poli�ria noturna. � comum na crian�a com at� 4 a 5 anos.

Sintomas de obstrução infra-vesical (OIV): s�o os sintomas que caracterizam a obstru��o infra-vesical (pode ser provocada por diversas causas: HPB, c�lculo impactado na uretra, estenose de uretra e de meato uretral externo, compress�o extr�nseca da uretra, etc.), podendo se manifestar como uma s�ndrome que re�ne os seguintes fen�menos listados abaixo. A corre��o imediata consiste na passagem da sonda e cirurgia (principalmente no caso de reten��o urin�ria aguda secund�ria a HPB).

Hesita��o: aumento do intervalo para aparecimento do jato urin�rio. Jato fraco e intermitente: sa�da por etapas do jato, aos poucos. Gotejamento terminal, polaci�ria e/ou nict�ria Urg�ncia miccional: devido ao aumento da resposta compensat�ria por hiperatividade do detrusor. Sensa��o de esvaziamento vesical incompleto Reten��o urin�ria aguda: incapacidade de esvaziar a bexiga, seja parcialmente ou totalmente.

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Todos estes sintomas caracterizam a síndrome da obstrução infra-vesical, o que é chamado pelos americanos de LUDS (sigla para sintomas do trato urinário baixo - STUB), o que antigamente era chamado de prostatismo.

OBS8: Devemos considerar a obstrução infra-vesical sempre mais grave que a supra-vesical, pois ela pode levar a uma uretero-hidronefrose bilateral, com possível perda das duas unidades renais.

Urografia mostrando ureterohidronefrose bilateral, com cálices renais mostrando curvatura convexa (normalmente, se mostram com curvatura côncava) por obstrução infra-vesical (HPB). O ureter também se mostra tortuoso. O paciente em questão se mostra com insuficiência renal crônica. Seu tratamento consiste na passagem de sonda e, depois de normalizar uréia e creatinina, cirurgia.

Uretrocistografia miccional mostrando estenose de uretra, outra importante causa de obstrução infra-vesical, evidenciada pela área de resistência à passagem do contraste. É um quadro geralmente causado por trauma associado a fratura de bacia com uretrorragia. O tratamento, neste caso, consiste na retirada do segmento acometido e anastomose término-terminal, uma cirurgia que causa redução peniana.

A urina normal é transparente e tem uma tonalidade que varia de amarelo claro ao amarelo escuro, conformeesteja diluída ou concentrada. As principais alterações das características da urina são:

Hematúria: Significa a presença de sangue na urina, podendo ser micro ou macroscópica. A hematúria pode ser maciça, inclusive com o aparecimento de coágulos. É importante determinar se a hematúria é total (lesões renais ou ureterais), inicial (lesões da uretra distal ou cólon vesical) ou terminal (lesões do trígono vesical). A hematúria é um achado que, independente da manifestação associada, sempre deve ser valorizada (realizando uretrografia e cistoscopia). As causas mais importantes são:

ITU Cálculo Hematúria silenciosa (até que se prove o

contrário, é câncer)

Doenças hemolíticas HPB Pós-esforço

A principal causa de hematúria silenciosa após os 40 anos, é o câncer de bexiga, sobretudo se o paciente for tabagista. Diante deste relato, o achado de qualquer quantidade de hemácia por campo no sumário de urina deve ser valorizado, uma vez que nenhuma deveria ser notificada.

RNM de pelve mostrando tumor superficial em parede vesical.

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RNM mostrando tumor invasivo de bexiga, alcançando a gordura peritoneal.

Hemoglobinúria: presença de hemoglobina livre na urina, secundária à hemólise intravascular (malária, leptospirose e queimaduras).

Hematoespermia: sangue no ejaculado, na forma de traços de sangue rutilante ou esperma com aspecto ferruginoso. É digno de investigação criteriosa, mesmo que o paciente tenha apresentado apenas um episódio e melhorado logo depois. Pode ser sugestivo de:

Inflamação prostática Patologia de vesícula seminal Deonças granulomatosas

HPB Neoplasia Próstata/Bexiga

RNM mostrando cistos de vesícula seminal. Contudo, o melhor exame para avaliar as vesículas seminais é a US trans-retal (que, para urologia, apresenta apenas duas indicações: guiar biópsia prostática e avaliar vesículas seminais).

Mioglobinúria: decorre da destruição muscular maciça por traumatismos ou queimaduras.

Porfirinúria: é consequência da eliminação de porfirinas ou de seus precursores, os quais produzem uma coloração vermelho-vinhosa da urina, algumas horas após a micção.

Urina turva: relato de urina turva ocorre com frequência por causas diversas. Sendo uma solução supersaturada, algumas horas após emitida e guardada em um vaso, a urina pode apresentar precipitação de diversos tipos de cristais (cristalúria), sendo mais frequentes os de ácido úrico, oxalato de cálcio e uratos amorfos, quando a urina é ácida, e carbonatos e fosfatos de cálcio quando a urina for alcalina. A urina turva, formando depósito esbranquiçado e quase sempre com odor desagradável, está associada à infecção urinária, seja cistite, pielonefrite, abscesso renal, perirrenal, uretral ou prostático. Uma causa rara de urina turva é a obstrução de ductos linfáticos. Nestes casos, a linfa ao ser drenada para a pelve renal, origina quilúria (causada por filariose, tuberculose ou neoplasias), assumindo a urina uma coloração esbranquiçada e opalescente.

Mau cheiro: o odor característico da urina decorre da liberação de amônia. Um simples aumento da concentração de solutos na urina pode determinar cheiro desagradável. Porém, fetidez propriamente dita surge nos processos infecciosos, pela presença de pus ou por degradação de substâncias orgânicas. Alguns medicamentos (vitaminas, antibióticos) também alteram o odor da urina.

Urina com espuma: pode ser fisiológica em casos de urina muito concentrada ou pode ocorrer em glomerulonefrites, nefropatia diabética, nefrites intersticiais, hiperfosfatúria.

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CONSIDERA��ES GERAIS SOBRE SINAIS SIST�MICOSAlguns sinais sistêmicos e/ou evidenciados apenas através de um exame físico geral podem sugerir afecções

urológicas. Dentre as principais, temos: Febre. A febre é um sinal interessante para as afecções do sistema urinário: as infecções do trato urinário alto

(ureterite e pielonefrite) causam febre (geralmente alta, com cerca de 39ºC). Já as infecções do trato urinário baixo (cistite e uretrite), a febre é um sinal não relacionado. De uma forma geral, na infecção aguda, a febre costuma ser elevada acompanhando-se de calafrios, dor lombar ou suprapúbica. As principais causas são pielonefrite, cistite e prostatite. Nas infecções crônicas, a temperatura está discretamente aumentada ou com elevações intermitentes, às vezes acompanhadas de calafrios. O adenocarcinoma renal costuma acompanhar-se de febre, que até mesmo pode ser a única manifestação clínica da doença.

Edema: o relato de edema constitui uma manifestação marcante nas doenças renais agudas e crônicas. O edema que surge nas doenças renais resulta de diferentes mecanismos patogênicos e tem características semiológicas próprias.

O edema da glomerulonefrite é generalizado, sendo mais intenso na região periorbitária pela manhã. No final do dia, acomete os membros inferiores. Em crianças, o aparecimento de edema costuma ser súbito, podendo ser acompanhado de manifestações de ICC.

Na glomerulonefrite crônica, a presença e a intensidade do edema são muito variáveis, podendo estar ausente ou manifestar-se apenas como edema periorbitário pela manha.

O edema da síndrome nefrótica é generalizado, mais intenso que na glomerulonefrite, podendo chegar à anasarca, com intenso edema facial. Devido à glomerulopatia, ocorre um aumento da permeabilidade glomerular na síndrome nefrótica, gerando quadros de hipoalbuminemia. Isso reduz a pressão coloidosmótica do plasma, reduzindo o volume plasmático (o que faz, por meio do sistema renina angiotensina, uma maior retenção de H2O, reduzindo ainda mais a pressão coloidosmótica) e aumentando o líquido intersticial (gerando o edema).

O edema da insuficiência renal crônica é muito variável, na dependência da causa determinante. Na insuficiência renal aguda, o edema decorre geralmente da hiper-hidratação.

Ginecomastia: aumento doloroso da mama em pacientes do sexo masculino. A principal causa de ginecomastia hoje em dia é o uso de estrógenos, tumores testiculares e síndrome de Klinefelter.

Caquexia: fala a favor de síndrome consuptiva secundária a uma neoplasia.

Obesidade: fala a favor de endocrinopatias, e sugere a necessidade de investigar patologias de adrenal (incidentaloma de adrenal).

Adenopatias: diante de qualquer suspeita de doença sexualmente transmissível, sempre palpar a região inguinal do paciente a procura de adenopatias. A sífilis (cancro duro), por exemplo, cursa com lesões que, depois de 10 a 15 dias, se mostram com adenopatias bilaterais não-supurativas e não-dolorosas; diferentemente do cancro mole, que cursa com adenopatia unilateral, dolorosa e que evolui para abscedação (bubões),fistulizando por orifício único.

Exame físico da genitália: a inspeção da genitália externa é importante para verificar as seguintes alterações, dentre outras.

Doença de Peyronie: é um distúrbio do tecido conjuntivo que envolve o crescimento de placas fibrosasno tecido do pênis, que afeta cerca de 1-4% dos homens. O processo de fibrose ocorre na túnica albugínea, uma camada fibrosa que circunda os corpos cavernosos do pênis. A doença causa o aparecimento de uma curvatura patológica no pênis, dificultando a ereção e a penetração vaginal. O quadro clínico consiste em: ereção dolorosa, curvatura peniana patológica e disfunção erétil.

Hipospádias: consiste na abertura do meato uretral externo na região ventral do pênis. Pode ser uma hipospádia proximal (próxima ao ânus), média (próxima a base do pênis) ou distal (próxima à glande). Geralmente, existe um excesso de pele na região dorsal do pênis e uma curvatura peniana.

Fimose: consiste na impossibilidade de exteriorização da glande, geralmente causada por uma estenose da rima do prepúcio. A anatomia normal consiste no repouso do prepúcio por trás da coroa da glande (no sulco coronal). Pode haver ainda a chamada parafimose, que consiste na retração mecânica (manual) do prepúcio e sua incapacidade de voltar, o qual forma um anel doloroso e edemaciado circundando a coroa da glande. Em crianças, a fimose é considerada fisiológica até os 3 anos de vida. As principais indicações médicas para a circuncisão ou postectomia são: anel prepucial estenótico, com fibrose ou excesso de prepúcio; crianças infecção urinária de repetição - refluxo vésico-uretral (VU), válvula de uretra posterior; bálano-postites frequentes; parafimose. É contra-indicado o exercício após o banho em crianças com fimose fisiológica, pois pode causar parafimose (uma emergência urológica que deve ser resolvida através da postotomia).