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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR – CES VII CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA SENTENÇAS PENAIS: As características dos tipos de sentenças de 1º grau possíveis no rito dos crimes de competência do Tribunal do Júri Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito na Universidade do Vale do Itajaí ACADÊMICA: LETÍCIA MACHADO REIS TINOCO São José (SC), novembro de 2004

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR – CES VII CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA

SENTENÇAS PENAIS:

As características dos tipos de sentenças de 1º grau possíveis no rito dos crimes de competência do Tribunal do Júri

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito na Universidade do Vale do Itajaí

ACADÊMICA: LETÍCIA MACHADO REIS TINOCO

São José (SC), novembro de 2004

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR – CES VII CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA

SENTENÇAS PENAIS:

As características dos tipos de sentenças de 1º grau possíveis no rito dos crimes de competência do Tribunal do Júri

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob orientação da Profª. Esp. Érica Lourenço de Lima Ferreira.

ACADÊMICA: LETÍCIA MACHADO REIS TINOCO

São José (SC), novembro de 2004

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR – CES VII CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA

PROCESSO PENAL: as características dos tipos de sentenças de 1º grau possíveis no rito dos crimes de competência do Tribunal do Júri

LETÍCIA MACHADO REIS TINOCO

A presente monografia foi aprovada como requisito para a obtenção do grau de bacharel em Direito no curso de Direito na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

São José, 08 de novembro de 2004.

Banca Examinadora:

_______________________________________________________ Profª. Esp. Érica Lourenço de Lima Ferreira - Orientadora

_______________________________________________________

Profº. Esp. Juliano Keller do Valle - Membro

_______________________________________________________ Profª. Ana Paula Kich Gontijo - Membro

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DEDICATÓRIA

Dedico este texto:

A Deus, meu amigo fiel, em quem eu posso me alegrar e

com ousadia declarar: o Deus que eu sirvo nunca falhou e não

falhará, a Ti Senhor consagro a minha vida e tudo o que sou.

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v

AGRADECIMENTOS

- Agradeço primeiramente a Deus, minha razão de viver, o qual me capacitou para que

eu pudesse concluir este trabalho científico, estando comigo em todos os momentos;

- Aos meus pais, que mais uma vez foram o oásis que saciou minha sede em meio ao

deserto, amo vocês;

- Aos meus irmãos, Gil e Diego, pelos momentos de descontração em meio a tensão que

muitas vezes estive submetida;

- A minha orientadora, Érica Lourenço Lima Ferreira, pela dedicação que conduziu a

orientação, e pela pessoa tão especial que se revelou;

- As minhas amigas, colegas de faculdade, Ana Paula e Carolina, pelo incentivo e

palavras de ânimo, nos momentos de stress e preocupação;

- Ao meu amigo, Dudu, que foi incansável, e não poupou esforços para me ajudar a

concluir este trabalho, és muito especial. pra mim;

- As minhas amigas e irmãs em Cristo, Jule e Márcia, pela amizade sincera, pelo sorriso

constante e principalmente pelos momentos de reflexões que tivemos juntas, vocês

moram no meu coração;

- Aos Professores do EMA, em especial a Rosângela e a Anna Lúcia, pelo incentivo,

atenção dispensada e dicas que me foram muito úteis na conclusão desse trabalho;

- A todos que me ajudaram direta ou indiretamente, seja com palavras amigas de

encorajamento, orações que me ajudaram a perseverar sem desanimar;

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vi

“Parece uma verdade universal o fato de que as pessoas

que têm um rumo na vida vão mais longe e caminham mais

rápido, realizando mais em todas as áreas de suas vidas.”

Zig Ziglar

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SUMÁRIO

RESUMO

ABSTRACT

INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 12

1 SENTENÇA PENAL....................................................................................................... 14

1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ........................................................................................ 15

1.2 CONCEITO ................................................................................................................... 18

1.3 NATUREZA JURÍDICA................................................................................................ 19

1.3.1 Princípio do Livre Convencimento Motivado do Juiz................................................... 19

1.4 REQUISITOS DA SENTENÇA VÁLIDA ..................................................................... 20

1.5 EFEITOS ....................................................................................................................... 22

2 RITOS PROCESSUAIS.................................................................................................. 30

2.1 RITOS PROCESSUAIS NO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL................................... 31

2.1.1 Procedimento Comum ................................................................................................. 33

2.1.2 Procedimento Sumário................................................................................................. 35

2.1.3 Procedimento Sumaríssimo ......................................................................................... 36

2.1.4 Procedimentos Especiais.............................................................................................. 37

2.1.4.1 Dos crimes falimentares............................................................................................ 37

2.1.4.2 Do procedimento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos............. 38

2.1.4.3 Procedimento dos crimes de calúnia, difamação e injuria, da competência do juiz

singular ................................................................................................................................ 39

2.1.4.4 Procedimento dos crimes contra a propriedade imaterial ........................................... 40

2.2 PROCEDIMENTO DA COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JURI ........................... 40

2.2.1 Evolução Histórica do Tribunal do Júri no Brasil ao longo dos tempos ........................ 40

2.2.2 Procedimento............................................................................................................... 43

3 SENTENÇAS INERENTES AO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JURI....... 45

3.1 SENTENÇA DE PRONÚNCIA ..................................................................................... 46

3.1.1 Liberdade Provisória.................................................................................................... 50

3.1.2 Efeitos da pronúncia .................................................................................................... 51

3.2 SENTENÇA DE IMPRONÚNCIA................................................................................. 52

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3.3 SENTENÇA DE DESCLASSIFICAÇÃO ...................................................................... 54

3.4 SENTENÇA DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA ................................................................ 56

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 62

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RESUMO

O Tribunal do Júri é o órgão responsável pelo julgamento dos crimes dolosos contra

a vida e, em virtude disto, foi criado um procedimento especial para julgar tais casos. O

julgamento é da competência do Conselho de Sentença, que é composto por membros da

sociedade, tornado-se assim um órgão colegiado. Da primeira fase desse procedimento

decorrem quatro tipos de sentença, que lhe são inerentes, razão pela qual escolhemos o tema e

desenvolvemos a presente pesquisa. A Sentença de Pronúncia considera admissível a

imputação constante na denúncia e submete o acusado a julgamento pelo órgão colegiado. A

Sentença de Impronúncia possui natureza terminativa e julga inadmissíveis as acusações da

denúncia. A Sentença de Desclassificação analisa que o crime apurado nos autos através da

prova produzida não é da competência do Tribunal do Júri, remetendo, portanto, ao juízo

competente, o julgamento do feito. A Absolvição Sumária verifica que as provas carreadas

aos autos demonstram a ilicitude da conduta do réu, permitindo sua absolvição pelo próprio

juiz singular. Foram abordados os procedimentos previstos no Código de Processo Penal, e

por fim, analisado as sentenças provenientes do rito da competência do Tribunal do Júri,

proferidas pelo juiz singular, ressaltando as diferenças e peculiaridades de cada uma.

Palavras Chave: Sentença penal – Júri – Primeira fase.

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ABSTRACT

The Court of the Jury is the responsible agency for the judgment of the felonies

against the life and, in virtue of this, a special procedure was created to judge such cases. The

judgment is of the ability of the Petit jury, that is composed for members of the society,

become thus a collegiate agency. Of the first phase of this procedure four types of sentence

elapse, that it are inherent, reason for which choose the subject and develop the present

research. The Indictment considers permissible the constant imputation in the denunciation

and submits the defendant the judgment for the collegiate agency. The Acquittal possess

terminative nature and judges inadmissible accusations of the denunciation. The Sentence of

Declassification analyzes that the refined crime in files of legal documents through the

produced test is not of the ability of the Court of the Jury, sending, therefore, to the competent

judgment, the judgment of the fact. The Acquittal in law verifies that the brought tests to files

of legal documents demonstrate the illegality of the behavior of the male defendant, allowing

its absolution for the proper singular judge. The procedures foreseen in the Code of criminal

procedure had been boarded, and finally, analyzed the sentences proceeding from the rite of

the ability of the Court of the Jury, pronounced for the singular judge, standing out the

differences and peculiarities of each one.

Words Key: Criminal sentence – Jury – First phase.

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho foi desenvolvido através do uso de abordagem indutivo, cujo

método de procedimento foi o monográfico, que teve como partida a pesquisa bibliográfica,

no direito positivo (material e formal), nas doutrinas e jurisprudências.

A monografia visa destacar as sentenças decorrentes do julgamento dos crimes cuja

competência é privativa do Tribunal do Júri, bem como ressaltar as suas diferenças e

peculiaridades.

As sentenças decorrentes dos julgamentos dos crimes de competência privativa do

Tribunal do Júri merecem destaque em diversos aspectos, como por exemplo, quando são

prolatadas, em que circunstâncias, que efeitos geram, quem é a pessoa competente para

prolatar determinado tipo de sentença, e assim por diante.

Cabe-nos ressaltar que o Tribunal do Júri é o órgão competente para o julgamento dos

crimes dolosos contra a vida, tentados ou consumados, e é da primeira fase do procedimento

que decorrem as sentenças que serão objeto principal do presente estudo.

A monografia está dividida em três capítulos, de forma a facilitar a abordagem e melhor

compreensão ao leitor.

O primeiro capítulo versa sobre as sentenças penais em geral, onde serão elencadas as

considerações gerais a respeito da sentença penal, especificação dos atos do juiz,

sistematização dos atos jurisdicionais, conceito de sentença segundo a lei processual, bem

como a doutrina, natureza jurídica, o princípio do livre convencimento motivado do juiz,

requisitos da sentença válida, efeitos que a sentença, uma vez prolatada, poderá vir a gerar o

mundo jurídico. Esse capítulo se faz necessário na monografia, a fim de esclarecer ao leitor o

que compreende cada ato do juiz, o que venha a ser sentença, despacho, decisão, atos de mero

expediente, entre outros.

O segundo capítulo adentra mais no âmbito do direito processual, pois destaca os ritos

processuais previstos no sistema positivo brasileiro, de forma a diferenciar rito processual,

procedimento e processo. Relaciona especificamente os ritos processuais previstos pelo

Código de Processo Penal, procedimento comum, procedimento sumário, procedimento

sumaríssimo (que embora regulado por lei ordinária é freqüentemente utilizado em nosso

sistema jurisdicional), procedimentos especiais, e por fim, procedimento da competência

privativa do Tribunal do Júri, quando destacamos os aspectos históricos e atuais desse

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procedimento, uma vez que, dele decorrem as sentenças abordadas como tema principal na

presente monografia.

No terceiro capítulo, de forma mais detalhada, destaca-se as sentenças decorrentes do

julgamento dos crimes de competência do Tribunal do Júri, como já dissemos, objeto

principal do estudo. As sentenças decorrentes desse procedimento podem ser quatro:

Pronúncia, ocorrerá quando o juiz presidente considerar admissíveis as imputações

decorrentes da denúncia, quando o acusado, então, será submetido a julgamento pelo Tribunal

do Júri; Impronúncia, ocorrerá quando o juiz se convencer de que não há indícios suficientes

de que o acusado seja o autor do crime, ou ainda quando não se convencer da existência do

crime; Desclassificação, ocorrerá quando o juiz, após análise detalhada das prova constante

do autos, verificar que a competência do crime não é da competência do Tribunal do Júri,

devendo o mesmo ser desclassificado e remetido para o juízo singular, que será o competente

para julgar o novo crime; Absolvição Sumária, ocorrerá quando o juiz se convencer de que o

acusado agiu ao abrigo de uma excludente de ilicitude ou culpabilidade, oportunidade em que

o absolverá sumariamente.

Sendo assim, as diferenças e peculiaridades das sentenças supra mencionadas serão

mais bem abordadas e aprofundadas no decorre do trabalho. Esperamos, assim, que possamos,

com o presente estudo, contribuir para o crescimento do tema perante a comunidade jurídica.

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1 SENTENÇA PENAL

1. SENTENÇA PENAL. 1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS. 1.2. CONCEITO. 1.3. NATUREZA JURIDICA. 1.3.1. PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO DO JUIZ. 1.4. REQUISITOS DA SENTENÇA VÁLIDA. 1.5. EFEITOS.

O juiz singular é competente para a realização de diversos atos no processo,

inclusive para a prolação da sentença. A abordagem deste tema é de fundamental importância

para a melhor compreensão do objeto principal do trabalho, sentenças decorrentes do

julgamento dos crimes da competência privativa do Tribunal do Júri.

Assim, com o intuito de deixar o leitor mais inteirado sobre os atos praticados pelo

juiz no processo, é que inserimos esse capítulo com o título Sentença Penal. Aqui

abordaremos de uma forma geral o conceito de sentença, natureza jurídica, requisitos da

sentença válida e seus efeitos.

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1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

Entre os atos jurisdicionais penais, embora não haja no Código de Processo Penal,

uma sistematização das decisões, pode-se esquematiza-las da seguinte forma:

Os atos provenientes do juízo singular são denominados despachos, decisões ou

sentenças.

Despachos são as ordens judiciais dispondo sobre o andamento do processo. São os pronunciamentos da autoridade judiciária em petições que lhe são dirigidas, ou atos destinados a ordenar o processo ou a decidir questões incidentes surgidas no curso do mesmo. Denominam-se, por isto, despachos ordinatórios ou de expediente.1

Os atos de expediente são os que têm por objeto principal, o andamento do processo.

São despachos de ordem administrativa, pelos quais se marcam audiências, juntam-se

documentos, abrem-se vistas às partes, por exemplo. Destes atos não cabem recursos, pois não

estão ligados diretamente ao mérito da causa, motivo pelo qual não implicam em prejuízos às

partes.2

Decisões3 subdividem-se em interlocutórias simples, interlocutórias mistas ou

decisões com força de definitivas (terminativas e não terminativas) e definitivas

(condenatórias, absolutórias – próprias e impróprias), definitivas em sentido lato.

Mirabete descreve de uma forma simples o que seriam os atos jurisdicionais:

De modo geral, os atos jurisdicionais são pronunciamentos deliberatórios do juiz no curso do processo que envolvem, com maior ou menor intensidade, um julgamento, ou se destinam à movimentação do procedimento. No primeiro caso, são chamados de decisões, ou sentenças em sentido amplo, e, no segundo, de despachos de expediente, ou despachos ordinatórios.4

Já as sentenças, estas sim, versam sobre o mérito, objeto principal da causa, é a

sentença que irá por fim ao processo, com a conseqüente análise do mérito, como já

mencionado.

Sucintamente pode-se definir sentença como “ato ou efeito de decidir. Ato pelo qual

uma autoridade administrativa ou judiciária resolve uma questão submetida à sua apreciação e

julgamento”.5

Passemos então, aos atos inerentes de cada tipo.

1 NAUFEL, José. Dicionário Jurídico Brasileiro. 8ª ed. São Paulo: Ícone, 1989. p 451. 2 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. 16 ed. São Paulo: Atlas, 2004. p 482. 3 Ou sentenças em sentido amplo. 4 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 482. 5 Cf. NAUFEL, José. Dicionário Jurídico Brasileiro. p 420.

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As decisões interlocutórias simples, pode-se dizer, são despachos de expediente

mais elaborados, ou seja, tratam de questões que dão andamento ao processo e às suas

regularidades, necessitando, portanto de uma análise mais cuidadosa. Podem ser decisões

sobre incidentes que venham a surgir em meio a instrução processual, recebimento de

denúncia, entre outros.

As decisões que põem fim ao processo sem o julgamento do mérito, ou põem termo

a determinada fase do procedimento, são os denominados interlocutória mista ou decisões

com força de definitivas. Por exemplo, a decisão que acolhe a exceção de coisa julgada, a

decisão de pronúncia, entre outros.

O Código de Processo Penal, em seu artigo 593, inciso I, apresenta-nos duas

modalidades de sentenças stricto sensu, quais sejam, condenatórias e absolutórias. No inciso

II do mesmo artigo, encontramos as decisões definitivas lato sensu, que não condenam e nem

absolvem.

Artigo 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular; II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior;

A sentença condenatória é aquela que julga, no todo ou em parte, a pretensão

punitiva apresentada, acabando por aplicar uma pena ao acusado.

Já as decisões absolutórias são as que julgam improcedente a pretensão punitiva

apresentada.

Ainda no âmbito das decisões absolutórias, podemos falar em próprias e impróprias.

As próprias são aquelas em a pretensão punitiva é julgada improcedente pelo fato de autoria

imputada não ficar demonstrada; ou houver uma causa de excludente de culpabilidade ou

antijuridicidade; ou pela atipicidade do fato; ou ainda, porque a imputação não ficou provada.

As impróprias são aquelas que impõem medida de segurança, conforme prevê o

artigo 386, parágrafo único, inciso III do Código de Processo Penal.

Artigo 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: [...] Parágrafo único. Na sentença absolutória, o juiz: [...] III - aplicará medida de segurança, se cabível.

E por fim, as decisões definitivas em sentido lato, também denominadas decisões

terminativas de mérito, são aquelas que põem fim a relação processual, com julgamento do

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mérito, porém não condenam, tampouco absolvem. Por exemplo, a decisão que julga extinta a

medida de segurança pelo decurso do prazo.

O julgamento proferido pelo Tribunal de Justiça, em forma de órgão colegiado, ou

seja, por mais de um juiz, que nessa instância são denominados desembargadores, denomina-

se de acórdãos. Pode-se definir acórdão como:

Julgado, decisão proferida por órgão colegiado. Caracteriza-se, e nisto difere da sentença, por ser decisão coletiva, tomada por voto dos juizes componentes do tribunal, corte ou câmara.6

Veredictos, que significa dizer, “decisão do Conselho de Sentença do Tribunal do

Júri, a respeito da culpabilidade ou inocência do acusado”, 7 são as decisões que emanam do

Conselho de Sentença.

O Conselho de Sentença será sempre formado por sete pessoas, membros da

sociedade, que serão sorteados pelo juiz, para compor o então Conselho de Sentença. Este

tema será mais bem analisado no segundo e terceiro capítulo, que tratam de forma mais

específica o instituto do Tribunal do Júri, bem como as peculiaridades de cada sentença

oriunda deste rito processual.

Existem outras classificações de sentenças, que merecem realce. Subjetivamente

simples, são aquelas proferidas por um só sujeito, em órgão monocrático; subjetivamente

plúrimas, as decisões de órgãos colegiados homogêneos, como por exemplo, as decisões que

são proferidas por câmaras, turmas de tribunais; subjetivamente complexas, são aquelas

resultantes de decisões de mais de um órgão, por exemplo, as decisões proferidas do

julgamento pelo Tribunal do Júri, onde o Conselho de Sentença decide sobre o crime e o juiz

sobre a sanção a ser aplicada.8

As sentenças de cunho declaratório, ou apenas declaratória são aquelas que julgam

extinta a punibilidade, as que anulam o processo, as de pronúncia e impronúncia, absolutórias,

ou seja, visam apenas declarar uma situação, apesar de gerarem efeitos. Já as constitutivas,

são aquelas que concedem a reabilitação.

Existem ainda as executáveis, não executáveis e condicionais, as primeiras, como o

próprio nome já diz, são as que podem ser executadas de imediato; as segundas são as que

dependem de recurso; e a terceira, são as que a execução fica na dependência de um

6 NAUFEL, José. Dicionário Jurídico Brasileiro. p 76. 7 NAUFEL, José. Dicionário Jurídico Brasileiro. p 851. 8 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 483.

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acontecimento futuro ou incerto, como por exemplo a concessão do sursis, do livramento

condicional.

1.2 CONCEITO

A sentença penal é basicamente o instrumento processual, pelo qual o Juiz põe fim

ao processo, com ou sem julgamento do mérito, ou seja, é o meio pelo qual resolve-se a

relação processual.

Na doutrina reserva-se o nome sentença para aquele ato jurisdicional por meio do qual se resolve a lide. A tendência, contudo, é para conceitua-la como o ato pelo qual o Juiz põe termo ao processo, com ou sem julgamento de mérito. A sentença é o ato più eminente da relação processual.9

A sentença penal é a peça processual que define a questão jurídica controvertida,

Franco define sentença criminal, como sendo “a legítima decisão da causa feita por juiz

competente, segundo a lei, e as decisões do júri, ou provas dos autos”.10

Não diverso ao juízo cível, na esfera judicial penal, a sentença é decisão da causa

proferida por juiz competente, de acordo com a lei e a prova dos autos.

Conforme conceitua o artigo 162, § 1º do Código de Processo Civil11, em sentido

estrito, sentença é o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da

causa, pode-se ainda acrescentar que é o ato pelo qual o juiz encerra o processo em primeiro

grau de jurisdição, solucionando a causa.

Assim dispõe o artigo 162, § 1º do Código de Processo Civil:

Artigo 162. Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. § 1o Sentença é o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa.

As decisões definitivas denominam-se sentenças, objeto principal deste trabalho

científico, são as que adentram ao mérito da causa, propriamente dito, solucionando por

completo a lide.

Assim, observa-se que a sentença é a peça processual mais almejada de todo o

processo, pois é através dela que o juiz vai externar o seu juízo de valor e por conseqüência,

9 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p 632. 10 Cf. NAUFEL, José. Dicionário Jurídico Brasileiro. p 807. 11 Utilizaremos a legislação processual civil, por analogia, já que na legislação processual penal não encontramos a definição de sentença.

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por fim ao processo no primeiro grau de jurisdição.

1.3 NATUREZA JURÍDICA

A sentença consiste na declaração de vontade emitida pelo juiz, somada ao resultado

a exteriorização da conseqüência de um juízo lógico (atividade mental).

O trabalho mental a qual nos referimos no parágrafo anterior, é nada mais que a

mentalização do caso que está sendo julgado, a fim de formar um juízo lógico, grosso modo,

pela absolvição ou condenação.

Já a exteriorização, é o resultado do processo de mentalização, de maneira que o juiz

irá embasar a decisão que tomou, nos moldes da legislação vigente, aplicando aqui, o

princípio do livre convencimento motivado do juiz, o qual é definido por Mirabete como

sendo a “natureza, é uma declaração de vontade emitida pelo juiz, em que ele exprime uma

ordem que nada mais é senão aquela mesma ordem genérica e abstrata e hipotética prevista na

lei, que se transmuda em concreta”.12

A natureza jurídica da sentença, então, é declaratória, pois é através dela que o juiz

vai ligar o fato à norma, aplicando o direito à espécie concreta, fazendo nada mais do que

declarar o direito preexistente, tudo de acordo com o seu livre convencimento, no entanto,

motivando as razões por que adotou esta ou aquela decisão, é o que passaremos a ponderar no

próximo subitem.

1.3.1 Princípio do Livre Convencimento Motivado do Juiz

Há vários princípios que norteiam o Processo Penal, dentre eles o princípio do Livre

Convencimento Motivado do Juiz ou persuasão racional.

Este princípio está elencado no artigo 157 do Código de Processo Penal, que prevê

que “o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova” visando impedir o juiz de

decidir sobre o mérito da causa sem ater-se ao processo.

A convicção do juiz deve ser formada em face do conjunto probatório, não se

afastando nenhum momento da prova existente nos autos, pois o que não está nos autos não

está no mundo, quod non est in actis non est in hoc mundo.

12 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 482.

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Neste caso o processo torna-se o mundo para o juiz, como se nele estivesse, e só dele

poderá tirar os elementos para a sua decisão final. A doutrina bem explicita:

Ele tem inteira liberdade de julgar, valorando as provas como bem quiser, sem contudo arredar-se dos autos. Mas a sociedade e em particular as partes devem saber que motivos levaram o Magistrado a esta ou àquela posição. 13

É de se ressaltar que a decisão do juiz é livre, no entanto, atrelado ao processo,

baseado e motivado nas provas que foram produzidas durante a instrução criminal,

respeitando, inclusive, os demais princípios norteadores do processo penal.14

A motivação da decisão tomada pelo juiz é requisito formal indispensável à validade

da sentença proferida, sem a qual a mesma é nula.

1.4 REQUISITOS DA SENTENÇA VÁLIDA

A sentença válida, para gerar efeitos e ser considerada existente como

pronunciamento da vontade do juiz, deve ser elaborada de forma a respeitar alguns requisitos

formais, previstos em lei.

A sentença é dividida em três partes: a exposição fática, também denominada de

relatório ou histórico; fundamentação, ou motivação; e dispositivo, também chamada de

decisão ou conclusão. Há ainda doutrinadores que enumeram mais um requisito, qual seja, a

parte autenticativa, que compreende a designação de lugar, dia, mês e ano da sua prolação e

assinatura do juiz.15

O artigo 381, I e II do Código de Processo Penal refere-se ao relatório do processo

como o resumo de todo o procedimento, principais incidentes, e demais atos praticados no

processo, conforme abaixo colacionado.

Artigo 381. A sentença conterá: I - os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias para identificá-las; II - a exposição sucinta da acusação e da defesa; III - a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão; IV - a indicação dos artigos de lei aplicados; V - o dispositivo; VI - a data e a assinatura do juiz.

Primeiramente, conforme dispõe o artigo supramencionado, no inciso I, deve conter,

13 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p 17. 14 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 486. 15 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 484.

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individualizadamente, o nome das partes, ou quando impossível, as indicações necessárias

para a identificação das mesmas.

Prevê ainda o mesmo artigo, no inciso II, que o relatório deve conter “a exp osição

sucinta da acusação e da defesa”. Assim, o juiz deve fazer um breve relatório que descreva a

pretensão de cada uma das partes, mencionando os principais pontos da argumentação de cada

uma, de forma a não causar prejuízo a nenhuma delas. Há, porém, exceções a esta regra, onde

a legislação permite a ausência do relatório, quais sejam, no Juizado Especial, disciplinado

pela Lei 9.099/9516 e ainda, nos processos sujeitos ao rito sumaríssimo do Processo do

Trabalho.17

A motivação ou fundamentação está prevista no inciso III, que ordena “a indicação

dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão”. Nesta etapa, deve o juiz expor os

motivos que o levaram a chegar a determinada conclusão, pois embora amparado pelo

princípio do livre convencimento motivado, há a necessidade de o juiz expor o

desenvolvimento de seu raciocínio, ou seja, elencar as razões que o levaram à decisão.18

O simples fato de decidir não preenche os requisitos formais que estabelece a

legislação, a exposição do raciocínio que o levou a chegar a determinada conclusão é

necessária para que torne possível a compreensão da decisão adotada, pelas partes ou tribunal,

em caso de recurso.19

A mera argumentação de prova suficiente, não basta, é preciso que haja a apreciação

das provas constantes dos autos, de modo a formar a convicção do juiz.20

Segundo Heleno Fragoso:

A motivação da sentença é exigida em todas as legislações modernas, onde exerce, como diz Franco Cordeiro, função de defesa do cidadão contra o arbítrio do juiz. Trata-se de verdadeira garantia de fundamentação das decisões judiciais. De outra parte, a motivação constitui também garantia para o Estado, pois interessa a este que sua vontade superior seja exatamente aplicada e se administre corretamente a justiça.21

A fundamentação deve abranger matéria tanto jurídica, como de fato, pois a

conclusão consiste na aplicação do direito ao caso.22

A falta de fundamentação da sentença, impõe em nulidade, conforme o imperativo

16 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 484. 17 Cf. MARTINS, Sérgio Pinto. Manual de Processo do Trabalho. 15 ed. São Paulo: Atlas, 1999. p 325. 18 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 485. 19 Cf. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p 634. 20 Cf. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p 634. 21 FRAGOSO, Heleno Cláudio. A Motivação da Sentença na Aplicação da Pena. P. 32. Apud: MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. 16 ed. São Paulo: Atlas, 2004. p 485. 22 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 485.

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constitucional, previsto no artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal.

Artigo 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: [...] IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse público o exigir, limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes;

Feita a fundamentação, passa-se ao dispositivo, a decisão propriamente dita, onde o

juiz expõe o seu julgamento de acordo com a sua convicção, em decorrência de um raciocínio

lógico e exteriorizado no momento da fundamentação.23

Conforme se observa do artigo 381, incisos IV e V, do Código de Processo Penal,

respectivamente, os quais já citamos integralmente na página anterior, o dispositivo deve

conter obrigatoriamente, sob pena de nulidade da sentença, nos moldes do artigo 564, inciso

III, aliena m, do Código de Processo Penal, “a indicação dos artigos de lei aplicados ” e ainda

“dispositivo”. 24

Artigo 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: [...] III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: [...] m) a sentença;

Em suma, a sentença deve conter todos os requisitos formais, tornando-se completa,

onde o juiz deve analisar toda a matéria apresentada pelas partes, conforme já doutrinou

Tourinho “concluída a sentença, com acolhimento ou rechaço da pretensão deduzida, segue -se

a parte autenticativa da sentença, constituída de designação de lugar, dia, mês e ano da sua

prolação e assinatura do Juiz”. 25

Cumpridas as formalidades que exige o direito formal, uma vez prolatada a

sentença26, a mesma passa a gerar efeitos, os quais serão objeto de estudo do próximo item.

1.5 EFEITOS.

No Processo Penal, um dos principais efeitos da sentença, é a limitação do poder

jurisdicional do magistrado que a prolatou. Isso significa dizer, que o juiz que prolatou a

sentença, não poderá mais incidir sobre a decisão prolatada, tampouco anula-la, no entanto, 23 Cf. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p 634. 24 Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p.378. 25 Cf. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. P. 634. 26 Aqui se fala em sentença de um modo geral, tanto a prolatada pelo juízo singular, como do órgão colegiado (Tribunal de Justiça), ou ainda, a decisão do Tribunal do Júri.

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está permitido a fazer correções de erros materiais, como prevê o artigo 382 do Código de

Processo Penal.27

Artigo 382. Qualquer das partes poderá, no prazo de 2 (dois) dias, pedir ao juiz que declare a sentença, sempre que nela houver obscuridade, ambigüidade, contradição ou omissão.

Cumpre-nos ainda destacar outra hipótese em que o magistrado poderá alterar a

sentença proferida, nos moldes do artigo 589 do Código de Processo Penal. Tal dispositivo

legal autoriza ao juiz a praticar o chamado juízo de retratação, que geralmente é provocado

por um recurso em sentido estrito, como brevemente define Tourinho, em sua obra:

Normalmente as decisões que comportam o recurso stricto sensu são as interlocutórias, e, como o Magistrado, em princípio, não está impossibilitado de rever a sua próprias decisão, por não ser ela definitiva, não haveria, como não há, inconveniente em que ele a reaprecie, em face de um recurso. 28

Assim dispõe o artigo 589 do Código de Processo Penal:

Artigo 589. Com a resposta do recorrido ou sem ela, será o recurso concluso ao juiz, que, dentro de 2 (dois) dias, reformará ou sustentará o seu despacho, mandando instruir o recurso com os traslados que Ihe parecerem necessários.

Parágrafo único. Se o juiz reformar o despacho recorrido, a parte contrária, por simples petição, poderá recorrer da nova decisão, se couber recurso, não sendo mais lícito ao juiz modificá-la. Neste caso, independentemente de novos arrazoados, subirá o recurso nos próprios autos ou em traslado.

Há autores italianos que intitulam de suicidas as sentenças que trazem contradição

entre a parte dispositiva e a fundamentação, as quais são nulas ou podem ser corrigidas

através de embargos de declaração; e ainda, vazias as decisões definitivas eivadas de nulidade

por falta de fundamentação. 29

Outro efeito relevante é a saída do juiz da relação processual, uma vez transitada

em julgado a decisão proferida, a relação se extingue.30

A sentença cria, também, impedimentos ao juiz que prolatou a decisão, quando

este estiver em instância superior, quando do reexame da matéria decidida em juiz ad quem.

A sentença inexistente não produz efeitos, nos casos em que a prolação é feita por

juiz sem jurisdição, ou seja, a incumbência inerente ao Juiz, por meio do processo, dizer o

27 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 489. 28 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p. 660. 29 Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 378. 30 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 489.

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direito, aplicando a lei ao caso concreto, ou quando o juiz estava em férias, ou ainda após a

sua promoção para outra comarca.31

A publicação da sentença, após sua prolação, é medida que se impõe, sendo

obrigatória, inclusive, nos casos em que determinados atos são sigilosos, como ocorre, nos

casos de crime previsto na Lei nº 6368/7632. Quando a sentença for prolatada em audiência,

esta vai tornando-se pública a medida em que o juiz for ditando-a, neste caso, não há

necessidade de o escrivão lavrar o termo de publicação, como ocorre quando a sentença é

prolatada em gabinete.33

Após a publicação da sentença, com a lavratura do termo de publicação, quando

for o caso, pelo escrivão, este a registrará em livro próprio, como prevê o artigo 389 do

Código de Processo Penal, a fim de que seja a mesma conservada em caso de perda ou

extravio da sentença.34

Registrar significa inscrever ou transcrever no livro próprio a decisão a fim de que ela seja conservada na lembrança, como garantia no caso de destruição, inutilização ou extravio do papel em que foi lavrada a decisão. Também tem por fim o registro possibilitar a qualquer pessoa o conhecimento do ato inscrito ou do teor da sentença, que pode ser solicitado por qualquer pessoa, por certidão.35

Ainda que publicada e devidamente registrada a sentença, não importa em

conhecimento real das partes, que deverão ser intimadas da decisão, para que decorram os

prazos de recurso. Quando a sentença for publicada em audiência, a intimação já ocorre no ato

realizado, momento em que as partes já podem manifestar suas vontades em recorrer ou não

da decisão.

A sentença será absolutória quando o juiz rechaça a pretensão punitiva, com base

no artigo 386 do Código de Processo Penal e incisos. O efeito deste é eminentemente

declaratório, no entanto, vários efeitos começam ser produzidos. Se o réu estiver preso,

expedir-se-á imediatamente o alvará de soltura, se por outro motivo não estiver preso. Se a

absolvição for imprópria, conforme já descrevemos anteriormente, aplicar-se-á medida de

segurança. O trânsito em julgado da sentença penal absolutória é fator que impede a argüição

de exceção da verdade, conforme prevê o artigo 138, § 3º, III do Código Penal e artigo 523 do

31 Cf. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p. 191. 32 Lei que dispõe sobre medidas de prevenção e repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica, e dá outras providências. 33 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 505. 34 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 505. 35 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 505.

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Código de Processo Penal.36

Dispõem da seguinte forma os artigos 138, § 3º, inciso III do Código Penal e

artigos 523 do Código de Processo Penal, respectivamente:

Artigo 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: [...] § 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo: [...] III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. Artigo 523. Quando for oferecida a exceção da verdade ou da notoriedade do fato imputado, o querelante poderá contestar a exceção no prazo de 2 (dois) dias, podendo ser inquiridas as testemunhas arroladas na queixa, ou outras indicadas naquele prazo, em substituição às primeiras, ou para completar o máximo legal.

Assim prevê o artigo 386 do Código de Processo Penal:

Artigo 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: I – estar provada a inexistência do fato; II – não haver prova da existência do fato; III – não constituir o fato infração penal; IV – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; V – existir circunstâncias que exclua o crime ou isente o réu de pena (artigos. 17, 18, 19, 22 e 24, § 1º do Código Penal); VI – não existir prova suficiente para a condenação. Parágrafo único. Na sentença absolutória, o juiz: I – mandará, se for o caso, por o réu em liberdade; II – ordenará a cessação das penas acessórias provisoriamente aplicadas; III – aplicará medida de segurança, se cabível.

Sendo o réu absolvido com fundamento numa causa excludente de ilicitude, tal

decisão exerce importante influência no âmbito da jurisdição civil, podendo até evitar a

propositura da ação civil, no campo da satisfação do dano ex delicto, conforme previsto no

artigo 65 do Código de Processo Penal, ressalvadas as exceções previstas nos artigos 929, 930

e 954 do Código Civil.37

Trata o artigo 65 do Código de Processo Penal, que a matéria que for julgada na

jurisdição civil, fará coisa julgada na jurisdição penal.

Prevê o artigo 65 Código de Processo Penal:

Artigo 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular do direito.

36 Cf. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p. 641 37 Cf. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p. 642

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Assim dispõem os artigos 929, 930 e 954 do Código Civil:

Artigo 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram. Artigo 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado. Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 188, inciso I). Artigo 954. A indenização por ofensa à liberdade pessoal consistirá no pagamento das perdas e danos que sobrevierem ao ofendido, e se este não puder provar prejuízo, tem aplicação o disposto no parágrafo único do artigo antecedente. Parágrafo único. Consideram-se ofensivos da liberdade pessoal: I - o cárcere privado; II - a prisão por queixa ou denúncia falsa e de má-fé; III - a prisão ilegal.

Já quanto aos efeitos da sentença condenatória, pode-se dividir em principais e

secundários, e genéricos e específicos.

Entre os efeitos principais que a condenação produz, estão a imposição de pena, e

as conseqüências de natureza penal ou extrapenal, entre estes estão os efeitos civis,

administrativos, políticos e até trabalhistas.38

Já entre os efeitos secundários de caráter penal, destacam-se os seguintes: a

revogação da suspensão condicional da pena e do livramento condicional, a caracterização da

reincidência pela prática de crime posterior, o aumento do prazo da prescrição da pretensão

executória quando caracterizada a reincidência, interrupção da prescrição da pretensão

executória quando caracterizada a reincidência, a revogação da reabilitação, o impedimento

de vários benefícios (artigos 155, § 2º; 171, § 1º; 180, § 3º, todos do Código Penal.), a

inscrição do nome do condenado no rol de culpados (artigo 393, II, do Código de Processo

Penal).39

Prevê o artigo 393 do Código de Processo Penal:

Artigo 393. São efeitos da sentença condenatória recorrível: I – ser o réu preso e conservado na prisão, assim nas infrações inafiançáveis, como nas afiançáveis enquanto não prestar fiança; II – ser o nome do réu lançado no rol dos culpados.

O artigo 91 do Código Penal prevê os efeitos genéricos, enquanto que o artigo 92

do mesmo diploma legal prevê os efeitos específicos. 38 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 554. 39 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 554.

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26

Senão vejamos:

Artigo 91 São efeitos da condenação: I – tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime; II – a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso. Artigo 92 - São também efeitos da condenação: I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: a)quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública; b)quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos. II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado; III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso. Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença.

A sentença Penal condenatória deve obedecer o prescrito no artigo 387 e incisos,

do Código de Processo Penal, na sua forma.

Embora com a sentença penal condenatória ocorra a aplicação da pretensão

punitiva do Estado ao acusado, a sentença por si só, não tem força executiva, é necessário a

expedição de mandado de prisão, a fim de que possa ser cumprida a prisão, se a sentença

assim determinar, como nos ensina Tourinho:

Quando o Juiz julga a denúncia ou queixa procedente, fala-se em sentença condenatória. Com sentença condenatória o Juiz julga procedente o jus puniendi, afirmando a responsabilidade do acusado e infligindo-lhe a sanctio juris. Muito embora pelo art. 393, I, do Código de Processo Penal pareça, à primeira vistas seja ela considerada título executório, independentemente do trânsito em julgado, o certo é que a prisão não constitui efeito automático da condenação.40

Como já mencionamos acima, os efeitos da sentença condenatória podem ser

vários, no entanto, há de se ressaltar que a sentença só toma força, gera seus efeitos, quando

devidamente publicada, registrada e a parte estiver devidamente intimada do seu teor, não

cabendo mais recurso algum, ou seja, transitada em julgado. Enquanto a sentença não transitar

em julgado, o réu ou acusado, não pode ser considerado culpado, pois em nosso ordenamento

40 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p. 642.

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jurídico, vigora o princípio constitucional do estado de inocência, que trata que ninguém será

considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória (artigo 5º, LVII

da CF/88).41

Vejamos o que dispõe a Constituição Federal da república em seu artigo 5º, inciso

LVII:

Artigo 5º. Todos os iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;

O trânsito em julgado ocorre quando da decisão proferida não couber mais recurso,

daí então, diz que a coisa é julgada.

É de se ressaltar ainda, que a exigência de prisão processual não viola o princípio

do estado de inocência, conforme se observa da Súmula nº 09 do Superior Tribunal de Justiça.

Súmula 09 do Superior Tribunal de Justiça . A exigência de prisão provisória, para apelar, não ofende a garantia constitucional da presunção de inocência.42

O sentido real do princípio é manter a inocência do acusado, até que o mesmo seja

condenado, pela decisão transitada em julgado, no entanto, se o juiz verifica que o réu está

atrapalhando a instrução criminal ou pretendendo empreender fuga, justificada estará a

decretação de prisão cautelar, afim de assegurar a instrução criminal e a posterior execução da

sentença condenatória, se for o caso.

Da sentença penal condenatória cabe recurso de apelação, o que será interposto em

segunda instância, onde será processado e julgado observado os princípios norteadores do

processo penal.

Há ainda as sentenças inerentes ao Rito da Competência do Tribunal do Juri, que

são objetos de estudo deste trabalho científico de conclusão de curso, motivo pelo qual, aqui,

só iremos mencioná-las, deixando a análise mais cuidadosa para o capítulo três, onde

destacaremos as peculiaridades de cada uma delas, quais sejam: pronúncia, impronúncia,

desclassificação e absolvição sumária.

As sentenças que mencionamos no parágrafo anterior são as que decorrem das

decisões do Tribunal do Júri, que é o órgão competente para julgar os crimes dolosos contra a

41 Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 39. 42 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Súmula n. 09. Disponível em: http://www.stf.gov.br/webstj. Acesso em: 14 de julho de 2004.

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vida, motivo pelo qual tem um procedimento especial e diferenciado dos demais, chamado de

Rito da Competência do tribunal do Júri, o qual passaremos a estudar no próximo capítulo, da

mesma forma originam variados tipos de sentença, os mencionados acima, que possuem

peculiaridades e características próprias, embora num contexto geral, sigam as regras e formas

apontadas neste capítulo.

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2 RITOS PROCESSUAIS

2 RITOS PROCESSUAIS 2.1 RITOS PROCESSUAIS NO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL 2.1.1 Procedimento Comum 2.1.2 Procedimento Sumário 2.1.3 Procedimento Sumaríssimo 2.1.4 Procedimentos Especiais 2.1.4.1 Dos crimes falimentares 2.1.4.2 Do procedimento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos 2.1.4.3 Procedimento dos crimes de calúnia, difamação e injúria, da competência do juiz singular 2.1.4.4 Procedimento dos crimes contra a propriedade imaterial 2.2 PROCEDIMENTO DA COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JURI 2.2.1 Evolução Histórica do Tribunal do Júri no Brasil ao longo dos tempos 2.2.2 Procedimento.

Nesse capítulo abordaremos os tipos de procedimento, bem como elucidaremos as

diferenças de processo, procedimento e rito processual contemplados no Código de Processo

Penal. Mais adiante adentraremos no procedimento da competência do Tribunal do Júri, que

ensejará a prolação das sentenças inerentes a ele, que são objeto principal. Abordaremos ainda

a evolução histórica do instituto ao longo dos tempos e nos tempos modernos, bem como o

seu procedimento.

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2.1 RITOS PROCESSUAIS NO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Antes de passarmos a descrição de cada procedimento em si, interessante esclarecer

ao leitor o que é rito processual, procedimento, processo, para uma melhor compreensão dos

subitens deste capítulo.

Rito processual é em regra, a forma como se processa uma ação, sempre positivado

pelo Código de Processo Penal, que é o conjunto de normas formais, que visam a

uniformização do procedimento. Pode-se definir melhor como, a “forma de processo ou

conjunto de regras adjetivas que regem o exercício de uma ação” 43

Procedimento é a sucessão, o ordenamento, a concentração dos atos processuais,

realizados no processo, como por exemplo o interrogatório, ouvida de testemunhas, perícias,

entre outros.44

Processo deriva da expressão pro cedere, que significa avançar, ir à frente. Daí

pode-se dizer que o processo é a atividade exercida pelo juiz, juntamente com as partes, de

maneira a solucionar a lide.45 Ou em outras palavras, é a ação sob o aspecto formal, isto é, a

série ordenada e processual de atos formalizados pela lei para o litígio em juízo.46

Alguns doutrinadores entendem que a denominação correta seria procedimento,

afinal trata-se da forma adotada para o processamento de determinada ação, como por

exemplo, Mirabete: “na verdade, melhor denominação para o caso seria a de ” procedimento

comum” e “procedimentos especiais”. 47

Processo e procedimento estão intimamente ligados, como já se pode vislumbrar. O

processo é tecnicamente chamado de procedimento quando se tratar de coordenação dos atos

processuais praticados, como um ritual. Já o processo em si, é mais do que isso, é através dele

que se constitui a relação jurídica processual entre as partes e o juiz, somados aos princípios

constitucionais do devido processo legal.

Vejamos o que trata a doutrina sobre o assunto:

À noção de processo alia-se a de procedimento. Para que o Juiz possa solucionar o litígio, praticam-se, perante ele, numerosos atos: o pedido do autos, o chamamento do réu, sua resposta, a produção de provas, o seu exame crítico e, finalmente, a sentença, a resolução da lide. Ao conjunto de atos processuais que se sucedem, de forma coordenada, com a finalidade de resolver, jurisdicionalmente, o litígio, denomina-se processo. Mas, sob esse

43 Cf. NAUFEL, José. Dicionário Jurídico Brasileiro. p 799. 44 Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 516. 45 Cf. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p. 556. 46 Cf. NAUFEL, José. Dicionário Jurídico Brasileiro. p 759. 47 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 515.

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aspecto, isto é, coordenação e ordem dos atos processuais, fala-se tecnicamente, em procedimento48.

O Código de Processo Penal denomina o processo de forma estrita, onde o processo

compreende a forma estabelecida pela lei para se tratarem as causas em juízo.49

No sentido “lato”, processo significa o conjunto de atos praticados pelas partes, em

juízo, no decorrer de um litígio. Eis aí, a definição adequada, segundo a doutrina.

O processo, instrumento de atuação da função jurisdicional, pode ser encarado sob dois prismas distintos, mas intimamente conexos entre si: a) dos atos que representam sua forma extrínseca (objetivo); b) das relações que vinculam os sujeitos processuais (subjetivo).50

O Código de Processo Penal, no Livro II, trata dos Processos em Espécie, que

subdivide-se em processo comum, compreendendo os artigos 394 a 502, e processo especial

compreendendo os artigos 503 a 562.

Conforme a classificação acima exposta, o aspecto objetivo englobaria os atos em si,

ou seja, o procedimento, como forma de concatenação de fatos e atos, vinculados a questão

propriamente dita.

Assim prevê a doutrina quanto ao aspecto objetivo:

Analisando-o sob o aspecto objetivo, isto é, dos atos, identificamos o seu primeiro elemento constitutivo: o procedimento, entendido como cadeia de atos e fatos coordenados, juridicamente relevantes, vinculados por uma finalidade comum, qual a de preparar o ato final, ou seja, o provimento jurisdicional, que, no processo de conhecimento, é a sentença de mérito.51

Já o aspecto subjetivo, englobaria a relação jurídica processual, que é o que lhe dá

vida e dinamismo. É o trâmite em si, o movimento que as ações de uma parte e de outra causa

no processo.

Passando agora os tipos de procedimento propriamente ditos, o Código de Processo

Penal, divide-os da seguinte forma:

- Procedimento Comum ou Ordinário: aplicado para os crimes apenados com

reclusão; dentro do procedimento comum, está o procedimento da competência do Tribunal

do Júri.52

- Procedimento Sumário: aplicado aos crimes apenados com detenção;

48 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p. 556. 49 Cf. NAUFEL, José. Dicionário Jurídico Brasileiro. p 759. 50 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 13. 51 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 13. 52 O Código de Processo Penal dispõe que o procedimento adotado para o Tribunal do Júri é o ordinário, embora os processos submetidos a este procedimento têm uma forma própria, inerente apenas a determinados crimes, os quais já citamos anteriormente. Embora a nomenclatura adotada pelo código seja de procedimento comum ou ordinário, na prática utiliza-se a nomenclatura “Rito Especial”, por ser este, um rito diferenciado dos demais.

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- Procedimento Sumaríssimo: aplicados aos crimes de menor potencial ofensivo,

regulado pelas Leis 9.099/95 e 10.259/01.

- Procedimento Especial: aplica-se exclusivamente aos crimes falimentares, aos

crimes contra a honra, aos crimes funcionais, e aos crimes contra a propriedade imaterial;

Analisaremos a partir de então, cada um individualmente e de forma sucinta, de

modo a facilitar a compreensão do leitor, e o porque da individualização do procedimento do

Tribunal do Júri para a elaboração do presente estudo, considerando que é através dele que se

alcança a possibilidade da prolação de uma das quatro sentenças possíveis, objeto principal do

presente trabalho científico, pronúncia, impronúncia, absolvição sumária e desclassificação.

2.1.1 Procedimento Comum

Está regulado no Capítulo I, do Título I, do Livro II, artigos 394 a 405 e 498 a 502

do Código de Processo Penal.

O Procedimento Comum, também denominado de processo ordinário, procedimento

ordinário e procedimento comum e geralmente aplicado aos crimes punidos com pena de

reclusão.

A instrução criminal é iniciada com o interrogatório, visto que é contraditória, isto é,

fica assegurado o princípio do contraditório às partes53, princípios este que garante a estas

serem cientificadas sobre qualquer ato ou fato processual ocorrido, oportunizando a

manifestação sobre ele, antes de qualquer decisão judicial.54

Após o interrogatório do acusado, o defensor deverá apresentar a defesa prévia, no

prazo legal, oportunidade em que arrolará as testemunhas que pretende ouvir, como forma de

constituição de prova. Expirado o prazo para a apresentação da defesa prévia, não será mais

permitida sua apresentação, porque ocorreu a preclusão temporal. No entanto, a

jurisprudência já admitiu que a mesma poderá ser apresentada mesmo após extrapolado o

prazo, pois trata-se de mera irregularidade (JTACrimSP, 62/199-200). A defesa prévia é uma

faculdade, podendo ser dispensada a critério do defensor55, por essa razão não enseja nulidade

processual a sua falta (RT, 534/413, 552/356), o que enseja nulidade é a falta de concessão de

prazo para a sua apresentação.

53 Importante frisar que partes, aqui, compreendem as pessoas que integram os pólos ativo e passivo da ação penal, pública ou privada, portanto, o acusado, o ofendido, ou o Ministério Público. 54 Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 16. 55 É de se ressaltar que a defesa prévia é dispensada, se o defensor for constituído, enquanto que o defensor dativo não tem este direito.

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Ouvidas as testemunhas56, na ordem que o Código de Processo Penal prevê, ou seja,

primeiro as da acusação57, após as da defesa, passa-se à fase do artigo 499, onde serão

produzidas as diligências que se façam necessárias a formar o conjunto probatório que será

analisado posteriormente pelo Juiz quando da prolação da sentença.

Assim dispõe o artigo 499 do Código de Processo Penal:

Artigo 499. Terminada a inquirição das testemunhas, as partes - primeiramente o Ministério Público ou o querelante, dentro de 24 (vinte e quatro) horas, e depois, sem interrupção, dentro de igual prazo, o réu ou réus - poderão requerer as diligências, cuja necessidade ou conveniência se origine de circunstâncias ou de fatos apurados na instrução, subindo logo os autos conclusos, para o juiz tomar conhecimento do que tiver sido requerido pelas partes.

Expirado o prazo para a realização das diligências, passa-se para a fase das

Alegações Finais58.

Nessa fase o Ministério Público, primeiro, o assistente de acusação, se houver, em

segundo, e, após a defesa, apresentarão suas alegações referentes ao mérito da causa. Aqui,

devem as partes argüir preliminarmente as nulidades ocorridas na instrução criminal, sob pena

de preclusão, bem como as alegações de mérito, como já mencionamos.59

A falta de Alegações Finais por parte da defesa enseja nulidade, pois ofende o

princípio da ampla defesa, inclusive já tem decidido a jurisprudência neste sentido: (Supremo

Tribunal Federal, 2ª Turma., relator. Ministro. Francisco Rezek, DJU, 22 set. 1995, p. 30593).

Há, porém, outra corrente que entende que só enseja nulidade a falta de abertura de prazo para

apresentação ou a falta de intimação do defensor, aí sim, ocorre ofensa ao princípio do

contraditório e da ampla defesa (Supremo Tribunal Federal, 1ª Turma., relator. Ministro.

Moreira Alves, DJU, 3 set.1993, p. 17743).60

O Ministério Público não pode deixar de apresentar Alegações Finais, vez que, sua

atuação é regido pelo princípio da indisponibilidade da ação penal. Quando se trata de ação

subsidiária, a falta de Alegações Finais pelo querelante, não induz a perempção, nesse caso, o

Ministério Público assume o processo. Em se tratando de ação exclusivamente privada, a falta

de Alegações Finais acarreta, não só a perempção, nos termos do artigo 60 e incisos do

56 Aqui generalizadas, entre testemunhas de defesa e de acusação. 57 Se houver assistente de acusação será aberto prazo para que arrole-as, antes da defesa e após o representante do Ministério Público, sendo que serão inquiridas antes das testemunhas de defesa. 58 Com as Alegações Finais encerra-se a instrução criminal, de maneira que nas alegações só se trata de matéria de mérito, não podendo mais produzir prova. 59 Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 517. 60 Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 517.

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Código de Processo Penal, como também a extinção da punibilidade. 61

Prevê o artigo 60 do Código de Processo Penal: Artigo 60 Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal: [...] III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;

Finda a instrução, que segundo a jurisprudência, o prazo total para o encerramento, é

de 81 (oitenta e um) dias, no caso de o réu estar preso pelo processo, ressalvados os casos de

força maior e devidamente justificado nos autos, o processo será concluso ao juiz, que

prolatará sentença, seguindo os requisitos já mencionados no capítulo anterior.62

2.1.2 Procedimento Sumário

Está regulado no Capítulo V, do Título II, do Livro II, artigos 531 a 540 do Código

de Processo Penal.

Aplica-se esse procedimento, exclusivamente aos crimes apenados com detenção, e

cuja pena máxima privativa de liberdade seja superior a 1 (um) ano.

Antes do advento da Lei 9.099/9563, tanto as contravenções penais, como os crimes

punidos com pena máxima privativa de liberdade não excedente a 1 (um) ano, sujeitavam-se

ao procedimento sumário64. O procedimento adotado pela Lei supra mencionada é o rito

sumaríssimo, que será objeto de estudo de um dos subitens adiante abordados.

Deriva do processo comum, e na opinião crítica da doutrina, inserido erroneamente

no capítulo dos “processos especiais”. Inclusive, determina a lei processual que se aplique, no

que couber, as disposições aplicadas a instrução criminal do procedimento ordinário.

Mirabete leciona:

A colocação deste capítulo é contestada na doutrina já que o “processo sumário” não é um dos “processos especiais” referidos no Título II, mas um processo “comum” às infrações penais que não se comina pena de reclusão. É, assim, apenas uma variante do chamado “processo ordinário” .

61 Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 518. 62 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 522. 63 Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. 64 CÂMARA, Alexandre Freitas. Dos Procedimentos Sumário e Sumaríssimo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 1997.

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Oferecida a denúncia pelo Ministério Público, cita-se o réu, que será interrogado.

Após o interrogatório do acusado, abre-se prazo para a apresentação da defesa

prévia, oportunidade em que serão arroladas as testemunhas de defesa.

Decorrido o prazo para oferecer a defesa prévia, a audiência para oitiva das

testemunhas de acusação, no número de no máximo 5 (cinco), os autos vão conclusos ao juiz

que dará o despacho saneador65, como dispõe o artigo 538, caput, do Código de Processo

Penal, momento em que se achar necessário, determinará que se proceda as diligências

necessárias ao esclarecimento da verdade, independente de requerimento das partes, ou sanará

eventuais irregularidade e marcará audiência de instrução, debates e julgamento, cientificando

o Ministério Público, o réu e seu defensor.

Artigo 538. Após o tríduo para a defesa, os autos serão conclusos ao juiz, que, depois de sanadas as nulidades, mandará proceder às diligências indispensáveis ao esclarecimento da verdade, quer tenham sido requeridas, quer não, e marcará para um dos 8 (oito) dias seguintes a audiência de julgamento, cientificados o Ministério Público, o réu e seu defensor.

Na audiência de julgamento, serão ouvidas as testemunhas da defesa, e se o juiz,

ainda achar necessário a realização de alguma diligência, marcará para um dos próximos 5

(cinco) dias a continuação do julgamento. Não havendo diligências a serem realizadas, passa-

se aos debates orais. O Ministério Público, primeiro, e a defesa, após, por período igual de 20

(vinte) minutos.66

Terminados os debates, o juiz passa a proferir a sentença, no entanto, se não julgar-

se habilitado para proferir a decisão em audiência, fará com que os autos lhe sejam conclusos,

e sentenciará, em gabinete, no prazo de 5 (cinco) dias.67

2.1.3 Procedimento Sumaríssimo

Embora o procedimento sumaríssimo não seja regulado pelo Código de Processo

Penal, cabe-nos, a título de melhor informar ao leitor, mencionar, sucintamente, algumas

características e peculiaridades desse procedimento.

É regulado pelas Lei 9.099/9568 e 10.259/200169, no âmbito da Justiça Estadual e

65 É de relevância mencionar que embora disposto no corpo da lei, e a doutrina continua lecionando a respeito, o despacho saneador está em desuso. 66 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 625. 67 Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 527. 68 Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. 69 Dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal.

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Federal, respectivamente. Possuem competência para processar e julgar processos de

infrações penais de menor potencial ofensivo, ou seja, contravenção que a lei comine pena

máxima não superior a um ano, excetuados, é claro, as situações em que a lei preveja

procedimento especial.

Admite tal procedimento, a composição, a transação e o instituto da suspensão

condicional do processo, inclusive para os crimes não abrangidos por esta lei, cuja pena

mínima cominada for igual ou inferior a 1 (um) ano.70

Já a instituição dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça

Federal passou a definir as infrações de menor potencial ofensivo, ou seja, os crimes que a lei

comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, ou multa, sem restrições. 71

Assim sendo, já se cogita a idéia de que fica derrogado, tacitamente, pelo princípio

da isonomia, o artigo 61 da Lei 9.099/95, que adotava o procedimento sumaríssimo no caso

de contravenções penais e crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 1 (um)

ano.72

2.1.4 Procedimentos Especiais

Neste subitem destacaremos quais as principais diferenças existentes e

peculiaridades inerentes ao procedimento especial, de forma bem sucinta, só a título de

informação e esclarecimento para o leitor, pois como já ressaltamos anteriormente, o objeto

principal deste trabalho científico diz respeito as sentenças do procedimento do Tribunal do

Júri.

2.1.4.1 Dos crimes falimentares

Os crimes falimentares podem ser apenados com reclusão ou detenção, no entanto,

possuem procedimento próprio, especial, em qualquer dos casos, que está regulamentado nos

artigos 503 a 512 do Código de Processo Penal.

A ocorrência de crime falimentar é apurada em procedimento próprio, presidido pelo

juiz cível, que se denomina inquérito judicial.

Nas 24 (vinte e quatro) horas subseqüentes ao vencimento do dobro do prazo

estipulado pelo juiz para os credores declararem seus créditos, o síndico apresentará, em

70 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 627. 71 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 627. 72 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 627.

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cartório, em duas vias, exposição circunstanciada, na qual, considerando as causas da falência,

o procedimento do devedor, antes e depois da sentença declaratória da falência, e especificará,

se houver, os atos que constituem crime falimentar.73

Recebendo o inquérito, poderá o Ministério Público, se for o caso, oferecer

denuncia, que o fará no prazo de 5 (cinco) dias, podendo arrolar até 8 (oito) testemunhas.

Oferecida a denuncia, o juiz poderá receber ou não a peça acusatória. Se receber,

deverá faze-lo em despacho fundamentado, nos termos do artigo 109, § 2º da Lei 7661/4574 e

da Súmula 564 do Supremo Tribunal Federal.75

Súmula 564 Supremo Tribunal Federal: A AUSENCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DO DESPACHO DE RECEBIMENTO DE DENUNCIA POR CRIME FALIMENTAR ENSEJA NULIDADE PROCESSUAL, SALVO SE JA HOUVER SENTENÇA CONDENATORIA.76

Recebida a peça inicial acusatória, em despacho fundamentado, sob pena de

nulidade, o juiz remeterá o processo ao juízo criminal competente, para dar prosseguimento

aos demais atos processuais.77

No restante do processo, aplicar-se-ão os atos do procedimento comum ou ordinário.

2.1.4.2 Do procedimento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos

O Código de Processo Penal descreve regras de procedimento para os crimes de

responsabilidade dos funcionários públicos. Também chamados de crimes funcionais, pois se

referem aos crimes cometidos no exercício da função pública (Executivo, Legislativo e

Judiciário) estão disciplinados nos artigos 513 a 518 do Código de Processo Penal.

Porém, antes, cabe-nos distinguir os crimes funcionais próprios dos crimes

funcionais impróprios. O primeiro, refere-se aos fatos que se constituem em ilícito penal

quando o agente é funcionário público, ou seja, quando a função pública é essencial a

existência do delito, enquanto o segundo, dizem respeito aos fatos que constituem também

crimes comuns, mas que ganham tipificação própria quando o sujeito ativo é funcionário

público.78

Não há, em regra, qualquer diferença na apuração dos crimes cometidos por

funcionários públicos, sendo eles objeto de regular inquérito policial. Oferecida a denúncia 73 Cf. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p. 593. 74 Lei de Falências. 75 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 601. 76 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Súmula n. 564. Disponível em: http://www.stf.gov.br/webstj. Acesso em: 14 de julho de 2004. 77 Cf. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p. 595. 78 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 603.

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pelo Ministério Público, a mesma pode vir acompanha da informatio delicti, ou seja, o

inquérito com todos os seus documentos ou justificação que façam presumir a existência do

delito, acabando por comprovar o fumus boni juris. 79

Vislumbra-se neste procedimento a possibilidade do contraditório antes do

recebimento da denúncia, que se denomina defesa preliminar, ou audiência prévia do acusado,

oportunidade em que o acusado apresentará sua defesa.80 Se o juiz se convencer da

inexistência do crime, poderá rejeitar a denúncia, em despacho fundamentado.81

Uma vez aceita a denúncia, o procedimento adotado daqui por diante é o aplicado

aos crimes apenados com reclusão, ou seja, o procedimento comum ou ordinário, conforme

disciplina o artigo 519 do Código de Processo Penal.

2.1.4.3 Procedimento dos crimes de calúnia, difamação e injúria, da competência do juiz

singular.

Procedimento aplicado aos crimes contra a honra está disciplinado nos artigos 519 a

523 do Código de Processo Penal.

Ressalvados os casos previstos em lei, em regra, a ação penal para os crimes contra a

honra é privada, que se dá através de queixa oferecida pelo ofendido.

Preliminarmente, antes mesmo do oferecimento da denúncia, neste procedimento,

adota-se o pedido de explicações, que se torna indispensável quando em virtude dos termos

empregados ou do verdadeiro sentido das frases, não se mostra evidente a intenção de

caluniar, difamar ou injuriar, tornando dúbio o significado da manifestação do autor ou quanto

ao destinatário dela. Trata-se, portanto, de um procedimento preparatório para a ação penal.82

Ainda antes do recebimento da queixa, há a audiência de conciliação, ou

reconciliação, momento em que as partes poderão ser ouvidas pelo juiz separadamente, sem a

presença de seus advogados, não se lavrando termo conforme dispõe o artigo 520 do Código

de Processo Penal, senão vejamos:

Artigo 520. Antes de receber a queixa, o juiz oferecerá às partes oportunidade para se reconciliarem, fazendo-as comparecer em juízo e ouvindo-as, separadamente, sem a presença dos seus advogados, não se lavrando termo.

Se as partes se conciliarem, o querelante assinará o termo de desistência da ação, a

79 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 605. 80 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 605. 81 Cf. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p. 619. 82 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 610.

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queixa será arquivada e por conseqüência, extinta a punibilidade do querelado. Não havendo

conciliação, o juiz receberá a queixa, prosseguindo o feito nos moldes do disposto no artigo

519 do Código de Processo Penal, que dispõe que daqui por diante o feito segue o

procedimento comum ou ordinário.

2.1.4.4 Procedimento dos crimes contra a propriedade imaterial

A lei 9.610/9883 dispõe sobre propriedade imaterial, no entanto, o procedimento para

o processamento dos crimes contra a propriedade imaterial está disposto nos artigos 524 a 528

do Código de Processo Penal, o qual se processa mediante queixa crime.

A busca e apreensão e a realização de exame pericial para os ilícitos que deixarem

vestígios, são medidas preliminares que o Código de Processo Penal prevê.84

O prazo para a propositura da queixa é de 30 (trinta) dias a contar da data da

homologação do laudo.

Após o recebimento da queixa, o procedimento a ser adotado é o ordinário ou

comum.

2.2 PROCEDIMENTO DE COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI

2.2.1 Evolução Histórica do Tribunal do Júri no Brasil ao longo dos tempos

Em nosso ordenamento jurídico, o Júri foi disciplinado, pela primeira vez em 1822,

com o advento da Lei 18 de junho de 1822, com a finalidade específica a julgar crimes de

imprensa, sendo que o Tribunal era formado por juizes de fato, dentre os quais cidadãos bons,

honrados, patriotas e inteligentes, que eram nomeados pelo Corregedor e ouvidores do crime,

a requerimento do Procurador da Coroa e Fazenda, que na época, atuava como o Promotor e o

Fiscal dos delitos, perfazendo um número de 24 (vinte e quatro). Das decisões proferidas pelo

Tribunal, só o Príncipe podia alterar a sentença proferida pelo Júri.85

Com a Constituição Imperial, de 25 de março de 1824, o Tribunal do Júri passou a

integrar o Poder Judiciário, como um de seus órgãos, quando teve sua competência ampliada

também para as julgar as causas cíveis e criminais.86

83 Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. 84 Cf. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p. 616. 85 Cf. NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Questões processuais penais controvertidas.p. 293. 86 Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 584.

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A Constituição Imperial, de 25 de março de 1824, disciplinava o Tribunal do Júri da

seguinte forma:

Artigo 151. O Poder Judicial independente, e será composto de Juizes, e Jurados, os quaes terão logar assim no Civel, como no Crime nos casos, e pelo modo, que os Codigos determinarem. Artigo 152. Os Jurados pronunciam sobre o facto, e os Juizes applicam a Lei.87

Anos mais tarde, em 29 de novembro de 1832, foi disciplinado pelo Código de

Processo Criminal do Império, o que conferiu ao Tribunal do Júri ampla competência,

atribuindo-o a instituição a competência para julgar quase todas as infrações. Essa

competência só foi restringida em 1842, com a entrada em vigor da Lei n. 261.88

Criou-se o Jury de Accusação, composto de 23 (vinte e três) jurados, cuja finalidade

era dar suporte à pronuncia que ficava a cargo dos Juizes de Paz.89

A cada 6 meses o Júri se reunia na sede da comarca, sob a presidência do Juiz, para

acolher, o não, as decisões de pronúncia proferidas nos distritos e termos. Se esse grande Júri

vislumbrasse matéria passível de acusação, era o réu levado a julgamento pelo pequeno júri,

ou Jury de Sentença, este constituído de 12 jurados apenas.90

Mais tarde, com a República, o Decreto nº 848, de 11 de outubro de 1890, criou a

Justiça Federal, e por conseqüência o Júri Federal, com competência para julgar os crimes

sujeitos a jurisdição federal e composto de 12 jurados, no entanto, sua permanência foi

passageira.

A Constituição de 1891 manteve o Tribunal do Júri como instituição soberana.

Artigo 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: [...] § 31 - É mantida a instituição do júri.

Em 7 de outubro de 1899, o Supremo Tribunal Federal dispôs, sobre a forma que

teria a instituição:

São características do Tribunal do Júri: I – quanto a composição dos jurados, a) composta de cidadãos qualificados periodicamente por autoridades designadas pela lei, tirados de todas as classes sociais, tendo as qualidades legais previamente estabelecidas para as funções de juiz de fato, com recurso de admissão e inadmissão na respectiva lista, e b) o conselho de julgamento, composto de certo numero de juizes, escolhidos a sorte, de

87 Respeitada a redação original da Constituição Imperial. 88 Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 584. 89 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p. 581. 90 Cf. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p. 581.

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entre o corpo dos jurados, em numero tríplice ou quádruplo, com antecedência sorteados para servirem em certa sessão, previamente marcada por quem a tiver de presidir, e depurados pela aceitação ou recusação das partes, limitadas as recusações a um numero tal que por elas não seja esgotada a urna dos jurados convocados para a sessão; II – quanto ao funcionamento, a) incomunicabilidade dos jurados com pessoas estranhas ao Conselho, para evitar sugestões alheias, b) alegações e provas da acusação e defesa produzidas publicamente perante ele, c) atribuição de julgarem estes jurados segundo sua consciência, e d) irresponsabilidade do voto emitido contra ou a favor do réu.91

A Constituição de 1937 não mencionou nada sobre o Júri, que teve a matéria

disciplinada depois pelo Decreto-Lei nº 167 de 5 de janeiro de 1938. Com o Decreto,

surgirem duas grande novidades para o Tribunal do Júri, quais sejam, o número de jurados

passou a ser de 7 (sete) e extingui-se a soberania92, esta que era prevista nas Constituições de

1891 e 1934, agora não mais, vindo a reaparecer na Constituição de 1946,e permanecendo até

os dias atuais.93

A Constituição de 1946 restabeleceu, como já dissemos, a soberania do Júri,

prevendo-o, inclusive, entre os direitos e garantias constitucionais.

Artigo 141 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, a segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: [...] § 28 - É mantida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, contanto que seja sempre ímpar o número dos seus membros e garantido o sigilo das votações, a plenitude da defesa do réu e a soberania dos veredictos. Será obrigatoriamente da sua competência o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

Da mesma forma, a Constituição de 196794 manteve o Tribunal do Júri no capítulo

dos direitos e garantias constitucionais, e a Emenda nº 1, de 17 de outubro de 1969, conservou

a instituição no mesmo capítulo, porém, restrita ao julgamento dos crimes dolosos contra a

vida.

Artigo 150 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pais a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] § 18 - São mantidas a instituição e a soberania do júri, que terá competência no julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

91 Acórdão de 07 de outubro de 1899. In: MARQUES, José Frederico. A Instituição do Júri, p. 49. 92 Soberania significa dizer independência absoluta, sem qualquer submissão. É uma posição suprema dentro de uma estrutura. (Cf. NUCCI, Guilherme de Souza. JURI Princípios Constitucionais. São Paulo: Juarez de Oliveira, 1999.). 93 Cf. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p. 582. 94 Cf. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p. 582.

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Na atual constituição, a instituição do Tribunal do Júri, é reconhecida com a

organização que lhe der a lei, assegurados como princípios básicos: a plenitude do direito de

defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos e a competência mínima para o

julgamento dos crimes dolosos contra a vida.95

2.2.2 Procedimento

Os crimes da competência do Júri, quais sejam, os crimes dolosos contra a vida, são,

em regra apenados com reclusão, no entanto, o infanticídio e o aborto provocado pela própria

gestante ou com o seu consentimento, embora punidos com detenção, também são submetidos

ao procedimento especial do Tribunal do Júri.

O Tribunal do Júri encontra-se disciplinado no artigo 5º, XXXVIII, da Constituição

Federal de 1988, inserido no capítulo dos direitos e garantias individuais.

Artigo 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

No Código de Processo Penal, artigo 74, § 1º, estabelece quais os tipos penais, cujo

julgamento compete ao Tribunal do Júri:

Artigo 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri. § 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos artigos 121, §§ 1o e 2o, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código Penal, consumados ou tentados.

Não estão incluídos, portanto, todos os crimes em que ocorra morte da vítima, ainda

que dolosamente, se não são classificados na lei como crimes dolosos contra a vida, como é o

caso do latrocínio, onde o bem tutelado juridicamente é o patrimônio e não a vida.96

O Tribunal do Júri tem por finalidade ampliar o direito de defesa dos réus, autores de

crimes dolosos contra a vida, quais sejam, homicídio, induzimento, instigação ou induzimento

95 Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 584. 96 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 524.

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ao suicídio, infanticídio e aborto, e permitir que estes, ao invés de serem julgados apenas pelo

juiz togado, preso as regras jurídicas, sejam julgados por seus próprios pares, de modo bem

mais flexível.97

O rito processual para os processos de competência do Júri é escalonado,

desenvolvendo-se em duas fases. A primeira fase inicia com o oferecimento da denúncia e se

encerra com a sentença de pronúncia (judicium accusationis). A segunda tem início com o

libelo e termia com o julgamento pelo Tribunal do Júri (judicium causae).98

De acordo com o Código de Processo Penal, a instrução criminal dos processos

referentes aos crimes de competência do Tribunal do Júri, é realizada nos termos do art. 394 a

405, ou seja, procedimento ordinário, comum aos crimes apenados com reclusão. Após esta

fase, o processo passa a ser disciplinado pelos artigos 406 a 497, onde estão previstos o rito ou

procedimento para o julgamento pelo Tribunal do Júri, incluindo normas sobre a organização

dos trabalhos em si.

É mister ressaltar que no procedimento do Tribunal do Júri não há a fase a que se

refere o artigo 499 do Código de Processo Penal, ou seja, diligências.

Encerrada a instrução, os autos serão conclusos ao juiz presidente do Tribunal do

Júri, para que conforme dispõe o artigo 407 do Código de Processo Penal, ordene as

diligências necessárias para sanar qualquer nulidade ou suprir a falta que prejudique o

esclarecimento da verdade, inclusive a inquirição de testemunhas. Após, passará a prolatar a

sentença em conformidade com os artigos seguintes.

Da primeira fase deste procedimento, o do Tribunal do Júri, que aqui se trata como

especial, por possuir um rito inerente aplicado apenas aos crimes dolosos contra a vida,

podem decorrer quatro tipos de sentença, pronúncia, impronúncia, desclassificação e

absolvição sumária, as quais serão objeto de estudo do próximo capítulo, oportunidade em

que serão analisadas e destacadas suas diferenças e peculiaridades.

97 Cf. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. p. 586. 98 Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 588.

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3 SENTENÇAS INERENTES AO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JURI

3 SENTENÇAS INERENTES AO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JURI. 3.1 SENTENÇA DE PRONÚNCIA. 3.1.1 Liberdade Provisória. 3.1.2 Efeitos da pronúncia. 3.2 SENTENÇA DE IMPRONÚNCIA. 3.3 SENTENÇA DE DESCLASSIFICAÇÃO. 3.4 SENTENÇA DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA.

Nesse capítulo, abordaremos de forma ampla as sentenças inerentes ao rito da

competência privativa do Tribunal do Júri, objeto principal do presente trabalho.

É de se ressaltar que as sentenças aqui abordadas, sentença de pronúncia, sentença de

impronúncia, sentença de desclassificação e sentença de absolvição sumária, referem-se as

sentenças decorrentes da primeira fase do procedimento, que como já mencionamos

anteriormente é escalonado em duas fases.

Nosso intuito é destacar a importância de cada uma delas, bem como suas diferenças,

peculiaridades e efeitos que venham a gerar na esfera jurídica.

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3.1 SENTENÇA DE PRONÚNCIA

Pode-se dizer que pronúncia é a decisão processual pela qual o juiz considera

admissível as imputações constantes da denúncia, e por conseqüência encaminha o acusado

para julgamento perante o Tribunal do Júri.99

O juiz singular não possui competência para julgar os crimes dolosos contra a vida,

motivo pelo qual tais crimes são submetidos a julgamento pelo Conselho de Sentença, se

assim não o fizesse, feriria o princípio da soberania dos veredictos100, já trabalhado no

capítulo anterior.

A decisão de pronúncia é meramente processual, trata-se de decisão interlocutória

mista não terminativa, pois encerra a primeira parte do processo, compreendida entre a

denuncia e a decisão de pronúncia, e inicia a segunda, compreendida entre o libelo crime

acusatório e o julgamento pelo Tribunal do Júri.101

Para que o juiz pronuncie o acusado, é necessário que haja o convencimento da

existência do crime, não há, no entanto, necessidade que haja prova incontroversa nos autos,

apenas que a materialidade esteja comprovada, conforme o artigo 408 do Código de Processo

Penal, senão vejamos: 102

Artigo 408. Se o juiz se convencer da existência do crime e de indícios de que o réu seja o seu autor, pronunciá-lo-á, dando os motivos do seu convencimento.

Não há necessidade que haja prova plena e robusta da autoria do crime, basta apenas

que haja indícios, ou seja, probabilidade de que o acusado tenha sido o autor do delito.103

Já decidiu neste prisma a jurisprudência:

Nos termos do que decidiu o Supremo Tribunal Federal, não é necessária a prova incontroversa da existência do crime para que o réu seja pronunciado. Basta, para tanto, que o juiz se convença daquele existência (RTJ 63/476).104

E ainda:

Havendo dúvida, pronuncia-se. (RT 523/377, 503/328, 522/361, 518/393, 500/302 e 584/319)105

99 Cf. NAUFEL, José. Dicionário Jurídico Brasileiro. p 763. 100 Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 588. 101 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 527. 102 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 527. 103 Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 588. 104 In. JESUS, Damásio Evangelista de. Código de Processo Penal Anotado. 18º ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 408. 105 JESUS, Damásio Evangelista de. Código de Processo Penal Anotado. p. 408

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Os indícios suficientes da autoria, de que trata o artigo supra mencionado, se refere

as conexões entre fatos conhecidos no processo e a conduta do agente, na forma como foi

descrita na denúncia. Devem tais indícios apresentar um grau de probabilidade que tende a se

aproximar da certeza, a fim de fundamentar a decisão de pronúncia, no entanto, ressalte-se

que tal decisão é fundado de suspeita, não o juízo de certeza que se exige para a

condenação.106

Neste momento o princípio do in dubio pro reo107 é posto de lado e aplica-se o

princípio do in dubio pro societate108, ou seja, a sociedade, constituída através do Conselho de

Sentença, será a responsável pela resolução das eventuais incertezas propiciadas pela prova.109

Na pronúncia, assim como nas demais sentenças que decorrem desse rito processual,

também devem ser observados os requisitos para uma sentença válida, os quais já foram

mencionados no item 1.4 desse trabalho científico, sob pena de nulidade.110

O juiz deverá apreciar as teses apresentadas pela defesa, expor os motivos que o

levaram a pronunciar o acusado, e ainda, declarar o dispositivo legal em cuja sanção julgar

incurso o réu, sem, no entanto, influenciar na decisão dos jurados, conforme se observa do

disposto no artigo 408, § 1º, primeira parte, do Código de Processo Penal, abaixo colacionado.

Artigo 408. [...] § 1o Na sentença de pronúncia o juiz declarará o dispositivo legal em cuja sanção julgar incurso o réu, recomendá-lo-á na prisão em que se achar, ou expedirá as ordens necessárias para sua captura.

Não só a menção da classificação do delito se faz indispensável, mas também, as

qualificadoras111 do crime, o qual a lei exige expressamente, conforme se observa no elencado

no artigo 416 do Código de Processo Penal.112

Artigo 416. Passada em julgado a sentença de pronúncia, que especificará todas as circunstâncias qualificativas do crime e somente poderá ser alterada pela verificação superveniente de circunstância que modifique a classificação do delito, o escrivão imediatamente dará vista dos autos ao órgão do Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, para oferecer o libelo acusatório.

No entanto, não há a necessidade de o juiz seguir a capitulação fornecida pelo 106 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 527. 107 Significa dizer, na dúvida resolve-se em favor do réu. 108 Significa dizer, na dúvida resolve-se em favor da sociedade. 109 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 527. 110 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 527. 111 Inclui-se as qualificadoras que estiverem descrita expressa ou implicitamente na denúncia. 112 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 527.

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representante do Ministério Público quando do oferecimento da denúncia ou da queixa,

quando for o caso, podendo inclusive alterar a classificação adotada na inicial. Para tanto,

exige-se um prévio aditamento, cabendo ao juiz fundamentar a decisão quanto a existência

das qualificadoras e não admiti-las pelo simples fato de constarem na inicial113. A doutrina já

mencionou:

Pode ocorrer que o juiz entenda no caso crime diverso do imputado, mas ainda da competência do júri, como no caso de homicídio em vez de auxílio ao suicídio, de tentativa de homicídio em vez de simples lesão imputada em concurso com um homicídio, de homicídio em vez de simples lesão corporal imputada em concurso com um homicídio, de homicídio e não infanticídio etc. 114

A respeito prevê o artigo 408, § 4º do Código de Processo Penal:

Artigo 408. [...] § 4o O juiz não ficará adstrito à classificação do crime, feita na queixa ou denúncia, embora fique o réu sujeito à pena mais grave, atendido, se for o caso, o disposto no artigo 410 e seu parágrafo.

Nula é a sentença que deixar de analisar qualquer das qualificadoras que foram

atribuídas na inicial, e em especial, tratando-se de pronúncia, ou seja, juízo de

admissibilidade, a exclusão das qualificadoras só poderá acontecer quando manifestamente

forem improcedentes.115

Já para reconhecer as qualificadoras constantes na inicial acusatória, há a

necessidade de estarem fundadas em fatos identificados na prova dos autos, e que possam ser

legitimamente caracterizados.116

Assim como as teses defensivas têm que ser analisadas, também as acusatórias, não

se furtando a nenhum crime ou qualificadora imputada, sob pena de nulidade da sentença de

pronúncia. No caso de haverem crimes conexos a competência do Tribunal do Júri prevalece,

de maneira que ficam atraídos para a trajetória das suas funções jurisdicionais.117

È de se ressaltar o previsto no artigo 78, inc. I, do Código de Processo Penal, que

não exime o julgador de fazer análise em relação aos delitos conexos para eventual absolvição

sumária ou impronúncia

A parte classificatória da sentença deve mencionar tão somente o dispositivo legal

em que o acusado é pronunciado, incluindo as qualificadoras, no entanto, as referências

113 Adotamos o termo inicial generalizadamente, aqui compreende denúncia ou queixa. 114 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 529 115 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 528. 116 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 529. 117 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 529.

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quanto às circunstâncias do crime, tais como causas de diminuição de pena, agravantes,

atenuantes, concurso de crimes, entre outras, devem ser deixados de lado, pois dizem respeito

apenas ao libelo118 ou ao plenário, dentro da esfera de competência dos jurados.119

Se o juiz verificar, pela prova dos autos que tenha participado outra pessoa ou

pessoas, que não tenham sido incluídas na denúncia ou queixa, deve ordenar que o Ministério

Público ofereça o aditamento da inicial, conforme dispõe o artigo 408, § 5º do Código de

Processo Penal, abaixo colacionado:

Artigo 408. [...] § 5o Se dos autos constarem elementos de culpabilidade de outros indivíduos não compreendidos na queixa ou na denúncia, o juiz, ao proferir a decisão de pronúncia ou impronúncia, ordenará que os autos voltem ao Ministério Público, para aditamento da peça inicial do processo e demais diligências do sumário.

Se isso ocorrer, o novo co-réu deverá ser citado, interrogado, apresentar defesa,

produzir prova, e todos os demais atos inerentes ao procedimento sumário. Cumpre-nos

ressaltar, que a menção de tais indivíduos no dispositivo da sentença de pronúncia, refere-se a

participação em crime de competência do Tribunal do Júri, se assim não ocorrer, o juiz

procederá na forma do artigo 40120 do Código de Processo Penal, e remeterá os autos ao

Ministério Público para a instauração de nova ação penal.121

Prolatada a sentença de pronúncia não poderá mais ser alterada, ainda que haja

irregularidade ou nulidade. Se isso ocorrer, tal despacho é considerado inexistente, fora do

mundo do Direito, não gerando nenhum efeito.122

Poderá, no entanto, ser alterada a sentença de pronúncia, se for verificada

circunstância superveniente que modifique a classificação do delito, conforme se observa no

disposto no artigo 416 do Código de Processo Penal, já transcrito anteriormente.

Isso poderá ocorrer, por exemplo, se o réu foi pronunciado por tentativa de

homicídio, e após a prolação da sentença de pronúncia a vítima vem a falecer em decorrência

das lesões praticadas pelo agente. Permite, nesse caso, a modificação da sentença de

pronúncia para a imputação de homicídio consumado. Não são ofendidos os efeitos

118 O libelo é a peça inaugural da 2ª fase, consiste em uma exposição escrita e articulada do fato criminoso, contendo o nome do réu, as circunstâncias agravantes e todas as demais que influam na fixação da sentença penal. 119 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 530. 120 Dispõe que quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os juizes ou tribunais verificarem a existência de crime de ação pública, remeterão ao Ministério Público as cópias e os documentos necessários ao oferecimento da denúncia. 121 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 530. 122 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 530.

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preclusivos e os de natureza processual da decisão, pois como já mencionamos a pronúncia é

apenas um juízo de admissibilidade da acusação, não sendo causa de reexame da

possibilidade de afastar o julgamento pelo júri, mas incluir fato que deve ser apreciado por

ele.123

3.1.1 Liberdade Provisória

Nos moldes do artigo 408, § 1º, segunda parte do Código de Processo Penal, o juiz

deverá, ao pronunciar o réu, recomendá-lo na prisão em que se achar, ou expedirá as ordens

necessárias para a sua captura, conforme se observa do abaixo colacionado:

Artigo 408. [...] § 1o Na sentença de pronúncia o juiz declarará o dispositivo legal em cuja sanção julgar incurso o réu, recomendá-lo-á na prisão em que se achar, ou expedirá as ordens necessárias para sua captura.

A prisão decorrente da pronúncia constitui efeito natural e necessário que acaba por

derivar desse ato processual. Não inibe, em momento algum, o princípio do estado de

inocência, já consagrado pela Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso LVII,

pois esta não veda a decretação de qualquer espécie de prisão provisória, inclusive, a

decorrente da pronúncia. O que o princípio constitucional impede é a execução da pena e dos

efeitos da condenação, mas não a prisão antes que ocorra o trânsito em julgado da sentença.124

No caso do § 2º do artigo 408 do Código de Processo Penal, o juiz poderá deixar de

decretar-lhe a prisão ou revogá-la, caso já se encontre preso, se for o réu primário e de bons

antecedentes, conforme se observa do abaixo colacionado:

Artigo 408. [...] § 2o Se o réu for primário e de bons antecedentes, poderá o juiz deixar de decretar-lhe a prisão ou revogá-la, caso já se encontre preso.

Em regra, a pronúncia impõe a prisão do réu, salvo as possibilidades já mencionadas

no parágrafo anterior. Deve-se, entretanto, reconhecer que uma vez preenchidos os requisitos

legais, o benefício se transforma em direito, e deve, portanto, ser reconhecido.125

É mister que seja motivado a decisão de pronúncia, quanto a mantença ou revogação

da prisão, levando, sempre, em consideração o que dispõe o artigo 408, §§ 1º e 2º do Código

123 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 531. 124 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 531. 125 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 532.

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de Processo Penal. Se for o caso de manter a prisão, desnecessário a fundamentação da prisão

em flagrante ou ainda, da prisão preventiva, pois a previsão estará vigendo até o julgamento

final do processo.126

3.1.2 Efeitos da pronúncia

Ao ser prolatada a sentença de pronúncia começa a gerar seus efeitos. O primeiro

deles, a admissibilidade da acusação para julgamento pelo Tribunal do Júri e a decretação da

prisão do acusado, salvo as hipóteses de liberdade provisória, já mencionadas no item

anterior.127

Uma vez transitada em julgado, a sentença de pronúncia, gera efeitos preclusivos de

natureza processual, frente a imutabilidade de sua afirmação sobre a admissibilidade de

acusação que conduz para a decisão pelo Tribunal do Júri.128

Há também o efeito de despacho saneador, que se caracteriza pela previsão sobre a

apelação das decisões proferidas pelo Júri, e no tocante à argüição de nulidade posterior à

pronúncia, conforme dispõe o artigo 593, inciso III, alíena a, do Código de Processo Penal,

abaixo colacionado.

Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: [...] III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;

E, por último, a sentença de pronúncia interrompe a prescrição da pretensão

punitiva, na forma do disposto no artigo 117, inciso II do Código Penal, senão vejamos:

Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se: [...] II - pela pronúncia;

A prescrição em razão da pronúncia ocorre ainda que o réu venha a ser absolvido

pelo Júri ou que a sentença de pronúncia venha a ser confirmada, havendo ou não recurso da

acusação ou da defesa.129

O mesmo ocorre se houver a desclassificação do crime imputado na inicial, que será

objeto de estudo mais detalhado no item 3.3, para crime que não seja sujeito ao rito da

126 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 533. 127 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 534. 128 PORTO, Hermínio Alberto Marques. Ob. Cit. P. 79. Apud: MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2004. p. 535 129 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 535.

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competência do Tribunal do Júri, conforme já decidiu o Superior Tribunal de Justiça a

respeito:

A sentença de pronúncia conserva o efeito de interromper a prescrição (artigo 117, II, Código Penal), ainda no caso de desclassificação do Tribunal do Júri do delito para outro de competência do juízo singular, sobretudo quando reconhece excesso na legítima defesa, dado o caráter condenatório da decisão, não afirmatório do juízo de acusação.130

No entanto, há jurisprudência divergente do que acabamos de mencionar no

parágrafo anterior, no sentido de que a prescrição não se interrompe, em virtude de o crime

para o qual foi desclassificado, não estar submetido ao procedimento da competência do Júri,

senão vejamos:

Operada a desclassificação própria pelo Júri, tem-se nova definição jurídica do fato. Com a correção procedida, deixa a pronúncia de constituir-se em causa interruptiva da prescrição, estando extinta a punibilidade, superado o lapso temporal exigido em lei entre as demais causas elencadas, à luz do apenamento posto.131

Transitada em julgado a sentença de pronúncia, abre-se vista ao Ministério Público,

pelo prazo de 5 (cinco) dias para o oferecimento do Libelo Crime Acusatório132, conforme já

explicamos anteriormente.

A sentença de pronúncia, como já mencionamos anteriormente, é o meio pelo qual o

juiz encaminha o acusado para o julgamento pelo Tribunal do Júri, portanto, das quatro

sentenças inerentes a esse rito processual, a pronúncia é a única que gera esse efeito.

3.2 SENTENÇA DE IMPRONÚNCIA

A sentença de impronúncia está prevista no artigo 409, caput do Código de Processo

Penal, que diz que “se não se con vencer da existência do crime ou de indício suficiente de que

seja o réu o seu autor, o juiz julgará improcedente a denúncia ou queixa”.

A impronúncia consiste em julgamento de inadmissibilidade de encaminhamento do

acusado para julgamento perante o Tribunal do Júri, visto que o próprio juiz singular não se

convenceu da existência de prova da materialidade do crime e/ou de indícios da autoria.133

130 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Jurisprudência. 18/233. 131 BRASIL, RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul. Revista dos Tribunais 739/694. 132 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 535. 133 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 536.

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É sentença terminativa, em que se observa a insustentabilidade da acusação,

impondo-se, assim, a extinção do processo sem o julgamento do mérito.

Por não julgar o mérito da causa, é que a doutrina julga inadequada a expressão

‘julgar improcedente a denúncia ou queixa’, contida no artigo 409 do Código de Processo

Penal. O que se deve entender é que se julga improcedente a pretensão acusatória de ser o réu

julgado perante o Tribunal do Júri.134

Diferente da pronúncia, que autoriza o encaminhamento ao julgamento pelo

Tribunal do Júri mesmo na dúvida da existência de materialidade ou indícios da autoria, na

impronúncia há a necessidade que de modo algum a prova dos autos ensejam o acolhimento

da acusação pelo Júri.135

Em relação aos crimes conexos, uma vez que ocorra a impronúncia, os autos devem

ser remetidos ao juízo competente para o julgamento, conforme prevê o já mencionado artigo

410 do Código de Processo Penal, que se aplica por analogia136.

Como já mencionamos acima, a impronúncia é um juízo de inadmissibilidade de

remessa dos autos para apreciação e julgamento pelo Tribunal do Júri, não havendo decisão

definitiva em favor do acusado. Assim sendo, a qualquer tempo poderá ser instaurado novo

processo contra o réu, conforme prevê o artigo 409, parágrafo único, que assim dispõe:

Artigo 409. Se não se convencer da existência do crime ou de indício suficiente de que seja o réu o seu autor, o juiz julgará improcedente a denúncia ou a queixa. Parágrafo único. Enquanto não extinta a punibilidade137, poderá, em qualquer tempo, ser instaurado processo contra o réu, se houver novas provas.

É de se ressaltar que uma vez transitada em julgado a sentença de impronúncia, há a

necessidade de instauração de novo processo, se existirem novas provas, para a apuração da

infração, pois o processo original servirá apenas como elementos de informação.138

O recurso cabível, no caso de sentença de impronúncia, é o recurso em sentido

estrito, promovido pela acusação, conforme prevê o artigo 581, IV do Código de Processo

Penal, no entanto, há discussão acerca da interposição de recurso também pela defesa, uma

vez que, ela tem o legítimo interesse de pleitear a absolvição sumária.139

134 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 536. 135 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 537. 136 Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 594. 137 São causas de extinção de punibilidade, os descritas no artigo 107 e incisos do Código Penal. 138 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 536. 139 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 537.

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53

3.3 SENTENÇA DE DESCLASSIFICAÇÃO

Se o juiz se convencer, após a análise detalhada da prova carreada aos autos, em

discordância com a inicial acusatória, da existência de crime que não é da competência do

Tribunal do Júri, desclassificará o crime que foi imputado na denúncia ou queixa.140

A desclassificação está prevista no artigo 410 do Código de Processo Penal, que

dispõe:

Artigo 410. Quando o juiz se convencer, em discordância com a denúncia ou queixa, da existência de crime diverso dos referidos no artigo 74, § 1o, e não for o competente para julgá-lo, remeterá o processo ao juiz que o seja. Em qualquer caso, será reaberto ao acusado prazo para defesa e indicação de testemunhas, prosseguindo-se, depois de encerrada a inquirição, de acordo com os artigos 499 e seguintes. Não se admitirá, entretanto, que sejam arroladas testemunhas já anteriormente ouvidas. Parágrafo único. Tendo o processo de ser remetido a outro juízo, à disposição deste passará o réu, se estiver preso.

Conforme descrito no próprio artigo acima transcrito, se o juiz não for o competente

para julgar os crimes elencados no artigo 74, § 1º, que se refere aos crimes da competência do

Tribunal do Júri, remeterá o processo ao juiz competente.

O juiz que concluiu pela existência de crime diverso do constante da denúncia, e por

isso tenha desclassificado, não é o competente para julgar o feito, ainda que seja ele, também

competente para julgar o novo crime, que deverá seguir o rito ordinário ou sumário, sob pena

de nulidade.141

Assim como as demais sentenças, e conforme já descrevemos no item 1.4, a

sentença que desclassificar o crime deverá conter o relatório, a fundamentação e o dispositivo,

ressaltando-se que a fundamentação nesse caso, não importará em prejulgamento. Nesse caso,

a fundamentação versará apenas sobre os motivos que levaram o magistrado a tomar tal

decisão.142

Uma vez transitada em julgado, a sentença de desclassificação do juízo do Júri,

passa a ser matéria preclusa a classificação indicada na denúncia ou na queixa. Isso significa

dizer que a classificação, não mais restaurável, inviabiliza a instauração de conflito de

jurisdição diante da decisão passada em julgado que, portanto, não pode ser conhecido.143

140 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 535. 141 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 535. 142 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 535. 143 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 536.

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Nesse aspecto há doutrina divergente, que sustenta que o juiz, para o qual foi

remetido o processo em que se operou a desclassificação, discordar do primeiro, poderá

suscitar o conflito negativo de jurisdição, pois este não está obrigado àquele.144

Isso ocorre porque, como já dissemos, o juiz para o qual foi remetido o processo

após a desclassificação, não precisa se submeter ao que o juiz que desclassificou decidiu.

Uma vez desclassificado o delito, e a decisão tenha transitado em julgado, os atos

processuais praticados não são anulados, devendo o processo prosseguir, a partir de então,

perante o juízo competente145, que dependerá do crime para o qual foi desclassificado,

ordinário ou sumário, quando será aberto prazo para a defesa, a fim de que se manifeste a

respeito do novo crime a que ao acusado foi imputado.

Após a defesa de mérito, e se necessário, produção de novas provas, o juiz, agora

competente, proferirá a sentença terminativa, que poderá ser condenatória, absolutória, ou

outra das que já mencionamos no capítulo 1.

Há que se falar também da desclassificação pelo Júri, que pode ser própria ou

imprópria.

A desclassificação pelo Júri, ocorre quando da votação dos quesitos elaborados pelo

juiz presidente do Tribunal do Júri, ante as teses apresentadas em plenário, tanto pela

acusação como pela defesa.

A desclassificação própria é aquela que os jurados desclassificam o crime para não

doloso contra a vida, sem, no entanto, afirmar a nova classificação. Isso ocorre quando os

jurados, ao decidirem sobre o segundo quesito, não reconhecerem o animus necandi, vontade

de matar do acusado. Assim, estarão dizendo que o acusado não possuía vontade, que é o

elemento subjetivo para a configuração do dolo.146

No caso de desclassificação própria, o juiz não julga imediatamente o crime, mas

deverá proferir a sentença, declarando que os jurados desclassificaram o crime doloso contra a

vida, deixando transcorrer o prazo para apelação.

É o caso, por exemplo, da tentativa de homicídio, na qual, no segundo quesito,

indaga-se aos jurados se a intenção do agente era a de matar a vítima. Caso os jurados

respondam negativamente este quesito, estarão afirmando que não houve a intenção de matar,

sem dizer, no entanto, qual crime ocorreu.

144 NORONHA, E. Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. 19º ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 253. 145 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 536. 146 Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 615.

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Já a desclassificação imprópria consiste em os jurados desclassificarem o crime,

porém, apontarem a nova definição legal, afirmando qual o delito não doloso contra a vida

que foi praticado.147

Ocorre, por exemplo, no homicídio consumado, em que os jurados acabem

desclassificando para culposo.

No caso de desclassificação própria o juiz está livre a julgar, podendo absolver ou

condenar por qualquer crime, desde que, é claro, se enquadre às provas dos autos. Na

desclassificação imprópria o juiz fica atrelado a classificação dada pelos jurados.148

Em se tratando de extinção da punibilidade com relação ao crime da competência do

Tribunal do Júri, como por exemplo, a morte do agente, ocorre a prorrogatio fori, a

competência do Tribunal do Júri só cessa nas hipóteses previstas na lei processual. 149

3.4 SENTENÇA DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA

As hipóteses de absolvição sumária estão elencados no artigo 411 do Código de

Processo Penal, cujo rol é taxativo, conforme abaixo transcrito:

Artigo 411. O juiz absolverá desde logo o réu, quando se convencer da existência de circunstância que exclua o crime ou isente de pena o réu (artigos. 17, 18, 19, 22 e 24, § 1o, do Código Penal150), recorrendo, de ofício, da sua decisão. Este recurso terá efeito suspensivo e será sempre para o Tribunal de Apelação.

Se o juiz verificar que constam dos autos provas suficientes da existência do fato e

da autoria, poderá absolver sumariamente o acusado, se este agiu ao abrigo de uma causa

excludente de antijuridicidade ou de culpabilidade.151

Tal sentença tem caráter definitivo, pois adentra no mérito da causa. Diferente da

sentença de impronúncia, aqui o juiz decidirá que o réu é inocente, uma vez que o fato

praticado não é ilícito ou não é ele o culpado.152

Quando se tratar de fato que está tipificado em lei, mas o agente agiu numa das

causas excludentes de ilicitude ou das causas excludente de culpabilidade153, também será

147 Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 615. 148 Cf. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 615. 149 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 536. 150 Antiga redação do Código Penal. 151 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 538. 152 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 538. 153 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 538.

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cabível a sentença de absolvição sumária. Tais causas, chamadas ainda de descriminantes,

estão previstas no artigo 23 do Código Penal, que assim dispõe:

Artigo 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

A absolvição sumária é medida que se impõe quando o agente não for culpado, ou

seja, quando estiver comprovada a existência de uma causa excludente de culpabilidade,

também chamada de dirimente.154

Conforme convenciona o Código Penal, o réu deve ser absolvido quando existir erro

sobre elementos do tipo, que está disposto no artigo 20, §1º; erro sobre a ilicitude do fato,

previsto no artigo 21; coação irresistível e obediência hierárquica, elencado no artigo 22;

inimputabilidade por doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado,

previsto no artigo 26, e inimputabilidade por embriaguez fortuita completa, conforme o artigo

28, §1º, do mesmo diploma legal.

Em se tratando de crime da competência do Tribunal do Júri, assim como as demais

decisões do juiz, para a absolvição sumária também há a necessidade de haver uma prova

segura, incontroversa, plena, límpida, cumpridamente demonstrada e sem se furtar a qualquer

dúvida quanto a justificação ou dirimente, de maneira que a formulação de um juízo de

admissibilidade da acusação represente uma manifesta injustiça.155

Assim sendo, não pode o juiz absolver sumariamente o réu nos termos do artigo 386,

VI do Código de Processo Penal, de não existir prova suficiente para a condenação, pois se

assim ocorrer, deverá impronunciar o réu, entendendo que não há indícios da autoria ou

participação daquele.156

De outro norte, se não atender ao requerimento da absolvição sumária, deve fazer de

forma a não influenciar na decisão dos jurados na hora de decidirem sobre o processo quando

dos trabalhos no plenário do Júri.157

Quando a absolvição sumária ocorrer em virtude de inimputabilidade decorrente de

doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado, onde a insanidade ou

deficiência mental restar comprovada nos autos, através de exame pericial, o juiz deverá

154 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 538. 155 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 539. 156 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 539. 157 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 539.

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aplicar medida de segurança cabível, conforme prevê o artigo 97158 do Código Penal e artigo

386, parágrafo único, III do Código de Processo Penal. No entanto, se houver outra tese

defensiva, além da inimputabilidade supra mencionada, o juiz deverá pronunciar o réu, e por

conseqüência encaminhá-lo a julgamento pelo Tribunal do Júri. Da mesma forma, ocorrerá, se

o juiz concluir que o réu tem sua capacidade penal reduzida.159

Se o juiz absolver sumariamente o réu, estará excluindo a competência do Tribunal

do Júri para os crimes conexos160 ou continente161 que a ela estavam atrelados, que só poderão

ser apreciados após o trânsito em julgado e o recurso de ofício da sentença de absolvição

sumária. A apreciação de tais crimes não compete ao juiz que prolatou a sentença de

absolvição sumária, este deve aguardar o trânsito em julgado, para proceder a remessa dos

autos ao juiz singular, se não o for.162

O juiz que prolatar a sentença de absolvição sumária deve recorrer de ofício,

segundo prevê o artigo 411, segunda parte do Código de Processo Penal, conforme já

transcrevemos anteriormente. O recurso terá efeito suspensivo e o prosseguimento do feito

dependerá do julgamento pela instância superior.

É de se ressaltar que o recurso de ofício, a que a sentença de absolvição está

obrigada, não impede a interposição de recurso em sentido estrito, recurso cabível a espécie,

por parte da acusação. Já o assistente do Ministério Público não pode recorrer nessa hipótese,

haja vista a expressa impossibilidade imposta pela lei163, no artigo 271 do Código de Processo

Penal.

A defesa apenas poderá interpor o recurso no caso de absolvição por

inimputabilidade decorrente de doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou

retardado, frente a imposição de medida de segurança, ou seja absolvição imprópria de que

tratamos no capítulo 1, dando-lhe, por conseguinte legítimo interesse para pleitear a reforma

da sentença.164

158 Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial. e Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: [...]Parágrafo único. Na sentença absolutória, o juiz: [...]III - aplicará medida de segurança, se cabível. 159 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 539. 160 Assim se diz o crime que, por um laço material ou moral, se liga a outro crime. E, entre eles, se formam tão estreitas dependências, que se torna necessária examina-los em conjunto, em conseqüência do que devem ser processados e julgados ao mesmo tempo. 161 É aplicado para indicar a ligação ou a relação existente entre duas, causas, em vista de que evidencia a conexão havida entre elas. 162 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 540. 163 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 540. 164 Cf. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. p 540.

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Assim, após o estudo das sentenças inerentes a primeira fase do rito da competência

do Tribunal do Júri, permite-nos destacar as principais diferenças entre elas. A pronúncia

acaba por produzir outra sentença, pois além dela, que é prolatada pelo juiz singular, há a

sentença definitiva, que analisará o mérito da causa, que embora elaborada pelo juiz

presidente, será prolatada pelo Conselho de Sentença. A impronúncia acaba por ser mera

decisão interlocutória, que não analisa o mérito da causa, mas põe fim ao processo. A

desclassificação, igual a pronúncia, dá ensejo a outra sentença, a primeira, prolatada pelo juiz

presidente do Tribunal do Júri, que desclassificará o crime, e a segunda, prolatada pelo juiz

competente para o julgamento do crime para o qual foi desclassificado. E por fim, a

absolvição sumária, que é decisão definitiva, que analisa o mérito da causa e põe fim ao

processo, fazendo coisa julgada, por conseqüência, impedindo instauração de nova ação penal

para a apuração da mesma infração.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Instituição do Tribunal do Júri é uma instituição democrática, na qual o Conselho de

Sentença representa sua própria razão de ser. É através dele que são julgados os crimes

dolosos contra a vida, que como já mencionamos no corpo do texto do presente estudo,

compreendem o homicídio, o induzimento ao suicídio, o aborto e o infanticídio, tanto nas

formas tentada ou consumada.

O rito processual adotado por tal instituto é o da competência do Tribunal do Júri,

disciplinado na lei processual, que usualmente denominamos de “especial”, uma vez que o

processamento é escalonado, em duas fases, a primeira que vai do recebimento da denúncia

até o oferecimento de uma das quatro sentenças abordadas nesse estudo, e a segunda que

compreende o libelo e os trabalhos realizados em plenário, desde interrogatório do acusado,

oitiva das testemunhas, debates, votação em sala secreta, entre outras atividades inerentes ao

processamento. Enfim, assim é chamado costumeiramente, por ser mesmo especial, que nos

parece uma das formas mais democráticas de se fazer justiça, embora pareça para muitos uma

instituição antiga e ultrapassada.

Conforme delimitamos inicialmente, o tema da presente monografia consiste no

estudo das sentenças inerentes ao rito processual do Tribunal do Júri em sua primeira fase, ou

seja, aquelas que poderão ser proferidas pelo juiz singular, que determina ou não o

encaminhamento do acusado à julgamento perante o Tribunal do Júri.

A sentença de Pronúncia é o meio pelo qual o acusado é submetido à julgamento pelo

Tribunal do Júri. É através dela que o juiz considera admissível as imputações constantes da

inicial acusatória e de forma a não influenciar por sua fundamentação a decisão dos jurados,

pronuncia o acusado. Trata-se de decisão interlocutória mista não terminativa, já que é mera

decisão processual, que não põe fim ao processo, apenas a determinada fase processual.

Isso ocorre porque o juiz singular não possui competência para julgar os crimes

dolosos contra a vida, motivo pelo qual o Conselho de Sentença fica investido da função de

julgador. Dessa forma, a liberdade de um cidadão fica à mercê da análise do juiz e do

posterior julgamento dessas pessoas que, através de sua consciência, tendem a buscar a

veracidade dos fatos para, através da influência divina, princípios morais ou outras causas,

votarem com exatidão nos quesitos que levam, aí sim, à liberdade ou à condenação. Uma vez

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transitada em julgado a sentença de pronúncia, começam a gerar os efeitos relevantes ao

mundo jurídico, até que inicie a segunda fase do processamento.

A sentença de Impronúncia, como o próprio nome já diz, é o inverso da pronúncia. É

através dela que o juiz julga insustentável as alegações da acusação, e por conseqüência

inadmissível o encaminhamento ao Tribunal do Júri para julgamento. Consiste em decisão

terminativa, visto que o processo é extinto sem o julgamento do mérito. A prolação da

sentença de Impronúncia consiste em julgar improcedente a pretensão acusatória, diante da

dúvida da existência da materialidade ou indícios da autoria, o que não impede, é claro, a

instauração de nova ação penal pelo representante do Ministério Público, se surgirem

posteriormente novas provas que possam ensejar tal ação.

A sentença de Desclassificação é o meio pelo qual o juiz, após analise detalhada da

prova produzida no processo, desclassifica o crime imputado na inicial acusatória, haja vista a

constatação de que o crime apurado é diverso daquele. Assim a sentença que desclassificar o

crime, antes tido como da competência do Tribunal do Júri, é remetido ao juízo competente

para julgamento. É de se ressaltar ainda que o juiz que decidiu pela desclassificação, não

poderá, ainda que competente de plano, julgar o novo crime imputado, sob pena de nulidade,

pois o processo deverá voltar a seguir o rito ordinário ou sumário.

Já a sentença de Absolvição Sumária, tem caráter definitivo, pois adentra no mérito da

causa, acabando por absolver o acusado, se provado seguramente nos autos que este agiu ao

abrigo de uma excludente de ilicitude ou de culpabilidade. Aqui o que dá ensejo à absolvição

sumária é estar o acusado sob as excludentes acima transcritas, não diz respeito a falta de

provas suficiente para a condenação, se isso ocorrer o juiz deverá impronunciar o acusado, ao

invés de absolver sumariamente.

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